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Propostas Metodológicas na Alfabetização de Jovens e Adultos e Prática -

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SEMESTRE 5
Propostas Metodológicas da Educação de Jovens e Adultos e Práticas
Créditos e Copyright	
CARRIL, Maria da Graça Pimentel.
Propostas Metodológicas da Educação de Jovens e Adultos e Prática. Maria da Graça Pimentel Carril.  Núcleo de Educação a Distância da UNIMES. Santos, 2008, 156p. (Material didático. Curso de Licenciatura em Pedagogia).
 
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Pedagogia 2. Jovens e Adultos 3. Propostas Metodológicas da Educação de Jovens e Adultos e Prática.          
 CDD 371.102
Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
Copyright (c) Unimes Virtual
É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.
 
Sumário
Aula 01_O movimento histórico como determinante do cenário atual	5
Aula 02_Alfabetizar para Conscientizar ou Conscientizar para Alfabetizar?	7
Aula 03_A leitura do mundo precede a leitura da palavra (Paulo Freire)	12
Aula 04_As práticas pedagógicas e a ditadura militar	15
Aula 06_O pensamento educacional como contribuição para a liberdade	22
Resumo_Unidade I	24
Aula 07_Etapas do Método Paulo Freire-pensando sobre educação	27
Aula 08_Os princípios do método freireano	29
Aula 09_A politicidade do ato educativo	32
Aula 10_Dialogicidade do ato educativo	34
Aula 11_Discutindo os pontos básicos do Método Paulo Freire: o estudo da realidade e o tema gerador	36
Aula 12_A educação bancária e a prática tradicional	38
Aula 13_Como educar para a libertação?	40
Aula 14_O Estudo da Realidade: uma metodologia emancipadora.	42
Resumo_Unidade II	45
Aula 15_O que é o Tema Gerador?	48
Aula 16_O Tema Gerador como possibilidade de um trabalho interdisciplinar	50
Aula 17_Aprofundando os estudos sobre o tema gerador escolhido. Uma atividade prática:Reciclagem de materiais diversos.	53
Aula 18_O Construtivismo no pensamento freireano	56
Aula 19_Um dia de aula: alfabetizando em uma comunidade	59
Aula 20_Quem somos?	62
Aula 21_Como eu me vejo, como eu vejo os outros?	68
Resumo _Unidade III	73
Aula 22_A interação do sujeito com o meio	76
Aula 23_O aluno é sujeito de sua aprendizagem	80
Aula 24_A aprendizagem acontece no coletivo	82
Aula 25_Ler e escrever e a função social da escrita	84
Resumo_Unidade IV	87
Aula 26_A Arte da leitura e da escrita	90
Aula 27_Uma reflexão sobre a pirâmide do ensino	92
Aula 28_A questão da letra: o processo de conhecimento na alfabetização	94
Aula 29_O valor da cultura: construindo o conhecimento	98
Aula 30_A reflexão sobre a Lei nº 10.639/2003 e algumas práticas	100
Aula 31_O código e a língua	105
Aula 32_Dialetos e Registros	107
Resumo_Unidade V	110
Aula 33_A prática de análise linguística	113
Aula 34_Letramento e Alfabetização	116
Aula 35_O que é ser Letrado?	120
Resumo _Unidade VI	121
Aula 36_O texto e sua organização	124
Aula 37_As formas linguísticas e a organização textual	126
Aula 38_O texto e a imagem	128
Aula 39_A crítica ao livro didático	130
Aula 40_Planejamento de aulas (I)	132
Aula 41_Planejamento de aulas (II)	134
Aula 42_Plano de aula (I)	135
Aula 43_Plano de aula (II)	136
Aula 44_Atividades práticas (I)	139
Aula 45_Atividades práticas (II)	142
Aula 46_Atividades Práticas (III)	144
Aula 47_Atividades Práticas (IV)	151
Aula 48_Atividades Práticas (V)	153
Resumo - Unidade VII	155
Núcleo de Educação a Distância
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Aula 01_O movimento histórico como determinante do cenário atual
Com vistas à compreensão do momento atual e todas as implicações pedagógicas relacionadas  à Educação de Jovens e Adultos, torna-se inevitável um passeio ao movimento histórico que determinou as políticas educacionais colocadas em vigor por toda a trajetória  da EJA - Educação de Jovens e Adultos. 
 Este passeio, inicial, esperamos que auxilie os envolvidos com a educação a compreenderem a  realidade atual do Brasil, além de conhecer os impasses, as soluções impostas pelos governantes em diferentes momentos da educação brasileira, conduzindo a práticas equivocadas e à manutenção de uma situação de exclusão.
 A partir da década de 1930, finalmente, começa a se consolidar um sistema público de educação. A educação básica de adultos começa a ter visibilidade na história da educação. Todas essas mudanças em termos educacionais podem ser atribuídas ao processo de industrialização que se intensificou, à ampliação do índice populacional nos centros urbanos, conduzindo a transformações no interior da sociedade, o que demandou uma oferta de ensino básico gratuito, acolhendo setores sociais cada vez mais diversos.  A expansão da educação elementar, incluindo a extensão do ensino elementar aos adultos, foi impulsionada pela União, que traçava diretrizes educacionais para todo o país, cabendo aos estados e municípios a responsabilidade por este nível educacional.
 O país passou a viver um período de efervescência com o fim da ditadura de Vargas em 1945. Foi o início do processo de redemocratização do Estado brasileiro, cabendo à educação de adultos, destaque dentro da preocupação geral com a universalização da educação elementar, o que pode ser justificado, considerando o início da abertura política e a necessidade de expandir as bases eleitorais. 
 Para garantir a expansão da educação de adultos, tem início uma campanha nacional de massa, a Campanha de Educação de Adultos, lançada em 1947, a qual previa, no primeiro momento, uma ação  efetiva visando à alfabetização em três meses, após a organização do  curso primário em duas etapas de sete meses. Finalizando, aconteceria a última ação, a qual estaria voltada para a capacitação profissional.  A campanha, sob a direção do professor Lourenço Filho, obteve resultados importantes, pois articulava e expandia os serviços já existentes, criando escolas supletivas em todo o país. Os resultados referentes à campanha também envolveram mudanças no campo teórico pedagógico, orientando para a discussão sobre o analfabetismo e a educação de adultos no Brasil. Nesse momento, o analfabetismo era concebido como causa e não efeito da situação econômica, social e cultural do país. Essa concepção legitimava a visão do adulto analfabeto como incapaz, inclusive comprometido psicologicamente. 
A Campanha de Educação de Adultos, lançada em 1947, alimentou a reflexão e o debate em torno do analfabetismo no Brasil. As idéias preconceituosas, concebidas inicialmente, foram alvo de críticas, abrindo espaço para o reconhecimento dos saberes. Para tal, contribuíram teorias mais modernas da Psicologia. Esses conhecimentos foram dados a conhecer no Brasil devido aos estudos de Lourenço Filho, em artigo publicado em 1945.
O reconhecimento na capacidade de aprendizagem dos adultos, por ocasião da Campanha de 1947, influenciou o Ministério da Educação a produzir material didático específico para o ensino da leitura e da escrita. Este material, destinado às escolas que atendiam a educação de adultos, possibilitava o ensino baseado no método silábico. Tal método consistia no emprego de palavras chaves, selecionadas a partir das características fonéticas.  As palavras seriam divididas em sílabas, memorizadas, remontadas para formar novas palavras. O acúmulo de diferentes palavras conduzia a pequenas frases. A elaboração de pequenas frases possibilitava a composição de pequenos textos. O “Guia de Leitura”, nas lições finais, apresentava pequenos textos contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho, normas de comportamento, de ética e de patriotismo.
 O método colocado em vigor, a partir do período aqui comentado, ainda persiste na escola. Você sabe se alguns professores ainda exercem sua prática usando o método fonético? Pesquise.
Aula 02_Alfabetizar para Conscientizar ou Conscientizarpara Alfabetizar?
  
A Campanha de Educação de Adultos encerrou-se na década de 1950. As críticas se concentraram tanto ao caráter administrativo, quanto à aplicação pedagógica. Neste aspecto, apontavam a questão da falta de consistência do aprendizado, que se efetivava em curto período, além do fato de não considerar as diferenças regionais e nem o ritmo de aprendizagem das pessoas.  Todas essas críticas contribuíram para a formulação de uma nova visão sobre o problema do analfabetismo, o que consolidou a criação de um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, cuja principal expressão foi o educador Paulo Freire.
 Os principais programas de alfabetização e educação popular que se realizaram no país, no início dos anos 1960, estavam baseados nas ideias pedagógicas do educador pernambucano Paulo Freire. Esses programas foram efetivados por grupos de diferentes segmentos da sociedade como: artistas, intelectuais, estudantes e católicos, envolvidos  em uma ação política junto aos grupos populares. Foram os educadores do MEB - Movimento de Educação de Base, ligado à CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dos CPCs - Centros de Cultura Popular, organizados pela UNE - União Nacional dos Estudantes.
A atuação desses grupos junto às classes populares promoveu pressão em setores do governo federal, buscando apoio e uma coordenação nacional das iniciativas, o que determinaria a institucionalização do Movimento de Base. Tal iniciativa apresentada teve como consequência a aprovação do Plano Nacional de Alfabetização, em janeiro de 1964, que previa a disseminação por todo Brasil de programas de alfabetização, orientados pela proposta de Paulo Freire. A preparação do plano, com envolvimento dos diferentes segmentos da sociedade, como já foi dito, sofreu interrupção meses depois, devido ao golpe militar de 1964.
 As práticas pedagógicas formuladas por estes movimentos culturais  tinham como base o estabelecimento de uma nova relação entre a questão educacional e a questão social. Se, no passado, o analfabetismo era considerado como causa da pobreza, na época em questão, o analfabetismo era visto como consequência de uma divisão injusta de riquezas, gerando uma estrutura social desigual. Diante de uma realidade tão hostil, o processo educativo assumiria o papel de agir na estrutura social determinadora do analfabetismo. Na linha de alfabetização de Freire, a educação de base de adultos deveria partir de uma análise crítica da realidade dos educandos, conhecendo seus problemas na origem destes e buscando caminhos de superação, além do reconhecimento da cultura de cada ser. Ao adotar tal postura os docentes assumiam um compromisso ético para com os educandos.   
 Em decorrência de suas reflexões, faz  a afirmação em relação à sociedade, as quais refletem no seu pensar  educacional.
Ao analisar a realidade brasileira, Freire apresenta uma compreensão dualista da sociedade neste momento ao entender que a sociedade vivia um processo de transição de uma “sociedade arcaica” para uma “sociedade moderna”, que promovia a saída do Brasil das estruturas econômicas e culturais herdadas do período colonial, em que se configurava por uma produção agro-exportadora dependente, precária na vida urbana, reflexa em sua economia e na cultura e mantida por relações verticalizadas e antidialogal, para uma estrutura típica dos países industriais e democráticos, tendo como modelo, mais precisamente, os países desenvolvidos (FREIRE, 1982, p. 49).
O pensamento pedagógico de Freire se opôs ao que ele  denominou de educação bancária, a qual considerava o analfabeto como marginal, um recipiente vazio, que o professor teria a tarefa de encher com informações. Os alunos eram dotados de uma consciência ingênua, consequência de uma sociedade tradicional, agrária, dominadora, oligárquica.
 
Segundo Zatti ( 2007), a concepção bancária de educação e a oposição professor/aluno .
Exemplo de educação antidialógica é a "concepção bancária da educação" (FREIRE, 1983, p. 66), a qual mantém a contradição entre educador-educando (cf. idem, p. 67). A concepção bancária distingue a ação do educador em dois momentos, o primeiro o educador em sua biblioteca adquire os conhecimentos, e no segundo em frente aos educandos narra o resultado de suas pesquisas, cabendo a estes apenas arquivar o que ouviram ou copiaram. Nesse caso não há conhecimento, os educandos não são chamados a conhecer, apenas memorizam mecanicamente, recebem de outro algo pronto. Assim, de forma vertical e antidialógica, a concepção bancária de ensino "educa" para a passividade, para a não criticidade, e por 
isso é oposta à educação que pretenda educar para a autonomia. 
Ainda segundo o texto de Zatti, Freire aponta as características marcantes da educação bancária... 
"Narração ou dissertação que implica num sujeito - o narrador - e em objetos pacientes, ouvintes - os educandos" (ibid, p. 65). Mantendo a contradição entre educador e educando, a narração não promove a educação: "narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto" (ibid). Essa educação apresenta retalhos da realidade de forma estática, sem levar em conta a experiência do educando. "Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante" (ibid, p. 66). Por isso, Freire a chama de concepção "bancária da educação" (ibid, p. 67), em que cabe ao educando apenas ser depósito, arquivar informações. Mas, como nos fala Freire, "os grandes arquivados são os homens" (ibid), na medida em que essa educação sem práxis nega a criatividade, não há transformação, não há saber, os homens não podem tornar-se autônomos. A visão bancária possui papéis rigidamente definidos, o educador é o sábio que possui o conhecimento enquanto o educando é sempre aquele que não sabe. 
Ainda na mesma linha de reflexões sobre a educação bancária, Zatti apresenta os papéis de educador e educandos
o educador é que educa, sabe, pensa, diz a palavra, disciplina, opta e prescreve a opção, atua, escolhe o conteúdo programático, identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, e finalmente, é o sujeito do processo. Os educandos, ao contrário, são educados, não sabem, são pensados, escutam docilmente, são disciplinados, seguem a prescrição, têm papel passivo, não são ouvidos, devem adaptar-se às determinações do educador, e são meros objetos (cf. ibid, p. 66-67). Por isso, nessa visão distorcida de educação os homens são seres de adaptação e ajustamento. O problema é que quanto mais são tratados como depósitos, menos serão capazes de consciência crítica e de libertarem-se da situação de opressão. Essa educação autoritária inibe a capacidade de perguntar, poda a curiosidade (cf. FREIRE e FAUNDEZ, 1986, p. 46), gera um homem passivo, ingênuo, que não é capaz de um pensar autêntico. Assim, há a aceitação passiva das estruturas que tornam os homens seres para outro, heterônomos. Ela, em vez de transformar o homem em ser autônomo, de realizar sua vocação de Ser Mais, o torna autômato46, o que é uma forma de heteronomia. 
 Nossa leitura do texto de Zatti , permite pensar sobre a dicotomia entre educador e educando...     
 a educação bancária mantém a "inconciliação entre educador-educando" (FREIRE, 1983, p. 71) e também sugere uma "dicotomia inexistente homens-mundo" (idem), na medida em que põe os homens como meros "espectadores e não recriadores do mundo" (ibid). Por isso, a educação bancária condiciona as pessoas para que se adaptem ao mundo, vivam nele aceitando a opressão sem se revoltar contra os patrões, os governantes, ou quem quer que possa os oprimir. Ou seja, para que trabalhem, cumpram as leis, sem questionar o próprio papel que ocupam na sociedade. Isso nega o homem como sujeito de suas ações e como ser de opção. Dessa forma, a educação bancária é educação como prática da dominação, mantém o educando na ingenuidade e assim, ele se acomoda ao mundo de opressão, permanecendo na heteronomia.
 
 E, finalmente, os obstáculosque a educação bancária promove em relação aos educandos, principalmente das classes mais pobres, na leitura do texto de Zatti...    
 a educação bancária com a pura transferência de conteúdos, a não participação do educando na produção do conhecimento, é um dos elementos responsáveis pela desmotivação, pela falta de interesse em estudar o que é "passado" em sala de aula (cf. FREIRE e SHOR, 1987, p. 15s). Freire chama a atenção para um produto genuíno da educação bancária, os altos índices de déficit quantitativo e qualitativo na educação, que constituem obstáculo para o desenvolvimento do país e para sua emancipação. Segundo Freire (1997, p. 11), o termo evasão escolar é ideológico, pois é posto de uma forma a dar a entender que as crianças estão fora da escola por vontade delas, mas na verdade elas são expulsas da escola, excluídas especialmente pela organização bancária. O termo correto é "expulsão escolar" (FREIRE, 1995, p. 46). Isso está relacionado ao despreparo científico dos educadores e a educação atrelada à ideologia elitista que alfabetiza não a partir da realidade do educando. Expulsar uma criança da escola é condená-la ao silêncio, se não tem como ler e escrever ou os faz de forma precária, não conseguirá manter relações verdadeiramente dialógicas em uma sociedade que existe pela palavra, dependerá de ideias e temas externos, e assim não conseguirá conquistar a própria autonomia. 
 
Concluímos nosso encontro de hoje e solicitamos que seja feita uma pesquisa sobre a importância do pensamento de Freire para a educação de adultos, comparando-o com o pensamento educacional atual. Existem pontos convergentes? Existem pontos divergentes?  Faça registros destas reflexões.
Aula 03_ A leitura do mundo precede a leitura da palavra (Paulo Freire)
  
Paulo Freire elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, cujo princípio básico pode ser traduzido em uma de suas afirmações mais célebres: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
 O processo de aprendizagem se iniciava com a linguagem oral, o estabelecimento de um diálogo educativo, utilizando materiais de diferentes procedências.  As situações existenciais eram discutidas como possibilidades de ampliar o universo dos educandos, além de se reconhecerem como produtores de diferentes formas de cultura, como: a letrada, não-letrada, o trabalho, a arte, a religião. Paralelamente  a esta etapa dos trabalhos, o alfabetizador deveria conhecer o universo vocabular, selecionando as palavras com mais significado para a comunidade escolar. Na sequência, organizar de acordo com o grau de dificuldades, um conjunto de palavras que apresentasse diversos padrões da língua, as quais se constituiriam nas palavras geradoras. Em torno dessas palavras desenvolveria-se o estudo da escrita e da leitura.     
 O estudo das palavras geradoras, apresentadas junto com a utilização do recurso das imagens, também deveria desencadear um debate em torno do tema e só então a palavra escrita era analisada em suas partes componentes: as sílabas- estudo das famílias silábicas.  A partir da identificação desses fonemas, o alfabetizando começaria a formar novas palavras.  Enfatizava-se a análise auditiva para que os sons fossem separados e feita a correspondência letra–som. O método é chamado fonético e já utilizado anteriormente, mas com o único propósito de que o aluno estabelecesse relação fonema – som, por esse motivo as frases eram vazias de significado como: “Eva viu a uva”. Eram frases descontextualizadas e sem relação com o mundo real.
O importante para Freire era levar o educando a entender qual  posição ocupa na sociedade. No exemplo aqui citado: “Eva viu a uva, é preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho. Estas discussões possibilitavam que o alfabetizando realizasse a leitura do mundo antes da leitura da palavra, ou seja, compreendesse a estrutura da sociedade e as regras do capitalismo a que estamos submetidos. Este conhecimento estimularia a busca da transformação.
Isso é o que chamamos de politicidade do ato educativo. Freire afirmava que a educação é um ato político. Esse  princípio fundante do Método (que chamo de pensamento Freiriano) continua atual, porém a aprendizagem a partir da silabação está hoje superada” (FEITOSA, 2006, p.33).
Com um elenco de dez a vinte palavras geradoras, acreditava-se conseguir alfabetizar um educando em três meses, ainda que num nível rudimentar. Na sequência do processo de alfabetização, as palavras geradoras seriam substituídas por temas geradores, nesta fase os alfabetizandos já estariam envolvidos em atividades comunitárias ou associativas.
 A leitura do texto de Penna Silva( 2008), abaixo, ajuda a compreender melhor o tema.
Para dar início à alfabetização não devemos utilizar cartilhas nem atividades e palavras descontextualizadas, mas sim, carregadas de significados que despertem nos educandos o interesse e o gosto pela leitura. De acordo com Paulo Freire (1992, p.76.) “ler um texto é algo sério (...) é aprender como se dão as relações entre as palavras na composição do discurso. É tarefa de sujeito crítico, humilde e determinado. (...) Implica que o (a) leitor (a) se adentre na intimidade do texto para aprender sua mais profunda significação”.
O trabalho a ser realizado deve  trazer uma motivação para iniciar o processo de aprendizagem...
A leitura dos textos dever ser precedida de atividades que motivem os alunos a levantar questões a respeito de temáticas que fazem parte de seus interesses, devem ser relevantes a aprendizagem, para que desta forma possa provocar debates, buscando assim, novos conhecimentos com o objetivo de enriquecer suas vivências, valores e atitudes.
Os textos podem e devem ser explorados em todos os seus aspectos para que propiciem o desenvolvimento da língua falada e escrita, como também conhecimentos que sejam significativos para a vida em sociedade.
Diante do que foi aqui discutido podemos dizer que o pensamento de Freire tinha como fim, antes mesmo de iniciar o aprendizado da  escrita, levar o  educando a assumir-se como agente de sua aprendizagem, a construir sua própria visão da realidade e desmistificar a cultura letrada, na qual o educando estaria se iniciando.
Com base no que estudamos, faça um resumo da aula. Vamos verificar como o processo de aprendizagem está se efetivando em relação ao que foi apresentado.
 
Aula 04_As práticas pedagógicas e a ditadura militar
    
Com a chegada dos militares ao poder, os programas de alfabetização e educação popular que haviam se consolidado no regime anterior,  no período entre 1961 e 1964, foram vistos como uma grave ameaça à ordem e seus promotores foram duramente reprimidos. Os programas de alfabetização de adultos que permaneceram em vigor possuíam características assistencialistas e conservadoras. Em 1967, foi lançado o Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização -, que desencadeou uma campanha massiva de alfabetização. Foram instaladas Comissões Municipais, que assumiram a execução das atividades, mas a orientação e a supervisão pedagógica, bem como a produção de materiais didáticos eram centralizadas.
 Quanto às orientações metodológicas, os materiais didáticos do Mobral reproduziram muitos procedimentos consagrados nas experiências pedagógicas,  mas não abrangiam  nenhuma dimensão crítica referente ao momento político e social do país. Propunha a alfabetização a partir de palavras-chave, retiradas do cotidiano das pessoas, sempre atribuindo ao contexto uma relação harmoniosa, valorizando o esforço individual dos adultos analfabetos, principalmente, palavras relacionadas ao trabalho.
 Com vistas a dar continuidade ao processo de alfabetização foi criado o PEI - Programa de Educação Integrada -, que correspondia a uma condensação do antigo curso primário. Este programa abria a possibilidade de continuidade de estudos para os recém-alfabetizados, assim como para os chamados analfabetos funcionais, pessoas quedominavam precariamente a leitura e a escrita. Os estudos realizados sobre o conceito de analfabetismo funcional apontam que se trata de um termo que se refere ao tipo de instrução em que a pessoa sabe ler e escrever, mas é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair sentido das palavras nem colocar ideias no papel por meio do sistema de escrita, como acontece com quem realmente foi alfabetizado. No Brasil, o analfabetismo funcional é atribuído às pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal. Mas a noção de analfabetismo funcional varia de acordo com o país. 
O conceito de analfabetismo funcional foi criado na década de 1930, nos Estados Unidos, e posteriormente passou a ser utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, por exemplo, não conseguem compor e redigir corretamente uma pequena carta solicitando um emprego. Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Na declaração, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço da população adulta brasileira é considerada analfabeta funcional.  
Fonte: http://www.educabrasil.com.br/eb/ acesso em 13/04/08
 
A leitura do texto de Coleti (UNESP-2009), amplia a compreensão sobre a educação no período ditatorial...
o golpe militar de 1964 abafou o movimento de Paulo Freire e de seus seguidores que estavam apenas começando e a nova gestão política influenciou diretamente todos os setores da sociedade brasileira, inclusive a educação. O governo repressor implantado na época só permitiu a realização de programas assistencialistas... defendiam sobre o analfabeto era de "pessoas com baixo nível socioeconômico, porém com grande bagagem cultural".
Ainda no mesmo texto , vamos ver o papel do educador...
Consideravam seus alunos como pessoas tímidas e inseguras, logo o papel do educador seria o de modificar esse quadro. Os princípios metodológicos trabalhados no MOBRAL eram a funcionalidade e a aceleração. Funcionalidade significava partir da individualidade dos alunos adultos e isso desencadeava a aceleração no processo educativo. (JANUZZI, 1987). A funcionalidade servia na verdade, para desenvolver o aluno e prepará-lo para uma função na sociedade. As atividades em sala de aula visavam modificar essas experiências individuais já mencionadas e enfatizava principalmente a aquisição da leitura e da escrita.
A diferença entre a prática de Freire e o MOBRAL
Na verdade a preocupação central do MOBRAL era que um indivíduo fosse alfabetizado para facilmente receber as informações e desempenhar corretamente seu papel na sociedade e no desenvolvimento. E a diferença entre o movimento e a prática de Paulo Freire se encontra no referencial ideológico dos dois, pois enquanto o educador propunha a "educação como prática da liberdade", o MOBRAL propunha intrinsecamente o condicionamento do indivíduo para a manutenção do status quo. (BELLO, 1993). O MOBRAL concebe a educação como investimento, como preparação de mão-de-obra para o desenvolvimento inquestionável, isto é, como estava sendo concebido pelo Modelo de Brasileiro de Desenvolvimento. Assim sendo, o que tem de fazer é realmente usar esse método antidialógico, que em nenhum momento possibilita a horizontalidade com o MOBRAL/CENTRAL de onde emanam os objetivos a serem atingidos. Então, o processo de alfabetização passa a ser o momento em que a preocupação é com o ensinar a palavra, treinar o aluno para ler e escrever a palavra já que traz o significado adequado. A ênfase na decodificação da palavra, na aprendizagem das técnicas de ler e escrever, facilita o desenvolvimento de habilidades que permitem a apreensão de informações que fazem o alfabetizando entrar no grupo de que participam do desenvolvimento. Esse método propõe situações de análise e de síntese relacionandas com uma palavra que representa a realidade que deve ser alcançada, desejável, onde já estão os grupos que contribuem para o desenvolvimento (JANNUZZI, 1987:65). Quanto ao método de alfabetização, o MOBRAL apresentava-o como eclético e baseado na decomposição de palavras geradoras, e ainda acentuava que seus princípios metodológicos eram novamente a funcionalidade e a aceleração. As palavras geradoras não eram retiradas, necessariamente, do meio onde os alfabetizandos viviam, já que traziam um significado que deveria ser absorvido e entendido de uma forma adequada. As palavras eram as mesmas para o Brasil inteiro. A alegação pelo uso de tais palavras era de que a escolha delas era feita a partir das necessidades do homem, no caso, sobrevivência, segurança, necessidades sociais e autorrealização. ... em que um grupo relata a observação de duas classes: uma constituída por 80% de domésticas com idade inferior a 16 anos, em que ao ser decodificada a palavra tijolo, não houve o despertar do interesse da classe. Havia passividade por parte dos aluno.[...] Concluem os observadores que as palavras não eram significativas para o grupo e que, portanto, não proporcionavam nenhuma discussão, nenhum interesse na decodificação. (JANUZZI, apud GÂNDARA, 1987:60).
Após severas críticas, o Mobral foi extinto em 1985. Seu lugar foi ocupado pela Fundação Educar, cuja atribuição consistia em apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e demais empresas conveniadas,  cabendo a parte pedagógica às entidades públicas, ou seja, às Secretarias de Educação e aos setores educacionais das empresas privadas.
Pesquise sobre a metodologia colocada em vigor nesta época e seu contexto político. Registre suas ideias. 
 Aula 05_ Novas perspectivas na aprendizagem da leitura e da escrita
 
A aula passada, conversamos sobre a educação de adultos oferecida pelo Mobral. Na aula de hoje, vamos conversar sobre a prática pedagógica num contexto em vias de democratização, ou seja, a década de 1980.
 Mesmo durante o golpe militar, alguns educadores e intelectuais permaneceram resistindo e mantendo vivo o pensamento pedagógico de Freire. Estes grupos, ao manter as experiências, possibilitaram a ampliação das mesmas, construindo canais de troca de experiência, reflexão e articulação.
 A partir da década de 1980, estudos e pesquisas são publicados informando como o aluno aprende. Estes estudos difundem o aprendizado da língua escrita com base na linguística e na psicologia, que lançam novas luzes sobre as práticas de alfabetização. Estes estudos apontam que o exercício pleno das habilidades de leitura e escrita, vai além da decodificação de letras e sons, é necessário buscar os significados.
 As pesquisas do método construtivista  desenvolvidas pela psicopedagoga argentina  Emília Ferreiro esclarecem  aos alfabetizadores sobre a importância de conhecer o processo de elaboração do conhecimento, além de informar sobre  a limitação do método silábico.
 Apesar de toda a ênfase que foi colocada no construtivismo, observa-se ainda aplicação significativa do método silábico na alfabetização de crianças e até de jovens e adultos. Tal prática consiste na montagem e desmontagem de palavras. O método estabelece a apresentação de padrões silábicos que vão sendo acrescentados  formando um quadro. Os textos resultantes desta prática, são sem significado, não expressam mensagens de uma realidade.
          O que conhecemos como construtivismo nasceu da epistemologia genética de Jean Piaget, recebendo redefinição com Vygotsky e seus continuadores e, especificamente no caso da língua escrita, a influência das pesquisas desenvolvidas por Emília Ferreiro e colaboradores. O construtivismo é uma concepção de conhecimento,um conjunto de princípios. Supõe uma determinada visão do ato de conhecer. Segundo Piaget, todo conhecimento consiste em formular novos problemas à medida que resolvemos os precedentes. Para ele, o conhecimento é compreendido como atividade incessante. Em consonância com a teoria piagetiana, Freire concebe homens e mulheres como produtores de cultura e sujeitos produtores do conhecimento, elementos que demonstram a cientificidade dos pressupostos deste pensador. (FEITOSA, 2005, p.33)  
 
A leitura de Domiciano (2010) sobre a aprendizagem da leitura e da escrita na EJA na visão de alguns teóricos.
A aprendizagem da leitura e da escrita é um processo imprescindível para a inserção na vida sociopolítico e cultural do indivíduo. Saber ler e escrever, de acordo com Magda Soares (1998) é aprender e compreender expressões e símbolos, codificando e decodificando os símbolos apresentados, ou seja, não adianta apenas aprender os símbolos da escrita e decodificá-los, mas antes de tudo faz-se necessário compreender o que se está escrevendo, ou o que está escrito. No processo de alfabetização, Soares (1998) afirma que não se pode considerar que o indivíduo seja alfabético (termo utilizado por Emília Ferreiro) porque consegue decodificar os símbolos, nem tão pouco é alfabetizada a pessoa que sabe apenas utilizar esses símbolos. Para ela, o indivíduo também precisa compreender os símbolos decodificados.
Para TEBEROSKY,a escrita é uma das mais importantes tecnologias... 
Sabe-se que a escrita é uma forma de expressão da linguagem que implica uma comunicação simbólica, que se dá através da ajuda de sinais variáveis, de acordo com a cultura de cada civilização. A escrita é feita para ser vista e lida com função de transmitir uma história, um fato, um pensamento, uma teoria, etc. para si e para outros lerem, independente da ocasião. “A escrita é uma das mais antigas tecnologias que a humanidade já conheceu, serviu e tem servido para muitas finalidades, de religiosa a políticas, de literárias a publicitárias” (TEBEROSKY, 1990, p. 21). Surgiu com o homem primitivo, no tempo das cavernas, que registrava nas paredes os primeiros desenhos representando a sua vida diária. São esses desenhos, então, os primeiros passos para o surgimento da escrita.
Zabala apresenta importante contribuição em relação à educação.
Ao se pensar em alfabetização, deve-se ter em mente que o aprendizado não deve ser apenas das letras, mas, como afirma Zabala (2002), a educação deve facilitar a aquisição das competências básicas para a vida em sociedade sem perder a visão global da pessoa como ser crítico diante das desigualdades e comprometido com a transformação social e econômica do indivíduo. Nesse sentido, a alfabetização  torna-se um campo propício para o desenvolvimento de uma prática educativa cidadã, que possa proporcionar ao educando uma oportunidade de acesso ao mundo letrado e também conhecimento de seus direitos e deveres, tornando se cidadão ativo.
Ainda  Zabala, afirma:
Zabala (2002) acredita que a educação deve ser um instrumento indispensável para que a humanidade progrida em direção aos ideais de paz, liberdade, equidade e justiça social, funcionando como contrapeso a uma globalização. A educação deve contribuir para o desenvolvimento do ser humano em sua dimensão social.
 
Com base nos estudos de Ferreiro e Teberosky, as propostas pedagógicas para a alfabetização começam a incorporar a visão de que não é necessário nem recomendável montar uma língua artificial para ensinar a ler e escrever. Os adultos analfabetos podem escrever enunciados significativos baseados em seus conhecimentos da língua ainda que, no início, não produzam uma escrita convencional. É com essas produções que o educador pode realizar uma leitura da realidade.
 Os estudos realizados levaram muitos educadores à compreensão de que a alfabetização não se limita à forma como se juntam as letras para formar palavras. A alfabetização consiste em um processo permanente, que se inicia com a introdução dos jovens e adultos no universo da escrita, através da apresentação de diferentes tipos de textos que estão presentes em nossa sociedade.
 Vamos refletir sobre as diferentes possibilidades de conhecimento sobre o universo da escrita, fazendo uma pesquisa sobre alguns tipos de textos que podem promover o início do processo de alfabetização em jovens e adultos. Selecione-os e organize um banco de textos.    
Aula 06_O pensamento educacional como contribuição para a liberdade
  
Na aula passada conversamos sobre o período da redemocratização e os novos estudos realizados nos anos 1980 pelas educadoras Ferreiro e Teberosky acerca do construtivismo e de suas práticas em relação à alfabetização.
 O período de reconstrução democrática, iniciado a partir da década de 1980, deixou fluir muitas experiências de alfabetização na linha de conscientização dos anos 1960 que continuaram existindo durante os anos da ditadura, de forma latente, em grupos de educadores. Aliados a esta visão de conscientização ganharam consistência, também, os estudos realizados pelos educadores atuais, baseados em teorias piagetianas, conforme já comentado em aulas passadas e que voltaremos a falar mais detalhadamente. O pensamento pedagógico de Freire e o construtivismo de Ferreiro e Teberosky na realidade não se opõem, mas apresentam postos comuns, conduzindo ao enriquecimento do processo da alfabetização. Dificuldades encontradas na prática geram reflexão e apontam novas pistas. Nas próximas aulas falaremos com mais detalhes dos pontos comuns e divergentes entre os dois estudos.
 Nesta aula focalizaremos o “Método de Freire”, que o próprio educador afirmava não ser um método, mas, sim um pensamento sobre a educação.
 Mas o que é método?
 De acordo com o dicionário Aurélio, método significa: 
1- Caminho pelo qual se atinge um objetivo. 2- Programa que regula previamente uma série de operações que se devem realizar, apontando erros evitáveis, em vista de um resultado determinado. 3- Processo ou técnica de ensino. 4- Modo de proceder, maneira de agir, meio.
 
O trabalho realizado por Freire em Angicos, onde alfabetizou 300 trabalhadores, possibilitando o acesso destas pessoas à leitura e à escrita, mesmo que de forma rudimentar em curto espaço de tempo, nos permite identificá-lo como um método, considerando a conceituação aqui explicitada. A obra de Freire não se resume a um método, o que seria limitá-la, na realidade trata-se de uma teoria do conhecimento sobre o processo de ensino e aprendizagem. A sua pretensão, enquanto educador, estava além da criação de um método, o que se dispôs a fazer foi uma reflexão ampla, abrangendo os aspectos filosóficos e políticos presentes na educação. Para ele, a educação, valendo-se da reflexão e da conscientização, teria como fim promover uma prática que possibilitasse mudança na estrutura da sociedade.
 No período que antecedeu aos estudos de Freire, constatava–se uma diferente realidade educacional, ou seja, existiam as vozes assumidas e as suprimidas. Neste contexto, o professor é o sujeito que detém todo  o poder, com voz, com escolhas, enquanto o aluno ocupa a situação de objeto, colocado na condição de um caixa vazia, cujo conteúdo será preenchido pelo ser que tudo sabe – o professor. Ao aluno cabe ouvir, repetir, obedecer sem questionar, responder de acordo com o estabelecido, para que o processo seja considerado um sucesso. Não pode haver questionamentos, apenas, dúvidas sobre o que já foi afirmado, para que seja reafirmado. O conhecimento só possui uma face.                              
 Em entrevista concedida à Nilcéia Lemos Pelandré, em 1993, Freire diz o seguinte:
Eu preferiria dizer que não tenho método. O que eu tinha quando muito jovem era a curiosidade de um lado e o compromisso político do outro, em face dos renegados, dos negados, dos proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O que eu tentei fazer e contínuo hoje, foi ter uma compreensão que eu chamaria de crítica ou de dialética da prática educativa, dentro da qual, necessariamente, há umacerta metodologia, um certo método de conhecer e não um método de ensinar.”
(PELANDRÉ apud FEITOSA, 1999, p.27)
Não há como não concordar com Freire, o que foi proposto não visava apenas à aquisição da habilidade de ler e escrever e sim à alfabetização junto com a reflexão sobre o mundo em que o sujeito vive, sobre a ação que produz sobre este mundo e  a possibilidade de transformá-lo.
 Faça uma reflexão sobre o que foi discutido aqui. A obra de Freire pode ser considerada um método ou uma teoria do ensino e da aprendizagem? Registre suas conclusões.
Resumo Unidade I
A Unidade I buscamos realizar um passeio pelo movimento histórico  com  vistas  a possibilitar o conhecimento das políticas educacionais de educação de adultos colocadas em vigor a partir da década de 1930. O conhecimento destas políticas abrange não só os interesses de uma classe social dominante, como as práticas pedagógicas inicialmente pautadas pelo infantilismo, ou seja, o modelo de  educação a ser oferecida àqueles que não tiveram oportunidade de acesso à escolaridade em idade própria, obedecia ao mesmo  que era apresentado às crianças em idade escolar, como a utilização de práticas como memorização, repetição, a aprendizagem totalmente desconectada da realidade.
 Durante o desenvolvimento desta unidade, buscamos estabelecer uma relação direta entre o contexto político e as práticas docentes, principalmente os períodos da nossa história em que estivemos sob o domínio das ditaduras do Estado Novo e a Militar.
 No final da unidade, comentamos sobre o pensamento educacional de Freire, o qual prosseguirá na unidade seguinte.
 Concluímos a primeira unidade, destacando a importância do conhecimento  histórico para a compreensão do cenário atual em relação à educação, particularmente à educação de adultos.
 
Referências 
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 Bibliografia Complementar                      
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SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo, Cortez/autores associados, 1987.
Aula 07_Etapas do Método Paulo Freire-pensando sobre educação
  
Na última aula da primeira unidade conversamos sobre o método Paulo Freire. Iniciamos conceituando método e concluímos com uma entrevista concedida por Freire a uma educadora, onde ele nega que tenha criado um método de ensinar. Nesta aula continuaremos comentando sobre as etapas do método de conhecer, segundo Freire.    
O educador Paulo Freire é hoje uma das personalidades mais respeitadas em termos de educação. Segue aqui a metodologia criada por Freire, com base no texto de Feitosa (1999)- Cadernos de EJA- IPF: 
Investigação Temática: busca do universo vocabular e contexto social do educando. É importante que o próprio educando expresse como percebe sua realidade, que motivos determinam a situação existente, para que o educador possa incorporar um conhecimento amplo da situação do grupo- classe, com vista à criação de um tema gerador geral, que possibilita  a aprendizagem não fragmentada, interligando diferentes áreas do conhecimento. É a integração do conhecimento, como possibilidade de transformação social.
O tema gerador geral poderá originar várias palavras geradoras.
A seleção destas palavras obedecerá três critérios básicos:
a-) Palavras inseridas no contexto social dos educandos
b-) Devem abrigar vários engajamentos: social, político, cultural.
c-) Selecionadas de acordo com apresentação dos diferentes fonemas da língua, com a finalidade de explorar as dificuldades fonéticas. Ao educador, cabe o papel de graduar tais dificuldades,  pois, como já foi dito o método proposto é o silábico. Os fonemas apresentados devem ser registrados pelo aluno, para que possam elaborar novas palavras, comparar com as já criadas, descobrindo semelhanças e/ ou diferenças entre elas.            
Tematização, escolha dos temas geradores e palavras geradoras. É através desta que realizamos a codificação (a redução de uma situação existencial a uma imagem - gravura, slide, que expresse a problemática) e a decodificação (análise do desenho/ gravura, para perceber o que ali está expresso) É a passagem do abstrato para o concreto. Este debate permite avançar para além do que é conhecido da sua realidade, para compreendê-la e intervir criticamente.
Cada palavra geradora deverá ter a sua ilustração, com vistas a produzir novos debates, ou seja, a representação de aspectos da realidade, a partir da relação que se estabelece entre os elementos do grupo.
 Problematização, o ser humanotem pouco conhecimento a respeito dele próprio, à medida que vai se conhecendo, passa a ter  consciência, iniciando o processo de questionamentos sobre si mesmo. É a busca da superação da consciência ingênua para a consciência crítica. 
Como já foi dito anteriormente, a alfabetização de adultos, antes dos estudos de Freire, estava centrada em uma visão simplista e infantilizante, com adaptações do uso de cartilhas. O educador Paulo Freire pode ser considerado um vanguardista, pois iniciou o uso da linguagem multimídia na alfabetização de adultos, além de romper com a concepção de que a educação é um ato neutro. A proposta de utilização da metodologia pautada nas ideias de Freire foi completamente inovadora. Desde a sua origem e aplicação na década de 1960, até os dias atuais, vem ocasionando discussões e continua em evolução. 
 Para Freire o conhecimento é construído, como afirma Feitosa em seu texto abaixo:
“A concepção freiriana procura explicitar que não há conhecimento pronto e acabado. Ele está sempre em construção. Aprendemos ao longo da vida e a partir das experiências anteriores, o que faz cair por terra a tese de que alguém está totalmente pronto para ensinar e alguém está “totalmente” pronto para receber esse conhecimento, como uma transferência bancária. Esse caráter político, libertador, conscientizador é o diferencial da metodologia de Paulo Freire dos demais métodos de alfabetização.” 
Desde seus primeiros escritos, Paulo Freire considerou a escola muito mais do que as quatro paredes da sala de aula. Apesar de aplicado entre jovens e  de adultos, o método também pode ajudar na alfabetização e letramento de crianças.
 
 
Aula 08_Os princípios do método freireano
 
Na aula passada, conversamos sobre o método de Freire, comentando sobre as etapas, de acordo com o texto de Feitosa. Na aula de hoje, vamos continuar falando sobre este notável educador e sua obra. Com base no texto de Feitosa (1999) – do Instituto Paulo Freire, comentaremos sobre os princípios do Método Paulo Freire. 
Uma prática originada no passado e que ainda está muito presente no trabalho educacional atual é o autoritarismo, e a outra faceta do autoritarismo  é a negação do contexto social do educando. Esta prática é denominada por Freire de invasão cultural, ou de depósito de informações, pois não surge a partir do saber popular, além de ignorá-lo.
Para Freire, dois pontos de apoio de sua proposta pedagógica são importantes: o estudo da realidade do educando e a organização dos dados desta realidade, que se constitui em tarefa do educador. Nessa dinâmica surgem os temas geradores, os quais emergem da reflexão realizada pelo grupo, conforme já comentamos em aulas anteriores. Quanto aos conteúdos focalizados nas aulas, estes são frutos de uma metodologia dialógica. Para que estes conteúdos sejam significativos é necessário conhecer o aluno dentro do seu contexto social, o que determinará a temática a ser trabalhada. Da exploração desta realidade, o educador estabelece uma síntese dialética entre o saber erudito e o saber popular, o que produzirá um novo conhecimento.
Uma “metodologia” pautada por tarefas determinadas, estruturadas em exercícios mecânicos como forma de atingir uma avaliação da aprendizagem, constitui-se em uma educação bancária. Tal prática visa à domesticação e a aceitação da realidade sem refletir. O saber do professor é depositado no aluno. Nesta prática a educação está desconectada da realidade.
Um dos aspectos inovadores é a questão do relacionamento entre educadores e educando, que se estabelece na horizontalidade, pois ambos são sujeitos do ato do conhecimento. Não há uma relação de autoritarismo, o qual se constitui em impedimento para o exercício de uma prática de conscientização e de criticidade.
Vale destacar que o professor, ao exercer uma relação de igualdade com seu aluno, não perde a sua autoridade, pois esta é pautada pelo conhecimento, pelo respeito, pela confiança, pela ética que com ele  se  apresenta no  exercício do seu cotidiano.
O grande educador Paulo Freire, entendia que o ato de educar inclui o ato de recriar e de ressignificar, assim como tinha como fio condutor da alfabetização, a libertação. A libertação acontece tanto no campo cognitivo, como no social e político.
A adoção do método requer o entendimento deste, o que só acontece a partir do entendimento dos princípios que o regem. Nas próximas aulas falaremos sobre estes princípios.                             
A pedagogia do diálogo que praticava fundamenta-se numa filosofia pluralista. O pluralismo não significa ecletismo ou posições “adocicadas”, como ele costumava dizer. Significa ter um ponto de vista e, a partir dele, dialogar com os demais. É o que mantinha a coerência da sua prática e da sua teoria. Paulo era acima de tudo um humanista. Seria a única forma de “classificá-lo” hoje. Não há dúvida de que Paulo Freire foi um grande humanista.  (GADOTTI, 2005, p.15)
 Para Barbosa( 2008), Paulo Freire afirma que a curiosidade em busca do conhecimento do mundo não ocorre de forma isolada, mas sim por meio do diálogo. 
A aptidão humana de compreender o mundo se amplia cada vez mais a partir do desenvolvimento da capacidade de pronunciá-lo, e o mundo só é mundo se dito por alguém. As trocas entre os homens efetivam-se pelo diálogo. Desse modo, quanto mais os homens envolvem-se em experiências de trocas de ideias, de opiniões, de conhecimentos, mais ampliam sua capacidade de dar sentido à sua compreensão de mundo. É no encontro entre os homens, mediatizados pelo objeto de conhecimento, que eles ampliam suas habilidades de compreensão de mundo e de si mesmo. Aos poucos, sua compreensão sobre uma ocorrência, ou um fato, assume aspectos sempre mais amplos, alargando-se, de algo isolado a um todo mais complexo. Nessa experiência, amplia-se seu olhar crítico sobre a realidade; amplia-se sua capacidade de abertura ao outro, ao diferente; amplia-se sua inclinação a contextualizar seu próprio conhecimento. Quanto mais há separação da realidade, mais há alienação da mesma. Não há diálogo se não há compromisso com a pronúncia do mundo. O diálogo não acontece quando o encontro entre homens é atuado por uma conquista de um pelo outro, no desejo de conquistar o mundo pelo domínio entre homens, mas quando o encontro entre eles, direcionados ao mundo, institui-se na solidariedade. Em Educação como prática da liberdade (1994), Paulo Freire assim define diálogo: E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois polos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há comunicação (FREIRE, 1994, p.115). Nesse trecho, o fenômeno do diálogo, enquanto reflexão crítica do real, aparece relacionado a um conjunto de valores sem o qual não é possível a sua ocorrência: o diálogo concretiza-se em atos de amor, de humildade, de fé, de confiança, de esperança.
 
Deixamos como reflexão, a seguinte questão: que princípios fundamentam o método de Freire?
 
Aula 09_A politicidade do ato educativo
  
Nos encontros  seguintes, continuaremos conversando sobre cada um dos princípios de Paulo Freire. Nesta aula examinaremos o primeiro princípio do “Método Paulo Freire” – a politicidade do ato educativo. Usaremos  como base o texto de Feitosa (1999) – do Instituto Paulo Freire.
A educação não é neutra, esta é uma afirmação presente na proposta educacional de Freire. A transformação ocorre em decorrência da ação do homem sobre uma determinada realidade. Assim, a educação vai se construindo e reconstruindo de forma contínua. Tal entendimento não é voz corrente entre os homens e mulheres, prevalece na sociedade a visão ingênua de que não lhes cabe possibilidade de transformação, o que os leva a uma condição  de submissão. Tal visão é reforçada através do uso de cartilhase livros organizados, de acordo com uma concepção domesticalizadora, nos quais os seres são colocados em uma situação de observadores e não como sujeitos dessa realidade.
Para Freire, o processo de aprendizagem da leitura e da escrita é indissociável do processo de politização. O educando é incentivado a refletir sobre sua história como indivíduo, como pertencente a um grupo social e sobre  o lugar que ocupa nesta sociedade, enquanto tem acesso ao desenvolvimento da habilidade de  ler e escrever. Esta ação promove a passagem da consciência ingênua para consciência crítica.                                         
Na experiência de Angicos, assim com em outros lugares onde foi adotado o método, as salas de aula transformaram-se em fóruns de debates, denominados “Círculos de Cultura”. Neles, os alfabetizandos aprendiam a ler as letras e o mundo, a escrever a palavra e também sua própria história.
Através de slides contendo cenas de seu cotidiano, esses trabalhadores- educandos discutiam sobre o desenrolar de suas vidas reconstruindo sua história, sendo desafiados a perceberem–se enquanto sujeitos dessa história. Nesse contexto, era apresentada uma palavra aos educandos – ligada a esse cotidiano e previamente escolhida coletivamente – e através do estudo das famílias silábicas que a compunham, o educando apropriava-se do conhecimento do código escrito ao mesmo tempo em que refletia sobre sua história de vida.
O professor na condição de parceiro mais forte,tem o papel de coordenar o debate, problematizar as discussões para que opine e relatos surjam.
Cabe também ao educador conhecer o universo vocabular dos educandos, o seu saber traduzido através de sua oralidade, partindo de sua bagagem cultural repleta de conhecimentos vividos que se manifestam através de suas histórias.
Os alfabetizandos, ao dialogar com seus pares e com o educador sobre o seu meio e sua realidade desvelam aspectos dessa realidade até então não perceptíveis conscientemente. Essa percepção se dá em decorrência da análise das condições reais observadas.
(FEITOSA,1999, p. 25)     
As discussões realizadas em torno de sua realidade tendem a se aprofundar, o que conduz a uma visão mais concreta e mais ampla. O educando irá desenvolver um entendimento crítico, constituindo- se então em instrumento de intervenção na realidade com possibilidade de transformação.
 O Método Paulo Freire possibilita um exercício de ação- reflexão- ação, o que anuncia tratar-se de uma metodologia carregada de aspecto político. 
 Deixamos como reflexão: atualmente a prática docente possibilita que o educando estabeleça um diálogo com seus pares e com o educador na busca de conhecer sua realidade? Registre suas conclusões.    
Aula 10_Dialogicidade do ato educativo
  
No encontro de hoje vamos conversar sobre o segundo princípio – a dialogicidade do ato educativo, a qual já iniciamos na aula anterior.. As ideias aqui postas estão de acordo com o texto de Feitosa (1999)- IPF.
A pedagogia proposta por Freire é fundamentada numa “antropologia filosófica dialética” e tem como objetivo as transformações sociais, a partir do envolvimento do homem e da mulher, como sujeitos desse processo, tendo como base o “diálogo”. A relação dialógica é um dos aspectos essenciais para que a prática pedagógica aconteça e se materialize nas situações de interação educador / educando, natureza / cultura.
Segundo Freire, dentre todos os papéis desempenhados pela educação, um dos mais importantes é a busca do humanismo entre toda a sociedade, o que só é possível em uma relação pautada pelo diálogo, pois permite a ampliação da percepção que permite 
promover a ampliação da visão de mundo e isso só acontece quando essa relação é mediatizada pelo diálogo. Não no monólogo daquele que, achando-se saber mais, deposita o conhecimento, como algo quantificável, mensurável naquele que pensa saber menos ou nada saber. A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar  e de recriar” ( FREITAS, apud FEITOSA, p. 26) 
A dialogicidade está apoiada nos eixos: educador – educando - objeto do conhecimento. A junção dessas três “categorias gnosiológicas” está presente no método e constitui–se em um conteúdo programático, ou seja, em instrumento para que a reflexão sobre uma dada realidade social  se concretize. O diálogo antecede a ação pedagógica; na realidade, constitui-se em base para a efetivação do pedagógico. Uma das etapas de efetivação do método é a pesquisa do universo vocabular que envolve o educando, assim como sua realidade política, social, cultural e econômica. Este estreitamento relacional constitui-se em um veículo facilitador para que   educador – educando - objeto do conhecimento estabeleçam uma relação democrática, conscientizadora, libertadora,  caracterizando-se então como dialógica.
Segundo Freire, homens e mulheres são produtores de cultura. Tal compreensão está presente no método Paulo Freire. Para despertar a curiosidade dos educandos sobre o conceito de cultura, Freire optou por trabalhar situações existenciais codificadas: “[...] processo pelo qual uma situação existencial se reduz a uma linguagem visual-desenho, slides, que contém toda a problemática.” (GADOTTI,apud FEITOSA, p. 26)           
A utilização da linguagem visual conduz ao estudo da realidade ali representada, trata–se da decodificação (processo de análise do código: o desenho, slide) para capturar os elementos existenciais que ali estão contidos. “É a passagem do abstrato para o concreto, das partes ao todo e um retorno do todo às partes.” (GADOTTI apud FEITOSA, p.26).
O processo educacional efetivado a partir da relação entre educação e arte aponta a condição de vanguardista que podemos atribuir a Freire. A reforma educacional prevista a partir dos anos 1990, com a nova LDB 9394/96 e todas as demais orientações pedagógicas instituídas, estimulam uma prática pedagógica baseada na interdisciplinaridade, na abordagem das temáticas por áreas do conhecimento.
Deixamos como reflexão a questão: as gravuras apresentando cenas do cotidiano dos alfabetizandos, como recorte das realidades vividas por eles, podem produzir efeitos no processo de ensino e aprendizagem? Registre.   
Aula 11_Discutindo os pontos básicos do Método Paulo Freire: o estudo da realidade e o tema gerador
 
Na apresentação dos princípios do Método Paulo Freire, destacamos a importância do estudo da realidade e do tema gerador. Com base no texto de Nascimento (1999) do IPF, nas próximas aulas estaremos conversando com mais profundidade sobre estes dois pontos de apoio ao método aqui estudado, que são: o estudo da realidade e do tema gerador.
 Na aula de hoje, vamos comentar sobre dados recentes em relação à educação de jovens e adultos. Apesar da atual LDB  9394/96 expressar como dever do Estado a garantia do atendimento ao ensino fundamental e o sistema oficial de ensino afirmar todo o seu empenho, os resultados não têm sido satisfatórios, haja vista os dados de elevados índices do analfabetismo no país. 
O Brasil tinha em 2011, 8,6% pessoas com mais de 15 anos que não consegue escrever um bilhete simples, em 2009 a taxa registrava 9,7% . Considerando–se aqui o conceito de “analfabeto funcional” (que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudos concluídos). Em 2013  a taxa de analfabetismo funcional também caiu, de 18,3% para 17,8%. A Pnad foi divulgada   pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O analfabetismo funcional também caiu em todas as regiões brasileiras, e acompanha o analfabetismo quando enumeradas as regiões em que ele é mais incidente. No Nordeste, a taxa caiu de 28,4% para 27,2% e ainda é a maior do país. O Norte vem em seguida, com 21,6%,  apresenta 0,3 ponto percentual a menos que no ano passado. No Centro-Oeste, a situação ficou praticamente estável, com queda de 0,1%, de 16,5% para 16,4%.
Os dados apresentados foram oficializados por órgãos do Governo Federal, o que demonstra que  este tem  conhecimento do elevado número dejovens e adultos analfabetos e que as políticas que estão sendo implementadas, de acordo com o discurso oficial, não estão dando conta do sério problema que se constituiu na questão do analfabetismo no Brasil.  Atualmente está em andamento o “Programa Brasil Alfabetizado”.
Os governos brasileiros, ao longo de sua história, afirmavam que estimulavam políticas nacionais com vistas à erradicação do analfabetismo, mas os resultados não se apresentaram  satisfatórios, o que pode demonstrar que o poder público necessita de parceiros para atender à demanda de jovens e adultos analfabetos.
No início da década de 1990, através do programa “Comunidade Solidária”, algumas parcerias com empresas e universidades foram instituídas em 52 municípios, atendendo a duzentos e setenta e cinco mil jovens e adultos, em um universo de 20 milhões de analfabetos, na época. O programa “Comunidade Solidária” foi extinto em dezembro de 1998.            
Diante de um cenário, em que o poder público apresenta aspectos de impotência para resolver a questão aqui discutida- o analfabetismo- não há como não concordar com o estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada e demais instituições de ensino, mas é necessário que o governo disponha de uma participação mais efetiva frente à resolução do problema. A participação para auxiliar a resolução de tal problema prevê o implemento de outros programas com  maior investimento, além da utilização de metodologias que possibilitem o acesso e a permanência desta parcela da população, ou seja, a presença do Estado como planejador, organizador, implementador das políticas, visando à erradicação  do analfabetismo no Brasil.
Freire, preocupado com o emprego de metodologias que não atendiam aos interesses dos jovens e adultos e não promoviam a mudança de uma realidade de opressão, cria uma metodologia. Já naquela época, o vanguardista Freire tinha a concepção de que só o próprio homem é capaz de promover sua libertação e, neste sentido, a educação poderia ser um instrumento de libertação. Como caminho para comprovar sua visão sobre a educação, construiu uma metodologia polêmica, mas que se tornou conhecida mundialmente. Após quase 50 anos de sua primeira experiência, em Angicos, Pernambuco, esta metodologia continua se recriando, mantendo os seus principais eixos: a leitura da realidade dos educandos e a escolha de temas geradoras. É sobre estes dois eixos que passaremos a comentar nas próximas aulas.  
Estamos concluindo o nosso encontro de hoje e deixamos como reflexão a seguinte questão:  com  base em uma sociedade do conhecimento, que metodologias podemos construir, a partir de uma vivência do aluno, para consolidar a  erradicação do analfabetismo? Registre sua resposta.
Aula 12_A educação bancária e a prática tradicional
       
Na aula de hoje vamos conversar sobre a prática predominante em salas de aula. Estes comentários têm como base o texto de Nascimento (1999) do IPF .
 A literatura atual sobre educação aponta uma direção progressista, em que o aluno é sujeito do seu processo de ensino-aprendizagem, mas a prática pedagógica da maioria das nossas salas de aula ainda é pautada por uma prática tradicional, ou seja, o professor é quem sabe tudo e, por isso mesmo, cabe a ele a tarefa de transmitir os seus conhecimentos aos alunos. Esta visão educacional está presente também nas salas de aulas de jovens e adultos, mesmo sendo estes educandos portadores de um conhecimento de mundo, já que se relacionam no mundo do trabalho e já desenvolveram algumas habilidades importantes para a sua formação, mas estas não são consideradas no espaço escolar.
Freire, em sua análise sobre a concepção de educação que adota esta postura, denominou-a de “bancária”. Nesta prática, há uma relação entre o sujeito (educador) e do lado oposto encontra-se o objeto (o educando). O educando é tido como uma caixa vazia que será preenchida pelo educador ao ministrar os conteúdos da disciplina, além de ser considerado como detentor de todo o conhecimento.
O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca.
(FREIRE apud NASCIMENTO, p. 39).             
Na concepção bancária, segundo análise de Freire e o texto de Nascimento (1999) – IPF. 
a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores  e conhecimentos e, refletindo a sociedade opressora, ela mantém e estimula a contradição. Daí, então, que nela :
a)     O educador é o que educa; os educandos, os que são educados;
b)    O educador é o que sabe; os educandos os que não sabem.
c)     O educador é o que pensa; os educandos, os pensados:
d)    O educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente;
e)     O educador é o que disciplina; os educandos os disciplinados;
f)     O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição;
g)    O educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador,
h)     O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos jamais ouvidos nesta escolha se acomodam a ele;
i)      O educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele;
j)      O educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos meros objetos.
Após a leitura do texto acima, podemos compreender dentro da concepção de ensino tradicional que a oferta do conhecimento destina-se à manutenção da organização social existente, isto é servir as classes com melhor situação social.         
Estamos concluindo nosso encontro de hoje. Durante nossa conversa, afirmamos que em muitas de nossas salas de aulas, a prática do cotidiano é pautada no modelo que Freire denomina educação bancária. Assim, procure verificar em sua cidade como está sendo efetivada a educação de adultos dentro da sala de aula. Registre os pontos comuns com a prática em questão, aqui exposta.   
Aula 13_Como educar para a libertação?
  
No encontro anterior conversamos sobre a educação bancária, denominação criada por Freire. Esta concepção de educação define uma prática em que o aluno recebe os depósitos, ou seja, os conhecimentos, valores que refletem os princípios de uma sociedade opressora, além de  não participar do seu processo de construção  ensino e aprendizagem.
No encontro de hoje, trataremos da concepção de educação pensada por Freire, que prevê o estudo da realidade.
A metodologia do Estudo da Realidade constitui-se na forma como Freire pensou a educação e que denominou de libertadora. A educação libertadora mantém características opostas à educação bancária.
 Nossa aula está fundamentado no texto de Nascimento (1999) do IPF. Para melhor compreender o pensamento de Freire, vamos refletir a partir da seguinte citação:  
Se na experiência da minha formação, que deve ser permanente, começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me considero o objeto, que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por ele formado, me considero como um paciente que recebe os conhecimentos – conteúdos – acumulados pelo sujeito que sabe e que são a mim transferidos. Nesta forma de compreender e de viver o processo formador eu, objeto, agora terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto do meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse sentido que ensinar não é transferir conhecimento, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado [...]Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREITAS, apud NASCIMENTO, p. 41) 
A concepção educacional pensada por Freire, inspiraao educador a adoção de uma postura, também com características contrárias à postura do educador investido de uma postura de educação bancária. Uma prática com características libertadora deverá apontar as seguintes características: 
*O respeito à identidade cultural do educando.
*A apropriação e produção de conhecimentos relevantes e significativos, de forma crítica, para a compreensão e transformação da realidade social.
*A compreensão do que é ensinar e aprender.
*O estímulo à curiosidade e à criatividade do educando e do educador;
*O desenvolvimento do trabalho coletivo na escola.
*A democratização das relações na escola.
*A recuperação do papel do educador.
*A interação comunidade - escola como espaço de valorização da cultura popular. 
A prática pedagógica, investida de uma postura como a explicitada acima, tem como alvo determinar uma relação entre sujeitos que têm como fim o estabelecimento de uma sociedade integrada, onde as pessoas possam conviver em um espaço livre. Enfim, é a transformação da sociedade.
Com a finalidade de constatar na prática as características de uma educação libertadora, pesquise e registre modelos de práticas libertadoras existentes em sua comunidade
Aula 14_O Estudo da Realidade: uma metodologia emancipadora.
  
Na aula anterior conversamos sobre educação libertadora e sobre a metodologia estudo da realidade. Na aula de hoje, continuaremos conversando sobre este tema.             
Conforme vimos em outros encontros, a educação de jovens e adultos, ao longo da história da educação, já esteve vinculada a diferentes concepções, o que implicava em diferentes práticas que tinham como finalidade tornar a prática de sala de aula mais interessante e prazerosa. Considerando que, quando o aluno escolhe retornar às aulas, possivelmente, encontra-se esperançoso em realizar o seu processo de aprendizagem, a prática, sobre a qual estaremos aqui conversando, é também a busca de um caminho. 
O Estudo da Realidade constitui-se uma prática pedagógica moderna, pois permite o estabelecimento de novas relações entre os envolvidos no processo ensino e aprendizagem. Assim, educadores e educandos se envolvem no que é denominado de pesquisa participante, ou seja, a investigação do contexto em que vivem. Tal metodologia permite a confirmação de outro princípio freiriano: “a leitura da realidade antecede a leitura da palavra”. Podemos afirmar assim, que Estudo da Realidade “[...] visa  transformar o espaço escolar em um centro de produção, recriação e irradiação de culturas” (Revista MOVA-SP apud NASCIMENTO, 1999, p.41) 
De acordo com o texto de Nascimento, uma proposta pedagógica que tenha como alvo a liberdade, deve pautar a sua prática no diálogo. Deste diálogo deve emergir o entendimento e o sentimento que o indivíduo tem em relação a esta realidade. Para a materialização do estudo dessa realidade deve obedecer a sequência de alguns passos, de acordo com o texto de Nascimento:
· Organização da saída a campo, para que os participantes saibam o que vão fazer, como fazer, e o tempo de que precisarão para investigar a área.
· Coleta de dados através do estudo do meio e de conversas com educandos e pessoas da comunidade, utilizando–se máquinas fotográficas, fitas de vídeo, questionários, entrevistas, filmes, livros, documentos, jornais, revistas;
· Levantamento dos diferentes interesses dos educandos indo da aparência à essência.
 
O Estudo da Realidade se constitui em uma teoria importante, mas para que seja legitimada é fundamental que seja transformada em uma atividade prática, que pode ser chamada de método experimental, como condição para superar a via teórica: 
A via teórica não é capaz de oferecer nada mais do que desdobramentos lógicos. A via experimental neste ponto é portadora de maiores possibilidades de enriquecer a formulação. Como ela não é pura teoria, por maior que seja o controle exercido na experiência, sempre há uma brecha para que um elemento não esperado, ou fora de controle, se manifeste, interfira indiretamente, desde que a experiência é construída[...]O conhecimento é sempre aperfeiçoamento de um conhecimento anterior, que se põe em dúvida, que se nega. Não é sobre a escuridão que se trabalha, mas sobre áreas iluminadas, quando se considera precária essa iluminação passada. O conhecimento se faz ao custo de muitas tentativas, multiplicando as incidências de diferentes raios de luz diferente, a partir de pontos de vistas também diferentes... Uma única incidência de um único feixe luminoso não é suficiente para iluminar todo um objeto[...] A utilização de outras fontes luminosas poderá formar um objeto inteiramente diverso ou indicar dimensões inteiramente novas do objeto (CARDOSO apud NASCIMENTO, 1999, p. 41-42).
 
As verdades coletadas em um processo de investigação não devem ser consideradas como imutáveis, pois o processo de investigação de uma realidade sofre a interferência de diversas maneiras, a forma como os dados foram selecionados, a ação desenvolvida pelos sujeitos que estão realizando a pesquisa e pelos que estão sendo alvos destas. Porém a multiplicidade de informações proporcionará uma ampliação do conhecimento em torno da realidade estudada.                
Estamos concluindo nosso encontro de hoje, quando comentamos sobre a prática pedagógica Estudo da Realidade. Comente sobre os aspectos relevantes de tal prática. Registre
Para melhor explicitar estas afirmações, escolhemos a citação de Marli André (1999, p.42)
É fato bastante conhecido que a mente humana é altamente seletiva. É muito provável que, ao olhar para um mesmo objeto ou situação, duas pessoas enxerguem diferentes coisas. O que cada pessoa seleciona para “ver” depende muito de sua história pessoal e principalmente de sua bagagem cultural. Assim, o tipo de formação de cada pessoa, o grupo social a que pertence, suas aptidões e predileções fazem com que sua atenção se concentre em determinados aspectos da realidade, desviando–se de outros. Do mesmo modo, as observações que cada um de nós faz na nossa vivência diária são muito influenciadas pela nossa história pessoal, o que nos leva a privilegiar certos aspectos da realidade e negligenciar outros...  
Resumo Unidade II
 
Nesta unidade, conversamos sobre o educador Paulo Freire e sua concepção sobre educação. Para alguns autores tal concepção é denominada de “método de Paulo Freire”. Para Freire, método presumia etapas determinadas, daí o motivo da não aceitação de tal denominação, pois o que Freire proclamava era justamente o contrário, ou seja, uma ampla discussão sobre  a realidade do educando, levando–o a conhecer as causas da situação econômica e social na qual se encontrava - “ a leitura do mundo antecede a leitura da palavra.” A partir destas discussões  são estabelecidos os temas geradores, os quais possibilitam o início do processo de escolarização.
 No decorrer desta unidade foram apresentados aspectos da concepção educacional de Freire como a realização  da ação- reflexão – ação, tratando–se de um movimento constante de criação e recriação. Assim, através da adoção do seu pensar sobre educação, promovemos a libertação e, para tal, utilizamos aspectos como a dialogicidade – discussão  e compreensão de uma realidade.
 Também abordamos aspectos relacionados à educação tradicional,os quais Freire chamou de “educação bancária”. Na educação bancária, segundo afirmava Freire,  a formação do indivíduo acontece como um recipiente a ser preenchido com as informações  produzidas universalmente e que devem ser reproduzidas, sem o exercício da   reflexão, o que possibilitaria  a compreensão da realidade e a alteração da mesma. 
 Concluímos  esta unidade afirmando que a metodologia desenvolvida por Freire, permite a libertação do indivíduo, tanto no campo cognitivo como no social e político, e que suas ideias ainda estão em processo de consolidação
 Referências 
 ANDRADE, Regina P. C. Fundamentos para um trabalho Construtivista. Atualidades Pedagógicas. Revista Pedagógica Brasileira, 1994.
CISESKI, Ângela Antunes et alii: Educação de Jovens

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