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Kaysa Suassuna Medicina | FITS Hormônios e inibidores gonadais Farmacologia- 4º Período ESTROGÊNIOS ➢ Farmacocinética Quando liberado na circulação, o estradiol liga-se fortemente a uma a2-globulina (globulina de ligação dos hormônios sexuais [SHBG]) e, com menor afinidade, à albumina. O estrogênio ligado é relativamente indisponível para difusão no interior das células, de modo que a fração livre é que constitui a forma ativa do ponto de vista fisológico. O estradiol é convertido pelo fígado e por outros tecidos em estrona e estriol (Figura 40-2) e em seus derivados 2-hidroxilados e metabólitos conjugados (que são muito insolúveis em lipídeos para atravessar a membrana celular com facilidade) e excretados na bile. A estrona e o estriol exibem baixa afinidade com o receptor de estrogênio. Todavia, os conjugados podem ser hidroxilados no intestino a compostos ativos e reabsorvíveis. Os estrogênios também são excretados em pequenas quantidades no leite materno durante a lactação. Como os estrogênios e seus metabólitos ativos são excretados em quantidades significativas na bile e reabsorvidos a partir do intestino, a circulação êntero-hepática resultante assegura que os estrogênios administrados por via oral tenham uma elevada relação entre efeitos hepáticos e periféricos. Conforme assinalado adiante, acredita-se que os efeitos hepáticos sejam responsáveis por algumas ações indesejáveis desses hormônios, como síntese aumentada de fatores da coagulação e do substrato da renina plasmática. Os efeitos hepáticos dos estrogênios podem ser minimizados pelas vias que evitam a exposição hepática de primeira passagem – isto é, vaginal e transdérmica – ou por injeção. ➢ Efeitos fisiológicos ● Mecanismo Os estrogênios no sangue e no líquido intersticial ligam-se à SHBG, a partir da qual se dissociam para atravessar a membrana celular, entrar no núcleo e ligar-se a seu receptor. A ligação do hormônio ao seu receptor modifica a sua conformação e o libera das proteínas estabilizadoras (predominantemente Hsp90). O complexo receptor-hormônio forma dímeros (geralmente ERa-ERa, ERβ-ERβ ou ERa-ERβ) que se ligam a uma sequência específica de nucleotídeos, denominados elementos de resposta dos estrogênios (ERE), nas regiões reguladoras de vários genes, regulando a sua transcrição. O ERE é constituído de dois meios-locais dispostos como um palíndromo, separados por um pequeno grupo de nucleotídeos, denominado espaçador. A interação de um dímero do receptor com o ERE também envolve várias proteínas nucleares, os correguladores, bem como componentes do processo de transcrição. Interações complexas com vários correguladores parecem ser responsáveis por alguns dos efeitos específicos teciduais que Kaysa Suassuna Medicina | FITS determinam as ações dos moduladores seletivos do receptor de estrogênio. As concentrações relativas e os tipos de receptores, correguladores dos receptores e fatores de transcrição conferem a especificidade celular das ações do hormônio. Os efeitos genômicos dos estrogênios são produzidos sobretudo por proteínas sintetizadas por meio da tradução do RNA transcrito a partir de um gene responsivo. Alguns dos efeitos dos estrogênios são indiretos e mediados pelas ações autócrinas e parácrinas de autacoides, como fatores de crescimento, lipídeos, glicolipídeos e citocinas, produzidos pelas células-alvo em resposta ao estrogênio. Os efeitos rápidos induzidos pelos estrogênios, como captação de Ca2+ pelas células da granulosa e aumento do fluxo sanguíneo uterino, não exigem ativação gênica. Parecem ser mediados por efeitos não genômicos do complexo clássico de receptor de estrogênio-estrogênio, influenciando diversas vias de sinalização intracelulares ● Amadurecimento da mulher Os estrogênios são necessários à maturação sexual e ao crescimento normais da mulher ● Efeitos endometriais Além de seus efeitos sobre o crescimento do músculo uterino, os estrogênios desempenham uma função importante no desenvolvimento do revestimento endometrial. Quando a produção de estrogênio está adequadamente coordenada com a produção de progesterona durante o ciclo menstrual normal da mulher, ocorrem sangramento e eliminação do revestimento endometrial de modo periódico e regular. A exposição contínua a estrogênios durante períodos prolongados de tempo leva à hiperplasia do endométrio, em geral associada a padrões anormais de sangramento. ● Os estrogênios exercem vários efeitos metabólicos e cardiovasculares importantes. Parecem responsáveis, em parte, pela manutenção da estrutura e função normais da pele e dos vasos sanguíneos nas mulheres. Os estrogênios também diminuem a taxa de reabsorção óssea ao promoverem a apoptose dos osteoclastos e antagonizarem os efeitos osteoclastogênicos e pró- -osteoclásticos do paratormônio e da interleucina-6. Estimulam a produção de leptina pelo tecido adiposo e são responsáveis, em parte, pelos níveis mais elevados desse hormônio nas mulheres em comparação com os homens. Além de estimular a síntese das enzimas e dos fatores de crescimento, que resultam em crescimento e diferenciação do útero e das mamas, os estrogênios alteram a produção e a atividade de muitas outras proteínas no corpo. As alterações metabólicas que ocorrem no fígado são de particular importância, com consequente nível circulante mais elevado de proteínas, como a transcortina (globulina de ligação dos corticosteroides [CBG]), a globulina de ligação da tiroxina (TBG), a SHBG, a transferrina, o substrato da renina e o fibrinogênio. As alterações na composição dos lipídeos plasmáticos produzidas pelos estrogênios caracterizam-se por um aumento das lipoproteínas de alta densidade (HDL), ligeira redução das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e diminuição dos níveis plasmáticos totais de colesterol. Os níveis plasmáticos de triglicerídeos estão elevados. Os Kaysa Suassuna Medicina | FITS estrogênios diminuem a oxidação hepática dos lipídeos do tecido adiposo em cetonas e aumentam a síntese dos triglicerídeos. ● Efeitos sobre a coagulação sanguínea Os estrogênios aumentam a coagulabilidade do sangue. Foram relatadas inúmeras alterações nos fatores que influenciam a coagulação, inclusive aumento dos níveis circulantes dos fatores II, VII, IX e X, e diminuição da antitrombina III, devido, em parte, aos efeitos hepáticos já mencionados. Foram também observados aumentos nos níveis de plasminogênio e redução da adesão plaquetária. ● Outros efeitos Os estrogênios induzem a síntese dos receptores de progesterona. São responsáveis pelo comportamento dos animais no cio e podem influenciar o comportamento e a libido nos seres humanos USOS CLÍNICOS ➢ Hipogonadismo primário Os estrogênios vêm sendo extensamente utilizados como terapia de reposição em pacientes com deficiência desses hormônios. A deficiência de estrogênio pode resultar de insuficiência primária no desenvolvimento dos ovários, menopausa prematura, castração ou menopausa. O tratamento do hipogonadismo primário é normalmente iniciado entre 11 e 13 anos para estimular o desenvolvimento das características sexuais secundárias e a menstruação, estimular o crescimento ideal, impedir a ocorrência de osteoporose e evitar as consequências psicológicas da puberdade tardia e da deficiência de estrogênio. O tratamento procura reproduzir a fisiologia da puberdade. É iniciado com pequenas doses de estrogênio (0,3 mg de estrogênios conjugados ou 5 a 10 mcg de etinilestradiol) nos dias 1 a 21 de cada mês, com aumento lento para doses de adulto, que em seguida são mantidas até a idade da menopausa (em torno de 51 anos). Adiciona-se uma progestina depois do primeiro episódio de sangramento uterino. Concluído o crescimento, a terapia crônica consiste na administração de doses de estrogênios e progestinas para adultos, conforme descrito adiante. ➢ Terapia hormonal pós-menopausa Além dos sinais e sintomas que acompanham estreitamente a interrupção da função ovariana normal – como omissão de períodos menstruais, sintomas vasomotores, distúrbios do sono e atrofiagenital –, são observadas alterações de maior duração, que influenciam tanto a saúde como o bem-estar das mulheres na pós-menopausa. Essas alterações incluem aceleração da perda óssea, que, em mulheres suscetíveis, pode resultar em fraturas vertebrais, dos quadris e dos punhos, bem como alterações dos lipídeos, que podem contribuir para a aceleração da doença cardiovascular aterosclerótica observada em mulheres após a menopausa. Quando a função ovulatória normal cessa, e os níveis de estrogênio caem após a menopausa, a ooforectomia ou a insuficiência ovariana prematura, verifica-se uma elevação acelerada nas concentrações plasmáticas de colesterol e de LDL, ao passo que os receptores de LDL diminuem. As HDL não são muito afetadas, e os níveis permanecem mais elevados do que nos homens. Os níveis de Kaysa Suassuna Medicina | FITS lipoproteínas de densidade muito baixa e de triglicerídeos também não são relativamente afetados. Como os distúrbios cardiovasculares são responsáveis pela maioria dos casos fatais nesse grupo etário, o risco desses distúrbios constitui o principal fator considerado no momento de decidir se a terapia de “reposição” hormonal (TRH, também denominada corretamente TH) está ou não indicada e influencia a seleção dos hormônios a serem administrados. A terapia de reposição com estrogênio tem um efeito benéfico sobre os lipídeos e sobre as lipoproteínas circulantes. Acreditava-se que esse efeito era acompanhado de uma redução do infarto do miocárdio em cerca de 50% e dos acidentes vasculares encefálicos fatais em até 40%. Com efeito, parece haver um pequeno aumento nos problemas cardiovasculares, bem como no câncer de mama, em mulheres que receberam terapia de reposição. De qualquer modo, não há nenhum aumento no risco de câncer de mama se a terapia for iniciada imediatamente após a menopausa ou nos primeiros 7 anos, enquanto o risco cardiovascular depende do grau de aterosclerose no início da terapia. A administração transdérmica ou vaginal de estrogênio pode estar associada a uma diminuição do risco cardiovascular, visto que transpõe a circulação hepática. As mulheres com menopausa prematura devem receber terapia hormonal. Em alguns estudos, foi constatado um efeito protetor da terapia de reposição com estrogênio contra a doença de Alzheimer. O tratamento ideal da paciente na pós-menopausa exige uma cuidadosa avaliação dos sintomas, além de considerar a sua idade e a presença (ou riscos) de doença cardiovascular, osteoporose, câncer de mama e câncer endometrial. Tendo em vista os efeitos dos hormônios gonadais sobre cada um desses distúrbios, as metas da terapia são então definidas, e os riscos do tratamento são avaliados e discutidos com a paciente. Se a ocorrência de ondas de calor e distúrbios do sono constituir a principal indicação para a terapia, recomenda-se a menor dose de estrogênio necessária à produção de alívio sintomático. O tratamento pode ser necessário apenas durante um período limitado de tempo, evitando o aumento do risco de câncer de mama. A função dos estrogênios na prevenção e no tratamento da osteoporose foi cuidadosamente estudada. A quantidade de osso presente é máxima no adulto jovem ativo na terceira década de vida e começa a declinar com mais rapidez na meia-idade em ambos os sexos. O desenvolvimento de osteoporose também depende da quantidade de osso presente no início do processo, do aporte de vitamina D e de cálcio e do grau de atividade física. O risco de osteoporose é maior em fumantes magras, brancas e inativas, que apresentam baixa ingestão de cálcio e forte história familiar de osteoporose. A depressão também constitui um importante fator de risco para o desenvolvimento de osteoporose nas mulheres. Os estrogênios devem ser utilizados na menor dose capaz de produzir alívio dos sintomas. Nas mulheres submetidas à histerectomia, é mais conveniente prescrever estrogênio nos primeiros 21 a 25 dias de cada mês. As doses recomendadas são de 0,3 a 1,25 mg/dia de estrogênio conjugado ou 0,01 a 0,02 mg/dia de etinilestradiol. Foi constatada uma eficiência máxima das Kaysa Suassuna Medicina | FITS doses situadas no meio dessas faixas para impedir a diminuição da densidade óssea que ocorre na menopausa. Nessa perspectiva, é importante começar o tratamento o mais cedo possível após a menopausa, a fim de obter um efeito máximo. Nessas pacientes e em outras que não usam estrogênio, os suplementos de cálcio são úteis para elevar a ingestão diária total de cálcio para 1.500 mg. As pacientes com baixo risco de desenvolvimento de osteoporose, que só manifestam vaginite atrófica leve, podem ser tratadas com preparações tópicas. A via de aplicação vaginal também é útil no tratamento dos sintomas do trato urinário nessas pacientes. Entretanto, é importante ter em mente que, apesar de os estrogênios administrados localmente escaparem do efeito de primeira passagem (com consequente redução de alguns efeitos hepáticos indesejáveis), eles sofrem absorção quase completa na circulação, de maneira que essas preparações devem ser administradas de modo cíclico. Conforme assinalado anteriormente, a administração de estrogênios está associada a um risco aumentado de carcinoma endometrial. A administração de um agente progestacional com o estrogênio impede o desenvolvimento de hiperplasia endometrial e diminui bastante o risco desse câncer. Quando o estrogênio é administrado nos primeiros 25 dias de cada mês, e acrescenta-se a progestina medroxiprogesterona (10 mg/dia) nos últimos 10 a 14 dias, o risco é reduzido apenas à metade daquele observado em mulheres que não recebem terapia de reposição hormonal. Com esse esquema, algumas mulheres voltam a apresentar sintomas durante o período em que o estrogênio não é administrado. Nessas pacientes, o estrogênio pode ser administrado de modo contínuo. Se a progestina produzir sedação ou outros efeitos indesejáveis, a dose pode ser reduzida para 2,5 a 5 mg nos últimos 10 dias de cada ciclo, com ligeiro aumento no risco de hiperplasia endometrial. Em geral, esses esquemas são acompanhados de sangramento no final de cada ciclo. Algumas mulheres apresentam enxaqueca nos últimos dias do ciclo. O uso de um esquema com estrogênio contínuo com frequência evita a ocorrência de enxaqueca. As mulheres que relutam em aceitar o sangramento cíclico associado à terapia sequencial também podem considerar a terapia contínua. A terapia diária com 0,625 mg de estrogênios equinos conjugados e 2,5 a 5 mg de medroxiprogesterona elimina o sangramento cíclico, controla os sintomas vasomotores, impede a atrofia genital, mantém a densidade óssea e exibe um perfil lipídico favorável, com pequena diminuição nas concentrações de LDL e aumento das HDL. Essas mulheres apresentam atrofia endometrial na biópsia. Em cerca da metade dessas pacientes, verifica-se a ocorrência de sangramento inesperado nos primeiros meses de terapia. Ocorre amenorreia em 70 a 80% das mulheres após os primeiros 4 meses, e observa-se a sua persistência na maioria dos casos. A principal desvantagem da terapia contínua consiste na necessidade de biópsia uterina se ocorrer sangramento depois dos primeiros meses. Conforme assinalado anteriormente, os estrogênios também podem ser administrados por via vaginal ou transdérmica. Quando administrados por essas vias, não ocorre a sua passagem pelo fígado na primeira circulação, de Kaysa Suassuna Medicina | FITS forma que a relação entre efeitos hepáticos e periféricos é reduzida. Em pacientes para as quais a terapia de reposição com estrogênio está contraindicada, como as que apresentam tumores sensíveis ao estrogênio, pode-se obter alívio dos sintomas vasomotores com o uso de clonidina. Outros usos Os estrogênios associados a progestinas podem ser utilizados para suprimir a ovulação em pacientes com dismenorreia refratária, ou a função ovariana no tratamento do hirsutismo e da amenorreia em decorrência da secreção excessiva de androgênios pelo ovário. Nessas circunstâncias, pode haver necessidade de maior supressão epode ser necessária a administração de contraceptivos orais com 50 mcg de estrogênio ou uma combinação de pílula com baixo conteúdo de estrogênio com supressão do GnRH. ● Efeitos colaterais Foram relatados efeitos colaterais de gravidade variável com o uso terapêutico dos estrogênios. Muitos outros efeitos relatados em associação ao uso de contraceptivos hormonais podem estar relacionados com o conteúdo de estrogênio. A terapia com estrogênio constitui uma importante causa de sangramento uterino pós-menopausa. Infelizmente, o sangramento vaginal nesse período da vida também pode decorrer de carcinoma do endométrio. Para evitar qualquer confusão, as pacientes devem ser tratadas com a menor quantidade possível de estrogênios.Outro efeito colateral discutido é o câncer. A relação entre a terapia com estrogênio e o câncer continua sendo objeto de intensa investigação Embora não se tenha demonstrado nenhum efeito adverso da estrogenioterapia em curto prazo sobre a incidência do câncer de mama, pode ocorrer um pequeno aumento na incidência desse tumor com a terapia prolongada É comum a ocorrência de náuseas e hipersensibilidade das mamas, as quais podem ser minimizadas com o uso da menor dose efetiva de estrogênio. Ocorre também hiperpigmentação. A estrogenioterapia está associada a um aumento na frequência de enxaqueca, bem como de colestase, doença da vesícula biliar e hipertensão. ➢ Contraindicações dos estrogênios Os estrogênios não devem ser administrados a pacientes com neoplasias dependentes de estrogênio, como carcinoma do endométrio, ou a pacientes com carcinoma de mama ou com alto risco de desenvolvê-lo. Seu uso deve ser evitado em pacientes com sangramento genital não diagnosticado, doença hepática ou história de distúrbio tromboembólico. Além disso, o uso de esteroides deve ser evitado pelas fumantes inveteradas ➢ Preparações e dosagens Embora todos os estrogênios produzam quase os mesmos efeitos hormonais, suas potências variam entre os fármacos e dependem da via de administração. Conforme mencionado, o estradiol é o estrogênio endógeno mais ativo, que exibe maior afinidade com o receptor de estrogênio. Todavia, seus metabólitos estrona e estriol apresentam efeitos uterinos fracos. Na presença de determinado nível de supressão das gonadotrofinas, as Kaysa Suassuna Medicina | FITS preparações orais de estrogênio exercem mais efeito sobre os níveis circulantes de CBG, de SHBG e de numerosas outras proteínas hepáticas, inclusive angiotensinogênio, do que as preparações transdérmicas. A via de administração oral possibilita a obtenção de maiores concentrações do hormônio no fígado, aumentando, assim, a síntese dessas proteínas. Foram desenvolvidas preparações transdérmicas para evitar esse efeito. Quando administrado por via transdérmica, o estradiol, na dose de 50 a 100 mcg, apresenta efeitos semelhantes aos de uma dose de 0,625 a 1,25 mg de estrogênios conjugados orais sobre as concentrações de gonadotrofinas, o endométrio e o epitélio vaginal. Além disso, as preparações de estrogênio por via transdérmica não aumentam de forma significativa as concentrações do substrato de renina, CGB e TBG e tampouco produzem as alterações características nos lipídeos séricos. As preparações orais combinadas com 0,625 mg de estrogênios conjugados e 2,5 mg de acetato de medroxiprogesterona estão disponíveis para terapia de reposição na menopausa. Dispõe-se de comprimidos com 0,625 mg de estrogênios conjugados e 5 mg de acetato de medroxiprogesterona para uso em combinação com estrogênios conjugados de modo sequencial. Os estrogênios isoladamente são administrados nos dias 1 a 14, e a combinação, nos dias 15 a 28. PROGESTINAS Progestinas naturais ➢ Progesterona A progesterona é a progestina mais importante nos seres humanos. Além de exercer efeitos hormonais importantes, a progesterona atua como precursor dos estrogênios, androgênios e esteroides adrenocorticais. É sintetizada nos ovários, nos testículos e no córtex da suprarrenal, a partir do colesterol circulante. Durante a gravidez, a placenta também sintetiza e libera grandes quantidades de progesterona. No ovário, a progesterona é produzida principalmente pelo corpo lúteo. Os homens normais parecem secretar 1 a 5 mg de progesterona por dia, resultando em níveis plasmáticos de cerca de 0,03 mcg/dL. O nível é apenas ligeiramente maior na mulher durante a fase folicular do ciclo, quando são secretados apenas alguns miligramas de progesterona por dia. Durante a fase lútea, os níveis plasmáticos variam de 0,5 a mais de 2 mcg/dL (Figura 40-1). Os níveis plasmáticos de progesterona aumentam ainda mais e alcançam o seu valor máximo no terceiro trimestre de gravidez. Kaysa Suassuna Medicina | FITS ➢ Progestinas sintéticas Foram sintetizados diversos compostos progestacionais. Alguns são ativos quando administrados por via oral. Não constituem um grupo uniforme de compostos, e todos diferem da progesterona em um ou mais aspectos. ➢ Farmacocinética A progesterona é absorvida com rapidez após administração por qualquer via. A meia-vida no plasma é de cerca de 5 minutos, e ocorre armazenamento temporário de pequenas quantidades na gordura corporal. A progesterona é quase totalmente metabolizada em uma passagem pelo fígado; por esse motivo, é muito ineficaz quando se administra a formulação habitual por via oral. Entretanto, foram desenvolvidas preparações de progesterona micronizada por via oral em altas doses, que proporcionam um efeito progestacional adequado. No fígado, a progesterona é metabolizada a pregnanediol e conjugada com ácido glicurônico. É excretada na urina como glicuronídeo de pregnanediol. ➢ Efeitos fisiológicos ● Mecanismo O mecanismo de ação da progesterona – descrito anteriormente de modo mais detalhado – assemelha-se ao de outros hormônios esteroides. As progestinas penetram na célula e ligam-se a receptores de progesterona que se encontram distribuídos entre o núcleo e o citoplasma. O complexo ligante-receptor liga-se a um elemento de resposta da progesterona (PRE), ativando a transcrição gênica. ● Efeitos da progesterona A progesterona exerce pouco efeito sobre o metabolismo das proteínas. O hormônio estimula a atividade da lipoproteína lipase e parece favorecer a deposição de gordura. Os efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos são mais pronunciados. A progesterona aumenta os níveis basais de insulina e sua resposta à glicose. Em geral, não há nenhuma alteração manifesta na tolerância aos carboidratos. No fígado, a progesterona promove o armazenamento de glicogênio, possivelmente ao facilitar o efeito da insulina. A progesterona também promove a cetogênese. A progesterona pode competir com a aldosterona pelo receptor de mineralocorticoides do túbulo renal, causando uma diminuição na reabsorção de Na+. Esse processo leva à secreção aumentada de aldosterona pelo córtex da suprarrenal (p. ex., durante a gravidez). A progesterona aumenta a temperatura corporal nos seres humanos. O mecanismo desse efeito não é conhecido; entretanto, foi sugerida uma alteração dos centros termorreguladores no hipotálamo. A progesterona também altera a função dos centros respiratórios. A resposta ventilatória ao CO2 é aumentada pela progesterona, porém as progestinas sintéticas com um grupo etinil não exercem efeitos respiratórios. Esse efeito leva à diminuição mensurável da Pco2 arterial e alveolar durante a gravidez, bem como na fase lútea do ciclo menstrual. A progesterona e os esteroides relacionados também exercem efeitos depressores e hipnóticos sobre o cérebro. A progesterona é responsável pelo desenvolvimento alvéolo-lobular do aparelho secretor da mama. Participa também no surto pré-ovulatório do LH e induz a maturação e as alterações secretoras do endométrio que são observadas após a ovulação Kaysa Suassuna Medicina | FITS Usos clínicos ➢ Aplicações terapêuticas Os hormônios gestacionais são usados sobretudo na terapia de reposição hormonal (ver anteriormente) e na contracepção hormonal.. Além disso, mostram-se úteisna produção de supressão ovariana em longo prazo para outras finalidades. Quando administrados isoladamente em grandes doses por via parenteral (p. ex., acetato de medroxiprogesterona, 150 mg por via intramuscular, a cada 90 dias), produzem anovulação e amenorreia prolongadas. Essa terapia tem sido utilizada no tratamento da dismenorreia, da endometriose e dos distúrbios hemorrágicos, quando os estrogênios estão contraindicados, bem como para contracepção. O principal problema associado a esse esquema consiste no tempo prolongado necessário para que haja retorno da função ovulatória em algumas pacientes após a interrupção da terapia. Não deve ser utilizado em pacientes que planejam gravidez em futuro próximo. Esquemas semelhantes produzem alívio das ondas de calor em algumas mulheres na menopausa e podem ser utilizados se a estrogenioterapia estiver contraindicada. O acetato de medroxiprogesterona, na dose de 10 a 20 mg por via oral, duas vezes por semana – ou por via intramuscular, em doses de 100 mg/m2 a cada 1 a 2 semanas –, impede a menstruação, porém não interrompe a maturação óssea acelerada em crianças com puberdade precoce. As progestinas não parecem desempenhar nenhuma função no tratamento da ameaça de aborto ou aborto habitual. Os primeiros relatos sobre a utilidade desses fármacos resultaram da pressuposição não fundamentada de que, depois de vários abortos, a probabilidade de novos abortos ultrapassava 90%. Quando foram administrados agentes progestacionais às pacientes com abortos anteriores, obteve-se uma taxa de salvamento de 80%. Hoje, sabe-se que pacientes semelhantes só abortam 20% das vezes, mesmo quando não tratadas. Por outro lado, a progesterona foi administrada de modo experimental para retardar o trabalho de parto prematuro, com resultados alentadores. A progesterona e a medroxiprogesterona têm sido usadas no tratamento de mulheres com dificuldade em conceber e que apresentam elevação lenta da temperatura corporal basal. Não há evidências convincentes da efetividade desse tratamento. Foram utilizadas preparações de progesterona e de medroxiprogesterona no tratamento da síndrome pré-menstrual. Os estudos controlados não confirmaram a eficiência dessa terapia, exceto quando foram administradas doses suficientes para suprimir a ovulação. ➢ Usos diagnósticos A progesterona pode ser utilizada como teste de secreção de estrogênio. A administração de progesterona, em uma dose de 150 mg/dia, ou de medroxiprogesterona, 10 mg/dia, durante 5 a 7 dias, é seguida de sangramento por suspensão em pacientes com amenorreia, apenas quando o endométrio foi estimulado por estrogênios. Pode-se administrar uma associação de estrogênio e progestina para avaliar a responsabilidade do endométrio em pacientes com amenorreia. Contraindicações, precauções e efeitos colaterais Os estudos realizados com compostos progestacionais apenas e com Kaysa Suassuna Medicina | FITS contraceptivos orais de associação indicam que a progestina nesses fármacos pode aumentar a pressão arterial em algumas pacientes. As progestinas mais androgênicas também reduzem os níveis plasmáticos de HDL nas mulheres. Dois estudos recentes sugerem que a terapia de reposição combinada de progestina e estrogênio para mulheres na pós-menopausa pode aumentar de forma significativa o risco de câncer de mama, em comparação com o risco observado em mulheres que só usam estrogênio. Esses achados necessitam de cuidadoso exame e, se forem confirmados, deverão levar a mudanças importantes na prática de reposição hormonal na pós-menopausa. CONTRACEPÇÃO HORMONAL (CONTRACEPTIVOS ORAIS, PARENTERAIS E IMPLANTADOS) ➢ Efeitos farmacológicos ● Mecanismo de ação As associações de estrogênios e progestinas exercem seu efeito contraceptivo, em grande parte, pela inibição seletiva da função hipofisária, resultando em inibição da ovulação. Os fármacos associados também produzem uma alteração no muco cervical, no endométrio uterino e na motilidade e secreção das tubas uterinas, diminuindo a probabilidade de concepção e implantação. O uso contínuo de progestinas como única medicação nem sempre inibe a ovulação. Por conseguinte, os outros fatores mencionados desempenham uma importante função na prevenção da gravidez quando esses agentes são utilizados. ● Efeitos sobre o ovário O uso crônico de agentes associados deprime a função ovariana. O desenvolvimento folicular é mínimo, e os corpos lúteos, os folículos maiores, o edema do estroma e outras características morfológicas, normalmente observadas em mulheres que ovulam, estão ausentes. Em geral, os ovários tornam-se menores, mesmo quando aumentados antes da terapia. A maioria das pacientes volta a ter um padrão menstrual normal quando esses fármacos são suspensos. Cerca de 75% ovulam no primeiro ciclo após o tratamento, e 97% no terceiro ciclo após o tratamento. Cerca de 2% das pacientes permanecem amenorreicas por períodos de até vários anos após a interrupção do tratamento. Os achados citológicos nos esfregaços vaginais variam, dependendo da preparação utilizada. Entretanto, com quase todos os fármacos associados, verifica-se um baixo índice de maturação, devido à presença de agentes progestacionais. ● Efeitos sobre o útero Após uso prolongado, o colo do útero pode sofrer certo grau de hipertrofia, com formação de pólipos. São também observados efeitos significativos sobre o muco cervical, tornando-o semelhante ao muco da pós-ovulação, isto é, mais espesso e menos copioso. Os agentes contendo ambos estrogênios e progestinas produzem alterações morfológicas e bioquímicas adicionais no estroma endometrial sob a influência da progestina, que também estimula a secreção glandular durante a fase lútea. Os fármacos que contêm “19-nor” progestinas – particularmente aqueles com as menores quantidades de estrogênio – tendem a provocar atrofia glandular e, em geral, menos sangramento. ● Efeitos sobre a mama Kaysa Suassuna Medicina | FITS Ocorre estimulação das mamas na maioria das pacientes que usam agentes com estrogênio. Em geral, observa-se um certo aumento de tamanho. A administração de estrogênios e de associações de estrogênios e progestinas tende a suprimir a lactação. Quando as doses são pequenas, os efeitos sobre a amamentação não são observados. Os estudos realizados sobre a transferência dos contraceptivos orais para o leite materno sugere que apenas pequenas quantidades desses compostos passam para o leite, não sendo consideradas significativas. Usos clínicos Elas são especialmente embaladas para facilitar a sua administração. Em geral, essas preparações são muito efetivas; quando esses agentes são administrados de acordo com as instruções, o risco de contracepção é muito pequeno. A taxa de gravidez com os agentes de associação é estimada em cerca de 5 a 12 por 100 mulheres- -ano de risco. (Em condições de adesão perfeita da paciente, a taxa de gravidez deve ser de 0,5 a 1 por 100 mulheres-ano.) Foi observada a ocorrência de falha contraceptiva em algumas pacientes quando uma ou mais doses foram omitidas, quando também utilizaram fenitoína (que pode aumentar o catabolismo dos compostos), ou nos casos em que usaram antibióticos que alteram o ciclo êntero-hepático dos metabólitos. As progestinas e os estrogênios também são úteis no tratamento da endometriose. Quando o principal sintoma consiste em dismenorreia grave, a supressão da ovulação com estrogênio isoladamente pode ser acompanhada de períodos sem dor. Todavia, na maioria das pacientes, essa abordagem é inadequada. A administração em longo prazo de grandes doses de progestinas ou associações de progestinas e estrogênios impede a eliminação periódica do tecido endometrial e, em alguns casos, leva ao desenvolvimento de fibrose endometrial e impede a reativação de implantes por períodos prolongados de tempo. A exemplo da maioria das preparações hormonais, muitos dos efeitos indesejáveis consistem em ações fisiológicas ou farmacológicas, que são questionáveis apenas por não serem pertinentes à situação para a qual estão sendousadas. Por conseguinte, deve-se escolher o produto que contém as menores quantidades efetivas de hormônios. ➢ Contraindicações e precauções Esses fármacos estão contraindicados para pacientes com tromboflebite, fenômenos tromboembólicos, bem como distúrbios cardiovasculares e vasculares cerebrais ou história pregressa desses distúrbios. Os contraceptivos orais não devem ser utilizados no tratamento do sangramento vaginal, quando a causa não é conhecida. Seu uso deve ser evitado em pacientes com tumores de mama suspeitos ou diagnosticados ou com outras neoplasias dependentes de estrogênio. Como essas preparações têm produzido um agravamento dos distúrbios preexistentes, devem ser evitadas ou usadas com cautela em pacientes com doença hepática, asma, eczema, enxaqueca, diabetes, hipertensão, neurite óptica, neurite retrobulbar ou distúrbios convulsivos. Os contraceptivos orais podem provocar edema; por esse motivo, devem ser utilizados com muita Kaysa Suassuna Medicina | FITS cautela em pacientes com insuficiência cardíaca ou nas quais o edema é indesejável ou perigoso. Os estrogênios podem aumentar a velocidade de crescimento de fibroides. Por conseguinte, para mulheres portadoras desses tumores, devem-se escolher agentes com as menores quantidades de estrogênio e as progestinas mais androgênicas. O uso de agentes progestacionais isoladamente para contracepção pode ser de particular utilidade nesses pacientes. Esses fármacos estão contraindicados para adolescentes nas quais o fechamento das epífises não está completo.
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