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Samara Pires- MED25 Base� d� Microbiologi� Mecanismos de Patogênese viral (Murray 8 ed. cap. 37) 1. Mecanismos de patogênese viral ● As consequências de uma infecção viral dependem da natureza da interação vírus-hospedeiro e da resposta do hospedeiro à infecção; ● A intensidade da doença é determinada pela cepa do vírus, pela quantidade de inóculo e do estado de saúde geral do hospedeiro; ● Natureza da doença - Tecido -alvo; - Porta de entrada do vírus; - Acesso do vírus ao tecido-alvo; - Tropismo viral aos tecidos; - Permissividade das células à replicação viral: as células podem ser permissivas (fornecem o maquinário biossintético para dar suporte ao ciclo de replicação dos vírus), semipermissivas (muito ineficientes ou que suportam parte das etapas da replicação viral) ou não permissivas (tem um mecanismo antiviral que impedirá a replicação de um tipo ou cepa de vírus); - Cepa do vírus; ● Gravidade da doença - Habilidade citopática do vírus; - Competência do sistema imune; - Imunopatologia; - Quantidade de inóculo viral; - Estado geral de saúde da pessoa; - Estado nutricional; - Idade. 2. Progressão da doença viral ● Aquisição: entrada no organismo; - Pode ser por lesões na pele ou por membranas mucoepiteliais que revestem os orifícios do corpo. Lágrimas, muco, epitélio ciliado, ácido estomacal, bile e a imunoglobulina IgA protegem esses orifícios. - Os vírus podem se replicar e permanecer no ponto primário ou se disseminar por outros tecidos pela corrente sanguínea, pelos sistemas mononuclear fagocitário e linfático ou pelos neurônios; - Os vírus podem ter acesso ao sistema nervoso central ou ao cérebro (1) pela corrente sanguínea (p. ex., encefalite por arbovírus); (2) pelas meninges ou pelo líquido cefalorraquidiano infectados; (3) pela migração de macrófagos Samara Pires- MED25 infectados; ou (4) pela infecção de neurônios periféricos e sensoriais (olfatórios). Obs.: a corrente sanguínea e o sistema linfático são as principais vias de disseminação dos vírus no corpo. A viremia é o transporte de vírus pela corrente sanguínea. ● Início da infecção no ponto primário; - Citopatogênese: morte da célula (infecção lítica), replicação sem morte da célula (infecção persistente), presença de partículas virais sem replicação viral, mas com potencial para reativação (infecção latente-recorrente); - As infecções persistentes podem ser: → Crônicas: não líticas, produtivas; → Latentes: quantidade limitada de macromoléculas virais, mas sem síntese viral; → Recorrentes: períodos de latência seguidos de produção de partículas virais; → Transformação: imortalizantes. - Infecções líticas: a replicação do vírus resulta na destruição da célula alvo. Alguns vírus impedem o crescimento e o reparo, inibindo a síntese de macromoléculas celulares, ou produzindo enzimas de degradação e proteínas tóxicas, o que resulta na lise. Ex.: HSV e outros vírus produzem proteínas que inibem a síntese do DNA celular e do RNAm e sintetizam outras proteínas que degradam o DNA do hospedeiro. A replicação do vírus + o acúmulo de componentes virais e da progênie viral no interior da célula rompem sua estrutura e seu funcionamento ou rompem os lisossomos, provocando a morte celular. A infecção viral ou as próprias respostas citolíticas imunes podem induzir a apoptose. Obs.: a infecção viral pode causar uma série de alterações nas células, como corpúsculos de inclusão, aberrações e degradação cromossômicas, vacuolização, arredondamento das células, etc. - Infecções não líticas: a infecção persistente é aquela que acontece em uma célula infectada que não é destruída pelo vírus. Quando a infecção é persistente produtiva, é porque os vírus são gradualmente liberados da célula por brotamento ou por exocitose (sem lise). A infecção latente ocorre em células infectadas com vírus de DNA que perdem ou restringem o maquinário para a transcrição e a replicação viral, no entanto esses fatores de transcrição podem ser reativados em tecidos específicos em células em crescimento ou após a indução de hormônio ou citocina (ex.: em situações de resposta ao estresse). - Vírus oncogênicos: geram a transformação ou a imortalização da célula (tipo de infecção persistente), que crescem continuamente sem envelhecimento e sofrem alterações no metabolismo e na morfologia e inclusive requerem taxa aumentada de transporte de açúcar, além de perderem a inibição do Samara Pires- MED25 crescimento por contato celular. Os vírus imortalizam a célula quando (1) removem os supressores do crescimento ou (2) quando intensificam os efeitos dos aceleradores do crescimento. Ex.: retrovírus, vírus Epstein-Barr, papilomavírus e adenovírus. ● Ativação da imunidade inata; - A pele é a melhor barreira de defesa contra a infecção viral. Quando o vírus ultrapassa essa barreira, são ativados mecanismos de defesa inespecíficos (resposta inata). É essa resposta inata que evita que a maioria das infecções virais resulte em doença. Ex.: febre, interferon, células natural killer e macrófagos. - Quanto mais o vírus se replica no organismo, maior a disseminação da infecção, maior a intensidade da resposta imune necessária para controlar essa infecção, e maior o potencial para a imunopatogênese. - O interferon e as respostas das células T citotóxicas são os principais mecanismos de defesa antiviral. - As respostas imunes antígeno-específicas visam à eliminação de todos os vírus das células infectadas do corpo. O anticorpo é eficaz no meio extracelular e consegue controlar a viremia. Já a imunidade mediada por células é importante para vírus não citolíticos e para vírus envelopados. - Imunidade das células de memória B e T: promovem uma imunidade prévia de memória no hospedeiro. ● Período de incubação: o vírus é amplificado e pode se disseminar para um ponto secundário. Pode ser assintomático ou produzir sintomas precoces inespecíficos, como febre, dor de cabeça e dor no corpo (pródromo), que precedem os sintomas reais da doença; Obs.: os sintomas da doença são causados por danos teciduais e os efeitos sistêmicos são causados pelo vírus e pela resposta imunológica do hospedeiro ● Replicação no tecido alvo: causa os sinais característicos da doença; ● Respostas do hospedeiro: limitam e contribuem para a doença; ● Produção de vírus em um tecido ou órgão que permita a disseminação para outro hospedeiro → contágio; ● Resolução da doença ou infecção persistente/crônica. 3. Doença viral A suscetibilidade de uma pessoa à infecção viral e a intensidade da doença dependem dos seguintes fatores: ● Mecanismo de exposição e local da infecção; ● Estado do sistema imune, idade e saúde geral da pessoa; ● Dose viral; ● Genética do vírus e do hospedeiro. Samara Pires- MED25 Obs.: durante o período de incubação, o vírus está se replicando, mas ainda não atingiu o tecido-alvo, nem induziu dano suficiente para causar a doença. O período de incubação é relativamente curto se o ponto primário de infecção é o tecido-alvo e produz os sintomas característicos da doença. Períodos de incubação mais longos ocorrem quando o vírus precisa se disseminar para outros pontos e ser amplificado antes de atingir o tecido-alvo, ou quando os sintomas são causados por respostas imunopatológicas. ● As infecções inaparentes ou assintomáticas são as principais fontes de contágio, pois às vezes o tecido não foi lesionado o suficiente para causar perda funcional, mas, mesmo assim, os anticorpos específicos serão produzidos; ● A infecção viral pode causar doença aguda ou crônica (infecção persistente); ● Vírus associados a infecções lentas e príons apresentam períodos de incubação longos, durante os quais se acumula destruição suficiente de vírus ou de tecidos antes de rápida progressão dos sintomas. ● Transmissão viral - A via de transmissão viral depende do tecido-alvo do vírus e da habilidade dele de cruzar as barreiras do meio ambiente em direção à fonte. Ex.: Influenza A → replica-se no trato respiratório→ libera gotículas na forma de aerossol. Vírus entéricos, como picornavírus e reovírus são transmitidos por via fecal-oral; - Presença ou ausência de envelope é o principal determinante estrutural do modo de transmissão viral. Os vírus não envelopados podem resistir ao dessecamento, ao efeito de detergentes e aos extremos de pH e de temperatura, o que nem sempre acontece com os vírus envelopados; - A maioria dos vírus envelopados é comparativamente frágil, até porque seu envelope precisa estar intacto para que sejam infecciosos. A maioria dos vírus envelopados também é instável ao tratamento com ácidos e detergentes, um aspecto que impede sua transmissão pela via fecal-oral. As exceções são o HBV e os coronavírus. ● Idade - Bebês e crianças adquirem várias doenças virais respiratórias e exantematosas na primeira exposição, pois não têm imunidade prévia. Algumas doenças são mais benignas nas crianças, porque elas não têm uma resposta imunopatológica tão intensa; - Os idosos são especialmente suscetíveis às novas infecções virais e à reativação de vírus latentes, porque são menos capazes de iniciar nova resposta imune, de reparar o dano tecidual e de se recuperar. ● Surtos, epidemias e pandemias Samara Pires- MED25 - Surtos: resultam da introdução de um novo vírus em uma localidade (ex.: hepatite A). É originado a partir de uma fonte comum de infecção (ex.: água) e pode ser contido se a fonte for eliminada; - Epidemias: resultam da introdução de uma nova cepa de um vírus em uma população sem imunidade prévia; - Pandemias: epidemias mundiais resultantes da introdução de um novo vírus. Ex.: Sars-Cov-2.
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