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João Malheiro
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação 
integral dos alunos
EDITORA CRV
Curitiba - Brasil
2010
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Coordenação Editorial: Simone Santos
Diagramação: Marcos Roberto P. de Aguiar
Capa: Roseli Pampuch
Revisão: Os Autores
Fotos: iStockphoto Brasileiro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 
2010
Todos os direitos desta edição reservados pela:
Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418
www.editoracrv.com.br
E-mail: sac@editoracrv.com.br
Malheiro, João
 A alma da escola do século XXI : como conseguir a formação integral 
dos alunos / João Malheiro. -- 1. ed. -- Curitiba : Editora CRV, 2010.
1. Avaliação educacional 2. Virtudes Éticas na Escola 3. Educação - Finalidades e 
objetivos 4. Educação da Afetividade 5. Família e Escola. Título.
10-05063 CDD-370.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Projetos e valores : Educação : Filosofia 370.1
SUMáRIO
Prefácio .....................................................................................9
introdução .............................................................................13
cAPÍtuLo 1
Os responsáveis pela educação ..................................................17
cAPÍtuLo 2
Família e Escola: aliados ou inimigos? ........................................21
cAPÍtuLo 3
Uma alternativa educacional de vanguarda .................................25
cAPÍtuLo 4
A libertinagem na educação .........................................................29
cAPÍtuLo 5
O risco da educação relativista ....................................................33
cAPÍtuLo 6
Uma juventude sem ética .............................................................37
cAPÍtuLo 7
Analfabetismo espiritual ...............................................................39
cAPÍtuLo 8
A boa e a má decoreba ................................................................41
cAPÍtuLo 9
Educar o jovem para o prazer ......................................................45
cAPÍtuLo 10
A desordem moral e a desmotivação na escola ...........................49
cAPÍtuLo 11
Pornografia, um mal que exige reação.........................................51
O impacto da pornografia .............................................51
Em vez de confronto, diálogo .......................................51
Afetividade afetada .......................................................52
Estímulos que escravizam ............................................52
Realização ....................................................................53
Curiosidade: porta de entrada ......................................54
Pornografia e vida sexual precoce ................................54
Estímulo ao crime .........................................................55
cAPÍtuLo 12
A ética e a religião nas escolas ....................................................57
cAPÍtuLo 13
A vocação de um bom professor ..................................................61
cAPÍtuLo 14
Férias: diversão com cultura ........................................................65
cAPÍtuLo 15
A ética do respeito na escola........................................................69
cAPÍtuLo 16
O verdadeiro sucesso escolar ......................................................73
cAPÍtuLo 17
A importância do preceptor no ensino médio ...............................77
cAPÍtuLo 18
A diversão e a “night”....................................................................81
cAPÍtuLo 19
O novo papel da escola para uma educação “global” ..................83
cAPÍtuLo 20
Perigos dos excessos nas novas tecnologias ..............................87
 Que tipo de problemas de convivência terá um 
adolescente que foi uma criança viciada em 
computador? .................................................................87
 Que tipo de problemas de aprendizado 
o adolescente terá? .....................................................87
 Como essa mania afeta o relacionamento em casa? ...89
 Quando o computador se torna um aliado e quando 
se torna um vilão? .........................................................89
 Como os pais podem identificar o problema 
do vício pelo computador? ............................................90
 Planilha com atividades alternativas .............................91
cAPÍtuLo 21
Como escolher a escola para o meu filho? ..................................93
 Que tipo de escola é ideal para uma criança? ..............93
 Que tipo de valores e exigências devem
 ser observados na escolha? .........................................94
 A que detalhes os pais devem ficar atentos? ...............95
 Quais os prós e contras de uma escola grande
 ou de uma pequena? ....................................................96
 Que tipos de informações os pais devem ter sobre
 o corpo docente? ..........................................................96
 Quais são os métodos pedagógicos
mais comuns? ...............................................................96
Como são e quais são seus pontos positivos
e desfavoráveis? ...........................................................96
É possível encontrar uma escola pública ideal? ...........97
cAPÍtuLo 22
As fontes da motivação ética nos educadores .............................99
 Introdução .....................................................................99
 A educação da afetividade ..........................................103
 Como se desenvolve a razão prática ..........................108
 Conclusão ................................................................... 111
cAPÍtuLo 23
Ajudar o jovem a descobrir a importância
dos valores e dos limites: uma urgência para a cidadania! ........ 115
Buscar o prazer e evitar a dor ............................................ 116
A primazia dos sentimentos ................................................ 117
Mostrar onde está a verdadeira felicidade .......................... 118
cAPÍtuLo 24
Avaliação educacional: em busca da individualização ...............123
 Introdução ...................................................................123
 A avaliação como instrumento pedagógico ................124
 A avaliação formativa ..................................................126
 A negociação na avaliação .........................................129
 As iniciativas dos alunos .............................................130
 Conclusão ...................................................................130
cAPÍtuLo 25
Projeto político pedagógico:utopia ou realidade? ......................135
 Introdução ...................................................................135
 Referencial teórico ......................................................138
 Metodologia e instrumentação utilizada ......................138
 Análise dos resultados ................................................142
 Interpretação dos dados .............................................151
 Conclusão ...................................................................155
 Autoridade do Diretor da Escola .................................157
 Autonomia administrativa ............................................158
 Autonomia pedagógica ...............................................159
 Indisciplina dos alunos ................................................160
PREFáCIO
Quando um antigo doutorando procura o professor para lhe pedir que 
escreva o prefácio para o seu livro, isto sem dúvida é motivo de grande 
contentamento. Este é exatamente o caso que agora se apresenta. Recebo o 
livro, a ser editado, o qual se intitula A Alma da Escola do Século XXI com 
a satisfação de verificar a continuidade dos estudos e do trabalho realizado 
pelo autor. Leio então, com muito prazer, todos estes artigos, e não como 
uma etapa necessária para a escrita que farei, porque o assunto realmente 
interessa a todos.O autor João Eduardo Bastos Malheiro de Oliveira, doutor pela Facul-
dade de Educação da UFRJ, reuniu nesta coletânea 25 artigos que tem como 
ponto em comum a Educação, notadamente aquela realizada pela escola, em-
bora muitas vezes se dirija também aos pais, responsáveis primários que são 
pela educação. Os artigos todos já foram publicados em jornais ou periódicos 
científicos, no entanto, sabemos que pela contribuição que podem oferecer 
merecem a edição em livro de modo a alcançar um público ainda maior.
A profunda preocupação do autor com a qualidade da Educação em 
todos os sentidos se expressa nos diferentes títulos dos artigos aqui agru-
pados. A motivação para esta cuidadosa elaboração, desde a escolha dos 
temas de cada capítulo na época em que foram escritos, é contagiante, e 
prontamente o leitor se volta para os textos. 
Os artigos podem ser selecionados, cada um para sua leitura inde-
pendente, conforme os temas e os objetivos, sem que seja necessário se 
prender a uma sequência, e assim o leitor sempre encontrará afirmativas 
importantes concernentes à alma da escola para o século em que vivemos.
Que alma é esta? Que escola é esta? O autor procura responder a 
estas perguntas apontando problemas e questionando sobre alternativas de 
soluções, tendo como referências princípios éticos sólidos e bem funda-
mentados. Muitas vezes usando uma linguagem mais coloquial, como no 
caso principalmente dos artigos que apareceram em jornais, o autor propi-
cia uma conversa franca e amiga com todos. Mesmo quando a linguagem 
parece ser mais técnica, ainda assim o autor consegue atingir seu objetivo 
do estabelecimento de uma comunicação eficaz.
Ao tratar de assuntos sérios e complexos, não resvala para uma lin-
guagem cifrada e distante. Pelo contrário, é de se ressaltar o pronto diá-
10
logo que deverá se estabelecer entre o escritor e seus leitores, dada a for-
ma narrativa empregada. Suas afirmativas são claras e precisas, inclusive 
quando se trata de um tema polêmico. Algumas vezes remetendo às fontes 
bibliográficas, no caso dos textos de cunho científico, o autor possibilita 
um maior aprofundamento das ideias expostas.
Como estão explicados pelo próprio autor na introdução do livro, to-
dos os artigos aqui apresentados tem como objetivo levar o leitor à reflexão 
sobre o significado da Escola em sua tarefa de proporcionar uma Educação 
de qualidade, uma Educação de excelência. A tarefa da Educação é, e tem 
sempre sido, um enorme desafio para todos que se envolvem nesta emprei-
tada sublime e de grande responsabilidade. 
A Educação de crianças e jovens é, em primeiro lugar, uma missão 
dos pais, que são os educadores naturais. Para colaborar com a sua missão, 
a família conta com a escola como o prolongamento desta função educati-
va, ao mesmo tempo em que esta encontra na instituição outros elementos 
importantes para a formação e informação de seus filhos.
Ter em mãos um livro que se propõe a discutir sobre tópicos escolares 
de uma forma séria somente pode trazer aos professores, que são os edu-
cadores especialmente preparados para esta tarefa, um sentimento de agra-
decimento ao autor. Livros que analisam situações escolares são sempre 
ricos para todos que estão empenhados em fazer de seu trabalho educativo 
algo realmente de valor. 
Neste século XXI que estamos iniciando, a escola vem sendo frequen-
temente questionada. Que escola a sociedade deseja para seus cidadãos? É 
preciso que se tenha bem firme um conceito de todos estes termos envol-
vidos para que se possam determinar as diretrizes necessárias. Uma escola 
inteira. Uma escola de corpo e alma. Uma escola que realmente eduque os 
cidadãos que são em primeiro lugar pessoas que foram criadas para serem 
felizes. Esta é a ideia básica que sustenta as diversas abordagens realizadas 
por João Malheiro em todos estes artigos. São artigos que abrem caminhos 
e nos levam a refletir. 
No subtítulo deste livro, encontramos uma proposta animadora que 
indica o teor da reflexão presente nos textos: COMO CONSEGUIR A FOR-
MAÇÃO INTEGRAL DOS ALUNOS. No entanto, que o leitor não se iluda 
quanto à natureza destes artigos, pois de modo algum eles podem ser ca-
racterizados como textos de auto-ajuda. Longe de se constituírem em um 
manual de receitas, estes textos provocam a inteligência e a sensibilidade 
do leitor, exigindo deste uma atitude de busca. Esta é a meta a ser alcançada 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 11
pela escola neste século XXI que agora se inicia: propiciar a todos os seus 
alunos o desenvolvimento pleno graças à formação integral que lhes possi-
bilite a vivência completa, em todos os campos, cognitivo, físico, afetivo, 
social e moral. Esta é a alma da escola proposta pelo autor ao nos oferecer 
estes artigos reunidos em livro.
Maria Judith Sucupira da Costa Lins
Professora Adjunta da Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Membro da Academia Brasileira de Educação
INTRODUçãO
Existem livros que o autor planeja desde a primeira até a última linha, 
e outros que saem mais por acaso. Uns são escritos por necessidades finan-
ceiras, outros por revoltas ideológicas. Há obras literárias que são fruto do 
talento e vocação do escritor enquanto outras são resultado do estímulo 
de amigos que forçam o autor a comunicar seus insights extravasados em 
conversas, aulas, palestras ou artigos. Diria que o presente livro teve sua 
origem, sobretudo, neste último motivo. Ele apresenta uma coletânea de 
artigos publicados em vários periódicos, principalmente durante o ano de 
2009, nascidos em momentos históricos concretos, e que traduzem algum 
“grito” educacional. Uns foram publicados em veículos de divulgação e, 
portanto, são obrigatoriamente mais curtos e de linguagem simples; e ou-
tros em revistas científicas qualificadas, sendo, portanto, mais extensos e 
trabalhados. No entanto, todos eles – o leitor perceberá – evidenciam dois 
objetivos específicos: melhorar a qualidade do ensino brasileiro e ressusci-
tar a “alma da escola”.
A década de 90 ficou registrada na nossa história educacional como 
o período onde várias forças de diversos setores da sociedade brasileira se 
juntaram para alcançar melhorias consistentes na nossa educação. Muitas 
energias foram gastas com prodigalidade, seja na Carta Magna de 1988 
seja na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 e em seus respectivos 
derivados. A população brasileira pôde sentir um fôlego novo para enfren-
tar um problema tão sério como era a universalização da educação como 
direito de todos, segundo reza o artigo 205 da Constituição. Ficava claro 
que a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola era um 
direito que precisava ser garantido nessa nova legislação. Que era neces-
sário destinar um nível mínimo de recursos econômicos necessários para 
a expansão da educação básica pelo imenso Brasil, tornada obrigatória e 
gratuita pelo menos até o fim do ensino fundamental. Todas estas reformas 
trouxeram, de fato, melhorias inegáveis na nossa educação. Índices nunca 
antes imaginados de crianças na escola, chegando a patamares de quase 
97% delas no ensino fundamental, é um acontecimento de grande festejo. 
O fato de o ensino médio dar claras mostras de crescimento nos últimos 
anos, seja no aumento do número de matrículas seja nos índices de seus 
egressos, pressionando o ensino superior no aumento da oferta de vagas, 
também merece ser comemorado. 
14
Enfim, podemos dizer que os esforços realizados nos últimos anos 
trouxeram para a comunidade brasileira uma enorme melhoria quantita-
tiva. É necessário agora que a mesma sociedade se volte com renovado 
fôlego e esperança para a melhoria na qualidade do ensino do seu alunado. 
Testes internacionais como o PISA ou outros instrumentos de avaliação 
nacional como o ENEM têm demonstrado que o índice de proficiência dos 
estudantes brasileiros tem deixado muito a desejar. Alguns artigos deste 
livro objetivaram apontaralgumas possíveis causas deste atraso no rendi-
mento escolar e oferecer soluções viáveis.
Projetando algumas destas conquistas relevantes na qualidade do ensi-
no num futuro próximo, fica uma segunda preocupação: e para quê os nossos 
alunos estarão aprendendo na escola? Para conseguir somente um emprego? 
Não parecerá este objetivo um pouco pobre, se olharmos para o ser humano 
como alguém que está destinado a transcender e a amar os demais?
O presente livro denuncia com veemência possíveis miopias exis-
tentes nas atuais políticas educacionais, as quais orientam a formação dos 
professores e suas práticas pedagógicas apenas para satisfazer a dimensão 
terrena dos alunos, desprezando outras mais elevadas. Desde os tempos 
mais remotos, educar sempre objetivou primeiro que o aluno seja uma 
pessoa humana completa, formada em suas dimensões racionais, volitivas, 
afetivas, sociais e espirituais. Nunca poderemos esquecer, como aponta-
ram diversos filósofos antigos, como Aristóteles, em “Ética a Nicômaco”, 
e atuais, como MacIntyre, em “Animais racionais dependentes: Por que 
o ser humano precisa de virtudes”, que o Homem é um animal racional 
e dependente. Tem alma e corpo, e está destinado a ser feliz na harmonia 
consigo mesmo e com os demais. Por isso, ninguém se torna realizado 
conseguindo apenas um emprego, por mais qualificado e prestigioso que 
seja. O aluno precisa enxergar antes uma dimensão ética na realização 
de seu futuro trabalho para viver feliz e amadurecer ao longo da vida. 
Este processo difícil e demorado de formação ética é algo que deve ser 
priorizado tanto na educação familiar quanto na escolar nos dias atuais. 
Desprezar este aspecto essencial da educação é matar a “alma” da escola e, 
consequentemente, a dos alunos. Parece que, atualmente, as escolas estão 
mais preocupadas com o seu “corpo” – boas instalações, computadores, 
esportes, sucesso acadêmico e econômico a todo o custo –, mas este corpo 
está sem alma. Fica fácil intuir, portanto, porque os sistemas educacionais 
estão em processo de putrefação. Infelizmente, é isto que está acontecendo 
na grande maioria das escolas brasileiras, sejam elas públicas ou particu-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 15
lares. Os alunos estão saindo das escolas inanimados, porque não foram 
formados nessa dimensão ética e transcendental. Muitos conseguirão su-
cesso acadêmico e profissional, mas não conseguirão responder a questões 
essenciais da vida: Para que existir? Para que trabalhar? Para que sofrer? 
Para que morrer? Para que amar?
O presente livro em diversos momentos convida o leitor à reflexão 
acerca de temas como o de ressuscitar a alma da escola. Este, sem dúvi-
da, deve ser uma responsabilidade primeiríssima da família, junto com a 
escola. Tudo indica que é preciso resgatar uma educação mais persona-
lizada que considere cada pessoa como única no universo, e educá-la a 
partir daí. Victor García Hoz 1, pedagogo espanhol, define como objetivo 
central da Educação Personalizada “a capacitação do sujeito para formular 
e realizar seu projeto pessoal de vida”. A educação personalizada apóia-se 
na consideração do ser humano como pessoa única, e não simplesmente 
como um ser que reage ao estímulo do meio. Seu valor preponderante está 
em converter o trabalho de aprendizagem em um elemento de formação 
pessoal, através da escolha das tarefas e da aceitação de responsabilidades 
pelo próprio aluno. A pessoa é caracterizada pelas notas de singularida-
de, autonomia e abertura. Uma escola que respeita a singularidade sabe 
sujeitar o trabalho e as relações escolares à capacidade, interesse, ritmo 
e circunstâncias sociais de cada estudante, e estimula sua criatividade e 
o desenvolvimento de suas peculiaridades. Quando defende a autonomia, 
favorece sua participação na dinâmica da escola e nas escolhas pedagógi-
cas possíveis. Por fim, promove ainda sua abertura, buscando que a sua 
comunicação com os demais participantes da comunidade educativa seja 
rica em complementaridade, respeito e serviço.
Que a leitura deste livro faça muitos pais, diretores, professores e 
funcionários de qualquer escola arregaçarem as mangas e se disporem a 
(re)construir uma escola com “corpo e alma”, sabendo que será uma tarefa 
árdua, difícil, mas sempre muito realizadora. E que provoque em todos um 
maior senso de responsabilidade, na certeza de que os pais, juntamente 
com os professores, serão sempre os que terão o direito de educar os seus 
filhos da forma que mais acharem conveniente, sem permitirem interven-
ções de nenhum tipo.
Soube recentemente, com grande regozijo de minha parte, que vários 
artigos deste livro já estão sendo usados para fomentar discussões em dis-
ciplinas de filosofia de diversas escolas de ensino médio, como também ali-
1 García Hoz. V. (1977) – Educación personalizada. Valladolid: Editorial Miñon
16
mentam debates em turmas de pedagogia dos cursos universitários, apro-
veitando sua linguagem acessível. Faço votos para que também muitos pais 
de família e demais educadores possam “pinçar” um ou outro escrito deste 
livro e saibam provocar pequenas discussões com seus pupilos e amigos 
em torno de temas essenciais para alcançarem a verdadeira felicidade.
Não poderia terminar esta introdução sem deixar de agradecer ao pro-
fessor Rafael Zelesco Barretto por todo o trabalho na correção destes arti-
gos, que sem dúvida os tornou sempre mais precisos e atraentes.
CAPÍTULO 1
OS RESPONSáVEIS PELA EDUCAçãO2
Quando os educadores analisam as diferentes condições socioeco-
nômicas das famílias brasileiras, pesquisas demonstram que existem dois 
tipos de família: o grupo de classe média e alta, que coloca os filhos em 
escola particular (12%), e o restante da população, que usa a escola pública 
(88%). No primeiro grupo, em geral, os pais sentem-se confortáveis porque 
seu filho está numa boa escola, na qual confiam; e acreditam que o futuro 
dos seus filhos está praticamente garantido e em boas mãos. No segundo 
grupo, surpreendentemente, a maioria dos responsáveis também está con-
tente com a educação oferecida pela escola pública. Segundo pesquisa do 
Inep, essa satisfação é explicada em parte pelo fato de quase 60% dos pais 
do ensino público não terem completado nem o ensino fundamental, além 
de 75% nunca ou raramente lerem jornal. Além disso, quando estes pais 
comparam a escola da sua época com a do seu filho, tendem a associar as 
relativas melhorias materiais que o filho recebe atualmente com uma edu-
cação de boa qualidade.
Poderíamos afirmar, portanto, que a maioria dos pais está contente 
com a educação escolar que seus filhos recebem. Tantos os do primeiro 
grupo quantos os do segundo acreditam que a responsabilidade de lhes 
proporcionar uma boa educação já está cumprida e que o seu papel de edu-
cadores consistirá agora em torcer para que o tempo e a sorte lhes propor-
cionem uma boa oportunidade profissional. Mas será que o papel da escola 
deve ser só isso? Não deveria ser também o de educar para a descoberta 
dos valores humanos? Será que um professor quando está em sala de aula 
explicando o conteúdo específico da disciplina, não está transmitindo tam-
bém um modo de ser para os alunos, que é reflexo de suas crenças, visões 
de mundo e virtudes? É razoável que a família se despreocupe da qualidade 
ética do professorado e do material didático que utiliza, e vigie apenas se 
existe um bom aprendizado? Parece evidente que valorizar mais o apren-
dizado científico do que o ético, ou preocupar-se apenas com o primeiro, 
é ignorar o que é educar integralmente e desconhecer a intrínseca relação 
2 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=895525&tit=Os-responsaveis-
pela-educacao. Publicado em 12/06/2009.
18
que existe entre o aprendizado científico e o ético. Quando o modo de ser 
do professor não é exemplar, seja pela fala ou pela atitude, poderá provocar 
no aluno certa confusão na descoberta dos valores.
Pais e responsáveisnão podem transferir totalmente para a escola 
a difícil tarefa de educar, eximindo-se da sua principal responsabilidade: 
acompanhar a formação integral do seu filho. Entre a família e a escola 
deve existir uma unidade de princípios e de valores que há que sintonizar. 
O que se constrói arduamente na família não pode ser destruído com uma 
atitude irresponsável de um professor. Os pais tem o direito e o dever de 
conhecer muito bem o ideário do corpo diretivo, os programas do corpo 
docente e os objetivos educacionais do colégio. Porém, quem acompanha 
de perto o quotidiano escolar, observa empiricamente que isto não é uma 
realidade. Muitos pais se omitem nesta tarefa, por exemplo, faltando às 
reuniões — principalmente quando os filhos já estão mais crescidos —, e 
acabam se preocupando apenas com os resultados acadêmicos, muitas ve-
zes camuflados, confiando em que, com os raros momentos de que dispõe 
nos fins de semana, conseguirão formar seus filhos para a vida.
Infelizmente, outros fatores, nas últimas décadas, também têm contri-
buído para esta transferência da responsabilidade de educar para a escola: 
a necessidade dos pais de trabalhar muitas horas por dia e por vezes em 
locais distantes; as famílias desestruturadas, nas quais a responsabilidade 
de educar é sempre do outro cônjuge; uma visão incompleta da educação, 
valorizando mais uma colocação profissional do que a formação integral 
do ser humano; a cultura, dominante em várias famílias, do laissez faire, 
laissez passer; e, talvez de forma mais inconsciente, uma certa ingenuidade 
no sentido de que a criança aos poucos irá aprendendo sobre os valores 
éticos com o próprio processo de socialização.
Nós, pesquisadores da educação, quando averiguamos se as esco-
las estão assumindo esse papel de formadores, percebemos com tristeza 
que nem todos os agentes estão dispostos. Os fatores de desmotivação do 
professorado são imensos, e vão desde a falta de condições salariais, o 
desprestígio social, até o estado de martírio no qual se encontram muitos 
professores devido ao desrespeito dos alunos, à presença de alunos desmo-
tivados, que não enxergam perspectivas futuras, e aos constantes desgastes 
entre seus colegas por motivos ideológicos e políticos.
Deduzimos, portanto, que o jovem atual poderá estar um pouco à 
deriva. É possível que, no final, quem acabe assumindo o papel de educar 
sejam os meios de comunicação e de informação, meios altamente mani-
puladores e pouco formativos. Uma grande maioria de famílias concede 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 19
livremente computadores aos filhos desde tenra idade, na expectativa de 
dar-lhes uma ferramenta para os estudos, sem dar-se conta de que o com-
putador, sem orientação clara e permanente sobre o seu uso, convida à 
dispersão, ao alheamento e ao envenenamento ético.
Concluímos, finalmente, que deve ser um direito dos pais escolher a 
melhor educação que desejam para os seus filhos. Alternativas novas de-
vem surgir no cenário nacional: charter schools, cheque-escola, educação 
personalizada/diferenciada são soluções de sucesso que estão revigorando 
atualmente a educação no exterior. Mas o que importa mesmo é que os pais 
possam sempre responder com consciência: quem educa os meus filhos? O 
que se ensina? Como se educa?
CAPÍTULO 2
FAMÍLIA E ESCOLA: ALIADOS 
OU INIMIgOS?3
Alguém me dizia certa vez, evidentemente de forma irônica, que se um 
marciano aterrissasse no nosso planeta e observasse o nosso relacionamento 
social, perguntaria perplexo a qualquer terráqueo: “Olhe: aconteceu alguma 
revolução recentemente nas famílias de vocês? É que se percebe um fato 
curioso: os pais vão buscar os filhos às quatro horas da manhã numa festa 
longínqua, carregam suas mochilas quando os levam para a escola mesmo 
já grandinhos, correm desesperados aos supermercados para comprar gu-
loseimas que seus pimpolhos lhes exigem deitados no quarto vendo TV, 
matam-se de trabalhar para que eles viajem nas férias para a Disney, chegam 
indignados nas escolas para reclamar das más notas com os professores... Os 
jovens fizeram alguma revolução e estão “dominando” a terra?”
Apesar de que tais filmes de ficção estejam na moda, na verdade a 
cena imaginada reflete a realidade do momento. Percebe-se um crescente 
excesso de protecionismo sobre os filhos e consequentemente uma geração 
de pais exaustos e de filhos superprotegidos e imaturos. Vários motivos 
para tais comportamentos paternos são apontados pelos psicólogos e soci-
ólogos: desejo de compensar ausências físicas, desconhecimento de outras 
formas mais profundas de amar, influências modernistas que não se pode 
exigir, associação distorcida do prazer com felicidade, visão do sofrimento 
como um mal que é preciso evitar a qualquer custo, frustrações de infância 
que se projetam depois nos filhos, formas egoísticas de amar-se a si pró-
prios através dos filhos como extensões do próprio eu...
Há alguns anos, nas escolas dos Estados Unidos ganhou fama o con-
ceito de “pais helicópteros”: bastava o filho chegar a casa com uma sus-
pensão da diretora da escola, ou emburrado devido a uma advertência mais 
incisiva de um professor, ou ainda exibindo algum arranhão no braço fruto 
de uma briga no recreio para que os pais aterrissassem imediatamente no 
3 http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=989209&tit=Familia-e-escola-alia-
dos-ou-inimigos. Publicado em 04/04/2010.
22
colégio para pedir explicações. Infelizmente, como quase tudo que acon-
tece por lá, esta moda também chegou à nossa realidade brasileira. Mui-
tos pais vêem no centro educativo que escolheram para educar seu filho 
apenas um lugar onde este deve aprender uma série de conteúdos da for-
ma mais lúdica possível e sem esforço, e esquecem (talvez nunca tenham 
aprendido) que a escola deve ser muito mais do que isso. A escola deve 
ser um lugar privilegiado para formar, nos pupilos a inteligência teórica 
(a que lhe permite adquirir os conteúdos), a inteligência prática (a que o 
faz aprender a escolher aquilo que o torna realmente feliz), a vontade (que 
harmoniza inteligência e afetividade rumo ao bem) e, por fim, a afetividade 
(instintos, sentimentos, emoções, paixões) direcionado-a para os outros. 
Acredito, portanto, que os pais devam se preocupar muito mais com o que 
está acima do que com o importante resultado do ENEM...
Quando os pais se sentem os principais protagonistas desta educação 
integral e enxergam na escola apenas uma continuadora do que ensinam em 
casa, e quando tentam educar em todas essas frentes no seio do próprio lar, 
sentindo na pele que se trata de uma tarefa árdua, que exige muito mais dizer 
“não” do que “sim” – este último especialmente nos primeiros anos de vida 
até ao início da adolescência – ficam muito agradecidos por encontrar na es-
cola uma aliada que também se sacrifica para que seu filho seja uma pessoa 
de verdade. Vislumbram, por trás da exigência do dever de casa, do livro 
difícil que é preciso ler, da obrigatoriedade do uniforme da educação física, 
da pontualidade na entrega dos trabalhos, da decência nos relacionamentos, 
um parceiro que quer realmente o melhor para o próprio filho.
Fica claro, portanto, que os “pais helicópteros” precisam refletir me-
lhor acerca do genuíno conceito do que significa e para que serve educar, 
percebendo que não podem deixar-se dominar por sentimentalismos en-
ganosos. Só pais com autoridade moral – isto é, que se esforçam por dar 
sempre bom exemplo e exigem dos filhos os mesmos valores e virtudes que 
vivem –, são capazes de compreender o verdadeiro papel da escola: formar 
um ser humano que pensa e que ama. Este será sempre o critério para ava-
liar corretamente uma escola.
Contra este excesso de protecionismo se rebelaram os pais gever Tul-
ley e Julie Spigler, fundando a Tinkering School. Trata-se de uma colônia 
de férias de verão nos Estados Unidos que pretende fomentar a criatividade 
dos jovens. Ali eles aprendema fazer projetos, invenções e atividades de 
risco, supervisionados por monitores. Recentemente publicaram um livro 
intitulado “50 coisas perigosas que você deveria deixar os seus filhos fa-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 23
zerem” [Fifty Dangerous Things (you should let your children do)]. Es-
crito com uma boa dose de provocação, é um guia de jogos “perigosos” 
que oferecem alternativas de diversão altamente enriquecedoras: acender 
fogueiras com lupas, escalar árvores, jogar futebol de noite ou na chuva, 
atravessar um rio por uma corda, subir no telhado...
Mesmo admitindo-se que poderá haver alguma ideia disparatada no 
livro, este pelo menos tem o mérito de meter o dedo em uma das chagas 
contemporâneas: a obsessão pela segurança e em evitar a todo custo que os 
filhos sofram ou passem algum mau momento.
Logicamente, os pais deverão descobrir o ponto médio entre proteger 
demais e “deixar a coisa solta” (o que também é uma forma de egoísmo 
disfarçado). A prudência os levará a discernir o que verdadeiramente repre-
senta uma ameaça para os filhos e o que não. Mas devem ter presente que 
educar é sempre um risco da liberdade, e só confiando nas potencialidades 
racionais e volitivas dos filhos, ou seja, na capacidade que eles têm de ir 
distinguindo o bem do mal, fruto da boa educação na infância, será possí-
vel sonhar com filhos maduros, felizes e viver em paz.
CAPÍTULO 3
UMA ALTERNATIVA EDUCACIONAL 
DE VANgUARDA4
Nos dias 3 a 5 de setembro, na cidade de Bue nos Aires, Argentina, 
ocorreu o II Congresso Latino Americano de Educação Diferen ciada, sob 
o título “Novos cenários para a educação de mulheres e de homens”. Par-
ticiparam do evento mais de 200 educadores de 15 países. Tive a honra de 
representar o Brasil, junto com mais sete professores: três de Curitiba, três 
de São Paulo e um de Campinas.
Infelizmente, ficou evidenciado nesse Congresso que essa nova al-
ternativa educacional ainda está engatinhando no nosso país. Segundo um 
estudo realizado pela EASSE (European Association of Single-Sex Educa-
tion), existe atualmente no mundo, de acordo com dados obtidos de 70 na-
ções, 210 mil escolas de educação diferenciada por gênero com 40 milhões 
de alunos. Esse estudo fez questão de ressaltar que faltaram dados de países 
de tamanho continental como Índia e China, e de outros do continente asiá-
tico e africano nos quais a educação diferenciada tem certa tradição.
A Educação diferenciada por gênero, longe de estar ligada a uma épo-
ca, a uma ideologia ou a um tipo de escolas, está crescendo com força em 
âmbitos, países, culturas e realidades políticas muito diferentes, mas espe-
cialmente nos países mais avançados, como Estados Unidos, Inglaterra, 
França, Aus trália, Alemanha, Canadá, entre outros. Na América do Sul, o 
país mais avançado nessa modalidade educativa é o Chile, onde a imensa 
maioria das escolas públicas já é diferenciada. Mas, afinal, o que é a edu-
cação diferenciada?
A Educação diferenciada é uma opção que se adapta a todo o tipo de 
entorno social e às mais variadas necessidades educacionais: escolas de 
um só sexo; colégios mistos com salas de aula diferenciadas, separando em 
todas ou apenas em algumas disciplinas, ou ainda somente em alguns anos 
do processo educacional.
4 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=926865&tit=Uma-alternativa-edu-
cacional-de-vanguarda. Publicado em 23/09/2009.
26
Um dos maiores especialistas da atualidade nesse assunto, o espanhol 
Jaume Camps, assessor da EASSE, em uma das suas conferências do Con-
gresso, elucidou o porquê de em tantos países ainda existir certo precon-
ceito para essa alternativa de ensino. Segundo ele, a educação diferenciada 
nasceu de uma sociedade marcantemente machista, na qual o papel social 
do homem se caracterizava por buscar recursos econômicos e o da mulher, 
pelo cuidado da casa e da educação dos filhos. Os projetos pedagógicos 
das escolas da época, tentando adaptar-se a essas necessidades, ofereciam 
uma educação diferenciada, mas injusta. A educação diferenciada, nessa 
altura, era, de fato, uma educação segregadora, privilegiando muito mais o 
homem. Com a justa reação feminista dos anos 60, buscou-se lutar contra 
esta discriminação, promovendo a co-educação e a igualdade de oportuni-
dades nas mesmas escolas, o que provocou o movimento da passagem das 
escolas separadas para as escolas mistas. A educação diferenciada ficou 
marcada para sempre como uma educação nefasta.
Entretanto, durante esses 40 anos que domina a educação mista, foi-
se percebendo que a igualdade de oportunidades educacionais trouxe a de-
sigualdade de resultados. Os meninos, nas escolas mistas, obtiveram piores 
resultados do que nas escolas diferenciadas. As meninas se interessaram 
menos por matérias ditas masculinas, como informática, matemática e quí-
mica. Nas universidades de todo o mundo a presença feminina já é maior 
nos cursos de prestígio, com tendências crescentes. A presença de ambos 
os sexos na mesma sala de aula, principalmente na adolescência, estimulou 
a desconcentração e o interesse por outros aspectos poucos educativos. O 
doutor Cornelius Riordan, professor renomado dos Estados Unidos e pes-
quisador consagrado nessa matéria há mais de 25 anos, ao proferir a confe-
rência no Congresso de Bueno Aires, apontou para as enormes vantagens 
educacionais na educação pública quando se opta pela educação diferen-
ciada. Segundo ele, alunos de condições mais desfavorecidos apresentam 
melhor resultados acadêmicos.
Muitos outros aspectos foram discutidos durante as conferências e 
colóquios, como as novas descobertas da neurociência que evidenciam 
diferenças cerebrais, celulares, psicológicas, sensoriais e hormonais entre 
homens e mulheres que favorecem ou atrapalham a aprendizagem; como 
conseguir uma boa socialização em escolas diferenciadas, de forma que 
não se perca a complementaridade; como saber se é mais conveniente a 
educação mista ou diferenciada; como potencializar o mercado de trabalho 
para professores homens; e muitos outros aspectos.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 27
No próximo dia 26 de setembro se aprofundará de forma mais atua-
lizada o tema da educação diferenciada no V Seminário Internacional de 
Família e Educação, o qual contará com dois especialistas de Madri, Es-
panha. Acredito que quem quiser vislumbrar melhor essa nova alternativa 
educacional terá de aproveitar a oportunidade e formar uma opinião sobre 
esse tema com maior liberdade.
CAPÍTULO 4
A LIBERTINAgEM NA EDUCAçãO5
Tem crescido nos últimos tempos, principalmente no mundo empre-
sarial, a preocupação com a responsabilidade social. Parece que finalmente 
a sociedade despertou para o fato de que a mãe natureza tem suas próprias 
leis e que suas reservas não são inesgotáveis. Conscientizou-se de que o 
poder humano, podendo conservá-la ou destruí-la, tem que ser limitado de 
forma racional, caso contrário viveremos sempre em eterna ameaça apo-
calíptica. Mas perguntemo-nos: será que há esta mesma percepção com 
relação ao ser humano? Será que já existe, não só nas empresas, mas em 
todas as estruturas sociais um entendimento de que é preciso redescobrir 
também as leis do próprio homem, para assim preservar a dignidade da 
pessoa humana e não a destruir? 
Confesso que há dias – talvez por estar acostumado a acreditar no ho-
mem–, em que minha resposta à indagação é afirmativa, mas há outros em que, 
lastimavelmente, contemplando o noticiário, devo concluir que não. E também 
há dias em que me pergunto: mas para quê todos estão preocupados com a 
conservação da natureza, com o conforto humano e com a salvação do mundo 
se depois o vamos encher de “animais-humanos”, muitos deles atuando até de 
forma infra-animal? Não será isto uma ameaça muito mais perigosa?
Acredito que nós educadores devemos começar a tratar também da 
responsabilidade social das famílias, das escolase dos meios de comunica-
ção a fim de que todos eduquem na verdadeira liberdade humana. Mostrar-
lhes que a cultura de uma sociedade é sempre reflexo da liberdade indivi-
dual de cada um e que todos somos sempre co-responsáveis pela cultura da 
qual vivemos e da que depois virá.
Infelizmente, muitas correntes pedagógicas das últimas décadas, le-
vadas mais por visões distorcidas e ideológicas do que por estudos sérios 
de antropologia, espalharam mentiras educacionais que desfiguraram a li-
berdade. Uma delas é que a criança constrói melhor seu conhecimento se 
5 http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=998415&tit=A-libertinagem-na-educacao. 
Publicado em 02/05/2010.
30
o educador fomenta uma espontaneidade quase ilimitada no processo de 
aprendizagem. A afirmação “o importante é deixá-la ser autêntica e fazer o 
que gosta, pois assim obterá maior sucesso escolar” costuma ser a música 
sedutora. Outra postura mais sedutora ainda é cantar para os educadores 
que reprimir sentimentos, corrigir assertivamente, castigar razoavelmente, 
podar iniciativas desmedidas poderá provocar desequilíbrios psicológicos 
irreparáveis e afetar a aprendizagem e a auto-estima da criança.
Para desmascarar estas mentiras, é preciso recordar os elementos bá-
sicos da verdadeira liberdade humana, que poderiam ser resumidos numa 
definição simples e fácil de memorizar: A liberdade humana é a capacida-
de de escolher bem, para uma finalidade boa, na prática.
Ser livre é uma capacidade, é um poder de escolher. Como dizíamos 
no início, um poder que poderá ser usado tanto para o bem quanto para o 
mal. Portanto, exigirá sempre muitos cuidados e principalmente o uso da 
racionalidade. Quando vemos nos noticiários loucos dirigindo na contra-
mão em auto-estradas ou torcidas esportivas se espancando por nada, con-
cluímos que nada daquilo pode ser humano. Sendo um poder, a liberdade 
exige aquisição desse poder, de forma tanto racional quanto volitiva. Quan-
do deixamos o aluno ser “autêntico”, isto é, espontâneo, o resultado poderá 
ser lindo e até proveitoso em algumas ocasiões, mas na maioria das vezes 
será irracional. Os sentimentos espontâneos são como as teclas de um pia-
no. Não existem notas musicais boas ou más, mas as que se harmonizam 
dentro de uma partitura. A criança tem que aprender que a verdadeira liber-
dade é aprender a partitura da afetividade. Primeiro na teoria, com reflexão 
e aconselhamento, e depois pelo aprendizado prático das virtudes éticas. Se 
ela descobrir que existem momentos nos que convém ser “engraçadinho” e 
outros em que não, então sim estará a caminho de ser “autêntico” homem 
feliz. Caso contrário, somente se tornará uma autêntica pestinha.
Sabemos que ninguém se dispõe a aprender, de fato, uma partitura sim-
plesmente por achar linda a teoria musical. Qualquer músico quer atingir o 
encantamento e o êxtase. Daqui podemos deduzir que não basta escolher 
bem, é preciso escolher para uma finalidade boa. Quando a criança é ensi-
nada que liberdade é fazer o que se quer, é viver os próprios gostos, ela e 
quem lhe educa assim têm com certeza uma finalidade boa, que é ser feliz e, 
portanto, a proposta parece bastante sedutora. Passado o tempo, porém, em 
geral a criança começa a sentir-se fraca, percebendo que lhe faltam forças 
para levar adiante qualquer projeto. Sente dentro de si uma forte polarização 
grupal – aquilo que o grupo espera que ela faça – e tem que escolher coisas 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 31
que nem lhe agradam tanto, porque lhe faltam argumentos convincentes para 
dizer “não”. Sofre ainda de solidão e depressão, porque a vida não é como ela 
imagina e as dificuldades a massacram. No final, a felicidade almejada acaba 
nunca sendo experimentada e os desequilíbrios afetivos que se queriam evi-
tar acabam se tornando muitíssimo mais graves. 
Buscar fazer o que se quer sem ser impedido pelos outros é um ob-
jetivo excelente, o qual todos devem desejar. Mas da forma correta, sem 
deixar-se enganar pela incorreta, ou seja, pelo mal. É preciso concluir que 
só a escolha de acordo com os princípios que regem a natureza humana é 
o que de fato liberta, apesar do esforço e sacrifício que acarreta viver os 
mesmos. Todo educador sabe que educar vem de ducère (guiar, conduzir) e 
de educère (extrair as capacidades de dentro). Porém, se a educação em ge-
ral continuar enveredando por caminhos de libertinagem talvez possamos 
assemelhá-la antes a seducère (seduzir), pois o prefixo “se” indica afasta-
mento, separação e é isto o que acaba fazendo a má educação privando o 
jovem a seguir vocação natural ao amor e à liberdade compartilhada.
CAPÍTULO 5
O RISCO DA EDUCAçãO RELATIVISTA6
Alasdair MacIntyre, filósofo escocês bastante estudado atualmente 
na academia, no seu famoso livro Depois da virtude nos mostra as raízes 
histórico-filosóficas da fragmentação ética que contemplamos atualmente 
no cenário mundial.
Segundo o autor, se nos dispomos a examinar a fundo o que está 
acontecendo, perceberemos um reflexo de uma série de filosofias de pensa-
mento e de vida, oriundas do iluminismo europeu e que chegaram até aos 
nossos dias. Elas afirmam que não é possível acudir a razões objetivas para 
justificar os princípios éticos que cada qual deve utilizar nas suas escolhas. 
Existe como que um acordo implícito de que os princípios são uma questão 
de preferências pessoais. Pretender outra coisa equivaleria a incorrer num 
crime de lesa-humanidade, que é impor uma ética ao vizinho. Quem pro-
fere um juízo ético deve usar uma linguagem pretendidamente impessoal e 
deve ocultar suas pessoais motivações. “Tal coisa é eticamente má” signi-
ficaria, na prática, “não quero que faças tal coisa, porque não me agrada”. 
Portanto, esta corrente, chamada emotivista, postula que não existem cri-
térios universais que sirvam para dirimir entre posturas éticas rivais. Todas 
elas seriam igualmente dignas e admissíveis.
Se nos aprofundarmos nas consequências práticas desta corrente ética, 
perceberemos que tem se comprovado ser uma postura muito perigosa, porque 
são muitas vezes difíceis arbitrar posturas diferentes, encontrar os limites de 
quem está com a razão e no final acaba-se alimentando, parafraseando o autor, 
uma “guerra civil sem armas”, na qual ganhará o que for mais forte e tiver mais 
poder. Uma teoria ética que provoca a injustiça social não parece, portanto, ser 
a mais adequada. É preciso buscar algo mais isento e transcendente, que dê luz 
a duas vontades opostas ou diferentes para viverem em paz.
Se questionarmos mais a fundo o porquê de a sociedade atual pensar 
assim da ética verificaremos que ela acredita que a tentativa, passada ou 
6 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=882570&tit=O-risco-da-
educacao-relativista. Publicado em 02/05/2009.
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presente, de prover de justificação racional a moral objetiva fracassou de 
fato. Mas, será que as pessoas já se questionaram por que fracassou?
Uma primeira resposta que daria para justificar o fracaso da moral obje-
tiva foi a perda — ou a destruição propositada por alguns pensadores — dos 
conceitos metafísicos de natureza humana e de seu telos (fim). O alcance 
do Bem, da Perfeição, do Amor real, da Felicidade foram descartados como 
o sentido da vida humana. Por que ocorreu essa essa perda ou destruição? 
É possível deduzir razões muito mais morais e/ou religiosas de seus res-
ponsáveis do que propriamente razões filosóficas. A explicação é simples: 
o esforço arduoso para alcançar esse Bem sempre rebelou o orgulho huma-
no. O sofrimento sempre trouxe sua dose de mistério, de perplexidade e de 
medo. Portanto, segundo esses pensadores, se essa era a nossa condição para 
sermos felizes, era melhor autonegar a própria natureza humana e arriscar 
uma outra natureza, que eu chamaria não humana e, portanto, mais animal. 
Destruindo-se a natureza, destruiu-se a Verdade Objetiva.
Uma segunda explicação desse fracassoda ética objetiva nasce e é 
consequência da primeira. Quando o esforço ético da vivência objetiva das 
virtudes morais foi desvinculado do seu telos humano — da forma de se 
alcançar a felicidade no amor —, a ciência das virtudes morais foi desfi-
gurada como mera exigência sem sentido. Culparam-na da origem de trau-
mas, repressões e ausência de liberdade. E estavam certos! Tantos os gritos 
nietzschianos ouvidos no passado exigindo liberdade, quanto os esterismos 
freudianos ouvidos até hoje na educação reivindincando prazer, tinham a 
sua razão de ser. A ética kantiana do “dever pelo dever”, sem a meta de 
alcançar a liberdade do Amor, ficou odiosa, inumana e doentia.
Fica mais fácil concluir, portanto, que o fracasso da ética objetiva foi 
real, mas por culpa do próprio homem em não querer aceitar a sua própria 
natureza. Mas perguntemo-nos: foi melhor essa escolha para o Homem? As 
desordens sociais do século XX e do atual parecem nos sugerir que não. 
A somatória crescente de pessoas depressivas, solitárias, violentas, injustas, 
sem motivação para viver e existir parece provar que alguma coisa de errado 
aconteceu no passado. A sociedade não ficou mais feliz negando a própria 
natureza humana. A evidência de que todo o ser humano fica ansioso e inse-
guro até encontrar-se como ser humano livre e responsável da sua felicidade, 
parece evidenciar que, por mais que o homem possa autonegar a própria 
natureza, só se sentirá feliz e em paz quando entender que, apesar do esforço, 
vale muito mais a pena autoafirmá-la do que viver como um triste animal.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 35
É tarefa urgente dos pais e educadores desmascarar o brilho falso da 
ética relativista em que nossos jovens estão sendo formados. É preciso que 
comprendam que uma educação relativista gerará a destruição dos jovens, 
porque não se desenvolverão como seres humanos, mas como simples ani-
maizinhos, sem sentido na vida.
CAPÍTULO 6
UMA JUVENTUDE SEM ÉTICA7
Cada vez mais, nos dias que correm, pais e educadores de jovens e 
adolescentes se deparam com um problema muito sério nessa passagem 
difícil da adolescência para a idade adulta: a grande indiferença para o 
aprendizado moral e para a vivência ética das virtudes.
De fato, observa-se que são muitos os jovens que passam, como en-
sinava Piaget, dessa fase da heteronomia moral — fase de viver o que lhe 
mandam — para a fase da autonomia ética de forma bastante indiferente 
e desinteressada, como se suas escolhas não determinassem, em parte, sua 
felicidade e seu futuro. A resposta para este fenômeno parece estar não só na 
desvalorização e/ou incapacidade familiar e escolar para a educação ética/
moral, mas também no atraso dessa passagem que a própria família e a socie-
dade de consumo estão provocando, mais ou menos inconscientemente.
Infelizmente, como diz Tony Anatrella, renomado psicanalista fran-
cês, uma das maiores contradições de nossa sociedade ocidental consiste 
em fazer crescer a juventude muito rapidamente, facilitando-lhe várias ex-
periências precoces, muitas delas nocivas, e, ao mesmo tempo, animá-la 
a permanecer adolescente o maior tempo possível, com as facilidades de 
uma vida cômoda e sem dificuldades. Aprofundemos no fenômeno.
Desde a mais tenra idade, tanto os pais como as empresas de consu-
mo, com seus poderosos veículos de comunicação de massa, ambos com 
intenções muitas vezes duvidosas e pouco éticas, procuram satisfazer as 
crianças com todos os equipamentos de diversão e comunicação, de forma 
que os “convençam” que ficarem em casa, no seu quartinho, como numa 
autêntica “bolha protetora de micróbios”, é a forma de serem e viverem 
mais felizes e seguras, depois da escola. Constroem para eles uma autêntica 
“bolha material”, onde há pouco espaço para o diálogo educativo e para as 
amizades verdadeiras. Como aponta Tânia Zaguri, sentimentos de culpa 
pela ausência e omissão dos pais, que têm que trabalhar, são muitas vezes 
os motivadores para esses excessos.
7 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=872283&tit=Uma-juventude-sem-
etica. Publicado em 30/03/2009.
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Quando chegam à idade de desenvolver mais suas capacidades e ha-
bilidades intelectuais, as famílias as “entopem” de cursos e esportes ex-
traescolares, com a ilusão de que assim conseguirão maior realização pro-
fissional futura. Entretanto, como com a “bolha material” só conseguiram 
desenvolver uma ou duas amizades reais — virtuais muitas! — as crianças, 
ao sair de casa para esses inúmeros cursos, sentem dificuldade no relacio-
namento e muita insegurança. Como solução, muitas são como que obriga-
das a transportar de forma inconsciente essa bolha material invisível para 
se refugiar: celulares com os seus derivativos, mp4 player, livros… Tendo 
dificuldade para se comunicar e descobrir um “outro tu”, reforçam a bolha 
material criando uma nova camada que poderíamos chamar de “bolha psi-
cológica”, que as cegam para qualquer interesse que não seja individual.
Por fim, se tiveram a sorte de conseguir ingressar na vida univer-
sitária, onde existe habitualmente uma explosão intelectual, um aumento 
do conhecimento e uma liberdade falsamente ilimitada, os jovens que não 
aprenderam o certo e errado, sentem necessidade de criar uma ética pró-
pria para satisfazer suas inseguranças ou justificar suas ações, muitas vezes 
erradas, que tranquilize suas consciências. Criam uma terceira camada da 
bolha, chamada “bolha filosófica”. As tragédias nesta fase, que quase sem-
pre são de tentativa e erro, costumam ser frequentes e deixam marcas para 
o resto da vida.
Esta tríplice camada que envolve os “meninos-bolha” é a que produz 
depois uma enorme força-resultante centrípeta egocêntrica que os leva a 
realizar somente aquilo que alimenta um eu voraz de prazer sem lógica e 
sem limites, gerando, consequentemente, um subjetivismo irracional, uma 
ética sem fundamentos sólidos e, ao final, um coração embolhado, isto é, 
vazio de amor: não conseguem entender a linguagem do amor e da amizade 
verdadeiros. Estes “meninos-bolhas” não conseguem, na prática, transcen-
der e valorizar a ética, porque ela só se busca quando se tem um porto a 
chegar, um ideal de perfeição a se alcançar.
A forma de se abrir para uma educação ética é esperar que a própria 
vida, com suas vicissitudes e tragédias dolorosas, se encarregue de furar a 
bolha, acordando-os para uma realidade que não conhecem. Outra forma 
mais prazerosa e inteligente, é aquela em que um amigo(a) os ajude não só 
a repensar a própria vida moral, mas também a descobrir que é a própria 
dinâmica e vivência das virtudes da temperança, fortaleza, justiça e pru-
dência, nessa ordem, que evitará que essas bolhas e camadas se formem.
CAPÍTULO 7
ANALFABETISMO ESPIRITUAL8
Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostragem a Do-
micílio (PNAD 2007), o analfabetismo funcional atingiu 21,6% da popu-
lação. Somados esse índice com os 10% da população brasileira que é to-
talmente analfabeta, resulta que 31,6% da população não possui o domínio 
pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas.
Como educador e pesquisador, ao examinar estes dados, pude perceber 
que ainda há muito a lutar por alcançar níveis educacionais razoáveis, pois ne-
nhum dirigente responsável pode ficar tranquilo quando se depara com, apro-
ximadamente, 60 milhões de pessoas parcialmente ou totalmente analfabetas.
Dando um passo mais além, levantei a seguinte questão: mas, por que 
índices de corrupção, de infidelidade, de divórcio, de dependência química, 
de depressão, de suicídio tão elevados em classes sociais mais instruídas 
e com um maior poder aquisitivo? Não estarão também refletindo algum 
tipo de analfabetismo? Não será que o IBgE teria que começar a levantar 
também um novo índice, muito mais preocupante e definidor para a verda-
deira justiça, que aponte a capacidade de domínio do egoísmo pessoal ou 
que meça a capacidade de lealdade e justiçasociais? Não é para isto que se 
deve investir em educação num país?
Se nos perguntarmos sobre o porquê deste fenômeno, uma hipótese 
que gostaria de levantar é que os fins atuais da educação podem estar sendo 
enfraquecidos por uma visão incompleta da verdadeira antropologia huma-
na — apenas preocupada em satisfazer a parte afetiva do homem — e não 
com a sua totalidade: a integração da inteligência, vontade e afetividade. 
De fato, quando a educação é vista apenas como um trampolim para gal-
gar melhores níveis econômicos, quando o esforço educacional é motivado 
apenas para garantir um emprego estável, quando o homem é valorizado 
mais pela sua parte afetiva (material) que pela sua parte racional, volitiva, 
e, portanto, espiritual, o conhecimento técnico é visto como o mais impor-
tante e suficiente para ser ensinado nas escolas. O aprendizado ético não é 
visto como prioritário e, inclusive, muitas vezes, como necessário.
8 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=864577&tit=Analfabetismo-espiritual. 
Publicado em 07/03/2009.
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Essa distorção na educação tem levado, com a perspectiva dos úl-
timos anos, a duas consequências muito perigosas aos alunos da maioria 
das escolas, seja pública ou privada: em primeiro lugar, a um grave atro-
fiamento da parte da inteligência que reflete, julga e decide o que mais 
lhe convém para a sua realização: o que os clássicos chamaram de razão 
prática; e, em segundo lugar, a uma hipertrofia da afetividade, que, quando 
não conta com a moderação dessa razão prática, sempre leva o homem a 
desejar mais prazer para si do que necessita e portanto mais egoísmo e 
menos altruísmo.
Esta desordem humana, que leva a uma incapacidade para amar alguém 
realmente e sinceramente, é o principal causador da insatisfação existencial. 
É o que define e alimenta o analfabetismo espiritual. É o que faz com que 
os jovens hoje só se motivem por tudo aquilo que seja meramente material 
e econômico. Por isso, quando vemos estudantes saindo com diplomas uni-
versitários das mais respeitadas faculdades, mas muito imaturos para pensar 
no próximo, e muito motivados para conseguir apenas o sucesso profissio-
nal, sempre vem a pergunta: será que valeu apenas investir tantos recursos 
somente na razão teórica, aquela que acumula conhecimento e mais nada e 
que para a educação hoje parece que é a única que existe?
Desde já gostaria de propor que, em primeiro lugar, a educação das 
virtudes éticas/morais voltasse a ser mais contemplada na família e no cur-
rículo escolar, que é o que proporciona efetivamente a alfabetização espiri-
tual. E, por fim, que o próximo PNDA 2009 comece a pesquisar o índice do 
analfabetismo espiritual. Desde já posso intuir que este índice, somado aos 
31,6% apontados no início, resultará em patamares altamente preocupantes 
para a paz social do futuro.
CAPÍTULO 8
A BOA E A Má DECOREBA9
Está na pauta dos educadores e de nossos governantes a discussão so-
bre o fim da “decoreba”. Acreditam que é urgente fomentar nas escolas bra-
sileiras uma aprendizagem mais lúdica e sem esforço, onde a autonomia e a 
espontaneidade tenham mais espaço. Concordo plenamente. Penso, porém, 
ser preciso frisar que o sentido depreciativo da palavra decoreba — ação ou 
resultado de memorizar, sem o cuidado de compreender o que se estudou — 
poderá confundir o estudante com a falsa noção de que decorar é um mal. 
Segundo a educadora Judith Sucupira Lins, a aquisição do conhecimento, 
sua a retenção na memória e a subsequente generalização para raciocínios 
futuros são três fases necessárias para alcançar o conhecimento.
Quem galgou patamares acadêmicos mais elevados pode comprovar 
que a “boa decorada” é fundamental para, entre outras coisas, auxiliar na 
aprendizagem de diversas linguagens (línguas estrangeiras, música, litera-
tura, artes etc.) como também para raciocinar mais rapidamente na busca 
de solução para os problemas. Por outro lado, o movimento visando a aca-
bar, no médio prazo, com o vestibular tradicional, privilegiando-se provas 
analíticas como as do Enem, é positivo. Sinaliza-se que a educação passa 
por um período delicado de transição. Que as aulas de “cuspe e giz” estão 
com os dias contados. Que os cursos pré-vestibulares perderão clientela, 
ao não mais conseguirem, por carência de tempo, “adestrar” alunos para 
realizar provas que exigem trabalhar a informação em vez de manipulá-la 
em fórmulas ou técnicas. Que quem não despertar a tempo para o momento 
educativo nascente, ficará para trás. Mas, afinal, que novo tempo é este?
Até ao final da década de 80, a aquisição da informação era cara, traba-
lhosa e lenta. Com a revolução tecnológica, nos anos 90, os jovens estudantes 
têm, desde tenra idade, acesso às diversas fontes da informação. Por um lado, 
a aquisição do conhecimento se tornou mais barata, prazerosa e ultrarrápida. 
Por outro, a retenção desse conhecimento, que antes dependia só de esfor-
ço e estudo, agora pode ser, em parte, substituída por recursos tecnológicos 
9 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=912122&tit=A-boa-e-a-ma-decoreba. 
Publicado em 06/08/2009.
42
de armazenamento de informação. No entanto, boa parte da memorização 
continua a exigir bons hábitos de es tudo e reflexão. É preciso, portanto, que 
toda a comunidade escolar tenha consciência dos riscos das novas tendências 
e não caia em ilusões educacionais. A primeira é acreditar que acabar com 
a decoreba torna mais fácil o ensino-aprendizagem. Os futuros professores 
precisarão ser muito mais bem preparados e alinhar-se rapidamente às novas 
realidades. Para quem é aluno, é fundamental não desprezar os limites dos 
diversos campos das ciências (história, geografia, física etc.), pois só quando 
esses estão bem fixados na inteligência é possível passar para a interdiscipli-
naridade, exigência dos novos tempos. Caso contrário, o empobrecimento e 
a confusão intelectual serão uma realidade.
Um segundo aspecto que costuma iludir os alunos é acreditar que a 
facilidade de acesso à informação já lhes garante o conhecimento. A verda-
de é que o excesso de informação nunca chegará a ser verdadeira cultura se 
não houver um trabalho de assimilação e ponderação. Por isso, já afirmava 
Alejandro Llano que “as relações eletrônicas têm uma índole fundamental-
mente técnica, enquanto que as relações comunitárias ou familiares são ba-
sicamente humanas. E as relações humanas são necessárias, por muito que 
avance a técnica. O crescimento da comunicação eletrônica globalizada 
deve ser acompanhado por um desenvolvimento equivalente da comunica-
ção pessoal, por um cultivo das humanidades”. Esta análise muito aguçada 
do filósofo espanhol pode nos ajudar a entender o porquê de as pessoas 
atualmente buscarem se comunicar, mas sem ter o quê comunicar. E conti-
nua o filósofo: “Quem recebe uma informação abundante e imediata, com 
velocidade e urgência, é quem mais precisa do critério para selecionar qual 
a informação relevante e qual a supérflua. Por isso, em vez de passar horas 
no celular ou ligado nos e-mails, o estudante precisa muito ler os clássicos 
para construir esse critério”. De fato, só com o conhecimento técnico, fa-
cilmente se cai no superficialismo ou na indiferença.
Em 2001, um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvol-
vimento Econômico (OCDE) apontava seis cenários possíveis para a escola 
do amanhã: 1) umas manteriam o status quo com ensino burocrático; 2) ou-
tras estariam no centro da coletividade, suprindo a ausência da família; 3) 
umas buscariam centrar-se na aprendizagem, muitas com novas tecnologias; 
4) outras tornar-se-iam mero comércio, com tendências de educação a dis-
tância; 5) umas seriam assumidas por famílias e comunidades que procuram 
preservar seus valores; 6) outras sofreriam o êxodo dos professores e a desin-
tegração do sistema por falta de motivação e condições ambientais.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 43Passados quase nove anos do relatório, se analisarmos o ensino privado 
brasileiro, poderemos constatar com pesar que o quarto cenário predomina. 
No ensino público, predomina o segundo cenário, com triste tendência para 
o sexto. É possível prever, portanto, que se não reagirmos lutando pelos ce-
nários três ou cinco, os únicos que permitem a “boa decoreba”, dificilmente a 
educação sobreviverá a um futuro cada vez mais concorrido e exigente.
CAPÍTULO 9
EDUCAR O JOVEM PARA O PRAZER10
Refletir sobre a felicidade é uma atitude habitual em todo ser humano, 
pois sua natureza o inclina a buscá-la em tudo o que faz. Todo trabalho filosó-
fico, desde os tempos helênicos até os nossos dias, consistiu basicamente em 
tentar decifrar seu caminho e propor elementos que facilitem seu alcance.
Aristóteles, em Ética a Nicômaco, afirmava que “a felicidade, mais 
que qualquer outro bem, é tida como o Bem Supremo, pois a escolhemos 
sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais; as honrarias, o pra-
zer, a inteligência e todas as formas de excelência, embora as escolhamos 
por si mesmas, escolhemo-las por causa da felicidade, pensando que atra-
vés delas seremos felizes”. Portanto ser feliz é o grande fim, o único que 
deve motivar nossas ações e toda ação educativa. Todo educador, se é ho-
nesto consigo mesmo e com o próximo, procurará orientar o educando para 
alcançar a verdadeira realização. O problema é que, muitas vezes, é difícil 
definir com objetividade o que é na prática esse Bem Supremo, pois, como 
se vê no mundo de hoje, parece não haver um consenso claro.
Agostinho condensava a felicidade na conquista da Verdade e na Eter-
nidade. Podemos intuir, portanto, que a origem da infelicidade do mundo 
materialista parece estar no afã desordenado de buscar apenas o efêmero, 
o que engana e o que seduz. Nos dias atuais, efetivamente, parece mais 
importante parecer ser feliz frente aos outros que ser feliz realmente. A 
mentira da ostentação do carro importado, de morar num bairro nobre ou 
de viajar para o estrangeiro todas as férias motiva, de fato, muitas pessoas 
em seu existir. Mas também é comprovado que essas realidades materiais, 
cada vez mais ao alcance com esforço e trabalho, com o tempo lhes provo-
cam a chamada frustração existencial, levando-os a concluir: “Afinal, não 
é isto a felicidade. Eu queria eternizar a alegria de parecer feliz, mas não 
posso. Isto é uma mentira”. Viktor Frankl, renomado psiquiatra austríaco, 
explica a causa dessa anomalia em sua teoria sobre a logoterapia, apontan-
do para dois tipos de frustração: um que nasce do fracasso de não se alcan-
10 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=922739&tit=Educar-o-jovem-para-o-prazer. 
Publicado em 10/09/2009.
46
çar um bem real ou aparente que se pretendia; e outro, segundo ele muito 
pior, que nasce quando, apesar de se ter alcançado esse bem, se percebeu 
que não se tratava de um bem real, mas aparente.
Infelizmente, essa sensação tem crescido nos últimos anos, de forma 
exponencial, na sociedade atual. Medidas para diminuir suas consequências 
(solidão, depressão, vazio existencial, violência, etc.) também são variadís-
simas: drogas de todos os tipos, esportes radicais, busca desenfreada de 
diversão, “workaholiquismo”, culto ao corpo, opções sexuais, etc. Porém, 
o que mais chama a atenção é que, apesar de que grande parte da sociedade 
já esteja consciente desse engano, parece que não tem forças para reagir. 
Parece anestesiada e impotente. A pressão social, que exige sempre mais 
hedonismo e materialismo, parece tomar conta da liberdade de cada um.
Um grave problema que decorre dessa sonolência social é que ela se 
reflete depois no olhar educacional dos pais. Perguntemo-nos: para eles, no 
fundo, o que mais lhes importa dar para os filhos? Para muitos, felicidade são 
jogos eletrônicos sofisticados, festas caríssimas, viagens ao estrangeiro, rou-
pas de marca, celulares, computadores de última geração, intercâmbios es-
colares, carros exagerados. A mentira vivida em si mesmo, quase sempre de 
forma inconsciente, de alguma maneira é perpetuada nos filhos. A máxima 
(falsa) de que a felicidade está no máximo prazer material se torna, depois 
de muitos “ensinamentos práticos”, o fundamento de todas as motivações do 
jovem. O que eles pensam que os tornará felizes, porém, na verdade é falso, 
apenas um mero “prazer burro”: efêmero, superficial e egoísta.
A vida feliz para Aristóteles era a que possuía os bens mais apre-
ciados: a família e os filhos no lar, uma quantia moderada de riquezas, os 
bons amigos, a boa sorte que afaste de nós a desgraça, a boa saúde. Mas, 
sobretudo, tratava-se de uma vida nutrida na contemplação da verdade e 
na prática da virtude. O filósofo grego, tutor de Alexandre Magno — um 
dos maiores reis de nossa história — sabia pela própria experiência de 
educador que, somente educando corretamente as potências da inteligência 
e da vontade, o verdadeiro processo educativo, que é aquele que faz sentir 
prazer e dor nas coisas certas, seria possível.
Parece que podemos concluir que o grande desafio de todo educador 
é desmascarar, primeiro com o próprio exemplo, e depois com o diálogo-
reflexão pausado com os jovens, a mentira reinante de que a felicidade está 
em obter o máximo prazer material/corporal. Depois vem o desafio para que 
descubram que o prazer intelectual — a leitura de um bom livro, a apre-
ciação da estética e beleza da arte, da música — dura muito mais e satisfaz 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 47
infinitamente mais que o prazer material. E, por fim, que experimentem o 
prazer-doação, chamado também prazer espiritual. Ao recordar-lhes as vezes 
em que ajudaram a mãe em casa, o irmão nos estudos, o amigo na doença, 
a namorada(o) no namoro limpo, o cego na rua, o pobre no sinal, o inimigo 
nas orações concluirão que, apesar do sacrifício que tal prazer exige, ele é o 
único que é eterno, verdadeiro e produz um gozo muito mais profundo,como 
descobriram Aristóteles, Agostinho, Frankl e todos os homens felizes.
CAPÍTULO 10
A DESORDEM MORAL E A 
DESMOTIVAçãO NA ESCOLA11
A desordem moral é hoje uma das fontes importantes da desmotivação 
no ensino/aprendizagem no ambiente escolar. Esta foi uma das principais 
conclusões tiradas durante a defesa de tese de doutorado que fiz há alguns 
dias, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Depois de longo 
estudo teórico sobre a motivação no ensino-aprendizagem, além de outro 
em paralelo sobre ética e a vivência das virtudes, pude inferir que o desen-
volvimento harmônico das virtudes morais é, de fato, fonte de motivação. 
Que o desenvolvimento equilibrado das potências humanas — inteligência, 
vontade e afetividade — por meio do crescimento sistemático e sequencial 
das virtudes da temperança, fortaleza, justiça e prudência, numa perspectiva 
aristotélica, gerará uma maturidade ética nos alunos favorecendo-lhes uma 
motivação correta — a que busca os verdadeiros valores e não os desvalores 
ou antivalores que muitos jovens buscam sem saber — e uma motivação 
completa: a que abarca a extrínseca, a intrínseca e a transcendental.
Depois dessa fase de pesquisa teórica, investiguei a ressonância que 
essa hipótese encontrava nos atores da educação. Num primeiro momento, 
em um campo de estudo composto pelos alunos de uma escola de prepa-
ração de professores do ensino fundamental do Rio de Janeiro, examinei 
durante um ano e meio se os pesquisados estariam eventualmente dispostos 
a mudar seu comportamento e a aprender a vivência das virtudes a partir 
das intervenções éticas dos professores no ambiente escolar. Os resultados 
foram surpreendentes, demonstrando que os discentes estão desejosos de 
orientação ética, apesar das dificuldades representadas pela ausência da 
família e pela a pressão negativa exercida por certos meios de comuni-
cação. Num segundo momento, aprofundando mais em quatro escolas de 
formação de professorespara o ensino fundamental do estado do Rio de 
Janeiro, por meio de entrevistas a cinquenta professores, foi constatado 
11 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=746394&tit=A-desordem-moral-e-
a-desmotivacao-na-escola. Publicado em 13/03/2008.
50
que sua grande maioria preocupa-se hoje fortemente em (re)aprender ética 
desejando em seguida compensar nos alunos a ausência dessa formação 
que deveriam ter recebido no seio familiar.
Concluiu-se que, para a imensa maioria dos professores, é esta a prin-
cipal motivação que ainda os sustenta a suportarem tanta desconsideração 
e pouco reconhecimento social. Por outro lado, ficou evidente que esta mo-
tivação transcendental dos professores em ensinar as virtudes está sendo 
enfraquecida pelos inúmeros fatores geradores de desmotivação extrínseca 
— baixos salários, pouco reconhecimento social e ausência consistente de 
plano de carreira — e de desmotivação intrínseca (falta de tempo e interes-
se em atualizar-se profissionalmente) a que estão submetidos.
Já se pode prever, num futuro não tão longínquo, um autêntico “caos 
educacional” caso não surjam medidas que favoreçam melhores salários 
e um maior reconhecimento social desta classe, pois, com o tempo, cada 
vez mais deixarão de existir professores dispostos a um verdadeiro martí-
rio que sofrem hoje nas escolas. Ou então, um caos que existirá porque o 
sistema educacional só conseguirá atrair aqueles que não têm as mínimas 
condições para exercer uma profissão que exija maior capacidade.
CAPÍTULO 11
PORNOgRAFIA, UM MAL 
QUE EXIgE REAçãO12
O impacto da pornografia
Existem inúmeros estudos científicos sobre os efeitos negativos da 
pornografia. Um deles é o publicado pela Academia Americana de Pedia-
tria, que constata que a exposição dos adolescentes ao sexo em progra-
mas de TV tem sido determinante na iniciação sexual dos adolescentes. 
Comprovou-se relação direta entre a assistência a conteúdo sexual na TV e 
a imitação de tais conteúdos pelos jovens.
No Brasil não é diferente. À medida que os modelos apresentados na 
TV, em ambientes de entretenimento como novelas, seriados e filmes, e até 
mesmo na publicidade são de infidelidade, sexo fácil, sexo grupal e pro-
miscuidade, a criança e o adolescente tendem a associar somente o prazer 
da diversão à conduta apresentada, transformando aquela postura em estí-
mulo. Uma vez assimilados aqueles modelos como referências, os jovens 
passam a experimentar socialmente a conduta ditada pela TV.
Em vez de confronto, diálogo
Os pais devem procurar não dar a impressão de ficar chocados quan-
do flagram um filho com material pornográfico nas mãos ou na internet, 
pois quanto maior for a nossa reação perante o fato, mais valor ele dará à 
pornografia. O mais pedagógico é se abrir ao diálogo com o filho e convi-
dá-lo a perguntar-nos o que quiser sobre sexo. O psiquiatra Vallejo-Nágera 
indica que “Como é evidente que o sexo atrai a curiosidade de um jovem 
e este, hoje em dia, vem sendo bombardeado pela pornografia, deve-se 
procurar informá-lo de maneira educativa e natural sobre o sexo. Quando 
12	 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=901714&tit=Pornografia-um-mal-
que-exige-reacao. Publicado em 02/07/2009.
52
se é adolescente, é comum confundir sexo e amor. Revela-se extremamente 
positivo para o jovem que o pai e a mãe lhe expliquem a diferença que há 
entre ambos, e também que o façam ver que o sexo abrange muito mais 
do que o prazer puramente físico: amor, respeito, amizade e admiração 
para com a outra pessoa. Mas é preciso dizer-lhe que a pornografia é um 
meio sórdido e de conteúdo extremamente tedioso, distante da verdadeira 
realidade do sexo.
Por fim, é muito didático que os filhos se habituem desde cedo a re-
parar que os pais desligam a TV quando a transmissão não está de acordo 
com a ética ou que mudam de canal com o controle remoto diante de uma 
propaganda inconveniente.
Afetividade afetada
Evidentemente que, quando o impulso sexual é estimulado precoce-
mente nos jovens, eles não têm ainda força para dizer não, nem a prudên-
cia para perceber a verdadeira finalidade desse impulso. Uma sexualidade 
separada do amor traz a grande chaga do desamor: a incapacidade de se 
entregar a alguém, pois a pessoa simplesmente não desenvolveu essa po-
tencialidade e essa linguagem na infância. Não entendendo a linguagem do 
amor, o sexo sempre será visto como fonte de mero prazer e, dentro deste 
contexto, fica fácil entender a explosão dos vários desvios afetivos que 
apareceram nos últimos anos na sociedade, que não são nada mais do que 
buscas de prazer para si, dentro de um grande egoísmo mútuo.
Um último problema ligado à afetividade é que, quando o homem não 
é educado para o verdadeiro amor ou amor real, e se deixa iludir pelo mero 
amor sentimental, ele vai experimentando com o tempo um vazio existen-
cial (Victor Frankl), pois nada o preenche. Este vazio gera depois várias 
desarmonias psíquico-existenciais como ansiedade, depressão, angústia, 
pois a vida vai ficando sem sentido.
Estímulos que escravizam
Uma pessoa que habitualmente “guarda a vista” contra tudo aquilo 
que estimula e excita os seus instintos sexuais ou ainda os desejos afeti-
vos desordenados, não de uma forma negativa, repressora, de pura auto-
contenção, mas, justamente o contrário, de forma positiva, afirmando os 
valores de pureza, amor e respeito, naturalmente manterá dentro de si uma 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 53
capacidade para contemplar nos outros não só o próprio Deus — pois todos 
somos imagem e semelhança de Deus —, mas a pessoa em si, com toda 
a sua riqueza e individualidade. Por outro lado, quando essa pessoa vai se 
acostumando a olhar tudo e de tudo, com o tempo a razão vai adormecen-
do, a vontade enfraquecendo, pois os estímulos e impulsos sexuais acabam 
sendo satisfeitos sem regras e limites, e se tornam sempre mais primitivos, 
animalescos e profundamente dominadores. Aquilo que parecia ser a opção 
mais livre, mais autêntica, na realidade é justamente o contrário, uma for-
ma de escravização. Nestas condições, é natural que se perca rapidamente 
a dimensão da imensa dignidade da pessoa humana e que só se consiga ver 
no outro, com a visão obnubilada, um mero objeto de prazer e de satisfação 
egoísta. Um exercício, que dá bons resultados quando faço com os adoles-
centes que dizem não haver problema em olhar para qualquer mulher de 
forma maliciosa, é propor-lhes que imaginem sua mãe ou irmã, no mural 
da escola ou faculdade, em imagens mais ou menos degradantes, sendo 
ridicularizadas por todos os seus colegas. Em geral, caem em si ao perceber 
que é isso o que fazem quando compram uma revista pornográfica.
Realização
 
A realização da pessoa humana está muito longe de ser uma mera realização 
sexual. Esta é apenas uma parte de um todo: quem se realiza, quem é feliz, 
é a pessoa em toda a sua integridade, composta de corpo e alma. Esta com-
posição não é, pois, dualista, não são duas coisas unidas artificialmente. O 
corpo está aí para a alma, e a alma para o corpo. Tudo o que o homem é e 
faz é imputável ao homem inteiro, corpo e alma numa unidade substancial. 
A alma não é uma realidade boa aprisionada no corpo, como num cárcere, 
como escreveu Platão. A alma é humana, porque está unida ao corpo e ela, 
assim como suas operações, é mais perfeita quando está unida ao corpo do 
que ao estar separada, como ocorrerá depois da morte. Portanto, não existe 
nada no homem que seja só anímico, assim como não existe nada que seja 
só do corpo, como o sexo. Este é do homem na sua totalidade, e, desta for-
ma, a sexualidade está a serviço do mais importante, que é o amor. Quando 
existe uma profunda visão da unidade do homem, compreende-se como a 
sensualidade — a prática simplesmente corporal do sexo — não é amor. E 
compreende-se também que, somente quando o sexo leva ao amor humano 
e, a partir daí, ao Amor dos amores,é possível dizer que o homem está no 
caminho da verdadeira realização matrimonial.
54
Curiosidade: porta de entrada
O mal nunca é imperceptível no início! A consciência do homem, 
pelo menos nos primeiros anos, é muito gritante, e todos nós lembramos 
que as primeiras aventuras eróticas que vivenciamos na infância, seja por 
mera curiosidade, seja pelo mau exemplo de um amigo, sempre foram fei-
tas no esconderijo e no anonimato.
Depois, como com qualquer vício, com a repetição desses atos ruins, a 
consciência vai se anestesiando e enfraquecendo um pouco suas repreensões. 
Mas a lei natural, que está escrita nos nossos corações, nunca se apaga.
Aristóteles diz que a nossa afetividade é movida tanto pelo apeti-
te irascível (busca de bens árduos, mas realizadores), quanto pelo apetite 
concupiscível (busca de bens imediatos). Ambos exigem a presença das 
virtudes da fortaleza e da temperança, respectivamente, para moderarem e 
direcionarem esses impulsos. Quando essas virtudes não são desenvolvidas 
pelos pais e professores, desde a infância, a criança se habituará a ceder 
a todos os impulsos que lhe tragam um prazer fácil e imediato, sem se 
importar com os malefícios que isso lhe trará, e a fugir dos que lhe exigi-
rão esforço e sacrifício. Naturalmente, a pornografia, que proporciona um 
forte prazer imediato, entrará inevitavelmente nesta dinâmica, e a busca 
por material pornográfico será sempre crescente e exponencial. É interes-
sante observar que o material que circula hoje em dia na internet, dentro do 
mundo empresarial, é a grande maioria material erótico e apenas uma parte 
bem menor material profissional. Se a grande maioria dessas pessoas já 
está longe dos anos da adolescência e já deveria estar satisfeita em todas as 
curiosidades sexuais, é evidente que este consumo tende a crescer ao longo 
da vida, principalmente naquelas pessoas que não foram bem educadas nas 
verdadeiras virtudes e, com certeza, estão infelizes na vida e necessitam de 
compensações afetivas para se enganarem um pouco.
Pornografia e vida sexual precoce
 
Além do que já apontamos acima, mencionando os científicos da Academia 
Americana de Pediatria, gostaria de trazer à tona uma pesquisa publicada 
em setembro passado — 05/09/2008 — pelo Jornal O Estado de S. Paulo, 
no qual se afirma que usar a pílula do dia seguinte ou ter relação sexual com 
diferentes parceiros ao longo da adolescência são atitudes que fazem parte 
do cotidiano do jovem brasileiro de classe média com idade entre 13 e 16 
anos. Essa pesquisa realizada com 6.308 alunos de escolas particulares de 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 55
todo o País revela que 22% deles já perderam a virgindade. Nesse universo, 
de 1.383 jovens, 22,1% disseram já ter tomado a pílula do dia seguinte para 
prevenir a gravidez. Além disso, 19% responderam que tiveram relações se-
xuais com pelo menos cinco parceiros (nesse item há uma diferença quando 
o dado é desmembrado entre meninos — 23,2% afirmaram que sim — e me-
ninas — 10,4%). E 14% já fizeram sexo com alguém que conheceram pela 
internet. No geral, 25% tiveram a primeira relação sexual aos 14 anos. A pes-
quisa foi realizada no primeiro semestre deste ano com alunos de 270 escolas 
particulares brasileiras que são conveniadas ao Portal Educacional, entidade 
responsável pela aplicação dos questionários. Maria Helena Vilela, diretora 
do Instituto Kaplan (entidade que desenvolve programas de educação sexual 
para escolas), explica que a pesquisa comprova o comportamento atual de 
que o jovem não pensa em ter uma pessoa para a vida toda, ao decidir-se por 
sua primeira relação sexual. “Eles transam pela primeira vez porque a pessoa 
é interessante naquele momento. Não é como antigamente, que a menina 
pensava em casar e ter alguém para a vida toda”.
Associando os resultados desta pesquisa do Jornal O Estado de São 
Paulo aos do Estudo de Collins (1994), que constatava que a exposição dos 
adolescentes ao sexo em programas de TV tem sido determinante na ini-
ciação sexual dos adolescentes e que comprovou também a relação direta 
entre a assistência de conteúdo sexual na TV e a imitação de tais conteúdos 
pelos jovens, é evidente que o consumo de pornografia na TV leva a uma 
vida sexual precoce.
Estímulo ao crime
Um estudo realizado com 2486 adultos por Aberson, nos Estados 
Unidos, nos anos 90, levantou os seguintes dados: 49% afirmam que a por-
nografia incita à violência, 43% dizem que faz perder o respeito à mulher e 
56%, que destrói as normas morais. Se a pornografia leva o homem normal 
a esses índices tão alarmantes, acredito que, para as pessoas que tenham 
predisposição para certas anomalias, essa pressão externa poderá disparar 
tais mecanismos psicopatológicos.
CAPÍTULO 12
A ÉTICA E A RELIgIãO NAS ESCOLAS13
Observo com satisfação que cada vez mais pais e educadores estão 
preocupados com a educação moral de seus filhos e alunos. Parece que 
já paira no ar certa intuição, própria de quem quer o melhor para os seus 
pupilos, que indica que bastantes problemas atuais têm sua raiz numa de-
ficiente ou insuficiente educação ética. Muitos, de forma exponencial nos 
últimos anos, me têm procurado e perguntado: como conseguir que meus 
filhos/alunos adquiram convicções morais, critérios de conduta, ideais 
de vida, valores profundos, pois eu mesmo não estou conseguindo e a 
sociedade não ajuda? 
Demonstrar esta preocupação já denota um grande avanço. Infeliz-
mente, esta inquietação ainda não atingiu profundamente alguns pais, que 
acreditam que educam muito bem os filhos ou que não veem nenhum pro-
blema no fato de seu filho ver o que quiser na internet, ficar com várias 
meninas(os) na festa, copiar o trabalho escolar num site desonesto ou ainda 
preferir passear com o cachorrinho a ter muitos amigos. Portanto, para os 
que estão seriamente preocupados com o bom comportamento dos seus 
filhos e alunos, seja a curto ou médio prazo, a primeira indicação é sempre 
melhorar o próprio exemplo. 
Sempre ouvi falar que o desprezo pela ética, desde os tempos mais 
antigos, nasce de duas tristes posturas. A primeira é a de quem pensa “se eu 
sei o que é certo ou é errado, minha consciência me acusará que estou er-
rado e terei que mudar minhas ideias”. Nela existe uma resistência teórica 
e pouca humildade. A segunda completa a primeira: “Se eu descubro que 
meu comportamento é pouco ético, terei que me esforçar por retificá-lo na 
prática e retificar também os meus filhos/alunos, o que exigirá luta, esfor-
ço, exigência, saber perder”. Nesta postura existe também uma resistência 
existencial e de honestidade. Portanto, podemos concluir que, apesar de 
não ser nada fácil educar com o exemplo, essa é condição sine qua non se 
queremos conquistar certa coerência de vida e uma autoridade moral. 
13 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=939605&tit=A-etica-e-a-religiao-
nas-escolas. Publicado em 31/10/2009.
58
Um segundo conselho prático para enraizar um caráter íntegro e se-
guro nos jovens é preocupar-se com a escolha de um bom colégio, que 
saiba conciliar uma comprovada qualidade no ensino com os valores éticos 
vividos na família. Encontrar escolas que proporcionem diretores, coorde-
nadores, professores e funcionários que lutem por viver os valores éticos/
morais é, sabidamente, coisa cada vez mais rara. Porque, como dizíamos 
acima, ensinar ética é algo existencial, profundo, constitutivo do próprio 
ser. Não se pode solucionar o ensinamento da ética colocando no projeto 
educativo apenas umas meras aulas teóricas sobre os filósofos gregos, a 
dinâmica das virtudes aristotélicas ou ainda concentrar-se no dia do meio 
ambiente e do efeito estufa ou nos direitos e deveres do cidadão. 
Ensinar ética exige uma profunda unidade de vida que se mani-
feste em tudo o que acontece na vida da escola: no olhar carinhoso por 
cada aluno, no sorriso diante das dificuldades de educar, na maneira de 
se vestir em sala deaula, na forma de falar com os pais dos alunos, na 
delicadeza no comer, no respeito pelas diferenças, pelo exercício da boa 
autoridade, pela pontualidade em sala de aula, pela competência em des-
lumbrar o conhecimento. Se tentarmos nos lembrar de todos os profes-
sores que passaram pelas nossas vidas, detectaremos que estes compor-
tamentos éticos eram sempre o que definiam aqueles que tinha vocação 
para docência ou não. 
Um terceiro e último conselho: para que os jovens conquistem uma 
maturidade ética é recomendável apontar para o valor do ensino da re-
ligião, em casa e nas escolas. Chama muito a atenção que muitos pais e 
professores, mesmo aqueles que se consideram religiosos, não contem o 
suficiente com a fé para educar eticamente. Uma mistura de ignorância 
em saber fazê-lo com um falso respeito humano de que não se pode impor 
uma religião geram este desajuste educacional. O problema deste posicio-
namento é que pode trazer graves consequências para a educação ética. 
Vejamos quais são. 
Quando se prescinde voluntariamente de Deus, é fácil que o homem 
se desvie até se converter na única instância que decide o que é bom ou 
mau, em função dos próprios interesses. Constata-se facilmente que sem 
religião, sempre fica muito difícil ajudar o mais necessitado, sem esperar 
um retorno imediato, perdoar um inimigo que nos maltratou, ser fiel a um 
compromisso mais sério no namoro, não aceitar uma pequena corrupção 
no emprego, dizer sempre a verdade, mesmo que tenha consequências ne-
gativas, entre outros. 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 59
Quando não se admite que existe um ser superior que julgará as nossas 
ações, o jovem quase sempre se encontra muito mais indefeso diante da ten-
tação de erigir-se como juiz e determinador supremo do bem e do mal. Isto, 
infelizmente, já se comprova claramente na maioria dos jovens de hoje. 
Concluo, portanto, que sem religião é mais fácil duvidar se vale a 
pena ser fiel à ética e mais difícil ver claramente o porquê de se sacrificar 
em determinadas situações. Há ocasiões em que os motivos de conveniên-
cia natural para agir bem são suficientes. Mas existem outras – e não são 
poucas – em que esses motivos humanos perdem peso em nossa mente, 
pela razão que seja, e é então que os motivos sobrenaturais assumem papel 
decisivo. Prescindir da educação religiosa, é, portanto, um grave erro dos 
educadores. Quando se dão conta, depois, quase sempre já é tarde.
CAPÍTULO 13
A VOCAçãO DE UM BOM PROFESSOR14
Durante o Congresso Nacional de Educação de 2005, no Rio de Ja-
neiro, ao ser interrogado sobre como se definiria um bom professor, Erik 
Hanushek, doutor em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology 
(MIT) e pesquisador da educação há mais de 40 anos, foi categórico: “Fiz 
uma ampla gama de estudos que indicam que as formas comuns de se medir 
a qualidade de um professor, tais como nível de graduação, experiência, trei-
namento profissional e até mesmo salário têm pouco a ver com aquilo que 
seus alunos aprendem. O que explica melhor o que faz alguém ser um bom 
professor é algo que ainda não investigamos suficientemente”. Concordo 
com o pesquisador quando afirma que é muito difícil definir com certo rigor 
o que faz alguém ser um bom professor. Mas é fato que alguns, na prática, 
conseguem melhores resultados de aprendizagem do que outros e que muitos 
conquistam a admiração e o agradecimento da maioria dos alunos.
Parece evidente que, apesar de não ser o único pré-requisito, é con-
dição obrigatória ser um profundo conhecedor do que se ensina. O prestí-
gio profissional na docência sempre esteve atrelado não só à seriedade na 
atualização da disciplina, mas também ao quanto, por meio de pesquisa, se 
contribui pessoalmente para novas formas de conhecimento, de didática e 
de avaliação, principalmente com as atuais inovações tecnológicas. Mas, 
como diz Hanushek, estas qualidades não determinam um bom professor. 
Efetivamente, quem já foi aluno algum dia se lembrará de professores que, 
apesar de apresentarem um currículo invejável e uma didática criativa im-
pressionante, provocavam certa indiferença em sala de aula. Qual seria a 
causa deste distanciamento?
Arriscaria afirmar que esses professores não eram verdadeiros pro-
fessores. É possível que a motivação intrínseca que os levava a aprender a 
ensinar, durante seu percurso acadêmico, não se traduzia prioritariamente 
em compartilhar esse conhecimento com futuros alunos, mas sim em ali-
mentar um certo orgulho mais ou menos inconsciente. Quantos professores 
14 http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=966642&tit=A-vocacao-do-bom-professor. 
Publicado em 24/01/2010.
 
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instrumentalizam um auditório para se remirarem como que num espelho, 
vangloriando-se na própria sabedoria e satisfazendo-se na própria vaida-
de. Quando estão dando aula, lecionam para si próprios e se regozijam 
interiormente. É aqui que o aluno detecta ou intui essa desordem e logo o 
rotula como mau professor.
Para fugir desta armadilha bastante comum na vida universitária, 
como também em todos os níveis de ensino, é preciso possuir outra moti-
vação educacional, chamada de transcendental. É uma força “centrífuga” 
que leva o professor para fora de si e o ajuda a alcançar o que, na minha 
opinião, determina um bom professor: a amizade com os alunos. Para for-
mar bem a juventude, aliado ao profundo conhecimento da disciplina, tem 
que existir uma autêntica e verdadeira amizade no relacionamento profes-
sor-aluno. A amizade abre todas as portas, consegue todos os objetivos e 
faz alcançar as metas difíceis com mais facilidade e rapidez. Com a ami-
zade, se conseguem verdadeiras maravilhas educacionais, principalmente 
com os mais excluídos, através de uma confiança irresistível.
Evidentemente, o conceito de amizade é, para a grande maioria hoje, 
mais um conceito esfumaçado e impreciso, consequência talvez de uma so-
ciedade hedonista. Muitos hoje falam em possuir vários amigos nas redes 
de relacionamento virtual ou nas festas de fim de semana, mas no fundo 
quase todos reconhecem que esses modos de estar juntos baseiam-se mais 
em razões de conveniência do que na verdadeira amizade, e muitas vezes 
se sentem sós.
O amor de amizade é querer o bem do outro pelo outro, dizia Aristóte-
les. É querer tornar feliz aquele a quem se olha, a quem se ensina, a quem se 
escuta e não, pelo contrário, buscar a felicidade própria através dos outros. 
Quando o aluno reconhece por trás das exigências escolares — lição de casa, 
prova, apresentação em sala de aula — formas verdadeiras pelas quais o pro-
fessor promove seu crescimento intelectual e volitivo e o vê sofrer quando 
não consegue passar seu conhecimento de forma harmônica, então ele aceita 
sua autoridade, porque percebe que o professor quer o seu bem.
Portanto, um verdadeiro professor é aquele que sabe querer realmente 
a todos os seus alunos. Que tem uma capacidade para conhecer muito bem 
a todos e consegue descobrir as suas melhores qualidades, sem dar tanta 
importância aos seus defeitos e limitações. Alguns argumentarão que este 
ideal parecerá utópico frente à necessidade econômica que impele muitos 
professores atualmente a dar aulas demais, perdendo assim as chances de 
se aproximar dos alunos. Por isso, um bom professor deve pensar sempre 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 63
com prudência se será capaz de querer a todos os alunos quando pensa em 
assumir uma nova sala de aula.
Definir um bom professor depende, portanto, da riqueza de sua inte-
rioridade. Ser um bom professor não é sinônimo de ter uma personalidade 
forte para persuadir e mover os alunos a estudar. O que realmente move é 
a interioridade de um coração limpo e ordenado e isto nem todos possuem 
ou conseguem manter. Qual será o segredo para consegui-lo? Vocação? 
Dom? Prefiro ficar com a postura de um educador experimentado: “é algo 
que ainda não investigamossuficientemente”.
CAPÍTULO 14
FÉRIAS: DIVERSãO COM CULTURA15
As férias escolares estão chegando e é comum que vários pais co-
mecem a ficar preocupados com o que fazer com seus filhos. Muitos se 
entusiasmam e sonham com este tempo intrinsecamente salutar e feliz, 
tornando-o um autêntico oásis familiar. Outros, porém, o vêem como um 
grande fardo, e se perguntam: e agora, como é que vou ocupar o tempo 
livre dos meus filhos?
A resposta a esta pergunta sempre dependerá da idade que os filhos 
tenham, pois a partir de certa idade, eles mesmos é que têm que ser incentiva-
dos a buscar o seu próprio espaço e a aprender a tirar o máximo rendimento 
desse período. Mas, independente da idade que tenham, acredito que a per-
gunta está feita de forma incorreta. O tempo de férias não deve ser apenas 
um período que fica entre os anos escolares, ocupado simplesmente para 
descansar de forma totalmente vegetativa, sem fazer nada, ou somente para 
se divertir ao máximo e de forma desregrada. Pelo contrário, deve ser sempre 
um período ansiado, com a expectativa de um bom artista para pintar um 
novo quadro e fazer uma obra prima. Portanto, um período para criar, evo-
luir, crescer e contemplar o que não dá tempo de contemplar ao longo do ano. 
Assim é que as férias ficarão sempre gostosas, prazerosas e inesquecíveis!
Um livro de pensamentos ensina que o verdadeiro descanso “não é 
não fazer nada; é distrair-se em atividades que exigem menos esforço”. 
Fica claro, portanto, que o tempo de férias deverá reunir dois ingredientes 
fundamentais: atividades concretas e certo esforço. Quem acredita que as 
férias devem ser um período sem horário, sem compromissos, sem nada 
planejado, ainda não descobriu a riqueza que está escondida neste período 
maravilhoso, com o qual todos sonhamos. 
Diversão vem de di-vertere, que significa voltar-se para fora, para 
aprender coisas novas. Ócio, em grego, se diz scholê, de onde deriva esco-
la. Portanto, tempo de férias não é não fazer nada, mas freqüentar outro tipo 
de escola que ensina a descansar tanto o corpo, quanto a alma, aprendendo 
15 http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=958068&tit=Ferias-diversao-com-cultura. 
Publicado em 26/12/2009.
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coisas diferentes que não são possíveis durante o ano letivo. Muitas vezes 
acreditamos que opções de lazer que não exijam pensar nada, compartilhar 
nada, descobrir nada sejam mais prazerosas, descansem mais, mas não é 
verdade. Quem passa as férias dormindo horas e horas ou fica grudado num 
computador, deixando seus projetos de férias numa gaveta, tem a experiên-
cia que no final das mesmas o que mais anseia é que voltem logo as aulas 
para sair desse estado de tédio e solidão. Essa experiência mostra que o ser 
humano foi feito para a contemplação e o amor...
O grande segredo de umas boas férias é quando se aprende a transfor-
mar a diversão também em cultura. A finalidade da boa cultura não é so-
mente o entretenimento, mas sim o cultivo da pessoa, aquilo que a faz me-
lhor como ser humano. Quando se busca nas férias somente passar o tempo 
ou o fruir do prazer mais epidérmico – que também deve ser procurado na 
sua medida, como uma boa praia, um esporte mais distendido ou um bom 
churrasco – facilmente se cai na frivolidade e na degradação. É preciso 
aprender desde cedo a elevar o nível das férias, semeando e adquirindo 
cultura também nos entretenimentos, o que exige, no início, certa dose de 
sacrifício. Todavia, acaba-se descobrindo os valores escondidos na leitura 
de um bom clássico, na visita a uma exposição artística acompanhada por 
um bom guia, num cine-debate de um filme com conteúdo, num passeio a 
uma cidade histórica, num concerto no Municipal...
Para que todo este panorama seja possível, é preciso planejar as férias. 
É muito aconselhável escrever em qualquer pedaço de papel um “roteiro”, 
como costuma fazer qualquer um que queira aproveitar viagens longas e 
cheias de lugares. Todas as férias, mesmo que não se possa sair da cidade 
(as viagens são sugeridas pelos psicólogos, ao menos por 20 dias, a fim de 
descansar o mundo psíquico) devem ser encaradas como uma nova via-
gem. Além do roteiro, fazer um horário, mesmo que mais flexível, é fun-
damental. Metas para realizar em determinados dias e desafios que exigirão 
vencer medos, preguiças e inseguranças também devem ser detalhados.
Um último aspecto que gostaria sobressair e acredito ser decisivo para 
aproveitar bem as férias é descobrir que a verdadeira diversão deve ser compar-
tilhada. Quem viaja sozinho, mesmo que aprenda muitas coisas novas, perde 
muito. A presença da família, dos amigos, dos colegas enriquece a diversão. A 
definição aristotélica de amizade tem como fundamento os bens compartilha-
dos. Por isso, é preciso planejar as férias para estar mais junto com os outros.
Entre estes outros, o tempo para buscar o Transcendente é importante. 
Ir ao encontro da natureza, das montanhas, do mar ou do verde ajuda muito 
a sensibilizar o olhar interior da alma para encontrar o Criador.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 67
Cultura é o reflexo dos valores de uma sociedade. Buscar a boa cul-
tura é buscar os verdadeiros valores do homem. Para isto, o papel dos pais 
e educadores para orientar o jovem nesses valores é decisivo. Segundo 
um filósofo contemporâneo, a motivação nasce no ser humano quando se 
descobre um valor que é possível alcançar. Depende de nós educadores, 
portanto, motivar os jovens a se divertirem de verdade nas férias.
CAPÍTULO 15
A ÉTICA DO RESPEITO NA ESCOLA
16
As férias escolares terminaram, as aulas recomeçam e o sadio desejo 
de aprender renasce em quase todo aluno. Para os professores mais jovens, 
é bem possível que o ideal de ensinar seja uma motivação que lhes leve a 
arregaçar as mangas e enfrentar os grandes desafios de educar. No caso dos 
mais vividos, é comum que os desgastes e experiências negativas do cami-
nho percorrido já não lhes permitam tantas ilusões como aos mais novos, e 
que o novo período letivo se transforme em mais um ano que os aproxima 
da sonhada aposentadoria.
Vários estudos educacionais têm mostrado que este anseio dos profes-
sores mais experientes surge cada vez mais cedo. Antigamente, o professor 
antigo era o tesouro da escola: reverenciado por todos os alunos quando pas-
sava pelos corredores, gozava de um merecido respeito e seu desligamento 
compulsório era comemorado com festa agridoce e sentimentos de gratidão. 
Hoje, esta veneração foi se perdendo, muitos terminam sua missão no esque-
cimento e, como dizia, torcendo para que o último dia chegue.
Tentando compreender este atual e triste fenômeno educacional, al-
gumas hipóteses costumam aparecer nos debates entre educadores: deso-
rientação social acerca do papel da escola, desprestígio da profissão do-
cente, desvalorização governamental da carreira com políticas públicas de 
intenções mais ideológicas do que educacionais, despreparo das famílias 
para educar e a conseqüente transferência dessa responsabilidade para a 
escola ou, o que é pior, para os meios de comunicação, que nem sempre são 
dignos desse serviço público.
Como também educador e pesquisador, gostaria ir mais longe nesse 
olhar investigativo e levantar outra hipótese: será que o professor atual-
mente é visto pelos alunos em sala de aula como era antigamente? Sou da 
opinião de que a falta de prestígio do professor não é somente econômico 
e social, mas também ético.
16 http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=971639&tit=A-etica-do-respeito-na-escola. 
Publicado em 08/02/2010.
70
Quando a escola era realmente uma escola, os pais matriculavam os 
filhos num centro educativo porque acreditavam que ele não só iria ensinar-
lhes a “matéria”, mas formá-los integralmente para a vida. Esperavam dos 
professores, além do conteúdo específico da disciplina, uma contribuição 
ética que reforçasse o que os próprios pais transmitiam no seio familiar. Osmestres eram modelos positivos de virtudes, de valores e, portanto, pontos 
de referência para as escolhas dos jovens. Hoje a criança é orientada a ir à 
escola não mais com essa intenção, mas, na melhor das hipóteses, para ad-
quirir apenas um conhecimento que lhe sirva para galgar melhores patama-
res acadêmicos e profissionais. Logo, o papel do professor se empobreceu 
significativamente. Ele acabou se tornando quase que uma “máquina” que 
deve ensinar uma série de conteúdos de forma lúdica, atraente e sem exigir 
esforço. Se sua aula não for tão animada quanto o computador das crianças, 
com o tempo o aluno ou o desprezará, ou o suportará como um “alguém”. 
Esta ignorância ou desprezo pela ética das virtudes e dos valores, que 
vem crescendo de geração em geração, como vemos, é uma raiz veneno-
síssima que está matando a educação, gerando o relativismo moral em que 
vivemos. Por sua vez, esta desordem filosófica, na qual não existe mais o 
certo e errado, é o que está produzindo o desrespeito dos jovens. Segundo 
Ricoeur, “o respeito à dignidade do outro só é possível a partir de um au-
torespeito. E este só existe em cada ser humano quando ele percebe que 
tem valor em si”. Efetivamente, quem convive habitualmente em qualquer 
ambiente escolar percebe a existência de um alarmante paralelismo entre 
este distanciamento da prática das virtudes e a violência escolar. À medida 
que os jovens valorizam cada vez menos as virtudes em si, demonstram 
mais desrespeito com os pais, professores, colegas... 
Parece ficar claro, portanto, que na verdade quem está semeando 
o desrespeito com os educadores são, em alguns casos, os próprios edu-
cadores, por não mostrarem aos seus pupilos a importância da formação 
integral e da aquisição das virtudes. Alguns com medo de exercer a boa 
autoridade e outros por um disfarçado egoísmo em não querer corrigir os 
filhos/alunos. Ambos, ao se omitirem na grave responsabilidade de ensinar 
o caminho do bem e da felicidade, não percebem que poderão estar criando 
futuros “exterminadores” de si mesmos. 
Toda a criança tem uma inclinação para fazer coisas erradas e ter ati-
tudes pouco éticas. Em parte, isto é o que todo educador deve esperar. Mas 
a criança deve encontrar alguém que sempre lhe diga, com força e decisão, 
que isso está mal – e que inclusive lhe imponha um castigo razoável, se 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 71
necessário, para que se corrija. O que parece inadmissível é que muitos 
pais e professores fiquem indiferentes diante dessas atitudes pouco éticas, 
pensando que são comportamentos normais, ou que permitir tais atitudes 
demonstraria que se é tolerante, moderno ou até amigo. Quando os pais va-
lorizam excessiva ou injustamente os filhos com prêmios ou elogios, estão 
mentindo para eles e tornando-os falsos. 
 Concluímos que os pais e as escolas têm que se preocupar mais 
com a verdadeira ética do respeito, que é ensinar a valorizar-se para valori-
zar os outros. Ensinar os jovens a se valorizarem mais com os bens internos 
(MacIntyre), que são as virtudes, do que com os externos. Só é possível 
valorizar-se quando se aprende a autoconhecer-se. Quando se reflete sobre 
as ações e se vê com objetividade a bondade e beleza que elas têm. Torce-
mos para que as escolas não só promovam esse trabalho entre os alunos, 
mas (re)descubram que é para isto que existem .
CAPÍTULO 16
O VERDADEIRO SUCESSO ESCOLAR17
É com razão que pesquisadores da educação se preocupem cada vez 
mais com os altos índices do fracasso escolar. Apesar dos esforços de mui-
tos responsáveis do ensino em encontrar caminhos que tornem efetiva a 
aprendizagem e dos altos investimentos governamentais neste setor, os re-
sultados que os alunos brasileiros têm obtido nos últimos anos nos testes 
nacionais e internacionais continuam muito a desejar.
Mas, perguntemo-nos: e como estão os que conseguiram sucesso es-
colar, isto é, aqueles que adquiriram o conhecimento suficiente para passar 
nos prestigiosos e difíceis vestibulares, cursar em seguida com brilhantis-
mo uma carreira universitária e no final conquistarem um espaço honrado 
no disputado mercado de trabalho? 
Em geral, se nos aventuramos a pesquisar os chamados yuppies, 
“workaholics”, jovens gigantes ou como quisermos chamar aqueles que atra-
vessam a chamada “turbodécada” — idade que vai dos 25 aos 35 anos e na 
qual se tomam as decisões mais importantes da vida —, descobriremos que 
a grande maioria está muito preocupada com o futuro, com a saúde, com a 
segurança física e econômica, com a visibilidade, com o status, com relacio-
namentos descomprometidos… portanto, apenas com a sua exterioridade.
A exterioridade é uma vida dominada pelos impulsos recebidos do 
mundo exterior: pelo que se vê, pelo que se sente e pelo que diz a opinião 
pública. Manifesta-se ainda pela fuga da interioridade e por tudo aquilo 
que lhe traga condições: a reflexão, o esforço interior, o silêncio, a boa 
solidão, a leitura substanciosa, a oração. Busca-se, pelo contrário, a todo 
o custo, o ruído, o agito do trabalho, da “balada”, da arquibancada, das 
viagens. Acompanha certa frenesi por novos contatos, pelo que é notícia 
e pela informação fácil. O parecer substitui ao ser. O atrativo da forma ao 
interesse pelo conteúdo.
 Outro reflexo desse vazio interior é a superficialidade que domina 
o relacionamento social em geral. Quando existe alguma comunicação, os 
17 http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=980251&tit=O-verdadeiro-sucesso-escolar. 
Publicado em 07/03/2010.
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temas nos almoços, happy-hours, festas noturnas, costumam ser epidér-
micos (futebol, diversão, viagens, comida, entre outros). A trivialidade e a 
mediocridade também estão presentes no comportamento e denotam o pen-
samento débil ou o impulso para alguma originalidade pobre ou politica-
mente correta. Outra marca registrada desta nova geração “bem sucedida” 
é a dispersão. É uma autêntica doença provocada pela mistura de enxurra-
da de informações que chegam diariamente pelos mais diversos veículos 
de comunicação e que geram impressões, sensações, reações que não estão 
associadas a nenhuma reflexão e não geram nenhuma ação concreta. É uma 
vida abandonada ao burburinho das circunstâncias, dos caprichos e do que 
estão falando.
 Como podemos perceber, evidencia-se nos atuais jovens bem su-
cedidos academicamente outro tipo, talvez mais profundo, de fracasso es-
colar: uma pobre interioridade. Mas afinal, o que é a interioridade? Como 
ela nasce e se desenvolve? Como se enriquece?
 Existem vários níveis de interioridade no homem: a física, a bio-
lógica, a sensitiva, a psicológica, a intelectual e a moral. Parece-nos que 
estas duas últimas são mais suscetíveis de intervenção humana. De fato, 
pode-se observar com frequência que as grandes obras da humanidade no 
plano cultural, artístico ou científico foram fruto de uma longa gestação e 
enriquecimento intelectual, gerados por extensa leitura, pesquisas perseve-
rantes, levada a cabo na solidão e muitas vezes no sofrimento. Com rela-
ção à interioridade moral, pode-se comprovar que é ainda mais profunda. 
Consiste na capacidade radical de acolher em si e experimentar vitalmente 
a Verdade e o Bem, como fruto de escolhas acertadas, consolidando as vir-
tudes morais. Quando esta interioridade consegue transcender deste mundo 
material e alcançar o mundo religioso é possível que o crente entre em 
comunicação com a interioridade divina e adquira uma nova profundidade, 
porque mergulha numa infinitude insondável.
 Mas por que ocorreu este empobrecimento da interioridade? Tal-
vez várias correntes filosóficas dos últimos séculos tenham gerado uma 
visão de mundo unidimensional, na qual só se valoriza o que apareça aos 
sentidos ou apenas o que possa ser medível, por meio dos instrumentos da 
ciência. E assim afastaram como incognoscível, imaginário ou irreal tudo 
aquilo que transcenda o mundo material. Pode-se vislumbrar as perigosasconsequências desta miopia: uma representação do mundo totalmente su-
perficial, privada de espessura, de profundidade e, portanto, de interiorida-
de. A dignidade da pessoa humana fica desvalorizada porque a liberdade, 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 75
o amor, a religiosidade, os direitos da família, os valores éticos universais 
que a caracterizam são vistos como aspectos secundários porquanto não 
sejam realidades quantificáveis pelas ciências. Parece que esta visão de 
mundo é bastante empobrecedora para o homem e de alguma maneira ame-
açadora, pois para quê o prazer material que a conquista da ciência traz 
consigo sem o prazer muito maior da satisfação interior que brota da posse 
do sentido da vida?
 Concluímos, portanto, que, se queremos que a educação atinja o 
seu fim primordial que é a perfeita realização do ser humano, em todas as 
suas dimensões, e não apenas no sucesso econômico, é preciso resgatar na 
escola desde a mais tenra idade aquelas atividades educativas que enrique-
cem a interioridade dos alunos: a aprendizagem das virtudes éticas e da 
sua prática, a valorização dos valores religiosos, práticas de solidariedades 
dentro e fora da escola, a valorização de livros e filmes clássicos (são clás-
sicos porque nos ensinam o que é eterno para a interioridade do homem), 
a defesa da disciplina e do respeito, a fundamentação da sexualidade no 
amor e, obviamente, uma aprendizagem séria voltada para o serviço ao 
próximo. Se os educadores plantarem estas sementes no interior de cada 
aluno, no futuro, eles mesmos perceberão que o verdadeiro sucesso escolar 
não está numa vida cômoda e cheia de confortos, mas num coração com 
capacidade para amar e dar-se aos demais.
CAPÍTULO 17
A IMPORTâNCIA DO PRECEPTOR 
NO ENSINO MÉDIO18
Nos últimos anos, tem-se notado um crescimento assustador da in-
decisão ou das dúvidas na escolha de um curso de nível superior por parte 
dos alunos do Ensino Médio. É possível afirmar que a grande maioria dos 
alunos, principalmente no início do terceiro ano, sofre com essa situação.
Analisando o comportamento dos adolescentes do Rio de Janeiro e 
São Paulo com quem tive oportunidade de conversar em recente pesquisa 
de campo e que enfrentam essa dificuldade pude comprovar que algumas 
das principais causas dessa incapacidade de decidir são: 
Um adormecimento da liberdade dos alunos. A educação de hoje faz 
com que os pais ou responsáveis assumam em grau excessivo as decisões dos 
filhos, impedindo-os de amadurecer. Essa atitude deixa adormecida a liberdade 
dos alunos (“que carreira seguirei?”), dificulta-lhes a descoberta do ideal pro-
fissional e provoca neles uma falta de compromisso para com o estudo;
 A falta de esforço. O jovem de hoje não é educado desde cedo para 
esforçar-se; pelo contrário, é educado para fugir das exigências e responsa-
bilidades, associando a felicidade ao prazer imediato e à vida fácil. Muitos 
ideais só brilham no horizonte do estudante quando há uma base de ma-
turidade humana, e essa base só se consegue com o hábito constante da 
reflexão, associado a uma vida dinâmica e exigente;
 A ausência de modelos positivos. É comum que, na sua família e 
nos grupo de amigos, faltem modelos positivos que estimulem o desejo do 
jovem de imitá-los. Quando há essa ausência de valores humanos encarna-
dos em modelos na educação, a probabilidade de que o educando venha a 
tornar-se um homem e um profissional de peso reduz-se drasticamente;
Desconhecimento prático das diversas possibilidades universitá-
rias. Há casos em que os pais não têm tempo ou preparo para dialogar 
com os filhos a respeito deste tema, e acabam por delegar inteiramente 
esta função à escola. Esta, atarefada com as inúmeras preocupações pró-
18 Publicado em Interprensa, cf. http://www.quadrante.com.br (ver em Artigos). Publicado em 01/03/2001.
78
prias do ensino e do controle administrativo, não consegue atender satis-
fatoriamente os alunos neste campo;
Pouco conhecimento próprio. Os alunos desconhecem as caracterís-
ticas do próprio temperamento, os vícios de caráter que têm e as qualidades 
humanas que poderiam adquirir. Quando nos ajudam a nos conhecermos 
– quais os meus pontos positivos (virtudes), quais os meus pontos fracos 
(defeitos), por que tenho tais atitudes e reações –, e depois nos estimulam a 
lutar por melhorar, muitos dos obstáculos no estudo desaparecem;
Visão voltada para o mercado de trabalho. Mais do que uma escolha 
baseada nos talentos e aptidões, o que define muitas vezes a decisão do 
aluno é aquilo que os pais ou amigos valorizam ou a atividade que no mo-
mento oferece mais oportunidades de emprego.
Uma solução inovadora e prática para uma escola que queira desta-
car-se em relação às outras seria a criação de uma figura nova (“nova” no 
sentido de que não existe muito no Brasil, mas que vem sendo empregada 
com muito sucesso nos Estados Unidos e na Europa): o preceptor. A sua 
atuação no colégio seria, paralela e conjuntamente com os orientadores 
educacionais, a de um autêntico “técnico” do estudo dos alunos. 
Teria cinco funções principais:
Conversas individuais » com os alunos, para estimular e acom-
panhar regularmente os seguintes itens: a) ideal universitário: 
grau de motivação e de conhecimento da carreira que o aluno 
tem em vista; b) horário de estudo: quantidade de horas que 
estuda por semana e como se organiza para conciliá-las com 
outras atividades extracurriculares; c) deficiências no estudo: 
a falta de motivação no estudo nasce quando não se aprendem 
formas inteligentes de estudar, de assimilar o aprendizado e 
de realizar uma boa pesquisa; d) otimização das característi-
cas temperamentais: como o aluno pode desenvolver e me-
lhorar o seu temperamento; e) notas escolares: soluções para 
melhorá-las; f) nível de cultura geral;
Uma aula semanal » sobre temas próprios da tutoria;
Organização de visitas e palestras » com profissionais: vi-
sitas a faculdades, empresas, escritórios e personalidades 
da futura área profissional;
Troca de informações » com orientadores e professores;
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 79
Incentivo à cultura » : acompanhamento de livros de litera-
tura que o aluno leu e sugestões; visitas a museus, concur-
sos de artes e demais atividades.
Uma observação, porém importante: a personalidade e o caráter do 
preceptor é a chave do seu sucesso. Evidentemente, uma pessoa amarga e 
cética só transmitirá o seu pessimismo e a sua frustração. O preceptor deve 
gostar do que faz, para entusiasmar os jovens que lhe foram confiados e 
motivá-los no estudo; estar dotado de uma personalidade positiva, serena, 
bem-humorada e firme; ter uma vida moral exemplar, pois caso contrário 
contagiará os alunos com os seus defeitos de caráter, de uma maneira muito 
mais intensa ainda do que ocorre em sala de aula; saber conjugar a com-
preensão com a exigência; e, por fim, ser um autêntico amigo para os seus 
orientandos, pois é normal que estes venham procurá-lo para confiar-lhe os 
seus problemas pessoais. Muitas vezes, diante da carência de modelos que 
já tivemos ocasião de apontar, é possível que o preceptor seja o único amigo 
em quem o jovem confia, como é comum no caso de técnicos esportivos e 
professores em geral. Além disso, por essa mesma razão é mais natural que 
as moças façam preceptoria com professoras e os rapazes, com professores.
Ao conversar com diretores de escola e professores universitários so-
bre esta proposta, todos se mostraram interessados em implementá-la nas 
suas escolas. É um caminho a ser aberto e estudado no Brasil.
CAPÍTULO 18
A DIVERSãO E A “NIgHT”19
 
 
 A night — como é vulgarmente chamada — traz aos adolecentes (e aos 
adolescentes tardios….) todo o encanto de experimentar pela primeira vez 
uma sensação de liberdade, de independência, de prazer que, naturalmente, 
é essencial em todo o processo dinâmico da passagem da fase denominada 
adolescência paraa adulta. A noite, sem tempo nem espaço, onde “todos 
os gatos são pardos”, tem um poder sedutor imenso para todo o jovem que 
anda em busca da sua identidade, do seu primeiro romance e das primeiras 
amizades mais profundas e duradouras. 
Por outro lado, os pais e educadores não podem ser ingênuos e pensar 
que não devem interferir nessa fase da vida de seus filhos. Argumentos 
como “o importante é deixá-los experimentar, para poderem gozar um pou-
co a vida a que têm direito” são falaciosos. Quantos pais hoje se arrepen-
dem de não ter sido mais firmes no momento de “negociar” as saídas! 
É preciso ter consciência de que o jovem, nessa idade, sente-se cada vez 
mais inseguro e indefeso para filtrar as mensagens que recebe todos os dias 
pelos veículos de comunicação e pelos amigos. Essas dissonâncias afetivas, 
que todos os corações jovens experimentam e sofrem, levam-nos a buscar 
alguma forma de compensação. O “deixar-se levar” pelo que a maioria faz 
para se sentir aceito, estimado e amado é normalmente a solução da maioria. 
O grande “protagonista” no processo decisório não é a própria cabeça do 
adolescente, aquilo que os seus valores — até então inquestionáveis — exi-
gem dele, mas um sentimento cego e muitas vezes terrorista.
É nessa hora que a presença “virtual” do conselho amigo dos pais é 
decisivo. Quando a comunicação entre pais e filhos é uma realidade quoti-
diana, em que existe tempo para se dedicarem afetuosamente uns aos outros, 
os riscos são sensivelmente diminuídos. Entretanto, quando o descontrole 
e a passividade reinam na vida familiar, os desgostos futuros serão uma 
decorrência inevitável. É fundamental “negociar” as saídas com os filhos. 
Aonde vão, a que hora chegarão, com quem vão, como vão — mesmo que 
isso possa parecer “careta” e “antipopular”. Uma indicação precisa, uma 
19 Publicado em Interprensa em 1/11/2001, em A31/01. Cf. www.quadrante.com.br (ver em Artigos).
82
dica de prudência, um conselho soprado ao ouvido, dados com carinho e 
confiança, têm uma força enorme. 
Muitos pais dizem que se sentem distantes dos filhos e privados de 
autoridade. É natural que a confiança e o respeito pela autoridade — dois 
pré-requisitos essenciais de toda a educação — não sejam características 
inatas e nem próprias da adolescência. Por isso mesmo é mais necessário 
conquistá-las com o exemplo e o diálogo.
 Quantas vezes a indiscutida autoridade paterna — onipresente e per-
feita — é esfumaçada quando os pais também chegam da night a altas 
horas e cheirando a bebida. Ou ainda, quando o que dizem ou mandam não 
é coerente com o que vivem. 
Outras vezes, a dificuldade em ganhar a confiança dos filhos é uma 
decorrência de atitudes despóticas e inflexíveis, como se os jovens fossem 
“bibelôs” que se deixam dispor passivamente… É muitíssimo eficaz deixá-
los opinar quando nos consultam sobre os seus projetos, mesmo que nós os 
consideremos imprudentes, e até quando realmente o são… E também é al-
tamente produtivo pedir-lhes conselho em decisões pessoais e familiares… 
E pode ser decisiva ainda, inúmeras vezes, um bom passeio no domingo à 
tarde ou a ida estafante ao estádio de futebol… 
Saibamos defender os nossos filhos, pois são o nosso grande tesouro! 
Percamos o medo de aconselhá-los, de negociar e às vezes de exigir. E 
não deixemos também de mostrar-lhes que a night não é o único modo de 
divertir-se e tornar-se independente. Há muitas outras formas interessantes 
de diversão que eles poderiam e deveriam conhecer.
CAPÍTULO 19
O NOVO PAPEL DA ESCOLA PARA 
UMA EDUCAçãO “gLOBAL”20
A escola como instituição deverá estar cada vez mais interligada com 
a família e a sociedade no processo ensino-aprendizagem. No mundo atual, 
é fundamental incutir nos alunos uma prática educacional que objetive não 
só o desenvolvimento humano — objetivo primordial de toda a educação e 
mola propulsora da liberdade humana — mas também uma conscientização 
global, seja a nível micro-mundo — capacidade de olhar a realidade que o 
cerca — seja a nível macro — capacidade de entender o mundo que vive e 
viverá —. Deve apostar-se numa mudança de atitudes e de comportamen-
tos cívicos para a integração social e profissional face à competitividade 
que o mundo laboral oferece. Porém, uma formação para a complexidade 
do sistema do mundo atual — decorrentes da globalização econômica e 
cultural ou do nascimento de novas identidades mundiais — implica mu-
dança de atitudes no sentido de maior abertura de horizontes, de tolerância, 
de solidariedade, de cooperação, de valorização da dignidade humana, ati-
tudes que a escola deve ser a grande guardiã e mãe ensinadora.
Luisa Cortesão — pesquisadora educacional portuguesa — afirma 
que “a escola não deve ser apenas um espaço de adquirir conhecimen-
to, mas também um lugar onde se aprendem coisas úteis, por exemplo, 
o gosto pela leitura, escrita, poesia, técnicas de estudo e pesquisa, isto é, 
do empenho da criatividade, do saber aprender, aprender, aprender… É 
preciso saber questionar, investigar, solucionar, reaprender de uma forma 
progressiva, adaptando-se à realidade dos fatores econômicos, políticos e 
sócio-culturais que nos rodeiam no mundo da globalização”.
Vislumbrando estes horizontes educacionais ainda um pouco distan-
tes, sempre nos deparamos com a seguinte questão: quem fará isso? Será 
que o corpo docente, do mundo de hoje, está conseguindo adaptar-se a es-
tas novas exigências educacionais? Será que está conseguindo compaginar 
a teoria e a prática? Será que está sendo preparado para isso?
20 Publicado no Boletim ANPAE (Associação Nacional dos Pesquisadores da Administração Educacio-
nal), em 01/08/2004
84
As autoras do recente livro “O Desafio da Cidadania na Escola”, as 
professoras Helena Nascimento e Luísa Beltrão, sugerem pistas entre o que 
se pode fazer na escola para formar cidadãos, a partir de todas as teorias 
que os professores aprendem, e as dificuldades com que eles depois se 
deparam, na prática. É o divórcio entre a teoria e a prática que as auto-
ras consideram que tem que acabar. “Educar para a cidadania é fazer uma 
educação global. Quando estou a ensinar os meus alunos, estou também 
ensiná-los a serem pessoas, a viverem uns com os outros, e estou a apren-
der com eles”, justifica a professora Luísa Beltrão. Um exemplo típico dis-
to é um professor de história se limitar a ensinar a matéria como verdade 
absoluta, dirigida à memorização, e não incentivar o olhar crítico, o debate. 
É importante que o professor saiba exigir o aprendizado do conteúdo, pois 
se o aluno não aprender a matéria, não possuir a informação, não terá es-
pírito crítico. Mas depois é importante que saiba promover o debate dessa 
matéria com o mundo que o cerca e daí tirar lições, experiências, luzes para 
a sua vida de cidadão.
Sônia Kramer tem apontado algumas pistas para que a escola deste 
novo século possa criar condições para esta educação global. Em primei-
ro lugar, sugere que “a escola garanta condições de estudo e reflexão em 
grupo, com espaços para as experiências diferenciadas de cultura (dentro e 
fora da escola), salas de leitura, oficinas, grupos de estudo”. Sem dúvida, 
buscar cada vez mais caminhos de individualização entre o alunado, tanto 
em nível de conteúdo e metodologia quanto em nível de avaliação, tornará 
mais lúdico e justo o sistema educativo, pois, parafraseando Perrenound, 
“as pedagogias que tratam iguais os desiguais, sempre produzem desigual-
dades e evasão escolar”. Sônia Kramer aponta também “que cada escola 
faça seu projeto, não porque é lei, mas porque projeto é ação coletiva em 
direção a um lugar decidido por todos, é ação de projetar, de prever, de que-
rer mudar o estado das coisas e as condições de fazê-las”. Com certeza, um 
bom projeto político pedagógico é essencial para que a escola não tenha so-
mente corpo mas também alma. Porém, nem sempre é fácil conseguir criar 
uma cultura organizacional mínima necessária para construir esse Projeto. 
Muitas vezes, é a própria legislaçãoque cria facilidades exageradas para 
que os alunos provoquem um ambiente negativo — violência física, sim-
bólica ou ética — desmotivando os professores. Outras vezes, são questões 
e interesses políticos que interferem na união do corpo docente para se 
juntarem e buscarem objetivos e metas comuns. Desta forma, é necessário 
que a direção da escola saiba realizar todo um trabalho de liderança e de 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 85
motivação para que os professores saibam passar por cima de questões pes-
soais, sacrificando-se por um ideal educacional em prole de seus alunos. 
Por fim, a autora conclui que é necessário que “a escola abra espaço para a 
formação e em especial para o conhecimento da história mais ampla e para 
o resgate das pequenas histórias, vividas por aqueles que fazem a escola. 
Linguagem, narrativa, leitura e escrita têm se mostrado como importantes 
instâncias da vida escolar, além de relevantes e instigantes estratégias para 
a própria formação. Reinventar a escola exige, assim, a meu ver, reafirmar 
seus valores, objetivos e compromissos primeiros, fornecendo as condi-
ções concretas para serem exercidos, alcançados e cumpridos”.
Como aponta muito bem a Dra. Kramer, é necessário reafirmar os 
valores da escola, que são, necessariamente e principalmente, valores hu-
manos. Infelizmente, nos últimos anos, muitas pedagogias têm incentivado 
que os alunos, de forma totalmente desvinculado de experiências seculares 
e dos conhecimentos dos que vieram antes, procurem descobrir por si só 
quais aqueles valores e conhecimentos que os realizarão. Os resultados 
desta falsa-pedagogia só poderia desembocar nos desvalores ou nos anti-
valores, muito presentes na nossa sociedade e em todas as classes sociais. A 
pedagogia, em sentido estrito, está ligada às suas origens na grécia antiga. 
Aqueles que os gregos antigos chamavam de “pedagogo” era o escravo 
que levava a criança para o local da relação ensino-aprendizagem; não era 
exclusivamente um instrutor (quem lembra do seu instrutor de carteira de 
motorista?), ao contrário, era um condutor-educador, alguém responsável 
pela melhoria da conduta geral do estudante, moral e intelectual. Ou seja, 
o escravo pedagogo tinha a norma para a boa educação; se, por acaso, 
precisasse de especialistas para a instrução — e é certo que precisava —, 
conduzia a criança até lugares específicos, os lugares próprios para o ensi-
no de idiomas, de gramática e cálculo. Sempre se precisou de condutores, 
orientadores e bons formadores. Hoje em dia, com a desestruturação e in-
capacitação da família para passar valores e com uma sociedade totalmen-
te manipulada pelos meios de comunicação, que produz anti-valores ou 
desvalores — comprovados socialmente nos últimos anos —, a escola tem 
um papel fundamental para resgatar esses valores. Enquanto a educação 
tiver como finalidade apenas o ter — ter educação para conseguir melhores 
qualificações e empregos futuros, ter cultura para subir na vida, ter prazer 
a qualquer custo, etc. — em detrimento do ser — ser homem, ser pessoa 
humana, ser cidadão — jamais o nosso alunado estará preparado para en-
frentar os novos desafios que se avizinham neste início de século XXI. O 
86
individualismo e o materialismo sempre remarão em sentido contrário da 
dignidade humana e da preocupação real e sincera pela comunidade global. 
Por isso, podemos afirmar que quem não tiver sendo preparado, através de 
uma educação global e de valores humanos, para os princípios que fortale-
çam a solidariedade humana, não estará sendo preparado para sobreviver 
num mundo que cada vez mais estaremos precisando dos outros.
Ninguém dá o que não tem. Professores desmotivados, despreparados 
e frustrados com o seu ideal educacional jamais conseguirão ter fôlego para 
a difícil tarefa de ajudar a construir não só um ambiente escolar positivo, 
mas também cada aluno. Para mudar esse triste quadro que contemplamos 
hoje no nosso corpo docente, é preciso, em primeiro lugar, que os nossos 
governantes saibam valorizar, mais e melhor, a exigente missão de edu-
car. Um corpo docente bem remunerado resgatará rapidamente o correlato 
prestígio social profissional, que inexiste hoje em nossa sociedade, atrain-
do e retendo na escola aqueles professores mais bem preparados e que 
serão os verdadeiros agentes de transformação.
Em seguida, é preciso resgatar também em nossa sociedade o papel 
primordial da família como célula-mãe de todo o tecido social. Enquanto 
a responsabilidade de educar não retornar aos seus principais protagonis-
tas, a escola não só ficará à deriva — pois não haverá pressão social por 
melhorias na qualidade do ensino e vigilância nos valores transmitidos — 
mas também sucumbirá com o peso que cada vez mais lhe é imposto pelas 
próprias famílias, sociedade e governo.
CAPÍTULO 20
PERIgOS DOS EXCESSOS NAS 
NOVAS TECNOLOgIAS21
1. Que tipo de problemas de convivência 
terá um adolescente que foi uma 
criança viciada em computador?
Os pais hoje, preocupados com a insegurança na cidade e muitas ve-
zes por comodismo – para não terem que dar a atenção devida – preferem 
ir equipando os quartos dos filhos com video-games, internet, computador, 
DVD, ar-condicionado, frigo-bar... criando-os em autênticas “bolhas” 
tecnológicas. Estas “bolhas” depois se tornam psicológicas e os jovens 
saem para as escolas, para os cursos de inglês, para os diversos esportes, 
etc, dentro dessas bolhas, dificultando enormemente a capacidade de olhar 
para as pessoas, para se relacionar com elas, tornando-as tímidas, egoís-
tas e desinteressadas pelas necessidades dos outros. Uma pessoa educada 
assim, desde cedo, terá resistências para sair de si e fazer amigos: esta é 
a causa principal porque os jovens hoje têm 2, 3 amigos de verdade no 
máximo e um monte de amigos virtuais ou cachorros, gatos, etc: esses não 
exigem esforço de sair da bolha.
2. Que tipo de problemas de aprendizado 
o adolescente terá?
O excesso de imagem que nos traz hoje a “cultura da imagem” vem 
trazendo sérios problemas de aprendizagem que já se está tornando uma 
autêntica “chaga” educacional, atingindo várias camadas sociais e não 
somente as classes mais abastadas.
21 Publicado no Blog Negócios de Família no dia 26-XII-09. Cf. http://www.negociosdefamilia.com.br/2009/12/
perigos-dos-excessos-nas-novas.html
88
Costumo destacar três graves deficiências educacionais:
1º) déficit de atenção: um adolescente que seja educado a receber 
muitas informações desde cedo, através de imagens, acabará 
por se viciar a ficar atenta somente naquilo que lhe é agradá-
vel como é a imagem . É o que se chama: atenção expontânea. 
É preciso educar também na atenção voluntária: aquela con-
seguida através do esforço que nasce do estudo, de leituras, 
de documentários com perguntas, de questões na sala de aula 
(questões desafio), etc. Um dos maiores problemas hoje que os 
professores têm que enfrentar é a indiferença no aprendizado. 
Têm que se desdobrar para conseguir mantê-los atentos por ape-
nas alguns minutos. Tudo isto muitas vezes tem relação com 
currículos ultrapassados e metodologias antiquadas, por isso é 
preciso descobrir quais são as verdadeiras causas da pouca mo-
tivação do aluno aprender e do professor ensinar.
2º) desmotivação, falta de iniciativas e de criatividade: o exces-
so de imagem afeta e enfraquece demais a imaginação, porque 
quando a imagem já vem pronta a pessoa não precisa fazer es-
forço e se acostuma com isso.
 exemplo 1: como faltam atualmente idéias na crian-
çada na hora de brincar. Antigamente, com uma meia, 
com um cabo de madeira, com uma boneca existiam 
mundos e mundos...
 exemplo 2: antigamente, como só havia rádio, as 
pessoas tinham que imaginar tudo, ouvindo um jogo 
de futebol. Porque não havia TV, as tertúlias familia-
res, nas quais o avô contava estórias, eram atraentes 
e se passava muito bem em família.
 Hoje, o videogame, internet, LANHOUSE, etc. “sugam” 
a criatividadedas crianças, atrofiando sua imaginação..
3º) afeta também a memória:
 Quantas mães reclamam hoje que seus filhos têm problemas 
para assimilar a matéria, dá branco na prova a toda a hora, ou, o 
que é pior, esquecem os deveres e obrigações escolares.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 89
» as pessoas hoje pensam que ter informação é ter conheci-
mento: existe uma diferença imensa nesses dois conceitos: 
informação são dados, fatos, impressões imediatas, etc. 
Conhecimento exige assimilação, relacionar fatos, memo-
rização ordenada.
» criam a falsa idéia de que já sabe a coisa porque viu na 
telinha, quando na verdade o assunto fica só na periferia 
do ver, sem chegar à inteligência: 
• isto vicia a pessoa com a memória fraca
• ficam superficiais nas idéias: não sabem se comuni-
car (falar e escrever) 
• tornam-se “animalizados” na linguagem, na cultura, 
na diversão...
3. Como essa mania afeta o relacionamento em casa?
Na medida que os pais fomentam “bolhas” dentro de casa, colocando 
computadores, videogames, etc. nos diversos quartos dos filhos, cozinhas, 
banheiros (já existe!), as pessoas vão deixando de conversar, de dialogar, 
de ser família.
Nos Estados Unidos, sabe-se que uma criança assiste em media, a 
1680 minutos de TV por semana (4 horas/dia), enquanto os pais gastam 
38,5 minutos dialogando com os filhos. A informação é do psiquiatra in-
fantil Paramjit Joshi, do Centro de Crianças John Hopkins de Baltimore e 
foi divulgada em matéria de O Estado de S. Paulo, no dia 8 de julho. Fonte: 
Tendência & Cultura - SBP.Notícias no.4, ano I - fev/março 99
4. Quando o computador se torna um 
aliado e quando se torna um vilão?
Para entrar de cheio na questão, gostaria de recordar quais são os mo-
tivos que levam a criança e o adolescente a ficar no vídeo, na tv, na internet. 
Existem 3 blocos de motivos principais:
1º) acalmar os nervos ou combater o desânimo (curto prazo (CHA-
TEADO) ou da vida);
90
2º) preencher o tempo ou simplesmente descansar
3º) entreter-se de forma seletiva ou como fonte de estudo, pesquisa 
e informação
Os dois primeiros, quando vão excedendo 2, 3 horas /dia - segundo 
alguns médicos – se tornam vilões porque a criança vai ficando cedada e 
perdendo o senso crítico que filtra o que é conveniente do que não é: deixa-
se dominar por eles, podendo a partir daí acontecer de tudo.
É importante que os pais percebam a incoerência que existe em se sa-
crificarem para ir buscar suas filhas numa festa no Recreio dos Bandeirantes 
(RJ), no sábado à noite às 5 h da manhã, ou ainda, coloquem vários sistemas 
de segurança na suas casas: alarmes, vigias, etc., e não vigiem quem está 
entrando dentro de suas casas pela TV ou pela INTERNET. Hoje em dia com 
as WEBCAM, é possível que os adolescentes se filmem mutuamente pelados 
no quarto, por exemplo, e enviem essas imagens por e-mail a quem quise-
rem. Isto já está virando moda: logo vai se chamar de prostituição digital. Os 
pais não podem ser mais ingênuos, achando que seus filhos são uns santinhos 
e que só ficam “baixando”músicas durante a tarde.
Em todas as palestras que dou em colégios aconselho que os pais 
coloquem filtros de pornografia que é a forma mais eficiente para comba-
ter esses intrusos da família. Muitas escolas, empresas, servidores já estão 
aplicando esta medida curativa. Não deixaria ter também WEBCAM dis-
poníveis nos quartos dos filhos.
Com relação ao terceiro bloco de motivos, sem dúvida, quando esses 
meios de comunicação são usados para enriquecimento pessoal, de forma 
seletiva e inteligente, só podem ser aliados do bom viver.
É muito importante, portanto, que os pais se questionem todos os dias 
quais são os reais motivos que estão levando os seus filhos a ficarem horas 
e horas na TV, internet, computador, etc. Nem sempre são os mesmos...
5. Como os pais podem identificar o 
problema do vício pelo computador?
Quando além de passarem várias horas por dia em frente a esses apa-
relhos, perdem a capacidade de aprendizado descritos acima e de relacio-
namento. Vão perdendo também a sensibilidade para a família, os amigos, 
outros em geral... 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 91
6. Identificado o problema, como devem agir?
Devem ter a fortaleza de colocar limites de uso de horas, de programas 
e de tirá-los dos próprios quartos colocando-os todos na sala de estar, para 
que haja vida em família. Devem depois incentivá-los a usarem esses meios 
para construírem projetos úteis para a família, escola, sociedade: escrever 
livros, escrever cartas, organizar aniversários da família, cardápios para a 
mamãe, músicas para escutar de noite, pesquisas sobre futuras viagens, etc.
7. Planilha com atividades alternativas
ALTERNATIVAS EM CASA ALTERNATIVAS NA RUA FIM DE SEMANA
1. fazer a experiência de 
passar uma semana sem TV: 
ver o que acontece
1. Ir mais vezes
passear na Lagoa, 
praia, shopping
1. excursões a montanha:
Pedra Bonita. Morro Cara
de cão (URCA), Paineras, etc
2. lerem juntos Harry Potter 
ou outro livros interessante 
para eles
2. Interessar-semais 
pela programação 
cultural da cidade
2. Idas a pontos turísticos da cidade: 
Vista Chinesa, Parque Nacional da 
Tijuca, Cachoeira dos Macacos, etc.
3. Comprar o CD Show do 
Milhão e brincarem
em família
3. Participar de 
concursos culturais, 
artísticos, esportivos
3. Visitas a museus, teatromunicipal 
(concertos para a juventude), sala 
Cecília Meirelles, etc.
4. fazer uma programação 
semanal, no mural da 
casa, sobre show de rock, 
documentários, clássicos 
antigos, campeonatos de 
perguntas e respostas, etc.
5. construir quites em casa 
sobre alguma atividade, hobby 
que tenha relação com as 
habilidades	dos	filhos,	com	
recompensas	($)	no	final
4. Ir em feiras livres, 
cinemas ao ar livre, 
teatros, etc.
4. Ida a Cluves sociais,etc
continua
92
ALTERNATIVAS EM CASA ALTERNATIVASNA RUA FIM DE SEMANA
6. organizar teatros, sarau’s 
para apresentar à família nos 
aniversários
5. A ida semanal 
ao Mac Donald’s, 
Bob’s, etc
5. Churrascos em família 
em casa ou no campo 
(churrasqueiras portáteis, 
no meio da Serra, é fantástico)
7. Convidar amigos para virem 
mais em casa e dormirem
6. fomentar que passem 
mais tardes na casa dos 
amigos
8. Consertos materiais em 
casa e arrumações
7. Que resolvam 
problemas familiares: 
compras, consertos 
materiais, etc.
9. aprender linguas em casa
10. Incentivas que os 
colégios passem mais 
deveres escolares, não 
necessariamente ligados 
a provas: novas formas de 
avaliação: resumir um artigo 
da Veja, de Jornal, de um 
filme,	etc.
continuação
CAPÍTULO 21
COMO ESCOLHER A ESCOLA 
PARA O MEU FILHO?22
Que tipo de escola é ideal para uma criança?
A escola ideal para uma criança é aquela que saiba conjugar duas 
forças complementares: as características temperamentais, psicológicas e 
físicas da criança com o ideal de educação que a família pretende dar para 
ela. Não é conveniente colocar uma criança num colégio forte, exigente, 
que cobra bastante, que estimula a competição se ela é muito ansiosa, preo-
cupada com a sua imagem, tem dificuldades em assimilar habitualmente os 
conteúdos, não gosta de estudar, etc. Essa criança poderá sofrer um stress 
precoce — que lhe fará muito mal — e aumentar muito a sua baixa estima. 
Muitas vezes a baixa estima — fato muito comum nas crianças atuais — 
nasce dos pais colocarem altas expectativas nos sucessos escolares do seu 
filho e ele não ser dos mais capacitados. É melhor, para estes casos, buscar 
uma escola que, devendo ser também exigente, não prima tanto pela com-
petição escolar. O segundo aspecto é procurar aquele estabelecimento de 
ensino que sintonize com os valores da família. A pior coisa do mundo é a 
criança ser educada num clima de incoerência: ela ficará insegura no iní-
cio e depois “instintiva” na adolescência. É fundamental para um perfeito 
desenvolvimento da personalidade da criança que os pais tenham uma base 
ideológicahumana e espiritual que vá se integrando perfeitamente com a 
escola. Ambas têm que fazer um trabalho conjunto. Caso contrário, pode 
acontecer, por exemplo, que a família fale para o filho que é muito impor-
tante rezar antes de dormir e a escola diga que rezar é “careta”! É muito 
importante que a família antes de matricular o seu filho numa escola decida 
se vai querer uma escola religiosa ou leiga, de só de meninos ou mista, com 
atividades extracurriculares ou não, se bilíngue ou normal, para depois se 
preocupar com os demais aspectos internos da escola.
22 Publicado no BLOG Negócios de Família no dia 16 de Outubro de 2009. http://www.negociosdefamilia.
com.br/ou http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=940869&tit=Nove-dicas-
para-escolher-a-escola-ideal-para-os-seus-filhos
94
Que tipo de valores e exigências devem
ser observados na escolha?
Além de examinar se existe sintonia da escola com os valores da 
família, que falamos anteriormente, fundamentados em princípios, con-
vicções e regras que a família acredita levarem a uma perfeita realização 
humana e espiritual, que devem ser definidos em qualquer família que se 
forma — chamado por mim projeto de educação familiar — deve haver a 
busca por um ensino de qualidade. Cada vez mais, devido aos seus altos 
custos, o investimento educacional exige um retorno convincente. É mais 
do que sabido que o sucesso profissional está cada vez mais atrelado às 
reais competências e habilidades que a criança adquire nos primeiros anos 
de escolaridade. O mercado competitivo e com cada vez menos empre-
gos, está exigindo pessoas diferentes e com um preparo diferenciado. Por 
isso, deixar a criança numa escola fraca, onde não exige (e nos exige) um 
acompanhamento diário dos seus estudos, onde tudo é alegria, esportes, 
festinhas, teatros, apresentações musicais, enfim, tudo muito lúdico, sim-
plesmente estamos nos enganando e enganando o próprio filho. Mais tarde 
pagaremos a “conta” por esta ilusão. Apesar de estar de moda este modelo 
de educação lúdica, onde o professor deve ser apenas um “orientador”, que 
somente estimula a criatividade da criança, que não deve haver conteúdos 
específicos, horários, salas de aula, etc., mas uma grande interdisciplina-
ridade, eu acredito que os seus frutos já nos podem ajudar a concluir que 
é preciso ir mais além. É preciso conjugar ensino lúdico com exigência, 
buscando cada vez mais a individualização no ensino-aprendizagem, isto 
é, buscar a riqueza e a potencialidade individual de cada aluno. Tem uns 
que podem render mais em certos aspectos que outros, como em matérias 
de exatas, então há que puxá-los para cima nessas áreas. Existem outros 
que têm habilidades artísticas: então é preciso dar-lhes oportunidades de 
mostrarem seus dons e talentos e serem avaliados convenientemente. Mas 
tudo, sempre com muita exigência, esforço e com alto grau de profissio-
nalismo. A motivação escolar — fator muito preocupante, hoje em dia, em 
qualquer professor de sala de aula — está muito relacionada com a alta 
estima que é fomentada, não só por metas e sucessos — muitas vezes não 
alcançados — mas pelo estímulo no desenvolvimento desses dons e talen-
tos individuais da criança.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 95
A que detalhes os pais devem ficar atentos?
Acredito que a primeira grande preocupação que os pais devem exa-
minar ao escolher uma escola é verificar se existe e qual é o seu Projeto 
Político Pedagógico. Quais são os conteúdos ensinados? Qual é a meto-
dologia empregada? Como é administrada a disciplina dentro e fora de 
sala? Quais são os métodos de avaliação? Responder a estas questões, 
procurando saber se de fato é político, isto é, se existe uma participação 
da comunidade escolar, da família, procurando chegar a alguns consensos 
em questões opináveis, etc. estaremos com condições de saber se o nosso 
filho está entrando por caminhos de ensino de qualidade, em todos os seus 
aspectos. Depois, verificar como é composto e formado — antes, durante 
e depois — o corpo docente. Infelizmente, muitas vezes, por as escolas 
terem que reduzir seus custos são obrigadas ou a manter financeiramente 
professores em patamares pouco motivantes ou então a contratar outros 
que não apresentam o melhor histórico escolar. Infelizmente, é uma pena 
que a grande maioria dos pais, nos dias atuais, descarreguem a educação 
de seus filhos totalmente na escola e não se preocupem em saber quem está 
“alimentando” ou “envenenando” seus “pimpolhos”… Depois, é impor-
tantíssimo que se “capte” o clima organizacional e ambiental da escola. 
Verificar se as crianças estão felizes, estão soltas, se sentem na sua segunda 
casa ou se, pelo contrário, existe um clima tenso, desanimado, briguen-
to, desleixado, etc. É muito elucidativo observar os murais de avisos e 
dos trabalhos, conhecer a biblioteca — tanto na sua quantidade como na 
sua qualidade — os folhetos e impressos da secretaria, etc., pois a forma 
como tudo isso é apresentado reflete a “alma” do colégio. Dentro dessas 
visitas, é preciso se preocupar também com a qualidade e tipo de instala-
ções — número de alunos em sala de aula, se tem área esportiva adequada, 
computadores modernos, etc. — pois estes detalhes refletem o corpo do 
colégio. Alma e corpo devem ser sadios! Dois últimos detalhes devem ser 
considerados, apesar de não serem essenciais: localização da escola, uma 
vez que o trânsito hoje é um problema sério nas grandes cidades; e o horá-
rio de funcionamento. No Rio de janeiro, existe um colégio renomado que, 
depois de muitos anos, percebeu que oferecer um ensino médio no período 
da tarde — quando todos os demais da cidade são de manhã — era um fator 
de desmotivação e de alienação social.
96
Quais os prós e contras de uma escola
grande ou de uma pequena?
Uma escola grande tem a vantagem de contar com mais recursos fi-
nanceiros, quando é bem administrada. Se o sucesso de todos os aspectos 
anteriores sobressaídos dependem bastante de recursos econômicos, é cla-
ro que uma escola grande traz mais vantagens. Além do mais, uma escola 
para se tornar grande exige, normalmente, muito tempo, o que significa 
experiência, tradição, imagem. No Rio de Janeiro, por exemplo, os melho-
res colégios em resultados nos vestibulares são quase todos considerados 
grandes. Por outro lado, uma escola pequena consegue buscar com mais fa-
cilidade essa individualização, tanto no aprendizado como na própria ava-
liação. Outras vantagens, é que fica mais fácil organizar eventos, viagens, 
visitas culturais, etc., em escolas menores, além de a família poder ter uma 
maior participação na gestão escolar.
Que tipos de informações os pais devem
ter sobre o corpo docente?
Além de procurar conhecer muito bem a sua formação, aludida an-
teriormente — é sempre o mais importante, para que haja aquela sintonia 
com os valores da família referida no início da entrevista — é importante 
saber também a sua metodologia. São da linha tradicional? São mais mo-
dernos? Sabem exigir ou não? Como “negociam” a disciplina e a avalia-
ção? Estão disponíveis para conversar com os pais? Todas estas questões 
podem estar em desacordo com a nossa maneira de ver a educação.
Quais são os métodos pedagógicos mais comuns?
Como são e quais são seus pontos positivos e desfavoráveis?
Existem os chamados métodos tradicionais — também chamados de 
“cuspe e giz” — onde o professor expõe um conteúdo, aplica exercícios, 
manda lição para casa de fixação e depois a cobra na aula seguinte e nas 
provas. E existem os chamados métodos modernos, onde não existe uma 
autoridade clara e definida do professor, onde os conteúdos não são clara-
mente definidos, mas se procura que o aprendizado seja através de projetos 
de trabalho, onde a criança, na busca de resolução de problemas, apren-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 97
da de forma lúdica. Normalmente, a informática é vista como ferramentaindispensável no aprendizado. As avaliações são mais flexíveis, podendo 
contar inclusive com a auto-avaliação. Dificilmente, alguém reprova.
Sou da opinião que é necessário chegar a um equilíbrio dialético en-
tre estes dois métodos. Sem dúvida, que a aplicação somente dos métodos 
tradicionais já estão ultrapassados. Por outro lado, acredito ser altamen-
te inconveniente acabar com a clara divisão dos conteúdos por matérias 
ou disciplinas. Agora que todos já entendem um pouco de informática e 
da ordem dos arquivos em pastas, para melhor localização dos mesmos, 
fica fácil entender como funciona a nossa memória: ela continuamente vai 
abrindo “pastas” dentro de “pastas” relacionando-as umas com as outras, 
para que quando seja necessário buscar essa informação, o raciocínio seja 
rápido. Imaginemos agora abrirmos o nosso “explore” e só encontrarmos 
umas poucas “pastas”, cognominadas, por exemplo, como “experiências”, 
“vivências”, “sentimentos”, etc., acho que é de senso comum vislumbrar 
dificuldades sérias no aprendizado. Acho que é muito importante o profes-
sor saber misturar aulas expositivas de “cuspe e giz” com outras de com-
putador, powerpoint, etc., com apresentação de seminários, com filmes e 
teatros, com visitas a empresas, porém, como já insisti bastante, que tudo 
isso não seja sinônimo de “marmelada”, mas de aulas bem preparadas, com 
profissionalismo e que saibam exigir dos alunos sempre muita dedicação, 
esforço e compromisso com o seu próprio projeto educacional.
É possível encontrar uma escola pública ideal?
A minha pesquisa recente de mestrado na UFRJ — 1º semestre de 
2003 — em 9 escolas públicas municipais do Rio de Janeiro demonstrou 
que, infelizmente, atualmente não! Que a legislação educacional em vigor 
não permite criar um ambiente escolar favorável e positivo tanto para os 
professores compromissados com a educação quanto para os alunos que 
querem aprender, pois o fato de as escolas terem que aceitar todos os tipos 
de alunos, de muitas terem que “ceder” na aprovação automática, de terem 
que conviver com todos os problemas intrínsecos e extrínsecos que o trá-
fico de drogas traz consigo não permite que haja as mínimas condições de 
motivação para quem quer ensinar e para quem quer aprender. Os professo-
res municipais e estaduais estão sofrendo muito com essas mazelas sociais, 
estão desmotivados, cansados, desanimados e se percebe uma apatia gene-
ralizada por parte de nossos governantes. A questão que sempre me levan-
98
to é a seguinte: será incapacidade pedagógica/educativa ou simplesmente 
descaso? Quero sempre acreditar que é a primeira alternativa…
Porém, se olharmos para algumas pouquíssimas escolas públicas de 
excelência que têm autonomia para impor algumas regras e limites, se pode 
perceber que é possível sonhar com uma escola pública ideal… Portanto, 
é questão de se caminhar a passos mais rápidos para uma verdadeira au-
tonomia, buscando uma legislação que responsabilize mais e melhor os 
respectivos diretores de escola pública.
CAPÍTULO 22
AS FONTES DA MOTIVAçãO 
ÉTICA NOS EDUCADORES23
1. Introdução
Falar sobre a importância de educar eticamente a juventude, seja no 
ambiente familiar ou escolar, costuma provocar nos educadores, de forma 
geral, três reações bastante diversas.
Num extremo, uma atitude de medo, de desconfiança. Tende a soar 
como algo limitador da espontaneidade, como sinônimo de cerceamento 
da liberdade ou ainda como resquícios de doutrinas passadas já superadas. 
Portanto, um inimigo perigoso a que é preciso estar atento.
Em uma atitude intermediária, existem pessoas que tendem a en-
xergar a educação ética como algo neutro, indiferente, ou ainda teórico. 
Acreditam que para algumas pessoas pode ser importante, mas para ou-
tras não. Pensam ainda que seja difícil aplicar na vida concreta do mundo 
moderno alguns desses princípios éticos e, por isso, caem numa postura 
mais cética, utilitarista ou despreocupada. A intuição sentimental costu-
ma ser a base de suas escolhas.
Por fim, uma terceira tendência leva a valorizar o aprendizado das 
virtudes morais como algo não só conveniente, mas necessário para al-
cançar o fim da educação, que é o desenvolvimento e realização da pessoa 
humana. Nesta visão da educação ética, a pessoa humana, apesar de pos-
suir uma liberdade individual, não a possui de forma absoluta, mas apenas 
compartilhada. É um ser relacional, dependente24. A fim de se alcançar essa 
capacidade para o exercício da justiça se exige, desde cedo, um verdadeiro 
aprendizado das virtudes éticas.
Verifica-se, portanto, que alcançar uma motivação ética25 na edu-
cação depende, em parte, do olhar filosófico do educador e de como 
23 Publicado no Livro Ética e Educação. Editora CRV. 2009, pg.71-85.
24 MACINTYRE. Dependent Rational Animals: Why Human Beings Need the Virtues, The Paul Carus Lectures 
— 20 — 2nd printing. Illinois: Open Court Ed., 1999.
25 MALHEIRO DE OLIVEIRA, J. A Motivação Ética no Processo de Ensino/Aprendizagem na Formação de 
Professores do Ensino Fundamental. Tese de doutorado, UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.
100
esse olhar penetra na pessoa humana. Alasdair MacIntyre, no seu li-
vro Depois da virtude26 nos mostra que esta fragmentação ética, como 
evidenciamos acima, com as diversas posturas, tem sua explicação em 
raízes históricas-filosóficas.
Segundo o autor, se nos dispomos a examinar o que está acontecendo 
na sociedade atual, perceberemos um reflexo de uma série de filosofias de 
pensamento e de vida, oriundas no iluminismo Europeu e que chegaram até 
os nossos dias, que afirmam não ser possível acudir a razões objetivas para 
justificar os princípios éticos que cada qual deve utilizar nas suas escolhas. 
Existe como que um acordo implícito de que os princípios são uma questão 
de preferências pessoais. Pretender outra coisa equivaleria a incorrer num 
crime de lesa humanidade que é impor uma ética ao vizinho. Quem profere 
um juízo ético deveria usar uma linguagem pretendidamente impessoal e 
deveria ocultar suas pessoais motivações. “Tal coisa é eticamente má” sig-
nificaria, na prática, “não quero que faças tal coisa, porque não me agrada”. 
Portanto, esta corrente, chamada pelo autor de emotivista, postula que não 
existem critérios universais que sirvam para dirimir entre posturas éticas 
rivais. Todas elas seriam igualmente dignas e admissíveis.
Se aprofundarmos nas consequências práticas desta corrente ética, 
perceberemos que tem se comprovado ser uma postura um pouco perigo-
sa, porque são muitas vezes difíceis arbitrar posturas diferentes, encontrar 
os limites de quem está com a razão e no final acaba-se alimentando na 
sociedade, parafraseando o autor escocês, uma “guerra civil sem armas”, 
na qual ganhará o que for mais forte e tiver mais poder. Uma teoria ética 
que provoca a injustiça social não parece, portanto, ser a mais adequada. É 
preciso buscar algo mais isento e transcendente, que dê luz a duas vontades 
opostas ou diferentes para viverem em paz.
MacIntyre, nessa mesma obra, questiona o por quê da sociedade atu-
al pensar assim da ética. Ele é da visão que ela acredita que a tentativa, 
passada ou presente, de prover de justificação racional a moral objetiva 
fracassou de fato. Que não é mais possível encontrar racionalmente aqueles 
valores éticos que sejam comuns e universais para todo o ser humano.
Perguntemo-nos: será que essas pessoas já questionaram qual foi a 
razão desse fracasso?
26 MACINTYRE, A. Depois da Virtude. Tradução de Jussara Simões, Bauru (SP): EDUSC, 2001, After Virtue 
— A study in Moral Theory, 2nd Edition, University of Notre Dame Press, Indiana, 1984
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 101
Uma primeira resposta que penso justificar o fracaso da moral objeti-
va foi a perda — ou a anulação propositada por alguns pensadores — dos 
conceitos metafísicos de natureza humana e de seu telos (fim), conforme a 
perspectiva Aristótelica.
Aristóteles, principalmente no seu livro Ética aNicômaco27, apon-
tava que os seres humanos, bem como os membros de todas as outras 
espécies, têm uma natureza específica. Essa natureza humana é que os 
leva a terem certos objetivos e metas, de modo que se movimentem em 
direção a um telos (fim) específico. Tal fim, para o filósofo, não poderia 
ser nunca o dinheiro, honra ou prazer, mas sim a eudaimonia, que poderia 
ser traduzida como felicidade ou Bem Supremo. Na obra citada, Aristó-
teles esclarece que:
Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este 
bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por 
causa de algo mais; as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as for-
mas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas, escolhemo-
las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes. 
Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas 
de excelência, nem, de um modo geral, por qualquer outra coisa além 
dela mesma (Aristóteles, 2001, p.23).
Para Aristóteles as virtudes eram precisamente as qualidades cuja 
prática permitiriam o indivíduo atingir a eudaimonia e cuja falta o levaria a 
experimentar a frustração desta natureza que anseia por felicidade.
Mas voltemos à questão: por que ocorreu essa perda ou anulação da 
natureza humana e a diminuição da motivação ética das virtudes em grande 
parte da sociedade? É possível apontar várias razões filosóficas, religiosas 
e morais, que se misturam e se entrelaçam entre si.
Em primeiro lugar, o necessário esforço exigente para alcançar esse 
Bem sempre rebelou um pouco o orgulho humano. O sofrimento sempre 
trouxe sua dose de mistério, de perplexidade e de medo. Portanto, segundo 
esses pensadores, se essa era a nossa condição para sermos felizes, era me-
lhor autonegar a própria natureza humana28 e arriscar escolher uma outra 
natureza, que eu chamaria não-humana e, portanto, mais animal e irra-
27 ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. Mário da Gama Kury. 4 ed. Brasília: Editora da UNB, 2001.
28	 MILLÁN-PUELLES	La	Libre	afirmation	de	nuestro	ser.	Madrid:	Ediciones	Rialp,	1994.
102
cional. Desprezando-se a natureza humana, anulou-se a verdade objetiva, 
própria da natureza, que nos inclina a essa felicidade.
Outra razão, está ligada à eterna busca do homem por uma liberdade 
absoluta e, portanto, também não humana. A liberdade própria da nature-
za humana está condicionada por uma relação de dependência. A pessoa 
humana é não apenas racional, mas também relacional. É comunhão (a 
pessoa com os outros) e doação (a pessoa para os outros). Assim qualquer 
ser humano vem a este mundo: é necessário pertencer a outro ser (estar 
com) para nascer e se desenvolver, e exige que esse outro ser se doe a ele 
(estar para) e o aceite. A essência da pessoa é tal que o homem sozinho 
não pode realizar totalmente a sua essência. Realiza-se somente se existe 
com e, principalmente, para alguém, pois somente assim a espécie huma-
na se perpetua. Esta dependência sempre rebelou também o ser humano e 
muitos, ao não aceitá-la, preferiram também negá-la. Esta contradição é 
manifesta em vários pensadores existencialistas, em suas obras.
Voltando à nossa questão, do fracasso da ética objetiva, diria que uma 
segunda resposta nasce e é consequência da primeira. Quando o esforço ético 
da vivência objetiva das virtudes morais foi desvinculado do seu telos huma-
no, a ciência das virtudes morais foi desfigurada como mera exigência sem 
sentido. Vários filósofos culparam-na da origem de traumas, repressões e au-
sência de liberdade. A ética kantiana29 do “dever pelo dever”, sem a meta de 
alcançar a liberdade e a felicidade, favoreceu essa doutrina. Tanto a filosofia 
nietzschiana30 exigindo liberdade, quanto a teoria Freudiana31, que influencia 
até hoje a educação, reivindincando prazer, foram também alguns desses de-
nunciadores. O fato é que o distanciamento da filosofia aristotélica ao longo 
dos séculos por essas filosofias foi tornando a educação das virtudes, ao invés 
de algo libertador, algo odioso, inumano e doentio.
Fica fácil observarmos, portanto, que o fracasso da ética objetiva foi real, 
mas por culpa do próprio homem em não querer aceitar a sua própria natureza. 
Mas reflitamos com a perspectiva do tempo: foi melhor essa escolha para o 
homem? As desordens sociais do século XX e do atual parecem sugerir que 
não. A somatória crescente em nossa sociedade de pessoas depressivas, solitá-
rias, violentas, injustas, sem motivação para viver e existir prova que algumas 
29 KANT, I Fondements de la Métaphysique des Moeurs, Paris, Delagrave, 1950.
30 NIETZSCHE, F.W. A Gaia Ciência. São Paulo.Editora Abril, 1983a.
31 FREUD, S. O Ego e o Id. In: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIX. 
2ª. ed. Rio de Janeiro: Imago, (1923), pp. 23-76, 1976.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 103
escolhas filosóficas acontecidas no passado estão comprometendo a realização 
do ser humano atual. Tudo indica que a sociedade não ficou mais feliz negando 
a própria natureza humana. A evidência de que todo o ser humano fica ansioso 
e inseguro até encontrar-se como ser humano livre e responsável da sua felici-
dade, parece demonstrar que, por mais que o homem possa autonegar a própria 
natureza, só se sentirá feliz e em paz quando entender que, apesar do esforço, 
vale mais a pena autoafirma-la do que viver como um triste animal irracional.
Diante destas ideias introdutórias, gostaria de propor neste artigo, não 
só o resgate dos conceitos de natureza humana, de seu fim (telos) e de 
virtude, como caminho para olhar o homem corretamente, mas também 
averiguar se a redescoberta do funcionamento adequado das potências hu-
manas, para muitos educadores desconhecidas, poderá provocar a verda-
deira motivação ética na educação. gostaria de levantar a hipótese de que 
parece existir uma relação real entre enxergar a pessoa na sua totalidade, 
composta por razão, vontade e afetividade, potências humanas passiveis de 
educação, com a motivação ética dos educadores.
2. A educação da afetividade
Segundo Aristóteles (2001), existem dois tipos de virtudes: as vir-
tudes intelectuais, ou do pensamento, e as morais, ou do caráter. Aquelas 
poderiam ser divididas em dois grupos: o primeiro compreende as virtu-
des mais especulativas (razão teórica ou abstrata), das quais fazem parte 
a Sophia (sabedoria) e a Ciência. Estas virtudes são também conhecidas 
como competências intelectuais incluindo o conhecimento científico re-
levante; o outro grupo abrange as virtudes mais práticas (razão prática), 
incluindo a prudência, cuja função principal é a capacidade de discerni-
mento do Bem e a técnica ou um bom senso prático, fruto da experiência. 
Dentro do segundo tipo de virtudes, Aristóteles indica as virtudes do ca-
ráter ou morais que são novamente a prudência, além da justiça, fortaleza 
e temperança, as quais se desenvolvem por meio de hábitos operativos 
bons, fruto da educação teórica e prática da virtude.Vejamos abaixo um 
resumo para melhor entendimento:
104
Figura 1
Mapa das Virtudes em Aristóteles
Fonte: João Malheiro
Aristóteles afirmava que a natureza humana —o modo de ser próprio 
do ser humano— e suas três potências têm um funcionamento débil, isto é, 
suscetível de erro, devido a uma tendência exagerada do ser humano para 
a subjetividade. Segundo o autor, esta natureza humana é um princípio ou 
mola propulsora das operações próprias do ser humano (conhecer e querer, 
com o sentir de permeio) que o inclina —mas não indefectivelmente— a 
possuir o bem supremo e, por conseguinte, alcançar a felicidade. Por isso, 
para conseguir caminhar mais facilmente rumo à felicidade, o homem pre-
cisa das virtudes morais.
Segundo Aristóteles (2001), as virtudes morais ou cardeais (chamam-
se “cardeais” porque a palavra “cardeal”, em latim —cardo–, significa 
eixo, no qual girariam então todas as demais virtudes) aperfeiçoam o exer-
cício das potências do ser humano: inteligência,vontade e a afetividade. 
Sabendo que estas potências se encontram no ser humano num estado de 
dependência e complementaridade e são aperfeiçoadas pelas virtudes car-
deais, estes hábitos não poderiam ser vistos separadamente, não poderiam 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 105
ser praticados isoladamente, mas somente em uma mútua dependência. As 
virtudes morais encontram-se internamente conectadas, de maneira que, 
se o indivíduo não tem algo das quatro, não pode possuir alguma delas 
completamente. Se um jovem não tem a virtude da temperança, não poderá 
dizer que alcançará a virtude da fortaleza ou da justiça com perfeição. Por-
tanto, as virtudes são adquiridas, ao mesmo tempo e indissociavelmente, 
como vasos comunicantes, mediante a repetição reiterada dos atos próprios 
de cada virtude e da reflexão acerca da bondade intrínseca que os atos vir-
tuosos produzem, aperfeiçoando a natureza humana.
Como podemos observar na Figura 1, as virtudes morais, apesar de 
estarem interligadas, nascem e são desenvolvidas em uma específica po-
tência humana.
A virtude da prudência, definida por Aristóteles como a reta razão do agir, 
emerge da razão prática, que é iluminada pela razão abstrata, origem dos pri-
meiros princípios universais. Conforme podemos verificar no esquema acima, 
esta virtude é desenvolvida tanto nessa razão prática —portanto uma virtude 
intelectual— fazendo com que a potência intelectitiva lhe apeteça conhecer a 
verdade, mas também indica a medida correta para as demais virtudes morais, 
e, por isso, é também chamada de virtude moral. Conforme já apontamos an-
teriormente, Millán-Puelles define a prudência —phrónesis— como a virtude 
que tem a função de aplicar princípios morais absolutos, imutáveis, incondi-
cionados a circunstâncias variáveis. Estas, ao variarem, a prudência indicaria a 
forma de variar a sua aplicação (Millán-Puelles, 1996).
Vem a propósito o que Maritain (1959) sobressai quando afirma que:
É principalmente através da instrumentalidade da inteligência e da ver-
dade que a escola pode influir no desejo, na vontade e no amor dos 
jovens, ajudando-os a controlar seu dinamismo inato. A educação mo-
ral desempenha um papel importante na escola. E esse papel deve ser 
cada vez mais estimado. Mas é, essencialmente e, sobretudo, mediante 
a aprendizagem e o ensino, que a educação escolar realiza sua função 
moral. Não pode exercitar e dar retidão à vontade, nem, simplesmente, 
por ilustrar e dar retidão à razão prática. O esquecimento das diferenças 
entre vontade e razão prática explica o fracasso da pedagogia escolar, 
ao pretender “educar a vontade”. (Maritain, 1959, p. 51, grifo meu)
Fica evidenciado, nas palavras de Maritain, que a educação das virtudes 
morais é importante para se alcançar o equilíbrio e a harmonia das potências 
do homem. Mas, segundo o autor, o aprendizado dessas virtudes é mais impor-
106
tante ainda na exigência escolar, porque inicialmente alimenta a razão abstrata, 
esta depois fortalece a razão prática para, em seguida, esta última orientar bem 
a vontade a querer o Bem. Um fortalecimento da vontade separado da razão 
abstrata e prática se cai em um voluntarismo e pragmatismo desaconselhado 
para a educação dos estudantes, pois esse voluntarismo é mais alimentado pe-
las paixões, que são irracionais, do que pela vontade. Por isso, um verdadeiro 
aprendizado ético das virtudes deve ser realizado através do ensino/aprendiza-
gem e não somente como algo teórico, distante da prática escolar. Deve ser in-
centivado na prática do quotidiano que, como também apontavam Aristóteles 
(2001), MacIntyre (2001), e lá que se forjarão as virtudes.
Diante do papel da razão abstrata e da razão prática na formação com-
pleta do ser humano, fica evidenciado que, quando o educador conhece 
estes mecanismos antropológicos, necessariamente fica motivado a desen-
volver no aluno não apenas a formação da sua razão abstrata, através do 
conteúdo específico da sua disciplina, mas também a formação da sua ra-
zão prática, por meio das virtudes morais. Ambas alimentam, portanto, a 
motivação ética dos educadores.
Infelizmente, hoje em dia, diante deste desconhecimento antropoló-
gico na maioria dos pais, professores, dirigentes educacionais, os alunos 
são apenas estimulados a desenvolver sua razão abstrata, muitas vezes de 
forma superficial, e não a razão prática, pela ausência completa do apren-
dizado das virtudes morais. Isto pode trazer consequências nocivas para 
eles, porque ao permitir que a sua afetividade fique descontrolada e sem 
o devido direcionamento para os outros — para isto existe a educação da 
afetividade32— toda a sua formação escolar tenderá a ficar motivada ape-
nas para satisfazer ideais egoístas e a não buscar o bem comum. Por outro 
lado, se o aluno desde cedo vai aprendendo a se educar nas virtudes que 
moderam a afetividade33 — a temperança e a fortaleza — então será mais 
fácil que veja nessas conquistas educacionais formas de serviço e de pre-
ocupação social. Inclusive, para aqueles que obtêm resultados de maior 
destaque, poderão mais facilmente diminuir essas tendências. Para aque-
les que têm maiores dificuldades, muitas vezes por disporem de poucos 
recursos educacionais, seja a nível familiar, seja a nível governamental, 
poderão dessa forma desenvolver uma maior motivação transcendental34, 
superando essas dificuldades.
32 CINTRA, L.F. O Sentimentalismo. São Paulo: Ed. Quadrante, 1994.
33 ROQUEÑI, J.M. Educación de la Afectividad: Una propuesta desde el Pensamiento de Tomás de Aquino. 
España: Editora EUNSA, 2005
34 MALHEIRO DE OLIVEIRA, J. A Motivação Ética no Processo de Ensino/Aprendizagem na Formação de 
Professores do Ensino Fundamental. Tese de doutorado, UFRJ, Rio de Janeiro, 2008
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 107
Apresentamos, na figura abaixo, em forma de esquema, o que disse-
mos acima.
Figura 2
O papel da razão prática como fonte da força de vontade e
da capacidade de justiça, solidariedade, cidadania, altruismo
Fonte: João Malheiro
108
3. Como se desenvolve a razão prática
Parece evidente, tende em vista a importância da razão prática na 
educação do jovem, que reflitamos, em seguida, como ela deve ser forma-
da adequadamente. Para isso, se torna necessário aprofundar nos aspectos 
afetivos do homem, formado pelas emoções, paixões e sentimentos.
Na definição de Tomás de Aquino (1955) as emoções e paixões 
—para ele não havia grandes diferenciações entre ambos— são movimen-
tos da parte apetitiva inferior do homem, chamado apetite sensitivo. As-
sim, diante da presença de determinado objeto sensível ao sujeito, como, 
por exemplo, enfrentar-se com um leão numa floresta, a pessoa, por meio 
de seu apetite, tende a consegui-lo ou a evitá-lo, conforme o mesmo seja 
apreendido como bom ou mau, isto é, de acordo com que sua razão acredite 
ser boa ou má. O autor define apetite sensitivo como uma inclinação da 
natureza para satisfazer uma necessidade que lhe exige. Segundo Tomás 
de Aquino, “a paixão é movimento do apetite sensitivo. É um movimento 
irracional da alma na presença de um bem ou de um mal”.35 Pela diferen-
ciação na apreensão de seu objeto, dois apetites distintos são acionados nos 
seres humanos, chamados por Aristóteles (2001) de apetite concupiscível 
e irascível.
Aquino (1955) os diferencia apontando que
O irascível e o concupiscível são duas potências que dividem o apetite 
sensitivo. O objeto da potência concupiscível é o bem ou mal sensível 
tomado como um bem absoluto, enquanto é deleitável ou doloroso. 
Mas, como é inevitável que a alma experimente às vezes dificulda-
de ou contrariedade na aquisição desses bens ou em afastar-se desses 
males sensíveis, a presença da potencia irascível facilita essa busca ou 
fuga. (Aquino, 1955, S. Th., 1-2, q. 26, a 1)
Roqueñi (2005) procura identificar o processo temporal do movimen-
to afetivo no desenvolvimento evolutivo da pessoa. Ele ressaltaque:
Conforme a já usual divisão psicológica dos estágios do desenvolvi-
mento humano, nos primeiros três estágios (primeira infância: até os seis 
anos de idade; segunda infância: até os doze; adolescência inicial: até os 
quinze), se apresenta a preponderância de operações das potências afeti-
35 S. Th., 1-2, q. 22, a. 3
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 109
vas. Neste sentido, se estabelece que do nascimento até os sete anos de ida-
de, na criança se opera principalmente a potência concupiscível. Dos sete 
aos quatorze preponderantemente atua a potencia irascível na atividade do 
adolescente. (Roqueñi, 2005, p. 50)
Roqueñi (2005) afirma que, sem querer dogmatizar essas fases, é im-
portante aclarar que se fala somente de predomínio da potência, isto é, não 
há exclusão nem de outra potência afetiva e nem, muito menos, da inteli-
gência e da vontade. Aponta ainda que, apesar de resultar muito complexo 
estabelecer fronteiras entre as operações das faculdades humanas dentro de 
ato específico do indivíduo, é possível distinguir certos intervalos tempo-
rais nos quais os primeiros princípios de determinadas operações se mani-
festam, tendo em vista principalmente o desenvolvimento mental da crian-
ça (Piaget,1975), mesmo não sendo muito precisos esses limites.
Entrando agora mais especificamente no modo como as virtudes se 
desenvolvem a partir dos primeiros anos e como elas se relacionam com a 
razão prática, Aquino (1955) afirma que o apetite (ou potência) concupis-
cível move o homem ao bem sensível como um bem absoluto. Por isso, é 
próprio dos afetos infantis, predominantes na criança entre 1 e 7 anos de 
idade, a absolutização do mais imediato. Nessas idades, suas tendências 
emocionais em geral se movem apenas de forma simples e contínua, sem 
conseguir transcender a outros estados emocionais mediatos ou futuros, 
pois o sujeito é incapaz de percebê-los pela ausência do raciocínio e pelo 
pouco desenvolvimento da capacidade imaginativa para perceber ações ou 
valores futuros. Tendo isto em vista, resulta claro ser um despropósito, 
por exemplo, propor a uma criança um bem difícil futuro, pois a mesma é 
incapaz de percebê-lo, motivo pelo qual abandona ou se cansa rapidamen-
te de jogos mais complicados. Na medida em que se desenvolve, poderá 
imaginar objetos mais intrincados e planejar ações mais dificultosas — por 
exemplo, a ação de subir numa árvore para pegar uma fruta saborosa–, 
mas como ainda não pode enfrentar o temível —pela ausência da potência 
irascível— se entristece e desiste. Passa velozmente, da paixão de amor ao 
desejo e deste ao deleite e gozo. Quando não consegue o que quer, também 
com rapidez, passa do ódio à aversão e desta à tristeza. Como ainda não 
tem a razão prática suficientemente desenvolvida, a ação educativa em prol 
dos hábitos de temperança é decisiva, pois os educadores podem substituir 
a fraca disposição da criança.
Com a aparição do apetite irascível, “em torno dos sete anos” (RO-
QUEÑI, 2005, p. 56), sem que deixe de atuar o apetite concupiscível, a 
110
criança manifesta diferentes mudanças que se refletem em sua conduta glo-
bal. O amor-paixão, que nasce na fase anterior, começa a dar prioridade a 
um novo amor, chamado amor racional, se existe uma adequada educação 
afetiva. Vejamos como se dá este processo.
Na fase anterior, o amor-paixão, definido como “uma paixão imutável 
do apetite pelo objeto apetecível” (ROQUEÑI, 2005, p. 43), na fase con-
cupiscível, move a vontade a desejar as coisas, sem chegar ainda à razão 
prática. O amor sensível consegue muitas vezes que a vontade ame algo 
sem muito conhecimento racional. Com um processo educativo atento, na 
fase seguinte — fase irascível —, depois da repetição de atos mais ou me-
nos deliberados, o jovem deve ir sendo ajudado a ir forjando por meio dos 
hábitos bons como que uma segunda natureza (Aristóteles, 2001), subjeti-
va e individual. Tomás de Aquino (1955), explicando melhor este processo, 
esclarece que as paixões dependem da razão e da vontade para ordená-las 
para uma ação boa. Depois que elas realizam isto no jovem, após toda a 
boa operação se segue uma boa concupiscência e um bom deleite, próprio 
da bondade intrínseca das ações boas. Consequentemente, cada vez que 
se impressa determinado amor sensível na sua subjetividade, através da 
potência cogitativa (a potência que distingue as percepções sensoriais), a 
inclinação do apetite o faz desejá-lo mais e gozar cada vez mais quando 
o possui. É então que começa a nascer o apetite racional da razão prática 
e a orientação da afetividade do sujeito, e a vontade começa a exercer seu 
império sobre o mundo afetivo. Se uma pessoa sente desagrado ao mentir 
e satisfação quando é sincero isso será de uma grande ajuda em sua vida 
moral. Igualmente, se sente tristeza quando é desleal ou egoísta ou pre-
guiçoso terá às vezes mais forças para superar as tentações do mal que se 
apresentam quase sempre com argumentos falaciosos. Se um jovem é bem 
educado em valorizar a conquista das virtudes que deseja adquirir e pro-
cura ter presente essa ideia na memória e na imaginação será muito mais 
fácil que chegue a possuí-las. Pelo contrário, se pensa constantemente no 
atrativo dos vícios que deveria evitar (um atrativo pobre e enganoso, mas 
que sempre existe e cuja força não deve ser desprezada) o mais provável 
é que o inegável encanto que sempre têm os erros lhe faça mais difícil se 
desprender deles.
É importante, nesta fase que o apetite racional vai emergindo da razão 
prática, que os educadores auxiliem os educandos a perceber que a alegria 
que nasceu neles foi fruto de um amor mais profundo ao próximo — mentir 
X ser sincero, desleal X leal, preguiçoso X serviçal — e que este amor ao ou-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 111
tro será fonte de fortaleza, de motivação, de maior constância para perseverar 
nas metas e objetivos da vida. Que é necessário haver um amor transcen-
dente para se ter força de vontade, pois só existindo esse amor será possível 
suplantar o subjetivismo egoísta que todo o ser humano carrega consigo.
Aos poucos, com o passar do tempo, o jovem irá amadurecendo neste 
amor racional e conseguirá ir superando os amores emotivos, sempre mais 
superficiais e efêmeros. Estes avanços na virtude o levarão a identificar a 
virtude com a conquista da verdadeira liberdade e felicidade, e comprova-
rão as promessas aristotélicas.
4. Conclusão
Pesquisas recentes têm demonstrado a existência de motivação ética 
por parte de alguns professores do ensino básico36, porém elas também têm 
detectado que essa motivação muitas vezes é superficial e inconsistente.
Procuramos mostrar neste artigo, que essa motivação pode ser forta-
lecida caso os professores olhem mais profundamente para os seus alunos. 
Referimo-nos a possíveis deficiências filosóficas/antropológicas emergi-
das, nos últimos anos, na educação. Parece-nos que os desvios podem ter 
tornado o olhar incompleto ou até errado nos educadores, privilegiando 
mais os aspectos intelectivos da pessoa humana do que os volitivos e afe-
tivos. Fomos vendo como esta desordem educacional potencializou mais 
a razão abstrata, aquela que favorece a aquisição do conhecimento, da ci-
ência, da sabedoria, e empobreceu o desenvolvimento da razão prática, na 
perspectiva de Tomás de Aquino. Segundo o filósofo, esta razão prática 
tem a função de orientar a afetividade e fortalecer a vontade do ser huma-
no para alcançar uma maior realização existencial. Para que isto aconteça, 
é necessário também o ensino-aprendizagem da ciência das virtudes éti-
cas, que se deve dar primordialmente na família, mas, depois, também na 
escola, em profunda sintonia. Este aprendizado da ciência ética deve ser 
iniciado desde o começo da vida escolar, principalmente com o exercício 
das virtudes da temperança e da fortaleza, que têm a função de moderar e 
potencializar, respectivamente, os apetites afetivosda concupiscência e da 
irascibilidade. Estas virtudes podem ser estimuladas, primeiro, com a pró-
pria exigência escolar, pois o conteúdo específico de cada disciplina tem, 
entre outras funções, o papel de iluminar a razão prática para que favoreça 
36 MALHEIRO DE OLIVEIRA, J. A Motivação Ética no Processo de Ensino/Aprendizagem na Formação de 
Professores do Ensino Fundamental. Tese de doutorado, UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.
112
a virtude da prudência a refletir, ponderar e decidir numa escolha conve-
niente. E, em seguida, na própria vivência escolar, promovendo inúmeras 
ações educativas de ordem material e social no ambiente.
Concluímos, portanto, que se os professores olharem para a totalida-
de dos seus alunos, vislumbrando um desenvolvimento harmônico de todas 
as suas potencialidades racionais, volitivas e afetivas, durante o processo 
de ensino/aprendizagem, privilegiando não só o crescimento da razão abs-
trata com um conteúdo exigente, mas também, em paralelo, o progresso 
da razão prática, ficarão mais profundamente motivados a ensinar a ética 
das virtudes, primeiro com o próprio exemplo na vida pessoal e escolar, e 
depois, com o ensino teórico e prático. Sentir-se-ão motivados porque per-
ceberão que sua missão de educadores consistirá muito mais que uma mera 
passagem de conteúdos específicos. Reconhecerão que a função de um 
educador é antes de tudo um formador de uma pessoa humana única e in-
substituível, que é seu aluno. Este só conseguirá descobrir o sentido da sua 
vida se for auxiliado a deslumbrar que existe para os outros. A necessidade 
de transcendência só será satisfeita quando aprender e viver o dinamismo 
próprio das virtudes éticas e a suplantar uma subjetividade egoísta.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 113
REFERÊNCIAS
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pletas de Sigmund Freud, v. XIX. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Imago, (1923), pp. 
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ROQUEÑI, J.M. Educación de la Afectividad: Una propuesta desde el 
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CAPÍTULO 23
AJUDAR O JOVEM A DESCOBRIR 
A IMPORTâNCIA DOS VALORES 
E DOS LIMITES:
UMA URgÊNCIA PARA A CIDADANIA!37
Ao nos depararmos nos noticiários com jovens de classe média abas-
tados que agem de forma cruel e infra-humana, matando, por exemplo, sua 
própria família, ou então diante de pais que jogam o próprio filho recém-
nascido no pára-brisa de um carro por raiva, é cada vez mais comum nos 
perguntarmos: o que é que está acontecendo com a humanidade? Como 
é possível que um ser humano possa chegar a estes níveis de violência e 
insensibilidade? O que será que leva essas pessoas a perderem totalmente 
a racionalidade e a virarem “bichos do mato”?
Apesar de haver diversas possíveis respostas para estas indagações — 
sejam de índole médico-psiquiátrica, sociológicas, filosóficas, religiosas, 
educacional, etc. — e de que, portanto, haveria que se pesquisar, caso por 
caso, para não se cair em generalizações perigosas e superficiais, acredito 
que em todas elas possa haver uma grande parte de culpa na deficiência, 
desde a infância, da educação do prazer. Uma deficiência que foi crescen-
do, desde os anos 70, paulatinamente, década por década, mas que, atual-
mente,— qualquer pai e educador percebem claramente — está já chegan-
do a níveis bastante preocupantes…
Se observarmos atentamente a figura 1, podemos descobrir o funcio-
namento, mais ou menos generalizado, dos mecanismos antropológicos de 
qualquer criança, desde os seus primeiros passos até à maturidade. Qual-
quer pai, educador, psicólogo, etc., tem experiência de que a dificílima 
tarefa de educar consiste justamente em ir fortalecendo, ano a ano, passo 
a passo, num grande exercício de paciência, a inteligência e a vontade do 
37 Publicado no Livros DIREITO E CIDADANIA. Editora da Universidade Federal de São João Del Rei. Pg. 
109-116. 2003
116
“pimpolho” de modo que consiga que toda a sua carga afetiva-sentimental, 
instintiva-passional e os seus sentidos-gostos sejam moderados e direcio-
nados para as grandes metas da vida. Antes da inversão da “chaveziinha” 
(< ? >), conforme a figura, qualquer criança viverá sob o domínio do prazer 
sensível e identificará — o que é um dos maiores enganos deste início de 
século — felicidade com prazer. Se qualquer pesquisador educacional per-
guntar a qualquer adolescente o que lhe torna feliz ou o que ele identifica 
como felicidade, descobrirá que para uns será dormir bastante e a qualquer 
hora, comer o que lhe der na “telha” e nas melhores praças de alimentação, 
divertir-se nos mais diversos recursos audiovisuais que a indústria eletrô-
nica oferece para todos os gostos, viajar bastante e em todo feriadão, ir às 
festas mais badaladas e liberadas da “night”: enfim, identificará com as 
alegrias materiais, que são fugazes, rápidas, não deixam muita coisa no 
“ser” e, apesar de terem uma contribuição importante na felicidade, não são 
nem de longe o mais importante.
Buscar o prazer e evitar a dor
Noutros casos, o pesquisador detectará que o jovem adolescente identi-
ficará a felicidade com “fazer o que se gosta e fugir e/ou adiar o que custa”: 
é a dinâmica própria da velha doença dos sentimentos desvairados que se 
chama sentimentalismo. Sentir-se bem todo mundo gosta e deseja. O pro-
blema não está nisso. O problema está em parar nisso: em colocar o fim da 
vida nisso, pois, como será possível alcançar os ideais altos a que todo o ser 
humano normal anseia ou conseguir almejar uma capacidade séria e forte de 
compromisso, somente se sentindo bem na vida? Por fim, outros ainda ale-
garão que felicidade é ficar na minha “bolha”: no meu quartinho, na minha 
caminha, na minha mesinha, com ar condicionado, frigobar, computador-tv-
videogame-DVD, cachorrinho, etc., livre dos perigos da vida…
Podemos observar, portanto, que toda a criança, nos primeiros anos 
de sua vida, é “naturalmente” egoísta e tremendamente hedonista (prazer 
pelo prazer, sem porquês, sem medidas, sem limites).
Como se já não bastasse toda esta força negativa da própria natureza 
humana da criança para baixo, vem se somando, desde os anos 70, uma 
outra carga negativa que é a força do meio em que toda a criança vive. É 
já lugar-comum afirmar a força que exercem hoje os meios de comuni-
cação — TV, outdoors, internet, filmes, músicas etc. — nas escolhas dos 
jovens e adolescentes.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 117
A primazia dos sentimentos
Se fizéssemos uma exploração e rastreamento histórico-filosóficos 
— aqui daremos somente umas breves pinceladas — desde a idade mé-
dia até ao início doséculo XX, com muita facilidade conseguiríamos ir 
percebendo que o domínio da inteligência e/ou da vontade sempre foram 
se revezando na primazia — numas épocas o grande “valor” social eram 
ora as conquistas e as guerras ora as grandes descobertas; ora o heroísmo 
do além-mar ora o mundo das ideias — mas nunca se deixaram perder ou 
rebaixar pelo mundo dos sentimentos e dos afetos. No início do século 
passado, influenciados tanto por alguns filósofos que, reagindo a tanto ra-
cionalismo e cientificismo humano, “lançaram no mercado” a supremacia 
dos sentimentos, quanto por um rápido desenvolvimento tecnológico, que 
oferece ao mundo conforto e prazer jamais imaginados pelos nossos ante-
passados, a sociedade se “vendeu” ao prazer… Durante todos estes anos, 
esta idolatria foi crescendo e ganhando espaço e, nos dias atuais — com a 
revolução tecnológica que permitiu a globalização —, parece que estamos 
chegando perto do seu ápice…
O fato é que esta força social é a grande motivação de muitos pais 
para trabalharem 12 horas por dia e se matarem irracionalmente para ga-
nhar muito dinheiro que permita, primeiro “ter” para curtir a vida e poder 
mostrar para os outros que “têm”; e depois, oferecer aos filhos aquilo que 
a sociedade dita que é felicidade. É a grande responsável para que os pais 
poupem sofrimento aos filhos, custe o que custar, ao invés de lhes ensinar 
— aos pouquinhos — como enfrentar o sofrimento e dar-lhes um sentido 
na hora da dor. É o que está movendo o adolescente a fazer de tudo para 
se “sentir” feliz de forma errada e nociva.
Na figura 2, podemos observar o que acontece quando a força negativa 
da natureza da criança se soma a essa força social dominante nos dias de 
hoje. Qualquer pai ou mãe que analise com profundidade as consequências 
nocivas que gera essa resultante de forças, só pode e deve ficar, de fato, bas-
tante preocupado. Perceberá que muitas delas se identificarão com algumas 
das “chagas” sociais que tanto se comentam atualmente nas reportagens dos 
jornais e, quem sabe, se encontram em sua própria família ou na escola.
Uma criança que identifica felicidade com prazer, com o tempo, fa-
cilmente se tornará um consumista e materialista: só se “sentirá feliz” se 
puder ir ao shopping todos os fins de semana e comprar a 20ª calça para a 
festa da amiguinha; terá vergonha de ir ao colégio se o pai não tiver o carro 
do ano; fará de “tudo”, se precisar, para conseguir ter mais dinheiro…
118
Uma criança que é educada na dinâmica do sentimentalismo — fazer 
só o que se gosta e fugir de tudo o que custa — será, em primeiro lugar, 
uma pessoa fraca de vontade: não terá capacidade de alcançar os ideais 
altos que exigem muita garra e fortaleza e será um inconstante infeliz; não 
conseguindo conquistar esses ideais e sendo “discriminado” pela vida, com 
muita probabilidade se tornará uma pessoa depressiva — já a chamam a 
doença do século XXI! — e imatura, porque não consegue vaga na facul-
dade, no mercado de trabalho, não é feliz no namoro, não tem alegria na 
vida… Para quem se encontra num estado interior assim, passar para a vio-
lência é um pulinho. A violência da classe média é, na maioria das vezes, 
reflexo da própria fraqueza e da falta de amor que encontra na sua família, 
na escola, nos amigos. Nas classes menos privilegiadas, além desses desa-
justes, existem fatores de complexo de inferioridades, falta de esperança, 
e de puro abandono. Acho que já conseguimos responder agora às indaga-
ções do início deste artigo.
Uma pessoa fraca, depressiva e violenta — queira ou não queira — se 
tornará uma pessoa solitária, sem amigos e sem amores… Fica fácil entender 
agora por que muitos jovens hoje se escondem — se alienam, se refugiam 
— nas drogas e nas mais diversas modalidades do sexo? Por que parecem 
“bichos do mato” ? Quantos estudiosos deste tema não trabalham estas raízes 
mais profundas do ser humano e ficam apenas na metade do caminho…
Por mais alarmista que possa parecer este artigo, é uma pena que 
tenha que reconhecer que, como consultor educacional e com experiência 
de mais de 28 anos na área educacional, esta seja uma realidade muito pró-
xima. Em todos os exemplos anteriores, poderia citar nomes e sobrenomes 
de inúmeros casos iguais ou semelhantes.
Mostrar onde está a verdadeira felicidade
O que fica fácil concluir, no fim deste artigo, é que é necessário e 
urgente investirmos pesado na educação dos nossos jovens. Que é preciso 
mostrar-lhes que a felicidade não está no prazer desvairado e irracional, 
mas no prazer certo, no lugar certo, na medida certa e com a finalidade 
certa. Que para isso é preciso aprender, desde cedo, a dizer “não” a muitos 
desejos e impulsos. Que quando são bem explicados os porquês dos “não”, 
eles não só não traumatizam — como já se disse muito por aí — mas os 
libertam, e no fundo se está dizendo “sim” para a verdadeira felicidade, 
para a verdadeira realização, para os verdadeiros amores.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 119
Que não é muito inteligente buscar um prazer imediato, irrefletido e 
animal, que conduza depois a tanta tristeza, depressão e fossa que duram, 
às vezes, uns períodos longos, ou até a vida toda.
Está na hora, como mostram as figura 3, de se investir intensamente 
nas alegrias da inteligência, dos valores humanos, da descoberta do senti-
do da vida, da cultura, das convicções firmes. Como também chegou o mo-
mento de resgatar o papel fundamental que tem, no equilíbrio das paixões 
e na harmonia dos sentimentos, a conquista da vontade, — confira figura 
4 — do amor real e da verdadeira amizade.
Somente assim será possível darmos às nossas crianças capacidade 
de enfrentar e superar toda a pressão interna e externa que sofrem todos os 
dias; e dar-lhes a possibilidade de vislumbrar horizontes mais humanos.
Figura 1
120
Figura 2
Figura 3
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 121
REFERÊNCIAS
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EUNSA,1999.
ZAgURY, T. Limites sem trauma. Rio de Janeiro: Record, 2001.
CAPÍTULO 24
AVALIAçãO EDUCACIONAL: EM 
BUSCA DA INDIVIDUALIZAçãO
38
1. Introdução
Há muito tempo, educadores, sociólogos e outros profissionais liga-
dos à educação, discutem as diversas formas de avaliação no processo edu-
cacional existentes na comunidade e procuram achar a forma mais justa e 
equilibrada que alcance de fato os objetivos desejados.
Cada vez mais, esses profissionais são unânimes em apontar para ou-
tras formas de avaliação que substituam as chamadas tradicionais. Entre-
tanto, a sociologia da avaliação existente nos dias de hoje, é, às vezes, um 
pouco apegada aos valores antigos e por isso com fortes resistências para 
mudança. Muitos professores ainda preferem a segurança e a tranquilidade 
que oferece um sistema de provas e notas no final do semestre, como tam-
bém os pais desses alunos.
Segundo Patrícia Broadfoot — autora de Assessment, Schools and 
Society, que constitui um dos trabalhos de referência pioneiros no campo 
de análise sociológica da avaliação — “pode argumentar-se que as práticas 
de avaliação constituem um dos mais claros indicadores da relação entre 
escola e a sociedade, pois elas fornecem a comunicação entre as duas” 
(Broadfoot, 1979, p.11). Por isso, abrir-se a outras formas de avaliação 
pode traduzir às vezes — e sob certo aspecto justo — um medo de perder 
essa comunição. Mas é preciso enfrentá-lo. Somente esta coragem permiti-
rá alcançar níveis de excelência em avaliação.
Citando novamente a autora aludida anteriormente,
Uma sociologia da avaliação deve abranger toda a variedade de ativi-
dades avaliativas no contexto do sistema educativo, desde os julgamentos 
que os professores fazem sobre cada aluno na sala de aula, até aos vários 
e mais formais modosde julgar o progresso dos alunos na escola como 
38 Publicado na Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro. V.11, nº 39, 
pg.222-231, junho, 2003.
124
um todo, que possibilitam a responsabilização do professor, da escola, das 
autoridades locais e, em última instância, de todas as formas de provisão da 
educação a nível nacional […] (Broadfoot, 1979,p. 198).
A autora deixa claro que a abertura da avaliação para outras formas menos 
tradicionais exigirá também uma mudança na postura aos níveis micro, meso e 
macro do sistema educativo, seja, por exemplo, nos exames vestibulares, seja na 
própria postura por parte dos órgãos fiscalizadores do processo educacional.
2. A avaliação como instrumento pedagógico
Qualquer professor que tenha um mínimo de experiência em sala de 
aula sabe que existem vários fatores internos e externos que condicionam 
o aprendizado de seus alunos.
Os fatores internos podem ser diferenciações nas capacidades intelec-
tuais, perceptivas, de memória, de emotividade, de organização — interna 
e externa —, de relacionamento, de motivação, etc.
Os fatores externos podem ser diferenciações nos níveis de estrutu-
ração familiar, de condição social, de cultura, de distanciamento da escola, 
de segurança, de necessidades laborais, etc.
Estes fatores juntos e misturados numa sala de aula evidenciarão uma 
gama bastante diferenciada de alunos com capacidades e habilidades diver-
sas. O tratamento, decorrente desta clientela, terá que se adequar, portanto, 
ao ritmo de aprendizado de cada aluno. Uma despreocupação desta realida-
de provoca, muitas vezes, traumas e alienações indesejadas.
Uma consequência imediata desta alienação é o que poderíamos chamar 
alienação negativa. O aluno com capacidades diferentes ou ritmos mais lentos 
no aprendizado, por ser tratado da mesma forma que os seus companheiros 
que tenham outras capacidades mais valorizadas pelo professor ou que sejam 
mais rápidos na construção do seu conhecimento, terá uma tendência natural 
— cada vez maior — de alienação, que, com o tempo, será — como já é na 
prática — um dos causadores fortíssimos de evasão escolar ou, pelo menos, de 
desmotivação para alcançar índices mais elevados de aprendizado.
Outra consequência também bastante nociva, mas, infelizmente, muito 
frequente hoje em dia em nossa sociedade, provocada justamente por uma ava-
liação “mercantilista”, é a chamada má emulação: uma busca descontrolada 
e desenfreada por diferenciar-se, por valorizar-se, um pequeno grupo (ou até 
individualmente) diante dos companheiros de classe, buscando o que chamei 
uma alienação positiva. Muitas vezes, esta alienação é provocada pelos pró-
prios professores que avaliam somente pelos métodos tradicionais das provas, 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 125
privilegiando sempre os mais inteligentes. Outras vezes, é a própria instituição 
de ensino que, tendo em vista interesses muito mais econômicos que educacio-
nais, explora seus alunos como num autêntico “escambo” escolar.
Aparece então a avaliação normativa como a modalidade mais ade-
quada, incentivando sistematicamente a comparação e a competição, o que 
nos parece de altíssimo risco quando estão em jogo pessoas humanas que 
precisam ser educadas democraticamente e inseridas socialmente com as 
mesmas oportunidades.
Acreditamos que deva haver sim a boa emulação, como forma de 
incentivo, onde o professor, através da avaliação, motiva uma sala de aula 
a dar tudo de suas capacidades criativas e fomenta a própria iniciativa do 
seu alunado. O professor deve ir somando, ao longo do processo de ensino-
aprendizado, a avaliação de um trabalho de campo, de uma apresentação, 
de uma discussão, de uma prova, de uma leitura, incentivando dessa forma 
todos os alunos, mas nunca apenas um pequeno grupo com maiores capa-
cidades, que vai sempre bem nas provas. A avaliação tem que ser sempre, 
portanto, um meio e nunca um fim. Aqui entra justamente a criatividade do 
professor que deve procurar valorizar as capacidades e habilidades de os 
alunos de uma sala de aula e avaliá-las adequadamente. Este é, sem duvida, 
o grande desafio dos professores dos dias de hoje, pois, com tantas turmas 
sob sua responsabilidade e tão pouco tempo para o seu bom desempenho, 
se torna muito difícil levar à prática tarefa tão complexa. É preciso, portan-
to, achar esses caminhos e estar disposto a abrir-se a novas mudanças.
Vejamos, abaixo, o equilíbrio que qualquer professor tem que ter em 
conta quando pensa na difícil tarefa de avaliar seus alunos:
Figura 1. Equilíbrio difícil da avaliação
Tendo claro a necessidade de uma diferenciação no tratamento e rela-
cionamento pedagógico entre professores e alunos, surge, como decorrên-
126
cia, a busca por um sistema de avaliação que enfoque mais o aprendizado 
de cada aluno e não simplesmente o aprendizado de todos alunos de uma 
sala de aula. Que se busque muito mais a individualização que o coletivo. 
Que a avaliação esteja muito mais voltada para a prática pedagógica, evi-
tando assim as possíveis alienações dos alunos.
Na literatura mais recente — cf. Hadji (2001), Perrenoud (1999), Lu-
ckesi (2001), Penna Firme (1994), entre outros — a avaliação formativa, a 
negociação da avaliação e a transferência da responsabilidade da nota — 
não toda, mas pelo menos uma parte — para o aluno, de forma integrada, 
são formas que têm ajudado sensivelmente a alcançar resultados de avalia-
ção mais justos e democráticos.
3. A avaliação formativa
Quando os professores praticam a avaliação formativa, a coleta de 
informações sobre a aprendizagem dos alunos pode ser realizada por uma 
pluralidade de métodos e técnicas que incluem desde o recurso à memória 
que o professor guarda das características dos alunos até às mais diver-
sificadas e conhecidas estratégias como a observação livre, a observação 
sistemática, a auto-avaliação, a entrevista, o trabalho de grupo e outras for-
mas diferentes de interação pedagógica, como as próprias provas e testes 
criteriais. Conforme nos diz um especialista na área se o professor pretende 
identificar problemas sentidos pelos seus alunos, se, em vez de constatar 
a existência de dificuldades, pretende entendê-las e enfrentá-las, terá que 
recorrer o mais possível a diferentes estratégias de análise e registro do que 
se está passando na sala de aula (Cortesão, 1993,p.31)
Usando deste tipo de avaliação, o professor e o aluno terão condições 
de ter informações a tempo, durante o processo de ensino aprendizagem, e 
não somente no final, como é nos métodos de avaliação tradicional, permi-
tindo dessa forma guiar e otimizar as aprendizagens em andamento. Por isso, 
Hadji (2001) define a avaliação formativa como uma avaliação informativa, 
onde informa aos dois principais atores do processo quais as estratégias edu-
cacionais que devem ser aplicadas para corrigir as adotadas anteriormente.
Segundo Perrenoud (1999) a pedagogia que trata igual os desiguais 
produz desigualdade e fracasso escolar. Por isso, é necessário buscar es-
tratégias pedagógicas diversificadas, a fim de que a diferenciação não in-
troduza mais desigualdades. É necessário, por isso, ir mudando a cultura 
existente — em grande parte pelo menos — do corpo docente da escola 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 127
— seja ela pública ou privada — para uma maior flexibilidade de trabalho, 
buscando acomodar-se cada vez mais aos sujeitos diferentes. Um currículo 
estritamente comum para todos e em todos os seus componentes pode ser 
uma proposta inviável. É importante que se vá descobrindo opções ou cur-
rículos diversificados para as necessidades particulares de estudantes com 
atrasos significativos, evitando ao máximo tudo o que possa provocar, com 
essa diferenciação, qualquer pequena segregação em sala de aula.
gimeno (2001) apresenta um modelo que pode facilitar bastante este 
trabalho de avaliação formativo:
Figura2. Diversificar a pedagogia ou tornar o currículo diferente?
 
(fonte: A Educação Obrigatória: Seu sentido Educativo e Social, cap. V)
A dimensão bipolar do currículo comum ou do diferenciado, por um 
lado, e a dimensão pedagógica com os pólos da homogeneidade e da diver-
gência (quanto ao desenvolvimento do currículo e sua aprendizagem), por 
outro, podem cruzar-se, resultando situações práticas distintas.
É preciso debater e alcançar consensos sobre o que deve ser comum 
para todos, distinguindo-os daquilo que, sendo valioso, não deva fazer par-
te necessariamente de um currículo comum.
128
A diversidade dos sujeitos deve ser respondida com a diversidade de 
pedagogia. É preciso descobrir meios — dentro ou fora da sala de aula — 
que criem ambientes de aprendizagem particulares. Uma pedagogia para a 
diversidade não pode ser apoiada na homogeneidade de formas de traba-
lhar que exijam de todos o mesmo.
Como aponta Perrenoud (1999) um ensino diverso ou divergente é 
positivo para todos quando as atividades e as interações que se estabelecem 
fazem com que cada estudante se encontre em condições didáticas propí-
cias para ele, ou seja, que sempre possa obter algum proveito do que faça, 
seja qual for o nível de competência do qual parta.
Para a aplicação desta avaliação formativa é necessário ultrapassar 
diversos obstáculos, muitos deles cristalizados ao longo de diversas gera-
ções educacionais.
Tanto Hadji (2001) quanto Perrenoud (1999) são da opinião que a 
existência de representações inibidoras não favorecem esse tipo de avalia-
ção. A necessidade de fazer provas, de aplicá-las, de corrigi-las, etc., por 
exemplo, pode assumir ao menos um terço, às vezes a metade ou mais, 
do tempo de trabalho, tanto em aula, com os alunos, quanto na prepara-
ção. Outras vezes, simplesmente, o corpo docente não conhece outros ins-
trumentos de coleta de dados no processo de avaliação ou então se sente 
inseguro para avaliar sobre o ritmo da construção do conhecimento e da 
aprendizagem dos alunos, afirmando que esse trabalho é para especialistas 
da área. Por fim, um último obstáculo que pode interferir sensivelmente é 
a inércia dos atores desse processo. Tanto o professor, que precisa dedicar 
muitas horas mentais e físicas com os seus alunos, quanto o alunado, que 
terá que estar continuamente usando de suas capacidades e habilidades du-
rante o processo de aprendizagem, dentro e também fora do período da es-
cola, tendem a preferir métodos menos exigentes e que lhes peçam menos 
esforços. É preciso despertar-lhes, com certa frequência, que as vantagens 
desse sistema pode ser grande e que ambos com frequência saem ganhan-
do. A título de exemplo, provas longas e demoradas podem muito bem ser 
“quebradas” em provas menores, tomando o mesmo tempo de correção das 
longas para o professor e exigindo praticamente o mesmo para os alunos, 
com a diferença de poderem assimilar melhor a matéria e de descobrirem 
as suas próprias deficiências durante o processo de aprendizagem.
Para que se possam alcançar níveis de motivação que vençam essas 
resistências, é necessária uma política social forte de valorização do papel 
do professor. Sem essa auto-estima elevada, dificilmente o professor con-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 129
seguirá desempenhar, com entusiasmo e constância, esse trabalho de artis-
ta, que é o verdadeiro trabalho do professor: ir trabalhando, com paciên-
cia e amor, pessoas que desempenharão no futuro um serviço à sociedade, 
transformando-a desde dentro para caminhos de paz e de justiça. Para isso, 
é necessária uma política salarial mais justa, de acordo com os padrões 
econômicos existentes em outras profissões. Caso contrário, além de ser 
muito difícil de atrair pessoas capazes para esse trabalho exigente, cada vez 
será mais dificultoso desenvolver e manter essas pessoas na comunidade 
escolar, pois faz parte do ser humano buscar melhores condições de vida.
4. A negociação na avaliação
Segundo Thereza Penna Firme, durante o século XX, a avaliação 
educacional passou por 4 gerações: a mensuração, que se concentrava 
na elaboração de instrumentos ou testes para verificação do rendimento 
escolar; a descritiva, na qual o avaliador estava muito mais concentrado 
no descrever padrões e critérios, embora ainda bastante técnico em sua 
atuação; a de julgamento, na qual o avaliador assumiria o papel de juiz, 
julgando sobre o conjunto de todas as dimensões do objeto, inclusive sobre 
os próprios objetivos, valorizando muito o mérito e a relevância; e, por fim, 
a da negociação.
Observemos a sua opinião sobre a negociação:
Na negociação o consenso é buscado entre pessoas de valores diferen-
tes, respeitando-se, contudo, os dissensos identificados. Nessa pers-
pectiva, quanto maior a participação na escolha das preocupações, das 
questões avaliativas e dos métodos, e na interpretação dos resultados, 
maior o nível de negociações e mais aguçada é a capacidade de respon-
der aos interessados no processo e no objeto da avaliação. É, pois, as-
pecto crucial de tal envolvimento, a identificação desses interessados.
A quarta geração de avaliação revela, pois, uma evolução do conceito 
de avaliação, adentrando a década de noventa. Trata-se de uma aborda-
gem madura, que vai além da ciência porque capta também os aspectos 
humanos, políticos, sociais, culturais e éticos, envolvidos no processo. 
(Penna Firme, 1994, p. 8)
Quando o professor é ajudado a captar esses diversos aspectos alu-
didos por Penna Firme, poderá ter uma maior facilidade para conseguir 
perceber a diversidade do seu aluno e, principalmente, o seu contexto his-
130
tórico. Essa sensibilidade — que nem sempre é uma qualidade comum em 
todos os professores — é essencial para saber se, de acordo com as suas 
circunstâncias, é o momento, por exemplo, de passar uma prova ou um tra-
balho, ou ainda de negociar qual o melhor método de avaliação de acordo 
com aquele tipo de conteúdo ou período escolar.
Uma preocupação importante, ao se falar de negociação, é que seja 
feita com grande transparência, sempre antes de iniciar qualquer processo 
de ensino-aprendizagem e que nunca dê impressão que seja sinônimo de 
“negociata”… A avaliação, nesse caso, não estaria ao serviço da aprendi-
zagem, mas, pelo contrário, ao serviço do comodismo e seria um autêntico 
desserviço educacional.
5. As iniciativas dos alunos
Uma última ideia que pode facilitar bastante e potencializar as capa-
cidades e habilidades dos alunos, tendo em vista a sua individualização, e 
alavancar positivamente o processo de avaliação, é o professor propor aos 
seus alunos pequenas iniciativas extra-curriculares, no período fora da esco-
la, como forma de incentivar sua própria avaliação. Pequenas tarefas como, 
por exemplo, assistir a um filme e trazer uma ficha com alguns comentários; 
ler um clássico da literatura universal; ir a uma mostra cultural na cidade e 
deixá-lo falar em sala de aula; ler e comentar algum artigo de jornal que seja 
tema formativo; etc. Essas propostas seriam colocadas como forma de suges-
tão e não obrigatórias, acrescentando somente sua própria avaliação final.
Acreditamos que este processo de avaliação beneficiaria bastante a di-
versidade do alunado, pois permitiria ir satisfazendo as diferentes aptidões 
dos estudantes e, ao mesmo tempo, fomentando-lhes a própria iniciativa, 
transferindo para eles a responsabilidade de aumentar a sua avaliação. Desta 
maneira, o professor conseguiria desmistificar, em parte, a carga negativa da 
nota, tornando-a, inclusive, como fonte de motivação para trabalhar.
6. Conclusão
A diversidade e as desigualdades entre estudantes são aspectos que 
se manifestam em cada escola e em cada sala de aula. São desafios e fonte 
de dificuldades para a organização das escolas, para o desenvolvimento 
do currículo e para os métodos pedagógicos. O problema tem uma mani-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 131
festaçãoprévia à sua consideração nesses planos: a existência de escolas 
diferentes entre si, porque acolhem estudantes desiguais e diferentes. Essa 
dessimetria é produzida espontaneamente pelo fato de as escolas estarem 
localizadas em contextos sociais diferentes, o que faz com que a população 
escolar que frequenta cada escola tenha condições peculiares. As desigual-
dades que nascem com a distribuição geográfica da população se traduzem 
em desigualdades entre escolas localizadas em diferentes logradouros: ru-
rais ou urbanas, situadas em subúrbios ou em áreas residenciais.
Tendo em vista esta realidade, é necessário que, cada vez mais, cada 
escola, cada professor vá apontando para a própria autonomia, seja no 
currículo, seja na avaliação, seja ainda nos próprios métodos de ensino-
aprendizagem. Um direito que está contemplado na nova LDB, mas, infe-
lizmente, pouco visualizado na comunidade acadêmica.
O artigo 14 dispõe sobre a gestão da escola pública pontuando que cada 
sistema de ensino definirá as normas da gestão democrática, respeitando as 
peculiaridades do local e aponta a necessidade de participação dos profissio-
nais da educação na elaboração do projeto pedagógico, bem como das comu-
nidades interna e externa, considerando seu Conselho Escola-Comunidade.
Segundo gadotti
A autonomia e a participação — pressupostos do projeto político peda-
gógico da escola — não se limitam à mera declaração de princípios con-
signados em algum documento. Sua presença precisa ser sentida no Con-
selho-Escola ou Colegiado, mas também na escolha do livro didático, no 
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, de atividades 
cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas assistir às reuniões.
Na gestão democrática deve estar impregnada por uma certa atmosfera 
que se respira na escola, na circulação das informações, na divisão do 
trabalho, no estabelecimento do calendário escolar, na distribuição das 
aulas, no processo de elaboração ou de criação de novos cursos ou novas 
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação dos re-
cursos humanos etc. A gestão democrática é, portanto, atitude e método. 
A atitude democrática é necessária, mas não suficiente. Precisamos de 
métodos democráticos de efetivo exercício da democracia. Ela também 
é um aprendizado, demanda tempo, atenção e trabalho. (2000, p.36)
Acredito que seja provável — se pensarmos numa perspectiva his-
tórica educacional de 1996 (na prática 1998/99) até agora — que o pouco 
tempo passado não tenha permitido à comunidade escolar adquirir ainda 
132
essa mudança de atitude, além de ainda lhe faltar experiência para desco-
brir o método mais eficiente e eficaz.
Sou da opinião que esta resistência ou passividade para lutar pela 
própria autonomia profissional é fruto de políticas ainda bastante centrali-
zadoras, que não só têm fomentado, ao longo da história, uma cultura de 
resignação e “obediência passiva” ao que vem de instâncias superiores, 
mas também impossibilidades legais.
Acredito que este seja o caminho para ir alcançando melhorias sensí-
veis na qualidade no ensino dentro da diversidade e pluralidade culturais.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 133
REFERÊNCIAS
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cipação.São Paulo: Cortez, 2000.
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Porto Alegre. Artmed, 2001
PENNA FIRME, Thereza. Avaliação: Tendências e Tendenciosidades. Ensaio: 
Aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 5-12, jan./mar. 1994
HADJI, Charles. A avaliação desmitificada. Porto Alegre: Artmed, 2001
PERRENOUD, Philipe. Avaliação: da excelência à regulação das apren-
dizagens. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
LUCKESI. C.C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposi-
ções. São Paulo: Cortez, 2001.
CORTESÃO, Luiza. A Avaliação Formativa: que desafios? Colecção 
Cadernos Pedagógicos. Porto: Ed. Asa., 1993.
BROADFOOT, Patrícia. Assessment, Schools and Society. New York: Me-
thuen, 1979.
gADOTTI, M e ROMãO, J. Autonomia da escola: princípios e propostas. 
São Paulo: Cortez, 2000.
CAPÍTULO 25
PROJETO POLÍTICO PEDAgÓgICO: 
UTOPIA OU REALIDADE?39
1. Introdução
O tema da autonomia da escola vem sendo colocado em pauta, mais 
intensamente, pelos estudiosos e pesquisadores da educação brasileira des-
de que os mecanismos legais e normativos da reforma educacional brasilei-
ra de 1996, através da Lei n° 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, abriram possibilidades e esperanças de mudanças.
O artigo 14 dispõe sobre a gestão da escola pública pontuando que 
cada sistema de ensino definirá as normas da gestão democrática, respei-
tando as peculiaridades do local, e aponta a necessidade de participação dos 
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico, bem como 
das comunidades interna e externa, considerando seu Conselho Escola-Co-
munidade. O artigo 15 da mesma lei dispõe sobre os níveis de autonomia 
que a escola pública pode e deve conquistar, sendo eles: administrativas 
e pedagógicas e de gestão financeira, sempre observando o disposto nas 
normas gerais de direito financeiro público.
A luta pela autonomia insere-se numa luta maior no seio da própria 
sociedade. Sua eficácia depende muito da ousadia de cada escola em expe-
rimentar o novo. Mas, para isso, é preciso percorrer um longo caminho de 
construção da confiança na escola, na capacidade de ela resolver seus pro-
blemas e dificuldades e de achar os melhores caminhos para a sua clientela.
Como diz Gadotti e Romão
A autonomia se refere à criação de novas relações sociais, que se 
opõem às relações autoritárias existentes. Autonomia é o oposto da 
uniformização. Autonomia admite a diferença e, por isso, supõe a par-
ceria. Só a igualdade na diferença e a parceria são capazes de criar o 
novo. Por isso, escola autônoma não significa escola isolada, mas em 
constante intercâmbio com a sociedade. (1997, pg. 47)
39 Publicado na Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro. V.11, nº46, 
pg.79-104, Janeiro/Março 2005.
136
Sou da opinião que descentralização e autonomia devem caminhar 
juntas. Trata-se, dentro de um mesmo nível de governo, de repassar algu-
mas decisões para as escolas de modo que participem, junto com a comuni-
dade escolar — interna e externa — da elaboração dos objetivos e projetos 
educacionais, reforçando a unidade do sistema.
Ao analisar os avanços alcançados nos últimos anos, com a nova LDB, 
pode-se dizer que o sistema educacional brasileiro já incorporou algumas 
tendências internacionais como a flexibilidade curricular, a do sistema de 
avaliação e a de organização administrativa e financeira; maiores facilidades 
na aceleração de estudos para alunos atrasados etc. Isso vem permitindo à es-
cola, através de seu Conselho-Escola, criar o seu Projeto Político Pedagógi-
co, evidenciando, portanto, que já existe um certo grau de descentralização.
Desde 1995, a política educacional brasileira vem implementando outras 
medidas tais como o reforço financeiro das escolas (dinheiro na escola), a des-
centralização da merenda escolar; a capacitação do corpo docente — realizada, 
em muitos casos, via educação à distância; a estruturação e implementação de 
amplo sistema de avaliação externa sobre a rede de escolas etc.
Segundo gadotti e Romão:
A autonomia e a participação — pressupostos do projeto político peda-
gógico da escola — não se limitam à mera declaração de princípios con-
signados em algum documento. Sua presença precisa ser sentida no Con-
selho-Escola ou Colegiado, mas também na escolha do livro didático, no 
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, de atividades 
cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas assistir às reuniões.
A gestão democrática deve estar impregnada por uma certa atmosfera 
que se respira na escola, na circulação das informações, na divisão do 
trabalho, no estabelecimentodo calendário escolar, na distribuição das 
aulas, no processo de elaboração ou de criação de novos cursos ou novas 
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação dos re-
cursos humanos etc. A gestão democrática é, portanto, atitude e método. 
A atitude democrática é necessária, mas não suficiente. Precisamos de 
métodos democráticos de efetivo exercício da democracia. Ela também 
é um aprendizado, demanda tempo, atenção e trabalho.(1997, p.36)
Percebe-se, por outro lado, na prática quotidiana dentro das escolas, 
que existem várias “forças educacionais” atuando em diversos lados e pare-
ce difícil alcançar uma “resultante” que permita a todos caminharem numa 
direção só quando se procura alcançar contextos maiores de autonomia. 
Talvez, por isso, algumas escolas, muitas vezes, não se sintam esperanço-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 137
sas e animadas a fazer seus Projetos Políticos Pedagógicos ou ainda, se os 
fazem, não conseguem realizá-los na prática. Nota-se que, apesar de estar 
contemplada na lei, a comunidade escolar parece que ainda está um pouco 
imatura e com dificuldades em achar o próprio caminho de sua autonomia 
e em driblar outros fatores que a dificultam.
Por isso, pareceu-me muito interessante fazer um estudo investigativo, 
sobre como diversas escolas do Município do Rio de Janeiro estão elaboran-
do seus Projetos Políticos Pedagógicos. Pretendo, neste artigo, compartilhar 
com a comunidade escolar, algumas das suas descobertas principais.
Como diz Vasconcellos:
O Projeto tem uma importante contribuição no sentido de ajudar a con-
quistar e consolidar a autonomia da escola, criar um clima, um ethos 
onde professores e equipe se sintam responsáveis por aquilo que lá acon-
tece, inclusive em relação ao desenvolvimento dos alunos. De certa for-
ma, é o Projeto que vai articular, no interior da escola, a tensa vivência da 
descentralização, e através disto permitir o diálogo consistente e fecundo 
com a comunidade, e mesmo com os órgãos dirigentes. (2002, pg. 21)
O objetivo deste trabalho foi, portanto, averiguar, justamente, quais 
são os caminhos e as estratégias — antes, durante e depois — que algumas 
escolas municipais do Rio de Janeiro estão adotando para a elaboração e 
execução do Projeto Político Pedagógico, a fim de auxiliar outras escolas 
a acharem seus próprios caminhos.
Este estudo pode ser desdobrado em algumas questões:
1º) o que faz com que algumas escolas consigam elaborar os seus 
Projetos Políticos Pedagógicos e outras não?
2º) com relação às que conseguem elaborá-los, por que algumas 
não são eficientes na sua aplicação?
3º) com relação às que conseguiram elaborá-los e lograram ser bem 
sucedidas na sua realização, quais foram os fatores internos e 
externos da comunidade escolar que favoreceram tal sucesso?
4º) Acreditei, desde o início, que obter respostas para as questões 
levantadas — de forma atualizada, pormenorizada e, na medida 
do possível, com grande grau de precisão — poderia resultar 
não só num maior entendimento do problema em foco, mas tam-
bém, através da reflexão sobre as experiências positivas e ne-
gativas das pessoas investigadas e das instituições, em apontar 
138
possíveis alternativas de encaminhamentos de Projetos Políticos 
Pedagógicos, decifrando os fatores internos e externos mais im-
portantes e decisivos para a sua realização.
2. Referencial teórico
A fim de embasar no aprofundamento deste estudo, depois de longa 
leitura em diversos autores que tratam sobre o tema, decidi apoiar-me em 
dois especialistas de planejamento como instrumento de transformação e 
em Projeto Político Pedagógico, Celso Vasconcellos e Moacir Gadotti.
Através desses autores, busquei conseguir um embasamento teórico 
sólido, para, em primeiro lugar, entender quais eram os principais elemen-
tos de um Projeto Político Pedagógico. Depois, pesquisar quais deveriam 
ser os passos sequenciais mais aconselhados para uma boa construção des-
se projeto. Compreender também como se deve criar o desejo/necessidade 
de se fazer um projeto político pedagógico. Por fim, estudar melhor os 
conflitos e tensões entre o que eles sugerem para a sua execução, em teoria, 
e o que pude observar depois na prática.
Naturalmente, existem outros expoentes no tema em foco. Confesso 
que, na leitura aludida anteriormente, em todos eles pude perceber uma linha 
condutora semelhante e uma forte sintonia, por onde pude concluir, com um 
grande grau de certeza, que estão nascendo na comunidade acadêmica novos 
rumos de uma escola mais justa e democrática e horizontes mais otimistas.
3. Metodologia e instrumentação utilizada
Com o intuito de obter uma maior visualização dos diversos proble-
mas em estudo e obter respostas para as questões colocadas anteriormente, 
entendi que a melhor metodologia a ser adotada identificava-se com a de 
natureza qualitativa, através de uma entrevista semi-estruturada — com 
perguntas abertas e semi-abertas, anotando as respostas durante as entre-
vistas — feitas a diretores e professores de algumas escolas públicas do 
Município do Rio de Janeiro. Acreditei que esta metodologia era a mais 
adequada para poder captar, com um certo espírito investigativo, as melho-
res soluções para o objeto principal deste estudo, além de que facilitaria o 
registro dos dados e a sua posterior análise.
Em paralelo, a fim de elucidar e glosar a pesquisa semi-estruturada, 
percebi, ao longo da investigação, a importância de adotar mais dois méto-
dos de pesquisa qualitativa: primeiramente, a entrevista não estruturada a 
alunos e funcionários, durante a vivência nas escolas — enquanto espera-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 139
va um professor ou nos intervalos entre uma entrevista e outra — escolhi-
dos pela observação de situações ordinárias e extraordinárias não previstas 
(exemplos: uma aluna triste e sozinha no recreio; uma aluna sendo expulsa 
do colégio por bater num colega e enfrentar toda a direção e a ronda escolar; 
uma funcionária antiga que me contasse os “segredos” da escola, etc.). Em 
segundo lugar, a entrevista também não estruturada aos pais de alunos na 
própria residência, juntamente com a observação da realidade descoberta 
durante as entrevistas. Acredito que a entrevista não estruturada poderia ser 
eficaz para a minha investigação, uma vez que, por não conhecer a fundo 
essas realidades, ficaria mais livre e aberto para obter dados mais realistas e 
menos preconceituosos de minha parte. Estive — precisou de um pouco de 
audácia — dentro de um morro da zona sul — e, garanto, foi decisivo para 
as conclusões deste trabalho. Não apresento uma análise do conteúdo dessas 
entrevistas não estruturadas, pois objetivavam apenas certificar-me do conte-
údo das entrevistas dos professores, foco principal deste trabalho.
Em quase praticamente todos os 30 professores entrevistados, amos-
tragem que considerei razoável para o objeto de estudo, pude perceber um 
“grito” guardado há anos. Um momento de desabafo misturado a um mo-
mento de entusiasmo meio descontrolado, incentivado pela esperança de 
conseguir, num futuro longínquo, tempos melhores. Enxerguei também, 
em quase toda a totalidade das entrevistas, uma mistura de sentimentos de 
fracasso, impotência e desânimo encobertados por uma certa vaidade de 
estarem sendo valorizados e escutados por um pesquisador da UFRJ.
Confesso que me chamou muito a atenção, ao longo das entrevistas 
realizadas, o “recado” único que cada um me passava, sem perceber. Era 
como se cada um fosse uma pincelada de um quadro que está em anda-
mento. Em todos, muitas coisas eram comuns. Porém, muitas outras reve-
lações, eram exclusivas.
Uma preocupação que tive, antes de realizar as entrevistas, foi a de-
finição de critérios segundo os quais seriam selecionados os sujeitos que 
iriam compor o universo de investigação. Esta questão é algo primordial, 
pois influência diretamente na qualidade das informaçõesa partir das quais 
será possível construir a análise e chegar à compreensão mais ampla do 
problema delineado.
Segundo Duarte (2002) a descrição e delimitação da população base, 
ou seja, dos sujeitos a serem entrevistados, assim como o seu grau de re-
presentatividade no grupo social em estudo, constituem um problema a ser 
imediatamente enfrentado, já que se trata do solo sobre o qual grande parte 
do trabalho de campo será assentado.
140
O critério principal adotado em relação à escolha dos professores, ten-
do em vista que o Projeto Político Pedagógico exige uma percepção razoá-
vel da realidade escolar e de uma visão histórica da escola e da comunidade 
escolar, mais ou menos longa e profunda, para captar suas necessidades, 
suas dificuldades, suas utopias, foi o tempo de magistério. Ao se examinar 
o quadro do perfil dos entrevistados — cf. tabela 1 —, poderá se verificar 
que a média de idade ficou em 20 anos. Em todas as escolas onde foram 
realizadas as entrevistas, não houve resistência contra esta exigência.
Tabela 1: Perfil dos entrevistados
PERFIL DOS ENTREVISTADOS
PROFESOR COLÉGIO ZONA CARGO / FUNÇÃO
TEMPO QUE 
LECIONA NA 
ESCOLA
TEMPO DE 
MAGISTÉRIO OBSERVAÇÕES
A1 A NORTE COORDENADORA P 15 ANOIS 20 ANOS
A2 A NORTE ARTES PLÁSTICAS 20 ANOS 29 ANOS
A3 A NORTE MATEMÁTICA 25 ANOS 29 ANOS já foi diretora adjunta
A4 A NORTE GEOGRAFIA 16 ANOS 40 NOS
A5 A NORTE ARTES 12 ANOS 30 ANOS
B1 B NORTE CIÊNCIAS 7 ANOS 8 ANOS
B2 B NORTE ESPANHOL 4 ANOS 8 ANOS
B3 B NORTE HISTÓRIA 3 ANOS 12 ANOS
B4 B NORTE MATEMÁTICA 10 ANOS 23 ANOS
B5 B NORTE HISTÓRIA 11 ANOS 20 ANOS
C1 C NORTE COORDENADORA P 13 ANOS 18 ANOS
C2 C NORTE PORTUGUÊS 5 ANOS 30 ANOS trabalhou 10 anos na SME
C3 C NORTE DIRETORIA 8 ANOS 17 ANOS
C4 C NORTE ARTES CÊNICAS 5 ANOS 13 ANOS
C5 C NORTE HISTÓRIA 3 ANOS 8 ANOS
D1 D NORTE ARTES PLASTICAS 10 ANOS 15 ANOS
D2 D NORTE 1º SEGMENTO 2 ANOS 4 ANOS
D3 D NORTE GEOGRAFIA 10 ANOS 15 ANOS
D4 D NORTE PORTUGUÊS 30 ANOS 30 ANOS
D5 D NORTE CIÊNCIAS 1 ANOS 10 ANOS
E1 E CENTRO INGLÊS 12 ANOS 30 ANOS já foi diretora adjunta
E2 E CENTRO CIÊNCIAS 8 ANOS 10 ANOS
E3 E CENTRO EDUCAÇÃO FÍSICA 6 ANOS 23 ANOS
E4 E CENTRO PORTUGUÊS 6 ANOS 26 ANOS
E5 E CENTRO HISTÓRIA 3 ANOS 15 ANOS
F1 F SUL GEOGRAFIA 5 ANOS 13 ANOS
F2 F SUL HISTÓRIA 29 ANOS 30 ANOS
F3 F SUL PORTUGUÊS 30 ANOS 30 ANOS
G1 G OESTE MATEMÁCA 5 ANOS 8 ANOS
G2 G OESTE DIRETORIA 16 ANOS 29 ANOS muitos anos de português
TOTAL: 30 média 11 ANOS
média: 
20 ANOS
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 141
Com relação à escolha das escolas, alguns critérios limitaram essa es-
colha. Primeiramente, achei que o mais importante era escolher aquelas que 
tinham ou já tinham tido o Projeto Político Pedagógico. Dificilmente conse-
guiria ser entendido pelos informantes caso nunca tivessem vivenciado — ao 
menos uma vez! — a construção e vivência desse projeto. Um segundo crité-
rio, que a escola fosse de ensino fundamental, visto que a base de todo o su-
cesso educacional está assentada nesses anos da 1ª à 8 ª série. Cada vez mais 
hoje se comprova que o fracasso escolar, os altíssimos níveis de evasão e o 
baixo aprendizado, seja nestes segmentos fundamentais, quanto no de ensino 
médio, é reflexo de uma grave deficiência no ensino e aprendizagem nesses 
primeiros anos de escolaridade. Como, com frequência, essas escolas estão 
sob a administração do Município, busquei somente escolas municipais, que, 
na sua maioria, têm uma média de 1000 alunos.
Com relação à localização dessas escolas, pude perceber que o fato 
de a cidade do Rio de Janeiro está circundada de favelas e a clientela des-
sas escolas ter uma representatividade muito grande dessas comunidades, 
tornando-as por isso bastante semelhantes, não importava muito definir a 
região da cidade. Entretanto, para garantir uma maior precisão na coleta 
de dados, resolvi escolher 7 escolas, espalhadas pelas regiões norte (4), 
sul (1), centro (1) e oeste (1) que me atenderam, pois houve duas (ambas 
na zona sul) que não se mostraram muito solícitas em me receber, pois 
percebi que estavam com vergonha de não terem o Projeto Político Peda-
gógico pronto. Poderia-se alegar que para um universo de mais de 1000 
escolas, esse número foi insuficiente. De fato, para um estudo mais pre-
ciso e exato, um número superior de escolas talvez se fizesse necessário. 
Porém, para um estudo mais investigativo sobre um tema ainda recente 
achei que essas escolas escolhidas somadas à experiência e informações 
de inúmeros professores que colaboraram comigo, de forma informal, na 
pesquisa, tornava-se suficiente. Para ter acesso a essas escolas, tive que 
apresentar meu projeto de pesquisa na Secretaria Municipal de Educa-
ção, onde o examinaram com cuidado (durou uma semana), para obter a 
devida autorização. Tendo-a em mãos, tive que me dirigir às respectivas 
Coordenadorias Regionais — CRE para conseguir uma nova autorização 
para poder entrar em cada escola.
Com relação ao cronograma de trabalho de campo, a elaboração da 
entrevista foi iniciada em março de 2003 e testada em maio de 2003. As 
entrevistas tiveram início em junho desse ano e foram concluídas em julho. 
142
Com relação à durabilidade das próprias entrevistas, levaram, em média, 
45 min cada uma.
As entrevistas foram condensadas estrategicamente nesse período de 
2 meses, exigindo talvez um ritmo mais intenso, para que a influência das 
respostas dos 30 professores somadas à observação, vivência, reflexão, etc. 
das 9 escolas visitadas me ajudassem a alcançar com mais sensibilidade as 
respostas que procurava e assim contemplar o quadro que ia sendo pintado 
diariamente. Penso que a estratégia funcionou muito bem.
4. Análise dos resultados
toda organização, seja ela industrial ou prestadora de serviços — como 
é uma escola — precisa ser administrada adequadamente para alcançar os 
seus objetivos com a maior eficiência e economia de ação e de recursos.
Onde quer que a cooperação de indivíduos, no sentido de alcançar 
um ou mais objetivos comuns, se torne organizada e formal, o componente 
essencial e fundamental dessa associação é a administração: a função de se 
conseguir fazer as coisas através das pessoas, com os melhores resultados.
Tendo claro esses conceitos, achei por bem que a melhor maneira de 
analisar as entrevistas que procuram desvendar, no fundo, um problema 
próprio da administração — o planejamento participativo — era vê-las sob 
a ótica da ciência da Administração, encaixando as respostas da entrevista 
nos âmbitos das diversas áreas de estudo dessa ciência.
Essas áreas definiriam as categorias de análise e algumas funções pró-
prias delas — que mais se destacaram nas entrevistas — as subcategorias.
Alguns pesquisadores decidem começar logo a descrever o material 
reagrupado dentro das diferentes categorias ou subcategorias da grade final 
de análise. Outros, em maior número, preferem efetuar compilações quan-
titativas e, mais tarde, dali fazer as constatações e interpretações relativas à 
repartição do material. Pessoalmente, optei pela segunda, pois me pareceu 
mais preciso e facilitador trabalhar com tantas respostas diferentes.
Depois de terminadas todas as 30 entrevistas, agrupadas as respostas 
nas categorias e subcategorias correspondentes descritas acima, os resulta-
dos aparecem na tabela 2:
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 143
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144
Como se pode verificar, os dados acima ajudam a responder a muitas 
indagações levantadas no início da pesquisa e de, alguma maneira, aponta-
ram em outra direção das minhas expectativas iniciais.
Quando comecei a investigação, minhas hipóteses sobre o por que 
dos professores não se envolverem no Projeto Político Pedagógico beira-
vam razões de ordem financeira e/ou de tempo. Entretanto, ao analisar os 
resultados constatei que os motivos reais e verdadeiros envolvem muito 
mais problemas humanos.
Após testar a primeira entrevista, descrita no capítulo anterior, pude 
perceber a necessidade de identificar separadamente as razões internas das 
pessoas — chamei de motivos intrínsecos — de se envolverem no PPP 
das razões externas — motivos extrínsecos — pois detectei que eram di-
ferentes. Algumas pessoas, por exemplo, compromissadas realmente com 
a educação, dispostas a sacrificarem o fim de semana para se reunirem a 
fim de elaborar o PPP — portanto, motivos intrínsecos favoráveis — eram 
desanimadas por motivos extrínsecos — a diretora não autorizava abrir a 
escola nesse dia. Um outro exemplo constatado, foi uma diretora animada, 
driblando inclusive as próprias exigências da Secretaria Municipal de Edu-
cação de haver 200 dias letivos obrigatórios, suspendendo algumas aulas 
para haver as reuniões do PPP, mas que deparava com alguns professores 
desanimados, alegando que não estavam dispostos a se esforçarem por algo 
que não valia a pena.
Dentro dos motivos intrínsecos, os resultados evidenciaram que 
65,22% das razões dos professores não participarem muito (dificuldades) 
ou quererem participar (facilidades) — os 30 professores entrevistados 
podiam responder a mais de um motivo, totalizando 66 respostas — eram 
de ordem humana: muitos estavam desmotivados/sem esperança de que 
sirva para algo o PPP (31% dentro dessa categoria), seguidos dos que ale-
gavam dificuldades de relacionamento (24%), seja com a própria direção 
da escola, seja com alguns professores e alunos da comunidade escolar 
alegando que não queriam se misturar com essa comunidade por sentirem 
barreiras em aspectos sócio-econômico-culturais, que os diferenciavam. 
Por fim, o terceiro motivo que sobressaiu nesta categoria foi a falta de 
compromisso de muitos professores com a educação (20%). Muitos estão 
lá simplesmente por motivos comodistas ou por não conseguirem ou-
tro emprego do mesmo nível salarial. Naturalmente, um professor assim 
terá uma forte tendência ao comodismo/individualismo (6%) e a não se 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 145
interessar na própria capacitação profissional como na de aprender/inte-
ressar-se a fazer o PPP (5% dos entrevistados), levando a um baixíssimo 
nível de profissionalismo.
O segundo motivo intrínseco que mais chamou a atenção, na análise 
da pesquisa, foi a questão da falta de logística (21,28%). Muitos professo-
res alegaram falta de tempo (72% dentro dessa categoria), justificando que 
a necessidade de terem que dar muitas aulas em várias escolas, muitas ve-
zes distantes entre si, para sobreviverem, lhes impossibilitava interessar-se 
pelo PPP, participar das reuniões e até conseguir fôlego para dar uma maior 
atenção aos alunos. Dentro dessa categoria, o segundo motivo apontado 
que se relaciona com o anterior é a falta de calendário (14%): a LDB deter-
mina 200 dias de aula e proíbe suspendê-las para outros fins. Naturalmente, 
fica difícil convencer os professores que venham em outros dias, sabendo 
que não terão nenhum privilégio financeiro.
Dentro dos motivos extrínsecos, os resultados apontam para uma cer-
ta semelhança com os resultados anteriores, mas, como já era de se esperar, 
os motivos logísticos de falta de tempo (70%) e falta de calendário (25%) 
cresceram bastante (de 21% para 41%, comparando as mesmas categorias). 
Por outro lado, chamou a atenção o fato de que os motivos pelos quais os 
professores tenham dificuldade em se envolver na escola e no PPP conti-
nuem sendo causas humanas (57%) e não outras, de ordem financeira ou 
de ficar bem com a comunidade. Dentro dessa categoria, pude perceber que 
as dificuldades de relacionamento praticamente dobraram (24% para 52%) 
em relação aos motivos intrínsecos. Muitos reclamaram que sua opinião 
nunca era levada em conta, que o consenso dificilmente existia e que o gru-
po mais forte era sempre o que levava a melhor. Muitos ainda afirmaram 
que não gostavam de ser avaliados pelos próprios colegas e que a falta de 
reuniões e de diálogo levava ao distanciamento e desunião.
Uma outra análise que procurei fazer e relacionar com a tabela acima 
foi mostrar o perfil de cada escola pesquisada e verificar como me foi apre-
sentado o projeto político pedagógico, como foi construído na comunidade 
escolar, qual o grau de formalismo com relação aos seus superiores e, por 
fim, qual a verdadeira consistência e objetividade desse projeto. Algumas 
perguntas do instrumento objetivavam detectar e desvendar esse “mistério” 
que, desde o início do projeto da pesquisa, achei que seria a tarefa mais 
difícil da investigação.
146
Abaixo, na tabela 3, mostramos os resultados obtidos com as visitas 
às escolas:
PERFIL DOS COLÉGIOS E NÍVEL ENCONTRADO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
COLÉGIO ZONA DA CIDADE
FORMA 
APRESENTADA 
DO PPP
CONSTRUÇÃO GRAU DE FORMALISMO
CONSISTÊNCIA/
OBJETIVIDADE
A NORTE ORAL apenas direção(com+ 2 prof.) TOTAL BAIXA
B NORTE
ORAL
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projetos isolados)
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C NORTE ORAL DIREÇÃO NULO BAIXA
D NORTE ESCRITO DIREÇÃO PARCIAL BAIXA
E CENTRO ESCRITO
PARTICIPATIVA
(COORD. 
ANIMADA)
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F SUL ESCRITO DIREÇÃO TOTAL REGULAR
G OESTE ORAL DIREÇÃO NULO BAIXA
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I SUL NÃO TINHA SEM IDENTIDADE NULO BAIXA
obeservação: o “grau de formalismo” pode variar entre: total, parcial e pequeno na medida 
em que é feito somente para agradar as CRE´s ou está sendo utilizado realmente na prática. Nulo 
quando nem foi apresentado à CRE.
a “consistência/objetividade” pode variar entre baixa, regular e alta na medida em que não 
evidencia metas claras, objetivos precisos e praticidade ou, pelo contrário, que demonstra 
força, que orienta a comunidade escolar, etc.
Procurei ocultar o nome de cada colégio — por motivos éticos — 
identificando-os por letras. Acredito que desta maneira estarei honrando a 
confiança que os informantes demonstraram ter em mim.
Como se pode averiguar, as relações existentes entre as duas tabelas 
anteriores são claras e evidentes, e não se podia esperar outra realidade 
muito diferente.
Em primeiro lugar, chama a atenção como das 9 escolasvisitadas 
apenas 3 tivessem o Projeto Político Pedagógico escrito. As outras 6 disse-
ram-me, ou que estavam finalizando ou que não precisava ser escrito: “por-
que todos os professores sabem muito bem quais são as diretrizes que a es-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 147
cola procura apontar”, afirmou-me uma diretora. Evidentemente, que, sem 
querer julgar as intenções dessas escolas, pode-se afirmar que dificilmente 
um PPP orientará e servirá de instrumento de controle sendo apenas oral. 
Como bem sabiamente já diziam os antigos: verba volant, scrita manent.
Com relação ao conteúdo desses PPP apresentados — tantos os escri-
tos ou orais — por mais boas intenções e desejos de realizar mudanças e 
reformas educativas, poucos, pelo menos no que foi apresentado, objetiva-
vam perseguir transformações reais na qualidade do ensino.
Outro aspecto que, de alguma maneira, ilustrou bem e se relacionou 
com as descobertas do quadro inicial de facilidades/dificuldades para o en-
volvimento no PPP, sejam os motivos intrínseco ou extrínseco, foi perceber 
que apenas uma escola procurou uma maior participação da comunidade 
escolar na construção desse Projeto. Todas as demais construíram-no de for-
ma fechada — uma coordenadora, com mais duas professoras, na véspera 
da data máxima de entregar para as CRE´s, tendo como base um modelo da 
CRE — ou ainda nem se sabia bem quem era a pessoa responsável. Depois 
de construído, em algumas escolas havia uma reunião, no início do ano, onde 
em geral todos os presentes — que não eram muitos — concordavam.
Tudo isto dito anteriormente, mostra claramente o 3º aspecto da aná-
lise: o grau de formalismo com as Coordenadorias Regionais de Educação 
— CRE´s —. Das nove pesquisadas, apenas em duas se pode perceber um 
relativo compromisso com a comunidade escolar. Nas outras sete, ficou 
claro que o esforço e a preocupação em cumprir uma norma legal eram a 
única motivação de fundo para construir o Projeto Político Pedagógico.
Por fim, foi demonstrado também que, na sua grande maioria, a con-
sistência/objetividade dos Projetos — podiam variar entre baixa, regular e 
alta, na medida em que não evidenciavam metas claras, objetivos precisos 
e praticidade ou, pelo contrário, demonstrassem força, que orientassem a 
comunidade escolar, etc. — era baixa. Dos 9, apenas 2 eram regulares.
Na tabela 1, mostrada anteriormente, sobre o perfil dos professores 
entrevistados, acredito que pode se relacionar perfeitamente com as duas 
tabelas anteriores.
A partir de agora, ao referirmo-nos à fala de algum entrevistado, pro-
curaremos identificá-lo pelo código acima.
Três aspectos podem se destacar do perfil dos professores entrevista-
dos e que me poderão auxiliar na posterior análise: tempo de magistério, 
tempo na escola e matérias que leciona.
Como já foi dito anteriormente, o tempo de magistério era um critério 
importante na escolha dos entrevistados, tendo em vista que o Projeto Políti-
co Pedagógico exige uma percepção razoável da realidade escolar e de uma 
148
visão histórica da escola e da comunidade escolar, mais ou menos longa e 
profunda, para captar suas necessidades, suas dificuldades, suas utopias.
Ao examinar o tempo médio de magistério dos professores entrevista-
dos — 20 anos — e ao perceber as enormes dificuldades encontradas hoje, 
para manter a disciplina, para motivar os alunos no ensino-aprendizado 
dentro e fora da sala de aula, para envolver-se com projetos extra-escola, 
para compreender e aceitar o aluno que passa por dificuldades imensas de 
ordem afetiva, familiar, cultural, financeira e, principalmente, de perspecti-
va de vida, me questionei: será que o professor está preparado/capacitado/
motivado para enfrentar uma clientela que é muitíssimo diferente do que 
há pouquíssimos anos atrás existia? Será que foram formados e prepara-
dos na faculdade para trabalhar diariamente com o alunado real e concreto 
dos dias de hoje? Haverá algum sentimento real de frustração profissional, 
encoberto e oculto, que aumente a desmotivação, falta de esperança e de 
profissionalismo detectado na pesquisa?
Com relação ao tempo médio na própria escola — 11 anos — pode 
concluir que é uma média muito alta. 11 anos dentro de uma mesma escola é 
um tempo mais que suficiente para captar a identidade da escola, seu itinerá-
rio histórico, seus anseios, seus problemas internos e externos, sua clientela, 
etc. Questionei portanto: será que a justificativa daqueles que alegavam falta 
de tempo para conseguir entender, captar e envolver-se com os participantes 
da comunidade escolar não fica bastante enfraquecida com esta evidência?
Por fim, chamou a atenção, ao examinar as matérias que os entrevista-
dos lecionavam, que apenas 3 dos 30 eram de matemática (10%). A grande 
maioria — em torno de 60 % — pertenciam às matérias de humanidades 
(história, geografia, português, artes, etc.), matérias essas que facilitam 
enormemente a interdisciplinaridade e, por conseguinte, uma construção 
participativa e envolvente do Projeto Político Pedagógico. Portanto, pude 
indagar também: se houvesse uma maior boa vontade do corpo docente da 
escola, uma maior motivação, interesse, vibração, “alma” educacional — 
um mesmo ideal de serviço e de esquecimento próprio, passando por cima 
das naturais desigualdades, pluralidade e conflitos da pessoa humana — 
não se poderia sonhar com uma escola mais democrática e participativa?
Outra análise que procurei realizar durante as entrevistas com os pro-
fessores, foi tentar perceber quais eram as diversas frustrações e/ou desâ-
nimos, nos últimos 3 anos, no trabalho de docente dos professores entrevis-
tados, além das deficiências que os mesmos identificam atualmente como 
obstáculos para oferecer uma melhor qualidade do ensino. Ouvir os autores 
do próprio sistema de ensino, muitos deles com larga experiência, propor-
ciona sempre muita luz e questionamento do processo escolar.
A análise dessas questões aparecem na tabela 4:
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 149
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150
Como se pode verificar na tabela acima, os resultados apontam para 
uma necessidade de maiores investimentos financeiros no ensino público, 
visto que tanto as suas maiores frustrações e/ou desânimos no trabalho 
docente como os obstáculos para uma maior qualidade no ensino se encon-
tram na falta de recursos pedagógicos.
É evidente que não basta conseguir apenas esses recursos para se al-
cançar uma maior motivação dos professores e um melhor desempenho 
dos alunos — pois pode haver muito desperdício nesses gastos ou desvios 
— mas quando bem controlados e geridos, são sempre um caminho de es-
perança para se conseguir uma melhor infra-estrutura escolar, pré-requisito 
indispensável de qualquer eficiência. A falta de material pedagógico — pa-
pel, livros, giz, xerox — somada às salas de aula superlotadas e desprepara-
das para atender a clientela tende a provocar desconforto e desânimo tanto 
no professorado quanto no alunado.
Outro aspecto que chama a atenção na análise acima é a insatisfação 
com relação ao sistema de aprovação automática. Muitos professores entre-
vistados foram unânimes em afirmar que esta política que visa basicamente 
aumentar as estatísticas governamentais — podendo ter boas intenções de 
evitar a evasão escolar e de aumentar a inclusão social, mas que talvez não 
sejam suficientes — dificulta enormemente o aprendizado e o controle da 
disciplina. Os alunos, sabendo de antemão que sempre passarão de ano, 
ficam desmotivados para aprender e sem medo de qualquer sanção, provo-
cando indisciplina e mau ambiente dentro e fora de sala da aula.
Algumas escolas afirmaram que não estão mais obedecendo a essas 
indicações das secretarias, repetindo mais de 50% de algumas turmas de 
últimos anos do ensino fundamental e que, curiosamente, ninguém da Se-
cretaria Municipal veio buscar explicações. É possível que já esteja existin-
do uma conscientização por parte das autoridades competentes e de alguns 
professores dos malefícios destas políticas demagógicas.
É natural que, em terceiro lugar, o que tem causado uma maior frus-
tração e/ou desânimo no corpo docente seja o problema da indisciplina, a 
falta de interesse em aprender e/ou despreparo dos alunos — muitos che-
gam na 5ª série sem saber ler ou escrever adequadamente — e a falta de 
limites. Um ambiente escolar difícil e complicado, sem um devido apoio e 
assistência de inspetores e vigilantes, conforme a pesquisa, torna-o ainda 
mais confuso e despreparado para atender satisfatoriamente aqueles que de 
fato querem aprender e ensinar.
Mais uma vez chamou a atenção que não são os baixos salários os 
maiores causadores dos desânimos e/ou frustrações dos professores nem 
seus maiores obstáculos para conseguir uma maior qualidade do ensino.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 151
5. Interpretação dos dados
De todas as análises feitas anteriormente, penso que algumas inferên-
cias podem ser feitas.
Em primeiro lugar, acredito que a transformação educacional desejada 
por toda a sociedade e ansiada pela comunidade escolar deva partir do obje-
tivo último de todo o processo de ensino-aprendizagem, que é o aluno.
É sabido que todo o processo educacional é uma resultante do esforço 
e da dedicação de três protagonistas responsáveis: a família, a escola e a 
sociedade. Quando alguma destas três — ou as três! — estão debilitadas ou 
deterioradas, é natural que se espere um resultado deficitário.
Se avaliarmos a situação da maioria das famílias das crianças que 
frequentam a escola pública do Rio de Janeiro, constataremos que estão em 
situação bastante complicada.
Dentro da nossa pesquisa, procurei investigar justamente este elo da 
cadeia educacional e verificar como era a família desses alunos, como se 
envolviam com a educação do filho e com a escola, etc. e o quadro contem-
plado foi um pouco triste.
Em primeiro lugar, detectei que em torno de 70 % das crianças so-
mente tem mãe (dados fornecidos pela própria direção de três escolas) e 
que muitos nunca souberam quem era o pai. Destas 70%, a maioria das 
mães têm que trabalhar o dia inteiro para sobreviver, obrigando-se a deixar 
os filhos totalmente soltos na rua ou no morro, à mercê de um destino cego 
ou ainda sendo “educados” pelas “autoridades” dessas comunidades. Em 
outros casos, algumas mães tentando evitar essas situações de alta peri-
culosidade, preferem deixá-los presos à chave em casa, como autênticos 
prisioneiros, do que permitir que fiquem soltos na rua. Outras estão presas 
e têm que deixá-los aos cuidados de uma vizinha ou de um parente. Penso 
que fica fácil entender o que disse a professora G2 na entrevista:
A carência que os nossos alunos têm hoje — a maioria muito pobre — está 
muito semelhante à das classes mais favorecidas: a falta de amor. Tem 
muita gente hoje que, infelizmente, ainda não é humano, é animal”.
Concordo plenamente com a professora quando afirma que a maior 
carência do morador de comunidades carentes não é a falta de bens ma-
teriais e sim de afeto. Ao visitar um dos morros — alguns entrevistados 
também me confirmaram a descoberta — fiquei admirado que um número 
152
bastante considerável de moradores tenha TV a cabo, internet, vídeo game, 
luz, água, telefone, tudo de graça, sendo “desviados” sem custo ou despesa 
para suas casas. As “autoridades” desses locais conseguem-nas…
Somado a essa falta de amor, os alunos dessas escolas convivem dia-
riamente com problemas sérios de violência, sejam eles internos — os pais, 
muitas vezes, por incapacidade cultural, e outras, por desvios psicológicos, 
batem nos filhos, abusam deles sexualmente, etc. — sejam eles externos 
— mortes de parentes, conhecidos, vizinhos, amigos, etc., — desde que 
nascem, provocando neles distúrbios afetivos-psicológicos sérios.
Em alguns estudos no Brasil (guimarães, 1998), a escola é percebida 
como açoitada por violências que se originam fora dela e a atingem. Neste 
sentido, é comum a referência à pobreza e à violência nas comunidades po-
bres e ao pertencimento de alunos a bandos de tráfico, gangues que seriam 
introduzidas nas escolas.
Consegui descobrir ainda — seja na minha observação direta no 
local, seja nas entrevistas — que para a grande maioria desses jovens o 
seu grande ideal, sua grande perspectiva de ascensão social é entrar para 
“atividades ilícitas”: nelas conseguirão ser valorizados socialmente, terão 
condições financeiras mais favoráveis e poderão satisfazer seus anseios de 
felicidade consumista.
Numa das famílias visitadas, entrevistei um dos rapazes que estava na 
7ª série de uma escola municipal da região, 13 anos, bom aspecto e saudável, 
pais empregados e estáveis. Soube que já tinha 60 faltas na escola e que tinha 
acabado de ser despedido de um emprego de office-boy. Perguntando-lhe 
sobre o porque dessa sua desmotivação geral, ele me respondeu:
“Tenho preguiça de estudar e de trabalhar. Prefiro ficar em casa vendo 
televisão e dormindo. É muito chato ter que ralar até Jacarepaguá so-
mente para entregar um envelope. Acho que posso conseguir um outro 
“emprego” que me dê mais dinheiro…”.
Uma resposta destas vinda de um rapaz de classe social mais favo-
recida até acharia normal e razoável. Mas, de fato, pude ir comprovando 
como essas duas realidades sociais opostas cada vez mais vão se aproxi-
mando, uma vez que as “antenas” culturais vão se tornando semelhantes.
Uma consequência desta educação da vida fácil, que já atinge hoje 
em dia todas as camadas sociais, tem reflexos diretos, depois, nos hábitos 
de estudo e na vontade de aprender, uma vez que para a grande maioria dos 
jovens de hoje que estãosendo influenciados negativamente pelo excesso 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 153
da “cultura da imagem”, lhe custa imensamente o ato de estudar, de pensar, 
de refletir, etc.
Pude constatar que a quase totalidade dos alunos nunca estuda depois 
da escola. Seja pela falta de motivação de não ter um ambiente adequado 
em casa, seja pela falta de exigência escolar, que dificilmente reprova os 
alunos — cf. campanhas governamentais de aprovação automática, turmas 
de progressão, etc. — seja ainda por falta de material, acham que apren-
derão sem esforço. Quando uma cultura educacional é conivente com a 
pouca exigência na avaliação, dificilmente se conseguirá motivar os alunos 
a estudar e aprender.
De tudo o que foi dito anteriormente, é possível afirmar que o aluno 
da escola pública está hoje em condições bastante complexas de superação. 
Sem perspectiva de um futuro razoável, de uma possibilidade real de as-
censão social, através da escola, dificilmente verá nela uma aliada e, pelo 
contrário, cada vez mais a verá com indiferença ou um bom lugar para se 
alimentar e se divertir.
Não é por acaso que mais de um entrevistado disse mais ou menos o 
seguinte — cf. A2, A3, C5, D5, E4, F1:
“A escola hoje é um depósito de alunos. Ninguém está realmente pre-
ocupado com o aprendizado do aluno, nem o governo, que vê nela uma 
plataforma política e só se preocupa com as estatísticas, nem os professo-
res, que se cansaram de lutar no vazio e nem os próprios alunos, que es-
tão com uma baixa-estima imensa. O que existe hoje é uma “tele-quete” 
educacional: você finge que ensina e os alunos fingem que aprendem”
A professora B1 dizia o seguinte:
“Nossos alunos estão sem perspectiva de vida. Para que aprender? E 
nós professores acabamos por nos perguntar: Para que ensinar? Por 
que ir com a turma visitar o Jardim Botânico?”
Fica fácil entender agora os resultados demonstrados acima na aná-
lise. Por que os professores estão desmotivados, desesperançados e com 
baixa-estima.
Acredito que, de fato, receber em sala de aula uma clientela bastante 
“deseducada”, difícil e com todos os problemas apontados anteriormente, 
exige dos professores uma heroicidade diária. Exige uma preparação que 
talvez não tenha sido aquela que receberam já faz alguns anos na faculdade 
154
e na licenciatura e por isso, de forma velada, muitos demonstraram senti-
mentos de impotência e de incapacidade durante as entrevistas.
Como reconheceram claramente as entrevistadas E4, E5 e g2, com 
as mesmas palavras:
“O professor não está mais preparado e competente para desempenhar 
satisfatoriamente a sua profissão. De alguma forma, ele hoje se sente 
fracassado, mas não quer reconhecer isso.”
Um outro fator que pode contribuir para a desmotivação, falta de pro-
fissionalismo e desunião entre os professores é talvez o excesso de assis-
tencialismo e paternalismo de alguns órgãos governamentais — Secretaria 
Municipal de Educação, CRE´s, etc. e as que cuidam da proteção da crian-
ça, como o Conselho Tutelar.
Muitos professores alegam que o “é proibido proibir” atingiu em 
cheio todo o sistema educacional vigente e para eles as consequências des-
tas políticas públicas têm trazido estragos consideráveis nas escolas e nas 
próprias famílias. A necessidade de resgatar os limites parece que cada vez 
mais se torna premente.
Como disseram com clareza os professores B2, B3, C2, C5, D1, res-
pectivamente:
“Nossos alunos não têm nenhuma punição séria, quando quebram ou 
batem: já estão fazendo falta mecanismos que havia antigamente”
“O Conselho Tutelar não faz nada para proteger os professores e os 
alunos normais. A sala XXX está um inferno, mas o Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente os deixa fazer o que quiserem.”
“Tem muitos professores na Secretaria Municipal de Educação — 
SME— que tem horror de aluno: muitos! Você não imagina como eles 
estão longe da nossa realidade. Trabalhei lá 15 anos e sei bem como são 
as coisas. A SME não está realmente preocupada com os alunos, mas sim 
somente tapar buracos, estatísticas que o Prefeito cobra com pressão”.
“Se uma mãe vai na CRE ou liga para o disque-denúncia educação 
sempre consegue o que quer. A escola nunca pode proibir. Está sem 
limites: não dá! “
“No outro dia houve um tiroteio passando entre a escola. A diretora 
dispensou os alunos. No dia seguinte recebeu uma “chamada” da CRE, 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 155
dizendo que isso não poderia voltar a acontecer. É muita rigidez, infle-
xibilidade e falta de bom senso.”
De todas estas falas de alguns professores, fica fácil compreender como 
eles se sentem em sala de aula. Porque hoje os alunos parecem só ter direitos 
e não deveres. Porque fica difícil resolver com satisfação problemas de disci-
plina, seja dentro da sala de aula seja dentro das dependências da escola.
Pesquisas recentes40 apontam que a primeira consequência mais 
mencionada pelos professores com relação à violência nas escolas, no Es-
tado do Rio de Janeiro, é a perda de estímulo para o trabalho (48%, em 
236 professores pesquisados) ou perde a vontade de ir trabalhar (30%). Em 
segundo lugar, vem o sentimento de revolta (24%). Em terceiro lugar são 
percepções de nervosismo e irritação na escola (19%) e, por fim, dificulda-
des para se concentrarem direito em sala de aula (17%).
6. Conclusão
Ficou evidente, neste trabalho, que encontrar o equilíbrio da autono-
mia escolar é ainda uma meta a alcançar, seja a médio ou longo prazo, mas 
se percebe que já estamos no caminho certo. Tudo aponta para algumas 
mudanças, sejam elas administrativas, financeiras ou pedagógicas. O que 
pude concluir é que no atual status quo é muito difícil os professores sen-
tirem-se motivados, pelo menos nas escolas municipais do Rio de Janeiro, 
para envolverem-se em planejamentos participativos.
Os diversos motivos intrínsecos assinalados anteriormente, princi-
palmente a falta de interesse em construir o Projeto Político Pedagógico 
ou ainda a dificuldade no relacionamento dentro da comunidade escolar 
somados aos motivos extrínsecos como a falta de tempo, de calendário 
demonstraram ser apenas uma consequência e não a causa do verdadeiro 
problema de haver um clima próprio de autonomia. A verdadeira raiz é a 
falta de um ambiente escolar que propicie motivação para os professores 
ensinarem e os alunos aprenderem e gostarem da escola.
Um ambiente escolar negativo é formado, inicialmente, pela falta de in-
vestimentos e de recursos que provocam instalações deficientes, ausências de 
materiais pedagógicos e de espaços físicos, entre outros. E, depois, pela falta 
de regras claras para proteger os corpos docente e discente, aqueles que estão, 
40 Cf. Pesquisa Nacional Violência, Aids e Drogas nas Escolas, UNESCO, 2001.
156
de fato, compromissados com a educação, pois, infelizmente, a presença de 
alguns poucos alunos que não oferecem as mínimas condições de aprendizado, 
algumas vezes, acabam por provocar um ambiente desfavorável.
Além de se tentar fomentar e se proteger mais eficientemente essa at-
mosfera positiva, dentro da escola, consegue-se perceber também mudan-
ças mais profundas e eficazes na cultura da avaliação, tanto interna quanto 
externa. Nota-se, atualmente, no Ministério da Educação esforços efetivos 
para se encontrar esses caminhos.
Sou da opinião que é preciso revisar os níveis de autonomia outorgados 
às escolas, em alguns setores principais. Destaco 4 áreas principais onde é ne-
cessário buscar um maior equilíbrio para essa autonomia. Confira na tabela 5:
Tabela 5: Equilíbrio na autonomia escolar em algumas áreas 
principais que facilitam um melhor ambiente escolar
ÁREAS DE ATUAÇÃO POUCA AUTONOMIA MUITA AUTONOMIA EQUILÍBRIO
A. AUTORIDADE 
 DO DIRETOR
 DA ESCOLA
1. pouca responsabilidade 
e compromisso com 
a comunidade escolar
2. formalismo exagerado 
com as autorida-
des superiores
1. autoritarismo
2. desobediência 
às normas legais3. pouca coesão escolar: 
distanciamento como 
corpo docente
1. maior formação continuada 
de diretores
2.	critérios	mais	definidos	de	
competências para o cargo
3. regras e limites votados
4. defesa de sua autoridade
B. AUTONOMIA
 ADMINISTRATIVA
1. professores 
descompromissados
2. calendário escolar rígido
3. falta de material 
e	dificuldade	para	consegui-lo
1. professores muito 
independentes
2. falta de planejamento
3. descontrole geral 
da escola
1. maior controle da direção
2. maiores critérios de 
penalidades votadas antes
3.	calendário	flexível,	com	
aprovação pelas secretarias
C. AUTONOMIA
 PEDAGÓGICA
 (currículo, didática)
1. pouca criatividade
2. pouca vontade de ensinar
3. baixa interdisciplinaridade
4. desinteresse dos alunos 
em aprender
1. descumprimento do 
currículo mínimo
2. desleixo dos professores 
e alunos
3. pouca exigência 
no aprendizado: gosto 
do aluno
1. avaliação do professor 
realizada pelos alunos
2. avaliação dos órgãos 
externos do desempenho
3. maior acompanhamento e 
cobrança da direção
D. INDISCIPLINA
 DOS ALUNOS
1. desgoverno e desacato 
às autoridades competentes: 
direção, professores, ronda, 
inspetores, etc.
2. depredação escolar
1. injustiças sociais não 
se interessando pelos 
mais problemáticos/ 
penalizações
2. exclusão social
3. aumento da delinquência
1. regras mais claras 
e	definidas	consensualmente,	
mostrando direitos e deveres
2. A autoridade deve ser
a direção e o não Conselho T.
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 157
A) Autoridade do Diretor da Escola
A autoridade do diretor da escola foi indicada pelos próprios entre-
vistados como uma peça chave no bom funcionamento de uma escola. A 
escola é a “cara” do diretor, disseram vários.
Melhorias na disciplina, na seriedade do ensino-aprendizagem, no rendi-
mento dos alunos, no relacionamento entre professores e na própria responsa-
bilidade pessoal do diretor são alguns dos fatores que se beneficiariam, segun-
do as respostas dos entrevistados, com uma maior autonomia da direção.
Preocupações com os limites dessa autoridade também foram mani-
festadas, alegando a necessidade de se criarem regras mais claras e trans-
parentes dos seus deveres e dos seus direitos, votados e aceitos, depois, 
coletivamente. Desta forma, acredita-se que excessos de autoritarismo e 
de possíveis privilégios poderão ser mais bem controlados. Em casos de 
possíveis descontroles nessas matérias, as eleições futuras serão um outro 
instrumento de regularização dessas possíveis anomalias.
Tendo isto claro, é necessário achar mecanismos que privilegiem e 
defendam essa autoridade. Em primeiro lugar, é importante examinar se 
os critérios das competências mínimas de um bom diretor estão de acordo 
com o bom senso e as exigências desta responsabilidade. Em seguida, é 
fundamental que os diretores participem mais assiduamente dos Cursos 
de formação continuada para diretores de escola e que esses cursos sejam 
dados por pessoas competentes e com experiência prática, e não apenas 
acadêmica e distante da realidade escolar.
Segundo Luck (2002)
A decisão pelo judiciário, de apontar a inconstitucionalidade da rea-
lização de eleição para o provimento do cargo de diretores de escola, 
tem promovido uma retração na expansão dessa prática (Paro, 1996) 
e fortalecido uma tendência de, sem perder de vista os esforços pela 
democratização da escola e de sua gestão, promover critérios de sele-
ção de diretores que passem pela demonstração de competências para 
o exercício desse trabalho (critérios técnicos). Este é o caso de sete 
Estados brasileiros, onde são realizados concursos, provas, exames de 
competência profissional, associados ou não, à participação em cursos 
de capacitação. A adoção desses critérios, que não são incompatíveis 
com a eleição, estaria de acordo com a necessidade de a escola, para 
se tornar efetivamente autônoma, ser dirigida com competência e de-
monstrar sua efetividade. É necessário, portanto, cuidar para que não 
se perca, com essa medida, o movimento de mobilização em torno da 
escola, que se desenvolve, ainda que de forma incipiente. (2002)
158
Por fim, é essencial que as SME e as CRE defendam e apóiem a au-
toridade do diretor. Quando existe uma falta de respeito, um “passar por 
cima”, não só o próprio perde a motivação para exercer uma tarefa difícil 
que é o governo, como a comunidade escolar — pais, alunos, funcionários, 
professores — acabará por se aproveitar dessa “brecha” para conseguir 
seus privilégios e, muitas vezes, desautorizá-lo.
É necessário que as Secretarias e as Coordenadorias percebam que 
existe uma relação muito direta e proporcional entre o cumprimento de 
suas indicações para os diretores de escola e o grau de confiança que esses 
órgãos lhes demonstram.
B) Autonomia administrativa
Conseguindo essa autoridade vislumbrada anteriormente, é possível 
enxergar uma maior liberdade para construir coletivamente um calendário 
escolar mais flexível. Um dos aspectos que mais salientaram os professo-
res entrevistados foi a excessiva rigidez do calendário, impossibilitando a 
organização de outros eventos importantes para um bom ambiente. Primei-
ramente, tempo para se fazer as reuniões do Projeto Político Pedagógico, 
que, conforme já averiguamos anteriormente, praticamente não existe, o 
que diminui o desejo de realizá-lo adequadamente.
Em seguida, precisa haver espaço para a organização de mais eventos 
que facilitem o processo pedagógico e a interdisciplinaridade. Quando a 
rigidez impossibilita novas formas de ensinar, como a criação de projetos, 
de visitas, de assistências a filmes, etc., naturalmente, os professores vão 
ficando mais desanimados e desmotivados para ensinar, e os alunos, para 
aprender. Outro aspecto no qual se percebe a pouca autonomia adminis-
trativa é a falta de instrumentos adequados para controlar melhor a frequ-
ência e o desempenho dos professores dentro e fora de aula. Hoje em dia, 
qualquer “resfriado” justifica com facilidade a ausência na escola. Outras 
vezes, dificilmente um diretor consegue mudar a atitude de professores 
que somente “conversam” em sala de aula, não se exigindo nos objetivos 
curriculares definidos pela direção. Os diretores precisam contar com mais 
autoridade para sanear tais anomalias.
Um outro ponto que me pareceu uma enorme contradição, ao longo 
de minhas pesquisas e observações nas nove escolas públicas visitadas, é 
a impossibilidade de a escola pedir contribuições voluntárias e/ou fazer 
pequenas cobranças para organizar eventos ou compras de materiais pe-
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 159
dagógicos para beneficiar seus alunos. É evidente que muitos são carentes 
e apresentam dificuldades sérias. Porém, em muitos outros, observei pos-
suírem telefones celulares, tênis de marca, gastarem dinheiro lanchando 
no recreio, etc., o que permitiria facilmente obter pequenos recursos para 
melhorar a qualidade do ensino e a motivação na aprendizagem.
Por fim, chamou também a atenção o acúmulo de funções entre as 
várias pessoas que trabalham na escola, ficando sobrecarregadas e estres-
sadas para desempenhar adequadamente as suas funções principais. Em 
várias, vi diretoras da escola tirando xerox para professores, diretoras ad-
juntas sendo porteiras, coordenadoras pedagógicas cuidando do controle 
da merenda, carência completa de vigilantes e inspetores nos intervalos e 
recreios, etc., evidenciando uma séria falta de pessoal administrativo. Esta 
carência provoca muitas vezes enormes desperdícios, como computadores 
apodrecendo em laboratórios, por falta de manutenção adequada ou mate-
riais da TV ESCOLA totalmente desorganizados e sem o seu uso devido, 
por falta de pessoal treinado para tal função.
C) Autonomia pedagógica
Um fato marcante da pesquisa foi que todos os professores sentiram-
se com grande autonomia pedagógica — 100% — para realizar sua profis-
são. Sem querer julgar a ninguém, issopode refletir um certo descontrole, 
tanto da parte da direção quanto dos órgãos superiores. Acontecendo isto, 
em pouco tempo se chegará a níveis de desleixo elevados, descumprimen-
tos do currículo e baixa exigência dos alunos. Uma forma de talvez facili-
tar, em parte, um maior controle do trabalho dos professores é instituir mais 
frequentemente uma avaliação por parte dos alunos. Já se sabe que alguns 
alunos aproveitarão esse instrumento para compensar os maus tratos ou 
injustiças nas avaliações. Porém, acredita-se que a maioria trará à tona o 
real trabalho do professor em sala de aula.
Outra forma é criar avaliações externas dos desempenhos dos alunos, 
mas de forma adequada à realidade em que está inserida essa escola. Or-
ganismos especialistas em avaliação seriam responsabilizados para criar 
mecanismos específicos para cada escola, de forma que se possa avaliar o 
trabalho de cada professor e de todos dentro daquela comunidade escolar. 
Naturalmente, a diretora teria que ter uma parte da responsabilidade nos re-
sultados dessas avaliações e, consequentemente, uma maior liberdade para 
atuar durante o processo de ensino aprendizagem, de forma a corrigir com 
a autoridade que lhe é devida para sanar tais irregularidades.
160
D) Indisciplina dos alunos
Conforme foi expresso várias vezes neste trabalho, a indisciplina es-
colar é um problema sério e crescente nas nossas escolas e causador de 
grandes desconfortos e desequilíbrios no ambiente escolar. Muitos profes-
sores se desgastam, adoecem e se desmotivam, na maioria das vezes, por 
essa “chaga” escolar, que é preciso curar. É compreensível que muitos alu-
nos tragam este problema para dentro da escola, pois refletem, muitas ve-
zes, a própria esfera onde estão inseridos ou então representa uma maneira 
de demonstrarem os seus próprios sofrimentos, carências e necessidades 
mais básicas, que necessitam de ser compartilhadas com os seus semelhan-
tes. Também pode ser uma forma de simplesmente chamar a atenção para 
serem valorizados na sua baixa estima, realidade provocada pelas condi-
ções desfavoráveis de vida.
Funk (2001) identifica uma série de fatores em seu estudo na Alema-
nha — também presentes em estudos desenvolvidos em outros países — 
que se identificam também com a nossa realidade brasileira:
1º) Entre alunos: baixa auto-estima; falta de perspectivas em rela-
ção ao futuro e de percepção do lugar da escolaridade em sua 
vida profissional; alguns traços de personalidade; contexto fa-
miliar marcado pela falta de diálogo, violência doméstica, falta 
de interesse dos pais no desenvolvimento escolar dos jovens; 
desejo de se fazer aceitar no grupo de referência; e formas de 
representar e viver a masculinidade.
2º) Quanto às escolas: atmosfera de trabalho escolar ou qualidade 
de ensino medíocre; problemas nas relações entre professores 
e alunos; falta de ênfase em valores na educação ministrada; 
resultados escolares ruins — maior repetência entre os alunos 
que se envolvem em atos de violência.
3º) Exposição à mídia, a programas de violência.
4º) Tipo de comunidade e vizinhança e o grau de violência aí encontrado.
De todas as formas, não parece possível conviver com estes desajus-
tes sociais e ao mesmo tempo tentar construir uma escola que ofereça o 
mínimo de condições para ensinar e aprender. É necessário examinarmos 
com mais cuidado a forma como o Conselho Tutelar julga a possibilidade 
de certos alunos serem incorporados novamente na comunidade escolar. 
A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI
Como conseguir a formação integral dos alunos 161
Parece que o fato de as escolas terem que aceitar qualquer tipo de aluno 
pode se tornar injusto para com as pessoas que se esforçam em proporcio-
nar um ambiente sadio e promissor. É preciso, portanto, criarem-se regras 
mais claras e critérios mais precisos que definam quais são os deveres e 
os direitos de cada aluno, quais são as condições mínimas razoáveis para 
serem aceitos e que as autoridades competentes saibam respeitá-los, tendo 
em vista principalmente o bem dos demais alunos das escolas.
162
REFERÊNCIAS
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 15 x 21 cm
Mancha: 11 X 17 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/12/16/18
 Arial 7,5/8
Papel: Pólen Soft 80 g (miolo)
 Royal Supremo 250 g (capa)

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