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DOENÇAS CUTÂNEAS EM FELINOS @GABSBUSTAMANTE Idade: algumas doenças cutâneas são mais comuns em determinadas faixas etárias. Sarna na orelha, parasitos contagiosos e dermatofitoses são mais comuns em filhotes do que em gatos adultos. Doenças alérgicas tendem a ser observadas primeiramente em gatos com 6 meses a 2 anos de idade. 1- Queixa do proprietário 2- Informações de assinalamento: Abordagem diagnóstica Obtenção do Histórico Sexo: felinos machos inteiros, especialmente se tiverem vida livre, são mais propensos a abscessos e outras infecções. Raça: esse item é menos importante do que em cães, porém existem algumas doenças relacionadas com a raça, como a dermatite por Malassezia de gatos Rex. Estilo de vida e o fato de haver ou não outros gatos morando no mesmo local: gatos com acesso ao ambiente externo são mais passíveis de contrair doenças cutâneas contagiosas; assim, saber se há problema de pele em outros felinos do lugar pode ajudar a determinar se a doença cutânea é contagiosa. Origem: animais de companhia recém-adquiridos de criadores, abrigos, lojas especializadas ou organizações de resgate apresentam risco maior de doenças cutâneas contagiosas e infecciosas. Data de início Desenvolvimento agudo ou crônico: início agudo pode sugerir reações medicamentosas ou reações irritantes em contraste com um problema crônico que é mais compatível com doenças alérgicas ou tumores. Gatos mais velhos são mais suscetíveis a doenças cutâneas imunomediadas, tumores ou doenças associadas a doenças sistêmicas. Com relação à doença cutânea em si, o veterinário deve estabelecer os seguintes elementos fundamentais: Sazonalidade: as doenças cutâneas sazonais envolvem pulgas, alergias a pulgas, dermatites atópicas e doenças parasitárias. As alergias alimentares não são sazonais. Qual era o aspecto no início? A doença é pruriginosa? O prurido desenvolveu-se antes, ao mesmo tempo ou após o desenvolvimento das lesões? Quão grave é o prurido, e com que frequência ocorre? Como o prurido se manifesta (p. ex., com o animal dando mordidas, comendo as unhas, puxando o pelo, esfregando-se)? Que partes do corpo estão acometidas? O prurido responde a tratamento com corticosteroide? Em gatos com prurido conhecido ou suspeito, existem cinco pontos fundamentais a estabelecer: Vibrissas: estão rombas ou quebradas? Há possibilidade de isso ser sinal de prurido e é comum em gatos atópicos. 3- Exame físico Queixos e lábios: há perda de pelo? Há comedões ou furúnculos? Esses são sinais de fricção facial. Orelhas e áreas pré-auriculares: há exsudato excessivo nas orelhas? Qual a consistência? A hiperpigmentação pré-auricular pode ser decorrente de comedões. Há evidências de hematoma auricular pregresso? As lesões estão na parte interna das orelhas? Há perda de pelo ou crostas nas orelhas? Dermatofitose e pênfigo acometem as orelhas. As margens das orelhas são normais? Margens irregulares podem decorrer de traumatismo, enregelamento ou neoplasia. Há pelo branco na cabeça? A pele está normal? Se estiver anormal, poderá ser decorrente de lesão solar. Além disso, há possibilidade de ocorrerem carcinomas escamocelulares ou alterações actínicas iniciais Prurido: coceira Nariz e face: há perda de pelo? Crostas? Ulceração? Cavidade bucal: procurar úlceras ou erosões Patas e leito das unhas: gatos com prurido costumam morder as unhas, que terão aspecto quebrado e dividido. Há fragmentos cerosos pretos próximos do leito da unha ou na área interdigital? Com frequência, esse é um sinal de crescimento excessivo de leveduras associado a alergias ou doenças sistêmicas. Os coxins plantares estão normais? Crostas e espessamento dos coxins plantares são anormais e podem ser causados por doenças imunomediadas, dermatofitoses e síndrome hepatocutânea. Há calosidades nos coxins plantares? Isso pode sugerir distúrbio de queratinização ou anormalidade de desenvolvimento, ou ainda explicar claudicação. Os coxins plantares parecem inchados? Isso é comum na pododermatite por plasmócitos. Qualidade dos pelos: os gatos praticam autolimpeza meticulosa, e pelos emaranhados e não cuidados não são normais. Há descamação excessiva? Os pelos têm descamação presa? Isso é comum em gatos com piodermite bacteriana. Se houver descamação, ela é espessa e aderente? Isso é gravemente anormal e está mais comumente associado a doenças neoplásicas ou imunomediadas. Também pode ser encontrada em dermatofitose grave. Os pelos se soltam com facilidade? Há perda de pelo? Em caso afirmativo, os pelos estão ásperos, sugerindo raspagem? Qual o padrão geral da perda de pelo? Ventre: inspecionar atentamente os mamilos. Há pústulas ou crostas? Pústulas ao redor dos mamilos são raras e mais comumente vistas nos casos de pênfigo. Examinar a cauda e a base da cauda. Pelo excessivamente oleoso na cauda sugere inflamação de glândulas sebáceas, autolimpeza ruim, ou ambas. Convém inspecionar atentamente a pele quanto a lesões primárias e secundárias. Muitas lesões não são encontradas facilmente, exceto por palpação da pele. Os comportamentos e os achados clínicos associados a prurido são (porém não estão limitados a) ato de coçar e morder o corpo evidente, esfregação da face, vibrissas quebradas e tortas, perda de pelo no queixo, formação de comedões nos lábios e no queixo, balançar da cabeça, excesso de autolimpeza, pelo quebrado ou eriçado, mancha por saliva das patas, automutilação, tiques nervosos e irritabilidade quando o animal é acariciado. O problema cutâneo mais comum em gatos é o prurido, e o diagnóstico ou é evidente ou exige exames sistêmicos. As três causas mais comuns de prurido em gato são parasitos, infecções e doenças cutâneas alérgicas. Prurido Otodectes A infestação por ácaros mais comum em gatos é o ácaro da orelha Otodectes. Os ácaros alimentam-se de epitélio e o canal da orelha preenche- se de material preto-acastanhado. Os sinais clínicos clássicos são secreção em borra de café e prurido. As infestações por ácaros dos ouvidos não tratadas e tratadas inadequadamente podem levar a infecções secundárias, otite externa (OE) ou otite média (OM) purulenta e hematomas na orelha. O diagnóstico de infestações por ácaros da orelha é feito encontrando-se ácaros por exame direto com o otoscópio ou, mais comumente, em citologia de swab de orelha em óleo mineral. Os fragmentos são removidos delicadamente do canal da orelha, pois nenhum tratamento tópico para a orelha ou tratamentos spot-on (p. ex., selamectina) consegue penetrar nesse material, que pode conter grande número de ácaros e ovos. O óleo mineral é útil para amolecer o material. O alívio do prurido no ouvido é proporcionado pela aplicação tópica de um esteroide ótico Um tratamento de corpo inteiro é empregado para prevenir a reinfestação de ácaros migrantes. Recomenda-se o uso concomitante de um acaricida ótico e um produto para controle de pulgas no corpo inteiro. Há diversos protocolos de tratamento bem aceitos e eficazes para infestações por ácaros. Os pontos fundamentais de tratamento são: Causas parasitárias de prurido Ácaros e piolhos do pelo Os ácaros mais comuns do pelo são Dermanyssus gallinae, Lynxacarus radovskyi, trombiculídios (bicho-de-pé) e Cheyletiella spp. D. gallinae, ou ácaro-da-galinha, é mais comum em pássaros silvestres e pássaros criados como animais de estimação. Os gatos de estimação são expostos mais comumente quando as casas têm pássaros silvestres fazendo ninhos próximos a pórticos telados. O diagnóstico pode ser difícil, porém um achado útil no histórico consiste em o proprietário relatar encontrar pássaros novinhos mortos próximos a esses ninhos. As infestações por L. radovskyi foram relatadas no Havaí, no Texas e na Flórida. Os sinais clínicos variaram de prurido leve a intenso e erupção papular. As infestações por ácaros foram generalizadas e produziram grande quantidade de descamação. Nos poucos casos vistos por esses autores, os ácaros não foram difíceis de serem encontrados. Os trombiculídios são uma causa pouco diagnosticada de pruridoem gatos. Os bichos-de-pé vivem em material orgânico, e é a larva que parasita e se alimenta de animais. As picadas podem ocorrer em qualquer lugar, porém são mais comuns em áreas de contato com grama ou solo. O sinal clínico mais comum é uma erupção papular. Nos casos vistos pelos autores, tanto os proprietários quanto os gatos estavam acometidos. As infestações são sazonais e tendem a ocorrer no fim do verão e no outono. Os ácaros do gênero Cheyletiella são a causa mais conhecida e comum de infestação de ácaros no pelo de gatos. Os animais infestados podem ser assintomáticos e não identificados até que pessoas ou outros gatos estejam acometidos. A apresentação clínica clássica consiste em descamação dorsal com prurido de leve a moderado, que pode ser intenso. Já o ácaro Notoedres cati, também conhecido como “sarna felina”, é responsável por uma doença cutânea de gatos altamente pruriginosa. É incomum e encontrada com maior frequência em gatis e locais com diversos gatos. Os gatos acometidos apresentam crostas e descamação intensamente pruriginosas em face, orelhas, cabeça, pescoço, patas e região perineal. Se não tratada, a pele torna-se liquenificada, hiperpigmentada, alopécica e escoriada. Esses ácaros são encontrados com facilidade em raspados de pele. Os piolhos são espécie-específicos e contraídos por contato direto com outro hospedeiro infectado. Os gatos são acometidos por apenas uma espécie de piolho, Felicola subrostratus. Os animais infestados podem estar assintomáticos ou, mais comumente, manifestar inquietação, prurido, descamação, perda de pelo e irritabilidade. As opções de tratamento para as infestações de piolho, ácaros do pelo, Cheyletiella e Notoedres são semelhantes. A chave para o tratamento exitoso consiste em usar um produto que seja aplicado em toda a cobertura de pelo. Se possível, o gato deve ser banhado, a fim de remover resquícios, descamação em excesso, casulos de ovos e lêndeas do pelo. A doença é causada por D. cati, um ácaro fino e longo, ou por D. gatoi, um ácaro arredondado e curto. A doença cutânea pode estar limitada às orelhas, provocando otite pruriginosa. É possível que também sejam encontradas lesões cutâneas localizadas ou generalizadas. As lesões localizadas, em geral, caracterizam-se por perda de pelos em áreas, descamação e eritema(vermelhidão) ao redor dos olhos ou sobre a cabeça ou o pescoço. Podem ser encontrados eritema, descamações, crostas, pelos facilmente depiláveis, alopecia (calvície) simétrica ou apenas prurido intenso semelhante a tremores felinos. O D. cati é encontrado mais comumente em gatos com prurido nas orelhas ou com lesões cutâneas e doença concomitante, como diabetes melito, hiperadrenocorticismo felino, vírus da imunodeficiência felina (FIV), vírus da leucemia felina (FeLV), toxoplasmose, lúpus sistêmico ou outras doenças imunomediadas e neoplasia. O D. cati não é considerado um ácaro contagioso. Já o D. gatoi cada vez mais é visto como doença cutânea pruriginosa de gatos e com contágio conhecido. Cada vez mais é encontrado em gatos com alopecia simétrica. Demodicose Infestações por carrapatos e pulgas e hipersensibilidade a picada de pulgas As infestações por pulgas são mais comuns nos meses de clima quente, mas podem ser encontradas durante o ano todo, mesmo em climas com estações bem definidas e invernos frios. As infestações por pulgas podem provocar anemia grave por picada de pulgas. Gatos jovens, idosos e gravemente debilitados correm maior risco. Os gatos não alérgicos a pulgas podem não demonstrar sinais de doença, mesmo se a cobertura pilosa estiver intensamente infestada por elas. Isso representa um estado de tolerância e não é comum em gatos de companhia. A maioria dos gatos com infestação por pulgas tem prurido. Perda de pelo, descamação, erupções papulares com ou sem crostas e áreas de autotraumatismo (ou seja, placas eosinofílicas) são comuns. A intensidade do prurido em gato alérgico a pulgas é desproporcional ao número de pulgas encontrado. Pode não ser encontrada pulga alguma porque os gatos alérgicos a pulgas irão morder, mordiscar, caçar e ingerir pulgas. A perda de pelo na área lombossacra, nos membros posteriores e no pescoço é comum. A dermatite miliar (pequenas crostas vermelhas de soro e sangue) também é comum, especialmente na face e no abdome. Lábios ulcerados e alopecia simétrica são habituais. Lesões do tipo “úlcera roedora” costumam resultar de picadas de pulga ao redor dos lábios. As infestações por carrapatos, de fato, ocorrem em gatos e precisam ser controladas porque podem transmitir doenças infecciosas. Com frequência, os proprietários não observam infestações ou não acreditam que elas possam ocorrer, pois é possível os carrapatos serem removidos mecanicamente por autolimpeza em muitos casos. As picadas de carrapato podem levar a pequenas reações nodulares na pele no local da fixação. As lesões tendem a ocorrer várias semanas após a picada. Outra complicação comum da infestação por carrapatos é a invasão do canal auditivo. Um gato acometido pode manifestar otite ou, possivelmente, doença vestibular grave. As causas infecciosas de pele pruriginosa em gatos são proliferação bacteriana (piodermite), proliferação de leveduras e dermatofitose. Piodermite Os patógenos mais comumente isolados são Staphylococcus spp. Os sinais clínicos de piodermite bacteriana felina são pápulas (caroços), pústulas (espinhas) (raras), lesões semelhantes a dermatite miliar, colaretes epidérmicos e descamação. Causas infecciosas de prurido Placa eosinofílica. Aréa sem pelos, avermelhada e ulcerada. O agente desencadeador pode ser um evento isolado que passou (p. ex., infestação por pulgas), ou, mais frequentemente, uma doença cutânea crônica subjacente ou uma doença sistêmica. Proliferação de Malassezia É causada pela proliferação da levedura Malassezia spp., que é parte da flora normal dos canais auditivos, mucosas (oral e anal) e bolsas anais. As manifestações clínicas encontradas com mais frequência são otite externa. As orelhas podem conter material negro ceroso ou apenas resquícios ceruminosos excessivos. Resquícios cerosos ao redor do leito das unhas de gatos não são comuns e são típicos de dermatite por Malassezia . O sinal clínico unificador consiste em prurido que varia desde brando a intenso. A dermatite por Malassezia é uma complicação frequente de doenças cutâneas alérgicas, autolimpeza ruim, imunossupressão decorrente de FIV ou FeLV, diabetes melito e neoplasia. A técnica de amostragem depende do local anatômico acometido: swabs de orelha para orelha, raspados com espátula para leitos de unhas e áreas de tampões foliculares e acne do queixo e preparado com fita de acetato para locais na pele. As raças de gatos com cobertura anormal de pelo (p. ex., Rex, Sphynx) têm maior produção de óleo na pele e correm o risco de proliferação de leveduras. Isso pode envolver o corpo inteiro, as pregas das unhas ou ambos. Não obstante, é importante ter em mente que o crescimento excessivo de leveduras sempre decorre de uma doença cutânea subjacente ou de uma condição clínica. Falta de resposta ao tratamento pode ser consequência de infecção bacteriana concomitante não diagnosticada ou de doença cutânea subjacente persistente. Tratamento: A higiene, seja por um profissional ou pelo proprietário, é muito útil em gatos com dermatite por levedura. A remoção de pelos soltos, descamação e óleos acumulados, associada a terapia sistêmica, é bastante útil. Se a proliferação de leveduras estiver restrita a uma área focal, como leito de unhas, queixo ou orelhas, pode ser realizada a aplicação tópica de xampu ou solução antibacteriana e antifúngica associada. Em geral, o uso de produtos contendo fitosfingosina é fortemente recomendado. Dermatofitose Esta é a doença cutânea infecciosa e contagiosa mais comum em gatos, e o prurido pode variar. Esta doença de pele é discutida na seção sobre descamação, crostas e pele oleosa. Causas alérgicas de prurido As doenças cutâneas alérgicas mais comunsde gatos são dermatite por alergia a pulgas, alergia alimentar, dermatite atópica felina e hipersensibilidade felina a picada de insetos. O diagnóstico tem por base histórico; sinais clínicos compatíveis; descarte de outras etiologias mais comuns de doença alérgica; e resposta a esquemas de tratamentos. Dermatite por alergia a pulgas A dermatite por alergia a pulgas é uma doença cutânea muito comum de felinos, causada por reações de hipersensibilidade a picadas de pulgas. Conforme a região geográfica, os sinais clínicos podem ser sazonais ou ocorrer durante todo o ano. Os sinais clínicos sazonais são mais comuns em regiões onde existem estações de tempo frio bem definidas; a alergia a pulgas tende a ocorrer nos meses de tempo quente, porém nem sempre. Pode haver uma população viável de pulgas, suficientemente grande para perpetuar a dermatite por picadas de pulgas, em durante os meses de inverno. Além disso, pequenos mamíferos que vivem no local ou ao redor dela podem ser uma fonte de exposição a pulgas durante todo o ano. O padrão clássico consiste em perda de pelo e dermatite miliar (a dermatite miliar é um padrão clínico caracterizado por apresentar várias pápulas eritematosas com crostas aderentes castanhas ou negras, de tamanho variável devido a uma reação de hipersensibilidade) sobre a região lombossacra e membros posteriores. A dermatite por alergia a pulgas é uma causa comum de alopecia simétrica com lesões pruriginosas papulares recorrentes, proliferação recidivante de bactérias e leveduras, doenças eosinofílicas e comportamentos estranhos. A alergia a pulgas é um diagnóstico diferencial importante em gatos levados a exame devido a mordeduras frequentes da pele; ataques frenéticos súbitos da pele; e episódios repentinos de comportamentos hiperativos por meio dos quais o felino parece ser caçado ou tenta escapar. Outra apresentação de possível alergia a pulgas são pequenas úlceras eosinofílicas no lábio, com frequência intermitentes. O diagnóstico de dermatite por pulgas pode ser fácil ou difícil. A existência de um histórico clínico compatível, sinais clínicos e pulgas ou excrementos de pulgas indica bastante. Infelizmente, esses últimos não são encontrados com frequência em gatos que conseguem se limpar de modo eficaz. A testagem intradérmica com antígeno de pulgas e a observação da reação positiva são sugestivas, porém não são diagnósticas. O melhor instrumento diagnóstico é a resposta ao controle de pulgas. Hipersensibilidade a picada de insetos A hipersensibilidade a picada de insetos é uma doença cutânea causada por reações de hipersensibilidade a picadas de pequenos insetos picadores. A hipersensibilidade a picada de insetos pode ocorrer em gatos que andam livremente no meio externo ou naqueles que têm acesso ao meio externo por meio de quintais telados ou com telas que possibilitem a entrada de insetos. Os sinais clínicos podem ocorrer durante todo o ano, dependendo da geografia e do ciclo de vida do inseto picador. As picadas de insetos ocorrem sobre áreas de pelos finos do gato, como nariz, face interna e externa das aurículas, área periocular e coxins plantares próximo à junção das áreas com e sem pelo. As picadas de insetos resultam em pápulas que variam em gravidade desde brandas a graves. Os sinais clínicos tornam-se mais intensos conforme a gravidade do prurido aumenta e podem envolver ulceração disseminada, perda de pelo, hiperpigmentação ou hipopigmentação. O diagnóstico baseia-se, principalmente, no histórico e nos sinais clínicos. A exposição a ambientes externos, particularmente pela manhã ou à noite, deve levantar suspeita. As lesões sofrerão resolução em 1 semana sem tratamento se o gato for mantido dentro de casa. Não há necessidade de tratamento, a menos que o prurido seja intenso. As opções de tratamento possíveis são doses anti-inflamatórias de prednisolona (0,5 mg/kg por via oral, 1 vez/dia até que as lesões sofram cicatrização) ou doses de prednisolona em dias alternados se o gato não puder ser mantido dentro de casa. A doença pode ser prevenida mantendo-se o gato dentro de casa. Se isso não for possível, o gato deverá ser mantido dentro de casa nos períodos do amanhecer e do anoitecer. Alergia alimentar As alergias alimentares em gatos são causadas por reação de hipersensibilidade a um alimento ou aditivo alimentar. Neste gato, as orelhas foram atacadas e as picadas de inseto resultaram em rápido desenvolvimento de pequenos granulomas eosinofílicos. Os sinais clínicos da alergia alimentar são muito variáveis. Não existe uma apresentação clássica. As alergias alimentares podem se manifestar com ou sem sinais gastrintestinais; contudo, em um estudo, a existência de sinais concomitantes foi a apresentação mais comum. A única maneira de diagnosticar a alergia alimentar consiste na implementação de um experimento de dieta estrito sucedido por um teste de desafio. A hipersensibilidade dietética é diagnosticada quando o sinal clínico- alvo (ou seja, prurido) sofre resolução quando a dieta-teste está sendo administrada e volta quando o gato é alimentado com sua dieta original. Os experimentos dietéticos devem ser conduzidos durante um período de 8 a 12 semanas para se ter certeza e, durante esse tempo, poderia ocorrer mudança de estação ou outros fatores. Consequentemente, é necessária a prova positiva por meio do desafio. Não há consenso entre os dermatologistas veterinários sobre a melhor dieta, nem estudos que apoiem alguma em particular. Existem três tipos principais de dietas usados em experimentos alimentares: dietas caseiras, dietas com novas proteínas e dietas hidrolisadas. Dermatite atópica É uma doença cutânea causada por uma hipersensibilidade tipo 1 a alérgenos ambientais em gatos. O trabalho diagnóstico para a dermatite atópica felina é feito descartando-se outras etiologias comuns de prurido (ou seja, parasitos, infecções, alergia a pulgas e alergia alimentar) e ter histórico e sinais clínicos compatíveis. Além da alopecia simétrica felina, alguns dos sinais clínicos mais comuns são, porém não estão limitados a, lesões eosinofílicas recorrentes (placas, granuloma linear, dermatite miliar, úlceras nos lábios), “queixa do gato que se coça todo”, alopecia em áreas específicas, mordedura da cobertura de pelos, perda de pelo nas faces medial e lateral dos membros, prurido podal, crescimento excessivo de leveduras no leito das unhas, otite recorrente por leveduras, aumento da secreção ceruminosa dos ouvidos, alopecia simétrica, vibrissas quebradas, perda de pelo no queixo e nos lábios e desenvolvimento de comedões. A cobertura de pelos pode estar sem brilho, áspera ou, até mesmo, úmida. Os sinais não dermatológicos podem ser rinite, espirros, conjuntivite, tosse crônica e linfadenopatia. Perda de pelo na face medial do membro anterior. Gato atópico com prurido podálico. Este gato comeu as unhas e apresentava requícios cerosos na base da unha. Se o gato regularmente vai para a área externa, mantê-lo dentro de casa diminuirá a exposição direta a diversos alérgenos sazonais. O pólen pode ser reduzido no interior da casa por meio da limpeza regular dos ductos de aquecimento da casa e do uso de filtros para fornalha descartáveis de alta qualidade. Para os gatos com alergia a ácaros da poeira domiciliar, camas antigas de gatos devem ser substituídas por camas novas lavadas no mínimo 1 vez/semana. Pele escamosa, crostosa e oleosa A descamação (“caspa”) e as crostas são queixas comuns dos clientes. Crostas e esfoliação disseminadas não são comuns e, em geral, estão associadas a um problema clínico ou a doença dermatológica mais grave. A cobertura de pelos com oleosidade pode ser focal ou generalizada. Dermatofitose A dermatofitose é a doença cutânea infecciosa e contagiosa mais comum em gatos. O patógeno isolado com maior frequência é M. canis; no entanto, os gatos podem ser infectados por Trichophyton spp. e Microsporum gypseum. É mais comum em filhotes do que em adultos. A dermatofitose é transmitida pelo contato comambientes contaminados ou por outros animais infectados. Para que uma infecção se estabeleça com sucesso, os artrósporos (material infectante formado a partir da segmentação e da fragmentação de hifas fúngicas) têm de se livrar dos mecanismos protetores mecânicos, fisiológicos e imunológicos. O mecanismo protetor mais importante do gato consiste em pelo sadio associado a autolimpeza de rotina. Descamação excessiva Depois que os esporos penetram na cobertura de pelo e alcançam a superfície da pele, é necessário algum tipo de traumatismo para estabelecer a infecção, pois os esporos não conseguem penetrar na pele íntegra. O aumento da hidratação e da maceração da pele favorece a penetração e a germinação de esporos. Em geral, a pele e os pelos normalmente secos associados às propriedades fungistáticas do soro e do sebo são defesas fisiológicas naturais do hospedeiro. O comportamento normal de autolimpeza dos gatos distribui o sebo de áreas de alta concentração e produção (queixo e dorso) a outras áreas. O período de incubação é de cerca de 1 a 3 semanas a partir do tempo de exposição até o desenvolvimento de lesões. A recuperação da infecção depende de uma forte resposta imunológica celular; o estresse e a imunossupressão comprometem a recuperação. A doença acomete o folículo piloso e os achados clínicos mais comuns são perda de peso, quebra do pelo, descamação e crostas. As consequências do prurido variam desde nenhuma até automutilação. Gato com dermatofitose. Trata- se de doença folicular, cuja maior característica consiste na perda de pelo. Nesse caso, as lesões estavam na face e na área pré- auricular. Os gatos com dermatofitose generalizada frequentemente ingerem grande quantidade de pelo durante a autolimpeza e podem ter histórico de vômitos, constipação intestinal, problemas com bola de pelos ou com qualquer associação desses fatores. Também são comuns eritema e descamação da face interna ou da face externa (ou ambas) das orelhas como sintomas de apresentação em gatos adultos. Áreas de descamação com pequena alopecia ou quebra do pelo são uma das apresentações mais comuns em gatos de pelo longo. É importante ter em mente que esta doença apresenta cura espontânea em gatos sadios nos demais aspectos. O motivo pelo qual os gatos são tratados consiste em acelerar a resolução da doença, limitar a disseminação a outros animais e pessoas e diminuir a contaminação do ambiente. Sem o tratamento, os gatos e os filhotes estarão curados em 60 a 100 dias, ao passo que, com o tratamento, esse tempo pode ser significativamente encurtado. O tratamento ideal envolve modalidades tópicas, sistêmicas e ambientais, cada uma com um papel diferente. O tratamento tópico reduz a contaminação da cobertura de pelos, ajuda a minimizar a reinfecção do hospedeiro e diminui a disseminação de esporos para o ambiente. O tratamento sistêmico beneficia o gato por reduzir o número de semanas para completar a cura por afetar o crescimento do dermatófito no estágio de folículo piloso. A limpeza do ambiente reduz as possibilidades de infecção e disseminação para outros hospedeiros suscetíveis. As seguintes estratégias reduzirão a contaminação em casa: •Tão logo um animal seja infectado, isolá-lo em um cômodo de fácil limpeza •Remover tudo o que for desnecessário do cômodo e manter as portas de armários fechadas •Remover brinquedos contaminados e lavar as camas •Tosar, pentear ou usar rolo de retirar fiapos a fim de remover pelos infectados •Usar enxágue antifúngico tópico 2 vezes/semana. A cal sulfurada é particularmente segura e eficaz •Limpar a casa de modo rotineiro e usar a técnica de tríplice limpeza no cômodo onde o gato está confinado. •Após o gato estar curado, a casa deve ser lavada completamente, utilizando-se a técnica da tríplice limpeza. Superfícies que possam ser danificadas pelo cloro de uso doméstico devem ser limpas repetidamente com algum produto seguro específico. A adenite sebácea é uma doença imunomediada na qual as glândulas sebáceas são destruídas. Os poucos casos descritos na literatura foram apresentados com alopecia não inflamatória do corpo, áreas de perda de pelo ou um exsudato preto-acastanhado periocular ao redor das pálpebras e da vulva. A doença é diagnosticada por meio de biopsia de pele e pode ser tratada com ciclosporina. Gato Persa com a face oleosa. O animal tem exsudatos perioculares e faciais simétricos e ricos em sebo. O pênfigo foliáceo (PF) é uma doença cutânea imunomediada caracterizada pela perda da adesão intercelular de células na epiderme. Autoanticorpos atacam as moléculas de adesão provocando o descolamento das células epidérmicas. Os neutrófilos invadem os espaços em resposta aos mediadores inflamatórios. A doença pode ocorrer de modo espontâneo ou ser consequência de reações medicamentosas. A doença é mais comum em gatos de meia-idade. Clinicamente, a doença caracteriza-se por ondas de pústulas íntegras que se rompem e formam crostas, o que resulta em áreas acometidas por crostas e descamação. Em gatos, as lesões são encontradas com maior frequência na face, no nariz e na face interna das aurículas. As lesões também podem envolver as patas, o que resulta em paroníquia exsudativa e Síndromes de seborreia oleosa Adenite sebácea Pênfigo foliáceo crostas nos coxins plantares. As lesões podem disseminar-se e são palpadas mais facilmente do que observadas. Há pequenas crostas sobre áreas de exsudação por toda a cobertura de pelos. Pústulas íntegras são difíceis de encontrar e são mais comuns na face interna das orelhas e ao redor das mamas. Conforme mencionado anteriormente, as lesões tendem a se desenvolver em ondas, e os gatos podem ficar deprimidos e febris imediatamente antes do início do desenvolvimento de uma onda de lesão. Gato com pênfigo foliáceo. Observar as lesões no nariz e na ponta das orelhas. Esta é uma doença que pode ser controlada, porém não curada. Esta é uma doença que pode ser controlada, porém não curada. As lesões têm início como dermatite eritematosa não pruriginosa que logo se torna acentuadamente esfoliativa na cabeça, no pescoço, nas orelhas e no corpo. A proliferação de leveduras é muito comum e ocorre em números muito grandes, e esses microrganismos são encontrados com facilidade em biopsia da pele. São sinais não dermatológicos tosse, dispneia, anorexia, letargia e perda de peso. Ocorrem alterações solares ou actínicas em virtude da exposição crônica à luz solar e aos raios ultravioleta. Os efeitos prejudiciais dependem da duração e da frequência da exposição, da intensidade de ação e da reatividade da pele, que tem por base coloração da pele geneticamente determinada, densidade da cobertura de pelos e suscetibilidade genética. Em gatos, os sinais clínicos iniciais aparecem nas margens das orelhas com pelos esparsos sob a forma de eritema e descamação fina. À medida que as lesões evoluem, o eritema aumenta com a formação de crostas e escamas, dor e movimentação das orelhas. A progressão adicional das lesões não tratadas leva a ulceração e hemorragia. Além das lesões na orelha, podem ocorrer lesões solares ou actínicas na pálpebra e nas faces dorsais do nariz. O diagnóstico definitivo é feito por meio de biopsia. O tratamento clínico varia desde limitar a exposição ao sol até a excisão cirúrgica da área acometida. O linfoma epiteliotrópico é um linfoma de células T cutâneo incomum, caracterizado por eritrodermia esfoliativa pruriginosa com perda de pelo e descamação. Essa neoplasia é diagnosticada por meio de biopsia cutânea. Dermatite esfoliativa paraneoplásica Linfoma epiteliotrópico Dermatite solar ou actínica Esfoliação. Este gato tem esfoliação intensa e proliferação de Malassezia. Acne do queixo e furunculose do queixo Considera-se a acne um distúrbio folicular que varia em apresentação desde comedões dispersos até furunculose intensa do queixo. O lavado facial com um xampu antibacteriano e antifúngico suave pode ser útil. Em muitos casos, lavar com água morna apenas junto a terapia antimicrobianasistêmica é eficaz. Após o prurido, a alopecia é o motivo mais frequente pelo qual os gatos são levados ao veterinário para exame dermatológico. A causa mais comum de alopecia em gatos é a lambedura autoinduzida. A alopecia simétrica de felinos (ASF) é um padrão de reação clínica no qual o gato manifesta alopecia simétrica sob o tórax, o flanco, o abdome ventral ou as regiões pélvicas. Na maioria dos casos, a etiologia subjacente é uma doença pruriginosa que pode estar complicada por proliferação secundária bacteriana ou de leveduras. A ASF também é capaz de se desenvolver após exposição a irritantes ou fármacos tópicos. No início da avaliação diagnóstica, é importante determinar se o excesso de autolimpeza está associado a dor ou a uma doença clínica, de modo que o gato não sofra inutilmente. A autolimpeza excessiva do abdome ventral pode indicar dor abdominal, particularmente dor associada à bexiga. O tratamento deve aliviar a autolimpeza excessiva, possibilitando que o pelo cresça novamente e retorne, uma vez retirada a substância modificadora do comportamento. Alopecia Alopecia simétrica de felinos O eflúvio telogênico é um padrão de perda de pelo não pruriginoso e não inflamatório caracterizado por pelos facilmente removidos. Clinicamente, os pelos são removidos com facilidade mediante tração delicada, e, com frequência, tem-se a impressão de que a cobertura de pelos pode ser quase retirada. Este distúrbio é comum em gatos ou gatinhos de abrigos para animais que apresentam histórico de infecção respiratória grave, especialmente acompanhada de febre. A perda de pelo sem prurido sofre resolução sem tratamento. A hipotricose congênita é uma doença rara na qual um ou mais filhotes felinos em uma ninhada são acometidos. Os gatinhos nascem alopécicos ou perdem seus pelos no primeiro mês de vida. A biopsia de pele revela ausência de folículos pilosos ou estes se mostram acentuadamente atróficos. O problema é estético, porém convém ter cuidado para a pele não ser lesada com a falta de proteção da cobertura de pelos. Eflúvio telogênico. Esse gato encontrava-se em um abrigo, e grandes quantidades de pelo eram retiradas com facilidade. A cobertura de pelo cresceu novamente. Eflúvio telogênico Hipotricose congênita Perda de pelo congênita em filhote felino. Um gatinho na ninhada nasceu sem folículos pilosos no tronco. A alopecia paraneoplásica é uma rara doença cutânea em gatos em que existe alopecia disseminada. Uma característica exclusiva da pele é que o animal tem o aspecto brilhoso e os pelos remanescentes são facilmente retirados. Pode estar associada ao crescimento excessivo de bactérias e de microrganismos Malassezia. É vista mais comumente em gatos com neoplasias sistêmicas e é reversível se a neoplasia original for removida. Este é um sinal clínico de doença sistêmica. As causas mais comuns de alopecia inflamatória focal em gatos são dermatofitose, piodermite com ou sem infecção leveduriforme secundária, demodicose e autotraumatismo secundário a uma infestação parasitária. A inspeção atenta da pele revela que essas lesões raramente são solitárias. Os exames diagnósticos principais envolvem cultura para fungos, citologia da pele, tricograma e raspado de pele. Alopecia paraneoplásica Alopecia inflamatória focal Alopecia pré-auricular e auricular A perda de pelo pré-auricular é normal em gatos, porém é mais intensa em gatos de cor escura. A alopecia auricular é incomum e caracteriza-se por crises episódicas de perda de pelo no pavilhão auricular. Os gatos Siameses são predispostos. Este problema é estético e não convém tratamento algum. Alopecia auricular. Perda de pelo bilateralmente simétrica nas orelhas de um gato de meia-idade. Neoplasia paraneoplásica. Observar a alopecia, as descamações finas e a pele brilhosa. Alopecia areata A alopecia areata é uma doença cutânea imunomediada que se manifesta como áreas solitárias ou múltiplas de alopecia não inflamatória. As áreas são bem demarcadas e podem ocorrer em qualquer parte do corpo. O diagnóstico é feito descartando-se outras causas de perda de pelo focal não inflamatória e por biopsia cutânea. Não existe tratamento bem- sucedido. É importante descartar infecções ou etiologias contagiosas de perda de pelo. As causas mais comuns de úlceras e erosões em gatos são doenças pruriginosas ou associadas a descamação e crostas. Essas lesões podem ter aspecto impressionante e o objetivo imediato do histórico e do exame físico consiste em determinar se as lesões devem-se a uma etiologia infecciosa, contagiosa, imunomediada ou de outra maneira potencialmente fatal. Na maioria dos casos, os exames diagnósticos mais úteis em gatos com úlceras ou erosões são citologia da lesão e do exsudato, culturas para fungos e biopsia cutânea. Algumas condições carecem de menção especial. A ulceração bucal em gatos está associada mais comumente a doenças virais, e o diagnóstico imediato em geral não é difícil. Não se conhece a etiologia, e as lesões são difíceis de controlar. Algumas são tão refratárias a tratamento que a excisão cirúrgica é a única opção. Se houver dor neuropática envolvida, a gabapentina pode ser uma opção terapêutica. Úlceras e erosões As lesões eosinofílicas são aquelas caracterizadas por eosinófilos ao exame histológico da pele ou ao exame citológico de amostras de biopsia cutânea. A eosinofilia periférica é variável. Nos casos graves, há possibilidade de os gatos apresentarem linfadenopatia e de o aspirado com agulha fina revelar linfonodos reativos com grande número de eosinófilos. As lesões tendem a ser pruriginosas e estão mais comumente associadas a doença cutânea alérgica. Lesões eosinofílicas O termo úlcera indolente descreve uma lesão erosiva unilateral ou bilateral no lábio superior de gatos de qualquer idade. Recentemente, têm surgido evidências de que alguns gatos podem apresentar predisposição genética para o desenvolvimento de lesões quando expostos a desencadeadores alérgicos, particularmente pulgas. Outro achado interessante é que essas lesões também podem ocorrer como resultado de corpos estranhos (p. ex., espinhos de cactos) ou no local de uma lesão focal, como nas margens dos lábios em locais onde foram encontrados pelos infectados por dermatófitos, infestados por pulgas de aves ou carrapatos. As úlceras indolentes em decorrência de traumatismo focal são transitórias e, com frequência, ocorrências únicas e podem explicar por que, em alguns gatos, particularmente filhotes novos, as lesões podem se desenvolver e sofrer resolução sem tratamento e sem recorrer. As lesões que persistirem ou que forem recorrentes são causadas por um desencadeador persistente, como alergias alimentares ou atopia. Recomenda-se o tratamento inicial com antibióticos. Pode ser necessário tratar lesões que não respondam completamente a antibióticos com glicocorticoides até as lesões sofrerem resolução Úlcera indolente A dermatite miliar refere-se a um padrão de reação eritematoso da pele com formação de crostas. As placas eosinofílicas são lesões elevadas exsudativas, erosivas, intensamente pruriginosas e de tamanho variável. As lesões são o resultado direto de autotraumatismo e são vistas comumente na face, no abdome, na região inguinal, nas áreas medial e caudal das coxas e no pescoço. Essas lesões são desencadeadas com maior frequência por um evento que provoca prurido e leva ao ato de coçar. As lesões recorrentes costumam ser o início de uma doença alérgica subjacente, embora nem sempre esse seja o caso. Essas lesões também podem se desenvolver como resultado de infecções decorrentes de dermatofitose, bactérias e Malassezia spp. Úlcera indolente focal. Essa lesão encontra-se no local de diversos pelos infectados por N. canis. Dermatite miliar e placas eosinofílicas Dermatite miliar. Placa eosinofílica. Hipersensibilidade a picada de mosquitos e insetos A hipersensibilidade a picada de mosquitos e insetos caracteriza-se pela erupção erosiva papular em face, pontas das orelhas, nariz e coxinsdigitais de gatos. As lesões tendem a começar em áreas de pelo fino e podem ser mais comuns em gatos de cobertura escura. As lesões são intensamente pruriginosas, podendo ocorrer despigmentação, crostas e exsudatos. Tipicamente, os gatos acometidos têm acesso ao meio externo, especialmente de manhã cedo ou ao entardecer, quando esses insetos estão se alimentando. Lesões eosinofílicas familiares As lesões eosinofílicas familiares foram descritas em gatos de laboratório sem patógeno específico por, pelo menos, dois pesquisadores. Esses gatos desenvolveram lesões entre 4 e 18 meses de vida, e observou-se que essas lesões recidivavam até que os gatos tivessem, no mínimo, 4 anos de vida. Em um estudo, 21 de 24 gatos descendentes desses originais também desenvolveram lesões. As lesões tendiam a ser mais comuns durante a primavera e o verão, o que sugere um possível alérgeno sazonal, inseto, desencadeador hormonal ou reprodutivo. Pele que se lacera com facilidade não é comum em gatos. As causas mais frequentes são síndrome de Ehlers-Danlos (SED), hiperadrenocorticismo felino de ocorrência espontânea, uso excessivo de glicocorticoides exógenos e reações medicamentosas. A pele lacera-se facilmente, com dor mínima associada às lesões, e cicatriza. O diagnóstico é clínico, tendo a pele uma capacidade de estiramento não natural. Não existe tratamento. Os gatos acometidos costumam morrer em decorrência de problemas relacionados com a doença (p. ex., vasos aórticos rotos) ou são sacrificados a pedido dos proprietários. Pele frágil Síndrome de Ehlers-Danlos. Este é um defeito congênito do colágeno caracterizado por pele estirável. Síndrome da fragilidade cutânea. Este gato tem hiperadrenocorticismo felino de ocorrência natural, e a pele lacera-se com facilidade. Áreas focais de pele rígida costumam se apresentar mais como nódulos e podem ser causadas por infecções bacterianas ou fúngicas, neoplasia, corpos estranhos (p. ex., tiro de chumbinho) ou paniculite nodular estéril com pan- esteastite. A causa mais comum de nódulos não inflamatórios na pele consiste em degeneração do colágeno; o desencadeador mais comum é a hipersensibilidade à picada de insetos. Indica-se a biopsia para o diagnóstico. Pele rígida Escara cutânea desenvolvida sobre uma área de traumatismo. Alterações pigmentares Hiperpigmentação pós-inflamatória A hiperpigmentação pós-inflamatória não é comum em gatos. Na experiência da autora, é mais frequente em gatos com dermatofitose. Indicam-se raspados de pele, citologia de pele e cultura para fungos para os pacientes felinos com hiperpigmentação pós-inflamatória desconhecida. Lentigo A área focal de hiperpigmentação não inflamatória encontrada com maior frequência é lentigo simples em gatos de cor alaranjada. Máculas não endurecidas planas, variando em tamanho de 1 mm até 10 mm, desenvolvem- se no nariz, nos lábios, na gengiva, nas orelhas, nas pálpebras ou no palato duro. Essas lesões podem se tornar mais disseminadas conforme o gato envelhece. São uma alteração estética, sem necessidade de tratamento. O principal diagnóstico diferencial é o melanoma. Se houver alteração no tamanho ou na natureza da lesão, indica-se a biopsia. Despigmentação A despigmentação não é comum em gatos, embora o leucoderma idiopático dos coxins de gatos da raça Siamêstenha sido relatado. Além disso, os gatos dessa raça podem desenvolver leucotriquia periocular (síndrome da viseira) após prenhez, deficiência dietética ou doença sistêmica. Acromelanismo O acromelanismo é encontrado em filhotes de gatos das raças Siamesa, Himalaia, Balinesa e Birmanesa, que nascem brancos e desenvolvem pontos pigmentados conforme amadurecem, devido à influência de temperaturas externas. Temperaturas altas produzem pelos claros, e temperaturas baixas produzem pelos escuros. Isso é causado por uma enzima que depende da temperatura envolvida na síntese da melanina. A alteração pigmentar que depende da temperatura é encontrada com maior facilidade quando a cobertura de pelos é tosada e os pelos que crescem novamente mostram-se de coloração diferente (em geral, mais escuros). A coloração normal dos pelos retorna no próximo ciclo do pelo. Doenças de coxins digitais, paroníquiae bolsas anais Os problemas mais comuns são descamação e crostas, tumefação, calosidades e calos digitais e ulceração. As etiologias subjacentes são variáveis e envolvem traumatismo, doenças alérgicas, infecções, doenças imunomediadas, tumores e doenças virais. Linfoma cutâneo. Este é um caso de linfoma cutâneo manifestado em forma de tumefação e crostas do coxim digital. Coxins digitais As duas apresentações mais comuns de paroníquia em gatos são crostas e exsudação e prurido podálico com exsudato ceroso. As causas mais comuns de crostas e exsudação do leito da unha são infecção bacteriana, infestação por Notoedres, dermatofitose e PF. Leito de unhas pruriginoso quase sempre decorre da proliferação de leveduras. Pododermatite de plasmócitos. Esta é uma doença cutânea infiltrativa benigna que acomete os coxins digitais. Observar a tumefação e o aspecto “semelhante a travesseiro”. Paroníquia Calo em coxim digital.. Leito da unha. O acúmulo de fragmentos no leito da unha ao redor da base é típico em gatos com pododermatite por leveduras. A causa mais comum de problemas em bolsas anais em gatos é o prurido perineal causado por alergias. A pele que circunda a área perineal torna-se inflamada, os pequenos ductos superficiais tornam-se intumescidos e as excreções não podem ser evacuadas quando o gato defeca. Gatos com impactações recorrentes de bolsas anais ou gatos cujos proprietários queixam-se de lambedura anal excessiva devem ser examinados com cuidado quanto a doenças cutâneas alérgicas, o que inclui alergia a pulgas, alergia alimentar e dermatite atópica. A pele perineal é facilmente colonizada em excesso por bactérias e leveduras, o que aumenta o prurido. Pode ser necessária terapia antimicrobiana sistêmica associada para resolver essa inflamação. É possível os gatos com prurido perineal não complicado, causado por alergias, serem tratados com corticoterapia tópica, esquemas curtos de esteroides por via oral, se o problema for sazonal ou ciclosporina. Tumores e outras tumefações de dígitos individuais A tumefação de dígitos individuais pode ser causada por neoplasia, corpos estranhos ou infecção. A biopsia é o modo mais rápido de diagnosticar o problema. Doenças das bolsas anais Prurido perianal. Abscesso de bolsas anais. Este gato apresentava abscessos crônicos de bolsas anais e exsudatos em decorrência de alergias. Existem três apresentações clínicas de otite em gatos, conforme a localização anatômica: otite externa (OE), otite média (OM) e otite interna (OI). Os fatores predisponentes a serem considerados em gatos são, por exemplo, clima úmido e aumento da maceração do tecido da orelha causado por autolimpeza frequente. As causas primárias são doenças que provocam diretamente doença na orelha. São exemplos doenças parasitárias, alergias, doenças autoimunes, neoplasia, distúrbios de queratinização, dermatite facial de gatos da raça Persa, doenças congênitas (raças de gatos sem pelos), corpos estranhos, pólipos e traumatismo (como lesões térmicas e enregelamento). Os fatores perpetuadores impedem que a doença da orelha se cure. Os mais comuns são bactérias e leveduras. As etiologias mais comunes de otite recorrente em gatos são OM não diagnosticada, infecções resistentes e obstruções do canal auditivo. A OE em gato inclui, por exemplo, qualquer combinação dos seguintes sinais clínicos: eritema; perda de pelo; descamação; crostas; prurido; dor; pavilhão auricular deformado; espessamento do pavilhão externo; odor; e exsudato de coloração, quantidade e consistência variáveis. O proprietário pode relatar agitação da cabeça, coceira nas orelhas, ataques de coçar a orelha após manipulação, alterações nos hábitos alimentares, alterações no comportamento (p. ex., esconder-se ou agredir) ou alterações na vocalização.Otite A OM é uma inflamação da cavidade da orelha média, o que inclui a membrana e a bolha timpânica. Muitos gatos, porém não todos, com OM apresentam OE concomitante. Em geral, a manipulação da orelha é dolorosa e é comum um som “ de molhado”, indicando líquido no canal. Se a membrana timpânica puder ser observada, talvez sejam evidentes abaulamento, alteração da cor ou ruptura. Gatos com OM e membrana timpânica rompida frequentemente apresentam secreção líquida malcheirosa abundante ao exame otoscópico. E isso também pode ser visto no assoalho do canal horizontal. Pode ser encontrado muco na OM. É importante observar que o muco não costuma estar em qualquer local ao longo do canal auditivo externo, porém extravasa a partir da bolha timpânica por meio de qualquer laceração na membrana timpânica. Se houver muco ao exame otoscópico do canal externo, existirá laceração na membrana timpânica. A OI envolve inflamação do labirinto ósseo, onde os órgãos da audição (cóclea) e o aparelho vestibular (canais semicirculares e vestíbulo) localizam- se. Perda da audição, inclinação da cabeça, andar em círculos, cair, descoordenação generalizada, elevação e deambulação difíceis, nistagmo, paralisia de nervo facial e síndrome de Horner são sinais comuns em gatos com OI. Nos casos de OM concomitante, a inclinação da cabeça é para o lado acometido e o animal pode andar em círculos e cair na direção do lado acometido. Infestações por Otodectes As infestações por ácaros da orelha são uma das causas mais comuns de otite em gatos e uma das doenças do ouvido mais exitosamente “tratáveis e curáveis” em gatos. A complicação mais frequente das infestações por ácaros da orelha é o hematoma auricular. O tratamento ideal que reduzirá a recorrência e a deformação das orelhas envolve drenagem cirúrgica do sangue e sutura completa da orelha, a fim de fechar o espaço morto. Pavilhão auricular deformado. A falta de tratamento adequado ou a ocorrência de hematomas aurais recorrentes crônicos podem provocar pavilhões auriculares deformados. Esta alteração predisporá o gato a infecções crônicas da orelha. Demodicose ótica D. cati (comprido e fino) e D. gatoi (curto e grosso) podem ser encontrados à microscopia com óleo mineral a partir de orelhas de gatos com OE prurítica. Os tratamentos bem-sucedidos são milbemicina, ivermectina ótica, milbemicina ótica e preparados óticos rotulados para o tratamento de ácaros da orelha em gatos. Não se recomenda amitraz para uso em gatos porque pode ser tóxico. Esteroides óticos tópicos concomitantes podem ser úteis no alívio do prurido. Otite obstrutiva As causas mais comuns de otite obstrutiva em gatos são pólipos na orelha, tumores da orelha, estenose secundária a inflamação, deformidade da orelha causada por hematomas auriculares não tratados e concreções de fragmentos na orelha. Os sinais clínicos mais comuns associados a lesões obstrutivas expansivas são OE ou OM recorrentes crônicas, agitação da cabeça e secreção supurativa malcheirosa. Pólipo da orelha. Otite alérgica A otite alérgica em gatos é uma complicação comum de atopia e de alergia alimentar. O tratamento ideal consiste no manejo adequado da alergia subjacente (alimentar ou atópica). A atopia sazonal é comum e o prurido ótico pode ser o único sinal clínico. Os proprietários podem se queixar de aumento da secreção ceruminosa. A citologia ótica com frequência revelará otite concomitante por levedura. O tratamento da otite por levedura diminuirá, porém não eliminará completamente o prurido, e serão necessários glicocorticoides óticos. Otite por leveduras A otite crônica recorrente por levedura em gatos é encontrada com maior frequência em animais com doença alérgica da orelha causada por atopia ou alergia alimentar, doença obstrutiva branda da orelha e anormalidades congênitas dos pelos (p. ex., raças Devon Rex e Sphynx). O tratamento de escolha mais comum é o itraconazol. Otite média A OM pode ser sequela de uma infecção respiratória superior; ocorrer como complicação de infestação por ácaro na orelha ou lesão obstrutiva, como um pólipo; ou pode ser doença primária quando microrganismos oriundos da retrofaringe ascendem pela tuba auditiva para o interior da bolha timpânica. Os principais exames diagnósticos são citologia e cultura bacteriana do ouvido. Hidrocistoma apócrino Este é um distúrbio não neoplásico raro no qual os gatos apresentam vários nódulos ou vesículas no canal auditivo externo, interior das orelhas ou da pálpebra. Feridas que não cicatrizam A expressão ferida que não cicatriza simplesmente descreve qualquer lesão que não sofra resolução com o que, inicialmente, parece ser o cuidado apropriado. Em geral, os seguintes exames diagnósticos são fundamentais para feridas que não cicatrizam: raspados de pele, citologia cutânea, aspirado com agulha fina de massa ou tecido, cultura de tecido por cunha excisional e biopsia cutânea. Como alguns dos agentes são zoonoses potenciais, todos os gatos com feridas que não cicatrizam devem ser manipulados com luvas. Parasitos Cuterebra Leishmaniose Infecções disseminadas com Protista Fungos Granuloma subcutâneo por Microsporum canis Esporotricose Infecções fúngicas oportunistas (p. ex., micetoma, feo-hifomicose) Compromentimento cutâneo por micoses sistêmicas: criptococose, coccidioidomicose, blastomicose, histoplasmose Corpos estranhos Doenças neoplásicas Infecções bacterianas Furunculose bacteriana Infecções por Actinomyces/Nocardia Granuloma bacteriano cutâneo Infecções micobacterianas cutâneas Hanseníase felina
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