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Direito Constitucional II

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DIREITO CONSTITUCIONAL II
1º BIMESTRE
AULA – 02/08/2019
PODER JUDICIÁRIO
1. DISPOSIÇÕES GERAIS
1.1. Conceito
O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no Estado de Direito. Nesse sentido, não se consegue conceituar um verdadeiro Estado democrático de direito sem a existência de um Poder Judiciário autônomo e independente, para que exerça sua função de guardião das leis, pois, como afirmou Zaffaroni, “a chave do poder judiciário se acha no conceito de independência”. 
1.2. Funções
a) Típica: Julgar. A função típica do Poder Judiciário é a jurisdicional, ou seja, julgar, aplicando a lei a um caso concreto, que lhe é posto, resultante de um conflito de interesses. 
b) Atípica: Administrativa e Legislativa. O Judiciário, porém, como os demais Poderes do Estado, possui outras funções denominadas atípicas, de natureza administrativa e legislativa. 
São de natureza administrativa, por exemplo, concessão de férias aos seus membros e serventuários; prover, na forma prevista nessa Constituição, os cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição.
Por outro lado, são de natureza legislativa a edição de normas regimentais, pois compete ao Poder Judiciário elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos. 
1.3. Os Conceitos de “Grau” e “Instância”
a) Grau: Índole processual relacionada ao pronunciamento judicial. O conceito de grau permite um dinamismo, visto que está atrelada à ciência processual, isso é, o primeiro órgão que se pronuncia no feito; enquanto que, o de segundo grau, é aquele que se pronuncia como órgão recursal.
b) Instância: Originário. Conceito de índole constitucional. Atrelado à organização do poder judiciário. Não 3ª instância, órgão de superposição. Em outras palavras, a instância corresponde a um grau de jurisdição na hierarquia do Poder Judiciário. Conforme o prof. Kaio, instância é um conceito atrelado à organização dos Poderes do Estado, ou seja, é permanente, não muda, é estável. Sendo assim, os órgãos de primeira instância sempre serão de primeira instância.
1.4. O Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
Não se trata de absoluto, nem todo processo precisa ser de duplo grau de jurisdição. Significa a possibilidade de reexame de uma decisão já tomada, quando vai para superior.
O fundamento do duplo grau de jurisdição se estabelece na possível falha humana. Por isso, a revisão é feita por colegiado (desembargadores).
Menciona a Constituição Federal a existência de juízes e tribunais, bem como prevê a existência de alguns recursos (ordinários, constitucionais, especial, extraordinário), porém não existe a obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição. Dessa forma, há competências originárias em que não haverá o chamado duplo grau de jurisdição, por exemplo, nas ações de competência originária dos Tribunais. 
Conforme Canotilho, o Tribunal Constitucional tem entendido que o direito de acesso aos tribunais não garante, necessariamente, e em todos os casos, o direito a um duplo grau de jurisdição.
a) Recorribilidade Especial: passa pela 1ª e vai para 2ª e 3ª.
b) Recorribilidade Ordinária: o Supremo Tribunal Federal proclamou que o duplo grau de jurisdição, no âmbito da recorribilidade ordinária, não consubstancia garantia constitucional. 
1.5. Órgão especial dos tribunais
Em Tribunais com mais de 25 membros, poderá ser instituído órgão especial com no mínimo 11 membros e, no máximo 25.
	O órgão especial não se equipara aos diversos órgãos fracionários dos tribunais, mas sim, uma vez instituído conforme a determinação constitucional, assume a integralidade das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas do Plenário, ou seja, substitui-se ao próprio Plenário.
	Por sua vez, o texto constitucional estabelece as regras no inc. XI, do art. 93 da CRFB/88.
2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO
2.1. Justiça Comum
a) Justiça Estadual: Juiz de Direito TJ STJ.
b) Justiça Federal (CF, Art. 109): Juiz Federal TRF STJ.
2.2. Justiça Especializada
Possuem um tribunal e um revisor.
a) Justiça Trabalhista: Juiz do Trabalho TRT TST.
b) Justiça Eleitoral (CF, Art. 118): Juiz Eleitoral TRE TSE.
c) Justiça Militar (COM, Art. 9º): Juízes Auditores Militares TRME ou TJ STM.
AULA – 05/08/2019
3. ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO (Art. 92, CF)
O artigo 92 da Constituição diz que o Judiciário é composto pelos seguintes órgãos:
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I - O Supremo Tribunal Federal;
I-A - O Conselho Nacional de Justiça; 
II - O Superior Tribunal de Justiça;
II-A - O Tribunal Superior do Trabalho;
III - Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - Os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - Os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - Os Tribunais e Juízes Militares;
VII - Os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
3.1. STF – Supremo Tribunal Federal (Inciso I) (Art. 101, CF)
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
O STF é composto por 11 (onze) Ministros, escolhidos livremente pelo Presidente da República, entre brasileiros natos com mais de 35 e menos de 65 anos de idade. Eles devem possuir notório saber jurídico e reputação ilibada. Em síntese, os requisitos são:
· Idade: 35 a 65 anos. Apesar da EC nº 88/15 ter aumentado a aposentadoria compulsória dos Ministros do STF para 75 anos, não houve qualquer alteração na idade-limite para sua nomeação;
· Ser brasileiro nato (CF, art. 12, § 3º, IV);
· Ser cidadão (gozo dos direitos políticos);
· Notável saber jurídico e reputação ilibada. 
Não há formação de listas para a escolha do novo membro e também não se fala em quinto constitucional.
Atendendo à regra dos freios e contrapesos (checks and balances), o nome indicado pelo Presidente da República (Executivo) para ocupar uma cadeira no STF (Judiciário) deverá ser aprovado pelo voto de maioria absoluta do Senado Federal (Legislativo).
A aprovação do nome pelo Senado Federal acontecerá em votação secreta, exceção à regra das votações abertas no Parlamento.
O STF é dividido em duas Turmas, que se encontram no mesmo plano hierárquico, com cinco membros cada uma, uma vez que seu Presidente apenas participa das sessões plenárias. 
A posse de Ministro será dada pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e acarretará imediata vitaliciedade. 
3.1.1. Competências e Funções do STF
O STF em um só tempo admite competência recursal, ordinária e extraordinária. É preciso reconhecer que o STF acumula competências que os qualificam como tribunal híbrido, pois oficia processos híbridos e que exigem atuações típicas de tribunais.
Supremo tem competência para realizar o controle de constitucionalidade (atua em procedimento objetivo e subjetivo).
Em outras palavras, no Brasil, o STF não é considerado uma autêntica corte constitucional, pois acumula funções de corte constitucional e suprema corte e, por isso, possui uma competência híbrida.
Ativismo Judicial: Supremo vai além da sua competência.
3.2. STJ – Superior Tribunal de Justiça (Inciso II) (Art. 104)
Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I - Um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicadosem lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;
II - Um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94.
O STJ foi criado pela Constituição de 1988, nascendo da necessidade de desafogar o STF, que antes era competente para cuidar tanto da matéria constitucional, quanto da infraconstitucional. Sua missão principal é zelar pela correta aplicação da legislação federal e evitar decisões conflitantes entre os Tribunais de todo o Brasil. Assim, pode-se fazer um paralelo dizendo que o STF é o guardião da Constituição Federal e que o STJ é o guardião da lei federal.
Antes de 1988, havia um TFR (Tribunal Federal de Recursos). Eles também foram criados com a Constituição atual. Então, a Constituição extinguiu o TRF e criou o STJ e os cinco TRFs.
O artigo 104 da Constituição prevê que o STJ será composto de, no mínimo, 33 Ministros, entre 35 a 65 anos de idade, sendo assim escolhidos:
· 1/3 (um terço) entre Desembargadores dos TJs;
· 1/3 (um terço) entre Desembargadores dos TRFs;
· 1/3 (um terço) divididos da seguinte maneira:
· 1/6 de advogados;
· 1/6 de membros do Ministério Público Federal, Estaduais e Distrital. 
Existem regras pré-determinadas para a escolha de seus Ministros, aplicando-se a regra do que poderíamos chamar de 1/3 constitucional. 
O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, 33 Ministros escolhidos pelo chefe do Poder Executivo, porém não livremente, pois, obrigatoriamente, devem seguir as regras do 1/3.
No caso dos juízes dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça Estaduais, o próprio STJ elaborará lista tríplice, livremente, e a enviará para o Presidente da República. Ressalte-se que, para a investidura no cargo de Ministro do STJ em vaga destinada aos juízes dos Tribunais Regionais Federais ou aos Desembargadores dos Tribunais de Justiça, não se exige que o nomeado pertença originariamente à classe da magistratura, permitindo-se, portando, que tenha ingressado nesses tribunais pela regra do quinto constitucional prevista no art. 94 da Constituição Federal. 
Porém, no caso dos advogados e membros do Ministério Público, são preparadas listas sêxtuplas por cada instituição, que as encaminhará ao STJ, que elaborará lista tríplice a ser encaminhada ao Chefe do Poder Executivo. Em resumo, tem-se: 
1/3 (um terço) entre Desembargadores dos TJs
Presidente da República escolhe um nome dentre os da lista tríplice
STJ elabora livremente uma lista tríplice dos TJs
Presidente da República escolhe um nome dentre os da lista tríplice
STJ elabora livremente uma lista tríplice dos TRFs
1/3 (um terço) entre Desembargadores dos TRFs
1/6 de advogados
(Instituição elabora uma lista sêxtupla)
Presidente da República escolhe um nome dentre os da lista tríplice
1/3 (um terço) divididos da seguinte maneira:
STJ elabora uma lista tríplice
1/6 de membros do MP Federal, Estadual e Dist.
(Elabora-se uma lista sêxtupla)
3.3. TRFs – Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (Inciso III) (Art. 106 e 107, CF)
Art. 106. São órgãos da Justiça Federal:
I - Os Tribunais Regionais Federais;
II - Os Juízes Federais.
Os Tribunais Regionais Federais – TRFs – foram criados pela Constituição de 1988, juntamente com o STJ. Eles funcionam como segunda instância no âmbito da Justiça Federal.
Atualmente, existem cinco TRFs, divididos em diferentes regiões (TRF/1ª Região, TRF/2ª Região etc.). É bem verdade que a EC 73/2013 criou outros quatro TRFs (6ª a 9ª Região), que deveriam ser instalados no prazo de 6 meses contados da promulgação da alteração. Acontece que a ampliação no número de TRFs foi suspensa[footnoteRef:1] por meio de decisão do então Presidente do STF, proferida no período de recesso forense (STF, ADI 5.017). Então, na prática, continuam funcionando apenas os cinco TRFs criados na Constituição de 1988. [1: O fundamento usado pelo Ministro Joaquim Barbosa para suspender a aplicação da norma foi possível vício de iniciativa, ao argumento de que tal proposta deveria ter nascido do Poder Judiciário. Esse fundamento se revela frágil, uma vez que no âmbito federal não há iniciativa privativa para a propositura de PEC. E mais: ainda que houvesse, o Judiciário não está entre os legitimados, que são (i) o Presidente da República; (ii) um terço da Câmara dos Deputados; (iii) um terço do Senado Federal e (iv) mais da metade das Assembleias Legislativas reunidas pelo voto de maioria relativa de cada uma delas. Se não bastasse, no ano de 2016 o STF afastou alegação semelhante, de vício de iniciativa, quanto à EC 74/2013 que estendeu à Defensoria Pública da União e à Defensoria Pública do Distrito Federal a autonomia administrativa, financeira e orçamentária que havia sido dada às Defensorias Estaduais na EC 45/2004 (STF, ADI 5.296).] 
Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I - Um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;
II - Os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e merecimento, alternadamente.
§ 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais Regionais Federais e determinará sua jurisdição e sede.
§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. 
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. 
De acordo com o artigo 107 da Constituição, os TRFs serão compostos de, no mínimo, 7 juízes, que devem ser recrutados, quando possível, na respectiva região e serão nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos.
São juízes e não Desembargadores. Isso acontece porque a Constituição chamou os Membros da Justiça Federal de 1ª instância de juiz federal e os de 2ª instância de juiz de Tribunal Regional Federal – na prática, os Desembargadores Federais.
Nos TRFs também há a regra do quinto constitucional (válida no TST, nos TRTs, nos TRFs e nos TJs). Assim, 1/5 das vagas serão preenchidas por advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira. Os demais membros devem ser juízes federais de carreira, com mais de cinco anos de exercício, promovidos, alternadamente, por antiguidade e merecimento.
A Constituição ainda prevê que tanto os TRFs, os TRTs quanto os TJs devem instalar a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários
3.4. Tribunais e Juízes do Trabalho (Inciso IV) (Art. 111, CF)
Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:
I - O Tribunal Superior do Trabalho;
II - Os Tribunais Regionais do Trabalho;
III - Juízes do Trabalho. 
3.4.1. TST – Tribunal Superior do Trabalho (Art. 111-A, CF)
O TST é composto de 27 ministros e deve possuir mais de 35 e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, ser brasileiro (nato ou naturalizado), nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo assim escolhidos:
i. Quinto Constitucional: 1/5 entre membros da OAB e do MP – observados os mesmos requisitos elencados no art. 94 da CF/1988, que trata do quinto constitucional. O TST terá 6 Ministros vindos do quinto constitucional, enquanto os demais virão da carreira daMagistratura. Ao receber os nomes indicados pela respectiva classe (lista sêxtupla), o TST reduzirá a lista a três nomes (lista tríplice) e encaminhará ao Presidente da República para que ele indique um, submetendo o nome à aprovação pelo Senado Federal.
Em resumo, 1/5 dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
ii. Magistratura de Carreira: Demais, entre juízes dos TRTs, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio TST. O candidato tem de ter começado na 1ª instância, como Juiz do Trabalho, subindo para o TRT, até chegar ao TST. Ou seja, quem ingressar no TRT pelo quinto constitucional não pode subir para o TST.
Os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura de carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
No STJ não é assim. Lá, quem entra nos TJs ou TRFs pelo “terço constitucional” pode depois subir para o STJ nas vagas destinadas aos Desembargadores Estaduais e Federais, diferentemente do que ocorre no TST, visto que aqueles que ingressam no TRT pelo quinto constitucional, não podem chegar ao TST.
Em todos os casos, exige-se que o nome do candidato escolhido pelo Presidente seja aprovado por maioria absoluta de votos no Senado. A EC 92/2016 promoveu algumas modificações pontuais. Ela incorporou, por exemplo, o art. 111-A no que antes eram os parágrafos do art. 111 (composição do TST).
Ainda, foi também com a EC 92/2016 que o TST passou a constar explicitamente no rol de órgãos do Judiciário (art. 92 da Constituição). Antes, só constava a expressão “Tribunais e Juízes do Trabalho”. Houve, porém, uma mudança mais relevante: é que a competência do TST, ao contrário do que acontece com o STF e com o STJ, não é definida pela própria Constituição, devendo ser regulada por lei. Porém, a EC 92/2016 previu expressamente ser do Tribunal a competência para julgamento de reclamações para preservação da sua competência e para assegurar a autoridade de suas decisões. Essa modificação é relevante, porque agora a reclamação está de modo explícito prevista para o STF, STJ e para o TST. E, antes da previsão constitucional, o STF chegou a declarar inconstitucional norma do Regimento Interno do TST que tratava da reclamação, ao argumento de que ela não estava prevista nem na Constituição nem na CLT (STF, RE 405.031).
Sendo assim, os requisitos para pertencer ao TST são:
a) Idade: 35 a 65 anos;
b) Ser brasileiro nato ou naturalizado;
c) Possuir notável saber jurídico e reputação ilibada. 
3.4.2. TRTs – Tribunais Regionais do Trabalho e Juízes do Trabalho (Art. 115, CF)
Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I - Um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; 
II - Os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente. 
§ 1º. Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. 
§ 2º. Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
De acordo com o Art. 115 da Constituição, os TRTs serão compostos de, no mínimo, 7 juízes, que devem ser recrutados, quando possível, na respectiva região e serão nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos.
A Constituição chamou os Membros da Justiça Trabalhista de 1ª instância de juiz do trabalho e os de 2ª instância de juiz de Tribunal Regional do Trabalho – na prática, os Desembargadores do Trabalho.
i. Quinto Constitucional: Também nos TRTs há a regra do quinto constitucional (ela vale no TST, nos TRTs, nos TRFs e nos TJs). Assim, 1/5 das vagas serão preenchidas por advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de carreira.
ii. Magistratura de Carreira: Os demais membros devem ser juízes do trabalho de carreira, com mais de 5 anos de exercício, promovidos, alternadamente, por antiguidade e merecimento.
A Constituição ainda previu que tanto os TRFs, TRTs quanto os TJs devem instalar a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Desse modo, para melhor atender aos jurisdicionados, alcançando os locais mais distantes, a EC 45/2004 estabeleceu que os TRTs poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras Regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
Na primeira instância, a jurisdição trabalhista é exercida por um Juiz singular (juiz do trabalho), não havendo mais as chamadas Juntas de Conciliação e Julgamento.
Por fim, o art. 112 diz que a lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo TRT.
Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.
3.5. Tribunais e Juízes Eleitorais (Inciso V) (Art. 118, CF)
O art. 118 da Constituição define que os órgãos da Justiça Eleitoral são os seguintes:
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:
I - O Tribunal Superior Eleitoral;
II - Os Tribunais Regionais Eleitorais;
III - Os Juízes Eleitorais;
IV - As Juntas Eleitorais.
3.5.1. TSE – Tribunal Superior Eleitoral
O TSE é composto de, no mínimo, 7 membros. Na Constituição, eles são chamados de juízes, mas, na prática, como Ministros. A forma de escolha é assim:
a) 3, dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal – eleição por voto secreto do próprio STF;
b) 2, dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça – eleição por voto secreto do próprio STJ;
c) 2, dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo STF, que serão nomeados Presidente da República. Ou seja, o STF elabora a lista sêxtupla e o Presidente da República escolhe dois nomes.
De antemão, perceba que o Ministério Público não terá representantes, não se falando em quinto constitucional.
A Constituição Federal somente exige requisitos especiais para os dois juízes pertencentes à advocacia, uma vez que os outros são membros do STF e do STJ, notável saber jurídico e idoneidade moral.
Em relação aos dois juízes/advogados, o Supremo Tribunal Federal elaborará lista sêxtupla e a encaminhará ao Presidente da República, que nomeará dois, não havendo necessidade de aprovação do Senado Federal. 
Obrigatoriamente, o Presidente e Vice-presidente do TSE serão Ministros do Supremo Tribunal Federal, eleitos pelos sete juízes eleitorais, e o Corregedor Eleitoral será Ministro do STJ, igualmente eleito (art. 119, par. único, da CRFB/88).
Os candidatos a vagas no STF, no STJ e no TST deveriam possuir, no máximo, 65 anos. Já no TSE não se fala em idade mínima ou máxima, podendo o Tribunal contar, inclusive, com membros com mais de 75 anos. É lógico, porém, que a flexibilidade maior quanto às idades só se aplica ao pessoal que vem da OAB, pois os Ministros oriundos do STF e do STJ têm limites mínimos para ingressar e “prazo de validade”, findo o qual entram na compulsória.
Essa possibilidade vale apenas para os advogados, que podem entrar no Tribunal mesmo apóso limite da compulsória. Aliás, essa situação aconteceu com o Ministro José Geraldo Grossi, que começou a cumprir seu último biênio no ano de 2006, quando já contava com 74 anos de idade (nascimento em 1932). Àquela altura a compulsória era aos 70 anos de idade.
Os membros da OAB, quando ingressam no Poder Judiciário na condição de Desembargadores ou Ministros, ficam impedidos de continuar a exercer a advocacia. Contudo, essa regra não se estende àqueles que estejam compondo a Justiça Eleitoral (STF, ADI 1.127). A justificativa para isso é que eles ficarão apenas temporariamente na Justiça Eleitoral – mandato de 2 anos, renovável por outros 2. Então, se abandonassem os clientes, quando voltassem ao batente teriam que reconquistar toda a clientela.
3.5.2. TRE – Tribunal Regional Eleitoral
Diz o texto constitucional que haverá um TRE na Capital de cada Estado e no Distrito Federal. Esses tribunais serão compostos de 7 juízes (na prática, Desembargadores Eleitorais), que devem ser assim escolhidos:
a) 2, dentre os Desembargadores do TJ – eleição por voto secreto do próprio TJ;
b) 2, dentre juízes de direito – eleição por voto secreto do próprio TJ;
c) 1 por juiz de TRF com sede na Capital do Estado ou no DF, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo TRF.
d) 2, dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo TJ, que serão nomeados Presidente da República. Ou seja, o TJ elabora a lista sêxtupla e o Presidente da República escolhe dois nomes.
O Presidente e o Vice-Presidente do TRE serão eleitos entre os Desembargadores do TJ.
Também nos TREs não há quinto constitucional (ele só existe para TST, TRT, TRF e TJ) nem a participação de juízes oriundos do MP.
Igualmente não se fala em idade mínima ou máxima, podendo o Tribunal contar, inclusive, com membros com mais de 75 anos. 
A mesma regrinha (repetir o que valeu para o TSE) deve ser aplicada quanto à possibilidade de exercício da advocacia para os membros que venham da OAB.
O STF entende que compete exclusivamente ao TJ a indicação de advogados para composição de TRE, não havendo a participação da OAB na referida escolha (STF, MS 21.060). E também entendeu que Magistrado aposentado não pode ingressar no TRE dentro das vagas reservadas à advocacia (STF, RMS 23.123). Salvo motivo justificado, os juízes dos tribunais eleitorais servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.
Por tal razão, foi declarada a inconstitucionalidade de resolução editada pelo TRE, segundo a qual nenhum juiz poderia voltar a integrar o Tribunal na mesma classe ou em classe diversa, por dois biênios consecutivos (STF, ADI 2.993). A organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais será feita por meio de lei complementar (LC).
3.6. STM – Superior Tribunal Militar (Inciso VI)
O STM conta com quinze Ministros, mesclando dez militares e cinco civis. Veja como fica a distribuição:
I- 10 militares: Divididos desta forma:
a) 4, entre oficiais-generais do Exército, da ativa, e do posto + elevado;
b) 3, entre oficiais-generais da Marinha, da ativa, e do posto + elevado;
c) 3, entre oficiais-generais da Aeronáutica, da ativa, e do posto + elevado.
Não sei você, mas eu sempre associei com esquema de time de futebol “4-3-3”, sendo que a maior força (Exército) terá um integrante a mais do que as demais.
II- 5 civis: Divididos desta forma:
a) 3 advogados;
b) 1 juiz auditor;
c) 1 membro do Ministério Público Militar.
A Constituição Federal somente prevê requisitos especiais para os ministros civis, quais sejam:
a) Idade: maior de 35 anos;
b) Ser brasileiro nato ou naturalizado;
c) Notório saber jurídico e conduta ilibada, no caso das vagas para três advogados;
d) Dez anos de efetiva atividade profissional, igualmente, no caso das vagas para os três advogados. 
Repare que no STM também não há quinto constitucional, mas aqui há Ministro oriundo do Ministério Público, coisa que não existe na Justiça Eleitoral.
Na Constituição só estão definidos os requisitos exigíveis para os ministros civis. O candidato a uma das vagas deve ser brasileiro – nato ou naturalizado –, maior de 35 anos (não se fala em idade máxima, como no STF, STJ e TST) e, para os advogados, exige-se o mínimo de 10 anos de atividade profissional.
Perceba que há somente a idade mínima, não sendo definida idade máxima (como é o caso do STF, do STJ e do TST). Em razão disso, o STF decidiu ser incompatível com a Constituição a limitação em 65 anos para o ingresso no cargo de Ministro do STM (STF, MS 20.930).
Por outro lado, para se manter a proporcionalidade entre 10 militares e 5 civis, o STF entendeu que um militar, ainda que da reserva, não pode concorrer às vagas destinadas aos civis. Isso porque ele não deixou de ser militar (STF, MS 23.138). No caso, o candidato era coronel, já estava reformado e também era advogado. Ou seja, ele conhecia a prática e a teoria, razão pela qual se destacou no exercício da advocacia especializada. O Tribunal, no entanto, pontuou que não se deixa de ser militar por ter passado para à reserva/reforma.
Por fim, diferentemente do que acontece com o STF, STJ e TST, a aprovação no Senado depende de maioria simples (ou relativa). Para você não esquecer: só será maioria simples (relativa) na aprovação do nome de indicados para o STM e para as três vagas do TCU a serem preenchidas por indicação do Presidente da República.
AULA – 12/08/2019
3.7. CNJ – Conselho Nacional de Justiça (Inciso I-A) (Art. 103-B)
3.7.1. Natureza do Órgão
O CNJ integra a estrutura do Poder Judiciário, isso é, faz parte desse Poder, mas não integra as estruturas jurisdicionais desse Poder, visto que esse órgão não é dotado de natureza jurisdicional. Por isso, embora faça parte da estrutura, não possui estrutura jurisdicional.
	Trata-se de um órgão de natureza administrativa, o qual foi instituído pela EC 45/2004, sendo o órgão competente fazer o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário (controle interno), além de zelar pelo cumprimento dos deveres funcionais de seus membros.
Observação – Controle do CNJ: O controle feito pelo CNJ recai sobre quase todos os órgãos do Judiciário. Isso porque ele alcança a Justiça da União e a Estadual, não importando se comum (federal e estadual) ou especializada (trabalhista, eleitoral e militar). O CNJ não controla o STF e seus Ministros. O Supremo que revisa decisões do CNJ.
3.7.2. Funções
O CNJ tem a função de controlar a atuação do Poder Judiciário, bem como suas atividades financeiras e orçamentárias. Além disso, tem a função de fiscalizar a conduta dos membros do Poder Judiciário quanto ao cumprimento do Estatuto da Magistratura, ou seja, as funções que devem desempenhar os membros, conforme o Estatuto. 
Disso resulta a compreensão de que o CNJ possui, em sua agenda de trabalho, uma fiscalização quanto à postura correcional. Antes cogitava-se que tal função existia apenas no âmbito das Corregedorias.
O próprio STF está sujeito ao controle do CNJ quanto às suas atividades administrativas, visto que o próprio presidente do STF é o mesmo do CNJ.
3.7.3. Composição
O CNJ é composto por 15 membros, sendo que 9 membros são oriundos do Poder Judiciário. Os outros 6 membros virão do Ministério Público (2 membros), de representantes da OAB (2 membros) e de cidadãos (2 membros), sedo um indicado pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
	COMPOSIÇÃO DO CNJ
	01
	Presidente do STF
	Presidente do CNJ é o Presidente do STF
	01
	Ministro do STJ
	Corregedor do CNJ indicado pelo STJ
	01
	Ministro do TST
	Indicado pelo TST
	01
	Desembargador do TJ
	Indicado pelo STF
	01
	Juiz de Direito (Estadual de 1ª Instância)
	Indicado pelo STF
	01
	Juiz do TRF (2ª Instância)
	Indicado pelo STJ
	01
	Juiz Federal
	Indicado pelo STJ
	01
	Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (2ª Instância)
	Indicado pelo TST
	01
	Juiz do Trabalho
	Indicadopelo TST
	01
	Membro do Ministério Público da União
	Indicado pelo PGR
	02
	Advogados
	Indicados pelo Conselho Federal da OAB
	02
	Cidadãos de notável saber jurídico e saber ilibada
	Um indicado pela Câmara dos Deputados e um indicado pelo Senado Federal
a) Presidência e Nomeação de Membros: A presidência é exercida pelo Ministro do STF. Na ausência do Presidente, quem assume a presidência do Conselho é o vice-presidente do STF, não é o ministro do STJ, como porventura poder-se-ia cogitar, a fim de garantir a representatividade do conselho de um membro do STF. 
A EC 61/09 que modificou, colocando o presidente do STF como presidente do CNJ. A modificação foi necessária, porque no texto anterior constava apenas que o CNJ seria presidido por um Ministro indicado pelo STF.
b) Mandato: É de 2 anos, sendo admitida uma única recondução (para o mesmo cargo). A recondução é admitida para todos os tipos de cargos. Fica de fora dessa regra o Presidente. Isso porque ele exercerá o cargo enquanto permanecer na Presidência do STF, seja qual for o prazo.
c) Sabatina e Nomeação: Os demais membros do CNJ (excluindo-se o Ministro do STF), devem ser sabatinados pelo Senado Federal e, a nomeação, por sua vez, é feita pelo Presidente da República. Não se exige mais o requisito de idade.
3.7.4. Competências do CNJ
· Compete ao CNJ conhecer e receber reclamações contra a conduta de órgãos ou membros do Poder Judiciário. Qualquer pessoa pode manifestar tais reclamações. Ex.: reclamação no CNJ para apurar a imparcialidade do juiz Sérgio Moro.
· Ademais, examina, de ofício ou a requerimento, a legalidade dos atos administrativos praticados pelos membros do Poder Judiciário. 
· Além disso, o CNJ elabora relatórios semestrais com estatísticas de julgamentos e sentenças do Poder Judiciário em cada unidade da federação e, ainda, de forma individualizada para cada um dos órgãos.
· O CNJ também elabora um relatório anual com providências para a melhoria do Poder Judiciário. Este relatório constituirá mensagem a ser enviada para o Congresso Nacional. 
· O CNJ pode avocar processo administrativo em curso contra qualquer membro ou magistrado. 
· Pode também aplicar penalidades aos membros do Poder Judiciário, inclusive determinando a sua aposentadoria compulsória ou colocando-lhes em disponibilidade.
3.7.5. Poder de Normatização
O CNJ pode editar normas gerais e abstratas com o objetivo de regulamentar matérias atinentes ao seu âmbito de competência. 
3.7.6. Poder de Investigação
O CNJ tem poder de investigação próprio, isso é, autônomo em relação a membro do Poder Judiciário, conforme decisão do STF (ADI 4638). Sendo assim, pode iniciar uma investigação contra qualquer membro sem justificar a motivação da inauguração da investigação.
3.7.7. Controle de Constitucionalidade
O CNJ realiza controle de constitucionalidade. Essa possibilidade de realizar tal controle não significa que o CNJ pode declarar a inconstitucionalidade de uma norma, tendo-se em vista que a Constituição não prevê tal competência.
O STF referiu que o CNJ pode realizar o controle de constitucionalidade nos moldes do TCU, conforme a Súmula 347 do STF. Quando, nos casos sob o seu julgamento, o TCU ou CNJ se depararem com uma lei e entenderem que se trata de uma lei inconstitucional, podem deixar de aplicá-la, em que pese não poder declará-la inconstitucional.
3.7.8. Impossibilidade de Instituição de Conselho pelos Estados
Os Estados não podem instituir um conselho de competência estadual, visto que tal possibilidade foi afastada pelo STF.
Os Estados possuem suas próprias constituições e, apesar de serem formalmente constituições, há normas de naturezas distintas (normas de reprodução obrigatória e normas de reprodução voluntária).
As normas de reprodução obrigatória são normas que o constituinte estadual não teve liberdade de dispor de tais normas e teve que seguir, obrigatoriamente, os preceitos constitucionais federais, ou seja, não há liberdade de disposição normativa em alguns temas. Em outros temas, tem-se as normas de produção voluntária, em que o constituinte estadual acaba por, voluntariamente, replicando o modelo federal.
AULA – 09/08/2019
4. PROMOÇÃO DE JUÍZES
O início da carreira se dá mediante prova de concurso e títulos, com a participação da OAB. A promoção se dá por antiguidade e merecimento alternadamente. O juiz que aparecer 3 vezes seguidas ou 5 vezes alternadamente, deve ser promovido desde que esteja na última quinta parte da lista de antiguidade. 
Sendo assim, só deixa de ser promovido se for rejeitado por 2/3 do tribunal (critérios são objetivos de desempenho pelo tribunal) e também a participação em cursos oficiais promovido pelo trabalho.
5. GARANTIA E VEDAÇÕES AOS JUÍZES 
5.1. Garantias 
Aos magistrados são garantidas a vitaliciedade a irredutibilidade de subsídios e a inamovibilidade. 
5.1.1. Vitaliciedade
A garantia à vitaliciedade se dá após 2 (dois) anos de carreira. Durante esse tempo, só se perde por decisão do tribunal em maioria absoluta. Depois de 2 (dois) anos, somente por sentença judicial transitada em julgado, ou seja, aquela decisão da qual não cabe mais recurso.
5.1.2. Inamovibilidade 
Visa à garantia de que não haja troca de juiz para prejudicar ou beneficiar alguma das partes em determinado julgamento. O juiz não pode ser removido ou promovido a não ser com o seu consentimento, salvo na hipótese de motivo de interesse público. Vale ressaltar que a remoção, a disponibilidade e a aposentadoria compulsória do magistrado, por interesse público, somente acontecerão por voto de 2/3 do Tribunal respectivo, sendo assegurada a ampla defesa (art. 93, VIII, da CF).
5.1.3. Irredutibilidade de subsídios 
O juiz não pode ter seus vencimentos reduzidos, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II 153, III, § 2º, I, todos da CRFB/88. Em suma, corresponde a 95% do subsídio dos Ministros do STF. 
5.2. Vedações 
Conforme o art. 95, par. único, da CRFB/88:
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
6. AUTONOMIA FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
O Poder Judiciário elabora o seu próprio orçamento e, por isso, controla e faz a gestão de suas próprias finanças.
6.1. No Âmbito da União
A proposta orçamentária, no âmbito da União, é elaborada pelo STF e os Tribunais Superiores, ouvidos os respectivos tribunais a eles vinculados. 
6.2. No Âmbito dos Estados
Elaborada pelos tribunais de justiça dos respectivos Estados.
6.3. Perda do Prazo
A proposta do prazo deve observar o prazo previsto na respectiva Lei de Diretrizes Orçamentários (LDO), a qual deve ser aprovada até o término do primeiro período da sessão legislativa ordinária.
Se houver perda do prazo, o Poder Executivo considera o orçamento então vigente e, por isso, perde-se a chance de dialogar com o erário a respeito de despesas novas e eventuais.
6.4. Créditos Suplementares
O texto constitucional possibilidade a abertura de créditos suplementares, mas mesmo assim, necessita de autorização legislativa. Créditos Suplementares são créditos liberados para despesas que não estavam previstas no orçamento.
7. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL
Se há um instrumento de correção, significa que há uma anomalia no Poder Judiciário. A reclamação tem natureza de ação e, não natureza de recurso. 
7.1. A Coerência das Decisões Judiciais
O poder judiciário deve construir a sua jurisprudência sob o cuidado de entregar aos jurisdicionados, conclusões coerentes, dentro doatual sistema de precedentes. O princípio da segurança jurídica, economia e celeridade processual, assim o exigem. Constatada a incoerência entre uma decisão judicial e a orientação proveniente dos tribunais superiores, inclusive, entorno de matérias sumuladas, reivindica um instrumento jurídico de correção.
7.2. Objetivo/Propósito da Reclamação Constitucional
Assegurar a competência do STF e o STJ para o julgamento de determinadas matérias, bem como, garantir a autoridade de suas decisões.
7.3. Parametrização
É o cortejo entre as decisões. Existe uma decisão que contraria as decisões dos tribunais superiores, e chamaremos esta decisão de Decisão Reclamada, pois é o objeto da reclamação. De um lado, tem a decisão reclamada e do outro lado temos a decisão paradigma. A decisão paradigma é a decisão do STF e STJ que utilizo para contestar a decisão reclamada. O resultado buscado é a cassação da decisão e a determinação da prolação de outra decisão feita pelo mesmo órgão.
Ou seja, tem-se uma decisão que contraria a jurisprudência dos tribunais superiores, a qual é denominada de decisão reclamada, ou seja, é a decisão objeto da reclamação. A decisão reclamada, portanto, é a qual se insurge e se aponta o cenário de desrespeito aos tribunais superiores. O resultado buscado é que, a decisão reclamada seja cassada, a fim de que uma nova decisão seja prolatada pelo tribunal que prolatou a decisão reclamada. 
Entretanto, caso se trate de uma decisão administrativa, anula-se tal decisão.
AULA 16/08/2019
8. SÚMULA VINCULANTE (Art. 103-A, CF e Lei 11.417/06)
Regulamentada no art. 103-A (EC 45/2004) e disciplinada pela Lei 11.447/08 e, nesse sentido, houve uma regulamentação tardia.
Foram concebidas para limitar a atuação das jurisdições inferiores, com poderes vinculantes.
As súmulas propriamente ditas são apenas uma, visto que os tribunais possuem apenas uma súmula, a qual possui vários enunciados. Trata-se de um termo técnico. São diretivas orientações que sumarizam, ou seja, refletem a interpretação de determinado tribunal e consubstancia uma interpretação a ser adotada pelos demais tribunais. 
	Esse modelo surgiu na década de 60 com o Ministro Nunes Leal do STF. No que diz respeito à Súmula Vinculante propriamente dita, estas foram concebidas como mais um instituto de limitação, isso é, ascendência dos recursos ao STF. Desse modo, ao lado da repercussão geral, ambos são voltados para tentar limitar o acesso de processos ao Supremo.
	Além disso, o STF enfrentou duas crises, conforme a doutrina constitucional. A primeira crise foi contornada com o instituto denominado “arguição de relevância”, em que a Corte só julgava os casos que só considerava relevante, assim como nos EUA. 
	Portanto, as súmulas vinculantes possuem um poder vinculante em relação às instâncias inferiores.
8.1. Base Constitucional e Base Legal
CF, Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. 
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. 
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
8.2. Objeto
O objeto da súmula atrela-se à validade, interpretação ou eficácia de uma norma.
8.3. Requisitos Autorizadores
8.3.1. Sedimentação da Jurisprudência
A súmula vinculante é produto de decisões reiteradas do Supremo Tribunal Federal no mesmo sentido, acerca de determinada matéria. Não se exige um número específico de pronunciamentos, mas de um número razoável a fim de promover a segurança jurídica. 
Entretanto, nem sempre o requisito de sedimentação da jurisprudência foi respeitado, tal como o Enunciado de Súmula Vinculante a respeito do uso de algemas. 
8.3.2. Controvérsia Judicial
Ademais, pressupõe-se a existência de controvérsia judicial entre os órgãos do Poder Judiciário, ou seja, há divergência na validade, interpretação ou eficácia de uma norma. 
8.3.3. Controvérsia entre o Poder Judiciário e os Órgãos da Administração Pública
Todas as esferas (federal, estadual, distrital e municipal) se vinculam às decisões do Poder Judiciário. As decisões administrativas não observam os entendimentos dos tribunais em por isso, gera insegurança jurídica. Então, por esse e outros motivos, para controlar a divergência entre os atos administrativos e as decisões jurídicas, criou-se as súmulas vinculantes. 
8.4. Quórum (Edição, Revisão e Cancelamento)
Quórum de aprovação de uma súmula vinculante é de 2/3 do STF (quórum qualificadíssimo).
8.5. Lei Revogada
Se foi criada uma lei contrária a uma súmula vinculante, ela será revogada? Ela enfrenta um requerimento de revisão.
8.6. Legitimidade (Art. 3º)
O Supremo expede o enunciado de Súmula Vinculante. E quem pode pedir a edição, revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante:
1) Presidente da República;
2) Mesa da Câmara dos Deputados;
3) Mesa do Senado Federal;
4) Procurador-Geral da República;
5) Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
6) Defensor Público-Geral da União;
7) Partido Político com representação no Congresso Nacional;
8) Confederação Sindical ou Entidade de classe de âmbito nacional.
9) Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
10) Governador de Estado ou do Distrito Federal;
11) Tribunais Superiores e os Tribunais de 2ª Instância;
12) Municípios: A legitimidade do município é especial, pois está condicionada à uma circunstância. Ele deve fazer parte de um processo que esteja em trâmite no STF e que seja sobre a matéria do processo.
8.7. Vinculação
A Súmula Vinculante vincula todo o poder judiciário e toda a administração pública em todas as esferas (Estadual e Municipal). A partir da publicação da Súmula Vinculante, todos passam a estar vinculados. Contudo, o STF, pelo quórum de 2/3, pode modular o momento a partir do qual esta vinculação acontecerá, sob fundamento de interesse social e segurança jurídica (Art. 4º, Lei 11.417/06).
8.8. Desrespeito à Súmula Vinculante
A não observância a um Enunciado de Súmula Vinculante propicia a Reclamação Constitucional (Art. 103-A, § 3º, CF).
9. PRECATÓRIOS E RPV
Trata-se de sistema de pagamento dos créditos estabelecidos de condenações em desfavor do Estado e, portanto, oponíveis em face do erário.
A RPV, por sua vez, possui a particularidade de ser cabível para até 60 salários mínimos, no âmbito federal e, no âmbito estadual até 40 salários mínimos. Já no âmbito municipal, até 20 salários mínimos. Sendo assim, o pagamento é realizado em até 60 dias. 
	Ressalta-se que outra lei pode dispor de forma diferente, de tal modo que o parâmetro pode ser, em âmbito estadual, não de 40 salários mínimos, mas de outro valor.
9.1. Precatórios (Art. 100, CF)
Os créditos oriundos de decisões condenatórias em desfavor do erário possuem uma ordem de pagamento.
9.1.1. Regra geral
A regra geral é de que os precatórios são pagos de acordo com a apresentação cronológica, isso é, quem apresenta o precatório primeiro, recebe-o primeiro.
9.1.2. Preferênciade Pagamento (§ 4º)
A CRFB estabelece, em seu art. 100, um regime de preferência a fim de que, primeiramente, sejam pagos os créditos relacionados a pensões, salários, vencimentos, benefício previdenciário e qualquer outra forma de remuneração de natureza alimentar. Entre estes, paga-se primeiro os que tiverem mais de 60 anos de idade. 
Atenta-se ao fato de que a preferência é mitigada, em vista da Constituição prever que lei disporá sobre o limite de pagamento dessas verbas, ou seja, a preferência daquele tiver mais de 60 anos é limitada a três vezes o valor fixado por lei. Sendo assim, recebe o valor limitado a três vezes e, se houver restante, entrará na cronologia regular. 
Igualmente, haverá preferência no pagamento de precatório àqueles que estiverem com doença grave, as quais são fixadas por lei. 
9.2. RPV – Requisição de Pequeno Valor
É pago em até 60 dias.
9.3. Compensação 
Se o credor do precatório possui dívida com o ente público, há uma compensação de valores. Entretanto, tal compensação não se dá de forma automática e, por isso, o Presidente do Tribunal, antes de expedir o precatório, solicitará à Fazenda Pública para que se manifeste sobre a existência de dívida do credor do precatório perante o ente público. Caso a Fazenda Pública não se manifeste ou informe que não há, não há mais como compensar. 
9.4. Prazo de inclusão para pagamento
O precatório deve ser apresentado até o dia 1º de julho para ser apresentado até o final do exercício do ano subsequente.
9.5. Quem autoriza?
A autorização é feita pelo Presidente do Tribunal. Já a RPV é autorizada pelo juiz.
9.6. Possibilidade de sequestro de valores 
Se o Estado não respeita a ordem de preferência ou não paga no prazo devido, o Presidente pode sequestrar o valor da conta do Estado. Entretanto, trata-se de uma das poucas formas de expropriação de valor público. 
A cotação orçamentária para pagamento de precatórios não pode ser afetada, isso é, desrespeitada em nenhuma hipótese. 
9.7. Pagamento pela União
O pagamento pela União dispensa alvará. No âmbito dos estados, pressupõe-se.
9.8. Cessão 
Conforme previsão constitucional, admite-se a cessão de precatório, porém quando a mesma é feita, perde-se a preferência, visto que a mesma só é conferida ao titular.
AULA 19/08/2019
QUESTÕES EM SALA
1. Explique, matematicamente, a razão do STJ compor, em sua maioria, por advogados e MP.
Composição do STJ: 1/3 dos TJ’s e 1/3 dos TRFs e 1/3 da OAB e MP
Um terço das vagas é destinada, constitucionalmente, aos membros do MP e da OAB. Os outros dois terços, por sua vez, podem advir do quinto constitucional, isso é, um quinto dos TJs e dos TRFs vêm da OAB e MP também. Portanto, é possível ter mais de 50% de OAB e MP no STJ e não de magistrados de carreira. A respeito disso, o STF se posicionou no sentido de que não há nenhuma inconstitucionalidade.
2. Quais são as garantias conferidas aos juízes?
	Irredutibilidade dos subsídios, inamovibilidade (salvo interesse público) e vitaliciedade. A vitaliciedade, por sua vez, é garantida após dois anos àqueles que são aprovados em provas e títulos. Por outro lado, os que compõem a magistratura através do quinto constitucional adquirem a vitaliciedade no ato da posse.
3. Discorra a legitimidade do município quanto a proposição de súmula vinculante.
Pressupõe-se que o município seja parte no processo e que o mesmo esteja tramitando perante o STF.
AULA 23/08/2019
PODER EXECUTIVO
1. CARACTERÍSTICAS DO PODER EXECUTIVO
No âmbito federal, o Poder Executivo é chefiado pelo Presidente da República, que é auxiliado pelos Ministros de Estado. Na esfera estadual e para a distrital, verá que a chefia cabe aos Governadores e, no âmbito municipal, aos Prefeitos.
O Presidente da República é o único que acumula as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo em nosso sistema atual. Os demais são considerados apenas Chefes de Governo. Se determinada prerrogativa for exclusiva do Chefe de Estado não poderá repercutir para as outras esferas de governo.
Em síntese, o Poder Executivo constitui órgão constitucional cuja função precípua é a prática dos atos de chefia de estado, de governo e de administração. 
A Chefia do Poder Executivo foi confiada pela Constituição Federal ao Presidente da República, a quem compete seu exercício, auxiliado pelos Ministros de Estado, compreendendo, ainda, o braço civil da administração (burocracia) e o militar (Forças Armadas), consagrando mais uma vez o presidencialismo, concentrando na figura de uma única pessoa a chefia dos negócios do Estado e do Governo.
1.1. Função típica 
Administrar a coisa pública, de onde deriva o nome república (res publica). 
1.2. Funções atípicas
Legislar (art. 62 – Medidas Provisórias) e julgar (contencioso administrativo). 
2. FORMA DE GOVERNO
O conceito de forma de governo está associado com a maneira como se dá a relação entre governantes e governados. Existem duas formas de governo: a República e a Monarquia.
	República
	Monarquia
	Eletividade
	Hereditariedade
	Temporalidade
	Vitaliciedade
	Representatividade popular (o povo escolhe seu representante)
	Ausência de representatividade popular (o critério para definição do rei é a linhagem familiar)
	Responsabilização dos governantes (inclusive por crime de responsabilidade – impeachment)
	Inexistência de responsabilidade dos governantes (the king can do no wrong – o rei não pode errar).
A primeira Constituição Brasileira (1824) previa a Monarquia como forma de governo. Entretanto, desde 1891, adotou-se a forma republicana de governo.
É exatamente em razão da adoção da República como forma de governo que, em relação aos mandatos de Chefe do Executivo, limita-se a reeleição à apenas um período.
Assim, também pelo mesmo motivo se previu a inelegibilidade reflexa ou reflexiva.[footnoteRef:2] Ao final, o regime no qual uma família se perpetua no poder chama-se monarquia. [2: As inelegibilidades relativas reflexas estão presentes no artigo 14, §7º, da Constituição Federal e impedem que sejam eleitos parentes de ocupantes de cargos do Poder Executivo, no respectivo território, salvo se detentores de mandato anterior, ou candidatos à reeleição.] 
3. SISTEMAS DE GOVERNO
Sistema de governo é a forma, dinâmica, entre os poderes que oficiam pela governabilidade do país, ou seja, refere-se ao modo como se relacionam os Poderes Executivo e Legislativo, nos quais é dinamizado uma relação política, oficiando pela governabilidade. Entre os poderes, o único que não conta com membros eleitos é o Poder Judiciário, não se oficiando pela governabilidade do País, na qual se sujeita a um controle popular.
Neste envolvimento dos poderes Executivo e Legislativo, há dois principais sistemas que regem este envolvimento, que são os sistemas parlamentarista e presidencialista, conforme a tabela abaixo:
	Presidencialismo
	Parlamentarismo
	Independência entre os Poderes 
nas funções governamentais.
	Regime de colaboração; de corresponsabilidade entre 
Legislativo e Executivo.
	Governantes (Executivo e Legislativo) possuem mandato certo.
	Primeiro Ministro só permanece na 
chefia de governo enquanto possuir 
maioria parlamentar.
	
	Mandato dos parlamentares pode 
ser abreviado, caso haja a 
dissolução do parlamento.
	Há um só chefe do Executivo (presidente ou monarca), que acumula as funções de chefe de Estado e chefe de Governo.
	Chefia do Executivo é dual, já que exercida pelo Primeiro Ministro (chefe de Governo), juntamente ao Presidente ou 
Monarca (chefe de Estado).
	A responsabilidade do governo 
é perante o povo.
	A responsabilidade do governo 
é perante o parlamento.
O Brasil, embora tenha por tradição o sistema presidencialista, já teve dois períodos de parlamentarismo:
a) O primeiro na época do Império, com Dom Pedro II – basta lembrar que Dom Pedro II era muito jovem quando assumiu o trono, assim, houve uma diminuição das atribuições do Príncipe Regente.
b) O segundo período de parlamentarismo é mais recente. Ele envolveu os anos de 1961 a 1963, exatamente o período que antecedeu o Golpe Militar. Nesse período,com a renúncia de Jânio Quadros e a assunção de João Goulart (Jango), houve uma nova tentativa de esvaziar os poderes do Presidente da República, dividindo-os com o Parlamento. A figura de Primeiro Ministro, nesse período, coube a Tancredo Neves, que mais à frente seria eleito para Presidente da República, cargo que não chegou a assumir em razão de sua morte por diverticulite.
De acordo com o art. 2º do ADCT, 5 anos após a promulgação da Constituição, seria realizado um plebiscito a fim de que o povo decidisse qual a forma e o sistema de governo que desejavam. À época, foram mantidas a república e o presidencialismo.
3.1. Sistema Parlamentarista
Neste sistema, pessoas distintas exercem a função de chefe de Estado e chefe de Governo e o parlamento ganha destaque.
3.1.1. Chefe de Governo 
É voltado para questões internas do país. Neste sistema, os atos de chefia de governo são desempenhados pelo Primeiro-Ministro. Quem coloca o Primeiro-Ministro na condição de chefe de governo é o próprio parlamento, por meio do partido de maior representatividade. 
Ex.: Holanda, Espanha, Reino Unido, Dinamarca, etc. Se o governo perde a confiança do parlamento, é realizado uma Moção de Desconfiança[footnoteRef:3] e então cai o Primeiro-Ministro e o gabinete. [3: Nos países que adotam o sistema parlamentarista de governo, a moção de censura (ou moção de desconfiança) é uma proposta parlamentar apresentada pela oposição com o propósito de derrotar ou constranger o governo. A moção é aprovada ou rejeitada por meio de votação (voto de censura ou voto de desconfiança). Exemplo prático: Theresa May.] 
3.1.2. Chefe de Estado 
É designado pela forma de Governo, podendo ser:
a) Forma de Governo Republicana: É representado por um presidente;
b) Forma de Governo Monárquica: É representado por um monarca.
3.2. Sistema Presidencialista
No sistema presidencialista de governo, o Presidente da República acumula as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo, da seguinte forma:
3.2.1. Chefe de Estado
Nesse contexto, o Presidente da República agirá como chefe de Estado quando representar o Brasil no plano internacional. Por exemplo, na celebração de tratados internacionais, declaração de guerra, celebração de paz.
3.2.2. Chefe de Governo
A função de Chefe de Governo acontece quando o Presidente atua no plano interno, como chefe do Poder Executivo da União, como por exemplo: Para a proposição de projeto de lei que aumente os vencimentos de servidores de determinado Ministério, ou ainda, edição de Medida Provisória, dispondo sobre aumento de proventos de aposentadoria.
A diferença do sistema parlamentarista e presidencialista é que no sistema presidencialista tem-se a previsibilidade da política de governo (Ex.: previsibilidade um plano de governo).
Por ser Chefe de Estado, o Presidente tem a chamada imunidade relativa. Isso significa que, durante a vigência do mandato, ele não responderá por atos estranhos ao exercício de suas funções.
3.3. Sistema Semipresidencialista
O sistema semipresidencialista é um sistema de governo em que o Presidente partilha o Poder Executivo com um Primeiro-ministro e um gabinete, sendo os dois últimos responsáveis perante a legislatura de um Estado.
Nesse sentido, o sistema semipresidencialista é um modo de organização da estrutura política de um país que possui elementos do parlamentarismo e presidencialismo e tem sido utilizado por países como França, Finlândia e Portugal para garantir a governabilidade do país. Nessa perspectiva, o sistema semipresidencialista busca reunir as principais qualidades desses dois modelos para implantar governos mais democráticos, com maior participação popular e com uma maior eficiência para superar crises políticas.
3.3.1. Semipresidencialismo x Parlamentarismo 
Difere do Parlamentarismo na medida em que tem um Chefe de Estado eleito diretamente pela população e que é mais do que uma figura puramente cerimonial como no Parlamentarismo. O Chefe de Estado tem funções mais importantes e não apenas meramente protocolares.
3.3.2. Semipresidencialismo x Presidencialismo 
O sistema também difere do Presidencialismo no gabinete, que embora seja nomeado pelo Presidente, é responsável perante o legislador, o que pode obrigar o gabinete a demiti-lo através de uma moção de censura.
3.3.3. Semipresidencialismo x Parlamentarismo e Presidencialismo 
Diferentemente do sistema presidencialista, em que o presidente acumula a função de Chefe de Estado (responsável por representar o país a nível internacional) e Chefe de governo (responsável por governar o país com os ministros e demais elementos do poder executivo), no sistema semipresidencialista, o presidente tem suas funções, assim como no sistema parlamentarista, compartilhadas com a figura de um Primeiro-Ministro. Apesar disso, nesse sistema, o presidente possui um papel mais forte do que no sistema parlamentarista (no qual ele só desempenha a função de Chefe de Estado), pois ele pode nomear o Primeiro-Ministro, dissolver o Parlamento ou Congresso, propor leis, controlar a política externa do país, escolher alguns funcionários do alto escalão, solicitar referendos etc. Já o primeiro-ministro é escolhido pelo Congresso, ao qual está subordinado, e desempenha a maior parte das atribuições do Chefe de Governo (escolher e coordenar a atuação dos ministros, implantar políticas de desenvolvimento econômico e social etc).
	Uma das vantagens do semipresidencialismo em relação aos dois outros modelos políticos é o maior equilíbrio entre o poder executivo (que é mais poderoso no sistema presidencialista) e o legislativo (muito mais influente do que o executivo no sistema parlamentarista). Esse equilíbrio ocorre a partir da desconcentração do poder e de um maior compartilhamento das decisões políticas entre esses dois poderes.
	Outra vantagem desse sistema é que ele é mais eficiente para apresentar uma resposta a uma possível crise política do que o sistema presidencialista, pois permite uma mudança mais rápida nesses dois poderes (legislativo e executivo) em caso de falta de governabilidade ou representatividade popular. Isso quer dizer que, se o Primeiro-Ministro não possui apoio do Congresso, ele pode ser substituído mais rapidamente sem a necessidade de novas eleições ou sem precisar passar pelos processos de Impeachment ou ReCall, que são muito desgastantes, tanto para a economia do país quanto para a sua imagem internacional. Em contrapartida, se o congresso não representar os interesses populares, o presidente tem o poder de destituí-lo e convocar novas eleições.
4. PRESIDENTE DA REPÚBLICA
4.1. Condições de elegibilidade
Para concorrer aos cargos de Presidente ou Vice-Presidente da República, o candidato deve preencher estes requisitos:
a) Ser brasileiro nato;
b) Estar no pleno exercício dos direitos políticos;
c) Alistamento eleitoral;
d) Filiação partidária (não é possível concorrer sem partido político, como acontece em outros países, como os EUA);
e) Idade mínima de 35 anos;
f) Não ser inalistável nem inelegível.
AULA 26/08/2019
4.2. Competências do Presidente da República 
4.2.1. Competência Privativa (Art. 84, CF)
As atribuições do Presidente da República estão descritas no art. 84 da CRFB/88 em um rol que, apesar de extenso, é apenas exemplificativo, e não taxativo.
a) Competência como Chefe de Estado:
Art. 84 (...)
VII - Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
VIII - Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
XV - Nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;
XVI - Nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XIX - Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; (sempre que associado a um ato do presidente da república com política externa ourepresentante de outros poderes).
XX - Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
XXI - Conferir condecorações e distinções honoríficas;
b) Competência como Chefe de Governo
Art. 84 (...)
I - Nomear e exonerar os Ministros de Estado;
III - Iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
V - Vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
IX - Decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - Decretar e executar a intervenção federal;
XI - Remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
XII - Conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;
XIV - Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
XVII - Nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - Convocar e presidir o Conselho de Defesa Nacional;
XXIV - Prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXVI - Editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - Exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
c) Competência como Chefe da Administração Pública Federal: 
Art. 84 (...)
II - Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal;
VI - Dispor, mediante decreto, sobre.
a) a organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e
b) a extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
XXV - Prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XVI - Advogado-Geral da União;
4.2.1. Competências Delegáveis
No parágrafo único do artigo 84 consta que o Presidente da República poderá delegar ao PGR (Procurador Geral da República), ao AGU (Advogado-Geral da União) e aos Ministros de Estado as seguintes atribuições:
VI – Dispor, mediante decreto sobre:
a) a organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e
b) a extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
XII – Conceder indulto e comutar penas;
XXV – Prover os cargos públicos federais, na forma da lei.
Conforme o professor, o inc. VI se refere à condição do Presidente como chefe da Administração Pública.
4.3. Crimes Praticados pelo Presidente da República
O Presidente da República, na condição de Chefe de Estado, possuirá algumas prerrogativas que serão apenas suas, não repercutindo para os outros Chefes de Governo (Governadores e Prefeitos).
4.3.1. Autorização para Abertura de Processo contra Presidente da República e Governadores
O Presidente da República só pode ser processado, seja por crime comum, seja por crime de responsabilidade, após licença dada pela Câmara dos Deputados, em quórum de 2/3 de votos (ao menos 342 votos). Essa regra é extraída do art. 51, I, da CF.
Sobre a autorização do Legislativo para a abertura de processo contra os Chefes de Governo, o entendimento hoje é de que a necessidade de autorização vale apenas para o Presidente da República.
Observação: Antigamente havia a questão da necessidade de autorização do Legislativo para o julgamento também abrangeria os Governadores de Estado. O entendimento tradicional do STF era no sentido de que as regras se estendiam aos Governadores, com base no princípio republicano. Hoje em dia, firmou-se a compreensão pela desnecessidade de autorização da Assembleia para a abertura de processo contra o Governador (STF, ADI 5.540).
E mais, entendeu-se pela inconstitucionalidade das normas que prevejam expressamente a necessidade de autorização do Legislativo. Prevaleceu a ideia de que a prerrogativa seria unicamente do Presidente da República (STF, ADI 4.797).
4.3.2. Foro de Prerrogativa de Função do Presidente da República
Não é qualquer demanda contra o Presidente que será julgada em um foro especial. Exemplificando, ações cíveis e trabalhistas não contam com regra diferenciada, sendo julgadas na 1ª instância.
Em regra, não há foro especial para o julgamento de ação popular ou ação civil pública. Desse modo, mesmo que elas sejam propostas contra autoridades, a tramitação ocorrerá perante um juiz de 1ª instância (STF, PET 3.087).
A prerrogativa de foro abrange especificamente os crimes, sejam comuns ou de responsabilidade.
	
	Presidente da República Federal
	Governadores Estadual
	Prefeitos Municipal
	Crimes Comuns
	STF (a)
	STJ (c)
	TJ ou Tribunal 2ª Instância (e)
	Crime de Responsabilidade
	Senado Federal (b)
	Tribunal Especial (d)
	Assembleia Legislativa
a) Autorização da Câmara dos Deputados com quórum de 2/3 + Admissão da Queixa ou da Denúncia no STF.
b) Autorização da Câmara dos Deputados com quórum de 2/3 com julgamento pelo presidente do STF.
c) Não se exige e não pode haver exigência de autorização pela Assembleia Legislativa do Estado (Súmula 702/STF)
d) Tribunal Especial:
· 5 membros da Assembleia Legislativa;
· 5 membros do TJ;
· Presidência do Presidente do TJ.
e) Será da competência do TJ para os crimes de comuns da justiça comum do estado e dos outros tribunais de segunda instância, conforme seja a natureza do crime.
4.3.3. Crimes Comuns
Dentro da locução “crimes comuns” (ou infrações penais comuns) se inserem os crimes comuns propriamente ditos e também as contravenções penais e os crimes eleitorais (STF, RCL 511). Tratando-se de crimes comuns, a competência para julgamento será do STF.
Há de se destacar duas observações importantes:
(i) Imunidade Relativa: O Presidente só poderá ser processado por fatos ocorridos na vigência do mandato. Ou seja, por conta da imunidade relativa (ou inviolabilidade presidencial), os processos relativos a fatos anteriores ao mandato ficarão suspensos. Nesse caso, não haverá contagem do prazo prescricional.
(ii) Relação com o Cargo: A segunda ponderação é no sentido de que, mesmo os fatos ocorridos durante o mandato só tramitarão se guardarem relação com o cargo de Presidente da República.
a) Crime Estranho ao Exercício do Mandato
Os crimes estranhos ao exercício do mandato, terá seu julgamento após o término do mandato. Deste modo, a prescrição ficará suspensa até o término do mandato. Já os crimes relacionados ao mandato anterior, impede o exercício no mandato posterior.
Exemplo 1: Caso o Presidente Michel Temer pratique ato de violência doméstica contra a sua mulher, Marcela Temer, sem que haja motivação relacionada ao cargo, esse crime relacionado à chamada Lei Maria da Penha ficará suspenso até que o mandato termine. A prescrição, igualmente, ficará suspensa.
b) Crime Relacionado ao Mandato
Se o crime tiver relação com o mandato, deve ser julgado pelo STF, porém, depende da autorização de 2/3 da Câmara dos Deputados. Se o STF receber a denúncia, o Presidente da República é afastado do cargo por 180 dias.
Exemplo 2: Se o Presidente agrida sua esposa, tentando contra sua vida. Diante de uma briga na qual a primeira dama demonstre interesse em denunciar ao Ministério Público crimes praticados pelo Presidente e por sua equipe, relacionados ao mandato, estaríamos diante de caso a ser julgado pelo STF mesmo na vigência do mandato. Contudo, lembro que o julgamento pelo STF dependeria de autorização a ser dada por 2/3 dos membros da Câmara dos Deputados.
Havendo condenação, o Presidente estaria sujeito à prisão. Porém, a Constituiçãofala que não pode haver prisão antes da prolação de sentença, ou seja, conforme a imunidade relativa, o Presidente só pode ser preso em virtude de sentença penal condenatória transitada em julgada. Assim, o Presidente não estaria sujeito a prisão em flagrante ou temporária, nem mesmo a preventiva a ser decretada durante as investigações ou mesmo na instrução, sem sentença.
4.3.4. Crime de Responsabilidade (Impeachment)
Os crimes de responsabilidade de natureza política são as infrações político-administrativas. No art. 85, a Constituição apresenta um rol exemplificativo das hipóteses de crimes de responsabilidade por atos do Presidente da República:
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
I - A existência da União;
II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - A segurança interna do País;
V - A probidade na administração;
VI - A lei orçamentária;
VII - O cumprimento das leis e das decisões judiciais.
a) Embasamento Legal para o Procedimento do Impeachment
De acordo com o parágrafo único do art. 85, os crimes de responsabilidade (impeachment ou impedimento) serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. 
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.
A Lei referida é a Lei 1.079/1950 que, segundo o STF, em grande medida, foi recebida por ser compatível com a Constituição. Além da Constituição e da Lei 1.079/1950, pode haver a aplicação subsidiária do Regimento Interno tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal, desde que as normas regimentais não estejam em choque (STF, ADPF 378).	
Conforme a Súmula Vinculante 46 do STF, a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das normas de processo e julgamento são privativas da União.
Observação: Em consequência, normas estaduais ou municipais que tipifiquem condutas como crime de responsabilidade ou mesmo prevejam regras diversas daquelas constantes na Constituição ou na Lei 1.079/1950 serão inconstitucionais. É o que acontece, por exemplo, com as Constituições Estaduais que preveem caber à Assembleia Legislativa o julgamento do Governador em crime de responsabilidade. Isso porque o julgamento do Chefe do Executivo Estadual no impeachment caberá a um Tribunal Especial, composto pelo Presidente do TJ, mais 5 Desembargadores e 5 Deputados – Art. 78, § 3º, da Lei 1.079/1950 (STF, ADI 4.791).
b) Procedimento do Impeachment
(i) Qualquer cidadão pode denunciar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade conforme o art. 14 da Lei 1.079/1950. Sendo negado o pedido pela Câmara dos Deputados, não há previsão de recurso contra essa decisão.
Observação: No impeachment da Ex-Presidente Dilma, o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, negou uma série de pedidos e, ao final de um desentendimento político com o Partido dos Trabalhadores, recebeu a acusação formulada por Janaína Paschoal, Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo.
(ii) Seguindo para a tramitação do pedido, admitida a acusação pela Câmara dos Deputados, em quórum de 2/3, o processo será remetido ao Senado Federal.
Observação: Nesse ponto houve uma importante modificação. O STF entendeu que o Senado Federal, ao receber o processo vindo da Câmara dos Deputados, não estaria vinculado à instauração do processo, devendo fazer uma análise prévia de admissibilidade. Ou seja, ao invés de ficar vinculado à manifestação da Câmara, o Senado deveria se manifestar expressamente se receberia – ou não – a denúncia autorizada pela Câmara.
(iii) O Senado deve, então, se manifestar expressamente se recebe ou não a denúncia autorizada pela Câmara. Nessa manifestação, o quórum seria de maioria simples. Exige-se o quórum de 2/3 apenas no julgamento final (STF, ADPF 387).
Observação: Diante do inegável clima hostil entre Dilma e Eduardo Cunha, questionou-se sobre a possibilidade de aplicação das regras de suspeição ou impedimento relacionadas aos parlamentares, seja da Câmara dos Deputados (admissão da acusação), seja do Senado Federal (julgamento no Crime de Responsabilidade). A esse respeito, o STF entendeu pela inaplicabilidade das regras de suspeição e de impedimento previstas nos Códigos de Processo (STF, MS 21.623).
(iv) Instruído o processo, sob a presidência do Presidente do STF, o julgamento final do impeachment caberá ao Plenário do Senado Federal. Para que haja a condenação, novamente se exige quórum qualificado de 2/3 (dois terços) dos Senadores.
Observação: Em respeito à separação dos Poderes, não cabe ao STF rever a condenação proferida pelo Senado Federal. Em outras palavras, não se admite que o STF reveja o mérito (se a condenação era devida ou não). Entretanto, o Tribunal pode – e deve – analisar a observância dos direitos e das garantias constitucionais (devido processo legal, contraditório, ampla defesa etc.) durante a tramitação do processo em qualquer das Casas Legislativas.
(v) A condenação no impeachment é política, e não penal. Ela autoriza a imposição de duas sanções:
· Perda da função pública;
· Inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública.
Observação: No caso de Fernando Collor, buscando escapar do processo de cassação, ele, na véspera do julgamento, renunciou ao mandato. Qual era a estratégia? Escapar da inabilitação por oito anos. Sua tentativa não deu certo, isso porque o STF entendeu que a renúncia ao cargo, apresentada durante a sessão de julgamento, não paralisaria o processo de impeachment (STF, MS 21.689). Ou seja, no final das contas, acabou havendo o fatiamento das sanções. Se as punições (perda do cargo e inabilitação por oito anos) fossem atreladas, Collor escaparia sem sofrer nenhuma delas, uma vez que a sanção de perda da função não poderia ser aplicada diante da renúncia ao cargo. No caso do impeachment de Dilma Rousseff. Durante a votação, os Senadores findaram separando os quesitos. Primeiro, votou-se favoravelmente à perda do cargo. Em seguida, não se aplicou a inabilitação por oito anos. Novamente se fatiou, impondo-se apenas uma das punições. Houve questionamento perante o STF, por parte de alguns parlamentares, que impetraram vários mandados de segurança. As liminares foram indeferidas, mas o mérito dos pedidos ainda não foi julgado.
(vi) A condenação no impeachment não pode ser revista pelo STF. O Tribunal só pode analisar se foi observado o devido processo legal.
4.4. Substituição e Sucessão do Presidente da República
Em resumo, a substituição é definitiva, enquanto que, a sucessão é temporária.
4.4.1. Sucessão (Impedimento)
A sucessão é temporária e está relacionada a algum impedimento, como uma viagem, doença. Havendo o impedimento, caberá ao Vice-Presidente assumir o cargo interinamente. É sinônimo de substituição.
A Constituição estabelece a seguinte ordem de vocação da linha sucessória de autoridades que substituem o presidente:
· 1º Sucessório: Vice-presidente;
· 2º Sucessão: Presidente da Câmara dos Deputados;
· 3º Sucessão: Presidente do Senado Federal;
· 4º Sucessão: Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Observação: O STF entendeu que se uma das autoridades que estiver na ordem de vocação sucessória tiver contra si denúncia recebida pelo STF pode continuar na sua função, ficando impedido apenas de ocupar a Presidência da República, ainda que temporariamente.
4.4.2. Substituição (Vacância)
A substituição é definitiva e está relacionada à vacância do cargo, por motivo de morte, renúncia e impeachment. Havendo a vacância do cargo de Presidente, o Vice assume definitivamente, ocasião em que nossa República ficará sem ninguém ocupando a vice-presidência. No caso de Dupla Vacância (vacância dos dois cargos) – Presidente da República e Vice-presidente:
a) Dois primeiros anos de mandato: Haverá eleições Diretas no prazo de 90 dias depois

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