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APOSTILA DE DIREITO ELEITORAL 2021


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APOSTILA DE DIREITO ELEITORAL 
PROFESSOR: JOSÉ ELIAS DE REZENDE JÚNIOR 
1º SEMESTRE DE 2021 
 
- BIBLIOGRAFIA SUGERIDA 
NETO, Jaime Barreiros. Direito Eleitoral. Salvador: jusPodivm. 2017. 
 
ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral. Salvador: Editora JusPodvm, 
2017. 
 
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral, 13ª edição. São Paulo: Atlas, 2017. 
 
RODRIGUES, Marcelo Abelha. JORGE, Flavio Cheim; LIBERATO, Ludgero. Curso de Direito 
Eleitoral. 2a Edição. 
 
 
- LEGISLAÇÃO BÁSICA 
 
Constituição Federal: Título II (Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo IV – Dos Direitos 
Políticos e Capítulo V – Dos Partidos Políticos; 
- Código Eleitoral: Lei 4.737/65; 
- Lei das Eleições: Lei 9.504/97; 
- Lei das Inelegibilidades: Lei Complementar 64/90; 
- Lei dos Partidos Políticos: Lei 9.096/95. 
 
1. INTRODUÇÃO 
1.1. TEMAS RECENTES DE DIREITO ELEITORAL 
 
A) Lei 13.877/2019 
O diploma, publicado em 13/12/2019, trouxe alterações na legislação eleitoral, sendo 
que as principais delas serão a seguir elencadas. 
A Lei dos Partidos Políticos foi alterada, no sentido de que o requerimento de registro 
de partido político não será feito mais perante o Cartório de Registro Civil das Pessoas 
Jurídicas da Capital Federal, mas do local de sua sede. Neste mesmo sentido, a sede do 
partido não será mais obrigatoriamente em Brasília, tal qual na regra anterior. 
Foram ainda alterados dispositivos desta lei, facilitando a prestação de contas anual 
dos partidos à justiça eleitoral bem como amenizando as sanções por desaprovação das 
contas. 
Quanto à aplicação dos recursos do Fundo Partidário, foi ampliada a sua possibilidade 
de utilização pelos Partidos para criação e manutenção de programas de promoção e difusão 
da participação política das mulheres, contratação de serviços de consultoria contábil e 
advocatícia e de serviços para atuação jurisdicional, compra ou locação de bens móveis ou 
imóveis, custeio de impulsionamento de conteúdos pela internet. 
2 
No que se refere ao limite de gastos de campanha, os gastos advocatícios e de 
contabilidade referentes a consultoria, assessoria e honorários, relacionados à prestação de 
serviços em campanhas eleitorais e em favor destas, bem como em processo judicial 
decorrente de defesa de interesses de candidato ou partido político, não estão sujeitos a limites 
de gastos ou a limites que possam impor dificuldade ao exercício da ampla defesa. 
 
B) EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 107, DE 2 DE JULHO DE 2020 
Adia, em razão da pandemia da Covid-19, as eleições municipais de outubro de 2020 
e os prazos eleitorais respectivos, de modo que as eleições municipais previstas para outubro 
de 2020 realizar-se-ão no dia 15 de novembro, em primeiro turno, e no dia 29 de novembro 
de 2020, em segundo turno, onde houver, com possibilidade de alteração destes prazos por 
meio de Decreto Legislativo. 
Entre os diversos prazos alterados pela EC, destacam-se, o prazo para realização das 
convenções partidárias, de 31 de agosto a 16 de setembro (o prazo original é de 20 de julho a 
5 de agosto) e o prazo para registro das candidaturas que será até 26 de setembro (o prazo 
original é o dia 15 de agosto). 
 
C) Reforma Eleitoral de 2017 
Após muitos debates acerca da necessidade de reforma do sistema eleitoral brasileiro, 
foram aprovadas as Leis 13.487 e 13.488, ambas de 2017, as quais trouxeram alterações na 
Lei das Eleições e no Código Eleitoral, entre as quais destacam-se: 
1. Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) 
Constituído por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral (artigo 16-C da Lei 
9.504/97 com redação dada pela Lei 13.487/17), tendo sido reservada pela Lei Orçamentária 
de 2018 o valor de R$ 1,716 bilhão, a ser dividido da seguinte forma (artigo 16-D da Lei 
9.504/97 com redação dada pela Lei 13.488/17): 
I - 2% (dois por cento), divididos igualitariamente entre todos os partidos com estatutos 
registrados no Tribunal Superior Eleitoral; 
II - 35% (trinta e cinco por cento), divididos entre os partidos que tenham pelo menos 
um representante na Câmara dos Deputados, na proporção do percentual de votos por eles 
obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados; 
III - 48% (quarenta e oito por cento), divididos entre os partidos, na proporção do 
número de representantes na Câmara dos Deputados, consideradas as legendas dos titulares; 
IV - 15% (quinze por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de 
representantes no Senado Federal, consideradas as legendas dos titulares. 
Pela Lei Orçamentária de 2020 foram aprovados mais de R$ 2 bilhões para o 
financiamento das campanhas eleitorais deste ano, a serem partilhados entre os partidos 
políticos nos mesmos moldes. 
2. Estabelecimento do limite de gastos e outras disposições referentes ao 
financiamento das campanhas eleitorais 
Os artigos 5º a 7º da Lei 13.488/17 estabeleceram os seguintes limites de gastos para 
as campanhas eleitorais de 2018: 
3 
“Art. 5o Nas eleições para Presidente da República em 2018, o 
limite de gastos de campanha de cada candidato será de R$ 
70.000.000,00 (setenta milhões de reais). 
Parágrafo único. Na campanha para o segundo turno, se 
houver, o limite de gastos de cada candidato será de 50% 
(cinquenta por cento) do valor estabelecido no caput deste 
artigo. 
Art. 6o O limite de gastos nas campanhas dos candidatos às 
eleições de Governador e Senador em 2018 será definido de 
acordo com o número de eleitores de cada unidade da 
Federação apurado no dia 31 de maio de 2018, nos termos 
previstos neste artigo. 
§ 1o Nas eleições para Governador, serão os seguintes os limites 
de gastos de campanha de cada candidato: 
I - nas unidades da Federação com até um milhão de eleitores: 
R$ 2.800.000,00 (dois milhões e oitocentos mil reais); 
II - nas unidades da Federação com mais de um milhão de 
eleitores e de até dois milhões de eleitores: R$ 4.900.000,00 
(quatro milhões e novecentos mil reais); 
III - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de 
eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$ 5.600.000,00 
(cinco milhões e seiscentos mil reais); 
IV - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de 
eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$ 9.100.000,00 (nove 
milhões e cem mil reais); 
V - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de 
eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$ 14.000.000,00 
(catorze milhões de reais); 
VI - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de 
eleitores: R$ 21.000.000,00 (vinte e um milhões de reais). 
§ 2o Nas eleições para Senador, serão os seguintes os limites de 
gastos de campanha de cada candidato: 
I - nas unidades da Federação com até dois milhões de eleitores: 
R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais); 
II - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de 
eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$ 3.000.000,00 
(três milhões de reais); 
III - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de 
eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$ 3.500.000,00 (três 
milhões e quinhentos mil reais); 
IV - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de 
eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$ 4.200.000,00 
(quatro milhões e duzentos mil reais); 
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V - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de 
eleitores: R$ 5.600.000,00 (cinco milhões e seiscentos mil reais). 
§ 3o Nas campanhas para o segundo turno de governador, 
onde houver, o limite de gastos de cada candidato será de 50% 
(cinquenta por cento) dos limites fixados no § 1o deste artigo. 
Art. 7o Em 2018, o limite de gastos será de: 
I - R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) para as 
campanhas dos candidatos às eleições de Deputado Federal; 
II - R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para as campanhas dos 
candidatos às eleições de Deputado Estadual e Deputado 
Distrital.” 
Facultada aos pré-candidatos a arrecadação prévia derecursos para as campanhas 
eleitorais de pessoas físicas a partir de 15 de maio do ano eleitoral, “mas a liberação de 
recursos por parte das entidades arrecadadoras fica condicionada ao registro da candidatura, 
e a realização de despesas de campanha deverá observar o calendário eleitoral” (artigo 22, § 
3º da Lei 9.504/97 incluído pela Lei 1.488/17). 
Criado o financiamento coletivo de campanhas eleitorais por meio de sítios na internet 
(artigo 22, § 4º, IV da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 1.488/17). 
Importante destacar ainda que o TSE publicou, no início de fevereiro de 2018, 
resolução que permitia aos candidatos financiarem 100% de suas próprias campanhas, o que 
foi revisto por meio da Lei 13.878/19, o qual estabeleceu que o candidato poderá usar 
recursos próprios em sua campanha até o total de 10% (dez por cento) dos limites previstos 
para gastos de campanha no cargo em que concorrer. 
A divulgação dos limites de gastos para as eleições de 2020 será realizada pelo TSE 
até o dia 31/08/2020, sendo que, nos termos do artigo 18-C da Lei das Eleições pela Lei 
13.878/19, será equivalente ao limite para os respectivos cargos nas eleições de 2016, 
atualizado pelo INPC. 
No que tange à proibição de recebimento de recursos de pessoas jurídicas pelos 
partidos políticos, conforme decisão proferida pelo STF em 2015, a questão foi tipificada na 
Lei dos Partidos Políticos, conforme redação dada ao artigo 31, inciso II do diploma pela Lei 
13.488/17. 
 
3. Propaganda eleitoral na internet 
Criada pela inclusão dos artigos 57-A – 57-J na Lei 9.504/97 pela Lei 13.488/17, a 
propaganda eleitoral pela internet passou a ser permitida a partir de 15 de agosto do ano 
eleitoral, ou seja, na mesma data em que se inicia a propaganda eleitoral em geral. 
 
D) EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 97, DE 4 DE OUTUBRO DE 2017 
O diploma alterou o § 1º do artigo 17 da CF, para vedar aos partidos políticos a 
celebração de coligações nas eleições proporcionais, a partir de 2020. 
Alterou ainda o § 3º do referido dispositivo constitucional para condicionar o direito 
dos partidos aos recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão aos 
seguintes critérios: 
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I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por 
cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, 
com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou 
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos 
um terço das unidades da Federação. 
Este último dispositivo terá aplicação apenas a partir das eleições de 2030, sendo que 
a partir do próximo ano, já haverá uma redução gradual no acesso aos referidos direitos. 
 
1.2. CONCEITO, OBJETO E OBJETIVOS DO DIREITO ELEITORAL 
A Constituição Federal, em seu Título I, que trata dos Princípios Fundamentais, 
estabelece no parágrafo único do artigo 1º: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”. 
No Título II, capitulo IV, que trata dos Direitos Políticos, a Carta Magna estabelece, no 
caput do artigo 14 que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante plebiscito, 
referendo e iniciativa popular. 
Neste contexto, o Direito Eleitoral pode ser definido como ramo do Direito que se 
dedica ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento 
do poder do sufrágio popular, de modo a se equacionar a vontade do povo e a atividade 
governamental. É ramo do Direito Público que trata dos institutos relacionados com os 
direitos políticos e as eleições em todas as suas fases. 
Deste modo, tem como objeto a normatização de todo o processo eleitoral, que se 
inicia com o alistamento e se encerra com a diplomação dos eleitos, considerado todo o 
conjunto de atos relativos à organização das eleições, o registro de candidatos, a campanha 
eleitoral, a votação, a apuração e a proclamação dos resultados. Inclui-se ainda na expressão 
processo eleitoral, as consultas populares (plebiscito e referendo). 
O principal objetivo do Direito Eleitoral é a garantia da normalidade e da legitimidade 
do processo eleitoral, viabilizando a democracia, de modo a buscar a consonância entre o 
resultado das urnas com a vontade soberana expressada pelo eleitorado. 
 
1.3. DEMOCRACIA 
Nos termos dos já mencionados § único do artigo 1º e artigo 14, caput da CF, tem-se 
que a democracia é um regime político fundamentado na ampla participação popular, na 
igualdade política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo. Assim 
sendo, a democracia é condição basilar para a existência do Direito Eleitoral, tendo em vista 
os objetivos deste. 
Nesse diapasão, podem-se identificar três espécies de democracia: 
a) Democracia Direta: exercício do poder popular sem a presença de intermediários, 
observada atualmente em alguns cantões da Suíça e com origem na Grécia Antiga, 
especialmente na cidade-estado Atenas (século IV a.C.); 
b) Democracia Indireta (representativa): modelo marcado pela pouca atuação efetiva 
do povo no poder, tendo se desenvolvido a partir da Revolução Francesa e entrado em colapso 
com as revoluções sociais do século XIX, a crise econômica de 1929 e as duas grandes guerras 
mundiais do Século XX; 
6 
c) Democracia Semidireta (participativa): modelo dominante no mundo 
contemporâneo, caracterizado pela preservação da representação política aliada a meios de 
participação direta do povo no exercício do poder soberano do Estado. É o modelo adotado 
pelo Brasil, nos termos da Constituição Federal. 
No modelo brasileiro a representação política é realizada pelo sufrágio universal, que 
consiste no Poder inerente ao povo de participar da gerência da vida pública. O voto é o 
instrumento de materialização do poder de sufrágio e o escrutínio é a forma como se pratica 
o voto, que no sistema brasileiro é direto, secreto, universal e periódico (artigo 60, § 4º, II da 
CF). 
O voto indireto é possível excepcionalmente, consoante previsão do artigo 81, § 1º da 
CF, no caso de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente nos últimos dois anos do 
período presidencial, com eleição pelo Congresso Nacional. O mesmo entendimento é adotado 
pelo TSE quanto a vacância de cargo de Prefeito e Vice-Prefeito e Governador e Vice-
Governador. 
 A participação direta é realizada por meio dos seguintes institutos de democracia 
participativa: plebiscito, referendo e iniciativa popular, previstos constitucionalmente e 
regulamentados pela Lei 9.709/98. 
Nos termos do artigo 2º do diploma, o plebiscito e o referendo “são consultas 
formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza 
constitucional, legislativa ou administrativa”. O plebiscito é convocado com anterioridade a 
ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe 
tenha sido submetido (§ 1º). O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo 
ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição ( § 2º). 
Nos termos do artigo 4º da mesma lei, “a incorporação de Estados entre si, subdivisão 
ou desmembramento para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios 
Federais, dependem da aprovação da população diretamente interessada, por meio de 
plebiscito realizado na mesma data e horário em cada um dos Estados, e do Congresso 
Nacional, por lei complementar, ouvidas as respectivas Assembleias Legislativas.”. 
 O plebiscito ou referendo, convocado nos termos da citada lei, será considerado 
aprovado ou rejeitado por maioria simples. 
A iniciativa popular, nos termos do artigo 13 da Lei 9.709/98, “consiste na 
apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento 
do eleitorado nacional, distribuído pelo menospor cinco Estados, com não menos de três 
décimos por cento dos eleitores de cada um deles.” 
 
1.4. MANDATOS POLÍTICOS 
A representação política pressupõe o deferimento de mandatos políticos, para os quais 
existem várias concepções. 
De acordo com a teoria do mandado politico imperativo, difundida pelo filósofo inglês 
John Locke, no século XVIII, o mandatário deve seguir as recomendações do eleitor, sob pena 
de perda do mandato. Essa tese foi fortalecida na contemporaneidade, com a possibilidade da 
realização de “recalls” em alguns sistemas eleitorais. 
O mandato partidário é fundamentado na lógica da fidelidade partidária, e baseia-se 
no pressuposto de que o partido político é o verdadeiro detentor do mandato, devendo o 
mandatário seguir as suas diretrizes sob pena de perda do mandato por infidelidade 
partidária. 
7 
É a espécie vigente no Brasil, no que tange aos cargos do sistema proporcional de 
eleições, conforme resposta à consulta nº 1.398 pelo TSE em 27/03/2007, bem como pelas 
decisões proferidas pelo STF em mandados de segurança relacionados a questão da 
fidelidade partidária. 
O TSE editou ainda a Resolução 22.610/2007, a qual autoriza o partido político a 
requerer a decretação da perda do cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem 
justa causa. Nos termos da referida resolução, considera-se justa causa a incorporação ou 
fusão do partido, a criação de novo partido, a mudança substancial ou o desvio reiterado do 
programa partidário e a grave discriminação pessoal. 
Tal entendimento acerca da fidelidade partidária não se aplica aos cargos eleitos pelo 
sistema majoritário de eleição, conforme decidido pelo pleno do STF em 2015. 
A Lei 12.034/09 incluiu o inciso IX ao § 1º do artigo 11 da Lei 9.504/97, determinando 
que os candidatos a cargos majoritários do Poder Executivo (prefeitos, governadores e 
presidente da república) deverão juntar aos seus requerimentos de candidaturas, as suas 
propostas e objetos de campanha. 
Entretanto, o dispositivo em apreço possui apenas conteúdo moral, uma vez que 
inexiste previsão legal de perda de mandato político de candidato eleito que venha a 
descumprir as promessas de campanha. 
Finalmente, o mandato representativo é aquele no qual o mandatário tem plena 
liberdade para exercer o mandato politico, não havendo necessidade de seguir as orientações 
do eleitor ou do partido, modalidade aplicável no Brasil nos cargos do sistema majoritário de 
eleições. 
 
1.5. FONTES DO DIREITO ELEITORAL 
O direito eleitoral possui fontes diretas (constituição federal, legislação complementar 
e ordinária federal e resoluções do TSE) e indiretas (jurisprudência e doutrina). 
Entre as fontes diretas destacam-se: 
a) Constituição Federal: fonte primária do direito eleitoral, estabelecendo os princípios 
e regras fundamentais da democracia, normas primárias sobre o direito de nacionalidade, 
condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade, sistemas eleitorais, hipóteses de perda 
e suspensão dos direitos políticos, previsão sobre a propositura de ação de impugnação de 
mandato eletivo, além de normas gerais sobre o funcionamento dos partidos políticos e 
organização da justiça eleitoral; 
b) Código Eleitoral (Lei 4.737/65): fonte de grande relevância, apesar de instituída 
durante o Regime Militar, constitui-se de normas referentes ao alistamento eleitoral, sistemas 
eleitorais, atos preparatórios para a votação, organização da justiça eleitoral, recursos 
eleitorais e crimes eleitorais; 
c) Lei das Eleições (Lei 9.504/97): exerceu papel fundamental de estabilização da 
democracia brasileira, posto que até a sua promulgação, prevalecia o casuísmo, com a edição 
de leis especificas para cada eleição, criadas de acordo com os interesses dos detentores do 
poder. Estabeleceu, a partir da eleição de 1998 normas perenes regulamentadoras de temas 
como coligações, convenção para a escolha de candidatos, registro de candidatos, prestação 
de contas, pesquisas eleitorais, propaganda eleitoral, condutas vedadas aos agentes públicos 
em campanhas e fiscalização das eleições. Sofreu importantes alterações recentemente 
principalmente quanto ao financiamento de campanhas, prestação de contas e propaganda 
eleitoral; 
8 
d) Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95): regulamenta os artigos 17 e 14, § 3º, inciso 
V, da Constituição Federal, tratando, entre outros temas, da criação, registro, organização, 
funcionamento dos partidos políticos; filiação partidária; fidelidade e disciplina partidárias; 
finanças e contabilidade. 
d) Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar 64/90): regulamenta o artigo 14, § 9º da 
CF, estabelecendo os casos de inelegibilidade, prazos de cessação e outras providências. Foi 
reformada pela Lei Complementar 135/10 (Lei de Ficha Limpa); 
e) Resoluções do TSE: a justiça eleitoral, com órgãos jurisdicionais de natureza híbrida 
e sem quadro próprio de carreira, possui poder regulamentar, com a prerrogativa de explicitar 
o conteúdo das normas gerais e abstratas produzidas pelo Poder Legislativo. Esse poder, 
entretanto, é limitado, não podendo estabelecer restrições a direitos sem embasamento legal. 
 
1.6. PRINCÍPIOS DO DIREITO ELEITORAL 
a) Princípio da lisura das eleições: as eleições num regime verdadeiramente 
democrático devem ser pautadas pela igualdade de oportunidades entre todos os candidatos 
em disputa. Calcado na ideia de cidadania, de origem popular do poder e no combate à 
influência do poder econômico ou político nas eleições. 
Na CF há diversos dispositivos voltados ao tema, entre os quais destacam-se: 
- Art. 1º, inciso II: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito 
e tem como fundamentos, entre outros, a cidadania; 
- Art. 1º, parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
No campo infraconstitucional, o princípio está expressamente tratado no artigo 23 da 
LC 64/90, o “Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e 
notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou 
fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse 
público de lisura eleitoral”. 
A própria Lei das Eleições (Lei 9.504/97), previu uma série de condutas vedadas, sob 
pena de multa e eventual cassação do registro e do diploma, bem como a declaração de 
inelegibilidade. 
Outro grande passo na efetivação do princípio foi a aprovação da Lei de Combate à 
Corrupção Eleitoral ou Lei de Captação Ilícita de Sufrágios, Lei nº 9.840/99, a qual incluiu o 
artigo 41-A à Lei das Eleições, o qual possui a seguinte redação: “Ressalvado o disposto no 
art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, 
oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem 
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da 
candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e 
cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei 
Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.” 
 
b) Princípio do aproveitamento do voto (in dubio pro voto): o juiz deverá abster-se 
de pronunciar nulidades sem prejuízo (vide artigos 176 e 219 do Código Eleitoral). Tal 
entendimento vem sendo confirmado pelo TSE, de forma a se valorizar a legitimidade da 
soberania popular, decidindo inclusive, pela não aplicação do artigo 224 do Código Eleitoral, 
quando, voluntariamente, mais da metade dos eleitores decidem anular o voto ou votar em 
branco, preservando, assim, a validade da eleição; 
9 
“Art. 176. Contar-se-á o voto apenas para a legenda, nas eleições pelo 
sistema proporcional: (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) 
I - se o eleitorescrever apenas a sigla partidária, não indicando o candidato 
de sua preferência; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) 
II - se o eleitor escrever o nome de mais de um candidato do mesmo Partido; 
(Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) 
III - se o eleitor, escrevendo apenas os números, indicar mais de um 
candidato do mesmo Partido; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) 
IV - se o eleitor não indicar o candidato através do nome ou do número com 
clareza suficiente para distingui-lo de outro candidato do mesmo Partido. 
(...) 
Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e 
resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem 
demonstração de prejuízo. 
Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser requerida pela 
parte que lhe deu causa nem a ela aproveitar. 
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas 
eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do 
município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais 
votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 
(vinte) a 40 (quarenta) dias. 
§ 1º Se o Tribunal Regional na área de sua competência, deixar de cumprir 
o disposto neste artigo, o Procurador Regional levará o fato ao conhecimento 
do Procurador Geral, que providenciará junto ao Tribunal Superior para que 
seja marcada imediatamente nova eleição. 
§ 2º Ocorrendo qualquer dos casos previstos neste capítulo o Ministério 
Público promoverá, imediatamente a punição dos culpados. 
§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, 
a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito 
majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas 
eleições, independentemente do número de votos anulados. (Incluído pela 
Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) 
§ 4o A eleição a que se refere o § 3o correrá a expensas da Justiça Eleitoral 
e será: (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) 
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final 
do mandato; (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) 
II - direta, nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide 
ADIN Nº 5.525) 
 
Agravo regimental. Recurso em mandado de segurança. Acórdão regional. 
Determinação. Nova eleição. 
[...] 2. Para fins do art. 224 do Código Eleitoral, a validade da votação - ou o 
número de votos válidos - na eleição majoritária não é aferida sobre o total 
de votos apurados, mas leva em consideração tão somente o percentual de 
10 
votos dados aos candidatos desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos 
nulos e os brancos, por expressa disposição do art. 77, § 2º, da Constituição 
Federal. 
3. Considerando o que decidido na Consulta nº 1.657 - no sentido de que 
não se somam aos votos nulos derivados da manifestação apolítica dos 
eleitores aqueles nulos em decorrência do indeferimento do registro de 
candidatos, afigura-se recomendável que a validade da votação seja aferida 
tendo em conta apenas os votos atribuídos efetivamente a candidatos e não 
sobre o total de votos apurados. 
Agravo regimental a que se nega provimento. 
(Recurso em Mandado de Segurança nº 665, Acórdão, Relator(a) Min. 
Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicação: DJE - Diário de justiça 
eletrônico, Volume, Tomo -, Data 17/08/2009, Página 24)” 
 
Quanto à referida ADIN Nº 5.525, importante transcrever a decisão proferida pelo 
plenário do STF em 07/03/2018: 
“Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator), julgando parcialmente 
procedentes os pedidos formulados na ação, para declarar a 
inconstitucionalidade da locução “após o trânsito em julgado”, prevista no 
§ 3º do art. 224 do Código Eleitoral, e para conferir interpretação conforme 
a Constituição ao § 4º do mesmo artigo, de modo a afastar do seu âmbito 
de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República, bem como no de Senador da República, no que 
foi acompanhado pelos Ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Marco 
Aurélio, e após o voto do Ministro Alexandre de Moraes, que divergia em 
parte do Relator, para julgar inconstitucional o § 4º do art. 224 do Código 
Eleitoral também no tocante à vacância dos cargos de Governadores, 
Prefeitos e seus Vices, o julgamento foi suspenso. Falou, pelo amicus curiae 
Clínica de Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro – CLÍNICA UERJ DIREITOS, o Dr. Daniel Sarmento. 
Presidência da Ministra Cármen Lúcia.” 
 
c) Princípio da Celeridade: em razão da temporariedade dos mandatos eletivos, o 
Poder Judiciário tem de dar a maior prioridade possível na apreciação dos feitos eleitorais. 
Por tal motivo, o processo eleitoral tem como uma das principais características a 
celeridade, posto que ocorre em menos de seis meses, contados do registro da candidatura 
até a diplomação. Nesse diapasão, as decisões judiciais, em tais matérias, devem ser rápidas, 
como garantia da legitimidade do exercício da soberania popular. 
Com o advento do inciso LXXVIII do artigo 5º da CF, incluído pela EC 45/04, afirmando 
o direito fundamental a razoável duração do processo, a matéria foi disciplina no âmbito do 
direito eleitoral, pela Lei 12.034/09 que incluiu no texto da lei das eleições o artigo 97-A. 
O dispositivo considera como duração razoável do processo que possa resultar em 
perda do mandato eletivo, o período máximo de um ano, contado da sua apresentação à 
Justiça Eleitoral e abrangida a tramitação em todas as instâncias. 
O § 2º do dispositivo prevê a possibilidade de o magistrado incorrer em desobediência, 
caso não seja diligente quanto a duração razoável do processo, cabendo inclusive, 
representação junto ao CNJ. 
11 
Ademais, os recursos em matéria eleitoral, via de regra, devem ser interpostos no prazo 
de três dias e não terão efeito suspensivo. 
d) Princípio da anualidade: consoante artigo 16 da CF, “a lei que alterar o processo 
eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra 
até um ano da data de sua vigência.” Visa a preservação da segurança jurídica e o equilíbrio 
da disputa. 
Nos termos do informativo STF n 398, de 22 a 26 de agosto de 2005, a norma 
constitucional acima transcrita “consubstanciadora do princípio da anterioridade da lei 
eleitoral, foi prescrita no intuito de evitar que o Poder Legislativo pudesse inserir, 
casuisticamente, no processo eleitoral, modificações que viessem a deformá-lo, capazes de 
produzir desigualdade de participação dos partidos e respectivos candidatos que nele atuam”. 
Quando do julgamento da ADI 3.741, o Pretório Excelso decidiu haver violação do 
postulado da anterioridade ou anualidade eleitoral quando a norma: a) produzir rompimento 
da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos no processo 
eleitoral; b) introduzir deformação no modo a afetar a normalidade das eleições; c) contiver 
dispositivo considerado fator de perturbação do pleito; d) derivar de alteração motivada com 
propósito casuístico”. 
Com base no referido princípio, houve grande discussão acerca da aplicabilidade da 
Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010. Naquela oportunidade, prevaleceu, perante o TSE, 
o entendimento segundo o qual a aplicação imediata da nova lei não feria o princípio da 
anualidade. 
Ocorre que o STF, em 2011, decidiu pela inaplicabilidade da lei de Ficha Limpa nas 
eleições de 2010, priorizando a segurança jurídica e vencendo a tese da impossibilidade de 
mitigação do princípio da anualidade (RE 633.703). 
O STF, ao julgar o RE 637.485, decidiu que eventuais “decisões do TSE que, no curso 
do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência 
(e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm aplicabilidade imediata ao 
caso concreto esó terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior.” 
e) Princípio da moralidade eleitoral: o artigo 14, § 9º da CF, com redação dada pela 
EC de revisão nº 04/94, determina que “lei complementar estabelecerá outros casos de 
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, 
a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e 
a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso 
do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.” 
Após muita polêmica a respeito da autoaplicabilidade da questão referente à 
moralidade para o exercício de mandato e a vida pregressa do candidato e tendo prevalecido 
até então o princípio da presunção de inocência, foi então promulgada a Lei de Ficha Limpa 
estabelecendo os casos de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a 
moralidade no exercício do mandato. 
f) Princípio da periodicidade da investidura nas funções eleitorais: nos termos do 
artigo 121, § 2º da CF “os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por 
dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos 
escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria”. 
Note-se a ausência do princípio constitucional da vitaliciedade inerente à magistratura 
no que tange àqueles investidos na função eleitoral, o que se estende igualmente para os 
membros do MP. 
12 
g) Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos: 
este princípio, no que tange à propaganda eleitoral está assim previsto no artigo 241 do Código 
Eleitoral: 
Art. 241. Toda propaganda eleitoral será realizada sob a 
responsabilidade dos partidos e por eles paga, imputando-lhes 
solidariedade nos excessos praticados pelos seus candidatos e 
adeptos. 
Parágrafo único. A solidariedade prevista neste artigo é restrita 
aos candidatos e aos respectivos partidos, não alcançando 
outros partidos, mesmo quando integrantes de uma mesma 
coligação. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013) 
 Por outro lado, a Lei 13.165/15 trouxe restrição ao referido princípio no que tange as 
sanções aplicadas pela Justiça Eleitoral a candidatos, com a inclusão do § 11 no artigo 96 da 
Lei das Eleições, nos seguintes termos: “As sanções aplicadas a candidato em razão do 
descumprimento de disposições desta Lei não se estendem ao respectivo partido, mesmo na 
hipótese de esse ter se beneficiado da conduta, salvo quando comprovada a sua participação”. 
Não obstante, a Lei das Eleições, em diversos dispositivos, torna explícito o aludido 
princípio da responsabilidade, entre os quais destacam-se os artigos 17 (despesas da 
campanha eleitoral); 21 (prestação de contas); 38 (veiculação de propaganda eleitoral). 
Acerca deste princípio, importante citar ainda o artigo 15-A da Lei dos Partidos 
Políticos: 
“Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil e trabalhista, cabe 
exclusivamente ao órgão partidário municipal, estadual ou 
nacional que tiver dado causa ao não cumprimento da 
obrigação, à violação de direito, a dano a outrem ou a qualquer 
ato ilícito, excluída a solidariedade de outros órgãos de direção 
partidária. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009) 
Parágrafo único. O órgão nacional do partido político, quando 
responsável, somente poderá ser demandado judicialmente na 
circunscrição especial judiciária da sua sede, inclusive nas 
ações de natureza cível ou trabalhista. (Incluído pela Lei nº 
12.891, de 2013)” 
Por derradeiro, incumbe acrescentar que eventual responsabilidade penal por crime 
eleitoral será individual do infrator, pois não há previsão legal de punição por prática do 
aludido delito por pessoa jurídica. 
 
 
13 
2. OS SISTEMAS ELEITORAIS 
A Constituição Federal de 1988 adotou a forma de governo Republicana, o sistema de 
governo presidencialista e a forma federativa de Estado, destacando ainda que a nação 
brasileira é “um estado democrático de direito” além do já citado princípio da soberania 
popular insculpido no parágrafo único do artigo 1º da Carta Maior. E, como não poderia ser 
diferente, optou-se pela realização de eleições livres para o preenchimento dos diversos cargos 
nas esferas federal, estadual e municipal dos Poderes Executivo e Legislativo. 
O direito eleitoral, conforme já visto, é uma decorrência natural da democracia, regime 
político no qual a autoridade reside no povo e assim sendo visa à consagração não só do 
direito da maioria, mas também das minorias. Por tais motivos, imperiosa a realização de 
eleições livres que reflitam a vontade popular. 
Neste contexto os sistemas eleitorais podem ser definidos como o conjunto de critérios 
utilizados para definir os vencedores do processo eleitoral, ou seja, são as regras do jogo 
eleitoral. Ou ainda como “o conjunto de técnicas e procedimentos que se empregam na 
realização de eleições, destinadas a organizar a representação do povo no território nacional” 
(SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Maheiros, 2006, 
p. 371), conjugando “técnicas como a divisão do território em distritos ou circunscrições 
eleitorais, o método de emissão do voto, e os procedimentos de apresentação dos candidatos 
e de designação dos eleitos de acordo com os votos emitidos” (ALMEIDA, Roberto de. Curso 
de Direito Eleitoral. Salvador: Editora JusPodvm, 2017). 
São quatro as espécies de sistemas eleitorais: majoritário, proporcional, distrital e 
misto, os quais serão tratados doravante. 
 
2.1. SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO 
Adotado no Brasil nas eleições para os cargos de presidente da república, governador 
de estado, prefeito e senador da república. Neste sistema prevalece a vontade da maioria, uma 
vez que o vencedor é o candidato mais votado. 
O sistema majoritário pode ser simples ou absoluto. No primeiro caso, válido para as 
eleições para senadores e prefeitos de municípios com até 200 mil eleitores, vence o candidato 
mais votado, independentemente da soma de votos dos seus adversários, uma vez que as 
eleições se realizam em um único turno. 
No sistema majoritário absoluto, válido nas eleições para presidente da república, 
governadores e prefeitos de municípios com mais de 200 mil eleitores, vence o candidato que 
tenha a maioria absoluta dos votos válidos, ou seja, mais votos do que todos os seus 
adversários somados. Caso nenhum candidato consiga maioria absoluta, deverá haver 
segundo turno entre os dois candidatos mais votados. 
Neste contexto, importante destacar que os votos brancos e nulos não têm nenhum 
valor, segundo jurisprudência consolidada pelo TSE a partir do julgamento do Acordão 665, 
de 17 de agosto de 2002, já mencionado no item 1.6, “b”. 
 
2.2. SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL 
Adotado no Brasil nas eleições para os cargos de deputado federal e estadual e 
vereador. Neste sistema o pressuposto é a repartição aritmética das vagas, de modo que as 
mesmas sejam distribuídas em proporção às correntes ideológicas ou de interesse, 
representadas pelos partidos políticos. 
14 
São duas as técnicas adotadas mundialmente para a representação proporcional, 
quais sejam: a do número uniforme, na qual o número de votos correspondentes ao 
preenchimento de uma vaga, em cada circunscrição é previamente estabelecido por lei, 
fazendo com que, tantas vezes esse montante seja atingido, tantas vagas serão obtidas; a do 
quociente eleitoral, adotada pelo sistema eleitoral brasileiro, que consiste em operações 
aritméticas sucessivas, para que haja a representação proporcional, consoante artigos 106 a 
113 do Código Eleitoral. É adotado nas eleições para deputados e vereadores. 
A técnica do quociente eleitoral realiza-se por meio das seguintes etapas: 
1ª) Determinação do quociente eleitoral (artigo 106 do CE): 
“Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número 
de votos válidos apurados pelode lugares a preencher em 
cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual 
ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.” 
2ª) Determinação do quociente partidário (artigo 107 do CE): 
“Determina-se para cada Partido ou coligação o quociente 
partidário, dividindo-se pelo quociente eleitoral o número de 
votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação de 
legendas, desprezada a fração.” 
3ª) Determinação dos candidatos eleitos (artigo 108 CE, com redação dada pela Lei 
13.165/2015): 
“Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um 
partido ou coligação que tenham obtido votos em número 
igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente 
eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário 
indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha 
recebido. 
Parágrafo único. Os lugares não preenchidos em razão da 
exigência de votação nominal mínima a que se refere o 
caput serão distribuídos de acordo com as regras do art. 
109.”. 
4ª) Preenchimento dos lugares remanescentes (artigo 109 do CE, com redação dada 
pela Lei 13.165/2015): 
“Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação dos 
quocientes partidários e em razão da exigência de votação 
nominal mínima a que se refere o art. 108 serão distribuídos 
de acordo com as seguintes regras: 
I - dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada 
partido ou coligação pelo número de lugares definido para o 
partido pelo cálculo do quociente partidário do art. 107, 
mais um, cabendo ao partido ou coligação que apresentar a 
maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha 
candidato que atenda à exigência de votação nominal 
mínima; 
15 
II - repetir-se-á a operação para cada um dos lugares a 
preencher; 
III - quando não houver mais partidos ou coligações com 
candidatos que atendam às duas exigências do inciso I, as 
cadeiras serão distribuídas aos partidos que apresentem as 
maiores médias. 
§ 1o O preenchimento dos lugares com que cada partido ou 
coligação for contemplado far-se-á segundo a ordem de 
votação recebida por seus candidatos. 
§ 2o Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os 
partidos e coligações que participaram do pleito. (Redação 
dada pela Lei nº 13.488, de 2017) , 
Importante observar que até o advento da Lei 13.165/15, não havia a necessidade da 
obtenção de votos em número igual superior a 10% do quociente eleitoral. Essa mudança teve 
o objetivo de reduzir o impacto dos chamados “puxadores de votos” que acabavam fazendo 
com que candidatos pouco votados fossem eleitos. 
Outra mudança importante foi introduzida pela reforma eleitoral de 2017, a qual 
passou a prever que todos os partidos e coligações que participam do pleito poderão concorrer 
às vagas remanescentes e não apenas aqueles que atingiram o quociente eleitoral, tal qual 
era previsto anteriormente. 
Nos termos do artigo 110 do CE, em caso de empate “haver-se-á por eleito o candidato 
mais idoso.”. E, em caso de “nenhum Partido ou coligação alcançar o quociente eleitoral, 
considerar-se-ão eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados”, 
consoante artigo 111 do mesmo diploma. 
Com relação ao preenchimento das vagas de suplementes, as regras estão previstas 
nos artigos 112 e 113, nos seguintes termos: 
“Art.112. Considerar-se-ão suplentes da representação 
partidária: 
I - os mais votados sob a mesma legenda e não eleitos 
efetivos das listas dos respectivos partidos; 
II - em caso de empate na votação, na ordem decrescente 
da idade. 
Parágrafo único. Na definição dos suplentes da 
representação partidária, não há exigência de votação 
nominal mínima prevista pelo art. 108. (Incluído pela Lei nº 
13.165, de 2015) 
Art. 113. Na ocorrência de vaga, não havendo suplente para 
preenchê-la, far-se-á eleição, salvo se faltarem menos de 
nove meses para findar o período de mandato.” 
Deve-se destacar ainda que o sistema eleitoral brasileiro é de lista aberta, posto que 
os eleitores definem os nomes dos candidatos que ocuparão as vagas. Um dos pontos da 
“reforma política” debatida no ano de 2017, seria a eleição proporcional de lista fechada, 
quando os eleitores votariam apenas nas legendas. 
16 
Para facilitar a compreensão do tema, segue um exemplo: 
Município Fictício: 
• Total de eleitores habilitados: 127.433 eleitores; 
• Abstenções: 2.538; 
• Votos nulos: 5.736; 
• Votos em branco: 7.471; 
• Total de votos válidos: 127.433 – (2.538 + 5.736 + 7.471) = 111.688 
• Vagas em disputa: 13 
• Quociente eleitoral: 111.688 / 13 = 8.591,38 = 8.591 (desprezada a fração 
inferior a meio); 
• Tabela de votação dos partidos: 
 
PARTIDO A PARTIDO B PARTIDO C PARTIDO D PARTIDO E 
CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. 
AA 21.432 BA 3.249 CA 1.301 DA 6.127 EA 18.046 
AB 5.102 BB 3.211 CB 719 DB 1.411 EB 10.008 
AC 4.900 BC 3.191 CC 713 DC 514 EC 810 
AD 4.573 BD 3.050 CD 541 DD 253 ED 730 
AE 2.513 BE 3.014 CE 108 DE 94 EE 700 
AF 1.832 BF 2.300 CF 23 DF 78 EF 563 
AG 715 BG 1.713 CG 15 DG 49 EG 513 
AH 546 BH 1.504 CH 10 DH 13 EH 419 
AI 232 BI 1.027 - - DI 05 EI 417 
AJ 121 BJ 438 - - - - EJ 384 
AK 51 BK 256 - - - - EK 323 
AL 40 BL 104 - - - - EL 305 
AM 33 BM 27 - - - - EM 170 
AN 27 BN 17 - - - - EN 108 
- - - - - - - - EO 85 
- - - - - - - - EP 69 
- - - - - - - - EQ 28 
- - - - - - - - ER 22 
- - - - - - - - ES 17 
- - - - - - - - ET 15 
- - - - - - - - EU 13 
- - - - - - - - EV 01 
Votos 
legenda 
 Votos 
legenda 
 Votos 
legenda 
700 Votos 
legenda 
 Votos 
legenda 
50 
TOTAL 42.117 23.101 4.130 8.544 33.796 
 
• Quociente partidário: 
Partido A: 42.117 / 8.591 = 4,90 ou 4 vagas; 
Partido B: 23.101 / 8.591 = 2,69 ou 2 vagas; 
Partido C: 4.130 / 8.591 = 0,48 ou 0 vagas; 
Partido D: 8.544 / 8.591 = 0,99 ou 0 vagas; 
Partido E: 33.796 / 8.591 = 3,93 ou 3 vagas. 
 
• Mínimo de votos para preenchimento das vagas: 10% de 8.591 = 859,10 = 860 
votos; 
• Total de vagas preenchidas pelo quociente partidário, observado o limite 
mínimo: 
Partido A: 4 vagas; 
Partido B: 2 vagas; 
17 
Partido E: 2 vagas (o candidato EC não obteve o mínimo de 10% dos votos) 
Total: 8 vagas 
 
 
Preenchimento das 05 vagas remanescentes: 
 
Partido A: 42.117 / 5 (4 vagas quociente partidário + 1) = 8.423; 
Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; 
Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; 
Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 8.544; 
Partido E: 33.796 / 4 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 
Vaga remanescente 1: Partido D 
 
 
Partido A: 42.117 / 5 (4 vagas quociente partidário + 1) = 8.423; 
Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; 
Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; 
Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; 
Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 
Vaga remanescente 2: Partido A (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha 
candidato com votação mínima de 10% do QE) 
 
Partido A: 42.117 / 6 (4 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 7.020; 
Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; 
Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; 
Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; 
Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 
Vaga remanescente 3: Partido B (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha 
candidato com votação mínima de 10% do QE) 
 
 
Partido A: 42.117 / 6 (4 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 7.020; 
Partido B: 23.100 / 4 (2 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 5.775; 
Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; 
Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; 
Partido E: 33.796 / 5 (3 vagasquociente partidário + 1) = 8.449 
18 
Vaga remanescente 4: Partido A (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha 
candidato com votação mínima de 10% do QE) 
 
Partido A: 42.117 / 7 (4 vagas quociente partidário + 1 + 2 vagas remanescentes) = 
6.017; 
Partido B: 23.100 / 4 (2 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 5.775; 
Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; 
Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; 
Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 6.759 
Vaga remanescente 5: Partido B (os partidos A e E, apesar de terem a maior média, 
não tinham candidato com votação mínima de 10% do QE) 
 
 
• Resultado da eleição: 
Partido A: 6 vagas (candidatos eleitos: AA, AB, AC, AD, AE e AF); 
Partido B: 4 vagas (candidatos eleitos: BA, BB, BC e BD); 
Partido C: 0 vagas; 
Partido D: 1 vaga (candidatos eleitos: DA); 
Partido E: 2 vagas (candidatos eleitos: EA e EB). 
Total: 13 vagas 
 
• Suplentes: 
Partido A: 6 vagas (candidatos suplentes: AG, AH, AI, AJ, AK e AL); 
Partido B: 4 vagas (candidatos suplentes: BD, BE, BF e BG); 
Partido C: 0 vagas; 
Partido D: 1 vagas (candidatos suplentes: DB); 
Partido E: 2 vagas (candidatos suplentes: EE e EF). 
Total: 13 vagas 
 
 
2.3. VOTO DISTRITAL 
Proposto por algumas lideranças políticas, juristas e cientistas políticos, seria a 
substituição do sistema eleitoral proporcional de lista aberta pelo sistema de voto distrital nas 
eleições para deputados e vereadores no Brasil. 
Na prática, significa a substituição do sistema proporcional pelo sistema majoritário 
para as eleições dos referidos cargos. Deste modo, ocorreria a divisão de cada Estado ou 
19 
município em tantos distritos quantos sejam as vagas disponíveis, a partir dos quais seriam 
eleitos os candidatos mais votados em cada distrito. 
A proposta é criticada pelo fato de que a representação das minorias ficaria ameaçada. 
 
2.4. SISTEMA ELEITORAL MISTO 
Sistema intermediário entre o majoritário e o proporcional e que não é adotado pelo 
Brasil. As duas espécies mais difundidas no mundo são duas: a de origem alemã, mais 
tendente à proporcionalidade e a de origem mexicana, de maior inspiração no sistema 
majoritário. 
No sistema alemão, elege-se metade dos deputados por circunscrições distritais e a 
outra metade em função de listas de base estadual. A adoção deste sistema no Brasil é 
defendida pelo Senador José Serra em sua obra “Reforma Politica”, bem como por Favilla 
Ribeiro, na obra “Direito Eleitoral”. É ainda objeto da reforma política, que pretende a sua 
implantação para as eleições de 2022. 
 O sistema mexicano, por sua vez, consiste na adoção, para a eleição dos integrantes 
da Câmara dos Deputados, de dois tipos eleitorais: eleição pelo sistema distrital majoritário 
para 300 vagas e pelo sistema de representação proporcional para 200 vagas, sendo que 
nenhum partido pode ter mais do que 350 deputados. 
 
2.5. COMPOSIÇÃO DO PARLAMENTO BRASILEIRO 
O Poder Legislativo da União é representado pelo Congresso Nacional (Parlamento da 
União), bicameral, composto de Câmara dos Deputados e Senado Federal, com as seguintes 
características: 
a) Câmara dos Deputados: total de 513 deputados federais, proporcional à população 
dos Estados e do Distrito Federal (LC 78/93). 
Número de deputados federais por entidade federativa: mínimo de 08 e máximo de 70 
(LC 78/93). 
b) Senado Federal: total de 81, três para cada unidade da federação; renovação da 
representação de cada Estado e DF a cada 4 anos, alternadamente, por um ou dois terços; 
mandato de 8 anos. 
O Poder Legislativo dos Estados-membros é representado pelas Assembleias 
Legislativas (Parlamento dos Estados-membros), unicameral, com mínimo de 24 e máximo de 
94 deputados estaduais. No caso do DF, a casa legislativa é intitulada Câmara Distrital com 
24 deputados distritais. 
No âmbito municipal, o Poder Legislativo é unicameral, representado pela Câmara 
Municipal (Parlamento dos Municípios), com mínimo de 9 e máximo de 55 vereadores. 
 
 2.6. ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E POLÍTICA DO ELEITORADO 
Para possibilitar a realização de eleições em todas as esferas políticas da República, 
que possui 26 Estados-membros, um Distrito Federal e mais de cinco mil municípios, o 
Código Eleitoral dividiu o eleitorado brasileiro em circunscrições eleitorais, zonas eleitorais e 
seções eleitorais. 
20 
As circunscrições eleitorais consistem em unidades criadas, de acordo com o tipo de 
eleição a se realizar, nos seguintes termos: 
2.6.1. Território Nacional para as eleições presidenciais; 
2.6.2. Território do Distrito Federal para as eleições gerais distritais; 
2.6.3. Território dos Estados-membros para as eleições gerais estaduais; 
2.6.4. Território do Município para as eleições municipais. 
As zonas eleitorais são organizações eleitorais nas unidades da federação e no DF, as 
quais nem sempre se confundem com os limites territoriais do município ou da comarca, pois 
podem abranger mais de um e ainda, um mesmo município ou comarca pode ter mais de uma 
zona eleitoral. É a sede de atuação, espaço territorial no qual o Juiz Eleitoral exerce a 
jurisdição. 
Nos termos da resolução 23.512/2017 do TSE, para funcionamento das zonas 
eleitorais nas capitais e em municípios com mais de duzentos mil habitantes, deve ser 
observado um número mínimo de cem mil eleitores por zona. 
As seções eleitorais, subdivisões das zonas eleitorais, consistem na menor unidade da 
organização eleitoral, sendo a sede de atuação das mesas receptoras de votos e os locais de 
votação, devendo conter no mínimo 50 e no máximo 400 eleitores no interior, sendo o número 
máximo de 500 eleitores nas capitais. Por meio de resolução do ano de 2014, o TSE, visando 
garantir os direitos políticos dos presos provisórios e dos internados por prática de ato 
infracional, possibilitou a criação de seções eleitorais nos respectivos estabelecimentos 
prisionais e unidades de internação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
3. PARTIDOS POLÍTICOS 
3.1. INTRODUÇÃO 
“A democracia, necessária e inevitavelmente, requer um Estado de partidos” (Hans 
Kelsen) e desse modo os partidos políticos são muito importantes na instrumentalização da 
moderna democracia, a partir do seu surgimento com o fim do absolutismo monárquico. 
Fazendo-se uma abordagem histórica, verifica-se que na Grécia e Roma antigas, 
atribuía-se o nome de partido a um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa. 
Na primeira metade do século XVIII, na Inglaterra, nasceram as primeiras agremiações 
partidárias, como instituições de direito privado com o desiderato de aproximar pessoas com 
ideias políticas comuns; na segunda metade do mesmo século, sobretudo após a eclosão da 
Revolução Francesa e da Independência dos EUA, o fenômeno da criação de entidades 
partidárias de alastrou pelo mundo ocidental. 
Nos primórdios dessa sociedade liberal verificou-se uma tranquila e pacífica 
alternância de poder entre os diversos grupos e facções, devido à ausência de contrastes 
profundos entre os mesmos. 
No entanto, esses grupos e facções, existentes desde o século XV, não eram bem vistos, 
pois se acreditava que os mesmos representavam uma ameaça à vontade geral, como alegou 
o próprio Rosseau, um dos grandes mentores da democracia moderna, em sua obra “Do 
contrato social”. Importante destacar que os partidos políticos também representavam uma 
ameaça ao senso de unanimidade almejado pela burguesia dominante. 
Na medida em que o modelo liberal de democracia foi entrando em declínio, surge a 
necessidade de valorização dos partidos políticos, posto que o debate entre as mais diversas 
correntes ideológicas e doutrinárias vai ganhando importância devido ao reconhecimento de 
uma realidade pluralista intrínseca às relações humanas, com o abandono do mito da 
igualdade. 
E assim, foi sendo construídoo argumento da essencialidade dos partidos políticos - 
reconhecidos como males necessários - com o ocaso do individualismo, sedimentando-se a 
tese da democracia pelos partidos, que teve em Kelsen, um de seus maiores expoentes. 
A partir da contemporaneidade, os partidos políticos deixam então de serem vistos 
como males necessários e passam a ser um axioma da vida democrática. 
Neste contexto, tem-se que a representação política pode apresentar deficiências de 
ordem qualitativa, sendo que as escolhas dos representantes devem se dar por critérios 
técnicos ou ideológicos e o cidadão deve ter a consciência da importância do voto. Para tanto, 
é preciso que haja condições econômicas e sociais mínimas, educação e pluralidade de fontes 
de informação. 
Pelo que, os partidos políticos são o elo fundamental entre o povo e o Estado, canal de 
aglutinação, debate, reflexão e discussão da sociedade civil em torno de ideais políticos. 
Dentro de um Estado Democrático de Direito, trata-se da forma mais segura de aglutinar 
interesses de pessoas acerca dos mesmos ideais políticos e sociais, de modo a permitir a 
participação de todos (ativa e passiva) no processo eleitoral com a vinculação aos interesses 
defendidos e impedir o assalto da democracia por aventureiros, salvadores da pátria, Messias, 
financiados por interesses escusos, sem plataforma política e base sólida de ideais. 
De modo que partido político pode ser conceituado “como a pessoa jurídica de direito 
privado, integrada por um grupo de indivíduos que se associam, estavelmente, em torno de 
um objetivo determinado, que é assumir e permanecer no poder, ou, pelo menos, influenciar 
suas decisões e, ipso facto, pôr em prática determinada ideologia político-administrativa”. 
22 
No Brasil são 33 Partidos Políticos registrados junto ao TSE, sendo o último registro 
datado de 10/12/2019, referente ao Unidade Popular. Existe ainda um total de 213 pedidos 
de registro de Partidos Políticos no TSE desde 1945. 
 
 3.2. PARTIDOS POLÍTICOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
A Constituição Federal de 1988, seguiu a tendência contemporânea e reserva o 
capítulo V de seu título II à disciplina dos partidos políticos, nos seguintes termos: 
“Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de 
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o 
regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos 
fundamentais da pessoa humana e observados os 
seguintes preceitos: 
I - caráter nacional; 
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de 
entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a 
estes; 
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; 
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. 
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para 
definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre 
escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e 
provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para 
adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações 
nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas 
eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação 
entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, 
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer 
normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação 
dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) 
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade 
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no 
Tribunal Superior Eleitoral. 
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e 
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os 
partidos políticos que alternativamente: (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 97, de 2017) 
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, 
no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, 
distribuídos em pelo menos um terço das unidades da 
Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos 
válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda 
Constitucional nº 97, de 2017) 
23 
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais 
distribuídos em pelo menos um terço das unidades da 
Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, 
de 2017) 
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de 
organização paramilitar. 
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos 
previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e 
facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido 
que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada 
para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e 
de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. 
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) “ 
 
3.3. LEI Nº 9.096/95 (LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS) 
3.3.1. Disposições Preliminares 
Esse diploma legal foi estabelecido de forma a regulamentar o artigo 17 da CF e em 
suas disposições preliminares (título I) estabelece que os partidos políticos são pessoas 
jurídicas de direito privado destinadas “a assegurar, no interesse do regime democrático, a 
autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na 
Constituição Federal.” 
O título I do diploma disciplina ainda a vedação constitucional de utilização de 
organização paramilitar pelos partidos (artigo 6º), proibindo aos mesmos ministrar instruções 
militar ou paramilitar e a adoção de uniformes para seus membros. 
No que tange ao caráter nacional preconizado na carta magna, o § 1º do artigo 7º assim 
dispõe: 
“Só é admitido o registro do estatuto de partido político que 
tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele 
que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de 
eleitores não filiados a partido político, correspondente a, 
pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados 
na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não 
computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por 
um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% 
(um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em 
cada um deles” 
 
É o que se chama de APOIAMENTO MÍNIMO e que pode assim ser resumido: 
0,5% dos votos 
válidos dados nas 
últimas eleições 
para a Câmara dos 
Deputados 
Distribuição dos citados votos 
em um terço ou mais dos 
estados, com um mínimo de 
0,1% do eleitorado que haja 
votado em cada um deles 
Reconhecimento do 
caráter nacional do 
partido político 
24 
 
Note-se que a atual redação do dispositivo foi dada pela Lei 13.165/2015, que passou 
a prever que a coleta de assinaturas para o apoiamento mínimo deverá ocorrer no período de 
2 anos, exigência que não era prevista até então. 
Segundo entendimento do STF, tais exigências são constitucionais, uma vez que visam 
a combater “a proliferação de agremiações sem expressão política, que podem atuar como 
“legendas de aluguel”, fraudando a representação, base do regime democrático.” (ADI 5311 
MC, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 30/09/2015, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 03-02-2016 PUBLIC 04-02-2016). 
 
3.3.2. Criação e registro dos partidos políticos 
O procedimento de criação e registro dos partidos políticos está previsto nos artigos 8º 
a 11 da Lei 9.096/95 e pode ser resumido nas seguintes etapas: 
I – apresentação de requerimento para registro junto ao cartório competente do 
Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede, subscrito pelos seus fundadores, 
em número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos 
Estados, acompanhado de: 
a) cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido; 
b) exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o 
estatuto; 
c) relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do 
título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência; 
d) nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido no 
território nacional. 
II – registro,pelo oficial do registro civil, do partido político no livro correspondente, 
expedindo certidão de inteiro teor. 
III – Obtenção do apoiamento mínimo de eleitores, nos termos do artigo 7º, § 1º e 
realização dos atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos 
dirigentes, na forma do seu estatuto; 
IV – promoção do registro do estatuto do partido junto ao TSE, por meio de 
requerimento acompanhado de: 
a) exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do estatuto partidários, inscritos 
no Registro Civil; 
b) certidão do registro civil da pessoa jurídica, 
c) certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o partido obtido o apoiamento 
mínimo de eleitores. 
Nos termos do § 4º do artigo 9º da Lei dos Partidos Políticos, “se não houver diligências 
a determinar, ou após o seu atendimento, o Tribunal Superior Eleitoral registra o estatuto do 
partido, no prazo de trinta dias.” 
Importante destacar que apenas após o registro no TSE, garante-se ao partido o 
recebimento de recursos do fundo partidário, o acesso gratuito ao rádio e TV e a exclusividade 
de sua denominação, sigla e símbolos, bem como a possibilidade de participar das eleições. 
 
25 
3.3.3. Fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos 
Esta matéria encontra previsão no capítulo VI do título II da Lei 9.096/95, sendo que 
o seu artigo 27 prescreve que “fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior 
Eleitoral, o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha 
a se fundir a outro.” 
A fusão ocorre quando dois partidos se juntam, extinguindo-se, para formar um novo 
partido. Na incorporação, um partido deixa de existir, passando a fazer parte do outro. 
Na hipótese da fusão, a existência legal do novo partido tem início com o registro no 
ofício civil competente da capital federal, desde que observado o § 1º do artigo 29, passando 
o partido a ser reconhecido com todas as prerrogativas legais, antes mesmo da averbação de 
seu estatuto no TSE. Neste caso, também não será necessário o apoiamento mínimo. 
No caso de incorporação “caberá ao partido incorporando deliberar por maioria absoluta 
de votos, em seu órgão nacional de deliberação, sobre a adoção do estatuto e do programa de 
outra agremiação. Adotados o estatuto e o programa do partido incorporador, realizar-se-á, em 
reunião conjunta dos órgãos nacionais de deliberação, a eleição do novo órgão de direção 
nacional.” Após, o instrumento formalizador da incorporação deverá ser levado ao Ofício Civil 
competente, que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado a outro. 
O partido político poderá ainda se dissolver, na forma do seu estatuto, ou após decisão 
judicial transitada em julgado no TSE, ter o seu registro civil e seu estatuto cancelado. Neste 
último caso, são hipóteses legais ensejadoras do cancelamento, consoante artigo 28 da Lei 
9.096/95: 
I – recebimento de recursos financeiros de procedência estrangeira; 
II - subordinação a entidade ou governo estrangeiros; 
III - ausência de prestação de contas à justiça eleitoral; 
IV – manutenção de organização paramilitar. 
 
3.3.4. O funcionamento parlamentar e a cláusula de barreira 
O funcionamento parlamentar está previsto no artigo 12 da Lei 9.096/95, nos 
seguintes termos: “O partido político funciona, nas Casas Legislativas, por intermédio de uma 
bancada, que deve constituir suas lideranças de acordo com o estatuto do partido, as 
disposições regimentais das respectivas Casas e as normas desta Lei.” 
A chamada cláusula de barreira, prevista no artigo 13 do mesmo diploma, estabelece 
critérios para que o partido político possa ter funcionamento parlamentar, determinando 
como requisito para tal fim que, “em cada eleição para a Câmara dos Deputados obtenha o 
apoio de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos, 
distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total 
de cada um deles”. 
O STF, ao julgar as ADINs nº 1351-3 e 1354-8, ajuizadas pelo PCdoB e pelo PSC, 
respectivamente, declarou a inconstitucionalidade do artigo 13 da Lei 9.906/95, derrubando 
a cláusula de barreira em 07/12/2006, por decisão unânime. 
 
3.3.5. Programa e estatuto dos partidos políticos 
Apesar da CF e da Lei Geral dos Partidos Políticos estabelecerem a autonomia dos 
partidos políticos para fixarem seu programa, objetivos políticos, estrutura interna, 
26 
organização e funcionamento, impõe algumas regras de observância obrigatória que 
necessariamente deverão ser contempladas. 
Nestes termos, determina o artigo 15 do diploma: 
“Art. 15. O Estatuto do partido deve conter, entre outras, 
normas sobre: 
I - nome, denominação abreviada e o estabelecimento da 
sede na no território nacional (Redação dada pela Lei nº 
13.877, de 2019); 
II - filiação e desligamento de seus membros; 
III - direitos e deveres dos filiados; 
IV - modo como se organiza e administra, com a definição 
de sua estrutura geral e identificação, composição e 
competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, 
estadual e nacional, duração dos mandatos e processo de 
eleição dos seus membros; 
V - fidelidade e disciplina partidárias, processo para 
apuração das infrações e aplicação das penalidades, 
assegurado amplo direito de defesa; 
VI - condições e forma de escolha de seus candidatos a 
cargos e funções eletivas; 
VII - finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, 
normas que os habilitem a apurar as quantias que os seus 
candidatos possam despender com a própria eleição, que 
fixem os limites das contribuições dos filiados e definam as 
diversas fontes de receita do partido, além daquelas 
previstas nesta Lei; 
VIII - critérios de distribuição dos recursos do Fundo 
Partidário entre os órgãos de nível municipal, estadual e 
nacional que compõem o partido; 
IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto.” 
 
3.3.6. Disciplina e fidelidade partidárias 
Disciplina partidária é o instituto de direito privado, que relaciona os partidos políticos 
aos seus filiados. Nos termos do estatuto do partido, o filiado indisciplinado deverá ser 
advertido, suspenso ou até mesmo expulso do partido, sem que tal fato, no entanto, acarrete 
a perda de eventual mandato que esteja exercendo. O que está em jogo, tão somente, é a 
relação do filiado com o partido político, e o respeito a questões interna corporis da agremiação 
partidária. 
Fidelidade partidária é o instituto de direito público que relaciona não apenas o 
mandatário ao seu partido político, mas sim ao próprio eleitor que, ao elegê-lo escolheu 
também votar em determinado partido. O infiel, assim, deverá perder o mandato eletivo. 
27 
Em resposta à consulta nº 1.398, formulada pelo antigo Partido da Frente Liberal 
(PFL), o TSE firmou entendimento no sentido de que os mandatos de deputados e vereadores 
pertencem aos partidos políticos, definindo, assim, o conceito de fidelidade partidária, que foi 
inclusive estendido aos titulares de mandatos majoritários em resposta à consulta 1.407. Com 
o julgamento da ADI nº 5018, o STF definiu que o princípio da fidelidade partidária não se 
aplica a mandatos obtidos por meio do sistema eleitoral majoritário. 
A questão da fidelidade foi regulamentada pela resolução 22.610 do TSE - declarada 
constitucional pelo STF - que disciplina o procedimento de perda de mandato eletivo por 
infidelidade partidária. Nos termos da referida resolução, são legitimados a propor ação de 
perda de mandato por infidelidade partidária o partido político, no prazo de 30 dias e, após, 
em novo prazo de 30 dias, o MP e demais interessados jurídicos. O STF já manifestou 
entendimento no sentido de que o suplente da coligação, que não seja do partido do infiel, 
não tem legitimidade para o ajuizamento de ação de perda mandato eletivo por infidelidade 
partidária. 
Nos termos do artigo 22-A da Lei 9.096/95, incluído pela Lei 13.165/15, consideram-se justa causa para a desfiliação partidária, sem a perda do mandato por infidelidade: 
mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; grave discriminação política 
pessoal; e mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo 
de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do 
mandato vigente. 
 
3.3.7. Filiação partidária 
De acordo com o artigo 14, §3º, inciso V da CF, a filiação partidária é uma das 
condições de elegibilidade, a qual foi regulamentada no capítulo IV do título II da Lei 
9.096/95. 
O artigo 16 do diploma determina que só pode filiar-se a partido político o eleitor que 
estiver em pleno gozo de seus direitos políticos. Neste contexto, vale ressaltar que o TSE, por 
meio da resolução nº 23.117/09, firmou entendimento no sentido de que o eleitor considerado 
inelegível pode filiar-se a partido político. 
O artigo 20 do diploma faculta “ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos 
de filiação partidária superiores aos previstos nesta Lei, com vistas a candidatura a cargos 
eletivos”, sendo que, porém, o parágrafo único do dispositivo reza que tais prazos não poderão 
ser alterados no ano da eleição, em atenção ao princípio da anualidade. 
O filiado poderá, a qualquer tempo, pedir o seu desligamento do partido, desde que o 
faça por escrito, em comunicação dirigida ao órgão de direção municipal e ao juiz eleitoral da 
zona em que estiver inscrito como eleitor. No caso de filiação a novo partido, será 
imediatamente cancelada a inscrição partidária anterior, não sendo mais exigida a 
comunicação ao partido e ao juiz eleitoral sob pena de nulidade de ambas as filiações, tal qual 
ocorria até o advento da Lei 12.891/13, que incluiu o inciso V e alterou a redação do parágrafo 
único do artigo 22 da Lei Geral dos Partidos Políticos. 
O novo parágrafo único do mesmo dispositivo, estabeleceu nova disciplina para os 
casos de duplicidade de filiação. Doravante, a filiação partidária mais recente prevalece sobre 
as anteriores, ao contrário do que previa a legislação anterior, a qual determinava que na 
ocorrência de dupla filiação, ambas seriam consideradas nulas para todos os efeitos. 
O cancelamento imediato da filiação partidária, além do já mencionado caso de filiação 
a novo partido, verifica-se, nos termos do artigo 22, nos casos de morte, perda dos direitos 
políticos, expulsão e outras formas previstas no estatuto. 
28 
Conforme já mencionado, no sistema eleitoral brasileiro, a filiação partidária é uma 
das condições de elegibilidade, posto que não se admite candidaturas avulsas, dando aos 
partidos políticos o papel de protagonistas no processo democrático, organizadores do debate 
público e legítimos representantes do pluralismo político. 
Tal exigência, prevista no texto constitucional, foi objeto de regulamentação por meio 
da lei das eleições (9.504/97), a qual estabelece em seu artigo 9º o prazo geral mínimo de 
filiação partidária exigível para quem alguém possa disputar uma eleição. Nesse diapasão, 
destaca-se que, como já mencionado, cada partido poderá estabelecer prazos maiores de 
filiação para a promoção de candidaturas dos seus respectivos filiados, no exercício de sua 
autonomia. 
Neste contexto, a redação atual do dispositivo, dada pela Lei 13.488/17, prevê que 
“para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva 
circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo 
prazo”. 
Os prazos de filiação para fins do referido artigo 9º serão os do partido originário, em 
caso de fusão ou incorporação de partidos. 
 
3.3.8. Finanças e contabilidade dos partidos políticos 
 O título III da Lei 9.096/95 dispõe sobre o tema, determinando aos partidos políticos 
que mantenham, por meio de seus órgãos nacionais, regionais e municipais, escrituração 
contábil, de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e destinação de suas 
despesas. 
Isto se deve à importância destas instituições para a lisura e legitimidade do processo 
democrático, motivo pelo qual sofrem restrições constitucionais e legais no processo de 
arrecadação de suas receitas, devendo ainda prestar contas à justiça eleitoral. 
Assim sendo, estão obrigados a enviar anualmente à justiça eleitoral, até o dia 30 de 
abril do ano seguinte, balanços contábeis do exercício findo. 
O artigo 32, § 5º da Lei dos Partidos Políticos, com a nova redação dada pela Lei 
13.165/2015, ressalta que a “desaprovação da prestação de contas do partido não ensejará 
sanção alguma que o impeça de participar do pleito eleitoral.” 
O novo caput do artigo 34 do diploma, também com redação dada pela reforma 
eleitoral de 2015, retirou da justiça eleitoral o papel de fiscal da escrituração contábil do 
partido político, preservando, contudo, a fiscalização sobre a prestação de contas do partido 
e das despesas de campanha. 
O § 1º do dispositivo passou a determinar que fiscalização sobre a prestação de contas 
e despesas de campanha, “tem por escopo identificar a origem das receitas e a destinação das 
despesas com as atividades partidárias e eleitorais, mediante o exame formal dos documentos 
fiscais apresentados pelos partidos políticos e candidatos, sendo vedada a análise das 
atividades político-partidárias ou qualquer interferência em sua autonomia.”. 
Em caso de denúncia fundamentada de filiado ou delegado de partido, representação 
do MP ou iniciativa do corregedor, o TSE e os tribunais regionais eleitorais determinarão o 
exame da escrituração e a apuração de quaisquer atos que violem as prescrições legais e 
estatutárias, podendo inclusive determinar a quebra do sigilo bancário das contas do partido 
(artigo 35). 
Nos termos do artigo 31 da Lei 9.096/95, o partido político não poderá receber, sob 
qualquer forma ou pretexto, contribuição em dinheiro, ou estimável em dinheiro, inclusive 
através de publicidade de qualquer espécie, procedente de: 
29 
I - entidade ou governo estrangeiros; 
II - entes públicos e pessoas jurídicas de qualquer natureza, ressalvadas as dotações 
referidas no art. 38 desta Lei e as proveniente do Fundo Especial de Financiamento de 
Campanha; (Redação dada pela Lei nº 13.488, de 2017); 
III – REVOGADO PELA Lei nº 13.488, de 2017; 
IV - entidade de classe ou sindical. 
Antes da atual redação do inciso II acima citado e nos termos do julgamento proferido 
na ADI 4.650, pelo STF, em 17/09/2015, foi declarada a inconstitucionalidade parcial sem 
redução de texto do dispositivo em sua redação original, não sendo mais permitido o 
financiamento empresarial de partidos políticos. 
O artigo 37 da Lei dos Partidos Políticos, em sua nova redação, determina que a 
“desaprovação das contas do partido implicará exclusivamente a sanção de devolução da 
importância apontada como irregular, acrescida de multa de até 20% (vinte por cento)”, não 
sendo mais cabível a sanção prevista anteriormente de suspensão de novas quotas do fundo 
partidário. 
O parágrafo 4º do dispositivo estabelece que da “decisão que desaprovar total ou 
parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais 
Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser 
recebido com efeito suspensivo.”. 
Importante destacar ainda o artigo 37-A, incluído pela Lei 13.165/15, o qual dispõe 
que a “falta de prestação de contas implicará a suspensão de novas cotas do Fundo Partidário 
enquanto perdurar a inadimplência e sujeitará os responsáveis às penas da lei.”. 
 
3.3.9. Fundo partidário 
 A Lei 9.096/95 estabelece em seu artigo 38 e seguintes, o Fundo Especial de 
Assistência Financeira aos Partidos Políticos, também chamado de Fundo Partidário, como 
forma de colaborar financeiramente com o funcionamento dos partidos, o qual é constituído 
com os seguintes recursos: 
I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral