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1 APOSTILA DE DIREITO ELEITORAL PROFESSOR: JOSÉ ELIAS DE REZENDE JÚNIOR 1º SEMESTRE DE 2021 - BIBLIOGRAFIA SUGERIDA NETO, Jaime Barreiros. Direito Eleitoral. Salvador: jusPodivm. 2017. ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral. Salvador: Editora JusPodvm, 2017. GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral, 13ª edição. São Paulo: Atlas, 2017. RODRIGUES, Marcelo Abelha. JORGE, Flavio Cheim; LIBERATO, Ludgero. Curso de Direito Eleitoral. 2a Edição. - LEGISLAÇÃO BÁSICA Constituição Federal: Título II (Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo IV – Dos Direitos Políticos e Capítulo V – Dos Partidos Políticos; - Código Eleitoral: Lei 4.737/65; - Lei das Eleições: Lei 9.504/97; - Lei das Inelegibilidades: Lei Complementar 64/90; - Lei dos Partidos Políticos: Lei 9.096/95. 1. INTRODUÇÃO 1.1. TEMAS RECENTES DE DIREITO ELEITORAL A) Lei 13.877/2019 O diploma, publicado em 13/12/2019, trouxe alterações na legislação eleitoral, sendo que as principais delas serão a seguir elencadas. A Lei dos Partidos Políticos foi alterada, no sentido de que o requerimento de registro de partido político não será feito mais perante o Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Capital Federal, mas do local de sua sede. Neste mesmo sentido, a sede do partido não será mais obrigatoriamente em Brasília, tal qual na regra anterior. Foram ainda alterados dispositivos desta lei, facilitando a prestação de contas anual dos partidos à justiça eleitoral bem como amenizando as sanções por desaprovação das contas. Quanto à aplicação dos recursos do Fundo Partidário, foi ampliada a sua possibilidade de utilização pelos Partidos para criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, contratação de serviços de consultoria contábil e advocatícia e de serviços para atuação jurisdicional, compra ou locação de bens móveis ou imóveis, custeio de impulsionamento de conteúdos pela internet. 2 No que se refere ao limite de gastos de campanha, os gastos advocatícios e de contabilidade referentes a consultoria, assessoria e honorários, relacionados à prestação de serviços em campanhas eleitorais e em favor destas, bem como em processo judicial decorrente de defesa de interesses de candidato ou partido político, não estão sujeitos a limites de gastos ou a limites que possam impor dificuldade ao exercício da ampla defesa. B) EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 107, DE 2 DE JULHO DE 2020 Adia, em razão da pandemia da Covid-19, as eleições municipais de outubro de 2020 e os prazos eleitorais respectivos, de modo que as eleições municipais previstas para outubro de 2020 realizar-se-ão no dia 15 de novembro, em primeiro turno, e no dia 29 de novembro de 2020, em segundo turno, onde houver, com possibilidade de alteração destes prazos por meio de Decreto Legislativo. Entre os diversos prazos alterados pela EC, destacam-se, o prazo para realização das convenções partidárias, de 31 de agosto a 16 de setembro (o prazo original é de 20 de julho a 5 de agosto) e o prazo para registro das candidaturas que será até 26 de setembro (o prazo original é o dia 15 de agosto). C) Reforma Eleitoral de 2017 Após muitos debates acerca da necessidade de reforma do sistema eleitoral brasileiro, foram aprovadas as Leis 13.487 e 13.488, ambas de 2017, as quais trouxeram alterações na Lei das Eleições e no Código Eleitoral, entre as quais destacam-se: 1. Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) Constituído por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral (artigo 16-C da Lei 9.504/97 com redação dada pela Lei 13.487/17), tendo sido reservada pela Lei Orçamentária de 2018 o valor de R$ 1,716 bilhão, a ser dividido da seguinte forma (artigo 16-D da Lei 9.504/97 com redação dada pela Lei 13.488/17): I - 2% (dois por cento), divididos igualitariamente entre todos os partidos com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral; II - 35% (trinta e cinco por cento), divididos entre os partidos que tenham pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, na proporção do percentual de votos por eles obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados; III - 48% (quarenta e oito por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes na Câmara dos Deputados, consideradas as legendas dos titulares; IV - 15% (quinze por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Senado Federal, consideradas as legendas dos titulares. Pela Lei Orçamentária de 2020 foram aprovados mais de R$ 2 bilhões para o financiamento das campanhas eleitorais deste ano, a serem partilhados entre os partidos políticos nos mesmos moldes. 2. Estabelecimento do limite de gastos e outras disposições referentes ao financiamento das campanhas eleitorais Os artigos 5º a 7º da Lei 13.488/17 estabeleceram os seguintes limites de gastos para as campanhas eleitorais de 2018: 3 “Art. 5o Nas eleições para Presidente da República em 2018, o limite de gastos de campanha de cada candidato será de R$ 70.000.000,00 (setenta milhões de reais). Parágrafo único. Na campanha para o segundo turno, se houver, o limite de gastos de cada candidato será de 50% (cinquenta por cento) do valor estabelecido no caput deste artigo. Art. 6o O limite de gastos nas campanhas dos candidatos às eleições de Governador e Senador em 2018 será definido de acordo com o número de eleitores de cada unidade da Federação apurado no dia 31 de maio de 2018, nos termos previstos neste artigo. § 1o Nas eleições para Governador, serão os seguintes os limites de gastos de campanha de cada candidato: I - nas unidades da Federação com até um milhão de eleitores: R$ 2.800.000,00 (dois milhões e oitocentos mil reais); II - nas unidades da Federação com mais de um milhão de eleitores e de até dois milhões de eleitores: R$ 4.900.000,00 (quatro milhões e novecentos mil reais); III - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$ 5.600.000,00 (cinco milhões e seiscentos mil reais); IV - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$ 9.100.000,00 (nove milhões e cem mil reais); V - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$ 14.000.000,00 (catorze milhões de reais); VI - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de eleitores: R$ 21.000.000,00 (vinte e um milhões de reais). § 2o Nas eleições para Senador, serão os seguintes os limites de gastos de campanha de cada candidato: I - nas unidades da Federação com até dois milhões de eleitores: R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais); II - nas unidades da Federação com mais de dois milhões de eleitores e de até quatro milhões de eleitores: R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais); III - nas unidades da Federação com mais de quatro milhões de eleitores e de até dez milhões de eleitores: R$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais); IV - nas unidades da Federação com mais de dez milhões de eleitores e de até vinte milhões de eleitores: R$ 4.200.000,00 (quatro milhões e duzentos mil reais); 4 V - nas unidades da Federação com mais de vinte milhões de eleitores: R$ 5.600.000,00 (cinco milhões e seiscentos mil reais). § 3o Nas campanhas para o segundo turno de governador, onde houver, o limite de gastos de cada candidato será de 50% (cinquenta por cento) dos limites fixados no § 1o deste artigo. Art. 7o Em 2018, o limite de gastos será de: I - R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) para as campanhas dos candidatos às eleições de Deputado Federal; II - R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para as campanhas dos candidatos às eleições de Deputado Estadual e Deputado Distrital.” Facultada aos pré-candidatos a arrecadação prévia derecursos para as campanhas eleitorais de pessoas físicas a partir de 15 de maio do ano eleitoral, “mas a liberação de recursos por parte das entidades arrecadadoras fica condicionada ao registro da candidatura, e a realização de despesas de campanha deverá observar o calendário eleitoral” (artigo 22, § 3º da Lei 9.504/97 incluído pela Lei 1.488/17). Criado o financiamento coletivo de campanhas eleitorais por meio de sítios na internet (artigo 22, § 4º, IV da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 1.488/17). Importante destacar ainda que o TSE publicou, no início de fevereiro de 2018, resolução que permitia aos candidatos financiarem 100% de suas próprias campanhas, o que foi revisto por meio da Lei 13.878/19, o qual estabeleceu que o candidato poderá usar recursos próprios em sua campanha até o total de 10% (dez por cento) dos limites previstos para gastos de campanha no cargo em que concorrer. A divulgação dos limites de gastos para as eleições de 2020 será realizada pelo TSE até o dia 31/08/2020, sendo que, nos termos do artigo 18-C da Lei das Eleições pela Lei 13.878/19, será equivalente ao limite para os respectivos cargos nas eleições de 2016, atualizado pelo INPC. No que tange à proibição de recebimento de recursos de pessoas jurídicas pelos partidos políticos, conforme decisão proferida pelo STF em 2015, a questão foi tipificada na Lei dos Partidos Políticos, conforme redação dada ao artigo 31, inciso II do diploma pela Lei 13.488/17. 3. Propaganda eleitoral na internet Criada pela inclusão dos artigos 57-A – 57-J na Lei 9.504/97 pela Lei 13.488/17, a propaganda eleitoral pela internet passou a ser permitida a partir de 15 de agosto do ano eleitoral, ou seja, na mesma data em que se inicia a propaganda eleitoral em geral. D) EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 97, DE 4 DE OUTUBRO DE 2017 O diploma alterou o § 1º do artigo 17 da CF, para vedar aos partidos políticos a celebração de coligações nas eleições proporcionais, a partir de 2020. Alterou ainda o § 3º do referido dispositivo constitucional para condicionar o direito dos partidos aos recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão aos seguintes critérios: 5 I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. Este último dispositivo terá aplicação apenas a partir das eleições de 2030, sendo que a partir do próximo ano, já haverá uma redução gradual no acesso aos referidos direitos. 1.2. CONCEITO, OBJETO E OBJETIVOS DO DIREITO ELEITORAL A Constituição Federal, em seu Título I, que trata dos Princípios Fundamentais, estabelece no parágrafo único do artigo 1º: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”. No Título II, capitulo IV, que trata dos Direitos Políticos, a Carta Magna estabelece, no caput do artigo 14 que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular. Neste contexto, o Direito Eleitoral pode ser definido como ramo do Direito que se dedica ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder do sufrágio popular, de modo a se equacionar a vontade do povo e a atividade governamental. É ramo do Direito Público que trata dos institutos relacionados com os direitos políticos e as eleições em todas as suas fases. Deste modo, tem como objeto a normatização de todo o processo eleitoral, que se inicia com o alistamento e se encerra com a diplomação dos eleitos, considerado todo o conjunto de atos relativos à organização das eleições, o registro de candidatos, a campanha eleitoral, a votação, a apuração e a proclamação dos resultados. Inclui-se ainda na expressão processo eleitoral, as consultas populares (plebiscito e referendo). O principal objetivo do Direito Eleitoral é a garantia da normalidade e da legitimidade do processo eleitoral, viabilizando a democracia, de modo a buscar a consonância entre o resultado das urnas com a vontade soberana expressada pelo eleitorado. 1.3. DEMOCRACIA Nos termos dos já mencionados § único do artigo 1º e artigo 14, caput da CF, tem-se que a democracia é um regime político fundamentado na ampla participação popular, na igualdade política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo. Assim sendo, a democracia é condição basilar para a existência do Direito Eleitoral, tendo em vista os objetivos deste. Nesse diapasão, podem-se identificar três espécies de democracia: a) Democracia Direta: exercício do poder popular sem a presença de intermediários, observada atualmente em alguns cantões da Suíça e com origem na Grécia Antiga, especialmente na cidade-estado Atenas (século IV a.C.); b) Democracia Indireta (representativa): modelo marcado pela pouca atuação efetiva do povo no poder, tendo se desenvolvido a partir da Revolução Francesa e entrado em colapso com as revoluções sociais do século XIX, a crise econômica de 1929 e as duas grandes guerras mundiais do Século XX; 6 c) Democracia Semidireta (participativa): modelo dominante no mundo contemporâneo, caracterizado pela preservação da representação política aliada a meios de participação direta do povo no exercício do poder soberano do Estado. É o modelo adotado pelo Brasil, nos termos da Constituição Federal. No modelo brasileiro a representação política é realizada pelo sufrágio universal, que consiste no Poder inerente ao povo de participar da gerência da vida pública. O voto é o instrumento de materialização do poder de sufrágio e o escrutínio é a forma como se pratica o voto, que no sistema brasileiro é direto, secreto, universal e periódico (artigo 60, § 4º, II da CF). O voto indireto é possível excepcionalmente, consoante previsão do artigo 81, § 1º da CF, no caso de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente nos últimos dois anos do período presidencial, com eleição pelo Congresso Nacional. O mesmo entendimento é adotado pelo TSE quanto a vacância de cargo de Prefeito e Vice-Prefeito e Governador e Vice- Governador. A participação direta é realizada por meio dos seguintes institutos de democracia participativa: plebiscito, referendo e iniciativa popular, previstos constitucionalmente e regulamentados pela Lei 9.709/98. Nos termos do artigo 2º do diploma, o plebiscito e o referendo “são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa”. O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido (§ 1º). O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição ( § 2º). Nos termos do artigo 4º da mesma lei, “a incorporação de Estados entre si, subdivisão ou desmembramento para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, dependem da aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito realizado na mesma data e horário em cada um dos Estados, e do Congresso Nacional, por lei complementar, ouvidas as respectivas Assembleias Legislativas.”. O plebiscito ou referendo, convocado nos termos da citada lei, será considerado aprovado ou rejeitado por maioria simples. A iniciativa popular, nos termos do artigo 13 da Lei 9.709/98, “consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menospor cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.” 1.4. MANDATOS POLÍTICOS A representação política pressupõe o deferimento de mandatos políticos, para os quais existem várias concepções. De acordo com a teoria do mandado politico imperativo, difundida pelo filósofo inglês John Locke, no século XVIII, o mandatário deve seguir as recomendações do eleitor, sob pena de perda do mandato. Essa tese foi fortalecida na contemporaneidade, com a possibilidade da realização de “recalls” em alguns sistemas eleitorais. O mandato partidário é fundamentado na lógica da fidelidade partidária, e baseia-se no pressuposto de que o partido político é o verdadeiro detentor do mandato, devendo o mandatário seguir as suas diretrizes sob pena de perda do mandato por infidelidade partidária. 7 É a espécie vigente no Brasil, no que tange aos cargos do sistema proporcional de eleições, conforme resposta à consulta nº 1.398 pelo TSE em 27/03/2007, bem como pelas decisões proferidas pelo STF em mandados de segurança relacionados a questão da fidelidade partidária. O TSE editou ainda a Resolução 22.610/2007, a qual autoriza o partido político a requerer a decretação da perda do cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa. Nos termos da referida resolução, considera-se justa causa a incorporação ou fusão do partido, a criação de novo partido, a mudança substancial ou o desvio reiterado do programa partidário e a grave discriminação pessoal. Tal entendimento acerca da fidelidade partidária não se aplica aos cargos eleitos pelo sistema majoritário de eleição, conforme decidido pelo pleno do STF em 2015. A Lei 12.034/09 incluiu o inciso IX ao § 1º do artigo 11 da Lei 9.504/97, determinando que os candidatos a cargos majoritários do Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente da república) deverão juntar aos seus requerimentos de candidaturas, as suas propostas e objetos de campanha. Entretanto, o dispositivo em apreço possui apenas conteúdo moral, uma vez que inexiste previsão legal de perda de mandato político de candidato eleito que venha a descumprir as promessas de campanha. Finalmente, o mandato representativo é aquele no qual o mandatário tem plena liberdade para exercer o mandato politico, não havendo necessidade de seguir as orientações do eleitor ou do partido, modalidade aplicável no Brasil nos cargos do sistema majoritário de eleições. 1.5. FONTES DO DIREITO ELEITORAL O direito eleitoral possui fontes diretas (constituição federal, legislação complementar e ordinária federal e resoluções do TSE) e indiretas (jurisprudência e doutrina). Entre as fontes diretas destacam-se: a) Constituição Federal: fonte primária do direito eleitoral, estabelecendo os princípios e regras fundamentais da democracia, normas primárias sobre o direito de nacionalidade, condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade, sistemas eleitorais, hipóteses de perda e suspensão dos direitos políticos, previsão sobre a propositura de ação de impugnação de mandato eletivo, além de normas gerais sobre o funcionamento dos partidos políticos e organização da justiça eleitoral; b) Código Eleitoral (Lei 4.737/65): fonte de grande relevância, apesar de instituída durante o Regime Militar, constitui-se de normas referentes ao alistamento eleitoral, sistemas eleitorais, atos preparatórios para a votação, organização da justiça eleitoral, recursos eleitorais e crimes eleitorais; c) Lei das Eleições (Lei 9.504/97): exerceu papel fundamental de estabilização da democracia brasileira, posto que até a sua promulgação, prevalecia o casuísmo, com a edição de leis especificas para cada eleição, criadas de acordo com os interesses dos detentores do poder. Estabeleceu, a partir da eleição de 1998 normas perenes regulamentadoras de temas como coligações, convenção para a escolha de candidatos, registro de candidatos, prestação de contas, pesquisas eleitorais, propaganda eleitoral, condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas e fiscalização das eleições. Sofreu importantes alterações recentemente principalmente quanto ao financiamento de campanhas, prestação de contas e propaganda eleitoral; 8 d) Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95): regulamenta os artigos 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal, tratando, entre outros temas, da criação, registro, organização, funcionamento dos partidos políticos; filiação partidária; fidelidade e disciplina partidárias; finanças e contabilidade. d) Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar 64/90): regulamenta o artigo 14, § 9º da CF, estabelecendo os casos de inelegibilidade, prazos de cessação e outras providências. Foi reformada pela Lei Complementar 135/10 (Lei de Ficha Limpa); e) Resoluções do TSE: a justiça eleitoral, com órgãos jurisdicionais de natureza híbrida e sem quadro próprio de carreira, possui poder regulamentar, com a prerrogativa de explicitar o conteúdo das normas gerais e abstratas produzidas pelo Poder Legislativo. Esse poder, entretanto, é limitado, não podendo estabelecer restrições a direitos sem embasamento legal. 1.6. PRINCÍPIOS DO DIREITO ELEITORAL a) Princípio da lisura das eleições: as eleições num regime verdadeiramente democrático devem ser pautadas pela igualdade de oportunidades entre todos os candidatos em disputa. Calcado na ideia de cidadania, de origem popular do poder e no combate à influência do poder econômico ou político nas eleições. Na CF há diversos dispositivos voltados ao tema, entre os quais destacam-se: - Art. 1º, inciso II: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos, entre outros, a cidadania; - Art. 1º, parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. No campo infraconstitucional, o princípio está expressamente tratado no artigo 23 da LC 64/90, o “Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral”. A própria Lei das Eleições (Lei 9.504/97), previu uma série de condutas vedadas, sob pena de multa e eventual cassação do registro e do diploma, bem como a declaração de inelegibilidade. Outro grande passo na efetivação do princípio foi a aprovação da Lei de Combate à Corrupção Eleitoral ou Lei de Captação Ilícita de Sufrágios, Lei nº 9.840/99, a qual incluiu o artigo 41-A à Lei das Eleições, o qual possui a seguinte redação: “Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.” b) Princípio do aproveitamento do voto (in dubio pro voto): o juiz deverá abster-se de pronunciar nulidades sem prejuízo (vide artigos 176 e 219 do Código Eleitoral). Tal entendimento vem sendo confirmado pelo TSE, de forma a se valorizar a legitimidade da soberania popular, decidindo inclusive, pela não aplicação do artigo 224 do Código Eleitoral, quando, voluntariamente, mais da metade dos eleitores decidem anular o voto ou votar em branco, preservando, assim, a validade da eleição; 9 “Art. 176. Contar-se-á o voto apenas para a legenda, nas eleições pelo sistema proporcional: (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) I - se o eleitorescrever apenas a sigla partidária, não indicando o candidato de sua preferência; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) II - se o eleitor escrever o nome de mais de um candidato do mesmo Partido; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) III - se o eleitor, escrevendo apenas os números, indicar mais de um candidato do mesmo Partido; (Redação dada pela Lei nº 8.037, de 1990) IV - se o eleitor não indicar o candidato através do nome ou do número com clareza suficiente para distingui-lo de outro candidato do mesmo Partido. (...) Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo. Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser requerida pela parte que lhe deu causa nem a ela aproveitar. Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias. § 1º Se o Tribunal Regional na área de sua competência, deixar de cumprir o disposto neste artigo, o Procurador Regional levará o fato ao conhecimento do Procurador Geral, que providenciará junto ao Tribunal Superior para que seja marcada imediatamente nova eleição. § 2º Ocorrendo qualquer dos casos previstos neste capítulo o Ministério Público promoverá, imediatamente a punição dos culpados. § 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) § 4o A eleição a que se refere o § 3o correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será: (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato; (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) II - direta, nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) Agravo regimental. Recurso em mandado de segurança. Acórdão regional. Determinação. Nova eleição. [...] 2. Para fins do art. 224 do Código Eleitoral, a validade da votação - ou o número de votos válidos - na eleição majoritária não é aferida sobre o total de votos apurados, mas leva em consideração tão somente o percentual de 10 votos dados aos candidatos desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos nulos e os brancos, por expressa disposição do art. 77, § 2º, da Constituição Federal. 3. Considerando o que decidido na Consulta nº 1.657 - no sentido de que não se somam aos votos nulos derivados da manifestação apolítica dos eleitores aqueles nulos em decorrência do indeferimento do registro de candidatos, afigura-se recomendável que a validade da votação seja aferida tendo em conta apenas os votos atribuídos efetivamente a candidatos e não sobre o total de votos apurados. Agravo regimental a que se nega provimento. (Recurso em Mandado de Segurança nº 665, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Volume, Tomo -, Data 17/08/2009, Página 24)” Quanto à referida ADIN Nº 5.525, importante transcrever a decisão proferida pelo plenário do STF em 07/03/2018: “Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator), julgando parcialmente procedentes os pedidos formulados na ação, para declarar a inconstitucionalidade da locução “após o trânsito em julgado”, prevista no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, e para conferir interpretação conforme a Constituição ao § 4º do mesmo artigo, de modo a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos de Presidente e Vice- Presidente da República, bem como no de Senador da República, no que foi acompanhado pelos Ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Marco Aurélio, e após o voto do Ministro Alexandre de Moraes, que divergia em parte do Relator, para julgar inconstitucional o § 4º do art. 224 do Código Eleitoral também no tocante à vacância dos cargos de Governadores, Prefeitos e seus Vices, o julgamento foi suspenso. Falou, pelo amicus curiae Clínica de Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CLÍNICA UERJ DIREITOS, o Dr. Daniel Sarmento. Presidência da Ministra Cármen Lúcia.” c) Princípio da Celeridade: em razão da temporariedade dos mandatos eletivos, o Poder Judiciário tem de dar a maior prioridade possível na apreciação dos feitos eleitorais. Por tal motivo, o processo eleitoral tem como uma das principais características a celeridade, posto que ocorre em menos de seis meses, contados do registro da candidatura até a diplomação. Nesse diapasão, as decisões judiciais, em tais matérias, devem ser rápidas, como garantia da legitimidade do exercício da soberania popular. Com o advento do inciso LXXVIII do artigo 5º da CF, incluído pela EC 45/04, afirmando o direito fundamental a razoável duração do processo, a matéria foi disciplina no âmbito do direito eleitoral, pela Lei 12.034/09 que incluiu no texto da lei das eleições o artigo 97-A. O dispositivo considera como duração razoável do processo que possa resultar em perda do mandato eletivo, o período máximo de um ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral e abrangida a tramitação em todas as instâncias. O § 2º do dispositivo prevê a possibilidade de o magistrado incorrer em desobediência, caso não seja diligente quanto a duração razoável do processo, cabendo inclusive, representação junto ao CNJ. 11 Ademais, os recursos em matéria eleitoral, via de regra, devem ser interpostos no prazo de três dias e não terão efeito suspensivo. d) Princípio da anualidade: consoante artigo 16 da CF, “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.” Visa a preservação da segurança jurídica e o equilíbrio da disputa. Nos termos do informativo STF n 398, de 22 a 26 de agosto de 2005, a norma constitucional acima transcrita “consubstanciadora do princípio da anterioridade da lei eleitoral, foi prescrita no intuito de evitar que o Poder Legislativo pudesse inserir, casuisticamente, no processo eleitoral, modificações que viessem a deformá-lo, capazes de produzir desigualdade de participação dos partidos e respectivos candidatos que nele atuam”. Quando do julgamento da ADI 3.741, o Pretório Excelso decidiu haver violação do postulado da anterioridade ou anualidade eleitoral quando a norma: a) produzir rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos no processo eleitoral; b) introduzir deformação no modo a afetar a normalidade das eleições; c) contiver dispositivo considerado fator de perturbação do pleito; d) derivar de alteração motivada com propósito casuístico”. Com base no referido princípio, houve grande discussão acerca da aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010. Naquela oportunidade, prevaleceu, perante o TSE, o entendimento segundo o qual a aplicação imediata da nova lei não feria o princípio da anualidade. Ocorre que o STF, em 2011, decidiu pela inaplicabilidade da lei de Ficha Limpa nas eleições de 2010, priorizando a segurança jurídica e vencendo a tese da impossibilidade de mitigação do princípio da anualidade (RE 633.703). O STF, ao julgar o RE 637.485, decidiu que eventuais “decisões do TSE que, no curso do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência (e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto esó terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior.” e) Princípio da moralidade eleitoral: o artigo 14, § 9º da CF, com redação dada pela EC de revisão nº 04/94, determina que “lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.” Após muita polêmica a respeito da autoaplicabilidade da questão referente à moralidade para o exercício de mandato e a vida pregressa do candidato e tendo prevalecido até então o princípio da presunção de inocência, foi então promulgada a Lei de Ficha Limpa estabelecendo os casos de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato. f) Princípio da periodicidade da investidura nas funções eleitorais: nos termos do artigo 121, § 2º da CF “os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria”. Note-se a ausência do princípio constitucional da vitaliciedade inerente à magistratura no que tange àqueles investidos na função eleitoral, o que se estende igualmente para os membros do MP. 12 g) Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos: este princípio, no que tange à propaganda eleitoral está assim previsto no artigo 241 do Código Eleitoral: Art. 241. Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos partidos e por eles paga, imputando-lhes solidariedade nos excessos praticados pelos seus candidatos e adeptos. Parágrafo único. A solidariedade prevista neste artigo é restrita aos candidatos e aos respectivos partidos, não alcançando outros partidos, mesmo quando integrantes de uma mesma coligação. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013) Por outro lado, a Lei 13.165/15 trouxe restrição ao referido princípio no que tange as sanções aplicadas pela Justiça Eleitoral a candidatos, com a inclusão do § 11 no artigo 96 da Lei das Eleições, nos seguintes termos: “As sanções aplicadas a candidato em razão do descumprimento de disposições desta Lei não se estendem ao respectivo partido, mesmo na hipótese de esse ter se beneficiado da conduta, salvo quando comprovada a sua participação”. Não obstante, a Lei das Eleições, em diversos dispositivos, torna explícito o aludido princípio da responsabilidade, entre os quais destacam-se os artigos 17 (despesas da campanha eleitoral); 21 (prestação de contas); 38 (veiculação de propaganda eleitoral). Acerca deste princípio, importante citar ainda o artigo 15-A da Lei dos Partidos Políticos: “Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil e trabalhista, cabe exclusivamente ao órgão partidário municipal, estadual ou nacional que tiver dado causa ao não cumprimento da obrigação, à violação de direito, a dano a outrem ou a qualquer ato ilícito, excluída a solidariedade de outros órgãos de direção partidária. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009) Parágrafo único. O órgão nacional do partido político, quando responsável, somente poderá ser demandado judicialmente na circunscrição especial judiciária da sua sede, inclusive nas ações de natureza cível ou trabalhista. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)” Por derradeiro, incumbe acrescentar que eventual responsabilidade penal por crime eleitoral será individual do infrator, pois não há previsão legal de punição por prática do aludido delito por pessoa jurídica. 13 2. OS SISTEMAS ELEITORAIS A Constituição Federal de 1988 adotou a forma de governo Republicana, o sistema de governo presidencialista e a forma federativa de Estado, destacando ainda que a nação brasileira é “um estado democrático de direito” além do já citado princípio da soberania popular insculpido no parágrafo único do artigo 1º da Carta Maior. E, como não poderia ser diferente, optou-se pela realização de eleições livres para o preenchimento dos diversos cargos nas esferas federal, estadual e municipal dos Poderes Executivo e Legislativo. O direito eleitoral, conforme já visto, é uma decorrência natural da democracia, regime político no qual a autoridade reside no povo e assim sendo visa à consagração não só do direito da maioria, mas também das minorias. Por tais motivos, imperiosa a realização de eleições livres que reflitam a vontade popular. Neste contexto os sistemas eleitorais podem ser definidos como o conjunto de critérios utilizados para definir os vencedores do processo eleitoral, ou seja, são as regras do jogo eleitoral. Ou ainda como “o conjunto de técnicas e procedimentos que se empregam na realização de eleições, destinadas a organizar a representação do povo no território nacional” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Maheiros, 2006, p. 371), conjugando “técnicas como a divisão do território em distritos ou circunscrições eleitorais, o método de emissão do voto, e os procedimentos de apresentação dos candidatos e de designação dos eleitos de acordo com os votos emitidos” (ALMEIDA, Roberto de. Curso de Direito Eleitoral. Salvador: Editora JusPodvm, 2017). São quatro as espécies de sistemas eleitorais: majoritário, proporcional, distrital e misto, os quais serão tratados doravante. 2.1. SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO Adotado no Brasil nas eleições para os cargos de presidente da república, governador de estado, prefeito e senador da república. Neste sistema prevalece a vontade da maioria, uma vez que o vencedor é o candidato mais votado. O sistema majoritário pode ser simples ou absoluto. No primeiro caso, válido para as eleições para senadores e prefeitos de municípios com até 200 mil eleitores, vence o candidato mais votado, independentemente da soma de votos dos seus adversários, uma vez que as eleições se realizam em um único turno. No sistema majoritário absoluto, válido nas eleições para presidente da república, governadores e prefeitos de municípios com mais de 200 mil eleitores, vence o candidato que tenha a maioria absoluta dos votos válidos, ou seja, mais votos do que todos os seus adversários somados. Caso nenhum candidato consiga maioria absoluta, deverá haver segundo turno entre os dois candidatos mais votados. Neste contexto, importante destacar que os votos brancos e nulos não têm nenhum valor, segundo jurisprudência consolidada pelo TSE a partir do julgamento do Acordão 665, de 17 de agosto de 2002, já mencionado no item 1.6, “b”. 2.2. SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL Adotado no Brasil nas eleições para os cargos de deputado federal e estadual e vereador. Neste sistema o pressuposto é a repartição aritmética das vagas, de modo que as mesmas sejam distribuídas em proporção às correntes ideológicas ou de interesse, representadas pelos partidos políticos. 14 São duas as técnicas adotadas mundialmente para a representação proporcional, quais sejam: a do número uniforme, na qual o número de votos correspondentes ao preenchimento de uma vaga, em cada circunscrição é previamente estabelecido por lei, fazendo com que, tantas vezes esse montante seja atingido, tantas vagas serão obtidas; a do quociente eleitoral, adotada pelo sistema eleitoral brasileiro, que consiste em operações aritméticas sucessivas, para que haja a representação proporcional, consoante artigos 106 a 113 do Código Eleitoral. É adotado nas eleições para deputados e vereadores. A técnica do quociente eleitoral realiza-se por meio das seguintes etapas: 1ª) Determinação do quociente eleitoral (artigo 106 do CE): “Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados pelode lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.” 2ª) Determinação do quociente partidário (artigo 107 do CE): “Determina-se para cada Partido ou coligação o quociente partidário, dividindo-se pelo quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação de legendas, desprezada a fração.” 3ª) Determinação dos candidatos eleitos (artigo 108 CE, com redação dada pela Lei 13.165/2015): “Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido ou coligação que tenham obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido. Parágrafo único. Os lugares não preenchidos em razão da exigência de votação nominal mínima a que se refere o caput serão distribuídos de acordo com as regras do art. 109.”. 4ª) Preenchimento dos lugares remanescentes (artigo 109 do CE, com redação dada pela Lei 13.165/2015): “Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários e em razão da exigência de votação nominal mínima a que se refere o art. 108 serão distribuídos de acordo com as seguintes regras: I - dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação pelo número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente partidário do art. 107, mais um, cabendo ao partido ou coligação que apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima; 15 II - repetir-se-á a operação para cada um dos lugares a preencher; III - quando não houver mais partidos ou coligações com candidatos que atendam às duas exigências do inciso I, as cadeiras serão distribuídas aos partidos que apresentem as maiores médias. § 1o O preenchimento dos lugares com que cada partido ou coligação for contemplado far-se-á segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos. § 2o Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos e coligações que participaram do pleito. (Redação dada pela Lei nº 13.488, de 2017) , Importante observar que até o advento da Lei 13.165/15, não havia a necessidade da obtenção de votos em número igual superior a 10% do quociente eleitoral. Essa mudança teve o objetivo de reduzir o impacto dos chamados “puxadores de votos” que acabavam fazendo com que candidatos pouco votados fossem eleitos. Outra mudança importante foi introduzida pela reforma eleitoral de 2017, a qual passou a prever que todos os partidos e coligações que participam do pleito poderão concorrer às vagas remanescentes e não apenas aqueles que atingiram o quociente eleitoral, tal qual era previsto anteriormente. Nos termos do artigo 110 do CE, em caso de empate “haver-se-á por eleito o candidato mais idoso.”. E, em caso de “nenhum Partido ou coligação alcançar o quociente eleitoral, considerar-se-ão eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados”, consoante artigo 111 do mesmo diploma. Com relação ao preenchimento das vagas de suplementes, as regras estão previstas nos artigos 112 e 113, nos seguintes termos: “Art.112. Considerar-se-ão suplentes da representação partidária: I - os mais votados sob a mesma legenda e não eleitos efetivos das listas dos respectivos partidos; II - em caso de empate na votação, na ordem decrescente da idade. Parágrafo único. Na definição dos suplentes da representação partidária, não há exigência de votação nominal mínima prevista pelo art. 108. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) Art. 113. Na ocorrência de vaga, não havendo suplente para preenchê-la, far-se-á eleição, salvo se faltarem menos de nove meses para findar o período de mandato.” Deve-se destacar ainda que o sistema eleitoral brasileiro é de lista aberta, posto que os eleitores definem os nomes dos candidatos que ocuparão as vagas. Um dos pontos da “reforma política” debatida no ano de 2017, seria a eleição proporcional de lista fechada, quando os eleitores votariam apenas nas legendas. 16 Para facilitar a compreensão do tema, segue um exemplo: Município Fictício: • Total de eleitores habilitados: 127.433 eleitores; • Abstenções: 2.538; • Votos nulos: 5.736; • Votos em branco: 7.471; • Total de votos válidos: 127.433 – (2.538 + 5.736 + 7.471) = 111.688 • Vagas em disputa: 13 • Quociente eleitoral: 111.688 / 13 = 8.591,38 = 8.591 (desprezada a fração inferior a meio); • Tabela de votação dos partidos: PARTIDO A PARTIDO B PARTIDO C PARTIDO D PARTIDO E CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. CAND. VOT. AA 21.432 BA 3.249 CA 1.301 DA 6.127 EA 18.046 AB 5.102 BB 3.211 CB 719 DB 1.411 EB 10.008 AC 4.900 BC 3.191 CC 713 DC 514 EC 810 AD 4.573 BD 3.050 CD 541 DD 253 ED 730 AE 2.513 BE 3.014 CE 108 DE 94 EE 700 AF 1.832 BF 2.300 CF 23 DF 78 EF 563 AG 715 BG 1.713 CG 15 DG 49 EG 513 AH 546 BH 1.504 CH 10 DH 13 EH 419 AI 232 BI 1.027 - - DI 05 EI 417 AJ 121 BJ 438 - - - - EJ 384 AK 51 BK 256 - - - - EK 323 AL 40 BL 104 - - - - EL 305 AM 33 BM 27 - - - - EM 170 AN 27 BN 17 - - - - EN 108 - - - - - - - - EO 85 - - - - - - - - EP 69 - - - - - - - - EQ 28 - - - - - - - - ER 22 - - - - - - - - ES 17 - - - - - - - - ET 15 - - - - - - - - EU 13 - - - - - - - - EV 01 Votos legenda Votos legenda Votos legenda 700 Votos legenda Votos legenda 50 TOTAL 42.117 23.101 4.130 8.544 33.796 • Quociente partidário: Partido A: 42.117 / 8.591 = 4,90 ou 4 vagas; Partido B: 23.101 / 8.591 = 2,69 ou 2 vagas; Partido C: 4.130 / 8.591 = 0,48 ou 0 vagas; Partido D: 8.544 / 8.591 = 0,99 ou 0 vagas; Partido E: 33.796 / 8.591 = 3,93 ou 3 vagas. • Mínimo de votos para preenchimento das vagas: 10% de 8.591 = 859,10 = 860 votos; • Total de vagas preenchidas pelo quociente partidário, observado o limite mínimo: Partido A: 4 vagas; Partido B: 2 vagas; 17 Partido E: 2 vagas (o candidato EC não obteve o mínimo de 10% dos votos) Total: 8 vagas Preenchimento das 05 vagas remanescentes: Partido A: 42.117 / 5 (4 vagas quociente partidário + 1) = 8.423; Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 8.544; Partido E: 33.796 / 4 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 Vaga remanescente 1: Partido D Partido A: 42.117 / 5 (4 vagas quociente partidário + 1) = 8.423; Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 Vaga remanescente 2: Partido A (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha candidato com votação mínima de 10% do QE) Partido A: 42.117 / 6 (4 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 7.020; Partido B: 23.100 / 3 (2 vagas quociente partidário + 1) = 7.700; Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1) = 8.449 Vaga remanescente 3: Partido B (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha candidato com votação mínima de 10% do QE) Partido A: 42.117 / 6 (4 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 7.020; Partido B: 23.100 / 4 (2 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 5.775; Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; Partido E: 33.796 / 5 (3 vagasquociente partidário + 1) = 8.449 18 Vaga remanescente 4: Partido A (o partido E, apesar de ter a maior média, não tinha candidato com votação mínima de 10% do QE) Partido A: 42.117 / 7 (4 vagas quociente partidário + 1 + 2 vagas remanescentes) = 6.017; Partido B: 23.100 / 4 (2 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 5.775; Partido C: 4.130 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1) = 4.130; Partido D: 8.544 / 1 (0 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 4.272; Partido E: 33.796 / 5 (3 vagas quociente partidário + 1 + 1 vaga remanescente) = 6.759 Vaga remanescente 5: Partido B (os partidos A e E, apesar de terem a maior média, não tinham candidato com votação mínima de 10% do QE) • Resultado da eleição: Partido A: 6 vagas (candidatos eleitos: AA, AB, AC, AD, AE e AF); Partido B: 4 vagas (candidatos eleitos: BA, BB, BC e BD); Partido C: 0 vagas; Partido D: 1 vaga (candidatos eleitos: DA); Partido E: 2 vagas (candidatos eleitos: EA e EB). Total: 13 vagas • Suplentes: Partido A: 6 vagas (candidatos suplentes: AG, AH, AI, AJ, AK e AL); Partido B: 4 vagas (candidatos suplentes: BD, BE, BF e BG); Partido C: 0 vagas; Partido D: 1 vagas (candidatos suplentes: DB); Partido E: 2 vagas (candidatos suplentes: EE e EF). Total: 13 vagas 2.3. VOTO DISTRITAL Proposto por algumas lideranças políticas, juristas e cientistas políticos, seria a substituição do sistema eleitoral proporcional de lista aberta pelo sistema de voto distrital nas eleições para deputados e vereadores no Brasil. Na prática, significa a substituição do sistema proporcional pelo sistema majoritário para as eleições dos referidos cargos. Deste modo, ocorreria a divisão de cada Estado ou 19 município em tantos distritos quantos sejam as vagas disponíveis, a partir dos quais seriam eleitos os candidatos mais votados em cada distrito. A proposta é criticada pelo fato de que a representação das minorias ficaria ameaçada. 2.4. SISTEMA ELEITORAL MISTO Sistema intermediário entre o majoritário e o proporcional e que não é adotado pelo Brasil. As duas espécies mais difundidas no mundo são duas: a de origem alemã, mais tendente à proporcionalidade e a de origem mexicana, de maior inspiração no sistema majoritário. No sistema alemão, elege-se metade dos deputados por circunscrições distritais e a outra metade em função de listas de base estadual. A adoção deste sistema no Brasil é defendida pelo Senador José Serra em sua obra “Reforma Politica”, bem como por Favilla Ribeiro, na obra “Direito Eleitoral”. É ainda objeto da reforma política, que pretende a sua implantação para as eleições de 2022. O sistema mexicano, por sua vez, consiste na adoção, para a eleição dos integrantes da Câmara dos Deputados, de dois tipos eleitorais: eleição pelo sistema distrital majoritário para 300 vagas e pelo sistema de representação proporcional para 200 vagas, sendo que nenhum partido pode ter mais do que 350 deputados. 2.5. COMPOSIÇÃO DO PARLAMENTO BRASILEIRO O Poder Legislativo da União é representado pelo Congresso Nacional (Parlamento da União), bicameral, composto de Câmara dos Deputados e Senado Federal, com as seguintes características: a) Câmara dos Deputados: total de 513 deputados federais, proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal (LC 78/93). Número de deputados federais por entidade federativa: mínimo de 08 e máximo de 70 (LC 78/93). b) Senado Federal: total de 81, três para cada unidade da federação; renovação da representação de cada Estado e DF a cada 4 anos, alternadamente, por um ou dois terços; mandato de 8 anos. O Poder Legislativo dos Estados-membros é representado pelas Assembleias Legislativas (Parlamento dos Estados-membros), unicameral, com mínimo de 24 e máximo de 94 deputados estaduais. No caso do DF, a casa legislativa é intitulada Câmara Distrital com 24 deputados distritais. No âmbito municipal, o Poder Legislativo é unicameral, representado pela Câmara Municipal (Parlamento dos Municípios), com mínimo de 9 e máximo de 55 vereadores. 2.6. ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E POLÍTICA DO ELEITORADO Para possibilitar a realização de eleições em todas as esferas políticas da República, que possui 26 Estados-membros, um Distrito Federal e mais de cinco mil municípios, o Código Eleitoral dividiu o eleitorado brasileiro em circunscrições eleitorais, zonas eleitorais e seções eleitorais. 20 As circunscrições eleitorais consistem em unidades criadas, de acordo com o tipo de eleição a se realizar, nos seguintes termos: 2.6.1. Território Nacional para as eleições presidenciais; 2.6.2. Território do Distrito Federal para as eleições gerais distritais; 2.6.3. Território dos Estados-membros para as eleições gerais estaduais; 2.6.4. Território do Município para as eleições municipais. As zonas eleitorais são organizações eleitorais nas unidades da federação e no DF, as quais nem sempre se confundem com os limites territoriais do município ou da comarca, pois podem abranger mais de um e ainda, um mesmo município ou comarca pode ter mais de uma zona eleitoral. É a sede de atuação, espaço territorial no qual o Juiz Eleitoral exerce a jurisdição. Nos termos da resolução 23.512/2017 do TSE, para funcionamento das zonas eleitorais nas capitais e em municípios com mais de duzentos mil habitantes, deve ser observado um número mínimo de cem mil eleitores por zona. As seções eleitorais, subdivisões das zonas eleitorais, consistem na menor unidade da organização eleitoral, sendo a sede de atuação das mesas receptoras de votos e os locais de votação, devendo conter no mínimo 50 e no máximo 400 eleitores no interior, sendo o número máximo de 500 eleitores nas capitais. Por meio de resolução do ano de 2014, o TSE, visando garantir os direitos políticos dos presos provisórios e dos internados por prática de ato infracional, possibilitou a criação de seções eleitorais nos respectivos estabelecimentos prisionais e unidades de internação. 21 3. PARTIDOS POLÍTICOS 3.1. INTRODUÇÃO “A democracia, necessária e inevitavelmente, requer um Estado de partidos” (Hans Kelsen) e desse modo os partidos políticos são muito importantes na instrumentalização da moderna democracia, a partir do seu surgimento com o fim do absolutismo monárquico. Fazendo-se uma abordagem histórica, verifica-se que na Grécia e Roma antigas, atribuía-se o nome de partido a um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa. Na primeira metade do século XVIII, na Inglaterra, nasceram as primeiras agremiações partidárias, como instituições de direito privado com o desiderato de aproximar pessoas com ideias políticas comuns; na segunda metade do mesmo século, sobretudo após a eclosão da Revolução Francesa e da Independência dos EUA, o fenômeno da criação de entidades partidárias de alastrou pelo mundo ocidental. Nos primórdios dessa sociedade liberal verificou-se uma tranquila e pacífica alternância de poder entre os diversos grupos e facções, devido à ausência de contrastes profundos entre os mesmos. No entanto, esses grupos e facções, existentes desde o século XV, não eram bem vistos, pois se acreditava que os mesmos representavam uma ameaça à vontade geral, como alegou o próprio Rosseau, um dos grandes mentores da democracia moderna, em sua obra “Do contrato social”. Importante destacar que os partidos políticos também representavam uma ameaça ao senso de unanimidade almejado pela burguesia dominante. Na medida em que o modelo liberal de democracia foi entrando em declínio, surge a necessidade de valorização dos partidos políticos, posto que o debate entre as mais diversas correntes ideológicas e doutrinárias vai ganhando importância devido ao reconhecimento de uma realidade pluralista intrínseca às relações humanas, com o abandono do mito da igualdade. E assim, foi sendo construídoo argumento da essencialidade dos partidos políticos - reconhecidos como males necessários - com o ocaso do individualismo, sedimentando-se a tese da democracia pelos partidos, que teve em Kelsen, um de seus maiores expoentes. A partir da contemporaneidade, os partidos políticos deixam então de serem vistos como males necessários e passam a ser um axioma da vida democrática. Neste contexto, tem-se que a representação política pode apresentar deficiências de ordem qualitativa, sendo que as escolhas dos representantes devem se dar por critérios técnicos ou ideológicos e o cidadão deve ter a consciência da importância do voto. Para tanto, é preciso que haja condições econômicas e sociais mínimas, educação e pluralidade de fontes de informação. Pelo que, os partidos políticos são o elo fundamental entre o povo e o Estado, canal de aglutinação, debate, reflexão e discussão da sociedade civil em torno de ideais políticos. Dentro de um Estado Democrático de Direito, trata-se da forma mais segura de aglutinar interesses de pessoas acerca dos mesmos ideais políticos e sociais, de modo a permitir a participação de todos (ativa e passiva) no processo eleitoral com a vinculação aos interesses defendidos e impedir o assalto da democracia por aventureiros, salvadores da pátria, Messias, financiados por interesses escusos, sem plataforma política e base sólida de ideais. De modo que partido político pode ser conceituado “como a pessoa jurídica de direito privado, integrada por um grupo de indivíduos que se associam, estavelmente, em torno de um objetivo determinado, que é assumir e permanecer no poder, ou, pelo menos, influenciar suas decisões e, ipso facto, pôr em prática determinada ideologia político-administrativa”. 22 No Brasil são 33 Partidos Políticos registrados junto ao TSE, sendo o último registro datado de 10/12/2019, referente ao Unidade Popular. Existe ainda um total de 213 pedidos de registro de Partidos Políticos no TSE desde 1945. 3.2. PARTIDOS POLÍTICOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A Constituição Federal de 1988, seguiu a tendência contemporânea e reserva o capítulo V de seu título II à disciplina dos partidos políticos, nos seguintes termos: “Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) 23 II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) “ 3.3. LEI Nº 9.096/95 (LEI DOS PARTIDOS POLÍTICOS) 3.3.1. Disposições Preliminares Esse diploma legal foi estabelecido de forma a regulamentar o artigo 17 da CF e em suas disposições preliminares (título I) estabelece que os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado destinadas “a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.” O título I do diploma disciplina ainda a vedação constitucional de utilização de organização paramilitar pelos partidos (artigo 6º), proibindo aos mesmos ministrar instruções militar ou paramilitar e a adoção de uniformes para seus membros. No que tange ao caráter nacional preconizado na carta magna, o § 1º do artigo 7º assim dispõe: “Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político, correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles” É o que se chama de APOIAMENTO MÍNIMO e que pode assim ser resumido: 0,5% dos votos válidos dados nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados Distribuição dos citados votos em um terço ou mais dos estados, com um mínimo de 0,1% do eleitorado que haja votado em cada um deles Reconhecimento do caráter nacional do partido político 24 Note-se que a atual redação do dispositivo foi dada pela Lei 13.165/2015, que passou a prever que a coleta de assinaturas para o apoiamento mínimo deverá ocorrer no período de 2 anos, exigência que não era prevista até então. Segundo entendimento do STF, tais exigências são constitucionais, uma vez que visam a combater “a proliferação de agremiações sem expressão política, que podem atuar como “legendas de aluguel”, fraudando a representação, base do regime democrático.” (ADI 5311 MC, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 30/09/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 03-02-2016 PUBLIC 04-02-2016). 3.3.2. Criação e registro dos partidos políticos O procedimento de criação e registro dos partidos políticos está previsto nos artigos 8º a 11 da Lei 9.096/95 e pode ser resumido nas seguintes etapas: I – apresentação de requerimento para registro junto ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede, subscrito pelos seus fundadores, em número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, acompanhado de: a) cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido; b) exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto; c) relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência; d) nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido no território nacional. II – registro,pelo oficial do registro civil, do partido político no livro correspondente, expedindo certidão de inteiro teor. III – Obtenção do apoiamento mínimo de eleitores, nos termos do artigo 7º, § 1º e realização dos atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto; IV – promoção do registro do estatuto do partido junto ao TSE, por meio de requerimento acompanhado de: a) exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do estatuto partidários, inscritos no Registro Civil; b) certidão do registro civil da pessoa jurídica, c) certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o partido obtido o apoiamento mínimo de eleitores. Nos termos do § 4º do artigo 9º da Lei dos Partidos Políticos, “se não houver diligências a determinar, ou após o seu atendimento, o Tribunal Superior Eleitoral registra o estatuto do partido, no prazo de trinta dias.” Importante destacar que apenas após o registro no TSE, garante-se ao partido o recebimento de recursos do fundo partidário, o acesso gratuito ao rádio e TV e a exclusividade de sua denominação, sigla e símbolos, bem como a possibilidade de participar das eleições. 25 3.3.3. Fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos Esta matéria encontra previsão no capítulo VI do título II da Lei 9.096/95, sendo que o seu artigo 27 prescreve que “fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral, o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro.” A fusão ocorre quando dois partidos se juntam, extinguindo-se, para formar um novo partido. Na incorporação, um partido deixa de existir, passando a fazer parte do outro. Na hipótese da fusão, a existência legal do novo partido tem início com o registro no ofício civil competente da capital federal, desde que observado o § 1º do artigo 29, passando o partido a ser reconhecido com todas as prerrogativas legais, antes mesmo da averbação de seu estatuto no TSE. Neste caso, também não será necessário o apoiamento mínimo. No caso de incorporação “caberá ao partido incorporando deliberar por maioria absoluta de votos, em seu órgão nacional de deliberação, sobre a adoção do estatuto e do programa de outra agremiação. Adotados o estatuto e o programa do partido incorporador, realizar-se-á, em reunião conjunta dos órgãos nacionais de deliberação, a eleição do novo órgão de direção nacional.” Após, o instrumento formalizador da incorporação deverá ser levado ao Ofício Civil competente, que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado a outro. O partido político poderá ainda se dissolver, na forma do seu estatuto, ou após decisão judicial transitada em julgado no TSE, ter o seu registro civil e seu estatuto cancelado. Neste último caso, são hipóteses legais ensejadoras do cancelamento, consoante artigo 28 da Lei 9.096/95: I – recebimento de recursos financeiros de procedência estrangeira; II - subordinação a entidade ou governo estrangeiros; III - ausência de prestação de contas à justiça eleitoral; IV – manutenção de organização paramilitar. 3.3.4. O funcionamento parlamentar e a cláusula de barreira O funcionamento parlamentar está previsto no artigo 12 da Lei 9.096/95, nos seguintes termos: “O partido político funciona, nas Casas Legislativas, por intermédio de uma bancada, que deve constituir suas lideranças de acordo com o estatuto do partido, as disposições regimentais das respectivas Casas e as normas desta Lei.” A chamada cláusula de barreira, prevista no artigo 13 do mesmo diploma, estabelece critérios para que o partido político possa ter funcionamento parlamentar, determinando como requisito para tal fim que, “em cada eleição para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total de cada um deles”. O STF, ao julgar as ADINs nº 1351-3 e 1354-8, ajuizadas pelo PCdoB e pelo PSC, respectivamente, declarou a inconstitucionalidade do artigo 13 da Lei 9.906/95, derrubando a cláusula de barreira em 07/12/2006, por decisão unânime. 3.3.5. Programa e estatuto dos partidos políticos Apesar da CF e da Lei Geral dos Partidos Políticos estabelecerem a autonomia dos partidos políticos para fixarem seu programa, objetivos políticos, estrutura interna, 26 organização e funcionamento, impõe algumas regras de observância obrigatória que necessariamente deverão ser contempladas. Nestes termos, determina o artigo 15 do diploma: “Art. 15. O Estatuto do partido deve conter, entre outras, normas sobre: I - nome, denominação abreviada e o estabelecimento da sede na no território nacional (Redação dada pela Lei nº 13.877, de 2019); II - filiação e desligamento de seus membros; III - direitos e deveres dos filiados; IV - modo como se organiza e administra, com a definição de sua estrutura geral e identificação, composição e competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, estadual e nacional, duração dos mandatos e processo de eleição dos seus membros; V - fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação das penalidades, assegurado amplo direito de defesa; VI - condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas; VII - finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, normas que os habilitem a apurar as quantias que os seus candidatos possam despender com a própria eleição, que fixem os limites das contribuições dos filiados e definam as diversas fontes de receita do partido, além daquelas previstas nesta Lei; VIII - critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível municipal, estadual e nacional que compõem o partido; IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto.” 3.3.6. Disciplina e fidelidade partidárias Disciplina partidária é o instituto de direito privado, que relaciona os partidos políticos aos seus filiados. Nos termos do estatuto do partido, o filiado indisciplinado deverá ser advertido, suspenso ou até mesmo expulso do partido, sem que tal fato, no entanto, acarrete a perda de eventual mandato que esteja exercendo. O que está em jogo, tão somente, é a relação do filiado com o partido político, e o respeito a questões interna corporis da agremiação partidária. Fidelidade partidária é o instituto de direito público que relaciona não apenas o mandatário ao seu partido político, mas sim ao próprio eleitor que, ao elegê-lo escolheu também votar em determinado partido. O infiel, assim, deverá perder o mandato eletivo. 27 Em resposta à consulta nº 1.398, formulada pelo antigo Partido da Frente Liberal (PFL), o TSE firmou entendimento no sentido de que os mandatos de deputados e vereadores pertencem aos partidos políticos, definindo, assim, o conceito de fidelidade partidária, que foi inclusive estendido aos titulares de mandatos majoritários em resposta à consulta 1.407. Com o julgamento da ADI nº 5018, o STF definiu que o princípio da fidelidade partidária não se aplica a mandatos obtidos por meio do sistema eleitoral majoritário. A questão da fidelidade foi regulamentada pela resolução 22.610 do TSE - declarada constitucional pelo STF - que disciplina o procedimento de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária. Nos termos da referida resolução, são legitimados a propor ação de perda de mandato por infidelidade partidária o partido político, no prazo de 30 dias e, após, em novo prazo de 30 dias, o MP e demais interessados jurídicos. O STF já manifestou entendimento no sentido de que o suplente da coligação, que não seja do partido do infiel, não tem legitimidade para o ajuizamento de ação de perda mandato eletivo por infidelidade partidária. Nos termos do artigo 22-A da Lei 9.096/95, incluído pela Lei 13.165/15, consideram-se justa causa para a desfiliação partidária, sem a perda do mandato por infidelidade: mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; grave discriminação política pessoal; e mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente. 3.3.7. Filiação partidária De acordo com o artigo 14, §3º, inciso V da CF, a filiação partidária é uma das condições de elegibilidade, a qual foi regulamentada no capítulo IV do título II da Lei 9.096/95. O artigo 16 do diploma determina que só pode filiar-se a partido político o eleitor que estiver em pleno gozo de seus direitos políticos. Neste contexto, vale ressaltar que o TSE, por meio da resolução nº 23.117/09, firmou entendimento no sentido de que o eleitor considerado inelegível pode filiar-se a partido político. O artigo 20 do diploma faculta “ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária superiores aos previstos nesta Lei, com vistas a candidatura a cargos eletivos”, sendo que, porém, o parágrafo único do dispositivo reza que tais prazos não poderão ser alterados no ano da eleição, em atenção ao princípio da anualidade. O filiado poderá, a qualquer tempo, pedir o seu desligamento do partido, desde que o faça por escrito, em comunicação dirigida ao órgão de direção municipal e ao juiz eleitoral da zona em que estiver inscrito como eleitor. No caso de filiação a novo partido, será imediatamente cancelada a inscrição partidária anterior, não sendo mais exigida a comunicação ao partido e ao juiz eleitoral sob pena de nulidade de ambas as filiações, tal qual ocorria até o advento da Lei 12.891/13, que incluiu o inciso V e alterou a redação do parágrafo único do artigo 22 da Lei Geral dos Partidos Políticos. O novo parágrafo único do mesmo dispositivo, estabeleceu nova disciplina para os casos de duplicidade de filiação. Doravante, a filiação partidária mais recente prevalece sobre as anteriores, ao contrário do que previa a legislação anterior, a qual determinava que na ocorrência de dupla filiação, ambas seriam consideradas nulas para todos os efeitos. O cancelamento imediato da filiação partidária, além do já mencionado caso de filiação a novo partido, verifica-se, nos termos do artigo 22, nos casos de morte, perda dos direitos políticos, expulsão e outras formas previstas no estatuto. 28 Conforme já mencionado, no sistema eleitoral brasileiro, a filiação partidária é uma das condições de elegibilidade, posto que não se admite candidaturas avulsas, dando aos partidos políticos o papel de protagonistas no processo democrático, organizadores do debate público e legítimos representantes do pluralismo político. Tal exigência, prevista no texto constitucional, foi objeto de regulamentação por meio da lei das eleições (9.504/97), a qual estabelece em seu artigo 9º o prazo geral mínimo de filiação partidária exigível para quem alguém possa disputar uma eleição. Nesse diapasão, destaca-se que, como já mencionado, cada partido poderá estabelecer prazos maiores de filiação para a promoção de candidaturas dos seus respectivos filiados, no exercício de sua autonomia. Neste contexto, a redação atual do dispositivo, dada pela Lei 13.488/17, prevê que “para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo”. Os prazos de filiação para fins do referido artigo 9º serão os do partido originário, em caso de fusão ou incorporação de partidos. 3.3.8. Finanças e contabilidade dos partidos políticos O título III da Lei 9.096/95 dispõe sobre o tema, determinando aos partidos políticos que mantenham, por meio de seus órgãos nacionais, regionais e municipais, escrituração contábil, de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e destinação de suas despesas. Isto se deve à importância destas instituições para a lisura e legitimidade do processo democrático, motivo pelo qual sofrem restrições constitucionais e legais no processo de arrecadação de suas receitas, devendo ainda prestar contas à justiça eleitoral. Assim sendo, estão obrigados a enviar anualmente à justiça eleitoral, até o dia 30 de abril do ano seguinte, balanços contábeis do exercício findo. O artigo 32, § 5º da Lei dos Partidos Políticos, com a nova redação dada pela Lei 13.165/2015, ressalta que a “desaprovação da prestação de contas do partido não ensejará sanção alguma que o impeça de participar do pleito eleitoral.” O novo caput do artigo 34 do diploma, também com redação dada pela reforma eleitoral de 2015, retirou da justiça eleitoral o papel de fiscal da escrituração contábil do partido político, preservando, contudo, a fiscalização sobre a prestação de contas do partido e das despesas de campanha. O § 1º do dispositivo passou a determinar que fiscalização sobre a prestação de contas e despesas de campanha, “tem por escopo identificar a origem das receitas e a destinação das despesas com as atividades partidárias e eleitorais, mediante o exame formal dos documentos fiscais apresentados pelos partidos políticos e candidatos, sendo vedada a análise das atividades político-partidárias ou qualquer interferência em sua autonomia.”. Em caso de denúncia fundamentada de filiado ou delegado de partido, representação do MP ou iniciativa do corregedor, o TSE e os tribunais regionais eleitorais determinarão o exame da escrituração e a apuração de quaisquer atos que violem as prescrições legais e estatutárias, podendo inclusive determinar a quebra do sigilo bancário das contas do partido (artigo 35). Nos termos do artigo 31 da Lei 9.096/95, o partido político não poderá receber, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição em dinheiro, ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de: 29 I - entidade ou governo estrangeiros; II - entes públicos e pessoas jurídicas de qualquer natureza, ressalvadas as dotações referidas no art. 38 desta Lei e as proveniente do Fundo Especial de Financiamento de Campanha; (Redação dada pela Lei nº 13.488, de 2017); III – REVOGADO PELA Lei nº 13.488, de 2017; IV - entidade de classe ou sindical. Antes da atual redação do inciso II acima citado e nos termos do julgamento proferido na ADI 4.650, pelo STF, em 17/09/2015, foi declarada a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto do dispositivo em sua redação original, não sendo mais permitido o financiamento empresarial de partidos políticos. O artigo 37 da Lei dos Partidos Políticos, em sua nova redação, determina que a “desaprovação das contas do partido implicará exclusivamente a sanção de devolução da importância apontada como irregular, acrescida de multa de até 20% (vinte por cento)”, não sendo mais cabível a sanção prevista anteriormente de suspensão de novas quotas do fundo partidário. O parágrafo 4º do dispositivo estabelece que da “decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo.”. Importante destacar ainda o artigo 37-A, incluído pela Lei 13.165/15, o qual dispõe que a “falta de prestação de contas implicará a suspensão de novas cotas do Fundo Partidário enquanto perdurar a inadimplência e sujeitará os responsáveis às penas da lei.”. 3.3.9. Fundo partidário A Lei 9.096/95 estabelece em seu artigo 38 e seguintes, o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, também chamado de Fundo Partidário, como forma de colaborar financeiramente com o funcionamento dos partidos, o qual é constituído com os seguintes recursos: I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral