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1 Neuropsicofarmacologia e neuroquímica: Sistema nervoso central: dividido em autônomo (involuntário) e somático (voluntário). Farmacologia do SNC: Dor (principal queixa de pacientes) – fármacos mais prescritos: insônia (60 milhões), Enxaqueca (40 milhões), Depressão (20 milhões), Transtornos de ansiedade (19 milhões), Alzheimer (4 milhões), Esquizofrenia (3 milhões), Acidente vascular cerebral (3 milhões) Danos cerebrais, (2,5 milhões), e Parkinson (1,5 milhões). Os psicoativos foram um dos primeiros grupos de fármacos a serem descobertos pela humanidade (ópio, café); São as substâncias mais utilizadas sem prescrição (uso “recreativo”; pode causar dependência); O mecanismo de ação nem sempre é bem entendido, devido a complexidade das interações no SNC. Efeito terapêutico dos fármacos centrais: Redes neuronais complexas (“tudo pode acontecer”; neurônios, Interneuronios e células da glia realizando coisas não muito conhecidas ainda; redes neuronais com processos complexos). Efeito celular e bioquímico (mecanismo de ação do fármaco; relacionado à 1ª resposta) é diferente do efeito funcional e comportamental (resposta do fármaco). O efeito farmacológico (1ª resposta) desencadeia efeito adaptativo (2ª resposta; alterações no SNC induzidas pelo fármaco). Quando se pensa em mecanismo farmacológico, é só a “ponta do iceberg”, e o que ocasionará no corpo é muito mais complexo (relações adaptativas). Neurociência e SNC: É uma ciência que deve ser integrada; O sistema nervoso ainda é um mistério, com Técnicas de imagem refinadas, Projeto genoma (expressão de proteínas em regiões específicas e maior ideia de como funcionam as coisas), Optogenética (mecanismos neurofisiológicos em animais), Projeto conectoma (origem do projeto proteoma; leva em conta expressão de proteínas em locais específicos do SNC e mapeamento de conexões do cérebro), entre outros. Aspectos básicos dos fármacos de ação central: Principais alvos terapêuticos são Enzimas (2, 4, 7; enzima para síntese e metabolismo de neurotransmissor, além de presentes na sinapse e responsáveis pela degradação), Transportadores ou recaptadores (6; preferencialmente na membrana pré-sináptica), e Receptores (8; Metabotrópicos [receptor acoplado à proteína G], Ionotrópicos [canais iônicos], Enzimáticos, Nucleares [alvos proteicos intracelulares]). Proteínas de membrana como alvos: dependentes de ligante (Na+, Ca++, K+, Cl-) ou dependentes de voltagem (Na+, K+, Ca++). Proteína trans-membrana frente a um ligante (agonista) faz com que a parte alfa e beta-gama desencadeie efeitos atuando em canais 2 iônicos ou cascatas intra-celulares. Receptores acoplados à proteína G ampliam a ativação (um receptor ativa várias proteínas G que ativam várias enzimas o que pode desencadear várias respostas). Receptores acoplados à proteína G são divididos em Gs (estimulatório), Gq e Gi (inibitório). Modulação temporal do SNC: fármacos podem atuar por mecanismos mais lentos, o que não é totalmente compreendido ainda. Classificação: Depressores do SNC: ansiolíticos e sedativos (hipnóticos; induzem sono e reduzem a ansiedade; ex. midazolam), antipsicóticos/neurolépticos/tranquilizantes maiores (aliviam sintimas da esquizofrenia; ex. haloperidol e clozapina), antiepilépticos/anticonvulsivantes (reduzem a excitabilidade), analgésicos opióides (controle da dor; ex. morfina, fentanil), anestésicos (ex. propoflo, halotano, quetamina, lidocaína). 3 Estimulantes do SNC: estimulantes psicomotores (induzem estados de alerta e euforia; ex. nicotina, cafeína, anfetamina, cocaína), antiparkinsonianos (melhoram o controle motor; ex. levodopa), antidepressivos (aliviam sintomas de depressão; ex. fluoxetina e imipramina), nootrópicos (melhoram a memória e o desempenho cognitivo; ex. rivastigmina e ampacinas). “Perturbadores” do SNC: drogas psicomiméticas/alucinógenas (causam distúrbios na percepção e comportamento; ex. LSD, ecstasy). Neurotrasmissores clássicos: Requisitos de um neurotransmissor (típico/clássico): 1. Mecanismos de síntese e armazenamento no neurônio pré-sináptico; 2. Liberado por exocitose em resposta de potencial de ação; 3. Produzir efeitos pela ação em receptors/alvos próprios no neurônio pós- sináptico; 4. Mecanismos de inativação (recaptação, remoção ou metabolização). Principais: - Aminoácidos – Glutamato; – Aspartato; – Ácido γ-aminobutírico (GABA); – Glicina. - Aminas biogênicas – Noradrenalina (Catecolaminas); – Adrenalina (Catecolaminas); – Dopamina (Catecolaminas); – Serotonina; – Histamina; – Melatonina. – Acetilcolina. - Peptídios (opioides) - Neurotransmissores “atípicos” Glutamato (derivado aminoácido): Principal neurotransmissor excitatório. Distribuição difusa em todo SNC (como ativa ambos receptores podem ocorrer reações rápidas e tardias). Os canais iônicos possuem vários sítios receptores. Receptores ionotrópicos (atuam por abertura de canais iônicos, assim são muito rápidos; ativados por compostos pelos quais tem afinidade): NMDA (canal sensível ao glutamato que permite entrada de Na+ e Ca++, agonistas como glicinas, poliamidas que facilitam o processo; magnésio atua como inibidor do canal); AMPA (Na+); Cainato (Na+). Receptores metabotrópicos (mais lentos): Grupo I: mGlu 1 e 5 (Gq); Grupo II: mGlu 2 e 3 (Gi); Grupo III: mGlu 4, 6, 7 e 8 (Gi). Agentes glutamatérgicos relevantes: quetamina (Antagonista NMDA), memantina (Antagonista NMDA), Piracetam (potencializa AMPA). Anestésico geral - Redução do tônus excitatório; Alzheimer - Redução da excitotoxicidade glutamatérgica; Perda de memória / demência - Facilita a memória. Funções da via glutamatérgica: - Neuroplasticidade: Memória; Dor crônica; Dependência. Nem todos os receptores tem a mesma afinidade ao glutamato assim quem tem alta afinidade é ativado primeiro (AMPA é ativado com liberação basal [pequena, em repouso]); com estimulação relevante há maior 4 liberação de glutamato ativando mais receptores AMPA (maior entrada de sódio que causa despolarização sustentada, permitindo o magnésio, assim também há estimulação de NMDA com entrada de cálcio e sódio, ativando proteínas; óxido nítrico faz mecanismo de autocontrole para não liberar glutamato acima do suportado). - Excitotoxicidade glutamatérgica (ativação sustentada leva a entrada muito grande de cálcio, aumentando o óxido nítrico que causa desestabilização de membrana e aumento de espécies reativas de oxigênio; pode caudar estado inflamatório nas células se em alta quantidade pois ativa a via do ácido araquidônico): Isquemia (AVC); Traumatismo craniano; Doenças neurodegenerativas. GABA (derivado aminoácido): Principal neurotransmissor inibitório. Distribuição ampla em todo SNC. Rota de síntese comum/dependente ao glutamato (equilíbrio no corpo). Receptores ionotrópicos: GABAA (permeável à Cl-; entrada de cloreto cauda hiperpolarização, diminuindo a chance de despolarização e atuação neuronal); GABAC (Cl-). Receptores metabotrópicos: GABAB (Gi). Funções da via GABAérgica: Controle da excitabilidade neuronal. Agentes GABAérgicos relevantes: Tiagabina (inibe recaptação de GABA); Vigabatrina (inibe degradação de GABA); Benzodiazepínicos (Potencializa GABAA); Barbitúricos (Potencializa GABAA); Baclofeno (agonista GABAB). Epilepsia e dor crônica - Potencializa tônus inibitório; Espamos - Relaxante muscular; Barbitúricos – Anticonvulsivantes; Benzodiazepínicos - Ansiolíticos e anticonvulsivantes Adjuvantes em anestesias. Outros aminoácidos transmissores: aspartato e glicina, que permitem controle mais refinado e melhor auto-controle. Monoaminas e o tronco encefálico: Responsável pela diversidade química do SNC. Monoaminas do SNC: Serotonina; Noradrenalina; Dopamina; Adrenalina; Histamina. Outros moduladores: Acetilcolina. Identidade monoaminérgica do SNC: Síntese e fornecimento de monoaminas para todo o SNC (fibras difusas); ↓neurônios monoaminérgicos; ↑concentraçãosináptica; Modulam “circuitos principais” (alterando a excitabilidade utilizando nuances, permitindo refino na atividade com graduação de ativação). Principais núcleos reticulares do tronco: Delimitados neuroquimicamente pela produção de monoaminas; são eles o Locus coeruleus (Centro monoaminérgico), Área tegmentar ventral (Centro monoaminérgico), Núcleos da rafe (Centro monoaminérgico) e Substância cinzenta periaquedutal (PAG). Catecolaminas: transmissores dopamina, noradrenalina e adrenalina; tirosina hidroxilase constitui a etapa limitante. 5 Locus coeruleus (ponte e bulbo; substancia ferruginosa): Aferentes do hipotálamo, amígdala, núcleos da rafe e substância negra; Eferentes difusos para todo SNC (principal produção de noradrenalina, levada para todo o SNC); Projeção rostral (emocional; humor e atenção) e caudal (controle motor, vasomotor, temperatura, dor). - Noradrenalina (NA): Ações inibitórias e excitatórias. Funções fisiológicas: Alerta; Humor; Controle central da PA; Termorregulação; Apetite; Dor (medula). Transmissão adrenérgica restrita ao tronco (controle cardiovascular). Receptores metabotrópicos: α1 (Gq) e α2 (Gi); β1-3 (Gs). Agentes noradrenérgicos relevantes: Tranilcipromina (Inibe a MAO); Amitriptilina/Reboxetina (Inibe a recaptação de NA); Cocaína (inibe recaptação de catecolaminas); Anfetaminas (“desloca” e libera catecolaminas); Clonidina (agonista α2- adrenérgicos). Antidepressivos - Inibidores da MAO e da recaptação de NA; Analgesia (Clonidina) - Adjuvante em anestesias; Estimulantes - Drogas de abuso. Há comunicação entre SN periférico e central (eixo SAM), mesmo com a barreira hemato-encefálica; com um susto muito grande, por exemplo, há liberação de adrenalina na periferia, e através de uma cadeia há ativação no Locus coeruleus (SNC). Área tegmentar ventral (emocional) e substância negra (motor; mesencéfalo): Principal origem de neurônios dopaminérgicos implicados no controle emocional e motor; Eferentes mais restritos no SNC. Vias dopaminérgicas: Nigroestriatal (Controle motor [estriado]; Parkinson [DA]), Mesocortical (Controle cognitivo/atencional [córtex]; Transtorno de déficit de atenção [DA]), Mesolímbica (Controle emocional e recompensa; Esquizofrenia [DA] e dependência), Túbero-infundibular/hipofisária (Controle endócrino [prolactina]). - Dopamina (DA): Ações inibitórias e excitatórias. Funções fisiológicas: Controle motor; Humor; Cognição e memória; Recompensa (prazer); Vômito; Controle endócrino. Receptores metabotrópicos: D1 e D5 (Gs); D2, D3 e D4 (Gi). Agentes dopaminérgicos relevantes: L-DOPA (precursor de síntese de DA); Bromocriptina e cabergolina (agonistas DA); Cocaína (inibe recaptação de catecolaminas); Anfetamina (desloca e libera catecolaminas); Haloperidol (antagonista de receptor D2). Antiparkinsonianos - Aumentam atividade DA; Estimulantes - Drogas de abuso; Antiemético; Antipsicóticos (neurolépticos). Núcleos da rafe (mesencéfalo, ponte e bulbo): 8 núcleos dispostos na linha mediana; Única origem de neurônios serotonérgicos. Aferentes do córtex cerebral, hipotálamo e formação reticular; Eferentes difusos para todo SNC; Projeção rostral (humor, apetite, sono) e caudal (dor, percepção sensorial). - Serotonina (5HT): Ações inibitórias e excitatórias. Funções fisiológicas: Humor; Sono; Termorregulação; Apetite; Dor. Receptores metabotrópicos: 5HT1, 5HT5 (Gi); 5HT4, 5HT6, 5HT7 (Gs); 5HT2 (Gq). Receptores ionotrópicos: 5HT3 (Na+ e Ca++; mais rápidos). Agentes serotoninérgicos relevantes: Tranilcipromina (Inibe a MAO); Amitriptilina/Fluoxetina (Inibe a recaptação de 5HT); Ondansetron (antagonista 5HT3); Sumatriptano (agonista 5HT1D); LSD (agonista 5HT2A). Anti-enxaqueca – Vasoconstritor; Antidepressivos - Inibidores da MAO e da recaptação de 5HT; Antiemético - Bloqueio 5HT3; Alucinógeno - Drogas de abuso. Acetilcolina (ACh): Ações inibitórias e excitatórias. Funções fisiológicas: Modula o controle motor; Cognição e memória; Sono. Receptores metabotrópicos: M1, M3 e M5 (Gq); M2 e M4 (Gi). Receptores ionotrópicos: Nicotínicos (Na+). Agentes colinérgicos relevantes: Rivastigmina (inibe a acetilcolinesterase); Nicotina (agonista N); Escopolamina (pode causar efeito amnésico se atravessar a BHE), atropina (antagonista M). Doenças neurodegenerativas - Inibidores da acetilcolinesterase; Estimulante - Drogas de abuso; Amnésico - Adjuvante em anestesias (redução de secreções, etc). Alta polaridade; Não atravessa a BHE (não causa amnésia). 6 Peptídios: Em geral tem Síntese + complexa e Liberação + complicada, assim a Ação é + lenta; aumenta analgesia a longo prazo. Exemplos: endorfina, ocitocina, substancia P, vasopressina, angiotensina II, neuropeptídeo-Y. - Peptídeos opioides: Agentes opiodérgicos relevantes: opiáceos e derivados do ópio; morfina, codeína, fentanila, heroína (agonistas opiodérgicos); naloxona, naltrexona (antagonista opioidérgicos). Analgésicos – análogos da morfina; antitussígeno; efeito depressor – drogas de abuso. Outros mediadores químicos: - Histamina (principalmente utilizados para alergias): H1 (Gq), H2 (Gs) e H3/4 (Gi); Sono, emese. - Glicocorticoides: Cortisol / MR e GR; Ansiedade, medo e memória. - Purinas: Adenosina (A1-4) e ATP (P2X e P2Y); Alerta, dor e coordenação motora. - Melatonina: MT1 e MT2; Manutenção dos ritmos biológicos, como indução de estados do sono. Neurotransmissores “atípicos”: se não obedecer a alguma das 4 características dos clássicos, é considerado como atípico - 1. Mecanismos de síntese e armazenamento no neurônio pré- sináptico; 2. Liberado por exocitose em resposta de potencial de ação; 3. Produzir efeitos pela ação em receptores próprios no neurônio pós-sináptico; 4. Mecanismos de inativação (recaptação, remoção ou metabolização). Óxido nítrico: Ações predominantemente excitatórias; produzido sob-demanda (não disponível aleatoriamente); gás muito lipofílico que atravessa facilmente membranas (efeito muito rápido). Funções fisiológicas: Controle motor; Humor; Cognição e memória. Alvo farmacológico: Guanilato ciclase solúvel (GMPc; enzima solúvel). Potencial terapêutico: Antidepressivos; Ansiolíticos; Analgésicos. Inibidor da PDE5 já encontra-se no mercado farmacêutico (viagra; simular uma ativação maior da via do óxido cítrico; pode melhorar a memória diminuindo a perda da memória senil e demência). Endocanabinoides: Maconha (Cannabis sativa/indica/ruderalis; THC, AEA, 2-AG). Ações predominantemente inibitórias. Funções fisiológicas: Controle motor; Humor; Cognição e memória; Apetite; Vômito. Receptores metabotrópicos: CB1 e CB2 (Gi). Receptores ionotrópicos: TRPV1 (Ca++). Potencial terapêutico dos canabinoides: Antidepressivos; Ansiolíticos; Antipsicóticos; Neuroprotetor; Anticonvulsivantes; Antieméticos; Analgésicos. Neurotransmissão vs. Doenças do SNC: