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Atenção Básica no SUS Fernanda Argenton Conteúdo Abordado está dividido em quatro etapas: 1. Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) 2. Estratégias de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) 3. Equipes de Atenção Básica para Populações Específicas 4. Processo de trabalho na Atenção Básica Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) O NASF foi criado pelo Ministério da Saúde, através da portaria 154/2008, regulamentado pela portaria 2.488/2011 e atualizado pela portaria 3.124/2012. Mas o que é o NASF? São equipes multiprofissionais que atuam de maneira integrada, apoiando as equipes de saúde da Família (ESF), as equipes de atenção básica (EAB) para populações específicas e academias de saúde. O NASF atua com suporte clínico, sanitário e pedagógico para essas equipes. O NASF tem o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica e ampliar as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a resolutividade e abrangência, com foco na prevenção e promoção da saúde. Não se constituem como serviços com unidades físicas especiais, pois são equipes que vão auxiliar nas unidades de saúde em outros espaços físicos (o NASF não tem um espaço físico próprio). Também não são de livre acesso para atendimento individual ou coletivo e não são porta de entrada para a Atenção Básica. O NASF funciona como o apoio matricial, servindo como uma relação transversal de apoio para as equipes. É um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. Como alguns exemplos, podemos citar: Um paciente que sofre um AVC precisará do auxílio de diversos profissionais da unidade de saúde, como fisioterapeutas, fonoaudiólogo, nesse caso o NASF entrará auxiliando essa equipe da atenção básica; o segundo exemplo seria referente a um caso de um acumulador de animais, essa pessoa precisará do auxílio de profissionais como médico veterinário, psicólogos, assistentes sociais, entre outros, para fazerem esse apoio multiprofissional interdisciplinar em cada caso. Com relação a suas competências, o NASF irá atuar principalmente com discussão de casos, atendimento conjunto (contando com diferentes profissões) ou não, interconsulta, construção conjunta de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos populacionais e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho das equipes, entre outras ações. Modalidades definidas pela portaria 3.124/2012: *nenhum profissional deverá ter carga horária inferior à 20h *É importante ressaltar que antes da portaria 3.124/2012 existia apenas o NASF 1 e NASF 2, com essa portaria foi criado, então, o NASF 3. As profissões que compõem cada um dos NASF são definidas pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prioridade de cada região identificados a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. Entre as profissões que podemos ter compondo os NASFs estão: * Essas profissões foram inclusas como componentes do NASF através da Portaria 2.488/2011 Nesse ano de 2020, o NASF sofreu uma atualização, de acordo com a Nota Técnica nº 3/2020 do Departamento de Saúde da Família. Na prática, significa que os gestores municipais ficam livres para compor essas equipes da forma como quiserem, e não mais seguindo os parâmetros dessa iniciativa (acabando com a obrigatoriedade das Equipes de Saúde da Família apresentarem vinculação ao modelo NASF). Essa atualização também consta que a partir de 2020, o Ministério não realizará mais o credenciamento de NASF-AB, o que significa que o NASF não teve repasse financeiro em 2020 e alterações no repasse nos próximos anos ainda não estão esclarecidas. Provavelmente, nos próximos anos, o NASF será extinto. Estratégias de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) foi criado em 1991 para redução de mortalidade infantil e materna, mas a profissão de Agente Comunitário de Saúde (ACS) foi criada em 2002, pela Lei 10.507, definindo como exercício exclusivo do SUS. O profissional ACS desenvolve ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, tendo como foco as atividades educativas em saúde, em domicílios e coletividades, contribuindo para a ampliação do acesso da população às ações e serviços de saúde, na perspectiva da promoção social e de proteção da cidadania. Ou seja, o ACS participa da equipe de Atenção Básica e ele irá conhecer cada morador daquele território (é esse profissional que irá desenvolver vínculos, ter o contato primário e que passará as informações das famílias). O ACS é muito importante pois ele faz a conexão das pessoas com a equipe de saúde da família. Os requisitos pra ser um ACS são os seguintes: residir na área da comunidade em que irá atuar, haver concluído com aproveitamento curso de qualificação básica para a formação de Agente Comunitário de Saúde e haver concluído o ensino fundamental. Para a implantação da estratégia é preciso os seguintes pré-requisitos: existência de uma Unidade básica de Saúde (UBS) referência, o número de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e de Agentes de Combate a Endemia (ACE) por equipe deve ser definido de acordo com base populacional (por meio da avaliação de critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos de cada região), o cumprimento da carga horária integral de 40 horas semanais deve ser realizada por toda a equipe de ACS e o enfermeiro supervisor e os ACS devem estar cadastrados no SCNES vigente, vinculados à equipe. Cada ACS deverá ter uma microárea sob sua responsabilidade (com número máximo aconselhado de 750 pessoas), o planejamento do processo de trabalho deverá ocorrer a partir das necessidades do território, com priorização para população com maior grau de vulnerabilidade e de risco epidemiológico, deverá visar à integralidade do cuidado no território e, principalmente, cadastrar, preencher e informar os dados através do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica vigente. O ACS e o ACE precisam cumprir com certas competências, podendo elas ser competências conjuntas de ambos, como as competências de: realizar diagnóstico demográfico, social, cultural, ambiental, epidemiológico e sanitário do território em que atuam, contribuindo para o processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe; desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos, em especial aqueles mais prevalentes no território, e de vigilância em saúde, por meio de visitas domiciliares regulares e de ações educativas individuais e coletivas, na UBS, no domicílio e outros espaços da comunidade, incluindo a investigação epidemiológica de casos suspeitos de doenças e agravos junto a outros profissionais da equipe quando necessário; também devem realizar visitas domiciliares com periodicidade estabelecida no planejamento da equipe e conforme as necessidades de saúde da população, para o monitoramento da situação das famílias e indivíduos do território, com especial atenção às pessoas com agravos e condições que necessitem de maior número de visitas domiciliares. O ACS e o ACE também identificam e registram situações que interfiram no curso das doenças ou que tenham importância epidemiológica relacionada aos fatores ambientais, realizando, quando necessário,o bloqueio de transmissão de doenças infecciosas e agravos; orientam a comunidade sobre sintomas, riscos e agentes transmissores de doenças e medidas de prevenção individual e coletiva; identificam casos suspeitos de doenças e agravos, encaminham os usuários para a unidade de saúde de referência, registram e comunicam o fato à autoridadede saúde responsável pelo território; informam e mobilizam a comunidade para o desenvolvimento de medidas simples de manejo ambiental e outras formas de intervenção no ambiente para o controle de vetores; também conhecem o funcionamento das ações e serviços do seu território para orientar as pessoas quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; estimulam a participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde; identificam parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar ações intersetoriais de relevância para a promoção da qualidade de vida da população, como ações e programas de educação, esporte e lazer, assistência social, entre outros; e também exercem outras atribuições que lhes sejam atribuídas por legislação específica da categoria, ou outra normativa instituída pelo gestor federal, municipal ou do Distrito Federal. Há também competências que são exclusivas, quando falamos de ACS, suas competências exclusivas são: trabalhar com adscrição de indivíduos e famílias em base geográfica definida e cadastrar todas as pessoas de sua área, mantendo os dados atualizados no sistema de informação da Atenção Básica vigente, utilizando-os de forma sistemática, com apoio da equipe, para a análise da situação de saúde, considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território, e priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; utilizar instrumentos para a coleta de informações que apoiem no diagnóstico demográfico e sociocultural da comunidade; registrar, para fins de planejamento e acompanhamento das ações de saúde, os dados de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde, garantido, assim, o sigilo ético; desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividades; informar os usuários sobre as datas e horários de consultas e exames agendados; participar dos processos de regulação a partir da Atenção Básica para acompanhamento das necessidades dos usuários no que diz respeito a agendamentos ou desistências de consultas e exames solicitados; e exercer outras atribuições que lhes sejam atribuídas por legislação específica da categoria, ou outra normativa instituída pelo gestor federal, municipal ou do Distrito Federal. Excepcionalmente, se os ACS forem assistidos por profissional de saúde de nível superior, após treinamento específico e fornecimento de equipamentos adequados, o ACS poderá aferir a pressão arterial, inclusive no domicílio; realizar a medição da glicemia capilar, inclusive no domicílio; aferição da temperatura axilar, durante a visita domiciliar; realizar técnicas limpas de curativo, que são realizadas com material limpo, água corrente ou soro fisiológico e cobertura estéril, com uso de coberturas passivas, que somente cobre a ferida; e realizar a orientação e apoio, em domicílio, para a correta administração da medicação do paciente em situação de vulnerabilidade. É fundamental lembrarmos que o ACS é um profissional de extrema importância na atenção básica, isso se deve pelo fato do ACS apresentar canais de comunicação próximos com a população, por conhecer o histórico das famílias e por realizar o monitoramento de cada caso (função que deve ser ainda mais valorizada durante esse tempo da pandemia do COVID-19). Equipes da Atenção Básica para populações específicas Como exemplo das principais equipes da Atenção Básica para populações específicas, podemos citar as equipes de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR), equipes de Saúde da Família Fluvial (eSFF), equipes de Consultório de Rua (eCR) e equipes de Atenção Básica Prisional (eABP). As equipes de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR) atuam na área da Amazônia Legal e Pantaneira e são equipes que desempenham a maior parte de suas funções em Unidades Básicas de Saúde (UBS) construídas/localizadas nas comunidades pertencentes a regiões à beira de rios e lagos cujo acesso se dá por meio fluvial. As eSFR são vinculadas a uma UBS, que pode estar localizada na sede do Município ou em alguma comunidade ribeirinha localizada na área adstrita. Há também as equipes de Saúde da Família Fluvial (eSFF), que são equipes que desempenham suas funções em Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF), responsáveis por comunidades dispersas, ribeirinhas e pertencentes à área adstrita, cujo acesso se dá por meio fluvial.”. Uma eSFR ou eSFF deve ser composta obrigatoriamente por no mínimo um médico, um enfermeiro e um auxiliar ou técnico de enfermagem; e opcionalmente por um Agente Comunitário de Saúde (ACS) ou Agente de Combate às Endemia (ACE), um cirurgião dentista e um técnico de saúde bucal. Pode compor a eSF Ribeirinha, se houver grande dispersão populacional: até 24 ACS; até 12 microscopistas, em regiões endêmicas; até 11 auxiliares ou técnicos de enfermagem; e 1 auxiliar ou técnico de saúde bucal. Essas eSFR poderão, ainda, acrescentar até dois profissionais da área da saúde de nível superior à sua composição, dentre enfermeiros ou outros profissionais previstos nas equipes de Nasf-AB. As eSFR prestarão atendimento à população por, no mínimo, 14 dias mensais, com carga horária equivalente a 8 horas diárias. As eSF Fluvial devem contar também, com 01 técnico de laboratório e/ou bioquímico e com até 2 profissionais da área da saúde de nível superior à sua composição NASF. Para as comunidades distantes da Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência, as eSFR adotarão circuito de deslocamento que garanta o atendimento a todas as comunidades assistidas, ao menos a cada 60 dias. A estrutura dessas equipes é formada por até 4 unidades de apoio (ou satélites), utilizadas como bases das equipes, onde será realizada a atenção de forma descentralizada; e por até 4 embarcações de pequeno porte exclusivas para o deslocamento dos profissionais de saúde das equipes vinculadas ao Estabelecimento de Saúde de Atenção Básica. A equipe de Consultório de Rua (eCR) é um outro exemplo de equipes da Atenção Básica para populações específicas. Essa equipe de saúde tem composição variável e é responsável por articular e prestar atenção integral à saúde de pessoas em situação de rua ou com características análogas em determinado território, em unidade fixa ou móvel, podendo ter as modalidades e respectivos regramentos descritos em portaria específica. A eCR deve realizar suas atividades de forma itinerante, desenvolvendo ações na rua, em instalações específicas, na unidade móvel e também nas instalações de UBS do território onde está atuando. Essa equipe também articula e desenvolve ações em parceria com as demais equipes que atuam na atenção básica do território (como eSF/eAB/UBS e Nasf-AB), e dos Centros de Atenção Psicossocial, da Rede de Urgência/Emergência e dos serviços e instituições componentes do Sistema Único de Assistência Social entre outras instituições públicas e da sociedade civil. A equipe de Consultório de Rua deve ter carga horária mínima semanal de 30 horas e seu horário de funcionamento deverá ser adequado às demandas das pessoas em situação de rua, podendo ocorrer em período diurno ou noturno em todos os dias da semana. Na composição de cada eCR deve haver, preferencialmente, o máximo de dois profissionais da mesma profissão de saúde, seja de nível médio ou superior. Todas as modalidades de eCR poderão agregar agentes comunitários de saúde. E o agente social, quando houver, será considerado equivalente ao profissional de nível médio, ele irá desempenhar atividades que visam garantir a atenção, a defesa e a proteção às pessoas em situação de risco pessoal e social, assim como aproximar as equipes dos valores, modos de vida e cultura das pessoas em situaçãode rua. Mais um exemplo de equipes da Atenção Básica para populações específicas é a equipe de Atenção Básica Prisional (eABP), que é composta por uma equipe multiprofissional que deve estar cadastrada no Sistema Nacional de Estabelecimentos de Saúde vigente, e que deve ter responsabilidade de articular e prestar atenção integral à saúde das pessoas privadas de liberdade. Com o objetivo de garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional ao cuidado integral no SUS, é previsto na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que os serviços de saúde no sistema prisional passam a ser ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde (RAS) do SUS, qualificando também a Atenção Básica no âmbito prisional como porta de entrada do sistema e ordenadora das ações e serviços de saúde, devendo realizar suas atividades nas unidades prisionais ou nas Unidades Básicas de Saúde a que estiverem vinculadas, conforme portaria específica. Processo de trabalho na Atenção Básica O processo de trabalho na Atenção Básica se inicia com o acolhimento e recepção do usuário na Unidade de Saúde. É muito importante o acolhimento estar presente em todas as relações de cuidado, nos encontros entre trabalhadores de saúde e usuários, nos atos de receber e escutar as pessoas, suas necessidades, problematizando e reconhecendo como legítimas, e realizando avaliação de risco e vulnerabilidade das famílias daquele território. É de extrema importância que o acolhimento aconteça durante todo o horário de funcionamento da UBS, na organização dos fluxos de usuários na unidade, no estabelecimento de avaliações de risco e vulnerabilidade, na definição de modelagens de escuta (podendo ser individual, coletiva, entre outras), na gestão das agendas de atendimento individual e nas ofertas de cuidado multidisciplinar. Dentro da unidade, algumas pessoas podem ser melhor designadas para realizar o acolhimento, porém toda a equipe pode realizá-lo. O acolhimento apresenta um mecanismo de ampliação/facilitação do acesso, que define que a equipe deve atender todas as pessoas que chegarem na UBS, conforme sua necessidade, e não apenas determinados grupos populacionais, ou agravos mais prevalentes e/ou fragmentados por ciclo de vida, seguindo assim o princípio da Universalidade do SUS. O acolhimento segue uma postura, atitude e tecnologia do cuidado, que se estabelece nas relações entre as pessoas e os trabalhadores, nos modos de escuta, na maneira de lidar com o não previsto, nos modos de construção de vínculos (através da sensibilidade do trabalhador, posicionamento ético situacional), podendo facilitar a continuidade do cuidado ou facilitando o acesso, sobretudo para aqueles que procuram a UBS fora das consultas ou atividades agendadas. Ressalta-se aqui a escuta qualificada e sem julgamentos por parte dos profissionais da saúde. O acolhimento também serve como dispositivo de organização e reorganização do processo de trabalho em equipe, porque a implantação do acolhimento pode provocar mudanças no modo de organização das equipes, na relação entre trabalhadores e no modo de cuidar. Para acolher a demanda espontânea com equidade e qualidade, não basta distribuir senhas em número limitado, nem é possível encaminhar todas as pessoas ao médico, pois o acolhimento não deve se restringir à triagem clínica. Organizar a partir do acolhimento exige que a equipe reflita sobre o conjunto de ofertas que ela tem apresentado para lidar com as necessidades de saúde da população e território. Para isso é importante que a equipe defina quais profissionais irão receber o usuário que chega na Unidade; como se vai avaliar o risco e vulnerabilidade; os fluxos e protocolos para encaminhamento e como organizar a agenda dos profissionais para o cuidado. A escuta qualificada permite que o profissional da saúde descubra fatores importantes que podem influenciar na queixa principal do usuário, levando a possibilidade de investigação de outros determinantes associados a essa queixa. É importante lembrar que o acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética, não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, mas o compartilhamento de saberes, angústias e invenções. A partir do acolhimento, será feita a classificação de risco. Para essa classificação são usadas cores (dentre elas: vermelho, laranja, amarelo, verde e azul). O vermelho representaria as questões emergenciais, com risco imediato de perder a vida; o laranja representaria uma condição muito urgente, quando há risco imediato de perda de função de órgãos ou membros; o amarelo retrataria uma situação urgente, na qual a condição do paciente pode se agravar sem atendimento; o verde retrataria uma questão pouco urgente, quando há baixo risco de agravo imediato a saúde; e o azul retrata uma situação não urgente, sem risco imediato de agravo a saúde. O acolhimento com classificação de risco é a escuta qualificada e comprometida com a avaliação do potencial de risco, agravo à saúde e grau de sofrimento dos usuários, considerando dimensões de expressão (física, psíquica e social) e gravidade, que possibilita priorizar os atendimentos a eventos agudos (como condições agudas ou agudizações de condições crônicas) conforme a necessidade, a partir de critérios clínicos e de vulnerabilidade disponíveis em diretrizes e protocolos assistenciais definidos no SUS. Caberá à Unidade Básica de Saúde (UBS) prover atendimento adequado à situação e dar suporte até que os usuários sejam acolhidos em outros pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde (RAS). A classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e propor outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada, tem também outros objetivos importantes, como: garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado; informar o paciente o qual não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo provável de espera; promover o trabalho em equipe por meio da avaliação contínua do processo; garantir melhores condições de trabalho para os profissionais pela discussão da ambiência e implantação do cuidado horizontalizado; aumentar a satisfação dos usuários e, principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas de atendimento. Segundo o fluxograma de atendimento na Unidade de Saúde, se o usuário que chega à UBS tem atividade agendada, esse deve ser encaminhado para tal; caso o usuário não tenha atividade agendada, é preciso checar se esse precisa de atendimento específico da rotina da unidade (como coleta de exame, farmácia, vacinas, procedimentos, nebulização), caso o paciente precise de algum desses atendimentos, ele deve ser encaminhado para os mesmos. Uma vez que o usuário não precisa de nenhum atendimento específico da rotina da unidade, é necessário, por parte dos profissionais da unidade, fazer a escuta da demanda do usuário, avaliação do risco biológico e vulnerabilidade social e então fazer a definição da oferta de cuidado com base nas necessidades do usuário. Se o problema/queixa é aguda (menos de uma semana) e é classificada como vermelho, amarelo ou laranja, as ofertas possíveis são: atendimento na hora, período ou dia (pelo médico ou pela enfermagem); permanência em observação, se necessário; e/ou remoção ou encaminhamento para outro serviço (médico/enfermeiro/dentista). Por sua vez, se o problema for crônico (mais de uma semana) ou sem queixas e classificada como verde ou azul, as ofertas possíveis são: orientação sobre as ofertas da unidade; adiantamento das ações previstas em protocolos; inclusão em ações programáticas; agendamento de consultas com enfermagem, médico, dentista, entre outros; e encaminhamento para outros pontos de atenção. Éimportante saber que a classificação de risco não é o mesmo que estratificação de risco. Estratificação de risco é o processo pelo qual se utiliza critérios clínicos, sociais, econômicos, familiares e outros, com base em diretrizes clínicas, para identificar subgrupos de acordo com a complexidade da condição crônica de saúde, com o objetivo de diferenciar o cuidado clínico e os fluxos que cada usuário deve seguir na Rede de Atenção à Saúde para um cuidado integral. A estratificação é fundamental para que a equipe de saúde organize as ações que devem ser oferecidas a cada grupo ou estrato de risco/vulnerabilidade, levando em consideração a necessidade e adesão dos usuários, bem como a racionalidade dos recursos disponíveis nos serviços de saúde. Perceba que a estratificação de risco é usada para pacientes crônicos, enquanto que a classificação de risco é usada sempre que um paciente chega na unidade. Muitas vezes a atenção primária é a porta de entrada para o serviço de urgência. Nesses casos, a atenção primária tem a responsabilidade do primeiro atendimento às urgências e emergências, em ambiente adequado, até a transferência/encaminhamento dos pacientes a outros pontos de atenção, quando necessário, mediante implantação de acolhimento com avaliação de riscos e vulnerabilidades. A atenção primária, dentro do serviço de urgência, serve de base, deve ser resolutiva, coordenar o cuidado e ordenar as redes. Por “ser base” entende-se que a atenção primária deve ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária. Por “ser resolutiva”, a atenção primária deve identificar riscos, necessidades e demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínicas e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. Por “coordenar o cuidado”, se tem que a atenção primária deve elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS, devendo atuar como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer um desses pontos por intermédio de uma relação horizontal, contínua e integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral, devendo, também, se articular as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. E quando se diz que a atenção primária deve “ordenar as redes”, conclui-se que essa deve reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. Quando falamos da Atenção Secundária, que seria a atenção de nível de média complexidade, podemos dizer que é onde estão as principais unidades do serviço de urgência, como a UPA (Unidade de Pronto Atendimento 24h) e o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel às Urgências). Em caso de urgência/emergência, o SAMU é então encaminhado para a UPA, que apresenta uma estrutura mais adequada para lidar com tais situações, se comparada à Unidade Básica de Saúde. Quando se fala sobre ambiência na urgência, se refere ao espaço físico que vai recepcionar os casos e que facilita o cumprimento de todo o fluxograma. A proposta que se é feita para esse ambiente de recepção aos casos é que se divida o espaço físico por cores, sendo o eixo vermelho para o paciente grave, com risco de morte e o eixo Azul para o paciente aparentemente não-grave, mas que necessita ou procura o atendimento de urgência. Há então a necessidade de protocolos de classificação. Os protocolos de classificação são instrumentos que sistematizam a avaliação (que, em muitos casos, é feita informalmente pela enfermagem) e devem ter sempre respaldo médico. Para elaboração de cada protocolo, se deve levar em conta: a capacidade instalada de acordo com o número de atendimentos diários a serem prestados nestas unidades, os horários de pico de atendimento, os fluxos internos, movimentação dos usuários, locais de espera, de consulta, de procedimentos, de reavaliação e caminhos entre eles, a análise da rede e do acesso aos diferentes níveis de complexidade, o tipo de demanda, necessidades dos usuários e o perfil epidemiológico local. A classificação de risco é atividade a ser realizada sempre por um profissional de enfermagem de nível superior e p protocolo deve ser apropriado por toda a equipe que atua na urgência (para enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, psicólogos, assistentes sociais, funcionários administrativos e demais participantes das equipes). Mesmo havendo sugestões por parte de diretrizes do Ministério da Saúde, os protocolos geralmente são definidos por município, uma vez que a realidade local vai ser diferente para cada município. Os protocolos também devem sempre ser relacionados com a ambiência, o fluxo e devem incluir toda a equipe, definindo- se assim a função de cada um. Deve-se haver um planejamento para o aproveitamento dos espaços físicos, de forma que o usuário possa receber informações, orientações e passar pelo acolhimento onde ele se encontrar (por exemplo, em salas de espera). Para a postura e prática de um SUS humanizado é preciso entender que humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva nas práticas de saúde. O acolhimento como postura e prática nas ações de atenção e gestão nas unidades de saúde, a partir da análise dos processos de trabalho, favorece a construção de relação de confiança e compromisso entre as equipes e os serviços. Possibilita também avanços na aliança entre usuários, trabalhadores e gestores da saúde em defesa do SUS como uma política pública essencial para a população brasileira. Contato: fe.argenton@gmail.com