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Prévia do material em texto

2018
FilosoFia
Prof. Gesiel Anacleto 
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Gesiel Anacleto
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
AN532f
 Anacleto, Gesiel
 Filosofia. / Gesiel Anacleto. – Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 215 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0231-0
1.Filosofia. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 100
Impresso por:
III
apresentação
Olá, caro acadêmico! É com grande prazer que apresentamos para 
você a disciplina de Filosofia. Nesta oportunidade, nós gostaríamos de 
destacar a importância da disciplina para a formação humana em suas 
diversas áreas, incluindo na sua formação profissional. 
A filosofia instrumentaliza o ser humano com as ferramentas 
necessárias e imprescindíveis para o ato reflexivo. Tais ferramentas incidirão 
nas suas escolhas e decisões diárias. Assim, o conteúdo deste material tem 
como finalidade básica proporcionar a você um acesso, mesmo que de 
caráter propedêutico, ao universo da filosofia. O material está dividido em 
três unidades.
A Unidade 1 tem como tema de estudo a filosofia: origem e trajetória 
do pensamento filosófico. A unidade tem um caráter mais histórico, pois 
possibilitar que o acadêmico conheça as origens e o desenvolvimento da 
filosofia é um passo essencial para compreender o desenvolvimento do 
pensamento filosófico como um todo e a maneira como a filosofia sofreu 
transformações e chegou ao que conhecemos atualmente.
A Unidade 2 envolverá as principais áreas de estudo da filosofia geral. 
Não será possível realizar, nesta unidade, uma abordagem pormenorizada 
dos principais temas. Contudo, acreditamos que, com as informações 
apresentadas no decorrer da unidade, haverá a compreensão elementar sobre 
as áreas da filosofia, bem como sua importância para o desenvolvimento do 
conhecimento humano.
A Unidade 3 irá tratar da filosofia para hoje. Mesmo em um mundo 
em que os avanços tecnológicos têm tido espaço considerável nos meios 
acadêmicos, culturais, sociais e políticos, acreditamos que a filosofia ainda 
possui um papel importante em meio a todas as mudanças. 
Sua importância se deve ao fato de possibilitar uma reflexão e a 
problematização sobre tudo aquilo que acontece em nossa volta. Faremos 
uma apresentação sucinta de cada temática e a sugestão de bibliografias 
complementares e filmes para quem deseja aprofundar um pouco mais seus 
conhecimentos sobre os assuntos abordados aqui. 
Nosso desejo sincero é que todo o conhecimento possa servir de 
grande proveito para sua jornada acadêmica e formação profissional. Que 
cada tema abordado possa trazer mais luz e entendimento sobre o seu papel 
como ser humano e como profissional em um mundo repleto de desafios. 
Prof. Gesiel Anacleto
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO .. 1
TÓPICO 1 – A ORIGEM DA FILOSOFIA .......................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O PENSAMENTO MÍTICO ................................................................................................................ 3
3 O QUE É FILOSOFIA? ......................................................................................................................... 8
4 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA ............................................................................................. 12
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 15
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 18
TÓPICO 2 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E 
CLÁSSICA ................................................................................................................................................. 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 A FILOSOFIA ANTIGA ..................................................................................................................... 20
2.1 O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO ............................................................. 20
2.1.1 Escola jônica ............................................................................................................................ 20
2.1.1.1 Tales de Mileto ..................................................................................................................... 21
2.1.1.2 Anaximandro de Mileto ...................................................................................................... 22
2.1.1.3 Anaxímenes de Mileto ........................................................................................................ 23
2.1.1.4 Heráclito de Éfeso ................................................................................................................ 24
2.1.2 Escola pitagórica .................................................................................................................... 25
2.1.3 Escola de Eleia ......................................................................................................................... 26
2.1.4 Escola atomista ....................................................................................................................... 28
2.2 PERÍODO ANTROPOLÓGICO ..................................................................................................... 28
2.3 OS SOFISTAS E A ARTE DE ARGUMENTAR ............................................................................ 29
2.4 PERÍODO SISTEMÁTICO .............................................................................................................. 31
2.4.1 Sócrates ....................................................................................................................................32
2.4.2 Platão ....................................................................................................................................... 34
2.4.3 Aristóteles ............................................................................................................................... 38
2.5 PERÍODO HELÊNICO .................................................................................................................... 40
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ............................................................................................................ 42
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ............................................................................................................ 44
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 47
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49
TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL ......... 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 PATRÍSTICA ......................................................................................................................................... 52
3 ESCOLÁSTICA ..................................................................................................................................... 56
3.1 SÃO TOMÁS E A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA ......................................................................... 58
3.2 AS CINCO VIAS QUE LEVAM A DEUS ...................................................................................... 59
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ............................................................................................................ 62
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ............................................................................................................ 63
sumário
VIII
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 64
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65
TÓPICO 4 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À 
CONTEMPORÂNEA .............................................................................................................................. 67
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 67
2 FILOSOFIA MODERNA .................................................................................................................... 68
2.1 O ILUMINISMO ............................................................................................................................... 69
2.2 O RACIONALISMO ........................................................................................................................ 72
2.3 EMPIRISMO .................................................................................................................................... 74
3 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA .................................................................................................. 76
3.1 POSITIVISMO ................................................................................................................................. 77
3.2 IDEALISMO ..................................................................................................................................... 79
3.3 MARXISMO ..................................................................................................................................... 81
3.4 EXISTENCIALISMO ....................................................................................................................... 82
3.5 FENOMENOLOGIA ....................................................................................................................... 84
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 86
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 88
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90
UNIDADE 2 – PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL ............................. 91
TÓPICO 1 – LÓGICA .............................................................................................................................. 93
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93
2 O QUE É LÓGICA?............................................................................................................................... 93
3 DIVISÃO DA LÓGICA ARISTOTÉLICA OU CLÁSSICA .......................................................... 95
3.1 LÓGICA FORMAL OU MENOR ................................................................................................. 95
3.2 LÓGICA MATERIAL OU MAIOR ................................................................................................ 96
4 SILOGISMO: O OBJETO DE ESTUDO DA LÓGICA .................................................................. 96
4.1 MÉTODO DEDUTIVO ..................................................................................................................101
4.2 MÉTODO INDUTIVO ...................................................................................................................102
4.2.1 Analogia .................................................................................................................................104
5 FALÁCIAS ............................................................................................................................................105
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................107
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................110
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111
TÓPICO 2 – EPISTEMOLOGIA ........................................................................................................113
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113
2 O QUE É EPISTEMOLOGIA? ..........................................................................................................113
3 O QUE É CONHECIMENTO? ..........................................................................................................115
3.1 PRIMEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: CRENÇA .........................................115
3.2 SEGUNDO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: VERDADE ......................................116
3.3 TERCEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: JUSTIFICAÇÃO .............................119
4 TIPOS DE CONHECIMENTO .........................................................................................................120
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................127AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128
TÓPICO 3 – ÉTICA ................................................................................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 O QUE É ÉTICA? ................................................................................................................................130
IX
3 TEORIAS ÉTICAS ..............................................................................................................................131
3.1 UTILITARISMO ............................................................................................................................132
3.2 ÉTICA DEONTOLÓGICA OU DO DEVER ...............................................................................134
3.3 ÉTICA DAS VIRTUDES ...............................................................................................................136
4 BIOÉTICA ...........................................................................................................................................137
5 ÉTICA E TÉCNICA ............................................................................................................................139
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................146
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147
TÓPICO 4 – ESTÉTICA ........................................................................................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149
2 O QUE É ESTÉTICA? .........................................................................................................................149
3 OBJETOS DE ESTUDO DA ESTÉTICA ........................................................................................150
3.1 O BELO E O FEIO ..........................................................................................................................150
3.2 A ARTE ............................................................................................................................................152
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................153
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................154
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
UNIDADE 3 – FILOSOFIA PARA HOJE ..........................................................................................157
TÓPICO 1 – FILOSOFIA POLÍTICA .................................................................................................159
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159
2 A POLÍTICA NA GRÉCIA ................................................................................................................160
3 PLATÃO ................................................................................................................................................163
4 ARISTÓTELES ....................................................................................................................................164
5 O ESTADO MODERNO ....................................................................................................................165
6 MAQUIAVEL: O PRÍNCIPE .............................................................................................................166
7 HOBBES: O LEVIATÃ .......................................................................................................................168
8 MONTESQUIEU: OS TRÊS PODERES .........................................................................................170
9 REGIMES POLÍTICOS ......................................................................................................................171
9.1 REGIME DEMOCRÁTICO ...........................................................................................................171
9.2 REGIME TOTALITÁRIO ..............................................................................................................174
10 FORMAS DE GOVERNO ...............................................................................................................176
10.1 MONARQUIA ..............................................................................................................................176
10.2 REPÚBLICA ..................................................................................................................................176
10.2.1 Parlamentarismo .................................................................................................................176
10.2.2 Presidencialismo .................................................................................................................177
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................178
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................179
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................181
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182
TÓPICO 2 – FILOSOFIA DA MENTE ...............................................................................................183
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183
2 O QUE É FILOSOFIA DA MENTE? ................................................................................................184
3 O PROBLEMA MENTE-CORPO ....................................................................................................185
4 DUALISMO .........................................................................................................................................188
4.1 DUALISMO DA SUBSTÂNCIA ..................................................................................................188
4.2 DUALISMO DE ATRIBUTO OU PROPRIEDADE ...................................................................189
5 MATERIALISMO OU FISICALISMO ...........................................................................................190
X
6 A CONSCIÊNCIA ..............................................................................................................................190
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................193
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................195
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196
TÓPICO 3 – FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO .....................................................................................1971 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197
2 TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO OU EDUCAÇÃO CRÍTICA? ................................197
3 PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO ..................................................................199
3.1 EPISTEMOLOGIA .........................................................................................................................200
3.2 ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ................................................................................................200
3.3 AXIOLOGIA ...................................................................................................................................201
4 FILOSOFIA E A FORMAÇÃO HUMANA NA ESCOLA ...........................................................202
5 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR .....................................................202
5.1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS ..............................................................................203
5.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS .................................................................203
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................206
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................208
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................209
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................211
1
UNIDADE 1
FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA 
DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• descrever a origem e o desenvolvimento da filosofia desde o mito até a 
razão;
• reconhecer a importância do pensamento grego para o desenvolvimento 
da filosofia;
• conhecer os principais períodos da filosofia;
• avaliar o papel da filosofia no decorrer da história humana;
• analisar o impacto do pensamento filosófico para o desenvolvimento da 
humanidade;
• conhecer as principais correntes filosóficas.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, no final de cada um deles, 
você encontrará atividades que o ajudarão a ampliar os conhecimentos 
adquiridos.
TÓPICO 1 – A ORIGEM DA FILOSOFIA 
TÓPICO 2 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA 
ANTIGA E CLÁSSICA
TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E 
MEDIEVAL
TÓPICO 4 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA 
MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A ORIGEM DA FILOSOFIA
1 INTRODUÇÃO
Este tópico terá um caráter mais histórico, pois vamos apresentar o contexto 
cultural, social e político que culminou com o surgimento da filosofia. É necessário 
para compreendermos o contexto que motivou os primeiros pensadores a buscarem 
respostas para seus questionamentos, que não fossem de cunho mítico ou religioso. 
Determinado conhecimento do contexto possibilita que você, acadêmico, consiga 
compreender aspectos da origem e o desenvolvimento da filosofia.
Inicialmente, vamos discorrer sobre o pensamento mítico e a evolução para 
uma postura reflexiva, que buscava na razão o fundamento para responder a muitos 
questionamentos. Embora o pensamento mítico tenha servido aos anseios do ser 
humano por um longo tempo, o ser humano percebeu que respostas baseadas 
apenas em afirmações advindas da imaginação já não eram suficientes. Assim, o 
ser humano caminhou no sentido de encontrar explicações em sua própria razão. 
Em um segundo momento, buscaremos responder à seguinte pergunta: 
o que é filosofia? Nossa proposta é apresentar algumas respostas que foram 
elaboradas por importantes pensadores, com o intuito de conceituar da melhor 
maneira o que se entende por filosofia. 
 No terceiro momento deste tópico, vamos falar um pouco sobre a filosofia 
na Grécia Antiga. Vamos discorrer sobre os principais períodos, pois será possível 
perceber como os contextos político e cultural contribuíram para a passagem do 
pensamento mítico para o pensamento filosófico. Assim, convidamos você a dar 
início a uma jornada pelo universo da filosofia.
2 O PENSAMENTO MÍTICO
Uma das primeiras formas que o ser humano encontrou para explicar a 
origem do Universo e das demais coisas, sejam elas físicas ou não, foi por meio do 
mito. Assim, é fundamental que compreendamos o que é o mito e de que maneira 
o conceito é entendido ao longo do tempo. 
Há certa confusão quando se fala do mito na antiguidade, pois muitos 
imaginam que seja uma maneira não convencional para explicar os fenômenos 
naturais e a própria existência. Todavia, vale ressaltar que o mito fazia parte do 
cotidiano das pessoas, inclusive “durante muito tempo, os primeiros filósofos 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
4
gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o 
conhecimento racional que caracteriza a filosofia” (COTRIM, 2000, p. 73). Assim, 
o mito não é uma narrativa destituída de racionalidade, muito pelo contrário, 
a narrativa mítica possuía uma lógica que pretendia responder às questões 
existenciais. 
O pensamento mítico, portanto, consiste na maneira que o ser humano 
encontrou para explicar aspectos da sua realidade. Explicações míticas podem 
ser encontrados em narrativas sobre a origem do mundo, sobre os fenômenos 
naturais, sobre as origens de um povo, suas crenças, tradições e seus valores 
básicos comuns ou não em cotidiano. 
O termo grego mythos significa um tipo de discurso fictício ou imaginário. 
O discurso imaginário não é o mesmo que uma mentira, embora em alguns 
momentos o mito possa ter sido um sinônimo de mentira. Entretanto, tem sua 
origem na capacidade humana de raciocinar e buscar uma explicação diante 
daquilo que causa espanto. Assim, o mito é concebido como uma narrativa que 
pretende dar uma direção para aquilo que parece confuso e fora de lugar.
O mito é, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, é uma 
forma espontânea de o homem situar-se no mundo. E as raízes do 
mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na 
realidade vivida, portanto pré-reflexiva, das emoções e da afetividade 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 55).
Quando nos referimos ao mito como ‘uma intuição compreensiva 
da realidade’, estamos dizendo que o mito é a percepção da realidade, 
independentemente de um raciocínio puramente lógico ou de uma análise 
aprofundada dos fenômenos. Diz respeito a uma forma de narrativa direta a 
partir da percepção imediata da realidade que nos cerca, pois a narrativa mítica é 
pré-reflexiva, ou seja, antecede o pensamento reflexivo em que os filósofos gregos 
começaram a questionar seus próprios mitos. 
NOTA
Pensamento reflexivo é “a  espécie  de pensamento que  consiste  em 
examinar mentalmente o assunto e dar a ele consideração séria e consecutiva”.
 
DEWEY, John. Como pensamos. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1959, p. 13.
É importante ressaltar que "o mito não é exclusividade de povos primitivos, 
nem de civilizações nascentes, mas existe em todos os tempos e culturas como 
componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade" 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 54).
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
5
 O mito, nas civilizações atuais, ganhou outro viés, seja o viés daquilo 
que é inatingível, ou de uma ideia, mesmo que absurda, mas que atrai o interesse 
das pessoas. A mitologia é um nicho muito bem explorado pela indústria do 
entretenimento, pois procura corresponder a muitos dos anseios humanos, tais 
como o ideal de força,beleza, justiça etc. 
Pelo fato de a filosofia ter nascido na Grécia Antiga, o conhecimento do 
universo mítico dos gregos se tornou mais comum para nós, embora outros povos 
também possuam seus mitos. Ainda que seja também uma maneira de explicar 
a realidade, seu papel fundamental é “acomodar e tranquilizar o homem em um 
mundo assustador” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 56). 
A falta de conhecimento acerca da natureza e seu funcionamento fazia 
com que os homens temessem. O temor assombrava o ser humano e lhe causava 
inquietude. No sentido de se amparar em algo, que mesmo não vendo ou tocando, 
construíram seu sistema de crenças do mundo real a partir do sobrenatural. Assim, 
o apego ao mito era uma maneira de explicar a realidade e trazer tranquilidade 
diante do desconhecido. De acordo com Aranha e Martins (2005, p. 125):
O ser humano, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa 
a emprestar-lhes qualidades emocionais. As coisas não são mais matéria 
morta nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao contrário, 
estão sempre impregnados de qualidades e são boas ou más, amigas 
ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou 
ameaçadoras e repelentes. Por isso, o ser humano se move dentro de um 
mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça 
abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou grupo seja 
protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz. 
A narrativa mítica concebe as forças da natureza, que podemos chamar de 
identidade ou pessoalidade, pois Poseidon era o senhor dos mares, Apolo era o deus 
do sol e das artes, Afrodite a deusa do amor, do sexo e da beleza, e assim por diante. 
POSEIDON
Poseidon, também conhecido como Netuno para os romanos, 
era o grande rei dos mares, um homem muito forte, com barbas e sempre 
representado com seu tridente na mão e às vezes, com um golfinho. Era filho 
de Cronos, deus do tempo e da deusa da fertilidade Reia. Sua casa era no 
fundo do mar e com seu tridente causava maremotos, tremores, além de fazer 
brotar água do solo.
Poseidon era casado com Anfitrite. Quando se conheceram, Poseidon 
se apaixonou por ela, mas Anfitrite o recusou e Poseidon a obrigou a casar-se 
com ele, porém ela, para não casar, se escondeu nas profundezas do oceano, só 
sua mãe sabia onde ela estava. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
6
Contudo, com o tempo, Anfitrite mudou de ideia e foi atrás de Poseidon, 
com quem se casou e ficou sendo a rainha do oceano. Com ela, teve um filho 
chamado Tritão, que aterrorizava os marinheiros com um barulho espantoso 
que ele fazia quando soprava o búzio, um instrumento, mas também com ele 
fazia sons maravilhosos. 
Entretanto, na sua vida, Poseidon teve muitos outros amores e fora 
de seu casamento teve mais filhos que ficaram muito conhecidos por sua 
crueldade: Ciclope e o gigante Orion. Poseidon disputou com Atena, a deusa 
da sabedoria, para ser a deidade da cidade hoje conhecida como Atenas, porém 
Atena ganhou a competição e a cidade ficou conhecida com o seu nome.
Na história da Guerra de Troia, Poseidon e Apolo ajudaram o rei na 
construção dos muros daquela cidade e a eles foi prometida uma recompensa, 
porém tinham sidos enganados, pois o rei não os recompensou. Foi então que 
Poseidon muito enfurecido se vingou de Troia e enviou um monstro do mar 
que saqueou toda a terra de Troia e durante a guerra, ajudou os gregos.
Poseidon é também o pai de Pégaso, um cavalo alado gerado por 
Medusa. Sempre esteve muito ligado aos cavalos e foi o primeiro a colocá-
los na região. Outro caso de amor muito conhecido de Poseidon foi com sua 
irmã Demeter. Ele a perseguiu e ela, para evitá-lo, transformou-se em égua. 
Contudo, ele se transformou em um garanhão e com ela teve um encantador 
cavalo, Arion. Poseidon era um deus muito importante e celebravam em sua 
honra os jogos místicos, constituídos de competições atléticas e também de 
músicas e poesias, realizados de dois em dois anos.
FONTE: LIMA, Fernanda. Poseidon. 2018. <https://www.infoescola.com/mitologia-grega/
poseidon/>. Acesso em: 24 fev. 2018. 
Qual é o fundamento do mito? Como justificar o mito? O mito não é concebido 
como algo a ser questionado cientificamente. O mito apela para o sobrenatural, ao 
mágico e sagrado para explicar a realidade. Assim, o mito é uma narrativa que não 
está preocupada com a possibilidade de comprovação científica ou empírica.
A concepção mítica se dá através das epopeias e da Teogonia. As epopeias 
consistem em um tipo de poema narrativo extenso, em que são contados os 
fatos históricos de um povo, seus feitos heroicos, as aventuras, as guerras, fatos 
históricos de um indivíduo ou mais, mesclando fatos reais, lendas ou mitos. 
De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 63), “os mitos eram recolhidos 
pela tradição e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes 
que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça 
pública”. Assim, como não eram textos escritos, também não se sabia quem eram 
os autores de tais poemas. Assim, o poema não era de domínio particular, mas 
coletivo, e cada poeta poderia recitar as epopeias por onde passava, como em 
praças públicas, no sentido de exaltar os feitos de seu povo e seus heróis. 
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
7
Outro aspecto importante das epopeias foi seu caráter didático na vida 
do povo grego, pois os poemas “descrevem o período da civilização micênica e 
transmitem os valores da cultura por meio das histórias dos deuses e antepassados, 
expressando uma determinada concepção de vida. Por isso, desde cedo as crianças 
decoravam passagens dos poemas de Homero” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 
63). A cultura, os valores e os feitos dos povos e seus heróis vão se perpetuando 
através de uma tradição oral que possibilita o desenvolvimento cultural e a 
solidificação da cultura. 
As epopeias tentam mostrar que há uma relação entre os deuses e os 
homens, pois “as ações heroicas relatadas nas epopeias mostram a constante 
intervenção dos deuses, ora para auxiliar um protegido seu, ora para perseguir 
um inimigo” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 63). 
As ações dos heróis são guiadas pelos deuses, pois o herói depende dos 
deuses, visto que as forças ocultas estão muito além da capacidade humana de 
dominá-las. Na Odisseia de Homero, a relação de amizade ou inimizade entre os 
heróis e os deuses é muito comum. Um exemplo é quando Telêmaco, filho de Ulisses, 
vai à ágora para convencer os Itacenses sobre seu propósito de procurar seu pai. 
Diz o poema que quando Telêmaco se dirigia à ágora (praça principal 
das antigas cidades gregas), a deusa “Atena derramava divinal graça sobre ele, 
sua entrada atraiu os olhares de todos e os anciãos cederam-lhe lugar, para que 
tomasse assento na cadeira de seu pai” (HOMERO, 2003, p. 28). 
Observe que o herói é agraciado pelos deuses para que se sobressaísse 
entre os demais. Se por um lado temos a deusa Atena aliada de Telêmaco, por 
outro lado seu pai Ulisses sofre em decorrência da ira de Posseidon, o deus dos 
mares, pois Ulisses havia ferido um de seus ciclopes preferidos. 
Hesíodo, outro importante poeta grego, que viveu por volta do século 
VIII a.C., escreveu a Teogonia, que também é chamada de Genealogia dos deuses. Na 
obra, o poeta:
Relata as origens do mundo e dos deuses, e as forças que surgem não 
são pura natureza, mas sim as próprias divindades: Gaia é a Terra, 
Urano é o Céu, Cronos é o Tempo, surgindo ora por segregação, 
ora pela intervenção de Eros, princípio que aproxima os opostos 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 63)
A Teogonia trata da progressão que o universo passou até chegar ao que 
conhecemos hoje. É uma narrativa sobre o surgimento do mundo a partir dos 
primeiros deuses, seus relacionamentos amorosos e suas terríveis lutas.Assim, 
neste mito, as divindades representam fenômenos ou aspectos básicos da 
natureza humana. 
Expressa as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição do universo, 
pois esta obra, juntamente com os poemas de Homero, tinha também uma função 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
8
didática, pois era usada como uma cartilha na qual o povo grego aprendia a ler, a 
pensar, refletir e compreender o mundo e reverenciar os deuses. 
O mito tem muito a nos ensinar ainda nos dias de hoje, pois aparecem 
na imagem de novos heróis, tais como atores, atrizes, jogadores de futebol, 
empresários bem-sucedidos, alguns líderes políticos, que se tornam modelos a 
serem seguidos. 
Suas imagens são reforçadas pela mídia, pelo cinema e até mesmo pelas 
artes. Esses mitos vêm carregados de valores, ideologias, interesses e cabe a cada 
indivíduo refletir sobre os mitos atuais e filtrar de maneira reflexiva sobre a 
mensagem que tais mitos passam para a nossa sociedade. 
DICAS
Sugestão de filme: A ODISSEIA
O filme é dirigido por Andrey Konchalovskiy. É baseado no poema 
homônimo de Homero, retrata as aventuras de Ulisses (ou Odisseu) 
após a Guerra de Troia. Depois de desafiar o deus dos mares Poseidon, 
Ulisses se vê obrigado a vagar por terras e mares, se vendo afastado de 
sua família. A partir de então, vive uma série de aventuras, enfrentando 
deuses e diversos monstros para poder voltar para sua casa.
3 O QUE É FILOSOFIA?
É comum que algumas pessoas tenham certa resistência quanto ao estudo 
da filosofia. Determinada resistência se deve a vários fatores, entre eles podemos 
destacar a necessidade de colocar suas certezas à prova, ou seja, duvidar de suas 
crenças e certezas mais profundas, questionar e buscar uma razão para a ordem 
das coisas em nossa volta. 
“A atividade filosófica enquanto abordagem racional surge no contexto 
cultural grego, expressando-se inicialmente como tentativa de explicar a realidade 
do mundo sem recorrer à mitologia e à religião” (SEVERINO, 1994, p. 56). 
Entretanto, talvez você esteja se perguntando: por que preciso aprender filosofia? 
Antes de qualquer coisa, observe a figura a seguir e reflita sobre a mesma questão 
que incomoda o pensador.
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
9
FIGURA 1 – ATO DE PENSAR
FONTE: <http://editoraunesp.com.br/blog/os-adolescentes-e-a-filosofia-06-08-2013-12-49>. Acesso 
em: 22 fev. 2018. 
Qual é a conclusão a que você chegou ao observar a figura? Qual é o 
significado do indivíduo estar acorrentado junto a um peso? A filosofia tem, por 
finalidade, despertar no ser humano o estado de comodismo, cumpre o papel 
de desvencilhar o ser humano das amarras ideológicas, libertá-lo das ilusões e 
manipulações que embotam a razão e escravizam a consciência humana. 
É o instrumento da reflexão crítica, que permite ao ser humano explorar 
sua capacidade de pensar, questionar sua realidade e construir sua própria 
história com autonomia e liberdade. A seguir, leia um breve texto do filósofo 
alemão Hegel sobre o papel da filosofia:
A tarefa da filosofia é entender o que é, pois o que é a razão. No que 
diz respeito ao indivíduo, cada um é, por outra parte, filho de seu tempo; do 
mesmo modo, a filosofia é seu tempo apreendido em pensamentos. 
É igualmente insensato crer que uma filosofia pode ir além de seu tempo 
presente como que um indivíduo que possa saltar por cima de seu tempo. Mas 
se sua teoria vai na realidade além e constrói um mundo tal como deve ser, 
este existirá por certo, mas somente em sua opinião, elemento maleável no que 
se pode plasmar qualquer coisa [...].
Para agregar algo a mais sobre a pretensão de ensinar como deve ser 
o mundo, assinalemos, por outra parte, que a filosofia chega sempre tarde. 
Enquanto pensamento do mundo, aparece no tempo só depois que a realidade 
consumou o seu processo de formação e já se acha pronta.
 
O que ensina o conceito e mostra com a mesma necessidade a história: só 
na maturidade da realidade aparece o ideal frente ao real, e erige a este mesmo 
mundo, apreendido em sua substância, na figura de um reino intelectual. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
10
Quando a filosofia pinta com seus tons cinzentos é que já envelheceu 
uma figura da vida que suas penumbras não podem rejuvenescer, mas somente 
conhecer; a coruja de Minerva alça seu voo no acaso.
FONTE: HEGEL, G. W. F. Princípios de la filosofia del derecho. In: COTRIM, Gilberto. Fundamentos 
da Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 
A segunda pergunta, não menos importante que a primeira, a que devemos 
responder, antes de aprofundar qualquer estudo sobre a filosofia é: “O que é 
filosofia?”. Parece ser, em um primeiro momento, uma questão muito simples de 
responder. Entretanto, ao avançarmos no estudo do pensamento humano, vamos 
perceber que a filosofia abarca uma quantidade muito ampla de definições.
Como vimos anteriormente, o pensamento mítico predominava entre os 
antigos gregos. A passagem da consciência mítica para a consciência racional 
inaugura uma nova era no pensamento humano. Na transição, aparecem os 
primeiros sábios (gr. Sophos). O termo filosofia (philos+sophia), que significa 
“amor à sabedoria”, foi usado pela primeira vez por Pitágoras, que também era 
matemático e viveu durante o século VI a.C.
A filosofia, como uma área do saber, nasce entre o século VII e VI a.C. 
“Surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, 
entretanto, romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado” 
(COTRIM, 2000, p. 73). 
O rompimento gradativo da filosofia com o saber mítico significa que o 
saber mítico possuía uma lógica e uma racionalidade, embora a filosofia possua 
um método de estudo que vai muito além de um saber alegórico (mito), pois 
se assenta na argumentação racional. No entanto, é importante atentar para a 
maneira como alguns filósofos conceituaram o termo filosofia. 
Para Platão, a “filosofia é o uso do saber em proveito do homem” 
(ABBAGNANO, 2012, p. 514). Há uma semente do antropocentrismo, sobretudo 
de humanismo, pois Platão coloca o ser humano no centro do debate. Na visão de 
Platão, as coisas só fazem sentido se forem proveitosas para o ser humano. 
Assim, a filosofia perguntará qual é a utilidade das coisas para o bem do 
homem. Não adiantam avanços tecnológicos, produção de riquezas, capacidade 
de criar, construir etc., caso nada disso promova o bem para as pessoas. A filosofia 
aponta para o fato de que aquilo que é feito deve ser feito para melhorar a vida 
dos seres humanos. 
Segundo o filósofo, físico e matemático francês René Descartes apud 
Abbagnano (2012, p. 514), filosofia é uma palavra que:
 
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
11
Significa o estudo da sabedoria, e por sabedoria não se entende somente 
a prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as 
coisas que o homem pode conhecer, tanto para a conduta de sua vida, 
quanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes.
Se observarmos, há uma semelhança com a concepção platônica. No 
fragmento, vemos claramente uma concepção humanística da finalidade da 
filosofia pelo fato de Descartes ter vivido no início da revolução científica, sendo 
inclusive chamado de fundador da filosofia moderna. 
Sua concepção mostra claramente o espírito da sua época, sendo o homem 
capaz de construir sua própria história e intervir nos destinos do mundo. Assim, 
a filosofia pode contribuir para o bom uso dos conhecimentos científicos, pois não 
se restringe a elaborar princípios de como viver bem no aspecto moral, mas reflete 
sobre qual a finalidade última das ações humanas e da produção de conhecimento.
Kant apud Abbagnano (2012, p. 514), por sua vez, define a filosofia como a 
“ciência da relação do conhecimentoà finalidade essencial da razão humana”. Na 
filosofia kantiana, a finalidade essencial da razão humana é a felicidade universal. 
Assim, a razão em Kant não possui apenas ‘ideias’, mas tem seus ‘ideais’, e o 
ideal da razão é a felicidade universal. Desta forma, a filosofia estabelece a relação 
entre todas as coisas com sabedoria através da ciência (ABBAGNANO, 2012). 
Ainda que o trabalho filosófico seja essencialmente teórico, é necessário 
ressaltar que “isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem 
que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com determinado 
conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez 
por todas” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 72).
 A filosofia é uma área que está em constante mudança, pois a reflexão 
filosófica não está em busca de respostas que sejam absolutas e dogmáticas, que 
não podem ser questionadas, pois ela não se apega às certezas das doutrinas, 
nem tão pouco à impossibilidade do conhecimento. Assim, a filosofia não é nem 
dogmática e nem cética, ela é um fluir constante em busca de respostas para os 
mais diversos dilemas e problemas relacionados à existência humana. 
Embora no início a filosofia e a ciência estivessem estreitamente ligadas, 
com o passar dos anos foram sendo feitas distinções entre elas, pois de acordo 
com Aranha e Martins (1993, p. 129), “no pensamento grego, ciência e filosofia 
achavam-se ainda vinculadas, e só vieram a se separar na Idade Moderna, 
buscando cada uma delas seu próprio caminho, ou seja, seu método”. Assim, a 
filosofia se distingue da ciência, pois a filosofia se ocupa em buscar a verdade nos 
mais diversos aspectos, pois sua visão se volta para o conjunto de coisas. 
O campo da filosofia é de certo modo indeterminado, pois é um campo 
muito vasto devido ao fato de que a filosofia estuda os problemas fundamentais 
associados à existência, aos valores morais e estéticos, ao conhecimento, à mente, 
à verdade e à linguagem. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
12
A ciência, por outro lado, consiste na aplicação de teorias que já foram 
testadas, possui um caráter empírico e sistemático, segue um método que consiste 
na observação, hipótese, experimentação e conclusão. “A filosofia não faz juízos 
de realidade, como a ciência, mas juízos de valor” (ARANHA; MARTINS, 1993, 
p. 73). Assim, a filosofia busca um significado, um sentido último para as ações, 
pois ao perceber a realidade, o filósofo busca dar sentido à experiência. 
4 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA 
O pensamento filosófico-científico surge na Grécia, por volta do século VI 
a.C. É importante frisar que a Grécia passa por quatro grandes períodos: Período 
Homérico; Período da Grécia Arcaica; Período Clássico e Período Helenístico. 
Observe que estamos falando dos quatro períodos da história da Grécia antiga e 
não os períodos da filosofia. 
Período Homérico – Do século XI ao VIII a.C. – é assim denominado 
porque neste período teria vivido Homero, o grande poeta grego, que de acordo 
com os historiadores, é o autor dos poemas épicos Ilíada e Odisseia. O período 
consiste em uma fase de transição. 
Há a invasão dos povos dórios, povos de origem indo-europeia, que 
migraram para a Península Balcânica e juntamente com os jônios, eólios e aqueus, 
participaram da formação de várias cidades-estados da Grécia Antiga. 
A invasão dos dórios desencadeou um grande deslocamento de grupos 
de pessoas da Grécia Continental para a Ásia Menor e as ilhas do Mar Egeu. 
Sobre determinado acontecimento, Moraes (1993, p. 53) aponta que “com a 
invasão dórica, ocorreu um retrocesso da produção material e cultural da região. 
O ativo comércio desapareceu e as cidades foram abandonadas. Houve um 
retorno ao campo e à vida rural; a sociedade voltou a se organizar em padrões 
mais simples”. O período é considerado como pré-homérico, pois é marcado por 
uma nova maneira como a sociedade grega se organizou. 
Assim, é importante pensar sobre a maneira como a sociedade grega do 
período homérico se organizou para superar o processo de transição que marca o 
período homérico. De acordo com Moraes (1993, p. 53):
A sociedade grega, neste período homérico, passou a ser organizar 
em génos (ou gens, espécie de clãs), por isso a chamamos de sociedade 
gentílica. A génos era uma comunidade formada por uma grande família, 
chefiada pelo patriarca. Esses agrupamentos sociais conseguiam 
assegurar sua sobrevivência mediante uma atividade coletiva, ou seja, 
o trabalho, os bens e a produção eram propriedade de todos. 
A fase marcou a substituição da cultura micênica pela gentílica (dos génos). 
A nova organização gerou uma série de problemas, pois a sociedade gentílica 
foi desaparecendo gradativamente, pois com o aumento populacional e a baixa 
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
13
produção coletiva, não foi capaz de produzir alimento suficiente para o sustento 
das pessoas, gerando um quadro de fome e pobreza (MORAES, 1993). 
O resultado imediato da situação foi o fortalecimento de algumas famílias 
que se tornaram proprietárias das melhores terras e formaram uma pequena 
aristocracia comandada pelo Pater, o chefe e autoridade máxima das organizações, 
que possuía autoridade política, militar e religiosa. Assim, os génos eram 
sociedades patriarcais, cujos membros compartilhavam laços consanguíneos.
Período da Grécia Arcaica – Do século VIII ao V a.C. – se no período 
Homérico se deram início às grandes transformações ocorridas na Grécia, no 
período arcaico ocorreu a fase final de uma nova transformação social e cultural. 
Os gregos passaram a ser governados por uma aristocracia. É o período em que 
surgem os primeiros legisladores gregos, pois havia se desenvolvido um ambiente 
em que foram dados os primeiros passos em direção à construção de uma 
democracia grega. Ainda, a escrita grega foi revitalizada e novas organizações 
políticas e sociais se adaptaram. 
 
Período Clássico – Do século V ao IV a.C. – é o período da história 
grega tido como o mais glorioso. Ainda que tenha sido um período de intensos 
conflitos externos e internos, foi marcado por um elevado crescimento econômico 
e cultural, tendo como principal centro a cidade de Atenas. 
De acordo com Moraes (1993, p. 60), “o período conhecido como Grécia 
Clássica corresponde ao apogeu da cultura grega (principalmente de Atenas), 
interrompido pela conquista macedônica, mas abrange também acontecimentos 
como as guerras externas (contra os persas) e internas (Atenas e Esparta)”. 
O apogeu de Atenas sobre as demais cidades gregas se deu em grande 
medida ao governo de Péricles entre os anos 461-431 a.C., pois “as reformas 
políticas de Péricles ampliaram a democracia ateniense, permitindo maior 
participação dos cidadãos mais pobres nas assembleias e nas decisões do governo” 
(MORAES, 1993, p. 62). 
A ampliação da democracia, o investimento em obras públicas, o 
embelezamento de Atenas e fortalecimento econômico da cidade fizeram com 
que Atenas assumisse uma posição imperialista em relação às demais polis gregas, 
competindo diretamente com Esparta, outra cidade de grande importância para a 
Grécia. Naturalmente uma reação foi desencadeada por parte das demais cidades 
lideradas por Esparta, no sentido de combater a hegemonia ateniense. 
A aliança entre as cidades gregas fundou a Liga do Peloponeso. Após 
a morte de Péricles, os conflitos entre Atenas e Esparta, que liderava as outras 
cidades, culminaram com a Guerra do Peloponeso, que enfraqueceu as cidades-
estados, pois consumia seus recursos e vidas em um conflito que no final foi 
vencido pela Liga do Peloponeso. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
14
Contudo, Esparta assume uma posição hegemônica em relação às demais 
cidades-estados, pois aplicaram ações imperialistas sobre as cidadesque haviam sido 
suas aliadas. Assim, novos conflitos surgiram e houve o enfraquecimento do poder 
grego, subjugados do poder de Felipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande. 
Período Helenístico – do século IV ao II a.C. – o que caracteriza este 
período é a expansão significativa da ciência e do conhecimento. A cidade de 
Alexandria, por exemplo, se tornou o grande centro da cultura helenística, pois 
segundo Arruda e Piletti (1996, p. 56):
Alexandria ganhava fama no Ocidente e no Oriente com a população 
numerosa, indústria artesanal, museus, biblioteca com 400.000 obras. 
A vida intelectual era intensa: Matemática, Geometria e Medicina se 
desenvolveram. O pensamento filosófico dividia-se em duas correntes: 
estoicismo, que acentuava a firmeza de espírito, indiferença à dor e 
submissão à ordem natural das coisas; e epicurismo, que aconselhava a 
busca do prazer.
Na verdade, podemos afirmar que o helenismo foi o resultado de uma 
política de integração entre as diferentes culturas, pois como afirma Arruda e 
Piletti (1996, p. 55), “a civilização helenística resultou da fusão da cultura helênica 
(grega) com a cultura do Oriente Médio, principalmente persa e egípcia. Seu 
centro se deslocou da Grécia e do Egeu para o Oriente Médio, para os novos polos 
irradiadores da cultura: Alexandria, Antioquia e Pérgamo”. 
Assim, o protagonismo das três cidades ofuscou o antigo e esplendor de 
Atenas e Esparta, que havia sido o centro da cultura grega por muito tempo. 
Determinado deslocamento mostra como a cultura de um povo pode ser assumida 
e disseminada em outras regiões, pois o legado cultural grego permaneceu e 
influenciou o mundo ocidental até os dias de hoje. Assim, Arruda e Piletti (1996, 
p. 56) acentuam que:
A contribuição dos gregos para a humanidade abrange todos os 
setores da vida humana. Eles fundaram a filosofia. As reflexões de 
Sócrates sobre a natureza e o homem e os sistemas criados por Platão 
e Aristóteles tornaram imortal o pensamento grego. Seu teatro chega 
até nós cheio de vida. Demóstenes, mestre da oratória. O esplendor 
da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas do Partenon e na 
Acrópole de Atenas. 
Podemos afirmar que a sociedade ocidental possui uma dívida cultural 
muito grande para com os gregos. No caso da filosofia, o valor que as obras gregas 
possuem para o mundo é incalculável, pois o pensamento filosófico clássico grego 
delineou a maneira de pensar do homem ocidental. 
Determinado subsídio histórico se faz necessário para compreendermos 
em que contexto político, econômico e cultural os primeiros pensadores 
desenvolveram suas ideias. Devemos lembrar que cada filósofo é fruto de seu 
tempo, pois sua filosofia é uma reflexão sobre as questões que dizem respeito à 
realidade, ao momento histórico e cultural em que eles viveram. 
TÓPICO 1 | A ORIGEM DA FILOSOFIA
15
A FILOSOFIA NO MUNDO
Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de 
filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. 
Por força de tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto 
de desprezo. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece 
de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas – existirá realmente? 
Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar.
A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado 
complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação 
para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o 
interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano 
geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer 
de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter “opiniões” e 
contentar-se com elas. 
A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, 
odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha 
vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, 
teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente. 
Surgem os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo 
de novo e totalmente diverso. Ela é desprezada como produto final e mendaz de 
uma teologia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada e a 
filosofia vê-se denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros.
Muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência 
da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não 
pensam, mas somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir 
que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista 
como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto 
mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixarem 
tocar pela luz da filosofia.
Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não têm 
consciência dessa condição. A autocomplacência burguesa, os convencionalismos, 
o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito 
de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de 
poder, a bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um 
nome literário – tudo isso proclama a antifilosofia. E os homens não percebem 
porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes 
de que a antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida que, se aprofundada, 
engendraria sua própria aniquilação. 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
16
O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o 
mundo não o quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. 
E a verdade, o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas 
significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas 
não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é 
estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito.
No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva o conflito 
ao extremo, porém, o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto 
existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com 
outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.
Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele 
diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejo de partilhar, 
com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.
Eis o porquê da filosofia não se transformar em credo. Está em contínua 
pugna consigo mesma.
FONTE: JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1971, p. 138.
17
Neste tópico, você aprendeu que:
• O mito foi a primeira forma que o ser humano encontrou para explicar a origem 
do universo e das demais coisas, sejam elas físicas ou não.
 
• O pensamento mítico consiste na maneira que o ser humano encontrou para 
explicar aspectos essenciais da sua realidade.
• O apego ao mito era uma maneira de explicar a realidade e trazer tranquilidade 
diante do desconhecido.
• O mito apela para o sobrenatural, ao mágico e sagrado para explicar a realidade. 
É uma narrativa que não está preocupada com a possibilidade de comprová-lo 
cientificamente ou empiricamente.
• As epopeias tentam mostrar que há uma relação entre os deuses e os homens.
• A Teogonia trata da progressão que o universo passou até chegar ao que 
conhecemos hoje.
• A filosofia é o instrumento racional que tem por finalidade despertar no ser 
humano o seu estado de comodismo, cumpre o papel de desvencilhar o ser 
humano das amarras ideológicas, libertá-lo das ilusões e manipulaçõesque 
embotam a razão e escravizam a consciência humana.
• A filosofia é uma área que está em constante mudança, pois a reflexão filosófica 
não está em busca de respostas que sejam absolutas e dogmáticas, que não 
podem ser questionadas, pois ela não se apega às certezas das doutrinas, nem 
tão pouco à impossibilidade do conhecimento.
• O campo da filosofia é de certo modo indeterminado, pois é um campo muito 
vasto devido ao fato de que filosofia estuda os problemas fundamentais 
associados à existência, aos valores morais e estéticos, ao conhecimento, à 
mente, à verdade e à linguagem.
• A Grécia passa por quatro grandes períodos: Período Homérico; Período da 
Grécia Arcaica; Período Clássico e Período Helenístico.
RESUMO DO TÓPICO 1
18
1 O pensamento mítico, geralmente, é visto como aquilo que beira a 
irracionalidade, devido aos seus aspectos fantasiosos e imaginários. 
Entretanto, o mito teve um papel central para a vida das primeiras 
civilizações. Explique o que é e como surgiu o pensamento mítico.
2 “O que é filosofia?” É uma questão importante para compreendermos 
a sua relevância para o conhecimento científico e para a organização das 
sociedades. Apesar de ser uma questão que não oferece uma resposta 
tão simples, é possível compreender o que é filosofia a partir de algumas 
definições que nos foram dadas ao longo de sua história. Sobre o que é 
filosofia, assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Filosofia é a área do conhecimento que oferece todos os tipos de respostas 
com precisão absoluta que podem ser aceitas universalmente.
( ) A filosofia é o instrumento racional cuja finalidade é despertar o ser 
humano de seu estado de comodismo.
( ) A filosofia possibilita que o ser humano busque sua realidade e construa 
sua própria história com autonomia e liberdade.
( ) A filosofia tem como objetivo formar, na mente do ser humano, certezas 
que jamais poderão ser questionadas. 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – F.
AUTOATIVIDADE
19
TÓPICO 2
OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA 
ANTIGA E CLÁSSICA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Conhecer a história da filosofia é fundamental para compreendermos sua 
importância em relação aos avanços científicos, culturais, políticos e sociais que 
ocorreram ao longo dos séculos. Claro que em apenas um tópico não será possível 
discorrer, nem que seja um pequeno fragmento de uma área do conhecimento 
humano que vem acumulando saberes ao longo de centenas de anos. Todavia, 
nossa proposta é discorrer sobre alguns aspectos que consideramos importantes 
em relação ao desenvolvimento do pensamento filosófico. 
Evidentemente que não é algo tão simples situarmos uma determinada 
corrente filosófica em um período histórico específico, pois a filosofia é dinâmica 
e as ideias, conceitos, métodos são constantemente revisados, questionados, 
atualizados, melhorados e pensados à luz do tempo histórico. 
Entretanto, determinadas correntes de pensamento ganham força ou são 
mais bem desenvolvidas em um tempo histórico específico, e assim situamos a 
corrente de pensamento junto com um determinado tempo e finalidade didática. 
Outros movimentos filosóficos surgem especificamente em um tempo 
histórico específico, mas geralmente consistem na evolução de um pensamento 
que possa ter iniciado em outro momento da história. O que queremos dizer 
que não devemos nos preocupar tanto com o período, mas com a corrente de 
pensamento em si. 
Neste tópico, iremos discorrer sobre as principais escolas filosóficas, os 
principais filósofos da filosofia clássica grega e da patrística. Em seguida, vamos 
abordar os rumos da filosofia moderna e por fim, uma breve análise sobre a 
filosofia contemporânea. 
Em um primeiro momento, vamos estudar sobre a filosofia antiga. Vamos 
discorrer sobre cada período que constitui o primeiro momento do pensamento 
filosófico. Você poderá observar, no decorrer do estudo, que cada período é 
marcado por um problema, do qual os pensadores se ocupam com o propósito de 
encontrar uma resposta para aquilo que consideram dilemas. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
20
2 A FILOSOFIA ANTIGA 
A Filosofia Antiga compreende o período que vai do surgimento da 
filosofia até a queda do Império Romano. Neste período, os pensadores gregos 
começaram a questionar acerca da racionalidade humana e iniciaram a busca por 
novas explicações para compreender a realidade. 
A filosofia deste período é caracterizada pela pretensão de abranger 
uma grande quantidade de ideias e campos, ainda que o principal objetivo dos 
pensadores tenha sido a busca pelo fundamento que se oculta por detrás de todas 
as coisas.
2.1 O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO
Os pré-socráticos são os pensadores da Grécia antiga que precederam 
Sócrates. Também são chamados de filósofos da natureza (physis) ou naturalistas, 
pois tinham como principal objetivo investigar o princípio das coisas. 
Antes de estudarmos as principais escolas de filosofia pré-socráticas e seus 
representantes mais expressivos, vamos apresentar uma síntese do período pré-
socrático, para que você já possa ter uma noção geral de que consiste o período. 
Podemos destacar dois grupos de filósofos: os primeiros são os chamados 
fisiólogos, pois ao apelar para um arché – um elemento básico de onde as coisas 
se originam e do qual o universo é constituído em sua totalidade – buscavam 
um princípio ordenador do universo, ou seja, estavam interessados em explicar 
a physis, a natureza material do universo. O outro grupo, os sofistas, tinha uma 
preocupação diferente, pois estavam interessados na vida dos homens e na 
maneira como poderiam participar da vida pública e se fazerem ouvido nos 
espaços de debates. 
Observe que são os principais problemas que irão ocupar a mente dos 
pensadores do período. Determinados problemas irão gerar inúmeros debates 
e as diferentes escolas da época irão assumir suas posições, construindo os 
argumentos que justifiquem seus posicionamentos em relação aos problemas 
propostos.
2.1.1 Escola jônica 
A cidade de Mileto era um centro comercial de grande importância. O fato 
de ser um centro de comércio demonstrava um trânsito de pessoas de diferentes 
partes do mundo, além das trocas comerciais e culturais. A escola jônica estava 
sediada na cidade de Mileto, nos séculos VI e V a.C. O principal filósofo da escola 
foi Tales de Mileto.
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
21
Os jônios se estabeleceram na região da Ásia Menor e, diferentemente das 
poleis gregas continentais, que ainda estavam presas às características do 
Período Arcaico, produziram as primeiras explicações científicas e filosóficas 
e se transformaram em grandes centros econômicos e culturais, graças à 
localização geográfica privilegiada, sobretudo nas cidades de Mileto e Éfeso, 
o que facilitava a navegação, o comércio e o intercâmbio cultural com outros 
povos (SOUZA apud BRAGA JUNIOR; LOPES, 2015, p. 86).
Podemos afirmar que foi na Escola Jônica que ocorreram as primeiras 
tentativas racionais de responder às diversas questões sobre a natureza e a 
realidade. Os filósofos dessa escola estavam preocupados em encontrar uma 
substância primeira, causadora de tudo, pois eles romperam “com as explicações 
míticas ainda que muito próximos delas. Os filósofos do período apresentaram 
explicações do mundo a partir do mundo, e não mais a partir das divindades” 
(LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117). 
Os principais representantes dessa escola são os seguintes: Tales de Mileto, 
Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso. A seguir, 
veremos brevemente a ideia principal de cadaum desses pensadores pré-socráticos.
2.1.1.1 Tales de Mileto
Tales viveu entre 623-546 a.C. e é considerado o pai da filosofia e fundador 
da Escola de Mileto. Além de filósofo, Tales foi um importante matemático, 
cientista e político. Para o pensador, a água é princípio que origina todas as coisas. 
FIGURA 2 – TALES DE MILETO
FONTE: <http://voupassar.club/tales-de-mileto-biografia-e-filosofia/>.
Acesso em: 28 mar. 2018. 
De acordo com Souza (1996, p. 88): 
Para a história da filosofia, a importância de Tales advém sobretudo 
de ter afirmado que a água era a origem de todas as coisas. A água 
seria a PHYSIS que, no vocabulário da época, abrangia tanto a acepção 
de “fonte originária” quanto a de “processo de surgimento e de 
desenvolvimento”, correspondendo perfeitamente à “GÊNESE”.
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
22
Sua visão unitarista compreendia a ideia de que “a água unifica todas as 
coisas, desde que ela esteja na base de sua origem e de sua sobrevivência; ela está 
sob a terra e a sustenta” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117). 
Em relação à teoria desenvolvida por Tales, embora submetida a um teste 
mais rigoroso, podemos perceber suas falhas, entretanto faz sentido. A explicação 
que ele dá, para defender a tese de que a origem de todas as coisas estava no 
elemento água, fundamenta-se da seguinte maneira: quando densa, transformar-
se-ia em terra; ao ser aquecida, viraria vapor que, quando se resfriava, retornaria 
ao estado líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. É um ciclo sem fim 
que geraria novas formas de vida que, em um processo evolutivo, daria origem a 
todas as coisas existentes no universo.
2.1.1.2 Anaximandro de Mileto
De acordo com a tradição, Anaximandro (610-546 a.C.) foi discípulo e 
sucessor de Tales na escola Jônica. Assim como seu mestre, Anaximandro buscava 
por um princípio originador do cosmos – um arché. Todavia, Anaximandro se 
afastava do pensamento de Tales, pois entendia que “em meio a tantos elementos 
observáveis no mundo natural – a água, o fogo, o ar etc. –, ele acreditava não 
ser possível eleger uma única substância material como princípio primordial de 
todos os seres, a arché” (COTRIM, 2000, p. 79). 
Diante da impossibilidade de determinar um princípio originador do 
cosmos e diante de uma realidade indeterminada, ilimitada e invisível, o ápeiron 
se tornou o conceito chave da cosmologia desenvolvida por Anaximandro.
FIGURA 3 – ANAXIMANDRO DE MILETO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/4241828
58636078371/>. Acesso em: 28 mar. 2018. 
De acordo com Cotrim (2000), o princípio originador em Anaximandro 
é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa em uma 
realidade ao alcance dos sentidos. 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
23
2.1.1.3 Anaxímenes de Mileto
Anaxímenes (588-524 a.C.), diferentemente de seus antecessores, Tales e 
Anaximandro, afirmava que o ar era a substância primária que deu origem a 
todas as demais coisas. Deve-se ao fato de que Anaxímenes não concordava com 
Anaximandro acerca do seu conceito de ápeiron.
FIGURA 4 – ANAXÍMENES DE MILETO
FONTE: <http://www.vanialima.blog.br/2014/01/anaximenes-de-mileto.html>.
Acesso em: 28 mar. 2018. 
Sobre a teoria de Anaxímenes, Luckesi e Passos (2000, p. 117) apontam que:
Para ele, o princípio de todas as coisas era o Ar, que gera, rege e 
governa todas as coisas, as que foram e as que serão (inclusive os 
deuses), por meio dos processos opostos de rarefação e condensação. 
Rarefazendo-se, o Ar torna-se fogo; condensando-se, torna-se vento; 
depois, nuvem, água, terra, pedra. Do mesmo processo promanam o 
frio, como condensação, e o calor, como rarefação. Assim, o Ar garante 
a força criadora e animadora do mundo. O movimento do mundo é 
Anaximandro chegou à conclusão após ter buscado nos mais diversos 
elementos observáveis, um elemento que fosse a causa, ou princípio originador 
de todas as coisas. Diante do fato de não ter encontrado um princípio que pudesse 
ser experimentado pelos sentidos, ele chegou à conclusão que o princípio é o 
Indeterminado (apeiron). 
“O indeterminado governa o universo pela lei permanente do devir, 
do nascer e do morrer dos mundos infinitos. Tudo tem origem nele e tudo nele 
se dissolve, mas ele permanece distinto de todas as coisas, como seu princípio 
imutável e eterno” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117). 
Para resumir a ideia de um princípio originário, Anaximandro entende 
que a substância causadora de tudo o que existe não está limitada à natureza, mas 
transcende a ela e aos nossos sentidos, fugindo do campo do observável. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
24
cíclico, no sentido de que cada coisa, periodicamente, se dissolve no 
princípio originário, para, depois, regenerar-se.
A tese de Anaxímenes foi uma tentativa de sintetizar as ideias de seus 
antecessores em um único princípio. No caso da teoria de Tales de Mileto, em que 
a água sintetizava como regulador de todas as coisas do mundo, na verdade era 
o ar condensado. O fogo, por sua vez, era o ar rarefeito. 
Em relação à teoria de Anaximandro, de que o princípio originador 
é o Indeterminado, na verdade é o Ar, pois este é infinito, ilimitado e está em 
constante movimento.
2.1.1.4 Heráclito de Éfeso
É de Heráclito (535-475 a.C.) a famosa expressão “Nunca nos banhamos 
duas vezes no mesmo rio”. Determinada expressão sintetiza de maneira precisa 
o cerne do pensamento, pois para ele, as coisas estão em um constante devir, ou 
seja, as coisas mudam constantemente. Assim, sua filosofia é mobilista. Devido à 
posição, Heráclito é considerado pai da dialética. 
FIGURA 5 – HERÁCLITO DE ÉFESO
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/heraclito.htm>. Acesso em: 28 mar. 2018. 
Diferentemente dos outros pensadores de sua escola, Heráclito “coloca a 
fonte de todas as coisas no fogo: o cosmo, que é o mesmo para todos, não foi feito 
nem por algum homem, nem por algum deus, pois ele foi e sempre será fogo” 
(LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 119). 
É importante ressaltar que Heráclito estava mais preocupado em 
compreender o logos, ou seja, a razão universal que ordena todas as coisas que 
existem e as que virão a existir. Ao usar a figura do fogo, sua intenção é apontar 
para o fato de que:
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
25
O universo é contínuo vir a ser, decorrente da luta dos opostos: frio/
quente; úmido/seco... A morte de um dos polos dos opostos é a vida 
do outro e vice-versa. A luta dos opostos é a lei do universo, mas eles 
se unificam no Fogo; a harmonia visível do mundo nada mais é do que 
o reflexo da harmonia do logos, princípio constitutivo da realidade 
universal. Como tudo provém do fogo, tudo a ele retorna. Assim, todas 
as coisas se regeneram eternamente (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 119).
Assim, o fogo é a natureza de todas as coisas que nos são conhecidas. O 
fogo representa o devir contínuo, pois o próprio fogo, por si, indica mudança em 
suas propriedades, visto que suas chamas se transformam em cinzas, fumaças e 
vapores. Heráclito é um mobilista, pois para ele o ser está em constante mudança.
O pensamento filosófico de Heráclito irá influenciar profundamente a filosofia 
posterior, pois para sua doutrina da unidade dos contrários, em que a mutabilidade é 
constitutiva da realidade, o ser humano passa a ser o centro da discussão. 
Sua filosofia penetra na intimidade do homem e na sua maneira de perceber 
o mundo, a existência e a vida. Seu pensamento inaugura uma nova maneira de 
perceber a realidade, visto que até então os pensadores entendiam a realidade como 
imutável. Vários séculos depois, o filósofo alemão Hegel constrói sua filosofia, que 
irá se basear em uma concepção dialética que muitodeverá para Heráclito.
2.1.2 Escola pitagórica 
O nome da escola é em função de seu principal expoente ter sido Pitágoras, 
que viveu no século VI a.C. A escola pitagórica teve seu ponto de partida na cidade 
de Crotona e se difundiu por outras partes. Os pitagóricos foram fortemente 
influenciados exteriormente pelas religiões orientais. Assim, eles se aproximaram 
das filosofias dogmáticas regidas pela ideia de autoridade, pois a autoridade 
docente era profundamente rígida. 
FIGURA 6 – PITÁGORAS DE SAMOS
FONTE: <https://sites.google.com/site/filosofiapopular/filosofos/pitagoras-de-samos>.
Acesso em: 28 mar. 2018. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
26
Como os demais pensadores e escolas de filosofia do período, a escola 
estava em busca de um princípio originador de todas as coisas. Para os pitagóricos, 
“o número é o princípio de todas as coisas, não propriamente no sentido 
matemático (números que utilizamos para pensar e operar com as quantidades), 
mas especialmente no sentido ontológico (constitutivo) das coisas” (LUCKESI; 
PASSOS, 2000, p. 119). 
Assim, a essência dos seres possui uma estrutura matemática, pois 
a própria essência do mundo é composta por relações numéricas e pode ser 
compreendida pelo homem a partir do uso de sua razão. 
Para ilustrar a concepção, Pitágoras usa o exemplo da música, pois de 
acordo com ele, o som agradável dos acordes musicais depende da harmonia entre 
as notas musicais. Determinada harmonia é possível quando a relação numérica 
entre as notas musicais tem a medida justa. Entretanto, quando não há uma medida 
justa, o resultado são os sons sem harmonia e desagradáveis aos ouvidos.
2.1.3 Escola de Eleia
Determinada escola se originou na cidade Eleia, uma antiga cidade da 
Magna Grécia. Os debates que aconteciam sobre a cosmologia apresentavam 
pontos de vista muito divergentes. Os eleatas Zenão e Parmênides entraram no 
debate e deram uma importante contribuição para a discussão. Vamos apresentar 
apenas a ideia principal de Parmênides, para termos uma noção básica da 
principal contribuição da escola para o debate filosófico. 
FIGURA 7 – PARMÊNIDES DE ELEIA
FONTE: <http://www.materialismo.net/2013/12/historia-do-materialismo-cap-ii-dos.html>.
Acesso em: 28 mar. 2018. 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
27
Parmênides (530-460 a.C.) nasceu em uma família nobre da cidade de 
Eleia e é considerado o fundador da escola eleata. É um filósofo imobilista, pois 
para ele nada muda, tudo é uno. A ideia se choca frontalmente com Heráclito, que 
defendia o mobilismo, como vimos anteriormente. Para este pensador, há dois 
caminhos para se chegar à compreensão da realidade:
A aleteia (caminho da verdade) e a doxa (caminho da opinião); porque 
duas são as realidades: a do Ser e a do devir (para ele, não ser). A 
primeira é a via da razão e da persuasão, que conhece o Ser (que é 
eterno, imutável), e a segunda é a via dos sentidos e das aparências 
enganáveis, que conhece o devir (aquilo que é mutável) (LUCKESI; 
PASSOS, 2000, p. 122).
Significa dizer que Parmênides considerava que a razão pode atingir 
o conhecimento genuíno e a compreensão. Tal percepção do domínio do Ser 
corresponde às coisas que são percebidas pela mente. 
O mundo sensível é o mundo das ilusões, visto que o aquilo que é 
percebido pelas sensações é enganoso e falso, pois pertence ao domínio do não 
ser. Assim, ele faz distinção entre o conhecimento racional e o conhecimento 
sensível, “criando uma dualidade no âmbito do ser e do conhecer” (LUCKESI; 
PASSOS, 2000, p. 123).
Parmênides demonstrou que a noção de Heráclito do “tudo flui”, ou seja, 
que o ser que está em constante mudança se baseava em uma opinião a partir das 
percepções sensoriais. Para Parmênides o “Ser é”. Podemos usar como exemplo 
a foto de uma pessoa com dois anos de idade e a foto da mesma pessoa com 30 
anos de idade. 
Para Heráclito, a pessoa não é mais a mesma, pois as experiências e o tempo 
mudaram sua aparência e a essência. Para Parmênides, é a mesma pessoa, mudou 
a aparência e a pessoa passou por um desenvolvimento cognitivo, contudo sua 
essência, o Ser, permanece o mesmo. 
“Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a 
percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória”, por outro lado, somente “o 
mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos 
de identidade e de não-contradição” (ARANHA, MARTINS, 1993, p. 93). 
A influência do filósofo Parmênides pode ser percebida na maneira 
como se concebe a origem do conhecimento, pois em sua obra estão as sementes 
do racionalismo moderno. A filosofia racionalista coloca a razão como a fonte 
primária, principal e confiável do conhecimento universalizável. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
28
2.1.4 Escola atomista 
O principal representante dessa escola é sem dúvida Demócrito (460 a.C. 
— 370 a.C.), que nasceu em Abdera, mas visitou vários locais tais como Babilônia, 
Egito e Atenas. Foi discípulo de Leucipo e, juntos, desenvolveram a teoria dos 
átomos. Para essa escola pré-socrática, todos os elementos do universo são 
compostos por átomos. 
FIGURA 8 – DEMÓCRITO DE ABDERA
FONTE: <https://edukavita.blogspot.com.br/2015/06/biografia-de-democrito-de-abdera.html>. 
Acesso em: 28 mar. 2018. 
De acordo com Cotrim (2000, p. 85), “Demócrito afirmava que todas 
as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e 
indivisíveis. Essas partículas são chamadas de átomos”. Os átomos que compõem 
o universo estão em movimento constante no espaço. 
Os corpos são formados a partir do agrupamento dos átomos, que 
dependendo da maneira como se agrupam, dão formas variadas aos corpos. 
Apesar dos átomos serem eternos, contudo os corpos (resultantes do agrupamento 
de átomos) decaem e perecem. Assim, as coisas nascem quando os átomos se 
juntam e a morte é a desintegração das coisas.
2.2 PERÍODO ANTROPOLÓGICO
A filosofia clássica marca um período em que a filosofia passa por um 
amadurecimento, e se destacam três pensadores fundamentais para a filosofia 
grega e geral como um todo: Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Diversos fatores contribuíram para a filosofia deste período e seu 
aprofundamento, pois não podemos esquecer que a filosofia reflete as discussões 
de seu tempo. Assim, se olharmos para o contexto em que viveram determinados 
filósofos e a maneira como desenvolveram suas ideias, vamos perceber que 
estavam interessados em encontrar respostas para os problemas e desafios da 
época em que viveram. 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
29
Os séculos V e IV a.C. ficaram marcados por um grande desenvolvimento 
científico, as cidades estavam crescendo e as discussões sobre a democracia 
estavam em alta nesta época. Tal cenário contribuiu diretamente para o surgimento 
de diferentes correntes de pensamento filosófico. 
Por um lado, por exemplo, tínhamos os sofistas, que cobravam para 
preparar seus alunos na arte da retórica. Os sofistas recebem muitas críticas 
devido à maneira como lidavam com a educação, mas se fizermos uma análise 
mais aprofundada, veremos que estes personagens da história da filosofia também 
têm seus méritos. 
2.3 OS SOFISTAS E A ARTE DE ARGUMENTAR
Você já se deparou com uma situação em que uma pessoa argumenta 
tão bem, que mesmo que não esteja dizendo a verdade, consegue convencer as 
pessoas que lhe ouvem? Acontece porque a argumentação é um recurso que tem 
como finalidade convencer alguém. 
Determinado convencimento pode ter várias finalidades, desde a mudança 
de um comportamento, aceitação de uma ideia, que em última instância geralmente 
argumentamos no sentido de que aquele que nos ouve pense como nós. 
Infelizmente,a arte de argumentar não é um talento que todos possuem. 
Assim, muitos vão buscar uma forma de melhorar seus argumentos e a maneira 
como apresentam suas ideias. Na Grécia antiga não era diferente, pois muitos 
cidadãos queriam melhorar sua retórica para poderem participar das discussões 
na Ágora. Os sofistas enxergaram nisso uma oportunidade de se sustentarem, 
pois ensinavam para seus alunos a arte de argumentarem bem. Assim: 
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, 
vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração 
os interesses dos alunos, davam aulas de eloquência e de sagacidade 
mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios 
públicos e privados (COTRIM, 2000, p. 91). 
Apesar das duras críticas que sofreram de Platão, que os considerava 
impostores, os sofistas tiveram muito sucesso. O sucesso se deve ao momento 
histórico em que a Grécia se encontrava, pois havia embates políticos muito 
intensos nas assembleias democráticas, e os participantes desses momentos 
queriam estar preparados para discutir com seus oponentes. 
Os cidadãos mais ambiciosos sentiam necessidade de aprender a arte de 
argumentar em público para conseguirem persuadir em assembleias e, muitas 
vezes, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe (COTRIM, 2000). 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
30
Podemos afirmar que o sucesso dos sofistas consiste no fato de que 
Souberam captar de modo perfeito essas instâncias da época 
conturbada em que viveram, sabendo explicitá-la e dar-lhes forma e 
voz. E isso explica porque alcançaram tanto sucesso, especialmente 
entre os jovens: eles respondiam a reais necessidades do momento, 
propondo aos jovens a palavra nova que esperavam, já que não 
estavam mais satisfeitos com os valores tradicionais que a velha 
geração lhes propunha nem com o modo como os propunha (REALE; 
ANESTISERI, 2003, p. 75).
Platão não enxergava os sofistas como filósofos, pois estes não estavam 
preocupados com a verdade, apenas se preocupavam em preparar seus alunos 
para o debate público. Eles negavam que houvesse verdade ou a possibilidade de 
ter acesso a ela. 
Assim, a argumentação não busca necessariamente demonstrar a verdade, 
mas por meio de um jogo de palavras habilmente posicionado, o orador poderá 
convencer seus ouvintes acerca daquilo que ele acredita. De acordo com Cotrim 
(2000, p. 91),
As lições sofistas tinham como objetivo, portanto, o desenvolvimento 
do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento 
de doutrinas divergentes. Eles transmitiam, enfim, todo um jogo 
de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de 
convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. 
Pelo que vimos até aqui é possível que você esteja pensando: os sofistas não 
contribuíram em nada com a filosofia? Para responder à pergunta, é necessário 
apresentarmos pelo menos dois sofistas e suas principais ideias. 
Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) define o homem com a medida de 
tudo o que existe, pois de acordo com ele “o homem é a medida de todas as 
coisas; daquelas que são, enquanto são; e daquelas que não são, enquanto não 
são” (PROTÁGORAS apud COTRIM, 2000, p. 92). 
A concepção é uma expressão do relativismo, que é a corrente filosófica 
que se fundamenta na afirmação de que não existe qualquer verdade ou valor 
absoluto. No entendimento de Protágoras, o homem é o responsável pelos 
destinos do mundo, pois ele é capaz de fazer e desafazer as coisas de acordo 
com suas vontades. Entretanto, o relativismo de Protágoras abre margem para 
uma subjetivista do mundo, pois cada pessoa pode afirmar que uma determinada 
coisa é verdadeira “se para mim parece verdadeira” (COTRIM, 2000, p. 92). 
O relativismo trouxe alguns problemas e discussões para a filosofia pós-
iluminista, pois na visão de MacIntyre (2001), o fracasso do Iluminismo culminou 
com o ‘emotivismo’, em que os juízos morais expressam apenas sentimentos e 
não juízos verdadeiros ou falsos. Assim, as pretensões emotivistas têm impedido 
que a ética contemporânea chegasse a acordos morais mínimos. 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
31
Na concepção do autor, o emotivismo consiste em teorias falhas que 
remetem a uma moral, a um subjetivismo e isolou o agente moral de seu contexto 
histórico. O emotivismo é uma irracionalidade ética, pois os juízos apelam para 
as emoções em detrimento da razão.
FIGURA 9 – PROTÁGORAS DE ABDERA
FONTE: <https://www.biografiasyvidas.com/biografia/p/protagoras.htm>. 
Acesso em: 30 mar. 2018.
Górgias de Leontini (487-380 a.C.) dizia que “o bom orador é capaz de convencer 
qualquer pessoa sobre qualquer coisa” (apud COTRIM, 2000, p. 92). O fundamento de 
sua filosofia era o niilismo, pois defendia o ceticismo absoluto ao ponto de afirmar 
que “a) nada existia; b) se existisse, não poderia ser conhecido; c) mesmo que fosse 
conhecido, não poderia ser comunicado a ninguém” (COTRIM, 2000, p. 93). 
Assim, é destruída qualquer possibilidade de se chegar à verdade absoluta. 
Assim, nós podemos apenas analisar a condição em que nos encontramos, e a 
partir daí podemos expor nossas ideias sobre a realidade, sem podermos apelar 
para valores ou verdades absolutas que possam justificar o que fazemos ou 
deixamos de fazer. 
2.4 PERÍODO SISTEMÁTICO
Os principais nomes deste período são Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Este período é assim chamado porque esses pensadores sistematizaram todo 
conhecimento filosófico produzido até então. Podemos citar Aristóteles, por 
exemplo, que foi um grande sistematizador, organizador do pensamento. 
Para ele, são atribuídas as primeiras divisões e compartimentações da 
filosofia em diferentes campos: Lógica, Metafísica, Filosofia Natural, Ética, 
Estética e a Política. A seguir, vamos discorrer resumidamente sobre a principal 
contribuição que cada um desses pensadores concebeu à filosofia.
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
32
2.4.1 Sócrates 
Sócrates nasceu na cidade de Atenas, no ano 469 a.C. A partir de Sócrates, a 
filosofia grega passou por uma profunda mudança, pois o centro de seu debate é o 
homem. O período também é chamado de Período Antropológico, pois a filosofia 
passa a investigar as questões humanas, tal como a ética, a política e as técnicas.
FIGURA 10 – SÓCRATES E A IMORTALIDADE
FONTE: <http://www.novaera-alvorecer.net/socrates_e_a_imortalidade.htm>.
Acesso em: 30 mar. 2018.
Um dos aspectos que caracteriza a filosofia de Sócrates é o seu estilo de vida 
compatível com seu pensamento. Embora tivesse um estilo de vida semelhante aos 
sofistas e focasse em suas reflexões em torno dos problemas humanos, há pelo 
menos duas características que o distingue deles: primeiro, Sócrates não vendia 
seus conhecimentos ou mesmo cobrava por qualquer aula; segundo, Sócrates não 
aderiu e nem mesmo aceitava as ideias relativistas dos sofistas, pois ele “procurava 
um fundamento último para as interrogações humanas (O que é o bem? O que é 
a virtude? O que é a justiça?)” (COTRIM, 2000, p. 94). Apesar de não ter deixado 
nenhum escrito, seus diálogos foram compilados pelo seu fiel discípulo Platão. 
Diante dos saberes e costumes construídos e constituídos ao longo da 
história, Sócrates tinha uma posição crítica, tanto é que determinada posição lhe 
custou a vida, pois foi acusado pelos poderosos de que sua maneira de pensar 
estava corrompendo os jovens atenienses. 
O método adotado por Sócrates para ensinar seus discípulos não consistia 
na mera transmissão de conhecimentos, mas ele prezava pela construção do 
conhecimento a partir de uma autoanálise, pois o ponto de partida para chegar 
ao verdadeiro conhecimento é passar pelo reconhecimento da própria ignorância. 
Assim, os princípiosfundamentais do método socrático consistiam na 
ironia e na maiêutica. Assim, Sócrates estimulava seus interlocutores a exporem 
suas opiniões e defendê-las, para em seguida despi-los de suas ilusões e buscarem 
o conhecimento verdadeiro por meio da razão. 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
33
A primeira parte do método dialético socrático consiste na ironia. É 
importante ressaltar que o conceito de ironia em Sócrates se difere do sentido que 
na maioria das vezes é utilizado em nosso contexto. 
De acordo com Cotrim (2000, p. 94), “a ironia socrática tinha um caráter 
purificador porque levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições 
e ignorâncias, e antes só julgavam possuir certezas e clarividências”. 
Na primeira etapa do método, Sócrates interrogava seu interlocutor acerca 
daquilo que ele dizia saber. Para isso, Sócrates se colocava na posição de quem 
nada sabia sobre o assunto e solicitava que este saber, que o interlocutor julgava 
possuir, fosse compartilhado com ele. Quando o interlocutor apresentava seu 
argumento, Sócrates fazia perguntas, e a cada resposta uma nova pergunta, com 
o objetivo de mostrar as contradições internas do raciocínio do seu interlocutor.
 Naturalmente encaminhava para uma demonstração de que o interlocutor, 
que se julgava profundo conhecedor do tema em discussão, na verdade não 
havia descoberto quão ignorante era. Assim, Sócrates conduzia o diálogo até o 
ponto em que o seu interlocutor ficava embaraçado por ver seus conceitos serem 
derrubados um a um. Então, nesta primeira etapa, o interlocutor se dava conta da 
sua ignorância e, portanto, poderia passar para o segundo estádio que consiste 
na maiêutica. 
A maiêutica, portanto, é a segunda etapa do método socrático. Se na 
primeira o indivíduo é levado a reconhecer sua ignorância, na segunda etapa 
ele é conduzido a buscar o conhecimento que está dentro de si. O próprio termo 
“maiêutica” significa arte de trazer à luz. 
A utilização do termo por Sócrates, como um princípio fundamental de 
seu método, remete à profissão da sua mãe, Fenareta, que era parteira e, portanto, 
auxiliava as mulheres a parirem seus bebês. Sócrates se coloca como uma espécie 
de ‘parteiro’ de novas ideias. 
Assim como a parteira não gerava o bebê, mas apenas auxiliava para que 
ele viesse ao mundo, Sócrates não se colocava como o ‘gerador’ do conhecimento, 
mas apenas aquele que auxiliava as pessoas a exteriorizarem o conhecimento que 
estava dentro deles. 
Sócrates acreditava que cada ser humano é dotado de razão e, portanto, 
capaz de gerar novos conhecimentos. Suas aulas eram na praça pública, pois 
acreditava que tanto o escravo, quanto o cidadão comum, senhor, jovem, idoso, 
homem ou mulher possuem razão e podem produzir novos conhecimentos. 
Observe a figura a seguir e reflita sobre o que a menina diz.
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
34
FIGURA 11 – APRENDER A PENSAR
FONTE: <http://dimensoesdafilosofia.blogspot.com.br/2012/04/teoria-da-maieutica-ava04.html>.
Acesso em: 4 mar. 2018.
O legado de Sócrates ao desenvolver seu método dialético é, sem dúvida, seu 
empenho em construir uma sociedade composta de pessoas críticas e autocríticas, 
indivíduos que desenvolvam seus próprios conhecimentos, submetendo-os ao 
crivo da razão, avaliando suas contradições e reconhecendo suas ignorâncias. 
Quando uma pessoa está disposta a se autoavaliar de maneira crítica, construir 
seus valores e conhecimentos por meio de uma autorreflexão, esse indivíduo está 
indo na direção de uma vida mais autônoma e crítica, qualidades necessárias 
para autorrealização. 
2.4.2 Platão 
Platão nasceu em 428 a.C. e viveu em Atenas até o ano de sua morte em 347 a.C., 
onde fundou sua escola chamada de Academia. Apesar de sua grande contribuição à 
filosofia, não será possível abordar aqui, mesmo que de maneira resumida, todos os 
aspectos de seu trabalho. Vamos focar apenas naquilo que a maioria dos estudiosos 
de filosofia consideram o aspecto central da filosofia platônica.
SERÁ QUE AQUI CABE TUDO O
QUE VÃO ME METER NA
CABEÇA?
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
35
FIGURA 12 – PLATÃO
FONTE: <https://pt.lifeder.com/frases-de-platao/>. Acesso em: 30 mar. 2018.
Foi o discípulo mais notável de Sócrates. Depois da morte de seu mestre, 
fez inúmeras viagens, período importante para ele, pois teve a oportunidade de 
entrar em contato com diferentes culturas e em decorrência disso, amadureceu 
suas reflexões filosóficas. 
Ao retornar das viagens, fundou seu próprio centro de estudos filosóficos 
nos jardins de seu amigo Academus. Por esse motivo, sua escola foi chamada de 
Academia. No espaço, os discípulos de Platão recebiam uma educação formal, pois 
vale lembrar que Sócrates se tornara o grande nome da filosofia, entretanto Platão 
e Aristóteles foram os responsáveis por sistematizar e organizar o conhecimento 
filosófico.
Uma das maneiras para compreendermos as ideias de Platão e resumir 
seu pensamento será recorrer à alegoria da caverna. Na leitura complementar, ao 
final deste tópico, você irá encontrar a transcrição da analogia.
Resumidamente, o mito consiste no seguinte: no interior da caverna 
existem homens que nasceram e permanecem nela, pois estão acorrentados e não 
podem sair e nem mesmo conseguem olhar para a entrada. A única visão que 
possuem é do fundo da caverna. 
As coisas que passam e acontecem, onde está uma fogueira, são projetadas 
para o fundo da caverna. Assim, o que eles veem são apenas sombras daquilo que 
é real. Contudo, se um dos homens conseguisse se soltar, visse a luz do dia e os 
objetos reais e relatasse para aqueles que permaneceram no interior da caverna, 
seus companheiros iriam considerá-lo louco, pois considerariam seus relatos 
mentirosos e sem nenhum sentido. 
De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 95), a análise da alegoria 
“pode ser feita pelo menos sob dois pontos de vista: o epistemológico (relativo ao 
conhecimento) e o político (relativo ao poder)”. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
36
Assim, Platão desenvolve uma teoria das ideias e uma teoria política. 
Neste estudo, iremos discorrer, ainda que de maneira sucinta, apenas a teoria das 
ideias formulada por Platão. O método escolhido por ele para desenvolver sua 
teoria das ideias consiste na dialética. 
O método “consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que 
dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma 
discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos” 
(CONTRIM, 2000, p. 97). Lembrando que o método não surge com Platão, mas 
alguns filósofos pré-socráticos já utilizavam a dialética como o caminho para se 
chegar ao verdadeiro conhecimento das coisas. Platão via a dialética como um 
instrumento necessário para se alcançar a verdade. 
Em sua teoria das ideias, Platão distingue o mundo em sensível e 
inteligível. O mundo sensível é o dos fenômenos, ou seja, é o mundo da caverna 
no qual vivemos e é feito de sombras e aparência da realidade. O mundo que 
acessamos através de nossos sentidos é povoado de aparências ilusórias, as coisas 
que vemos nada mais são do que as sombras do verdadeiro mundo, o das ideias. 
No mundo sensível, o conhecimento é resultado das experiências 
sensoriais, responsáveis por formar nossas opiniões (doxa), que na verdade é um 
tipo de conhecimento inautêntico, pois para se chegar a esse tipo de conhecimento, 
não precisamos necessariamente seguir um método para obter um conhecimento 
seguro. 
Diante do problema da opinião, como forma de conhecimento, Platão 
propõe a dialética, pois possibilita que cheguemos ao conhecimento autêntico, 
passemos da doxa (opinião) para a epistéme (ciência).Determinado processo se faz 
necessário porque “a opinião nasce da percepção da aparência e da diversidade 
das coisas. 
O conhecimento, por sua vez, é elaborado "quando se alcança a ideia, 
que rompe com as aparências e a diversidade ilusória” (COTRIM, 2000, p. 97). 
A opinião antecede o conhecimento verdadeiro, pois o sujeito deve ir além das 
aparências das coisas e buscar um conhecimento de sua essência. A epistéme 
ultrapassa a linha do sensível e ilusório e penetra o mundo do Ser, das ideias. De 
acordo com Luckesi e Passos (2000, p. 137): 
O conhecimento sensorial desperta a alma para um conhecimento que 
existe dentro de si e que, de alguma forma, foi esquecido; o sensorial 
obriga o ser humano a remeter-se para o seu interior e buscar a verdade. 
O homem comum se apega às aparências sensoriais, que se apropriam 
do mundo das sombras, mas o filósofo (o sábio), a partir dos estímulos 
sensoriais, busca o mundo do Ser, da verdade. A experiência sensorial 
testemunha o reflexo do mundo do Ser (ideias), que se manifesta nas 
coisas existentes. Importa ao sábio ser capaz de descobrir as essências 
para além das manifestações das coisas existentes. Estudando-se as 
coisas existentes, aprende-se o caminho para se chegar às essenciais.
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
37
Note que Platão não despreza por inteiro o mundo sensível, das opiniões. 
Contudo, o sujeito não pode se acomodar às opiniões, mas deve, a partir da 
reflexão filosófica, a partir das opiniões, chegar ao verdadeiro conhecimento. 
O segundo estágio é o racional, pois o sujeito se desprende das opiniões 
e busca pelo verdadeiro conhecimento. Na figura a seguir, podemos perceber de 
maneira mais clara a maneira com Platão desenvolve sua dialética.
FIGURA 13 – A DIALÉTICA DE PLATÃO
A DIALÉTICA DE PLATÃO
PÍSTIS
(CRENÇAS/IMPRESSÕES)
EIKASIA
(IMAGENS/ILUSÃO)
NOESIS
(VERDADE/SABEDORIA)
DIANÓIA
(RACIOCÍNIO)
MUNDO SENSÍVEL
DOXA (OPINIÃO)
MUNDO INTELIGÍVEL
EPISTEME (CONHECIMENTO)
DIALÉTICA
FONTE: <https://dougnahistoria.blogspot.com.br/2017/12/platao-busca-pela-verdade.html>. 
Acesso em: 24 mar. 2018.
É possível observar que na primeira etapa do processo do conhecimento 
nós temos acesso às imagens através dos nossos sentidos. São ilusões, pois não 
são as imagens reais, mas apenas sombras das verdadeiras. A partir das ilusões, 
segundo Platão, são formuladas as crenças e impressões responsáveis pela 
opinião que temos acerca da realidade em nossa volta. É importante ressaltar que 
cada indivíduo percebe a realidade que o cerca de maneira diferente. A partir da 
percepção, ele forma suas opiniões sobre a realidade da qual faz parte. 
A dianoia (raciocínio) é o conhecimento intermediário que existe entre 
a doxa e a episteme. De acordo com Luckesi e Passos (2000, p. 138), a dianoia 
(pensamento discursivo):
É um nível de conhecimento que está voltado para as essências, mas 
que, para se processar, necessita ainda utilizar-se das figuras visíveis. 
A dianoia é o prelúdio indispensável à noésis (conhecimento inteligível 
das essências). No nível da dianoia, as contradições (igual/diferente, 
grande/pequeno, simples/diverso etc.) são aplainadas, colocando-se 
em seu lugar as noções estáveis e idênticas, como faz a matemática, 
que não admite contradições em seus raciocínios. 
A noésis seria o último estágio do conhecimento, pois “só nesse nível 
cumpre-se o anseio da alma de chegar à verdade” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
38
138). Ainda que o conhecimento humano nunca seja pleno em relação à verdade, 
contudo “a filosofia é um modo de preparação permanente do ser humano para 
retornar ao mundo das essências” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 138). 
Esse retorno ao mundo das essências Platão chama de reminiscência, pois ele 
acreditava que a alma vivia no mundo das ideias ou inteligível, estando em contato 
com a verdade absoluta. As almas, ao serem condenadas a viver em um corpo físico, 
passaram a experimentar as limitações dos sentidos. A filosofia é o meio pelo qual a 
alma pode relembrar a verdade absoluta presente no mundo das ideias, pois conhecer 
é lembrar. “A verdade está na alma, importa lembrá-la” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 
139). A filosofia platônica apela para um retorno ao mundo inteligível, pois somente 
assim o ser humano poderá conhecer a realidade perfeita. 
2.4.3 Aristóteles 
Aristóteles nasceu na cidade de Estagira, no ano 384 a.C. e morreu no 
ano 322 a.C. na cidade de Atenas. Foi aluno de Platão, contudo sua filosofia se 
distancia da filosofia de seu mestre. Os escritos do filósofo abordam os assuntos 
mais diversos, pois escreveu na área da física, lógica, zoologia, metafísica, poesia, 
entre outras. 
Ao lado de Sócrates e Platão, Aristóteles é considerado um dos fundadores 
da filosofia ocidental. Suas obras não apenas influenciaram no campo da filosofia, 
mas tiveram grande impacto sobre a própria teologia medieval.
FIGURA 14 – ARISTÓTELES
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/aristoteles/>. Acesso em: 30 mar. 2018.
Aristóteles foi responsável por sistematizar, organizar tudo o que havia 
sido produzido antes dele no campo da filosofia. Entre outras contribuições, ele 
inaugura uma nova maneira de interpretar as mudanças do ser, pois “conforme 
Aristóteles, o movimento e a transitoriedade ou mudança das coisas se resumem 
na passagem da potência para o ato” (COTRIN, 2000, p. 102). 
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
39
O problema deixado por Heráclito, o mobilismo, tudo está em um constante 
devir, pois a realidade é dinâmica e está em constante mudança, e por outro lado, 
o problema de Parmênides, cuja ideia estava centrada no argumento imobilista 
ou monista, demonstra que o ser é considerado imóvel, imutável e indivisível, se 
tornou o motivo pelo qual “Aristóteles propôs uma nova interpretação ontológica 
(relativa ao estudo do ser), segundo a qual em todo ser devemos distinguir: o ato 
[...] a potência” (COTRIN, 2000, p. 102). 
O que Aristóteles estava querendo dizer com a relação ato e potência que 
existe nas coisas? No entendimento dele, tudo contém em si ato e potência, ou 
seja, tudo é uma relação de causa e efeito. Para o estagirita, o ato consiste na forma 
assumida por um ser em um determinado momento, ou seja, quando as coisas 
estão atualizadas, realizadas segundo um fim inerente ao ser. 
A potência, por outro lado, é aquilo que uma determinada coisa poderá vir 
a ser, que é o devir heraclidiano. Por exemplo, ao ler este material, há em você o 
ato, ou seja, atualização da filosofia aristotélica, e potência, que é o conhecimento 
que está sendo potencializado em você que futuramente poderá ser usado por 
você para responder a uma questão da avaliação ou fazer uma reflexão filosófica. 
Assim, podemos afirmar que “uma potência é a capacidade de tornar-
se uma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de outro ser já em ato. A 
semente que contém o carvalho em potência foi gerada por um carvalho em ato” 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 98). 
Observe que Aristóteles une as concepções de Parmênides e Heráclito 
para desenvolver a teoria do ato e potência. No ato está o ser, ou seja, a essência, a 
substância do ser que é imutável e indivisível, na potência está o acidente, aquilo 
que não é essencial e está em constante mudança. 
 Foi um admirável discípulo de Platão e o mais cotado para assumir seu 
lugar na academia, que devido ao fato de não ter nascido em Atenas, fez com que 
ele se mudasse para a Ásia Menor e pouco tempo depois se tornasse preceptor de 
Alexandre, o Grande. 
Aristóteles critica profundamente a Teoria das Ideias desenvolvida por seu 
antigo mestre. Para Aristóteles, os dados que são obtidos pelos sentidos nos levam 
à constatação de quetais objetos são reais. Assim, ele atribuía à ciência um caráter 
empírico, pois para ele, devemos buscar na experiência sensível a essência do ser. 
Para chegar ao verdadeiro conhecimento, Aristóteles abandona o método 
dialético utilizado por Platão e adota a lógica para alcançar um conhecimento de 
caráter verdadeiramente científico e universal. Para ele, a lógica é instrumento 
necessário para o correto pensar. A lógica aristotélica pode ser subdividida em: 
lógica formal e lógica material. Não iremos aprofundar nosso estudo sobre a 
lógica aristotélica, apenas iremos apresentar sucintamente o que significa cada 
uma delas. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
40
No caso da primeira, lógica formal (ou menor), “estabelece a forma 
correta de pensamento. Se as regras forem aplicadas adequadamente, o raciocínio 
é considerado válido ou correto” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 85). A lógica 
formal, portanto, é responsável por estabelecer a forma correta das operações 
intelectuais, está preocupada com a estrutura do raciocínio. Ela não considera 
necessariamente o conteúdo, pois sua função é organizar o raciocínio, pois 
devemos considerar o fato de que nem todo raciocínio é lógico. 
Um raciocínio lógico precisa atender aos três requisitos ou princípios: 
princípio da identidade, princípio da não-contradição e o princípio do terceiro 
excluído. No caso da lógica formal, é avaliada a validade ou não dos argumentos, 
pois para que um argumento seja válido, é necessário que ele atenda aos três 
princípios da lógica formal. A lógica formal, portanto, “está preocupada com a 
estrutura do pensamento” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 85).
A lógica material “trata da aplicação das operações do pensamento 
segundo a matéria ou natureza dos objetos a conhecer” (ARANHA; MARTINS, 
1993, p. 85). Na lógica material, é analisado se o argumento é verdadeiro ou 
falso. Assim, um argumento é considerado válido somente se as premissas são 
verdadeiras e estejam adequadamente relacionadas com a conclusão. Portanto, 
não interessa apenas que o raciocínio seja formalmente correto, mas aponta para 
o fato de que o raciocínio também respeite a matéria. Significa que o seu conteúdo 
corresponda à natureza do objeto a que se refere. Em última instância, o raciocínio 
deve corresponder à realidade. 
IMPORTANT
E
Na Unidade 2 retornaremos ao estudo da lógica de uma maneira mais ampla.
2.5 PERÍODO HELÊNICO
Este período da filosofia compreende o tempo entre os III a.C. até o século 
IV d.C. “Trata-se do último período da filosofia antiga, quando a polis grega 
desapareceu como centro político, deixando de ser a referência principal dos 
filósofos, uma vez que a Grécia se encontrava sob o poderio do Império Romano” 
(CHAUÍ, 2011, p. 57). 
Em decorrência das mudanças políticas, a própria maneira do homem se 
conceber no mundo toma outra direção. Ocorre porque os pensadores têm como 
preocupação fundamental a reflexão sobre as questões morais, a busca por uma 
definição dos ideais de felicidade, virtude e saber prático. De acordo com Cotrim 
(2000, p. 104):
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
41
Na história da filosofia, a produção filosófica do período helenístico 
corresponde basicamente à continuação das atividades das escolas 
platônicas (Academia) e aristotélica (Liceu), dirigidas respectivamente, 
por discípulos dos dois grandes mestres, Platão e Aristóteles.
Se olharmos atentamente, vamos perceber como os dois pensadores 
representam um divisor de águas na história da filosofia, pois suas obras 
abordaram os mais diversos temas que iam muito além da tentativa de explicar a 
origem do universo ou questões do gênero. 
Platão e Aristóteles contribuíram significativamente para as discussões no 
campo político, ético e moral. Outra informação importante sobre este período 
nos é dada por Chauí (2011, p. 57) ao dizer que:
Essa época da filosofia é constituída por grandes sistemas ou 
doutrinas, isto é, explicações que buscam entender a realidade como 
um todo articulado e entrelaçado pelas coisas da natureza, os seres 
humanos, pelas relações entre elas e eles e de todos com a divindade 
[...]. Predominam preocupações com a física, a ética – pois os filósofos 
já não podem ocupar-se diretamente com a política, uma vez que esta 
é privilégio dos imperadores romanos – e a teologia. 
Com as transformações sociopolíticas, o ideal democrático deu espaço 
para o ideal cosmopolita, pois as discussões em torno da cidadania, em um espaço 
democrático, não faziam mais sentido, já que o que se buscava pelos governantes 
romanos era a implantação de uma monarquia universal. 
Assim, a pólis passou a ser o centro do mundo – cosmos – de onde vem a 
necessidade de pensar o indivíduo cosmopolita. No interior do novo contexto 
surgiram várias escolas de pensamento, entre elas podemos destacar: cinismo, 
pirronismo, estoicismo e o epicurismo. 
O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por um discípulo de 
Sócrates chamado Antístenes. Pregava o desprezo total aos bens materiais, pois 
o próprio termo cinismo tem sua origem no grego kynos, “que significa “cão”, e 
designa a corrente de filósofos que se propuseram a viver como cães da cidade, 
sem qualquer propriedade ou conforto” (COTRIM, 2000, p. 105). Diógenes de 
Sinope levou essa filosofia ao extremo, pois incorporou plenamente a renúncia a 
tudo aquilo que ia além da necessidade para a sobrevivência. 
O pirronismo, fundado por Pirro de Élida (365-275 a.C.), ensinava que 
nenhum tipo de conhecimento é seguro, não há certeza em nada. Assim, “o 
pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar 
o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à 
busca de uma verdade plena” (COTRIM, 2000, p. 105). Significa que o ser humano 
é incapaz de encontrar a verdade, portanto, este deve suspender suas opiniões e 
julgamentos e, além disso, duvidar de tudo. 
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
42
O estoicismo foi uma corrente de pensamento fundada por Zenão de 
Cítio (336-265 a.C.), e pregava austeridade física e moral completa “baseada na 
resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo” (COTRIM, 2000, 
p. 105). 
Para os estoicos, o único bem que existe é a retidão da vontade e o único 
mal, o vício. Assim, o estoicismo não está preocupado necessariamente com aquilo 
que o homem diz, mas na maneira como ele se comporta diante das diferentes 
situações da vida. A experiência estoica consiste na tomada de consciência da 
situação trágica do homem condicionado pelo destino, pois o sofrimento é algo 
inerente à vida humana, portanto, este deve encarar e enfrentar o sofrimento de 
maneira serena, sábia. 
O epicurismo, fundado por Epicuro (324-271 a.C.), ensinava que o ser 
humano deve buscar o prazer. Esse prazer deve ser caracterizado pela moderação, 
visto que o prazer para os epicuristas tem o sentido de um estado de quietude, 
serenidade, imperturbabilidade de alma e ausência de dor. Somente é possível se 
conseguirmos controlar nossas emoções, nossos medos e desejos, pois o efeito do 
autocontrole é o estado de tranquilidade, a ausência da perturbação.
Caro acadêmico, chegamos ao final de mais um tópico. Esperamos que 
aquilo que foi apresentado aqui tenha servido para o seu desenvolvimento 
intelectual e pessoal. A seguir, você encontrará leituras complementares e as 
autoatividades. Esperamos você no próximo tópico!
LEITURA COMPLEMENTAR 1
OS PRÉ-SOCRÁTICOS E A CIÊNCIA
A ciência se inicia com problemas.
Um problema significa que há algo errado ou não resolvido com os fatos.
O seu objetivo é descobrir uma ordem invisível que transforme os fatos de 
enigma em conhecimento [...].
Aqui somos forçados a viajar séculos para trás, para os tempos emque 
nossos pais, os gregos, começaram a pensar sobre o mundo e a se fazerem as 
perguntas com que os cientistas lutam até hoje. Porque as perguntas que eles 
fizeram não admitiam uma resposta única e final. Eram como portas que, uma vez 
abertas, vão dar numa outra porta, muito maior, é verdade, que por sua vez dá 
em outra, indefinidamente. E aqui estamos nós abrindo portas com as perguntas 
que geraram as nossas chaves. Vamos seguir o seu pensamento.
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
43
Você já notou que a nossa experiência cotidiana, o que vemos, ouvimos, 
sentimos, é um fluxo permanente de impressões que não se repete nunca? “Tudo 
flui, nada permanece. Não se pode entrar duas vezes num mesmo rio”, dizia 
Heráclito de Éfeso.
A despeito disso – e aqui está algo que é muito curioso – nós somos capazes 
de falarmos sobre as coisas, de sermos entendidos, de termos conhecimento. 
Nunca mais haverá nuvens idênticas àquelas que produziram o temporal 
de ontem. A despeito disso serei capaz de identificar nuvens como nunca existiram 
antes e dizer que delas chuva virá. Também nunca mais terei uma laranjeira como 
aquela que morreu na velhice, mas serei capaz de identificar numa outra da 
mesma qualidade e prever quanto tempo levará para começar a dar seus frutos.
Como explicar que o meu discurso sobre as coisas não fique colado junto 
com suas aparências? Parece que, ao falar, eu sou capaz de enunciar verdades 
escondidas, ausentes do visível, expressivas de uma natureza profunda das 
coisas. Tanto assim que, quando falo, pretendo que estou dizendo a verdade e 
não apenas sobre aquele momento transitório, mas também sobre o passado e 
o futuro. Laranjas são doces, a água mata a sede, as estrelas giram em torno da 
Terra, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos: não 
são afirmações sobre o sensório imediato. Elas têm pretensões universais.
Foi a grande obsessão da filosofia grega: estabelecer um discurso que 
falasse sobre a natureza íntima das coisas, que permanece a mesma em meio à 
multiplicidade de suas manifestações [...].
A leitura da filosofia grega nos introduz, passo a passo, às diferentes 
fases dessa busca a partir dos filósofos milesianos que achavam que as coisas 
mantinham sua unidade em meio à multiplicidade porque, lá no fundo, todas 
se reduziam a um mesmo suco, uma mesma essência. Progressivamente, houve 
uma passagem da posição, que explica a unidade em termos de substância, para 
uma outra que considera que a questão fundamental são as relações e funções.
FONTE: ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. p. 40-41. In: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da 
Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 87.
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
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LEITURA COMPLEMENTAR 2
O Mito Da Caverna
Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa 
natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa 
morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses 
homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que 
não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os 
impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina 
que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada 
ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno 
muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de 
si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que 
transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e 
animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses 
transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates – Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal 
condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, 
mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica 
de fronte?
Glauco – Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a 
vida?
Sócrates – E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não 
achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco – É bem possível.
Sócrates – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que 
um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse 
diante deles?
Glauco – Sim, por Zeus!
TÓPICO 2 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA
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Sócrates – Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às 
sombras dos objetos fabricados.
Glauco – Assim terá de ser.
Sócrates – Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se 
forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte 
um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a 
voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes 
movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos 
de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer 
que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade 
e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe 
cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? 
Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão 
mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco – Muito mais verdadeiras.
Sócrates – E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? 
Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que 
estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco – Com toda a certeza.
Sócrates – E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a 
encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do 
Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver 
chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só 
das coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco – Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates – Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da 
região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, 
as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, 
os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da 
Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio 
céu do que, durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas 
nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, 
que poderá ver e contemplar tal como é.
Glauco – Necessariamente.
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
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Sócrates – Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que 
faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa 
maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco – É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates – Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que 
aí se professa e daqueles que aí foram seus companheiros de cativeiro, não achas 
que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco – Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates – E se então distribuíssem honrase louvores, se tivessem 
recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem 
das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro 
ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar 
a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são 
venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil 
vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer 
tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco – Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa 
maneira.
Sócrates – Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-
se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar 
bruscamente da luz do Sol?
Glauco – Por certo que sim.
Sócrates – E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros 
que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda 
sua vista confusa e antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-
se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à 
sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que 
não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir para o 
alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco – Sem nenhuma dúvida.
FONTE: PLATÃO. A República. (Trad. Enrico Corvisieri). São Paulo: Nova Cultural, 1999.
47
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Filosofia Antiga compreende o período que vai do surgimento da filosofia 
até a queda do Império Romano.
• Os pré-socráticos são os pensadores da Grécia antiga que precederam Sócrates. 
Também são chamados de filósofos da natureza (physis) ou naturalistas, pois 
tinham como principal objetivo investigar o princípio das coisas. 
• A escola jônica estava sediada na cidade de Mileto nos séculos VI e V a.C. O 
principal filósofo da escola foi Tales de Mileto.
• Para Tales de Mileto, a água é princípio que origina todas as coisas. 
• O princípio originador em Anaximandro é algo que transcende os limites do 
observável, ou seja, não se situa em uma realidade ao alcance dos sentidos.
• Para Anaxímenes, o princípio de todas as coisas era o Ar, que gera, rege e 
governa todas as coisas, as que foram e as que serão (inclusive os deuses), por 
meio dos processos opostos de rarefação e condensação.
• Para Heráclito, as coisas estão em um constante devir, ou seja, as coisas mudam 
constantemente. Sua filosofia é mobilista.
• O nome dessa escola é em função de seu principal expoente ter sido Pitágoras, 
que viveu no século VI a.C.
• Parmênides é um filósofo imobilista, pois para ele nada muda, tudo é uno.
• Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas 
por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas são chamadas de 
átomos.
• Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam 
ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses 
dos alunos, davam aulas de eloquência e de sagacidade mental. Ensinavam 
conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados.
• O método adotado por Sócrates, para ensinar seus discípulos, não consistia 
na mera transmissão de conhecimentos, mas ele prezava pela construção do 
conhecimento a partir de uma autoanálise.
48
• Em sua teoria das ideias, Platão distingue o mundo em sensível e inteligível.
• Aristóteles foi responsável por sistematizar, organizar tudo o que havia sido 
produzido antes dele no campo da filosofia.
• O período helênico se trata do último período da filosofia antiga, quando a pólis 
grega desapareceu como centro político, deixando de ser a referência principal 
dos filósofos, uma vez que a Grécia se encontrava sob o poderio do Império 
Romano.
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1 O que chama a atenção nas escolas filosóficas do período antigo é que todas 
estavam em busca de um princípio originador de todas as coisas. No sentido 
de responder à questão, foram elaboradas as mais diversas teorias. Dentre 
as escolas a seguir, podemos destacar uma delas que desenvolveu a teoria 
em que o Número é o princípio de todas as coisas. Sobre qual dessas escolas 
de filosofia estamos nos referindo?
a) ( ) Escola Jônica.
b) ( ) Escola Eleata.
c) ( ) Escola Pitagórica.
d) ( ) Escola Atomista.
2 Os sofistas foram vistos e tratados por Platão de uma maneira muito 
preconceituosa. Assim, o termo “sofista” começou a ser usado de maneira 
pejorativa, ou seja, quando se tem a intensão de denegrir a imagem de alguém. 
Sobre os sofistas, assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Os sofistas eram professores que viajavam de cidade em cidade e vendiam 
seus ensinamentos em filosofia por um determinado preço. 
( ) Os sofistas, por exemplo, negavam que houvesse verdade ou a possibilidade 
de ter acesso a ela.
( ) Os sofistas eram mestres na filosofia, que tinham como objetivo supremo 
orientar todas as pessoas, independentemente se recebiam ou não algum 
valor por suas aulas. 
( ) Os ensinamentos dos sofistas tinham como finalidade desenvolver em seus 
alunos o poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento 
de doutrinas divergentes.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – F.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 3
OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E 
MEDIEVAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A Idade Média compreende o período que vai desde a queda do Império 
Romano (século IV da era cristã) até o século XV com o início do período 
renascentista. O período é visto por alguns historiadores de maneira muito 
negativa, pois segundo eles, a Igreja Católica, ao exercer seu domínio absoluto, 
foi capaz de dominar todas as áreas do conhecimento humano, impedindo que 
acontecessem avanços científicos e culturais mais significativos. 
No campo da filosofia houve uma vasta produção, pois os filósofos do período 
refletiram e construíram o arcabouço teórico e contextual que alicerçou a cosmovisão 
teocêntrica. Foram os responsáveis por preservar muito dos conhecimentos filosóficos 
antigos por meio das cópias que eram realizadas das obras. 
Contudo, a filosofia do período não costuma receber muita atenção por 
parte dos estudantes de filosofia contemporâneos, pois veem a produção filosófica 
medieval constituída de um caráter religioso. 
Essa conclusão é decorrente do fato de que a filosofia medieval é dogmática, 
pois os filósofos medievais eram em sua maioria católicos e não aceitavam 
qualquer outra verdade que contrariasse os dogmas cristãos. Vale ressaltar que 
a filosofia medieval também contribui para outras áreas do saber, tais como a 
astronomia, a aritmética, a música e a geometria. 
Neste tópico, nós vamos discorrer sobre duas correntes filosóficas distintas 
que se destacaram no período medieval. São distintas porque uma possui uma 
vertente platônica e a outra uma vertente aristotélica. Não será possível apresentar 
todos os filósofos deste período e assim, optamos por estudar brevemente sobre 
as principais contribuições do principal filósofo de cada período: Agostinho 
(Patrística) e São Tomás (Escolástica).
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
2 PATRÍSTICA 
A Patrística compreende o período que vai de meados do século IV ao 
século VII. Naquele período, os principais escritos foram concebidos pelos padres 
da igreja. Com a finalidade de defender o pensamento cristão das heresias e do 
paganismo, os primeiros padres se esforçaram para elaborar um conjunto de 
doutrinas que servisse de base para a fé e prática docristianismo.
O principal representante deste período foi Santo Agostinho. Sua filosofia 
e teologia se voltam para a ideia da dicotomia platônica e a partir daí elabora sua 
própria teoria da iluminação em que atribui para Deus a revelação das verdades 
eternas necessárias para a vida presente e a eternidade. 
FIGURA 15 – AGOSTINHO DE HIPONA
FONTE: <http://leandronazareth.blogspot.com.br/2015/07/o-ceu-para-santo-agostinho-lugar-
de.html>. Acesso em: 30 mar. 2018.
Agostinho de Hipona, devido à formação intelectual e o seu incansável 
esforço em promover a fé cristã junto a um patamar mais elevado no aspecto 
histórico e filosófico, torna-se o principal nome da filosofia patrística. Nascido em 
354 em Tagaste, na Numíbia, hoje localizada na Argélia, faleceu no ano 430 em 
uma cidade próxima da Hipona, onde era bispo. 
A conversão de Agostinho ao cristianismo se deu no ano 386 e está 
narrada de maneira detalhada em seu livro Confissões. Na obra, ele expõe sua 
necessidade espiritual, sua conversão e posterior desenvolvimento filosófico e 
espiritual. Sua conversão e vida cristã são influenciadas por santo Ambrósio, 
por quem tinha profunda admiração, e por Vitorino, um doutor convertido ao 
cristianismo, do qual Agostinho escreve que:
Vitorino não teve vergonha de se fazer servo de vosso Cristo e 
criancinha na vossa fonte, sujeitando o pescoço ao jugo da humildade 
e dobrando a fronte sob o opróbrio da Cruz, ele, o célebre e doutíssimo 
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
53
ancião, perito em todas as artes liberais, leitor e crítico de tantas obras 
filosóficas, preceptor de tantos senadores ilustres (AGOSTINHO, 
2000, p. 203).
As palavras de Agostinho nos dão a noção das figuras públicas que 
influenciaram seu pensamento, pois o platonismo de Vitorino influenciará 
diretamente no pensamento posterior de Agostinho e seu destemido labor em 
defender o cristianismo diante dos poderes e pensadores da época.
O pensamento de Agostinho se tornou um marco na história da filosofia. 
De acordo com Gonzáles apud Olson (2001, p. 259):
Agostinho marca o fim de uma era e o início de outra. É o último dos 
escritores cristãos da Antiguidade (sic) e o precursor da teologia medieval. 
As principais correntes da teologia da Antiguidade convergiram para 
ele e dele fluíram as correntes, não somente do escolasticismo medieval, 
mas também da teologia protestante do século XVI.
Deve-se ao fato de Agostinho ser uma espécie de transição do pensamento 
antigo, sendo que está ainda ligado aos clássicos gregos, mas que devido às 
mudanças pelas quais o mundo estava passando em seu tempo, sua filosofia já 
apontava para novas perspectivas em que o cristianismo cumpriria um papel 
determinante na formação cultural, filosófica, política e religiosa.
Após uma passagem pelo maniqueísmo (filosofia religiosa sincrética 
e dualística), levou-o junto a uma profunda decepção com o movimento. 
Em decorrência do fato, essa experiência o levou para outro estágio em seu 
desenvolvimento filosófico: o ceticismo. 
Agostinho relata que “ocorreu-me a ideia de ter havido uns filósofos 
chamados acadêmicos, mais prudentes do que os outros, porque julgavam 
que de tudo se devia duvidar e sustentavam que nada de verdadeiro podia ser 
compreendido pelo homem” (apud BOEHNER; GILSON, 2012, p. 148).
Em decorrência da desilusão com o maniqueísmo, Agostinho entra em 
contato com os acadêmicos. O fato de ter procurado no maniqueísmo respostas 
mais racionais para as questões que tanto o preocupavam, contudo se decepcionou 
de tal maneira que viu no ceticismo uma oportunidade de acalmar sua aflição, “e 
assim veio a cair na perigosa letargia espiritual da epoché (suspensão do juízo)” 
(BOEHNER; GILSON, 2012, p. 148). 
Como não tinha certeza de nada, e acreditando que nada podia ser tido 
como verdadeiro, Agostinho prefere acreditar que tudo não passa de especulação 
e que ao homem está vedado o conhecimento da verdade.
Sua experiência no ceticismo foi fundamental para conduzi-lo para outra 
etapa da sua vida intelectual. Ao duvidar de tudo, como ocorre com os céticos, 
não foi capaz de solucionar seus anseios por respostas, pois acreditava que existia 
uma verdade universal, estava provada na matemática e era seu dever buscá-la. 
54
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Agostinho não se conformava com a ideia de que nada era verdadeiro, 
pois havia elementos que o faziam pensar o contrário. Assim, ele precisava apenas 
encontrá-los e formular suas próprias concepções sobre a questão da verdade com 
base na fé e na razão. Para ser possível, Agostinho recorre ao neoplatonismo a fim de 
encontrar as respostas para suas indagações, ficando muito claro em seus escritos. 
A partir do momento em que Agostinho se volta para o neoplatonismo, a 
fim de desenvolver sua teoria do conhecimento, é possível perceber a teoria das 
ideias de Platão, que ganhará outra roupagem no pensamento agostiniano pois, 
sobre a possibilidade de conhecimento:
Santo Agostinho conclui, na linha das concepções tradicionais 
da Antiguidade (Platão, Aristóteles, os estoicos) que, dada a 
convencionalidade do signo linguístico – isto é, as palavras variam 
de língua para língua e são sinais arbitrários das coisas –, este não 
pode ter qualquer valor cognitivo mais profundo; não é através das 
palavras que conhecemos; logo não podemos transmitir conhecimento 
pela linguagem. A possibilidade de conhecer supõe algo prévio, 
que torna inteligível a própria linguagem. Sua posição é assim, na 
mesma direção da filosofia platônica, inatista, ou seja, supõe que 
o conhecimento não pode ser derivado inteiramente da apreensão 
sensível ou da experiência concreta, necessitando um elemento prévio 
que sirva de ponto de partida para o próprio processo de conhecer 
(MARCONDES, 1997, p. 111).
O argumento do ceticismo consiste na tese de que os sentidos nos 
enganam, ou seja, todo conhecimento sensível deve ser colocado em dúvida 
pelo fato de não haver confiabilidade em nossa sensibilidade. Entretanto, era 
necessário responder à questão aparentemente simples, mas que sempre foi um 
desafio para a filosofia: qual é a origem do conhecimento? 
Se o conhecimento é apenas sensível, os céticos tinham razão, mas 
Agostinho abandona a ideia do conhecimento sensível e abraça a ideia de que 
o conhecimento é inatista, estando presente mesmo antes de ser experimentado 
pelos sentidos, e que de certa forma o conhecimento se torna resultado de 
reconhecimento daquilo que já está presente no intelecto humano.
Ao trazer determinadas ideias para a esfera da religião cristã, de acordo com 
Agostinho, a verdade está em Deus e ele revela sua verdade por meios naturais (a 
razão), por meios especiais (a fé). Para o conhecimento de Deus e da verdade acerca 
dele a da sua criação, as Escrituras Sagradas ganham muita importância a partir de 
então, pois ele escreve com relação à leitura da Lei e dos Profetas:
Comecei a lê-los e notei que tudo o que de verdadeiro tinha lido nos 
livros platônicos se encontrava naqueles, mas com esta recomendação 
da vossa graça: que aquele que vê não se glorie como se não tivesse 
recebido não somente o que vê, mas também a possibilidade de ver. 
“Com efeito, que coisa tem ele que não tenha recebido?” E Vós, que sois 
sempre o mesmo, não só o admoestais para que Vos veja, mas também 
para que se cure a fim de Vos possuir (AGOSTINHO, 2000, 196).
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
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De acordo com o pensamento de Agostinho, os escritos de alguns filósofos 
estão em consonância com as escrituras sagradas e, portanto, esses escritos contêm 
verdades divinas. 
O filósofo se difere dos demais no conhecimento da verdade, porque 
estes não procuram o conhecimento apenas através dos sentidos. Através de uma 
atitudefilosófica se voltam para um conhecimento que está presente no espírito e 
que, portanto, é verdadeiro, é o conhecimento inato. 
Assim, ele escreve, “mas depois de ler aqueles livros dos platônicos e de 
ser induzido por eles a buscar a verdade incorpórea, vi que ‘as vossas perfeições 
invisíveis se percebem por meio das coisas criadas’” (AGOSTINHO, 2000, p. 194). 
Observe que conhecer está intrinsecamente associado à crença na 
existência de Deus, pois as coisas criadas são uma extensão daquilo que há 
no mundo espiritual no qual Deus governa e reparte de alguma maneira as 
belezas espirituais de maneira finita com os seres criados. Aqui nós percebemos, 
novamente, a presença do pensamento de Fílon sobre o Logos, que é uma herança 
da filosofia grega.
Agostinho desenvolve uma filosofia que afasta a ideia de que a alma tenha 
uma extensão no espaço ou que tenha a forma de um corpo, pois sua preocupação 
não reside na substancialidade da alma, mas na espiritualidade. 
Outra questão que incomodou Agostinho em relação à alma diz respeito 
à origem no homem. Sua dúvida reside em duas possibilidades que dão origem 
à alma: o criacionismo e o traducionismo, mas há a semelhança dos estoicos 
e Agostinho pende para a hipótese de que a alma seja resultado da união do 
homem e da mulher que são seres físicos e espirituais e, que através da união, 
formam outros seres semelhantes, possuidores de uma alma.
Segundo Boehner e Gilson (2012, p. 182), com relação à ideia de que o 
homem é um ser criado com uma alma imortal, “Agostinho nunca teve a menor 
dúvida acerca da imortalidade da alma. Conhece e faz uso das provas de Fédon 
de Platão, acordando-as à própria orientação”. 
Nos diálogos platônicos, a temática central consiste na ideia da 
imortalidade da alma e de que o filósofo não deve temer a morte, pois ele almeja 
a libertação da alma, que está aprisionada ao corpo, impedindo-o de alcançar a 
perfeição.
A tese agostiniana acerca da alma humana demonstra que ela é responsável 
por comunicar o homem com Deus e, entrar em comunhão com Ele. Sua ideia 
pode ser resumida da seguinte maneira:
A alma é o elo entre as ideias divinas e o corpo vivificado por ela. 
Graças à natureza espiritual, ela se abre para aquelas ideias espirituais. 
O corpo, ao contrário, devido à extensão espacial, é incapaz de 
56
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
uma participação direta nas ideias. O ser do corpo resume-se na 
configuração, na disposição de suas partes, e nas leis dos números 
a que está sujeito. Tudo isto ele o deve a alma. E esta lho comunica 
apenas por havê-lo recebido das ideias divinas. Por isso, se o corpo 
não participasse dessas ideias, ele não seria o que é. Por outro lado, 
se participasse diretamente delas, ele mesmo seria uma alma. Mas o 
fato é que, sem ser alma, ele participa, contudo, da ordem e da figura, 
e, mais evidente ainda, da própria sabedoria suprema da verdade 
imutável. Donde segue que o corpo não poderia ser vivificado senão 
por uma alma (BOEHNER; GILSON, 2012, p. 183). 
A centelha divina que habita o corpo é responsável por mantê-lo vivo e 
capacitá-lo a se relacionar com o mundo em sua volta e com o Criador. Observe 
que o corpo, sendo matéria, está limitado a participar de todas as qualidades que 
a alma possui, e assim, a materialidade do corpo torna-o limitado e inferior à 
alma, que é imaterial, imortal e não está limitada pelo espaço físico. 
Determinada ideia de Agostinho é predominante no conceito de alma que 
predomina no ocidente. Tornou-se basilar para o cristianismo posterior, sendo 
que em alguns momentos da história da Igreja era tão forte ao ponto de as pessoas 
desprezarem completamente seus corpos em um processo de mortificação dos 
membros físicos para obter uma comunhão mais profunda com Deus, prática 
muito comum nos mosteiros.
Na visão agostiniana, para que o homem se compreenda e encontre Deus, 
ele deve se voltar para dentro de si, pois Deus está na alma. Se Deus está na alma, 
esta deve servir como instrumento de Deus para dirigir o corpo, salientando 
que “como parte superior do ser humano, a alma está incumbida de governar o 
corpo” (BOEHNER; GILSON, 2012, p. 180). 
O corpo, por sua vez, deve servir aos propósitos de Deus, que se 
manifestam na alma. Outra questão que surge com a afirmação agostiniana é que 
a semelhança, do que pensava Platão, o corpo não passa de um receptáculo da 
alma, que por sua estreita relação com o divino, deve governá-lo.
3 ESCOLÁSTICA
A escolástica recebe determinado nome pelo fato de ser uma tentativa de 
conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional. Tomás de Aquino 
é o principal representante da filosofia escolástica ou escolasticismo. Nasceu na 
cidade de Nápolis, no ano de 1224, e é proveniente de uma família nobre, entrou 
para a Ordem dos Dominicanos em 1244, contrariando a vontade da família. 
No ano de 1245 foi estudar em Paris, onde recebeu influência do mestre 
Alberto Magno, também dominicano, e foi por este apresentado às obras de 
Aristóteles. Algo importante sobre a vida de Tomás de Aquino é o fato de ele 
nunca ter se afastado da vida acadêmica, pois foi professor na Universidade de 
Paris, entre outras instituições da Itália.
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
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FIGURA 16 – TOMÁS DE AQUINO
FONTE: <https://he.wikipedia.org/wiki/%D7%A7%
D7%95%D7%91%D7%A5:St-thomas-aquinas.jpg>. Acesso em: 30 mar. 2018.
O pensamento de São Tomás se caracteriza pelo fato de ver a teologia e a 
filosofia como duas ciências que se completam. Ainda que a ambas se diferenciem, 
“a despeito dessa diversidade essencial entre fé e ciência, ou melhor, entre teologia 
e filosofia, Santo Tomás está longe de advogar uma separação prática entre as 
duas esferas do saber. Ao contrário, demanda uma colaboração íntima entre elas” 
(BOEHNER; GILSON, 2012, p. 451).
Essa é a linha de pensamento que ele irá seguir durante sua vida intelectual. 
Para São Tomás, Deus criou o homem dotado de razão e, portanto, capaz de usá-
la na busca pelo entendimento das coisas do Senhor, além de que a razão capacita 
o homem a compreender racionalmente a sabedoria de Deus e nos incita a amá-
lo e reverenciá-lo e aquele que o conhece profundamente será mais dificilmente 
enganado pelas sutilezas do mundo.
No interior da tradição católica, a teologia e a filosofia de Aquino se tornaram 
fundamentais para o desenvolvimento da teologia posterior, e sua habilidade de 
lidar com temas tão profundos, que dizem respeito a áreas diversas da teologia 
e filosofia, resultou em obras tão vastas que, para compreendê-las, o estudioso 
precisa se dedicar com afinco. O historiador eclesiástico Latourette (2006, p. 684) 
resume bem a contribuição de Tomás de Aquino para a Igreja Católica:
Em Tomás de Aquino, chegamos ao ponto mais alto na realização do 
escolasticismo. Dotado de uma mente penetrante e de capacidade de 
síntese, ele aplicou os métodos dos escolásticos à teologia e empregou 
Aristóteles de tal modo que produziu o que a Igreja Católica Romana 
veio a considerar como sua formulação padrão de teologia. Um 
estudioso bem dedicado de Aristóteles, ele fez pleno uso desse filósofo 
em sua tentativa de pensar de modo sistemático e de apresentar dessa 
mesma forma a amplitude da teologia cristã. Todavia, ele não o seguiu 
sem uma tonalidade de independência.
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
No fragmento apresentado é possível perceber a grandiosidade do 
pensamento de Aquino para a filosofia medieval. O primeiro pensador a 
influenciar São Tomás foi Agostinho, todavia, Aristóteles se torna talvez a base 
principal do desenvolvimento teológico e filosófico de Aquino. 
Por mais que houvesse resistência por parte da Igreja Católica quanto às 
obras de Aristóteles, Aquino viu nas obras dofilósofo grego uma base consistente 
para desenvolver seu pensamento, pois as obras de Aristóteles se encaixam 
perfeitamente ao seu pensamento e compreensão dos dogmas cristãos, e a partir 
de então, tem início uma cristianização da filosofia aristotélica.
3.1 SÃO TOMÁS E A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA
Durante o período medieval, desde Agostinho até Aquino, o ponto de 
partida para as reflexões teológicas era o platonismo, pois a ideia de um mundo 
ideal permeava o discurso agostiniano e os que lhe sucederam. Todavia, a 
originalidade do pensamento de Tomás de Aquino está no fato de que ele inovou 
a maneira de fazer teologia, pois “mostra, então, que a filosofia de Aristóteles é 
perfeitamente compatível com o cristianismo, abrindo assim uma nova alternativa 
para o desenvolvimento da filosofia cristã” (MARCONDES, 1997, p. 126). 
Um fator relevante quando estudamos sobre o renascimento do 
aristotelismo na Idade Média é que os árabes já estudavam a filosofia de Aristóteles 
e comentavam sobre ele. Tanto é que o interesse do aquinate pelas obras de 
Aristóteles é decorrente dos feitos de Averróis, um filósofo árabe nascido em 
Córdoba, na Espanha, que escreveu muitos comentários sobre Aristóteles. Não 
porque Aquino se interessasse pela filosofia averroísta, mas em sua obra Summa 
contra gentiles, que critica o averroísmo. O interesse de São Tomás pela filosofia 
é resultado da necessidade que teve de estudá-la para refutar o averroísmo e 
corroborar autoridade filosófica em suas obras.
O principal ponto de divergência entre Tomás de Aquino e o averroísmo 
consiste no fato de que Averróis defendia que a alma, sendo uma substância 
imaterial, não poderia haver mais que uma para cada espécie, sendo apenas uma 
alma da qual todos os homens são participantes. São Tomás de Aquino refuta 
o argumento defendendo a ideia, de que, a alma, sendo imaterial, une-se ao 
corpo como forma, sendo a alma a forma de uma determinada matéria, e com a 
diversidade de corpos, as almas se individualizam. 
A questão do conhecimento é outro ponto de divergência, pois Averróis 
defende que o objeto do conhecimento já está no intelecto humano, somente 
assim é possível conceber a existência de um conhecimento universal. Assim, São 
Tomás argumenta que há diversos intelectos, o objeto é o mesmo, o que difere é 
como cada intelecto percebe o objeto em si. 
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
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A discussão é resultado de uma leitura diferenciada que cada pensador fez da 
ideia aristotélica da alma intelectiva. Por mais estranha que pareça a discussão para 
os nossos dias, no entanto, resultou na ideia moderna da subjetividade, resultando na 
ideia de que cada indivíduo possui características que os diferenciam dos demais e, 
portanto, é necessário que se respeite a individualidade de cada ser humano.
3.2 AS CINCO VIAS QUE LEVAM A DEUS
São Tomás de Aquino desenvolveu uma teoria sofisticada para explicar 
a existência de Deus: Quinque viis. Por meio das cinco vias (Quinque viis), ele 
empreenderá um esforço sistemático para provar a existência de Deus, partindo de 
uma argumentação de que a razão humana é capaz de compreender que existe um 
Deus e que isso pode ser alcançado naturalmente. Segundo Olson (2001, p. 346):
Aquino apresentou cinco maneiras de demonstrar racionalmente 
a existência de Deus e todas encontram-se, de alguma forma, na 
filosofia de Aristóteles. As cinco maneiras apelam às experiências que 
a mente humana sofre em relação ao mundo natural e mostram que, 
se Deus não existisse, as experiências não teriam sentido ou seriam 
impossíveis. De fato, o que estaria sendo experimentado não existiria. 
Como existem, Deus também deve existir.
A seguir, nós iremos discorrer de maneira resumida sobre as cinco vias 
para termos uma visão sobre seu argumento.
A primeira via tem seu fundamento na constatação de que no universo 
existe movimento e que tudo que se move é movido por outro, “portanto, é 
necessário chegar à causa motriz que não é movida por outra, e todos entendem 
que se trata de Deus” (AQUINO apud OLSON, 2001, p. 346). Aqui já percebemos 
a ideia aristotélica de ato e potência. 
Antes do movimento, todos os seres estão em potência, e assim, existe a 
possibilidade de se tornarem diferentes. O ato é aquilo que o ser é, a realização, 
enquanto a potência é aquilo que o ser poderá se tornar. Nada se move por si só, 
sempre há uma causa do movimento que é exterior ao próprio ser que está em 
mudança. Se todo movimento tem um primeiro motor, logo é necessário chegar 
à causa do primeiro movimento. Partindo do entendimento, o primeiro motor é 
Deus, ou seja, a causa de todo movimento que há no universo, e Ele é puro ato, 
pois nunca virá a ser outra coisa que não seja Deus.
A segunda via diz respeito à primeira causa eficiente. Todas as coisas 
são efeitos de uma causa, e segundo a lógica, todas as coisas necessitam de uma 
causa para serem causadas. Por exemplo, uma pessoa, para nascer, necessita 
de uma causa, neste caso seus pais, pois ela é resultado da fecundação de um 
espermatozoide em um óvulo, ou seja, o ser humano necessita da causa para vir 
a ser. 
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Baseia-se na ideia da necessidade para que uma potência se transforme 
em ato, e assim constatamos a obrigatoriedade de uma causa eficiente para que 
as coisas existam. Nada é causa e efeito ao mesmo tempo, e o efeito sempre nos 
remeterá a uma causa até o infinito, mesmo sendo Deus a causa não causada. Não 
existe por meios racionais a concepção de que alguma coisa tenha causado Deus.
A terceira via refere-se à necessidade e à possibilidade. Sobre essa via, 
vamos recorrer às próprias palavras de São Tomás apud Olson (2001, p. 347), pois 
de acordo com ele:
Encontramos na natureza coisas que têm a possibilidade de existir e de 
não existir, visto que são geradas e corrompidas e, por isso, é possível 
que existam e não existam. Mas é impossível que sempre existam, pois 
o que pode não existir num momento, não existe. Portanto, se tudo 
pode não existir, logo houve um tempo em que não existia nada. Ora, 
se assim fosse, mesmo agora não existiria nada, pois o que não existe 
começa a existir somente a partir de algo já existente. Se, portanto, 
nada existia, seria impossível que algo viesse a existir; e, portanto, 
mesmo agora nada existiria – o que é absurdo. Logo, não somente 
todas as coisas existentes são meramente possíveis, mas deve existir 
algo cuja existência é necessária. Mas toda coisa necessária pode ter ou 
não sua necessidade causada por outra. Porém, é impossível progredir 
infinitamente nas coisas necessárias que têm sua necessidade causada 
por outra, conforme já foi provado em relação às causas eficientes. 
Não podemos, portanto, deixar de reconhecer a existência de algum 
ser que tem sua própria necessidade e que não a recebe de outro, mas 
que, pelo contrário, causa nos outros a necessidade que têm. A tudo 
isso o homem chama de Deus.
Seu argumento demonstra que, para que alguma coisa exista, é necessário 
um princípio. O método aponta para a necessidade da existência de algo que 
antes dele nada existiu, ou seja, uma causa não causada, um princípio não criado, 
um ser autoexistente. Determinada via procura a essência dos seres do universo, 
e aquilo que deve ser o ponto de partida para existirem.
A quarta refere-se aos graus de perfeição do ser. São Tomás apud Olson 
(2001, p. 346), entende que “[...] deve haver [...] algo que seja, para todos os seres, a 
causa da existência, virtude e qualquer outra perfeição; e a ela chamamos Deus”. 
A via pode ser considerada de índole platônica, pois podemos observar 
que em todas as coisas há graus hierárquicos, e consequentemente esses níveis de 
hierarquia e perfeição irão culminar na necessidade de um ser que está acima de 
todas ascoisas e é perfeito. Se há perfeição no mundo, é porque alguém perfeito 
criou todas as formas de requintes. 
Todas as coisas estão classificadas em ordem pelo grau de beleza e 
nobreza que possuem. Quando uma coisa for mais nobre e bela, concluímos que 
ela se aproxima de algo mais nobre e belo do que ela, todavia, toda perfeição 
reside em Deus.
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
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A quinta diz respeito ao fato de que todas as coisas convergem para um fim, 
pois segundo Aquino apud Olson (2001, p. 346), “existe algum ser inteligente, por 
quem todas as coisas naturais são dirigidas para um fim; e esse ser chamamos Deus”. 
Essa via nos leva a pensar na ordem existente no cosmos, pois o que existe 
no universo segue uma ordem de funcionamento e, de acordo com o pensamento 
de Aquino, a ordem converge para um fim estabelecido por Deus, e o fim para 
o qual convergem todas as coisas criadas é Deus. É necessária uma inteligência 
que tenha projetado todas as coisas, pois assim como uma lança só chega ao 
seu destino se alguém a lançar, podemos concluir que as coisas acontecem no 
universo porque alguém estabeleceu um fim para o qual ela existe.
Caro acadêmico, acreditamos que foi possível observar, neste tópico, que 
a Idade Média foi um período em que houve uma intensa produção filosófica. 
Embora a produção tenha de alguma maneira estado associada ao campo 
religioso, entretanto não podemos desmerecer o trabalho dos importantes 
pensadores medievais. 
Infelizmente, não é possível discorrer sobre os principais pensadores do 
período, pois foram muitos e deixaram um importante legado, tanto na teologia 
quanto na filosofia. Esperamos que o que abordamos aqui tenha sido suficiente 
para lhe dar uma noção das principais discussões filosóficas medievais. 
DICAS
Esta obra trata-se de um manual que mostra como se 
delineiam as figuras mais representativas e a evolução da filosofia cristã 
desde Orígenes até o final da Idade Média. Boehner e Gilson empreenderam 
um grande esforço, no sentido de escrever uma História de Filosofia Cristã, 
que trouxesse aos leitores informações extraídas diretamente da fonte. 
Esta obra possui um valor inestimável para aqueles que desejam saber e 
compreender um pouco mais da filosofia medieval. 
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
LEITURA COMPLEMENTAR 1
Deus É Imóvel
5. Daqui se infere ser necessário que o Deus que põe em movimento todas 
as coisas é imóvel. Com efeito, por ser a primeira causa motora, se Ele mesmo 
fosse movido, sê-lo-ia ou por si mesmo ou por outro. Ora, Deus não pode ser 
posto em movimento por outra causa motora, pois neste caso haveria uma outra 
causa anterior a Ele, com o que já não seria Ele a primeira causa motora. Se fosse 
movido por si mesmo, teoricamente isto poderia ocorrer de duas maneiras: ou 
sendo Deus, sob o mesmo aspecto, causa e efeito ao mesmo tempo, ou sendo Ele, 
sob um aspecto, causa de si mesmo, e, sob outro, efeito.
Ora, a primeira hipótese não pode ocorrer, pois tudo o que é movido 
está em potência, ao passo que o que move está em ato (na qualidade de causa 
motora). Se Deus fosse sob um e mesmo aspecto causa e efeito ao mesmo tempo, 
seria necessariamente potência e ato sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo, o 
que é impossível.
Tampouco pode-se verificar a segunda hipótese acima apontada. Pois, se 
Deus fosse sob um aspecto causa motora, e sob outro efeito movido, já não seria a 
primeira causa em virtude de si mesmo. Ora o que é por si mesmo, é anterior ao 
que não o é. Logo, é necessário que a primeira causa motora seja totalmente imóvel.
6. A mesma argumentação pode ser feita a partir das causas motoras e dos 
defeitos existentes no universo criado. Com efeito, parece que todo o movimento 
procede de uma causa imóvel, a qual não é movida segundo o mesmo tipo de 
movimento. Assim, observamos que os processos de alteração, de geração e de 
corrupção verificados no reino criado inferior se reduzem ao corpo celeste (o Sol) 
como à primeira causa motora, a qual por sua vez não é movida por nenhuma 
outra situada dentro da mesma esfera, uma vez que não pode ser gerada, nem 
corrompida, nem alterada. Conclui-se, portanto, necessariamente que Aquele 
que constitui o princípio primário de todo movimento é totalmente imóvel.
FONTE: São Tomás de Aquino, Compêndio de Teologia, Col. Os pensadores, São Paulo, Abril 
Cultural, 1973, p. 78. In: ARANHA, Maria L.; MARTINS, M. H. Filosofando: Introdução à filosofia. 2. 
ed. São Paulo: Moderna, 1993.
TÓPICO 3 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL
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LEITURA COMPLEMENTAR 2
O Que É O Tempo
17. Não houve tempo nenhum em que não fizesseis alguma coisa, pois 
fazíeis o próprio tempo. 
Nenhuns tempos Vos são coeternos, porque Vós permaneceis imutável, e 
se os tempos assim permanecessem, já não seriam tempos. Que é, pois, o tempo? 
Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá apreender, mesmo 
só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E 
que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? 
Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também 
o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? 
Se ninguém mo (sic) perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a 
pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que, 
se nada sobrevivesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não 
existiria o tempo presente.
De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro –, 
se o passado já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se 
fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas 
eternidade. Contudo, se o presente, para ser tempo, tem necessariamente de 
passar pelo pretérito, como podemos afirmar que ele existe, se a causa da sua 
existência é a mesma pela qual deixará de existir? Para que digamos que o tempo 
verdadeiramente existe, porque tende a não ser?
FONTE: AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 2000, p. 322 (Coleção Os Pensadores).
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A patrística compreende o período que vai de meados do século IV ao século 
VII.
• O principal representante da filosofia patrística foi Santo Agostinho.
• Agostinho desenvolve uma filosofia que afasta a ideia de que a alma tenha uma 
extensão no espaço ou que tenha a forma de um corpo, pois sua preocupação 
não reside na substancialidade da alma, mas na espiritualidade dela.
• A tese agostiniana acerca da alma humana é que ela é responsável por 
comunicar o homem com Deus e entrar em comunhão com Ele.
• A escolástica recebe determinado nome pelo fato de ser uma tentativa de 
conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional. Tomás de Aquino 
é o principal representante da filosofia escolástica ou escolasticismo.
• O pensamento de São Tomás se caracteriza pelo fato de ver a teologia e a 
filosofia como duas ciências que se completam.
• São Tomás de Aquino desenvolveu uma teoria sofisticada para explicar a 
existência de Deus: Quinque viis. Por meio das cinco vias (Quinque viis), ele 
empreenderá um esforço sistemático para provar a existência de Deus, partindo 
de uma argumentação de que a razão humana é capaz de compreender que 
existe um Deus e que isso pode ser alcançado naturalmente.
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1 Entre as muitas questões que incomodaram Agostinho, uma delas diz 
respeito à maneira como a alma tem sua origem no homem. Entre as 
muitas teorias desenvolvidas para explicar o mistério, Agostinho também 
desenvolveu uma maneira de explicar como se dá o processo. Sobre essa 
questão, Agostinho acreditava que:
a) ( ) A alma resulta da união do homem e da mulher – seres físicos e espirituaisque por meio de uma relação formam outros seres semelhantes. 
b) ( ) A alma é insuflada no homem por ocasião de seu nascimento, pois 
somente nesse momento o ser gerado passava a viver.
c) ( ) A alma era uma faculdade intelectiva transmitida pelo homem por 
ocasião da relação sexual.
d) ( ) A alma era gerada na mulher em decorrência de uma ação de forças 
espirituais, sem nenhuma relação com o mundo físico e humano. 
2 A filosofia desenvolvida por São Tomás de Aquino foi uma tentativa de unir 
a razão e a fé, conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional. 
O resultado foi o desenvolvimento de um sistema de pensamento amplo 
e profundo, pois tentou explicar os grandes mistérios da teologia a partir 
da elaboração de método de pensamento crítico: o escolasticismo. Sobre a 
filosofia de São Tomás, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as 
falsas:
( ) A filosofia de São Tomás tem como fundamento o pensamento platônico, 
pois a partir desse filósofo grego é que ele desenvolve sua teoria das Cinco 
Vias. 
( ) No pensamento de São Tomás, a filosofia e a teologia são vistas como duas 
áreas do conhecimento que se complementam. 
( ) Ainda que houvesse resistência por parte da Igreja Católica em relação 
ao pensamento do filósofo grego Aristóteles, São Tomás viu nas obras do 
filósofo uma base consistente para desenvolver seu próprio pensamento. 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – F – V. 
c) ( ) F – V – V. 
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 4
OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA 
MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, iremos discorrer sobre as principais correntes filosóficas de 
cada período. As correntes e métodos filosóficos desenvolvidos serviram e ainda 
servem como guia no sentido de nortear a reflexão filosófica. Não significa que o 
filósofo não seja livre para pensar, contudo as linhas de pensamento e os métodos 
servem para orientar a pesquisa. 
Por questão de espaço, optamos por apresentar algumas das correntes 
filosóficas. Sabemos que ficaremos em dívida por não apresentar todas, mas 
acreditamos que aquilo que abordamos aqui será suficiente para você compreender 
um pouco mais sobre os principais debates filosóficos na modernidade e na 
contemporaneidade. 
Para um aprofundamento sobre os métodos filosóficos que surgiram no 
decorrer da história da filosofia ou, as correntes de pensamento, teríamos que ter 
muito mais tempo e espaço. Contudo, achamos de grande importância que os 
acadêmicos tenham uma noção básica sobre aquilo que consideramos necessário 
para refletirem sobre as suas realidades profissionais a partir da filosofia. 
Quando tratarmos das correntes de pensamento filosófico na modernidade, 
optamos por sempre apontar um dos principais representantes de cada período, 
ou sistema de pensamento. A opção se deve ao fato de considerarmos importante 
dar um rosto específico aos diferentes sistemas de pensamento filosófico. 
Inicialmente, vamos discorrer sobre o pensamento filosófico na modernidade, 
sendo que o período marca uma ruptura com o pensamento medieval a partir do 
racionalismo cartesiano. Entretanto, este período lança novos e profundos desafios 
para os filósofos da contemporaneidade. O homem contemporâneo vai ter que 
lidar com uma série de novas descobertas e transformações sociais, que suscitarão 
uma série de novos desafios para a filosofia. 
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
2 FILOSOFIA MODERNA 
É difícil estabelecer uma data precisa para o período exato da Filosofia 
Moderna. Contudo, podemos afirmar que determinado período pode ser datado 
entre os séculos XV até meados do século XIX. É marcado profundamente pela 
mudança de postura em relação à própria concepção que o ser humano tinha acerca 
de si mesmo, pois houve um deslocamento de uma visão teocêntrica para uma 
visão antropocêntrica, ou seja, o mundo não gira mais em torno de Deus, mas o ser 
humano é capaz de intervir e mudar o curso da história por meio do uso da razão. 
Um nome que vale destacar no início da filosofia moderna é o de Francis 
Bacon (1562-1626). Descendente de uma família de nobres, Bacon ocupou 
importantes cargos políticos e sofreu perseguição ao ser acusado de corrupto. 
A respeito de sua conduta moral, sua obra Novum Organon, tornou-se uma obra 
científica de inegável valor.
A contribuição de Bacon consiste no desenvolvimento do método indutivo 
de investigação científica, pois ele estava preocupado com a questão metodológica 
de seu tempo. Era necessário desenvolver um método que fosse capaz de levar a 
um conhecimento objetivo. 
De acordo com Bacon, “a ciência deveria valorizar a pesquisa experimental, 
tendo em vista proporcionar resultados objetivos para o homem. Para isso, 
era necessário que o cientista se libertasse daquilo que Bacon denominava de 
‘ídolos’” (COTRIM, 2000, p. 147). Esses ídolos são os responsáveis pelo insucesso 
das ciências. 
Os ídolos que bloqueiam a mente humana é uma teoria desenvolvida 
por Bacon. O primeiro eram Ídolos da Tribo, pois se originavam da natureza 
da mente humana a partir da ideia falsa de que o homem é a medida de todas 
as coisas. Tais ídolos se referem às noções fundadas na tendência do intelecto 
humano, que comumente mistura a própria natureza com a natureza das coisas 
que ele observa.
A segunda espécie são os Ídolos da Caverna, que são os dos homens 
enquanto indivíduos, pois são aqueles que derivam da pessoa que está fazendo a 
análise, da sua natureza singular, formada pelas suas experiências, suas leituras, 
seus hábitos, sua educação e suas relações sociais. 
Os Ídolos de Foro ou de Mercado são formados a partir da linguagem, 
do discurso, pois as palavras exercem grande poder sobre a razão. As palavras 
possibilitam que os ídolos penetrem no intelecto humano e a maneira como as 
palavras são impostas podem bloquear o intelecto e perturbá-lo por completo, 
impedindo que seja frutífero e contribua para o desenvolvimento científico.
Por fim, há os Ídolos do Teatro, que se originam nos dogmas filosóficos. 
Bacon dá esse nome à espécie, pois segundo ele, a filosofia não passava de uma 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
69
peça teatral, representando o mundo. Assim, esses ídolos faziam com que as 
pessoas construíssem uma visão de mundo a partir de um sistema filosófico, 
que muitas vezes impedia que o sujeito desenvolvesse uma percepção mais 
abrangente, pois se fixava em um dogmatismo filosófico. 
O método indutivo proposto por Bacon tinha como finalidade combater 
os erros provocados pelos ídolos. Assim, sua contribuição para a ciência moderna 
“foi apresentar o conhecimento científico como resultado de um método de 
investigação capaz de conciliar a observação dos fenômenos, a elaboração racional 
das hipóteses e a experimentação controlada para comprovar as conclusões 
obtidas” (COTRIM, 2000, p. 149). 
2.1 O ILUMINISMO
O Iluminismo moderno pode ser compreendido como o movimento “que 
vai dos últimos decênios do século XVII aos últimos decênios do século XVIII: 
esse período muitas vezes é designado simplesmente Iluminismo ou século das 
luzes” (ABBAGNANO, 2012, p. 618). 
O fim do sistema de produção feudal e da intensificação das atividades 
comerciais fizeram com que surgisse uma nova classe social, a burguesia, 
e consequentemente, um novo sistema de produção e comercialização dos 
produtos: o capitalismo. 
Nesse novo sistema de produção, com o fortalecimento econômico das 
nações, surge o Iluminismo, que representa os ideais da classe social que havia se 
fortalecido com a nova dinâmica da economia, neste caso, a burguesia. Para Kant 
apud Abbagnano (2012, p. 618):
O iluminismo é a saída dos homens do estadode minoridade devido 
a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio 
intelecto sem a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles 
mesmos se não for causada por deficiência intelectual, mas por falta de 
decisão e coragem para utilizar o intelecto como guia. 
Significa dizer que o ser humano é capaz de ser dono de si mesmo 
e escolher seu próprio caminho por meio da razão, sem a necessidade de ser 
guiado por uma autoridade arbitrária que o conduz sem que sua racionalidade 
seja explorada. 
Assim, o ser humano, por meio da ciência e da técnica, é capaz de dominar 
a natureza e atingir o progresso material, moral e intelectual. Não apenas isso, mas 
sua capacidade racional é capaz de elevar o ser humano a desfrutar da felicidade, 
pois a razão tenderia a conduzir o ser humano à perfeição. 
No texto a seguir, você perceberá a maneira como o Iluminismo pode 
estar relacionado com as atividades comerciais da burguesia.
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
BURGUESIA E O ILUMINISMO
Igualdade jurídica
No ato de comércio, como, por exemplo, a compra e venda, todas as 
eventuais desigualdades sociais entre compradores e vendedores não são 
essenciais. Na compra e venda, o que efetivamente importa é a igualdade 
jurídica dos participantes do ato comercial. Assim, o Iluminismo defendia a 
igualdade jurídica de todos perante a lei. Todos seriam cidadãos com direitos 
básicos, embora com diferentes situações socioeconômicas. 
Tolerância religiosa ou filosófica
Para a realização do ato comercial, não têm menor importância as 
convicções religiosas ou filosóficas das pessoas.
Do ponto de vista econômico, seria irracional, absurdo, o processo de 
compra e venda somente entre pessoas da mesma religião ou filosofia. Seja 
muçulmano, judeu, cristão ou ateu, a capacidade econômica de um indivíduo 
não depende de suas crenças religiosas ou filosóficas. Assim, a burguesia 
assumiu a defesa da tolerância. 
Liberdade pessoal e social
O comércio só pode se desenvolver em uma sociedade em que as pessoas 
estejam livres para realizar seus negócios. A burguesia, então, posicionou-se 
contra a escravidão da pessoa humana, pois sem homens livres, recebendo 
salários, não pode haver mercado comercial.
Propriedade privada
O comércio também só é possível entre as pessoas que detenham a 
propriedade de bens ou de capitais, pois a propriedade privada confere ao 
proprietário o direito de usar e dispor livremente do que lhe pertence. Assim, 
a burguesia passou a defender o direito à propriedade privada, que se tornou 
essencial à sociedade capitalista.
FONTE: GOLDMANN, Lucien. La Ilustración y la sociedad actual. In: COTRIM, Gilberto. Fundamentos 
da Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 170-171.
Podemos observar o alcance dos ideais iluministas e a maneira como 
esses ideais podem ser interpretados pelas diferentes classes sociais. No caso dos 
burgueses, os ideais representavam maior liberdade para a concretização de seus 
interesses comerciais. 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
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Assim, é possível afirmar que “o iluminismo não foi um movimento coeso 
e, por isso mesmo, apresenta uma riqueza e complexidade que lhe são peculiares” 
(COTRIM, 2000, p. 171). Se por um lado encontramos uma crítica ferrenha ao 
Absolutismo europeu, que controlava arbitrariamente a vida dos indivíduos, 
por outro lado os ideais iluministas servem aos interesses de outra classe, que 
precisava frear o poder dos reis e estabelecer uma ordem social que promovesse 
os seus interesses, ou seja, os interesses burgueses. 
Se, por um lado, temos a influência do Iluminismo no âmbito das relações 
comerciais, por outro lado, o Iluminismo influenciará no próprio sistema jurídico 
do Estado. Exemplo é a proposta do filósofo francês Montesquieu (1689-1755), 
que em sua obra “O espírito das leis”, “discute a respeito das instituições e das 
leis, e busca compreender a diversidade das legislações existentes em diferentes 
épocas e lugares” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 222). 
Na obra, o filósofo argumenta no sentido de defender que é necessária a 
separação dos poderes do Estado, pois evitaria os abusos dos governantes que 
concentravam os poderes de forma absoluta. Assim, ele propõe que os poderes 
do Estado sejam divididos em poder Executivo, Legislativo e Judiciário. 
A seguir, você poderá perceber a argumentação de Montesquieu, que 
fundamentou sua proposta para a divisão dos poderes do Estado.
OS TRÊS PODERES
Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o 
poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade, pois 
se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleça 
leis tirânicas para executá-las tiranicamente.
Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado 
do poder legislativo e do executivo. Se estivesse ligado ao poder legislativo, o 
poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria 
legislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de 
um opressor.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos 
principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse os três poderes: o de fazer leis, 
o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências 
dos indivíduos. 
FONTE: MOTESQUIEU. Do espírito das leis. Col. Os pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973, p. 
157. In.: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. 
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UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Observe que a proposta de Montesquieu é a descentralização do poder, 
pois ao olhar para a história política, é possível perceber os abusos e opressões que 
foram feitos quando o poder estava centralizado na mão de uma única pessoa, ou 
nas mãos de um grupo exclusivo de indivíduos, que eram os únicos que criavam 
as leis, julgavam e executavam.
2.2 O RACIONALISMO
O racionalismo surge em um período de profundas crises, pois no campo 
da ciência, as teorias de Galileu e Copérnico haviam revolucionado a maneira 
como o ser humano percebia o universo. 
No campo religioso, uma das esferas mais importantes da sociedade, o 
poder da Igreja Católica, havia sido abalado com a Reforma de Lutero, abrindo 
caminho para um questionamento profundo acerca do poder universal do 
Catolicismo. As verdades absolutas, com base em dogmas divinos e que haviam 
orientado o pensamento até então, foram colocadas em dúvida diante das novas 
descobertas no campo da física. 
Diante da nova realidade, os temas mais variados entraram na pauta das 
reflexões filosóficas. É importante ressaltar que: 
O pensador francês René Descartes, que viveu entre 1596 e 1659, pode 
ser considerado o pai do racionalismo moderno. Em seus estudos, ele 
não fugiu de temas como Deus, a alma, o mundo e o pensamento. Essa 
continuidade com os temas medievais expressa-se principalmente 
no seu esforço para conciliar a fé cristã com os princípios da ciência 
nascente e para encontrar uma forma de explicação da ordem social 
que não levasse ao ateísmo nem ao materialismo, o que não podia 
ser feito pela via da fé, dada a situação de desestruturação em que 
a mesma se encontrava na Europa, onde a luta pelo poder dividia os 
fiéis em católicos e protestantes (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 187).
O racionalismo centrou na razão humana particular e na confiança, 
ao estabelecer a crença de que é da razão que obtemos conhecimento. Assim, 
o racionalismo, de maneira geral, consiste na “atitude de quem confia nos 
procedimentos da razão para a determinação de crenças ou de técnicas em 
determinado campo” (ABBAGNANO, 2012, p. 967).
Em um sentido mais preciso, “o racionalismo é a posiçãoepistemológica 
que vê no pensamento, na razão, a fonte principal do conhecimento" (HESSEN 
apud SILVEIRA, 2002, p. 28). A razão é a fonte primária capaz de gerar 
conhecimento, pois somente por meio dela é possível conceber conhecimentos 
universalmente válidos. 
Ao contrário da experiência, que nos proporcionou ideias que, em sua 
maioria, são confusas e incertas, a razão penetra na essência das coisas, revelando 
o verdadeiro conhecimento, pois para os racionalistas “a experiência externa ou 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
73
sensível é secundária, podendo até ser prejudicial ao conhecimento” (BUNGE 
apud SILVEIRA, 2002, p. 29). 
O racionalismo, ao relegar a experiência a um plano secundário, estabelece 
que a única maneira de chegarmos à essência das coisas seria através das 
“verdades oriundas da intuição pura e abstrata, portanto racional” (LUCKESI; 
PASSOS, 2000, p. 186).
Vamos discorrer um pouco mais sobre as contribuições de Descartes, que é 
um dos mais importantes filósofos racionalistas. De acordo com Luckesi e Passos 
(2000, p. 189), “o eixo central do método cartesiano de pensar foi a dúvida; ele a tomou 
como método, pois acreditava ser preciso duvidar de todas as certezas existentes 
até encontrar uma que fosse indubitável”. As certezas indubitáveis se tornariam o 
fundamento sobre o qual se poderia construir um conhecimento verdadeiro. 
O método de duvidar de tudo se tornou o critério elementar, pois ao 
questionarmos tudo e todas as coisas, poderemos chegar a uma certeza acerca de 
alguma coisa. O primeiro passo foi colocar em dúvida os conhecimentos advindos 
das percepções sensoriais, pois as ideias oriundas das experiências sensíveis, 
acerca dos objetos materiais, são incertas. 
Assim, Descartes conclui que apenas nossos pensamentos existem, pois 
segundo ele, “penso, logo existo” (Latim: cogito ergo sum). Acontece porque “na 
medida mesmo em que estou pensando, tenho a certeza que estou existindo” 
(DESCARTES apud LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 189). Ao duvidar dos sentidos, 
por não os considerar confiáveis como fonte do conhecimento, o filósofo 
concluiu que o único conhecimento do qual não se pode duvidar é que o “eu” 
é uma coisa que pensa.
Observe que a cadeia de dúvidas é interrompida pelo ser que duvida, pois 
se o pensamento existe, logo, o ser pensante também existe, porque o pensamento 
não pode ser dissociado daquele que pensa. A partir da certeza da existência 
do ser que dúvida, é possível construir um conhecimento verdadeiro. Assim, o 
método (dúvida) desenvolvido por Descartes se orienta a partir de quatro regras: 
a evidência, a análise, a síntese e o desmembramento. 
A primeira regra – a evidência – consiste em não aceitar qualquer coisa 
que se possa ter alguma dúvida acerca da sua veracidade, pois ela deve ser clara 
por si mesma, não abrindo margem para conjecturas e dúvidas. 
A segunda regra – a análise – consiste no fato de que as coisas devem ser 
observadas/verificadas no maior número de partes possíveis, ou seja, devem ser 
divididas na maior quantidade de partes possíveis para que a razão tenha um 
entendimento mais perfeito. 
A terceira regra – a síntese – é a partir da investigação do mais simples 
para o mais complexo, é na verdade o ordenamento do pensamento em que 
74
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
distinguimos o que são verdades simples, absolutas e independentes, daquelas 
que são verdades mais complexas, relativas e condicionadas. 
A quarta regra – desmembramento – estabelece que o investigador deve 
enumerar as partes, pois seleciona apenas aquilo que é necessário e suficiente 
para solucionar um problema, e evita o esquecimento. 
2.3 EMPIRISMO 
A questão que ocupará a mente dos filósofos modernos gira em torno 
da busca por conhecer a realidade, para então se chegar a uma verdade sobre a 
causa dos fatos. O empirismo é a corrente filosófica que vai dar uma verdadeira 
guinada na busca, pois os representantes dessa linha de pensamento assentam 
seu método na experiência, pois “o empirista partia do princípio aristotélico de 
que ‘nada estava no intelecto sem que antes não tivesse estado nos sentidos’” 
(LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 194). 
Assim, eles negavam o inativismo, pois as experiências decorrentes das 
percepções sensoriais constituem a fonte do conhecimento, e somente por meio 
da sensibilidade é possível chegar ao conhecimento verdadeiro. Assim, o que 
caracteriza de forma mais geral a corrente filosófica é “1) negação do caráter absoluto 
da verdade ou, ao menos, da verdade acessível ao homem; 2) reconhecimento de 
que toda verdade pode e deve ser posta à prova, logo eventualmente modificada, 
corrigida ou abandonada” (ABBAGNANO, 2012, p. 377-378). 
NOTA
“A palavra empirismo vem do grego emperia, que significa “experiência”. O 
empirismo, ao contrário do racionalismo, enfatiza o papel da experiência sensível no processo 
do conhecimento” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 105-106). Na corrente filosófica, a experiência 
é o critério para se chegar à verdade. O ponto de apoio dos empiristas para se encontrar maior 
grau de certeza na construção do conhecimento perpassa necessariamente pela experiência.
Entre os pensadores que se destacam nessa corrente de pensamento 
filosófico, podemos destacar os seguintes: Francis Bacon, Thomas Hobbes, 
John Locke, George Berkeley e David Hume. Não será possível discorrer sobre 
o pensamento de todos eles, pois suas contribuições são muito vastas. Assim, 
vamos discorrer brevemente sobre o pensamento de Locke.
John Locke (1632-1704) nasceu na cidade de Urington, na Inglaterra. Teve 
um interesse bastante diversificado no que se refere ao conhecimento científico. 
No âmbito da política, por exemplo, chegou a trabalhar como secretário do Conde 
de Shaftesbury (Ashley Cooper), chanceler da Inglaterra. 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
75
A oportunidade de transitar pelas diferentes áreas possibilitou que Locke 
ampliasse seus horizontes e produzisse importantes obra no campo da filosofia, 
entre elas Ensaio sobre o entendimento humano, publicada em 1690, em que ele 
desenvolve a sua teoria sobre a origem e a natureza do conhecimento humano.
FIGURA 17 – JOHN LOCKE
FONTE: <http://ordemlivre.org/posts/biografia-john-locke--2>. Acesso em: 30 mar. 2018. 
Locke toma como ponto de partida, no sentido de conhecer os limites do 
conhecimento humano, uma crítica ao intelecto humano. No entendimento dele, 
ao nascer, o ser humano é como uma tábula rasa, como uma folha de papel em 
branco sem ideia alguma registrada na tábula. 
Determinada concepção se choca diretamente com a filosofia racionalista 
de pensadores como Platão, Agostinho e Descartes, que acreditavam que o ser 
humano, ao nascer, já possuía algumas ideias inatas, portanto, anteriores à 
experiência sensorial. Para Locke, não fazia sentido, pois apresentava alguns 
problemas, entre eles a impossibilidade de provar cabalmente que o indivíduo 
possui ideias desde seu nascimento. 
Assim, “os objetos externos suprem a mente com as ideias das qualidades 
sensíveis, que são todas diferentes percepções produzidas em nós, e a mente 
supre o entendimento com ideias através de suas próprias operações” (LOCKE 
apud LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 200). Locke primeiramente faz sua crítica em 
relação à concepção inatista das ideias, em seguida analisa o desenvolvimento do 
processo do conhecimento. 
Seguindo a linha de pensamento, significa dizer que o conhecimento está 
fundamentado na experiência, e esta, por sua vez, é responsável por nos fornecer 
as ideias que constituem tudo aquilo que podemos saber sobre o mundo. Assim, 
deparamo-nos com a seguinte questão: quais são as fontes dessas ideias? Para 
Locke, essas fontes são as sensações (o sentido externo) ea reflexão (sentido 
interno). Sobre isso, cabe citar o próprio filósofo.
3. O objeto da sensação é uma fonte das ideias. Primeiro, nossos 
sentidos, familiarizados com os objetos sensíveis particulares, levam 
76
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
para nossa mente várias e distintas percepções das coisas, segundo 
os vários meios pelos quais aqueles objetos os impressionaram. 
Recebemos, assim, as ideias de amarelo, branco, quente, frio, mole, 
duro, amargo, doce e todas as ideias que denominamos de qualidades 
sensíveis [...] A esta grande fonte da maioria das nossas ideias, bastante 
dependente de nossos sentidos, dos quais se encaminham para o 
entendimento, denomino sensação. 
4. As operações de nossas mentes consistem na outra fonte de ideias. 
Segundo, a outra fonte pela qual a experiência supre o entendimento 
com ideias é a percepção das operações de nossa própria mente, que 
se ocupa das ideias que já lhe pertencem. Tais operações, quando a 
alma começa a refletir e a considerar, suprem o entendimento com 
outra série de ideias que não poderia ser obtida das coisas externas, 
tais como a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, raciocinar, o 
conhecer, o querer e todos os diferentes atos de nossas próprias mentes. 
Tendo disso consciência, observando esses atos em nós mesmos, nós 
os incorporamos em nossos entendimentos como ideias distintas, do 
mesmo modo que fazemos com os corpos que impressionam nossos 
sentidos. Toda gente tem essa fonte de ideias completamente em si 
mesma; e, embora não a tenha sentido como relacionada com os objetos 
externos, provavelmente ela está e deve propriamente ser chamada de 
sentido interno [...]. Denomino esta de reflexão (LOCKE, 1999, p. 57-58). 
Locke faz outra distinção importante entre ideias, pois segundo ele, 
existem ideias simples e compostas. As ideias simples são fornecidas pela sensação 
e reflexão, “são apreendidas passivamente pela mente [...], sem as quais a mente 
não pode, por si mesma, formar e/ou ter nenhuma ideia” (LOCKE, 1999, p. 91). 
As ideias se tornam compostas ou complexas “quando o entendimento 
já está abastecido de ideias simples, tem o poder de repetir, comparar e uni-las 
numa variedade quase infinita, formando à vontade novas ideias complexas” 
(LOCKE, 1999, p. 63). Assim, diante das ideias simples, que constituem o material 
primitivo e fundamental do conhecimento, a mente é puramente passiva, torna-
se ativa na formação das ideias complexas. 
3 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 
O período denominado de Filosofia Contemporânea compreende a 
filosofia desenvolvida a partir do final do século XVIII, que tem como marco a 
Revolução Francesa, em 1789. Engloba, portanto, os séculos XVIII, XIX e XX. 
É necessário ressaltar que determinada definição não é aceita de maneira 
unânime pelos historiadores. Deixando a discussão para o campo da história, 
vamos discorrer sobre algumas das correntes e sistemas filosóficos que surgiram 
e se desenvolveram no período. 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
77
3.1 POSITIVISMO 
O positivismo é uma corrente filosófica que se originou na França no 
início do século XIX. A Europa vivia um momento de profundas transformações 
sociais e econômicas, pois era o momento de transição que a sociedade se tornava 
cada vez mais urbana e industrial. Diante do quadro, o positivismo se propõe a 
compreender as mudanças por meio da observação e compreender as leis que 
regem a natureza e o comportamento humano.
 
Outro aspecto relevante do Positivismo é destacado por Cotrim (2000, 
p. 189): “o positivismo expressa um tom geral de confiança nos benefícios da 
industrialização, bem como um otimismo em relação ao progresso capitalista, 
guiado pela técnica e pela ciência”, pois a técnica e a ciência concebem ao ser 
humano a capacidade de intervir na realidade e agir sobre a própria natureza. 
Assim, o positivismo é uma diretriz filosófica que influenciou diversas áreas do 
conhecimento humano.
A origem do positivismo é atribuída para Augusto Comte (1798-1857), 
filósofo francês, nascido em Montpellier, na França. 
FIGURA 18 – AUGUSTO COMTE
FONTE: <http://www.estudopratico.com.br/biografia-de-auguste-comte/>.
Acesso em: 31 mar. 2018.
Comte desenvolveu a teoria denominada de Lei dos três estados. A teoria 
resume o pensamento dele acerca da evolução histórica e cultural da humanidade. 
A humanidade, de acordo com o pensamento de Comte, teria passado por três 
estados no que se refere à concepção de mundo e da vida: o estado teológico, o 
estado metafísico e o positivo. 
Esses três estados pelos quais a humanidade passou significam, na 
verdade, os três estágios do conhecimento científico. Essa teoria de Comte tenta 
explicar o desenvolvimento das concepções intelectuais da humanidade. 
78
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Para Comte (1978, apud SELL, 2002, p. 42), “no estado teológico, o espírito 
humano [...] apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua 
de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária 
explica todas as anomalias existentes no universo”. 
Neste estado, as explicações partem da ideia de que há deuses 
(posteriormente surge a ideia de um único Deus – monoteísmo) que regem os 
destinos do universo, ou seja, Deus está presente em tudo e tudo o que acontece 
parte da vontade Dele. 
O segundo estado da humanidade, denominado de metafísico, é entendido 
como o momento em que se conhecem os fenômenos a partir das causas primeiras. 
Assim, Comte (1978, apud SELL, 2002, p. 42) escreveu que:
No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que uma 
simples modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são 
substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades (abstrações 
personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidos 
como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos 
observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada 
um uma entidade correspondente. 
No segundo estado, os fenômenos são explicados a partir de forças ocultas, 
a ideia da existência de um Deus, que rege todas as coisas, vai dando lugar para 
explicações menos místicas. Em termos simples, significa dizer que os agentes 
sobrenaturais dão lugar para forças ocultas. As fundamentações desse estado são 
mais racionais que o primeiro, mas ainda tem o caráter metafísico porque não são 
demonstráveis experimentalmente. 
No terceiro e último estágio, o positivo, a filosofia é substituída pelo 
conhecimento científico. Assim, Comte (1978, apud SELL, 2002, p. 43) afirma que:
Enfim, no estágio positivo, o espírito humano, reconhecendo a 
impossibilidade de obter as noções absolutas, renuncia a procurar 
a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos 
fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso 
do bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a 
saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. 
Neste estágio, o espírito humano renuncia a procura pelos fins últimos, 
ou seja, abandona a busca de respostas para os últimos ‘porquês’. O ser humano, 
ao abandonar as respostas religiosas, busca por meio do conhecimento científico 
compreender as leis que regem os fenômenos no sentido de prever qual deve ser 
o próximo passo a ser dado para antecipar ao que irá acontecer. 
É o estado da capacidade humana, pois consegue superar todas as 
especulações metafísicas e constrói um conhecimento resultante da verificação e 
comprovação. 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
79
3.2 IDEALISMO 
Quando falamos de idealismo na modernidade, estamos nos referindo 
mais precisamente ao idealismo alemão. Embora esteja presente nafilosofia 
antiga, o idealismo recebe maior influência dos pensadores do período moderno. 
Na ocasião, não iremos tratar do idealismo platônico e nem do idealismo 
tomado no sentido gnosiológico (ou epistemológico), mas no sentido romântico 
que se tornou uma grande corrente filosófica “que se originou na Alemanha no 
período pós-kantiano e que teve numerosas ramificações na filosofia moderna e 
contemporânea de todos os países (ABBAGNANO, 2012, p. 608). 
Assim, deixaremos as divergências de lado acerca das perspectivas teóricas 
dos filósofos idealistas, pois vamos discorrer brevemente sobre os diferentes tipos 
de idealismo: Idealismo Transcendental, Dogmático, Imaterialista e Absoluto. Em 
nosso estudo, iremos abordar apenas o Transcendental e o Absoluto.
Idealismo transcendental é a teoria do conhecimento desenvolvida por 
Immanuel Kant. Ao elaborar sua teoria do conhecimento, Kant se depara com a 
dicotomia racionalismo/empirismo. Por um lado, temos uma tradição racionalista 
(Platão, Descartes, Leibniz e Espinosa) que afirmava que todo conhecimento 
provém da razão. Por outro lado, a tradição empirista (Aristóteles, Hobbes, Locke, 
Berkeley e Hume), afirmando que somente os dados provenientes da experiência 
sensível forneciam as bases para o conhecimento. 
Tal dicotomia representava um problema para Kant, pois segundo o 
filósofo “sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento, 
nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, e intuições sem 
conceitos são cegas” (KANT, 1983, p. 57). Assim, Kant estava querendo dizer que 
na sensibilidade (empirismo) o objeto nos é dado, contudo o objeto percebido 
pela nossa sensibilidade deve ser pensado pelo entendimento (racionalismo).
Portanto, uma teoria do conhecimento precisa superar determinada 
dicotomia e avançar no sentido de apontar uma solução intermediária, neste caso, 
uma filosofia transcendental. Para Kant, o enfoque transcendental se constitui 
em uma revolução copernicana na filosofia, como aconteceu com Copérnico, ao 
afirmar que era a Terra que girava em torno do Sol e não o contrário, com havia 
sido afirmado por Ptolomeu e Aristóteles. 
Kant aponta para o fato de que até então o conhecimento se regulava pelo 
objeto, pois as teorias tentavam adequar a razão humana aos objetos, pois estes 
eram o centro do conhecimento. A filosofia transcendental de Kant proporciona 
uma virada, pois segundo ele,
Até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se 
regular pelos objetos; porém todas as tentativas de mediante conceitos 
estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que ampliaria 
o nosso conhecimento, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso 
80
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da 
Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso 
conhecimento, o que concorda melhor com a requerida possibilidade 
de um conhecimento a priori dos objetos que deve estabelecer algo 
sobre os mesmos antes de nos serem dados (KANT, 1983, p. 12).
Com isso, Kant queria dizer que o sujeito possui as condições de 
possibilidade de conhecer, pois aquilo que o sujeito vê é a representação das 
coisas na nossa percepção. É o sujeito que dá sentido aos objetos no mundo e 
não o contrário. Assim, o conhecimento gravita em torno do sujeito que conhece, 
que percebe e não em torno do objeto do conhecimento, pois é o sujeito que intui 
sobre o objeto e não o contrário. 
O idealismo absoluto foi desenvolvido pelo filósofo alemão Georg W. F. 
Hegel (1770-1831). Hegel, na sua juventude, estudou teologia, e pode ser notado 
na maneira como desenvolveu sua própria filosofia, visto que no fundamento 
dela é possível perceber a influência teológica, embora os aspectos de sua teologia 
cristã se afastem dos princípios ortodoxos. 
FIGURA 19 – GEORG W. F. HEGEL
FONTE: <https://universoracionalista.org/como-fingir-entender-hegel/>. 
Acesso em: 31 mar. 2018.
O idealismo hegeliano tem como fundamento o conceito de espírito 
absoluto. Para compreendermos o conceito, é necessário compreendermos antes 
de tudo, a maneira como Hegel compreende a realidade. 
Assim, “Hegel, tomando como ponto de partida a noção kantiana de que a 
consciência (ou sujeito) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o 
que se chama de filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, 
como vir a ser” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 118). A realidade é movimento. 
A realidade consiste em uma sequência de acontecimentos e situações que 
se sucedem de maneira contínua e o movimento dessa sucessão é de superação 
em relação à situação estabelecida que caminha para uma nova situação que é 
qualitativamente distinta da situação anterior. Para melhor entendimento, Hegel 
apresenta um exemplo bem comum que pode ser observado no cotidiano das pessoas:
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
81
O botão desaparece no florescimento, podendo se dizer que aquele é 
rejeitado por este; de modo semelhante, com o aparecimento do fruto, 
a flor é declarada falsa existência da planta, com o fruto entrando 
no lugar da flor como a sua verdade. Tais formas não somente se 
distinguem, mas cada uma delas se dispersa também sob o impulso 
da outra, porque são reciprocamente incompatíveis. Mas, ao mesmo 
tempo, a sua natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, 
na qual elas não apenas não se rejeitam, mas, ao contrário, são 
necessárias uma para a outra, e essa necessidade igual constitui agora 
a vida do inteiro (HEGEL apud COTRIM, 2000, p. 193).
Determinado exemplo reflete a ideia de que a vida orgânica da planta 
permanece a mesma, contudo há uma variação de estados da planta que se 
sucedem durante sua vida. 
Essa unidade só é possível em decorrência da sucessão de acontecimentos, 
que alteram qualitativamente a situação anterior para a posterior. Assim, há três 
momentos, neste movimento, presente na realidade, que são denominados de 
tese (em si); antítese (fora de si) e síntese (retorno a si). 
“Hegel os concebe como um movimento em espiral, ou seja, um movimento 
circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese 
de um movimento posterior, de caráter mais avançado” (COTRIM, 2000, p. 194).
 
A ideia básica do idealismo hegeliano pode ser resumida da seguinte 
maneira:
O homem tem de viver em dois mundos que se contradizem [...]. O 
espírito afirma o seu direito e a sua dignidade perante a anarquia e a 
brutalidade da natureza à qual devolve a miséria e a violência que ela o 
faz experimentar. Mas esta divisão da vida e da consciência cria para a 
cultura moderna e para a sua compreensão a exigência de resolver uma 
tal contradição (HEGEL apud ARANHA, MARTINS, 1993, p. 118). 
Assim, o filósofo apresenta a ideia de que a realidade não é estática, mas 
está em mudança contínua. A força motriz da mudança são as contradições e os 
embates, um processo que ele denominou de dialética. 
3.3 MARXISMO 
O marxismo é um conceito bastante amplo, pois abarca um conjunto de 
ideias filosóficas, políticas, culturais e econômicas elaboradas e desenvolvidas 
pelo pensador alemão Karl Marx (1818-1883). Embora o conjunto de ideias 
seja denominado de marxismo, contudo é necessário ressaltar a importante 
colaboração de Friedrich Engels (1820-1895) para o seu desenvolvimento.
Em relação à composição do pensamento marxista, é possível observar que 
ele sofreu influência de diversas fontes, pois “da Alemanha, herdou elementos 
da filosofia idealista hegeliana; da França, influências do seu socialismo; e da 
Inglaterra, os pressupostos da sua economia” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 227). 
82
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
A partir das diversas fontes,o marxismo se constitui como uma teoria social 
abrangente, pois ele contempla os elementos dialéticos da filosofia hegeliana, 
embora o critique profundamente; elementos da prática política francesa, pois 
apela para a participação popular nas decisões do Estado; e elementos da teoria 
econômica inglesa, apontando para as contradições internas do sistema capitalista.
Outro aspecto importante em relação ao marxismo é que, “esta concepção 
constitui uma teoria materialista da sociedade, para a qual o mundo material 
exerce uma predominância sobre o mundo ideológico e no qual o movimento 
é a sua própria essência” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 227). Assim, o marxismo 
é composto de uma teoria científica – materialismo histórico – e uma teoria 
filosófica – materialismo dialético. 
No materialismo histórico, o ser humano não pode ser pensado de 
maneira abstrata, mas deve ser pensado em seu conjunto de ralações sociais, pois 
para Marx apud Cotrim (2000, p. 200), “a essência humana [...] é o conjunto das 
relações sociais”. As relações sociais definem os comportamentos, a maneira de 
agir, de pensar e sentir dos indivíduos. 
Determinadas relações se dão no campo da produção da vida material, que 
pretende atender às necessidades humanas para sua manutenção e sobrevivência. 
Assim, o materialismo histórico explica o processo histórico da humanidade a 
partir das relações de produção material na sociedade. 
É necessário compreender que o materialismo histórico é ao mesmo tempo 
dialético, pois o homem alienado historicamente busca se opor às condições que o 
oprimem. Ao se levantar contra as condições materiais e ideológicas que o oprimem 
– teses estabelecidas pela classe dominante – o homem se coloca como uma antítese. 
O embate entre dominadores (tese) e dominados (antítese) faz com que 
surja a síntese, ou seja, um acordo que pretende estabelecer um novo plano de 
relações sociais, que visam à superação das desigualdades. Entretanto, o embate 
de forças está no sentido de superar as constantes contradições que surgem nas 
relações sociais. 
3.4 EXISTENCIALISMO 
O existencialismo consiste em uma doutrina filosófica que surgiu na 
Europa, em meados do século XX. Com o tempo, tornou-se um movimento 
intelectual muito importante. A principal contribuição desta escola filosófica é sua 
ênfase na responsabilidade do homem sobre seu destino e no seu livre-arbítrio. 
O termo existencialismo designa o conjunto de tendências filosóficas 
que, embora divergentes em vários aspectos, tem na existência 
humana o ponto de partida e o objeto fundamental de reflexões. Por 
isso, podemos designá-las mais propriamente filosofias da existência, 
no plural (COTRIM, 2000, p. 212).
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
83
Sören Kierkegaard (1813-1855) concebeu ao existencialismo a ideia central 
da liberdade do homem. A liberdade, contudo, cobra seu preço, pois a ela carrega 
sua eterna aflição perante a falta de um projeto que regeria a caminhada humana. 
Tal condição deixa o indivíduo à mercê de suas próprias decisões e 
atitudes. A realidade é vista por Kierkegaard como um feixe de possibilidades e o 
ser, com sua liberdade de escolha, pode optar pelas que mais lhe convém.
FIGURA 20 – KIERKEGAARD
FONTE: <http://www.deutschlandfunk.de/hoerspielklassiker-das-tagebuch-eines-verfuehrers.688.
de.html?dram:article_id=344730>. Acesso em: 31 mar. 2018.
O possível diz respeito àquilo que pode ser, existir ou acontecer. De 
acordo com Kierkegaard (2007, p. 39), “o possível lembra a criança que recebe 
um convite que lhe agrada e prontamente aquiesce. Não sabe se seus pais darão 
consentimento. E os pais desempenham a função da necessidade”. O desejo de 
alguma maneira pode cegar o homem para que ele veja apenas a possibilidade, 
o que pode ser, existir ou acontecer, mas ignora o fator primordial na relação da 
liberdade, que é a necessidade.
Um dos conceitos desenvolvidos na filosofia existencialista de Kierkegaard 
é o da angústia. Para ele:
A angústia é a vertigem da liberdade, que quando surge o espírito 
quer estabelecer a síntese, e a liberdade olha para baixo, para sua 
própria possibilidade, e então agarra a finitude para nela firmar-se [...]. 
No mesmo instante tudo se modifica, e quando a liberdade se reergue, 
percebe que ela é culpada. Entre esses dois momentos situa-se o salto, 
que nenhuma ciência explicou nem pode explicar (KIERKEGAARD, 
2010, p. 66).
Diferentemente dos animais, que agem instintivamente, o homem faz 
suas escolhas com base em um assentimento racional. Suas escolhas não são 
aleatórias, embora possam ocorrer, mas em sua maioria as escolhas resultam de 
um pensamento, de uma motivação, seja ela boa ou má. 
84
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
O ser humano é capaz de, ao se deparar com uma situação, fazer uma 
análise sobre qual é o melhor caminho. Determinada capacidade de analisar coloca 
o ser humano junto com as possibilidades, ou seja, sua análise ou capacidade de 
síntese, ao mesmo tempo, lhe dá vantagens sobre os animais, lhe coloca junto com 
a angústia.
O animal não tem a experiência da angústia, pois não racionaliza suas 
escolhas. As escolhas dos animais são instintivas, não havendo a necessidade 
de frequentemente fazerem escolhas com base em múltiplas possibilidades. 
O homem precisa sintetizar as possibilidades e fazer a escolha que melhor lhe 
agrade, ou que melhor atenda às necessidades dele. 
A liberdade de escolha desencadeia no homem a angústia, pois 
“psicologicamente, a queda se explica, de fato, com a angústia da liberdade, 
na qual o indivíduo se encontra atraído por aquilo que lhe dá medo, e ele tem 
medo daquilo que o atrai, enquanto é colocado diante da possibilidade tanto da 
realização quanto do fracasso” (GARAVENTA, 2011, p. 12). 
Mais uma vez nos deparamos com a questão da liberdade. Desde muito 
cedo, o homem quer ser livre. Enquanto criança, suas escolhas geralmente estão 
muito restritas, pois ainda estão sob os cuidados dos pais. Ao longo do passar 
dos tempos, a idade vai chegando e o homem tende a ser mais independente, 
podendo tomar suas próprias decisões. Todavia, essa liberdade tem o seu preço, 
e o preço é a angústia da liberdade diante da possibilidade.
O existencialismo enquanto escola filosófica teve influência de outros 
filósofos importantes, dentre eles podemos destacar Nietzsche, Husserl, 
Heidegger e Sartre. Não é possível discorrer sobre as contribuições filosóficas de 
cada um desses pensadores, pois suas obras são vastas e profundas. 
3.5 FENOMENOLOGIA 
A fenomenologia é um método filosófico que surgiu no século XIX. “A 
fenomenologia pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência 
no processo do conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional” 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 123). 
A consciência do sujeito é o ponto de partida para compreender o mundo, 
pois o indivíduo é constituído de uma consciência intencional, pois a consciência 
é fonte de significado para o mundo, visto que ela “é fonte de intencionalidades 
não só cognitivas, mas afetivas e práticas” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 123).
O método foi concebido pelo filósofo, matemático e lógico alemão 
Edmund Husserl (1859-1938). Alguns atribuem a origem da fenomenologia para 
Franz Brentano e que suas ideias foram depois amplamente desenvolvidas por 
Husserl, que havia sido discípulo de Brentano. 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
85
FIGURA 21 – EDMUND HUSSERL
FONTE: <http://www.diocesedelivramento.org/2015/05/ticos-da-fenomenologia-em-husserl.
html>. Acesso em: 31 mar. 2018.
O ponto de partida para o fenomenólogo não pode ser nada daquilo que 
é evidente. Ao se posicionar dessa maneira, a fenomenologia assumiu a tarefa 
de edificar um edifício filosófico sobre novasbases, e a consciência é a pedra 
fundamental. “A tarefa efetiva da fenomenologia será, pois, analisar as vivências 
intencionais da consciência para perceber como aí se produz o sentido dos 
fenômenos, o sentido desse fenômeno global que se chama mundo” (DARTIGUES, 
2008, p. 26).
Husserl entendia que havia dois tipos de ciência: dos fatos e das essências 
ou eidéticas. As ciências eidéticas tinham como objeto a intuição das essências 
(eidos). A intuição das essências indica que o conhecimento que obtemos a partir 
dessa intuição, a priori, não é mediado por nenhum dado ou objeto concreto, mas 
é uma intuição pura acerca daquilo que está por trás dos fatos e se constituem 
como fundamentos destes. 
O que Husserl pretende é apontar um caminho seguro para o 
conhecimento, livrando-se das amarras do empirismo, racionalismo, cientificismo 
e do relativismo. 
A proposta de Husserl consiste em estabelecer a fenomenologia como 
um movimento de ideias, que tem seu próprio método. Através desse método 
filosófico, seu objetivo é alcançar, de modo rigoroso, o conhecimento. 
Para que fosse possível, o sujeito deveria se libertar de toda inflexão, 
ou seja, de todos os elementos desnecessários e se apegar às essências. “Para o 
processo, Husserl denominou de ‘redução fenomenológica’, ou epoché, e consistia 
em colocar em suspensão, ou excluir, os dados da nossa subjetividade – hábitos, 
elementos psicológicos etc. –, bem como os elementos do mundo físico e religioso” 
86
UNIDADE 1 | FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
(LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 225). Ao se libertar ou suspender (epoché) todos esses 
elementos, o sujeito estará preparado para se fixar na essência. 
A redução fenomenológica, ou a redução à essência, proposta por Husserl, 
consiste em todo ato da consciência que visa a identificar não o “objeto em si”, 
mas o modo como o objeto se apresenta e se revela ao indivíduo. O que Husserl 
propõe é regressar às coisas mesmas, que significa a vivência original do objeto. 
Representa uma nova maneira de pensar o problema do conhecimento, agitando 
toda uma tradição filosófica metafísica.
Neste tópico, buscamos apresentar, ainda que de maneira sintetizada, 
as principais correntes filosóficas da modernidade à contemporaneidade. Ao 
discorrer sobre o assunto, observamos a progressão das reflexões filosóficas, 
que nos ajudavam a chegar ao encontro de respostas para os problemas de cada 
tempo. Ainda, tais correntes permitiram a construção de várias teorias que se 
comprometeriam a lidar com as questões que sempre inquietaram a mente 
humana. A lição que deve servir para nós é que a reflexão filosófica não é estanque, 
pois cada tempo apresenta desafios, ajudando o ser humano a pensar e repensar 
os dilemas tão comuns de nossa existência. 
LEITURA COMPLEMENTAR
O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO
Jean-Paul Sartre
Na realidade, a palavra humanismo tem dois significados muito diferentes. 
Por humanismo pode entender-se uma teoria que toma o ser humano como um 
fim último e como valor supremo. Neste sentido, aparece um humanismo, por 
exemplo, na história de Cocteau, “A volta ao mundo em 80 horas”, quando um 
personagem declara, ao sobrevoar as montanhas de avião: “O homem é admirável!” 
Isto significa que eu, pessoalmente, que não construí aviões, me benefício dessas 
invenções particulares e posso, pessoalmente, enquanto homem, me considerar 
também responsável e honrado pelas ações particulares de alguns seres humanos. 
Permitiria supor que pudéssemos atribuir um valor ao homem a partir 
dos atos mais nobres de alguns homens. Este humanismo é absurdo, pois apenas 
o cachorro ou o cavalo poderiam formar um juízo coletivo sobre o homem e 
declarar que o homem é admirável, coisa que, com certeza, não lhes interessa 
fazer, pelo que eu saiba. Mas tampouco se pode admitir que um homem possa 
emitir um julgamento sobre o homem. 
O existencialismo o dispensa de todo julgamento desse gênero: o 
existencialista nunca tomará o homem como fim, pois ele está por fazer-se. E 
não devemos crer em uma humanidade a ser cultuada, da maneira de Augusto 
TÓPICO 4 | OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA
87
Comte. O culto à humanidade culmina no humanismo fechado sobre si mesmo 
de Comte e, devemos dizer, no fascismo. Trata-se de um humanismo que não 
desejamos.
Existe, no entanto, outro sentido para o humanismo, que significa no 
fundo, o seguinte: o homem está constantemente fora de si mesmo; é projetando-
se e perdendo-se fora de si que ele faz o homem existir e, por outro lado, é 
perseguindo fins transcendentes que ele é capaz de existir; sendo essa superação 
e apropriando-se dos objetos apenas em relação a essa superação, o homem está 
no coração, no centro dessa superação. 
Não há outro universo senão o universo humano, um universo da 
subjetividade humana. Esta ligação da transcendência, como constitutiva do 
homem – não no sentido em que Deus é transcendente, mas no sentido de superação 
– e da subjetividade, no sentido em que o homem não se encontra encerrado 
nele mesmo, mas sempre presente num universo humano, denominamos de 
humanismo existencialista. Humanismo, porque lembramos ao homem que não 
há outro legislador senão ele mesmo, e que é no desamparo que ele decidirá 
por si mesmo; e porque mostramos que não é voltando-se para si mesmo, mas 
sempre buscando fora de si um fim que consiste nessa liberação, nesta realização 
particular, que o homem se realizará precisamente como humano.
FONTE: SATRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 59-61.
88
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Iluminismo moderno pode ser compreendido como o movimento que vai dos 
últimos decênios do século XVII aos últimos decênios do século XVIII: o período 
muitas vezes é designado simplesmente Iluminismo ou século das luzes.
• O racionalismo centrou na razão humana particular e na confiança, ao 
estabelecer a crença de que é da razão que obtemos conhecimento.
• O racionalismo é a posição epistemológica que vê no pensamento, na razão, a 
fonte principal do conhecimento.
• O empirismo, ao contrário do racionalismo, enfatiza o papel da experiência 
sensível no processo do conhecimento.
• Locke toma como ponto de partida, no sentido de conhecer os limites do 
conhecimento humano, fazer uma crítica ao intelecto humano. No entendimento 
dele ao nascer, o ser humano é como uma tábula rasa, como uma folha de 
papel em branco sem nenhuma ideia registrada nessa tábula.
• O positivismo é uma corrente filosófica que se originou na França no início do 
século XIX.
• Comte desenvolveu a teoria denominada de Lei dos três estados. Resume o 
pensamento dele acerca da evolução histórica e cultural da humanidade. A 
humanidade, de acordo com o pensamento de Comte, teria passado por três 
estados no que se refere à concepção de mundo e da vida: o estado teológico, o 
estado metafísico e o positivo.
• Idealismo transcendental é a teoria do conhecimento desenvolvida por 
Immanuel Kant.
• O idealismo absoluto foi desenvolvido pelo filósofo alemão Georg W. F. Hegel.
• O idealismo hegeliano tem como fundamento o conceito de espírito absoluto.
• O marxismo é um conceito bastante amplo, pois abarca um conjunto de ideias 
filosóficas, políticas, culturais e econômicas elaboradas e desenvolvidas pelo 
pensador alemão Karl Marx.
89
• O existencialismo consiste em uma doutrina filosófica que surgiu na Europa 
em meados do século XX.
• A fenomenologia é um método filosófico que surgiu no século XIX. Pretende 
realizar a superação da dicotomia razão-experiência no processo do 
conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional.
90
AUTOATIVIDADE
1 O debate entre as correntes de pensamento empirista e racionalista dominou 
as discussões dafilosofia moderna. A discussão foi fundamental para a 
evolução de nosso entendimento acerca da origem do conhecimento humano. 
Assim, explique as principais divergências entre a corrente racionalista e a 
empirista.
2 O Idealismo foi uma corrente filosófica que surgiu com o advento da 
Modernidade. Se opondo ao materialismo, a corrente idealista procura 
demonstrar que o mundo material só pode ser compreendido a partir de sua 
verdade espiritual e subjetiva. Sobre o idealismo, analise as sentenças a seguir:
I- Immanuel Kant desenvolveu a teoria do idealismo transcendental, 
pretendendo superar a dicotomia empirismo/racionalismo.
II- O conceito de idealismo hegeliano foi desenvolvido a partir da dialética 
marxista.
III- Hegel desenvolveu a teoria do Idealismo absoluto, que tinha como 
fundamento o conceito de espírito absoluto.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. 
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
91
UNIDADE 2
PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA 
FILOSOFIA GERAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
• avaliar a importância da lógica como instrumento do pensar na investiga-
ção sobre a validade dos argumentos;
• compreender a necessidade dos métodos científicos válidos na elaboração 
de novos conhecimentos;
• conhecer os desafios que a ética se propõe a discutir a fim de tomar uma 
posição nos debates éticos contemporâneos;
• identificar a importância da estética na sociedade contemporânea.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, no final de cada um deles, você 
encontrará atividades que o ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiridos.
TÓPICO 1 – LÓGICA 
TÓPICO 2 – EPISTEMOLOGIA 
TÓPICO 3 – ÉTICA 
TÓPICO 4 – ESTÉTICA
92
93
TÓPICO 1
LÓGICA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, estamos iniciando os estudos do primeiro tópico da 
Unidade 2. Esta unidade trata de áreas importantes no estudo da filosofia geral. 
Nosso estudo é apenas introdutório, mas procuraremos estabelecer uma boa base 
para que você possa ter uma noção geral de cada uma dessas áreas.
Neste tópico, vamos discorrer sobre (i) o que é lógica; (ii) a divisão da 
lógica clássica ou aristotélica; (iii) o objeto de estudo da filosofia e, por fim (iv), o 
que são as falácias. A opção por dividir o tópico de tal maneira tem uma finalidade 
didática: facilitar a aprendizagem.
Diariamente, lidamos com diversas situações, e precisamos refletir de 
maneira justa para podermos emitir juízo de valor, tomarmos uma decisão ou 
chegarmos a uma conclusão. Deparamo-nos com inúmeros argumentos sobre os 
mais diversos assuntos, situações, fatos etc. 
Assim, é necessário analisar criticamente tais argumentos que chegam até 
nós através das mídias ou situações corriqueiras do cotidiano. É nesse contexto 
comum que a lógica tem um papel extremamente relevante, pois ela nos auxilia a 
usar corretamente o raciocínio.
Diante do que falamos até aqui, convidamos você a conhecer um pouco 
mais sobre essa área, para que ela contribua com seu crescimento intelectual e 
profissional. 
2 O QUE É LÓGICA?
A filosofia é uma importante área do conhecimento humano, como já 
vimos na Unidade 1. Entretanto, para que o conhecimento construído a partir da 
reflexão filosófica seja válido, é necessário que este seja submetido ao rigor lógico. 
Se a filosofia proporciona o espaço para o ser humano refletir sobre os 
mais diversos assuntos em busca de um conhecimento verdadeiro, válido e 
correto, não podemos nos esquecer de que, no caminho, deparamo-nos com vários 
obstáculos, pois o próprio pensamento precisa estar submetido a determinadas 
regras para a identificação dos argumentos logicamente válidos.
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
94
Um passo necessário e fundamental para a elaboração de conhecimentos 
válidos e precisos é recorrer à lógica. É possível encontrarmos inúmeras definições 
do que é Lógica enquanto ciência, contudo achamos importante compreender 
também o sentido da palavra, pois “o termo ‘lógica’ vem de uma palavra grega 
que significa razão. A lógica é, de fato, “a ciência das leis ideais do pensamento 
e a arte de aplicá-las corretamente à procura e à demonstração da verdade” 
(JOLIVET, 1965, p. 27). 
Devido a sua importância, a Lógica é tradicionalmente concebida como 
uma disciplina introdutória da filosofia, “pois é o instrumento que vai permitir 
o caminhar rigoroso do filósofo ou do cientista” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 
79). Assim, ela trata de raciocínios e, a partir de certas premissas, tenta chegar a 
uma conclusão. O lógico está interessado nas proposições de um determinado 
raciocínio, e vale lembrar que:
As proposições são verdadeiras ou falsas e nisto diferem das perguntas, 
ordens e exclamações. Só as proposições podem ser afirmadas ou 
negadas; uma pergunta pode ser respondida, uma ordem dada e 
uma exclamação proferida, mas nenhuma delas pode ser afirmada ou 
negada, nem é possível julgá-las como verdadeiras ou falsas (COPI, 
1978, p. 22). 
A proposição é, portanto, o conteúdo verdadeiro ou falso expresso 
por uma afirmação. As proposições são expressas por meio de frases que são 
formadas por termos. Quando afirmamos que “Maria é mulher”, essa proposição 
é a atribuição do predicado “mulher” ao sujeito “Maria”. 
Os termos de uma proposição podem ser divididos em várias categorias: 
substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, ação e 
paixão (passividade). No nosso exemplo, “Maria” é a substância e “mulher” é a 
qualidade.
O principal objetivo da lógica é eliminar as ambiguidades dos argumentos 
e trazer clareza. Os seus princípios fundamentais são os seguintes:
1) Princípio da identidade: A é A.
2) Princípio da não contradição: impossível A é A e não A ao mesmo tempo e sob 
o mesmo aspecto.
3) Princípio do terceiro excluído: A é X ou não X, não há terceira possibilidade.
Nosso objetivo a seguir é apresentar a maneira como a lógica aristotélica 
ou silogística está dividida e aprofundar um pouco mais sobre o objeto da lógica 
clássica. Vale ressaltar que a lógica atualmente se aplica a diversos campos, 
pois existe a lógica da computação, lógica matemática, dentre outras, mas não 
é possível abordar cada um dos campos em particular devido à complexidade.
TÓPICO 1 | LÓGICA
95
DICAS
A obra Introdução à lógica (1978), de Irving M. Copi, 
é um importante tratado sobre o tema. Tanto por sua importância 
filosófica como por suas aplicações técnicas, a lógica ocupa um 
lugar central no pensamento contemporâneo. 'Introdução à lógica' 
constitui uma introdução amena e rigorosa sobre o tema. O livro 
compreende três partes intituladas, respectivamente, 'Linguagem', 
'Dedução' e Indução'.
 
Na primeira se encontra uma análise das diversas funções da 
linguagem, tema que possui um interesse filosófico intrínseco. Na 
segunda, o autor apresenta um enfoque atualizado da silogística 
tradicional e introduz um método gráfico – o dos diagramas de Venn – para decidir sobre a 
validade dos raciocínios silogísticos. Na terceira parte, o autor se refere à lógica da explicação 
científica com ilustrações cuidadosamente selecionadas.
3 DIVISÃO DA LÓGICA ARISTOTÉLICA OU CLÁSSICA
A lógica clássica, ou aristotélica, é a mais conhecida no ocidente e se tornou 
referência para a filosofia grega. Não significa que outros filósofos gregos ou até 
mesmo outros povos não tenham estabelecido algumas leis do pensamento. 
O que ocorreu foi que Aristóteles, ao estabelecer leis de pensamento, fez com 
significativa amplitude e rigor, diferenciando-se de seus antecessores. 
Apesar da lógica possuir várias divisões, vamos nos ater apenas à 
divisão da lógica aristotélica: formal e material. Aristótelesfoi criador daquilo 
que conhecemos hoje como lógica silogística, que veremos mais adiante. 
A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre a maneira como a lógica 
aristotélica está dividida. 
3.1 LÓGICA FORMAL OU MENOR 
A divisão da lógica clássica em formal e material possibilita que os 
estudantes compreendam dois aspectos essenciais na argumentação, a validade 
e a verdade, pois um argumento válido não quer dizer necessariamente que é 
verdadeiro. Assim, denominamos falácias, conceito que veremos mais adiante. A 
lógica formal:
É a parte da Lógica que estabelece a forma correta das operações 
intelectuais, ou melhor, que assegura o acordo do pensamento consigo 
mesmo, de tal maneira que os princípios que descobrem as regras 
se aplicam a todos os objetos do pensamento, quaisquer que sejam 
(JOLIVET, 1965, p. 29).
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
96
Na lógica formal, se as regras forem aplicadas corretamente, o raciocínio 
é considerado válido ou inválido, correto ou incorreto. Assim, é correto afirmar 
que “a lógica formal trata da relação entre as premissas e conclusão, deixando 
de se importar com a verdade das premissas. Para ela, interessa dar as regras do 
pensamento correto” (MUNDIM, 2002, p. 136). 
O método de raciocínio da lógica formal é a dedução e a indução que 
veremos de maneira mais detalhada a seguir. A lógica formal está interessada 
na forma ou estrutura do raciocínio. A verdade das premissas e conclusões é 
uma preocupação secundária para esse ramo da lógica. A lógica formal tenta 
encontrar o método correto para derivar uma verdade da outra. O que interessa à 
lógica formal é garantir que a passagem das premissas para a conclusão seja bem 
fundamentada.
3.2 LÓGICA MATERIAL OU MAIOR
A lógica material se difere da lógica formal, pois somente no campo 
da lógica material que se pode falar da verdade. Assim, o argumento é válido 
somente quando as premissas são verdadeiras e se relacionam adequadamente à 
conclusão. A lógica material pode ser entendida como:
A parte da lógica que determina as leis particulares e as regras 
especiais que decorrem da natureza dos objetos a conhecer. Ela define 
os métodos das matemáticas, da física, da química, das ciências 
naturais, das ciências morais etc., que são outras tantas lógicas 
especiais (JOLIVET, 1965, p. 29).
Portanto, “a lógica material é então a que considera a matéria do 
conhecimento e determina as vias a seguir para chegar segura e rapidamente 
à verdade” (JOLIVET, 1965, p. 59). A lógica material está relacionada com o 
conteúdo do argumento, se eles são certos e verdadeiros, ou errados e falsos. 
4 SILOGISMO: O OBJETO DE ESTUDO DA LÓGICA
A lógica permite realizar uma análise crítica do argumento. É por meio 
dela que conseguimos fazer uma distinção entre os bons e maus argumentos. 
Para analisar a validade de argumentos compostos com proposições universais e 
particulares, podemos recorrer à lógica silogística criada por Aristóteles. 
Segundo Jolivet (1965, p. 47), “o silogismo é um argumento pelo qual, 
de um antecedente que une dois termos a um terceiro, tira-se um consequente 
que une esses dois termos entre si”. O silogismo consiste em uma argumentação, 
na qual há duas premissas simples (maior e menor) dispostas de determinada 
maneira, que derivam de uma terceira proposição, ou seja, uma conclusão.
TÓPICO 1 | LÓGICA
97
IMPORTANT
E
a) Composição do silogismo: todo silogismo regular se compõe então de três 
proposições, nas quais três termos são comparados dois a dois. Os termos são:
O termo maior (T), assim chamado porque é o que tem maior extensão.
O termo menor (t), assim chamado porque é o que tem menor extensão.
O termo médio (M) porque é o intermediário entre o termo maior e o menor. 
As duas primeiras proposições, que compõem coletivamente o antecedente, se chamam 
premissas, e a terceira, a conclusão. Das duas premissas, a que contém o termo maior se 
chama maior. A que contém o termo menor se chama menor. 
FONTE: JOLIVET, Régis. Curso de filosofia. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1965.
Talvez você esteja se perguntando: o que é um argumento? Argumento 
não é apenas um conjunto de frases soltas, mas é constituído de um conjunto de 
sentenças em que uma delas é chamada de conclusão e as outras de premissas. 
Assim, podemos dizer que o argumento é uma série conectada de proposições 
que tem a intenção de dar razões para outra proposição. 
Os argumentos representam, através da linguagem/palavras, um 
raciocínio, que consiste em fazer uso da razão para depreender, julgar ou 
compreender. Significa dizer que a argumentação:
É um tipo de operação discursiva do pensamento, consistente em 
encadear logicamente os juízos e deles tirar uma conclusão. Essa 
operação é discursiva porque vai de uma ideia ou de um juízo a outro 
passando por um ou vários intermediários e exige o uso das palavras. 
Portanto, é um conhecimento mediato, ou seja, procede por mediação, 
por meio de alguma coisa (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 80). 
Assim, a proposição consiste em um conjunto de palavras ou símbolos 
que exprime um pensamento de sentido completo: fatos, juízos, valor lógico. 
Fato: O círculo é redondo.
Juízo: Quem faz exercício físico fica mais saudável.
Valor lógico: Verdadeiro ou falso. O valor lógico se refere ao fato e ao juízo. 
Observe que para ser uma proposição, o conjunto de palavras precisa 
exprimir um fato, ou um juízo e possuir um valor lógico. Um exemplo de 
frase que não é uma proposição: “Para de jogar bola agora!” A frase não é uma 
proposição, pois consiste em uma ordem e é impossível determinar o valor lógico 
dessa expressão, ou seja, não há como determinar se ela é falsa ou verdadeira. 
Para entendermos melhor o que foi dito, podemos recorrer aos exemplos a seguir:
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
98
Exemplo 1:
Todas as zebras são listradas. (Premissa maior)
Marty é uma zebra. (Premissa menor)
Logo, Marty é listrado. (Conclusão) 
FIGURA 1 – ARGUMENTAÇÃO
LISTRAS
ZEBRAS
MARTY
SIMPATICOS
CATARINENSES
MARTY
FONTE: O autor
O diagrama anterior mostra que o argumento é verdadeiro e com conteúdo 
verdadeiro. No exemplo a seguir, nós temos um argumento com conteúdo falso. 
Exemplo 2:
Todos os catarinenses são simpáticos. (Premissa maior)
Marty é catarinense. (Premissa menor)
Marty é simpático. (Conclusão)
FIGURA 2 – ARGUMENTO COM CONTEÚDO FALSO
FONTE: O autor
TÓPICO 1 | LÓGICA
99
Observe que, no caso, o argumento é válido, contudo, o conteúdo é 
falso. É necessário estar atento, pois um argumento pode ser válido, entretanto 
a validade do argumento não quer dizer que necessariamente seu conteúdo é 
verdadeiro. Validade e verdade são duas coisas distintas na argumentação. No 
exemplo a seguir, deparamo-nos com outro tipo de argumento:
Exemplo 3:
Todos os catarinenses são brasileiros. (Premissa maior)
Alguns brasileiros simpáticos. (Premissa menor)
Alguns catarinenses são simpáticos. (Conclusão)
FIGURA 3 – ARGUMENTO INVÁLIDO
CATARINENSES
BRASILEIROS
SIMPÁTICOS
FONTE: O autor 
A partir das premissas, podem existir catarinenses simpáticos ou 
não. Assim, a conclusão não é necessariamente verdadeira. É um exemplo de 
argumento inválido, também chamado de sofisma, com conteúdo verdadeiro. 
Vamos analisar o próximo exemplo de argumentação:
Exemplo 4:
Todos os catarinenses são simpáticos. (Premissa maior)
Marty é simpático. (Premissa menor)
Marty é catarinense. (Conclusão)
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
100
FIGURA 4 – ARGUMENTO COM A CONCLUSÃO FALSA
CATARINENSES
SIMPÁTICOS
• MARTY
FONTE: O autor
A conclusão não é necessariamente verdadeira, pois, de acordo com 
as premissas, Marty pode ser catarinense ou não. O argumento é inválido e o 
conteúdo é falso.Com os exemplos que foram dados, é possível constatar que, ao compararmos 
a conclusão de um determinado argumento com o conteúdo correspondente, 
pode ocorrer de o argumento ser válido sem que, obrigatoriamente, o conteúdo 
seja verdadeiro. Pode ocorrer ainda de um argumento ser inválido e o conteúdo 
ser verdadeiro. 
Observe que nos exemplos dados temos três proposições (a expressão 
verbal de um juízo). A última proposição, a conclusão, deriva logicamente das 
duas proposições anteriores, ou seja, das premissas. 
É possível perceber que as premissas apontam para uma conclusão lógica 
inevitável, pois não há logicamente espaço para outra conclusão que não seja 
esta, a menos que o raciocínio seja inválido ao colocar na conclusão a proposição 
“Logo, Marty não é listrado”. Aqui há a necessidade de introduzir um conceito 
importante: a inferência. 
O conceito significa que, por meio de uma operação intelectual, afirmamos 
uma verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já 
reconhecidas como verdadeiras. Assim, a lógica “examina se a estrutura das 
inferências é correta ou não” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 80).
IMPORTANT
E
Proposição é uma frase que se pretende verdadeira ou falsa, não podendo haver 
uma terceira opção (de acordo com o Princípio do 3º Excluído). As proposições transmitem 
pensamentos, ou seja, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de 
determinados entes. 
TÓPICO 1 | LÓGICA
101
Ocorre quando afirmamos algo (predicado) de algo (sujeito). Lembre-se: toda proposição 
é uma frase, mas nem toda frase é uma proposição; uma frase é uma proposição apenas 
quando possui valor de verdade (possibilidade de ser VERDADEIRA ou FALSA).
FONTE: SANTOS, Denise M. R. Introdução à lógica. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/
coorlicen/manager/arquivos/AV3nYbBM3U_13042016-introducao_a_logica.pdf>.Acesso 
em: 5 jun. 2018. 
A lógica, portanto, analisa criticamente a validade ou não dos argumentos 
e, consequentemente, o próprio raciocínio. A argumentação é a maneira como 
utilizamos o raciocínio com a finalidade de convencer nosso interlocutor acerca de 
alguma coisa. Para desenvolver uma argumentação, fazemos uso de vários tipos 
de raciocínio, que devem se basear em normas sólidas e em argumentos aceitáveis.
A nossa mente é capaz de realizar as seguintes operações: a simples 
apreensão (conceber uma ideia), os juízos (afirmação ou negação de uma relação 
entre duas ideias) e o raciocínio (a partir de dois ou mais juízos dados, tirar outro 
juízo que destes decorre). 
A simples apreensão é a compreensão direta de uma situação formando 
um conceito que por fim passa a ter uma denominação. O juízo aborda ideias 
relacionadas ou separadas que fazem surgir um julgamento da realidade. Já o 
raciocínio faz parte de uma situação que envolve juízos e proposições e pretende 
chegar a conclusões adequadas. A seguir, veremos dois métodos argumentativos.
4.1 MÉTODO DEDUTIVO
A dedução é basicamente o tipo de argumento que demonstra que a 
“conclusão é inferida necessariamente de duas premissas” (ARANHA; MARTINS, 
1993, p. 80). Um raciocínio dedutivo é caracterizado por apresentar conclusões 
que devem ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras, caso tal 
raciocínio respeite uma forma lógica que seja válida. 
Assim, podemos afirmar que a dedução é a inferência que parte de uma 
premissa geral e, por meio do mecanismo lógico, chega-se a uma conclusão geral 
ou particular. Um dado importante acerca do raciocínio dedutivo é que para se 
chegar a uma conclusão, não necessitamos dos dados da experiência sensorial 
imediata. A seguir, temos um exemplo de argumento dedutivo:
Todas as zebras são listradas. (Premissa maior)
Marty é uma zebra. (Premissa menor)
Logo, Marty é listrado. (Conclusão) 
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
102
A conclusão é necessária porque deriva das premissas. A dedução lógica 
é denominada por Aristóteles de silogismo, que é a conexão ou ligação de ideias, 
ou seja, consiste na ligação de dois termos por um terceiro.
Se observarmos a premissa maior, contém o termo maior e o termo médio 
(listradas e zebras), a premissa menor contém o termo médio e o termo menor (zebra 
e Marty) e a conclusão deve conter os termos maior e menor (listrado e Marty). 
O termo “zebra” é o termo médio que estabelece uma ligação entre 
“Marty” e “listrado”, de modo que a conclusão se torna necessária se todas as 
zebras são listradas e Marty é uma zebra. Necessariamente, Marty é listrado (“se 
Z = L”, e “M = Z”, então “M = L”). 
FIGURA 5 – DEDUÇÃO
Particulariza
ParticularUniversal
Dedução
FONTE: <http://www.fisica-interessante.com/aula-historia-e-epistemologia-da-ciencia-6-
racionalismo-e-empirismo-1.html>. Acesso em: 6 jun. 2018.
A dedução é um modelo de rigor, estéril, não nos ensina nada de novo 
e apenas organiza o conhecimento obtido. Contudo, mesmo que ela não inove, 
“não significa que ela não tenha valor algum” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 81). 
No caso da dedução, a conclusão diz apenas aquilo que as premissas já disseram. 
4.2 MÉTODO INDUTIVO
A indução “é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares 
suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal” (ARANHA; 
MARTINS, 1993, p. 80). O princípio do raciocínio indutivo não trata de uma 
verdade lógica pura, mas de premissas para inferir uma conclusão. 
Quando afirmamos que todos os seres humanos que nasceram vivos 
morrerão algum dia porque até hoje ninguém deixou de morrer, estamos 
usando um argumento indutivo. Assim, os argumentos desse tipo se baseiam na 
experiência passada para sustentar uma conclusão. É um tipo de argumento que 
parte do particular para o geral, como mostra a figura a seguir.
TÓPICO 1 | LÓGICA
103
Generaliza
ParticularUniversal
Indução
FIGURA 6 – INDUÇÃO
FONTE: <http://www.fisica-interessante.com/aula-historia-e-epistemologia-da-ciencia-6-
racionalismo-e-empirismo-1.html>. Acesso em: 6 jun. 2018.
O argumento indutivo procede de proposições particulares ou de termos 
relativamente menores do que aqueles que estão na conclusão para chegarmos 
a termos mais universais ou mais extensos. “A indução é um raciocínio pelo 
qual o espírito, de dados singulares suficientes, infere uma verdade universal” 
(JOLIVET, 1965, p. 57). Veja o exemplo a seguir:
O ferro conduz eletricidade, 
O ouro conduz eletricidade, 
O chumbo conduz eletricidade, 
A prata conduz eletricidade, 
... etc., 
Logo, todo metal conduz eletricidade. 
Observe que, diferentemente da dedução, que demonstra que a conclusão 
deriva de verdades universais já conhecidas, a indução vai no sentido contrário, 
pois a conclusão deriva da experiência sensível, dos dados particulares. De acordo 
com Aranha e Martins (1993, p. 81):
Diferentemente do argumento dedutivo, o conteúdo da conclusão 
da indução excede o das premissas. Ou seja, enquanto a conclusão 
da dedução está contida nas premissas, e retira daí sua validade, a 
conclusão da indução tem apenas a probabilidade de ser correta. 
Portanto, segundo Wesley Salmon, podemos afirmar que as premissas 
de um argumento indutivo correto sustentam ou atribuem certa 
verossimilhança à conclusão. 
Assim, um argumento indutivo correto pode, perfeitamente, admitir uma 
conclusão falsa, embora suas premissas sejam verdadeiras. 
O raciocínio indutivo não possui o mesmo rigor lógico do dedutivo, 
contudo podemos afirmar que a indução é “uma forma fecunda de pensar, sendo 
responsável pela fundamentação de grande parte dos nossos conhecimentos da 
vida diária e de grande valia nas ciências experimentais” (ARANHA; MARTINS, 
1993, p. 81).UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
104
4.2.1 Analogia
Talvez você já tenha ouvido a seguinte expressão: “para muitas pessoas, a 
felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, 
dão-lhe um chute” (GLAAB, 2018, p. 1). 
É um exemplo de analogia, ou seja, a relação de semelhança estabelecida 
entre duas ou mais entidades distintas. Assim, a analogia pode ser representada 
pelo seguinte modelo: X está para Y, assim como A está para B. A felicidade está 
para muitas pessoas, assim como a bola está para o jogador. Logo que a recebe, dá 
um chute, pois é o destino da bola. A semelhança consiste no fato de que muitas 
pessoas querem a felicidade e, quando a possuem, agem como o jogador, chutam-
na para longe. É um exemplo de analogia um tanto simples.
Antes de continuarmos nossa demonstração sobre a analogia, achamos 
necessário recorrer à definição mais detalhada de uma analogia. Segundo Aranha 
e Martins (1993, p. 82), a analogia:
É uma indução parcial ou imperfeita, na qual passamos de um ou 
de alguns fatos singulares não a uma conclusão universal, mas a 
uma outra enunciação singular ou particular, inferida em virtude da 
comparação entre objetos que, embora diferentes, apresentam pontos 
de semelhança. 
A analogia tem uma função muito importante para a tomada de decisões, 
explicação, criatividade, tomada de decisões etc., e não se restringe ao senso 
comum ou à linguagem diária, mas tem uma função importante na ciência, na 
filosofia e em outras áreas. A seguir, nós temos um exemplo analógico um pouco 
mais extenso, exemplo que pode apontar conclusões a partir de inferências:
A primeira revolução industrial, a revolução das “sombrias satânicas”, 
significou a desvalorização do braço humano pela concorrência da 
maquinaria. Não há nenhum salário com que um trabalhador de pá 
e picareta possa viver nos Estados Unidos, e que seja suficientemente 
baixo para concorrer com o trabalho de uma escavadora mecânica. 
Do mesmo modo, a moderna revolução industrial [computadores 
eletrônicos de alta velocidade, as chamadas “máquinas pensantes”] 
está destinada a desvalorizar o cérebro humano, pelo menos, em 
suas decisões mais simples e rotineiras. Naturalmente, assim como 
o carpinteiro, o mecânico e o alfaiate hábeis sobreviveram, em certa 
medida, à primeira revolução industrial, também o cientista e o 
administrador hábil poderão sobreviver à segunda (WIENER apud 
COPI, 1978, p. 313). 
É possível perceber que ao traçar uma semelhança entre o que ocorreu 
com os operários na primeira Revolução Industrial, o autor conclui o que ocorrerá 
com determinadas profissões com a chegada da moderna Revolução Industrial. 
Assim, a analogia é uma forma de raciocínio que possibilita prever determinadas 
situações ou antecipá-las. 
TÓPICO 1 | LÓGICA
105
Ainda segundo Copi (1978, p. 313), “a analogia constitui o fundamento 
da maior parte dos nossos raciocínios comuns. A partir de experiências passadas, 
procuramos discernir o que revelará o futuro”. Aranha e Martins (1993) 
consideraram a analogia sendo uma indução parcial e imperfeita. 
Ainda, “é logicamente possível que o que aconteceu com os trabalhadores 
manuais hábeis não aconteça aos trabalhadores intelectuais hábeis” (COPI, 1978, 
p. 314). Significa que embora existam semelhanças entre uma revolução industrial 
e outra, não significa dizer que o desfecho da segunda seja necessariamente 
semelhante ao desfecho da primeira. 
5 FALÁCIAS
O sentido primário do termo falácia é enganar. Ao lançar mão de uma 
falácia, o interlocutor tem por objetivo tornar seu argumento verdadeiro, mesmo 
que seja logicamente inconsistente, inválido e sem fundamento. 
De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 83), “a falácia é um tipo de 
raciocínio incorreto, embora tenha aparência de correção. É também conhecida 
como sofisma, ou paralogismo, e alguns estudiosos fazem distinção entre eles”. 
Sobre a distinção entre sofisma e paralogismo, Jolivet (1965, p. 66) aponta 
que o raciocínio incorreto é apresentado com aparências de verdade. “Se o sofisma 
é cometido de boa-fé e sem intenção de enganar, chamá-lo-emos de paralogismo”, 
mas o autor acrescenta que a distinção, de acordo com a boa ou má-fé, cabe ao 
moralista. 
Para o lógico, sofisma e paralogismo são uma única e mesma coisa. É 
importante destacarmos a distinção que Jolivet faz entre a lógica e a filosofia 
moral, pois os conceitos podem ser compreendidos e operacionalizados de 
maneira diferente de acordo com as particularidades de cada área da filosofia, 
embora tais conceitos mantenham seus aspectos essenciais. 
A falácia é um tipo de raciocínio incorreto. “No estudo da lógica, é 
costume reservar o nome de ‘falácia’ àqueles argumentos ou raciocínios que, 
embora incorretos, podem ser psicologicamente persuasivos” (COPI, 1978, p. 73). 
Assim, o estudo das falácias é uma maneira de nos prevenirmos de possíveis 
raciocínios enganosos. 
As falácias podem ser divididas em formais e não formais. As falácias 
formais são bastante comuns em nosso cotidiano. Consiste em um tipo de 
raciocínio que é inválido devido às falhas em sua estrutura lógica, ou seja, o erro 
está na Forma do argumento. Um exemplo de falácia formal é o seguinte:
Todos os psicopatas são perigosos.
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
106
Eu não sou psicopata.
Logo, não sou perigoso. 
Determinada falácia é muito sutil pois, a partir das premissas, infere-se 
que o fato de um indivíduo não ser psicopata, portanto, não é perigoso. O fato 
de estar fora do grupo dos psicopatas não significa que se está fora do grupo dos 
perigosos. Ele pode ser um motorista perigoso, possuir um temperamento que o 
torna perigoso quando provocado, pode ser possessivo em seus relacionamentos 
e tal atitude poderá torná-lo perigoso quando é rejeitado. 
As falácias não formais consistem em “erros de raciocínio em que podemos 
cair por inadvertência ou falta de atenção ao nosso tema, ou então porque somos 
iludidos por alguma ambiguidade na linguagem usada para formular nosso 
argumento” (COPI, 1978, p. 74). Para entendermos melhor, vamos recorrer ao 
tipo de falácia não formal: falácia Ad hominem. Exemplo: A filosofia de Francis 
Bacon é inútil, pois ele perdeu seu cargo de Chanceler da Inglaterra devido aos 
seus atos desonestos. 
Tiramos uma conclusão com base em um aspecto particular da vida 
de um indivíduo, que nós consideramos negativo. É necessário saber separar 
a produção filosófica de Bacon dos seus atos considerados desonestos. Seria 
o mesmo que dizer que “Pedro não pode trabalhar em um açougue porque é 
vegetariano”. Deve-se identificar que tal ataque, seja ofensivo ou circunstancial, 
não está baseado no argumento.
Há falácias que se caracterizam devido ao seu forte apelo emocional. No 
exemplo a seguir, temos uma falácia com apelo emocional: “Jorge não queria 
comer o seu prato cheio de dobradinha e fígado bovino, mas sua mãe o lembrou 
de muitas crianças que não têm o que comer em algumas regiões dos países de 
terceiro mundo”. 
O indivíduo tenta convencer seu interlocutor manipulando uma resposta 
emocional sem utilizar um argumento válido e convincente. Jorge não é 
moralmente obrigado a comer uma comida que ele não gosta só porque existem 
crianças passando fome em outras partes do mundo. O apelo às emoções é uma 
maneira questionável de convencer alguém, pois o interlocutor poderá responder 
ao apelo emocional sem avaliar racionalmente suas decisões. 
TÓPICO 1 | LÓGICA
107
LEITURA COMPLEMENTAR 1
A lógica aristotélica (ou lógica clássica)
Maria Lúcia de Arruda Aranha
Maria Helena Pires Martins
A Grécia clássica aparece historicamente como o berço da filosofia. Por 
volta do século VI a.C., os primeiros filósofos pré-socráticos redigem uma proza, 
um discurso que se opõe à atitude míticapredominante nos poemas de Homero 
e Hesíodo.
O novo modo de pensar é decomposto na sua estrutura por Aristóteles 
(séc. IV a.C.) na obra Analíticos. Como o próprio nome diz, trata-se de uma 
análise do pensamento nas suas partes integrantes. Essa e outras obras sobre 
o assunto foram denominadas mais tarde, em conjunto, Órganon, que significa 
“instrumento” (de fato, instrumento para se proceder corretamente no pensar). O 
próprio Aristóteles não usou a palavra lógica, que só apareceu mais tarde. 
Embora alguns filósofos anteriores tenham estabelecido algumas leis 
de pensamento, nenhum o fez com tal amplitude e rigor. Por essa razão, a 
lógica aristotélica permaneceu através dos séculos até os nossos dias. Segundo 
Aristóteles, a lógica se subdivide em:
• lógica formal (ou menor), que estabelece a forma correta das operações do 
pensamento. Se as regras forem aplicadas adequadamente, o raciocínio é 
considerado válido ou correto.
• lógica material (ou maior), parte da lógica que trata da aplicação das operações 
do pensamento segundo a matéria ou natureza dos objetos a conhecer. 
Enquanto a lógica formal se preocupa com a estrutura do pensamento, a lógica 
material investiga a adequação do raciocínio à realidade. É também chamada 
de metodologia, e como tal procura o método próprio de cada ciência. 
Uma das mais duradouras contribuições da lógica aristotélica está 
no estabelecimento dos primeiros princípios, percebidos por intuição, e que são 
anteriores a qualquer raciocínio, servindo de base para todos os argumentos. 
Esses princípios, que se relacionam entre si, também dependem da concepção 
metafísica aristotélica [...]. São eles o princípio de identidade, o princípio de não-
contradição e o princípio do terceiro excluído. 
É assim que Aristóteles formula na Metafísica o princípio de não 
contradição: “É impossível que o mesmo determinante convenha ao mesmo 
ente ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto”. Significa que duas proposições 
contraditórias não podem ser verdadeiras e que não é possível afirmar e negar 
simultaneamente a mesma coisa.
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
108
Os defensores da lógica dialética no século XIX serão contra os princípios 
de identidade, não contradição e terceiro excluído.
Na Idade Média, no século XIII, foram introduzidas as célebres fórmulas 
mnemônicas, que facilitam a retenção pela memória: por meio das palavras 
latinas, era possível identificar as combinações possíveis das premissas e da 
conclusão, que redundavam em silogismo válido, a fim de distingui-lo dos 
sofismas. Também foram organizadas as oito regras do silogismo.
FONTE: ARANHA, Maria L.; MARTINS, M. H. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: 
Moderna, 1993. 
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A lógica formal – princípios elementares
Roberto Patrus Mundim
VOCABULÁRIO BÁSICO
Argumento: é uma coleção de enunciados que estão relacionados uns com 
os outros.
Termo: qualquer substantivo, adjetivo ou nome próprio de um enunciado.
Proposição: é um enunciado, uma proposição bem formada, declarativa.
• proposições categóricas: é aquela composta apenas por sujeito, verbo de 
ligação e predicado. Elas podem se dividir em relação à quantidade e em relação 
à qualidade.
• Divisão em relação à quantidade:
Proposições categóricas universais:
Todos os x são y.
Proposições categóricas particulares:
Alguns x são y.
• Divisão em relação à qualidade:
Proposição categórica afirmativa:
Todos os x são y.
Proposição categórica negativa: Nenhum
x é y. Alguns x não são y.
Particular: conceito que se refere a alguns indivíduos de uma espécie. 
Lembre-se de que a própria palavra particular supõe um todo do qual se considera 
só uma parte.
Exemplos: alguns homens, várias pessoas, muitos cães.
Geral: conceito que se refere à totalidade de indivíduos de uma espécie; 
que é atribuível a todos os componentes de um grupo, espécie ou gênero. Quando 
usamos os conceitos “homem”, “pessoa”, “cão”, acabamos nos referimos a todos 
os homens, a todas as pessoas, a todos os cães.
TÓPICO 1 | LÓGICA
109
Silogismo: é um raciocínio que, a partir de duas proposições que são aceitas 
como verdadeiras, leva, de maneira necessária, a uma conclusão.
Ex.:
Os jovens de idade entre 16 e 18 anos podem votar para presidente este ano.
Você é um jovem de 17 anos.
Logo, você pode votar para presidente este ano.
Premissas: são as proposições do silogismo das quais decorre a conclusão.
Falácia ou sofisma: argumentos logicamente incorretos.
FONTE: MUNDIM, Roberto P. A lógica formal – princípios elementares. 2002. Disponível em: 
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/view/113/104>. Acesso em: 
7 jun. 2018.
110
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A lógica é, de fato, a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las 
corretamente à procura e à demonstração da verdade.
• A proposição é o conteúdo verdadeiro ou falso expresso por uma afirmação. 
As proposições são expressas por meio de frases que são formadas por termos.
• O principal objetivo da lógica é eliminar as ambiguidades dos argumentos e 
trazer clareza.
• A lógica clássica ou aristotélica é a mais conhecida no ocidente e que se tornou 
referência para a filosofia grega.
• Na lógica formal, se as regras forem aplicadas corretamente, o raciocínio é 
considerado válido ou inválido, correto ou incorreto.
• Na lógica material, um processo de razão ou pensamento é analisado em 
consideração ao conteúdo real de suas premissas e, portanto, deve resultar em 
uma verdade material, ou seja, em uma conclusão que seja consistente com a 
realidade.
• O silogismo consiste em uma argumentação, na qual há duas premissas 
simples (maior e menor) dispostas de determinada maneira, que derivam de 
uma terceira proposição, ou seja, uma conclusão.
• Um raciocínio dedutivo é caracterizado por apresentar conclusões que devem 
ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras, caso tal raciocínio 
respeite uma forma lógica que seja válida.
• O princípio do raciocínio indutivo não trata de uma verdade lógica pura, mas 
de premissas para inferir uma conclusão.
• A analogia é uma indução parcial ou imperfeita, na qual passamos de um ou 
de alguns fatos singulares para uma conclusão universal. Contudo, há uma 
outra enunciação singular ou particular, inferida em virtude da comparação 
entre objetos que, embora diferentes, apresentam pontos de semelhança.
• A falácia é um tipo de raciocínio incorreto, embora tenha aparência de correção.
111
AUTOATIVIDADE
1 A lógica é uma ferramenta que nos auxilia a fazer uma análise crítica dos 
argumentos. Os argumentos seguem dois métodos, sendo que um deles é o 
método dedutivo. Sobre determinado método, assinale a questão correta:
a) ( ) No método dedutivo, não precisamos necessariamente da experiência 
sensorial para chegarmos a conclusões adequadas.
b) ( ) O método de raciocínio dedutivo parte particular para o geral.
c) ( ) O método dedutivo é muito importante, pois revela novos 
conhecimentos, ensinando-nos sempre alguma coisa nova. 
d) ( ) O método dedutivo traz na conclusão informações que não estão 
contidas nas premissas. 
2 A analogia é um recurso importante na argumentação, pois auxilia na 
compreensão de assuntos difíceis, comparando-os entre si para explicar 
uma questão abstrata. Sobre a analogia, assinale V para as afirmativas 
verdadeiras e F para as falsas:
( ) O problema da analogia é que está restrita ao senso comum e à linguagem 
diária. 
( ) A analogia cumpre uma função muito importante, dentre outras, para a 
tomada de decisões.
( ) A analogia, ao comparar eventos históricos, por exemplo, prevê 
determinadas situações.
( ) Apesar da analogia ser um recurso importante, não possui utilidade 
alguma na argumentação.Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) V – F – F – V. 
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – V – F – F. 
112
113
TÓPICO 2
EPISTEMOLOGIA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios da filosofia e da ciência consiste na elaboração 
de um conhecimento confiável. É um debate que acompanha a filosofia e a ciência 
desde os primórdios. Assim, podemos perguntar: é possível elaborar um tipo 
de conhecimento confiável? Uma pergunta um pouco mais ousada: é possível 
conhecer alguma coisa? Diante dessas e de muitas outras perguntas sobre o 
conhecimento, a Epistemologia ou Teoria do Conhecimento tem se debruçado no 
sentido de encontrar respostas.
Neste tópico, iremos discorrer de maneira pontual sobre alguns tópicos 
relacionados ao tema. Primeiramente, vamos oferecer uma resposta sobre o que 
é epistemologia (i); em seguida, vamos responder o que é conhecimento (ii) e, por 
último, vamos discorrer sobre os tipos de conhecimento (iii). Nossa finalidade é dar 
uma noção geral sobre o assunto, pois um estudo mais aprofundado requer um 
espaço muito maior para apresentarmos os vários aspectos relacionados à temática.
Talvez você esteja se perguntando: por que é importante estudar 
determinado assunto? Para respondermos à questão, precisamos olhar em 
nossa volta, pois uma rápida olhada nos permite perceber que vivemos em uma 
sociedade da tecnologia da informação e do conhecimento. 
Cabe a cada pessoa ter um olhar crítico para tudo e diferenciar entre aquilo 
que é conhecimento e aquilo que é uma mera crença. Neste tópico, você terá a 
oportunidade de conhecer o processo necessário na elaboração de conhecimento 
válido, racional e científico. 
2 O QUE É EPISTEMOLOGIA?
A palavra epistemologia “é mais usada pelos filósofos de fala inglesa, 
indicando uma teoria geral do conhecimento, incluindo o método científico” 
(CHAMPLIN, 2004, p. 406). É, portanto, a área da filosofia que se ocupa do estudo 
da natureza do conhecimento, da justificação e da racionalidade da crença e dos 
sistemas de crenças. A Epistemologia e a Teoria do Conhecimento, em termos 
gerais, são consideradas por muitos como sendo a mesma coisa. 
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
114
IMPORTANT
E
O termo epistemologia vem do grego, significando "episteme" conhecimento 
e "logos" ciência ou estudo. Assim, seu nome etimológico estabelece que a ciência 
epistemológica se concentre na análise do conhecimento, especialmente no que se refere 
ao conhecimento científico, aquele que conta com um objeto de estudo definido, com 
métodos e recursos mensuráveis, com estruturas de análises e geração de hipóteses.
FONTE: <http://queconceito.com.br/epistemologia>. Acesso em: 22 jun. 2018. 
A finalidade da epistemologia é diferenciar a ciência da pseudociência, 
ou seja, investiga profundamente e de maneira consciente, afastando-se da 
superficialidade presente na mera opinião. 
O problema fundamental da epistemologia é buscar compreender 
a relação entre sujeito (o que conhece) e o objeto (aquilo que é conhecido). O 
sujeito que conhece é o ser pensante, é ser que pensa, emite juízos, pois possui a 
capacidade cognitiva para aprender, saber e conhecer o objeto. 
O objeto, por outro lado, é todo processo, ou fenômeno que pode ser 
conhecido. É a partir do objeto que o sujeito desenvolve sua atividade cognitiva. 
O conhecimento, portanto, é resultado da relação entre sujeito e objeto.
A relação pode ser explicada de maneiras diferentes. Há três vertentes 
importantes que buscam esclarecer a relação: o realismo, o idealismo e o criticismo 
kantiano. O realismo afirma que o ponto de partida para o conhecimento são as 
coisas. Assim, a representação que nós fazemos do real depende do objeto. O 
idealismo, por sua vez, advoga que o ser humano nasce com certos conhecimentos 
que são universais e necessários e que o tornam capaz de conhecer a realidade. 
De acordo com Morente (1980, p. 68), “o idealismo considerará o 
conhecimento como uma atividade que vai do sujeito às coisas, como uma 
atividade elaboradora de conceitos, ao final de cuja elaboração surge a realidade 
das coisas”. O criticismo kantiano é o meio-termo entre idealismo e realismo. 
A vertente é denominada de criticismo em decorrência da crítica da razão 
desenvolvida por Immanuel Kant, na qual ele traça o que o sujeito pode conhecer. 
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
115
IMPORTANT
E
Ao final deste tópico, nós disponibilizamos uma Leitura Complementar sobre 
outra área importante da filosofia geral: Metafísica. A razão por termos a colocado neste 
tópico se deve ao fato de a Metafísica ser uma doutrina que busca o conhecimento da 
essência das coisas.
3 O QUE É CONHECIMENTO?
Quando lidamos com essa questão, estamos lidando com um problema 
analítico da epistemologia. Esta, mesmo que aparentemente seja simples, não é 
uma questão fácil de responder, pois o conhecimento difere da mera crença ou 
opinião que o sujeito possui em relação a diversas questões. Vale destacar que o 
entendimento da epistemologia envolve também as questões clássicas da crença, 
verdade e justificação, pois o conhecimento é a crença verdadeira justificada. 
3.1 PRIMEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: 
CRENÇA
De acordo com Abbagnano (2012, p. 254), “no significado mais geral, 
atitude de quem reconhece como verdadeira uma proposição: portanto, a 
adesão à validade de uma noção qualquer”. “Podem ser chamadas de crenças as 
convicções científicas tanto quanto as confissões religiosas, o reconhecimento de 
um princípio evidente ou de uma demonstração, bem como a aceitação de um 
preconceito ou de uma superstição” (p. 254). 
A preocupação da epistemologia é com o que acreditamos, incluindo a 
verdade e tudo que nós aceitamos para nós mesmos como verdade. Portanto, 
uma determinada crença pessoal pode ou não ser verdadeira do ponto de vista 
epistemológico e significa que nem toda crença é conhecimento. Sobre as crenças 
particulares, observe a figura a seguir:
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
116
FIGURA 7 – CRENÇAS DIFERENTES SOBRE UMA MESMA SITUAÇÃO
Tudo
coberto
menos os
olhos...
O que é
uma cultura
machista,
cruel e
dominadora!
Tudo
descoberto,
menos os
olhos!!!
O que é uma 
cultura
machista,
cruel e
dominadora!
FONTE: <https://apocalipsetotal.wordpress.com/2013/10/22/a-filosofia-do-bahaismo-e-o-seu-
conflito-inevitavel/>. Acesso em: 19 jun. 2018.
Comportamentos, fatos e notícias revelam nossas crenças sobre 
determinadas coisas e que diferem radicalmente uns dos outros. Não queremos 
aqui introduzir uma discussão moral sobre o que é certo ou errado, qual crença 
é certa ou errada.
 
Nosso propósito é apenas demonstrar que uma mesma situação revela 
que as crenças não são necessariamente verdadeiras e justificadas ao mesmo 
tempo do ponto de vista ontológico. No caso apresentado, a crença se remete aos 
aspectos culturais e religiosos. 
Vale ressaltar que a crença não é um elemento descartado na formação 
do conhecimento, o que ocorre é que a crença deve ser submetida ao critério da 
verdade justificada. Uma crença não pode ser tomada como um axioma, ou seja, 
verdades incontestáveis que podem ser aplicadas a todos os campos da ciência. 
3.2 SEGUNDO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: 
VERDADE
Outra questão inquietante em nosso estudo é a seguinte: o que é a verdade? 
Por mais que seja uma pergunta aparentemente simples, não é. Se atentarmos 
para a etimologia da palavra, perceberemos que ela poderá nos auxiliar na 
compreensão do conceito. 
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
117
FIGURA 8 – COMO IDENTIFICAR NOTÍCIAS FALSAS?
No grego, a verdade (aletheia), cujo significado é aquilo que não está oculto, 
o não escondido, que é manifesto aos olhos e ao espírito, tal como é, fica evidenteà razão. No latim, a verdade (veritas) se refere àquilo que pode ser demonstrado 
com precisão, se refere ao rigor e à exatidão.
Antes de continuarmos nosso estudo, reflita sobre a seguinte questão: 
você já divulgou notícias falsas em alguma rede social ou em qualquer outro 
meio? As chamadas “fake news” têm ocasionado o surgimento de muitos boatos 
e mentiras que são espalhadas de maneira indevida por muitas pessoas. Antes 
de passar uma notícia adiante, consulte a fonte para que você não seja enganado.
COMO IDENTIFICAR N TÍCIAS FALSAS
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site, sua missão e contato.
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cliques. Qual é a história completa?
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informação oferece apoio à história.
Caso seja muito estranho, pode ser uma
sátira. Pesquise sobre o site e o autor.
Pergunte a um bibliotecário ou consulte
um site de verificação gratuito.
Tradução: Denise Cunha
Avalie se seus valores próprios e
crenças podem afetar seu julgamento.
Repostar notícias antigas não significa
que sejam relevantes atualmente.
VERIFIQUE A DATA
É PRECONCEITO?
ISSO É UMA PIADA?
FONTES DE APOIO?
CONSULTE ESPECIALISTAS
FONTE: <https://bibliotecaucs.wordpress.com/2018/02/15/8-passos-para-identificar-as-fake-
news/>. Acesso em: 29 jun. 2018. 
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
118
De acordo com Abbagnano (2012, p. 1182), “é possível distinguir cinco 
conceitos fundamentais de verdade: 1º a Verdade como correspondência; 2º 
a Verdade como revelação; 3º a Verdade como conformidade a uma regra; 4º a 
Verdade como coerência; 5º a Verdade como utilidade”. 
A verdade como correspondência tem sua origem na filosofia platônica, 
pois segundo essa corrente de pensamento, o verdadeiro é aquilo que descreve 
de maneira precisa o objeto descrito e como ele não é. Assim, é a veracidade dos 
fatos relatados que garante a verdade.
O segundo conceito diz respeito à verdade como revelação. Esta surge 
como uma revelação divina através de um ser superior que revela sua vontade, 
suas leis, a maneira como governa o universo. A verdade é revelada para nós 
mortais através dos sentidos, intuição (empirista). A concepção da verdade como 
revelação foi muito defendida pela teologia e metafísica. Assim, ela possui duas 
formas fundamentais: a empirista e a teológica, ou metafísica. 
A verdade como conformidade de uma regra tem sua origem em Platão, 
quando este afirma que “ao tomar como fundamento o conceito que considero 
mais sólido, tudo o que me pareça estar de acordo com ele será por mim posto 
como verdadeiro, quer se trate de causas, quer se trate de outras coisas existentes; 
o que não me pareça de acordo com ele será por mim posto como não verdadeiro” 
(apud ABBAGNANO, 2012, p. 1185). 
A verdade como correspondência é a verdade que garante a realidade, ou 
seja, o objeto falado é apresentado como ele é. Assim, a conformidade apresenta 
uma verdade que se ajusta a um conceito ou a uma regra. 
A verdade como coerência, de acordo com Costa (2005, p. 1), tem um 
pressuposto: “a ideia básica demonstra que uma proposição é verdadeira quando 
é coerente com o conjunto de proposições que constitui o nosso sistema de 
crenças”. 
A verdade de uma proposição está dependente da verdade de outras 
proposições às quais está ligada. A tese central da teoria da verdade como 
coerência é que as proposições não existem isoladamente, mas pertencem a 
diferentes sistemas, ou jogos de linguagem, ou estão a eles integrados. 
A verdade como utilidade ou pragmática se assenta nos resultados ou 
consequências práticas do que afirmamos (utilidade). Para Nietzsche (apud 
ABBAGNANO, 2012, p. 1186), “verdadeiro em geral significa apenas o que é 
apropriado à conservação da humanidade. O que me faz perecer quando lhe dou 
fé não é verdadeiro para mim: é uma relação arbitrária e ilegítima do meu ser com 
as coisas externas”. 
Seguindo essa linha de pensamento, uma proposição é verdadeira se 
houver vantagem prática em sustentá-la. Entretanto, se pensarmos a verdade 
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
119
somente em termos de utilidade, desde que traga vantagem, deve ser mantida. 
Ainda, crenças verdadeiras que não são vantajosas também devem ser mantidas. 
Naturalmente desemboca no relativismo, pois: 
Para muitos, crer em Deus é vantajoso. Para o grupo humano dos ateus 
é desvantajoso crer em Deus, pois isso comprometeria a liberdade 
humana com ideias primitivas como as de pecado e danação eterna. 
Quem tem razão? A teoria pragmática não oferece suporte para uma 
decisão racional (COSTA, 2005, p. 1).
A teoria, falando em termos simples, parece lançar mais confusão do que 
esclarecimento, pois avaliar uma crença como verdadeira ou falsa, com base na 
utilidade, é abrir caminho para uma série de falácias. Acreditar que o indivíduo 
que faz alguma coisa é desculpado quando rouba é justificação estúpida para 
conduta moralmente condenável. 
3.3 TERCEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: 
JUSTIFICAÇÃO
Argumentamos anteriormente que o conhecimento é a crença verdadeira 
justificada. Quando acreditamos que alguma coisa é verdadeira, é necessário 
justificar essa crença e compreender as razões de uma crença e se tais razões têm 
um fundamento lógico. A crença por si só em uma proposição não é suficiente 
para sua validade. A crença e a verdade não são suficientes para o conhecimento, 
pois este requer que as crenças sejam verdadeiras e justificadas. 
Podemos observar que nos conceitos fundamentais de verdade, 
encontramos diferentes justificativas para aquilo que acreditamos ser verdadeiro, 
como a verdade como coerência, o que justifica uma crença como sendo verdadeira 
é se a crença “é coerente com o conjunto de proposições que constituem o nosso 
sistema de crenças” (COSTA, 2005, p. 1). 
A justificação consiste em um argumento, em uma defesa, ou conjunto 
de razões que se pode oferecer para apoiar uma crença. A questão é a seguinte: 
sobre qual fundamento os argumentos, as razões e defesa deverão se apoiar? Veja 
o exemplo a seguir:
Pensemos num indivíduo, Clyde, que acredita na história do Dia do 
Porco do Campo. Clyde pensa que se o Porco do Campo enxergar a sua 
própria sombra, a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que Clyde 
põe este princípio idiota em prática neste ano. Ele tem informações 
que fazem pensar que a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que 
Clyde acaba por ter razão acerca deste facto. Se não existir nenhuma 
conexão lógica entre o facto de o porco do campo ter visto a sua 
própria sombra e o facto de a Primavera vir mais tarde, então Clayde 
terá uma crença verdadeira (a Primavera virá tarde), mas não terá 
conhecimento (SOBER, 2002, p. 1).
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
120
A crença verdadeira de Clyde significa que ela possui conhecimento? O que 
é necessário para que além da crença verdadeira, Clyde possua conhecimento? A 
resposta é: justificação. A crença verdadeira precisa se apoiar em uma justificação 
racional. 
Ter razão acerca de alguma coisa, como é o caso de Clyde, não significa que 
seja uma justificação racional. Assim, crenças verdadeiras que não são justificadas 
racionalmente não são consideradas casos de conhecimento. A justificação, 
portanto, consiste na razão (ou razões) que suporta a verdade da crença. 
IMPORTANT
E
Sobre a origem do conhecimento, consulte a Unidade 1, no Tópico 4 – OS 
PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA, tópico 
que trata o Racionalismo, Empirismo e o Idealismo.
4 TIPOS DE CONHECIMENTO
A maneira como o sujeito conhece o mundo depende de como ele está 
posicionado frente ao objeto conhecido. Assim, podemos afirmar que existem 
diferentestipos de conhecimento, pois os sujeitos estão posicionados ou se 
posicionam conscientemente frente ao objeto conhecido. A seguir, vamos discorrer 
de maneira específica sobre os tipos de conhecimento. Observe a figura a seguir e 
reflita sobre as falas de cada pessoa.
FIGURA 9 – CONHECIMENTO NO COTIDIANO
É uma pedra!
Era uma pessoa em 
outra vida!
É um agregado sólido
constituído por
minerais!
FONTE: <http://www.meugibi.com/gibiimprimir.php?id=63955>. Acesso em: 21 jun. 2018. 
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
121
Senso comum ou popular é um tipo de conhecimento espontâneo, pois 
advém das observações e experiências diárias. Apesar de não possuir um rigor 
científico, o senso comum é uma fonte importante de conhecimento, pois ele é 
resultado das vivências do ser humano frente aos desafios e problemas relativos 
à existência. É interessante observar que o senso comum possui algumas 
características fundamentais. 
Primeiramente, é ametódico e assistemático, pois “nasce diante da tentativa 
do homem de resolver os problemas da vida diária” (ARANHA; MARTINS, 1993, 
p. 128). Significa dizer que as pessoas que não tiveram uma formação científica, 
metodológica e sistematizada podem desenvolver saberes sobre determinadas 
coisas que são passados de geração em geração. Tais pessoas podem até não saber 
explicar ou justificar cientificamente as razões pelas quais agem assim ou fazem 
alguma coisa de uma forma e não de outra. 
Um exemplo é a utilização de chá de boldo, pois mesmo que as pessoas 
não compreendam o funcionamento do organismo humano, utilizam as folhas 
de boldo para o alívio das dores no fígado. O senso comum, portanto, é baseado 
na experiência. Assim, o conhecimento empírico, usado no senso comum, não 
se baseia em métodos ou conclusões científicas, mas sim no modo de assimilar 
informações e conhecimentos úteis no cotidiano.
O conhecimento filosófico se difere do senso comum, ou popular, porque 
nasce a partir das reflexões que o ser humano faz sobre questões subjetivas. É 
o produto da inteligência e da capacidade de reflexão, que é característica da 
espécie humana. 
A finalidade desse tipo de conhecimento é propor a exploração dos 
acontecimentos, determinando conceitos particulares, pois não se trata de 
elaborar dogmas ou verdades absolutas, mas questionar e refletir continuamente 
sobre sua realidade e as coisas em sua volta. 
Por meio da reflexão filosófica, o ser humano procura dar sentido aos 
fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Deve-
se ao fato de que o filósofo não se limita apenas aos dados experimentais da física, 
da matemática, da biologia ou da química, mas se pergunta sempre quem é, o que 
é, por que é, de onde vem e para onde vai o homem. 
Assim, não se limita somente a se interessar por alguns aspectos particulares 
da realidade, mas por ela como um todo, pois “a filosofia é a atividade teórica de 
reflexão e de crítica de problemas apresentados pela realidade, e esses problemas 
refletem necessidades e exigências de uma época e de uma realidade” (GHEDIN, 
2008, p. 55). 
O conhecimento científico se diferencia dos demais tipos, não pelo seu 
objeto ao estudo, mas pela forma como é obtido, por meio da utilização do método 
científico. De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 129): 
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
122
A utilização de métodos rigorosos permite que a ciência atinja um tipo 
de conhecimento sistemático, preciso e objetivo segundo o qual são 
descobertas relações universais e necessárias entre os fenômenos, o 
que permite prever acontecimentos e também agir sobre a natureza de 
forma mais segura.
Aqui você pode observar três aspectos essenciais do conhecimento 
científico: sistemático, preciso e objetivo. Por ser sistemático, o conhecimento 
científico é um tipo de conhecimento ordenado, e é formado a partir de um 
conjunto de ideias que são formadoras de uma teoria. O segundo aspecto diz 
respeito à precisão, pois não se admite a ideia do “eu acho”. 
Por ser preciso, o conhecimento científico indica que segue rigorosamente 
os métodos da pesquisa para obter resultados exatos, embora não sejam resultados 
infalíveis, pois tal conhecimento é dinâmico por natureza, sempre deixando 
possibilidades para novas descobertas. 
O terceiro aspecto do conhecimento científico (objetivo) contrasta 
diretamente com o senso comum (subjetivo). Implica afirmar que, nesse tipo de 
conhecimento, o ponto de vista pessoal cede seu lugar para a observação imparcial, 
centrada no objeto da pesquisa e não nas opiniões particulares do observador.
O conhecimento mítico ou religioso tem como critério de verdade a fé. É 
dogmático, pois suas proposições são atribuídas à revelação por uma entidade 
sobrenatural. Consiste em um conjunto de verdades obtido pelos homens, não 
com o auxílio da razão, mas em decorrência da aceitação dos dados da revelação 
divina. Vale-se, de modo especial, do argumento de autoridade. 
As fontes de tais conhecimentos são os Livros Sagrados, que são aceitos 
racionalmente pelos homens. O ser humano procura explicar e lidar com os mistérios 
da sua existência e trazer conforto e segurança diante das incertezas da vida. 
O conhecimento artístico pode ser entendido como um tipo conhecimento 
baseado na sensibilidade do artista de perceber o mundo em sua volta e o 
expressar de uma forma não comum. O artista interpreta a realidade e a traduz 
em forma de arte. 
Assim, “a verdade está na representação daquele que comunica sua 
forma de ver e interpretar a realidade” (TOMELIN; TOMELIN, 2007, p. 80). O 
conhecimento artístico tem um caráter subjetivo, mas sua finalidade é revelar 
algo ao expectador. 
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
123
LEITURA COMPLEMENTAR
O que é a metafísica?
Richard Taylor
É costume dizer que cada um tem a sua filosofia e até que todos os homens 
têm opiniões metafísicas. Nada poderia ser mais tolo. É verdade que todos os 
homens têm opiniões, e que algumas delas – tais como as opiniões sobre religião, 
moral e o sentido da vida – confinam com a filosofia e com a metafísica, mas raros 
são os homens que possuem qualquer concepção de filosofia e ainda menos os 
que têm qualquer noção de metafísica. 
William James definiu algures para a metafísica como “apenas um esforço 
extraordinariamente obstinado para pensar com clareza”. Não são muitas as 
pessoas que assim pensam, excepto quando os seus interesses práticos estão 
envolvidos. Não têm necessidade de assim pensar e, daí, não sentem qualquer 
propensão para o fazer. Exceptuando algumas raras almas meditativas, os homens 
percorrem a vida aceitando como axiomas, aquelas questões da existência, 
propósito e sentido que aos metafísicos parecem sumamente intrigantes. 
O que sobretudo exige a atenção de todas as criaturas, e de todos os 
homens, é a necessidade de sobreviver e, uma vez isso razoavelmente assegurada, 
a necessidade de existir com toda a segurança possível. Todo o pensamento 
começa aí, e a sua maior parte cessa aí. Sentimo-nos mais à vontade para pensar 
como fazer isto ou aquilo. Por isso a engenharia, a política e a indústria são muito 
naturais aos homens. Entretanto, a metafísica não se interessa, de modo algum, 
pelos “comos” da vida, mas antes apenas pelos “porquês”, pelas questões.
Pensar metafisicamente é pensar, sem arbitrariedade e nem dogmatismo, 
nos mais básicos problemas da existência. Os problemas são básicos no sentido em 
que são fundamentais e muita coisa depende deles. A religião, por exemplo, não é 
metafísica e, entretanto, se a teoria metafísica do materialismo fosse verdadeira, e 
assim fosse um facto que os homens não têm alma, então grande parte da religião 
soçobraria diante do facto. 
A filosofia moral não é metafísica e, contudo, se as teorias metafísicas 
do determinismo ou do fatalismo fossem verdadeiras,então muitos dos nossos 
pressupostos tradicionais seriam refutados por essas verdades. Similarmente, a 
lógica não é metafísica e, contudo, se apurasse que, em virtude da natureza do 
tempo, algumas asserções não são verdadeiras nem falsas, isso acarretaria em 
sérias implicações para a lógica tradicional.
Sugere que a metafísica é um alicerce da filosofia e não o seu coroamento. 
Se for longamente exercido, o pensamento filosófico tende a se resolver em 
problemas metafísicos básicos. O pensamento metafísico é difícil. Com efeito, 
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
124
seria provavelmente correcto afirmar que o fruto do pensamento metafísico não é 
o conhecimento, mas a compreensão. 
As interrogações metafísicas têm respostas e, dentre as várias respostas 
concorrentes, nem todas poderão ser verdadeiras, por certo. Se um homem 
defende uma teoria materialista e outro a nega, então um desses homens está 
errado. O mesmo acontece com todas as outras teorias metafísicas. Contudo, 
raramente é possível provar e conhecer qual das teorias é a verdadeira. 
A compreensão, porém, resulta de dificuldades persistentes em opiniões 
que frequentemente parecem, com outras bases, ser muito verdadeiras. É por 
essa razão que um homem pode ser um sábio metafísico sem que, não obstante, 
sustente suas opiniões e juízos em conceitos metafísicos. Tal homem pode ver 
tudo o que um dogmático metafísico vê, e pode entender todas as razões para 
afirmar o que outro homem afirma com tamanha confiança. 
Entretanto, ao invés do outro, também vê algumas razões para duvidar e, 
assim, ele é, como Sócrates, o mais sábio, mesmo em sua profissão de ignorância. 
Advirta-se o leitor, neste particular, de que quando ouvir um filósofo proclamar 
qualquer opinião metafísica com grande confiança, ou o ouvir afirmar que 
determinada coisa, em metafísica, é óbvia, ou que algum problema metafísico 
gravita apenas em torno de confusões de conceitos ou de significados de palavras, 
então poderá estar inteiramente certo de que esse homem está infinitamente 
distante do entendimento filosófico. Suas opiniões parecem isentas de dificuldades 
apenas porque ele se recusa obstinadamente a ver as dificuldades.
Um problema metafísico é inseparável dos seus dados, pois são estes que, 
em primeiro lugar, dão origem ao problema. Ora o datum significa literalmente 
algo que nos é oferecido, posto à disposição. 
Assim, tomamos como dado de um problema certas convicções 
elementares do senso comum que todos ou a maioria dos homens está apto a 
sustentar com alguma persuasão íntima e teria relutância em abandonar. Não são 
teorias filosóficas, pois estas são o produto da reflexão filosófica e, usualmente, 
resultam da tentativa de conciliar certos dados entre si. 
Observou Aristóteles: “Procurar a prova de assuntos que já possuem 
evidência mais clara do que qualquer prova pode fornecer e confundir o melhor 
com o pior, o plausível com o implausível e o básico com o derivativo” (FÍSICA, 
Livro VIII, Cap. 3). Exemplos de dados metafísicos são as crenças que todos os 
homens possuem, independentemente da filosofia de que existem, de que têm 
um corpo, de que por vezes deliberam sobre tais cursos, de que envelhecem e 
morrerão algum dia etc. Um problema metafísico surge quando se verifica que 
tais dados não parecem concordar entre si, que têm, aparentemente, implicações 
inconsistentes entre si. A tarefa, então, é encontrar uma teoria adequada à 
eliminação desses conflitos.
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA
125
Talvez convenha observar que os dados, como os considero, não são 
coisas necessariamente verdadeiras e nem evidentes em si. De fato, se o conflito 
entre certas convicções do senso comum não for tão-só aparente, mas real, então 
algumas dessas convicções estão fadadas a serem falsas, embora possam, não 
obstante, serem tidas na conta de dados até que sua falsidade se descubra. 
É isso o que torna emocionante, por vezes, a metafísica; nomeadamente, o 
fato de sermos coagidos, algumas vezes, a abandonar certas opiniões que sempre 
havíamos considerado óbvias. Contudo, a metafísica tem de começar por alguma 
coisa e, como não pode começar, obviamente, pelas coisas que já estão provadas, 
deve começar pelas coisas em que as pessoas acreditam.
Ora, o intelecto do homem não é tão forte quanto a vontade, e os homens, 
geralmente, acreditam no que querem acreditar, particularmente quando essas 
crenças parecem dar valor a si mesmos e às actividades. A sabedoria não é, pois, o 
que os homens buscam em primeiro lugar. Procuram, outrossim, uma justificação 
para aquilo de que por acaso gostam. 
Não surpreende, portanto, que os principiantes em filosofia, e mesmo os 
que já não são principiantes, tenham uma acentuada inclinação ao se apegarem 
em uma teoria que os atraia em face de dados conflituantes e neguem, por vezes, 
a veracidade dos dados, apenas por aquela razão. 
Tal atitude dificilmente se pode considerar propícia à sabedoria. Assim, 
não é incomum encontrarmos pessoas que querem ardentemente acreditar na 
teoria do determinismo e que, partindo desse desejo, negam, simplesmente, a 
verdade de quaisquer dados que com ela colidam. 
Os dados, por outras palavras, são meramente ajustados à teoria, em vez 
de a teoria aos dados. Entretanto, deve-se insistir ainda pelos dados, e não pela 
teoria, que se terá de começar. Se não partirmos de pressupostos razoavelmente 
plausíveis, onde obter a teoria senão no que os nossos corações desejam? 
Mais cedo ou mais tarde poderemos ter de abandonar alguns dos dados 
do nosso senso comum, mas, ao fazê-lo, será em consideração a certas outras 
crenças do senso comum que temos ainda maior relutância em abandonar e não 
em deferência pelas teorias filosóficas que nos atraem.
O leitor é exortado, portanto, ao acompanhar os pensamentos que se 
seguem, a suspender os seus juízos sobre as verdades finais das coisas, uma vez 
que, provavelmente, nem o leitor nem qualquer outra pessoa sabe quais são essas 
verdades e a contentar-se com a apreciação dos problemas da metafísica. Este é 
o primeiro e sempre o mais difícil passo. O resto da verdade, se alguma vez tiver 
a boa fortuna de receber uma parte dela, chegar-lhe-á do seu próprio íntimo, se 
acaso chegar, e não da leitura de livros.
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
126
O ensaio que se segue constitui uma introdução – literalmente, 
um “encaminhamento” – à metafísica. Não é uma análise das concepções 
predominantes, e o leitor buscará em vão os nomes dos grandes pensadores ou o 
resumo das opiniões que eles defenderam. Os problemas metafísicos vão sendo 
trazidos à tona, e o leitor é simplesmente convidado a pensar neles de acordo com 
as diretrizes sugeridas. 
É por essa razão que ao desenvolver os problemas mais estreitamente 
associados com o eu ou com a pessoa e os seus poderes, particularmente nos 
primeiros três capítulos, a estilisticamente discutível primeira pessoa do singular, 
o “Eu”, é empregada com frequência na maneira das Meditações de Descartes. O 
leitor compreenderá que as ideias apresentadas têm por intuito significar as suas 
próprias e não quaisquer reflexões autobiográficas do autor.
FONTE: TAYLOR, Richard. Metaphysics. 1992. Disponível em: <https://criticanarede.com/met_quee.
html>. Acesso em: 18 jun. 2018.
127
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A epistemologia é a área da filosofia que se ocupa do estudo da natureza do 
conhecimento, da justificação e da racionalidade da crença e dos sistemas de 
crenças.
• O problema fundamental da epistemologia é buscar compreender a relação 
entre sujeito (o que conhece) e o objeto (aquilo que é conhecido).
• Uma determinada crença pessoal pode ou não ser verdadeira do ponto de vista 
epistemológico. Nem toda crença é conhecimento.
• A verdade (veritas) serefere aquilo que pode ser demonstrado com precisão, 
se refere ao rigor e à exatidão.
• É possível distinguir cinco conceitos fundamentais de verdade: 1º a Verdade 
como correspondência; 2º a Verdade como revelação; 3º a Verdade como 
conformidade a uma regra; 4º a Verdade como coerência; 5º a Verdade como 
utilidade.
• A justificação consiste em um argumento, em uma defesa, ou conjunto de 
razões que se pode oferecer para apoiar uma crença.
• Senso comum ou popular é um tipo de conhecimento espontâneo, pois advém 
das observações e experiências diárias.
• O conhecimento filosófico se difere do senso comum ou popular porque nasce 
a partir das reflexões que o ser humano faz sobre questões subjetivas.
• O conhecimento científico indica que segue rigorosamente os métodos da 
pesquisa para obter resultados exatos, embora não sejam resultados infalíveis, 
pois tal conhecimento é dinâmico por natureza, sempre deixando possibilidades 
para novas descobertas.
• O conhecimento mítico ou religioso tem como critério de verdade a fé.
• O conhecimento artístico pode ser entendido como um tipo conhecimento 
baseado na sensibilidade do artista.
128
AUTOATIVIDADE
1 A epistemologia é a área da filosofia que se ocupa com a natureza 
do conhecimento. Ela procura estabelecer as bases confiáveis para o 
desenvolvimento do conhecimento científico. Assim, o conhecimento 
produzido é submetido aos critérios epistemológicos a fim de obtermos o 
máximo de confiabilidade possível. Podemos afirmar que:
a) ( ) Na epistemologia, o conhecimento do objeto é proveniente apenas da 
nossa sensibilidade, sem fazer menção da intuição. 
b) ( ) Embora a epistemologia tente se afastar da superficialidade presente 
na mera opinião, não é possível porque uma teoria do conhecimento se 
desenvolve a partir de opiniões. 
c) ( ) A epistemologia busca compreender a relação entre o sujeito, o objeto e 
o problema fundamental da epistemologia. 
d) ( ) A epistemologia se ocupa de provar que tanto o conhecimento mítico 
quanto o conhecimento popular são científicos. 
2 Sabemos que um dos requisitos para o conhecimento é a verdade. Contudo, 
não é tão simples definir o conceito de verdade, porque é possível distinguir 
a verdade em cinco conceitos fundamentais. Sobre esses conceitos, associe 
os itens utilizando o código a seguir:
I- Verdade como correspondência
II- Verdade como utilidade
III- Verdade como coerência
IV- Verdade como revelação
V- Verdade como conformidade a uma regra
( ) É verdadeiro aquilo que descreve de maneira precisa um fato ou objeto.
( ) É a verdade que garante a realidade e não o contrário.
( ) Caracteriza-se pela ausência de contradições dos dados que nós temos 
sobre algo. 
( ) Uma proposição é verdadeira se há alguma vantagem prática em sustentá-la.
( ) Surge como uma revelação divina e foi intensamente defendida pela 
teologia metafísica. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – IV – II – I – III.
b) ( ) I – V – III – II – IV.
c) ( ) I – III – V – II – IV.
d) ( ) III – I – V – II – IV. 
129
TÓPICO 3
ÉTICA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Ao estudar a ética, percebemos a amplitude do assunto, pois todas as 
áreas da vida humana são sustentadas a partir de uma moralidade, de princípios 
normativos que orientam a conduta e as decisões individuais e coletivas. 
Diante na grandeza dessa discussão, nosso estudo contemplará alguns aspectos 
fundamentais da ética.
A organização da vida social e o agir humano sempre se relacionaram com 
os limites morais, sejam eles em formas de lei, de tradição, costumes, crenças etc. 
A convivência entre as pessoas somente se tornou possível quando os indivíduos 
criaram e estabeleceram normas. 
Contudo, aquilo que parece ser justo para alguns, não é aceito por outros, 
aquele comportamento que é considerado correto para um grupo, às vezes, é 
visto como errado para outro grupo. Assim, surgiu a necessidade de uma ciência 
que possibilitasse uma discussão racional acerca dos princípios, normas e regras 
que fazem parte da vida social. 
Com a finalidade de conhecer um pouco mais sobre os desafios éticos 
da sociedade atual, iniciaremos nosso estudo discorrendo sobre o que é ética (i); 
conhecer as principais teorias éticas (ii); apresentar a bioética como disciplina 
fundamental no debate atual (iii); e discorrer, de maneira sucinta, sobre a 
ética e a técnica. No decorrer do tópico, estaremos sugerindo uma bibliografia 
complementar e filmes relacionados ao tema.
Este tópico tem como objetivo trazer uma noção geral da ética, pois não 
é possível aprofundar o estudo de uma ciência que já vem sendo debatida e 
estudada por mais de dois mil anos. Esperamos que o assunto desperte interesse 
e que você tenha a curiosidade e disposição para ir um pouco mais adiante no 
estudo dessa temática que é tão importante para a vida humana. Bons estudos!
130
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
2 O QUE É ÉTICA?
Em todos os tópicos desta unidade, nós sempre partimos da tentativa de 
encontrar uma resposta para a questão central do assunto abordado no tópico. 
Com a ética não é diferente, pois é um conceito amplo que tem gerado muitos 
debates ao longo da história da filosofia. 
Segundo Frankena (1981, p. 16), a ética “é a filosofia moral, ou pensamento 
filosófico acerca da moralidade, dos problemas morais e dos juízos morais”. 
Portanto, no campo da ética, estudamos os fundamentos dos modos de vida e 
convivência. 
A ética se preocupa em saber o que é o bom e o correto. Parece algo 
simples, mas quando nos deparamos com determinados comportamentos e ações 
dos agentes morais, as pessoas assumem diferentes posições sobre uma mesma 
situação, pois os juízos de valor dependem de cada indivíduo. 
 O que é o bom? O que é o certo? Essas perguntas fazem com que as 
pessoas busquem uma justificativa para os seus comportamentos e ações. Diante 
de alguma atitude, alguém pode dizer: Não é certo! Por outro lado, outra pessoa 
poderá responder: Por que não é certo? Assim, a ética busca fundamentar as ações 
morais com base na razão. 
FIGURA 10 – O QUE É CERTO OU ERRADO?
FONTE: <http://www.oqueeetica.com/tag/etica/>. Acesso em: 23 jun. 2018.
De acordo com Abbagnano (2012, p. 442): 
Existem duas concepções fundamentais dessa ciência: 1ª. a conduta 
dos homens deve ser orientada para atingir tal fim, deduzindo tanto 
o fim quanto os meios da natureza do homem; 2ª. a que a considera 
como uma ciência móvel da conduta humana e procura determinar tal 
móvel com vistas a dirigir ou disciplinar essa conduta. 
TÓPICO 3 | ÉTICA
131
O que ocorreu ao longo da história da ética foi que a primeira concepção se 
voltou para aquilo que é a essência, à natureza do homem, enquanto que a segunda 
concepção está mais direcionada aos motivos e às causas da conduta humana, ou 
até mesmo às forças que determinam tal conduta (ABBAGNANO, 2012). 
A ética procura estabelecer os princípios de vida boa, pois o fim último das 
ações humanas deve ser o sumo bem, a felicidade. “Se, pois, existe uma finalidade 
visada em tudo o que fizemos, tal finalidade será o bem atingível pela ação, e se há 
mais de uma, serão os bens atingíveis por meio dela” (ARISTÓTELES, 2001, p. 25). 
Implica dizer que a ética é um estudo da práxis humana e seus fins, pois 
os agentes morais podem justificar suas ações de vários modos, contudo há a 
necessidade de que a justificação esteja fundamentada na razão e naquilo que é 
o bom. 
A ética não deve ser confundida com um conjunto de leis, mas ela é a 
ciência dos princípios morais. Assim, uma lei pode ser boa ou má e quem define 
é a ética, pois existem muitas leis que são imorais, ou seja, a legalidade não 
significa necessariamente moralidade no sentido positivo. Assim, o estudo dos 
fundamentos que justificam a criaçãodas leis, das ações, decisões, práticas etc. é 
objeto de estudo dos eticistas. Segundo Sidgwick (2010, p. 25): 
De acordo com o ponto de vista Aristotélico – que é o da filosofia grega 
em geral e que tem sido amplamente usado nos últimos tempos – o 
objeto primordial da investigação ética é tudo o que está incluído na 
noção do que vem ser, por fim, bom e proveitoso para o homem, tudo 
que é razoavelmente escolhido ou procurado por ele, não como meio 
para um fim ulterior, mas por si mesmo.
O fim último que o homem busca é a felicidade, pois é um bem cujo fim é 
ele mesmo. Entretanto, a felicidade deve ser buscada vivendo uma vida virtuosa. 
A virtude é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, 
de sua identidade. 
A virtude é encontrar, através da razão, o meio-termo entre os extremos. Para 
o meio-termo, Aristóteles chamou de justo meio. Assim, o tema principal da ética 
aristotélica é delimitar o que é o “bem” e o significado que ele tem para o homem.
3 TEORIAS ÉTICAS
As teorias éticas se originam e se desenvolvem a partir da necessidade de 
responder aos desafios nas relações humanas no interior de uma sociedade e fora 
dela. Assim, é importante atentar para o contexto histórico que originou as teorias 
éticas e quais problemas a serem enfrentados no campo da moral. 
132
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
3.1 UTILITARISMO 
O utilitarismo é uma teoria baseada em um único princípio: o princípio da 
utilidade. "O princípio diz que devemos sempre produzir o equilíbrio máximo do 
valor positivo sobre o desvalor (ou o menor desvalor possível, caso só se possam 
obter resultados indesejáveis)" (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2013, p. 63).
 
A teoria consiste em uma ética normativa que apresenta a ação útil como 
a melhor ação, a ação correta. As origens clássicas do utilitarismo são encontradas 
nos escritos de Jeremy Bentahm (1748-1832) e de John Stuart Mill (1806-1873). 
O termo utilitarismo foi usado pela primeira vez na carta do filósofo 
Jeremy Bentham para George Wilson, em 1781, e depois entrou em uso corrente 
na filosofia por John Stuart Mill, na obra Utilitarismo, publicada em 1861. 
Em 1958, Elizabeth Anscombe criou o termo "consequencialismo", pois até 
então o termo "utilitarismo" era utilizado para se referir às teorias que buscavam 
sua justificação nas consequências das ações, em contraponto àquelas que buscam 
sua justificação em máximas absolutas. 
Assim, o termo consequencialismo foi adotado como uma categoria e o 
termo "utilitarismo" passou a designar apenas a teoria mais próxima daquela 
defendida por Bentham e Mill, a maximização da promoção da felicidade.
Observe a figura a seguir e reflita sobre a seguinte questão: o trem, em seu 
curso normal, mataria cinco pessoas, mas você pode puxar a alavanca e desviar o 
trem para matar apenas uma. O que você faria? Para refletir um pouco mais sobre 
a questão, você encontrará, ao fim deste tópico, uma leitura complementar que 
possibilitará uma reflexão profunda sobre os dilemas éticos da atualidade. 
FIGURA 11 – DILEMA DO BONDE
FONTE: <https://verdadenapratica.wordpress.com/2015/05/29/utilitarismo-e-seus-impactos/>. 
Acesso em: 23 jun. 2018. 
TÓPICO 3 | ÉTICA
133
Na concepção utilitarista, as ações devem produzir o melhor resultado 
para o maior número de pessoas. A regra, portanto, é o maior prazer possível 
para o maior número de pessoas possíveis. Apesar da teoria ser atraente, é 
possível levantar algumas objeções, dentre elas, o fato de que Bentham “não 
atribui o devido valor à dignidade humana e aos direitos individuais e reduz 
equivocadamente tudo que tem importância moral para uma única escala de 
prazer e dor” (SANDEL, 2015, p. 63). 
A concepção de Bentham é extremamente calculista e quantitativa, 
pois uma ação moral é avaliada apenas se as consequências produzirão maior 
felicidade ou maior sofrimento para o maior número de pessoas. 
Assim, diante de um prédio em chamas, se eu tiver que escolher entre 
salvar um parente próximo ou cinco estranhos, o certo é salvar os cinco estranhos, 
pois maximiza a felicidade para um maior número de pessoas. Ao exigir decisões 
dessa natureza, o utilitarismo se tronou uma teoria criticada profundamente. 
Diante das severas críticas feitas ao utilitarismo de Bentham, o filósofo 
John S. Mill procurou ir um pouco além, apontando para uma concepção de 
utilitarismo menos calculista e mais qualitativa. Em sua obra Utilitarismo, 
publicada em 1861:
Mill defende, em cinco capítulos, uma versão mais sofisticada de 
utilitarismo, que se baseia no hedonismo qualitativo. Durante a avaliação 
de uma ação, além da intensidade e duração dos prazeres, devemos levar 
em conta a qualidade dos prazeres gerados por ela. Mill os distingue 
como superiores ou inferiores, de acordo com a sua natureza intrínseca. 
São superiores os prazeres do intelecto, das emoções, da imaginação e dos 
sentimentos morais e são inferiores os prazeres corporais. Confrontados 
por indivíduos que tenham experiência de ambos, os do tipo superior 
sobressaem-se como preferíveis, sendo então considerados melhores 
(superiores) do que os outros (GONTIJO, 2010, p. 1). 
É importante ressaltar que existem diferentes versões do utilitarismo, 
contudo, cinco princípios fundamentais são comuns a todas as versões, a saber: 
princípio do bem-estar; consequencialismo; princípio da agregação; princípio de 
otimização e a imparcialidade e universalismo. 
O princípio do bem-estar estabelece que o objetivo da ação moral deve 
ser o bem-estar em todos os níveis: físico, moral e intelectual. No princípio do 
consequencialismo, o valor moral das ações é julgado frente às consequências por 
elas geradas. 
O princípio da agregação considera sempre a maioria dos indivíduos, 
destacando o sacrifício da minoria, pois o que conta é a quantidade global de 
bem-estar produzida, ou seja, o saldo líquido da felicidade e do bem. O princípio 
de otimização é a maximização do bem-estar interpretada como um dever. 
A imparcialidade e o universalismo dizem respeito ao fato de que não se faz 
distinção entre o sofrimento e a felicidade, pois são da mesma importância. 
134
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
Vale ressaltar que há dois importantes tipos de utilitarismo, o de ato 
e o de norma, que Frankena (1981, p. 50) denomina de “atoutilitarismo e 
normoutilitarismo”. O utilitarismo de ato consiste na ideia de que uma ação é correta 
se, e somente se, promover a maior felicidade para o maior número. O utilitarismo 
de regra concorda com o de ato, mas acrescenta que precisamos de regras práticas, 
pois caso contrário não podemos estar o tempo todo a fazer tais cálculos.
Apesar das duras críticas que os utilitaristas receberam e o fato de 
existirem pessoas que não os aceitam, o princípio básico utilitarista é hoje 
central nas disputas morais. Se lembrarmos do passado, quando as ideias foram 
sistematizadas, vamos perceber que foi uma ideia revolucionária. Pela primeira 
vez na história, filósofos defendiam que a moralidade não dependia de Deus nem 
tão pouco de regras abstratas. 
Ao desenvolverem uma teoria assentada na ideia de que a felicidade do 
maior número é tudo o que se deve perseguir com a ajuda da experiência, as ações 
livres e individuais passaram a ter um grande peso no espaço de deliberações 
morais. Os utilitaristas foram reformadores sociais empenhados em mudanças, 
tais como a abolição da escravatura, a igualdade entre homens e mulheres, o 
sufrágio universal, independentemente de deterem ou não alguma propriedade.
3.2 ÉTICA DEONTOLÓGICA OU DO DEVER
A ética deontológica ou do dever tem como questão central a seguinte: O 
que devo fazer? De início, é fundamental ressaltar que, para os deontologistas, o 
valor da ação não está na consequência, pois um exemplo clássico dessa concepção 
é aética kantiana, que prescreve o dever pelo dever e não por qualquer outra coisa. 
Significa dizer que o valor da ação está na própria ação. Um exemplo 
clássico é a mentira. Kant sustenta que o agente moral não deve mentir nunca, 
independentemente se sua mentira poderá salvar pessoas ou beneficiar alguém. 
Mentir é sempre errado. De acordo com Hooft (2013, p. 23):
Uma ética do dever usa termos “deônticos” (do termo grego antigo 
significa “necessidade”), tais como “certo”, “errado”, “obrigatório” 
ou “proibido”. Esses termos referem-se ao que é “necessário” fazer, o 
que “devemos” fazer, ou o que “temos que” fazer. Eles descrevem as 
nossas obrigações e deveres. Além disso, são usados para se emitir um 
juízo sumário após uma avaliação minuciosa acerca do status moral de 
uma ação ou de um tipo de ação. 
No caso, o dever é superior ao homem. É importante destacar o que Kant 
escreveu sobre o dever e a inclinação para uma determinada ação:
Ser criativo quando se pode sê-lo é um dever e há, além disso, muitas 
almas de disposição tão compassivas que, mesmo sem nenhum outro 
motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar 
alegria e podem se alegrar com o contentamento dos outros enquanto 
TÓPICO 3 | ÉTICA
135
é obra sua. Eu afirmo, porém, que neste caso, uma tal acção (sic), por 
conforme ao dever, por amável que seja, não tem, contudo, nenhum 
verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações 
(KANT, 2011, p. 28-29). 
Agir por dever e em função de uma boa finalidade são os princípios que 
determinam a boa ação. Agir bem provoca uma boa intenção e uma boa vontade. 
Assim, uma ação é boa se, e somente se, a intenção for boa e se ela for pensada 
como boa vontade, ou seja, se for universalizável. 
Será universal se aquilo que decidirmos for bom para nós mesmos e para os 
outros (todos). Se não for uma ação egoísta ou só pensada em função de mim próprio, 
então terá uma dimensão ética, de modo que, como afirma Kant (2011, p. 73), “age de 
tal maneira que usas a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer 
outro sempre como um fim e nunca simplesmente como um meio”. 
Frankena aponta a distinção entre as teorias deontológicas de ato e de 
norma. Sobre as teorias deontológicas de ato, o autor sustenta que: 
Seu traço principal é o de que não propõe qualquer padrão para 
determinar o que é certo ou errado em casos particulares. Sustenta 
que os juízos particulares são básicos e que as regras gerais surgem 
a partir deles – e não o contrário. Propõe algo como um método para 
determinar o que é certo: esclarecer-se a propósito dos fatos em pauta 
e, então, formular juízo acerca do que deve ser feito, recorrendo à 
“intuição”, como diriam os intuicionistas, ou à “decisão” do tipo que 
os existencialistas referem. O ato-deontologismo não nos oferece um 
critério ou princípio orientador (FRANKENA, 1981, p. 39). 
As teorias deontológicas de ato consistem em uma reação às teorias 
ontológicas de regra. Assim, para os deontologistas de ato, existe uma maneira 
especifica de agir para cada situação, pois não existe uma norma que possa ser 
seguida de maneira geral. Sustentam que o caráter específico de cada situação, ou 
de cada ato, impede que possamos apelar para uma norma geral a fim de decidir 
o que devemos fazer. 
Assim, é necessário intuir como devemos operar em um caso determinado, 
ou decidir sobre ele sem recorrer a uma norma, pois uma norma não é capaz de 
nos indicar o que devemos fazer em cada caso concreto. Se não há uma norma 
geral que sirva para orientar como nós devemos agir, em cada caso concreto o que 
importa é o grau de liberdade com que se age. Quanto às teorias deontológicas de 
norma, Frankena (1981, p. 42) afirma que: 
Ao escolher, julgar e arrazoar em questões de moral, a pessoa está, 
ao menos implicitamente, admitindo regras ou princípios. Essas 
observações sugerem, naturalmente, o normo-deontologismo, que 
sustenta existir um padrão não-teleológico representado por uma 
ou mais regras, embora essas regras não sejam necessariamente as 
dominantes. 
136
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
Diante de casos particulares, o dever é determinado por normas que, 
independentemente das consequências de sua aplicação, são válidas. Mentir é 
sempre errado, independentemente das consequências de não mentir. 
Mesmo que seja para salvar uma vida, mentir será sempre errado, pois o 
dever de não mentir é determinado pela norma e não pelas consequências. É claro 
que a teoria está sujeita a objeções devido ao seu aspecto categórico, contudo 
alguns normodeontologistas apontam que não existem regras que não tenham 
exceção, menos aquelas que são deveres prima facie. 
3.3 ÉTICA DAS VIRTUDES 
Diferentemente da ética do dever, que está centrada na ação, a ética das 
virtudes está centrada no agente. Segundo Beauchamp e Childress (2013, p. 79):
Enquanto as teorias utilitaristas e kantianas são expressadas 
principalmente na linguagem das obrigações e dos direitos, 
concentrando-se nas situações de escolhas, a ética do caráter ou 
ética da virtude enfatiza os agentes que executam as ações e fazem 
as escolhas. Seguindo a tradição de Platão e de Aristóteles, a ética do 
caráter atribui uma posição proeminente ao caráter virtuoso.
Por possuir seu foco voltado para o agente, a teoria ética das virtudes se 
direciona para as questões “o que devo ser?”, “como eu devo viver?” e não mais 
para a pergunta comum nas teorias éticas deontológicas: “o que devo fazer?” 
Assim, a necessidade prática não é vista como uma obrigação e obediência às 
normas ou deveres, mas é vista como expressão do caráter e como resposta aos 
valores pessoais do agente moral, pois de acordo com Hooft (2013, p. 23):
A ética da virtude está mais interessada na condição moral do agente 
do que em saber se a sua ação está certa ou errada. Ela enfoca o caráter 
do agente e as virtudes que constituem esse caráter. As ações do 
agente são vistas como expressões desse caráter, não sendo, portanto, 
o principal objeto de atenção. 
A citação nos faz observar a distinção que Aristóteles faz entre as virtudes 
do intelecto ou da razão e as virtudes éticas ou do caráter, pois ele diz “que algumas 
virtudes são intelectuais e outras morais; por exemplo, a sabedoria filosófica, 
a compreensão e a sabedoria prática são algumas das virtudes intelectuais, e a 
liberalidade e a temperança são algumas das virtudes morais” (ARISTÓTELES, 
2001, p. 39). 
Em relação à primeira, seu aperfeiçoamento depende do tempo, pois a 
virtude intelectual é aprimorada com a experiência, enquanto que a virtude de 
caráter é resultado do hábito, dos costumes. As virtudes de caráter ou éticas não 
são parte de nossa natureza, mas são constituídas em nós através dos hábitos.
 
TÓPICO 3 | ÉTICA
137
As virtudes são adquiridas pela prática e pela ação, pois é por meio da prática 
de determinadas coisas que o indivíduo se torna o que é. Um bom pianista, por 
exemplo, alcança a excelência em decorrência de seus esforços, dedicação e ensaio. 
Aristóteles (2001, p. 41) diz que “pelos atos que praticamos em nossas 
relações com outras pessoas, tornamo-nos justos ou injustos; pelo que fazemos em 
situações perigosas e pelo hábito de sentir medo ou de sentir confiança, tornamo-
nos corajosos ou covardes”. 
Tais atos ocorrem no interior de um contexto específico em que o indivíduo 
age a reage às diversas situações da vida. Assim, poderíamos questionar se as 
virtudes morais não são aperfeiçoadas pelas virtudes intelectuais? Parece-nos 
que sim, pois a experiência e o conhecimento das coisas possibilitam que as ações 
particulares expressem uma melhor qualidade. 
Entretanto, o que caracteriza uma ação como virtuosa, o que é a virtude 
em Aristóteles? As virtudes éticas apontam para o meio-termo, que deve ser 
buscado em relação anós:
A virtude é, então, uma disposição de caráter relacionada com a 
escolha de ações e paixões e consistente em uma mediania, isto é, a 
mediania relativa a nós, que é determinada por um princípio racional 
próprio do homem dotado de sabedoria prática. É um meio-termo 
entre dois vícios, um por excesso e outro por falta, pois nos vícios ou 
há falta ou há excesso daquilo que é conveniente no que concerne às 
ações e às paixões, ao passo que a virtude encontra e escolhe o meio-
termo (ARISTÓTELES, 2001, p. 49).
O meio-termo entre a falta e o excesso é um ponto alto na teoria ética de 
Aristóteles. As pessoas encontram dificuldades para viver entre os dois extremos. 
A felicidade depende da maneira como a pessoa moral consegue manter o 
equilíbrio em suas ações. A sabedoria consiste em viver moderadamente, escolher 
o meio-termo.
Outro conceito central na ética aristotélica é a prudência (phrónesis), pois 
cabe à prudência governar as ações morais do indivíduo. Na Ética a Nicômaco, o 
conceito revela um agir moral que é realizado nas ações concretas, sem que o agir 
esteja voltado para um bem transcendente.
4 BIOÉTICA 
De acordo com Pessini e Barchifontaine (2005, p. 15), “inicialmente, a 
bioética foi definida por Potter como a ‘ciência da sobrevivência humana’, em 
uma perspectiva de promover e defender a dignidade humana e a qualidade de 
vida, ultrapassando o âmbito humano para abarcar inclusive a realidade cósmico-
ecológica”. A finalidade da bioética é refletir sobre os problemas da existência 
humana a partir de uma perspectiva mais humanista e menos científico-tecnicista. 
É pensar sobre a vida em sua totalidade. 
138
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
A origem da bioética se deve às mudanças profundas que ocorreram nas 
últimas décadas. De acordo com Byc (2015, p. 19), “suas origens derivam de um duplo 
fenômeno: por um lado, a revolução biomédica; por outro, a crise da ética universal”. 
A revolução biomédica trouxe a possibilidade de mudanças significativas 
na condição física e psicológica dos seres humanos. Naturalmente desencadeou 
uma série de debates sobre moralidade ou a imoralidade na intervenção que se 
faz na condição e na natureza humana. 
Quando falamos de uma crise ética universal, estamos nos referindo aos 
avanços científico-tecnológicos que colocam em risco a própria existência da espécie 
humana, pois atualmente nos deparamos com as bombas de hidrogênio com 
potência de até 50 megatons, capazes de causar estragos de grandes proporções. 
O principialismo é a abordagem predominante acerca da bioética. A 
teoria foi desenvolvida por Tom L. Beauchamp e James F. Childress. Segundo 
os autores, há quatro que devem fundamentar a bioética: o princípio do respeito 
pela autonomia, da não-maleficência, da beneficência e da justiça. 
A bioética tem um caráter interdisciplinar, pois dialoga com as diferentes 
áreas do saber humano, tais como a psicologia, o direito, a biologia, a antropologia, 
a teologia, a ecologia, a filosofia, dentre outras. A relação consiste na busca de um 
discurso ético bem fundamentado nas diferentes formas de vida e concepções de 
mundo dos seres humanos, pois a bioética lida com os diversos dilemas morais 
que estão presentes no agir prático dos indivíduos. 
A bioética consiste no estudo da moralidade e da conduta humana na área das 
ciências da vida, buscando examinar o que seria lícito ou científico ou tecnicamente 
possível. Assim, a bioética requer o comprometimento com a vida (todos os tipos de 
vida), com a dignidade do ser humano, com sua liberdade e autonomia.
DICAS
Gattaca – Experiência genética (1997). Num futuro não 
muito distante, um homem menos do que perfeito quer viajar para as 
estrelas. A sociedade classificou Vincent Freeman como menos do 
que adequado, dada a sua constituição genética, e ele se tornou uma 
das subclasses de seres humanos que só são úteis para trabalhos 
subalternos. Para seguir em frente, ele assume a identidade de 
Jerome Morrow, um espécime genético perfeito que é paraplégico 
como resultado de um acidente de carro. 
Com aconselhamento profissional, Vincent aprende a enganar o 
teste de amostras de DNA e urina. Apenas quando ele está finalmente 
agendado para uma missão espacial, seu diretor de programa é 
TÓPICO 3 | ÉTICA
139
morto e a polícia começa uma investigação, pondo em risco seu segredo. O filme traz um 
debate oportuno sobre as formas de preconceitos, e determinamos quem é melhor ou pior 
de acordo com suas limitações físicas. É uma crítica também às manipulações genéticas e 
quais os limites éticos da ciência. 
5 ÉTICA E TÉCNICA 
Diante dos avanços tecnológicos e dos aperfeiçoamentos das mais variadas 
técnicas, o que se pensa no campo da ética diz respeito ao futuro da humanidade. 
Desde os primórdios, o ser humano vem desenvolvendo técnicas para melhorar 
a vida, pois ela é um meio para a sobrevivência das pessoas. 
Podemos usar como exemplo as técnicas de plantio, colheita e 
armazenamento de alimentos, desenvolvidas desde muito cedo pelo ser humano, 
cuja finalidade era garantir que os grupos tivessem alimentos o ano inteiro. 
Contudo, com o passar do tempo, as técnicas também foram se aperfeiçoando 
e atualmente já discutimos os limites éticos de determinadas técnicas, como a 
manipulação genética das sementes.
 
De acordo com Abbagnano (2012, p. 1106), o sentido geral do termo 
(técnica) “coincide com o sentido geral da arte (v.): compreende qualquer 
conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade qualquer”. Técnica, 
portanto, trata-se de um conjunto de procedimentos que tem como objetivo obter 
um determinado resultado. Assim, ao se estabelecer uma meta, o cientista, artista, 
ou qualquer outro técnico opta por um conjunto de regras, normas ou protocolos 
que é utilizado como meio para chegar ao objetivo estabelecido. 
Quando tratamos de ética e técnica, estamos discutindo a moralidade de 
determinadas técnicas utilizadas em nossa sociedade para se chegar aos objetivos 
desejados. Atualmente, há grande discussão das técnicas de melhoramento 
humano, que impactam diretamente na competitividade saudável entre as pessoas. 
As técnicas podem ser divididas em dois campos: técnicas racionais e 
mágicas. O que nos interessa no presente momento são as técnicas racionais, que 
podem ser divididas em técnicas cognitivas e artísticas, técnicas de comportamento 
e técnicas de produção. A seguir, vamos discorrer brevemente sobre técnicas de 
produção devido à importância direta para a sobrevivência humana. 
De acordo com Abbagnano (2012, p. 1106), “o terceiro grupo de técnicas 
é o que diz respeito ao comportamento do homem em relação à natureza e visa à 
produção de bens”. A supremacia da técnica em detrimento da ética tem sido uma 
questão preocupante, pois se algo precisa ser feito, deve-se ignorar a necessidade 
de uma justificação ética. A manipulação da natureza com a finalidade de 
produção de bens de consumo tem acendido o sinal de alerta. 
140
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
A manipulação genética, por exemplo, pode fomentar um mercado que 
possa vender bebês projetados de acordo com as preferências dos pais. A técnica 
tinha como objetivo melhorar as condições de vida do ser humano, contudo, o 
que estamos presenciando é um avanço contínuo da técnica que trouxe efeitos 
colaterais muito severos. 
Atualmente, muitos pensadores das mais diversas áreas têm escrito e 
discutido intensamente sobre os efeitos negativos da técnica. Tais efeitos são 
enumerados da seguinte maneira por Abbagnano (2012, p. 1107):
1º exploração intensa dos recursos naturais acima dos limites de 
seu restabelecimento natural, portanto o empobrecimento rápido e 
progressivo desses recursos;
2º poluição da água e do ar por resíduos industriais e com a multiplicação 
dos mecânicosde transporte e com a maior densidade demográfica;
3º destruição da paisagem natural e dos monumentos históricos 
e artísticos, em decorrência da multiplicação das indústrias e da 
expansão indiscriminada dos centros urbanos;
4º sujeição do trabalho humano às exigências da automação, que tende 
a transformar o homem em acessório da máquina;
5º incapacidade da técnica de atender às necessidades estéticas, 
afetivas e morais do homem; portanto, sua tendência a favorecer ou 
determinar o isolamento e a incomunicabilidade dos indivíduos.
 
Apesar de se justificar constantemente a necessidade do aprimoramento 
e do avanço das técnicas para a sobrevivência humana, é imprescindível que se 
considere os afeitos negativos e alternativas para remediar os danos. O quarto e 
o quinto pontos destacados por Abbagnano chamam a atenção devido ao uso da 
técnica como uma forma de dominação e manipulação dos indivíduos. 
Na sociedade contemporânea, a ética ficou sujeita à técnica, resultando 
em uma deformidade da moral moderna. Galimberti (2006, p. 520) aponta que “a 
técnica celebra a impotência da ética, a definitiva subordinação do agir ao fazer” 
em relação ao contexto histórico atual. 
DICAS
Ética a Nicômaco é uma obra de Aristóteles escrita no 
século IV a.C. É um dos primeiros tratados preservados sobre ética e 
moral da filosofia ocidental e, certamente, o mais completo da ética 
aristotélica. É composto de dez livros que são considerados baseados 
em anotações sobre suas palestras no Liceu. O trabalho cobre uma 
análise da relação de caráter e inteligência com a felicidade. Lembrando 
que a ética aristotélica continua sendo uma das bases fundamentais 
do pensamento humano. 
TÓPICO 3 | ÉTICA
141
LEITURA COMPLEMENTAR
Dilemas morais: o que você faria?
Tente responder a 5 famosos dilemas morais e descubra o que suas respostas dizem 
sobre você.
Fábio Marton
No livro A Escolha de Sofia, de William Styron, que virou filme estrelado 
por Meryl Streep, uma prisioneira polonesa em Auschwitz recebe um “presente” 
dos nazistas: ela pode escolher, entre o filho e a filha, qual será executado e qual 
deverá ser poupado. Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais chances 
na vida, mas nunca mais tem notícias dele. Atormentada com a decisão, Sofia 
acaba se matando anos depois.
Dilemas morais, como a escolha de Sofia, são situações nas quais nenhuma 
solução é satisfatória. São encruzilhadas que desafiam todos que tentam criar 
regras para decidir o que é certo e o que é errado, de juristas a filósofos que 
estudam a moral.
Cada vez que um filósofo monta um sistema de conduta, procura algo 
que responda a todas as situações possíveis. O filósofo inglês John Locke (1632-
1704), por exemplo, definiu o bem pela não agressão, aquela ideia de que “minha 
liberdade começa onde termina a sua”. Já Rosseau (1712-1778) considerava o 
certo a vontade geral, a decisão da maioria.
Agora, os dilemas morais estão virando objeto de estudo de cientistas. E, 
para alguns deles, talvez os filósofos tenham trabalhado em vão ao se esforçarem 
tanto para montar teorias morais. É que, segundo novas pesquisas, raramente 
usamos a razão para decidir se devemos tomar uma atitude ou não. 
Analisando o cérebro de pessoas enquanto elas pensavam sobre dilemas, 
os pesquisadores perceberam que muitas vezes decidimos por facilidade, 
empatia ou mesmo nojo de alguma atitude. Duvida? A seguir, faça o teste com 
você mesmo, respondendo a 5 dilemas morais clássicos.
1 O trem descontrolado
Um trem vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas na linha. 
Entretanto, você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que 
leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria 
o trajeto, salvando as 5 e matando 1?
O dilema foi apresentado aos voluntários pelo filósofo e psicólogo 
evolutivo Joshua Greene, da Universidade Harvard. “É aceitável mudar o trem 
142
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
e salvar 5 pessoas ao custo de uma? A maioria das pessoas diz que sim”, afirma 
Greene em um de seus artigos. De fato, em uma pesquisa feita pela revista Time, 
97% dos leitores salvariam os 5. 
Fazer isso significa agir conforme o utilitarismo – a doutrina criada 
pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século 19. Para ele, a moral está na 
consequência: a atitude mais correta é a que resulta na maior felicidade para o 
máximo de pessoas. Contudo, há um problema. 
A ética de escolher o mal menor tem um lado perigoso – basta multiplicá-
la por 1 milhão. Você mataria 1 milhão de pessoas para salvar 5 milhões? Uma 
decisão assim sustentou regimes totalitários do século 20 que desgraçaram, em 
nome da maioria, uma minoria tão inocente quanto o homem sozinho no trilho. 
Ainda, o ato de matar 1 para salvar 5 é o oposto do espírito do direito humano, 
segundo o qual cada vida tem um valor inestimável em si.
2 O trem descontrolado
Imagine a mesma situação anterior: um trem em disparada irá atingir 
5 trabalhadores desprevenidos nos trilhos. Agora, porém, há uma linha só. O 
trem pode ser parado por algum objeto pesado jogado em sua frente. Um homem 
com uma mochila muito grande está ao lado da ferrovia. Se você empurrá-lo 
para a linha, o trem vai parar, salvando as 5 pessoas, mas liquidando uma. Você 
empurraria o homem da mochila para a linha?
Avaliando pela lógica pura, esse dilema não tem diferença em relação ao 
anterior. Continua sendo uma questão de trocar 1 indivíduo por 5. Apesar disso, 
a maioria das pessoas (75% nos estudos de Joshua Greene, 60% no teste da Time) 
não empurraria o homem. 
A equipe de Greene descobriu que, enquanto usamos áreas cerebrais 
relacionadas à “alta cognição”, ou seja, ao pensamento profundo, para 
resolvermos o dilema anterior, este aqui provoca reações emocionais, mesmo nos 
que empurrariam o homem para os trilhos. 
Uma versão mais bizarra propõe uma catapulta para jogar o homem 
pesado nos trilhos e, surpresa, a maioria das pessoas volta a querer matar 1 
para salvar 5. Conclusão: estamos dispostos a matar com máquinas, mas não 
mataríamos com as mãos.
Para Greene, a diferença nas respostas aos dois dilemas pode ser explicada 
pela seleção natural. Durante milhares de anos da nossa evolução, os seres 
humanos que matavam outros friamente atraíam violência para si próprios: eram 
logo mortos pelo grupo, gerando menos descendentes. Já aqueles que conseguiam 
se segurar, conquistavam amigos e proteção, transmitindo seus genes para o 
futuro. Assim, ao longo dos milênios, criamos instintos sociais que nos refreiam 
na hora de matar alguém.
TÓPICO 3 | ÉTICA
143
Acontece que, na maior parte do tempo da nossa evolução, vivemos em 
cavernas e com lanças na mão, e não operando máquinas, botões ou alavancas. 
Faz com que nossos instintos sociais não relacionem o ato de apertar um botão ou 
puxar uma alavanca com o de jogar alguém para a morte. É por esse motivo que, 
para Joshua Greene, tanta gente mudaria a alavanca na situação anterior, mas não 
executaria o homem no segundo dilema.
Ele dá outro exemplo. Achamos um absurdo não prestar socorro a alguém 
que sofreu um acidente na estrada, mas nos esquecemos rapidinho que milhares 
de pessoas morrem de fome na África. Para Greene, o motivo dessa disparidade 
também está nos instintos. 
“Nossos ancestrais não evoluíram em um ambiente em que poderiam 
salvar vidas do outro lado do mundo. Da forma como nosso cérebro é construído, 
pessoas próximas ativam nosso botão emocional, enquanto as distantes 
desaparecem na mente”.
Para Greene, a diferença de atitudes mostra que os filósofos que lidam 
com a moral devem levar mais em conta a natureza do homem – não para 
agirmos conforme a natureza, mas para superá-la. Tendo consciência de que 
nossos instintos nos tornam capazes de matar friamente por meio de uma 
alavanca oude ignorar genocídios distantes, temos mais poder para decidir o 
que é ou não correto.
3 Totem e tabu
No seu país, a tortura de prisioneiros de guerra é proibida. Você é tenente 
do Exército e recebe um prisioneiro recém-capturado que grita: “Alguns de vocês 
morrerão às 21h35”. Suspeita-se que ele sabe de um ataque terrorista em uma 
boate. Para saber mais e salvar civis, você o torturaria?
Recentemente, Israel e os EUA foram duramente criticados pela prática de 
tortura de terroristas árabes em prisões e pelas tentativas de legalizá-la em forma 
de “pressão psicológica” ou “pressão física moderada”. Na defesa, os países 
usaram dilemas como esse. Se você achar que o correto é torturar o prisioneiro, 
vai legitimar carceragens sangrentas. Por outro lado, caso se recusasse a torturá-
lo, poderá deixar inocentes morrer.
A situação também se parece com as anteriores pela razão pura, pois trata-
se de salvar o maior número de vidas. Contudo por que, então, é tão difícil tomar a 
decisão de torturar o homem? Além do instinto básico de não-agressão apontado 
pelo cientista Joshua Greene, somos movidos por outra emoção primitiva: o nojo. 
É isso aí, o mesmo nojo que faz você ter uma ânsia de vômito ao olhar um esgoto. 
“Acreditamos que a aversão moral é nojo mesmo, e não apenas uma metáfora”, 
diz o psicólogo Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia. 
144
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
Em uma de suas pesquisas, Haidt mostrou vídeos de neonazistas a seus 
voluntários, monitorando a atividade cerebral deles. Concluiu que sentiam nojo, 
e não uma reprovação racional. É por isso que, em casos que provocam asco, 
como a tortura, costumamos agir conforme o absolutismo moral: as regras não 
devem ser transgredidas nem para salvar inocentes, ainda mais se lembrarmos 
que os países que querem legalizar o método geralmente se valem de dilemas 
como esse para situações mais leves.
4 Os limites da promessa
Um amigo quer contar um segredo e pede que você prometa não contar a 
ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, 
vai se refugiar na casa de uma prima. Quando a polícia o procura, querendo saber 
do amigo, o que você faz?
O antropólogo holandês Fonz Trompenaars realizou pesquisas em 
diversos países com dilemas como esse. O mais interessante é que as respostas 
variaram de acordo com o povo. A maioria dos russos acusaria o amigo na lata. 
Outros mentiriam para protegê-lo, dando dicas ambíguas à polícia, como os 
americanos. Já os brasileiros inventariam histórias malucas para dizer que a culpa 
não era do amigo, mas do pedestre, que era um suicida.
Os gregos antigos já tinham consciência de que cada cultura tem noções 
diferentes sobre o que é certo ou errado: diziam que havia tantas morais quanto 
povos no mundo. A princípio, saber que a moral muda de acordo com a cultura é 
importante para não julgarmos costumes de um povo como se fossem os nossos, 
descobrindo suas razões particulares. 
Foi o que propôs o antropólogo Franz Boas (1858-1942), considerado o 
pai do relativismo cultural – a ideia de que nenhuma cultura é melhor que outra. 
Entretanto, quando duas culturas diferentes se chocam, surgem dilemas morais 
ainda mais difíceis – como o próximo.
5 Choque de cultura
Você é um funcionário da Funai, trabalhando na Amazônia sob ordem 
expressa de jamais intervir na cultura indígena. Passeando perto de uma clareira, 
nota que ianomâmis estão envenenando o bebê de uma índia, que está aos 
prantos. Você impediria a morte do bebê?
Em 2008, a Folha de S. Paulo contou a história do índio Mayutá, de 2 
anos, que nasceu de uma gravidez de gêmeos. Como os índios camaiurás 
acreditam que gêmeos trazem maldição, Mayutá deveria ser envenenado. O 
irmão dele já havia sido assassinado quando o pai interveio. Com ajuda da 
ONG Atini, que tenta acabar com o infanticídio entre os índios brasileiros, o 
pai retirou a criança da tribo.
TÓPICO 3 | ÉTICA
145
A ONG foi formada pelos pais adotivos da ianomâmi Hakani, que viveu 
um caso parecido em 1995. Depois que Hakani nasceu com hipotireoidismo, seus 
pais receberam do conselho da tribo a ordem de envenená-la, mas acabaram 
tomando o veneno eles mesmos. O irmão e o avô foram encarregados de levar a 
tarefa adiante e não conseguiram – o avô também se suicidou. 
Hakani, abandonada, desnutrida e quase morta, acabou adotada por um 
casal de funcionários da Funai. Um antropólogo do ministério público tentou 
barrar a adoção, dizendo que era uma agressão à cultura ianomâmi. E aí, o que vale 
mais: a vida humana ou o respeito às tradições de um povo? Se você acha que o 
certo é deixar a cultura acontecer, é um relativista cultural. Se considera o valor da 
vida maior que o das culturas, é um absolutista moral, como o Papa Bento 16.
Talvez a solução do dilema esteja na hesitação dos pais. Ela mostra que o 
infanticídio não é um consenso entre os índios, ou seja, o terror emocional diante 
de matar o próprio filho existe mesmo em culturas que admitem matar suas 
crianças. Assim, converge com a tese do psicólogo evolutivo Steven Pinker: assim 
como qualquer língua do mundo diferencia verbo e objeto, a moral também tem 
suas regras universais, que cada cultura trata de forma diferente. 
Segundo a teoria da “gramática universal”, de Noam Chomsky, temos uma 
capacidade de nascença para falar, e o que prova são as semelhanças de sintaxe 
entre todas as línguas do mundo. Em um artigo para o jornal New York Times, 
Pinker parodiou a tese de Chomsky: “Nascemos com uma gramática moral que 
nos permite analisar as ações humanas mesmo que com pouca consciência disso”. 
Entretanto, como mostram os dilemas morais, nem sempre é fácil fazer a análise.
FONTE: MARTON, Fábio. Dilemas morais: o que você faria? 2018. Disponível em: <https://super.
abril.com.br/cultura/dilemas-morais-o-que-voce-faria/>. Acesso em: 23 jun. 2018. 
146
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A ética é a filosofia moral ou pensamento filosófico acerca da moralidade dos 
problemas morais e dos juízos morais.
• A ética procura estabelecer os princípios de vida boa, pois o fim último das 
ações humanas deve ser o sumo bem, a felicidade.
• O utilitarismo é uma teoria baseada em um único princípio: o princípio da 
utilidade. 
• A ética deontológica ou o dever tem como questão central a seguinte: O que 
devo fazer?
 
• As teorias deontológicas de ato consistem em uma reação às teorias ontológicas 
de regra. 
• A ética da virtude está mais interessada na condição moral do agente do que 
em saber se a sua ação está certa ou errada. Ela enfoca o caráter do agente e as 
virtudes que constituem esse caráter. 
• A finalidade da bioética é refletir sobre os problemas da existência humana 
a partir de uma perspectiva mais humanista e menos científico-tecnicista. É 
pensar sobre a vida em sua totalidade.
• Quando tratamos de ética e técnica, estamos discutindo a moralidade de 
determinadas técnicas utilizadas em nossa sociedade para chegarmos aos 
objetivos desejados. 
147
1 Ao decorrer dos nossos estudos deste tópico, nós apontamos para um 
dilema ético muito intrigante: o dilema do bonde. Sobre a situação apontada, 
reflita sobre a seguinte questão: o trem, em seu curso normal, mataria cinco 
pessoas, mas você pode puxar a alavanca e desviar o trem para matar apenas 
uma. O que você faria? Justifique sua resposta a partir das teorias éticas 
apresentadas neste tópico.
2 A ética tem por finalidade estabelecer os princípios de vida boa, pois o 
fim último das ações humanas deve ser o sumo bem, além da felicidade. 
Aristóteles defendia a ideia de que nossas ações devem atingir um fim 
nobre. Diante do exposto, assinale a alternativa correta:
a) ( ) A ética é a ciência do dever pelo dever, porém se afasta de qualquer 
possibilidade de estudo da práxishumana. 
b) ( ) A ética consiste, portanto, em um estudo da práxis humana e seus fins, 
visto que os agentes morais devem justificar moralmente suas ações 
fundamentadas na razão.
c) ( ) A ética é o estudo da moralidade sem a preocupação de ser normativa 
ou estabelecer princípios que fundamentam as ações humanas. 
d) ( ) Do ponto de vista ético, nossas ações não necessitam ser moralmente 
justificáveis, pois nossa preocupação deve ser apenas com os fins e 
jamais com os meios. 
AUTOATIVIDADE
148
149
TÓPICO 4
ESTÉTICA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o termo “estética” tem sido empregado para definir os tratamentos 
de beleza. Entretanto, o uso apenas nesse sentido foge da proposta original desenvolvida 
pelos filósofos da arte, pois a estética também é chamada de Filosofia da Arte. Assim, a 
estética não se resume apenas ao aspecto visual de um determinado objeto ou pessoa, 
mas aponta para aspectos mais amplos e profundos da arte.
Neste tópico, vamos discorrer inicialmente sobre o que é estética (i) e, 
em seguida, vamos apresentar pelo menos dois objetos de estudo da estética 
(ii). Nossa proposta é estudar o ponto de partida da estética, pois é uma área 
da filosofia geral que apresenta uma discussão bastante complexa no sentido de 
compreender o valor da arte. Vamos à leitura!
2 O QUE É ESTÉTICA?
De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 341), “a palavra estética vem do 
grego aisthesis, com o significado de ‘faculdade de sentir’, ‘compreensão pelos sentidos’, 
‘percepção totalizante’”. Observe que a estética apela fundamentalmente para a 
sensibilidade, uma aprendizagem pelos sentidos. Assim, uma obra de arte, por exemplo, 
não é destituída de seu caráter pedagógico, que deve ser captado pelo observador. 
Embora na Grécia Antiga outros filósofos já tenham utilizado o termo 
“estética”, foi o filósofo Alexander G. Baumgarten (1714-1831), que utilizou pela 
primeira vez a palavra no conceito moderno. O seu intuito era o de estabelecer uma 
disciplina da Filosofia que fosse encarregada de estudar todas as manifestações 
artísticas. Embora os primeiros filósofos gregos tenham utilizado a palavra “estética”, 
atualmente o seu significado corresponde à “doutrina do conhecimento sensível”. 
Assim, Baumgarten definiu a estética como sendo uma disciplina que 
deveria refletir sobre as emoções produzidas pelos objetos que são admirados 
pelos seres humanos. O filósofo ainda afirmava que a estética deveria ser 
abordada a partir da consciência de cada indivíduo. Baumgarten entendia 
que a sensibilidade era a única forma de apreciar uma obra de arte. Assim, a 
sensibilidade só é possível quando o observador permite contemplar a arte a 
partir da sua própria subjetividade.
150
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
3 OBJETOS DE ESTUDO DA ESTÉTICA
Assim como todas as áreas da filosofia definem um objeto de estudo, com 
a estética não é diferente. Nesta oportunidade, iremos discorrer apenas sobre o 
belo e o feio e a arte. Existem outros objetos de interesse da estética, mas vamos 
destacar apenas esses que foram apresentados. 
3.1 O BELO E O FEIO
Ao estudarmos sobre as concepções de feio e de belo, não podemos fugir 
de questões como: o que é o belo ou o feio? É possível definirmos objetivamente o 
que é feio ou o que é belo? A beleza ou a feiura depende da subjetividade de cada 
pessoa? Essas são questões que muitos filósofos que discutiram a arte tiveram 
que enfrentar. Assim, a grande questão do feio e do belo está na objetividade ou 
subjetividade. 
A discussão em torno do feio e do belo é bastante ampla. Se concebermos 
o belo como uma manifestação do objeto em si, logo estaremos afirmando que há 
uma essência própria do belo independentemente da vontade do sujeito. 
Em uma concepção mais contemporânea, o belo pode ser concebido 
como uma manifestação subjetiva, ou seja, a beleza de um determinado objeto 
é resultado de uma concepção subjetiva e a cultura, os valores e tradições 
influenciam diretamente na concepção. 
Segundo Aranha e Martins (1993, p. 342), “para Platão, a beleza é a única 
ideia que resplandece no mundo. Se, por um lado, reconhece o caráter sensível do 
belo, por outro continua a afirmar sua essência ideal, objetiva”. Em decorrência 
dessa objetividade do belo, os filósofos clássicos deduzem “regras para o fazer 
artístico a partir desse belo ideal, fundando uma estética normativa” (ARANHA; 
MARTINS, 1993, p. 342). 
A estética normativa se difere da estética profana no seguinte sentido: a 
normativa trata da produção de conhecimento acerca do que é belo, enquanto 
que a profana trata do sentimento de beleza para o corpo. Assim, a estética 
normativa busca objetividade do belo ao adotar regras a partir de uma concepção 
racionalista da arte e se deve ao fato de que o racionalismo estético dos séculos 
XVII e XVIII estabeleceu normas claras para o labor artístico. 
Segundo Reali e Antiseri (2004, p. 365), o racionalismo estabeleceu que 
“a arte é imitação da natureza que inclui o universal, o normativo, o essencial, 
o característico e o ideal”. Ao desenvolver tais princípios, originou-se o 
academicismo ou o classicismo ensinado nas academias de arte. De acordo com 
Reali e Antiseri (2004, p. 365), “é a chamada estética normativa, que estabelece 
regras para o fazer artístico, limitando a criatividade e individualidade da 
intuição artística”. 
TÓPICO 4 | ESTÉTICA
151
Assim, temos a posição de David Hume, que contrapõe essa ideia 
normativa da arte e aponta para a relativização da beleza de acordo com o gosto 
de cada pessoa. Assim, a arte é interpretada e assimilada de acordo com o gosto 
de cada. 
Hume não está assumindo que qualquer coisa seja arte, até porque ele 
entendia que ela é um padrão estabelecido socialmente levando em consideração 
a beleza, a delicadeza, o gosto e a estética. A questão fundamental é que o belo 
não segue um único padrão de gosto e não pode ser discutido racionalmente. 
Se, por um lado, temos aqueles que tentam objetivar o belo e, do outro, 
aqueles que tentam relativizar, Kant procurou estabelecer um meio-termo entre essas 
duas posições. De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 342), Kant entendia que:
O objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O 
princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o 
conceito de objeto. No entanto, há a possibilidade de universalização 
desse juízo subjetivo porque as condições subjetivas da faculdade 
de julgar são as mesmas em todos os homens. Belo, portanto, é uma 
qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir um certo estado 
da nossa subjetividade. Sendo assim, não há uma ideia de belo nem 
pode haver regras para produzi-lo.
Kant aponta para o fato de que as capacidades subjetivas da faculdade de 
julgar são comuns em todos os seres humanos. Assim, é possível deduzir que o 
belo era um dado objetivo, presente nos próprios objetos como um atributo destes, 
e o gosto era a faculdade humana de julgar o dado. Assim, tais julgamentos, que 
Kant denomina de juízos de gosto, não eram lógicos, mas estéticos, portanto, 
sensíveis e subjetivos.
DICAS
Grandes olhos (2014): contará a história dos 
artistas Margaret e Walter Keane, que foram muito famosos 
durante os anos 1950 e 1960. O motivo? Seus quadros. Em vez 
de belas paisagens, como os pintores tradicionais, os de Keane 
apresentavam pinturas de crianças com grandes olhos, muitas 
vezes tristes, profundos e sombrios, que de tão diferentes, 
acabaram por se tornar moda na época.
152
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL
3.2 A ARTE
Apesar de arte e estética possuírem uma relação muito próxima, no 
entanto não são sinônimas. A arte é a técnica, o fazer, enquanto que a estética é 
a impressão que a técnica causará, pois como já vimos anteriormente, apalavra 
“estética” remete para a “faculdade de sentir”, “compreender pelos sentidos”, à 
“percepção totalizante”. 
Arte nem sempre esteve ligada à estética, pois servia para propósitos 
diversos, como a fabricação de ferramentas, objetos e pinturas que contavam a 
história de alguma aventura ou em alguma celebração. Quando a arte é associada 
à estética, o artista passa a se preocupar não apenas com a funcionalidade do 
que está sendo fabricado, desenhado, pintado etc., preocupa-se ainda com a 
possibilidade de agradar a todos, afetando-os como experiência sensível. 
A arte pode ser concebida de três maneiras: como imitação, como criação 
e como construção. É sobre essas concepções que iremos discorrer agora. 
A arte como imitação concebe o artista como aquele que é capaz de imitar a 
natureza, os objetos com a maior precisão possível. O artista não se revela no objeto 
em si, mas seu mérito reside na escolha do objeto a ser imitado. Assim, o artista 
tem um papel passivo, pois apenas está reproduzindo o que existe e está dado. A 
inspiração do artista está intrinsecamente associada à cópia de algum elemento 
pertencente à natureza, que é representado em uma pintura ou escultura.
A arte como criação se caracteriza pela originalidade, pois é independente 
da natureza. Assim, a originalidade de uma obra é expressada no próprio 
sentimento do artista. Ainda, o conceito de arte é característico do romantismo. 
De acordo com Abbagnano (2012, p. 428):
A tese romântica da arte como criação compõe-se de duas teses 
diferentes: I, a arte é originalidade absoluta, e os seus produtos não são 
referíveis à realidade natural; II, como originalidade absoluta, a arte é 
parte (continuação ou manifestação) da atividade criadora de Deus. 
Na criação da obra de arte, o artista pode expressar sua subjetividade, suas 
sensações e experiências. Tais expressões não são destituídas de intencionalidade, 
mas são uma atividade da consciência que é revelada em uma pintura, em um 
poema, em uma escultura etc. Ela representa a capacidade criativa e inovadora 
do homem. 
A arte como construção é revelada quando o artista é capaz de criar uma 
obra artística na qual ele combina os elementos da natureza e os sentimentos 
do próprio homem. O artista se afasta da realidade, mas não a ignora. Ele não 
está totalmente submisso à natureza como acontece na arte como imitação, e nem 
se desvincula subjetivamente dela como na arte como criação. O artista é livre 
para se expressar, mas consegue combinando os elementos da natureza com seus 
próprios sentimentos. 
TÓPICO 4 | ESTÉTICA
153
LEITURA COMPLEMENTAR
CARTA XX
Friedrich Schiller
Discutindo o estado estético, Schiller esclarece, na carta XX, dirigida ao príncipe 
Augustenburg:
Para leitores que não estejam familiarizados com a significação deste 
termo tão mal-empregado pela ignorância, sirva de explicação o seguinte. Todas 
as coisas que de algum modo possam ocorrer no fenômeno são pensáveis sob 
quatro relações diferentes. Uma coisa pode referir-se imediatamente ao nosso 
estado sensível (nossa existência e bem-estar): esta é a sua índole física. 
Ela pode, também, referir-se ao nosso entendimento, possibilitando-nos 
conhecimento: esta é sua índole lógica. Ela pode, ainda, referir-se à vontade a 
ser considerada como objeto de escolha para um ser racional: é sua índole moral. 
Finalmente, ela pode referir-se ao todo de nossas diversas faculdades sem ser 
objeto determinado para nenhuma isolada dentre elas: é sua índole estética. 
Um homem pode ser-nos agradável por sua solicitude; pode, pelo 
diálogo, dar-nos o que pensar; pode incutir respeito pelo seu caráter; enfim, 
independentemente disso tudo e sem que tomemos em consideração alguma lei 
ou fim, ele pode aprazer-nos na mera contemplação e apenas por seu modo de 
aparecer. 
Na última qualidade, nos julgamos esteticamente. Existe, assim, uma 
educação para a saúde, uma educação do pensamento, uma educação para 
a moralidade, uma educação para o gosto e para a beleza. Esta tem por fim 
desenvolver em máxima harmonia o todo de nossas faculdades sensíveis e 
espirituais. 
Para contrariar a corriqueira sedução de um falso gosto, fortalecido também 
por falsos raciocínios, segundo os quais o conceito do estético comporta o do 
arbitrário, observo ainda uma vez que a mente no estado estético, embora livre, e 
livre no mais alto grau, de qualquer coerção, de modo algum age livre de leis. 
Acrescento que a liberdade estética se distingue da necessidade lógica 
no pensamento e da necessidade moral no querer apenas pelo fato de que as 
leis segundo as quais a mente procede ali não são representadas e, como não 
encontram resistência, não aparecem como constrangimento.
FONTE: SCHILLER, F. A educação estética do homem. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 
154
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A discussão em torno do feio e do belo é bastante ampla se concebermos o belo 
como uma manifestação do objeto em si. Logo, estaremos afirmando que há 
uma essência própria do belo independentemente da vontade do sujeito.
• A estética normativa se difere da estética profana no seguinte sentido: a 
normativa trata da produção de conhecimento acerca do que é belo, enquanto 
a profana trata do sentimento de beleza para o corpo.
• David Hume contrapõe a ideia normativa da arte e aponta para a relativização 
da beleza de acordo com o gosto de cada pessoa.
• Kant aponta para o fato de que as capacidades subjetivas da faculdade de 
julgar são comuns em todos os seres humanos.
• A arte é a técnica, o fazer, enquanto que a estética é a impressão que a técnica 
causará, pois como já vimos anteriormente, a palavra “estética” remete 
para a “faculdade de sentir”, “compreender pelos sentidos”, à “percepção 
totalizante”.
• A arte pode ser concebida de três maneiras: como imitação, como criação e 
como construção.
155
1 Como qualquer outra área da filosofia, a estética possui objetos específicos 
de estudo, como a questão do feio e do belo, neste caso. Embora haja muita 
discussão sobre a caracterização de uma coisa, uma arte, um objeto etc., como 
feio ou bonito, a estética busca fazer a avaliação de maneira mais profunda a fim 
de estabelecer os critérios. Sobre o feio e o belo, analise as sentenças a seguir:
a) ( ) Para os racionalistas, o belo é plenamente subjetivo, ou seja, depende da 
concepção racional de cada sujeito. 
b) ( ) A estética normativa procura pela objetividade do belo ao adotar regras 
tendo como base a concepção racionalista da arte.
c) ( ) O filósofo inglês David Hume se posiciona contrário à concepção 
racionalista do belo, pois para ele, a beleza está relacionada diretamente 
às regras objetivas da razão para avaliação do que é o belo. 
2 É muito comum as pessoas não fazerem distinção entre arte e estética. 
Contudo, há diferenças importantes entre elas, embora a arte seja um dos 
objetos de estudo da estética. A arte, por exemplo, pode ser concebida de três 
maneiras. Sobre essas maneiras, assinale V para as afirmativas verdadeiras e 
F para as falsas:
( ) A arte como imitação é caracterizada pelo fato de o artista buscar imitar a 
natureza com maior precisão possível.
( ) A arte como construção reflete apenas a capacidade do artista em construir 
um objeto, cuja perfeição remete à natureza. 
( ) No caso da arte como imitação, o mérito do artista não está em sua 
criatividade, mas na escolha do objeto a ser imitado.
( ) A arte como criação é a capacidade criativa do artista, pois ela expressa 
originalidade independente da natureza. 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – F – F – V. 
b) ( ) V – F – V – V. 
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) V – F – F – V. 
AUTOATIVIDADE
156
157
UNIDADE 3
FILOSOFIA PARA HOJE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMPLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
• conhecer o panorama histórico da Filosofia Política com a finalidade de 
compreender seu desenvolvimento até os dias atuais;
• compreender alguns aspectos relacionados à Filosofia da Mente e seus 
principais problemas;
• avaliar a importância da Filosofia da Educação para o desenvolvimento de 
uma educação mais crítica e reflexiva.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você 
encontrará atividades que ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiridos.
TÓPICO 1 – FILOSOFIA POLÍTICA
TÓPICO 2 – FILOSOFIA DA MENTE
TÓPICO 3 – FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
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TÓPICO 1
FILOSOFIA POLÍTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
A Filosofia Política é uma área da filosofia que possibilita ter uma 
compreensão mais ampla sobre a maneira como a sociedade se relaciona social, 
cultural, econômica e moralmente. 
Quando falamos em política, estamos nos referindo à maneira como a vida 
é vivida na coletividade, no espaço plural, diverso. Diversas forças se manifestam 
e precisam entrar em consenso para que a vida em sociedade seja possível.
No espaço, as instituições foram surgindo e cada uma delas ocupa seu 
papel na integração social, bem como no estabelecimento das regras, limites e 
mecanismos de controle social. Devem manter a sociedade coesa, possibilitando 
a segurança de seus membros e uma convivência pacífica. 
Ao voltarmos para a Filosofia Política, será possível perceber como o ser 
humano teve e tem que lidar com desafios constantes ao longo de sua história, 
em busca da construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária, que deve ser 
a base de uma sociedade igualitária e que respeita os diversos grupos que dela 
fazem parte. 
Neste tópico, nós vamos discorrer de maneira sucinta sobre os principais 
momentos e pensadores do campo da Filosofia Política, para compreendermos o 
contexto atual e os desafios que ainda teremos pela frente. 
Devemos dar nossa contribuição para o desenvolvimento de uma 
sociedade plural e diversificada. As diferenças devem ser discutidas no espaço 
público e os atores políticos devem dar justificativas racionais e razoáveis para 
suas crenças, valores, tradições, posições e decisões políticas.
Convido você a iniciar mais uma etapa de sua formação acadêmica!
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
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2 A POLÍTICA NA GRÉCIA
O nascimento da polis grega marca um período de profundas 
transformações na configuração política da Grécia. Até o surgimento das 
primeiras cidades-estados (polis), a Grécia havia vivenciado diferentes formas de 
organização política, como o sistema gentílico, em que a célula básica é o génos 
(comunidade formada por numerosas famílias e descendentes de um mesmo 
ancestral). 
Na comunidade, os bens eram comuns para todos, o trabalho era 
desenvolvido de maneira coletiva, cultivavam a terra e criavam gado. Aquilo 
que era produzido era dividido entre eles. Dependiam das ordens do chefe 
comunitário (pater), que concentrava o poder e exercia as funções religiosas, 
administrativas e jurídicas. Entretanto, com o aumento da população, houve um 
desequilíbrio entre a população e o consumo do que era produzido. Então, o 
resultado foi a desagregação dos génos. 
FIGURA 1 – SURGIMENTO DA POLIS
FONTE: <https://pt.slideshare.net/BriefCase/grcia-2011>. Acesso em: 3 out. 2018. 
A desagregação dos génos desencadeou um processo. Houve o crescimento 
das desigualdades sociais. Em decorrência,
A desigual divisão de terras privilegia alguns, gerando uma 
aristocracia baseada na riqueza decorrente da propriedade da terra. 
Em contrapartida, os que perdem seus lotes passam a trabalhar para 
os ricos e, aos poucos, se desenvolve o sistema escravista (ARANHA; 
MARTINS, 1993, p. 190).
Com o enfraquecimento e a desintegração do sistema gentílico ou génos, a 
consequência inevitável do processo foi o aumento do poder da aristocracia “com 
o conselho de nobres e a assembleia dos guerreiros” (ARANHA; MARTINS, 1993, 
p. 190). 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
161
Até o momento da história grega não é possível dizer que houve ação 
política propriamente dita. Ainda “resta a crença de que agentes divinos 
promovem o agir humano” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 190). A ação política 
propriamente dita terá início quando o homem for capaz de decidir sobre seu 
próprio destino sem a interferência dos deuses.
 
Um fato importante a ser destacado aqui é que “a passagem do mundo rural 
e aristocrático da Grécia homérica para a formação das primeiras aglomerações 
urbanas no período arcaico é concomitante a mudanças na estrutura social, política 
e econômica” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 190). A aglomeração contribui 
para uma divisão do trabalho devido ao sistema escravagista, à ampliação e ao 
desenvolvimento do comércio e do artesanato. 
Na polis grega, o ponto mais alto da cidade era chamado de acrópole, 
onde ficava a ágora. Na acrópole ficava o templo e era também o local onde se 
refugiavam os habitantes das cidades, quando se encontravam sob ataque dos 
inimigos invasores. 
A ágora, por sua vez, era “a praça central, onde se estabeleciam as 
trocas comerciais e os cidadãos se reúnem para debater os assuntos da cidade” 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 191). A ágora configurava o espaço de exposição 
de opiniões. 
FIGURA 2 – ÁGORA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora>. Acesso em: 9 ago. 2018.
A ágora é, portanto, o espaço público das cidades gregas escolhido pelos 
cidadãos para debaterem os mais diversos assuntos. As assembleias aconteciam 
na ágora, pois os gregos decidiam sobre os mais diversos temas: as leis, a justiça, 
obras públicas, a cultura etc. Outro detalhe importante sobre as assembleias é que 
os cidadãos votavam e decidiam através do voto direto. 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
162
As sementes da democracia começaram a germinar nos espaços de 
discussão. De agora em diante era necessário combater o poder aristocrático e 
aumentar a participação popular nas decisões políticas da polis. “A luta contra 
a aristocracia exige a institucionalização da lei escrita, a fim de evitar abusos de 
poder. Favorecerá a nova classe” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 191). Para que 
fosse possível, eram necessárias reformas políticas profundas na sociedade grega. 
O primeiro a promover as reformas foi Sólon, em 594 a. C. A democratização 
em Atenas se ampliou sob o governo de Clístenes no final do século VI a.C. Houve 
“a redução do poder da nobreza territorial provocada por uma nova distribuição 
das famílias em diversas tribos” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 191). Contudo, 
o auge da democracia ateniense aconteceu quando Péricles assumiu o governo 
no século V a.C. Sua capacidade como orador, general e estadista possibilitou a 
estabilização política de Atenas e sua hegemonia entre as demais cidades-estados. 
FIGURA 3 – PÉRICLES
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4b/Pericles_Pio-Clementino_
Inv269_n2.jpg/1200px-Pericles_Pio-Clementino_Inv269_n2.jpg
A história política grega foi responsável por formar importantes 
pensadores que discutiram a política em suas obras. Dentre os pensadores, não 
podemos deixar de destacar os pensamentos de Platão e Aristóteles em relação 
à política grega. Assim, vamos discorrer sucintamente sobre alguns aspectos dos 
principais temas abordados pelos pensadores. 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
163
3 PLATÃO
A obra A República, escrita por Platão por volta de 380 a.C., é particularmente 
rica em termos filosóficos, políticos e sociais. O ponto central da discussão entre 
Sócrates e seus interlocutores está na busca de uma fórmula que garanta uma 
harmoniosa administração para a cidade. Tal harmonia deve ser buscada com 
a finalidade de manter a cidade livre da anarquia, dos interesses e disputas 
particulares e dadesordem completa. 
“Sócrates discute a natureza da justiça com um número grande de 
pessoas” (STRAUSS; CROPSEY, 2013, p. 31). Além de a justiça estar em debate, 
Platão discorre sobre a cidade ideal e as formas de governo. Na ocasião, vamos 
discorrer brevemente sobre a justiça e a democracia, que são dois aspectos centrais 
na política.
Na obra A República, o ponto central gira em torno da seguinte questão: 
O que é necessário para termos uma sociedade bem ordenada? A cidade bem 
ordenada é a cidade ideal, mas que não passa de uma utopia, pois a sociedade 
que ele deseja está muito além do alcance de um projeto político que satisfaça os 
anseios de todos os cidadãos. 
Em A República, a justiça é vista como a maior das virtudes por considerar 
o outro. Contudo, os conceitos e conclusões ainda consideram que a justiça é a 
virtude que ultrapassa a lei da polis (legislação). O cidadão deve buscar o que é 
justo além do costume. 
A justiça é melhor definida no Estado e não no indivíduo. A definição do 
que é justiça, na obra de Platão, não é uma tarefa simples. Assim, vários pensadores 
e estudiosos tentaram sintetizar o conceito. Jaeger (1996, p. 594) aponta que:
A justiça nada mais é do que a harmonia que se estabelece entre 
três virtudes, a temperança (lavradores, artesãos e comerciantes), a 
fortaleza ou a coragem, (guardas) e a sabedoria (governantes). Quando 
cada cidadão e cada classe social desempenham as funções que lhes 
são próprias da melhor forma e fazem aquilo que por natureza e por 
lei são convocados a fazer, então realiza-se a justiça perfeita. Existe, 
portanto, uma justiça perfeita entre as virtudes da cidade e as virtudes 
do indivíduo.
A justiça, portanto, é a virtude central na esfera pública. Ela é responsável 
por estabelecer uma vivência harmoniosa e pacífica entre os indivíduos. 
Entretanto, o próprio conceito de justiça não é facilmente entendido e aceito 
pelos cidadãos da polis. As pessoas possuem concepções de justiça que diferem 
umas das outras. Assim, o espaço público é o local onde as concepções de justiça 
devem ser submetidas à razoabilidade, ou seja, é necessário encontrar um ponto 
em comum sobre o que é justiça e de que maneira que ela pode ser exercida e 
aplicada na esfera pública. 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
164
Quanto à democracia, Platão definiu como o Estado no qual reina a 
liberdade. Descreve uma sociedade utópica dirigida pelos filósofos. No seu 
entendimento, eram os únicos capazes de governar, pois eram os únicos 
conhecedores autênticos da realidade, que ocupariam o lugar dos reis, tiranos 
e oligarcas. Contudo, vale ressaltar que Platão vê com certo receio a democracia, 
devido às desilusões e experiências frustrantes com a política. Voltaremos ao 
assunto quando tratarmos da democracia propriamente dita. 
IMPORTANT
E
A República, do filósofo grego Platão (427-347 a.C.), livro escrito há mais de 2.300 
anos, continua sendo uma obra de grande atualidade. Deixando de lado as colocações que 
soam como esquisitas ao homem moderno, é possível perceber a atualidade dos escritos 
do filósofo. 
 Faz análises dos sistemas de governo e seus instrumentos e mecanismos de poder 
e aborda temas antigos, mas sempre atuais, como riqueza e pobreza, justiça e injustiça, 
verdade e mentira, guerras inúteis, descaso pela cultura e educação. Apresentando sob 
forma de uma sucessão ininterrupta de diálogos, A República é um livro que merece ser 
lido. Platão não apenas crítica os governos, mas apresenta soluções para uma estratégia 
política perfeita.
4 ARISTÓTELES
A política, na Filosofia de Aristóteles, está intrínseca e essencialmente 
associada à moral. Tal vínculo acontece devido ao fim último do Estado ser a 
virtude. Para que o fim seja alcançado, é necessário que os cidadãos tenham uma 
boa formação moral. Assim, o Estado consiste em um organismo moral, é também 
a condição e o complemento da atividade moral individual. Embora a política 
esteja associada à moral, é necessário considerar que ela é distinta. 
A distinção se deve ao fato de que a moral tem como objetivo o indivíduo, 
enquanto que a política tem como objeto a coletividade. Assim, é possível afirmar 
que a ética é a doutrina moral individual, enquanto que a política é a doutrina 
moral social.
No entendimento de Aristóteles, o Estado é superior ao indivíduo, pois 
a coletividade é superior ao indivíduo. Aquilo que é considerado como sendo o 
bem comum deverá ser colocado acima do bem particular. É apenas no Estado 
que a satisfação de todas as necessidades humanas pode ser satisfeita. 
O homem é por natureza um animal político que precisa viver em sociedade, 
pois ele não pode chegar à perfeição sem a contribuição da sociedade e do Estado. 
A polis, portanto, é um lugar adequado para o homem desenvolver suas aptidões 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
165
humanas. Na busca do bem, o homem forma a comunidade, que se organiza na 
distribuição das tarefas especializadas para as necessidades do grupo. 
Afastando-se um pouco de Platão, que havia centralizado no conceito de 
justiça o elemento central da vida em sociedade, Aristóteles defendia que a justiça 
necessitava estar associada à philia. 
O termo remete à ideia de amizade entre os pais e filhos, entre irmãos. 
Quando se refere à cidade, “significa a concordância entre as pessoas que têm ideias 
semelhantes e interesses comuns. Resulta em camaradagem, companheirismo. 
Daí a importância da educação da formação ética dos indivíduos, preparando-os 
para a vida em comunidade” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 194-195). 
A vida social não é possível se os indivíduos forem regidos apenas pela 
letra fria da lei, que visa garantir a justiça. A vida social depende dos indivíduos. 
Estes devem contribuir para o bem coletivo e tendo em vista os laços de amizade 
que estão acima da própria lei. Assim, a educação tem uma importante função na 
formação humana dos agentes morais, pois tal formação ética tem por finalidade 
despertar nas pessoas o senso de coletividade e suas responsabilidades. 
5 O ESTADO MODERNO
O surgimento do Estado acontece devido à necessidade da sobrevivência. 
Diante dos desafios impostos pela natureza, os grupos humanos tiveram que se 
organizar, pois somente de tal maneira seriam capazes de superar as intempéries 
naturais e desenvolver formas mais sofisticadas que garantissem a superação dos 
obstáculos naturais. 
Por outro lado, o Estado surge para controlar a natureza humana na 
relação com seus pares. O Estado Moderno, por sua vez, tem um sentido mais 
amplo, pois se afasta daquela organização social mais rudimentar e de caráter 
feudal. Passa a se organizar em torno de um conjunto de ideias e instituições 
melhor estruturadas. Precisamos esclarecer: O que é um Estado? De acordo com 
Silva e Silva (2009, p. 115): 
A palavra Estado vem do latim “status”, verbo stare, manter-se em 
pé, sustentar-se. Na Antiguidade Clássica, a expressão para designar 
o complexo político-administrativo que organizava a sociedade era o 
“status rei pubblicae”, ou seja, situação de coisa pública, em Roma, 
e pólis, na Grécia. Foi na Europa Moderna que surgiu a realidade 
política do Estado Nacional. Com Maquiavel, o termo Estado começou 
a substituir civitas, polis e res publica, passando a designar o conjunto 
de instituições políticas de uma sociedade de organização complexa. 
É possível observar as mudanças ocorridas no entendimento do conceito 
de Estado e a maneira como o próprio Estado se reorganiza ao longo da sua 
história. É necessário atentar que, para Weil (1990, p. 198), por exemplo, “o 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
166
Estado Moderno é a organização consciente de uma comunidade que trabalha 
racionalmente. O governo que dirige os negócios da comunidade-sociedade deve 
ser informado para poder deliberar e decidir: o aparelho destinado a preencher a 
funçãoé a administração”. 
O governo deve administrar o Estado com o objetivo de executar aquilo 
que é considerado necessário à vida da comunidade. Para maior eficiência, 
o governo dispõe da administração pública, que cumpre o papel de auxiliar o 
governo. A administração não é o governo. Ela coloca em prática as determinações 
do governo, mas é uma entidade autônoma, ou pelo menos deveria ser, para o 
bom andamento da máquina pública e da democracia.
6 MAQUIAVEL: O PRÍNCIPE
Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu na cidade de Florença e foi um 
filósofo e político. Sua obra mais conhecida, O príncipe é um clássico para quem 
deseja compreender o pensamento político moderno. No tratado, Maquiavel 
propõe a unificação da Itália por meio da figura de um príncipe.
FIGURA 4 – NICOLAU MAQUIAVEL
FONTE: <https://pt.wikiquote.org/wiki/Nicolau_Maquiavel>. Acesso em: 11 set. 2018. 
Na época em que Maquiavel viveu, a Itália estava dividida, tanto é que ele 
vivia na República de Florença. Tal divisão ocasionava muita instabilidade política 
na Itália. Tornava um território fragilizado e facilitava a invasão de seus territórios 
por parte de países vizinhos que tanto cobiçavam e reivindicavam as terras. 
Durante parte da sua vida, por pelo menos dez anos, Maquiavel serviu ao 
republicano Suderini. Ao ocupar a Segunda Chancelaria do governo Suderini, e 
devido à função de chanceler, teve que realizar inúmeras viagens pelos demais 
países europeus e cidades italianas. Com o retorno da família Medici ao poder, 
Maquiavel se retirou de cena para escrever suas obras. 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
167
É importante destacar que, durante as viagens que realizou, ele teve a 
“oportunidade de entrar em contato direto com reis, papas e nobres, e também 
com o condottiere César Bórgia, que estava empenhado na ampliação dos Estados 
Pontifícios” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 204). Foi inspirado na política de 
unificação de César Bórgia que Maquiavel considerou a maneira de Bórgia agir 
como “o modelo de príncipe que a Itália precisava para ser unificada” (ARANHA; 
MARTINS, 1993, p. 204).
IMPORTANT
E
Condottieri: Liderando as notórias companhias mercenárias italianas desde o 
século XIV, os condottieri se tornaram infames no cenário medieval italiano, principalmente 
devido às frágeis alianças políticas e ao seu pérfido envolvimento. Mesclando os assuntos 
militares e usando-os para seu próprio ganho pessoal ou ascensão política, os condottieri 
acabaram se tornando um dos símbolos da Itália medieval.
 O termo “condottiere” significa “contratante”, indicando o status desses homens 
como capitães de companhias mercenárias. Os contratos eram entregues pelo condottiere 
para o seu futuro contratador e, geralmente, os contratos possuíam um certo equilíbrio, 
impedindo os lados de violarem seus termos, e até mesmo fazendo com que o Estado 
garantisse pensões aos mutilados de guerra de uma das companhias. Os primeiros 
condottieri, realmente, não eram nativos da Itália.
FONTE: <https://tormentopabulum.wordpress.com/2015/12/13/condottiere/>. Acesso em: 
11 set. 2018.
Apesar das controvérsias em torno da sua principal obra, O príncipe, na 
verdade, trata do desejo de Maquiavel em ver uma Itália unificada, comandada 
por um legítimo rei, que fosse capaz de defender o povo e a nação de forma 
incondicional. O conteúdo da obra serve como uma série de conselhos para 
governantes.
Para entendermos o caráter que o livro possui, Maquiavel trata, por 
exemplo, das espécies de principados e das maneiras como são conquistados. 
Ele escreve aos príncipes, que chegaram ao principado pela mercê dos cidadãos, 
que terão que lidar com o povo e com os poderosos. Maquiavel dá a seguinte 
orientação:
O principado é instituído ou pelo povo ou pelos grandes, de acordo 
com a oportunidade. Os grandes, quando descobrem que não podem 
resistir ao povo, principiam a formar a reputação de um de seus 
elementos e o tornam príncipe para este, sob sua sombra, satisfazer 
seus apetites. Também o povo, percebendo não poder resistir aos 
grandes, cria a reputação de um cidadão e o elege príncipe, para 
manter-se seguro com a autoridade. Aquele que alcança o principado 
com o apoio dos poderosos conserva-se mais dificilmente do que 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
168
aquele que é eleito pelo povo; o primeiro terá muita gente a cercá-lo e, 
por esse motivo, não pode comandar nem manejar como bem quiser. 
Aquele que se torna príncipe pelo favor popular está sozinho: ou não 
há ninguém, ou há poucos, ainda não preparados para obedecê-lo. 
Ademais, não se pode, com honestidade, manter satisfeitos os grandes 
sem ofensa a outros; ao povo, porém, pode-se satisfazer. No povo, o 
objetivo é mais honesto do que entre os grandes; estes desejam oprimir 
e aquele não quer ser oprimido. O príncipe nunca estará seguro contra 
a hostilidade do povo, porque ele é composto de muitos; quanto aos 
grandes, isso é possível, uma vez que são poucos (MAQUIAVEL, 1999, 
p. 73-74). 
O que é possível perceber é que o povo possui um papel fundamental 
para a manutenção do poder do príncipe. O governante precisa estar atento ao 
clamor e aos anseios populares, pois sua indiferença poderá levar seu governo à 
ruína. De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 204):
As ideias democráticas aparecem também no capítulo IX de O príncipe, 
quando Maquiavel se refere à necessidade de o governador ter o apoio 
do povo, sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem 
ser traiçoeiros. O que está sendo timidamente esboçado é a ideia de 
consenso, que terá importância fundamental nos séculos seguintes. 
A concepção maquiavélica de poder é raramente discutida, pois sempre 
se refere à obra de maneira negativa, pois alguns veem nela a exaltação de um 
tipo de governo que está disposto a fazer de tudo para manter o poder. Contudo, 
é necessário ter em mente que, o príncipe, para Maquiavel, precisa ser sagaz, sem 
que ele esteja contra todos os interesses do povo.
 
O governo precisa entrar em consenso com seus governados, pois são 
estes que darão sustentação ao seu poder, visto que “os grandes” lutam pelos seus 
interesses. Segundo Maquiavel (1999, p. 73), “aquele que alcança o principado 
com o apoio dos poderosos conserva-se mais dificilmente do que aquele que é 
eleito pelo povo”. 
7 HOBBES: O LEVIATÃ
A teoria mais conhecida e, talvez, a mais importante sobre o Estado, foi a 
desenvolvida por Thomas Hobbes (1588-1679). Sua convivência com a nobreza, 
da qual recebeu apoio financeiro para estudar, resultou em uma posição de 
ferrenho defensor do poder absoluto do Estado. 
Sua principal e mais conhecida obra, Leviatã (1651), parte da ideia de que 
os homens vivem em constante conflito devido à natureza perversa. Segundo 
Hobbes (1983, p. 75), há três causas para a discórdia: “primeiro, a competição; 
segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória”. 
Assim, o resultado do Estado Natural em que o homem se encontra é a 
guerra de todos contra todos, na célebre formulação de Hobbes. Diante de tal 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
169
quadro é impossível que existam comércio, indústria ou civilização, conduzindo 
a vida do homem à solidão, pobreza, sujeira e brutalidade. A discórdia ocorre 
porque cada homem persegue racionalmente os seus próprios interesses, sem 
que o resultado interesse a alguém. Qual seria a solução para tamanho problema? 
A criação de um pacto social. 
A celebração do pacto social depende de os homens abrirem mão de seu 
Estado de Natureza, no qual ele tem direito a tudo. De acordo com Hobbes (1983, 
p. 78):
O Direito de Natureza é a liberdade que cada homem possui de usar 
seu próprio poder e, da maneira que quiser, para a preservação de sua 
própria natureza, ou seja, de sua vida. Consequentemente, é poder 
fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão indiquem como 
meios adequados.No Estado de Natureza, cada homem decide como viver, pois ele é a 
sua própria lei. Contudo, na condição, cada homem está por sua conta e deve se 
defender como pode para sobreviver e proteger aquilo que é seu, pois a qualquer 
momento alguém poderá reivindicar aquilo que está em sua posse. 
O homem, portanto, pode abandonar sua liberdade de duas maneiras: 
renunciando ou transferindo. Entretanto, o abandono não é sem motivos. 
O Estado que Hobbes propõe tem caráter absolutista. O poder do soberano é 
ilimitado, pois “a transmissão do poder dos indivíduos ao soberano deve ser total. 
Caso contrário, um pouco que seja conservado de liberdade natural se instaura de 
novo para a guerra” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 211). 
FIGURA 5 – O LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES
FONTE: <http://www.arqnet.pt/portal/teoria/leviata.html>. Acesso em: 30 set. 2018. 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
170
Ao utilizar a figura bíblica do Leviatã como um “animal monstruoso 
e cruel, mas que defendia os peixes menores de serem engolidos pelos mais 
fortes” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 211), Hobbes estava querendo dizer que 
o Estado tinha um poder semelhante, ou seja, os pequenos (o povo, os pobres, 
os fragilizados) abrem mão de sua liberdade para a proteção do Estado contra 
o abuso dos maiores. O pacto celebrado entre os homens e o Estado objetiva a 
garantia do bem para si mesmos. 
8 MONTESQUIEU: OS TRÊS PODERES
Montesquieu (1689-1755) justifica a necessidade de o poder ser 
descentralizado sem perder a harmonia, alegando que “quando os poderes 
Legislativo e Executivo ficam reunidos em uma mesma pessoa ou instituição do 
Estado, a liberdade desaparece. Para que não haja abuso, é preciso organizar as 
coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder” (MONTESQUIEU, 1996, 
p. 168). 
O freio do poder é o próprio poder, desde que este não esteja centralizado 
em uma única pessoa ou instituição. A conclusão de Montesquieu é resultado da 
situação vivida pela França, durante a dinastia Bourbon, que era uma dinastia 
absolutista que perdurou até 1789, ano da Revolução Francesa.
A separação dos poderes é a base para o exercício do poder democrático. 
Cada poder tem uma função específica e limitada em relação aos demais poderes, 
o que garante o equilíbrio das forças que governam um país. No Brasil, os poderes 
são divididos em: Executivo, Legislativo e Judiciário.
O Executivo é composto por presidente, governadores estaduais e prefeitos 
municipais. A função do Executivo consiste em administrar a coisa pública, ou 
seja, cabe a este poder governar o povo e administrar os interesses públicos. Sua 
administração é regida pela Constituição Federal. Em relação ao Executivo:
O presidente é o chefe do Executivo e a autoridade suprema do país. 
No governo, ele é auxiliado pelo vice-presidente e pelos ministérios. É 
o Executivo que coloca em prática as leis elaboradas pelo Legislativo 
(Congresso Nacional formado pela Câmara dos Deputados e Senado 
Federal). O presidente pode propor projetos de lei e emendas à 
Constituição. Ele também pode adotar medidas provisórias em casos 
de relevância ou urgência (LENZI, 2018, p. 1).
O Legislativo é constituído de senadores, deputados (federais e 
estaduais) e vereadores. A principal função do Legislativo é elaborar as leis que 
regulam o Estado. O Legislativo (Congresso Nacional) tem como principais 
responsabilidades a elaboração das leis e a fiscalização contábil, financeira, 
orçamentária, operacional e patrimonial da União e das administrações diretas 
e indiretas.
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
171
O Judiciário é composto pelo Supremo Tribunal Federal, tribunais 
estaduais e os juízes. Sua função consiste em garantir que os direitos individuais, 
coletivos e sociais sejam atendidos e resolver conflitos entre cidadãos, entidades 
e Estado. 
O Judiciário tem autonomia administrativa e financeira garantidas pela 
Constituição Federal. Em relação aos demais poderes, o Judiciário é o mais 
importante. Não significa que possua mais poder, mas pelo fato de que é seu 
dever o respeito às leis, entendidas como a base de toda sociedade civilizada, 
sendo crucial sua independência em relação aos demais.
9 REGIMES POLÍTICOS
 Os regimes políticos consistem na maneira como o governo se relaciona 
com o povo através das suas instituições. O governo se organiza através das 
instituições que compõem o Estado. A seguir, estudaremos alguns tipos de 
regimes políticos, com a finalidade de compreender suas estruturas e a forma 
como se sustentam. 
9.1 REGIME DEMOCRÁTICO
Em um sentido geral, a democracia é compreendida como o governo 
em que o povo exerce a soberania. Não iremos nos aprofundar no estudo do 
conceito, mas vamos apenas apresentar uma visão geral sobre a maneira como a 
democracia é entendida por alguns pensadores. 
Sobre a democracia, Montesquieu (1996, p. 19) comenta que “o povo é, 
sob certos aspectos, o monarca; sob outros, o súdito”. Significa dizer que em um 
regime democrático o povo é o alvo das suas próprias decisões, ou seja, o povo 
legisla para ele mesmo. Platão, por exemplo, faz críticas em relação à democracia 
a partir de três argumentos principais:
Em primeiro lugar, argumenta que a maior parte dos indivíduos, 
afirma ele, julga com base no impulso, com sentimento de pena, 
com preconceito pessoal e assim por diante [...]. Em segundo lugar, 
Platão argumenta que a democracia produz maus líderes. O sistema 
encoraja a promoção de slogans populistas e a tomada de decisão 
deficiente por parte dos líderes [...]. A democracia pode maximizar 
a liberdade dos súditos, mas, ao fazer assim, na verdade fortalece a 
tendência à formação de facções, sectarismo e tribalismo na política 
(MACKENZIE, 2011, p. 113-114). 
Apesar da visão pessimista e, de certo modo, realista da democracia, é o 
regime no qual o indivíduo tem, ou pelo menos deve ter, sua liberdade garantida. 
Ainda que o sistema possua suas falhas, a democracia é o regime que objetiva 
garantir a participação de todos os indivíduos nos rumos da sociedade. 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
172
Diante dos argumentos platônicos, tão pessimistas e desfavoráveis ao 
regime democrático, nós encontramos outro pensador que, dois milênios depois, 
“virou esses argumentos do avesso, por assim dizer, em famosa defesa do 
governo representativo” (MACKENZIE, 2011, p. 1134). Estamos nos referindo a 
John Stuart Mill. 
Segundo Mackenzie (2011, p. 115), “ele defendeu a democracia com base 
em que participar do governo seria maximizar as próprias capacidades morais 
e intelectuais e assim alcançar um sentimento de prazer que é qualitativamente 
superior aos prazeres elementares, meramente transitórios da vida”. 
O ser humano é capaz de participar da vida pública e das tomadas de 
decisão. A participação na vida política traz benefícios pois, segundo ele, “a forma 
idealmente melhor de governo é aquela em que cada cidadão não apenas tem 
voz no exercício da soberania, mas também participa de alguma função pública” 
(MACKENZIE, 2011, p. 116). É a linha argumentativa de Mill que sustentará sua 
ideia de democracia representativa. O exercício do poder político do povo de um 
país elege os seus representantes através do voto nas eleições.
FIGURA 6 – DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
FONTE: <https://otambosi.blogspot.com/2018/05/por-uma-democracia-representativa.html>. 
Acesso em: 19 set. 2018. 
Se fizermos um estudo mais detido sobre as democracias representativas, 
vamos nos deparar com inúmeras falhas. Ainda, deparamo-nos com outro tipo de 
democracia denominada de deliberativa. “É um modelo de governo democrático 
que procura superar as falhas do modelo puramente representativo, colocando 
grande ênfase no valor da ‘deliberação’” (MACKENZIE, 2011, p. 124). 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
173
FIGURA 7 – DEMOCRACIA DELIBERATIVA
FONTE: <https://conexaoc.blogspot.com/2015/08/eu-posso-voce-nao-pode.html?m=0>.Acesso em: 19 set. 2018. 
De acordo com Gutmann e Thompson (2016, p. 1):
A democracia deliberativa afirma a necessidade de justificar as decisões 
tomadas pelos cidadãos e pelos seus representantes. Esperamos que 
ambos justifiquem as leis que querem impor uns aos outros. Em uma 
democracia, os líderes devem dar razões que justifiquem as suas 
decisões e responder às razões que, por sua vez, são apresentadas 
pelos cidadãos. Mas a deliberação não é necessária para todos os 
assuntos, nem é necessária em todas as situações. A democracia 
deliberativa deixa lugar para outros processos de tomada de decisão 
– incluindo negociações entre grupos e operações secretas ordenadas 
pelo Executivo –, desde que tenham eles próprios usado as formas 
de justificação em um momento qualquer do processo deliberativo. A 
sua primeira e mais importante característica é, então, o requisito de 
fornecer razões.
A necessidade de dar razões para a tomada de decisão eleva o nível do 
debate e o refinamento das decisões. Ao darem justificativas para tal decisão, os 
indivíduos devem apelar para uma racionalização constante das decisões políticas. 
“Uma percepção que embasa a teoria deliberativa é que o debate e a discussão, se 
empreendidos racionalmente, podem nos levar a transformar nossas opiniões e 
preferências” (MACKENZIE, 2011, p. 124). 
Na atitude da discussão, o homem interdita a velha luta, a atitude mais 
primitiva que é comum ao homem e ao animal. O homem que prefere 
a luta é violento. Assim, inicia-se o processo histórico de constituição 
da ideia de cidadania razoável quando o homem opta por discutir. 
Cidadão é o homem que, ao optar por falar, abandona a violência, ou 
melhor, é o homem domesticado pela atitude da discussão. Dito de 
outro modo, cada homem ao discutir está, no fundo, se constituindo 
cidadão pelo uso da linguagem, em vista de resolver seus conflitos, 
os problemas da comunidade e do Estado (CAMARGO, 2014, p. 64). 
A discussão cumpre o propósito de buscar as melhores soluções para os 
problemas comuns de uma comunidade, pois muitas soluções encontradas sem 
discussão se tornam solução para uns e problemas para outros. 
UNIDADE 3 | FILOSOFIA PARA HOJE
174
Seu objetivo é a busca do consenso, do bem-estar coletivo, de encontrar o 
lugar do indivíduo na universalidade, pois a maneira de evitar as discussões é o 
isolamento. Mesmo assim, o indivíduo irá travar uma discussão consigo mesmo 
sobre o que é melhor ou pior: suportar o peso da discussão coletiva ou a solidão 
do isolamento. 
Assim, a democracia deve garantir ao cidadão o espaço para o debate 
a fim de que ele seja ouvido e atendido, quando este conseguir justificar suas 
opiniões e decisões. Portanto, o espaço público é o espaço da justificação. 
9.2 REGIME TOTALITÁRIO
O oposto do regime democrático seria o regime totalitário. É uma forma 
de governo que marcou profundamente algumas nações durante o século XX. 
No totalitarismo, todos os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) ficam 
concentrados na mão de uma única pessoa. 
Em um regime totalitário, o governo não reconhece qualquer lei, instituição 
ou tribunal que possa limitar sua autoridade. O totalitarismo é a exclusão total de 
qualquer liberdade fora do controle do governo. As características dos regimes 
totalitários não podem ser comparadas a nenhum outro regime político da história 
da humanidade, pois é peculiar em sua maneira de ser, se organizar e agir. 
FIGURA 8 – TOTALITARISMO
FONTE: <http://systemfailureb.altervista.org/il-totalitarismo-perfetto/>. Acesso em: 17 jan. 2015.
Em um regime totalitário é negado um dos princípios fundamentais da 
justiça: o direito que o indivíduo tem de se defender. As pessoas são eliminadas, 
sua identidade e qualquer outra coisa que seja que possa preservar o seu nome. 
“Nos países totalitários, todos os locais de detenção administrados pela polícia 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA POLÍTICA
175
constituem verdadeiros poços de esquecimento. As pessoas caem por acidente, 
sem deixar atrás de si os vestígios tão naturais de uma existência anterior como 
um cadáver ou uma sepultura” (ARENDT, 2012, p. 577).
 
Tal prática foi muito comum no campo de extermínio nazista e nos campos 
de trabalho forçado na Rússia. Esses regimes negaram os direitos mínimos de um 
cidadão, incluindo o direito de ser sepultado por seus familiares ou amigos. É a 
negação extrema da liberdade. 
Os meios de comunicação, por exemplo, são apropriados pelos regimes 
totalitários. Devem ampliar seu poder através da propaganda e censurar aqueles 
que são contrários à política do regime. Arendt (2012, p. 474) comenta que 
“somente a ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo; as 
massas têm de ser conquistadas por meio da propaganda”. 
A propaganda cria um mundo fictício no qual reside a esperança das 
massas. Desejam fugir de um mundo de problemas, necessidades e privações, 
refugiando-se na esperança de que aquilo que está sendo proposto será possível 
com sua adesão ao movimento. Segundo Garcia (2015, p. 11-12): 
Os noticiários de jornais, rádio e televisão e documentários 
cinematográficos transmitem as informações como se fossem neutras, 
mera e simples descrição dos fatos ocorridos. Contudo, em verdade, 
essa neutralidade é apenas aparente, pois as notícias são previamente 
selecionadas e interpretadas de molde a favorecer determinados pontos 
de vista. Os filmes de ficção, romances, poesias, as letras das músicas 
e expressões artísticas parecem resultar da livre imaginação dos mais 
variados artistas. Todavia, a distribuição e a promoção das obras são 
controladas para que o conteúdo não contrarie as ideias dominantes. 
É possível observar que o governo totalitário estende seus tentáculos e define 
quais conteúdos serão veiculados pelos meios de comunicação. A imprensa, o cinema, 
a literatura ou a música são destituídos da neutralidade. Tudo o que é desenvolvido 
nos seguimentos segue as ordens do governo e serve aos interesses do regime. 
Assim, a liberdade de expressão deixa de existir, pois os conteúdos a 
serem veiculados nos meios de comunicação devem ser de interesse do governo e 
tudo é minuciosamente selecionado para promover a ideologia totalitária.
 
Outro aspecto fundamental a ser considerado sobre os regimes totalitários 
é o controle das massas. São constituídas de pessoas que não pertencem a 
nenhuma classe política e não estão alinhadas a nenhuma ideologia. 
Para Souza (2009, p. 246) “o totalitarismo é um regime que só ganha 
viabilidade se implantado em grande escala, inclusive em termos populacionais”. 
As massas se constituem em um elemento facilmente manobrável que possibilita 
a implantação dos ideais totalitários, inclusive o extermínio. O terror e o 
aniquilamento, aplicados em uma parcela da população, geram o medo e facilitam 
o domínio quase absoluto dos demais indivíduos.
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10 FORMAS DE GOVERNO
Vimos anteriormente como alguns teóricos desenvolveram sua concepção 
de Estado e da figura que governa. Assim, é necessário compreendermos as 
diferentes formas de governo que são responsáveis por dirigir o Estado e trabalhar 
pela manutenção do pacto social, que une os homens. 
10.1 MONARQUIA
A monarquia é uma forma de governo em que o monarca, que pode ser 
um rei, uma rainha, um imperador ou uma imperatriz, é o chefe permanente do 
Estado ou até que a pessoa morra ou abandone a sua posição.
Uma das principais características das monarquias é que os monarcas 
quase sempre têm reinado vitalício, sendo que a maior parte das monarquias é 
hereditária. Significa dizer que, quando o monarca morre, um filho, uma filha 
ou outro parente sucede. Vale destacar que a monarquia pode ser absolutista 
e constitucional (ou parlamentarista). No caso das monarquias absolutistas, o 
poder está centralizado totalmente