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CEDERJ - CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Gestão da Manutenção Conteudistas: José Antonio Assunção Peixoto e Leydervan de Souza Xavier Designer Instrucional: Flávia Busnardo “O aumento do conhecimento é como uma esfera dilatando-se no espaço: quanto maior a nossa compreensão, maior o nosso contato com o desconhecido.” Blaise Pascal Aula 7: Observar, refletir, analisar e representar sistemicamente. Meta Integrar representações do pensamento sistêmico às necessidades de compreender, planejar e executar as atividades de manutenção das organizações. Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 1. Identificar correlações entre algumas representações sistêmicas e sua aplicação ao contexto da Gestão da Manutenção; 2. Explorar os conceitos e representações sistêmicas para representar a operação de organizações no contexto de 2020, com o evento da pandemia de COVID-19. 1. Introdução Ao longo das aulas anteriores, você foi convidado a pensar no que é representação, como é construída pela consciência e como é compartilhada socialmente entre sujeitos conscientes. Neste sentido, usamos as representações de sistemas e de redes como idealizações dos fenômenos de conexões das formas vivas e das máquinas, contemplando as integrações de meios e fins na organização do trabalho produtivo, ao longo da história. Neste contexto, vimos algumas influências demarcadas na trajetória do funcionalismo estrutural como uma referência interessante para situar cada sujeito atuando nas operações de sistemas produtivos, conforme a estrutura e o papel social em que estiver inserido. Um ponto alto para o entendimento das atividades de manutenção foi o conceito de função, tão presente nas nossas vidas e com diversas acepções que podem ser conectadas à concepção de sistema, seja nas representações abstratas das organizações seja nas organizações físicas das máquinas. As funções de manutenção e de produção, assim como outras que lhes dão suporte podem ser usadas para você representar como as operações produtivas “funcionam” e se distinguem, assim como, os papéis desempenhados pelos sujeitos, como por exemplo, com relação aos profissionais da EP. Você também se familiarizou com o conceito de helicoidal do conhecimento, uma representação proposta para contemplar as dinâmicas de passagem do tempo e de transformação da consciência associadas às formas de evolução da organização; suas estruturas, suas funções e demais elementos que poderiam parecer, conforme a narrativa usada, estáveis e evolutivas. Assim, por exemplo, as referências do funcionalismo estrutural de Talcott Parsons e suas evoluções, bem como da helicoidal do conhecimento podem ser consideradas como o caminho que o sujeito consciente e a organização percorrem, transformando-se, mesmo quando os atos e, os fatos sociais parecerem se repetir, ao longo do tempo, no contexto de produção. Quando você examina uma máquina ou uma linha de produção de máquinas, certamente, encontrará com um conjunto de partes operando integradamente, como na definição de sistema. Veja, por exemplo, a Figura 7.1. AÇÃO 1.1 AÇÃO 1.2 AÇÃO 1.n Processo 1 AÇÃO 2.1 AÇÃO 2.2 AÇÃO 2.n Processo 2 AÇÃO 1.n-1 CP1 CP2 AÇÃO 3.1 AÇÃO 3.2 AÇÃO 3.n Processo 4 CP4 Linha de produção 1 Linha de produção 3 Linha de produção 2 CONTROLE PROCESSO CP1 CP2 CP3 Processo 3 CP3 CP4 CS1 SISTEMA 1 CONTROLE DE SISTEMA Figura 7.1: Representação de sistema produtivo ampliado. (elaboração própria) Diagramação, favor melhorar a visualização da imagem. Na Figura 7.1 você identifica ações diversas organizadas em sequência compondo Processos. Os Processos 1, 2 e 4 são realizados dentro de Linhas de Produção e o Processo 3 é uma integração entre as saídas dos Processos 1 e 2. Cada processo tem um controle (de processo) e o Sistema 1, que integra todos os elementos anteriormente descritos, tem um Controle de Sistema que integra todos os controles de processos. As setas e linhas sólidas indicam fluxos de matéria ou energia e as tracejadas, indicam sinais ou informações, como é usual nas convenções da EP. Nesta representação, naturalmente, você pode se deparar com objetos gráficos que representam objetos “concretos” (artefatos como prensas, impressoras, laminadoras etc.), que estão precisamente localizados no espaço e realizam trabalho sobre a matéria ou sobre a informação. Todos os itens foram construídos e posicionados com tolerâncias de fabricação e de montagem e todas as variáveis de processo (entradas e saídas) são cuidadosamente controladas. As relações de causa e efeito podem, em grande maioria, ser consideradas lineares e diretas, e os modos de falha podem ser associados a uma sequência lógica e rastreável de defeitos, tanto para os equipamentos de produção, quanto de controle. Aqui aparecem espaços para funções como produzir, controlar e manter. Aparecem, também, parâmetros e indicadores de desempenho, associados aos valores e percepções de risco, que vão direcionar as ações, nos diversos níveis de decisão da organização. Pessoas ocupam funções e desempenham papéis que contemplam essas ações. Há produção simbólica e reflexão acontecendo. Quando você pensa em uma organização representada por um organograma, como o da Figura 1.1 da Aula 1, apesar das definições bem claras e de poder haver salas com os nomes correspondentes às caixas do organograma, a espacialização desses elementos na realidade não é garantida. Os layouts mudam, são improvisados, não são obedecidos, como as posições das máquinas em uma planta tem de ser. As relações de poder, por outro lado, parecem ser claras, não importa onde os sujeitos que desempenham os papeis do organograma estejam, não é? A complexidade da realidade se torna evidente e as representações precisam dar conta de lidar com elas, no campo da consciência dos sujeitos que vivem nesta realidade. Isto, por exemplo, afeta criticamente as concepções mais simplistas de sistemas, como as que usamos para descrever um relógio, e nos levam a pensar em representações mais complexas capazes de nos auxiliar a compreender os sistemas biológicos, os sistemas sociais e o meio ambiente, em que a vida é o cerne do problema. 2. Estudo de caso Em organismos, a manutenção da vida se confunde com a produção de cada um de seus órgãos, tecidos e células. Não se consegue localizar a função manutenção em um departamento específico. As organizações contemporâneas, em muitos casos, se apresentam de forma análoga aos organismos biológicos: produção e manutenção não podem ser localizadas em um espaço restrito, porque estão por toda parte. E, consequentemente, o desempenho das funções e dos papeis dos profissionais também não, e isto corresponde a uma certa desmaterialização do lugar e uma desconexão do tempo das ações, que precisam fazer parte das representações que utilizamos das organizações e dos processos. Os trabalhos realizados sobre a informação podem ser acoplados, de forma sincronizada ou não, aos trabalhos realizados sobre a matéria e compõem novas formas de organização e de operação que, logicamente, demandam novas formas de manutenção. Para dar uma materialidade a esta perspectiva, vamos apresentar um estudo de caso hipotético. 2.1 Caso 1: Microempresa individual e contrato com operadora de telecomunicações Você criou uma empresa individual e ela foi contratada por uma operadora de serviços de telecomunicações. Seu contrato de trabalho prevê as seguintes atividades e condições: 1) Visitar, pessoalmente, clientes indicados e, rotineiramente, manter contato com sua carteira de clientes. 2) Oferecer e prestar consultoria de customização de serviços, mediando os pacotes da operadora e asdemandas específicas de cada contrato; 3) Deslocar-se no perímetro urbano usando meios próprios; 4) Utilizar, obrigatoriamente, um smartphone da operadora, em comodato, e um pacote de serviços especial sem tarifas. 5) Trabalhar sem horário definido; 6) Receber remuneração por alcançar metas mínimas diária, semanal e mensal (número de contatos, número de visitas, datasheet customizado para cliente) e bonificações por desempenho 7) Acompanhar a prestação de serviços customizados da operadora e dar feedback à operadora do desempenho dos serviços visando à manutenção e o aperfeiçoamento dos aplicativos e relacionamento com clientes e prestadores de serviço. Como atuar, pensando nas práticas da EP, neste contexto? Para sermos coerentes com nossa proposta, você deve primeiro representar a operação como um “todo”. Para isto, pode pensar primeiro em organização e funções. Em seguida, deve representar os processos (de produção, de manutenção etc.) e as ações compondo cada função. Como há metas a cumprir, é preciso prever como todas as ações serão organizadas de modo que os resultados sejam satisfatórios, considerando o que pode prejudicar esses resultados e como tentar evitar ou mitigar esses eventos. No exercício de construir uma representação, examine a Figura 7.2. Você celular antenas operadora Processamento de dados sensor controle sistema sistema sistema sistema Figura 7.2: Representação sistêmica do sujeito interagindo, via celular, com uma organização, como prestador de serviços. Na Figura 7.2 estão representados, de forma condensada, três sistemas: o mais abrangente pode ser o mundo e todas suas relações. Esse sistema engloba você, os clientes e a empresa. O segundo sistema delimita os fluxos de informação e de trabalho realizado por você até se conectar com a empresa. O terceiro sistema é a empresa. As setas condensam todas as ações realizadas e há mecanismos de realimentação saindo do controle da empresa para acionar o seu sistema. Há entradas e saídas de um sistema para os demais que vão ser avaliados e usados na gestão das relações entre todos os sujeitos envolvidos. Você poderia ampliar cada sistema desses, como aconteceu na Figura 7.1 até obter a representação de todos os elementos e de todas as ações detalhadamente. Essa ampliação poderia chegar ao nível dos componentes eletrônicos ou das linhas de codificação dos programas usados, assim como, dos componentes das instalações prediais, do cabeamento e das antenas, conforme a necessidade de quem constrói a representação. Como já introduzimos antes, na telefonia móvel ou celular, o espaço de cobertura do serviço é definido pela distribuição de antenas próprias de cada operadora (formando células) e serviços compartilhados entre operadoras. Quando seu aparelho se aproxima de uma antena, esta proximidade é mapeada e o serviço de conexão é autorizado, de modo que as ligações realizadas ou recebidas por você passam a ser intermediadas por esta antena, que se conecta ao centro de processamento da operadora. A operadora, por sua vez, conecta as chamadas ou transmissões de dados ao aparelho de outro usuário com auxílio da antena mais próxima dele e com intermediação de outra operadora e o serviço de antenas dela, conforme o caso. Assim, quando o fluxo de ligações excede a capacidade de uma antena, ou há alguma falha, ou você quando você se desloca entre duas antenas rapidamente, existem funções de controle que buscam transferir as ligações para outra antena mais próxima, entre outras possibilidades. Você pode pensar nisto como funções de fazer e manter ligações e serviços em nível adequado. Na Figura 7.2 isto tudo pode ser pensado com o sistema delimitado pelo retângulo maior. No interior dele, há outros dois sistemas, um pode ser associado à parte física das conexões e o outro à parte lógica e técnica, administrativa, comercial, entre outras, das relações entre os clientes e a operadora. Figura 7.3: Uma grande rede de conexões de conexões e processamentos está por trás de uma simples ligação realizada por um celular. Fonte: https://pxhere.com/pt/photo/1567791 Você também pode pensar na Figura 7.2 como uma representação total do seu modelo de negócio com a operadora, no que se refere à comunicação com ela. Assim, além de fazer a gestão do sinal (físico) que conecta seu smartphone às antenas e processadores próprios e das operadoras parceiras, você pode pensar que há um sistema de controle do serviço prestado por você, considerando as suas atividades e metas previstas no contrato. Neste caso, além de feedback para garantir seu meio de comunicação (como de qualquer outro usuário da operadora), haveria, também, um feedback sobre sua produção, como contratado. Agora, examine na Figura 7.4 uma representação alternativa, em que “você” foi substituído por “item”, usando a nomenclatura da NBR5462. https://pxhere.com/pt/photo/1567791 Figura 7.4: Representação alternativa a Figura 7.2 com nomenclatura alinhada à norma NBR5462. O modelo da Figura 7.4 poderia ser usado para descrever o caso como um todo, ou os processos de comunicação ou ainda, os detalhes de análise de seu contrato. Outros modelos com graus diferentes de resolução e detalhamento poderiam substituir esse. Como na Figura 7.1 e 7.2 você pode identificar mecanismos de realimentação representados pelas setas que apontam em sentido contrário ao fluxo. Os sensores seriam itens capazes de captar os sinais colhidos de um outro item e usar produzir uma forma de informação de gestão capaz de interferir no desempenho dos outros itens, conforme regras ou processos pré-estabelecidos. Assim, todas as vezes em que algum desempenho de item não for satisfatório, o sensor envia um sinal para o sistema se reorganizar no sentido desejado. Este processo de auto regulação poderia ser aplicado, hipoteticamente, às relações entre componentes de um equipamento, interfaces de software, relações entre pessoas etc. De modo semelhante ao que foi proposto para que você pudesse se pensar como um item de um sistema, conforme a definição da norma, o sensor poderia ser uma pessoa ou um departamento de pessoas para fiscalizar, monitorar, avaliar o desempenho de outras. Isto poderia ser pensado, igualmente, para funções de produção e de manutenção. O modelo, porém, não contempla o controle e manutenção do sensor que, logicamente, precisaria ser realizado por outro sistema, não indicado na figura. Em cada relação entre itens haveria um desempenho indicado por parâmetros de gestão. Como fazer sensor controle item sistema sistema sistema (...) item isto dar conta das complexas relações do seu negócio, das particularidades das customizações, entre outros fenômenos, parece ser uma pergunta importante para alguém como você, que dependeria deste sistema para trabalhar, não é mesmo? 3. O problema do desempenho Seguindo a concepção sistêmica, você poderia estruturar sua representação pensando nas ações a realizar e, na linguagem da NBR5462, nos modos de falha capazes de prejudicar seu desempenho em cada uma delas. Examine a Figura 7.5, em que uma de suas atribuições aparece detalhada. Os eventos formam uma sequência e assim, para que um deles aconteça, é preciso que todos os anteriores tenham acontecido. De forma resumida, para você vender um produto ao cliente durante uma visita pessoal e presencial, houve um conjunto de ações representadas pelos blocos e conectadas através de uma sequência cronológica indicada por setas. O que está abaixo acontece antes do que está acima. Assim, a base de todas as suas operações é a comunicação. A partir desta, conectando você, a operadora e o cliente, sua visita será prospectada ou solicitada pelo cliente, agendada e confirmada. Você providenciará seu deslocamento e, para isto, precisará solicitar um serviço de transporte com algumaantecedência. Se tudo correr bem, você e o cliente estarão frente a frente no lugar e no horário convencionados. Então, dependerá de você compreender as necessidades do cliente e apresentar a ele as possibilidades da operadora. Se ela dispuser de produtos e formas de customização que atendam o cliente, pode ser que o negócio seja fechado. Ao longo de toda a operação, a comunicação com a operadora por meio de seu celular continua sendo essencial, embora nada aconteça apenas por este canal estar disponível. Figura 7.5: Eventos necessários para operação do negócio com a operadora de telecomunicações. 4. O que pode dar errado? Se, agora, você ampliar a resolução da representação para qualquer um dos blocos indicados na Figura 7.5, vai poder fazer novas representações mais completas e mais complexas, hipoteticamente, até alcançar as fronteiras da organização da matéria e da consciência humana. Porém, muito antes deste horizonte distante, você já encontraria o desafio de ter de lidar com um número expressivo de componentes e, possivelmente, um número exponencialmente maior de relações. Voltando à questão central da manutenção, o que você Operação de visitas técnicas Operação de feedback Visita ao cliente Deslocamento Conexão local Operação do celular Operação do aplicativo Operação da bateria Operação do sistema operacional Conexão da antena Operações internas da operadora Operação do transporte Operação da agenda Disponibilidade do cliente Disponibilidade do prestador Operação de venda de serviço Disponibilidade do serviço Viabilidade de customização do serviço Capacidade de venda do prestador Disponibilidade do transporte Comunicação Avaliação do desempenho do prestador Sistemas internos da Operadora Satisfação do cliente poderia fazer para garantir que todos esses componentes funcionassem de modo a, no topo da figura, seu desempenho ser sempre satisfatório? Para qualquer representação que você julgue adequada, poderá associar os modos de falha, seja aos sistemas ou a cada um de seus itens, isoladamente, compondo uma teia lógica de relações de causa e efeito ou de defeito, falha e pane, capazes de interferir no fluxo das ações necessárias à operação de seu negócio. Considere, por exemplo, a bateria de seu celular e seu carregador portátil. De quantas formas diferentes esses dois itens podem falhar? O que fazer, corretivamente, preventivamente e preditivamente para que nenhuma delas afete seu trabalho? Com base na sua experiência pessoal, você pode pensar em vários problemas que já teve e nas medidas que conhece para lidar com eles, não é? Agora, imagine o gestor de todos os contratados pela operadora, de posse do registro de todos os aparelhos celulares usados e distribuídos pela operadora, inclusive, com as informações sobre a vida útil e os relatos de falhas de todos os carregadores e baterias da equipe? Você, obviamente, percebe que ele tem um problema mais amplo que o seu e, eventualmente, pode ter uma representação sistêmica mais ampla para decidir o que fazer, seja na manutenção dos equipamentos em uso, seja na forma de comprar novos equipamentos, rotineiramente. Ele, também, poderá perceber o que essas falhas causam ao longo de um ano para os negócios, enquanto você pode ter tido a sorte de trabalhar sem problemas com seu equipamento, mas as informações sobre este desempenho precisam ser fornecidas por você e compiladas com a dos demais, para produzir algum parâmetro de gestão. Você pode pensar, agora, no fabricante de celulares ou no de baterias ou no de carregadores, analisando os dados dos grandes clientes, como a operadora. No que se refere à operadora, há diversos parâmetros para analisar os serviços prestados, a qualidade do sinal, entre outros, que são monitorados e controlados pela ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) e outros que são objeto de acompanhamento e tomada de providências dos órgãos vinculados à Defesa do Consumidor. Outras formas de acompanhamento e avaliação são desenvolvidas e mantidas por pessoas e empresas especializadas como as que atuam nas redes sociais. Esses indicadores se transformam em parâmetros de gestão para cada empresa e afetam, em diversos níveis, as estratégias de manutenção. Se você considerar que o serviço de transporte usado fosse de uma empresa coligada ou uma parceria com troca de serviços, a gestão da frota e o desempenho dos veículos seriam agregados à gestão da operadora em algum nível de decisão, como por exemplo no momento de computar créditos e débitos ou atualizar cotas de uso e de disponibilidade de serviços de transporte. Algo equivalente aconteceria com a empresa de transporte, computando os serviços prestados pela operadora. Para cada nível de resolução da representação (concisa com poucos elementos gerais ou expandida até aparecerem muitos detalhes) haverá modos de falha, definição de defeitos e de parâmetros de desempenho, determinados pela gestão da manutenção, conforme indicado na Aula 6. Assim, de forma determinística ou probabilística você poderia pensar em uma estratégia de manutenção de todos os equipamentos, instalações (“facilities”), softwares para que sua disponibilidade fosse a melhor possível. Mas, no caso em questão, isto, ainda que perfeitamente executado, seria suficiente para garantir seu desempenho? 5. Onde estão as pessoas? Em que parte desta estratégia entram as pessoas e a complexa rede de relações entre elas, realizadas com suporte material dos aparelhos, dos sinais eletromagnéticos, das antenas, prédios, veículos, aplicativos etc.? No caso do seu negócio, além das questões encontradas em qualquer outro, como a comunicação com o cliente, existe: • o problema da autonomia para ofertar serviços e propor modificações com respaldo dos que produzirão e entregarão o produto depois da venda; • a interação com as pessoas que designam clientes e interferem em sua agenda; • a discussão com aqueles que avaliarão seu desempenho e precisam conhecer as particularidades do contexto em que você se desloca, da qualidade do sinal de telefonia e de outros aspectos de sua rotina profissional. Pode ser que sua saúde ou do cliente, em geral, ou alguma deficiência física devam ser considerados de forma especial pelos que gerem seu contrato. Todos estes itens precisam ser objeto de fazer e manter pelos sujeitos envolvidos. Além disto tudo, considere o momento histórico vivido pela humanidade em 2020, com a presença do COVID-19 também designado por novo Corona Vírus. Algo que não nasce das entranhas da operadora nem de sua opção, no entanto, aparece como uma interação entre o sistema social e o meio ambiente. Alguns investigam e especulam que tenha surgido pelo consumo da carne de animais silvestres e ausência de processos eficazes de higiene e vigilância sanitária, com uma sequência de mutações que permitiu a disseminação do vírus alcançar um nível pandêmico. Na gestão de sua operadora e na de todas as empresas, este fator externo tem o poder de modificar, de alguma forma, o funcionamento de todas as organizações. E, neste tipo de evento, como há risco de morte para todos os sujeitos, esta percepção assume um valor crítico que submete todos os demais, inclusive sustando em parte ou no todo as operações de várias empresas e cadeias de serviços. Suas rotinas presenciais, obviamente, passaram a ser contraindicadas e seu contrato original precisaria ser revisto e modificado em profundidade. Figura 7.6: A pandemia causada pelo vírus chamado coronavírus ou COVID-19 fez com que no ano de 2020, muitas empresas (re)adequassem suas formas de trabalho e a maneira como seus serviços são oferecidos devido à restrição de contato social. Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/molestia-indisposicao- doenca-enfermidade-3902881/ Este exemplo serve para mostrar que, mesmo quandonão aparece nos organogramas e demais representações usadas na gestão, a preservação da vida biológica, no limite do risco, é soberana em relação aos demais processos. As práticas de qualquer organização, apesar de isto não ser evidente, podem ameaçar a vida, seja pelos impactos ambientais que ela produz, como acontece com emissões tóxicas, ou por constituir forma de sofrimento físico, psicológico ou de contágio, como acontece no momento da pandemia causada por vírus. E isto se refere, não apenas ao ambiente corporativo da organização, mas abrange toda a cadeia de serviços que ela integra e vitaliza, gerando movimentação de pessoas, demandas de insumos, uso de transportes, produção e circulação de embalagens, encontros presenciais, manuseio de artefatos com risco de contágio etc. Inclui, também, todas as informações e seus meios de difusão que possam afetar as condutas das pessoas e seu estado de ânimo. Em todas as representações usadas, o campo de ação dos sujeitos e das operações foi “apoiado” em um campo sociedade e esses dois, “apoiados” em um campo ambiente. A representação geométrica de figuras concêntricas https://www.pexels.com/pt-br/foto/molestia-indisposicao-doenca-enfermidade-3902881/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/molestia-indisposicao-doenca-enfermidade-3902881/ pode induzir a uma leitura reducionista de conjuntos contidos em outros, mas trata-se de realidades “entranhadas” umas nas outras, como a situação epidemiológica de 2019/2020 bem demonstra. Assim, faz sentido pensar que o sistema social está sempre e continuamente, buscando a homeostase, conceito já discutido nas aulas anteriores. As empresas, como a operadora do caso hipotético, precisam se manter vivas, ajustando-se ao ambiente e, você poderia acrescentar com base nos fatos do contexto de pandemia, que isto depende de ajudar as pessoas a se manterem vivas, também. Neste nível, a perspectiva tradicional de ser manter vivo como “economicamente ativo” para organizações e trabalhadores é suplantado pela prioridade do se manter “biologicamente vivo” aplicado às pessoas. Em um contexto assim, o parâmetro crítico de gestão, por decisão da sociedade representada pelos diversos níveis de governo, é o de contenção do contágio e de proteção aos grupos mais vulneráveis. Todas as operações ficam submetidas à diretriz de “manutenção” da vida, sendo reprojetadas todas as formas de produção. Paradoxalmente, em presença deste tipo de evento, as possibilidades de fazer operações a distância torna seu trabalho, em 2019/2020 prioritário e, naturalmente, demandará mais esforços da operadora para o crescimento da base de clientes e da demanda dos clientes já fidelizados, com novos produtos e serviços, respeitando as diretrizes de saúde e higiene, não consideradas antes da pandemia. Vamos aprimorar as representações usadas? Você já estudou homeostase, entropia, sinergia, sintropia e etc nas aulas anteriores, e este é um bom momento para você conhecer outras propriedades dos sistemas vivos, que poderão ajudar a melhorar sua representação da realidade, particularmente, no que se refere aos sistemas sociais, como seu modelo de negócios com a operadora. 6. Parâmetros evolutivos de sistemas vivos Além das três propriedades ou parâmetros básicos (permanência, autonomia e ambiente) que todos os sistemas vivos apresentam, a literatura indica outros parâmetros que podem não ser encontrados em todos os casos, demonstrando que os sistemas vivos evoluem. Esta abordagem, fortemente apoiada nos estudos da Biologia e da Ecologia, tem sido usada no estudo das organizações sob a perspectiva sistêmica: O “Enfoque sistêmico” – Teoria geral de Sistema – desenvolvido como meio de integrar diferentes disciplinas científicas, nos anos 50 e 60, tem sua principal inspiração no biólogo Ludwig von Bertalanffy (MORGAN, 2010, p. 49-51). 6.1 Conceito de sistema aberto Os sistemas orgânicos, seja uma célula do organismo complexo seja uma população de organismos, existem num contínuo processo de trocas com seus ambientes. Essa troca é crucial para manutenção da vida e forma do sistema, uma vez que a interação com o ambiente é fundamental à automanutenção. Assim, é dito, frequentemente, que os sistemas vivos são “sistemas abertos”, caracterizados por um contínuo de entrada, de transformação interna (do começo ao fim), saída e retroalimentação (por meio da qual um elemento da experiência influencia o seguinte). Mas esta abertura é seletiva e autorregulada. O conceito de abertura põe em relevo as relações entre o ambiente e o funcionamento interno do sistema. Ambiente e sistema devem ser compreendidos como estando em estado de interação e dependência mútua. Veja a Figura 7.7. Figura 7.7: Sistemas abertos, com trocas e fechados, sem trocas com o ambiente. O caráter aberto dos sistemas biológicos e sociais contrasta com a natureza fechada de muitos sistemas físicos e mecânicos, embora o grau de abertura possa variar, uma vez que certos sistemas abertos podem reagir a uma gama relativamente restrita de entradas provenientes do ambiente. Torres de pedra, pontes metálicas, brinquedos mecânicos com movimentos, por exemplo, são, predominantemente, sistemas fechados, e não mudam seu modo de ser a partir de interações com o ambiente. Máquinas que regulam o seu funcionamento interno em função das variações do ambiente podem ser considerados como sistemas parcialmente abertos. Um organismo vivo, uma organização, ou um grupo social são sistemas que seletivamente abertos ao ambiente, de modo a garantir sua permanência, por meio da autopoiesis. 6.2 Estrutura, função e diferenciação O relacionamento entre esses conceitos é de importância crucial para compreender os sistemas vivos. É fácil ver a organização como uma estrutura feita de partes e explicar o comportamento do sistema em termos de relações entre as partes, causas, efeitos, estímulos e respostas. A compreensão que se tem dos sistemas vivos adverte contra semelhante reducionismo, enfatizando que estrutura, função, comportamento e todos os outros traços de operação dos sistemas estão fortemente ligados uns aos outros. Dessa forma é possível prosseguir no estudo dos organismos por meio da investigação sobre sua anatomia, mas é necessário ir muito mais adiante de tais sistemas caso se Sistema social Sistema aberto Sistema fechado rachel Highlight pretenda a sua compreensão mais ampla. A vida de uma simples célula depende de uma complexa rede de relações entre estrutura celular, metabolismo, trocas gasosas, aquisição de nutrientes e numerosas outras funções. A célula enquanto sistema caracteriza-se por uma interdependência funcional que não pode ser reduzida a uma simples estrutura. Realmente, a estrutura, seja em que momento for, depende da existência dessas funções e sob muitos aspectos é somente uma manifestação deles. Isto, também, é verdadeiro para organismos mais complexos que refletem diferenciação e especialização aumentada da função, como, por exemplo, órgãos que desempenham funções específicas – e que por isso requerem sistemas mais complexos de interação para manter o sistema como um todo, como é o caso do funcionamento de um cérebro. Relacionamentos semelhantes entre estrutura, função, diferenciação, e integração podem também ser vistos nos sistemas sociais como as organizações. 6.3 Variedade de requisitos Relacionado à ideia de diferenciação e integração está o princípio de requisito da variedade, propondo que os mecanismos internos de regulação de um sistema devem ser tão diversos como o ambiente com o qual interage. É somente pela incorporação da variedade requerida aos seus controles internos que o sistema pode interagir com a variedade e o desafio proposto pelo seu ambiente. Qualquer sistema que se isola da diversidade do ambiente tende a atrofiar-see a perder sua complexidade bem como a capacidade de se distinguir dos demais, conforme sua natureza. Dessa forma, o requisito de variedade é uma característica importante dos sistemas vivos de todos os tipos e indispensável para a construção da individualidade. 6.4. Equifinalidade Esse princípio parte da ideia de que, num sistema aberto, podem existir numerosos meios diferentes de se atingir um estado final. Isso contrasta com rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight os sistemas mais fechados nos quais os relacionamentos são estruturalmente fixados para produzir padrões específicos de causa e efeito. Os sistemas vivos têm padrões flexíveis de organização que permitem produzir resultados específicos a partir de diferentes pontos de partida, com diferentes recursos em diferentes maneiras. A estrutura do sistema em dado momento não representa mais que um aspecto ou manifestação de um processo funcionalmente mais complexo, mas não determina esse processo. 6.5. Evolução do sistema A possibilidade que tem um sistema de evoluir depende da capacidade de passar a formas de diferenciação e integração mais complexas, bem como uma variedade maior no sistema que facilite a sua habilidade em lidar com desafios e oportunidades propostos pelo ambiente. Isto envolve um processo cíclico de variação, seleção e retenção de características selecionadas. Como você estudou na Aula 6, a rede pode ser uma representação sistêmica e, para alguns autores, seria a representação mais adequada para as interações entre os seres vivos e o ambiente, incluindo nisto, os sistemas sociais. Assim, voltando ao caso hipotético de seu contrato com a operadora, vamos usar a perspectiva de redes, complementando as discussões anteriores, como forma de organizar a gestão do fazer e do manter. 7. Organizações, a vida em rede Considerando que as organizações são sistemas vivos, constituindo redes de atores sociais ou sujeitos conscientes, ao se considerar uma organização, em particular, você poderá identificar algumas das propriedades ou parâmetros decorrentes de sua evolução sistêmica, que não conseguiria encontrar em outras organizações que sejam contemporâneas a ela. Isto vale para a mesma organização em dois momentos distintos de sua existência. Por exemplo, as demandas da pandemia pressionam a operadora por mudanças, o que pode fazer com que se autotransforme em evolução ou se submeta ao risco de extinção. Quando você identifica função produção e função manutenção, por exemplo, isto já indica um grau de desenvolvimento sistêmico em que a especialização das competências e a diferenciação das atividades já se tornou possível. Para facilitar o entendimento desta proposta, considere sua empresa individual. No limite de seu tempo e de suas competências, você terá que realizar todas as atividades, sejam elas percebidas como manutenção ou produção. Considere que os negócios prosperem e, agora, você contrata alguém como estagiário ou forma uma sociedade com outra pessoa. Pode ser que você e sua equipe compartilhem muitas tarefas em igualdade de condições, mas é possível que isto aconteça com grandes distinções qualitativas e quantitativas, conforme o conjunto de valores, disponibilidades, competências e escolhas dos sujeitos envolvidos e de acordo com as relações de poder vigentes. Em seguida, você e seu sócio contratam mais pessoas, ampliando a rede da empresa. Pense que a gestão se tornará progressivamente mais complexa pelo aumento do número de nós da rede e de ligações possíveis, fazendo com que a produção e a manutenção dependam de interações cada vez mais eficazes de todos os envolvidos. Com o tempo, as características de sua empresa podem se assemelhar às da operadora que contratou você. Mais do que isto, pode acontecer da operadora transferir para a sua empresa uma parte de sua atividade, como um enxerto ou transplante de modelo de negócios, em uma parceria vantajosa para todos. Neste nível de desenvolvimento a manutenção, ainda que seja em essência de mesma natureza que a atividade chamada de produtiva, vai se distinguir daquele tipo de ação e essa distinção vai estar associada a diferenciação de objetivos, métodos, recursos, como acontece com as células de órgãos diferentes de um organismo. Assim, a gestão, seja da manutenção ou da produção, deverá ser obrigatoriamente sistêmica. Outra questão é que, se você considerar organização como uma rede viva, a gestão, além de sistêmica, precisará explorar as interações entre as redes formais e informais de sujeitos que compõem a organização e seu ambiente. Nesta concepção haverá, como em um ser vivo, conexões entre múltiplos sistemas ou redes, de naturezas diferentes e com propriedades diferentes que rachel Highlight precisam ser mapeadas, compreendidas e utilizadas conscientemente pelos sujeitos que as compõem. Neste contexto, não se pode negligenciar a questão simbólica, os sistemas de valores e os processos de decisão, assim como, o problema do poder. Reflita em como as questões de saúde das pessoas e as interações com a rede social fora dos limites de cada organização, assim como o manuseio de artefatos e mentefatos, em um momento de pandemia, determinam parâmetros de gestão e indicadores de desempenho que vão se sobrepor aos usados em outras condições. Usando a teoria do ato unitário, cada sujeito, em seu nível de consciência, vai produzir e fazer a manutenção da organização em vários sentidos, como por exemplo: econômico, simbólico, de saúde própria e dos demais. Isto fica evidente no momento como um fenômeno associado à doença das pessoas, mas é uma dinâmica natural dos sistemas vivos e sociais, embora, nem sempre seja percebido em outras situações consideradas como normais. Figura 7.8: Quanto maior a organização/empresa, mais extensa é a rede que integra as ações de produção e manutenção. Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/rede-m%C3%B3veis- comunica%C3%A7%C3%A3o-conex%C3%A3o-3526237/ https://pixabay.com/pt/illustrations/rede-m%C3%B3veis-comunica%C3%A7%C3%A3o-conex%C3%A3o-3526237/ https://pixabay.com/pt/illustrations/rede-m%C3%B3veis-comunica%C3%A7%C3%A3o-conex%C3%A3o-3526237/ 8. Representações organizacionais baseadas em redes Você já ouviu falar em mapeamento de rede? Pode ser usado em diversos contextos, mas pode ser generalizado como uma representação dos nós e das relações de uma rede. Há, neste caso, duas realidades sobrepostas: uma “estática” e outra “dinâmica”. A estática indica quem são os nós e “hubs” (pontos de concentração) e os suportes disponíveis para conexão; a dinâmica é uma imagem instantânea das ligações da rede, que varia de momento para momento. No caso de sua microempresa, o contrato com a operadora é uma forma de conexão a uma rede. Como este contrato pode ter surgido de suas relações anteriores com alguém da empresa, ou por indicação de terceiros, esta nova relação pode ser uma sinergia entre você e a operadora, no movimento de evolução de ambos no ambiente de negócios. Agora, caso você pense em se manter na rede ou manter sua conexão na rede, vai precisar agir sobre o suporte material e sobre a relação simbólica com os demais nós (itens/pessoas/sistemas/subsistemas/aparelhos/aplicativos). Ou, em outras palavras: sobre a estrutura e com suas ações. Como existe um contrato e, também, os códigos de ética profissional, as referências da educação formal e social, você precisa prestar atenção às regras formais da rede, tanto no que se refere a fatos envolvendo grandezas físicas (horários, número de mensagens, dimensão e natureza das mensagens etc.) como a questões simbólicas e de valor (conteúdos, qualidade da linguagem, forma de tratamento, ética etc.). Depois de algum tempo, sobretudo em redes com muitos nós, você vai tender a interagir mais com algumas pessoas do que com outrase vai criar suas próprias redes dentro da rede. Este processo é complexo, incontrolável e imprevisível, mas, a rede, como um todo, pode não reagir bem a esta iniciativa e, por algum motivo, você ser desligado dela. Pode acontecer que você decida que não quer fazer parte desta rede e se transferir para outras redes dentro da operadora ou se concentrar nas demais redes que integra, paralelamente. Não é isto que faz quando troca de emprego, de estágio ou começa nova amizade ou relacionamento afetivo? Agora, considere, para efeito de produzir um Plano Estratégico de Manutenção para sua empresa, a perspectiva sistêmica e de rede a que você foi apresentado ao longo deste texto. O que fazer? Por onde começar? Esta abordagem é a continuação natural da proposta de observar, refletir, analisar usando como suporte as representações de sistema e de rede. Você poderá escolher muitos caminhos para construir sua representação e, por isto mesmo, aqui encontrará apenas uma sugestão de metodologia, entre muitas outras possíveis e capazes de levar a resultados semelhantes. 1. Assim, caso não exista nenhuma representação anterior documentada ou presente no discurso dos atores, pense em quantos nós (itens) diferentes você consegue identificar formando a rede (sistema) da organização; 2. Em seguida, procure identificar as ligações formais (funções, papéis, ações) com que todos os nós (itens) podem se conectar; 3. Então, acompanhe, em tempo real ou por meio de pesquisa de registros, os processos de comunicação para ver se e como as ligações acontecem e o que causam; 4. Possivelmente, o movimento do passo (3) guardará alguma conexão com denominações e representações formais, como organogramas, fluxogramas, discriminação de funções etc. Se for o caso, você vai poder associar uma representação estrutural com uma percepção dinâmica; 5. Considere, ainda, as redes informais ou espontâneas coexistindo com as redes formais, você poderá procurar por elas, usando a mesma atitude sugerida até aqui; 6. Agora que você tem uma representação da organização, na perspectiva sistêmica, qual será a estratégia para manutenção? O que seriam processos, na perspectiva sistêmica? Continuam sendo sequências de ações intencionais realizadas pelos sujeitos conscientes diretamente ou indiretamente. Na representação de redes, os processos podem ser mapeados a partir de padrões de ligações e fluxos de matéria e energia entre determinados nós da rede. Isto vale para os processos de “produção” e de “manutenção”; 7. Avalie todo tipo de interação possível entre os nós das redes formais e informais, assim como, entre os nós da rede da organização e aqueles fora dela, pertencentes ao ambiente; 8. Você poderá perceber que há padrões de ações ou comportamentos dos nós ou sujeitos em cada tipo de processo e, ainda, que potencialmente haverá nós que atuam em mais de um processo enquanto outros não. Lembre-se da sua pequena empresa que vai crescendo e pense nela como uma rede que vai se expandindo. Neste contexto, processos equivalentes acontecem ao longo da história da empresa, mas em cada época vão ser realizados por grupos de nós e padrões de ligações diferentes. a) Tudo isto pode ser representado, simbolicamente, na forma gráfica ou lógica, com ou sem o suporte de softwares, por exemplo, como uma alternativa à forma discursiva que você está usando ao ler este texto. Isto seria semelhante ao que se faria com um diagrama elétrico, de uma placa de circuito impresso ou de um circuito pneumático; b) Em todos os casos, você não deverá esquecer que o todo é diferente da soma das partes, para não cair na armadilha de reduzir o sistema aos seus componentes e o fenômeno à uma representação gráfica dele, até porque, os sistemas estão, continuamente, se modificando e nossas representações dele, em geral, não acompanham esta dinâmica. Neste processo de representação você vai se deparar com as propriedades evolutivas da organização e, se pudesse acompanhar os acontecimentos por um período de tempo suficientemente longo, observaria as modificações que permitiram a manutenção ou, em direção oposta, os fatos que levaram à extinção da organização ou sua incorporação por outra. Alguns nós se desfazem, outros se agregam. E como você organizaria sua empresa, considerando-a como uma nova rede sendo formada (e, obviamente, interligada) às redes da organização e da sociedade? 9. Organização de redes sociais Como seria organizar uma rede, partindo de uma representação abstrata sua, sem que haja qualquer forma ou padrão pré-estabelecido? Considere, que você vai fazer isto para o caso de sua empresa, representando a relação desta com a operadora e sua rede de fornecedores, parceiros, clientes e interfaces sociais diversas – portanto uma rede viva – em que se decidiu modificar a forma de operar, agregando novos atores. Você pode pensar que sua produção seja um novo processo que corresponde a um sistema diferente dos preexistentes, criando uma rede dentro da rede existente. Para isto acontecer serão geradas novas relações e conexões entre os nós existentes e, eventualmente, haverá a ampliação da rede com a conexão de novos nós dentro e fora das fronteiras da organização. Isto, naturalmente, poderia implicar em redes formais e redes informais. Isto, também, poderia gerar poder hierarquizado e poder distribuído nas relações entre nós. A questão é que, nesse contexto, você seria o sujeito consciente que “dispararia” o gatilho do poder (de criar conexões e criar condições materiais e formais para uma rede nova funcionar) para ativar uma rede, capaz de dar vida a sua empresa e alcançar os desempenhos desejados. Nos termos de propriedades sistêmicas, buscar a homeostase explorando a autoprodução e o ambiente. Para isto acontecer, como já foi visto antes, é preciso contrapor a entropia em sua empresa. A operação vai demandar manutenção de facilidades, artefatos e mentefatos usados por você e, também, das relações sociais, porque elas sozinhas não se mantêm. Por exemplo, as conexões podem estar disponíveis, mas as relações não acontecerem, os negócios não serem fechados e os contratos não serem seguidos. Pense em um restaurante aberto e com mesas arrumadas, garçons e cozinheiros, de prontidão, estoques de insumos em ordem, instalações em pleno funcionamento, mas sem nenhum cliente. O mesmo pode acontecer com as “redes” que você teria poder de criar ou de integrar, podendo acontecer das regras e planos pensados não serem compatíveis com a vontade, a capacidade ou a motivação dos outros sujeitos. E, assim, a rede não sobrevive, ou seja, seu contrato se extingue! As interações com o ambiente também são importantes para qualquer rede, e isto fica ainda mais evidente em um momento de pandemia. Considerando-se cada rede como um nó de uma rede maior, a autonomia de cada uma será sempre relativa, podendo sofrer efeitos radicais e incontornáveis que encerrem sua vida, seja econômica, profissional ou biológica. Pense em uma fábrica que produz apenas um produto e que sua comercialização passa a ser considerada atividade ilegal pela sociedade local. O que resta fazer? Ou uma mudança de natureza – a produção de nova identidade e novos produtos – ou a extinção. O mesmo acontece entre os sistemas sociais, quando acordos internacionais alteram o ambiente de negócios e, também, com o ambiente natural, quando condições climáticas, hídricas, da terra, entre outras, se alteram e tornam a vida da rede ou de algumas redes inviável. Na Figura 7.9 você vai reconhecer algumas representações trabalhadas nas aulas anteriores. A intenção é fazer uma síntese dos principais conceitos e mostrar como você pode usá-los para compreender a complexidade da vida em uma organização. Esta representação, que associa sistema e rede, pode ser pensada para o início de seu contrato,quando apenas você é o sujeito que faz tudo, como também, pode ser usada para um momento posterior, quando você e um sócio, por exemplo, atuam com a colaboração de outros sujeitos contratados. Assim, as diversas indicações de sujeitos podem ser apenas você em momentos e lugares diferentes do dia de trabalho, com estados de ânimo, saúde, humor e de desempenho variáveis ou, alternativamente, podem ser diversos sujeitos trabalhando em posições distintas, simultaneamente ou não. Você deve identificar cada uma das representações usadas. Comece pelos campos sociedade e meio ambiente. Avance, observando a helicoidal do conhecimento, em que as ações, sujeitos e organizações representadas se desenvolvem e que sugere a transformação de nossa própria compreensão e capacidade de representação dos fenômenos que ocorrem “dentro” da figura. Considere a interação entre dois sujeitos, no caso da visita pessoal ou contato telefônico entre você e um cliente, a produção concreta e simbólica realizada pela relação entre eles, lembrando que técnica, linguagem, valor, risco entre outros conceitos estão envolvidos. Observe a presença do COVID- 19 como um item (sujeito, nó, ser vivo) interagindo com os sujeitos, o sistema social e o meio ambiente, afetando todos os processos da operação. Figura 7.9: Representação das relações entre organizações, sociedade e ambiente. (Elaboração dos autores) Você identifica: Ao alto, a rede sobre a malha, contemplando diversos nós que compõem uma organização e, no caso, podem ser associados à operadora que contratou você. Esta rede se conecta a redes de fornecedores e clientes e às diversas organizações civis e de governo no sistema social, não representadas aqui, pois o foco é a interação com sua empresa. No interior da sociedade e conectada ao ambiente, o sistema de telecomunicações com as antenas e suas áreas de cobertura e as setas e linhas indicativas de seu deslocamento físico e das conexões entre você e seu smartphone; entre as antenas e os aparelhos e entre as antenas e a operadora. Finalmente, você e sua rede viva de células, tecidos, órgãos etc aparecem em cada representação do sujeito. A comunicação é a operação principal, determinada pela sociedade e tornada ainda mais importante no momento para permitir serviços críticos indicados nos retângulos vermelhos, tais como: Telemedicina, Monitoramento remoto (pacientes, segurança pública, notificações, controle de circulação de insumos e recursos médicos), Home office (quando possível), Redes de Pesquisa (colaboração entre os grupos de pesquisa clínica, microbiológica), Informação Pública (orientação, atendimento de hospitais, plantões). Entre os nós da rede esses serviços serão oferecidos na forma habitual ou serão contratados ou reformulados para atender à homeostase da rede. Você atua nisto. Em cada ação haverá indicadores de desempenho e fenômenos que interferem positiva ou negativamente no sucesso das ações. Haverá também necessidade de manutenção e indicadores de desempenho da própria manutenção, nos diversos níveis percebidos. Na perspectiva de rede e de sistema, a forma como cada agente (nó da rede) reage é autônoma e sempre orientada a manter sua própria existência, mas no conjunto, todos os agentes estão ligados à soberania da rede que mantém vivo o sistema, mesmo quando há morte e renovação de alguns de seus integrantes. Usando a mesma técnica de representação, em camadas sucessivas com progressivo aumento da resolução, você obterá, idealmente, uma rede contemplando todos os sujeitos e todas as relações e poderá associar a cada processo indicadores de desempenho, modos de falha e planejar interações para manutenção. Você percebe que, em termos práticos, você escolherá parar em algum ponto desta trajetória, de modo que a complexidade, em tese ilimitada, possa ser tratada com uma racionalidade acordada entre você e os sujeitos envolvidos, respeitando as determinações da organização e da sociedade. Isto seria como percorrer a helicoidal do conhecimento em sentido ascendente e parar quando se alcançar uma perspectiva ampliada da realidade que seja satisfatória ou viável. Atividade (atende aos objetivos 1 e 2) Considere a trajetória de uma organização conforme foi proposto para sua empresa. Agora, com base na visão sistêmica: Desenvolva uma representação de rede para o sistema, usando nós e linhas de conexão; indique a natureza dos fluxos nas conexões. Explique o que aconteceu na sequência temporal, fazendo uso dos parâmetros básicos e evolutivos do sistema para fundamentar seu argumento. Sugestão: Siga os 10 passos do item 8 e aproprie sua representação para expressar as interações do sistema social com o ambiente. Diagramação, favor deixar umas 15 linhas para resposta Resposta comentada: No início, a empresa é constituída por um único sujeito que se relaciona com a sociedade e o meio ambiente. As propriedades básicas estão, por definição, presentes ou seja: há autonomia, permanência e ambiente. Neste exemplo, você é um ser consciente e reflexivo que trabalha contra a entropia do negócio e de si mesmo, buscando recursos para produzir e manter tudo funcionando. As fronteiras legais e sociais da empresa com a sociedade e com o ambiente são controladas por sua vontade para regular, conforme as condições, os fluxos de entrada e saída de recursos, informações, produtos e serviços. Trata-se de homeostase. Adiante, quando você contrata outra pessoa ou compõe uma sociedade, possivelmente, o sistema evolui para a divisão de tarefas conforme as competências e disponibilidades de cada um, podendo se identificar a estrutura, a equifinalidade, a funcionalidade e diferenciação, como propriedades evolutivas. As questões de comunicação entre os nós da rede interna a sua organização passam a ser relevantes. Mais adiante a evolução se torna ainda mais evidente, quando o número de nós da rede aumenta, por meio da contratação de outras pessoas. Nesta fase, haverá distinção de tarefas e, possivelmente, a especialização de funções, entre as quais produção e manutenção, embora todas as atividades alimentem a sobrevivência da rede. Os organismos dos sujeitos, seja da empresa, seja de fornecedores e clientes, estarão ligados à empresa, porque a sua prosperidade implica nas condições psicológicas, econômicas e de saúde de todos os envolvidos. Assim acontecerá com o mercado e o ambiente com que a empresa interage. Na figura a seguir, a trajetória do sistema com um elemento para dois e vários elementos é indicada da direita para a esquerda. 10. Conclusão Em qualquer tempo, as formas de produção de artefatos e mentefatos representarão a capacidade da época, construída socialmente, como se pode compreender a partir da metáfora da curva helicoidal empregada, que vai ao infinito das possibilidades. As necessidades de produção e de manutenção caminham juntas e são concebidas e executadas conforme a evolução técnica e de organização, interagindo com a sociedade e o meio ambiente. Em todos os processos, há a questão de valor associada à produção material e v o c ê SOCIE DADE MEIO AMBIENTE insumos vendas financiamento encargos Demandas de mercado informação Evolução simbólica. As representações sistêmicas, que compõem a evolução da teoria de sistemas, permitem compreender esse processo e fazer pontes entre cada contexto histórico. O grau de detalhamento de cada representação deve ser compatível com a complexidade dos fenômenos e com as necessidades e capacidades de compreensão dos sujeitos conscientes. 11. Resumo A gestão da manutenção e da produção deve ser concebida sistemicamente e, para isto, é preciso compreender sistemicamente a organização de interesse. As representações são o elemento básico da compreensão e do compartilhamento social do conhecimento produzido por cada sujeito.As concepções de sistema vêm se modificando com o tempo e a ideia de que os sistemas se transformam pode ser melhor descrita com base em propriedades elementares, que são comuns a todos os sistemas e evolutivas, geralmente, atribuídas aos sistemas biológicos e sociais. As representações devem ser correntes com as concepções e o uso de redes vem se mostrando importante para descrever e operar sistemas de todas as naturezas. As visões de estrutura e de ação indissociáveis, podem ser integradas nos projetos de representação, inclusive, para lidar com os fenômenos da “des-espacialização” e da “des-sincronização” dos trabalhos, das funções e das organizações. A integração sistêmica de todas as redes fica evidenciada no momento de pandemia, quando se percebe que a dimensão biológica da vida está conectada a todas as outras dimensões e ações em todas as organizações. Esta perspectiva leva a uma visão ampliada e generalizada da função manutenção e da gestão da manutenção que atravessa as fronteiras de todas as organizações e as conectam ao sistema social e ao sistema ambiente. 12. Informações sobre a próxima aula Na próxima aula, o tema será a abordagem da manutenção baseada na confiabilidade, percorrendo-se mais um nível da helicoidal do conhecimento. 13. Bibliografia CAPRA, F. A Visão Sistêmica da Vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Tradução Mayra Teruya Eichemberg e Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Editora Cultrix, 2014. MORGAN, G. Imagens da organização. 1a. edição. São Paulo: Atlas, 2009. https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci#Engenharia_e_inven%C3%A 7%C3%B5es Capra, Fritjof. The Science of Leonardo; Inside the Mind of the Genius of the Renaissance. (New York, Doubleday, 2007) https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci#Engenharia_e_inven%C3%A7%C3%B5es https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci#Engenharia_e_inven%C3%A7%C3%B5es
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