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Poluição por Poeira de Gesso e Saúde

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2
Ministério da Saúde - MS 
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ 
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – CPqAM 
Departamento de Saúde Coletiva - NESC 
MARCÍLIO SANDRO DE MEDEIROS 
POLUIÇÃO AMBIENTAL 
POR EXPOSIÇÃO À POEIRA DE GESSO: 
IMPACTOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO
Dissertação de mestrado para obtenção do grau de 
mestre em Saúde Pública, realizado no 
CPqAM/NESC sob a orientação da Profª. Drª. Lia 
Giraldo da Silva Augusto 
Recife, Março/2003.
3
Catalogação na Fonte: Biblioteca do Centro de Pesqu isas Aggeu Magalhães 
504.05 
M488p Medeiros, Marcílio Sandro de. 
Poluição ambiental por exposição à poeira de 
gesso: impactos na saúde da população/Marcílio 
Sandro de Medeiros; orientadora: Lia Giraldo da 
Silva Augusto. -- Recife, 2003. 
200 f.: il.; tabs., graf., quadros, mapas, croquis, e foto. 
Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)-
Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas 
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. 
1. Saúde Ambiental 2. Impactos ambientais 3. 
Poluição ambiental 4. Poeira 5. Sulfato de Cálcio 6. 
Impactos na saúde 7. Zona semi-árida 8. Mineração 9. 
Epidemiologia. I Augusto, Lia Giraldo da Silva, 
orientadora II. Título
4
Folha de Aprovação 
5
DEDICATÓRIA 
A Deus, por iluminar sempre o meu caminho. 
A minha mãe (Amara), tia (Lucinda), irmãs (Zulma e Kátia), sobrinhos (João, Manoel 
e Mariana) e cunhado (Fábio). 
 
6
AGRADECIMENTOS 
A Dra Lia Giraldo pela confiança depositada nesse projeto e no meu trabalho. 
Ao Professor Henrique Câmara pelas orientações. 
Aos Geógrafos Caio, Mauro, Mota e Santana pela iniciação científica. 
Aos Professores Idê, Domício e Warney pelas informações. 
 
Aos companheiros do LASAT: Evânia, Regina e Fernando. 
Aos meus colegas de turma: Andréa, Anchieta, Odair, Conceição, Luiza e Betise. 
Aos meus amigos: Adiene e Ana pela ajuda e troca de idéias. 
A Solange e Mircia pelos momentos de alegrias mesmo nos períodos de intenso 
trabalho. 
A Secretaria Municipal de Saúde de Araripina em especial a Dra. Simone Granja. 
Enfim, a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização desta 
pesquisa. 
7
RESUMO 
O pólo gesseiro de Pernambuco é responsável por 90% da produção de gipsita do 
país. Estima-se que essa atividade gesseira, formada por empresas de mineração, 
calcinação e fábricas de pré-moldados gere na região cerca de 12 mil empregos, 
constituindo a principal atividade econômica do Sertão do Araripe. A pesquisa 
objetivou conhecer as características sócio-ambientais da região e estimar as 
prevalências das queixas de saúde da população. Trata-se de um estudo de 
morbidade referida que analisou a população do principal distrito gesseiro do 
município de Araripina-PE através de amostra representativa dos 2.486 habitantes 
residentes no perímetro urbano do Distrito de Morais. Realizou-se observação direta 
da paisagem geográfica através de técnicas de vivência na região, como também 
pesquisas em dados secundários. Os impactos sócio-ambientais observados foram: 
a intensificação da degradação da vegetação de Caatinga, utilizada como principal 
fonte energética no processo de calcinação do gesso; o êxodo rural provocado pela 
substituição de antigas áreas de produção agrícola por lavras de gipsita; a poluição 
do ar, do solo e das águas oriundas do processo de calcinação e destinação dos 
resíduos sólidos dos processos produtivos; e na saúde. Observou-se na saúde que 
30% da população tem queixas respiratórias, sendo a tosse a principal manifestação 
(28%). 43% referiram irritação na conjuntiva ocular e 37% sangramento nasal. As 
principais referências de repercussões pulmonares da população exposta a poeira 
de gesso foram: pneumonia (27%); bronquite (14%); e Asma (10%). Concluiu-se que 
há evidências de que a poluição ambiental por poeira de gesso seja um fator 
desencadeador de distúrbios no trato respiratório superior e inferior, na mucosa 
ocular e nasal. Trata-se de um relevante problema de saúde pública para a região. 
Há necessidade de instituir uma vigilância ambiental e epidemiológica, dirigida a esta 
problemática regional, para melhor compreender os efeitos na saúde e propor 
medidas de prevenção. 
8
ABSTRACT 
ENVIRONMENTAL POLLUTION FOR EXHIBITION TO PLASTER D UST: 
IMPACTS IN THE POPULATION’S HEALTH 
Pernambuco’s plaster industry is responsible for 90% of the country’s gypsum 
production. It is estimated that this plaster activity, constituted by mining calcinations 
companies and of prefabricated concrete blocks factories generate 12 thousand jobs 
and is the main economical activity of the Interior of the Araripe. The research aimed 
to know the socio-environmental characteristics of the area and to esteem the 
prevalence of the population’s health complaints. It is a referred morbidity study that 
analyzed the population of the main plaster district of the municipal district of 
Araripina-PE through representative sample the population in 2.486 inhabitants. A 
direct observation of the geographical landscape, through techniques existing in the 
area, took place as well as a research in secondary data. These were the socio-
environmental impacts observed: intensification of Savanna vegetation degradation, 
used as main energy source in the process plaster calcinations; rural exodus 
provoked by the substitution of old areas of agricultural production for gypsum 
plowings; air, soil and waters pollution caused by the calcinations process and 
destination of the residues solids of the productive processes; and in health. It was 
observed that 30% of the population has breathing complaints, cough being the main 
manifestation (28%). 43% referred to ocular conjunctive irritation and 37% to nose 
bleeding. These were the main references of lung repercussions of the population 
exposed to plaster dust: pneumonia (27%); bronchitis (14%); and Asthma (10%). The 
conclusion reached was that there are evidences that the environmental plaster dust 
pollution is an unleashing factor of disturbances in the superior and inferior breathing 
system and in the ocular and nasal mucous membrane. It is a important public health 
problem in the area. For a better understanding of the health effects and to propose 
prevention measures it is necessary to institute an environmental and epidemic 
surveillance focused on this regional problem. 
9
SUMÁRIO 
 
ERRATA 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
DEDICATÓRIA 
AGRADECIMENTOS 
RESUMO 
ABSTRACT 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
1. APRESENTAÇÃO 15
2. INTRODUÇÃO 17
3 DESENVOLVIMENTO 18
3.1 Poluição Ambiental por poeira de gesso 18
3.2 A produção de gesso no sertão da Chapada do Araripe 20
3.3 Impactos do pólo gesseiro de Pernambuco 25
3.4 O ambiente Araripense 26
3.5 Impactos ambientais: conceitos e aplicação para prevenção em saúde 29
3.6 A Vigilância à saúde relacionada ao ambiente e as atividades 
produtivas 30
3.7 Investigações científicas sobre a poluição do ar 32
3.8 Estudos de prevalência de sintomáticos respiratórios na população 34
3.9 Fatores sócio-ambientais potencializares dos efeitos da poluição na 
saúde 35
 
4. MÉTODOS 37
4.1 Desenho do Estudo 37
4.2 Unidades de Análises 37
4.2.1 Unidades de análises de contexto 37
4.2.2 Unidades de análises de ancoragem 38
4.2.3 Unidades de análises de subtexto 38
4.3 População de Estudo 38
10
4.4 Plano de Análise 39
 4.4.1 Análise Qualitativa 39
 4.4.2 Análise Quantitativa 39
4.4.2.1 Plano tabular de análise das variáveis 41
 4.4.3 Triangulação 42
 4.4.4 Amostragem 43
 4.4.4.1 Critérios de seleção dos indivíduos 43
 4.4.4.2 Critérios de exclusão 43
4.5 Fonte de dados 44
4.5.1 Dados primários 44
4.5.2 Dados secundários 45
4.6 Problemas metodológicos, controle de viés e de fatores de confusão 45
4.7 Considerações éticas 46
 
5. RESULTADOS 47
5.1 Caracterização sócio-demográfica e ambiental da região 47
5.1.1 Um olhar de contexto 49
5.1.2 Caracterização sócio-demográficada população do Distrito de 
Morais 55
5.1.3 A calcinação do gesso 59
5.1.4 As manufaturas de gesso 63
5.1.5 A atividade mineralógica e seus contrastes com a economia 
agrária 66
5.1.6 As perspectivas formais para o desenvolvimento da região 
gesseira do Araripe e suas implicações sócio-ambientais. 
A questão ambiental e as várias concepções de 
desenvolvimento sustentável da região 70
5.2 Aspectos de interesse do perfil epidemiológico no município de 
Araripina 72
5.2.1 Morbidade referida da população do Distrito de Morais 73
5.2.2 Características aos óbitos 75
5.2.3 Características dos serviços de saúde 76
 
11
6. DISCUSSÃO 78
 
7. CONCLUSÃO 83
 
8. RECOMENDAÇÕES 86
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87
APÊNDICE 91
 
ANEXOS 103
12
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
TABELAS 
Tabela 01 - População urbana residente no Distrito de Morais – Ano 1996 39
Tabela 02 - Freqüência de queixas de poeira de gesso dentro de casa, 
tosse, aperto no peito, falta de ar e tabagismo. 43
Tabela 03 - População de Araripina segundo Distrito – Ano 2000 49
 
GRÁFICOS 
Gráfico 01 - Produção mundial de gipsita em 1999 22
Gráfico 02 - Produção brasileira de gipsita em 1999 23
Gráfico 03 - Precipitação (em mm) e temperatura (ºC) de Araripina 27
Gráfico 04 - Pirâmide etária da população do município de Araripina em 
2000 48
Gráfico 05 - Ano de estudo da população de Morais 57
Gráfico 06 - Principais ocupações da população de Morais 58
Gráfico 07 - Número de minas de gipsita em Pernambuco: comparativo 
entre os anos de 1981 e 1995 67
Gráfico 08 - Casos das internações, segundo capítulos CID10 no município 
de Araripina – Ano 2001 73
Gráfico 09 - Morbidade referida da população urbana do Distrito de Morais 74
Gráfico 10 - Doenças respiratórias referidas pela população do Distrito de 
Morais 74
Gráfico 11 - Causa morte segundo capítulos CID10 no município de 
Araripina – Ano 2001 76
QUADROS 
Quadro 01 - Composição química média para os depósitos de gipsita de 
Araripe 21
Quadro 02 - Distribuição espacial das unidades de produção do pólo 
Gesseiro de Pernambuco, por Municípios - 1995 24
Quadro 03 - Freqüência de sintomas respiratórios baseados em estudos 
realizados no Brasil 35
Quadro 04 - Sistemas de informação consultados 38
13
Quadro 05 - Banco de dados explorados 40
Quadro 06 - Variáveis, indicadores, base de cálculo e fontes utilizadas 42
MAPAS 
Mapa 01 - Unidades geoecológica da chapada do Araripe 28
Mapa 02 - O município de Araripina e as principais atividades 
econômicas e outros aspectos de interesse sócio-ambiental 51
Mapa 03 - Perímetro urbano do Distrito de Morais e aspectos das 
unidades fabris de produção do gesso 56
CROQUIS 
Croquis 01 - Aspetos de uma fábrica de placas de gesso no Distrito de 
Morais 64
FOTOGRAFIAS
Foto 01 - A Barragem de Lagoa do Barro 50
Foto 02 - Aspectos ambientais de uma área sendo preparada para 
plantio com técnicas agrícolas rudimentares (coivara) 52
Foto 03 - O entorno do manancial d’água do Distrito de Nascente e 
aspectos da ocupação urbana desordenada 53
Foto 04 - Depósitos de resíduos do gesso em via pública 54
Foto 05 - Casa de farinha adaptada para calcinar gesso 60
Foto 06 - Aspecto de uma calcinadora equipada com forno rotativo para 
queimar óleo BPF, mas que continuam queimando lenha 63
Foto 07 - Etapas de produção das placas de gesso 66
Foto 08 - Aspectos ambientais do processo de extração de gipsita em 
Araripina 69
14
ABREVIATURAS 
Nome completo Abreviaturas 
Área de Proteção Ambiental APA 
Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT 
Banco Interamericano para Desenvolvimento BID 
Center for Diease Control CDC 
Companhia Pernambucana do Meio Ambiente CPRH 
Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco CONDEPE 
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS 
Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM 
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária IPA 
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE 
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho FUNDACENTRO
Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA 
Ministério da Saúde MS 
Ministério de Minas e Energia MME 
Núcleo Tecnológico do Araripe CT-Araripina 
Oficina Internacional del Trabajo OIT 
Óleo Combustível derivado do petróleo BPF 
Organização Mundial da Saúde OMS 
Organization For Economic Cooperation Development OECD 
Partículas Menores PM 
População Economicamente Ativa PEA 
Programa Agente Comunitário da Saúde PACS 
Programa Saúde da Família PSF 
Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente SECTMA 
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI 
Serviço Social da Industria SESI 
Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE 
Sistema de Informação de Atenção Básica SIAB 
Sistema de Informação de Mortalidade SIM 
Sistemas de Internação Hospitalar SIH 
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUDENE 
Universidade Regional do Cariri URCA 
15
1. APRESENTAÇÃO 
A idéia da pesquisa intitulada “Poluição Ambiental por Exposição à Poeira de 
Gesso: Impactos na Saúde da População” surgiu em 1998 após um importante 
estágio de elaboração de vídeo documentário sobre os Sertões Pernambucano no 
curso de graduação em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco. Entre 
as diversas constatações sobressaia-se que o Sertão Nordestino vinha sendo 
resumido às secas periódicas e aos grandes projetos de agricultura irrigada, onde a 
natureza tornava-se catástrofe e o sertanejo miserável, no nosso imaginário 
simbólico. Ao rever a obra de Euclides da Cunha (Os Sertões), conclui-se que tais 
constatações, trata-se de recorrências euclidianas estereotipadas que difundem ser 
este espaço hostil, rude e até mesmo inadequado à existência humana. Por trás 
desses estereótipos, esconde-se o grande drama sócio-ambiental que o novo 
modelo econômico, das duas últimas décadas, impôs ao ecossistema sertanejo. 
Durante as excursões, na região que corresponde ao Sertão Pernambucano 
da Chapada do Araripe, o que esperava-se encontrar nesta paisagem, baseava-se 
nos estudos do professor Mario Lacerda de Melo, na década de 1980, que era uma 
população que vivia ainda da roça no cultivo da mandioca para produção da farinha. 
A surpresa e grandiosidade das atividades industriais de produção do gesso em 
larga escala foram ofuscadas pelo cenário de degradação ambiental se comparadas 
às outras realidades ambientais dos sertões da Bahia e de Pernambuco, 
excursionadas durante o processo de elaboração do vídeo documentário. Os 
inúmeros focos de fumaça, oriundos dos processos de coivara e calcinação do 
gesso, bem como os diversos caminhões transportadores de lenha da caatinga, 
resíduos de gesso depositados inadequadamente em beiras de estradas e enormes 
campos secos desmatados, foram os motivos pelos quais aguçaram o nosso 
interesse pela região e o assunto. 
São poucos os estudos sobre o assunto, e os que existem, são 
generalizações pontuadas, descomprometidas em aprofundar a discussão dos 
impactos da produção de gesso na região. Portanto, a dificuldade inicial em 
estabelecer o melhor desenho de estudo sobre o assunto justifica-se pelo 
16
“ineditismo” que os efeitos da poluição ambiental por exposição à poeira de gesso 
podem causar a saúde humana. 
 
Das inquietações iniciais chega-se aos resultados desta Dissertação de 
Mestrado em Saúde Pública realizada no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães 
em Recife-PE. Os impactos das atividades de produção do gesso na qualidade de 
vida da população do município de Araripina são decorrentes das transformações na 
economia rural oriundas das modificações na estrutura fundiária e agrária e da 
degradação ambiental das terras provocada pelo extrativismo vegetal. 
Especificamente na saúde da população, a poluição ambiental por exposição à 
poeira de gesso contríbui para um quadro epidemiológico de altaprevalência de 
sintomáticos respiratórios, irritação das conjuntivas oculares e irritação de pele. 
Os propósitos e achados da pesquisa têm como principal objetivo rediscutir os 
processo de produção do gesso do Araripe Pernambucano. Trata-se de uma das 
principais economias do Sertão do Nordeste do Brasil. O redirecionamento dessa 
atividade é urgente e necessário diante do quadro ambiental insustentável. 
Repensá-la não quer dizer acabar, e sim estabelecer bases que garantam o futuro 
da produção sem prejuízos à economia agrícola, ao meio ambiente e principalmente 
à qualidade de vida dos sertanejos. 
17
2. INTRODUÇÃO 
A atividade gesseira do Sertão do Araripe Pernambucano é responsável por 
mais de 90% da produção de gesso do país. O município de Araripina concentra 
mais de 50% das atividades do “pólo gesseiro de Pernambuco”, que é constituído de 
três segmentos econômicos: mineração, calcinação e manufatura. Estima-se que o 
setor gesseiro empregue na região cerca de 12 mil pessoas, tratado-se de uma das 
principais atividades econômicas do Sertão do Araripe Pernambucano. 
Entre os estudos sobre a atividade gesseira, são poucos os que abordam os 
impactos sócio-ambientais e, até o momento, nenhum estudo sistemático foi 
realizado para avaliar os efeitos da poluição ambiental por poeira de gesso na saúde 
da população. 
A hipótese inicial é que os processos sócio-técnicos-ambientais envolvidos na 
cadeia produtora gesseira, composta pelas atividades de mineração, calcinação e 
manufatura, no contexto do Semi-Árido e, particularmente, no município 
pernambucano de Araripina, impactam a saúde humana, contribuíndo para um 
quadro epidemiológico desfavorável à qualidade de vida das populações expostas à 
poeira do gesso, entre outros fatores ambientais. 
O questionamento condutor do presente trabalho é como caracterizam-se as 
queixas respiratórias de uma população exposta à poeira oriunda dos processos 
sócio-técnicos-ambientais envolvidos na cadeia produtora de gesso, no contexto 
sócio-ambiental do município de Araripina, no Sertão de Pernambuco. 
Para isso, objetiva-se caracterizar o perfil sócio-ambiental e os impactos na 
saúde humana oriundos das atividades produtoras de gesso no município 
pernambucano de Araripina. A partir da descrição dos processos de produção da 
atividade gesseira, das características sócio-ambientais da população exposta à 
poeira de gesso e das queixas de saúde da população que habita o entorno das 
unidades de produção do gesso, propõe-se apresentar subsídios para a vigilância 
em saúde ambiental, em áreas sujeitas à poluição ambiental por poeira de gesso.
18
3. DESENVOLVIMENTO
3.1. Poluição Ambiental por poeira de gesso
A poeira é toda partícula sólida de qualquer tamanho, natureza ou origem, 
formada por trituração ou outro tipo de ruptura mecânica de um material original 
sólido, suspensa ou capaz de se manter suspensa no ar. O nome partícula refere-se 
a uma unidade simples da matéria, tendo, geralmente, uma densidade próxima da 
densidade intrínseca do material original. Essas partículas geralmente têm formas 
irregulares e são maiores que 0,5 µm (SANTOS, 2001). 
A poluição atmosférica caracteriza-se pela presença de materiais ou formas 
de energia no ar que impliquem risco, dano ou moléstia grave às pessoas e bens de 
qualquer natureza (ARÁNGUEZ et al., 2001). 
Os processos de dispersão da poluição atmosférica por partículas de poeira 
mineral, foram observados em uma calcinadora de produção da cal proveniente do 
calcário e limitam-se, geralmente, às vizinhanças da fonte emissora. A observação 
de uma indústria de calcário que emite diariamente precipitação de 3,17 g/m2 de pó 
constata que nas vizinhanças distantes 1 km há precipitações de 1,74 g/m2 e a uma 
distância de 2 km a precipitação é de 0,27 g/m2. O processo de dispersão das 
partículas de poeira depende das correntes aéreas fortes. Há casos em que a poeira 
atinge elevadas altitudes de 4 a 8 km, podendo formar nuvens de pó 
(FELLENBERG, 1997). 
Quanto aos impactos da poluição ambiental sobre o clima, segundo 
Fellenberg (1997), não se tem certeza de quantos fatores climáticos são afetados 
pelo aumento crescente da quantidade de poeira na atmosfera. Algumas 
consequências são certas, tais como: a diminuição da intensidade de radiação do 
sol, estimada em cerca de 0,4% por ano e perdas de energia que não se refletem 
somente numa diminuição geral da temperatura, mas, eventualmente, também na 
velocidade e direção dos ventos (FELLENBERG, 1997).
 
19
O mesmo autor descreve a ação da poeira sobre as plantas, na medida em 
que o pó é depositado sobre as folhas. Segundo ele, a poeira contendo CaO, 
proveniente das indústrias de calcários forma uma cobertura de ação fortemente 
alcalina (foram medidos valores de pH de 8 a 12) sobre a vegetação. Isso faz com 
que as plantas percam água, prejudicando o citoplasma das células do vegetal. 
Observa-se ainda que a ação do pó das indústrias de cimento reage com a umidade 
atmosférica (quando esta atinje valores elevados) formando uma camada contínua 
de silicatos de cálcio sobre as folhas das plantas. Com isto, fecham-se os estômatos 
necessários para as trocas gasosas, reduzindo a respiração e a fotossíntese da 
planta. Considera-se também que as folhas empoeiradas tornam-se mais aquecidas 
que as folhas limpas, podendo comprometer o metabolismo e o equilíbrio hídrico 
dessas plantas. A recuperação da planta pode se dar com as chuvas removendo a 
cobertura de poeira (FELLENBERG, 1997), mas nas regiões semi-áridas, onde os 
índices pluviométricos são baixos, esse reparo celular fica bastante comprometido. 
Outros estudos em plantas da espécie Tradescantia observaram mutações da 
estrutura celular quando exposta às altas concentrações de poluentes (ANDRÉ et 
al., 2000) 
A exposição à poluição ambiental é considerada quando o fator de risco 
encontra-se imediatamente próximo às vias de ingresso do organismo do indivíduo, 
ou seja, da respiração, alimentação, pele, placenta, etc (BRASIL,2001). 
No caso da exposição a um poluente interessa suas características: 
toxicológicas (capacidade de transformação, persistência ambiental e vias de 
penetração no organismo); características indivíduais dos expostos a esse poluente; 
e aspectos sócio-ambientais do local da exposição (magnitude, duração e 
frequência, etc.) (BRASIL, 2000).
20
3.2. A produção de gesso no sertão da Chapado do Ar aripe 
Estudos recentes vêm alertando sobre os danos à saúde humana que são 
causadas pelos impactos ambientais das atividades mineralógicas em pequena 
escala nos países em desenvolvimento (JENNINGS, 1999). 
Segundo estudos, nos últimos cinco anos, o crescimento médio desta 
atividade em 35 países da África, Ásia e América Latina, foi de mais 20% 
(JENNINGS, 1999). 
Foi também constatado que mais de 80% de todo processo mineralógico não 
é regulamentando, ou seja, desrespeita as legislações ambientais e trabalhistas. 
Essa modalidade de atividade mineralógica emprega diretamente cerca de 13 
milhões de trabalhadores que contribuem com 15 a 20% da produção mundial de 
pedras preciosas, materiais de construção e minerais no mundo (JENNINGS, 1999). 
Estima-se que, em todo o mundo a subsistência de 80 a 100 milhões de 
pessoas depende das baixas remunerações geradas por esta atividade. Esses 
números são aproximadamente iguais aos empregos gerados pela atividade 
mineralógica regulamentada dos países desenvolvidos (JENNINGS, 1999). 
No Brasil, nas duas últimas décadas, a atividade industrial de mineração de 
gipsita desenvolvida no Sertão do Araripe Pernambuco é responsável por mais de 
90% da produção de gesso, onde estima-se que seja a maior reserva em volume de 
gipsita do país (CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO - 
CONDEPE, 1966). 
O gesso é um dos mais antigos materiais de construção fabricados pelo 
homem. Sua obtenção é relativamente simples e consisteno aquecimento a uma 
temperatura não muito elevada (cerca de 160o C) e, posterior redução a pó, de um 
mineral relativamente abundante na natureza: a gipsita (PERES et al., 2001). 
Os termos “gipsita”, “gipso” e “gesso” são usados freqüentemente como 
sinônimos. A denominação “gipsita”, no entanto, é mais adequada ao mineral em 
21
estado “in natural”, enquanto “gesso” indicaria os produtos calcinados (PEREIRA, 
1973) 
A gipsita é uma rocha sedimentar e origina-se da remoção e acumulação dos 
produtos resultantes do intemperismo físico e/ou químico de qualquer tipo de rocha, 
bem como da deposição de qualquer material proveniente da atividade animal e 
vegetal (BIGARELLA et al., 1994). 
Esse mineral não-metálico é encontrado na natureza em cinco variedades em 
todo mundo: (1) “rocha de gesso”; (2) “gipsita” (uma forma terrosa e impura); (3) 
“alabastro” (uma variedade translúcida de granulação fina e massiva — rocha pouco 
dura e muito branca, translúcida, finamente granulada, constituída de gipsita); (4) 
calcita fibrosa (uma forma sedosa fibrosa) e; (5) “selenita” (cristais transparentes). 
Raramente é encontrado puro e do contrário, os depósitos de gipsita podem conter 
quartzo, piritas, carbonatos, material argilosos e material betominoso (OFICINA 
INTERNACIONAL DEL TRABAJO-OIT, 1989). 
A composição química da gipsita em estado puro corresponde à fórmula de 
SO4Ca.2H2O, distribuindo-se percentualmente nos compostos CaO (32,60%), SO3
(46,50%) e H2O (20,90%) (COSTE, 1966). Entre as propriedades físicas, é um 
mineral higroscópico que tem grande afinidade pelo vapor de água, sendo capaz de 
retirá-lo da atmosfera ou eliminá-lo de uma mistura gasosa. 
Quadro 01 - Composição química média para os depósi tos de gipsita do 
Araripe. 
Determinações Valores (%)
Umidade (a 60ºC) 0,08
Água combinada (a 200ºC) 19,58
Perda ao Fogo (1.000ºC) 1,62
Resíduos Insolúveis 0,28
Sílica (em SiO2) 0,32
Ferro e Alumínio (em R2O3) 0,20
Cálcio (em CaO) 32,43
Magnésio (em MgO) 0,31
Sulfatos (em NaCl) 0,15
Teor de Gipsita 93,65
Fonte: PERES et al, 2001, p. 20) 
22
Os Estados Unidos da América são o maior produtor e consumidor de gipsita. 
A produção em 1999 foi da ordem de 19,4 milhões de toneladas, conforme mostra o 
gráfico abaixo (BRASIL. Ministério de Minas e Energia – BRASIL-MME, 2000). 
Gráfico 01 - Produção mundial de gipsita em 1999
Em termos mundiais, a indústria cimenteira é a maior consumidora de gesso, 
usado como retardador do “tempo de pega” do cimento. Nos países desenvolvidos a 
indústria de gesso e derivados absorve a maior parte da gipsita produzida. 
Entretanto, tem-se verificado o largo emprego desse mineral nas indústrias químicas 
e de construção civil e na agricultura (PERES et al, 2001). 
No Brasil encontram-se reservas de gipsita em quase todas as regiões.No 
entanto, as jazidas do Araripe despontaram no cenário nacional, no início da década 
de 1960, como uma das mais importantes (CONDEPE, 1966). Com efeito são as 
maiores reservas do país e fazem parte da seqüência sedimentar Cretácea, 
conhecida como Chapada do Araripe, que corresponde aos Estados de 
Pernambuco, Ceará e Piauí (PERES et al., 2001). 
27.444
9.000
9.000
8.200
7.400
7.100
5.300
1.456
19.400
4.500
9.200
0 5 .000 10.000 15 .000 20 .000 25.000 30.000
Outros país es
Es tados U nidos
C h ina
Irã
Ta ilând ia
C anadá
Es panha
México
Japão
França
Bras il
(e m tone las )
Fonte: BRASIL -MME, 2000.
23
Fonte: BRASIL-MME, 2000
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
MG
TO
BA
AM
MA
CE
PE
UF
Produção (%)
As reservas pernambucanas, por apresentarem melhores condições, 
especialmente no que concerne ao teor e facilidade de exploração (a céu aberto), 
logo ganharam destaque e, atualmente, são responsáveis por cerca de 90% da 
produção de gipsita do País (Gráfico 02) (CONDEPE, 1966). 
Gráfico 02 - Produção brasileira de gipsita em 1999
No chamado “pólo gesseiro de Pernambuco” a mineração é feita a céu aberto, 
com frentes de lavra em forma de anfiteatro e bancadas variando em torno de 15 m 
de espessura (PERES et al., 2001). 
O gesso produzido da gipsita (Sulfato de Cálcio Bi-hidratado, ou seja, 
CaSO42H2O) é obtido através dos processos de: (1) britagem: consiste na 
fragmentação de blocos do minério (matacões) sendo, normalmente, utilizados 
britadores de mandíbulas e rebritadores de martelo; (2) moagem: dependendo do 
tipo de forno a ser utilizado, a gipsita britada pode ser moída em moinhos de martelo 
antes de ser enviada para a etapa seguinte; (3) peneiramento: a depender da 
existência de plantas de calcinação, como fornos de tipos diferentes, a gipsita moída 
pode ser peneirada, em peneiras vibratórias, e separadas em frações para usos 
específicos; (4) calcinação: operação na qual a gipsita se transforma em gesso 
(sulfato de Cálcio semi-hidratado, isto é CaSO41/2H2O) pela ação do calor, podendo 
ser realizada à pressão atmosférica ou equipamentos fechados e sob pressão; (5) 
pulverização: o gesso, após a calcinação, é normalmente triturado em moinho de 
24
martelo, moagem fina, para obtenção de granulometria final especificada pelas 
normas brasileiras da ABNT; (6) estabilização: a depender das condições de 
calcinação, o gesso pode passar por um período de ensilamento ou estabilização, 
com a finalidade de obter-se maior homogeneidade na composição final; e (7) 
embalagem: o gesso é normalmente embalado em sacos multifoliados de papel, 
contendo 20 ou 40 kg. Opcionalmente, o gesso pode ser comercializado em "Big 
Bags", sacos plásticos que contêm 1.000kg ou outras embalagens predefinidas 
(PERES et al., 2001). 
Resumidamente, costuma-se classificar a atividade em três segmentos 
econômicos, que em 1996 estavam distribuídas espacialmente nos municípios 
pernambucanos localizados na Microrregião de Araripina, conforme quadro abaixo 
(Quadro 02) (SANTOS; SARDOU, 1996). 
Quadro 02 - Distribuição espacial das unidades de p rodução do Pólo Gesseiro 
de Pernambuco, por Município - 1995 
Unidades de Produção de Gesso do Pólo Gesseiro 
de Pernambuco 
Segmentos da 
Cadeia Produtiva do Gesso 
Total Araripina Ipubi Trindade Ouricuri Bodocó
Minas em atividade 23 12 16 1 6 4
Calcinadoras 47 18 7 20 2 0
Fábricas de pré-moldados 125 74 26 13 7 5
Total 204 104 49 34 15 9
Fonte: SANTOS e SARDOU, 1996, p.8. 
Destes municípios, Araripina, além de concentrar maior parte da atividade 
gesseira, abriga o maior contingente de mão-de-obra da atividade, com 1.500 
empregos, ou seja, 47% do total de empregos locais gerados em 1996 (SANTOS; 
SARDOU, 1996).
25
3.3. Impactos ambientais e na saúde do pólo gesseir o de Pernambuco
Sobral (1997), em artigo apresentado no “Encontro Nacional da Gipsita no 
ano de 1997”, adverte para as implicações da racionalização da atividade gesseira 
na região do Araripe. Admite-se que a racionalização resultaria no afastamento de 
um número significante de pessoas do processo produtivo, gerando um novo 
desemprego na região. A autora descreve sucintamente que entre os recursos 
naturais explorados para produção de gesso, a extração da madeira para ser 
utilizada como lenha é a que se apresenta com situação mais crítica. A autora 
adverte que a região já não é mais auto-suficiente para o consumo energético 
gerado da lenha, onde já se observa a importação desta fonte energética vinda de 
outros estados, como por exemplo do Piauí, acarretando importantes impactos sobre 
a vegetação de caatinga. O estudo ainda critica a atuação dos órgãos públicos 
federais (IBAMA) e estaduais (CPRH) na fiscalização e controle do desmatamento 
(SOBRAL, 1997). 
Sobre a degradação do solo, o Plano Estadual de Controle da Desertificação 
de Pernambuco estabelece os níveis de ocorrência de degradação ambiental em 
muito graves, graves e, áreas susceptíveis. Este documento, oficialmente, resume a 
problemática ao classificar a região do Araripe como “área com problemas 
ambientais” (PERNAMBUCO, 1995).
Atéo momento, nenhum estudo sistemático foi realizado na região para 
avaliar o impacto dessa atividade produtiva para a saúde humana na situação de 
exposição à poeira do gesso (SOBRAL, 1997). 
Na saúde, a poeira de gesso tem uma ação irritante na membrana da mucosa 
do trato respiratório e dos olhos, desencadeando afecções tais como: conjuntivite, 
rinites crônicas, laringites, faringites, perda da sensação do olfato e do paladar, 
hemorragias de nariz e reações das membranas da traquéia e brônquicas dos 
trabalhadores expostos. Outros experimentos feitos com animais expostos à poeira 
do gesso evidenciaram o desenvolvimento de pneumonia e pneumoconiose 
intersticial, produzindo alterações na circulação sangüínea e linfática a nível 
pulmonar (OIT, 1989).
26
As características físicas do mineral (fibras resistentes com diâmetros < 0,5 
µm a >10 µm) determinam o local de deposição das partículas, mas é a composição 
química da fibra que determina sua capacidade de produzir doenças (OIT, 1989). 
Entre os poucos estudos publicados sobre o assunto, está um resumo de 
trabalho referente a uma inspeção realizada pela Secretaria de Saúde de 
Pernambuco, que constata várias irregularidades no que diz respeito à segurança no 
ambiente de trabalho. Por exemplo: excesso de poeira, calor e ruído, principalmente 
nas empresas pequenas. Em relação aos diagnósticos das patologias decorrentes 
dessa exposição não há dados significativos, pois não há serviços de saúde 
voltados para o atendimento do trabalhador na região e os registros disponíveis são 
de péssima qualidade e de difícil acesso (COUTINHO et al., 1994). 
Segundo o único diagnóstico da atividade gesseira em Pernambuco realizada 
em 1995 as principais causas de falta ao trabalho são: bebidas alcoólicas (38%), 
“doenças comuns” (35%) e atividades agrícolas (22%). Entre as denominadas 
doenças comuns referidas, as que mais induzem à falta ao trabalho foram as do 
aparelho respiratório 50% (entre os trabalhadores das fábricas de pré-moldados 
representa 66% das faltas) e as de coluna 30% (entre os trabalhadores das 
mineradoras representa 74% das falta) (SANTOS e SARDOU, 1996). 
3.4. O ambiente Araripense 
Do ponto de vista científico, as reservas de gipsita encontradas no Sertão do 
Araripe permitem reconstituir eventos da história geológica da Terra como, por 
exemplo, determinar quais foram as condições paleoambientais ou paleoclimáticas 
em que se deu a deposição das diversas sequências de sedimentos. Daí a sua 
importância paleontológica para o mundo (BIGARELLA et al, 1994). 
As condições climáticas e geográficas que originaram os atuais depósitos de 
gipsita do Araripe possivelmente não correspondem às atuais condições de clima do 
semi-árido mesotérmico (Dd'B'4a' classificação climática de Thorntwaite (1948)), 
(BARROS et al., 1994). 
27
Dados climatológicos da estação agrometeorológica de Araripina (coordenada 
geográfica da estação: 7º 29' S; 40º 36' W e 816 metros de altitude) revelam que a 
precipitação pluviométrica média anual de Araripina é em torno de 752 mm. Setenta 
por cento destas chuvas se concentram nos meses de janeiro a abril, com pequeno 
ou nenhum excesso de água. As temperaturas médias mensais oscilam entre 21,2 e 
25,0ºC, registrando durante os meses de outubro a dezembro as temperaturas mais 
elevadas: 31,2 e 31,7ºC. A unidade relativa do ar varia entre 42 e 80%, sendo 
registrada as menores baixas no decorrer da tarde. A velocidade do vento é mais 
intensa durante os meses de julho e agosto, com valores próximos a sete metros por 
segundo. A direção dos ventos é predominantemente de sudeste, no entanto, 
observa-se na série histórica ventos de nordeste, sul, norte e noroeste durante os 
meses do ano (BARROS et al, 1994). 
Gráfico 03 – Precipitação (mm) e temperatura (ºC) d e Araripina 
Observação: gráfico construído das médias de precipitação e temperatura referente dados 
coletados estação agrometeorológica de Araripina observada durante 42 anos.
Estudos da SUDENE na década de 1980 sobre os municípios de Araripina e 
Ipubi destacam que a morfologia agrária destes espaços sertanejos é tipicamente 
agropastoril, diferenciando-se apenas na distribuição espacial das atividades — ora 
é mais importante a agricultura, ora a pecuária (bovino, caprino e ovino) e às vezes 
um misto — nos três subespaços (unidades geoecológicas) regionais identificados 
(Figura 01): (1) unidade geoecológica da Chapada, localizada ao norte: Havia uma 
importante área produtora de mandioca integrada ao sistema agrícola de feijão de 
corda - caju - gado (área de pastejo durante parte do ano), onde encontrava-se um 
19
20
21
22
23
24
25
26
J F M A M J J A S O N D
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
PRECI
TEMP
Fonte: BARROS et al., 1994 
28
grupo de pequenos agricultores proprietários de terra e donos de casa de farinha em 
melhores condições de existência; (2) unidade geoecológica sopé da Chapada (pé 
de serra): Havia um ambiente de transição influenciado pela chapada, sendo as 
melhores áreas da região e as mais produtivas, onde predominava o sistema gado-
pequena lavoura. É também neste subespaço que se encontram as imensas jazidas 
de gipsita; (3) unidade geoecológica pediplanada, localizada ao sul da região: 
(menos favorecida pelas chuvas) área na qual são desenvolvidas lavouras de curto 
ciclo (temporárias), tais como feijão de arranque e milho (MELO,1988). 
Mapa 01 – Unidades geoecológicas da Chapada do Arar ipe 
Tal configuração revela uma estrutura da produção rural de Araripina, onde a 
participação relativa da produção agrícola (subextensiva) é de 76,3%, seguida da 
produção pecuária (semi-extensiva) de 23,1% — predominando a criação de bovinos 
e conforme acentuação da semi-aridez, surgem os caprinos e/ou ovinos (MELO, 
1988). 
Outro aspecto destacado deste estudo refere-se à estrutura fundiária, a qual 
não se apresenta entre as mais desequilibradas em comparação àquela encontrada 
na zona sertaneja pernambucana. Os imóveis rurais muito pequenos representam 
29
23,4% (menos de 10ha), ocupando 2,8% das terras cadastradas, enquanto os 
pequenos constituem 53,4% (10 a menos de 50ha) e ocupam 31,2% das terras. Os 
imóveis rurais médios representam 14,6% (50 a menos de 100ha) e ocupam 24,0% 
das terras; os grandes representam 8,0% (100 a menos de 500ha) e ocupam 33,4% 
das terras e os grandes representam 0,6% (500 e mais de 500ha) e ocupam 8,7% 
das terras (MELO, 1988). 
Esse estudo conclui que a soma dos subespaços resulta em arranjos sócio-
espaciais condicionados pelos elementos naturais e humanos provenientes das 
combinações agropastoris, arranjos estes bastante adaptados (MELO, 1988). 
3.5. Impactos ambientais: conceitos e aplicação par a prevenção em saúde. 
Segundo alguns estudos, tem sido reclamado por pessoas esclarecidas do 
mundo inteiro um esforço de aprofundamento dos estudos de impactos ambientais e 
sociais decorrentes das atividades produtivas. Técnicos, cientistas e líderes 
ambientais do mundo defendem a idéia de estender a exigência destes estudos em 
projetos industriais, agrários e urbanísticos ditos desenvolvementistas, considerados 
ecologicamente insustentáveis, independentemente de sua dimensão, desde que 
haja um reconhecido potencial de periculosidade (MÜLLER-PLANTENBERG; 
AB'SÁBER, 1998). 
O termo impacto vem do latim impactu que significa choque ou colisão. Na 
terminologia do direito ambiental a palavra aparece também com o sentido de 
choque ou colisão de substâncias (sólidas, líquidas ou gasosas), de radiações ou de 
formas diversas de energia, decorrentes de realização de obras ou atividades com 
danosa alteração do ambiente natural, artificial, cultural ou social. Portanto, o termo 
impacto é entendido como efeitos nocivos (MILARÉ, 1998). 
Segundo este estudo, impacto ambiental é qualquer alteração das 
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada porqualquer 
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou 
indiretamente, afetam: (1) a saúde, a segurança e o bem estar da população; (2) as 
30
atividades sociais e econômicas; (3) a biota; (4) as condições estéticas e sanitárias 
do meio ambiente; (5) a qualidade dos recursos ambientais (MILARÉ, 1998). 
O impacto na saúde, na maioria das vezes, é muito difícil definir em um 
doente, isto é, quem teve sua saúde afetada pelo fator ambiental a ser estudado. 
Normalmente apresenta-se por meios de sinais e sintomas inespecíficos, podendo o 
quadro clínico ficar completo muito tempo após a fase inicial da exposição. Isso se 
explica porque nas primeiras fases de uma investigação epidemiológica é muito 
comum a existência de casos suspeitos que podem posteriormente ser confirmados, 
ou não. A Epidemiologia deve valorizar os sinais e sintomas precoces das doenças, 
uma vez que as ações de vigilância nesta fase são mais efetivas e podem evitar o 
desenvolvimento completo da doença (BRASIL. Ministério da Saúde. BRASIL-MS, 
2001). 
3.6. A Vigilância à saúde relacionada ao ambiente e às atividades produtivas 
Na concepção moderna e abrangente de Vigilância à Saúde o objeto das 
ações de saúde caminha no sentido dos riscos ambientais (e não dos efeitos à 
saúde), sendo os contextos sociais e os modos de vida relevantes para o 
julgamento. A forma de organização desse modelo privilegia tanto a construção de 
políticas públicas, como a atuação intersetorial, e as intervenções particulares e 
integradas de promoção, prevenção e recuperação, em torno de problemas e grupos 
populacionais específicos, tendo por base as análises da situação de saúde nos 
territórios para o planejamento de ações (BRASIL-MS, 2001). 
Esta tendência recente da saúde pública desloca o enfoque da doença para o 
enfoque da saúde. Isto implica em uma abordagem mais coletiva dos problemas 
epidemiológicos observados na população (BRASIL-MS, 2001). 
O conceito de Vigilância Ambiental em Saúde busca tratar os fatores 
ambientais que afetam a saúde de maneira contextualizada nos espaços de 
desenvolvimento humano. O ambiente é determinado pelas atividades antrópicas 
31
decorrentes das tecnologias produtivas e, por esta razão, o ambiente se modifica 
com a dinâmica social. 
A Vigilância Ambiental configura-se como: 
 
Um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de qualquer mudança 
nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde 
humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de 
riscos e das doenças ou outros agravos à saúde relacionados ao ambiente e às atividades 
produtivas (BRASIL-MS, 2001, p. 44). 
Na busca de um modelo baseado na idéia de promover a vigilância da saúde, 
a concepção de sítios sentinelas é a que mais se aproxima da abordagem que se 
quer para o estudo dos impactos produzidos pela cadeia produtora de gesso na 
saúde das populações expostas. 
O termo "sentinela" emprega-se com diversas acepções e é aplicado a 
diversos substantivos como, por exemplo, sítios sentinelas, eventos sentinelas, e 
populações sentinelas. Em comum, todos eles fazem alusão implícita a um 
microcampo de informação de sensibilidade suficiente para monitorar um certo 
universo de fenômenos (SAMAJA, 1996). 
A concepção de sítio sentinela, segundo Samaja (1996), é aplicada 
originalmente em sociedades com sistemas estatísticos deficitários. Constitui-se de 
um complemento importante para o monitoramento das condições de vida da 
sociedade. É orientado para diagnósticos de problemas de saúde e seu 
monitoramento para programação e reprogramação continuada das ações 
(SAMAJA, 1996). 
Segundo o mesmo autor, o objetivo central desta proposta consiste em deixar 
para trás as amostras e avançar no estudo da morfologia das populações integradas 
por unidades sócio-espaciais que constituem a maneira mais legítima de analisar os 
componentes de uma dada formação social complexa (SAMAJA, 1996). 
32
3.7. Investigações científicas sobre a poluição do ar 
As investigações cientificas e sistemáticas sobre os efeitos da poluição 
atmosférica na saúde humana só começaram no século XX como resultado de uma 
série de acidentes ambientais, provocando o aumento significante na taxa de 
morbidez e mortalidade (ANDRÉ, 2000). 
Dentre as técnicas de pesquisas aplicadas nestes estudos destacam-se os 
estudos epidemiológicos que representaram um papel importante no entendimento 
dos efeitos dos poluentes do ar em todos os tipos de ambientes fechados e abertos 
(ANDRÉ, 2000). 
Apesar dos avanços técnicos e metodológicos nas décadas recentes, há 
limitações inerentes aos estudos epidemiológicos, como por exemplo: descontam 
eventos passados, quando o dano já foi feito; limitações financeiras; requer amostras 
significantes, nem sempre acessíveis em estudos com seres humanos; limitações 
éticas podem impedir a aquisição de dados; e inferência causal, um ponto crucial 
nos estudos epidemiológicos (ANDRÉ, 2000). 
A inferência causal tem sido alvo de inúmeros esforços para reafirmar a 
confiança em um modo de ligar a exposição aos efeitos à saúde. Este problema vem 
aumentando desde que os primeiros estudos populacionais foram usados na saúde 
ambiental e ocupacional. A necessidade de distinguir entre explanações causais e 
não causais levou pesquisadores a definir um grupo de critérios causais os quais, 
quando satisfeitos, poderiam certificar a validez dos resultados (ANDRÉ, 2000). 
ANDRÉ et al. (2000) destacam que durante a década de 1960 o Sir Austin Hill 
(1965) propôs o seguinte grupo de critérios: 
• Força da associação: associações fortes, as quais permanecem 
estatisticamente significantes mesmo após controle, são mais prováveis de 
serem causais; 
• Consistência: resultados similares feitos por observadores em populações 
diferentes e sob circunstâncias diferentes; 
33
• Especificidade: uma causa deve estar associada a uma única doença a um 
único grupo de doenças. A poluição atmosférica está associada a doenças 
respiratórias (os poluentes do ar também têm sido associados a doenças 
cardiovasculares e oftalmológicas); 
• Temporalidade: a exposição deve preceder a doença para reforçar a 
inferência causal; 
• Gradiente biológico: a presença de uma associação dependente da dose 
entre exposição e efeito com maiores exposições levando a maiores efeitos; 
• Plausibilidade biológica: baseada em conhecimento anterior sobre a 
patofisiologia da doença e os mecanismos pelos quais os poluentes podem 
levar a efeitos adversos à saúde. 
• Coerência: significa que uma relação causal não pode ter conflito com a 
história natural da doença, apesar de que informações aparentemente 
conflitantes não invalidam uma inferência causal; 
• Provas experimentais: uma vez demonstrada a associação, uma intervenção 
que remova a causa deve atenuar ou eliminar o efeito observado. Por 
exemplo, o episódio em Utah relatado por Pope III (1989): uma greve fechou 
uma velha fábrica de aço, que era principal fonte de partículas poluentes. 
Durante aquele período tanto os níveis de partícula da matéria, quanto às 
admissões hospitalares pediátricas foram reduzidas pela metade; 
• Julgamento da analogia: se poluentes ambientais em estudos experimentais 
provam-se capazes de induzir alterações inflamatórias e imunológicas no trato 
respiratório de animais, eles devem induzir alterações similares em seres 
humanos.(ANDRÉ et al, 2000) 
34
3.8. Estudos de prevalência de sintomáticos respira tórios na população 
A prevalência de sintomáticos respiratórios em uma população de risco, ou 
não, é indicadora indireta de doenças respiratórias agudas e crônicas, bastante 
confiável sob o ponto de vista epidemiológico. Esta prevalência está associada a 
uma gama de fatores, tais como: variável ambiental (aspectos geográficos, 
condições de temperatura e umidadedo ar, características sociais e culturais), 
variáveis ligadas ao próprio indivíduo (sexo, idade, hábito tabágico, história 
ocupacional e patológica pregressa), entre outras (PEVETTA; BOTELHO, 1997). 
A utilização de inquéritos epidemiológicos é bastante generalizada em 
estudos do tipo transversal ou de prevalência, possivelmente devido a sua 
simplicidade e baixo custo (PEVETTA; BOTELHO, 1997). 
Através deste método é possível obter informações a respeito da exposição 
de pessoas a eventuais fatores de risco, a variáveis potenciais de confusão ou 
modificadores de efeitos, ou mesmo para avaliar a ocorrência de síndromes ou 
determinadas doenças de interesse. Com a utilização de questionários obtém-se o 
conhecimento acerca da prevalência de sintomáticos respiratórios, servindo como 
instrumento epidemiológico importante de diagnóstico e também da evolução das 
afeccções pulmonares em diferentes grupos populacionais (PEVETTA; BOTELHO, 
1997). 
Numa amostra populacional não-selecionada é importante não esperar que 
esta seja composta de indivíduos assintomáticos do ponto de vista respiratório. Ao 
contrário, provavelmente entre um quarto e metade dos indivíduos apresentam um 
ou mais dos principais sintomas respiratórios (tosse, expectoração, chiado, 
dispnéia). Esse tema deve ser analisado distinguindo-se adultos de crianças (LIMA; 
LEMLE, 1993). 
No Brasil, estudos em ambientes urbanos (grandes cidades) demonstraram 
que o problema de sintomáticos respiratórios é importante para diversas categorias 
profissionais e para residentes de cidades (Quadro 03) (LIMA; LEMLE, 1993). 
35
Quadro 03 - Freqüência de sintomas respiratórios ba seados em estudos 
realizados no Brasil
Autor N Amostra F T E C D 
ZOUVI, 1982 38 Burocratas 55,0 13,2 5,3 — 28,9
ARAÚJO, 1986 264 Funcionários Hospital 48,8 18,3 14,8 23,3 38,5
BOTELHO, 1989 345 Habitantes cidades 39,7 41,4 32,7 24,9 25,7
LIMA e LEMLE, 1993 100 Funcionários Universidade 38,0 18,0 21,0 25,0 5,0
Fonte: LIMA; LEMLE, 1993, p. 80 
Legenda: F= fumante; T= tosse; E= expectoração; C= chiado; D= dispnéia 
3.9. Fatores sócio-ambientias potencializadores dos efeitos da poluição na 
saúde 
Alguns estudos indicam que as doenças respiratórias são mais susceptíveis 
nos grupos populacionais de crianças menores de cinco anos e velhos maiores de 
65 anos procedentes de áreas urbanas e suburbanas. O inverno e o confinamento 
em dormitório encontram-se entre os fatores predisponentes dos agravos 
respiratórios, enquanto que o tabagismo dos pais e os combustíveis domésticos, a 
lenha e o querosene, são fatores importantes no desencadeamento desses agravos 
(BENGUIGUI, 1999) 
O conhecimento dos poluentes e das fontes de emissão não é suficiente para 
explicar o complexo processo da contaminação atmosférica. As características 
estruturais e as dinâmicas da atmosfera e as características morfológicas do relevo 
são também importantes elementos da dispersão dos poluentes no espaço e de sua 
evolução (ARÁNGUEZ et al, 2001). 
Por exemplo, as diferenças de temperatura e da umidade do ar podem 
influenciar na composição da mistura dos poluentes e, conseqüentemente, nos 
efeitos sobre a saúde humana (GOUVEIA; FLETCHER, 2000) 
36
As pesquisas também indicam, que os efeitos na saúde humana também são 
verificados quando em concentrações de poluentes estão abaixo dos limites legais 
toleráveis (ANDRÉ et al, 2000). 
37
4. MÉTODOS 
4.1. Desenho do Estudo 
O desenho de estudo é descritivo, de cunho exploratório que utiliza 
instrumentos de coleta de dados qualitativos e quantitativos. As informações foram 
obtidas através da triangulação metodológica dos dados para uma melhor 
compreensão da realidade sócio-ambiental do objeto da pesquisa. 
A descrição, registro, análise e interpretação dos fenômenos ou situação de 
um determinado espaço-tempo são essenciais para esse desenho de estudo, pois 
tem como finalidade desenvolver hipóteses e aumentar a familiaridade do 
pesquisador com o ambiente, objetivando utilizar os resultados para propor solução 
do problema. Nestes estudos utiliza-se uma variedade de procedimentos de coleta 
de dados como, por exemplo, entrevistas, observação, análise de dados e 
conteúdos disponíveis (MARCONI e LAKATOS, 1999). 
4.2. Unidades de Análise 
4.2.1. Unidade de análise de contexto 
Para melhor caracterização dos processos de produção do gesso e 
manufaturas que impactam o ambiente e a saúde, analisaram-se o contexto sócio-
ambiental do município pernambucano que concentra mais de 50% da atividade 
gesseira. O município de Araripina, situado na Microrregião de Araripina e 
Mesorregião do Sertão de Pernambuco, localiza-se a cerca de 692 km de Recife em 
uma área de 1.914,4 km2 (corresponde 17,3 da Microrregião de Araripina e 1,9% do 
Estado de Pernambuco) que faz fronteira ao norte com os municípios de Padre 
Marcos (PI), Fronteira (PI), Campos Sales (CE) e Ipubi (PE); ao sul: com Trindade 
(PE), Ouricuri (PE) e Simões (PI); a leste: com Ipubi (PE) e Trindade (PE); e a oeste: 
como Simões (PI) (Ver Mapa em Apêndice A).
38
4.2.2. Unidade de análise de ancoragem. 
A unidade de análise de ancoragem foi Distrito de Morais, localizado a 12 km 
a sudeste da sede municipal. Foi selecionado após levantamento realizado em 
conjunto com a Secretaria de Saúde de Araripina, da localidade que melhor 
representasse a configuração sócio-técnico-ambiental de funcionamento da 
atividade gesseira em Araripina. Nesse Distrito funcionam atualmente seis 
calcinadoras de porte médio e 19 fábricas de placas de gesso em perímetro urbano 
residencial. Este local funcionou como sítio sentinela para o estudo de morbidade 
referida. 
4.2.3. Unidade de análise de subtexto 
A unidade de análise de subtexto foram os indivíduos domiciliados em área 
de exposição à poeira de gesso do Distrito de Morais que participaram do inquérito 
epidemiológico. 
 
4.3. População de Estudo 
A população de estudo sofreu variação conforme o sistema de informação 
consultado, apresentado no quadro abaixo: 
Quadro 04 – Sistemas de informação consultados 
Sistema de Informação População Período 
SIM Óbitos 2001 
SINASC Nascimento 2001 
SIH Internação 2001 
SIAB Atenção básica à saúde 2002 
Censo Demográfico Setor censitário 1996 
Censo Demográfico população 2000 (preliminar) 
39
A população de referência para cálculo da amostra para o inquérito 
epidemiológico foi baseada no Censo Demográfico do IBGE de 1996, por ser este o 
último recenseamento que disponibilizava dados da população por setor censitário. 
Tabela 01 - População urbana residente no Distrito de Morais - Ano 1996. 
Setores Censitários Urbanos 
Especificação 
Setor Censitário 1 Setor Censitário 2 Total 
Habitantes (Nº) 1.480 1.006 2.486
Homem (Nº) 729 512 1241
Mulher (Nº) 751 494 1245
Domicílios (Nº) 350 150 500
Fonte: IBGE, 1996 
4.4. Plano de Análise 
4.4.1. Análise Qualitativa 
A análise qualitativa foi realizada com base na observação direta da paisagem 
geográfica, pela vivência do autor e entrevistas no local. Esta etapa é fundamental 
para a compreensão do processo de desenvolvimento local e sua relação com a 
cadeia produtora gesseira. Nesse sentido, foram considerados também os aspectos 
culturais e de percepção social dos habitantes da área, relacionando-os com o 
problema do estudo. 
Também foram utilizadas pesquisas documentais. A ilustração mediante 
fotografias, mapas e croquis são ferramentas de uso freqüente nas pesquisas 
geográficas que permitem ao leitor aproximar-se melhor dos cenários pesquisados e 
observados na pesquisa. 
4.4.2. Análise Quantitativa 
A análise quantitativa foi baseada nas informações obtidas pelo questionário e 
pelo banco de dados do IBGE e Ministério da Saúde, nos quais foram coletados na 
40
exploração dos arquivos abaixo descriminado, disponíveis em cd roow produzidos 
pelo DATASUS/MS. 
Quadro 05 – Banco de dados explorados 
Sistema de InformaçãoArquivo 
SIM DOPE2001.DBF 
SINASC DNPE2001.DBF 
SIH RDPE200101A12.DBC 
SIAB SIAB2002.DBF 
Censo Demográfico do IBGE SETOR1996.DBF 
Os dados informatizados foram explorados com os recursos do Tabwin versão 
3.2 do DATA-SUS/MS e do EPINFO versão 6.0 do Center for Diease Control -CDC. 
Os resultados foram analisados através de medidas de tendência central, 
apresentados em tabelas e gráficos de distribuição da freqüência absoluta e relativa. 
41
4.4.2.1. Plano tabular de análise das variáveis 
As variáveis e as bases de cálculos utilizadas para constituição dos 
indicadores foram utilizadas conforme apresentado em quadro abaixo: 
Quadros 06 - Variáveis, indicadores, base de calcul o e fonte utilizadas 
VARIÁVEL 
INDEPENDENTE 
INDICADOR CARACTERÍSTICAS 
BASE DE 
CALCULO 
FONTE 
sexo masculino ou feminino proporções IBGE 
idade 0 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a 24; 
25 a 29; 30 a 34; 35 a 39; 40 a 44; 45 a 
49; 50 a 54; 55 a 59; 60 a 64; 65 a 69; 
70 a 74; 75 a 79; 80 a 84; 85 a 89; 90 a 
94; 95 a 99; > 100 
proporções IBGE 
escolaridade já foi a escola; anos de estudo proporções INQUÉRITO 
hábitos tabagismo e alcoolista proporções INQUÉRITO
ocupação doméstica; agricultura; comércio; 
funcionário público; construção civil; 
gesso; outros 
proporções INQUÉRITO 
características 
individuais 
condições de trabalho no 
gesso 
tempo que trabalha no gesso; atividade; 
função; exame médico; epi; contrato; 
salário; horas de trabalho; folga; turno; 
salário. 
proporções INQUÉRITO 
situação de domicílio urbana ou rural proporções IBGE 
tempo de moradia nº anos INQUÉRITO 
distância da residência da 
fábrica de gesso 
< 100m; 100m a 500m; 500 a 1000m; > 
1000m. 
proporções INQUÉRITO 
localização da residência 
em relação à fábrica de 
gesso 
norte, sul, leste, oeste proporções INQUÉRITO 
pessoas por residência nº de indivíduos freqüência INQUÉRITO 
tipo da residência tijolo; adobe; taipa; taipa não revestida proporções SIAB 
quantidade de dormitórios nº de quartos freqüência INQUÉRITO 
número de pessoas que 
dormem por quarto 
1 a 2; 3; 4; > 5 proporções INQUÉRITO 
tipo de fogão gás ou lenha proporções INQUÉRITO 
tipo de piso cimentada; não cimentada proporções INQUÉRITO 
uso de inseticida ou 
veneno 
sim ou não. proporções INQUÉRITO 
poeira de gesso dentro de 
casa 
sim ou não; pouco ou muita proporções INQUÉRITO 
características 
sócio-ambientais 
da residência 
origem da água 
consumida 
encanada; poço; cacimba; açude proporções SIAB 
42
destino dos dejetos fossa; via pública proporções SIAB 
destino do lixo coletado; via pública; queimado proporções SIAB 
VARIÁVEIS 
DEPENDENTES 
INDICADOR CARACTERÍSTICAS CALCULO 
tosse faixa etária; gênero; sim ou não; tempo 
que tosse; tipo da tosse 
proporções INQUÉRITO 
escarra ao acordar faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO 
escarra sangue faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO 
sangramento nasal faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO 
aperto no peito faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO 
falta de ar faixa etária; gênero; sim ou não; em que 
condições 
proporções INQUÉRITO 
já foi ao médico ou 
hospital por doenças 
respiratórias 
faixa etária; gênero; sim ou não; qual 
doença; foi internado; 
proporções INQUÉRITO 
irritação nos olhos faixa etária; gênero; sim ou não, tipo da 
irritação 
proporções INQUÉRITO 
sintomas de irritação de 
pele 
faixa etária; gênero; sim ou não, tipo da 
irritação; partes do corpo 
proporções INQUÉRITO 
internações por doença 
respiratória 
capítulos do cid10 proporções SIH 
faixa etária das 
internações por doença 
respiratória 
<1; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a 
39; 40 a 59; 60 a 69; 70 a 79; > 80 
proporções SIH 
óbitos por doença 
respiratória 
capítulos do cid10 proporções SIM 
faixa etária dos óbitos por 
doença respiratória 
<1; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a 
39; 40 a 59; 60 a 69; 70 a 79; > 80 
proporções SIM 
morbidade e 
mortalidade 
natureza da unidade 
hospitalar 
público; privado proporções SIH 
4.4.3. Triangulação 
A triangulação dos dados quantitativos e qualitativos objetiva estabelecer 
ligações entre descobertas obtidas por diferentes fontes, ilustrá-las e torná-las mais 
compreensível. NEVES (1996), ao revisar o assunto utilizam a expressão 
triangulação simultânea para as pesquisas que usam ao mesmo tempo instrumentos 
quantitativos e qualitativos. Ressalta que, na fase de coleta de dados, a interação 
entre os dois métodos é reduzida, mas, na fase de conclusão, eles se 
complementam (1996). 
43
4.4.4. Amostragem
O cálculo do tamanho da amostra levantou em consideração os setores 
censitários do IBGE e a prevalência de 30% do sintomático tosse como indicador de 
maior representatividade dos sintomáticos respiratórios, encontrada no inquérito 
piloto realizado em julho de 2001 na área de estudo, garantindo um intervalo de 
confiança de 95%. 
Tabela 02 - Freqüências de queixas de saúde e polui ção referidas em inquérito 
epidemiológico piloto. 
Poeira % Tosse % Aperto no peito % Falta de ar % 
13 15 62 74 36 43 25 30 
Obs: resultado do inquérito piloto realizado em 26 de julho de 2001 no Distrito de Morais, onde se vis itou 68 
residências e entrevistou-se 84 pessoas. 
4.4.4.1. Critérios de seleção dos indivíduos 
Em cada domicílio selecionado foram entrevistados diretamente todos os 
moradores com idade superior a dez anos. Os menores de dez anos de idade foram 
entrevistados indiretamente, ou seja, representados no inquérito por um adulto 
responsável de preferência à mãe. A revisita ao domicílio selecionado durante os 
finais de semana objetivou entrevistar os domiciliados ausentes da primeira visita por 
motivos de trabalho. 
4.4.4.2. Critérios de exclusão 
Quando a residência selecionada estava fechada ou quando houver recusa 
de participação, foi selecionada a residência subseqüente (vizinha imediata). Após a 
coleta de dados foram excluídos os questionários de indivíduos que referiram 
patologias pulmonares já diagnosticadas, tais como: tuberculoses, enfisema 
pulmonar, câncer e outras patologias pulmonares crônicas de origem não ambiental. 
44
4.5. Fontes de Dados 
4.5.1. Dados Primários 
Os dados primários coletados para pesquisa foram baseados na observação 
direta da paisagem geográfica, entrevistas abertas utilizando-se de roteiro semi-
estruturado durante estágio de vivência no município do estudo e inquérito 
epidemiológico de queixas de saúde através de questionário com roteiro semi-
estruturado (Ver em Apêndice B e C).
Para observação e descrição da paisagem geográfica foi realizado o 
"diagnóstico ambiental rápido e participativo" baseado em Paulo Pertersen (1995). 
Resumidamente, significa o diagnóstico ambiental da área em estudo através das 
observações e interpretações da paisagem e principalmente do conhecimento da 
população na caracterização e diferenciação dos geofatores sócio-ambientais 
encontrados e desenvolvidas nas localidades visitadas. Aplicaram-se também as 
"Técnicas de Convergência" do Professor Mauro Resende [199-], que trata-se de 
procedimentos utilizados para levantamento de informações, através de entrevistas 
de campo com os agricultores, moradores e trabalhadores do gesso. 
O inquérito epidemiológico de queixas de saúde mediante questionário semi-
estruturado foi aplicado em cada domicílio selecionado por seis pessoas 
devidamente treinados em duas etapas: 
• 1ª Etapa: delimitação, planejamento, treinamento dos entrevistadores e aplicação 
do questionário – período de 13 a 17 de março de 2002; 
• 2ª Etapa: aplicação do questionário e avaliação final – período de 31 de maio a 
02 de junho de 2002. 
Foram visitados 148 domicílios e entrevistadas 462 pessoas nos setores 
censitários urbanos 1 e 2 do Distrito de Morais (Ver Apêndice D). 
45
4.5.2. Dados Secundários 
Os dados secundários foram provenientesde pesquisa documental dos 
registros, atas, anais, regulamentos, circulares, ofícios, fotos e mapas temáticos da 
pesquisa, coletados em livros, revistas, jornais e vídeos, nas principais instituições e 
bancos de dados do CPqAM, FUNDACENTRO, IBGE e Ministério da Saúde. Deve-
se ressaltar a opção pelo Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema 
Informação de Mortalidade (SIM) do DATA-SUS para a caracterização de aspectos 
de interesse do estudo do perfil epidemiológico da população de Araripina, que 
devido a grande número de sub-registros e sub-notificações dos outros sistemas 
(SINAN, SIA, SIAB) limitava a qualidade da análise. 
4.6. Problemas Metodológicos, Controle de Viés e de Fatores de Confusão
Houve dificuldade de integração da equipe de campo que aplicou o 
questionário, ficando alguns questionários sem o preenchimento correto de todas as 
variáveis. 
Durante a aplicação do inquérito epidemiológico observou-se que a população 
ficou apreensiva em participar, possivelmente desconfiada em considerar a pesquisa 
uma ameaça ao emprego na atividade gesseira. O pequeno número de indivíduos 
que referiram trabalhar no gesso (N=24) talvez seja maior, apesar dos 
esclarecimentos sobre os objetivos da investigação.
Algumas variáveis sócio-ambientais intra-domiciliar e hábitos individuais são 
consideradas fatores de confusão na interpretação dos dados. Por exemplo, uso de 
praguicidas, lenha para cozinhar e o tabagismo promovem irritações no trato 
respiratório e outras manifestações. No caso dos indivíduos que referiram hábito de 
fumar foi minimizado com o controle da variável, após comparação de sub-grupos 
(fumantes e não fumantes). 
46
4.7. Considerações Éticas 
Foram solicitados aos indivíduos participantes no inquérito epidemiológico o 
consentimento informado e esclarecido para a permissão por escrito em três vias 
com base na informação completa, fornecida aos mesmos do objetivo da pesquisa, 
seus direitos e acesso aos resultados (Ver Apêndice C).
Foi garantido o princípio da privacidade das informações adquiridas no 
estudo. Realizou-se seminário no local para esclarecimento dos objetivos da 
pesquisa, com a presença de autoridades governamentais municipais e 
representantes das instituições de ensino e pesquisa, do setor empresarial, dos 
trabalhadores e da sociedade civil organizada. 
Os resultados da pesquisa serão informados aos participantes através de um 
texto didático, contendo as conclusões do estudo e suas recomendações. 
Os indivíduos sintomáticos identificados serão encaminhados para os 
serviços médicos de referência indicados pela secretaria municipal de saúde, para 
que sejam garantidas à devida assistência. 
Será firmado convênio com o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães e 
Ministério da Saúde para capacitar a rede de saúde municipal para diagnosticar o 
tratamento de sintomatologias respiratórias da população exposta. 
Em anexo o parecer de aprovação da Comissão de Ética do Centro de 
Pesquisas Aggeu Magalhães – CpqAM de registro de nº CEP/CEPqAM/FIOCRUZ 
41/02 de 10 de setembro de 2002. 
47
5. RESULTADOS 
5.1. Caracterização sócio-demográfica e ambiental d a região 
A Chapada do Araripe constitui um extenso planalto (meseta) arenítico de 
cerca de 700 m de altitude acima do nível do mar, cujo subsolo é rico em fóssies, 
reservas de água e jazidas de gipsita que hoje são responsáveis por mais de 90% 
da produção de gesso do país. 
A área de influência da Chapada abrange vários municípios dos estado de 
Pernambuco, Ceará e Piauí onde vivem mais de 1.200.000 pessoas beneficiadas 
pela grande diversidade do ponto de vista natural, social e econômico da região, 
entre os quais destacam-se: (a) o setor agropecuário: produção da farinha e 
pecuária semi-extensiva, onde atualmente a região do Cariri no Estado do Ceará 
apresenta um maior dinamismo, haja vista as melhores condições ecológicas; (b) o 
extrativismo vegetal: produção de lenha e carvão que é a principal matriz energética 
do pólo gesseiro; (c) a indústria mineral: gipsita, cimento, argila e pedras 
ornamentais, sendo o gesso a principal atividade econômica do Sertão do Araripe 
Pernambucano; (d) o setor terciário: o desenvolvimento de atividades comerciais e 
de serviços alavancadas pelo turismo cultural, arqueológico e religioso nos 
municípios de Pernambuco (Exú) e Ceará (Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda). 
No lado pernambucano, o município de Araripina destaca-se como o principal 
produtor de gesso de toda a região. O município de Araripina, localizado a 692 km 
da capital pernambucana, possui uma população total de 70.898 habitantes 
distribuídas pelo território de 1.914,4 km2, onde 51% da população é do sexo 
feminino e 51% residem na zona rural (Ver Apêndice E).
A pirâmide etária da população de Araripina no ano de 2000 possui uma 
estrutura clássica, alargada na base, o que caracteriza uma população jovem, na 
qual as faixas etárias de menores (0 a 19 anos) representam a maioria (48,2%). A 
população adulta jovem (20 a 49 anos de idade) representa 37,5% e as faixas 
maiores de 50 anos apenas 14,3%. 
48
40
00
30
00
35
00
25
00
20
00
15
00
50
00
40
00
30
00
35
00
25
00
20
00
15
00
10
00
50
00
50
00
10
00 50
0 0
0 a 4 
>100 
45 a 49 
50 a 54 
55 a 59 
60 a 64
65 a 69
70 a 74
75 a 79 
80 a 84
85 a 89
90 a 94
95 a 99
5 a 9 
10 a 14 
15 a 19 
40 a 44
35 a 39
30 a 34 
25 a 29 
20 a 24 
Faixa Etária
(em anos) 
População FemininaPopulação Masculina
Gráfico 04 - Pirâmide etária da população do municí pio de Araripina em 2000 
A população economicamente ativa (PEA), composta pela população 10 a 49 
anos, representa 61,4% do total, exercendo sobre o município e região uma forte 
demanda por trabalho. 
Há pouca variabilidade percentual entre os gêneros em todas as faixas etárias 
analisadas. No entanto, observa-se uma diferença na distribuição de gênero quanto 
à situação de domicílio. O sexo masculino está ligeiramente mais representado na 
zona rural (50,5%) e o sexo feminino na zona urbana (53%). Segundo entrevista 
com escritor local, na década de 1970, com a instalação das indústrias têxtil no 
município, houve uma maior migração de mulheres da área rural para a urbana, o 
que explicaria o maior contingente de mulheres residindo à sede do município. 
A densidade demográfica no município é de 37,0 hab./km2, no entanto sua 
distribuição não é homogênea. A maior concentração de habitantes é observada 
49
na área urbana da sede do município que detém 65% da população. Nos demais 
distritos, a população encontra-se residindo na zona rural, conforme é mostrado na 
tabela abaixo. 
 
Tabela 03 – População de Araripina segundo distrito s – Ano 2000 
URBANA RURAL TOTAL 
UNIDADE GEOGRÁFICA Nº % Nº % Nº % 
ARARIPINA 34.571 100 36.018 100 70.589 100
Araripina 27.638 60 18.308 40 45.946 65
Nascente 2.838 30 6.525 70 9.363 13
Lagoa do Barro 1.420 23 4.853 77 6.273 9
Morais 1.712 30 4.064 70 5.776 8
Bom Jardim do Araripe 963 30 2.268 70 3.231 5
Fonte: IBGE RECIFE/SINOPSE PRELIMINAR 2000 
As sedes dos distritos não têm grande expressão demográfica. Embora a 
população rural seja maioria, observa-se que a agricultura tem perdido espaço, e em 
algumas localidades não é mais a principal atividade produtiva. 
5.1.1. Um olhar de contexto 
A atividade agropastoril desenvolvida nessa região, com suas características 
peculiares de produção, gerou impacto negativo no meio ambiente. 
A prática da extração da madeira para lenha e carvão, provocando o 
desmatamento da região, que já é vulnerável pela semi-aridez, com vegetação de 
espécies da Caatinga, foi certamente a maior responsável pela degradação do solo 
em processo de desertificação. As regiões dos distritos de Lagoa do Barro e 
Nascente são testemunhas deste cenário de degradação ambiental. 
O distrito de Lagoa do Barro, localizado a 34 km da sede do município, é uma 
região aplainada onde a agriculturaextensiva do feijão, milho e mandioca são ainda 
as principais fontes de renda. A atividade gesseira nesse local é pouco expressiva, 
apenas cinco fábricas de placas de gesso funcionam, sem atividade de calcinação. 
Nesse distrito encontra-se a principal barragem que abastece a sede municipal. O 
50
desmatamento verificado comprometeu substancialmente este recurso hídrico dessa 
área. Araripina sofre continuamente com a falta de água para abastecimento. 
Foto 01 – A Barragem de Lagoa do Barro 
Foto: Marcílio Medeiros, 
51
Marcolândia-PI
Exú-PE
Trindade-PE
Ouricuri-PE
Feira Nova
CEARÁ
Li
m
ite
s
da
ár
ea
d
m
un
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pi
o
pe
rte
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en
A
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-
e
A
a A
P
rar
ipe
Área menos agricultável
do Município.
Última reservar de madeira da região
que está sendo devastada 
Área abandonada
do Município
Área melhor beneficiada
pelos recursos hídricos
Área de produção
agrícola
Área de domínio de produção
farinha de mandioca
PIAUI
PIAUI
Lagoa de
Dentro
SUPER
GESSO
LAFARGE
Bom Jardim
do Araripe
Sítio Flamengo
Adutora do Oeste-COMPESA
Jardim
Sítio Ponta
da Serra
Morais
Lagoa do
Barro
Gergelim
Nascente
Araripina
Fonte: Baseado no mapa do Censo Demográfico IBGE de 2000
57’00º
9136
48’00º
39’00º
30’00º
Serraria I
39’00º 21’00º
Distrito Industrial
de Araripina
POLÍGONO DO GESSO
DE ARARIPINA
E
strada
do
G
esso
2000
2000 60004000
0
BR-316
PE-585
21’00ºN
Mapa 02 – O Município de Araripina e as principais atividades econômicas e 
outros aspectos de interesse sócio-ambiental.
52
Nos Sítios de Catolé e Lagoinha é possível também observar o dano 
ambiental provocado pelo extrativismo vegetal. Na região as atividades agropastoris 
não são mais suficientes em manter a população vivendo das rendas oriundas 
destas economias. O esgotamento do solo é também causado por práticas agrícolas 
rudimentares, como, por exemplo, a limpa e broca através da queimada (coivara). A 
desertificação induzida pela atividade agrária é intensificada pela atividade do pólo 
gesseiro, como se verá adiante. 
Mapa 02 – O Município de Araripina e as principais atividades econômicas e 
outros aspectos de interesse sócio-ambiental.
A área de Gergelim, próximo do distrito de Nascente, já constitui terras do 
sertão seco propriamente dito. O solo litólico e fazendas cada vez maiores têm como 
alternativa agrícola, em tempos de seca, a plantação de palma para alimentação 
animal. Aqui destacam-se as estratégias dos sertanejos diante das carências 
hídricas na maior parte do ano. O sistema de açudagem foi à política instituída pelos 
governos para o enfretamento da seca, desde o inicio do século XX. 
 
O distrito de Nascente, 42 km distante da sede municipal, apresenta um certo 
dinamismo econômico que anima a sociedade local para um processo 
emancipatório. A comercialização do feijão de corda é a principal cultura agrícola 
deste distrito, e atualmente movimenta o seu perímetro urbano. Nessa área, o lençol 
Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 
53
freático oferece boas reservas de água, mesmo durante as secas, auxiliando o 
abastecimento da população na região. No entanto, por falta de saneamento, essas 
reservas de água transformam-se em fontes de contaminação e transmissão de 
doenças veiculadas pelas águas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de 
Araripina a diarréia é um dos principais agravos de saúde nessa área. Nesse distrito, 
apesar das características rurais, já apresentam sinais de ocupação desordenada do 
solo, principalmente no entorno das cacimbas e açudes comprometendo a qualidade 
da água utilizada para consumo humano. Como observa-se na foto abaixo, os 
reservatórios não possuem mata ciliar protetora e as habitações invadem suas 
margens. 
Foto 03 – O entorno do manancial d’água do Distrito de Nascente e aspectos 
da ocupação urbana desordenada
Beirando o pé de serra da Chapada do Araripe, a sudoeste de Araripina, na 
direção do antigo distrito de Rancharia, hoje chamado de Bom Jardim do Araripe, 
está o Sítio Lagoa Redonda. Nesta área, esqueletos de antigas moradias 
abandonadas testemunham o forte êxodo rural que ainda não tinha sido observado 
em outras localidades do município, necessitando serem melhor investigadas as 
verdadeiras causas. 
Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002 
54
Nesse local, as mudanças na geofísica da paisagem são indicados pela 
rochas “in natura”, que extraídas em blocos, são deixadas pelas estradas que dão 
acesso ao distrito. Esta paisagem marca o início das minas de gipsita que compõem 
a região gesseira de Araripina. 
 
Em Bom Jardim do Araripe 29,8% da população reside no entorno de um 
grande açude, o qual recebe os dejetos domiciliares e os resíduos das fábricas de 
gesso, constituido-se uma grande cloaca urbana, oferecendo riscos para a saúde da 
população. Aqui constata-se a substituição da economia agrícola pela atividade 
gesseira, sendo esta a principal fonte de renda da população, com duas grandes 
calcinadoras exportadoras de gesso e diversas fábricas manufatureiras. 
Os problemas oriundos do processo de produção do gesso e manufatura são 
referidos pela população, principalmente relacionados à poeira oriunda dos resíduos 
despejados nas proximidades das residências. É prática freqüente a utilização 
desses resíduos no recapeamento das vias de acesso, o que faz deles fontes de 
emissão adicionais de poeira de gesso, como é ilustrado na foto. 
Foto 04 – Depósitos de resíduos do gesso em via púb lica 
Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002
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Assim, o pólo gesseiro de Araripina está distribuído principalmente pelas 
localidades do Distrito de Morais, Sítio Flamengo, Sítio Ponta da Serra, Distrito de 
Bom Jardim do Araripe; e Sítio Lagoa de Dentro. Nelas estão localizadas as 
principais jazidas, lavras, calcinadoras e fábricas manufaturas de gesso, 
configurando um polígono de produção industrial. 
5.1.2. Caracterização sócio-demográfica da populaçã o Distrito de Morais 
A história de constituição de Araripina está ligada a Vila de São Gonçalo, 
criada em 1892. Essa vila pertencia ao município de Ouricuri até 1927, quando 
houve a emancipação de Araripina que a incorporou. Foi a partir desse momento 
que foram criados os diversos distritos como hoje conhecemos, entre eles Morais. 
O distrito de Morais, situado às margens da BR-316 à 12 km a sudeste de 
Araripina, é de localização próxima e de fácil acesso tanto para a sede, quanto para 
os demais municípios da região. 
As primeiras moradias localizavam-se numa baixa de várzea do leito de um 
riacho a cerca de 1 km a nordeste da atual BR-316, onde hoje está construída a 
Igreja de São Sebastião. Segundo relatos, em meados da década de 1960, após um 
inverno que destruiu várias residências, sua reconstrução se deu nas áreas mais 
altas e afastadas da várzea, onde hoje observa-se uma expansão das habitações e 
unidades fabris de placas de gesso. Há nesta localidade uma infraestrutura de 
serviços municipais de educação, saúde e comércio razoáveis. No entanto, as 
condições de saneamento não diferem das já descritas para outras localidades de 
Araripina, caracterizando-se pela precariedade. 
Na sede desse distrito reside cerca de 30% da população, em mais de 500 
domicílios, onde 10% das moradias são de taipa não revestida. Boa parte das 
moradias têm piso em cimento (78,6%), 2 quartos de dormir (64,8%) ocupados por 
até 3 pessoas por dormitório. 49,0% tem cozinha servida por gás e o restante (51%) 
utilizam carvão ou madeira para cozimento dos alimentos. Esta prática constituí-se 
em uma fonte adicional de poluição intra-domiciliar. 
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Mapa 03 – Perímetro urbano do Distrito de Morais e aspectos das unidades 
fabris de produção do gesso 
Muitas vezes, a lenha e/ou carvão são apenas utilizados no preparo dos alimentos 
que exigem maior tempo de cozimento. No entanto, pelo baixo poder aquisitivo e o 
elevado preço do gás de cozinha, esta população faz pressão sobre

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