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1 Bárbara Dacttes, 256
A salivar é volumosa e hipertônica em relação ao plasma.
• A saliva é um líquido que contém eletrólitos e solutos Orgânicos;
• Secretados principalmente pelas glândulas salivares maiores - parótidas, submandibulares e sublinguais;
• Participam, também, de sua composição o fluido gengival, detritos celulares, microrganismos da cavidade
oral e o fluido secretado por várias glândulas menores, dispersas em toda a mucosa oral.
• A secreção salivar é extremamente importante na higiene, saúde e conforto da cavidade oral;
• A sua ausência, como ocorre na xerostomia (boca seca, neuropatia congênita ou causada por lesão dos VII
e IX nervos cranianos), é associada a infecções crônicas da mucosa oral e ao aumento da incidência de
cáries dentárias.
• A secreção salivar difere das outras secreções do sistema astrintestinal (SGI) pelas seguintes
características:
✓ O volume da secreção salivar é grande, superando muito o peso das glândulas salivares. Por dia,
secreta-se de 1 a 1,5 f. de saliva, o que corresponde a uma taxa secretória de 1 mf./min/g de
tecido. Considerando os pesos relativos das glândulas salivares e do pâncreas, a secreção salivar é
50 a 70 vezes superior à pancreática.
✓ As glândulas salivares têm elevado fluxo sanguíneo, cerca de 10 vezes maior que o do músculo
esquelético em atividade, e, como consequência, apresentam alta taxa metabólica.
• A secreção salivar é regulada, principalmente, pelo sistema nervoso autônomo, ao contrário das outras
secreções do sistema gastrintestinal, que têm regulação neuro-hormonal.
• A saliva final é hipotônica em relação ao plasma; as secreções gástrica, pancreática e biliar são isotônicas.
As glândulas salivares maiores são tubuloacinares
• Há três pares de glândulas salivares maiores - parótidas, submandibulares e sublinguais - além de várias
pequenas glândulas espalhadas na mucosa oral;
• Essas três glândulas produzem, aproximadamente, 90% da secreção salivar total;
• As submandibulares e sublinguais são responsáveis por cerca de 70% do fluxo salivar basal, não estimulado;
• As parótidas respondem por 15 a 20% e as glândulas salivares menores, por 5 a 8%;
• Entretanto, as parótidas e as submandibulares se responsabilizam por 45 a 50% do fluxo salivar
estimulado pela presença de alimento na cavidade oral, enquanto a contribuição das outras glândulas é
menor.
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• Estruturalmente, as glândulas salivares são tubuloacinares;
• Os ácinos são as unidades secretoras, contendo entre 15 e 100 células;
• Os grupos de ácinos são delimitados por tecido conjuntivo, formando lóbulos;
• As células acinares sintetizam e secretam proteínas e um fluido com composição eletrolítica semelhante
à do plasma e isotônico em relação a ele;
• Esta secreção acinar denomina-se saliva primária; é drenada do lúmen dos ácinos para os duetos
intercalares que, nas porções
mais distais, são chamados de
ductos estriados, devido às dobras
das membranas basolaterais das
células epiteliais. Nestas dobras,
aninham-se inúmeras
mitocôndrias, indicando intensa
atividade metabólica, envolvida em
processos de transporte de íons
entre os compartimentos luminal e intersticial-plasmático;
• Os ductos estriados dos diversos ácinos unem-se, formando os ductos intralobulares; estes se juntam aos
de outros lóbulos, originando os duetos extralobulares, que, progressivamente, aumentam de diâmetro,
passando a formar os ductos excretores principais, que se abrem na cavidade oral.
• A secreção proteica acinar resulta, também, de diferentes populações de células.
✓ As parótidas secretam uma solução denominada secreção serosa, que contém relativamente baixo
conteúdo de glicoproteína (mucina) e maior conteúdo de a-amilase salivar (ptialina);
✓ A secreção das sublinguais é, predominantemente, mucosa;
✓ As submandibulares têm uma secreção mista de mucina e de enzima.
• As glândulas salivares menores, espalhadas na mucosa da cavidade oral, secretam, fundamentalmente,
mucina.
• Na glândula mista submandibular humana as células acinares são mantidas unidas pelos complexos juncionais,
tendo como elementos estruturais mais apicais as tight junctions; as células acinares intercomunicam-se
por gap junctions. Os ácinos são envoltos por células mioepiteliais alongadas, que contêm filamentos de
miosina e actina que, ao se contraírem, expulsam a secreção acinar (ou saliva primária), drenada do lúmen
dos ácinos para o sistema de duetos excretores.
• As glândulas salivares são altamente vascularizadas. O fluxo sanguíneo é suprido por ramos da carótida
externa, a maxilar interna, a qual forma uma rede de arteríolas e capilares que envolvem os ácinos e os
duetos. O sangue arterial flui em sentido oposto (ou em contracorrente) ao do fluxo salivar.
• O sangue venoso circula por uma rede de vênulas, sendo drenado para a circulação sistêmica;
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• A inervação eferente para as glândulas salivares é efetuada pelo sistema nervoso autônomo
parassimpático e simpático, cujos principais neurotransmissores são a acetilcolina e a norepinefrina,
respectivamente;
• Estes neurotransmissores ligam-se a receptores localizados nas membranas basolaterais das células
acinares e nas dos duetos;
• A inervação aferente sensorial percorre os nervos autônomos, sendo ativada por inflamações ou
traumatismos das glândulas. O processo infeccioso mais comum das glândulas salivares é a parotidite aguda,
causada pelo vírus da caxumba.
A saliva protege a mucosa oral e os dentes (903)
• A lubrificação do bolo alimentar é feita pela mucina (N-acetil-glicosamina), que, quando hidratada, forma o
muco;
• O muco é secretado pelas glândulas de secreção mista e pelas várias glândulas mucosas espalhadas no
tecido de revestimento interno da cavidade oral;
• Durante o processo de mastigação, o muco mistura-se às partículas alimentares, lubrifica o bolo alimentar
e protege não só a mucosa oral como também os dentes da ação mecânica do alimento, além de facilitar
o processo da deglutição;
• As proteínas que a saliva secreta são ricas em prolina, tendo, também, importância na lubrificação dos
alimentos na cavidade ora;.
• A diluição e a solubilização dos alimentos pela saliva relacionam- se às seguintes funções:
✓ Gustação: uma vez que a solubilização dos alimentos estimula as papilas gustativas.
✓ Regulação da temperatura dos alimentos: a diluição dos alimentos, efetuada pela saliva, resfria ou
aquece os alimentos, conforme a temperatura corporal.
✓ Limpeza: a saliva remove restos de alimentos que se alojam entre os dentes.
✓ Fonação: o umedecimento da cavidade oral facilita a fonação.
✓ Ação tamponante: resulta do pH alcalino da saliva; protege a mucosa oral contra alimentos ácidos
e os dentes contra produtos ácidos da fermentação bacteriana dos resíduos alimentares alojados
entre os dentes. Durante as ânsias que precedem o vômito, a salivação é grandemente estimulada,
no sentido de proteger a mucosa oral contra o quimo ácido proveniente do estômago.
• A saliva realiza, ainda, outras ações de proteção da cavidade oral e dos dentes, descritas a seguir.
✓ Ação bactericida: a saliva secreta lisozima (enzima que lisa as paredes de bactérias), SCN- (ou
sulfocianeto, que tem ação bactericida) e a proteína ligadora de imunoglobulina A (que é ativa contra
vírus e bactérias).
✓ Ação bacteriostática: desempenhada pela lactoferrina, substância quelante de ferro, que impede
o crescimento de bactérias dependentes deste íon.
✓ Ação na cicatrização de feridas ou lesões da mucosa oral: efetuada pela secreção do fator de
crescimento epidérmico, razão pela qual os animais instintivamente lambem suas feridas.
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✓ Ação antimicrobiana: executada pelas proteínas ricas em prolina, que interagem com o ea2+ e com
a hidroxiapatita, participando da manutenção da integridade dos dentes.✓ Incorporação de flúor e fosfato aos dentes: estes íons são captados do sangue e concentrados
• Digitálicos, usados em procedimentos clínicos, aumentam as concentrações de ea2+ e de K+ na saliva, o
que eleva a secreção salivar.
As enzimas salivares iniciam a digestão dos carboidratos e das gorduras.
• São duas as principais enzimas secretadas pelas glândulas salivares: α-amilase salivar (ou ptialina) e lipase
lingual;
• A α-amilase salivar é sintetizada pelas células acinares; consiste em uma endoamilase, que hidrolisa ligações
α {1-4}-glicosídicas no interior das cadeias polissacarídicas;
• O pH ótimo de ação da α -amilase é 7, mas ela pode agir entre pH 4 e 11, sendo rapidamente inativada a
valores de pH menores que 4;
• Da ação exaustiva dessa endoamilase sobre a cadeia polissacarídica, resultam: 1) maltose ( dissacarídio) e
maltotriose ( trissacarídio);
• A ação da α -amilase salivar, na cavidade oral, dura pouco. Entretanto, ela continua no interior do bolo
alimentar no estômago durante a fase de armazenamento do alimento no fundo, quando as ondas
peristálticas ainda não misturaram esse bolo com a secreção ácida gástrica;
• Assim, a α -amilase salivar hidrolisa até 75% dos carboidratos, da boca ao estômago;
• Porém, esta enzima não é essencial, uma vez que sua ação hidrolítica sobre os carboidratos é suprida pela
a-amilase pancreática, secretada em grande quantidade pelas células acinares do pâncreas.
• A lipase lingual é secretada pelas glândulas de von Ebner da língua; esta enzima hidrolisa os triacilgliceróis,
resultando em ácidos graxos livres e monoacilgliceróis. Essa lipase difere da gástrica, embora existam entre
elas 80% de homologia na sequência aminoacídica;
• As lipases lingual e gástrica são denominadas lipases ácidas ou pré-duodenais, porque são ativas nos
valores de pH inferiores a 4, diferindo da lipase pancreática tanto no que se refere ao pH de ação como
ao mecanismo hidrolítico;
• Elas também não são essenciais; tornam-se, porém, importantes na ausência da pancreática ou na falha
de sua ação;
• A calicreína é outra enzima produzida nas células mesenquimatosas, que envolvem os ácinos e os duetos,
sendo liberada no meio intersticial durante a estimulação neural da secreção salivar;
✓ Esta enzima catalisa a produção de bradicinina, a partir de proteínas plasmáticas específicas;
✓ A bradicinina é um potente vasodilatador, que eleva o fluxo sanguíneo e a taxa metabólica das
glândulas salivares.
• Também são secretadas na saliva pequenas quantidades de RNAases, DNAases e peroxidase. A saliva é
uma via de excreção das substâncias dos grupos sanguíneos A, B, AB e O.
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A composição eletrolítica salivar varia com a taxa secretória.
• A composição iônica da saliva varia com o fluxo secretor;
• A baixos fluxos secretórios, sua composição difere fundamentalmente da do plasma, sendo hipotônica
quanto a ele.
• O aumento do fluxo secretor aproxima a composição salivar à do plasma, elevando sua tonicidade, embora
a saliva continue sendo hipotônica em relação ao plasma;
• Mesmo a altas taxas secretórias, a tonicidade da saliva é de cerca de 70% a do plasma. As concentrações
de Na+ e de cl- elevam-se com o aumento do fluxo salivar, mas mantêm-se sempre inferiores às
plasmáticas;
• A concentração de K+ é sempre superior à plasmática; a baixas taxas de secreção salivar, atinge 100 mM
ou mais. Quando o fluxo salivar é baixo, o pH da saliva torna-se ligeiramente ácido. Mas este eleva-se com
a estimulação do fluxo secretor, devido ao crescimento da concentração de HC03-, que pode chegar até
100 mM, conferindo à saliva pH próximo a 8;
• Assim, o principal ânion da saliva final é o HC03 - e o principal cátion, o Na+ (este, porém, sempre está em
concentração menor que a do plasma).
A composição salivar varia com o fluxo secretor.
• No interior do ácino e dos duetos intercalares, a saliva apresenta composição eletrolítica e tonicidade
semelhantes às plasmáticas, sendo denominada saliva primária;
• As concentrações de α-amilase na saliva primária dependem do tipo de estimulação neural para a sua
secreção.
• Quando a saliva primária flui para os duetos estriados e excretores, sofre alterações de sua composição.
Quanto maior é o fluxo secretor, maiores são as concentrações de Na+, c1- e de H C03 -;
• Após o fluxo salivar ter atingido valores próximos a 1,0 mf/min, as concentrações de HC03 - e de K+
mantêm-se altas, porque as suas secreções permanecem constantes e independem da taxa secretória.
A concentração de HC03 – pode alcançar valores de 100 mM ou até maiores, conferindo à saliva um pH
próximo a 8. Também a concentração de K+ na saliva continua alta, cerca de 4 a 5 vezes superior à
plasmática.
A regulação do fluxo salivar é apenas neural
• A regulação do fluxo salivar é, fundamentalmente, neural e controlada pelo sistema nervoso autônomo
(SNA);
• Alguns hormônios, como o antidiurético (vasopressina) e a aldosterona, podem afetar a composição da
saliva, diminuindo a secreção de Na+ e elevando a de K+, mas estes hormônios não regulam o fluxo
salivar;
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• Neste sentido, a regulação da secreção salivar difere daquelas que ocorrem no estômago, no pâncreas e
na vesícula biliar, que são reguladas tanto pelo SNA como pelo sistema nervoso intrínseco (SNI) e por
hormônios do sistema gastrintestinal.
A inervação extrinseca das glândulas é efetuada pelo SNA. A inervação eferente para as
glândulas submandibular e sublingual é complexa.
• As fibras parassimpáticas eferentes pré-ganglionares para as glândulas submandibular e sublingual partem
do núcleo salivatório superior, situado na formação reticular do tronco cerebral, e se acoplam ao nervo
facial (VII par);
• Este nervo envia, também, fibras para
as glândulas lacrimais, glândulas
mucosas do palato, das cavidades
nasais e da língua;
• Do nervo facial, origina-se o nervo
corda do tímpano, cujas fibras juntam-
se ao nervo lingual, ramo do nervo
mandibular (V par);
• Nas proximidades das glândulas, estas
fibras fazem sinapses no plexo
submandibular, de onde partem as
fibras pós-sinápticas para as glândulas
submandibular e sublingual.
• A inervação simpática eferente pré-ganglionar vem dos segmentos T1, T2 e T3 da medula espinal, fazendo
sinapses nos gânglios cervicais superiores, de onde partem as fibras pós-sinápticas para as glândulas
submandibular e sublingual
A estimulação parassimpática colinérgica inicia e mantém a secrefilo salivar.
• As fibras pós-ganglionares parassimpáticas são predominantemente colinérgicas;
• A acetilcolina, ligando-se aos receptores muscarínicos (inibíveis por atropina) da membrana basolateral das
células acinares, eleva o nível citosólico de Ca2+ via inositol trifosfato (IP3) e DAG, além de ativar as
proteinoquinases C (PKC), que, por meio de fosforilação de proteínas específicas, induzem aumento do
fluxo salivar e também da secreção proteica acinar;
• A estimulação parassimpática tem, também, efeito trófico sobre as glândulas salivares. O bloqueio
parassimpático leva à atrofia das glândulas salivares. Alguns medicamentos de uso psiquiátrico causam
"boca seca”, devido às suas propriedades anticolinérgicas.
• A estimulação parassimpática induz, também, crescimento do fluxo sanguíneo das glândulas e aumento da
atividade metabólica.
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• A elevação do fluxo sanguíneo é resistente à atropina e estimulada por fibras parassimpáticas
peptidérgicas, que liberam a substância P e o VIP (peptídio vasoativo intestinal), os quais induzem
vasodilatação.
• As células acinares têm receptores para a substância P, a qual aumenta o nível de Ca2+ citosólico;
• A elevação do Ca2+ citosólico ativa canais para K+ e para Na+ da membrana basolateral, o que faz crescer
a atividade da Na+ /K+ -ATPase e estimula a secreção fluida.
A estimulaçãosimpática noradrenérgica tem efeito bifásico sobre a secreção salivar.
• As fibras pós-ganglionares simpáticas liberam norepinefrina, que se liga a dois tipos de receptores:
✓ receptores β, cujo segundo mensageiro é o cAMP que estimula predominantemente a secreção
enzimática;
✓ receptores α1, que,
via IP3, elevam o nível
de Ca2+ citosólico
potencializando o
efeito da acetilcolina.
• A interrupção da inervação
simpática tem pouco efeito
trófico sobre as glândulas
salivares;
• Inicialmente, a estimulação
simpática eleva o fluxo secretor, principalmente por estimular a contração das células mioepiteliais, via
receptores adrenérgicos, e por potencializar o efeito da acetilcoinla, elevando a concentração citosólica
de Ca2+; mas, como causa vasoconstrição, em uma segunda fase, diminui a secreção salivar;
• A secreção estimulada por agonistas adrenérgicos é, portanto, de pequeno volume, viscosa (porque é rica
em muco) e com alta concentração de K+ e de HC03-. Assim, situações de estresse, medo, excitação e
ansiedade provocam "boca seca''.
Secreção fluida das células acinares
• Vários mecanismos têm sido propostos para explicar os processos celulares de transporte iônico,
responsáveis pela secreção de água e eletrólitos, pelas células acinares das glândulas salivares.
• No mecanismo ilustrado na figura A as células acinares contêm na membrana basolateral, além da Na+
/K+ -ATPase, o cotransportador eletroneutro Na+ :2Cl-:K +, denominado NKCC1> ativado por secretagogos;
estes elevam a concentração citosólica de Ca2+ e incorporam na membrana canais para K+ ativados por
Ca2+;
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• A membrana luminal tem canais para cl- também ativados por Ca2+. A Na+/K+-ATPase mantém os
gradientes de Na+ e de K+, entre os meios intra e extracelular;
• O cotransportador NKCC1 efetua o transporte ativo secundário de K+ e de cl-, dissipando o gradiente de
potencial eletroquímico do Na+, mantido pela Na+ /K+ -ATPase;
• Com isso, a concentração intracelular de cl- eleva-se acima do seu equilíbrio eletroquímico (ou de Nemst),
e cl- flui para o lúmen acinar, através dos canais ativados por Ca2+;
• Em condições basais, os canais
para cl- e para K+ estão
fechados, sendo ativados pela
elevação da concentração
citosólica de Ca2+ em resposta à
estimulação pelos secretagogos,
particularmente pela acetilcolina,
via receptores muscarínicos;
• Com o aumento da condutância
destes canais, há fluxo de KCl (de
c1- para o lúmen do ácino e de K+
para o plasma). Devido ao fluxo
secretor de c1-, o lúmen do ácino
torna-se mais eletronegativa,
gerando gradiente elétrico para o
fluxo transepitelial de Na+, que ocorre predominantemente por via intercelular, atravessando as tight
junctions apicais;
• O movimento de NaCl para o lúmen do ácino gera um gradiente osmótico para o fluxo de água no mesmo
sentido, que pode dar-se tanto por via intercelular como transcelular, uma vez que a membrana das células
acinares tem aquaporinas (AQP);
• Uma isoforma, a AQPS, tem sido detectada nas membranas luminais de muitos epitélios secretores.
• Há também evidências de outros dois mecanismos alternativos.
• O modelo esquematizado na figura A propõe que o influxo de c1- através da membrana basolateral ocorra
por um contratransporte c1-/HC03 -• O HC03 - é proveniente da ação da anidrase carbônica sobre a
hidratação do C02, que penetra a membrana basolateral (Figura C);
• Assim, há uma recirculação de HC03 - nesta membrana. O H+ é trocado com o Na+, através do
contratransporte Na+ IH da membrana basolateral (transporte ativo secundário). O cl- é secretado para o
lúmen acinar via canais luminais, tomando o lúmen mais negativa e promovendo a secreção de Na+ e de
água.
• O terceiro modelo propõe uma secreção luminal de HC03 -, via canais aniônicos, provavelmente os mesmos
que secretam o c1-. O HC03 - é proveniente da hidratação do C02 pela anidrase carbônica.
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• É possível que os três mecanismos participem da secreção fluida das células acinares e coexistam,
predominando um ou outro, na dependência de mecanismos modulatórios ativados nas diversas condições
fisiológicas.
• Em resumo, a secreção fluida das células acinares, que acompanha a proteica, tem composição semelhante
à plasmática, contendo Na+, c1- e HC03 - e é isotônica em relação ao plasma.
A secreção fluida é modificada pelos duetos estriados.
• Os duetos estriados têm alta taxa metabólica e modificam a composição da saliva primária acinar, por
secreção de HC03 - e de K+;
• A baixos fluxos secretórios, a saliva torna-
se mais hipotônica porque o epitélio dos
duetos é impermeável à água e a sua
composição difere fundamentalmente da
plasmática.
• A altas taxas secretórias, a composição da
saliva final aproxima-se da exibida pela
saliva primária, embora continue hipotônica
em relação ao plasma e com concentrações
de HC03 - e de K+ mais elevadas que as
plasmáticas;
• A concentração de HC03 - pode atingir valores de até 100 mM, o que confere à saliva valores de pH
perto de 8;
• A concentração de K+ é próxima a 20 mM, ou seja, 5 ordens de grandeza superior à do plasma. As
secreções de HC03 - e de K+, após uma taxa secretória de cerca de 1 a 2 mf/min, independem do fluxo,
indicando mecanismos ativos de secreção. Os mecanismos celulares de transporte propostos nos duetos
estriados estão esquematizados na Figura.
A secreção proteica nas células acinares
• Embora as secreções dos três pares de glândulas salivares sejam classificadas como serosa, mucosa ou
seromucosa (de acordo com seus conteúdos relativos de mucina e α-amilase), as proteínas mais
secretadas pelas células acinares são as ricas em prolina;
• Estas proteínas têm cerca de 1/3 de seus aminoácidos representados pela prolina, sendo secretadas nas
formas acídica, básica e glicosilada;
• Elas exercem importantes funções protetoras, tanto da mucosa oral quanto dos duetos secretores e dos
dentes;
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• As proteínas secretadas em menores quantidades na saliva são: lipase, nucleases, lisozima, peroxidases,
lactoferrina, imunoglobulina A, fatores de crescimento epidérmico e proteases vasodilatadoras (como a
calicreína e a renina);
• A característica histológica mais evidente das células acinares é a presença dos grânulos secretórios
eletrondensos, denominados grânulos de zimogênio, situados nos polos apicais das células;
• Estes grânulos são os locais de armazenamento das proteínas, secretadas em resposta à estimulação
neural;
• As células acinares apresentam o retículo endoplasmático rugoso extremamente desenvolvido,
caracterizando intensa atividade de síntese proteica, além de terem uma maquinaria bioquímica
especializada para o transporte vetorial das proteínas e para a sua exportação;
• A síntese proteica inicia-se com a tomada de aminoácidos pelas células e a sua incorporação às proteínas
nascentes no retículo endoplasmático;
• O transporte vetorial destas proteínas é realizado por vesículas membranosas, do seu local de síntese
para o sistema de Golgi, e deste para as vesículas de condensação e grânulos de zimogênio (cujos diâmetros
são aproximadamente 2/3 inferiores aos das vesículas).
• Em resposta aos estímulos, os grânulos de zimogênio liberam as proteínas no lúmen acinar, por exocitose
na membrana luminal;
• O processo de exocitose consiste em uma série de eventos, que envolvem: fusão das membranas dos
grânulos à membrana luminal, liberação das proteínas e reciclagem das membranas dos grânulos. Esse
processo eleva, cerca de 30 vezes, a área superficial da membrana luminal, com participação de várias
proteínas e do citoesqueleto celular.
• A estimulação simpática induz a exocitose dos grânulos de zimogênio nas glândulas parótidas e nas
submandibulares, enquanto a parassimpática eleva a secreção proteica das sublinguais e de algunsácinos
das parótidas;
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• O cAMP é o principal segundo mensageiro da
secreção de α-amilase das parótidas, via
ativação dos receptores β-adrenérgicos.
• O Ca2+ também estimula a secreção de α-
amilase, em resposta à estimulação
parassimpática, tanto de receptores
muscarínicos como pela substância P
(peptidérgica), ou estimulação de receptores
β-adrenérgicos, embora de maneira menos
intensa que a secreção estimulada pelo
cAMP.
Síndrome de Sjõgren primária
• É uma doença autoimune, crônica e progressiva, que afeta, predominantemente, o sexo feminino. Gera
anticorpos que reagem com as glândulas salivares e lacrimais, originando um processo inflamatório, com
infiltração de linfócitos, produzindo lesões nos ácinos e nos duetos secretores, com diminuição das
secreções;
• Nas glândulas salivares, existe perda da expressão do contratransportador c1-1HC03 - dos duetos
estriados. A síndrome pode ser, também, secundária a uma manifestação sistêmica de doenças
autoimunes, como acontece na artrite reumatoide. Os pacientes desenvolvem xerostomia e
queratoconjuntivite (olhos secos);
• As proteínas-alvo do ataque autoimune não são determinadas; assim, não há terapia específica para o
tratamento da síndrome. O tratamento é feito com substâncias estimulatórias da secreção salivar, como
metilcelulose. Quando o comprometimento é grave, são utilizados corticoides e imunossupressores.
Fatores exógenos e endógenos atuam sobre a secreção salivar
• A salivação é inibida pelos seguintes fatores exógenos: fadiga, sono, medo e desidratação. Estimulada por
estes: reflexos condicionados (de Pavlov) - que, em humanos, são ativados por diferentes receptores:
visuais, auditivos, olfatórios- assim como por fatores psíquicos.
• O principal fator endógeno que atua sobre o fluxo
salivar é a chegada do alimento à cavidade oral, por
ativação de mecanorreceptores e
quimiorreceptores da mucosa oral e faríngea, a
salivação, na denominada fase cefálica da
secreção salivar. As ânsias, que precedem o
vômito, também estimulam intensamente a
salivação.
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Resumo da secreção salivar
1. A saliva é hpotônica em relação ao plasma, a qualquer fluxo secretório. Sua concentração de bicarbonato é de cerca de 120 mM
a fluxos altos, conferindo à saliva um pH perto de 8, que neutraliza os alimentos ácidos e os produtos da ação bacteriana em alimentos
que se alojam entre os dentes.
2. A composição da saliva é função do fluxo salivar. A saliva primária acinar tem composição próxima à plasmática, mas sofre
alterações nos duetos estriados e excretores, com aumento da secreção de bicarbonato e potássio, cujas concentrações elevam-
se com o aumento do fluxo salivar.
3. As funções da saliva são proteção da mucosa oral e dos dentes, além de função digestiva. A saliva facilita a fonação e estimula os
receptores gustativos da cavidade oral. A α-amilase salivar hidrolisa o interior das cadeias de carboidratos; sua ação continua no
estômago, antes da mistura do quimo com a secreção gástrica. Cerca de 75% dos carboidratos são hidrolisados da boca ao estômago.
A lipase lingual é deglutida e, como age em pH ácido, hidrolisa triacilgliceróis no lúmen gástrico. As duas enzimas não são essenciais.
4. O fluxo salivar é alto (50 a 70 vezes maior que o pancreático), em consequência do alto fluxo sanguíneo das glândulas, que, por
sua vez, é superior ao do músculo esquelético em atividade.
5. A regulação do fluxo salivar é efetuada apenas pelo SNA. A estimulação parassimpática para as glândulas sublingual e submandibular
é via nervo corda do tímpano; para as parótidas, via nervo auriculotemporal. Aumenta e mantém a secreção. A estimulação simpática
tem efeito bifásico: inicialmente, eleva a secreção e, posteriormente, a inibe (devido à vasoconstrição).
6. Aumentam o fluxo salivar. estímulos psíquicos, reflexos condicionados, olfação, gustação, audição e ânsias de vômito. Diminuem-no:
medo, fadiga e sono.
7. O SNA parassimpático eferente tem efeito trófico sobre as glândulas, ocorrendo atrofia em caso de desnervação.
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• O estômago tem funções secretórias, motoras e hormonais, importantes no processo digestivo. Além de
HCl, esse órgão secreta enzimas (que continuam a hidrólise dos macronutrientes iniciada na cavidade oral),
parácrinos e hormônios que regulam a secreção gástrica;
• Suas funções motoras importantes para: armazenamento do alimento, mistura com as secreções
gástricas, trituração e regulação neuro-hormonal enterogástrica da velocidade de esvaziamento do
conteúdo gástrico para o bulbo duodenal;
• Apesar de todas essas funções, o estômago não é um órgão essencial, e indivíduos gastrectomizados
podem sobreviver e manter uma nutrição adequada;
O estómago tem a mesma estrutura básica da parede do TGI e exibe regiões secretoras que se
diferenciam pelos tipos celulares predominantes nas gldndulas gástricas.
• Do ponto de vista secretor, as diferentes regiões do estômago são:
✓ Cárdia - localizada logo abaixo do esfíncter esofágico inferior, contendo apenas glândulas
secretoras de muco;
✓ Região oxíntica - no corpo do estômago, corresponde a 80% da sua área total, suas glândulas têm
grande número de células parietais ou oxínticas, além de células principais;
✓ Região antropilórica – com glândulas contendo apenas células endócrinas: as células G, que
secretam gastrina, e as células D, secretoras de somatostatina (Figura 61.12ª)
• A estrutura básica do estômago apresenta o mesmo padrão dos demais órgãos do SGI. A Figura 61.12B é
um esquema da parede
gástrica, mostrando
mucosa, lâmina própria,
submucosa e muscular
externa;
• A mucosa gástrica é
altamente amplificada
pelas glândulas
gástricas. Estas se
abrem na superfície
luminal do estômago,
em depressões ou pits,
que se continuam
formando o pescoço e o corpo da glândula, o qual se prolonga para o interior da mucosa até a muscular
da mucosa. A Figura 61.12C esquematiza uma glândula gástrica heterocelular;
• Os diferentes tipos de células encontradas são:
14 Bárbara Dacttes, 256
✓ Células mucosas superficiais - colunares, envolvendo as aberturas das glândulas;
✓ Células mucosas do pescoço das glândulas;
✓ Células indiferenciadas ou regenerativas - mais profundamente localizadas no pescoço das
glândulas, originam as células que migram para a superfície;
✓ Células parietais ou oxínticas - secretoras de HCl e de fator intrínseco;
✓ Células principais ou pépticas - secretoras de pepsinogênio;
✓ Células endócrinas - secretoras de gastrina e de somatostatina (Figura 61.12D).
• Durante o processo digestivo, a mucosa gástrica sofre intensa esfoliação, e as células mucosas superficiais
são substituídas por novas, a partir das células regenerativas do pescoço das glândulas.
Composição do suco gástrico e suas funções.
• O estômago secreta 1 a 2l de fluido por dia, referido como suco gástrico.
• Os componentes desse suco, suas funções e locais de síntese são descritos a seguir.
• HCl: durante a estimulação, pode ser secretado a taxas bastante elevadas, alcançando concentrações
entre 140 e 160 mM, conferindo ao suco gástrico pH próximo a 1 ou 2. Nos períodos interdigestivos, o pH
luminal varia de 4 a 6. O pH ácido regula a secreção do pepsinogênio e a sua conversão à pepsina no lúmen
gástrico. O HCl tem importante função bactericida e, na sua ausência, aumenta a incidência de infecções
do SGI. É produzido pelas células parietais ou oxínticas, das glândulas gástricas do corpo do estômago.
• Pepsinogênio: é produzido pelas células pépticas ou principais das glândulas gástricas do corpo, antro e
cárdia. É lançado no lúmen gástrico na forma de proenzima, sendo hidrolisado à pepsina em valores de pH
< 5. Em valores de pH < 3, o pepsinogênio é rapidamente ativado à pepsina. Esta é uma endopeptidase que
hidrolisa ligações no interior dascadeias polipeptídicas.
• Lipase gástrica: é lançada no lúmen gástrico na forma ativa. Trata-se de uma enzima que hidrolisa, em
meio ácido, triacilgliceróis. É produzida por células específicas das glândulas gástricas. Apresenta mais de
80% de homologia, na cadeia polipeptídica, com a lipase lingual; entretanto, são duas enzimas distintas com
o mesmo mecanismo de ação. São denominadas lipases pré-duodenais ou ácidas.
• Muco: dois tipos de muco são secretados pelo estômago:
✓ O secretado pelas células superficiais das glândulas gástricas, conhecido como "muco insolúvel ou
visível", retém o HC03 - excretado por estas mesmas células. Este muco forma uma camada sobre
a superfície luminal do estômago, participando do que se denomina barreira mucosa gástrica, que
protege mecânica e quimicamente a superfície interna do estômago contra o HCl e a pepsina.
✓ O secretado pelas células do pescoço das glândulas gástricas forma o "muco solúvel': que é
misturado aos alimentos, lubrificando-os, protegendo mecanicamente a mucosa gástrica durante o
processo digestivo.
• HC03: é secretado pelas células superficiais mucosas das glândulas gástricas. Fica retido na camada de
muco insolúvel da barreira gástrica, tamponando o HCl e protegendo a mucosa gástrica.
15 Bárbara Dacttes, 256
• Gastrina: é um hormônio gastrintestinal produzido pelas células G das glândulas gástricas da região antral.
Entre outras ações secretagogas e motoras, a gastrina estimula diretamente a secreção de HCl pelas
células parietais e tem efeito trófico sobre a mucosa gástrica, estimulando o seu crescimento.
• Somatostatina: existe sob duas formas, dependendo da origem:
✓ quando secretada pelas células D antrais, é um hormônio. Estimuladas pelo pH luminal intragástrico;
✓ quando secretada pelas células D do corpo gástrico, próximas às células parietais, um parácrino.
As células D localizam-se nas bases das glândulas gástricas. Reguladas por vias neurais e hormonais.
✓ Nas duas formas, a somatostatina tem a função de regular a secreção de HCl, no sentido inibitório.
• Histamina: é um parácrino secretado pelas células enterocromafins da lâmina própria do corpo gástrico.
Estimula diretamente as células parietais.
• Fator intrínseco: trata-se de uma glicoproteína produzida pelas células parietais ou oxínticas. E necessário
para a absorção da vitamina B12, no íleo. De todas as secreções do estômago, a única essencial é a do
fator intrínseco. Na sua ausência, desenvolvem-se a anemia megaloblástica ou perniciosa, além de
alterações neurológicas.
A composição eletrolítica do suco gástrico varia com a taxa secretória.
• A composição eletrolítica do suco gástrico varia conforme a taxa ou fluxo secretório (mf/min).
• A baixas taxas secretórias, o suco gástrico é uma solução que contém NaCl e baixas concentrações de H+
e K+, sendo ligeiramente hipotônico em relação ao plasma;
• A altas taxas secretórias, em resposta à estimulação, a concentração de H+ eleva-se e, simultaneamente,
a de Na+ diminui. As concentrações de cl- e de K+ elevam-se ligeiramente;
• O suco gástrico torna-se isotônico quanto ao plasma e, na taxa máxima de secreção, é uma solução de HCl
contendo K+ (em concentração superior à plasmática) e pequenas concentrações de Na+. A qualquer taxa
secretória, porém, as concentrações de H +, de c1- e de K+ são superiores às plasmáticas. Assim, vômitos
recorrentes podem conduzir a uma alcalose metabólica hipopotassêmica e hipoclorêmica.
Com a secreção, ocorrem alterações estruturais das células parietais.
• As células parietais, na situação basal, apresentam um sistema de canalículos secretores fechados para
o lúmen e poucas microvilosidades na membrana luminal;
• O citoplasma é preenchido por um sistema tubulovesicular, localizado principalmente na região apical da
célula. As membranas deste sistema contêm: as proteínas transportadoras, a H+/K+-ATPase, os canais
para Cl -, além de anidrase carbônica;
• Aproximadamente 10 min após uma estimulação, a superfície da membrana apical da célula aumenta cerca
de 60 vezes, por aparecimento de microvilosidades, que resultam da fusão do sistema tubulovesicular com
os canalículos excretores, que gora se abrem para o lúmen das glândulas
• Como o sistema tubulovesicular agora está orientado, o grande número de mitocôndrias das células parietais
torna-se aparente. Elevam-se as atividades e os números de enzimas e de sistemas transportadores nas
16 Bárbara Dacttes, 256
microvilosidades. A Figura 61.14 esquematiza as estruturas de uma célula parietal, antes e 10 min depois
da estimulação.
A secreção ativa de H+, pela H+ /K+ -ATPase, pode ser inibida por omeprazol
• Quando o estômago está secretando ao máximo, o pH intragástrico pode chegar a valores próximos
de 1, estabelecendo o maior gradiente de potencial químico do organismo, uma vez que o pH
plasmático é 7,4; esse gradiente corresponde a uma diferença de concentração de H+, entre o
lúmen gástrico e o sangue, da ordem de 1 milhão, indicando um processo ativo para a secreção de
H+.
• O H+ secretado pelas células parietais provém da reação de hidratação do C02 resultante do
metabolismo celular, gerando HC03- e H+;
• Esta reação é catalisada pela anidrase carbônica (AC) que, quando o estômago está secretando,
tem sua atividade aumentada. A altas taxas secretórias, o C02 provém também do plasma. O H+ é
secretado para o lúmen gástrico em troca por K+ (transportado no sentido oposto), pela H+/K+ -
ATPase situada na membrana luminal;
• Esta ATPase é da mesma família das ATPase do tipo P, como a Na+/K+-ATPase e a Ca2+-ATPase,
tendo cerca de 60% de homologia com a Na+/K+-ATPase;
• O K+, acumulado dentro da célula, vaza através de canais específicos nas duas membranas, a luminal
e a basolateral;
• O HC03- resultante da reação catalisada pela anidrase carbônica é transportado no sentido
absortivo para o plasma, em troca por cl-, por um contratransportador aniônico da membrana
basolateral;
• Assim, durante a secreção gástrica, o pH do sangue venoso no estômago eleva-se pela absorção
de HC03 -, tornando-se maior que o pH do sangue arterial. Esta elevação do pH sanguíneo é conhecida
como a fase alcalina pós-prandial;
17 Bárbara Dacttes, 256
• A força movente para o influxo celular de cl-, contra gradiente, através da membrana basolateral,
é provida pelo transporte de HC03- no sentido oposto;
• Com o influxo de cl-, sua concentração intracelular eleva-se acima da sua condição de equilíbrio
eletroquímico (ou de Nernst), possibilitando que o cl- seja transportado passivamente para o lúmen
gástrico, via canais luminais;
• Assim, o cl- é transportado ativamente do sangue para o lúmen do estômago, contra gradiente de
potencial eletroquímico, sendo o passo ativo deste transporte efetuado pelo trocador cl-/HC03 -
da membrana basolateral.
• Existe uma diferença de potencial elétrico transepitelial (DP1rans), entre o lúmen do estômago e o
compartimento intersticial-vascular, da ordem de -70 a -80 mV (sendo o lúmen negativo);
• Esta DP1rans resulta principalmente da secreção de cl- para o lúmen, que ocorre tanto nas células
parietais como nas células superficiais mucosas;
• Após a estimulação da secreção gástrica, a magnitude da DP1rans cai para -30 ou -40 mV, em
consequência da secreção de H+. Esta secreção se dá, da célula para o lúmen, a favor de gradiente
elétrico, o que facilita o transporte de H+ contra o seu elevado gradiente químico transepitelial,
entre o sangue e o lúmen gástrico;
• Este elevado gradiente químico de H+ é mantido, uma vez que, em condições normais, ocorre pouco
vazamento do íon através da mucosa gástrica.
• Alguns fármacos, como os omeprazólicos, ligam-se irreversivelmente a grupos sulfidrílicos da H+
/K+ -ATPase, inibindo a secreção de H+. Estes fármacos são utilizados no tratamento de úlceras
pépticas, em geral duodenais,resultantes de hipersecreção de HCl (Figura 61.15).
18 Bárbara Dacttes, 256
Acetilcolina, gastrina e histamina são os estimuladores endógenos da secreção de HCl com ação
direta nas células parietais.
• Os principais secretagogos estimulatórios da secreção de HCl, com ação direta nas células parietais, são:
✓ acetilcolina – neurotransmissor parassimpático vagal (X par de nervos cranianos);
✓ Gastrina - hormônio sintetizado e secretado pelas células G do antro gástrico;
✓ Histamina - parácrino sintetizado a partir da histidina, pelas células enterocromafins da lâmina
própria da mucosa gástrica
• Estes três agonistas têm receptores específicos na membrana basolateral das células parietais;
• Para a acetilcolina, são os receptores muscarínicos (M3) colinérgicos, inibíveis por atropina;
• Os receptores para a gastrina (CCK8) são inibíveis por proglumina, que tem igual afinidade para a gastrina
e para a colecistocinina;
• Para a histamina, são os receptores H2, bloqueáveis pela cimetidina ou pela ranitidina;
• Os três tipos de receptores para os agonistas, acetilcolina, gastrina e histamina, são acoplados a diferentes
proteínas G.
• Tanto a acetilcolina como a gastrina, após se ligarem aos seus receptores, ativam a fosfolipase C (PLC);
esta converte o fosfatidil inositol-4,5-bifosfato (IP2), do folheto interno da bicamada lipídica da membrana,
em inositol-1,4,5-trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG);
✓ O IP3 age sobre reservatórios intracelulares de Ca2+, liberando-o para o citosol e ativando
proteinoquinases dependentes de Ca2+(PKC). Estas fosforilam proteínas específicas que irão
estimular a secreção de HCl.
✓ O DAG ativa também as PKC. A acetilcolina também ativa, diretamente, canais para Ca2+ na
membrana basolateral.
• A histamina, ligando-se ao receptor H2 acoplado à proteína Gas, estimula a adenilato ciclase da membrana,
gerando cAMP e proteinoquinases do tipo A (PKA);
✓ estas fosforilam
proteínas
específicas, que
elevam a
secreção de HCl.
• Tanto a elevação de Ca2+
intracelular como a de
cAMP estimulam a
incorporação das H+ /K+-
ATPase e dos canais para
cl- na membrana apical
das células parietais, além
de ativarem os canais para K+ dependentes de Ca2+ da membrana basolateral (Figura 61.16).
19 Bárbara Dacttes, 256
• Adicionalmente, ocorre potencialização de efeitos não só entre a acetilcolina e a histamina, como também
entre esta e a gastrina;
• A potencialização acontece quando os receptores e os mecanismos intracelulares de ação dos agonistas
são distintos.
• Neste processo, o efeito simultâneo produzido pela ação de dois agonistas é superior à soma dos efeitos
máximos de cada agonista individualmente;
• A potencialização tem grande significado fisiológico, uma vez que pequenas quantidades de agonistas, agindo
conjuntamente, induzem respostas secretoras maiores.
Somatostatina, prostaglandinas e fatores de crescimento epidérmico são os inibidores endógenos
da secrefão de HCl pelas células parietais.
• Os inibidores endógenos da secreção de HCl, que agem diretamente nas células parietais, são a
somatostatina, as prostaglandinas das séries E e I, e os fatores de crescimento epidérmico (EGF);
• Ao se ligarem aos seus receptores, ativam proteínas G, inibindo a adenilato ciclase, a síntese de cAMP e
a secreção de HCl. As prostaglandinas e os fatores de crescimento epidérmico agem como parácrinos,
inibindo diretamente a secreção de HCl nas células parietais;
• A somatostatina é secretada de duas fontes:
✓ pelas células D localizadas nas glândulas da região do corpo (próximas às células parietais, onde
inibem diretamente a secreção de HCl, agindo como parácrino);
✓ pelas células D da região antral do estômago (agindo como um hormônio, inibindo as células G
secretoras de gastrina e, indiretamente, a secreção de HCl).
✓ Há indicações, também, de que a somatostatina iniba a secreção de histamina pelas células
enterocromafins.
Acetilcolina e gastrina estimulam indiretamente as células parietais, via histamina.
• Gastrina e acetilcolina, além de estimularem
diretamente as células parietais, agem, também, sobre
as enterocromafins, secretoras de histamina, que têm
receptores para os dois agonistas (Figura 61.17);
• Provavelmente, agem também sobre mastócitos da
lâmina própria, estimulando-os.
• A histamina é o mais potente estimulador da secreção
de HCl. Estes efeitos foram determinados utilizando-se
a cimetidina ou a ranitidina, antagonistas do receptor
H2 para a histamina das células parietais.
• Estes fármacos são capazes de inibir grande parte da
secreção gástrica estimulada pelos outros agonistas.
20 Bárbara Dacttes, 256
Portanto, o efeito da cimetidina ou da ranitidina sobre os receptores H2 para a histamina pode ser
consequência da remoção da potencialização dos efeitos da gastrina e da acetilcolina sobre as células
parietais. A cimetidina, a ranitidina e os omeprazólicos são prescritos no tratamento de úlceras gástricas
e duodenais.
A secreção do pepsinogênio pelas células principais.
• O pepsinogênio é sintetizado pelas células principais, das glândulas gástricas do corpo, e por células
mucosas, tanto do corpo como do antro e do cárdia do estômago;
• É uma proenzima inativa, pertencente a um grupo de proenzimas proteoliticas, da classe de proteinases
aspárticas;
• Embora tenham sido identificadas oito isoformas distintas de pepsinogênios, eles são classificados, com
base em suas identidades imunológicas, em três grupos: I, II e das catepsinas E.
✓ Os pepsinogênios do grupo I, predominantes, são secretados pelas células principais da base das
glândulas da região do corpo;
✓ O pepsinogênio do tipo II é sintetizado pelas células principais do corpo e por células mucosas do
pescoço das glândulas nas regiões do cárdia, no corpo, na região antral e, também, no duodeno.
• As células principais da região do corpo têm um retículo endoplasmático bastante desenvolvido, para a
síntese do pepsinogênio;
• Este é armazenado em grânulos de secreção, nas estruturas de Golgi;
• Durante o processo digestivo, os grânulos migram para a superfície apical das células e são exocitados,
tanto por fusão das membranas dos grânulos com a membrana luminal, como por fusão das membranas
dos grânulos entre si, por meio de um processo denominado exocitose composta;
• Este processo permite que, após estimulação persistente, ocorra uma secreção rápida de pepsinogênio,
em menor nível, sugerindo que haja uma secreção inicial da proenzima já sintetizada, seguida da secreção
de proenzima sintetizada de novo;
• Estudos in vitro evidenciam um mecanismo de retroalimentação, responsável pela secreção mantida de
pepsinogênio em níveis inferiores aos da secreção inicial rápida.
Agonistas, agindo sobre as células principais, estimulam a secreção de pepsinogênio.
• As células principais têm receptores para a secretina e o VIP (peptídio vasoativo intestinal), além de
receptores β2-adrenérgicos e receptores EP2 para PGE2 (prostaglandinas do tipo E2).
• A ligação desses agonistas aos receptores específicos das células principais ativa a adenilato ciclase;
• As PGE2, em níveis inferiores aos requeridos para estimular a secreção de pepsinogênio, agem inibindo a
secreção da proenzima, provavelmente por se ligarem a um receptor distinto.
• Nas células principais, há, também, receptores do tipo M, muscarínicos, para a acetilcolina, e receptores
para a gastrina e para a colecistocinina, do tipo CCKA. A ativa ção desses receptores eleva o nível de IP3
e de Ca2+ intracelular.
21 Bárbara Dacttes, 256
• A estimulação da secreção de pepsinogênio pela secretina parece improvável, uma vez que este hormônio
inibe a secreção de HCI, tanto diretamente, pelas células parietais, como indiretamente, via inibição da
secreção de gastrina pelas cé lulas G. Além disso, o H+ é importantenão só na estimulação dos reflexos
locais para a secreção de peps inogê nio, como também para a sua ativação a pepsina. Adicionalmente, em
vários segmentos do SGI, a secretina age como um antiácido.
O pH baixo ativa o pepsinogênio e atua na atividade da pepsina.
• O peso molecular do pepsinogênio é de 42 kDa. Quando sua molécula é clivada, separa-se um pequeno
fragmento da cadeia polipeptídica, no terminal N, para formar a pepsina, que tem peso molecular de 35
kDa;
• A clivagem ocorre no interior do estômago, quando o pH cai a valores inferiores a 5;
• A valores de pH menores que 3, a conversão é quase instantânea, ocorrendo também, neste valor de pH,
autocatálise do pepsinogênio pela pepsina;
• A ação proteolítica da pepsina se dá em meio ácido;
• Os valores ótimos de pH para a ação da pepsina
estão entre 1,8 e 3,5, dependendo das
concentrações de substrato, da osmolalidade do
fluido intragástrico e do tipo de pepsina. Valores de
pH superiores a 3,5 inativam, reversivelmente, a
pepsina; esta é, irreversivelmente, inativada a
valores de pH além de 7,2.
• A pepsina inicia a digestão proteica no estômago.
• Como é uma endopeptidase, origina,
predominantemente, oligopeptídios de tamanhos
diferentes. Os oligopeptídios estimulam a secreção pelas células 1 do duodeno, secretoras de colecistocinina
(CCK), que, por sua vez, estimula as células principais (Figura 61. 18).
A secreção do fator intrínseco é a única função essencial do estômago
• O fator intrínseco (FI) é uma glicoproteína, secretada, em humanos, pelas células parietais ou oxínticas;
• No lúmen gástrico, a vitamina B12 se liga à proteína do tipo R (ou haptocorrina, secretada pelas glândulas
gástricas), a qual protege a vitamina da ação proteolítica da pepsina e do HCl;
• No duodeno, a haptocorrina é digerida pelas enzimas proteolíticas pancreáticas, liberando a vitamina B12;
então, esta vitamina passa a formar um complexo com o FI muito resistente à ação das enzimas;
• A absorção da cobalarnina ocorre no íleo, uma vez que as membranas luminais dos ileócitos têm um
carregador que reconhece o complexo vitamina B12-FI, endocitando-o juntamente com o receptor;
• A secreção do FI é a única função essencial, indispensável, do estômago;
22 Bárbara Dacttes, 256
• A ausência de FI, acompanhada de acloridria, induz o aparecimento da anemia perniciosa (ou megaloblástica),
com comprometimento da maturação das hemácias e alterações neurológicas. Como o fígado armazena a
vitamina B12 em quantidades que podem suprir o organismo por 3 a 4 anos, a anemia se estabelece muito
após as alterações da mucosa gástrica e as neurológicas terem se instalado.
No período interdigestivo, o estómago secreta 10 a 15% do HCltotal.
• No período interdigestivo, em que o estômago não contém alimentos, a secreção gástrica
basal é cerca de 10 a 15% da secreção máxima;
• Neste período, o pH intragástrico varia de 3 a 7, pois há grande variabilidade individual
no número de células parietais;
• A secreção basal de HCl é regulada pela somatostatina, mas pode ser abolida por
vagotomia, antrectomia, atropina, cimetidina ou proglumida (inibidor do receptor para a
gastrina), indicando que esta secreção depende de níveis basais de acetilcolina, histamina
e gastrina.
• Há variação circadiana da secreção basal de HCl, sendo mais elevada à noite e diminuindo
pela manhã antes do despertar.
• As causas desta variação não são ainda estabelecidas, uma vez que os níveis plasmáticos
de gastrina mantêm-se constantes nos períodos interdigestivos devido à ação inibitória
da somatostatina.
A secreção de HCl do período digestivo pode ser analisada em fases estimuladas pela chegada do
alimento nas várias porções do TGI.
• No período interdigestivo, apesar de haver secreção
basal de HCl, o pH intragástrico não atinge valor muito
baixo por causa do mecanismo de retroalimentação
efetuado pela somatostatina, secretada pelas células D
do antro, que age como um parácrino inibindo a secreção
de gastrina, em resposta ao abaixamento do pH
intragástrico (Figura 61.19);
• Durante o período digestivo, fibras vagais colinérgicas
inibem as células secretoras de somatostatina liberando
as células G do efeito da somatostatina;
23 Bárbara Dacttes, 256
• Adicionalmente, durante este período, fibras vagais eferentes peptidérgicas (PLG) estimulam a
secreção de gastrina pelas células G;
• Durante o período digestivo, antes e depois da ingestão de alimentos, costuma-se dividir a secreção
gástrica (e também a pancreática e a biliar), em fases baseadas nos locais de onde partem.
A fase cefálica da digestão gástrica pode ser desencadeada por reflexos condicionados antes da
ingestão do alimento e pela sua presença na cavidade oral.
• A fase cefálica da digestão gástrica, antes de o alimento atingir o estômago e mesmo antes da sua
ingestão, ocorre por reflexos condicionados. Responde por aproximadamente 30% da secreção
ácida total durante a fase digestiva;
• Anteriormente à ingestão, a secreção eleva-se em resposta aos reflexos condicionados pavlovianos,
resultantes de estímulos olfatórios, visuais, auditivos, psíquicos e por hipoglicemia induzida por insulina
ou por 2-desoxiglicose;
• Todos esses estímulos ativam o centro motor do vago na medula espinal, que envia impulsos
eferentes parassimpáticos para o estômago;
• Durante a ingestão do alimento, pela mastigação, são estimulados químio e mecanorreceptores da
mucosa oral e, durante a deglutição, os receptores da faringe;
• Ainda durante a deglutição, ocorre o relaxamento receptivo da região fúndica do estômago,
permitindo o armazenamento do alimento sem elevação da pressão intragástrica. O relaxamento
receptivo gástrico é abolido por vagotomia;
• O alimento, dependendo da sua composição, pode ficar armazenado no fundo gástrico durante 1 h
a 1 h e meia;
• A secreção da fase cefálica é abolida por vagotomia, indicando que sua via neural eferente é o
vago, a qual exerce 5 ações distintas sobre o estômago, descritas a seguir:
1) As fibras eferentes vagais fazem sinapses nos plexos intramurais, de onde partem as
fibras pós-ganglionares colinérgicas. A acetilcolina liga-se aos receptores muscarínicos da
membrana basolateral das células parietais, estimulando, assim, diretamente a secreção de
HCl;
2) A acetilcolina estimula, na lâmina própria, as células enterocromafins (ECL) a secretarem
histamina, que se liga aos receptores H2 das células parietais, estimulando e potencializando
o efeito da acetilcolina nessas células e elevando a secreção de HCI.
3) As fibras vagais pós-ganglionares, também a partir dos plexos intramurais, liberam o
peptídio liberador de gastrina (GPR), que se liga aos receptores das células secretoras de
24 Bárbara Dacttes, 256
gastrina antrais (células G), estimulando a
secreção de gastrina que, por via sistêmica,
estimula as células parietais;
4) A gastrina também se liga aos
receptores das células enterocromafins,
estimulando a secreção de histamina.
5) Tanto no antro como no corpo gástrico,
o vago colinérgico inibe as células D
secretoras de somatostatina, liberando o
seu efeito inibitório sobre as células G.
• A fase cefálica da secreção gástrica está
esquematizada na Figura 61.20. Em humanos, a via
colinérgica é muito mais efetiva que a indireta via
gastrina. Assim, a antrectomia é menos eficaz na inibição da secreção gástrica de HCl que a
vagotomia, que a abole completamente.
Na fase gástrica da digestão gástrica, ocorrem reflexos vagovagais e intramurais, além de ações
hormonais e parácrlnas.
• A fase gástrica da digestão gástrica ocorre em resposta à chegada do alimento ao estômago;
• É a principal fase da secreção gástrica, responsável por 50 a 60% da secreção total durante o período
digestivo;
• Os estímulos desta fase são a distensão da parede gástrica e a ação química do alimento sobre oestômago;
• A estimulação de mecano e quimiorreceptores inicia reflexos longos vagovagais e intramurais;
• As fibras vagais sensoriais aferentes dos receptores enviam impulsos para a bulbo. Daí partem as fibras
vagais eferentes, que fazem sinapses nos plexos intramurais, de onde emergem as fibras pós-
ganglionares colinérgicas para as células parietais e fibras peptidérgicas para as células G antrais, cujo
neurotransmissor é o peptídio liberador de gastrina (PLG).
• Os reflexos curtos ou intramurais, iniciados pela estimulação dos receptores, podem ser mono ou
polissinápticos;
• São mediados por fibras colinérgicas, que estimulam diretamente tanto as células G como as parietais,
sendo, assim, inibe por atropina;
• O reflexo intramural da região antropilórica é conhecido por reflexo piloro-oxíntico.
• Na fase gástrica, as células G são também estimuladas por peptídios e aminoácidos contidos no lúmen
gástrico;
• Entre os aminoácidos mais potentes na estimulação das células G, estão a fenilalanina e o triptofano.
Proteínas intactas não têm efeito.
25 Bárbara Dacttes, 256
• Esta estimulação, evidentemente, não é inibida por vagotomia e evidencia que as células G antrais secretam
gastrina em resposta tanto a estímulos luminais
como a basolaterais. São, assim, consideradas
células endócrinas do tipo aberto, tendo
microvilosidades na superfície luminal;
• Outros estímulos para a secreção das células G são
os componentes de bebidas alcoólicas, como vinho
e cerveja, embora haja controvérsias sobre o
efeito gástrico do álcool em humanos. A cafeína
estimula diretamente as células parietais, e o Ca2+,
tanto as células parietais como as células G.
• Nesta fase, a queda do pH intragástrico estimula
as células D antrais a secretarem somatostatina,
a qual inibe as células G, diminuindo a secreção de
HCI;
• Este efeito inibitório é evidenciado não só por infusão de somatostatina, como também pela inibição da
resposta das células G por peptídios, quando o pH intragástrico é próximo a 1. A Figura 61.21 ilustra os
mecanismos neuro-hormonais envolvidos na fase gástrica da secreção do estômago. No Quadro 61.2, estão
resumidos os mecanismos estimulatórios nas três fases da secreção gástrica.
A fase intestinal da digestão gástrica é predominantemente inibitória da secreção de HCl
• A fase intestinal da digestão gástrica depende da chegada do quimo ao delgado; é responsável por apenas
10% da secreção gástrica total.
• Nesta fase, há inicialmente uma estimulação da secreção gástrica, seguida de uma inibição;
26 Bárbara Dacttes, 256
• A chegada do quimo ao duodeno distende sua parede, o que ativa, por reflexos enterogástricos e
vagovagais, a secreção das células parietais e das células G duodenais, aumentando a secreção de HCI;
• A presença de produtos da digestão proteica, peptídios e aminoácidos incentiva diretamente as células
produtoras de gastrina existentes na mucosa duodenal e no jejuno;
• Esta secreção é aproximadamente 5% da secreção de HCl da fase gástrica.
• Aminoácidos absorvidos no delgado ativam a secreção ácida; entretanto, o mecanismo desta ação não está
esclarecido.
• A medida que o quimo é esvaziado para o duodeno, há regulação neuro-hormonal das secreções de gastrina
e de HCl pelos mesmos reflexos enterogástricos que controlam a velocidade de esvaziamento gástrico;
• Vários processos que ocorrem entre as porções proximais do delgado, duodeno e jejuno inibem a secreção
ácida gástrica, por mecanismos de retroalimentação negativa. Algumas substâncias têm sido sugeridas
como inibitórias desta fase, incluindo hormônios gastrintestinais, substâncias candidatas a hormônio e
outras ainda não identificadas que, em conjunto, são, de longa data, chamadas de enterogastronas;
• Muitas destas substâncias estão também envolvidas na regulação da velocidade de esvaziamento gástrico,
regulando os processos motores como a contração pilórica e antral.
• A presença do quimo ácido no duodeno estimula as células S, secretoras de secretina, que, além de contrair
o piloro, retardando o esvaziamento gástrico, inibe a secreção ácida por três mecanismos:
✓ inibindo diretamente as células parietais por mecanismo de downregulation do processo
secretor;
✓ (b) inibindo as células G antrais, reduzindo a secreção de gastrina;
✓ (c) estimulando a secreção de somatostatina.
• A presença de ácido no duodeno também estimula reflexos neurais que inibem a secreção das células
parietais, por mecanismos ainda pouco esclarecidos.
• Soluções hipertônicas no duodeno, além de retardarem a velocidade de esvaziamento gástrico, mediante
uma enterogastrona não identificada, inibem a secreção das células parietais;
• A presença dos produtos da hidrólise lipídica no duodeno incentiva a liberação do peptídio inibidor gástrico
(GIP). Este hormônio gastrintestinal é secretado pelas células K do duodeno e jejuno, inibindo diretamente
as células parietais e, indiretamente, a secreção de gastrina;
• O GIP tem função importante na estimulação das células β (secretoras de insulina das ilhotas pancreáticas),
em resposta à presença tanto de glicose como de ácidos graxos no lúmen intestinal, sendo também
denominado, por esta ação, peptídio insulinotrópico dependente de glicose;
• A presença de produtos da hidrólise lipídica e proteica estimula a secreção da CCK pelas células I do delgado.
Este hormônio, além de contrair o piloro, inibe a secreção ácida das células parietais;
• Outras enterogastronas inibitórias da secreção gástrica, secretadas no delgado, são: neurotensina
(secretada por células endócrinas do íleo ), peptídio YY (secretado por células endócrinas, tanto do íleo
como do cólon) e somatostatina (secretada pelas células D do estômago e do duodeno e, também, por
células das ilhotas pancreáticas).
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• Reflexos neurais enterogástricos, desencadeados no duodeno pela presença de ácido, reduzem a secreção
gástrica; as vias desses reflexos não estão ainda esclarecidas.
• Os mecanismos inibitórios da secreção gástrica estão sumarizados no Quadro 61.3. Neste contexto, serão
analisados os efeitos inibitórios da secreção gástrica pela somatostatina e pelas prostaglandinas da série
E2.
A somatostatina inibe a secreção gástrica ácida.
• A somatostatina é um polipeptídio secretado pelas células D, da base das glândulas gástricas da região do
corpo e do antro do estômago. É, também, secretada por células das ilhotas pancreáticas e por neurônios
do hipotálamo;
• Ela pode ser encontrada sob duas formas, SS-14 e SS-28.
• SS-28 é a predominante no SGI, podendo agir como um parácrino ou como um hormônio, dependendo da
região do TGI onde é sintetizada;
• No duodeno, a somatostatina funciona como um hormônio inibidor, por via sistêmica, da secreção ácida;
• No estômago, ela age por mecanismos diretos ou indiretos, ao inibir a secreção de HCL Pelos mecanismos
diretos, a somatostatina do corpo e do antro gástricos liga-se ao receptor acoplado à proteína Gαi, da
membrana basolateral das células parietais, inibindo a adenilato ciclase e antagonizando o efeito
estimulatório da histamina sobre a secreção de HCL;
• A somatostatina secretada pelas células D do corpo, localizadas próximo às células parietais, age como um
parácrino, que inibe diretamente as células oxínticas. A secretada pelas glândulas antrais age como
parácrino ou como hormônio. Entretanto, as células D antrais podem ser estimuladas, também, do seu lado
luminal e o são por abaixamento do pH intragástrico.
• Os mecanismos indiretos de ação da somatostatina são sempre parácrinos. São eles:
(a) no corpo gástrico, as células D liberam a somatostatina que inibe as células enterocromafins da
lâmina própria, secretoras de histamina, induzindo diminuição da secreção ácida pelas células
parietais;
(b) a somatostatina liberada pelas células D antrais inibe a secreção de gastrina,o que reduz a
secreção ácida;
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(c) há, também, um mecanismo de retroalimentação da gastrina liberada pela somatostatina sobre
as células D, estimulando-as.
• Assim, a somatostatina tem efeitos múltiplos sobre a inibição da secreção ácida do estômago. Além dos
anteriormente descritos, agentes colinérgicos também inibem a secreção da somatostatina, como
mostrado na Figura 61.19. Entretanto, o papel da somatostatina na regulação do pH intragástrico ainda não
está totalmente esclarecido.
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