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ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Lígia Maria Fonseca Affonso Revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira Graduada em Ciências Políticas e Econômicas Especialista em Administração Financeira Mestre em Desenvolvimento Regional Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 E37 Elaboração e implementação de políticas públicas / Guilherme Corrêa Gonçalves ... [et al.] ; [revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 324 p. il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-194-5 1. Políticas públicas. I. Gonçalves, Guilherme Corrêa. CDU 304 Déficit Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os aspectos que compõem a atividade � nanceira do Estado. Explicar o dé� cit público e sua classi� cação. Identi� car fatores implícitos na de� nição de dé� cit público e os me- canismos de � nanciamento do dé� cit. Introdução O Governo possui uma grande responsabilidade, já que uma de suas funções é oferecer à sociedade serviços públicos de qualidade nas áreas de saúde, educação, segurança, transporte e outros essenciais para o bem-estar dos cidadãos. Para arcar com esses compromissos, o Governo precisa de vários tipos de recursos, entre eles os financeiros, que arre- cada por meio da cobrança de impostos, taxas e contribuições junto à sociedade. No entanto, esses recursos estão cada vez mais escassos, e os gastos, maiores, obrigando o Governo a adotar medidas para contornar os problemas e manter suas obrigações. Neste texto, você irá estudar como se compõe a atividade financeira do Estado, o que é déficit público e sua classificação, as dimensões do déficit como características implícitas e os mecanismos de financiamento do déficit público. Atividade financeira do Estado A atividade fi nanceira do Estado diz respeito ao desempenho das atividades políticas, econômicas, administrativas, etc., que constituem sua fi nalidade fundamental. Consiste também em obtenção, criação, gestão e gasto do dinheiro necessário para atender às necessidades da população, que é de responsabi- lidade de pessoas de direito público. Quando falamos em fi nanças públicas, falamos em métodos, princípios e processos fi nanceiros por meio dos quais as três esferas de governo desempenham suas funções de alocação, distributivas e estabilizadoras (PEREIRA, 2009). Veja, a seguir, cada uma dessas funções: Função de alocação: processo que consiste na divisão dos recursos a serem utilizados no setor público e no setor privado, pelo governo, que oferece aos cidadãos bens públicos, semi-públicos ou meritórios, como rodovias, segurança, educação, saúde, etc. Função distributiva: o governo distribui rendas e riquezas para asse- gurar os direitos da sociedade destinando parte dos recursos obtidos de tributação aos serviços públicos de saúde, educação, transporte, etc., mais utilizados por indivíduos de menor renda. Função estabilizadora: o governo executa políticas econômicas, vi- sando à promoção de empregos, desenvolvimento e estabilidade, papel que o mercado não consegue por si só. Assim, os entes públicos e suas responsabilidades são determinados pela organização político-administrativa do Estado, que determina também as finanças públicas, indicando como cada ente deverá trabalhar para atingir seus objetivos, planejando, executando e prestando contas de receitas e gastos realizados pelo Estado. No Brasil, as finanças públicas são regidas pela Constituição Federal (CF), de 1988, pela Lei nº 4.320/1964 e pela Lei Complementar n° 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Essas normas definem a atuação dos Governos Federal, Estadual, Distrital e Municipal, principalmente em relação às receitas e despesas públicas que constituem o orçamento público. A atividade financeira é desenvolvida em quatro áreas: receita pública, despesa pública, orçamento público e crédito público (PEREIRA, 2009; TEI- XEIRA, 2014). A receita pública é o montante de ingressos financeiros aos cofres públicos decorrentes da instituição e cobrança de tributos, taxas, con- tribuições (receita derivada) e das que decorrem da exploração do patrimônio público (receita originária). A origem dos recursos deve ser evidenciada no orçamento público, bem como a forma como será aplicado o montante e a sua destinação, para manter os serviços públicos e para a formação do patrimônio público. Dessa forma, as receitas e despesas são classificadas em duas cate- gorias econômicas: corrente e capital. Déficit278 Receita corrente: são aquelas que alteram de forma positiva o patrimônio público, decorrentes de cobrança de taxas, exploração do patrimônio e de transferências recebidas de outras esferas de Governo para custear despesas correntes. Receita de capital: são aquelas que não alteram o patrimônio público e decorrem de alienação de bens móveis e imóveis, os empréstimos recebidos e as amortizações de empréstimos concedidos (BRASIL, 2016). A despesa pública são todos os gastos do governo ou de outra pessoa de direito público para manter os serviços públicos. As despesas correntes são aquelas referentes a gastos com salários, reforma de imóveis, manutenção de estradas, pagamento de juros das dívidas contraídas pelas três esferas de Governo, bem como as transferências realizadas para atendimento de despesas correntes de outras entidades de direito público ou privado, que não correspondam à contraprestação direta em bens ou serviços. Dessa forma, o patrimônio público é afetado de forma negativa pelos gastos públicos. As despesas percorrem seis estágios, chamados de fases das despesas, que você verá agora (RIBEIRO, [c2017]): Programação da despesa: refere-se ao primeiro estágio da despesa pública e tem por finalidade disciplinar os gastos à medida que as recei- tas vão entrando, evitando a utilização dos recursos logo nos primeiros meses do ano, causando problemas e insuficiência de caixa. Licitação: refere-se ao segundo estágio da despesa, que se inicia após a programação da despesa ser decretada, fixando cotas trimestrais de gastos. Nada no setor público pode ser adquirido, reformado ou rea- lizado sem licitação, processo administrativo que tem por finalidade verificar, entre vários fornecedores, aqueles que ofereçam preços e condições mais baixos. Empenho: refere-se ao terceiro estágio da despesa e consiste na obriga- ção de pagamento, ou seja, empenhar uma despesa consiste na emissão de um documento chamado de Nota de Empenho. Liquidação: é a verificação do direito adquirido pelo credor tomando como base os documentos que comprovam o crédito. Tem por finalidade verificar a origem e o objeto de pagamento e a quantia exata a ser paga. Para ser liquidado (pago) deve-se ter em mãos o contrato, a nota de 279Déficit empenho e o comprovante de que o serviço ou o material foi executado e entregue, respectivamente. Suprimento: estágio que se refere à entrega do pagamento, pelo te- souro Público, para os agentes públicos pagadores, ou seja, os agentes pagadores recebem o montante para liquidar os empenhos. Pagamento: último estágio da despesa, quando a dívida é liquidada, ou seja, quando o credor comparece diante do pagador e recebe seu crédito. Orçamento público é o instrumento no qual as receitas e despesas do governo são apresentadas para determinado período (um ano), e que deve ser aprovado e documentado oficialmente. Nesse documento, devem estar presentes a previsão de todas as receitas que serão arrecadadas dentro de determinado exercício financeiro e todos os gastos que foram autorizados aos governos executarem. Esse documento é obrigatório de deve ser elaborado anualmente. São instrumentos oficiais do orçamento público o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA) (INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS,2006). Crédito público é um dos meios pelo qual o Estado pode obter receita pública, seja por meio de empréstimos junto a entidades públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou internacionais ou, emitindo títulos e colocando-os junto aos tomadores privados de um determinado mercado, que também é uma forma de empréstimo público. Déficit público Você já deve ter visto em reportagens que as contas públicas não fecham. O que acontece é que o Governo tem gasto mais do que arrecada, suscitando um conceito que gera bastante confusão: o défi cit público, que vem acompanhado de adjetivos com signifi cados diferentes. Déficit público é a diferença entre todos os gastos orçamentários e todas as receitas (financeiras e não financeiras) arrecadadas pelo Governo, ou Déficit280 seja, temos déficit público quando o Governo gasta mais do que arrecada. Normalmente, o déficit é expresso como uma porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) para que possa ser comparado com o déficit de anos anteriores, entre diferentes países, além de permitir verificar o valor excedido da despesa de cada país, comparado ao valor da produção (MONTEIRO SOBRINHO; OLÍMPIO; MONOLESC, 2006). Dessa forma temos: D = Gt − Rt Onde: D = o déficit público. Gt = gastos públicos em determinado período de tempo (t). Rt = receitas públicas em determinado período de tempo (t). Para reduzir os efeitos da crise internacional, os governos implementam políticas fiscais e monetárias para aumentar sua influência econômica, levan- tando discussões sobre o aumento do déficit das contas públicas. Em 2009 o Brasil fechou o primeiro trimestre com déficit nominal de R$ 17,8 bilhões, o que na época correspondeu a 2,57% do PIB (EUZÉBIO, 2009). Na avaliação da situação financeira de um país são considerados alguns conceitos de déficit/superávit, que você verá a seguir. O déficit primário ou fiscal ocorre quando os gastos do governo são maiores que a arrecadação vinda dos impostos em determinado período. DP = Gasto fiscal > Receita total Dessa forma, o resultado primário indicará se os níveis de gastos orça- mentários do governo são compatíveis com suas arrecadações, ou seja, se as receitas não financeiras são capazes de suportar as despesas não financeiras. Veja a metodologia do cálculo acima da linha: Resultado primário = Receitas não financeiras − Despesas não financeiras 281Déficit O cálculo acima da linha é uma das duas formas de apuração dos resul- tados fiscais, e significa a diferença entre as receitas e as despesas do setor público. O resultado fiscal é apurado pela diferença entre fluxos, permitindo melhor acompanhamento da execução orçamentária por meio do controle das receitas e despesas. Receitas financeiras: são aquelas obtidas nas operações de crédito internas e externas, na aquisição de títulos de capital, de aplicações financeiras, de juros, de amortizações e do superávit financeiro. Receitas não financeiras: dizem respeito ao total da receita orçamentária menos as operações de crédito, sem o envolvimento de juros. Dessa forma, o déficit primário, que mede o desempenho fiscal, é a diferença entre as despesas e as receitas não financeiras, ou seja, ele demonstra a correta situação fiscal do governo, uma vez que permite uma simples comparação entre a receita e a despesa que o setor público tem para manter o Estado funcionando (MONTEIRO SOBRINHO; OLÍMPIO; MONOLESC, 2006). A partir do conceito de resultado primário, podemos ter as seguintes si- tuações (TEIXEIRA, 2014): RNF > DNF = Superávit primário (significa que os recursos são suficien- tes para o pagamento das despesas não financeiras e os compromissos provenientes de operações financeiras, como juros e amortizações). RNF < DNF = Déficit primário (significa que os recursos para paga- mento das despesas não financeiras são insuficientes e que há, portanto, necessidade de recorrer a operações de crédito para pagar as despesas, aumentando, então, o grau de endividamento). RNF = DNF = Resultado nulo (significa que terá recursos para o paga- mento de juros e amortização de suas operações de crédito). O déficit nominal ou total é a receita pública menos a despesa pública, incluindo os gastos que o Governo tem com juros e correção monetária de empréstimos que precisou contrair para pagar essa diferença entre gasto e receita ou vendeu títulos da dívida pública e precisa pagar juros por isso. Déficit282 DN = Receita total − Gasto fiscal + juros/cm Essa diferença é chamada de necessidade de financiamento do setor público (NFSP), ou seja, corresponde à quantidade de empréstimos aos quais o Governo precisa recorrer. Dessa forma, o resultado nominal pode ser considerado como a própria NFSP. Por meio desse cálculo, é possível identificar a necessidade ou não de empréstimos junto a instituições financeiras/ou setor privado para fazer face aos seus gastos. O resultado nominal é obtido acrescentando os valores pagos e recebidos de juros nominais (juros líquidos) obtidos de operações financeiras, ao resultado primário; observe a Tabela 1. Resultado primário +$100 Conta de juros Valores recebidos de juros nominais +$10 Valores pagos de juros nominais −$20 Resultado nominal +$90 Tabela 1. Resultado nominal. A partir do conceito de resultado nominal, você pode observar as seguintes situações (TEIXEIRA, 2014): RP > conta de juros = superávit nominal (significa que os recursos para o pagamento de suas dívidas decorrentes de operações de crédito contraídas anteriormente serão suficientes, havendo efetiva redução do grau de endividamento). RP < conta de juros = déficit nominal (o resultado primário não é sufi- ciente para cobrir os juros de operações de crédito, havendo necessidade de contrair novos empréstimos para cobrir a conta de juros). RP = conta de juros = resultado nulo (significa que a receita foi suficiente para pagar os juros das operações de crédito contraídas, e, portanto, manteve constante o grau de endividamento). Veja a metodologia para o cálculo abaixo da linha: 283Déficit Resultado nominal = (dívida fiscal líquida do exercício) − (dívida fiscal líquida do exercício anterior), sendo que, caso o resultado seja positivo = superávit, e caso negativo = déficit O cálculo abaixo da linha é a outra forma de apuração dos resultados fiscais, e significa a variação da dívida líquida total, interna ou externa do setor público. A partir dos saldos da dívida pública, é possível identificar a necessidade de financiamentos e destacar as fontes de financiamento do setor público. É por meio dos indicadores de resultado primário e resultado nominal que se pode avaliar a sustentabilidade da política fiscal de determinado governo. O déficit operacional é a necessidade de financiamento do setor público, sem os efeitos da correção monetária e cambial nas despesas e nas receitas. Portanto, o resultado operacional é o resultado nominal sem a parcela refe- rente à atualização monetária da dívida líquida. É uma medida utilizada em períodos de inflação alta, uma vez que exclui o impacto da inflação sobre a NFSP. A atualização monetária repõe a parcela do estoque da dívida que foi corroída devido à variação dos preços. Em países com inflação baixa, em que a correção monetária é pouco expressiva, esse resultado não é relevante, pois tende a ser próximo do resultado nominal (TEIXEIRA, 2014). Observe a expressão detalhada no Quadro 1. DN = G − T + rD Onde: r = taxa real de juros. D = estoque de dívida pública Fonte: Banco Central do Brasil (2016). Resultado nominal = variação da dívida fiscal líquida Resultado operacional = resultado nominal - atualização monetária Resultado primário = resultado nominal - juros nominais = resultado operacional - juros reais Juros nominais = juros reais + atualização monetária Quadro 1. Resultados nominal, operacional e primário, e juros nominais. Déficit284 O déficit orçamentário ocorre quando a despesa é maior do que receita e há diferençaentre déficit previsto no orçamento e o déficit da execução orçamentária. Já o déficit previdenciário é a diferença entre o que o Governo arrecada de contribuição para a manutenção da Previdência Social e o valor pago em benefícios. Na avaliação das contas externas, os principais conceitos são (EUZÉBIO, 2009): Déficit comercial: diferença entre a receita com exportações e os gastos com importações. Ocorre quando o país importa mais do que exporta, gerando um déficit na balança comercial. Déficit em conta corrente: considera o resultado da balança comer- cial, da balança de serviços e de transferências unilaterais, isto é, se a totalização desses resultados supera a entrada de divisas, há déficit em conta corrente. O déficit público é o excesso de gastos do governo sobre a arrecadação, estimulando a condição para que seja criada a dívida pública. No entanto, não é sinônimo da dívida, pois, pode ser financiado por meio do aumento dos tributos ou pela criação de moeda (GARSELAZ, 2000). Dimensões do déficit público: características ocultas e mecanismos de financiamento Ainda que défi cit seja gastar mais do que se arrecadar, existem certas nuan- ces que estão ocultas e que são fundamentais para determinar suas causas e avaliar a política fi scal. Veja os fatores ocultos na defi nição de défi cit (LEITE, 2000, p. 233): 1. Os métodos de financiamentos utilizados; 2. A contribuição de déficits passados para déficit atual; 3. O impacto das dívidas interna e externa sobre o déficit; 4. A necessidade de emissão de moeda; 5. O efeito da inflação sobre a receita e dispêndio do governo; 6. O efeito de variações 285Déficit na taxa de juros; 7. A cobrança de imposto inflacionário; 8. A existência de erros e omissões nas contas governamentais. Com o aumento da participação do país na atividade econômica, o dé- ficit aumenta e obriga o Governo a buscar financiamento para arcar com seus gastos. Para isso, ele pode recorrer a três procedimentos: impostos, criação de dinheiro e emissão de dívida pública (TROSTER; MOCHÓN MORCILLO, 1999). Em 2015, o setor público registrou déficit primário de R$ 111,2 bilhões (1,88% do PIB). O acumulado em 12 meses até junho de 2016 resultou em um déficit de R$151,2 bilhões (2,51% do PIB). Para 2016, de acordo com a LDO, foi previsto um déficit primário de R$ 163,9 bilhões. Observe, na Figura 1, o resultado primário do setor consolidado desde 2002. Figura 1. Resultado primário do setor público. Fonte: Banco Central do Brasil (2016). LDO: compreende as metas e as prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o próximo exercício financeiro. Orienta a elaboração da LOA, dispõe sobre as alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BRASIL, 2017). Déficit286 Apesar de os impostos serem uma forma natural de financiar os gastos públicos, apresentam limitações, pois, na existência de déficit, não são su- ficientes para cobrir os gastos e não podem ser aumentados em situação de recessão, porque isso agravaria a situação econômica do país. A criação de dinheiro é uma possibilidade para enfrentar o déficit público. No entanto, apesar de o Banco Central do Brasil (BACEN) ser o responsável pela emissão de dinheiro, essa criação não é tão simples quanto parece. Seria necessário adotar uma política monetária expansiva, que poderia acarretar efeitos contrários à economia do país, além de causar o aumento da inflação e a perda do valor do dinheiro. A emissão de dívida pública é outra possibilidade para financiar os gastos públicos. Nela, o Governo coloca a venda Letras do Tesouro Nacional (títulos de renda fixa). No entanto, essa medida pode reduzir as possibilidades de financiamento da iniciativa privada e contribuir para o aumento da taxa de juros, uma vez que os fundos financeiros não são limitados. A esse fenômeno dá-se o nome de efeito deslocamento da atividade econômica privada para o setor público. Cabe ressaltar que o déficit público causa impactos consideráveis sobre o comportamento da economia, por exemplo, efeitos sobre o produto nacional, sobre o nível de geração de empregos e de preços. Essa é uma preocupação básica da teoria macroeconômica e objeto das controvérsias existentes entre as escolas de pensamento econômico (LEITE, 2000). Na verdade, o crescimento econômico nos últimos anos ficou abaixo das expectativas, tanto nas economias avançadas como nas emergentes. Os fa- tores que impactam no desempenho econômico de todo o mundo estão mais complexos, combinando tendências demográficas, diminuição do crescimento da produção e ajustes no preço de ativos importantes. No Brasil, era esperado que a atividade econômica continuasse negativa, apesar de mais promissora do que a forte recessão verificada em 2015 (-3,7%), conforme você pode ver na Figura 2. 287Déficit Figura 2. Evolução das projeções de mercado para PIB e IPCA. Fonte: Banco Central do Brasil (2016). Há diferentes mecanismos de financiamento do déficit, os quais, de uma forma geral, geram os mesmos resultados, quando aplicados como instrumento de financiamento de uma política monetária expansionista, atendida a premissa de preços constantes. Os efeitos macroeconômicos da demanda agregada, em uma situação de déficit, dependem da própria interação entre esses elementos, isto é, a demanda e oferta agregada. Há uma corrente que defende que, como regra geral, o déficit público tenha o poder de alavancar os indicadores de produto nacional e emprego, causando, em contrapartida, a inflação. Fatores de escala quanto ao produto e ao nível geral de preços influenciam e são influenciados pelo grau de ocupação e emprego da economia, bem como da magnitude do déficit e da dívida pública. Também tem influência a reação pública à política econômica estabelecida pelo governo. Não há consenso sobre os efeitos e a influência desses fatores e suas mag- nitudes, justificando e explicando, assim, as diferentes escolas de pensamento econômico, muitas vezes conflitantes. Em 2015, o total de juros nominais que incidiram sobre a dívida líquida totalizou R$ 501,8 bilhões (8,50% do PIB). O acumulado em 12 meses até junho de 2016 totalizou R$449,2 bilhões (7,45% do PIB). Em relação às NFSP ou ao resultado nominal, somaram R$ 613,0 bilhões (10,38% do PIB), em 2015, e o acumulado em 12 meses até junho de 2016 foi de R$ 600,5 bilhões (9,96% do PIB). Na Figura 3 e na Tabela 2, você verá a evolução das NFSP, dos juros nominais apropriados e do resultado primário desde 2003. Déficit288 Figura 3. Resultado primário, resultado nominal e juros nominais – fluxos acumulados em 12 meses (até jun/16). Fonte: Banco Central do Brasil (2016). Fonte: Banco Central do Brasil (2016). 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Primário 3,69 3,74 3,15 3,24 3,33 1,94 2,62 2,94 2,18 1,72 –0,57 –1,88 (+) Juros Nominais 6,56 7,28 6,72 5,98 5,13 5,13 5,03 5,41 4,45 4,68 5,48 8,50 = NFSP 2,88 3,54 3,57 2,74 1,99 3,19 2,41 2,27 2,27 2,96 6,05 10,38 Tabela 2. Resultado primário, resultado nominal e juros nominais – fluxos acumulados em 12 meses (até jun/16). Aprofunde seu conhecimento sobre déficit e NFSP com o texto de Guimarães (1992), disponível no link ou código a seguir. https://goo.gl/qmCTjF 289Déficit https://goo.gl/qmCTjF 1. A atividade financeira do Estado diz respeito ao desempenho de atividades politicas, econômicas e administrativas e consiste também na obtenção, criação, gestão e despendimento do dinheiro, indispensável para atender as necessidades da sociedade, cuja satisfação é de responsabilidade de pessoas de direito público. Nesse contexto estão envolvidos métodos, princípios e processos financeiros por meio dos quais as três esferas de governo desempenham suas funções. O papel no qual o governo executa políticas econômicas visando a promoção de empregos, o desenvolvimento e a estabilidade, dizrespeito a que função? a) Função de obtenção. b) Função de alocação. c) Função distributiva. d) Função administrativa. e) Função estabilizadora. 2. A atividade financeira é desenvolvida em quatro áreas sendo a despesa pública, uma delas, definida como os gastos do governo ou de outra pessoa de direito público para manter os serviços públicos. A despesa pública percorre seis estágios. Como é chamado o estágio onde se verifica o direito adquirido pelo credor com base em documentos que comprovam o crédito? a) Empenho. b) Licitação. c) Liquidação. d) Programação da despesa. e) Suprimento. 3. O déficit público é a diferença entre todos os gastos orçamentários e todas as receitas financeiras e não financeiras arrecadadas pelo governo. Ou seja, o déficit público acontece quando o Governo gasta mais do que arrecada. Na avaliação da situação financeira de um país são considerados alguns conceitos de déficit. Como é chamado o déficit que corresponde à receita pública menos a despesa pública, incluindo os gastos que o governo tem com juros e correção monetária de empréstimos que precisou contrair para pagar essa diferença entre gasto e receita? a) Déficit operacional. b) Déficit nominal. c) Déficit orçamentário. d) Déficit primário. e) Déficit comercial. 4. A necessidade de o Governo recorrer a empréstimos decorre do fato de suas despesas serem maiores que sua arrecadação com tributos, taxas e contribuições. Esses empréstimos correspondem ao valor da diferença entre receita e despesa. Como é chamada essa diferença? a) Juros reais. b) Variação da dívida fiscal líquida. c) Juros nominais. d) Atualização monetária. e) Necessidade de financiamento do setor público. 5. Com o aumento da participação do país na atividade econômica o déficit aumenta e obriga o governo a buscar financiamento para arcar com seus gastos. Para isso Déficit290 existem diferentes mecanismos. Qual o mecanismo que é uma forma natural de financiar os gastos públicos mas que não são suficientes para cobrir os gastos e não podem ser aumentados em situação de recessão, pois, isso agravaria a situação econômica do país? a) Impostos. b) Criação de dinheiro. c) Aumento de preços. d) Emissão de dívida pública. e) Variações na taxa de juros. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Indicadores fiscais. Brasília, DF: GERIN, 2016. (Série Per- guntas Mais Frequentes). BRASIL. Lei nº 13.473, de 8 de agosto de 2017. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13473.htm>. Acesso em: 19 out. 2017. BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretária do Tesouro Nacional. Manual de contabilidade aplicada ao setor público. 7. ed. Brasília, DF, 2016. EUZÉBIO, G. L. Questões do desenvolvimento: os vários tipos de déficit. Desafios do Desenvolvimento, Brasília, DF, ano 6, n. 50, 2009. GARSELAZ, P. S. Dívida pública: uma abordagem teórica, um relato histórico e o caso do Rio Grande do Sul. 2000. 133 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública)–Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000. Dispo- nível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3820/000344102. pdf?sequence=1>. Acesso em: 19 out. 2017. GUIMARÃES, P. C. V. Déficit público: revisão de um debate inacabado. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 44-47, 1992. INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. O orçamento público a seu alcance. Brasília, DF: INESC, 2006. LEITE, J. A. A. Macroeconomia: teoria, modelos e instrumentos de política econômica. 2. ed. 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Dívida pública federal: relatório anual 2016. Brasília, DF, 2017. n. 14. TORMIN, S. Déficit público, dívida pública e crescimento econômico: uma análise do período pós-real. 2008. 126 f. Dissertação (Mestrado em Economia Política)–Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://livros01. livrosgratis.com.br/cp056644.pdf>. Acesso em: 12 out. 2017. Déficit292 http://livrosgratis.com.br/cp056644.pdf Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Elaboração e Implementação_U4_C22
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