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Os Processos de Licitação na Concessão de Serviços Públicos de Energia e Saneamento1 Adryson Soares2 Tiago Andreotti e Silva3 Heitor Romero Marques4 RESUMO Este trabalho sobre os processos de licitação na concessão dos serviços públicos de energia e saneamento tem a finalidade de analisar o procedimento adotado pelo Estado para conceder os serviços públicos para a iniciativa privada e qual a importância econômica que as referidas concessões acarretam para a Administração Pública. Para tanto, foram utilizados os métodos de procedimento hipotético-dedutivo e o de abordagem histórico e funcionalista, embasado em revisão bibliográfica e documental, tendo como marco teórico o estudo da história geral das licitações. Quanto aos resultados da pesquisa, averiguou-se que as análises de risco realizadas pela Administração Pública garantem a isonomia financeira do Estado, bem como asseguram a prestação dos serviços públicos com qualidade para os cidadãos brasileiros. Concluiu-se, por fim, que, a política de licitações, bem como o processo de habilitação das empresas vencedoras cumprem todos os trâmites previstos em lei. PALAVRAS-CHAVE: 1. Licitação 2. Concessão Pública. 3. Contratos. 4. Direito Administrativo. ABSTRACT This work on the bidding processes in the concession of public energy and sanitation services aims to analyze the procedure adopted by the State to grant public services to the private sector and what economic importance these concessions entail for the Public Administration. For this purpose, the methods of hypothetical-deductive procedure and the historical and functionalist approach were used, based on bibliographic and documentary review, having as theoretical framework the study of the general history of bids. As for the results of the research, it was found that the risk analyses carried out by the Public Administration guarantee the financial isonomy of the State, as well as ensure the provision of quality public services to Brazilian citizens. Finally, it was concluded that the bidding 1 Este artigo é resultado de trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica Dom Bosco, sob a orientação metodológica do Prof. Dr. Heitor Romero Marques e orientação temática do Prof. Dr. Tiago Andreotti e Silva, como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Direito da Universidade Católica Dom Bosco. 2 Graduando do 10º semestre do curso de Direito na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail: adryson.as@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0589239167649155. 3 Graduado em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco (2008), especialização em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributarios (IBET) (2009), "LL.M. in International Legal Studies" pela New York University (2010), "Master in Comparative, European and International Laws" pelo European University Institute (2011) e doutorado pelo European University Institute (reconhecido pela USP em novembro de 2016). É advogado inscrito na OAB desde 2009 e membro da Ordem dos Advogados do Estado de Nova Iorque/Estados Unidos desde 2012, atuando na área contenciosa e consultiva. E-mail: rf3614@ucdb.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5649166655994007. 4 Possui graduação em Ciencias - Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (1976), graduação em Pedagogia - Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (1981), graduação em Educação Moral e Cívica Exame de Suficiência pela Universidade Federal de Goiás (1971), graduação em Ciências de Primeiro Grau Exame de Suficiência pela Universidade Federal de Goiás (1969), Especialização em Filosofia e História da Educação (1986) - FUCMT. Mestrado Em Educação Formação de Professores pela Universidade Católica Dom Bosco (1996) e doutorado em Desarrollo Local Y Planificación Territorial - Universidad Complutense de Madrid (2004). E-mail: heiroma@ucdb.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/6681173217974714. 2 policy, as well as the qualification process of the winning companies comply with all the procedures provided for by law. 1 INTRODUÇÃO Presente no Brasil, com maior alcance, desde meados da década de 1990, as privatizações se tornaram a principal forma de conciliar a redução de gastos do Estado e a melhora na qualidade da prestação de determinados serviços. A abertura dos grandes serviços para a iniciativa privada, estabelece melhores condições das relações de consumo, bem como garante, diretamente, melhoras sociais, como a geração de empregos. Porém, para que a iniciativa privada seja justa, tanto para o Estado quanto para o contribuinte, faz-se necessário que se pratiquem as melhores tarifas para o consumidor final e os menores custos a serem repassados para o poder concedente. Daí surge a Política de Licitações, que é regida pela Lei nº 8.666/1993. Diante deste cenário, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo principal analisar em que consistem os Processos de Licitações dos serviços públicos, tais como Distribuição de Energia e Saneamento Básico, justificando, enfim, os benefícios desta modalidade de Concessão. Diante deste cenário, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo principal analisar a importância dos processos de licitação e o impacto econômico gerado com a concessão dos serviços públicos de saneamento e distribuição de energia elétrica para o Estado. Nesse ínterim, este trabalho levanta como problemática a possibilidade de irregularidades na atuação do Estado na habilitação das empresas vencedoras, sob a ótica de uma eventual concessão a uma empresa privada que não preencha todos os requisitos previstos no processo de licitação. Desse modo, para o estudo do tema, será utilizado o método de procedimento hipotético-dedutivo, pelo qual serão analisadas as habilitações das Concessionárias de Saneamento e Distribuição de Energia Elétrica da cidade de Campo Grande, Águas Guariroba S.A. e Energisa Distribuidora de Energia S.A., respectivamente, com ênfase nos requisitos que as garantem legalmente habilitadas. Será utilizado, também, o método de procedimento auxiliar histórico, realizando-se uma análise da história das parcerias público-privadas (PPP’s) em geral. 3 Desta forma, o primeiro item está reservado em apresentar o conceito de licitação e os principais tipos de editais deste procedimento. O segundo item, por sua vez, é destinado ao resgate histórico que norteiam as Parcerias Público-Privadas e a importância da iniciativa privada nos serviços públicos do Brasil. Por fim, o terceiro e último item tem o propósito de realizar uma análise prático- jurídica da atuação da Águas Guariroba S.A e Energisa Distribuidora de Energia S.A, a partir dos termos dos contratos de concessão, as quais são partes ativas.. 2 AS LICITAÇÕES Para que se torne possível a compreensão dos processos licitatórios e a importância econômica que a concessão de serviços públicos gera ao Estado, faz-se necessário desenvolver a compreensão da origem, contexto histórico, aplicabilidade e atribuições legais das licitações. 2.1. O que é uma Licitação? Regulamentada pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a licitação é um processo de competência exclusiva da Administração Pública que, a partir dos requisitos predeterminados em edital, analisa as propostas para a aquisição de bens, produtos ou, ainda, para a concessão de serviços de titularidade do Estado. O art. 3º da lei supracitada conceitua a licitação como: “Art. 3º. A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, dojulgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.” A Lei de Licitações tem como objetivo, também, impedir os favorecimentos que sejam ilegítimos, ou seja, afasta a possibilidade de prejuízos dos interesses públicos, garantindo a idoneidade dos investimentos de recursos públicos. Marcos Maia (2012, p. 7), ex-presidente da Câmara do Deputados, manifesta que: “Pela licitação, os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, que são impositivos para a administração pública, ganham concretude, inibindo desvios criminosos de 4 recursos públicos e assegurando o atendimento adequado do cliente primordial do Estado, que é o cidadão-contribuinte.” Já o doutrinador Meirelles (2013, p.45), conceitua licitação da seguinte forma: “Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Visa a proporcionar iguais oportunidades aos que desejam contratar com o Poder Público, dentro dos padrões previamente estabelecidos pela Administração, e atua como fator de eficiência e moralidade nos negócios administrativos.” Em outras palavras, a Licitação é um processo pelo qual o Estado analisa as propostas realizadas pelas empresas privadas participantes, com o intuito de adquirir determinado produto a ser pago com dinheiro público, ou concedendo a operação e exploração de determinado serviço de titularidade do Estado, garantindo a máxima integridade com os termos da lei, assegurando, assim, a correta aplicação das verbas públicas, reafirmando, assim, o regime político democrático, uma vez que assegura a todos os interessados, sem distinção, a liberdade de participar de forma igualitária de processos destinados à aquisição de bens e produtos ou serviços concedidos pela Administração Pública. 2.2 As principais modalidades de Licitação A licitação pode ocorrer de diversas formas, de acordo com a finalidade, urgência, tipo de procedimento e valor do contrato a ser firmado. Desta forma, os processos licitatórios, de acordo com o ordenamento jurídico, são divididos em 5 (cinco) modalidades principais. A primeira modalidade é a Licitação por Concorrência, que é definida pelo artigo 22, §1º da Lei nº 8.666/93, como: “§ 1º Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.” A Concorrência pode ocorrer de forma ampla, uma vez que a participação é assegurada a qualquer interessado, desde que este seja apto a comprovar o cumprimento dos requisitos mínimos para a qualificação exigida pelo edital. O julgamento é realizado por comissão, sendo admitida a pré-qualificação dos licitantes e abrange qualquer tipo de licitação. A segunda modalidade a ser mencionada é a Licitação por Tomada de Preços, definida através do artigo 22, §2º da Lei 8.666/93, como: “§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação.” 5 A Tomada de Preços ocorre de forma mais restrita, em detrimento à Concorrência, uma vez que se exige que os participantes interessados estejam previamente cadastrados ou, ainda, que as interessadas que porventura cumpram com todos os requisitos exigidos para o cadastramento até o terceiro dia anterior ao da data de recebimento das propostas. Apesar da necessidade do cadastramento, a Tomada de Preços é uma modalidade mais ágil que a Concorrência e conta com grande publicidade. A terceira modalidade licitatória a se apresentar é o Convite, que é regulamentada pelo art. 22, §3º da Lei 8.666/93, como: “§ 3º Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.” Dentre as modalidades de licitação, o Convite é o responsável para os contratos de menor valor. Por essa razão, essa modalidade é menos completa e de conclusão mais rápida, possuindo uma publicidade reduzida. Para a sua realização, a Unidade da Administração Pública convida, ao menos, 3 (três) interessados, sejam eles cadastrados ou não, afixando uma cópia do instrumento convocatório. Caso haja novos interessados que não tenham sido convidados, mas tomaram conhecimento do processo, estes deverão se manifestar pelo interesse com antecedência mínima de 24 horas para a apresentação das ofertas. A quarta modalidade de licitação prevista pela Lei 8.666/93 é o Concurso, regida pelo art. 22, §4º, como: “§ 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.” A modalidade de Concurso é o processo licitatório específico para o desempenho de trabalhos intelectuais, sejam eles de formato artístico, técnico ou científico, podendo gerar prêmios ou remuneração aos vencedores do processo. Os prêmios podem ser bens economicamente mensuráveis ou demais premiações de qualquer natureza. Diferentemente das demais modalidades, em decorrência da necessidade de avaliação técnica dos trabalhos concorrentes, o antecedência entre a apresentação dos trabalhos a serem avaliados e a conclusão do certame é de 45 dias. Por fim, a quinta e última modalidade licitatória é o Leilão, tipificada no art. 22, §5º da Lei 8.666/93, como: 6 “§ 5o Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.” A modalidade licitatória do Leilão tem por objeto a venda de bens móveis que não possuem qualquer utilidade à Administração Pública, de produtos e bens legalmente apreendidos ou penhorados (como exemplo, os lotes de leilão realizados com os veículos apreendidos no DETRAN dos Estados) ou, ainda, bens imóveis que foram alienados. Sua característica que mais difere das demais modalidades se refere a forma como é declarado o vencedor. Enquanto nas modalidades supracitadas o vencedor é declarado por apresentar a menor proposta, nesta vence quem apresentar o maior lance, sendo que o valor deve ser igual ou superior ao valor de avaliação do bem. Há, ainda, uma modalidade não-prevista na Lei 8.666/93, que é a modalidade do Pregão, que foi instituída através da Lei nº 10.520/2002, posteriormente regulamentada através dos Decretos nº 3.555/00 e 5.450/05. Nesta modalidade, os bens e serviços são adquiridos através de propostas ou lances sucessivos, realizada em uma sessão pública, podendo ser presencial ou eletrônica. Obrigatoriamente faz-se necessária a presença de um pregoeiro e equipes de apoio. 3 A INICIATIVA PRIVADA E AS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NO BRASIL Para uma coerente análise do contexto dos processos licitatórios, é necessário compreender a importância da Iniciativa Privada e das Parcerias Público-Privadas. Assim, através do conhecimento da participação privada na Administração Pública, tornar-se-á possível analisar a importância para o equilíbrio econômico quea privatização traz ao Estado e os benefícios garantidos tanto para as empresas privadas, quanto para os cidadãos. 3.1 A Iniciativa Privada no Brasil x Privatização Antes de se levantar o debate sobre a importância da iniciativa privada na administração pública, deve-se compreender as diferenças entre iniciativa privada (prestação de serviços) e a privatização, pois são termos que se assemelham visualmente, mas que são procedimentos completamente distintos. A privatização consiste na venda de empresas públicas para o setor privado, ou seja, a administração pública deixa de ser a proprietária desta empresa, que passará a ser regida estritamente pelo regime privado. Exemplifica-se como privatização, os leilões realizados 7 pelos principais aeroportos do Brasil, como Confins (Belo Horizonte/MG), Galeão (Rio de Janeiro/RJ) e Guarulhos (São Paulo/SP), dentre muitos outros, os quais não são mais administrados pela Infraero, mas por empresas privadas que não possuem quaisquer ligações com a administração pública. Além dos aeródromos, seguem também como exemplos de privatização a Companhia Vale do Rio Doce (Vale), Embraer, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Light Distribuidora de Energia (RJ), Usiminas, Telebras e Banespa, todas essas empresas públicas que foram vendidas para o regime privado e que não faz mais parte da administração pública. A iniciativa privada, em contrapartida, consiste na concessão de serviços públicos para a operação privada, ou seja, companhias privadas detém a operação e exploração das atividades econômicas, mas são regidas pela administração pública. Sua operação é realizada seguindo trâmites legais de Direito Público. Para Nassif (2013, p. 1): “A utilização de ferramentas de gestão de um setor por outro (do privado ao público e deste ao privado) é antiga, embora ocultada quando o assunto é a importância do Estado à iniciativa privada, caso, por exemplo, do planejamento e mesmo do papel estatal como protetor do capital privado em inúmeras guerras travadas ao longo da história.” Exemplifica-se, como modelos de iniciativa privada na administração pública, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a Metrô (SP), a ViaQuatro (SP), a EMTU (Empresa Municipal de Transportes Urbanos), a Sabesp (SP), a Enel (GO), a Energisa, a Águas Guariroba, essas duas últimas atuantes em nosso estado de Mato Grosso do Sul. 3.2 As Parcerias Público-Privadas As Parcerias Público-Privadas (PPP’s) são contratos firmados entre o setor privado e a administração pública, onde o parceiro particular (privado) assume a responsabilidade de disponibilizar à administração pública e/ou à população abrangida determinado tipo de serviço, através da operação e/ou manutenção de obras por ele financiadas. Por parte do Estado, cabe a esta remunerar o parceiro privado periodicamente, à medida que os serviços ou obras avançam para a conclusão. Conceitualmente, essas parcerias são definidas pelo art. 2º da Lei Federal nº 11.079/04: “Art. 2º. Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa.” Para Marçal Justen Filho: 8 “Parceria público-privada é um contrato organizacional, de longo prazo de duração, por meio do qual se atribui a um sujeito privado o dever de executar obra pública e (ou) prestar serviço público, com ou sem direito à remuneração, por meio da exploração da infraestrutura, mas mediante uma garantia especial e reforçada prestada pelo Poder Público, utilizável para a obtenção de recursos no mercado financeiro.” Esse tipo de parceria é regida através de alguns preceitos que devem ser seguidos, tais como, garantir a incorporação de capital adicional, fornecimento de capacidades alternativas de implementação e gestão, desenvolvimento para identificar necessidades e otimizar o uso dos recursos, bem como acrescentar valor ao consumidor e à população. Os principais modelos de Parcerias Público-Privadas praticados no Brasil podem ser exemplificados nas áreas de saneamento (quando uma empresa privada assume parte da operação de obras – esgotamento sanitário, por exemplo), energia elétrica e, o exemplo mais notório, as autoestradas, cuja parceria garante às empresas privadas a implantação de praças de pedágio, à medida que as obras de duplicação e conservação das rodovias são concluídas. Não obstante, as Parcerias Público-Privadas, em um momento mais recente, passou a ter apelo estratégico por parte da administração pública, uma vez que, com a rotina diária a encargo do parceiro privado, o Estado agirá como regulador, podendo concentrar os esforços no planejamento e desempenho do serviço, em detrimento da gestão diária da operação, otimizando, assim, os processos de conclusão. 4 OS CONTRATOS DE CONCESSÃO – ANÁLISE PRÁTICO-JURÍDICA Uma vez compreendida a diferença entre a iniciativa privada na administração pública, privatização e parcerias público-privadas, e assimilando que a concessão de serviços públicos advém da iniciativa privada, serão analisados os contratos de concessão dos serviços de Abastecimento de Água, Coleta e Tratamento de Esgoto da cidade de Campo Grande/MS (Concessão Municipal) e de Distribuição de Energia Elétrica do Estado do Mato Grosso do Sul (Concessão Federal). 4.1 Energisa Distribuidora de Energia S.A. – Contrato de Concessão n. 01/1997 - ANEEL No dia 04 de dezembro do ano de 1997, fora publicado no Diário Oficial da União o Contrato de Concessão para o Serviço Público de Distribuição de Energia Elétrica para os 72 (setenta e dois) municípios do Estado do Mato Grosso do Sul, tendo como Poder Concedente 9 a União, por intermédio da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, como Concessionária a ENERSUL – Empresa Energética de Mato Grosso do Sul S.A., pessoa jurídica de direito privado e como Estado, o Estado de Mato Grosso do Sul. O objeto do referido contrato fora previsto na Cláusula Primeira, conforme transcrição: “Este Contrato regula a exploração dos serviços públicos de distribuição de energia elétrica objeto da Concessão de que é titular a CONCESSIONÁRIA, discriminada no Anexo I, reagrupada em conformidade com a Portaria DNAEE nº 476, de 17 de novembro de 1997, publicada no Diário Oficial da União de 18 de novembro de 1997 e outorgada pelo Decreto de 03 de dezembro de 1997, publicado no Diário Oficial da União de 04 de dezembro de 1997.” O Contrato de Concessão celebrado garantia à ENERSUL a exploração dos serviços de distribuição de energia elétrica em todo o território do estado do Mato Grosso do Sul, bem como as instalações de transmissão localizadas em todas as regiões do Estado, com prazo de concessão de 30 (trinta) anos, contados à partir da data da celebração do contrato. Dentre os pontos centrais do contrato de concessão dos serviços de distribuição de energia elétrica celebrado junto à ENERSUL, o referido contrato não previa o direito de exclusividade da Concessionária em referência aos consumidores, uma vez que estes poderiam usufruir deste serviço a partir da aquisição por outros fornecedores, ou seja, assegurava ao consumidor o direito de adquirir energia elétrica através de outras fontes geradoras, como energia solar, termoelétrica, entre outras. Após a celebração deste contrato inicial, no ano de 1997, foram realizados 6 aditivos contratuais, nos anos de 2005, 2008, 2009, 2010, 2014 e 2015, todas discorrendo sobre alterações na estrutura de reajuste tarifário aos usuários, adequando-se às legislações vigentes em cada época, sendo esta última, com a alteração da empresa responsável pela exploração das atividades de distribuição de energia no estado. Em 31 de agosto de 2012, em reunião extraordinária, a Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL, decretou a intervenção da companhia ENERSUL, com fulcro nas disposições da Medida Provisória nº 577/2012,que regulava sobre a extinção da concessão de serviços de distribuição de energia elétrica, em caso de manifesto descumprimento dos termos contratuais e/ou incompatibilidade financeira da companhia. “REDE ENERGIA, CELPA, CEMAT e ENERSUL informam a seus acionistas e ao mercado que, em reunião extraordinária realizada em 31.08.2012, a ANEEL decretou intervenção nas companhias concessionárias de serviços de distribuição de energia elétrica Centrais Elétricas Matogrossenses S.A. – Cemat, Companhia de Energia Elétrica do Estado do 10 Tocantins - Celtins, Empresa Energética do Mato Grosso do Sul - Enersul, Companhia de Força e Luz do Oeste - CFLO, Caiuá Distribuição de Energia S.A., Elétrica Empresa Elétrica Bragantina – EEB S.A., Energia de Distribuição de Energia Vale Paranapanema S.A. e Companhia Nacional de Energia Elétrica – CNEE, todas controladas da Rede Energia S.A. (“Rede”). A forma de divulgação da pauta dessa reunião não permitiu a prévia ciência dos assuntos que seriam nela tratados. As intervenções decretadas são regidas pela Medida Provisória n.º 577, publicada em 30 de agosto de 2012. A administração analisará as medidas cabíveis para proteção dos interesses da companhia e manterá os acionistas e o mercado informados a esse respeito, na forma da legislação.” Desta forma, a ANEEL passou a exercer, provisoriamente, a prestação dos serviços no estado do Mato Grosso do Sul, até que fosse destinada a nova detentora desta concessão. No dia 02 de fevereiro de 2015, a ENERSUL altera sua razão social, após a sua venda para o grupo Energisa, passando a se chamar Energisa Mato Grosso do Sul – Distribuidora de Energia S.A. e, em 23 de dezembro de 2015, a ANEEL retifica os termos do Contrato de Concessão nº 01/1997, manifestando o fim da intervenção da prestação dos serviços de distribuição de energia no estado do Mato Grosso do Sul, admitindo a Energisa como nova concessionária dos serviços e habilitando-a a imediata prestação das atividades de exploração. A Energisa Mato Grosso do Sul, no ato de sua constituição, declarou um capital social no montante de R$595.649.567,62 (quinhentos e noventa e cinco milhões, seiscentos e quarenta e nove mil, quinhentos e sessenta e sete reais e sessenta e dois centavos), que foram divididas em 63.116.354.043 (sessenta e três bilhões, cento e dezesseis milhões, trezentos e cinquenta e quatro mil e quarenta e três) ações ordinárias, estando, assim, habilitada aos serviços públicos de distribuição, a qual detém a atual concessão do estado, com contrato vigente até 04 de dezembro de 2027. 4.2 Águas Guariroba S.A. – Contrato de Concessão n. 104/2000 – PMCG Vencedora do certame do Edital de Concorrência nº 13/1999, a Águas Guariroba S.A., pessoa jurídica de direito privado celebrou, no dia 18 de outubro de 2000, o Contrato de Concessão dos Serviços Públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário na cidade de Campo Grande/MS, em substituição à Companhia de Saneamento de Campo Grande – Águas de Campo Grande e, anteriormente, à SANESUL/Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. 11 O valor previsto para a concessão no Edital de Concorrência era de R$ 382.705.697,84 (trezentos e oitenta e dois milhões, setecentos e cinco mil, seiscentos e noventa e sete reais e oitenta e quatro centavos). Além desse valor, a concessionária vencedora seria incumbida de assumir o pagamento dos valores das dívidas do Sistema de Abastecimento, contraídas para realizar obras e investimentos, na ordem de R$ 42.794.665,65 (quarenta e dois milhões, setecentos e noventa e quatro mil, seiscentos e sessenta e cinco reais e sessenta e cinco centavos), a título de empréstimos em moeda nacional e R$ 35.838.650,14 (trinta e cinco milhões, oitocentos e trinta e oito mil, seiscentos e cinquenta reais e quatorze centavos) a título de empréstimos em moedas estrangeiras. Não obstante, exigia-se, ainda, um valor referencial de, no mínimo, R$ 250.000.000,00 (duzentos e cinquenta milhões de reais) para a realização de investimentos O Contrato de Concessão para o Serviço Público de Abastecimento de Água, Coleta e Tratamento de Esgoto de Campo Grande/MS foi publicado no Diário Oficial do Município em 18 de outubro de 2000, passando a vigorar a partir de 01 de janeiro de 2001, com prazo de vigência de 30 (trinta) anos, prorrogáveis por outros 30 (trinta), em caso de interesse mútuo. Os signatários do referido contrato foram a Prefeitura Municipal de Campo Grande, representada pelo então prefeito André Puccinelli, como Poder Concedente e a empresa Águas Guariroba S.A., representada pelo então diretor de administração e finanças, Carlos Clementino Moreira Filho e pelo então diretor de qualidade e expansão, Nereu Fontes, denominada Concessionária. O objeto do contrato fora determinado na cláusula primeira, conforme transcrição: “Constitui objeto do presente Contrato a exploração dos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário em toda área territorial do Município de Campo Grande, sob o regime de concessão, mediante pagamento da outorga onerosa e em consonância com as disposições da Legislação em vigor, assim como do Regulamento da Concessão e demais atos inerentes à matéria.” Em sua cláusula segunda, foi pactuado que o valor do Contrato seria de R$ 417.210.008,95 (quatrocentos e dezessete milhões, duzentos e dez mil e oito reais e noventa e cinco centavos), ou seja, R$ 34.504.311,11 (trinta e quatro milhões, quinhentos e quatro mil, trezentos e onze reais e onze centavos) acima do valor previsto no Edital n. 13/1999. Após a assinatura do Contrato de Concessão, no decorrer dos anos seguintes, já com a operação da Águas Guariroba, foram pactuados 8 (oito) termos aditivos ao Contrato, adequando a operação da concessionária às estruturas tarifárias, uma vez que as metas 12 estabelecidas no Edital de Concorrência, prevendo os prazos de entrega das obras de melhorias evoluíram em velocidade muito superior às previstas no edital. Os aditivos foram elaborados, respectivamente, em 2000, 2009, 2012 (3º, 4º e 5º Aditivos - onde passou a ter a interveniência da Agência Municipal de Regulação – AGEREG), 2014, 2018 e 2019. Dentre os aditivos contratuais, cabe destacar o 7º termo aditivo, pactuado em 19 de dezembro de 2018, o qual alterou a estrutura tarifária para a cobrança da população. Com esta, houve a extinção da cobrança da tarifa mínima de 10m³, a qual o usuário que consumisse até este volume ou menos, desembolsava uma tarifa única. Com essa extinção, foi instituída uma nova tarifa, denominada tarifa fixa, que inicialmente teria o valor de R$12,00 e a cobrança de consumo seria realizada conforme o consumo real do usuário. Este aditivo previa, ainda, o realinhamento tarifário dos 3 (três) anos subsequentes, na proporção de 3,9% sobre a estrutura tarifária nos anos de 2019 e 2020, e 3,6% no ano de 2021, acrescida do reajuste comum, com base no índice IGP-M. 5 CONCLUSÃO Os elementos destacados nesta pesquisa proporcionam, tanto à comunidade acadêmica quanto à sociedade brasileira em geral uma explanação detalhada de um procedimento que se interliga diretamente com o cotidiano do cidadão, mas que se torna pouco difundida, dada a proporção de complexidade que possui. A política de licitações tem por objetivo central promover a aquisição de bens e produtos ou conceder a exploração de serviços delegados pelo Estado à iniciativa privada. Dentre os produtos e bens que passam pelo processo licitatório para aquisição, podemos elencar a confecção de uniformes para as escolas de ensino público, a aquisição de alimentos para abastecer os refeitórios de quaisquer departamentos públicos, a aquisição e instalação de leitos de UTI em hospitais públicos, dentre outros. Sob outra ótica, alguns serviços de responsabilidade do poder público são delegados à iniciativa privada, tais comoa concessão de serviços de transporte coletivo (ex: EMTU/SP, Consórcio Guaicurus/MS), administração de transportes sobre trilhos de passageiros ou cargas (ex: CPTM/SP, Metrô/SP), exploração e distribuição de energia elétrica (Energisa Brasil, Tractebel, Light), abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto (AEGEA, CESAMA, Caesb), dentre outros serviços concedidos pelos governos locais à prática privada. Fez-se necessário, ainda, diferenciar a concessão de serviços públicos à iniciativa privada do processo de privatização, bastante difundida neste novo momento nacional. A 13 primeira garante o Estado como controlador dos serviços, apenas delegando às operações às empresas privadas, mas a titularidade sobre este serviço permanece sendo do Estado, que passa a exercer somente as funções de controle e fiscalização sobre os serviços. Em contrapartida, a segunda consiste na venda definitiva de um serviço que era de titularidade do Estado para uma empresa privada, mediante leilão. O exemplo mais claro de privatização, sob a ótica atual é a venda dos principais aeroportos brasileiros para a administração total privada. Em breve síntese, foi apresentada uma análise do Contrato de Concessão dos serviços de distribuição de energia elétrica no Estado de Mato Grosso do Sul, concedida pela ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, por força do Contrato de Concessão n. 01/1997, inicialmente, para a empresa ENERSUL, no ano de 1997, sendo que esta operou até o ano de 2012, quando, por descumprimento de termos contratuais, foi intervencionada pelo poder concedente. Após a compra da ENERSUL pela empresa Energisa e a reabilitação das operações pela ANEEL, a Energisa passou a deter a concessão do serviço de distribuição de energia elétrica no Mato Grosso do Sul, com contrato de concessão vigente, no atual momento, até dezembro do ano de 2027. Sob outra ótica, foi analisado o processo licitatório que habilitou a Águas Guariroba S.A., como concessionária dos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário, a partir do Edital de Concorrência n. 13/1999, que deu origem ao Contrato de Concessão n. 104/2000, habilitando a exploração dos serviços de saneamento à empresa, no município de Campo Grande. Destacou-se ainda, algumas alterações contratuais (termos aditivos) que ocorreram durante a vigência do contrato, sobretudo quanto à alteração na estrutura tarifária sobre a cobrança nas faturas dos usuários, com a extinção da tarifa mínima de consumo, a partir do ano de 2019. Desse modo, e com base nos processos reais analisados neste trabalho, conclui-se que os processos licitatórios garantem à sociedade em geral, a segurança de que os investimentos públicos sejam aplicados de forma ordenada, prezando pela melhor tarifa de aquisição, nos casos de aquisição de bens e produtos e asseguram as melhores condições na prestação de serviços públicos, bem como justa modicidade de tarifas, quando se trata de concessão desses serviços. Ainda assim, cabe ao Estado (Poder Concedente) a responsabilidade integral de fiscalizar as operações desses serviços e destinar, da melhor forma possível, a realocação das verbas economizadas aos demais setores do serviço público, como saúde, educação, moradia e demais setores imprescindíveis à subsistência humana. 14 6 REFERÊNCIAS BITTENCOURT, Sidney. Licitação passo a passo: comentando todos os artigos da Lei nº 8.666/93 totalmente atualizada. Belo Horizonte: Fórum, 2019. 875p. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. BRASIL. [Contrato de Concessão n. 1 (1997)]. Contrato de Concessão que entre si celebram a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e a Empresa Energética de Mato Grosso do Sul (ENERSUL). Brasília, 1997. BRASIL. [Decreto de Intervenção (2012)]. Fato Relevante: a ANEEL decreta intervenção nas companhias concessionárias de serviços de distribuição de energia elétrica. Brasília, 2012. BRASIL. [Lei de licitação (1993)]. Legislação sobre licitações e contratos administrativos [recurso eletrônico]. – 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2012. 104 p. – (Série legislação ; n. 88) CAMPO GRANDE. [Edital de Concorrência n. 13 (1999)]. Edital de Concorrência nº 13/1999 – PMCG: Campo Grande: 229p, 1999. CAMPO GRANDE. [Contrato de Concessão n. 104 (2000)]. Contrato de Concessão que entre si celebram a Prefeitura Municipal de Campo Grande e a Empresa Águas Guariroba S.A: Campo Grande: 29p, 2000. CASTRO, Rodrigo Pironti Aguirre de; ZILIOTTO, Mirela Miró. Compliance nas contratações públicas: exigência e critérios normativos. Belo Horizonte: Fórum, 2019. 195 p. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002, pp. 17 – 29. JACOBY FERNANDES, Jorge Ulisses. Lei no 8.666/1993: Lei de Licitações e Contratos Administrativos e outras normas pertinentes. 20. ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2020. 625 p. JACOBY FERNANDES, J U. Contratação direta sem licitação: dispensa de licitação: inexigibilidade de licitação: procedimentos para a contratação sem licitação; justificativa de preços; inviabilidade de competição; emergência; fracionamento; parcelamento; comentários às modalidades de licitação, inclusive o pregão: procedimentos exigidos para a regularidade da contratação direta. 10. ed. rev. atual. ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2016. 697 p. (Coleção Jacoby de Direito Público; v. 6). NIEBUHR, Joel de Menezes; NIEBUHR, Pedro de Menezes. Licitações e Contratos das Estatais. Belo Horizonte: Fórum, 2018. 325 p. NIEBUHR, Joel de Menezes. Pregão presencial e eletrônico. 8. ed. rev., ampl e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2020. 412p.
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