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Para quem, segurando minha mão, conduzia-me até a escola. Aos meus pais, Nelso (in memoriam) e Lucia, e à minha avó Carolina (in memoriam); DEDICO. AGRADECIMENTOS As palavras aqui registradas são derivadas dos meus sentimentos durante a jornada acadêmica que serviu de base para a publicação deste livro. Neste sentido, os meus sinceros agradecimentos são para... Michelle, minha amada e linda esposa, com especial carinho e reconhecimento por toda paciência, ajuda e suporte, confiança, além do exemplo profissional e de todo amor; Lucia, minha “lutadora supermãe”, assim como familiares e amigos, que de alguma forma contribuíram para a realização do livro; a Prof.ª Marilita Gnecco de Camargo Braga, Ph.D., que pacientemente me orientou no desenvolvimento da pesquisa e elaboração do texto acadêmico, e para os professores e colaboradores do curso de Mestrado em Engenharia de Transportes (PET) da COPPE/UFRJ, por todo conhecimento compartilhado e apoio sempre fraternal; o amigo Wallace A. Santos, que ombreou comigo na realização das atividades regulatórias durante todo o período de minha pesquisa e redação, e que me presenteou com suas palavras no prefácio desta obra; os demais colegas e colaboradores da hoje extinta ASEP-RJ, que seguiram a diante na AGETRANSP e AGENERSA, e que me deram força e apoio durante a minha jornada acadêmica; a equipe da Editora Dialética, que valorizou o meu trabalho acadêmico e apresentou a oportunidade e meios para a publicação do livro. APRESENTAÇÃO A primeira coisa que me vem à mente ao pretender apresentar este livro para você é o fato de que o recebimento do convite vindo da editora Dialética para sua publicação foi para mim uma enorme surpresa. Foi uma surpresa não por eu considerar o tema nele abordado pouco relevante ou desinteressante, algo que de fato não considero. Mas porque o trabalho acadêmico que originou o convite data de 2006, quatorze anos já passados até o momento que escrevo estas palavras. E neste sentido, questionei-me se o seu conteúdo poderia ser considerado desatualizado e por isso menos relevante neste momento em que é trazido até você. E pensando dessa maneira, entendi que para aceitar a empreitada proposta, necessitaria pesquisar a situação atual de tudo aquilo que serviu de base para o trabalho de pesquisa passado, para certificar-me que as informações, análises e conclusões nele apresentadas permanecem válidas, relevantes e, portanto, úteis para sua leitura e estudo no cenário atual. É interessante também mencionar que entre os anos de 2002 e 2007 estive diretamente envolvido com a regulação de serviços de transporte público no estado do Rio de Janeiro, realizando atividades relacionadas aos modais de transporte rodoviário, ferroviário, metroviário e aquaviário, e mais efetivamente com os serviços prestados por empresas concessionárias de rodovias, e assim com a avaliação da qualidade de seus serviços. Essas atividades práticas profissionais me motivaram a pesquisar, e assim elaborar trabalhos acadêmicos com vistas ao aperfeiçoamento do processo regulatório no qual participava da elaboração e realização. E agora, com uma nova motivação, a de poder trazer para você as informações que acessei, analisei e que considerei aplicáveis aos processos para avaliação da qualidade de serviços prestados nas rodovias, busquei revisitar as fontes que utilizei na pesquisa acadêmica, visando a levantar as informações e dados atuais para realizar uma análise comparativa entre estes e aqueles contidos na pesquisa original. Conforme fora inicialmente apontado no texto de 2006, a limitação histórica e cumulativa de investimento por parte dos vários níveis de governo e, portanto, a falta de recursos destinados à manutenção e expansão do sistema rodoviário no Brasil, teve como maior consequência a deterioração da qualidade das rodovias. Infelizmente, ao se buscar uma “fotografia” da situação atual, verifica-se que aquele processo teve continuidade e, por isso, ainda se constata a necessidade de se encontrar solução definitiva para a condição precária do sistema rodoviário brasileiro. Esforços são verificados neste exato momento, mas a situação econômica e fiscal do país são entraves ainda presentes. Conforme a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, a mais recente, realizada em 2019 (CNT, 2019), “a falta de investimentos implica piores condições das rodovias, o que, combinada ao crescente volume de tráfego, favorece o aumento do número de acidentes, com impactos preocupantes para a sociedade e para o poder público”. Nessa pesquisa, onde foram avaliados 108.863 quilômetros de rodovias pavimentadas, relativos à “totalidade das rodovias federais e trechos estaduais considerados estratégicos para a movimentação de cargas e passageiros pelo território brasileiro”, é informado que entre as rodovias federais, desde 2009, houve crescimento de 6,7% da extensão pavimentada, porém ao longo dos anos “as condições das rodovias pavimentadas avaliadas não se encontram satisfatórias. Tal fato reflete no resultado do ranking de competitividade global do Fórum Econômico Mundial”, onde “o Brasil foi classificado na 93ª posição, entre 141 países, com relação à variável Rodovias, ficando atrás de outros países da América Latina” (CNT, 2019). Quanto à caracterização da malha rodoviária brasileira, os números sofreram algumas alterações desde 2006. Apesar de ainda somar pouco mais de 1,7 milhões de quilômetros de extensão, conta agora com 213.453 quilômetros de rodovias pavimentados, correspondentes a algo em torno de 12,4% da extensão total. Mas, voltando a comparar essas extensões entre si e com o índice de pavimentação de outros países de extensão territorial semelhante ou mesmo com a de outros países da América Latina, os números das rodovias nacionais permanecem pouco relevantes. Vejamos, considerando a “densidade da malha rodoviária pavimentada (valores em km/1.000 km2)” de cada país a seguir: China – 452,1; Estados Unidos – 437,8; Rússia – 54,3; Uruguai – 43,9; Argentina – 42,3; Canadá – 41,6; Equador – 28,8; e Brasil – 25,1. E além do baixo índice de pavimentação, segundo a última pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2019), 59% dos quase 109 mil quilômetros de rodovias brasileiras analisados foram considerados inadequados segundo o “Modelo CNT de Classificação”. Essa grandeza não é nada alentadora, porém, passados quinze anos, significa ter havido melhora em relação aos 74,7% de 110 mil quilômetros de rodovias analisados em 2004, então considerados em condições deficientes, ruins ou péssimas (CNT, 2004). Em 2006 foi salientado que, visando a solucionar o problema das rodovias brasileiras, “a proposição adotada pela União e por diversos estados, desde a década de 1990, foi a concessão à iniciativa privada dos serviços de recuperação, operação e manutenção das rodovias”. Verifica-se que este tipo de estratégia de gestão pública ganhou corpo e é mantido ainda hoje, uma vez que, segundo dados da pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2019), no modal rodoviário, que é responsável pelo transporte de aproximadamente 61% das mercadorias e 95% dos passageiros, “as concessões garantem a realização de investimentos contínuos e um nível de serviço adequado aos usuários”. Na Pesquisa CNT de Rodovias (2019) é destacado que “os trechos concedidos têm apresentado, continuamente, melhores resultados na avaliação”, comprovando “a efetividade de se investir na manutenção e na adequação da capacidade das vias”. A Confederação Nacional de Transportes ainda adverte que, no contexto geral onde se vê a “redução da qualidade das rodovias brasileiras e diante de uma significativa restrição orçamentária dos entes públicos, (...) a solução para os problemas logísticos nacionais passa, necessariamente, pela maior participação da iniciativa privada na oferta dos serviços de infraestrutura rodoviária. Todavia, ressalva a necessidade de uma revisão do modelo de concessões com incremento de rigor técnico de modo a garantir a viabilidadefinanceira e a exequibilidade dos contratos sem, entretanto, comprometer a qualidade da rodovia” (CNT, 2019). Não à toa podem ser constatados processos de leilões do governo federal para concessão de trechos rodoviários exatamente enquanto estas palavras são redigidas, como por exemplo: BR-101, no trecho entre Paulo Lopes (SC) e a divisa com o estado do Rio Grande do Sul; BR-163, no trecho de 970 km, de Sinop (MT) a Miritituba (PA); BRs-153/080/414, no trecho de 852 km entre Anápolis (GO) e Aliança do Tocantins (TO); BR-116/493 no trecho de 711 km do Rio de Janeiro (RJ), passando por Além Paraíba (MG) até Governador Valadares (MG); BR-040/495 no trecho de 180 km de Juiz de Fora (MG) ao Rio de Janeiro (RJ); BR-381/262, no trecho de 672 km, de Belo Horizonte (MG), passando por Governador Valadares (MG) e indo até Viana (ES); além da concessão da Nova Dutra (BR-116/465/101), que deve ser o ativo que mais vai despertar o interesse dos investidores, segundo a Agência Brasil (2020). Neste mesmo diapasão, o governo do estado de São Paulo acaba de assinar o que declara ser o “maior contrato de concessão de rodovias do país, entre Piracicaba e Panorama”, abrangendo 1.273 quilômetros de rodovias que serão assumidos pelo Consórcio Infraestrutura Brasil, num investimento de R$ 14 bilhões, e que ainda propõe gerar sete mil empregos. A extensão abrange 12 rodovias, passando por 62 municípios do estado (Governo do estado de São Paulo, 2020). E assim se tem verificado também em outros estados ao longo dos últimos quinze anos. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias – ABCR (2018), entidade representativa das empresas do setor de concessões de rodovias, em dezembro de 2018 eram 58 empresas privadas associadas a ela, e que administravam 20.745 quilômetros de rodovias em 12 Estados (BA, ES, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RJ, RS, SC e SP) e no Distrito Federal, sendo 20 concessionárias federais, 36 estaduais e 2 municipais (ABCR, 2018). Interessante aqui pontuar que em 2006 havia 36 contratos de concessão firmados pelos estados ou pela União, responsáveis pela administração privada de uma extensão que apenas se aproximava de 10 mil quilômetros de rodovias, envolvendo a União e somente 5 estados (ES, PR, RJ, RS e SP). Para dar suporte aos processos de concessão, a Lei Federal nº 8.666/93, chamada lei das licitações, a Lei Federal nº 8.987/95, chamada lei das concessões, e a Lei Federal nº 9.074/95, que estabelece normas para outorgas e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, continuam constituindo o arcabouço jurídico. A principal delas, a Lei de Concessões (8.987/95), em seu Capítulo II, aborda o “serviço adequado”, garantindo a participação dos “clientes” das concessionárias no processo de avaliação da qualidade dos serviços prestados. Seu texto estabelece as normas para a prestação do serviço adequado, cujos contornos são definidos por sua regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas, que serão detalhados neste livro. Além disso, no Capítulo III desta lei, onde são abordados os direitos e obrigações dos usuários, verifica-se que o usuário pode ser entendido como um parceiro na boa prestação dos serviços não só através da utilização adequada dos recursos que lhes são disponibilizados, mas também através de sua própria fiscalização e manifestação sobre a qualidade dos serviços recebidos das concessionárias. Nesses quinze anos, desde a elaboração do texto original que originou este livro, essas leis naturalmente sofreram alterações pontuais pelo Legislativo, no entanto sem ferir em nada o cerne do Art. 6º da Lei Federal Nº 8.987/95 (Capítulo II, Do Serviço Adequado) e do Art. 7º (Capítulo III, Dos Direitos e Obrigações dos Usuários), que fundamentam os pilares jurídicos desta obra. Cabe ainda ressaltar que nenhuma alteração promovida na Lei Federal Nº 9.074/95 durante o mesmo interregno interfere em quaisquer aspectos abordados na presente abordagem (Portal “gov.br”, 2020). Editais de concorrência para concessão de serviços públicos, incluindo-se rodovias, portanto, continuam sendo publicados nos “diários oficiais”, e trazendo em suas fundamentações jurídicas as referidas leis federias ou congêneres estaduais. Tal como se observa o desenvolvimento da atividade econômica realizada por empresas concessionárias de serviços públicos, também se constata o desenvolvimento das atividades das agências reguladoras federais e dos estados, seja em função do estabelecimento de novas agências como pela experiência adquirida ao longo desses quinze anos e ações evolutivas verificadas no trato do interesse público nos setores econômicos onde diretamente atuam. A atividade reguladora continua tendo por objetivos basilares: a proteção dos interesses do usuário/consumidor no tocante a preços e qualidade dos serviços; a busca pela eficiência e autofinanciamento das empresas concessionárias; a eficiência dos mercados regulados; o cumprimento das políticas públicas setoriais; e a garantia de que todo o regime alcance robustez e sustentabilidade. Tal como FLORISSI e NOSVITZ (2003) destacaram anos atrás. Em 2006, segundo a Associação Brasileira de Agências de Regulação – ABAR (2006), existiam 30 agências de regulação em atividade no Brasil. Atualmente, segundo a mesma ABAR (2020), são associadas à entidade quatro agências federais, vinte e oito agências estaduais, seis agências intermunicipais e vinte e uma agências municipais. Apenas entre as agências associadas a Abar, verificamos que em 2020 há cinquenta e nove agências reguladoras em exercício. E a este número ainda podemos somar outras agências ou entidades públicas que exercem regulações e que não são associadas a Abar, como é o caso da própria Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, responsável pela regulação e fiscalização das rodovias federais brasileiras e principal referência no setor de agências reguladoras de rodovias no país. Também verificamos a Agência Nacional de Aviação Civil – Anac, que em função da sua atuação estar diretamente ligada a atividades e mercados de caráter internacional, é associada a diversas entidades internacionais de aviação civil. Ou seja, constatamos que o número de agências reguladoras brasileiras literalmente mais que dobrou desde 2006 até hoje. Durante a pesquisa em 2006, também foi verificado que entre as trinta agências então existentes, cinco delas possuíam competências para regular serviços prestados por concessionárias de rodovias. Essas cinco agências mantém ainda hoje as mesmas atividades, sendo elas a federal Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, e as estaduais: Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicação da Bahia – Agerba; Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul – Agergs; Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do estado de São Paulo – Artesp; e Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro – Agetransp. Atualmente, segundo a ABAR (2020), somam-se àquelas cinco, outras oito agências estaduais, totalizando treze estados brasileiros com agências voltadas para as rodovias. Estas novas oito são: Agrespi – Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Estado do Piauí; MOB – Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos; Agrese – Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Sergipe; Agepar – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná; ARSP – Agência de Regulação de Serviços Públicos do Espírito Santo; Arpe – Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Pernambuco; Agepan – Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato Grosso do Sul; e Ager – Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado do Mato Grosso. Na oportunidade em que realizei a minha pesquisa, tive acesso ao trabalhode ROCHA (2002), que apontava que naqueles poucos anos de existência de agências reguladoras de rodovias no Brasil, havia cinco diferentes processos de aferição da qualidade dos serviços prestados por concessionárias. Verificou-se também que aqueles processos contavam com procedimentos e métodos para atenderem suas necessidades particulares, não existindo um padrão que permitisse que os resultados pudessem ser objetivamente comparados. Esta questão, inclusive, abordei em minhas conclusões na época, pois a existência de um modelo de avaliação que pudesse gerar resultados comparáveis no tempo e entre as diversas pesquisas realizadas nas mesmas rodovias permitiria a construção de rankings entre as operadoras e visualização de seus desempenhos comparados no transcorrer dos seus contratos. Ainda hoje não consegui encontrar qualquer referência de que o quadro verificado há quatorze anos tenha sido alterado no sentido de podermos contar com avaliações sistemáticas e com base em metodologia que nos permita realizar as citadas comparações. Verifiquei, no entanto, que o volume de trabalhos acadêmicos sobre o assunto, inclusive em nível mais tenro na fase de graduação, aumentou, mas sem se refletir em aplicações efetivas quando da realização de avaliações da qualidade em rodovias pelos entes reguladores. Observo que agências que já prezavam e se equipavam com recursos para desenvolverem pesquisas de satisfação e avaliação da qualidade dos serviços em rodovias continuaram em seus cursos e se aprimoraram ao longo desses anos. É o caso da Artesp, que segundo o portal ESTRADAS.COM.BR (2019 a), “técnicos da Artesp elaboraram uma metodologia que leva em consideração 32 indicadores, entre eles, a opinião dos usuários e a segurança rodoviária. Para cada categoria há um sistema de indicadores que avaliaram a regularidade, a eficiência e a continuidade dos serviços prestados pelas concessionárias aos usuários. Os dados foram monitorados ao longo de 2018 pelo Centro de Controle de Informações (CCI) da Artesp, além das fiscalizações e vistorias feitas em campo. O acompanhamento mensal dos indicadores foi feito por uma comissão composta por representantes das diretorias da Agência”. No mesmo portal de notícias, consta que por demanda do Tribunal de Contas da União – TCU, “uma auditoria no âmbito do Programa de Concessões Rodoviárias Federais (Procrofe) avaliou o desempenho dos serviços públicos disponibilizados pelas concessionárias”. “O estudo teve como foco a qualidade, a segurança e a tempestividade dos investimentos nas estradas, (...) e apesar da insuficiência de dados, foi possível verificar uma tendência de aumento no desgaste do asfalto e de queda na qualidade das rodovias”. Ainda é citado que “o resultado da auditoria auxiliará as verificações dos processos de desestatização em curso no TCU e casos futuros”, o que vem reforçar a importância da realização de acompanhamento regular das rodovias, por meio de pesquisas e avaliações da satisfação dos usuários e qualidade dos serviços. Cabe ainda destacar que na mesma matéria consta manifestação da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), que baseando-se em “pesquisa técnica realizada anualmente pela Confederação Nacional do Transporte (CNT)”, é apontado que “32 das 50 melhores rodovias do Brasil são concedidas”, e que “as 21 primeiras do ranking são operadas por concessionárias privadas”. Ou seja, não havendo uniformidade nos trabalhos referenciados, há imensa dificuldade em se avaliar o peso de uma ou outra posição (ESTRADAS.COM.BR, 2019 b). Neste sentido, se mantém a hipótese que até o presente momento não há em uso no Brasil procedimentos padronizados e que façam uso concomitante dos diferentes recursos metodológicos para indicar a percepção da qualidade pelos diferentes tipos de “clientes” das concessionárias. Isso forneceria resultados que permitiriam identificar soluções mais precisas para os problemas na qualidade dos serviços prestados, e possibilitaria a implementação de benchmarking no setor de rodovias concedidas no país. Como se vê, o cerne para a diferenciação e classificação dos serviços prestados nas rodovias é a “qualidade”, um conceito complexo, segundo ESTACHE e RUS (2000), que apontam que no caso dos serviços rodoviários envolve segurança, conforto, confiabilidade e características nos acessos, bem como o tipo de relacionamento entre os operadores e os usuários, incluindo questões relacionadas ao meio ambiente e à sua preservação. E não menos complexos são os indicadores de satisfação dos usuários com relação à qualidade dos serviços prestados, os quais devem traduzir o olhar sobre os valores das tarifas, situação dos pavimentos e da sinalização vertical e horizontal. Dada sua complexidade e relevância, CAPELETTO e GASTALDO (2000) apontam que os indicadores devem ser obtidos por meio de pesquisas de opinião abrangentes o suficiente para se conseguir filtrar e extrair as informações válidas para o julgamento e classificação da qualidade de cada serviço analisado. Com vistas à elaboração das pesquisas de opinião dos usuários, verificou-se no passado e confirma-se ainda hoje que a maioria dos autores pesquisados indicam o modelo elaborado por Parasuraman, Zeithaml e Berry em 1990, o qual propõe medir as expectativas e percepções dos clientes quanto à qualidade de um serviço. Segundo este modelo, a diferença entre a percepção verificada e a expectativa existente da qualidade do serviço oferece meios para definição de uma pontuação passível de ser aferida com a aplicação de questionários usando a escala Likert. Para isso, os quesitos devem incluir aspectos relacionados com cada uma das chamadas “dimensões da qualidade” que são consideradas pelos clientes entrevistados, sendo elas: confiabilidade, segurança, empatia, garantia e aspectos tangíveis. Assim, entende-se que a adequada elaboração de quesitos relacionados aos serviços prestados pelas concessionárias de rodovias, conforme as orientações para construção da escala proposta por aqueles autores, possa conduzir à formatação de um questionário específico para aplicação nesta área de prestação de serviços. Sem dúvida, em um mercado heterogêneo e amplo territorialmente como é o caso brasileiro, a adoção de uma regulação comum para todo o sistema de transporte rodoviário é de difícil aplicabilidade, mas isso não deve permitir o esmorecimento dos reguladores pela busca de procedimentos de avaliação os mais “padronizados” possível. O resultado de esforço dessa natureza certamente conduzirá as empresas prestadoras dos serviços a buscarem constante melhoria na qualidade, tendo em vista a simulação de um ambiente competitivo. A tendência verificada atualmente sugere a adoção de modelos híbridos, flexíveis e, de certa maneira, individualizados para cada caso específico, mas que reflitam homogeneidade suficiente para possibilitar aplicação do benchmarking regional e nacional. Como consta apresentado no capítulo 7, iniciativa assemelhada já foi proposta pela OECD, há mais de quinze anos, para que seus países-membros adotassem os procedimentos propostos pela organização, porém guardando-se as diferenças de cada um quando das avaliações da qualidade e desempenho. Sejam quais forem as características dos procedimentos adotados, fato é que esses deverão sempre considerar as questões básicas mercadológicas, assim como os conceitos de eficiência, produtividade, qualidade e segurança dos serviços públicos prestados para a população. E com o sentimento de quem buscou conhecer cada detalhe acerca do problema que decidiu estudar para o entender e propor uma solução aplicável ao caso concreto, desejo sinceramente que o resultado deste trabalho de caráter acadêmico e destinação profissional lhe seja útil e mesmo agradável. A pesquisa e seu texto dissertado não foram desenvolvidos visando a atingir público não específico, externo ao contexto acadêmico e profissional voltado ao negócio das rodovias concedidas no país, mesmo assim ele foi identificado pelos experts da editora Dialéticacomo tendo potencial para a sua publicação. E este fato traz grande alegria para este autor, pois mostra que por detrás dos números, gráficos e textos legais examinados e traduzidos em proposta técnica, há uma pessoa que escreve para pessoas, com vistas a melhorar a vida de ainda mais pessoas. E com este sentimento verdadeiramente fraternal, desejo produtiva e prazerosa leitura. PREFÁCIO OS IDOS DE MARÇO Dez de março de 2004. Um dia marcante na minha vida. Entrava no mundo da regulação. Era meu primeiro dia de trabalho na prematuramente extinta ASEP- RJ, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro. Ao alcance, concessões de serviços públicos de amplo espectro: trem, metrô, gás natural, saneamento básico, barcas e rodovias. Saíra de um bem sucedido emprego público na Companhia de Engenharia de Tráfego da Cidade do Rio de Janeiro (CET Rio) para me lançar no admirável mundo novo da regulação, atraído e motivado pelas mudanças que sacudiam o país desde 1993 com a venda da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) no governo Itamar Franco. Transformações, essas, aditivadas pelo processo de desestatização levado a efeito no governo Fernando Henrique Cardoso. Profissionalmente foi um salto de trapézio – no escuro e sem rede de segurança. Deixar uma estável e estruturada administração municipal para uma administração estadual amadora que já dava os primeiros – e firmes – passos em direção ao fundo do poço, representado por uma inimaginável crise financeira- policial (embora, no momento que escrevo, me assola uma forte dúvida se, de fato, já chegamos ao fundo). Voltando aos idos de março 2004, estava dominado por uma boa energia gerada pela expectativa de enfrentar inéditos desafios em um ambiente totalmente desconhecido. Poucas emoções superam a excitação que toma conta de cada um de nós quando nos tornamos um Amundsen ou um Hillary de nossa história pessoal. Pouquíssimas. Entretanto, a minha euforia foi a nocaute após duas horas de conversa com Marcelo Marinho! Explico. Não é possível falar sobre meu querido amigo e sua obra sem citar o dia 10 de março de 2004 – dia em que tive o prazer de ver nascer um “irmão mais velho”. Um memorável acontecimento pessoal e, simultaneamente, um dos momentos mais devastadores da minha vida profissional. Fui designado para a assessoria do então Conselheiro-presidente da Asep-RJ, João Paulo D. Andrade, onde conheci Marcelo Marinho. Na verdade, foi o primeiro companheiro de trabalho com quem tive contato. Naquele dia em particular, os demais assessores estavam em atividades externas, cabendo a Marinho a missão de me apresentar à casa. Engenheiro inteligente, comunicativo, bem humorado... o diálogo se estabeleceu facilmente. Conversamos sobre as tarefas da assessoria e nossas obrigações. Como foi primeira pessoa com quem conversei, lá pelas tantas, fiz a inocente, porém, fatal pergunta: como as coisas funcionam aqui? Nocaute! Quem conhece Marinho, já foi vitimado (ou conhece alguém que foi) por duas de suas melhores qualidades: honestidade e franqueza. Perguntei, ele respondeu. Qual um touro indomável, Marinho brindou-me com duas horas de um sólido e exuberante relato sobre a agência e o meio ambiente regulatório no qual estávamos inseridos. Tomara posse em 2002 e, portanto, golpeou-me com a experiência acumulada, sem aliviar. Ao término da primeira hora já estava pensando em como requerer a anulação da minha demissão prévia, e ao término da segunda, tinha formado convicção de que não colocar a rede de segurança no picadeiro foi um grave erro. Em pânico, vi uma pintura realista ser elaborada – cores vivas, nuas e cruas. Hoje tenho esse quadro na minha galeria particular como um dos preferidos. Olho para o quadro com indisfarçável satisfação. Graças ao meu “tardio irmão” (sou filho único), não fui iludido ou entorpecido por pompas e circunstâncias. Valeu! Obras técnicas costumam ser impessoais, mas os leitores terão oportunidade de perceber ao longo deste livro, e outros que certamente virão, a honestidade de caráter e de propósito que caracterizam a vida e o trabalho de Marinho. Acompanhei a gênese deste trabalho, agora transformado em livro, e atesto que mantém o frescor e a jovialidade daqueles tempos. Nasceu um clássico. Deriva da conjugação perfeita da experiência adquirida em campo e refino metodológico da academia. Ainda nos primórdios de Asep-RJ, Marinho foi nomeado para participar de um grupo de trabalho responsável por avaliar periodicamente a qualidade dos serviços prestados pela concessionária Rota 116 (na verdade uma comissão tripartite composta por representantes da Asep-RJ, da concessão da rodovia RJ 116 e dos usuários da rodovia). Não devemos perder de vista que estávamos nos primórdios da regulação no Brasil. Muitas das agências reguladoras hoje existentes sequer estavam em gestação e, por consequência, muitos procedimentos hoje consagrados também não existiam. Fiel ao princípio “missão dada é missão cumprida”, nosso intrépido analista de regulação foi buscar no Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo) a inspiração para a elaboração dos procedimentos de avaliação da qualidade da prestação de serviço público rodoviário fluminense. Entretanto, em harmonia com seu temperamento, inconformado com os resultados então obtidos, buscou meios para aprofundar e aperfeiçoar os procedimentos por ele desenvolvidos. Acreditava ser possível obter indicadores (tema incipiente na ocasião) para promover ações que incrementassem a segurança viária. A oportunidade e os meios se materializaram com a entrada na Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), fruto de esforço pessoal e dedicação ímpar aos estudos. Sem recorrer a interpretações elásticas da lei, cada hora dedicada à causa acadêmica era rigorosamente compensada com uma hora extra. Uma demonstração de disciplina consciente que poucas vezes vi. No mestrado, solidificou a ideia de tratar os dados obtidos empiricamente pela comissão tripartite, gerando instrumentos mais adequados para avaliação da qualidade dos serviços oferecidos por concessionárias de rodovias. Os atuais e os futuros colegas reguladores encontrarão nesta obra uma ferramenta para avaliação da qualidade de serviços prestados por empresas concessionárias de rodovias concedidas por um dos possíveis poderes concedentes (municipal, estadual, distrital ou federal). Encontrarão base ou inspiração para suas próprias obras que, certamente, aperfeiçoarão a atividade regulatória nos transportes. Ao citar a honestidade de caráter e de propósito do autor, espero retransmitir uma lição recebida e aprendida em 10 de março de 2004. Nós, reguladores, devemos sempre nos manter equidistantes de Concedente, Concessionária e Cliente/Usuários. Esta obra leva em consideração a percepção do usuário (sobre o que é qualificado como uma boa prestação de serviço público rodoviário) e a percepção do Poder Concedente (sempre focado no atendimento às obrigações contratuais) para atingir o que de melhor a concessionária pode entregar ou, na visão do criador, estabelecer um meio de avaliação que traduza a visão desses dois tipos de “clientes” sobre os serviços oferecidos. Desfrutem do conhecimento! Falei aos leitores, agora falo ao amigo. Muito obrigado pela honra que você me concedeu. Sei que esta obra traduz vontade, raça, dedicação, profissionalismo, sofrimento, ausências, alegrias e um inabalável desejo de fazer a diferença em prol da nossa sociedade. Lamento tê-lo incentivado a fazer concurso para a Anac. Perdi a convivência diária, os papos sempre instigantes, o parceiro do cafezinho e da livraria. Os fluminenses perderam, mas os brasileiros ganharam. Ser seu amigo tem sido um privilégio nesses dezesseis anos. Obrigado pelo 10 de março. Wallace A. Santos Mestre em Sistemas de Engenharia Engenheiro Industrial Elétrico Analista de Regulação Engenheiro SUMÁRIO Capa Folha de Rosto Créditos CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO1.1 ESTRUTURA DO LIVRO CAPÍTULO 2 DAS CRISES À REFORMA ADMINISTRATIVA NOS ANOS 90 2.1 CRISES ECONÔMICAS DO MODELO SOCIAL E O NEOLIBERALISMO 2.2 ORIGEM DA PRIVATIZAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO 2.3 REFORMA ADMINISTRATIVA BRASILEIRA E ESTADO-REGULADOR 2.4 A FUNÇÃO DA REGULAÇÃO 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 3 ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO DAS CONCESSÕES E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS 3.1 ASPECTOS POLÍTICO-INSTITUCIONAIS E ECONÔMICOS 3.2 ASPECTOS JURÍDICOS 3.3 ASPECTOS DO DESEMPENHO EMPRESARIAL 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 4 QUALIDADE DAS RODOVIAS ANTES E DEPOIS DOS PROGRAMAS DE CONCESSÃO 4.1 INTRODUÇÃO 4.2 ANTECEDENTES 4.3 OS ATUAIS PROGRAMAS DE CONCESSÃO DE RODOVIAS NO BRASIL 4.3.1 O Programa Federal de Concessão de Rodovias 4.3.2 Os principais programas de concessões estaduais 4.4 OS CUSTOS DOS SERVIÇOS NAS CONCESSÕES 4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 5 BASES PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NAS RODOVIAS FLUMINENSES 5.1 INTRODUÇÃO 5.2 DEFINIÇÃO DE SERVIÇO ADEQUADO NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO DE RODOVIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5.3 UMA ANÁLISE DOS CONTRATOS DE CONCESSÃO FLUMINENSES 5.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 6 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS E DESEMPENHO DAS EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS 6.1 INTRODUÇÃO 6.2 ASPECTOS DA QUALIDADE NA AVALIAÇÃO REGULATÓRIA 6.2.1 A qualidade técnica das rodovias 6.2.2 A qualidade da operação dos serviços rodoviários 6.2.3 A monitoração dos aspectos de segurança 6.2.4 A monitoração dos aspectos ambientais 6.2.5 A importância das pesquisas de opinião dos usuários 6.2.6 Indicadores de desempenho e informações necessárias para a avaliação das concessionárias 6.3 FISCALIZAÇÃO REGULATÓRIA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS 6.4 MODELAGEM POR MULTICRITÉRIOS COMO INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO 6.4.1 Identificação dos pontos fortes e pontos fracos das empresas 6.4.2 A Criação de um ranking das empresas reguladas 6.4.3 Os modelos de multicritérios como metodologia de apoio à decisão 6.4.3.1 Aspectos relativos ao conjunto de informações (dados de análise) 6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 7 AVALIAÇÃO E MEDIÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS EM SISTEMAS RODOVIÁRIOS NO EXTERIOR 7.1 INTRODUÇÃO 7.2 AVALIAÇÃO E MEDIÇÃO DA QUALIDADE EM RODOVIAS ESTRANGEIRAS 7.2.1 Estados Unidos da América 7.2.2 França 7.2.3 Bélgica 7.2.4 Espanha 7.2.5 Portugal 7.2.6 Itália 7.2.7 Nova Zelândia 7.2.8 Proposta da OECD para os seus países-membros 7.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 8 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS DAS RODOVIAS NOS PROGRAMAS DE CONCESSÃO NO BRASIL 8.1 INTRODUÇÃO 8.2 AS AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO EM PROGRAMAS DE CONCESSÃO BRASILEIROS 8.2.1 As avaliações da qualidade em Programas de Concessão nos estados 8.2.1.1 São Paulo 8.2.1.2 Rio Grande do Sul 8.2.1.3 Paraná 8.2.1.4 Rio de Janeiro 8.3 ANÁLISE COMPARATIVA DAS METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EMPREGADAS NO BRASIL 8.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 9 ELEMENTOS PARA PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS RODOVIÁRIOS 9.1 ASPECTOS OBSERVADOS PELAS AGÊNCIAS REGULADORAS 9.1.2 Aspectos técnicos e operacionais 9.2 DEFINIÇÕES SOBRE SERVIÇOS E QUALIDADE EM SERVIÇOS 9.2.1 Características básicas dos serviços 9.2.2 Qualidade em serviços 9.3 AVALIAÇÃO COMO META DAS EMPRESAS 9.4 MODELOS DE MARKETING PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS 9.4.1 Modelo da qualidade em serviços de Parasuraman, Zeithaml e Berry 9.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 10 TÉCNICAS PARA CONSTRUÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE SATISFAÇÃO E QUALIDADE EM SERVIÇOS 10.1 ELABORAÇÃO DE PESQUISAS E CONSTRUÇÃO DE QUESTIONÁRIOS 10.1.1 Determinação das necessidades dos clientes ou dimensões da qualidade 10.1.2 Aspectos que devem ser observados para a elaboração de questionários 10.1.2.1 Confiabilidade 10.1.2.2 Validade 10.1.3 Elaboração do questionário de satisfação do cliente 10.1.3.1 Determinação das perguntas (itens) 10.1.4 Escalas tipo Likert 10.1.5 Determinação do conteúdo do questionário definitivo 10.1.6 Importância da aplicação de Pré-teste 10.1.7 Amostragem na pesquisa de qualidade 10.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 11 PROCEDIMENTOS PROPOSTOS PARA CONCESSIONÁRIAS DE RODOVIAS FLUMINENSES 11.1 INTRODUÇÃO 11.2 ASPECTOS RELACIONADOS AOS SERVIÇOS OPERACIONAIS PRESTADOS PELAS CONCESSIONÁRIAS DE RODOVIAS FLUMINENSES 11.2.1 Sistema de monitoração de tráfego, comunicação e transmissão de dados 11.2.2 Operação do sistema de pedágio 11.2.3 Sistema de Pesagem 11.2.4 Guarda e vigilância patrimonial 11.2.5 Apoio à fiscalização de trânsito 11.2.6 Operação do sistema viário 11.2.7 Segurança do sistema viário 11.2.8 Sistema de informações 11.2.9 Outros sistemas ou procedimentos 11.3 DESENVOLVIMENTO DE QUESTIONÁRIOS 11.3.1 Versão a ser aplicada junto ao Poder Concedente 11.3.1.1 Relação de itens do Questionário Final do Poder Concedente 11.3.2 Versão a ser aplicada junto aos usuários 11.3.2.1 Relação de itens do Questionário Final dos Usuários 11.3.3 A ponderação dos atributos de qualidade 11.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO 12 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 12.1 RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO A LISTAGEM INICIAL DOS ITENS PARA OS QUESTIONÁRIOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS OPERACIONAIS ANEXO B PLANILHA DE INSPEÇÃO DE CAMPO UTILIZADA PELO PODER CONCEDENTE ANEXO C FORMULÁRIO DE PESQUISA COM O PODER CONCEDENTE ANEXO D FORMULÁRIO DE PESQUISA COM OS USUÁRIOS Landmarks Capa Folha de Rosto Página de Créditos Sumário Bibliografia CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO A presente obra trata do desenvolvimento de procedimentos para a utilização de métodos de avaliação de qualidade por reguladores e administradores públicos brasileiros, tendo em vista a fiscalização sobre os serviços prestados por operadores privados de infraestruturas rodoviárias concedidas pelos entes federativos. É levado em consideração o período posterior à reforma administrativa iniciada em meados da década de 1990 e o consequente processo de concessões e privatizações verificado no cenário nacional desde então. A justificativa para a efetivação deste trabalho remonta à busca pelos objetivos dos programas brasileiros de concessões e privatizações de serviços públicos, que são, invariavelmente, vinculados à escassez de recursos provenientes do erário público para financiar os investimentos necessários, como também ao interesse dos gestores da Administração Pública na captação de competências do setor privado em termos de qualidade e eficiência na prestação de serviços. De acordo com SCHUMAHER (2001), a permanente limitação da capacidade de investimento dos vários níveis de governo levou a União, os estados e municípios a diminuir drasticamente os recursos destinados à manutenção e à expansão do sistema rodoviário no Brasil. Nesse sentido, segundo a autora, a maior consequência foi uma crescente deterioração da qualidade das rodovias, seguida, em alguns casos por uma limitação de sua capacidade em relação à demanda crescente por seu uso. Assim, aponta que a insuficiência de recursos orçamentários e as dificuldades administrativas na gestão dos recursos e na operação das rodovias foram os principais entraves encontrados pelos estados e União para enfrentar o problema de degradação da malha rodoviária nacional. E com isso, a necessidade de se encontrar novos meios de equacionamento de fundos para a recuperação e expansão da infraestrutura tornou-se prioritária. Cabe observar, neste sentido, que o Brasil é um país de dimensões continentais e que tem nas rodovias a sua principal infraestrutura logística de transporte. Segundo CASTRO (2000), a malha rodoviária brasileira é a segunda maior do mundo, com mais de 1,7 milhões de quilômetros de extensão, o que não chega a ser motivo de satisfação, já que apenas 8% possui pavimento asfáltico. Comparado com o índice de pavimentação de outros países, o das rodovias nacionais é ínfimo. Nos Estados Unidos, por exemplo, este índice é de 61%; no México, é de 36% e, na Argentina, de 27%. Aliado ao baixo índice de pavimentaçãodas rodovias nacionais acrescente-se seu precário estado de conservação. Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2004) 74,7% dos 110 mil quilômetros de rodovias brasileiras analisados estão em condições deficientes, ruins ou péssimas. Este conjunto de fatores encerra um desafio a ser enfrentado com a máxima urgência, já que este anacrônico sistema de infraestrutura rodoviária repercute diretamente em outras atividades econômicas, produzindo, inclusive, reflexos sociais. Com efeito, cerca de 63% da carga transportada no Brasil, necessariamente, passa por rodovias e, segundo MACHADO (2002), as rodovias com deficiente manutenção e conservação causam aumento de 57% no consumo de combustível, de 37% nos custos operacionais e de cerca de 50% no número de acidentes. Estes custos acabam, no mais das vezes, sendo repassados ao consumidor final. Estes custos adicionais de transporte – embutidos nos preços finais de bens e serviços – contribuem para a ineficiência econômica das empresas, compondo o chamado “Custo Brasil” e reduzindo sobremaneira a competitividade do país nos cenários nacional e internacional. O investimento em infraestrutura rodoviária, portanto, é fundamental para o desenvolvimento adequado do país e a retomada do crescimento econômico, cumprindo, assim, os objetivos fundamentais traçados no artigo 3º, incisos II e III, da Constituição Federal, de garantir o desenvolvimento nacional e de reduzir as desigualdades sociais e regionais. A situação das rodovias, tendo sido considerada caótica, conduziu a União a lançar, em janeiro de 2006, o Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas. Neste programa, é prevista a recuperação de 26,5 mil quilômetros de rodovias federais e estaduais, em 25 estados. Estão programadas operações “tapa-buracos”, recuperação de pavimentos, sinalização e pontes, a um custo estimado de cerca de 440 milhões de reais (aproximadamente US$ 200 milhões em valores de maio de 2006). Para tentar reverter este quadro de deficiências, no entanto, cabe citar que a proposição adotada pela União e por diversos estados, desde a década de 1990, foi a concessão à iniciativa privada dos serviços de recuperação, operação e manutenção das rodovias. As empresas concessionárias se obrigam a prestar esses serviços, e, na maior parte dos casos, a ampliar a capacidade das rodovias, em troca da arrecadação do pedágio. A ideia é transferir a responsabilidade para agentes com maior capacidade de investimento e maior capacidade administrativa nesse ramo de atividade do que o Estado. Segundo SCHUMAHER (2001), o termo concessão deriva do latim concessio, de concedere, e designa o ato de conceder. No Direito Administrativo indica o contrato, em virtude do qual o Poder Público confere à pessoa ou empresta o direito de explorar determinada ordem de serviços, ditos públicos ou simplesmente de utilidade pública, ou de negócios. Neste sentido, então, mais propriamente se diz concessão pública ou concessão administrativa. A concessão administrativa, contrato bilateral e comutativo, que se forma entre os contratantes, cria obrigações recíprocas entre o Poder Público e o concessionário, os quais não podem impunemente a ela fugir, salvo quando razões jurídicas possam determinar a rescisão do contrato. É que aí o Poder Público outorgou um direito, em virtude do qual, embora assuma também obrigações, o concessionário pode exigir que, como parte cumpra as cláusulas contratuais, responsabilizando-o por perdas e danos, quando não sejam cumpridas. CHIARA (apud SCHUMAHER, 2001) cita que a concessão do ponto de vista jurídico e econômico é o exercício de um direito delegado pelo Estado, que permite a uma empresa, pública ou privada, a prestação de um serviço público por prazo determinado e que tem como contrapartida econômica o recebimento de tarifa. A delegação desse direito é definida num contrato administrativo, que gera obrigações e direitos, não encontrados normalmente nos contratos privados. O empresário ou grupo interessado em investir na área de concessões deve: (i) participar das licitações isoladamente ou em consórcio; (ii) constituir-se em empresa concessionária quando obter sucesso, e (iii) observar as exigências da lei e dos contratos para essa constituição. Em verdade, este processo de descentralização das rodovias nacionais integra uma profunda remodelação do Estado brasileiro ocorrida nos últimos anos, e que alcança desde a flexibilização de monopólios estatais até o amplo processo conhecido como desestatização, que se deu, principalmente, por meio das privatizações de empresas estatais que atuavam em segmentos econômicos reservados ao setor privado e das concessões e permissões mediante as quais a iniciativa privada assumiu a execução de alguns serviços antes prestados diretamente pelo Poder Público. Foi o que aconteceu com as rodovias que ostentavam volume de tráfego suficiente para permitir a sua exploração pela iniciativa privada. Com um aporte inicial de investimentos para recuperar e colocar a rodovia em boas condições, o concessionário, após período definido no contrato de concessão, dava início à cobrança de pedágio. Destarte, tem sido verificada sensível melhoria nas condições das rodovias concedidas, disponibilizando-se ao usuário não apenas uma estrada mais conservada, mas também uma série de serviços, como assistência médica, socorro mecânico e guincho, antes inexistentes nas rodovias geridas e administradas pelos entes públicos. A Lei Federal Nº 8.666/93, chamada lei das licitações, contribuiu para o embasamento jurídico do projeto de concessão da exploração das rodovias já existentes, por meio da possibilidade da cobrança de pedágio. Dois anos depois foram aprovadas a Lei Federal Nº 8.987/95, chamada lei das concessões, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos e a Lei Federal Nº 9.074/95, que estabelece normas para outorgas e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos. Também foi promulgada a Lei Federal Nº 9.277/96, que permite a delegação de rodovias da União para estados, Distrito Federal e municípios, que poderão explorar diretamente os trechos de seu interesse ou, através de concorrência pública, transferir a concessão para o setor privado. E, para concluir este resumo sobre o arcabouço jurídico das concessões rodoviárias, o Decreto Federal Nº 2.444/97 incluiu no Programa Nacional de Desestatização as rodovias federais. Desta feita, SCHUMAHER (2001) aponta que a adoção deste processo de desenvolvimento da infraestrutura tem objetivos bem definidos: • O governo, em seus diferentes níveis, liberado da necessidade de manutenção das rodovias em condições mínimas de operação, disponibiliza recursos, que estavam comprometidos com tais atribuições, para o financiamento de outras atividades como construção de escolas, pagamento de funcionários, saneamento básico etc. • Melhora significativa na eficiência e na qualidade na operação do empreendimento ou na prestação do serviço, sem que isso implique na cobrança de pedágios substancialmente mais elevados do que aqueles que já estavam sendo praticados pelo setor público em algumas rodovias. Deve-se destacar que as empresas concessionárias, dentre as quais a pesquisa foca as operadoras de rodovias, estão subordinadas a contratos de concessão de longo prazo com diversas obrigações e metas de desempenho pré-definidas, condicionadas à exploração de uma atividade em regime de monopólio e com demanda com tendência a inelasticidade. Desta forma, os órgãos fiscalizadores enfrentam o desafio em promover com que as concessionárias encontrem motivações para se aperfeiçoarem, além dos limites que estão inexoravelmente impostos por seus contratos de concessão. Esta missão se configurará inviável se houver ausência de informações seguras sobre os respectivos desempenhos operacionais e empresariais, bem como se a qualidade dos serviços oferecidos não possuir quaisquer indicadores que a retratem como é percebida pelosseus diferentes clientes. A concessão de rodovias à iniciativa privada, portanto, parece ser um caminho bem sucedido e sem volta, pelo menos, quanto ao benefício público que se espera ver proporcionado. Mas é muito importante que este caminho se mostre sustentável, ou seja, consistente e seguro ao longo dos anos. Para que isto ocorra é fundamental que os interesses das três partes envolvidas no processo, quais sejam o Poder Concedente (União ou estados), concessionárias e usuários, estejam garantidos em um ambiente de equilíbrio mútuo. No que tange à busca em se conhecer tais aspectos relevantes, foi verificado em recente trabalho de pesquisa realizado no Brasil, a citação da existência de cinco diferentes processos de aferição da qualidade dos serviços prestados por concessionárias de rodovias. Tal fato, portanto, vem reforçar a tese sobre a necessidade e interesse dos responsáveis pela regulação sobre a avaliação dos serviços públicos concedidos, notadamente as agências reguladoras. Realizar avaliações para se conhecerem as reais condições dos serviços e alcançarem a qualidade pretendida para cada tipo de serviço público, portanto, configura-se como essencial. Verificou-se também que estes órgãos de regulação buscam desenvolver procedimentos e métodos que atendam às suas necessidades, porém, ainda não de maneira padronizada, o que produz resultados que são avaliados isoladamente. Este fato traz dificuldades para a avaliação do conjunto de concessões, haja vista que nem sempre os dados obtidos poderão ser “cruzados”. Como um exemplo da busca pela melhoria da qualidade nas rodovias concedidas, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transportes do Estado de São Paulo (ARTESP) executa pesquisas anuais de satisfação junto aos usuários de cada lote concedido. Foi verificado que, em 2004, o Programa de Concessões Rodoviárias paulista obteve 95% de aprovação pelos seus usuários, o maior índice até então registrado. Em 2002, o índice de aprovação foi de 87% e em 2003 de 90%. A pesquisa cobriu 3,5 mil quilômetros de rodovias e verificou que entre os aspectos julgados mais importantes pelos motoristas estão, em primeiro lugar, a segurança viária, seguida de sinalização, conservação das rodovias, obras de ampliação e serviço de atendimento aos usuários. O aspecto negativo apontado foi que os usuários consideram alto ou muito alto o valor das tarifas de pedágios, aspecto que, no entanto, apresentou queda percentual de 6% entre as pesquisas realizadas em 2003 (84%) e 2004 (78%), devido a maior conscientização dos usuários sobre a vinculação dos preços aos custos das obras previstas, serviços prestados, distância percorrida e equipamentos de segurança. Assim como ocorre em outros tipos de serviços públicos concedidos à iniciativa privada, observa-se que as concessionárias de rodovias estão impostas a um acompanhamento da qualidade dos serviços que prestam segundo duas óticas: a do usuário e a do Poder Concedente. Enquanto o usuário foca em aspectos de caráter mais subjetivo nos serviços prestados, como conforto, segurança e cordialidade, o Poder Concedente centra suas exigências no atendimento às obrigações contratuais. O fato das concessionárias possuírem dois tipos de clientes, que demandam dois tipos diferentes de enfoques quanto à preocupação que têm com a qualidade, não representa uma contradição ou um desafio, apenas demanda a necessidade de uma percepção precisa para formulação de uma metodologia de pesquisa de qualidade que abranja os dois clientes que devem ser atendidos. Na chamada Lei das Concessões (Lei Federal Nº 8.987/95), o texto do seu capítulo II trata do “serviço adequado”, deixando clara a previsão da participação dos dois clientes das concessionárias no processo de avaliação da qualidade dos serviços prestados. O texto, que provém da vontade do legislativo federal, estabelece as normas gerais para a prestação do serviço adequado ao pleno atendimento do usuário, especificamente nos quesitos regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas, que serão definidos adiante. Além disso, no capítulo III da mesma lei, onde é tratado dos direitos e obrigações dos usuários, o usuário pode ser entendido como um parceiro na boa prestação dos serviços, não só através da utilização adequada dos recursos que lhes são disponibilizados, mas também através da sua própria fiscalização e manifestação sobre a qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias. Conforme evidenciado, existe a necessidade de serem desenvolvidas e utilizadas metodologias e procedimentos adequados para avaliação dos serviços públicos concedidos, de forma a possibilitar o alcance da desejada qualidade nos serviços prestados pelas concessionárias. A importância de se possuírem indicadores provenientes de pesquisas fundamentadas em metodologias adequadas, com ênfase sobre o conhecimento das percepções dos clientes também pode aumentar em muito as possibilidades das empresas tomarem melhores decisões. Assevera-se que para as empresas poderem tirar proveito do conhecimento sobre as percepções e reações de seus clientes, estas devem, antes de tudo, fazer uso de meios de avaliação precisos. Porém, a busca desses indicadores voluntariamente por parte das empresas se dá de forma natural em meio a mercados competitivos, onde os fornecedores de produtos e serviços guerreiam entre si, para melhor alcançarem a satisfação das necessidades dos clientes e, com isso, galgarem maior participação nos mercados. Deve-se atentar, contudo, que este fenômeno competitivo não está presente nos mercados monopolistas em que se inserem as concessionárias de rodovias, cabendo ser obtido através da ação regulatória pelos gestores públicos. Como conclusão da avaliação dos fatos ora citados, verifica-se que o estabelecimento de referenciais para a qualidade dos serviços, construídos através das avaliações dos mesmos, tende a se constituir também em um instrumento de estímulo ao planejamento empresarial, elaboração de processos contínuos de melhoria sobre os padrões de qualidade dos serviços prestados e sobre o desempenho das concessionárias, o que se vislumbra tornar-se possível com a efetivação da padronização dos procedimentos metodológicos para a avaliação da qualidade nas concessões rodoviárias. O problema verificado, portanto, é que os recém adotados procedimentos e métodos de avaliação da qualidade dos serviços públicos prestados pelas concessionárias privadas de rodovias brasileiras apresentam grandes diferenças estruturais e divergências quanto à fonte das suas informações. Normalmente, os respondentes ou são representantes do Concedente ou são dos usuários, ou utilizam uma técnica com maior número de questionários em pesquisas junto aos usuários ou uma quantidade reduzida de formulários respondidos por especialistas. Não há consenso. Neste sentido, aflora como hipótese que até o presente momento não há em uso no Brasil procedimentos padronizados, que se utilizem concomitantemente dos diferentes recursos metodológicos que possam indicar a percepção da qualidade pelos diferentes tipos de “clientes” das concessionárias (os usuários e Poder Concedente), visando fornecer resultados que permitam identificar soluções mais precisas para os problemas na qualidade dos serviços prestados, além de possibilitar a implementação de seguras atividades de benchmarking no setor de rodovias concedidas no país. O principal objetivo neste trabalho de pesquisa, portanto, é levantar e analisar os métodos e procedimentos utilizados na avaliação da qualidade dos serviços prestados pelos operadores privados de infraestruturas rodoviárias concedidas no Brasil e no exterior. Também é visada a elaboração de uma proposta de procedimento metodológico com igual finalidade para emprego no atual contexto da Administração Pública no Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa foi desenvolvida observando-se o atual cenário empresarial brasileiro, no qual, ao longo dos últimos anos, as concessionáriasprivadas de serviços públicos vêm se consolidando como empresas cada vez mais presentes. 1.1 ESTRUTURA DO LIVRO Considerando a sua estrutura, a presente obra está organizada em 12 capítulos, que são sintetizados a seguir: • O primeiro capítulo, que se refere a presente introdução, expõe a justificativa do trabalho, sua importância no contexto brasileiro, seus principais objetivos e, por fim, a estruturação do livro. • O segundo capítulo apresenta considerações acerca das crises econômicas vividas no mundo durante o século passado até ser atingida a recente reforma administrativa verificada a partir dos anos de 1990, ou seja, o surgimento chamado de neoliberal. • O terceiro capítulo aponta os aspectos que estão relacionados com o processo de formação do arcabouço que orienta para a exigência de melhores níveis de qualidade nos serviços públicos. Primeiramente, apresenta os aspectos relacionados ao ambiente político-institucional, seguido dos aspectos relativos ao ambiente jurídico e, por fim, os comentários acerca das questões que envolvem os aspectos relacionados com o desempenho das empresas. • O quarto capítulo apresenta uma visão sobre os problemas das rodovias brasileiras, da política rodoviarista implementada a partir, principalmente, da década de 1950, e a grave situação em que se encontra a infraestrutura da malha rodoviária do país. • O quinto capítulo apresenta os aspectos que norteiam a caracterização do serviço considerado adequado. É observado que os contratos de concessão brasileiros seguem “à risca” os ditames da Lei Geral das Concessões brasileira. • O sexto capítulo trata dos aspectos da qualidade em serviços considerados na avaliação regulatória. Verifica que esta questão abarca, no caso das rodovias, a sua qualidade técnica, operacional, administrativa, financeira, entre tantas outras, inclusive quanto aos aspectos ambientais. Além disso, é comentado sobre a importância das pesquisas de opinião para a avaliação das percepções dos clientes quanto à qualidade dos serviços. • O sétimo capítulo descreve o cenário internacional, quanto aos serviços em rodovias e sua qualidade. Mostra que, assim como no Brasil, diversas nações estrangeiras possuem ou buscam construir métodos de avaliação da qualidade em serviços. • O oitavo capítulo verifica que o modelo de concessões brasileiro busca o aumento da qualidade dos serviços, por meio da agregação da expertise dos operadores privados, bem como a desoneração dos cofres públicos. É apresentada uma pesquisa sobre como os reguladores brasileiros estão procedendo para atenderem as suas demandas regulatórias quanto à avaliação da qualidade dos serviços. • O nono capítulo apresenta elementos para a fundamentação teórica, visando à elaboração dos procedimentos para avaliação dos serviços operacionais prestados pelas concessionárias de rodovias. • O décimo capítulo apresenta considerações sobre a elaboração de pesquisas de marketing e dos procedimentos necessários para a construção de questionários, proporcionando um entendimento geral sobre os cuidados que o pesquisador deve ter para preparar a base para a aplicação das pesquisas de avaliação da qualidade dos serviços operacionais rodoviários. • No décimo primeiro capítulo é apresentada uma proposta de procedimentos, fundamentada nos temas abordados nos capítulos anteriores. Visa com isso, proporcionar um material que colabore com as atividades da agência de regulação de transportes do Estado do Rio de Janeiro, visando à execução das avaliações da qualidade dos serviços operacionais das concessionárias Via Lagos e Rota 116. • No décimo segundo capítulo são apresentadas as principais conclusões obtidas ao longo do desenvolvimento do estudo, bem como temas para desenvolvimento de futuros estudos que poderão contribuir para a continuidade da pesquisa sobre o assunto tratado. CAPÍTULO 2 DAS CRISES À REFORMA ADMINISTRATIVA NOS ANOS 90 O objetivo deste capítulo é apresentar fatos que conduziram a sequenciais crises econômicas mundiais, dentro do modelo que era chamado de social, até o surgimento de um “novo” modelo mais flexível, chamado de neoliberal. Para isso, será comentado o recente processo de privatizações visto em todo planeta, dentro de um ambiente considerado “em globalização”, principalmente sobre o que tange os meios de comunicação e difusão de culturas e conhecimentos. Em prosseguimento, serão também comentados fatos envolvidos na recente reforma administrativa observada nas diversas esferas públicas brasileiras, dentro de um contexto que se alinha com o chamado Estado-Regulador. Neste sentido, serão abordadas as funções da regulação econômica sobre as empresas prestadoras de serviços públicos concedidos no Estado brasileiro. 2.1 CRISES ECONÔMICAS DO MODELO SOCIAL E O NEOLIBERALISMO O pensamento econômico neoliberal nasceu logo após a Segunda Guerra Mundial na Europa e na América do Norte, onde imperava o capitalismo e, segundo CAL (2003), não há dúvida de que foi uma reação teórica e política contra o Estado Intervencionista e de “Bem-Estar”, também chamado de Estado- social, estabelecido naquelas regiões desde o início do século XX, o qual sucedeu o modelo liberal que imperou durante os séculos XVIII e XIX. Este pensamento anunciava, desde o início dos anos 60, que o Estado precisava reduzir o seu tamanho, tendendo à dimensão mínima e permitindo que vários setores da sociedade que se encontravam estrangulados fossem revitalizados pelos investimentos privados e pela própria dinâmica operacional do setor privado (CAL, 2003). BENJÓ (1999), referindo-se ao modelo intervencionista estatal brasileiro, entre as décadas de 1930 a 1970, lembra que, em linhas gerais, a definição dos orçamentos empresariais das estatais confundia-se com a política do governo. A falta de rentabilidade dos investimentos e a baixa produtividade eram compensadas com crescente participação tributária, penalizando o contribuinte e favorecendo o inchaço do corporativismo estatal. Como consequência, a asfixia do setor privado reduzia a capacidade de crescimento econômico nacional. Adverte que o quadro atual da economia brasileira não reverteu por completo essa realidade, pois ainda colhe os frutos da manutenção do posicionamento estatizante naquele período, que provocou substancial atraso no desenvolvimento econômico e mais de uma década de completa estagnação com perversos ciclos de inflação e desemprego elevados. Com a grande crise do modelo econômico social do pós-guerra, que teve como a grande representante internacional a crise no mercado do petróleo em 1973, quando todo o mundo capitalista caiu em profunda recessão com elevadas taxas de inflação e baixas taxas de crescimento econômico, as ideias neoliberais começaram a ganhar terreno, principalmente junto aos movimentos operários dos países do oeste europeu e da América do Norte (CAL, 2003). Estava evidenciado o esgotamento do modelo intervencionista (BENJÓ, 1999), confirmado a partir da segunda crise do petróleo em 1979, com sucessivos fenômenos de recessão, déficit fiscal, incremento dos níveis de desemprego, transbordamentos dos contextos tradicionais das políticas sociais e perda geral da competitividade internacional, que provocaram uma crise global do Estado do Bem-Estar (PUCEIRO apud BENJÓ, 1999). O comportamento do Estado brasileiro, entretanto, acompanhou a tendência na América Latina, onde, ainda no início da década de 1980, o Estado era a base do crescimento econômico. Havia tendência de nacionalizar indústrias consideradas “estratégicas”. A abrangência do perigoso conceito de “indústria estratégica” exponencializou a participação estatal em empreendimentos que incluíam infraestrutura, produção e serviços. Como consequência, o investimento externo direto foi abandonado. Essa hipertrofia estatal foi financiada por empréstimos contraídos pelo próprio Estado, à época em condições bem favoráveis. Com a crise financeira internacional de 1982-1983, assistiu-se ao colapso generalizado das economias da região. Os Estados viram-se,por um lado, como proprietários de gigantescos empreendimentos de produção, ineficientes e mal geridos, e por outro, como devedores e inadimplentes. Houve sucessivas rupturas de compromisso com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e uma resultante situação de inadimplência generalizada (BENJÓ, 1999). AMARAL (apud BENJÓ, 1999) destaca que diante daquela situação, a reação ao Estado-empresário onipotente começou a surgir. Cita que as noções clássicas de desenvolvimento econômico conduzido em políticas públicas, sustentado por crônicos déficits orçamentários e fiscais, foram condenadas. Ao mesmo tempo, o protecionismo, postulado da doutrina nacional desenvolvimentista, passou a ser fortemente questionado. Argumenta, ainda, que a derrota social-democrata na Alemanha e mesmo em países nórdicos, tradicionais baluartes dessas forças políticas, colocou em xeque toda a esquerda ocidental, levando partidos trabalhistas e mesmo comunistas do Ocidente a reverem suas posições acerca do papel do Estado na economia. Os processos de privatização dos ora ativos estatais estavam sendo reavaliados e já tendiam a ressurgir no cenário capitalista ocidental. 2.2 ORIGEM DA PRIVATIZAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO Segundo CAL (2003), foi sendo percebido que alguns Estados se encontravam “falidos”, os serviços públicos eram prestados com péssima qualidade, a economia alcançava graus exorbitantes de inflação e o Estado por si só não conseguia reverter esse quadro. Isto fez com que se fosse abrindo uma nova ideia de Estado, voltada para a concepção do bem comum e com maior preocupação sobre a qualidade dos serviços prestados para a coletividade. Segundo BENJÓ (1999), algumas tarefas devem ser desempenhadas pelo Estado que não apenas a desregulamentação. Entende que o Estado é importante para viabilizar aqueles que produzem bens e serviços, sendo elemento subsidiário ao processo produtivo, isto é, só deve atuar quando a empresa privada livremente não puder fazê-lo (SOUZA apud BENJÓ, 1999). Há serviços de caráter universal que fazem parte da agenda do Estado que não podem ser negligenciados em favor de atividades produtivas, como é o caso da educação básica e da saúde pública. Esta é, portanto, a base da visão neoliberal da economia, que busca conciliar o ajustamento à economia globalizada, promovendo ambiente de alta competitividade com as necessidades de preservação dos mecanismos institucionais. Com esse pensamento, a ex-primeira-ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher, eleita em 1979, foi quem primeiro denunciou o problema do domínio exorbitante do Estado dentro dos sistemas produtivos dos principais países capitalistas e instituiu o termo “privatization”, ou privatização, que nada mais é do que uma política de transferência para o particular de domínios públicos (CAL, 2003). Os resultados obtidos pelo movimento liberal inglês contagiaram as economias ocidentais, fazendo surgir o que os norte-americanos convencionaram chamar de “reinvenção do Estado”. BENJÓ (1999) aponta que esta reinvenção não significa apenas tornar aplicáveis ao governo os critérios de produtividade do setor privado. Implica também mudar a forma de ação do Estado, por vários meios, destacando os seguintes elementos como sendo fundamentais à adequação estatal: o processo de desestatização, a terceirização visando à flexibilização produtiva através do setor econômico e os contratos de gerenciamento da infraestrutura (onde se incluem os contratos de concessão de serviços públicos em geral). Diante desta nova perspectiva, a privatização fez com que houvesse uma mudança muito grande do pensamento político, público-administrativo e jurídico e alcançou tanto os países desenvolvidos como aqueles “em desenvolvimento”, como é o caso do Brasil. Daí, porque a mudança de tais paradigmas, em pouco mais de duas décadas, vem causando tanta discussão, ao se verificar que a solução encontrada pela Inglaterra influenciou todo o mundo, desde os moldes republicanos norte-americanos ao socialista espanhol. O Brasil também acompanhou esta tendência e aderiu à forma de privatização, notadamente a partir dos anos 90. ARAGÃO et al. (2004) registram que a introdução no Brasil de práticas privatizantes foi acentuada decisivamente a partir de 1995, quando foram privatizadas integralmente as ferrovias brasileiras, as telecomunicações, a distribuição de energia elétrica, como também foram concretizadas inúmeras parcerias nos serviços portuários e rodoviários. Segundo aqueles autores, os resultados obtidos não têm sido satisfatórios, e em muitos casos caiu a qualidade dos serviços prestados e aumentaram os preços e as tarifas correspondentes. Segundo CAL (2003), o que se percebe atualmente é que o Estado contemporâneo não dispõe mais dos mecanismos econômicos, sociais, políticos e jurídicos, os quais possuía anteriormente. Tal fato decorre, principalmente, do fenômeno chamado globalização, originário da ascensão e da consolidação do Sistema Capitalista Financeiro, que busca a unificação dos mercados, maior liberdade alfandegária a fim de propiciar um maior intercâmbio entre os países do mundo. DANTAS (apud CAL, 2003) acredita que o processo de globalização poderá inclusive fortalecer a soberania estatal, incentivando outras formas de atuação do Estado, tais como o Estado-regulamentador, o Estado-mediador etc. Desta forma, conforme argumentado por SANTOS (apud CAL, 2003), concebe-se o pensamento neoliberal como integralizador mundial, não apenas de mercados externos, mas também de culturas, informações e abertura das atividades públicas para os setores privados. Assim, o Estado brasileiro se vê forçado a reestruturar suas bases, redefinir seu papel e a remodelar sua forma de administrar, buscando atingir um ideário de Estado-fiscalizador, regulador, incentivador, prestador de serviços de interesse e utilidade pública, o qual poderá vir a se transformar num Estado com maiores chances de competição na órbita externa globalizada (CAL, 2003). 2.3 REFORMA ADMINISTRATIVA BRASILEIRA E ESTADO- REGULADOR Nas últimas décadas do século XX foi observada uma profunda redefinição da atuação administrativa dos Estados, conceitos como o de acesso universal e eficiência na qualidade dos serviços públicos foram revitalizados, sob a modelagem do que se convencionou chamar de uma administração pública gerencial. Fenômeno que foi comum a diversos países ocidentais, as medidas reformadoras do aparelho administrativo estatal foram concebidas a partir do entendimento da não dicotomia entre o público e o privado, que, embora em aparente tensão, esses domínios não seriam antagônicos, porquanto a utilização de mecanismos regulatórios eficientes seria capaz de garantir o equilíbrio dos interesses envolvidos (SOUZA JUNIOR, 2001). Essa busca por maior competitividade, associada ao interesse das empresas transnacionais em ampliar seus mercados, tornou o setor de serviços públicos de infraestrutura o segmento no qual se observaram as maiores transformações. Nesse período, a posição brasileira não destoou desse contexto de reformas. No campo dos serviços públicos, seguindo o modelo anglo-saxão, as transformações do papel do Estado caracterizaram-se pela redução de sua estrutura orgânica e a redefinição de suas funções, de forma a se afirmar como Estado gerencial e competitivo, apropriado a sociedades abertas numa economia globalizada (SOUZA JUNIOR, 2001). Seguindo essa tendência, através da Lei nº 8.031, de 12 de abril de 1990, o governo federal brasileiro criou o Programa Nacional de Desestatização (PND), que surgiu como elemento-chave visando associar resultados econômicos através da reforma do estado e da integração dos mercados internacionais. Houve grandes avanços no processo de desestatização, incluindo a siderurgia nacional e o todo setor petroquímico (BENJÓ, 1999). No setor das atividades exclusivas de Estado, foram criadas as agências reguladoras que passaram a regular os segmentos econômicos não suficientemente competitivos. Além disso, ordenou-se a integração das atividades das agênciasexecutivas e das organizações sociais do setor público não estatal, contratualizando-se as relações entre esses órgãos através de um novo instrumento de controle das atividades exclusivas e não-exclusivas, o contrato de gestão (SOUZA JUNIOR, 2001). O mesmo autor, contudo, adverte que embora a reforma tenha sido institucionalmente implementada, permanece como foco de questionamento aspectos relativos aos seus desdobramentos, em função da definição conceitual do que possa ser o perfil adequado de atuação do Estado. Segundo BENJÓ (1999), o Estado-regulador independente se faz necessário para permitir a liberdade de atuação dos agentes econômicos e incentivar o crescimento autossustentado. A base de sustentação é a premissa de que a sociedade tem condições de resolver, de forma mais eficiente, mais descentralizada e menos custosa, grande parte de seus problemas. Nisso se afasta as lides do Estado-empresário, para dedicar-se aos interesses nacionais e à identidade do grande conjunto chamado Brasil. Ainda, segundo esse autor, a economia moderna globalizada leva à plena consciência da “necessidade de um Estado mínimo capaz de recuperar sua importância original, desempenhando atividades de caráter normatizador, regulador e fiscalizador da sociedade civil. O Estado não pode ser um concorrente privilegiado junto à sociedade. A Administração deve ser, antes de tudo, capaz de exercer o poder de polícia sobre os serviços prestados à sociedade, buscando dirimir conflitos, garantindo estabilidade de regulamentos e prestando consultoria quanto ao entendimento das prescrições normativas estabelecidas” (BENJÓ, 1999, p. 17-21). Neste sentido, após a promulgação da Lei nº 8.031/90, em 1995 foi apresentado pelo Governo Federal o Plano Diretor da Reforma do Estado, constituindo-se, então, numa proposta para a terceira grande reforma da Administração Pública brasileira. E, por meio da Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, implantou-se a mais recente reforma na Administração a fim de torná-la eficiente, pois, ao se vislumbrar o fenômeno da globalização interagindo ao lado de outros fatores que lhe são adjacentes, resulta óbvia a influência de forma direta e decisiva deste fenômeno socioeconômico nos setores da Administração Pública, uma vez que é nítida a relação triangular que se forma entre economia globalizada, Administração Pública e reforma do Estado (SOUZA JUNIOR, 2001, CAL, 2003). PEREIRA (1998, p. 49-50) aponta que “a reforma do Estado envolve quatro problemas que, embora interdependentes, podem ser distinguidos: (a) um problema econômico-político – a delimitação do tamanho do Estado; (b) um outro também econômico-político, mas que merece tratamento especial – a redefinição do papel regulador do Estado; (c) um econômico-administrativo – a recuperação da governança ou capacidade financeira e administrativa de implementar as decisões políticas tomadas pelo governo; e (d) um político – o aumento da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e governar”. Na delimitação do tamanho do estado estão envolvidas as ideias de privatização, “publicização” e terceirização”. A questão da desregulamentação diz respeito ao maior ou menor grau de intervenção do Estado no funcionamento do mercado. No aumento da governança tem-se: um aspecto financeiro – a superação da crise fiscal; um estratégico – a redefinição das formas de intervenção no plano econômico- social; e um administrativo – a superação da forma burocrática de administrar o Estado. No aumento da governabilidade estão incluídos dois aspectos: a legitimidade do governo perante a sociedade e a adequação das instituições políticas para a intermediação dos interesses, conforme também sustentado por SOUZA JUNIOR (2001). Quanto às atividades econômicas consideradas exclusivas do Estado, segundo e SOUZA JUNIOR (2001), a primeira e principal delas é a de garantir a estabilidade da moeda, e para isso a criação de bancos centrais ao longo do século passado foi fundamental, o que também serviu para a estabilização do sistema financeiro, que é também considerada atividade estratégica exclusiva do Estado. Comentam que os investimentos na infraestrutura e nos serviços públicos, a rigor, não são uma atividade exclusiva de Estado, na medida em que podem ser objeto de concessão. Não restando dúvida, porém, de que a responsabilidade deste setor cabe ao Estado, o qual diversas vezes tem a obrigação de investir diretamente. Na reforma administrativa, portanto, conforme PEREIRA (1998), as atividades exclusivas de Estado devem permanecer dentro do Estado. E pode-se distinguir dentre as atividades exclusivas, “verticalmente, no seu topo, um núcleo estratégico, e, horizontalmente, as secretarias formuladoras de políticas públicas, as agências executivas e as agências reguladoras”, primordiais para o aumento da governança através de uma administração pública gerencial. PEREIRA (1998) assegura que ficou definitivamente claro que a atividade empresarial não é própria do Estado, já que pode ser muito melhor e mais eficientemente controlada pelo mercado do que pela Administração. Além de considerar que o controle pelo Estado é ineficiente quando comparado com o mercado, o controle estatal ainda tem o problema de submeter à operação das empresas a critérios políticos muitas vezes inaceitáveis, e a confundir a função da empresa, que é a de ser competitiva e ter lucros, com a do Estado, que na área econômica pode ser a de distribuir renda. PEREIRA (1998) conclui que, depois de ocorrido amplo debate, já existe um relativo consenso de que é necessário privatizar, dada a crise fiscal, bem como que conveniente privatizar, dada a maior eficiência e a menor subordinação a fatores políticos das empresas privatizadas. Sendo que o único setor da produção de bens e serviços para o mercado onde pode haver dúvidas legítimas sobre a conveniência de privatizar é dos monopólios naturais. E para se tornar privados os serviços prestados nessas condições, onde se incluem os serviços das infraestruturas rodoviárias, é necessário estabelecer agências reguladoras, autônomas, que sejam capazes de impor os preços que prevaleceriam se mercado houvesse em tais setores econômicos. Segundo FLORISSI e NOSVITZ (2003), esta última conclusão é fundamental, principalmente no que diz respeito às indústrias de utilidade pública, que são caracterizadas, em sua maioria, por monopólios naturais, onde não há espaço para muitas firmas, que têm que operar com altos custos fixos em seus respectivos processos produtivos. Como não há garantia de que, sem concorrência, a simples transferência de propriedade para o setor privado resulte em um aumento de eficiência, é elementar o estabelecimento de mecanismos eficientes de regulação por parte dos governos, após um processo de privatização. Os setores de infraestrutura são típicos exemplos de hipóteses de monopólio natural, posto que apresentam todas as características acima mencionadas. Ainda que outros concorrentes optem por entrar naquele determinado segmento, a própria estrutura do mercado não comporta atuação em regime concorrencial. Esse é o caso não apenas das rodovias, mas também de outros setores de infraestrutura, tais como as ferrovias, o sistema de transmissão de telefonia, com cabos e a estruturação da rede, o sistema de saneamento e abastecimento de água e rede de transporte de petróleo e derivados. GARCIA (2004), exemplificando o acima citado, destaca que é inviável, por força dos altos custos de investimento, que se construa uma rodovia paralela para permitir exploração em regime concorrencial. Cita que isso é tanto verdade que a Lei 8.987/95 estabelece, no seu artigo 16, que a outorga de concessão e da permissão não deve ter caráter de exclusividade, o que significa dizer que os serviços devem, sempre que possível, ser objeto de exploração concorrencial, partindo-se da premissa de que a competitividade entre os prestadores é a desejada alavanca para a eficiência. Destarte, pode o monopólio
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