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Doença sexualmente transmissível causada pela bactéria espiroqueta Treponema pallidum. Apresenta amplo espectro clínico de apresentação na dependência do estágio da doença e sítio acometido. Transmissão ✓via congênita, ✓por transfusão sanguínea ou ✓por contato sexual (essa última via requer a presença de lesões - cancro duro, condiloma plano, placas mucosas, lesões úmidas). O microrganismo penetra por membrana mucosa intacta ou por abrasões em derme e penetra em vasos linfáticos e sangue, levando à infecção sistêmica. O tempo de incubação entre a exposição e o desenvolvimento de lesões primárias é de três semanas e pode variar de 10 a 90 dias. Quando não tratado, o processo infeccioso envolve quatro estágios: ✓primário, ✓secundário, ✓latente e ✓terciário. A resposta imune é caracteristicamente humoral incompleta e não duradoura e por hipersensibilidade tipo IV (tardia) levando a granulomas, ulcerações e necrose tecidual. O acometimento do sistema nervoso cerebral ocorre durante o estágio secundário, porém com quadros subclínicos de neurossífilis meningovascular. Tardiamente, o parênquima cerebral e a medula espinhal são danificados resultando nos sinais e sintomas característicos da neurossífilis. A sífilis congênita ocorre mediante a transposição da barreira placentária pelo microrganismo e pode ocorrer em qualquer fase da gestação ou estágio clínico da infecção materna, e durante o parto, se houver lesões genitais maternas. Apresentação Clínica Existem duas classificações para as formas clínicas da sífilis adquirida. ✓ Pelo tempo de infecção: ✓ Sífilis precoce; ✓ Sífilis tardia. ✓ Pelas manifestações clínicas: ✓ Sífilis primária; ✓ Sífilis secundária. Sífilis precoce: Corresponde ao primeiro ano de doença, incluindo as fases de sífilis primária, secundária e latente precoce. A neurossífilis também pode ocorrer no primeiro ano de infecção. Sífilis tardia: Corresponde ao quadro de infecção com um ou mais anos de duração, podendo ser assintomática, com exame físico normal e sorologia positiva, período conhecido como "sífilis latente tardia", ou manifestar-se como sífilis terciária. Sífilis primária: A primeira manifestação se caracteriza por úlcera ou erosão no sítio de entrada da bactéria, com tempo de incubação de 10 a 90 dias (média de três semanas). Pápula indolor surge no sítio de inoculação (geralmente, genitália), evoluindo com ulceração e formação do cancro - "cancro duro" (úlcera de um a dois centímetros com margens enduradas) sem exsudato. Pode vir associada à linfadenomegalia inguinal ou regional. Cancros costumam desaparecer em duas e seis semanas, mesmo na ausência de tratamento. Em mulheres, as lesões surgem na vulva ou cérvix; em 10% dos pacientes ocorre no ânus, dedos, orofaringe, língua, mamilos ou outros sítios extragenitais. A lesão pode não ser notada ou valorizada pelo paciente, especialmente em regiões anatômicas menos evidentes. Sífilis Recente (primária) - Cancro duro Úlcera em pênis: lesão única, bem definida; fundo limpo; bordas elevadas. Geralmente indolor. Sífilis Recente (primária) - Cancro duro Úlcera em períneo: lesão única no períneo. Sífilis secundária: Ocorre, geralmente, em torno de seis semanas a seis meses após a cicatrização do cancro, e é marcada pela disseminação sistêmica. 25% dos pacientes com infecção primária não tratada desenvolvem doença sistêmica. Eventualmente, pode ocorrer ainda na presença do cancro, principalmente, em portadores do vírus HIV. Sintomas inespecíficos podem surgir como adinamia, cefaleia, anorexia, náuseas, dores ósseas e fadiga, assim como febre e rigidez indolor em nuca. Eventuais manifestações podem ocorrer, como hepatite, nefropatia, proctite, artrite e neurite óptica. No entanto, suas principais manifestações podem surgir de duas a dez semanas a partir do cancro e consistem em: Rash: Macular ou papular difuso e simétrico em tronco e extremidades, incluindo palmas e plantas; Sífilis pustular: Pode apresentar-se com pústulas de variados tamanhos (sifílides) que, raramente, ulceram (sífilis maligna); Sífilis Recente (secundária) – Fase exantemática Roséolas palmares e plantares: lesões exantemáticas em pele do corpo, acompanhadas dessas lesões em palmas de mãos e/ou plantas dos pés. Lesões mucosas: Membranas de mucosa oral ou genital podem apresentar lesões branco-acinzentadas, chamados de "condiloma lata", em áreas próximas ao cancro original; Sintomas sistêmicos: Sintomas inespecíficos de febre, cefaleia, cansaço, anorexia e emagrecimento podem acompanhar o quadro; Linfadenomegalias cervical, axilar, inguinal e femoral são comuns; Pode manifestar-se ainda por uveíte anterior, uveíte posterior, alopecia; síndrome nefrótica, síndrome nefrítica, hepatite e infiltração gastrintestinal. Manifestações musculoesqueléticas: Mialgia e artralgia são comuns. Sífilis pode causar sinovite, osteíte e periostite; Sífilis latente: Caracterizada por assintomatologia ou sintomas subclínicos inespecíficos. Pode ter duração de anos ou décadas (até 25 anos). Pode ser dividida em latente precoce (primeiro ano após resolução da sífilis primária ou secundária) e latente tardia - essa última caracterizada por ser transmissível apenas por via vertical. Sífilis terciária: Pode surgir até dez, 20 ou mais anos após a infecção primária. Manifesta-se pela formação das gomas sifilíticas (tumores moles que surgem em pele e mucosas), podendo acometer também o esqueleto ósseo. A coinfecção pelo HIV aumenta o risco de progressão rápida para a sífilis terciária. Outras graves manifestações da doença terciária são: Sífilis cardiovascular: Complicação tardia da sífilis terciária. Caracteriza-se por acometimento da aorta ascendente, com consequente dilatação aórtica (raramente, evoluindo com dissecção) e regurgitação valvar. Geralmente, manifesta-se por insuficiência cardíaca esquerda devido à sobrecarga volumétrica; Os sinais e sintomas geralmente ocorrem após 3 a 12 anos de infecção com lesões cutâneo-mucosas, neurológicas, cardiovasculares e articulares. SÍFILIS TERCIÁRIA http://blog.sindpd.org.br/up/s/si/blog.sindpd.org.br/img/.resized_cerebro.jpg Neurossífilis: Apresenta amplo espectro de manifestação, desde uma meningoencefalite até déficits neurológicos focais e tabes dorsalis. Pode se manifestar precocemente (< um ano) e até 30 anos após a infecção primária. Sífilis congênita: O quadro clínico é variável dependendo do tempo de exposição fetal ao treponema, da carga treponêmica materna, da virulência do treponema, do tratamento da infecção materna, da coinfecção materna pelo HIV ou outra imunodeficiência. Pode ocorrer aborto, natimorto ou óbito neonatal, sífilis congênita “sintomática” ou “assintomática” ao nascimento. A sífilis congênita é dividida em precoce ou tardia, de acordo com o surgimento antes ou depois dos dois primeiros anos de vida. Na sífilis congênita precoce pode ocorrer hepatomegalia, esplenomegalia, lesões cutâneas (condiloma lata e rash maculopapular), periostite, anormalidades radiográficas, pseudoparalisia dos membros, sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite serossanguinolenta, febre, icterícia, anemia, linfadenopatia generalizada, petéquias, púrpura, fissura peribucal, síndrome nefrótica, hidropsia, edema, convulsão e meningite. Sífilis Congênita Precoce Recém-nascido com sífilis: recém-nascido com hepatoesplenomegalia, lesões cutâneo-mucosas, coriza serosangüinolenta, icterícia. As manifestações tardias (após os dois anos de vida) incluem deformidades dentárias e ósseas (tíbia em “lâmina de sabre”, articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em sela”, dentes incisivos medianos superiores deformados - dentes de Hutchinson, molares em “amora”, mandíbula curta, arco palatino elevado), ceratite intersticial, perda auditiva sensorial e dificuldade no aprendizado, assim como tabes dorsalis e paresias generalizadas, com acometimento do VIII par craniano e atrofiado nervo ótico, e amaurose. A mortalidade pode ser conduzida por mau prognóstico devido hepatite fulminante, hemorragia pulmonar ou superinfecção. Marcadores de gravidade: Diagnóstico tardio, coinfecção pelo HIV, sífilis terciária, sífilis congênita. Fatores de risco: Sexo sem proteção com preservativos, abuso de drogas intravenosas, múltiplos parceiros sexuais, diagnóstico tardio ou desconhecido. Abordagem Diagnóstica A partir da suspeita clínica, o diagnóstico deve ser confirmado através de exames sorológicos ou por microscopia, na dependência do estágio da doença. Exames laboratoriais estão indicados apenas para pacientes com critérios de internação, acompanhamento terapêutico e manejo de comorbidades. Exames de Rotina Exames laboratoriais: Hemograma completo; função renal; eletrólitos; hepatograma; coagulograma; PCR e VHS. Se sífilis primária: Solicitar pesquisa direta de Treponema pallidum por microscopia de campo escuro ou imunofluorescência direta de material do cancro. Se sífilis secundária: Solicitar sorologia incluindo um teste não treponêmico (VDRL, do inglês Venereal Disease Research Laboratory; RPR, do inglês Rapid Test Reagin) E um teste treponêmico (ex.: FTA-Abs, ELISA, teste rápidos imunocromatográficos, EQL e TPHA). Se sífilis terciária: Solicitar sorologia incluindo um teste não treponêmico e um teste treponêmico. Se acometimento ósseo: Solicitar radiografia dos ossos suspeitos; Se neurossífilis: Incluir punção lombar com pesquisa de VDRL; Se sífilis cardiovascular: Solicitar ecocardiograma; Se manifestações oculares: Exame oftalmológico completo com especialista. Se sífilis latente: Na suspeita de sífilis latente (através da história patológica pregressa) ou exame não treponêmico em screening, completar com teste treponêmico e não treponêmico, caso ainda não solicitados. Diante da possibilidade de sífilis terciária, avaliar investigação dos principais quadros: ✓ Solicitar ecocardiograma (investigar sífilis cardíaca e aortite); ✓ Anti-HIV ✓ Punção lombar: Indicada na presença de déficit neurológico focal e/ou sintomas de meningoencefalite. Alterações liquóricas compatíveis com neurossífilis são pleocitose (> 5 células/campo), hiperproteinorraquia (> 50 mg/dL) e VDRL positivo no líquor. • Atenção! Acidentes de punção podem causar VDRL falso-positivo no líquor. Sendo assim, caso haja visualização macroscópica de sangue, deve-se desconsiderar o resultado do VDRL; • Monitorização de tratamento: Nos quadros de neurossífilis tratado, a monitorização do tratamento deve ser realizada com punção lombar a cada seis meses por dois anos, devendo-se retratar quando não há normalização dos parâmetros liquóricos. Interpretando a Sorologia A interpretação correta dos exames sorológicos é fundamental para estabelecer o diagnóstico e identificar a fase da doença e resposta ao tratamento. Testes não treponêmicos (VDRL, RPR): Podem ser negativos na sífilis primária. São testes sorológicos úteis para screening em áreas de alta prevalência de sífilis, e pode ser qualitativo e/ou quantitativo. A queda em sua titulação indica boa resposta ao tratamento. Na sífilis precoce (1º ano) a titulação costuma ser mais alta, atingindo um pico na sífilis secundária. Também são utilizados para monitorizar o tratamento clínico. Tornam-se reagentes cerca de uma a três semanas após o surgimento do cancro duro. O resultado é expresso em títulos (1:2, 1:4, 1:64, ...), de forma a viabilizar o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento. Interpretando a Sorologia Testes não treponêmicos (VDRL, RPR): continuação.... Uma amostra testada com testes de fabricantes ou plataformas diferentes poderá apresentar variação de título em, mais ou menos, uma diluição no resultado final, sem que isso signifique erro. Em fases tardias da doença, esperam-se títulos baixos (< 1:4), que podem persistir por meses ou anos. Nesses casos, o indivíduo é considerado portador de sífilis latente tardia. Amostras com títulos elevados podem apresentar resultados falso- negativos sem uma diluição adicional (1:8 ou 1:16) devido ao fenômeno prozona. Esse fenômeno não ocorre nos testes treponêmicos. Testes treponêmicos (ex.: FTA-ABS): São testes sorológicos que detectam antígenos da bactéria, sendo úteis para confirmar o resultado de testes não treponêmicos. O FTA-ABS positiva, em média, no décimo dia de doença e mantém-se positivo, na maioria dos pacientes, pelo resto da vida, não sendo um parâmetro de monitorização terapêutica. Para o diagnóstico da sífilis, devem ser utilizados: Um dos testes treponêmicos (ex.: teste rápido ou FTA-Abs ou TPHA ou EQL ou ELISA); E ADICIONALMENTE Um dos testes não treponêmicos (ex.: VDRL ou RPR ou TRUST). Observação: Quando o teste rápido for utilizado como triagem, nos casos reagentes, uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada para a realização de um teste não treponêmico. Em caso de gestante, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste reagente, treponênico ou não treponêmico, sem aguardar o resultado do segundo teste. Atenção ao efeito prozona, que consiste em fenômeno observado na sífilis secundária devido à presença de intensa antigenemia, causando a não visualização da reação de aglutinação do VDRL mesmo em sua presença, com consequente falso-negativo. Para reverter o efeito, deve-se diluir a amostra até que se observe reatividade. Causas de VDRL falso-positivo: Causas infecciosas: Leptospirose, malária, doença de Chagas, tuberculose, hanseníase, hepatite (principalmente, vírus C), mononucleose, endocardite subaguda, pneumonia por pneumococo ou Mycoplasma sp.; Causas não infecciosas: Doença do colágeno (principalmente, síndrome do anticorpo antifosfolipídeo), febre reumática, uso de drogas endovenosas, vacinação, hemotransfusão e hepatopatia crônica. Frequência dos exames diagnósticos: Se sífilis primária, secundária e latente recente, os exames clínico e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizados 6 e 12 meses após o tratamento. Se sífilis terciária ou latente tardia ou latente com duração ignorada, os exames clínico e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizados 6, 12 e 24 meses após o tratamento. Se neurossífilis, os exames clínico-neurológico (incluindo punção lombar) e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizados a cada três a seis meses após o tratamento até atingir a contagem de leucócitos e VDRL negativo no líquor. Se o VDRL do RN for positivo, com título igual ou menor que o materno, acompanhar clinicamente. Se não for possível o seguimento clínico, investigar e tratar de acordo com as alterações liquóricas. Diagnóstico Diferencial ✓Tumores em sistema nervoso central; ✓Infecções do sistema nervoso central; ✓Carcinomas; ✓Insuficiência cardíaca congestiva; ✓Infecção fúngica; ✓Linfomas; ✓Sarcoidose; ✓Convulsões; ✓Acidente vascular encefálico; ✓Traumas; ✓Infecção por HIV e AIDS. Diagnóstico Diferencial ✓Doenças sexualmente transmissíveis, como clamidioses; ✓Candidíase; ✓Condyloma acuminatum; ✓Infecção de Trato Urinário; ✓Farmacodermias; ✓Herpes Simples; ✓Catapora; ✓Herpes-zóster; ✓Infecção por HPV; ✓Donovanose; ✓Linfogranuloma Venéreo; Acompanhamento Internação hospitalar: Está indicada nos quadros graves, especialmente na sífilis terciária com neurossífilis ou sífilis cardíaca. Seguimento ambulatorial: Todo paciente deve seguir o acompanhamento médico, seja em unidade básica de saúde, na rede particular ou em médico assistente. Após o término do tratamento, o acompanhamento do VDRL é obrigatório (vide o tópico "Interpretando a sorologia"). Na Atenção Primária à Saúde ✓ Gestantes precisam repetir o VDRL mensalmente; ✓ Durante o acompanhamento do título do VDRL, o aumento em duas diluições acima da última sorologia, justifica a realizar novo tratamento, mesmo se não houverem sintomas; ✓ A diminuição de 2 diluições em 3 meses e de 3 diluições em 6 mesesindica sucesso; ✓ Pode haver persistência de títulos baixos (cicatriz sorológica) pelo resto da vida. É importante evitar novas exposições com o uso de preservativo. ✓ Durante o acompanhamento do título do VDRL, o aumento em duas diluições acima da última sorologia, justifica a realização de novo tratamento, mesmo se não houver sintomas. ✓ A diminuição de 2 diluições em 3 meses e de 3 diluições em 6 meses indica sucesso. Abordagem Terapêutica O tratamento de escolha eficaz para a sífilis é a penicilina G benzatina via intramuscular (IM) baseado no estágio da doença. Existem alternativas terapêuticas, porém são citadas como apresentando menor eficácia. Tratamento de Adultos (Incluindo Gestantes) Se sífilis primária, secundária e latente recente: Penicilina G benzatina 2,4 milhões unidades (1,2 milhão de unidades em cada glúteo) via IM, dose única. Opções: Doxiciclina 100 mg VO de 12/12 horas, por 15 dias (exceto para gestantes); OU Ceftriaxona 1 g via IM ou EV de 24/24 horas, por 8-10 dias para gestantes e não gestantes; ➢ Obs: Os exames clínico e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizado 6 e 12 meses após o tratamento. Se sífilis terciária ou latente tardia ou latente com duração ignorada: Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades via IM (1,2 milhão de unidades em cada glúteo), 1x em cada semana (total de três semanas - 7,2 milhões unidades, IM). Opções: Doxiciclina 100 mg VO de 12/12 horas, por 30 dias (exceto para gestantes); OU Ceftriaxona 1 g via IM ou EV de 24/24 horas, por 8-10 dias para gestantes e não gestantes; ➢ Obs: Os exames clínico e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizados 6, 12 e 24 meses após o tratamento. Se neurossífilis: Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades EV de 4/4 horas (ou 18 a 24 milhões de unidades por infusão contínua), por 14 dias. Opção: Ceftriaxona 2 g EV, ou IM 24/24 horas, por 10-14 dias; ➢ Obs: O exame clínico-neurológico (incluindo punção lombar) e sorológico, com teste não treponêmico, devem ser realizados a cada três a seis meses após o tratamento até atingir a contagem de leucócitos e VDRL negativo no líquor. ➢ Pacientes alérgicos à penicilina devem ser submetidos ao protocolo de dessensibilização no intuito de viabilizar o uso desse antimicrobiano; ➢ Os protocolos podem variar de acordo com o país devido às variações quanto à disponibilidade ou registro de drogas. O Ministério da Saúde do Brasil não recomenda os esquemas com tetraciclina ou amoxicilina. Sífilis Congênita - Tratamento para Recém-nascidos Recém-nascidos (RN) de mães com sífilis não tratadas adequadamente, independente do teste não treponêmico do RN, ou RN com sangue periférico com VDRL positivo de mães tratadas adequadamente: ✓ Esquema para alterações clínicas, imunológicas, radiológicas e/ou hematológicas: Penicilina cristalina 50.000 unidades/kg/dose EV de 12/12 horas nos primeiros sete dias de vida, e a cada 8/8 horas após sete dias de vida, para o total de dez dias. Opção: Penicilina G procaína 50.000 unidades/kg IM de 24/24 horas, por dez dias; ✓ Esquema para presença de alteração liquórica: Penicilina cristalina 50.000 unidades/kg/dose EV de 12/12 horas nos primeiros sete dias de vida, e a cada 8/8 horas após sete dias de vida, por dez dias; ✓ Esquema para ausência de alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas, e teste não treponêmico não reagente: Penicilina G benzatina 50.000 unidades/kg IM. ➢ Obs.: Na impossibilidade de realizar punção lombar, tratar o caso como neurossífilis. Sífilis Congênita - Tratamento para Recém-nascidos RN assintomático e VDRL negativo nascido de mães tratadas adequadamente, sem possibilidade de garantir o seguimento clinico- laboratorial ou nascido de mães não adequadamente tratadas com avaliação completa normal e com seguimento clínico-laboratorial disponíveis: Penicilina G benzatina 50.000 unidades/kg IM, dose única. ➢ Obs.: Se o VDRL do RN for positivo, com título igual ou menor que o materno, acompanhar clinicamente. Se não for possível o seguimento clínico, investigar e tratar de acordo com as alterações liquóricas. Crianças diagnosticadas com sífilis congênita após um mês de idade: Penicilina G cristalina 50.000 unidades/kg EV de 4/4 horas a 6/6 horas, por 10 dias. Definição: O cancro mole é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria da espécie Haemophilus ducreyi. Fisiopatologia H. ducreyi consiste em bacilo gram-negativo, cuja transmissão requer a presença de fissura na pele ou na mucosa durante o ato sexual. Uma citotoxina secretada desempenha um papel importante no dano celular ao epitélio e ao consequente desenvolvimento de úlcera. O período de incubação varia de um a 35 dias. Apresentação Clínica A doença se inicia com uma pápula eritematosa que evolui para pústula e sequencia para úlcera em 48 horas, podendo evoluir para várias lesões confinadas à região genital por autoinoculação e aos linfonodos de drenagem. Essas úlceras são dolorosas, com bordas irregulares, com limites eritemato-edematosos, sem enduração, fundo heterogêneo. A base da úlcera costuma ser friável, avermelhada e granular, recoberta com material purulento e odor fétido, exsudato necrótico, quando infectadas. A localização mais frequente nas mulheres é na fúrcula vulvar, no vestíbulo, clitóris, e face interna dos pequenos e grandes lábios. Quando acometem colo do útero ou vagina podem ser endurecidas. Nos homens podem acometer o frênulo e sulco bálano-prepucial. A área perianal também pode ser afetada. Apresentação Clínica Metade dos pacientes apresenta linfadenopatia inguinal dolorosa (inguino - crurais - bubão), que pode ser uni ou bilateral e cursar com flutuação, sendo chamada de bubão, que por vezes pode fistulizar cursando com drenagem e formação de úlceras. A cicatrização pode ser desfigurante. Abordagem Diagnóstica O diagnóstico clínico provável pode ser adotado com os achados clínicos e epidemiológicos. A suspeita diagnóstica pode ser reforçada com a detecção de bastonetes gram-negativos em esfregaço coletado da lesão. O diagnóstico definitivo é feito através do crescimento do H. ducreyi em meio específico, porém a sensibilidade para a cultura é baixa. Os testes moleculares baseados em reação de polimerização em cadeia (PCR) específicos para genes de H. ducreyi podem ser utilizados em material obtido através dos espécimes clínicos, mas não estão amplamente disponíveis em laboratórios clínicos. Deve-se também realizar testes laboratoriais para sífilis, HIV e HSV. Diagnóstico Diferencial ✓ Sífilis; ✓ Herpes genital; ✓ Farmacodermias; ✓ Síndrome de Behçet; ✓ Donovanose; ✓ Erosões traumáticas infectadas; ✓ Linfogranuloma venéreo (LGV). Abordagem Terapêutica As opções terapêuticas consistem em Azitromicina, Ceftriaxona, Ciprofloxacino ou Eritromicina. Se a terapia empírica for adotada, recomenda-se tratamento simultâneo para HSV e sífilis, pois há possibilidade de coinfecção. A aspiração, com agulha de grosso calibre, dos gânglios linfáticos regionais comprometidos é indicada para alívio de linfonodos tensos e com flutuação. Há contraindicação para incisão com drenagem ou excisão dos linfonodos acometidos. Prescrição Ambulatorial Orientação para o paciente fazer uso de métodos de barreira durante os atos sexuais; Lembrar de orientar a possibilidade de reinfecção, portanto o tratamento do(a) parceiro(a) é importante. Antibioticoterapia Escolha uma das opções: ✓ Azitromicina 1 g VO, dose única; ✓ Ceftriaxona 250 mg IM, dose única; ✓ Ciprofloxacino 500 mg VO de 12/12 horas, por 3 dias; ✓ Eritromicina (base) 500 mg VO de 8/8 horas, por 7 dias. Definição: O herpes genital é uma infecção crônica associada ao herpes-vírus simples (HSV) 1 e 2, sendo o tipo 1 mais frequente nas lesões orais e o tipo 2 nas lesões genitais, embora ambos possam causar as lesões genitais. Fisiopatologia Os HSV tipo 1 e 2 pertencem à família Herpesviridae e são DNA- vírus que variam quanto à composiçãoquímica e podem ser diferenciados por técnicas imunológicas. Embora os HSV-1 e HSV-2 possam provocar lesões em qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais e do tipo 1 nas lesões periorais. Após primoinfecção genital, o HSV ascende pelos nervos periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células dos gânglios sensitivos e entra em um estado de latência. O vírus penetra nas terminações dos nervos sensoriais e é transportado de modo retrógrado pelo axônio para as raízes dos gânglios dorsais, ficando potencialmente latente por toda a vida. Fisiopatologia A ocorrência de infecção do gânglio sensitivo não é reduzida por qualquer medida terapêutica. Episódios de recorrência são mais frequentes entre pacientes que apresentam primoinfecção por HSV-2 que por HSV-1. Os mecanismos imunológicos controlam a latência e a reativação. Esta última ocorre de maneira espontânea em virtude de diferentes causas, resultando no transporte anterógrado de partículas/proteínas do vírus para a superfície, onde irão se disseminar, formando ou não lesões. A reativação decorre de quadros infecciosos, exposição à luz ultravioleta, traumatismos locais, menstruação, estresse físico ou emocional, antibioticoterapia prolongada e/ou imunodeficiência. Quadro clínico: As manifestações clínicas da infecção pelo HSV podem ser divididas em primoinfecção herpética (período de incubação médio de seis dias) e surtos recidivantes. Em geral, sintomas prodrômicos sistêmicos (cefaleia, mal-estar e febre) e locais (parestesia, prurido) podem preceder o surgimento das lesões. Inicialmente, apresentam-se eritemato-papulosas de 1-3,5 mm de diâmetro, com rápida evolução para vesículas sobre base eritematosas, muito dolorosas e de localização variável na região genital, com conteúdo citrino, raramente turvo. A primoinfecção tem duração de aproximadamente uma semana, e as lesões evoluem para úlceras coalescentes, tornando-se crostas. A linfadenomegalia inguinal dolorosa, bilateral pode estar presente. As vesículas são dolorosas e podem ser acompanhadas de disúria e/ou aumento da frequência urinária. Em casos de primoinfecção, essa fase tende ser mais longa. Quadro clínico: O vírus se dissemina na fase de vesícula e úlcera. A dor persiste por 7-10 dias, a cicatrização da lesão requer 2-3 semanas e é comum haver recorrência após infecção pelo HSV-2. Quando há acometimento do colo do útero, é comum o corrimento vaginal. Em homens, o acometimento da uretra pode provocar corrimento e raramente é acompanhado de lesões extragenitais. O quadro pode ter duração de 15-21 dias. HERPES ORAL HERPES GENITAL NO HOMEM HERPES GENITAL NA MULHER Quadro clínico: ✓ Nas recorrências, o quadro clínico é menos intenso que o observado na primoinfecção e pode ser precedido de sintomas prodrômicos, como prurido leve ou sensação de “queimação”, mialgias e “fisgadas” nas pernas, quadris e região anogenital. A recorrência tende a apresentar a mesma localização da lesão inicial, geralmente em zonas inervadas pelos nervos sensitivos sacrais. As lesões podem ser cutâneas e/ou mucosas. ✓ É incomum a visualização das vesículas nas mucosas. As lesões apresentam regressão espontânea em 7-10 dias, com ou sem cicatriz. Os surtos se tornam menos intensos e menos frequentes com o tempo. Quadro clínico: ✓ As gestantes portadoras de herpes simples apresentam maior risco de complicações fetais e neonatais, especialmente no final da gestação. O maior risco de transmissão congênita do vírus ocorre no momento da passagem do feto pelo canal de parto. A infecção pode ser ativa ou assintomática. Recomenda-se a cesariana sempre que houver lesões herpéticas ativas. Para mais informações, acesse Herpes Genital na Gestação. ✓ Nos pacientes com imunodepressão, podem ocorrer manifestações atípicas, com grandes lesões ulceradas ou hipertróficas, que persistem na ausência de tratamento local ou até mesmo sistêmico. Complicações: ✓ Acometimento do sistema nervoso central (ex.: meningite asséptica, mielite transversa ou encefalite ); ✓ Envolvimento do nervo sacral levando à retenção urinária; ✓ Doença de órgãos-alvo, incluindo a hepatite ou pneumonia; ✓ HSV disseminado. Abordagem Diagnóstica ✓ O diagnóstico presuntivo pode ser feito com base nos aspectos clinicoepidemiológicos. ✓ O exame padrão-ouro para o diagnóstico é a cultura tecidual, porém, se negativa, não significa que não há lesão herpética, uma vez que o teste tem alta especificidade e baixa sensibilidade. O PCR (Polymerase Chain Reaction) tem maior especificidade e sensibilidade quando comparado à cultura, sendo uma opção caso a cultura seja negativa. ✓ Os testes sorológicos tipo-específicos para glicoproteína-G disponíveis, para detectar anticorpos específicos para HSV-1 e HSV-2, apresentam alta sensibilidade e alta especificidade, sendo mais uma ferramenta para auxiliar no diagnóstico. ✓ Outra opção é o teste rápido para detecção do HSV através de imunofluorescência direta. Na Atenção Primária à Saúde: Na presença de úlcera genital, tendo como causa provável uma Infecção Sexualmente Transmissível, sem disponibilidade de laboratório, a história ou evidência de lesões vesiculares indicam o tratamento para herpes genital. Diagnóstico Diferencial ✓ Sífilis; ✓ Cancro mole; ✓ Linfogranuloma venéreo (LGV); ✓ Donovanose; ✓ Ulcerações traumáticas. ✓ Abordagem Terapêutica ✓ O tratamento é ineficaz com relação à cura. O objetivo é reduzir a duração e a intensidade dos surtos. O aparecimento das lesões frequentemente está relacionado a aspectos emocionais, que podem ser abordados adequadamente utilizando o Método Clínico Centrado na Pessoa. O tratamento é ambulatorial com Aciclovir, Fanciclovir ou Valaciclovir, conforme prescrição. O Ministério da Saúde recomenda tratamento unicamente com Aciclovir. Prescrição Ambulatorial Primeiro Episódio de Herpes O tratamento é ineficaz com relação à cura. O objetivo é reduzir a duração e a intensidade dos surtos; O aparecimento das lesões frequentemente está relacionado a aspectos emocionais, que podem ser abordados adequadamente utilizando o Método Clínico Centrado na Pessoa. Tratamento Farmacológico Antivirais: Escolha uma das opções: Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 400 mg VO de 8/8 horas, por 7-10 dias; Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (200 mg/cp) 200 mg VO 5x/dia, por 7- 10 dias; Fanciclovir (250 mg/cp) 250 mg VO de 8/8 horas, por 7-10 dias; Valaciclovir (500 mg/cp) 1 g VO de 12/12 horas, por 7-10 dias. Terapia Episódica para Doença Recorrente O aparecimento das lesões frequentemente está relacionado a aspectos emocionais, que podem ser abordados adequadamente utilizando o Método Clínico Centrado na Pessoa. Tratamento Farmacológico Antivirais: Escolha uma das opções: Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 400 mg VO de 8/8 horas, por 5 dias; Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 800 mg VO de 12/12 horas, por 5 dias; Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 800 mg VO de 8/8 horas, por 2 dias; Fanciclovir (125 mg/cp) 125 mg VO de 12/12 horas, por 5 dias; Fanciclovir (500 mg/cp) 1 g VO de 12/12 horas, por 1 dia; Valaciclovir (500 mg/cp) 1 g VO de 24/24 horas, por 5 dias. Terapia de Supressão Crônica de Herpes Genital Indicada para pacientes com seis ou mais episódios/ano, recorrências severas e pacientes que querem evitar transmissão para o parceiro sexual; Todos os medicamentos devem ser utilizados por 36 semanas. Tratamento Farmacológico Antivirais: Escolha uma das opções: Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 400 mg VO de 12/12 horas; Fanciclovir (250 mg/cp) 250 mg VO de 12/12 horas; Valaciclovir (500 mg/cp) 500 mg VO de 24/24 horas. Gestantes Tratar o primeiro episódio normalmente em qualquer trimestre da gestação; Atenção! Se a primoinfecção ocorreu na gestação ou se recidivas foram frequentes no período gestacional, pode-se realizar terapia supressiva, a partir da 36ª semana; O Ministério da Saúde (Brasil, 2019) preconizasomente Aciclovir como droga de escolha. Tratamento Farmacológico Aciclovir (geralmente disponível no SUS) (400 mg/cp) 400 mg VO de 8/8 horas, por 5 dias. Orientações adicionais: O tratamento local pode ser feito com compressas de solução fisiológica ou degermante em solução aquosa, para higienização das lesões; Analgésicos orais podem ser utilizados, se necessário; É recomendado retorno em uma semana para reavaliação das lesões; É importante mencionar que não há associação entre herpes simples genital e câncer
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