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PRIMEIROS ATENDIMENTOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA João Francisco Barbieri Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os procedimentos a serem adotados durante uma lesão por queimadura. � Enumerar o processo adotado pelo profissional de educação física durante um caso de afogamento. � Descrever as normas a serem adotadas pelo professor de educação física durante um caso de hemorragia. Introdução As lesões traumáticas podem acontecer em qualquer momento da vida, sendo que você, como profissional de educação física, deve conhecer al- guns aspectos básicos sobre os primeiros socorros em situações como he- morragias, queimaduras e afogamentos. Você deve atuar, especificamente, dentro dos protocolos prescritos para os tratamentos pré-hospitalares. Neste capítulo, serão abordados os aspectos mais elementares de procedimento e identificação em casos de lesões traumáticas do tipo queimaduras, afogamentos e hemorragias. Você deverá estar preparado para reconhecer esses tipos de traumas e atuar conforme os protocolos, de tal forma que a sua segurança e a da vítima sejam preservadas, e a recuperação do indivíduo seja potencializada. Procedimentos em situações de queimaduras Entende-se por queimadura, segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ, c2015, documento on-line): [...] feridas traumáticas causadas, na maioria das vezes, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos, podendo atingir camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. As queimaduras são classificadas de acordo com a sua profundidade e tamanho, sendo geralmente mensuradas pelo percentual da superfície corporal acometida. De acordo com Mendonça (2014), as queimaduras são a quarta maior causa de morte entre crianças. Isso ocorre em razão da falta de noção do risco e das sequelas causadas por esse trauma. Portanto, centros de atendi- mento específicos para o tratamento de queimaduras são uma necessidade. No Brasil, segundo a Lei nº 12.026, de 9 de setembro de 2009, no art. 1º, “[...] é instituído o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras, a ser comemorado em todo o território nacional, no dia 6 de junho de cada ano” (BRASIL, 2009, documento on-line). Para a Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT), os dias comemorativos e a difusão de informação à grande sociedade são importantes no combate às queimaduras, uma vez que é constatado que a maior parte (62,1%) das ocorrências relacionadas às queimaduras ocorre dentro do ambiente doméstico e, geralmente, são ocasio- nadas por descuidados dos adultos (SBAIT, 2018). As queimaduras podem ser classificadas em três graus, dependendo da gravidade do trauma. 1° grau — Classificação que indica queimaduras de menor gravidade, mas que, no entanto, podem ser dolorosas e apresentar vermelhidão local, porém sem a presença de bolhas e de sangramento; geralmente não chegam a ser uma emergência. A aparência da pele é seca e acontece principalmente na epiderme, a camada mais superficial da pele. Esse tipo de trauma melhora no intervalo de aproximadamente uma semana, podendo descamar, e não deixam sequelas. Os exemplos mais característicos são as queimaduras ocasionadas pela radiação solar. 2º grau — Dividida segundo a gravidade, a profundidade e o comprometimento epitelial da queimadura, apresentando: 2º grau superficial e 2º grau profundo. A queimadura de 2º grau superficial apresenta sintomas similares às queimaduras Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos2 de 1° grau, mas essa lesão inclui a presença de bolhas e aparência úmida. Esse tipo de acometimento pode demorar até três semanas para se curar, já que o comprometimento da epiderme é maior, além do envolvimento da parte mais superficial da derme. É uma lesão que não deixa cicatriz, mas o local afetado pode ficar mais claro que o normal. As queimaduras de 2º grau profundas são mais similares às queimaduras de 3º grau, já que o comprometimento da epiderme e da derme é significativo, de modo a apresentar risco de destruição das terminações nervosas da pele (e por isso diminuição da sensibilidade). Portanto, esse tipo de lesão pode ser menos doloroso em comparação à quei- madura de 1º grau. As glândulas sudoríparas e os folículos capilares também podem ser destruídos, fazendo com a pele fique seca e perca seus pelos. Essa classificação é uma das queimaduras mais graves que pode acontecer, sendo que a cicatrização demora mais de três semanas e costuma deixar cicatrizes. 3º grau — Queimaduras mais profundas e de maior gravidade. São as quei- maduras mais críticas que podem acontecer. As queimaduras de 3º grau caracterizam-se principalmente pela destruição da epiderme e da derme, além do comprometimento dos tecidos subcutâneos, como ossos, músculos, nervos e vasos sanguíneos. Não apresentar dor, em razão da destruição das terminações nervosas, além dos folículos pilosos, das glândulas sudoríparas e capilares sanguíneas. São lesões esbranquiçadas/acinzentadas, secas, de- formantes e que não curam sem apoio cirúrgico, necessitando de enxertos. Apresentam um risco muito alto de infeções, já que a camada protetora (pele) do corpo foi destruída. Os principais agentes causais de queimaduras, segundo a SBAIT (2017), são: � líquidos superaquecidos; � combustível; � chama direta; � superfície superaquecida; � eletricidade; � agentes químicos; � agentes radioativos; � radiação solar; � frio; � fogos de artifício. 3Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos Na Figura 1 a seguir, você poderá observar os três níveis possíveis de quei- maduras. Observe que cada nível de queimadura (representada pela mancha) penetra a uma profundidade nas camadas da pele, sendo que a queimadura de primeiro grau apresenta apenas a epiderme lesionada e a queimadura de terceiro grau apresenta as três camadas lesionadas. Figura 1. Divisão das três classificações possíveis para queimaduras. Fonte: Adaptada de Alila Medical Media/Shutterstock.com. Epiderme Derme Subcutâneo Queimadura de primeiro grau Queimadura de segundo grau Queimadura de terceiro grau Primeiros socorros em situações de queimaduras A primeira atitude que você deve tomar diante de uma situação que tenha uma vítima de queimadura é extinguir a fonte de calor ou afastar a vítima dela. Após o controle do local do acidente e garantida a integridade da vítima, tente limpar o local comprometido com água corrente em temperatura ambiente, assim, além da limpeza do local afetado, você vai produzir um resfriamento da área queimada. Procure auxílio no posto de atendimento mais próximo ao local do acidente, para serem tomadas as providências necessárias para o sucesso da recuperação do ferido, evitando agravamento da lesão e possíveis complicações futuras, como infeções. Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos4 Cuidados � Nunca passe produtos caseiros no local comprometido, já que substâncias ou material contaminado podem propiciar o surgimento de infeções. Esse quadro é ainda mais importante quando há o rompimento da pele e a exposição do meio interno. � Nunca passe pomadas diretamente sobre o local danificado, pois a pele fica extremamente sensível, além de comprometer as células subcutâneas que estão se recuperando. Aplicar pomadas dessa forma pode provocar infeções e irritar a pele. � A bolha é um mecanismo protetor do corpo, portanto, não tente estourá- -la. Ela manifesta o grau de comprometimento da lesão. Deixe que um profissional da saúde se encargue desse processo. � Em casos de lesões abertas, que expõem as camadas mais profundas do tecido (queimaduras de 2º grauprofundas e de 3º grau), é importante proteger a área afetada até o atendimento médico ser feito. Para proteger o ferimento, devem ser utilizados gazes esterilizadas ou panos limpos, pois isso impedirá que a ferida seja exposta a mais agentes infecciosos. � Evite ao máximo proteger a ferida com materiais que grudem na pele, como curativos adesivos ou fitas adesivas, pois, no momento de retirar o material, você pode arrancar a pele e deixar a ferida exposta a agentes contaminantes. Nunca tente tirar a vestimenta da vítima. Em queima- duras mais graves, que cobrem maior área corporal, o ideal é molhar a vestimenta e permanecer assim até a chegada ao pronto-socorro. � Retire os acessórios da vítima (anéis, pulseiras, etc.), pois o corpo apresenta um inchaço natural a lesões (inflamação) e esses objetos podem ficar presos. Recuperação A SBQ (c2015) postula algumas recomendações para o tratamento de quei- maduras de 1º grau, que são eficazes para acelerar a recuperação e minimizar as chances de ficarem cicatrizes: � Primeira semana: lave com água corrente, por cinco minutos, três vezes ao dia, toda a área queimada com sabão neutro ou sabonete de glicerina. Não é necessário cobrir a área com curativos. � Segunda semana: aplique óleo mineral a cada 12 horas para melhorar coceira e a descamação. 5Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos � Terceira semana em diante: use filtro solar (FPS 30 ou maior) durante o dia e hidratante neutro todas as noites até a melhora completa. Não utilize receitas caseiras para tentar diminuir a dor ou melhorar a recuperação, pois a barreira protetora foi destruída por causa do fogo, e as probabilidades de infeções aumentam consideravelmente. Você está dando aulas de natação em uma local de grande incidência de radiação solar e um de seus alunos, desprevenido, não utilizou protetor solar. Ao final da aula, ele apresentava uma grande extensão de pele avermelhada na região da nuca e das costas. Essa situação, muito comum, é a queimadura de 1º grau e seu tratamento imediato é paliativo, tendo como objetivo diminuir a dor, sendo necessária a adminis- tração de água corrente. São lesões de menor emergência e podem ser tratadas em casa, sem a necessidade de cobrir o ferimento, uma vez que a pele não foi rompida. Ofereça aos pais do aluno as informações sobre tratamento de queimaduras de 1º grau fornecidas pela SBQ. Situações envolvendo piscinas e meios aquáticos podem oferecer mais risco do que simplesmente queimaduras solares, e esses riscos são os afogamentos. A seguir, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a identificação e os primeiros cuidados que devem ser tomados nessas situações. Situações envolvendo afogamento O afogamento é a dificuldade respiratória ocasionada pela submersão ou imer- são em meio líquido. Uma vez que o líquido alcance as vias aéreas, ocasiona a obstrução destas, o que impede que o oxigênio seja difundido para a corrente sanguínea. Os afogamentos são situações de urgência que, se não remediadas, frequentemente levam a óbito. Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos6 Indivíduos em situação de afogamento podem apresentar uma série de sinais e sintomas, como dores de cabeça, tremores, vômitos, cansaço, diarreia, entre outros. Esses sinais e sintomas, em geral, são decorrentes do esforço físico realizado na tentativa de se salvar. O afogamento é a terceira causa de morte não intencional no mundo. Em 2015, aconteceram aproximadamente 360 mil mortes por afogamento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O risco de afogamento é maior em crianças, adolescentes e homens (OMS, c2017). O afogamento é definido como o processo de sofrer dificuldades respiratórias (momentos de hipóxia) por causa de uma submersão ou imersão em meio líquido, podendo levar à morte. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA), a cada 84 minutos um brasileiro morre afogado, sendo que morrem aproximadamente 17 pessoas por dia (SZPILMAN et al, 2015). Dentro desses números, as estatísticas nos mostram que os homens morrem seis vezes mais que as mulheres. De acordo com Szpilman e outros autores (2015), a maior parte dos óbitos (51%) acomete adultos até os 29 anos, sendo mais frequente casos de afogamentos em rios e represas. O Brasil apresenta um dos índices de óbito entre os países pertencentes à OMS, ficando atrás somente da Rússia e do Japão. Esse índice varia enorme- mente estre os estados da federação, sendo que os do Norte brasileiro sustentam os maiores índices de mortes por afogamento a cada 100 mil habitantes. Já entre os municípios essa variação é ainda maior, indo de apenas 0,2 óbito a cada 100 mil habitantes em Monte Carlos/MG a até 145 óbitos a cada 100 mil habitantes em Davinópolis/GO (SZPILMAN et al , 2015). Isso acontece por diversos fatores, que serão discutidos a seguir. Fatores de risco Idade: segundo o manual da SOBRASA, a idade é uns dos principais fatores de risco para afogamento. Temos que o maior índice de afogamento para a população geral está restrito à faixa etária de 15 a 19 anos. Já entre as crianças, a faixa etária que mais apresenta risco é a de 1 a 9 anos (SZPILMAN et al , 2015). Esse fator de risco está associado diretamente à falta de atenção dos adultos responsáveis ou pais. A faixa que menos representa risco de afogamento entre crianças e adultos jovens é para crianças menores de 1 ano. Sexo: os homens apresentam um índice maior de mortalidade, pois os homens apresentam maior exposição ao meio aquático. Também a população masculina 7Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos apresenta maiores porcentagens de consumo de bebidas alcoólicas misturadas com a prática de atividades aquáticas. Piscinas e o entorno do lar: ter maior acesso à água representa maior risco de afogamentos, pois em países subdesenvolvidos, onde a prática de pesca é consideravelmente alta, a utilização de navegações pequenas e instáveis aumentam o risco de afogamento. Ainda, as crianças que moram perto de piscinas, poços, rios, cachoeiras e mar apresentam alto perigo de afogamento. Embora os óbitos em piscinas representem apenas 2,5% da média total de óbitos por afogamento, eles representam 54% dos óbitos por afogamento para crianças de 1 a 9 anos. Catástrofes (inundações ou tsunamis): altos índices de afogamentos estão relacionados a inundações, principalmente quando acometem países com baixos recursos, onde os organismos e as ferramentas de alerta são precários, apresentando uma incapacidade para alertar, evacuar e proteger a população. Assim, pessoas ficam expostas a situações de inundações em locais urbanos, trazendo como consequência muitas mortes por afogamento. Entre outros fatores de risco, podemos citar: o consumo de álcool dentro ou perto de meios aquáticos, as doenças assintomáticas como epilepsia, o desconhecimento dos riscos e das particularidades do local, as cãibras durante o nado e, uma das mais importantes, a desatenção ou falta de supervisão com crianças perto de locais aquáticos. Resgate O resgate sempre ocorre quando a fase principal falhou, ou seja, a prevenção. O primeiro passo é reconhecer que a vítima está se afogando. Por via de regra, afogados adotam a posição vertical, agem de forma aleatória e, diferentemente do que se costuma acreditar, não costumam acenar ou gritar por socorro. Identificando tratar-se de um afogamento, você deve buscar auxílio de pro- fissionais do resgate, como salva-vidas, ou ligar para o serviço emergencial. Você deverá prestar o socorro sem que se ponha em risco, sendo que a forma de ajudar as vítimas irá variar dependendo do local do acidente e do material disponível. Se você estiver em local seco, como a borda de uma piscina, você deverá tentar ajudar o afogado oferecendo a ele varas, cordas ou galhos. Eventualmente você poderá oferecer sua perna para que o afogado se segure,é mais seguro do que oferecer a mão. Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos8 Se você estiver a uma distância superior a 4 metros, deverá lançar na água objetos que permitam a flutuação, como boias, tampas de isopores, pranchas ou bolas. Só entre na água para retirar o afogado quando ele estiver calmo. Se você decidiu entrar na água para socorrer o afogado, leve consigo sempre material para a flutuação. Retire objetos que possas prejudicar sua flutuação, como roupas e calçados. Pare à distância de 2 metros do afogado e ofereça o material a ele. Sempre mantenha o material entre você e o afogado, isso evitará que ele, desesperadamente, tente se agarrar em você. Se o indivíduo lhe agarrar, afunde, isso fará com que ele te solte. Acalme o afogado, a exaustão física causada pela tentativa dele de não se afogar somente acelerará o processo de afogamento. Se você não estiver confiante em suas capacidades de natação, peça para que a vítima flutue e acene por socorro. Prevenção Existem diferentes pautas para prevenir o afogamento. O fato de instalar bar- reiras ou cercas para controlar o acesso aos locais que tenham meios aquáticos (piscinas ou lagos) pode ser uma forma de prevenir acidentes fatais, como também uma boa supervisão para crianças que estejam perto de locais aquáti- cos. A natação é uma ferramenta indispensável para crianças que apresentam maior contato com o meio aquático, gerando segurança e tranquilidade no momento de compartilhar experiências em meios líquidos. O plano de prevenção da OMS (c2017) para afogamentos considera en- sinar as crianças em idade escolar a nadar como uma das seis intervenções selecionadas para reduzir os casos de afogamentos em países em desenvolvi- mento. Portanto, a inclusão de aulas de natação, em especial para populações ribeirinhas, se faz necessária como uma medida preventiva. O profissional de educação física tem papel-chave para aquisição de habilidades básicas e autonomia em ambiente aquático, sendo que é o encarregado de propiciar esse tipo de aprendizagem para crianças e adultos. No entanto, você, como educador físico, pode deparar-se com situações em que as habilidades aquá- ticas da população são mínimas, o que pode aumentar o risco de situações de emergência. Para isso, você deve dominar algumas ferramentas conceituais e procedimentais de primeiros socorros. 9Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos � Nadar somente onde existir serviço de supervisão, como salva-vidas. � Restringir o acesso a piscinas e tanques com o uso de cercas. � Utilizar colete em barcos e esportes com pranchas. � Aprender as medidas de segurança na água. Cadeia de sobrevivência do afogamento Em casos de afogamentos, é necessário que você tome medidas que, em primeiro lugar, resguardem sua segurança e que proporcionem à vítima a devida assistência. A seguir, veja ações que devem ser tomadas em casos de afogamento. � Peça para que alguém chame o sistema de emergência ou um profissional equipado e capacitado. � Observe ou peça a alguém que vigie a vítima dentro da água enquanto tenta ajudar. � Forneça um flutuador sempre que disponível. � Tente ajudar sem entrar na água; mantenha sua segurança. � Use uma vara ou uma corda para retirar o afogado. � Só entre na água se for seguro; utilize material flutuante para a sua segurança e para fornecer à vítima. � Se você não tem boas habilidades no meio aquático, não se aventure, pois você poderá se tornar uma vítima também, complicando ainda mais o resgate. � Se o afogado não estiver respirando, inicie imediatamente a reanimação cardiopulmonar com ventilação imediata. � Se estiver respirando, fique com a vítima até a ambulância chegar. � Procure um hospital caso a vítima apresente sintomas após o afogamento, como desmaios, tonturas e vômitos. Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos10 Entrar na água é a última opção que você deve utilizar e, quando o fizer, tenha total segurança dos procedimentos que devem ser adotados. Os bombeiros e salva-vidas são pessoas devidamente treinadas para atuar nesse tipo de situação. Imagine-se na seguinte situação: você é professor de surfe pela prefeitura de uma cidade litorânea e, durante suas aulas, um aluno que estava pegando uma onda atipicamente grande é surpreendido por uma forte queda da prancha, fazendo com que bata a cabeça no fundo do mar. Nessa situação, seu aluno não apresentará os sinais clássicos de afogamento, como agitação aleatória, mas, se você não agir rápido, sendo uma pessoa inconsciente em meio líquido, aspirará grande quantidade de água, o que pode fazer com que o quadro evolua rapidamente para uma parada cardiorrespiratória. Em acidentes como o descrito no exemplo, lesões associadas podem estar presentes, como no caso, a pancada recebida na queda da prancha. Lesões por traumas podem ser tão perigosas quanto situações de afogamento. A seguir, veremos como lidar com situações em que o trauma gerou sangramento, também conhecido como hemorragias. Hemorragias O funcionamento de nosso corpo passa por sistemas fechados que mantém a homeostase de nosso organismo. Um desses sistemas é o sistema circulatório, que é essencial para boa oxigenação dos diferentes órgãos e tecidos do corpo, o qual é composto por coração, artérias, veias e capilares. Uma lesão em algum desses vasos sanguíneos pode gerar uma hemorragia, que é definida como a perda de sangue provocada pelo rompimento de um vaso sanguíneo, podendo ser de origem arterial, venosa ou capilar. Classificação segundo o vaso atingido: 11Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos � Hemorragias arteriais: é quando uma artéria é prejudicada, carate- rizada pela saída de sangue em jatos pulsáteis, similares ao ritmo do coração. Sua cor é vermelho vivo. É um dos tipos de hemorragias mais grave, pois a perda de sangue é rápida e pode ser significativa. � Hemorragias venosas: acontece com lesões em veias, caraterizada pela saída de sangue em forma contínua. Sua cor relaciona-se com um vermelho escuro. São situações de menor emergência que hemorragias arteriais, pois a velocidade de saída do sangue é menor, porém, ainda pode representar uma perda significativa. � Hemorragias capilares: são as lesões que atingem os vasos sanguíneos mais superficiais. Essa é a mais frequente no dia a dia, caracterizada pela saída lenta e em pouca quantidade de sangue. As hemorragias também podem ser classificadas com relação a sua loca- lização, podendo ser classificadas como externa ou interna. � Hemorragia externa: as hemorragias são visíveis, portanto, fáceis de serem identificadas. Podem ser de forma arterial, venosa ou capilar. As hemorragias externas geralmente acometem a pele, sendo caracterizadas como capilares. Porém, lesões mais profundas podem perfurar artérias, nesse caso as hemorragias externas apresentarão grande volume de sangramento. Para controlar esse tipo de hemorragia, é importante conhecer os seguintes protocolos de atuação: ■ Compressão manual direita: realizar compressão diretamente sobre o local afetado, utilizando compressas esterilizadas ou pano limpo. Lembre-se de que você deverá usar materiais de segurança como luvas e máscara, já que você poderá ter contato com o sangue do ferido. No caso de o volume de sangue ser excessivo, procure não tirar as compressas que estão em contato direito com a ferida, pois isso poderia aumentar novamente a hemorragia. O principal objetivo nessas situações é tentar evitar que a ferida volte a sangrar. Essa técnica pode melhorar quando o membro afetado é elevado acima do nível do coração do ferido, pois isso faz com que o sangue tenha mais dificuldade de chegar ao membro, diminuindo sua perda. No caso da presença de objetos encravados, como facas ou pedaços de madeira, nunca retirar, pois no momento da retirada do objeto você pode desencadear umahemorragia maior. ■ Compressão manual indireta: essa técnica visa a diminuir o sangra- mento, diminuindo o aporte de sangue para o membro afetado. Como Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos12 o sangue chega aos membros por meio de grandes vasos, que são as artérias, se comprimi-los diminuiremos a quantidade de sangue que chegará ao membro, evitando o excesso de perda. Então, uma compressão manual indireta envolve a compressão da artéria que irrigará o membro. ■ Garrote ou torniquete: um garrote é um instrumento utilizado para comprimir ou estrangular uma região do corpo. A técnica do garrote ou torniquete é uma das últimas das opções a serem utilizadas, uma vez que seu uso prolongado pode trazer complicações para o paciente. Nessa técnica, é aplicado um garrote no membro afetado, em sua região mais proximal, e apertado até cessar o sangramento. O uso dessa técnica tem como objetivo a diminuição do fluxo san- guíneo, portanto, o garrote deve ser apertado, ou inflado, caso esteja usando um esfigmomanômetro. Deve-se anotar a hora de início do procedimento. � Hemorragia interna: divide-se em hemorragias visíveis e não visíveis. As visíveis são identificadas porque o sangue tenta sair por algum orifício do corpo (nariz, boca e ouvidos). Já as não visíveis são difíceis de se identificar, podendo ser identificada por sinais e sintomas que a vítima apresentar. As hemorragias internas são especialmente delicadas, pois não é possível sem exames adicionais identificar o local da lesão. Então, os sinais e sintomas deverão ser monitorados e, em caso de piora, você deverá levar a vítima o mais rápido possível para o centro médico. Alguns sintomas que você, como profissional de educação física, pode identificar no momento de uma perda excessiva de sangue são: perda de consciência, alteração da ventilação, alteração do pulso, alteração da pressão arterial, alterações na pele e sensação de sede. Nesses casos o serviço de emergência é imprescindível. O corpo disponibiliza diferentes mecanismo para manter o funcionamento dos órgãos mais importantes de nosso corpo, como o coração e o cérebro, portanto, realiza mudanças drásticas na circulação para manter o indivíduo com vida. Indivíduos que perderam muito sangue podem apresentar perda da consciência, pois, uma vez que o oxigênio não está chegando ao cérebro, esse quadro pode levar ao desmaio. Casos de hemorragia também aumentam a frequência do pulso, em que ocorre um aumento nos batimentos cardíacos, com o objetivo de tentar circular mais rápido o sangue, uma estratégia para tentar suprir a necessidade de oxigênio para os tecidos. 13Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos Todas essas mudanças fisiológicas são proporcionadas por nosso organismo, sendo que você, como socorrista, deve trabalhar principalmente sobre a origem do problema, no caso, a hemorragia. Independentemente do tipo de hemorragia apresentada, a melhor opção é tentar controlar o aumento e a continuação dela. Portanto, recomenda-se: � Elevar os membros afetados para que haja redução da perda de sangue. � Controlar a hemorragia, evitando assim quadros mais complexos como estados de choque hipovolêmicos. � Identificar os antecedentes pessoais e a medicação, como nos casos de hemofilia, os serviços médicos deverão ser buscados com urgência. � Avaliar os parâmetros vitais, se possível, assim você terá um panorama da evolução do quadro do ferido. � Ligar imediatamente ao ponto de socorro e indicar o tipo e a magnitude da lesão, pois, assim, poderão lhe orientar sobre medidas emergenciais pré-hospitalares. � Aguardar pelo socorro mantendo a vigilância do ferido, pois, quando acordado, o indivíduo manterá os tônus dos vasos; caso durma, os vasos sanguíneos relaxarão, fazendo com que perca mais sangue. � Se o ferido estiver em parada cardiorrespiratória, iniciar de imediato as manobras de reanimação cardiopulmonar. A perda excessiva de sangue pode levar a um choque hipovolêmico ou choque hemorrágico. Essa situação acontece quando o corpo apresenta uma perda de sangue de aproximadamente 1 litro, fazendo o coração deixar de ser capaz de bombear o sangue necessário para todo o corpo, levando a problemas graves em vários órgãos e colocando a vida em perigo. Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos14 Como agir em caso de hemorragias? Descubra acessando o link a seguir: https://goo.gl/yYYCSw Um professor de educação física está dando aula de futsal em uma quadra nova, em um anexo esportivo. Durante uma das jogadas, um dos alunos dá um “carrinho” para tirar a bola pela lateral e permanece no chão, gesticulando e gritando. O professor prontamente vai até o local para avaliar a situação. Chegando lá, ele percebe que uma das madeiras que compõem o assoalho da quadra estava encravada na coxa do aluno, e os alunos a sua volta estavam prestes a removê-lo. O professor impede a remoção do objeto e observa que o aluno acidentado está pálido e confuso. O professor prontamente desconfia de hemorragia interna, imobiliza o objeto na perna do aluno e o transporta até o hospital mais próximo. Lesões por queimaduras, afogamentos e hemorragias são caracterizadas por terem um largo espectro, indo desde situações em que o indivíduo será capaz de resolver por si só até situações que podem evoluir para óbito se não forem prontamente atendidas. Você deverá sempre estar atento aos sinais e sintomas das vítimas e agir de forma a assegurar que estas não tenham suas lesões e seus traumas aumentados. Como profissional de educação física, você nem sempre estará preparado para lidar com todas as situações que possam ocorrer, portanto, é importante reconhecer suas limitações e solicitar ajuda especializada o mais rápido possível. 15Lesões traumáticas I: ferimentos, hemorragias, queimaduras e afogamentos https://goo.gl/yYYCSw BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 12.026, de 9 de setembro de 2009. Institui o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras. Brasília, DF, 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12026.htm>. Acesso em: 10 ago. 2018. MENDONÇA, M. L. Queimaduras. 2014. Disponível em: <http://www.sbp.com.br/im- prensa/detalhe/nid/queimaduras/>. Acesso em: 10 ago. 2018. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD - OMS. Prevenir los ahogamientos: guía prác- tica. Ginebra, OMS, c2017. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/han dle/10665/259488/9789243511931-spa.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10 ago. 2018. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATENDIMENTO INTEGRADO AO TRAUMATIZADO - SBAIT. Guia SBAIT para prevenção de lesões por queimaduras. 2017. Disponível em: <http:// gruposurgical.com.br/wp-content/uploads/2017/07/GUIA-SBAIT-QUEIMADURAS.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATENDIMENTO INTEGRADO AO TRAUMATIZADO - SBAIT. Vamos aproveitar o mês das Festas Juninas – Salvando vidas edição queimaduras. 2018. Disponível em: <http://blog.sbait.org.br/2018/06/15/vamos-aproveitar-o-mes-das- festas-juninas-salvando-vidas-edicao-queimaduras/>. Acesso em: 10 ago. 2018. SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUEIMADURAS - SBQ. Queimaduras. c2015. Disponível em: <http://sbqueimaduras.org.br/queimaduras-conceito-e-causas/>. Acesso em: 10 ago. 2018. SZPILMAN, D. et al. Afogamento - medidas de prevenção em diferentes cenários. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, 2015. Disponível em: <http:// www.sobrasa.org/new_sobrasa/arquivos/medidas_de_prevencao/MEDIDAS_DE_PRE- VENCAO_EM_AFOGAMENTOS_SOBRASA_2015_mini.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Manual de primeiros socorros. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, c2003. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/ manuais/biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. 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