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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO – CARACTERIZAÇÃO ................................................................................................... 4 2.1 Definição de Evento Traumático........................................................... 6 2.2 Dificuldades no Exame Psíquico dos Pacientes com TEPT ................. 8 2.3 Formas de Apresentação do TEPT na Clínica Geral............................ 9 2.4 Diagnóstico do TEPT .......................................................................... 10 2.5 Quadro Clínico – A Tríade Psicopatológica ........................................ 11 2.5.1 Revivescência do Trauma ............................................................ 11 2.5.2 Esquiva e Entorpecimento Emocional .......................................... 13 2.5.3 Hiperestimulação Autonômica ...................................................... 15 3 PREVALÊNCIA DO TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO ...................................................................................................................17 4 BASES BIOLÓGICAS DO TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS- TRAUMÁTICO ........................................................................................................... 20 4.1 Eixo Simpático-Adrenal ...................................................................... 22 4.2 Eixo HPA ............................................................................................ 23 4.3 Síntese das Alterações Neuroendócrinas .......................................... 24 4.4 Hormônios de Estresse e Memória .................................................... 24 4.5 Alterações Cognitivas e Volume Hipocampal ..................................... 25 5 FUNÇÕES COGNITIVAS E TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS- TRAUMÁTICO ........................................................................................................... 27 5.1 Neurobiologia do TEPT ...................................................................... 28 5.2 Funcionamento Cognitivo e Avaliação Neuropsicologia do Transtorno do Estresse Pós-Traumático .................................................................................. 30 2 6 COMORBIDADE NO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO: REGRA OU EXCEÇÃO? ............................................................................................................... 33 6.1 TEPT e Aspectos de Outros Transtornos Psiquiátricos ...................... 34 6.2 TEPT e Outros Transtornos de Ansiedade ......................................... 35 6.3 TEPT e Abuso de Álcool e Outras Substâncias Psicoativas .............. 35 6.4 TEPT e Transtornos de Humor........................................................... 36 6.5 TEPT e Risco de Suicídio ................................................................... 36 6.6 TEPT e Dissociação ........................................................................... 37 6.7 TEPT e Queixas Físicas ..................................................................... 37 6.8 TEPT e Qualidade de Vida ................................................................. 38 7 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 40 3 1 INTRODUÇÃO Prezado Aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO – CARACTERIZAÇÃO Fonte: br.pinterest.com Embora a história humana seja acompanhada por eventos traumáticos naturais ou provocados pelo homem, é apenas na segunda metade do século 19 e no início do século 20 que a inovação tecnológica através dos meios de transporte delineia as teorias desses eventos sobre a resposta humana após experiências traumáticas. Com o uso gradual de locomotivas a vapor, o transporte ferroviário de passageiros cresceu e se tornou cada vez mais popular. Porém, à medida que mais pessoas desfrutam desse conforto, os acidentes tornam-se relativamente frequentes, assim como as disputas judiciais sobre indenizações financeiras (Young, 2000). Diferentes explicações são apresentadas para a etiologia do fenômeno apresentado pelas vítimas de acidentes ferroviários: (a) orgânicos, mais notavelmente nos trabalhos de John Erichsen (1818-1896) e Herman Oppenheim (1858-1919) (b) “funcionais”, conforme posições adotadas por Jean-Martin Charcot (1825- 1893) e alguns de seus alunos, como Pierre Janet (1859-1947) e Sigmund Freud (1856-1839). Posteriormente, a situação de guerra proporcionou grande número de casos, o que não só contribuiu para o aperfeiçoamento da expressão teórica, mas também 5 contribuiu para a proposição de diversas intervenções terapêuticas (Marlowe, 2000). Embora a conexão entre a experiência de eventos de estresse traumático e o desempenho de uma série de reações características pareça óbvia, foi somente na década de 1980 que os profissionais de saúde mental consideraram o estresse pós- traumático um construto psicológico eficaz e adequado para o diagnóstico e tratamento (Yehuda & McFarlane, 1995). Em todas as ocasiões em que o escopo da guerra se espalha para os indivíduos, a existência do Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) é colocada em primeiro plano. Inclusive, Ivan e Mauro discorrem a respeito: Foi assim na Guerra Civil Americana (síndrome do coração irritável), na Primeira Guerra Mundial (choque da granada), na Segunda Guerra Mundial (síndrome de esforço, neurose de guerra), na guerra do Vietnam e, mais recentemente, nos atentados do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono. Esse ataque, por exemplo, fez com que o prestigioso New England Journal of Medicine publicasse, em 2002, um editorial e uma revisão chamando a atenção para a relevância do TEPT. (FIGUEIRA E MENDLOWICZB, 2003). Os mesmos autores fizeram uma crítica: “No Brasil, ironicamente, o diagnóstico de TEPT tem recebido pouquíssima atenção, a despeito dos acidentes automobilísticos e da violência configurarem um problema de saúde pública de grande magnitude e transcendência. ” Citando o Mapa da Violência apresentado pela UNESCO no ano anterior, Figueira e Mendlowiczb afirmaram que, O Brasil é o terceiro no ranking mundial de mortes por arma de fogo entre jovens de 15 a 24 anos, atrás da Colômbia e de Porto Rico,4 superando as estatísticas de conflitos como o da Palestina. Essa alta prevalência de eventos traumáticos aponta para a necessidade imperiosa de que sejam produzidos revisões e estudos empíricos nacionais sobre o TEPT, que é o principal transtorno psiquiátrico associado aos acidentes e violências (FIGUEIRA E MENDLOWICZB, 2003). O TEPT possui duas as características centrais, sendo elas: Evento Traumático – exposição a um evento envolvendo a ocorrência de morte ouameaças contínuas ou ferimentos graves a si mesmo ou a terceiros; associada a uma resposta intensa de medo, desamparo, ou horror; Tríade Psicopatológica – como resposta ao evento traumático, manifestam- se três dimensões de sintomas: o reexperimentar do evento traumático, a 6 evitação de estímulos a ele associados e a presença persistente de sintomas de hiperestimulação autonômica. 2.1 Definição de Evento Traumático Fonte: tribunadaregiao.com.br De acordo com o DSM-IV, para ser diagnosticado com TEPT, uma pessoa que sofreu um evento traumático deve primeiro cumprir as duas partes do padrão "A", como segue: I- A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram ameaça de morte ou de grave ferimento físico, ou ameaça a sua integridade física ou à de outros; II- A pessoa reagiu com intenso medo, impotência ou horror; (DSM-IV, 1994). O Princípio A do DSM-IV envolve o conceito de eventos traumáticos, que desempenha um papel vital no diagnóstico de TEPT. Representa a “porta de entrada” para este diagnóstico. Se não houver evento traumático, é impossível diagnosticar TEPT. No entanto, desde que o DSM-III diagnosticou oficialmente o TEPT, a 7 compreensão dos eventos traumáticos tem sido constantemente revisada. Essas mudanças levaram a uma expansão do conceito de eventos traumáticos e, como resultado, a um aumento na prevalência estimada de TEPT. Figueira e Mendlowiczb (2003), lembrou que no DSM-III, "eventos traumáticos" são considerados eventos catastróficos, raros e externos, que são diferentes em qualidade de "experiências comuns como funerais, doenças crônicas, perdas de negócios ou conflitos conjugais". Os eventos catastróficos definidos pelo DSM-III incluíam tortura, estupro, agressão pessoal, combate militar, prisão em campos de extermínio, desastres naturais ou industriais, acidentes de carro ou exposição à violência de guerra, violência civil e violência doméstica. Estudos subsequentes mostraram que "eventos traumáticos" não são incomuns, nem são principalmente eventos externos. Estudos epidemiológicos documentaram amplamente o fato de que eventos traumáticos não são raros, esses estudos mostram que a incidência na população americana chega a 40% a 90%, Breslau (2002). Os autores Figueira e Mendlowiczb (2003) avaliou que “pode-se supor que países como Brasil, cuja taxa de mortalidade por arma de fogo é das maiores do mundo e é líder em acidentes, provavelmente, têm uma prevalência bem mais elevada de eventos traumáticos do que os EUA”. Também foi descoberto que eventos traumáticos não são apenas eventos externos. Nesse caso, a incidência de TEPT deveria ser semelhante à de eventos traumáticos. Mas o que tem intrigado alguns pesquisadores é que a grande maioria das pessoas que sofreram eventos traumáticos catastróficos não desenvolveu Transtorno de Estresse Pós-Traumático, o que indica que as pessoas têm uma resistência emocional média alta. Assim, por exemplo, 91% das mulheres americanas envolvidas em acidentes não têm essa síndrome. (YEHUDA, 2002). Obviamente, os fatores biossociais e psicológicos de um indivíduo podem fazer com que uma pessoa sofra de TEPT, enquanto a outra não. Portanto, o foco da pesquisa mudou de fatores puramente externos para fatores internos/subjetivos das pessoas. Desse modo, a resposta emocional aos eventos traumáticos tem recebido cada vez mais atenção, e esse fato é corroborado por dados empíricos. Ou seja, a exposição a situações de risco de vida não é suficiente para desenvolver transtorno de estresse pós-traumático, e você deve responder a isso com uma atitude de "forte medo, impotência ou terror" (critério A2 do DSM-IV). 8 2.2 Dificuldades no Exame Psíquico dos Pacientes com TEPT Para fazer um diagnóstico de TEPT, médicos e pacientes devem superar várias barreiras de comunicação. Ambos podem lidar com tópicos relacionados à confidencialidade e vergonha de forma estranha. (YEHUDA, 2002). Se o médico não se atrever a fazer perguntas diretamente, será difícil para o paciente revelar ativamente os fatos, como abuso sexual durante a infância. No entanto, uma vez que o assunto seja resolvido, os pacientes geralmente podem falar sobre ele. Evitar o contato com esses assuntos traumáticos faz parte dos sintomas do TEPT, e o clínico deve abordá-los com tato e respeito para que possa diagnosticar o TEPT e tratar melhor o paciente. Segundo Butterfield & Becker (2002) esse constrangimento de falar sobre eventos traumáticos ocorre principalmente em mulheres, porque o trauma sexual é a causa mais comum de TEPT em mulheres. Mulheres que ainda não reconheceram o TEPT geralmente aparecem nas unidades médicas primárias, mas os médicos raramente fazem esse diagnóstico. Portanto, é importante desenvolver um plano de treinamento para os médicos começarem os testes para TEPT e aprender estratégias de tratamento. Como é improvável que alguns pacientes com TEPT falem espontaneamente sobre seu trauma, os médicos são aconselhados a fazer uma série de perguntas que se aplicam a todos os casos "suspeitos". Esses casos suspeitos (os mais prováveis de serem diagnosticados como TEPT) devem ser considerados para pacientes com depressão, sintomas de ansiedade e/ou história de abuso de drogas. Não se deve esquecer os pacientes que não estão bem e os que relatam fraturas e ferimentos "estranhos" (ou seja, podem ter sido espancados ou abusados sexualmente). As perguntas devem ser feitas de maneira empática e receptiva, sem julgamentos e expressando interesse pelo paciente. O evento traumático deve ser interpelado diretamente. Figueira e Mendlowiczb (2003) apresentaram algumas perguntas que podem ser realizadas: “Você alguma vez já sofreu acidente de carro ou atropelamento? ” “Já sofreu alguma agressão física? ” “Já foi assaltado alguma vez? ” 9 “Alguma vez foi vítima de violência sexual? ” “Você poderia me falar sobre isso? ” Uma resposta positiva deve alertar o médico sobre a relação entre esses eventos traumáticos e o desconforto físico e/ou psicológico atual do paciente (LANGE, LANGE & CABALTICA, 2000). Mesmo diante de reações negativas, os médicos muitas vezes percebem que há um problema com os pacientes nessa área. Nesse caso, é necessário esperar pacientemente até ganhar a confiança do paciente e, em seguida, tentar um método menos direto, por exemplo, fazendo perguntas como "Você se sente seguro em casa?", para investigar suspeitas de violência doméstica (FIGUEIRA E MENDLOWICZB,2003). 2.3 Formas de Apresentação do TEPT na Clínica Geral Pacientes com Transtorno de Estresse Pós-Traumático geralmente experimentam um desconforto físico mais ou menos vago em unidades médicas primárias e ambulatórios. Eles também podem ir a um neurologista, reclamar de dores de cabeça, ir a um gastroenterologista para dores no abdômen superior ou ir a um cardiologista. Em contraste, pacientes com TEPT podem evitar ativamente certos especialistas e métodos de exame: por exemplo, pacientes que são vítimas de estupro podem se sentir muito desconfortáveis só de pensar em se submeter a um exame ginecológico (YEHUDA, 2002). Os pacientes com câncer podem desenvolver TEPT após serem informados do diagnóstico, de modo que terão sintomas de evitação, deixarão de seguir o plano de tratamento e evitarão ir ao hospital. Conforme relatam Figueira e Mendlowiczb (2003), esta é uma nova área de pesquisa de TEPT. Apenas recentemente as pessoas perceberam que condições clínicas potencialmente graves, como tumores ou doença arterial coronariana, podem constituir um evento traumático e levar à síndrome de TEPT (KANGAS, HENRY & BRYANT, 2002) 10 2.4 Diagnóstico do TEPT O Transtorno de Estresse Pós-Traumático é um transtorno de ansiedade causado por trauma. A característica básica dessa doença é queseu desenvolvimento está relacionado a eventos traumáticos extremos. Para Figueira e Mendlowiczb (2003), um número considerável de sobreviventes da experiência de trauma desenvolverá sinais agudos de sintomas de TEPT, que podem ser divididos em três categorias: Revivescência do Trauma, Esquiva/Entorpecimento Emocional e Hiperestimulação Autonômica. Se esses sintomas persistirem por quatro semanas após o trauma e causarem graves distúrbios sociais e ocupacionais, o PTSD pode ser diagnosticado (FIGUEIRA E MENDLOWICZB, 2003). Os critérios para o diagnóstico de TEPT, descritos no DSM-IV estão resumidos na Tabela abaixo. Fonte: Figueira e Mendlowiczb, 2003 O padrão TEPT do DSM-IV é muito semelhante ao padrão do CID-10. No entanto, existem algumas diferenças importantes entre os dois sistemas. Um dos 11 problemas mais importantes é que o sistema CID-10 reduz a importância de evitar / entorpecer e estimular demais os sintomas (LUNDIM & LOTFI, 1996) 2.5 Quadro Clínico – A Tríade Psicopatológica Fonte: casule.com 2.5.1 Revivescência do Trauma O primeiro grupo de sintomas de TEPT está relacionado à nova experiência do trauma. Esses sintomas traumáticos são exclusivos do PTSD e não são vistos em outras doenças mentais. A revivescência pode assumir muitas formas: sonhos vívidos, pesadelos, pensamentos ou sentimentos incontroláveis, flashbacks. Os pacientes reclamam de pensamentos, imagens, sentimentos e comportamentos recorrentes relacionados a eventos traumáticos. Esses fenômenos são dolorosos e tentam repetidamente se tornarem conscientes e controlar a atenção das pessoas. Figueira e Mendlowiczb (2003) citou que essas memórias são intrusivas porque aparecem na mente e tendem a permanecer na mente, mesmo que o paciente tente lutar com ela. Esses autores relatam que Charcot, em 1887, foi uma das primeiras pessoas a 12 descrever sequelas traumáticas emocionais, chamando essas intrusões de “parasitas da mente”. Às vezes, as intrusões surgem de modo inopinado, torturando o paciente no seu momento de lazer. Por exemplo, quando a imagem do rosto do assaltante aparece enquanto a pessoa está vendo televisão, comendo pipoca e tentando permanecer serena. Essas recordações intrusivas comumente provocam sentimentos de medo, terror, raiva, impotência, vulnerabilidade, vergonha, tristeza e culpa. Os pesadelos são uma modalidade comum de se reviver o trauma. Todo paciente com queixas de pesadelos recorrentes deve ser investigado quanto à existência de eventos traumáticos (FIGUEIRA E MENDLOWICZB, 2003). As características únicas do TEPT mostram um fenômeno psicopatológico exuberante centrado na revivescência extremamente dolorosa e invasiva - fazem alguns autores acreditarem que essa doença é uma forma de patologia da memória. Segundo eles, os pacientes inevitavelmente ficarão presos ao passado perene e viverão em um estado de vazio, como se fossem apenas autômatos. Exemplo Clínico 1: Fonte: Figueira e Mendlowiczb, 2003 Os flashbacks geralmente são causados por estímulos relacionados ao trauma. 13 Exemplo Clínico 2: Fonte: Figueira e Mendlowiczb, 2003 Este caso ilustra que, durante os episódios dissociativos, alguns pacientes podem apresentar delírios e breves alucinações, bem como outros sintomas psicóticos. 2.5.2 Esquiva e Entorpecimento Emocional Os pacientes usam uma série de estratégias emocionais, cognitivas e comportamentais para aliviar a dor e o medo causados por experiências traumáticas e sintomas relacionados a superestimulação autonômica. Essas estratégias levam ao desenvolvimento de vários comportamentos de evitação e entorpecimento emocional, (anestesia ou numbing). Essa evitação corresponde a uma tentativa desesperada de evitar o contato com tudo que possa trazer a memória do trauma. Geralmente, os pacientes evitam falar, pensar ou ir a lugares relacionados ao trauma. Em alguns casos, pode ocorrer amnésia psicogênica. 14 Exemplo Clínico 1: Fonte: Figueira e Mendlowiczb, 2003 A evitação pode assumir formas sutis, e segundo os autores Para Van Der Kolk & McFarlane (1996) para se livrar de memórias intrusivas, os pacientes podem tomar medicamentos ou usar mecanismos de dissociação, que podem manter pensamentos e sentimentos dolorosos fora da consciência. O paciente também pode diminuir o interesse ou se envolver em atividades que antes eram importantes para ele. Para fazer um diagnóstico correto, deve-se atentar para a sequência de tempo entre a ocorrência de um evento traumático e a mudança de comportamento. O entorpecimento psíquico (numbing) é outra manifestação do mecanismo psicológico. Friedman (2002) declarou que os pacientes com TEPT se "anestesiam" com o objetivo de evitar o horror, o pânico e a dor insuportável causados pelos sintomas da revivescência do trauma. O problema é que esse entorpecimento anestesia, as memórias dolorosas, mas também emoções positivas. O paciente torna- se indiferente às coisas que antes eram prazerosas. 15 Exemplo Clínico 2: Fonte: Figueira e Mendlowiczb, 2003 Essa limitação da gama de afetos é chamada de entorpecimento psíquico. As pessoas com TEPT apresentam dificuldades em rir, chorar, amar, ser ternas, ter simpatia ou sentir-se sexualmente atraídas. Eles parecem "mortos para o resto da vida" e se isolam de amigos e familiares. Esses pacientes também se sentem desconectados de si mesmos, do meio ambiente e até do próprio futuro, e sentem que “o futuro está cada vez mais curto”. Para eles, não há futuro. Não fazem mais planos de carreira, planos de viagem, tudo. Agora resta apenas um tempo tenso, constantemente perturbado por lembranças desagradáveis do passado. 2.5.3 Hiperestimulação Autonômica O último grupo de sintomas que caracterizam o TEPT na tríade é a hiperestimulação autonômica. Esses sintomas são mais fáceis de observar e incluem 16 irritabilidade, insônia, choque excessivo e vigilância. Mesmo que o paciente controle o efeito da revivescência por meio do entorpecimento emocional, seu corpo pode reagir de forma exagerada a certos estímulos externos, como se ele estivesse permanentemente ameaçado de morte. Nesse estado de reação psicofisiológica exagerada, o paciente pode estar hiperestimulado, de modo que o menor estímulo fará com que seu coração bata, sua respiração acelere e seus músculos se contraiam. Um leve ruído pode causar um começo sério. Esse constante estado de alerta leva à diminuição da atenção, o que afeta o desempenho de tarefas cognitivas como ler e aprender. A irritabilidade persistente e a agressão agressiva podem se tornar características pessoais. Antes da lesão, essa pessoa tinha um temperamento calmo e gentil. Essa pessoa pode se tornar irreconhecível, ficar com raiva e destruir coisas sem qualquer frustração. Seus amigos e parentes podem ficar com medo e deixá-lo. A superestimulação também pode ser expressa por meio de queixas físicas, como fadiga, dor de cabeça, tremor, hipermotilidade, pseudocrises epilépticas e tonturas (MOORE & BOEHNLEIN,1991) que muitas vezes leva a testes laboratoriais desnecessários. Por todas essas razões, a qualidade de vida dos pacientes de TEPT é gravemente prejudicada. 17 3 PREVALÊNCIA DO TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO Fonte: pedagogiaaopedaletra.com Sher (2004) apontou que estudos epidemiológicos sobre a prevalência de exposição a eventos de estresse traumático ao longo da vida demonstraram que a incidência está entre 40% e 90%. A possível explicação para a diferença na prevalência pode ser explicada pelo motivo definido como evento traumático, pois a prevalência vem se modificando no restabelecimento dos critérios diagnósticos. De acordo com a pesquisa de Kristensen e colaboradores (2005), os padrõesDSM-III (APA, 1980) e DSM-III-R (APA, 1987) utilizados para verificar a incidência de eventos de estresse traumático na população em geral ao longo do ciclo de vida apresentaram variação de 39,1% a 75%. Em estudo realizado por Kessler, Sonnega, Bromet, Hughes e Nelson (1995), utilizando o padrão DSMIII-R, foi encontrada prevalência na taxa de exposição uma 18 variação de 60,7% para homens e para mulheres foi de 51,2% entre aqueles que citaram pelo menos um evento traumático. Por outro lado, estudos que utilizaram o padrão DSM-IV (APA, 1994) constataram que o índice de incidência de eventos de estresse varia de 57,1% a 89,6% (Kristensen et al., 2005). Em pesquisa realizada de acordo com essas normas, constatou-se que a prevalência de eventos de estresse traumático foi de aproximadamente 92,2% para homens e 87,1% para mulheres (Breslau & coautores, 1998). Em relação à prevalência de TEPT, de acordo com o estudo de Kessler et al. (1995), foi realizado um estudo em grande escala na população geral dos Estados Unidos e estima-se que a prevalência da doença ao longo da vida seja de 1 %. Em conformidade com o padrão DSM-III-R. Em outro estudo com casos controlados, usando os mesmos critérios, a prevalência ao longo da vida foi de 2,6% (Shess, Vollmer e Tatum, 1989, citado por Kessler e colaboradores, 1995). Na revisão de Sher (2004), a prevalência de TEPT ao longo da vida está entre 1% e 9%. Na população que usa o padrão DSM-III-R (APA, 1987), a prevalência da doença é de 7,8% a 9,2% na população geral (Breslau, Davis, Andreski & Peterson, 1991); Kessler et al., 1995). Um estudo de Kessler e colaboradores descobriu que a diferença de distribuição foi de 10,4% para mulheres e 5,0% para homens. Além disso, Resnick, Kilpatrick, Dansky, Saunders e Best (1993) investigaram o ETPT de mulheres e descobriram que a prevalência ao longo da vida foi estimada em 12,3%. De acordo com o padrão DSM-III-R (APA, 1987), Breslau et al. (1991) constataram que na amostra de jovens a taxa de prevalência foi de 11,3% para mulheres e 6% para homens. Segundo Kessler e seus colaboradores, as diferenças nos estudos envolvendo o DSM-III (APA, 1980) e o DSMIII-R (APA, 1987) são causadas por uma variedade de fatores, incluindo diferenças nos critérios diagnósticos, procedimentos de avaliação e outros aspectos da amostra. De acordo com o estudo de Kristensen et al. (2005), levando em consideração os critérios diagnósticos estabelecidos no DSM-IV (APA, 1994), para avaliar a prevalência de TEPT na população geral é o estudo de Breslau et al. (1998). Neste estudo, considerando eventos de estresse selecionados aleatoriamente, e quando o critério de estresse é baseado no pior evento, é de aproximadamente 13,6%. Os autores confirmaram que o risco condicionado de TEPT é de 9,2%. 19 No "National Comorbidity Survey" (NCS-R; Kessler, Berglund et al., 2005; Kessler, Chiu, Demler, Jin & Walters, 2005), foi realizado um inquérito vitalício sobre a prevalência de transtornos mentais. De acordo com os critérios descritos no DSM- IV (APA, 1994), a prevalência de TEPT entre 9.282 participantes da amostra é estimada em 3,5% após 12 meses. A prevalência da doença ao longo da vida é de 6,8%. Embora a grande maioria das pessoas expostas a condições potencialmente traumáticas não desenvolvam TEPT (Sher, 2004; Yehuda e McFarlane, 1995), ele é considerado o terceiro mais prevalente em Transtornos de Ansiedade, segundo estudos NCS-R (Kessler, Berglund e colaboradores, 2005), perdendo apenas para Fobias Específicas (12,5%) e Fobias Sociais (12,1%). Portanto, os resultados estão relacionados a consideráveis consequências sociais e econômicas de forma negativa (Ballenger et al., 2004). 20 4 BASES BIOLÓGICAS DO TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO Fonte: CNSforum.com Enquanto estudava os estímulos físicos e psicológicos que podem ativar as glândulas adrenais, Walter Cannon propôs o conceito de "reação de emergência" em 1914. Essa resposta imediata à percepção de ameaça mediada pela epinefrina secretada pela medula adrenal terá a função de preparar os organismos para lutar ou fugir. Em 1943, WR Hess e M Brueger a chamaram de “reação de defesa” termo amplamente conhecido. O substrato neural dessa resposta é determinado principalmente por estimulação elétrica subcortical. A pesquisa indica que a amígdala está localizada nas profundezas do lobo temporal, o hipotálamo está localizado no diencéfalo; a massa cinzenta periaquedutal do mesencéfalo; atua como a principal responsável pelas organizações de resposta comportamental e neurovegetativas que constitui respostas de defesa. A ativação dos nervos simpáticos inclui tanto os componentes humoral enfatizados por Cannon quanto os componentes nervosos que causam alterações no calibre das pequenas arteríolas, que transferem sangue das vísceras e da pele para o cérebro e os músculos esqueléticos bem como outras alterações que dão apoio fisiológico aos requisitos comportamentais necessários para lutar ou fugir. As vias neurais conectam essas 21 estruturas para garantir seu funcionamento geral, formando o chamado “sistema cerebral de defesa”. Em 1936, Hans Selye propôs o conceito de " “Síndrome Geral de Adaptação” (SGA), que foi definido como “resposta inespecífica do organismo a qualquer demanda imposta a ele”. (GRAEFF, 2003). A alteração mais evidente é a característica comum de vários ataques físicos - o calor ou frio da glândula adrenal, que secretam hormônios corticóides, na circulação sanguínea, que se dividem em mineralocorticóides e glicocorticóides. Sendo que estes últimos aceleram o catabolismo e promove o uso do glicogênio hepático e da energia armazenada na gordura para reparar os danos sofridos pelo corpo humano. Frederico apontou que Selye define as três fases da SGA: reação de alarme, resposta aguda à agressão, que se sobrepõe ao conceito anteriormente discutido de reação de defesa; fase de resistência, quando se expressa a SGA; e exaustão, quando as reservas do organismo se esgotam e ele caminha para a morte. Notou, também, a atrofia do timo na SGA, órgão importante do sistema imunológico, prenunciando a moderna psico- imunologia (GRAEFF, 2003). Graeff (2003) indicou que Selye pegou emprestado o termo "estresse" da ciência dos materiais para significar SGA, o que significa que o uso a longo prazo causará desgaste. Esse termo tem sido amplamente utilizado e seu significado estendido é para compreender a resposta e os estímulos e condições que causam a resposta, mais apropriadamente chamado de estressor. Embora Selye tenha enfocado principalmente estressores físicos, delineou o papel da glândula hipófise ou pituitária na estimulação do córtex adrenal, via hormônio adrenocorticotrópico (sigla inglesa, ACTH), abrindo caminho para o conceito do eixo hipotalâmico-pituitária-adrenal (HPA) como eixo hormonal do estresse. O funcionamento do eixo HPA é modulado por estruturas límbicas, como amígdala e hipocampo, responsáveis pela elaboração das emoções, podendo falar em eixo límbico-hipotálamo-pitutária-adrenal ou LHPA. Em contraste com os estímulos que determinam a luta ou a fuga, as ameaças que acionam o eixo HLPA, como a punição inevitável e situações de conflito, produzem respostas de defesa passivas (GRAEFF, 2003). Nesse sentido, Jeffrey Gray acredita que o conceito de “sistema de inibição comportamental” equipara à ansiedade e cujo fulcro está no sistema séptico- hipocampal, refere-se a esse tipo de estressor (GRAEFF, 2003). Além disso, de acordo com a hipótese proposta por JFW Deakin, a falha inevitável do sistema de 22 resistência ao estresse crônico levará à depressão, e o hipocampo é a estrutura chave. As principais alterações do sistema de defesa e do eixo LHPA, que até o momento forma relacionadas com o TEPT, são: 4.1Eixo Simpático-Adrenal Há muitas evidências de que o eixo simpáticoadrenal associado às respostas de defesa está superativado no TEPT. Por exemplo, pacientes com TEPT avaliados muitos anos após o início da doença apresentam frequência cardíaca mais elevada e variabilidade reduzida, o que indica que o sistema nervoso simpático está ativado e o tônus do nervo vago reduzido (COHEN, KOTLER, MATAR, KAPLAN, MIODOWNIK & CASUTO, 1997). Nesse mesmo sentido, no caso de um estímulo condicionado ofensivo, os indicadores psicofisiológicos mostram que, entre outras mudanças, a responsividade da condutância elétrica da pele aumenta e a resposta do olho ao sobressalto aumenta. A estimulação evocativa da situação traumática original é particularmente eficaz na produção dessas mudanças (ORR, METZGER & PITMAN, 1992). Testemunhando a hiperreatividade do sistema noradrenérgico central, o antagonista de receptores adrenérgicos do tipo α2 , ioimbina, produziu maiores aumentos da pressão sanguínea e da freqüência cardíaca em pacientes com TEPT do que em controles sadios (SOUTHWICK, KRYSTAL, MORGAN, JOHNSON, NAGY, NICOLAOU et al., 1993 apud GRAEFF, 2003). Como o receptor α2 tem efeito tônico sobre os neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus, amígdala e hipocampo, especula-se que esse efeito da ioimbina seja mediado pelo sistema noradrenérgico central. A hiperativação do sistema de defesa no TEPT pode ser mediada pelo hormônio liberador de corticotropina (sigla inglesa, CRH) extra-hipotalâmico. Embora o CRH sintetizado no núcleo paraventricular do hipotálamo e liberado no sistema porta hipofisário participe da cadeia hormonal do eixo HPA, há uma extensa rede de neurônios contendo CRH, onde ele funciona como neurotransmissor. Os corpos celulares destes neurônios e/ou seus terminais estão localizados em estruturas límbicas envolvidas com a ansiedade, como a amígdala, o locus coeruleus e a matéria cinzenta periaquedutal. A injeção do CRH no interior dos ventrículos cerebrais de animais de laboratório resulta em alterações comportamentais sugestivas de aumento da ansiedade e 23 depressão, além de ativação simpático-adrenal. Isso levou à conclusão de que o CRH inicia respostas características do estresse (LENZ, RAEDLER, GRETEN & BROWN, 1987 apud GRAEFF, 2003). Estudos em pacientes com pânico mostraram que os níveis de CRH no líquor cefalorraquidiano são mais elevados, o que reflete a função do sistema extra- hipotalâmico (BREMNER, LICINIO, DARNELL, KRYSTAL, OWENS, SOUTHWICK, et al., 1997). Curiosamente, a ativação de neurônios hipotalâmicos contendo CRH pode ser diferente da ativação de células neurossecretoras hipotalâmicas. De fato, estudos moleculares têm mostrado que a expressão do gene CRH no núcleo c central da amígdala e no núcleo do leito da estria terminal é separada do núcleo paraventricular (SCHULKIN, GOLD e MCEWEN, 1998). Isso pode tornar o achado de hiperativação adrenal simpática compatível com o achado de hipofunção do eixo HPA no TEPT. 4.2 Eixo HPA Em vista da resposta anormalmente forte e de longo prazo dos pacientes de TEPT aos estressores, pode-se esperar que a ativação do eixo HPA seja maior do que o normal. No entanto, os resultados experimentais apontam na direção oposta. Yehuda et al., que relataram os resultados mais surpreendentes, mostrando uma associação entre níveis mais baixos de cortisol e maior vulnerabilidade ao TEPT. Nesse sentido, esses autores demonstraram que os níveis de cortisol são reduzidos em sobreviventes do Holocausto com TEPT (YEHUDA, KAHANA, BINDER-BRYNES, SOUTHWICK, MASON &GILLER, 1995), havendo uma correlação negativa entre a concentração de cortisol dos filhos adultos dos sobreviventes e o risco dos pais de TEPT (YEHUDA, BIERER, SCHMEIDLER, AFERIAT, BRESLAU & DOLAN, 2000). O último resultado aponta para fatores genéticos. No entanto, também devem ser adquiridos fatores, pois se constata que experiências anteriores de estresse podem aumentar o risco de TEPT por meio da modificação da função do eixo HPA, como exemplificam, Resnik, Yehuda, Pitman & Foy (1995) mulheres estupradas que já foram vítimas antes, seus níveis de cortisol diminuirão. 24 A secreção de cortisol é controlada por uma alça de retroalimentação (feed- back) negativa, que é ativada pela ação do cortisol circulante. Este atua sobre receptores de glicocorticóide situados no hipocampo, onde sua concentração é muito alta, bem como no hipotálamo e na hipófise, inibindo a secreção de ACTH (GRAEFF, 2003). Em pacientes com TEPT, a hipersensibilidade desses receptores é evidenciada pela resposta inibitória, que é aumentada pela injeção de dexametasona (Yehuda, Southwick, Krystal, Bremner, Charney & Mason, 1993). Vale lembrar que essa reversão ocorre na depressão maior, pois cerca de 60% dos pacientes apresentam redução da resposta à dexametasona e muitos pacientes apresentam níveis elevados de cortisol circulante. 4.3 Síntese das Alterações Neuroendócrinas Em suma, pode-se dizer que os pacientes com TEPT apresentam hiperativação adrenal simpática associada à hipofunção do eixo HPA. Quanto menor a função deste último, maior o risco de TEPT. Entende-se que o cortisol tenha a função de encerrar a fase de alarme da resposta ao estresse, que se caracteriza pela ativação adrenal simpática. Portanto, a deficiência de cortisol observada no TEPT pode causar a estagnação dos pacientes na fase de resposta de defesa (YEHUDA R, HARVEY H, 1997). Isso pode explicar a maioria dos sintomas de TEP, que inclui alterações cognitivas. 4.4 Hormônios de Estresse e Memória Existem importantes mudanças cognitivas no Transtorno de Estresse Pós- Traumático, especialmente no campo da memória. Memórias traumáticas tornam-se indeléveis e resistentes. Elas podem ser intrusivas, perturbar o sono e o pensamento e são induzidas por estímulos remotamente relacionados à situação original, levando a dois defeitos no processo psicobiológico da memória: 1- Consolidação Excessiva e, 2- Falsa Rotulação. Estudos em animais de laboratório e em humanos mostraram que aquelas memórias que possuem conteúdo emocional se tornam mais fáceis de lembrar do que 25 memórias neutras (Quevedo et al., apud GRAEFF, 2003), por causa dos efeitos dos hormônios e neurotransmissores liberados mediante emoções e promoção da consolidação dos traços de memória. Além disso, existe uma correlação entre perfil neuro-humoral presente na aquisição, e mais precisamente a configuração dos estímulos interoceptivos produzidos por essa substância e a capacidade de evocação. O valor adaptativo desse processo é que, no caso de um mesmo tom emocional, ele causará memória consistente, promovendo comportamentos adequados à situação (Izquierdo & McGaugh, 2000). Por exemplo, quando presos, os animais se lembram de outras ameaças e do uso bem-sucedido de estratégias defensivas. Voltando ao TEPT, foi sugerido que o excesso de catecolaminas durante o trauma, não restringido por corticóides, pode levar à consolidação excessiva de memórias traumáticas (Yehuda R, Harvey H, 1997). Essa hipótese é baseada em trabalho experimental, mostrando que as catecolaminas promovem a consolidação da memória em ratos, e esse efeito é regulado por corticóides (De Wied & Croiset, 1991). Esse tipo de memória será gerado nas diferentes circunstâncias que geraram o alarme e começará a estabelecer novas associações com elas. Desta forma, a situação que causou a memória traumática será gradualmente generalizada (PITMAN, 1989). Existem evidências sugestivas de que, além dos opioides, peptídeos como a vasopressina e a ocitocina podem estar envolvidos no processo de memória associado ao TEPT. A β-endorfina vem do mesmo precursor peptídico que contém ACTH e também é liberada pela hipófise anterior sob estresse. Foi descoberto que a naloxona pode aliviar sintomas como embotamento afetivo e intrusãode memórias, com revivescência do evento traumático (flashback) e outros fenômenos de dissociação que ocorrem no TEPT. A naloxona é um antagonista do receptor opioide do tipo μ (REISINE & PASTERNAK, 1996). Esse achado sugere que os opioides endógenos estão envolvidos nessas manifestações de TEPT. 4.5 Alterações Cognitivas e Volume Hipocampal O hipocampo está envolvido na aquisição de memórias declarativas. Portanto, não é surpreendente que tenha sido estudado especificamente no TEPT devido à tecnologia de neuroimagem não invasiva. Ao aplicar a morfometria às imagens de ressonância magnética, o achado mais consistente é a redução no volume do 26 hipocampo, originalmente descrita por (Bremner, Randall, Scott, Bronen, Seibyl, Southwick, etc., 1995). A atrofia do hipocampo também é encontrada na doença de Cushing e depressão maior, onde os níveis de cortisol circulante são elevados. Assim como as evidências obtidas em animais experimentais mostram que os corticóides podem potencializar os efeitos neurotóxicos dos aminoácidos excitatórios, esta hipótese foi proposta de que a atrofia hipocampal é o resultado de corticóides induzidos pelo estresse. (SAPOLSKY, 2000). Uma explicação razoável para a depressão, mas há dificuldades no caso do TEPT, porque o nível de cortisol circulante é reduzido. Pode-se especular que eles podem aumentar no momento do trauma inicial, mas dificilmente há qualquer evidência de apoio. Outras alternativas são alterações de neurotransmissores, como a serotonina, o ácido γaminobutírico (GABA) e o glutamato, bem como de fatores de crescimento, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (sigla inglesa, BDNF), que participam de processos de neurogênese e neurodegenaração. No entanto, não está claro se a atrofia do hipocampo encontrada no TEPT é resultado do trauma ou já estava presente antes do acontecimento (GRAEFF, 2003). Como mencionado anteriormente, neste último caso, este pode ser um fator vulnerável porque o hipocampo desempenha um papel importante no ajuste do eixo HPA. 27 5 FUNÇÕES COGNITIVAS E TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO Fonte: tribunadaregiao.com.br O diagnóstico de TEPT é fundamentalmente clínico. No entanto, apesar de muitos esforços para definir critérios diagnósticos eficazes e confiáveis, ainda há muita controvérsia sobre se os critérios atuais de TEPT são adequados (Ballenger et al., 2004; McNally, 2003). O relato inicial de resposta pós-traumática incluiu disfunção cognitiva (YOUNG, 2000), que atualmente constitui a característica central do TEPT no DSM. Foi proposto que a avaliação neuropsicológica pode ajudar a esclarecer as deficiências cognitivas associadas ao TEPT (HORNER & HAMNER, 2002; WOLFE & CHARNEY, 1991), esclarecendo assim o diagnóstico. 28 5.1 Neurobiologia do TEPT Durante a década de 1930, Hans Selye deu uma contribuição fundamental para o estudo dos efeitos neurobiológicos das explosões em eventos de estresse. Ele reconheceu o paradoxo da resposta do corpo humano ao estresse (McEwen, 2002): o sistema corporal ativado ajuda a proteger o sistema nervoso. A restauração dos organismos e da homeostase, se permanecerem ativos por muito tempo, causará danos aos organismos. A resposta biológica aos eventos de estresse envolve a ativação dos sistemas endócrino e imunológico e de circuitos neurais específicos (BREMNER, 2002; CHARNEY, 2004; GRAEFF, 2003; NEMEROFF, 2004). As respostas psicológicas variam muito, desde métodos adaptativos para lidar com o estresse até depressão e outras doenças mentais (CICCHETTI & WALKER, 2001), entre as quais o TEPT (MCNALLY, 2003; YEHUDA, 2002). Christian et al., complementou: É importante destacar que a resposta biológica a eventos estressores depende da ativação do complexo locus ceruleus-noradrenalina-sistema nervoso simpático (Charney, 2004) e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), em especial do hipotálamo (McEwen, 2002; Yehuda, 2001). Nessa região, as células do núcleo paraventricular promovem a síntese e secreção do hormônio de liberação da corticotrofina (CRH) e neuropeptídeos como a vasopressina. Pelo sistema porta esses peptídeos passam do hipotálamo à hipófise anterior, onde o CRH estimula a síntese e a liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) na circulação sistêmica (McEwen). Por sua vez, o ACTH circulante estimula a liberação de glicocorticoides pela suprarrenal. Esses hormônios esteróides adrenais ñ dentre os quais destaca-se no ser humano o cortisol ñ desempenham um papel central na resposta a eventos estressores, produzindo lipólise, glicogenólise e o catabolismo de proteínas, mantendo altas as concentrações de substratos energéticos no sangue, além de suprir a resposta imunológica do organismo (Charmandari, Kino, Souvatzoglou & Chrousos, 2003; McEwen; Sapolsky, 2003). Em uma situação normal, ao cessar a explosão a um estressor, o eixo HHA promove uma autolimitação do sistema mas no TEPT, como ser· descrito abaixo, a neurobiologia segue um outro curso (Bremner, 2002; De Bellis, 2005; Graeff, 2003; Yehuda, 2001) apud (KRISTENSEN, PARENTE & KASZNIAK, 2006). Como a pesquisa neurobiológica do TEPT desempenha um papel importante na resposta ao estresse, eles priorizaram o uso do eixo HHA e do sistema nervoso simpático (DE BELLIS, 2005; NEMEROFF, 2004). Fisiologicamente, o TEPT pode ser conceituado como uma reação crônica e mal adaptativa. Esse transtorno ocorre a hiperativação do sistema nervoso simpático, que é caracterizada pelo aumento da 29 produção de adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina) no sangue através das terminações nervosas simpáticas e da medula suprarrenal (GRAEFF, 2003; NEMEROFF, 2004). Ao contrário de outras doenças, como depressão e até mesmo respostas imediatas a estressores, o TEPT mostra aumento da sensibilidade do eixo HHA, levando a uma diminuição do cortisol plasmático e urinário (CHARMANDARI et al., 2003; YEHUDA, 2001). Portanto, a característica neurobiológica do TEPT é a diminuição dos níveis basais de cortisol, que se deve ao aumento da inibição do feedback negativo causado pelo aumento do número e da sensibilidade dos receptores de glicocorticóides (YEHUDA, 2001). Estruturas encefálicas como o hipocampo, o hipotálamo, a amígdala e o córtex pré-frontal estão envolvidas nos processos de retroalimentação do eixo HHA (Sapolsky, 2003) e têm sido preferencialmente identificadas em estudos clínicos com indivÌduos com TEPT (Bremner, 2002; Charney, 2004). Assim, alterações no eixo HHA e no complexo locus ceruleus-noradrenalina-sistema nervoso simpático têm sido associadas a prejuízos em diversos sistemas funcionais nos indivíduos com TEPT (Bremner, 2002; De Bellis, 2005; Elzinga & Bremner, 2002) apud (KRISTENSEN, PARENTE & KASZNIAK, 2006). No entanto, as alterações associadas ao TEPT não se limitam a distúrbios do sistema neuroquímico, mas também envolvem alterações na estrutura e função do cérebro. Pesquisa realizada usando várias técnicas de neuroimagem, como: (a) Imageamento por ressonância magnética, (b) Tomografia por emissão de pósitrons, (c) Tomografia computadorizada por emissão de fóton único, (d) Imageamento por ressonância magnética funcional, Até mesmo algumas combinações dessas técnicas têm mostrado estrutura cerebral prejudicada e função associada a sintomas de TEPT (BREMNER, 2002; para uma revisão crítica desses estudos, ver HULL, 2002). Outros métodos, como o exame neurológico, também apontam na mesma direção (GURVITS et al., 2000). Em resumo, esses estudos mostram evidências razoáveis de que a estrutura do cérebro e as funções cognitivas associadas ao TEPT estão prejudicadas. De acordo com HULL; HORNER & HAMNER (2002) as principais áreas funcionalmente prejudicadas em indivíduos que desenvolveram TEPT após um evento estressor incluem: Córtex Pré-Frontal, 30 CórtexVisual de Associação, Hipocampo, Giro Cingulado, Amígdala, Núcleo Accumbens. São as estruturas relacionadas à função na execução do processo de integração, como função executiva, ajuste do comportamento emocional, direção espacial e interpretação emocional, codificação e armazenamento da informação. (MESULAM, 2000). 5.2 Funcionamento Cognitivo e Avaliação Neuropsicologia do Transtorno do Estresse Pós-Traumático Considerando a natureza do TEPT, não é surpreendente que tenham proposto teorias psicológicas para explicar os transtornos cognitivos e afetivos característicos da doença (BREWIN & HOLMES, 2003). Entre outras coisas, os métodos cognitivos propostos por Ehlers e Clark (2000) têm recebido cada vez mais suporte empírico. O conceito central dessa abordagem é que o TEPT persistirá quando as ameaças atuais afetarem o processo cognitivo do trauma. Essa sensação de ameaça ou perigo iminente leva a: (a) de avaliações excessivamente negativas do trauma e/ou de suas consequências (e sintomas) (b) da natureza da memória do evento traumático, caracterizada por uma pobre elaboração, pobre integração em relação à memória autobiográfica, forte memória associativa e forte pré-ativação (priming) perceptual. Quando a sensação de perigo atual é ativada, há a manifestação sintomática de TEPT, ou seja, revivência persistente do evento traumático e excitabilidade aumentada e outros estados emocionais. Portanto, além da existência de memórias traumáticas imperfeitas, que são facilmente ativadas por associações contextuais, um conjunto de cognição, metacognição e comportamento também contribuem para a persistência do TEPT (EHLERS & CLARK, 2000). 31 Kristensen et al., 2006 enfatizaram que, Apesar da grande ênfase direcionada às características específicas da memória do evento traumático - bem como às desordens de sistemas múltiplos de memória (Elzinga & Bremner, 2002; McNally, 2003), prejuízos em outras funções cognitivas têm sido frequentemente associados ao TEPT. A investigação neuropsicologia dessa associação iniciou na década de 1980 (por exemplo, Everly & Horton, 1989), embora estudos com prisioneiros de guerra tenham sido conduzidos já em décadas anteriores (KRISTENSEN, PARENTE & KASZNIAK, 2006). Em trabalho pioneiro, Wolfe e Charney (1991) defenderam o uso da avaliação neuropsicológica para os seguintes objetivos: (a) estimar habilidades cognitivas; (b) facilitar a compreensão da sintomatologia pós-traumática, especialmente quando o evento estressor inclui um potencial dano físico ao sistema nervoso central - por exemplo, após acidentes de trânsito; (c) auxiliar no planejamento das intervenções terapêuticas; (d) favorecer a compreensão sobre o curso temporal do transtorno. Kristensen et al., 2006 citaram o trabalho de outros autores: Mais de uma década após a publicação de Wolfe e Charney, os avanços nessa área de investigação são notáveis. Revisões da literatura na área (Danckwerts & Leathem, 2003; Horner & Hamner, 2002) foram capazes de incluir em torno de 20 estudos empíricos sobre avaliação neuropsicologia no TEPT, bem como a edição de um livro recente sobre o tema (Vasterling & Brewin, 2005). Ao revisarem a literatura na área, Horner e Hamner (2002) observaram que os prejuízos nas funções cognitivas, verificados através de testagem neuropsicologia, apresentaram-se de forma relativamente uniforme, independentemente da natureza do evento estressor (KRISTENSEN, PARENTE & KASZNIAK, 2006). Entre as funções cognitivas mais comumente prejudicadas nos indivíduos com TEPT, ao longo dos diferentes estudos revisados, encontram-se: (a) memória, em maior grau envolvendo recuperação imediata de informações verbais e visuais e, em menor grau, recuperação não-imediata; (b) atenção, nas modalidades verbal e visual; e (c) funções executivas, incluindo provas de resolução de problemas (Horner & Hamner). Kristensen et al., apresentaram algumas considerações: Ao menos três aspectos merecem consideração adicional. Primeiro, é importante notar como os prejuízos nas funções cognitivas acima listadas são 32 compatíveis com as alterações funcionais ou anatômicas associadas ao TEPT identificadas em estruturas encefálicas (conforme descrito na seção anterior). Estruturas como o hipocampo, amígdala, córtex pré-frontal e giro cingulado são componentes centrais do substrato neurobiológico que permite o processamento mímico, atencional e executivo (Mesulam, 2000; Royall e colaboradores, 2002). Segundo, esses prejuízos em funções cognitivas demonstráveis através de testagem neuropsicologia em populações clínicas apresentam-se em consonância com aqueles identificados através de estudos empíricos na tradição da psicologia cognitiva experimental, empregando tarefas de escuta dicótica, reconhecimento auditivo, procedimento de Stroop modificado (ou Stroop emocional) e memória autobiográfica, entre outras provas experimentais (McNally, 1998). Terceiro, os prejuízos em funções cognitivas demonstrados tanto através da avaliação neuropsicológica quanto da investigação experimental, não somente oferecem grande apoio empírico a abordagem cognitiva proposta por Ehlers e Clark (2000) para explicar o TEPT, como também podem ser utilizados para avançar com a teorização O terceiro ponto acima, pode indicar que a disfunção executiva é uma parte importante do modelo de processamento cognitivo de TEPT. Por exemplo, no modelo proposto por Ehlers e Clark (2000), os erros na interpretação dos estímulos ambientais, as dificuldades no processo de automonitoramento e as perdas na integração dos conteúdos simulados são mais ou menos enfatizados. Esses processos envolvem a ação de funções executivas (MESULAM, 2000; ROYALL et al., 2002), e sua perda parece estar no centro dos sintomas de TEPT. Embora não haja consenso sobre a definição de função executiva, deve-se notar que a pesquisa neuropsicológica provou que diferentes processos cognitivos relacionados ao TEPT que dependem da função executiva são prejudicados, por exemplo a memória prospectiva (MORADI, NESHAT-DOOST, TAGHAVI, YULE & DALGLEISH, 1999), o raciocínio abstrato (BEERS & DE BELLIS, 2002), a flexibilidade mental (KRISTENSEN & BORGES, 2004; STEIN, KENNEDY & TWAMLEY, 2002) e memória de trabalho (WORKING MEMORY, STEIN E COLABORADORES). Além disso, as estruturas cerebrais que participam dos circuitos fronto- subcorticais que fornecem uma base neural para as funções executivas (HEYDER, SUCHAN & DAUM, 2004; ROYALL et al., 2002) estão envolvidas no TEPT (BREMNER, 2002; DE BELLIS, 2005; YEHUDA, 2001). 33 6 COMORBIDADE NO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO: REGRA OU EXCEÇÃO? Fonte: http: cascavel.pr.gov.br Diversas variáveis foram propostas como importantes para o desenvolvimento do Transtorno do Estresse Pós-Traumático, incluindo características ambientais, o estressor (sua natureza e intensidade) e a pessoa (sua sensibilidade e capacidade de modular a resposta inicial a um evento traumático). É importante estar ciente das diferentes maneiras como uma pessoa reage a eventos estressantes, pois algumas pessoas podem ter uma reação aguda ao estresse e/ou TEPT, enquanto outras podem ter ataques de pânico ou depressão, por exemplo. A autora Regina acrescentou que: Diferentes estudos demonstram elevadas taxas de comorbidade nas pessoas com TEPT. Têm sido sugeridos diferentes motivos para este fato. Entre eles, destaca-se o fato de que a história prévia de outra doença mental pode aumentar o risco para a ocorrência de TEPT. Isso aconteceria devido a uma elevada probabilidade de exposição ao risco ou a de desenvolver TEPT, devido a existência de uma outra doença mental. Outra explicação proposta para a elevada taxa de comorbidade seria o fato do TEPT estar relacionado a um elevado risco para desenvolver outros transtornos (MARGIS, 2003). Ainda segundo a autora,foi proposto que o TEPT e as doenças que o acompanham devem ser entendidos como “complexo efeito somático-cognitivo afetivo-comportamental de um trauma psicológico”. 34 6.1 TEPT e Aspectos de Outros Transtornos Psiquiátricos Um grande número de estudos avaliou indivíduos recebendo tratamento (DAVIDSON, SWARTZ, STORCK, et al., 1985; SIERLES, CHEN, MCFARLAND, et al., 19855) e a população em geral (SHORE, VOLLMER & TATUM, 1989). Pacientes com TEPT têm maior incidência de comorbidades psiquiátricas. Davidson et al., descobriram em 1985 que a taxa de comorbidade de pacientes com TEPT na comunidade era de 62%. Outra pesquisa indicou que a proporção era de 92% (DAVIDSON, HUGHES, BLAZER & GEORGE, 1991). Estudos de Helzer, Robins, Mcevoy (198); Breslau, Davis, Andreski & Peterson (1991) que entrevistaram pacientes de TEPT descobriu que cerca de 80% dos pacientes tinham outro diagnóstico psiquiátrico se comparados a 30% a 44,3% dos pacientes não apresentam TEPT. Visando examinar possíveis diferenças nas manifestações clínicas do TEPT em relação ao gênero, Zlotnick et al., 2001 entrevistaram 138 pacientes ambulatoriais com TEPT. Nessa amostra observou-se que os homens mais frequentemente preenchiam critérios para transtorno por uso de substância ou transtorno de personalidade anti-social. Não encontraram diferenças entre os gêneros para outros tipos de transtornos, nem para o número de transtornos comórbidos (MARGIS, 2003). Kessler, Sonnega, Bromet, Hughes e Nelson (1995) apontaram que cerca de 16% dos pacientes de TEPT têm outro diagnóstico psiquiátrico. Além do TEPT, cerca de 17% das pessoas têm outros dois e até 50% têm três ou mais diagnósticos psiquiátricos. Frequentemente, há dúvidas sobre qual quadro aparece primeiro. Kessler et al. (1995) avaliaram esse aspecto e descobriram que o TEPT geralmente precede os transtornos afetivos comórbidos ou os transtornos causados pelo uso de substâncias comórbidas. Entre as mulheres, o TEPT geralmente precede os transtornos comportamentais. No entanto, Kessler e outros (1995) observaram que em relação a outros transtornos de ansiedade, o TEPT pode não preceder outras doenças. 35 6.2 TEPT e Outros Transtornos de Ansiedade Indivíduos com Transtorno de Estresse Pós-Traumático têm duas a quatro vezes maior probabilidade de apresentar um outro transtorno de ansiedade em relação às pessoas sem TEPT. Entre os homens essa probabilidade é de três a sete vezes maior, já entre as mulheres é de duas a quatro vezes maior. Margis (2003) citou que Zayfert, Becker, Unger & Shearer (2002) examinaram a prevalência da comorbidade de transtornos ansiosos com TEPT, relacionando-os a outros transtornos, numa população que buscou tratamento. Os 83 pacientes com TEPT examinados evidenciaram maior comorbidade quando comparados a pacientes com outros transtornos de ansiedade (151 indivíduos), ou outro transtorno em Eixo I (73 indivíduos). Quando comparados a indivíduos com transtorno do pânico, os indivíduos com TEPT apresentavam mais frequentemente o diagnóstico de depressão e fobia social. (ZAYFERT, BECKER, UNGER & SHEARER, 2002 apud MARGIS, 2003). Em comparação com pessoas sem TEPT, pessoas com TEPT têm duas a quatro vezes mais probabilidade de sofrer de outro transtorno de ansiedade. Nos homens, essa possibilidade é três a sete vezes maior e, nas mulheres, é duas a quatro vezes maior. Margis (2003) apontou que Zayfert, Becker, Unger e Shearer (2002) estudaram a prevalência de comorbidades de ansiedade de TEPT associadas a outras doenças em pessoas que procuram tratamento. 6.3 TEPT e Abuso de Álcool e Outras Substâncias Psicoativas De acordo com estudo epidemiológico realizado por Kessler,10 indivíduos com TEPT têm duas a três vezes maior probabilidade de apresentar transtorno por uso de substância, em relação aos que não apresentam TEPT. Levantamentos realizados entre os indivíduos que buscam tratamento devido ao uso de substância constataram que 25% a 58% destes pacientes apresentavam comorbidade com TEP (GERSHUNY ET AL., (2002); GRICE, DUSTAN, BRADY et al., 1995). O transtorno por uso de substância em comorbidade com o TEPT, leva a um pior prognóstico do primeiro. Brown, Stout e Mueller (1996) num estudo piloto, compararam mulheres dependentes de álcool e outras substâncias 36 psicoativas, com e sem comorbidade com TEPT, quanto a taxas de recaída. Esses autores constataram que, ao final de 3 meses, as taxas de recaída não diferiram entre as mulheres com ou sem comorbidade com TEPT. Entretanto nos estudos de Brown, Stout & Mueller (1996) as mulheres com TEPT apresentaram recaída mais precocemente (MARGIS, 2003). Semple, Goyer, McCormick, Donovan, etc. (2000) afirmam que em comparação com pessoas normais, a tomografia por emissão de pósitrons foi realizada em pacientes com TEPT e uma história de abuso de álcool e cocaína. Em comparação com pessoas normais, os pacientes com TEPT e comorbidades associadas ao abuso de álcool e cocaína apresentam maior fluxo sanguíneo cerebral na amígdala e menor fluxo sanguíneo no córtex frontal (DANSKY, SALADIN, BRADY, et al., 1985). 6.4 TEPT e Transtornos de Humor Em comparação com pacientes sem esquizofrenia, as pessoas com esquizofrenia têm duas a três vezes mais probabilidade de sofrer de depressão, arritmias e mania. Kessler et al. (1995) descobriram que homens com TEPT são seis a dez vezes mais propensos a sofrer de transtornos emocionais do que homens sem TEPT. Para mulheres com TEPT, a chance de sofrer de um distúrbio emocional é de quatro a cinco vezes. É importante notar que certos sintomas no TEPT são semelhantes aos encontrados em pacientes com transtornos do humor: alterações do sono, irritabilidade, diminuição do interesse em participar de atividades, etc. Isso reforça a importância de uma avaliação detalhada de todos os sintomas existentes para permitir um diagnóstico adequado. 6.5 TEPT e Risco de Suicídio Além disso, as tentativas de suicídio de pacientes de TEPT foram seis vezes maiores do que as dos controles - TEPT é o transtorno de ansiedade mais intimamente relacionado ao suicídio. Deve-se notar que o risco de suicídio de pessoas que expressam os seguintes fenômenos em TEPT também aumenta alguns sintomas. 37 6.6 TEPT e Dissociação A dissociação é um sintoma comum em pacientes com Transtorno do Estresse Pós-Traumático e é considerada um dos sintomas mais comuns (VAN DER KOLK, PELCOVITZ, ROTH, etc., 1996). Para determinar a prevalência e as comorbidades da doença de dissolução (DT) em pacientes hospitalizados, 110 pacientes hospitalizados consecutivos em hospitais psiquiátricos foram entrevistados por meio da "Escala de Experiência de Dissolução". De acordo com o DSM-III, cerca de 15% desses pacientes pontuaram acima do "ponto de corte" da síndrome clínica TD e preencheram os critérios. Em comparação com o grupo de pacientes internados, sua incidência de depressão, PTSD, transtorno por uso de substâncias e transtorno de personalidade limítrofe foi maior, e eles foram controlados por idade e sexo (SAXE, VAN DER KOLK, BERKOWITZ, etc., 1993). 6.7 TEPT e Queixas Físicas Em pacientes com TEPT, a somatização é um achado muito comum. Entre 99 mulheres que realizaram acompanhamento psiquiátrico ambulatorial com histórico de lesão somática, mais de 90% das mulheres com transtornos de somatização relataram alguma forma de abuso: abuso sexual na infância ou na idade adulta, abuso físico ou emocional na infância (PRIBOR, YUTZY, DEAN, et al., 1993). Apesar de um grande número de estudos ressaltar um aumento das queixas físicas em pacientes com TEPT, a razão para essa associação ainda não está clara. Ford et al22 avaliaram diferentes settings clínicos e constataram que 67% dos pacientes que procuraram atendimento com gastroenterologista e 50% dos que procuraram atendimento emclínicas para tratamento de dor, relataram a ocorrência de trauma físico na infância. Ao comparar 22 mulheres apresentando dor pélvica com 22 sem dor – randomicamente selecionadas – encontrou-se história de abuso na infância em 82% das mulheres com dor pélvica e 41% das mulheres sem queixa da dor (WALKER, KATON, NERAAS et al., 1993 apud MARGIS, 2003). Segundo MARGIS (2003), após avaliação das vítimas de desastres naturais em Porto Rico, foi relatado que um ano após o evento traumático, não houve desenvolvimento de sintomas físicos. As vítimas de desastres têm maior probabilidade 38 de apresentar sintomas gastrointestinais ou pseudoneuropatia do que aquelas que não sofreram com o desastre (ESCOBAR, CANINO, RUBIO-STIPEC ET AL., 1994). Gurvits, Gilbertson, Lasko, Tarhan et al. (2000) avaliaram 21 mulheres adultas vítimas de violência sexual infantil (12 delas tinham TEPT e 9 delas não tinham a doença) e 38 veteranos da Guerra do Vietnã (23 delas tinham TEPT e 15 deles não) eles verificaram a existência de "sintomas leves do sistema nervoso" - refletindo mudanças sutis do sistema nervoso, como anormalidades de linguagem, coordenação motora, percepção e outras funções do sistema nervoso central. O estudo descobriu a partir de registros históricos e exames físicos que esses homens e mulheres com TEPT crônico têm evidências de disfunção neurológica. O risco de desenvolver doenças clínicas em pacientes com TEPT é maior do que em pessoas normais, e função cardiovascular anormal, desregulação endócrina e imunossupressão são frequentemente observadas. Pacientes com TEPT também apresentam risco aumentado de mudanças comportamentais, como comportamento hostil - que é um fator de risco para doenças cardiovasculares e se manifesta como personalidade tipo A - e comportamentos de risco, como uso de drogas (Friedman MJ, Charney, Deutch e editores, 1995) 6.8 TEPT e Qualidade de Vida Um aspecto importante relacionado à produção e à vida dos pacientes com TEPT é o investimento no trabalho. Esse dano é semelhante ao associado a pacientes com depressão, mas menor do que o de pacientes com pânico (VAN DER KOLK, 1997). Isso é válido tanto ao considerarmos absenteísmo, como menor produtividade. O comprometimento no trabalho também refere-se ao fato de que várias pessoas com transtorno de estresse pós-traumático, submetem- se a atividades profissionais que lhe pagam salários inferiores, por julgarem- se incapazes de lidar com o estresse provocado por um trabalho que lhes remunerem melhor (MARGIS, 2003). O TEPT afeta a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias de maneiras diferentes. Isso fica evidente ao se verificar quantas pessoas com TEPT evitam certas tarefas devido ao medo persistente e em que medida esse medo afeta as atividades diárias de seus familiares. A interferência na qualidade de vida causada pelo TEPT, 39 aliada aos danos causados pelas comorbidades, e os potenciais danos causados pelo retardo do diagnóstico e tratamento adequados em pacientes com a doença, também aumentam o sofrimento dos portadores da doença. 40 7 REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (3a. ed.). Porto Alegre: Artmed. 1980 American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (3a. ed.; Texto Revisado). Porto Alegre: Artmed. 1987 American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (4a. ed.). Porto Alegre: Artmed. 1994 American Psychiatric Association. 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