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Esquizofrenia 1 Esquizofrenia Hipóteses Possível diagnóstico de esquizofrenia, classificada como um transtorno psicótico que se caracteriza por mania de perseguição, delírio de grandeza, alucinações e falta de asseio/cuidado. Alucinação se refere a alteração da propriocepção dos sentidos enquanto o delírio está relacionado à incoerência dos pensamentos envolvendo crenças e um estado mais duradouro. Neologismo faz parte das características da doença. O tabagismo tem função inibitória no sistema nervoso central melhorando os sintomas da esquizofrenia. Existe relação de causa (fator pré-disponente) e efeito (alívio dos sintomas da doença) entre o consumo de drogas e a esquizofrenia. Existem vias dopaminérgicas no sistema nervoso central (nigroestriada, mesolímbica, mesocortical e tuberofundibular) que no caso do transtorno esquizofrênico sofrem alterações levando aos sintomas da esquizofrenia. Dentre essas, a mesocortical está relacionada aos sentidos. Risperidona se classifica como ansiolítico/benzodiazepínico e Haldol como um antipsicótico/ agonista de dopamina. Por ser um medicamento que atua na hipófise, podendo ter como efeito adverso a produção de prolactina levando à descarga mamilar. “Andar como um robô” é um efeito adverso dose dependente do Haldol, deixando o paciente letárgico. No exame do estado mental vão estar alterados: aparência, atenção, julgamento, pensamento, auto percepção, orientação e linguagem. Pacientes esquizofrênicos ficam sob tutela pela incapacidade de discernir entre a realidade e os sintomas da esquizofrenia. Um dos critérios de internação é atentar contra a própria vida ou de terceiros, incapacidade de cuidados em ambiente familiar. Existem instituições de saúde direcionadas para pacientes psiquiátricos, antes chamadas de manicômio. Questões 1. Conheça as instituições de saúde direcionadas para pacientes psiquiátricos. 2. Entenda os critérios de internação para pacientes psiquiátricos no SUS. 3. Entenda a relação do uso de substâncias (drogas e tabaco) e a esquizofrenia. 4. Entenda a fisiopatologia da esquizofrenia e seus critérios diagnósticos, correlacionando com sinais e sintomas e seu tratamento. 5. Sobre Risperidona e Haldol, entenda sua classe, mecanismo de ação, posologia, indicação, contraindicação e efeitos adversos. 6. Entenda os critérios para aposentar e/ou tutelar pacientes esquizofrênicos. 7. Defina e diferencie delírio e alucinação. 8. Entenda as alterações do exame do estado mental na esquizofrenia. Saúde Mental Esquizofrenia 2 No dia 6 de abril de 2001, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a lei que representou um divisor de águas no tratamento de brasileiros que sofrem com distúrbios, doenças e transtornos mentais. Foi a reforma psiquiátrica (Lei 10.216, de 2001), que teve como marca registrada o fechamento gradual de manicômios e hospícios que proliferavam país afora. A Lei Antimanicomial, que promoveu a reforma, tem como diretriz principal a internação do paciente somente se o tratamento fora do hospital se mostrar ineficaz. Em substituição aos hospitais psiquiátricos, o Ministério da Saúde determinou, em 2002, a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em todo o país. Os CAPs são espaços para o acolhimento de pacientes com transtornos mentais, em tratamento não-hospitalar. A função é prestar assistência psicológica e médica, visando a reintegração dos doentes à sociedade. Origem A reforma psiquiátrica no Brasil teve como primeira fonte inspiradora as ideias e práticas do psiquiatra Franco Basaglia, que revolucionou, a partir da década de 1960, as abordagens e terapias no tratamento de pessoas com transtornos mentais nas cidades italianas de Trieste e Gorizia. Especialmente em Trieste, onde dirigiu por anos o hospital psiquiátrico San Giovanni, com mais de 1,2 mil pacientes internados, Basaglia teve ampla liberdade para aplicar sua nova abordagem libertária, rompendo muros culturais e físicos na forma como uma sociedade deve lidar com seus "loucos" para reintegrá-los à sociedade. Crítico da psiquiatria tradicional e da forma como operavam os hospícios, Basaglia revolucionou o tratamento psiquiátrico, desenvolvendo uma abordagem de reinserção territorial e cultural do paciente na comunidade. Isso em vez de isolá-lo num manicômio à base de fortes medicações, vigilância ininterrupta, choques elétricos e camisas de força. O aprofundamento de sua metodologia e o retorno à vida social conseguido com milhares de ex-internos em Trieste levou a prefeitura local, com o passar dos anos, a fechar o hospital psiquiátrico, optando gradualmente pela abertura de novos centros terapêuticos territoriais, como os concebidos por Basaglia. OMS Devido aos resultados positivos que alcançou na Itália, a abordagem de Basaglia passou a ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de 1973. A posição da OMS tornou o debate mundial. E a discussão chegou ao Brasil. Em 1978 houve um racha na Divisão Nacional de Saúde Mental (Dinsam), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Profissionais denunciaram as condições de profunda degradação humana em que operava a maioria dos hospitais psiquiátricos no país. A crise, em pleno regime militar, levou à demissão da maioria dos denunciantes. Em 1979, foi criado o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e em 1987, o movimento antimanicomial, dando continuidade à luta pela nova psiquiatria. O projeto de reforma psiquiátrica foi apresentado em 1989 pelo então deputado Paulo Delgado (MG). Após 12 anos, o texto foi aprovado e sancionado, em 2001. De volta pra casa Implantado em 2003, quando o senador Humberto Costa (PT-PE) era ministro da Saúde do governo Lula, o Programa de Volta para Casa (PVC - Lei 10.708, de 2003) instituiu o auxílio-reabilitação psicossocial (hoje no valor de R$ 412 mensais) para assistência, acompanhamento e integração social de pacientes com transtornos mentais egressos de internação em hospitais psiquiátricos por um período igual ou superior a dois anos. O PVC tem o objetivo de restituir o direito do paciente de morar e conviver em liberdade, além de promover a autonomia e o protagonismo do beneficiado. Por isso é considerado fundamental no processos de desinstitucionalização (desconstrução de práticas manicomiais) e reabilitação psicossocial das pessoas com história de internação de longa permanência, como prega a reforma psiquiátrica. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.708.htm#:~:text=LEI%20No%2010.708%2C%20DE,transtornos%20mentais%20egressos%20de%20interna%C3%A7%C3%B5es. Esquizofrenia 3 Em seu site, o Ministério da Saúde informa que o PVC faz parte do processo de reforma psiquiátrica, "que visa reduzir progressivamente os leitos em hospitais psiquiátricos; qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar — como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e leitos de saúde mental em hospitais gerais — e incluir ações de saúde mental na atenção básica". Revogaço Em dezembro de 2020, durante uma apresentação para o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), o Ministério da Saúde mostrou uma planilha com propostas de revogação de várias portarias, editadas entre 1991 a 2014, que estabelecem a política pública de saúde mental. Entre as mudanças sugeridas pelo governo federal, estavam o fim do Programa De Volta para Casa, das equipes de Consultório na Rua e o Serviço Residencial Terapêutico. Todos estão ligados ao programa anual de reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar no SUS. Fabiano Contarato (Rede-ES) disse à época que a decisão era um atentado contra o princípio constitucional do direito à saúde: "A tragédia é ainda pior em meio à pandemia. Não vamos permitir esse retrocesso!" O senador Rogério Carvalho (PT-SE), que é médico, afirmou que defesa do SUS é preservar a vida. "Errar de caso pensado é maldade.Os ataques ao SUS mostram a perversidade do atual governo", condenou. Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Minoria, disse que o governo federal "persegue o retrocesso": O então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também se manifestou sobre o caso e prometeu colocar em votação um projeto de decreto legislativo (PDL) para reverter a possível revogação das portarias. "Se esse assunto de fato avançar, vamos votar o PDL. Espero que tenhamos os votos necessários para manter aquilo que foi construído ao longo dos últimos anos", anunciou Maia em Plenário. Diante da repercussão negativa, em janeiro — durante o recesso do Congresso Nacional, o Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para repensar os serviços e revogar as portarias ligadas à política de saúde mental. Em nota, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antonio Geraldo da Silva, negou que a entidade apoie o "revogaço" proposto pelo governo. Segundo ele, "as diretrizes da ABP versam sobre um modelo de atenção integral em saúde mental, contemplando as equipes multiprofissionais, e todos os equipamentos que integram a Rede de Atenção Psicossocial (Raps)". Na mesma Nota, a ABP reconhece que a reforma psiquiátrica de 2001 "prioriza o tratamento na comunidade e regulariza as internações voluntárias, involuntárias e compulsórias, respeitando os direitos humanos e a cidadania". Mas a associação pede mudanças no modelo, "pois a assistência em saúde é dinâmica". A ABP acrescenta que "o modelo assistencial proposto priorizou corretamente o tratamento na comunidade. Mas, por questões ideológicas, excluíram os ambulatórios especializados da Raps, que deixaram de ser financiados pelo governo e, consequentemente, foram fechados. "O resultado levou à desassistência de base comunitária em saúde mental no país, já que os ambulatórios são extremamente resolutivos, e capazes de realizar grande volume de atendimentos". Pandemia Uma pesquisa publicada em março pelo site Dr. Consulta afirma que a pandemia de covid-19, com seu quadro marcado por crônica insegurança econômica e restrições à locomoção social, fez com que a busca por serviços relacionados à saúde mental fosse o que mais crescesse. Entre abril de 2020 e fevereiro de 2021, o Dr. Consulta realizou mais de 88 mil consultas (on-line e presenciais) de psiquiatria e psicologia, o equivalente a mais de 350 atendimentos por dia. No total, foram 77 mil consultas em psiquiatria, com mais de 40 mil deles tendo diagnóstico de depressão ou doenças relacionadas, como transtornos de humor ou de ansiedade. https://pvc.datasus.gov.br/ https://blog.drconsulta.com/cuidado-com-a-saude-mental-em-epoca-de-coronavirus/ Esquizofrenia 4 A psiquiatria também foi a especialidade mais procurada em telemedicina, com 22,44% das consultas. Ainda de acordo com o levantamento, a maior parte dos pacientes são mulheres, 65% do total. Por faixa etária, a maior parte tem entre 21 e 30 anos (30%), seguido dos 31 a 40 anos (24%). Quadro atual do SUS A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do SUS organiza e estabelece os fluxos para atendimento de pessoas com problemas mentais, desde os transtornos mais graves até os menos complexos. O acolhimento das pessoas com transtorno mental e de seus familiares é fundamental para identificar as necessidades assistenciais, aliviar sofrimento e planejar intervenções medicamentosas e terapêuticas, conforme cada caso. Pessoas em situações de crise podem ser atendidas em qualquer serviço da Raps, formado por unidades com finalidades distintas, de forma integral e gratuita, pela rede pública de saúde. A Política Nacional de Saúde Mental é uma ação do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Saúde, que compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo país para organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em saúde mental. Abrange a atenção a pessoas com necessidades relacionadas a transtornos mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo- compulsivo etc, e pessoas com quadro de uso nocivo e dependência de substâncias psicoativas, como álcool, cocaína, crack e outras drogas. O acolhimento dessas pessoas e seus familiares é uma estratégia de atenção fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias, conforme cada caso. Os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da Rede de Atenção Psicossocial, formada por várias unidades com finalidades distintas, de forma integral e gratuita, pela rede pública de saúde. Além das ações assistenciais, o Ministério da Saúde também atua ativamente na prevenção de problemas relacionados a saúde mental e dependência química, implementando, por exemplo, iniciativas para prevenção do suicídio, por meio de convênio firmado com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que permitiu a ligação gratuita em todo o país. O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar para o chat. As diretrizes e estratégias de atuação na área de assistência à saúde mental no Brasil envolvem o Governo Federal, Estados e Municípios. Os principais atendimentos em saúde mental são realizados nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que existem no país, onde o usuário recebe atendimento próximo da família com assistência multiprofissional e cuidado terapêutico conforme o quadro de saúde de cada paciente. Nesses locais também há possibilidade de acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em situações de maior complexidade. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é formada pelos seguintes pontos de atenção: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) São pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. São substitutivos ao modelo asilar, ou seja, aqueles em que os pacientes deveriam morar (manicômios). Modalidades dos CAPS http://www.cvv.org.br/ Esquizofrenia 5 CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes; CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes; CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes; CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes; CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes; CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso deálcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. Se o município não possuir nenhum CAPS, o atendimento de saúde mental é feito pela Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS, por meio das Unidades Básicas de Saúde ou Postos de Saúde. Urgência e emergência: SAMU 192, sala de estabilização, UPA 24h e pronto socorro São serviços para o atendimento de urgências e emergências rápidas, responsáveis, cada um em seu âmbito de atuação, pela classificação de risco e tratamento das pessoas com transtorno mental e/ou necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas em situações de urgência e emergência, ou seja, em momentos de crise forte. Serviços residenciais terapêuticos (SRTs) São moradias ou casas destinadas a cuidar de pacientes com transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência e que não possuam suporte social e laços familiares. Além disso, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) também podem acolher pacientes com transtornos mentais que estejam em situação de vulnerabilidade pessoal e social, como, por exemplo, moradores de rua. Unidades de acolhimento Oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento 24h/dia, em ambiente residencial, para pessoas com necessidade decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, de ambos os sexos, que apresentem acentuada vulnerabilidade social e/ou familiar e demandem acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório. O tempo de permanência nessas unidades é de até seis meses. As Unidades de Acolhimento são divididas em: Unidade de Acolhimento Adulto (UAA): destinada às pessoas maiores de 18 (dezoito) anos, de ambos os sexos; Unidade de Acolhimento Infanto-Juvenil (UAI): destinada às crianças e aos adolescentes, entre 10 (dez) e 18 (dezoito) anos incompletos, de ambos os sexos. Esquizofrenia 6 As UA contam com equipe qualificada e funcionam exatamente como uma casa, onde o usuário é acolhido e abrigado enquanto seu tratamento e projeto de vida acontecem nos diversos outros pontos da RAPS. Ambulatórios Multiprofissionais de saúde mental Os Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental são serviços compostos por médico psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro e outros profissionais que atuam no tratamento de pacientes que apresentam transtornos mentais. Esses serviços devem prestar atendimento integrado e multiprofissional, por meio de consultas. Funcionam em ambulatórios gerais e especializados, policlínicas e/ou em ambulatórios de hospitais, ampliando o acesso à assistência em saúde mental para pessoas de todas as faixas etárias com transtornos mentais mais prevalentes, mas de gravidade moderada, como transtornos de humor, dependência química e transtornos de ansiedade, atendendo às necessidades de complexidade intermediária entre a atenção básica e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Comunidades terapêuticas São serviços destinados a oferecer cuidados contínuos de saúde, de caráter residencial transitório para pacientes, com necessidades clínicas estáveis, decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Enfermarias especializadas em Hospital geral São serviços destinados ao tratamento adequado e manejo de pacientes com quadros clínicos agudizados, em ambiente protegido e com suporte e atendimento 24 horas por dia. Apresentam indicação para tratamento nesses Serviços pacientes com as seguintes características: incapacidade grave de autocuidados; risco de vida ou de prejuízos graves à saúde; risco de autoagressão ou de heteroagressão; risco de prejuízo moral ou patrimonial; risco de agresão à ordem pública. Assim, as internações hospitalares devem ocorrer em casos de pacientes com quadros clínicos agudos, em internações breves, humanizadas e com vistas ao seu retorno para serviços de base aberta. Hospital - Dia É a assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial, para realização de procedimentos clínicos, cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a permanência do paciente na Unidade por um período máximo de 12 horas. Reabilitação psicossocial A reabilitação psicossocial é compreendida como um conjunto de ações que buscam o fortalecimento, a inclusão e o exercício de direitos de cidadania de pacientes e familiares, mediante a criação e o desenvolvimento de iniciativas articuladas com os recursos do território nos campos do trabalho, habitação, educação, cultura, segurança e direitos humanos. Manutenção da saúde mental Praticar hábitos saudáveis e adotar um estilo de vida de qualidade, ajudam a manter a saúde mental em dia. Jamais se isole; Consulte o médico regularmente; Faça o tratamento terapêutico adequado; Mantenha o físico e o intelectual ativos; Pratique atividades físicas; Esquizofrenia 7 Tenha alimentação saudável; Reforce os laços familiares e de amizades. Conheça a plataforma Saúde Brasil e veja quais hábitos adotar, em todas as áreas da vida, para ter mais qualidade de vida. Pessoas que podem ser afetadas Todas as pessoas, de ambos os sexos e em qualquer faixa etária, pode ser afetado, em algum momento, por problemas de saúde mental ou dependência química, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, no entanto, podem servir como gatilhos para início do problema. Entrada na escola (início dos estudos); Adolescência; Separação dos pais; Conflitos familiares; Dificuldades financeiras; Menopausa; Envelhecimento; Doenças crônicas; Divórcio; Perda de entes queridos; Desemprego; Fatores genéticos; Fatores infecciosos; Traumas. Falsos conceitos É comum que as pessoas que sofram com transtornos mentais ou dependência química seja, muitas vezes, incompreendidas, julgadas, excluídas e até mesmo marginalizadas, devido a falsos conceitos ou pré-conceitos errados. Entenda que as doenças mentais: Não são fruto da imaginação; A pessoa não escolhe ter; Algumas doenças mentais têm cura, outras possuem tratamentos específicos; Pessoas com problemas mentais são tão inteligentes quanto as que não têm; Pessoas com problemas mentais não são preguiçosas. Estes mitos, aliados à discriminação, aumentam os sintomas do problema e, em muitas ocasiões, podem levar até ao suicídio. Mesmo nos casos mais graves, é possível controlar e reduzir os sintomas por meio de medidas de reabilitação e tratamentos específicos. A recuperação é mais efetiva e rápida quanto mais precocemente o tratamento for iniciado https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil Esquizofrenia 8 Direitos Programa de Volta para Casa O Programa de Volta para Casa é um dos instrumentos mais efetivos para a reintegração social das pessoas com longo histórico de hospitalização. Trata-se de uma das estratégias mais potencializadoras da emancipação de pessoas com transtornos mentais e dos processos de desinstitucionalização e redução de leitos nos estados e municípios. Criado por lei federal, o Programa é a concretização de uma reivindicação histórica do movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira. O objetivo é contribuir efetivamente para o processo de inserção social das pessoas com longa história de internações em hospitais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal de um auxílio-reabilitação aos beneficiários. Para receber o auxílio-reabilitação do Programa De Volta para Casa, a pessoa deve ser egressa de Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, e ter indicação para inclusão em programa municipal de reintegração social. O Programa possibilita a ampliação da rede de relações dos usuários, assegura o bem estar global da pessoa e estimula o exercício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania, uma vez que prevê o pagamento do auxílio-reabilitação diretamente ao beneficiário, por meio de convênio entre o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal. Benefício de Prestação Continuada (BPC) O benefício de prestação continuadaé gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e operacionalizado pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). Os recursos para seu custeio provêm do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). É, na verdade, a garantia de um salário mínimo mensal ao idoso acima de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos), que o impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Benefício da prestação continuada na escola O programa Benefício de Prestação Continuada na Escola tem como objetivo monitorar o acesso e permanência na escola dos beneficiários com deficiência, na faixa etária de 0 a 18 anos, por meio de ações articuladas, entre as áreas da educação, assistência social, direitos humanos e saúde. Tem como principal diretriz a identificação das barreiras que impedem ou dificultam o acesso e a permanência de crianças e adolescentes com deficiência na escola e o desenvolvimento de ações intersetoriais, envolvendo as Políticas de Educação, de Assistência Social, de Saúde e de Direitos Humanos, com vista à superação destas barreiras. Tratamento São o conjunto de estratégias adotadas para prestar tratamento em saúde às pessoas com problemas relacionados a transtornos mentais, ao abuso e à dependência de substâncias psicoativas, como álcool, tabaco, cocaína, crack, maconha, opióides, alucinógenos, drogas sintéticas, etc. O uso, abuso e dependência química são problemas complexos, multifatoriais, que exigem abordagem interdisciplinar, envolvendo múltiplas áreas governamentais (Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça). O espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos inclui esquizofrenia, outros transtornos psicóticos e transtorno (da personalidade) esquizotípica. Esses transtornos são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos. Internação psiquiátrica Esquizofrenia 9 A internação psiquiátrica tem como principal objetivo atuar no manejo clínico de pacientes disfuncionais, em quadros agudos, graves e que devido ao adoecimento mental apresentam risco para si e para outros, ou seja, é uma modalidade de atenção destinada a pacientes que necessitam de cuidados intensivos, cabendo à instituição hospitalar acolher, tratar, cuidar, respeitar e estabilizar o paciente para que ele possa ser reinserido na sociedade após resolução do episódio agudo. Segundo a resolução nº. 2.057/2013 do Conselho Federal de Medicina (CFM): – Nenhum tratamento será administrado à pessoa com doença mental sem consentimento esclarecido, salvo quando as condições clínicas não permitirem sua obtenção ou em emergências, caracterizadas e justificadas em prontuário, para evitar danos imediatos ou iminentes ao paciente ou a terceiro. Na impossibilidade de se obter o consentimento esclarecido do paciente, deve-se buscar o consentimento do responsável legal. Objetivos Desse modo, objetivando uniformizar o cuidado aos pacientes psiquiátricos, surge a Lei Federal n° 10.216/2001 (conhecida popularmente como a Lei da Reforma da Atenção Psiquiátrica), que disserta quanto a internação psiquiátrica, definindo que, em qualquer de suas modalidades, só será indicada em caráter extraordinário, quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes e acrescenta: O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, segurança, cuidado e outros. A internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados acima e que não assegurem aos pacientes os direitos do paciente portador de transtorno mental, é proibida. Modalidades de internação psiquiátrica A internação de paciente em estabelecimento hospitalar ou de assistência psiquiátrica deve ocorrer SEMPRE mediante nota de internação circunstanciada que exponha sua motivação, podendo ser classificada, nos termos da Lei nº 10.216/01, como: Internação voluntária É a que se dá com o consentimento expresso e por escrito de paciente em condições psíquicas de manifestação válida de vontade. Todo paciente admitido voluntariamente tem o direito de solicitar sua alta ao médico assistente a qualquer momento. Se houver contraindicação clínica para a alta e presentes os requisitos que autorizam a internação involuntária, o médico assistente deve converter a internação voluntária em involuntária nos termos da legislação. Como mencionado, a internação psiquiátrica voluntária exige a assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para que esse consentimento seja válido, é necessário que sejam prestadas informações claras, amplas e precisas, e que o paciente tenha condições cognitivas e emocionais de compreendê-las. Se não as tiver, mesmo que formalmente concorde com a hospitalização, é recomendável que seja considerado paciente involuntário (dada a vulnerabilidade e falta de compreensão quanto as repercussões de seus atos) e sejam tomadas as medidas legais inerentes a essa condição. Internação involuntária É a que se dá contrariamente à vontade do paciente, sem o seu consentimento expresso ou com consentimento inválido. Para que ocorra, faz-se necessária a concordância de representante legal, exceto nas situações de emergência médica (risco iminente de suicídio, agitação psicomotora grave…). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm Esquizofrenia 10 O paciente com doença mental somente poderá ser internado involuntariamente se, em função de sua doença, apresentar uma das seguintes condições, inclusive para aquelas situações definidas como emergência médica: 1. Incapacidade grave de autocuidados (que possa acarretar sérios prejuízos à saúde física e/ou mental do paciente, como comprometimento na higiene, sono, limpeza doméstica, alimentação). 2. Risco de vida ou de prejuízos graves à saúde. 3. Risco de autoagressão ou de heteroagressão (inclui risco direto de se envolver em acidentes ou de vir a ser ferido por terceiros). 4. Risco de prejuízo moral ou patrimonial (principalmente de natureza financeira e sexual). 5. Risco de agressão à ordem pública (expressão ampla que deve ser interpretada de maneira restritiva, abrangendo apenas atos que efetivamente possam se constituir em motivo de alarde social). A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de 72 horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo diretor técnico médico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo tal procedimento ser adotado quando da respectiva alta. Internação compulsória É a determinada por magistrado e independe da vontade expressa da família ou do paciente. Embora seja definida por ordem judicial, quem determina a natureza e tipo de tratamento a ser ministrado ao paciente é o médico assistente, que poderá prescrever alta hospitalar quando entender que aquele se encontra em condições para tal. Se o estabelecimento de assistência psiquiátrica ao qual for destinado o mandado de internação compulsória estiver lotado, ou não possuir condições técnicas para o atendimento adequado do paciente encaminhado, este fato configura impossibilidade ética de cumprimento da ordem judicial. Desse modo, o diretor técnico médico do estabelecimento demandado deve encaminhar determinação ao gestor municipal de saúde, para que providencie vaga na rede disponível na localidade, comunicando tal fato à autoridadejudicial. Qualquer situação que envolva o paciente durante o internamento, como evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento devem ser comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. Delírios Os delírios são crenças fixas e inflexíveis às evidências contrárias, ou seja, não passíveis de mudança à luz de evidências conflitantes. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas : pode ser persecutório (crença de estar sendo prejudicado, assediado, perseguido); de referência (crença de que comentários, gestos e estímulos ambientais são direcionados à própria pessoa); de grandeza (crença de ser muito famoso, muito rico ou ter alguma habilidade especial); erotomaníacos (a pessoa crê que alguém – geralmente uma pessoa famosa ou importante – está apaixonado por ela); niilistas (crença de que acontecerá uma tragédia) e somáticos (crença de que órgãos internos estão se fragmentando, ou que não possui cérebro – enfim, questões relacionadas ao corpo e à saúde). Esses dois últimos são os menos comuns, enquanto o delírio persecutório é o tipo mais comum de delírio. Além disso, existem os delírios de conteúdos bizarros, que são aqueles que muito claramente são impossíveis de serem reais, por se expressarem como a crença de perda de controle sobre o corpo ou a mente. São os casos em que se acredita que os próprios pensamentos lhe foram “retirados” por uma força externa (retirada de pensamento), de que pensamentos estranhos foram colocados em sua mente (inserção de pensamento) ou de que o corpo e as ações estão sendo manipulados por uma força externa (delírios de controle). Esquizofrenia 11 Diante disso, convém ressaltar que o diagnóstico de delírio deve ser ponderado à luz do contexto sociocultural e religioso do indivíduo. Em algumas religiões, por exemplo, admite-se que é possível que um espírito assuma o corpo de alguém, e isso deve ser levado em consideração pelo clínico. Logo, deve-se ter a crítica sobre o contexto social do paciente. Os delírios que expressam perda de controle da mente ou do corpo costumam ser considerados bizarros; Distinguir um delírio de uma ideia firmemente defendida é algumas vezes difícil e depende, em parte, do grau de convicção com que a crença é defendida apesar de evidências contraditórias claras ou razoáveis acerca de sua veracidade. esquizofrenia — delírio sistematizado (conta uma história) Alucinações Alucinações são alterações na sensopercepção, ou seja, são experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a força e o impacto das percepções normais, não estando sob controle voluntário. Podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial, embora as alucinações auditivas sejam as mais comuns na esquizofrenia e em transtornos relacionados. Alucinações auditivas costumam ser vividas como vozes, familiares ou não, percebidas como diferentes dos próprios pensamentos do indivíduo. As alucinações devem ocorrer no contexto de um sensório sem alterações; as que ocorrem ao adormecer (hipnagógicas) ou ao acordar (hipnopômpicas) são consideradas como pertencentes ao âmbito das experiências normais. Em alguns contextos culturais, alucinações podem ser elemento normal de experiências religiosas. Desorganização do pensamento (discurso) A desorganização do pensamento (transtorno do pensamento formal) costuma ser inferida a partir do discurso do indivíduo. Este pode mudar de um tópico a outro (descarrilamento ou afrouxamento das associações). As respostas a perguntas podem ter uma relação oblíqua ou não ter relação alguma (tangencialidade). Raras vezes, o discurso pode estar tão gravemente desorganizado que é quase incompreensível, lembrando a afasia receptiva em sua desorganização linguística (incoerência ou “salada de palavras”). Uma vez que o discurso levemente desorganizado é comum e inespecífico, o sintoma deve ser suficientemente grave a ponto de prejudicar de forma substancial a comunicação efetiva. A gravidade do prejuízo pode ser de difícil avaliação quando a pessoa que faz o diagnóstico vem de um contexto linguístico diferente daquele de quem Esquizofrenia 12 está sendo examinado. Pode ocorrer desorganização menos grave do pensamento ou do discurso durante os períodos prodrômicos ou residuais da esquizofrenia. Comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) Comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal pode se manifestar de várias formas, desde o comportamento “tolo e pueril” até a agitação imprevisível. Os problemas podem ser observados em qualquer forma de comportamento dirigido a um objetivo, levando a dificuldades na realização das atividades cotidianas. Comportamento catatônico é uma redução acentuada na reatividade ao ambiente. Varia da resistência a instruções (negativismo), passando por manutenção de postura rígida, inapropriada ou bizarra, até a falta total de respostas verbais e motoras (mutismo e estupor). Pode, ainda, incluir atividade motora sem propósito e excessiva sem causa óbvia (excitação catatônica). Outras características incluem movimentos estereotipados repetidos, olhar fixo, caretas, mutismo e eco da fala. Ainda que a catatonia seja historicamente associada à esquizofrenia, os sintomas catatônicos são inespecíficos, podendo ocorrer em outros transtornos mentais (p. ex., transtornos bipolar ou depressivo com catatonia) e em condições médicas (transtorno catatônico devido a outra condição médica). Psicose Refere-se a um conjunto de sintomas caracterizados por uma perda de contato com a realidade devido a uma interrupção na maneira como o cérebro processa as informações. Quando alguém experimenta um episódio psicótico, os pensamentos e percepções da pessoa são perturbados, e o indivíduo pode ter dificuldade em entender o que é real e o que não é. Esquizofrenia 13 Esquizofrenia 14 Esquizofrenia 15 Sintomas negativos Sintomas negativos respondem por uma porção substancial da morbidade associada à esquizofrenia, embora sejam menos proeminentes em outros transtornos psicóticos. São caracterizados pela expressão emocional diminuída (redução de expressões faciais, da prosódia e da linguagem corporal), avolia, alogia, anedonia e falta de sociabilidade. A avolia é a redução nas atividades autoiniciadas, motivadas e com uma finalidade. A alogia, por sua vez, é a redução do discurso; a anedonia, a redução no prazer de estímulos positivos e, por fim, a falta de sociabilidade se expressa pela redução nas interações sociais. O DSM-V estabelece que as desordens psicóticas são síndromes clínicas, diferindo entre si pelos seguintes aspectos: Tempo de duração; Perfil dos sintomas; Relação entre síndromes psicóticas e episódios de humor; Causa. Indivíduos com psicose têm risco aumentado de tentativa de suicídio (34,5%), abuso de substâncias (74%), situação de rua (prevalência anual de 5%), vítima de violência (38% em um período de 3 anos) e heteroagressão. Dois sintomas negativos são especialmente proeminentes na esquizofrenia: expressão emocional diminuída e avolia. Expressão emocional diminuída inclui reduções na expressão de emoções pelo rosto, no contato visual, na entonação da fala (prosódia) e nos movimentos das mãos, da cabeça e da face, os quais normalmente conferem ênfase emocional ao discurso. A avolia é uma redução em atividades motivadas, autoiniciadas e com uma finalidade. A pessoa pode ficar sentada por períodos longos e mostrar pouco interesse em participar de atividades profissionais ou sociais. Outros sintomas negativos incluem alogia, anedonia e falta de sociabilidade. A alogia é manifestada por produção diminuída do discurso. A anedonia é a capacidade reduzida de ter prazer resultante de estímulos positivos, ou degradação na lembrança do prazer anteriormente vivido. A faltade sociabilidade refere-se à aparente ausência de interesse em interações sociais, podendo estar associada à avolia, embora possa ser uma manifestação de oportunidades limitadas de interações sociais. Transtornos Os transtornos psicóticos são heterogêneos, e a gravidade dos sintomas pode prever aspectos importantes da doença, como o grau de déficits cognitivos ou neurobiológicos. Para aperfeiçoamento do campo, uma estrutura detalhada da avaliação da gravidade é parte da Seção III, “Instrumentos de Avaliação”, a qual pode ser útil no planejamento do tratamento, no processo decisório do prognóstico e em pesquisas sobre os mecanismos fisiopatológicos. Essa seção contém, ainda, avaliações dimensionais dos sintomas primários de psicose, incluindo alucinações, delírios, desorganização do discurso (exceto para transtorno psicótico induzido por substância/medicamento e transtorno psicótico devido a outra condição médica), comportamento psicomotor anormal e sintomas negativos, bem como avaliações dimensionais de depressão e mania. A gravidade dos sintomas de humor na psicose tem valor prognóstico e orienta o tratamento. Há cada vez mais evidências de que o transtorno esquizoafetivo não constitui uma categoria nosológica distinta. Assim, avaliações dimensionais de depressão e mania para todos os transtornos psicóticos alertam os clínicos para a patologia do humor e para a necessidade de eventualmente tratar. A escala da Seção III inclui também uma avaliação dimensional de prejuízo cognitivo. Muitos indivíduos com transtornos psicóticos têm prejuízos em uma gama de domínios cognitivos, que são elementos preditivos da condição funcional. Uma avaliação clínica neuropsicológica pode ser útil para orientar o diagnóstico e o tratamento; avaliações breves, no entanto, sem investigação neuropsicológica formal, podem propiciar informações úteis capazes de ser suficientes para fins diagnósticos. Testes neuropsicológicos formais, quando realizados, devem ser administrados e pontuados por pessoal treinado no uso desses instrumentos. Se uma avaliação neuropsicológica formal não for realizada, o clínico deve usar as melhores informações disponíveis para fazer um julgamento. Há necessidade de mais pesquisa sobre essas avaliações para a determinação de sua utilidade clínica; as avaliações disponíveis na Seção III devem, então, funcionar como um protótipo para estimular tais pesquisas. Esquizofrenia 16 Esquizofrenia Critérios diagnósticos A.Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 1.Delírios. 2.Alucinações. 3.Discurso desorganizado. 4.Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. 5.Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). B.Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional). C.Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns). D.Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. E.A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. F.Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Especificar se: Os especificadores de curso a seguir devem somente ser usados após um ano de duração do transtorno e se não estiverem em contradição com os critérios de curso diagnóstico. Primeiro episódio, atualmente em episódio agudo: A primeira manifestação do transtorno atende aos sintomas diagnósticos definidos e ao critério de tempo. Um episódio agudo é um período de tempo em que são satisfeitos os critérios de sintomas. Primeiro episódio, atualmente em remissão parcial: Remissão parcial é um período de tempo durante o qual é mantida uma melhora após um episódio anterior e em que os critérios definidores do transtorno são atendidos apenas em parte. Primeiro episódio, atualmente em remissão completa: Remissão completa é um período de tempo após um episódio anterior durante o qual não estão presentes sintomas específicos do transtorno. Episódios múltiplos, atualmente em episódio agudo: Múltiplos episódios podem ser determinados após um mínimo de dois episódios (i.e., após um primeiro episódio, uma remissão e pelo menos uma recaída). Episódios múltiplos, atualmente em remissão parcial Episódios múltiplos, atualmente em remissão completa http://f.se/ Esquizofrenia 17 Contínuo: Os sintomas que atendem aos critérios de sintomas diagnósticos do transtorno permanecem durante a maior parte do curso da doença, com períodos de sintomas em nível subclínico muito breves em relação ao curso geral. Não especificado Especificar se: Com catatonia (consultar os critérios para catatonia associada a outro transtorno mental, para definição) Nota para codificação: Usar o código adicional 293.89 (F06.1) de catatonia associada a esquizofrenia para indicar a presença de catatonia comórbida. Especificar a gravidade atual: A gravidade é classificada por uma avaliação quantitativa dos sintomas primários de psicose, o que inclui delírios, alucinações, desorganização do discurso, comportamento psicomotor anormal e sintomas negativos. Cada um desses sintomas pode ser classificado quanto à gravidade atual (mais grave nos últimos sete dias) em uma escala com 5 pontos, variando de 0 (não presente) a 4 (presente e grave). (Ver Gravidade das Dimensões de Sintomas de Psicose Avaliada pelo Clínico no capítulo “Instrumentos de Avaliação”.) Nota: O diagnóstico de esquizofrenia pode ser feito sem a utilização desse especificador de gravidade. Características diagnósticas Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma gama de disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais, mas nenhum sintoma é patognomônico do transtorno. O diagnóstico envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas associados a um funcionamento profissional ou social prejudicado. Indivíduos com o transtorno apresentarão variações substanciais na maior parte das características, uma vez que a esquizofrenia é uma síndrome clínica heterogênea. Pelo menos dois sintomas do Critério A devem estar presentes durante parte significativa do tempo em um mês ou mais. Pelo menos um desses sintomas deve ser a presença clara de delírios (Critério A1), alucinações (Critério A2) ou discurso desorganizado (Critério A3). Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico (Critério A4) e sintomas negativos (CritérioA5) podem também estar presentes. Nas situações em que ocorre remissão dos sintomas da fase ativa em um mês em resposta ao tratamento, o Critério A ainda é satisfeito se o médico avalia que eles teriam persistido na ausência de tratamento. A esquizofrenia envolve prejuízo em uma ou mais das principais áreas do funcionamento (Critério B). Se a perturbação iniciar na infância ou na adolescência, o nível esperado de funcionamento não é alcançado. A comparação do indivíduo com os irmãos não afetados pode ajudar. A disfunção persiste por período substancial durante o curso do transtorno e não parece ser um resultado direto de uma única característica. A avolia (i.e., disposição reduzida para manter comportamento voltado a metas; Critério A5) está ligada à disfunção social descrita no Critério B. Há também fortes evidências de relação entre prejuízo cognitivo e prejuízo funcional em indivíduos com esquizofrenia. Alguns sinais da perturbação devem persistir por um período contínuo de pelo menos seis meses (Critério C). Sintomas prodrômicos costumam anteceder a fase ativa, e os sintomas residuais podem segui-la, caracterizados por formas leves ou em níveis subclínicos de alucinações ou delírios. Os indivíduos podem manifestar uma variedade de crenças incomuns ou estranhas que não sejam de proporções delirantes (p. ex., ideias de referência ou pensamento mágico); podem ter experiências perceptivas raras (p. ex., sentir a presença de uma pessoa invisível); seu discurso pode ser, em geral, compreensível, porém vago; seu comportamento pode ser incomum, mas não grosseiramente desorganizado (p. ex., murmurar em público). Sintomas negativos são comuns nas fases prodrômica e residual, podendo ser graves. Indivíduos que eram socialmente ativos podem ficar retraídos em relação a rotinas anteriores. Esses comportamentos são frequentemente o primeiro sinal de um transtorno. Esquizofrenia 18 Sintomas de humor e episódios completos de humor são comuns na esquizofrenia e podem ocorrer concomitantemente com a sintomatologia da fase ativa. Porém, como diferença do transtorno do humor psicótico, um diagnóstico de esquizofrenia exige a presença de delírios ou alucinações na ausência de episódios de humor. Além disso, episódios de humor, tomados em sua totalidade, devem estar presentes por somente uma parte mínima da duração total do período ativo e residual da doença. Além das cinco áreas de domínio dos sintomas identificadas nos critérios diagnósticos, a avaliação dos sintomas dos domínios cognição, depressão e mania é crucial para que sejam feitas distinções importantes entre os vários transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Características associadas que apoiam o diagnóstico Indivíduos com esquizofrenia podem exibir afeto inadequado (p. ex., rir na ausência de um estímulo apropriado); humor disfórico que pode assumir a forma de depressão, ansiedade ou raiva; padrão de sono perturbado (p. ex., sono durante o dia e atividade durante a noite); e falta de interesse em alimentar-se ou recusa da comida. Despersonalização, desrealização e preocupações somáticas podem ocorrer e por vezes atingem proporções delirantes. Ansiedade e fobias são comuns. Déficits cognitivos na esquizofrenia são comuns e fortemente associados a prejuízos profissionais e funcionais. Esses déficits podem incluir diminuições na memória declarativa, na memória de trabalho, na função da linguagem e em outras funções executivas, bem como velocidade de processamento mais lenta. Anormalidades no processamento sensorial e na capacidade inibitória, bem como redução na atenção, são também encontradas. Alguns indivíduos com esquizofrenia mostram déficits na cognição social, incluindo déficits na capacidade de inferir as intenções dos outros (teoria da mente), podendo atender a eventos ou estímulos irrelevantes e depois interpretá-los como significativos, talvez levando à geração de delírios explanatórios. Esses prejuízos costumam persistir durante a remissão dos sintomas. Alguns indivíduos com psicose podem carecer de insight ou consciência de seu transtorno (i.e., anosognosia). Essa falta de insight inclui não perceber os sintomas de esquizofrenia, podendo estar presente em todo o curso da doença. Não perceber a doença costuma ser um sintoma da própria esquizofrenia em vez de uma estratégia de enfrentamento. É comparável à falta de percepção de déficits neurológicos após dano cerebral, chamada de anosognosia. Esse sintoma é o mais comum preditor de não adesão ao tratamento e prevê elevadas taxas de recaída, aumento no número de tratamentos involuntários, funcionamento psicossocial mais pobre, agressão e um curso mais pobre da doença. Hostilidade e agressão podem estar associadas a esquizofrenia, embora agressão espontânea ou aleatória não seja comum. A agressão é mais frequente em indivíduos do sexo masculino mais jovens e em pessoas com história anterior de violência, não adesão ao tratamento, abuso de substância e impulsividade. Deve-se observar que a grande maioria das pessoas com esquizofrenia não é agressiva, sendo, com mais frequência, mais vitimizada que aquelas na população em geral. Atualmente não há exames laboratoriais, radiológicos ou testes psicométricos para o transtorno. As diferenças são claras em múltiplas regiões do cérebro entre grupos de pessoas saudáveis e pessoas com esquizofrenia, incluindo evidências de estudos por neuroimagem, neuropatologia e neurofisiologia. Diferenças ficam também evidentes na arquitetura celular, na conectividade da substância branca e no volume da substância cinzenta em uma variedade de regiões, como os córtices pré-frontal e temporal. É observada redução no volume cerebral total, bem como aumento da redução de volume com o envelhecimento. Reduções do volume cerebral com o envelhecimento são mais pronunciadas em pessoas com esquizofrenia do que em indivíduos saudáveis. Por fim, pessoas com a doença parecem diferir daquelas sem o transtorno em índices eletrofisiológicos e de eye-tracking. Sinais neurológicos leves em indivíduos com esquizofrenia incluem prejuízos na coordenação motora, na integração sensorial e no sequenciamento motor de movimentos complexos, confusão esquerda-direita e desinibição de movimentos associados. Além disso, podem ocorrer anomalias físicas leves da face e dos membros. Desenvolvimento e curso Esquizofrenia 19 As características psicóticas da esquizofrenia costumam surgir entre o fim da adolescência e meados dos 30 anos; início antes da adolescência é raro. A idade de pico do início do primeiro episódio psicótico é entre o início e a metade da faixa dos 20 anos para o sexo masculino e fim dos 20 anos para o feminino. O início pode ser abrupto ou insidioso, mas a maioria dos indivíduos manifesta um desenvolvimento lento e gradativo de uma variedade de sinais e sintomas clinicamente importantes. Metade dessas pessoas queixa-se de sintomas depressivos. Idade mais precoce de início é tradicionalmente vista como preditor de pior prognóstico. O efeito da idade de início do transtorno, todavia, possivelmente tem relação com o gênero, com os indivíduos do sexo masculino apresentando adaptação pré-mórbida pior, rendimento escolar mais baixo, sintomas negativos e prejuízo cognitivo mais proeminentes, além de, em geral, terem um prognóstico pior. Prejuízo cognitivo é comum, e alterações na cognição estão presentes durante o desenvolvimento, antecedendo o aparecimento de psicose e assumindo a forma de prejuízos cognitivos estáveis na vida adulta. Prejuízos cognitivos podem persistir quando outros sintomas estão em remissão, contribuindo para a incapacidade relacionada à doença. Os elementos preditivos do curso e da evolução permanecem, em grande parte, sem explicação, e curso e evolução podem não ser preditos de maneira confiável. O curso parece favorável em cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia, e um número pequeno de indivíduos é referido como tendo obtido recuperação completa.A maioria dos indivíduos com esquizofrenia, entretanto, ainda necessita de apoio formal ou informal na vida cotidiana. Muitos permanecem cronicamente doentes, com exacerbações e remissões de sintomas da fase ativa, ao passo que outros têm um curso com deterioração progressiva. Os sintomas psicóticos tendem a diminuir ao longo da vida, talvez em associação ao declínio normal na atividade dopaminérgica relacionada ao envelhecimento. Os sintomas negativos têm relação mais íntima com o prognóstico do que os positivos, tendendo a ser mais persistentes. Além disso, déficits cognitivos associados à doença podem não melhorar ao longo do seu curso. As características essenciais da esquizofrenia tendem a ser as mesmas na infância, ainda que seja mais difícil fazer o diagnóstico. Nas crianças, delírios e alucinações podem ser menos elaborados do que nos adultos, e alucinações visuais são mais comuns, devendo ser diferenciadas dos jogos de fantasia normais. Discurso desorganizado ocorre em muitos transtornos que começam na infância (p. ex., transtorno do espectro autista), da mesma forma que comportamento desorganizado (p. ex., transtorno de déficit de atenção/hiperatividade). Esses sintomas não devem ser atribuídos à esquizofrenia sem a devida consideração dos transtornos mais comuns na infância. Casos com início na infância tendem a se assemelhar a casos com evolução ruim em adultos, com início gradual e sintomas negativos proeminentes. Crianças que mais tarde recebem o diagnóstico de esquizofrenia são mais propensas a ter sofrido perturbações e psicopatologia emocionais e/ou comportamentais não especificadas, alterações intelectuais e na linguagem e atrasos motores sutis. Casos com início tardio (i.e., após os 40 anos de idade) são mais comuns nas mulheres, que podem ter casado. Frequentemente, o curso caracteriza-se por predominância de sintomas psicóticos com preservação do afeto e do funcionamento social. Esses casos de início tardio podem satisfazer os critérios diagnósticos para esquizofrenia, mas ainda não está claro se essa é a mesma condição da esquizofrenia diagnosticada antes da meia-idade (p. ex., antes dos 55 anos). Fatores de risco e prognóstico Ambientais. A estação do ano no nascimento é associada à incidência da esquizofrenia, incluindo fim do inverno/início da primavera em alguns locais e verão para a forma da doença com déficits. A incidência de esquizofrenia e transtornos relacionados é mais alta em crianças que crescem em ambiente urbano e em alguns grupos étnicos minoritários. Genéticos e fisiológicos. Existe forte contribuição dos fatores genéticos na determinação do risco para esquizofrenia, embora a maioria dos indivíduos com diagnóstico do transtorno não tenha história familiar de psicose. Essa tendência é atribuída a um espectro de alelos de risco, comuns e raros, com cada um contribuindo somente com uma pequena parcela para a variância total da população. Os alelos de risco identificados até agora são também associados a outros transtornos mentais, incluindo transtorno bipolar, depressão e transtorno do espectro autista. Esquizofrenia 20 Complicações na gestação e no nascimento, com hipoxia, e idade avançada dos pais estão associadas a maior risco de esquizofrenia para o feto. Além disso, outras adversidades no pré-natal e no perinatal, incluindo estresse, infecções, desnutrição, diabetes materno e outras condições médicas, têm ligação com a esquizofrenia. A grande maioria dos bebês com esses fatores de risco, entretanto, não desenvolve a doença. Risco de suicídio Cerca de 5 a 6% dos indivíduos com esquizofrenia morrem por suicídio; em torno de 20% tentam suicídio em uma ou mais ocasiões, e muitos mais têm ideação suicida importante. Um comportamento suicida ocorre por vezes em resposta ao comando das alucinações para prejudicar a si mesmo ou a outros. O risco de suicídio permanece elevado durante o ciclo de vida para ambos os sexos, embora possa ser especialmente alto em indivíduos do sexo masculino mais jovens com uso de substância comórbido. Outros fatores de risco incluem ter sintomas depressivos ou sentimentos de desesperança e estar desempregado. O risco é maior também no período após um episódio psicótico ou alta hospitalar. Consequências funcionais da esquizofrenia A esquizofrenia está associada a significativa disfunção social e profissional. A progressão educacional e a manutenção do emprego costumam ficar prejudicadas pela avolia ou por outras manifestações do transtorno, mesmo quando as habilidades cognitivas são suficientes para as tarefas a serem realizadas. A maior parte dos indivíduos tem empregos inferiores aos de seus pais, e a maioria, especialmente os homens, não casa ou tem contatos sociais limitados fora da família. Diagnóstico diferencial Transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar com características psicóticas ou catatônicas. A distinção entre esquizofrenia e transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar com características psicóticas ou catatonia depende da relação temporal entre a perturbação do humor e a psicose, bem como da gravidade dos sintomas depressivos ou maníacos. Se delírios ou alucinações ocorrem exclusivamente durante um episódio depressivo maior ou maníaco, o diagnóstico é transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas. Transtorno esquizoafetivo. O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo exige que um episódio depressivo maior ou maníaco ocorra ao mesmo tempo em que ocorrem os sintomas da fase ativa e que os sintomas de humor estejam presentes na maior parte do tempo da duração total dos períodos ativos. Transtorno esquizofreniforme e transtorno psicótico breve. Esses transtornos têm duração menor que a esquizofrenia, conforme especificado no Critério C, que exige seis meses de sintomas. No transtorno esquizofreniforme, a perturbação está presente durante menos de seis meses, enquanto no transtorno psicótico breve os sintomas estão presentes durante pelo menos um dia, porém em tempo inferior a um mês. Transtorno delirante. O transtorno delirante pode ser diferenciado da esquizofrenia pela ausência dos demais sintomas característicos de esquizofrenia (p. ex., delírios, alucinações auditivas ou visuais proeminentes, discurso desorganizado, comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Transtorno da personalidade esquizotípica. O transtorno da personalidade esquizotípica pode ser diferenciado de esquizofrenia por sintomas sublimiares associados a características persistentes de personalidade. Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno dismórfico corporal. Indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno dismórfico corporal podem apresentar insight prejudicado ou ausente, e as preocupações podem atingir proporções delirantes. Esses transtornos, porém, são diferentes da esquizofrenia por apresentarem obsessões proeminentes, compulsões, preocupações com aparência ou odores do corpo, acumulação compulsiva, comportamentos repetitivos com foco no corpo. Transtorno de estresse pós-traumático. O transtorno de estresse pós-traumático pode incluir flashbacks com uma qualidade alucinatória, e a hipervigilância pode atingir proporções paranoides. Todavia, há necessidade de um evento traumático e de Esquizofrenia 21 aspectos sintomáticos característicos relativos a revivências ou reações ao evento para que seja feito um diagnóstico. Transtorno do espectro autista ou transtornos da comunicação. Esses transtornos podem também ter sintomas semelhantes a um episódio psicótico, mas diferem pelos respectivos déficits na interação social, com comportamentos repetitivos e restritos e outros déficits cognitivos e de comunicação. Um indivíduo com transtorno do espectro autista ou transtorno da comunicação deve ter sintomas que satisfaçam todos os critérios de esquizofrenia, com alucinações ou delírios proeminentes durante pelo menos um mês a fim de ser diagnosticado com esquizofrenia como uma condiçãocomórbida. Outros transtornos mentais associados com um episódio psicótico. O diagnóstico de esquizofrenia é feito apenas quando o episódio psicótico é persistente, não podendo ser atribuído a efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Indivíduos com delirium ou transtorno neurocognitivo maior ou menor podem apresentar sintomas psicóticos, mas estes devem ter relação temporal com o início das mudanças cognitivas consistentes com esses transtornos. Indivíduos com transtorno psicótico induzido por substância/medicamento podem apresentar sintomas característicos do Critério A para esquizofrenia, porém o transtorno psicótico induzido por substância/medicamento pode ser geralmente diferenciado pela relação cronológica do uso da substância com o início e a remissão da psicose na ausência do uso de substância. Comorbidade Taxas de comorbidade com transtornos relacionados ao uso de substância são elevadas na esquizofrenia. Mais de metade dos indivíduos com esquizofrenia tem transtorno por uso de tabaco e fuma com regularidade. A comorbidade com transtornos de ansiedade é cada vez mais reconhecida na esquizofrenia. A proporção de transtorno obsessivo- compulsivo e transtorno de pânico é elevada em indivíduos com esquizofrenia em comparação com a população em geral. Transtorno da personalidade esquizotípica ou paranoide pode, algumas vezes, anteceder o início da esquizofrenia. A expectativa de vida é reduzida em indivíduos com esquizofrenia em razão das condições médicas associadas. Ganho de peso, diabetes, síndrome metabólica e doença cardiovascular e pulmonar são mais comuns na esquizofrenia do que na população em geral. Pouco envolvimento em comportamentos de manutenção da saúde (p. ex., screening de câncer, exercícios) aumenta o risco de doença crônica, mas outros fatores do transtorno, inclusive medicamentos, estilo de vida, tabagismo e dieta, também podem contribuir. Uma vulnerabilidade partilhada por psicose e distúrbios médicos pode explicar algumas das comorbidades médicas da esquizofrenia. Esquizofrenia Psicose A psicose é uma síndrome — isto é, um conjunto de sinais e sintomas — que pode estar associada a muitos transtornos psiquiátricos diferentes, embora não seja um transtorno específico por si só nos esquemas diagnósticos, como o DSM ou a CID. No mínimo psicose significa distúrbios da percepção, como delírios e alucinações. E em geral, envolve também sintomas como discurso e comportamento desorganizados e distorções graves da realidade. Desse modo, a psicose pode ser considerada como um conjunto de sintomas nos quais a capacidade mental, a resposta afetiva e a capacidade do indivíduo de reconhecer a realidade, de se comunicar e de se relacionar com outras pessoas estão comprometidas. Os transtornos psicóticos apresentam sintomas psicóticos como características definidoras; existem outros transtornos nos quais pode haver sintomas psicóticos, porém sua presença não é necessária para o diagnóstico. Destacam-se sete funções cognitivas mais afetadas, a saber: velocidade de processamento, memória de trabalho, memória e aprendizagem verbal, memória e aprendizagem visual, raciocínio e resolução de problemas (função executiva), cognição social e atenção/vigilância. Transtorno em que a psicose é característica definidora Esquizofrenia 22 Esquizofrenia Transtornos psicóticos induzidos por substânciasTranstorno esquizofreniforme Transtorno esquizoafetivo Transtorno delirante Transtorno psicótico breve Transtorno psicótico devido à condição médica geral Transtornos em que a psicose é característica associada Mania Depressão Transtornos cognitivos Doença de Alzheimer A esquizofrenia é o mais comum e mais importante dos transtornos psicóticos primários. Caracteriza-se por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção, bem como por afeto inadequado ou embotado. Logo, o pensamento, a percepção e o afeto são os domínios essencialmente afetados. A esquizofrenia afeta 1% da população mundial e é uma das dez doenças que mais incapacitam os indivíduos afetados. Atinge mulheres e homens em taxas similares, no entanto, a doença tem início mais precoce em homens – dos 20 aos 25 anos – e mais tarde em mulheres – dos 25 aos 30 anos, aproximadamente. Os indícios da doença aparecem, frequentemente, na adolescência ou primeiros anos da idade adulta: há geralmente um período antes do episódio psicótico conhecido como período prodrômico, em que há alterações súbitas no comportamento e declínio funcional. Nessa idade, o período prodrômico pode se manifestar como isolamento social, crenças esquisitas e anormalidades sensoperceptivas. Crianças que, na fase adulta, desenvolvem esquizofrenia geralmente tem sociabilidade estranha, “falta de jeito” e déficit de inteligência. História natural da doença A história natural da esquizofrenia pode ser dividida em quatro fases: pré-mórbida, prodrômica, progressão e estabilização Fase pré-mórbida A baixa sociabilidade, com predileção por atividades solitárias ou ansiedade social, e as alterações cognitivas (principalmente déficits de memória verbal, atenção e funções executivas), identificadas já em filhos de indivíduos portadores de esquizofrenia, podem ser consideradas alterações pré-mórbidas. Essas alterações no comportamento, observáveis desde a infância, podem progredir e estar associadas ao desenvolvimento da esquizofrenia. Fase prodrômica A fase prodrômica é caracterizada por um período variável de tempo, geralmente de meses, antecedendo a eclosão da psicose, em que o indivíduo pode apresentar um estado de apreensão e perplexidade sem um foco aparente, sendo comum o sentimento de que “algo está para acontecer”. Geralmente se nota uma mudança no comportamento da pessoa, que passa a ficar mais isolada e a demonstrar atitudes peculiares e excêntricas, podendo ocorrer sintomas psicóticos breves e transitórios. Progressão Esquizofrenia 23 O período prodrômico culmina muitas vezes com o primeiro episódio de psicose e, nesse ponto, inicia-se a chamada fase progressiva da esquizofrenia , podendo ocorrer deterioração. Estabilização A esquizofrenia evolui para a fase estável, sujeita a recaídas. Os sintomas negativos muitas vezes são detectáveis desde o princípio, ao passo que os sintomas positivos ocorrem durante o período de exacerbação. A consciência clara e a capacidade intelectual estão preservadas, mas déficits cognitivos podem surgir como consequência do curso da doença. O paciente pode ver a si próprio como o pivô de todos os acontecimentos. São frequentes as perturbações sensoperceptivas, particularmente a auditiva: o paciente pode ouvir vozes comentando sobre seu comportamento ou lhe dando ordens. Pode haver ilusões, em que cores e sons parecem vívidos ou alterados. Além disso, aspectos insignificantes da vida comum podem parecer extremamente importantes, fazendo com que situações cotidianas adquiram significados especiais e pareçam destinados especificamente para o indivíduo. Aspectos periféricos e geralmente insignificantes de um conceito são trazidos para o primeiro plano, adquirindo uma importância proporcional. Embora não haja cura para a esquizofrenia, a pesquisa está levando a tratamentos inovadores e mais seguros. Os especialistas também estão desvendando as causas da doença estudando genética, realizando pesquisas comportamentais e usando imagens avançadas para observar a estrutura e a função cerebral. Essas abordagens prometem terapias novas e mais eficazes. A complexidade da esquizofrenia pode ajudar a explicar por que existem equívocos sobre a doença. Esquizofrenia não significa dupla personalidade ou personalidade múltipla. A maioria das pessoas com esquizofrenia não é mais perigosa ou violenta do que as pessoas da população em geral. Embora os recursos limitados de saúde mental na comunidade possam levar à falta de moradia e hospitalizações frequentes, é um equívoco pensar que pessoas com esquizofrenia acabam sem-tetoou vivendo em hospitais. A maioria das pessoas com esquizofrenia vive com sua família, em casas de grupo ou por conta própria. O CID-10 e o DSM-V trabalham com diferentes critérios para o diagnóstico da esquizofrenia, os quais veremos a seguir: Esquizofrenia 24 Esquizofrenia 25 Sintomatologia Sintomas positivos (mais comuns em surtos psicóticos agudos) Delírios Alucinações Incoerência do pensamento Alterações afetivas Alterações psicomotoras Sintomas negativos (presentes cronicamente) Pobreza do discurso Pobreza do conteudo do discurso Empobrecimento conativo Distratibilidade Isolamento social Embotamento afetivo Sintomas catatônicos podem predominar numa minoria de Deve haver 1 sintoma claro (ou pelo menos 2 não tão claros) pertencente ao grupo “a” a “d”, ou sintomas de pelo menos dois dos grupos entre “e” a “h”. Esses sintomas devem estar presentes durante a maior parte do tempo por pelo menos 1 mês. O quadro clínico pode precipitar de forma aguda inicialmente, como uma psicose, mas mais frequentemente assume um curso insidioso e crônico, com deterioração progressiva da funcionalidade do paciente. Existem ainda subtipos da esquizofrenia, descritos abaixo: Esquizofrenia 26 Paranoide: predominam delírios – particularmente o paranoide – e alucinações – principalmente as auditivas, bem como perturbações na sensopercepção. O afeto está geralmente menos embotado do que em outros subtipos, com grau menor de incongruência. Comumente há perturbação do humor: irritabilidade, raiva, receio, suspeita. Embora estejam presentes, sintomas negativos não predominam no quadro. Hebefrênica ou desorganizada: mudanças afetivas são proeminentes, os delírios e alucinações são fugazes e comumente há presença de maneirismos. O comportamento é irresponsável e imprevisível. O pensamento e o discurso são altamente desorganizados e incoerentes. Há tendência à solidão e comportamento apragmático, bem como perturbações volitivas e afetivas que são muito intensas. Tende a ter início mais precoce – entre 15 e 25 anos – e pior prognóstico em decorrência dos sintomas negativos que rapidamente evoluem. Alucinações e delírios, embora presentes, não predominam no quadro. Catatônica: há proeminência de perturbações psicomotoras, que podem variar de hipercinesia e estupor ou obedicência automática e negativismo. Posturas forçadas podem ser mantidas por longo período de tempo, com rigidez generalizada, e episódios de ação violenta podem ser notáveis. Indiferenciada: satisfazem os critérios para esquizofrenia mas não se enquadram em quaisquer das acima, ou ainda podem apresentar características de várias delas. Residual: fase “tardia” da esquizofrenia, que ocorre após um período da doença (compreendendo um ou mais episódios psicóticos com critérios para esquizofrenia). Predominam sintomas negativos. Existe uma teoria de que a psicose seja relacionada a um aumento da atividade dopaminérgica, o que é explicado pelo fato de a esquizofrenia ser tratada por antipsicóticos antagonistas dos receptores dopaminérgicos D2. No entanto, essa teoria não explica o fato de, após a introdução do antipsicótico, haver uma demora de 2 a 3 semanas para a melhora dos sintomas. Foi proposto também que alterações na estrutura e funcionamento dos microcircuitos cerebrais corticais estejam implicados na fisiopatologia da doença, por meio de estudos post-mortem. Há evidências de que indivíduos com esquizofrenia possuem menor volume de substância cinzenta em imagens de ressonância magnética, além de menos dendritos e espinhas dendríticas demonstrados em estudos de autópsia. Na fase prodrômica da psicose, evidenciou-se maior perda de substância cinzenta nas regiões pré-frontal e para-hipocampal do que em controles sem psicose. Essa perda de substância branca tem sido associada a marcadores inflamatórios elevados, tais como TNF-alfa, que ativa a micróglia por meio de citocinas, sugerindo que a esquizofrenia seja uma doença inflamatória. O tratamento da esquizofrenia consiste, principalmente, na administração de antipsicóticos. Abaixo, temos uma lista dos antipsicóticos mais comumente prescritos: Medicamento Dose diária habitual (mg) Vias de administração Haloperidol 2 — 20 mg Oral, IM, Injeção de longa duração Perfanazina 12 — 24 mg Oral Clozapina 150 — 600 mg Oral Risperidona 2 — 6 mg Oral, IM, Injeção de longa duração Olanzapina 10 — 20 mg Oral, IM, Injeção de longa duração Quetiapina 150 — 800 mg Oral, pastilha de liberação prolongada Ziprasidona 40 — 160 mg Oral, IM Aripiprazol 10 — 15 mg Oral, IM, Injeção de longa duração Paliperidona 6 — 12 mg Pastilha de liberação prolongada e Injeção de longa duração Iloperidona 12 — 24 mg Oral Asenapina 10 — 20 mg Pastilha sublingual Esquizofrenia 27 Medicamento Dose diária habitual (mg) Vias de administração Lurasidona 40 — 80 mg Oral Cariprazina 1,5 — 6 mg Oral Brexpiprazol 2 — 4 mg Oral O episódio agudo pode ser tratado logo após colhida a história, exames físico e laboratoriais – estes para excluir outras causas. Os antipsicóticos podem ser administrados por via oral – sendo esta a via mais comum – ou ainda por injeção intramuscular de ação rápida. Com exceção da clozapina, o restante dos antipsicóticos possui eficácia semelhante. Caso não haja resposta ao tratamento ou a resposta seja parcial, com permanência de sintomas residuais e psicóticos que afetem a qualidade de vida, deve-se primeiramente considerar possíveis causas de má resposta: má aderência, interação medicamentosa e uso de substância. Excluídas essas causas, deve-se considerar outra abordagem de tratamento. Há algumas medidas que são usadas mas não há evidência que suporte seu uso, como a prescrição de doses maiores de antipsicóticos, a adição de um estabilizador de humor e a adição de uma segunda droga antipsicótica. A melhor terapia antipsicótica para pacientes com má resposta é a clozapina. Esta geralmente é feita em regime de 150 a 600 mg, por 8 a 12 semanas. Deve-se monitorar o paciente por meio de hemograma, particularmente a contagem de neutrófilos: níveis entre 500 e 999/μl indicam interrupção do medicamento, retornando quando níveis voltarem a subir acima de 1000/μl. Se a contagem for <500/μl, deve se descontinuar o uso. Para pacientes com sintomas psicóticos residuais e insight relativamente preservado, recomenda-se ainda a terapia cognitivo- comportamental. Após o episódio agudo, recomenda-se manter antipsicóticos por tempo indeterminado, com o objetivo de prevenir episódios recorrentes, mesmo que a última crise tenha sido há anos ou décadas. Caso exista dificuldade de aderência por conta do tempo prolongado de tratamento, pode-se tentar antipsicóticos via intramuscular de depósito, com intervalo de 2 a 12 semanas. Epidemiologia Pesquisas recentes mostram que a esquizofrenia afeta homens e mulheres igualmente, mas pode ter um início mais precoce e pior evolução no sexo masculino. Pessoas com esquizofrenia são mais propensas a morrer mais jovens do que a população em geral. São muito frequentes condições médicas concomitantes, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Dentre os esquizofrénicos, há uma prevalência aumentada de tabagismo e uso de substâncias. Etiologia A etiologia da doença não é ainda bem explicada, sendo atualmente mais aceito o modelo de vulnerabilidade-estresse, onde o indivíduo com uma propensão genética estaria suscetível ao aparecimento dos sintomas após um fator estressante ambiental de ordem variada – de conflitos psicossociais a desordens autoimunes. Acredita-se que os sintomas ocorram pelo aumento da resposta dopaminérgica, em parte devido a resposta terapêutica à antagonistas dos receptores de dopamina e em outra pelos sintomas alucinógenos após estímulos envolvidos com as vias dopaminérgicas mesocorticais. Desta forma, o uso de substâncias que aumentem a atividade desse neurotransmissor – notadamente estimulantes como cocaína e anfetamina – podem estar relacionados ao aparecimento ou piora dos
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