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Supervisão e Orientação Pedagógica 1º Edição / Setembro / 2010 São Paulo - SP Erlinda Martins Batista AULA 5 1 A percepção e a memória diante das ca- tegorias social e cultural Para Vigotski, o desenvolvimento social e cultural do indivíduo é o desenvolvimento de um indivíduo histórico, localizado na história social humana. Para que ocorra tal desenvolvimento é necessário que o indivíduo se aproprie dos produtos culturais da sociedade, tanto os materiais, quanto os intelectuais. Essa apropriação da cultura pela criança é mediatizada pelos adultos que já se apropriaram dessa mesma cultura. Vigotski (2000, p. 24) relata que “todo desenvolvimento cultural passa por três estágios: em si, para outro, para si”. Assim, pode-se afirmar que o social e o cultural constituem duas categorias fundamentais na obra do autor. Sirgado (2000), ao relatar o pensamento de Vigotski, aconselha: ao invés de perguntar como a criança se comporta no meio social, é preciso indagar como o meio social age na criança para criar nela as funções superiores de origem e natureza sociais. 3 Como lembra Vigotski (2001), o desenvolvimento da linguagem, da percepção, do pensamento, da memória, se constroem a partir do exterior, inicialmente a criança precisa experimentar a fala, a memória, a linguagem, junto com o outro, para depois essas funções internalizarem em seu pensamento. As questões da educação infantil têm influenciado a realização de pesquisas que aprofundam o entendimento desse campo do conhecimento. É de fundamental relevância considerar esse tema numa perspectiva mais abrangente, ou seja, compreender a educação infantil como parte da totalidade do social e do cultural. Portanto, as concepções da teoria histórico-cultural permitem um novo olhar para a educação infantil, e uma sólida formação dos educadores, valorizando a aquisição do conhecimento social e historicamente construído. 2 Competências de ensinar (metodologia do ensino e da aprendizagem) O ensino e a aprendizagem se constituem em processo inerente à instituição escolar. A prática pedagógica, que se faz no exercício da docência, se caracteriza pelas ações de ensino das disciplinas. A práxis pedagógica das matérias escolares ou do ensino das disciplinas escolares envolve a integração ou a conjunção dos objetivos, dos conteúdos, métodos e formas de organização do ensino. Essa integração tem o propósito de que os alunos assimilem os conhecimentos, as habilidades, e desenvolvam suas capacidades cognoscitivas (LIBÂNEO, 1994: p. 77). 4 Antes de entrar no campo do ensino e da aprendizagem que se faz no cotidiano escolar hoje, é preciso voltar no tempo e lembrar que a origem do método e, por conseguinte da metodologia do ensino e da aprendizagem, encontra-se ainda em forma a priori no discurso do método com Descartes. Segundo Heller, para Descartes todos os estudos que não se constituíam da matemática pareciam inúteis, e até mesmo a própria matemática que admirava “por causa da certeza e da evidência de suas razões, só era usada para servir às artes mecânicas” (Heller, p.288). É preciso enfatizar que a matemática foi o principal referencial do pensamento filosófico e científico do século XVII. Para a autora mencionada, Descartes não era apenas um filósofo que procurava bases sólidas para a ciência. Ao mesmo tempo em que o filósofo investigava se os resultados do conhecimento científico tinham algo a ver com a realidade, ele realizava também suas investigações em particular, no campo da matemática e da física. Aos 15 anos, Descartes soube das descobertas de Galileu e do uso do telescópio feito por ele. Tempos depois, estudou as lentes e outros instrumentos óticos, realizando vários estudos sobre a refração da luz, que expôs em sua obra: “Dióptrica” (Heller, p.289). 5 Descartes, no discurso do método, duvida de tudo não apenas por duvidar, mas por chegar a uma formulação sistemática, por examinar todas as coisas com critérios, buscando descobrir elementos “sobre os quais possa recair alguma suspeita”. Ressalta- se, entretanto, que o ceticismo cartesiano é uma dúvida metódica, isto é, uma dúvida dirigida por um método rigoroso. E, em meio a tantas dúvidas, ele teve uma certeza inquestionável: “Penso, logo existo” (p. 289). A figura da página anterior e dessa página foram desenvolvidas por René Descartes e nela se retrata, por meio dos cálculos matemáticos, a exatidão de funcionamento do corpo humano. A dúvida desse filósofo só não permanece em relação à existência, porque para pensar é preciso antes existir. Embora, só exista enquanto pensa, em “penso, logo existo”, há uma ideia clara e distinta. Clara porque não há nela nenhuma sombra a obscurecendo, e distinta porque não pode ser confundida com outra ideia. Nesse pensamento, todas as ideias que se apresentam como claras e distintas são verdadeiras. A partir desse pressuposto, Descartes, estabelece que o critério da verdade é a evidência, dada pela intuição. 6 No discurso do método, esse filósofo faz a comparação entre as obras e construções feitas apenas por um arquiteto e aquelas em que diversos mestres de obras constroem. Após essa comparação, ele afirma que na obra em que apenas um arquiteto trabalhou há mais beleza e ordenação e é, portanto, muito diferente daquelas construções que foram reformuladas e adaptadas para outros fins, que não os inicialmente estabelecidos. A desarmonia na estética da obra reformada reflete a interpretação dada pelo mestre que a reformou, não tendo a ideia inicial de como deve ficar essa construção, além da necessidade de adaptar paredes e fachadas. Partindo dessas reflexões, Descartes, afirma que “se o cogito se engana, isso é causado apenas pela imperfeição do entendimento, que pode ser atenuada por meio de um método rigoroso”. A experiência do cogito e da dúvida é pessoal, solitária, única, íntima, jamais coletiva. Cada um por si só deve fazer o seu percurso (HELLER, p. 292-293). A fotografia abaixo mostra René Descartes. Fonte: http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_26/sartreimagem/descartes.jpg 7 Na introdução do “Discurso do Método” há uma intencionalidade que é a de apresentar “as matérias” que compõem a “ciência universal”, e que “devem fornecer um fundamento comum e único a todas as ciências particulares”. Por isso, deve haver, em todos os segmentos da ciência, um mesmo modo de investigar os seus objetos específicos (HELLER, p. 295). Na atualidade, as matérias que compõem a ciência universal estão presentes nos currículos e têm por objetivo conduzir o estudante ao entendimento do mundo e do próprio conhecimento. As pesquisas do campo da didática comumente fazem referência aos diversos modelos de ensino que têm caracterizado as metodologias do ensino e da aprendizagem e que têm sido utilizadas na instituição escolar. Embora o modelo de ensino tradicional venha recebendo muitas críticas e tenha influenciado a realização de pesquisas encomendadas ou não no campo das didáticas, dos programas e currículos ao longo dos tempos, verifica-se que esse modelo ainda está presente em instituições públicas e privadas do país. Entre outros, Libâneo (1994) lista as peculiaridades do ensino tradicional e uma série de ações que podem constituir propostas de trabalho docente, no sentido de mudar as ações e metodologias próprias do ensino tradicional, ainda vigentes no sistema educativo nacional. A fotografia a seguir mostra um modelo de sala de aula tradicional vitoriana. Com o objetivo de provocar mudanças nas ações docentes, a partir da caracterização do ensino tradicional, suas reflexões são úteis e merecem destaque. 8 No modelo tradicional anunciado pelo autor citado, o professor é um transmissor de conteúdos e informações. A memorização de fórmulas e conceitos, a realização de exercícios repetitivos, são aspectos do cotidiano escolar dos alunos que estudam em instituição de ensino cujo modelo é tradicional. O referido autor aponta algumaslimitações desse modelo de ensino. Entre outras limitações, o professor é ativo e o aluno é passivo. O professor transmite a matéria e os alunos a ouvem, respondem aos questionamentos, realizam os exercícios de classe, as tarefas de casa e reproduzem os conteúdos presentes no livro didático escolhido. Da cartilha, livro ou apostila, procuram decorar tudo para a prova. Com essas limitações, os alunos enfrentam dificuldades para a participação e elaboração dos conhecimentos. A criatividade e a autonomia de pensamento dos estudantes são tolhidas, resultando na ruptura da aprendizagem e do desenvolvimento, o que se constata na inibição da manifestação das habilidades, capacidades e potencialidades cognitivas dos sujeitos aprendizes. Fonte: http://api.ning.com/files/ hqqO1CMT5mSMKbMr9Lmif V7kod23XvbdsXxjLv7 LdK FluU8ZHn9WOH4MB36Sj5Rf4qBdWcG7ul XDYXI2U7VxUkEJhTtW1 Awq/sala_de_aula_vitoriana.jpg 9 No modelo citado, o professor esforça-se por cumprir a tarefa de explorar e desenvolver com os alunos os conteúdos do livro didático adotado na forma como ele se apresenta. Observa- se a falta de iniciativa do professor em trabalhar os conteúdos do livro didático de modo a acrescentar, aos seus exercícios, outros que envolvam saídas da sala de aula e que coloquem os estudantes em contato com situações da realidade, provocadoras de mudanças em função das reflexões que propiciam. Os professores desse modelo não se preocupam em tornar mais significativos e vivos os conteúdos do livro didático. O autor citado argumenta que há professores do modelo tradicional de ensino com a falsa ideia ou a ilusão de garantir a aprendizagem a partir do trabalho com o livro didático de capa a capa. Fonte: http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Image12.gif Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/foto/0,,14930196-EX,00.jpg 10 Os conteúdos do livro didático são importantes de fato. Mas eles devem ser trabalhados de forma contextualizada a partir de análises por parte do professor por ocasião da elaboração de seu planejamento. Para romper com o trabalho no paradigma tradicional, é preciso que o professor traga exemplos da vida prática dos alunos, a fim de que eles possam estabelecer um elo entre os conteúdos e as suas experiências, tornando os seus pensamentos e aprendizagem autônoma. A pressa em terminar o trabalho dos conteúdos do livro didático superficializa ou quase esvazia o trabalho docente. Segundo Libâneo (1994), ocorre uma aprendizagem factual em oposição à aprendizagem de grande volume de informações. Nesse aspecto o domínio de conteúdos do livro didático adotado é inquestionável no sentido de que o professor saiba selecionar e reservar o que é mais importante no livro didático adotado. Na abordagem do modelo de ensino tradicional, transmissivo, o professor não se ocupa da verificação, do preparo dos alunos para o recebimento dos novos conteúdos. Usualmente, o professor desse modelo não investiga sobre a aprendizagem dos seus alunos em relação aos conteúdos anteriores, com vistas ao preparo desses novos sujeitos para o trabalho dos conteúdos. Fonte: http://www.vestibular.brasilescola.com/upload/conteudo/sala%20 de%20aula%20tradicional.jpg 11 Em tal modelo, o professor não observa os alunos, nem constata as dificuldades que eles enfrentam para a transposição dos obstáculos epistemológicos encontrados nos estudos das matérias. A cada nova matéria, mais dificuldades se instalam, resultando no alheamento do conteúdo em função das dificuldades acumuladas, não ocorrendo a aprendizagem. A frustração dos alunos e professores, por fim, não impede o fracasso escolar, resultando muitas vezes em evasão escolar, por parte dos alunos. Libâneo (1994) ressalta que no modelo de ensino tradicional: “O trabalho docente fica restrito às paredes da sala de aula, sem preocupação com a prática da vida cotidiana das crianças fora da escola (o que influi poderosamente nas suas condições de aprendizagem) e sem voltar os olhos para o fato de que o ensino busca resultados para a vida prática, para o trabalho, para a vida na sociedade” (p. 79). O professor atua nesse modelo no sentido de isolar o conhecimento prático que vem da vida social, cultural e política do aluno. Nesse modelo, salta aos olhos a falta de iniciativa, a dinamicidade de pensamento por parte do professor para aliar conteúdos programáticos aos aspectos e fatos da vida cotidiana dos estudantes. Esse professor usualmente carece de preparo para o trabalho com projetos pedagógicos que ora trazem a realidade social para dentro da sala de aula, e ora levam os estudantes para as experiências práticas e vivências na comunidade em que se insere a escola. Diversos pesquisadores e professores – Libâneo (1994), Saviani (2007), Freire entre outros – têm escrito e sugerido um modelo de ensino que substitua o ensino tradicional. Algumas instituições 12 escolares têm buscado implantar em seu cotidiano modelos de ensino que se diferenciem do modelo de ensino tradicional. Há escolas que por algumas vezes ou em algumas aplicações obtêm êxito nessa empreitada. Outras, entretanto, a despeito de todos os esforços envidados para a mudança, não têm alcançado sucesso em alterar a orientação pedagógica que nelas se faz. Mas, os resultados das pesquisas no campo da didática apontam para um modelo contemporâneo de educação. Entre outros estudiosos, Libâneo (1994) mostra que o ensino numa visão não tradicional deve compreender ações conjuntas entre professores e alunos, a partir das quais estes sejam estimulados à compreensão e assimilação consciente e ativa dos conteúdos e dos métodos. Essa assimilação e compreensão direcionam os estudantes para a aplicação na prática de forma autônoma e criativa, tanto nas situações do cotidiano escolar quanto da vida diária não escolar. Os livros didáticos utilizados em classe devem trazer conteúdos relacionados à vida social e cultural dos alunos, atualizando-os e estimulando-os ao desenvolvimento intelectual. Esse deve ser utilizado pelo professor com o intuito de enriquecer a aula, ou ainda como um guia de assuntos e tópicos a serem ampliados pela pesquisa em outros livros, na Internet, em periódicos, em revistas, resultando assim numa poderosa ferramenta auxiliar no planejamento das aulas. Associar o livro didático ao uso das mídias, das ferramentas e às Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC´s, deve transformar o trabalho do professor em sala de aula, fazendo com que suas aulas sejam interessantes e inovadoras. O trabalho pedagógico nessa perspectiva pode tornar aos alunos os estudos acadêmicos tão interessantes quanto suas atividades com jogos, internet e outros interesses, promovendo menor competição entre os assuntos escolares e os da vida fora da escola. 13 Num panorama de ensino contemporâneo, o professor prepara suas aulas, seu trabalho docente com o objetivo de inserir seus alunos na vida em sociedade, levando por meio de atividades planejadas, a participação estudantil na comunidade em que a escola se insere. Estimulando o acesso do aluno aos assuntos regionais, nacionais e mundiais, por meio da discussão e estimulo à leitura, quer seja dos jornais escritos ou em hipertextos acessados pela internet, seja das revistas e periódicos. Nessa perspectiva contemporânea, sugere-se que o professor tenha ciência de que o ensino se faz no processo, sendo a aprendizagem e o desenvolvimento adquiridos a partir das mudanças graduais das capacidades intelectuais e das habilidades dos alunos. As atividades pedagógicas de planejamento devem prever a orientação e direção dos alunos para as atividades em que a aquisição da aprendizagem seja o objetivo maior nesse modelo de ensino. Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu2/foto/0,,38216227,00.jpg 14 Os planejamentos preparados pelo professor devem possuir a intencionalidade e trazer orientações sobre as atividades cujos exercícios, ao serem executados sistematicamenteem sala de aula, propiciam resultados como a aprendizagem. Os procedimentos de ensino planejados pelo docente no modelo contemporâneo de ensino devem valorizar o domínio dos conteúdos, o alcance do conhecimento, a aquisição de habilidades, e o desenvolvimento de capacidades cognitivas dos alunos, atendendo o propósito escolar de formação integral do cidadão, conforme prevê a constituição nacional. Os aspectos formais e materiais do ensino devem ser levados em conta pelo professor, na elaboração de seus planos de ensino, nos planejamentos de aulas e em suas práticas pedagógicas em sala de aula. Segundo Libâneo (1994), o objetivo primordial do ensino é “assegurar o processo de transmissão e assimilação dos conteúdos do saber escolar e, através desse processo, o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos” (p.80). As capacidades cognoscitivas a que se refere o autor são dadas pela energia da mente inerente ao organismo humano, que são ativadas e desenvolvidas no processo de ensino. Fonte: http://revistapontocom.org.br/wp-content/uploads/2008/06/ alunos-na-sala-de-aula.jpg 15 É fundamental que o professor tenha domínio dos conteúdos escolares e dos conhecimentos sistematizados e institucionalizados, extraídos das bases das ciências e das formas de ação acumuladas pela experiência humana, organizados de modo tal que sejam ensinados no contexto escolar. As formas de ação acumuladas pelo homem ao longo dos tempos de existência da humanidade são dadas pelas habilidades, pelos hábitos relacionados aos conhecimentos traduzidos nos métodos e procedimentos de estudos, de investigações e de aprendizagem. As atitudes, suas convicções diante dos fenômenos da natureza, os modos como o homem manifesta o agir, o sentir e o encarar o mundo, também fazem parte dos conteúdos escolares. Entre esses conhecimentos e as formas de agir, há uma relação direta de atuação de um sobre o outro. Para Libâneo (1994), as capacidades cognoscitivas que se destacam são os exercícios dos sentidos, o observar, o ato perceptivo, a busca de compreender o universo ao redor, o raciocinar, a capacidade de memorizar, a forma da linguagem, a automotivação, e a vontade que vai além do simples desejo. O processo de ensino no modelo contemporâneo, de acordo com o autor citado, se constitui de um ato de mão dupla, bilateral. É bilateral porque dois processos ocorrem simultaneamente: o ensinar e o aprender. A transmissão e a assimilação ativa do conhecimento organizado. Aliados ao propósito de que os alunos alcancem o conhecimento pelo trabalho integrado dos conteúdos com os métodos e modos de organização do ensino, deve estar também a percepção por parte do docente da sua atribuição de organizador do meio ou da situação didática. A teoria da situação didática deve ser conhecida pelo professor, a fim que ele domine as ferramentas 16 necessárias à criação de um meio didático que propicie a efetivação do ensino e da aprendizagem. Em outros estudos, já se concluiu que num sistema didático surgem fenômenos didáticos que são tratados pela teoria das situações didáticas (BATISTA, 2006). A teoria citada se fundamenta na abordagem construtivista, em que o processo de aprendizagem é analisado, levando-se em conta uma difícil questão a ser superada pelo professor: encontrar a dosagem correta da quantidade de informação acumulada e a forma de apreensão desse conhecimento por parte do aluno. Essa dosagem é uma ação de busca do equilíbrio e também a opção por um conhecimento que seja significativo para o estudante, em detrimento da quantidade, exigida nos currículos escolares. A aprendizagem na perspectiva da teoria de situação didática deve ser continuamente reelaborada com base no conhecimento do estudante. Para Brousseau (1986, apud Artigue, 1988: p. 08, apud Freitas, 2002: p. 67), situação didática é definida como: Um conjunto de relações estabelecidas explicitamente e ou implicitamente entre um aluno ou um grupo de alunos, num certo meio, compreendendo eventualmente instrumentos e objetos, e um sistema educativo (o professor) com a finalidade de possibilitar a estes alunos um saber constituído ou em vias de constituição. (...) O trabalho do aluno deveria, pelo menos em parte, reproduzir características do trabalho científico propriamente dito, como garantia de uma construção efetiva de conhecimentos pertinentes. 17 As situações didáticas, explicitadas por Brousseau, estão fundamentadas na teoria construtivista segundo a qual o objetivo principal é proporcionar ao aluno uma situação de aprendizagem que o leve à construção do conhecimento. Esta deve ser apresentada ao aluno na forma de um problema contextualizado que “proporcione ao aluno um verdadeiro sentido” (FREITAS, 2002: p. 66). A teoria das situações didáticas citada foi desenvolvida para a área da matemática, mas se pode adaptá-la para outras áreas do conhecimento, porque se acredita, que a problematização e os questionamentos dos saberes ensinados são fenômenos comuns das situações didáticas em todos os campos do conhecimento. Para Chevallard (2001), um sistema didático se caracteriza quando um grupo de pessoas (professores, alunos ou estudantes, pesquisadores) se reúne com o objetivo de encontrar a solução para um problema, cuja resposta não seja evidente, sendo coordenado por um dos membros do grupo que assume a atribuição de professor. Se um grupo de estudos não conta com um coordenador-professor, para esse teórico, constitui-se em um sistema autodidático. Fonte: http://cyberespacocultural.files.wordpress.com/2009/12/sala- de-aula-digital.jpg 18 O sistema didático deve estabelecer-se numa “relação didática aberta” isto é, uma relação em que haja uma dupla abertura, primeiro por parte do professor e depois por parte do aluno, no que diz respeito às dificuldades que ambos poderão encontrar. No grupo de estudos em que um professor é o coordenador da relação didática aberta e o responsável pela preparação do meio, sua atuação abrange a proposição de problemas aos alunos. Suas orientações se dão sob as abordagens de técnicas de resolução no sentido de levar os alunos à superação das dificuldades encontradas. Se a relação didática se fecha por conta de um controle por parte do processo didático, a aprendizagem estará comprometida. A relação didática fechada é aquela em que o professor tenta prever com exatidão o que o aluno fará e o que ele aprenderá. Chevallard (2001) afirma que na medida em que a relação didática se fecha pode “bloquear ou enfraquecer o processo de estudo com o consequente empobrecimento e até mesmo a paralisação da aprendizagem” (p.201). 19
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