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O Contexto Socioeducacional na Perspectiva da Inclusão Aula 2 2▪ COnCeitOS, PrinCíPiOS e PreSSuPOStOS legaiS da eduCaçãO eSPeCial Seja bem-vindo (a)! Nesta segunda unidade, trataremos de questões relacio- nadas às pessoas com deficiência no que diz respeito a conceito, princípios, legislação. É importante compreen- der discursos, leis, documentos para se buscar ações apro- priadas no espaço de trabalho escolar. Bons estudos!!! Débora Margot de Barros Caro (a) Aluno (a) Deficiências Já andei por tantos caminhos e já vivi tantas coisas, que hoje vejo que o preconceito e discriminação estão em cada um de nós, e cabe-nos quebrá-los para que possamos viver numa sociedade mais justa e humana. Hoje posso afirmar que: "Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. "Louco" é quem não procura ser feliz. "Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. "Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. "Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. "Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. "Diabético" é quem não consegue ser doce. "Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus. Autor: Luiz Fernando Veríssimo Extraído do blog: http://www.floramarela.com.br/pag.asp?id=4&sub=8 4 A partir deste texto, proponho refletir sobre o tema desta disciplina, e você deverá ser capaz de: ▪ Identificar os princípios que fundamentam a Educa- ção Especial no Brasil. ▪ Reconhecer documentos que discutem o processo e estratégias de inserção das pessoas com deficiência na sociedade. Proponho pensar sobre as mudanças comportamen- tais da sociedade, provocadas por necessidades atuais da civilização, estas avançam em um ritmo acelerado, no que se refere, principalmente, a ciência e tecnolo- gia, recursos e possibilidades antes não imaginados. Vivemos um processo de globalização mundial da economia, das informações, o que acarreta competi- ção e desigualdades entre os povos, empobrecimen- to de nações, elevando os índices de injustiça social. Diante de tais fatos, assegurar os direitos a todos, a uma educação de qualidade é meta do governo e da sociedade, que através de lutas, esforços buscam ins- trumentos legais para garantir cidadania; neste curso cabe destacar das pessoas com deficiência. Conteúdos da Unidade Objetivos da Unidade 5 “A verdadeira deficiência é aquela que prende o ser humano por dentro e não por fora, pois até os incapacitados de andar podem ser livres para voar.” Thaís Moraes Com a evolução humana, a sociedade produziu movimentos como o da exclusão social daqueles que a mesma considerou como diferentes. Este proces- so se acelerou com a globalização onde o capital dita normas e padrões. Para aqueles que enfrentam esta realidade, tornou-se necessário a busca de dignidade, de ser cidadão. A escola, espaço para onde convergem todos os conflitos econômicos, culturais, políticos, possui o papel transformador de atitudes, valores que venham humanizar as relações. Cabe a ela repensar suas práticas, construções teóricas diante de suas ne- cessidades. Para isso, são necessários parceiros, pois o lugar de tensão em que se encontra, deve ser dividido com outras instituições, que também são responsáveis, como o poder público e toda sociedade organizada. Para tal prática, na atualidade precisa haver mu- danças de paradigmas de forma a viabilizar a inclusão desses, que foram colocados à margem da história da humanidade. Os profissionais da educação devem buscar formação contínua no cotidiano escolar, pois assim, a postura – reflexão/ação/reflexão, poderá vir a acontecer trazendo em seu bojo transformações efetivas que estão longe de serem imediatas, pois, faz parte da construção de uma nova forma de ler o mun- do, distante dos valores arraigados, tradicionais. De- vemos, aqui, perceber o limite das pessoas envolvidas, 6 seus desejos, construções históricas e imaginárias. O direito a educação à “em igualdade de condi- ções de acesso e permanência na escola” (art.206, in- ciso I da Constituição Brasileira de 1988) visando “ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o traba- lho” (art.205) são dispositivos nacionais, que tem pro- duzido movimento nos espaços e em políticas públicas educacionais, resultado de um complexo processo in- ternacional, de onde saíram documentos importantes como, por exemplo, a Conferência Mundial de Educa- ção para todos, em 1990, em Jomtien, Tailândia. A civilização avança em um ritmo acelerado no que se refere, principalmente, à ciência e tecnologia, isto tem provocado mudanças comportamentais na sociedade, e coloca para a mesma, recursos e possi- bilidades antes não imaginados, que podem sanar as necessidades e sonhos do homem. Estamos em um processo de globalização mun- dial da economia, das informações, o que acarreta com- petição e desigualdades entre os povos, empobrecimen- to de nações, elevando os índices de injustiça social. Neste cenário é um desafio efetivar a prática dos direi- tos assegurados a todos e a uma educação de qualidade. Para Pensar *Como buscar uma realidade educacional na perspec- tiva inclusiva, ou seja, trazer para o seio das escolas condições favoráveis para oferecer ações educativas, adequadas às necessidades individuais de aprendiza- gem de todos? 7 *Como elevar os níveis de qualidade de aprendiza- gem no processo educacional escolar? Dispositivos legais e deliberações nos textos de políticas públicas educacionais já estão colocados e apontados, para isto, é necessário prover recursos de toda ordem de forma a viabilizar para que os direitos humanos para que sejam respeitados de fato. Para as escolas oferecerem respostas educativas de qualidade, diversificada, é necessária uma articulação de recur- sos financeiros, programas de saúde, nutrição, bem- -estar familiar, trabalho, emprego, ciência e tecnolo- gia, transportes, desporto e lazer, assistência social, portanto um modelo inclusivo de educação depende de providências para além do âmbito educacional, para identificar e satisfazer as necessidades da popu- lação. Documentos internacionais de cooperação e os intercâmbios internacionais são estimulados em co-responsabilidade dos Ministérios Brasileiros para assegurar e garantir a integração entre programas de educação com outros setores, principalmente saúde, trabalho e assistência social. A Educação Infantil, o Ensino Fundamental, Médio, Educação de Jovens e Adultos, Educação pro- fissionalizante e a superior deverão estar articulados para a consolidação de uma política educacional inclu- siva e sólida, envolvendo todos os setores nacionais e a cooperação internacional. Carvalho (2004, p78) diz que:... “para tanto é necessário que a Educação Especial deixe de ser um subsistema que se ocupa de um determinado tipo de alunos com deficiências, para converter-se num conjun- 8 to de serviços e de recursos de apoio, orientado para a educação regular, em benefício de todos os aprendizes”. Para Pensar Quais são os princípios que fundamentam os sistemas edu- cacionais inclusivos? Os sistemas educacionais inclusivos devem prever os ideais democráticos nos programas, proje- tos e atividades, de forma a permitir o pleno desen- volvimento da personalidade dos indivíduos, fortale- cendo o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais, proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Artigo II Toda pessoa tem capacidade paragozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra nature- za, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo XXIII 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre esco- lha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 9 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu- neração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se ne- cessário, outros meios de proteção social. Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida ca- paz de assegurar a si e a sua família saúde e bem es- tar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cui- dados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e funda- mentais. A instrução elementar será obrigatória. A ins- trução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promo- verá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e co- adjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da 10 manutenção da paz. A compreensão comum desses direitos e liber- dades é de grande importância para o pleno cumpri- mento desse compromisso, tendo sempre em mente esta Declaração, através do ensino e da educação é possível alcançá-los agregando a adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, que assegurem o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva. Para Pensar Como traduzir discursos, leis, documentos politica- mente corretos em ações efetivas? Não é tarefa fácil, mas não se trata de um traba- lho impossível, já sabendo que é o resultado de lutas de grupos, de movimentos sociais contra todas as formas de discriminação, que impedem o exercício da cida- dania das pessoas com deficiência, emerge, em nível mundial, a defesa de uma sociedade inclusiva. É funda- mental que coloquemos como meta, e que acreditemos no potencial humano, no empoderamento, no exercí- cio da cidadania, da participação de fato nos diversos espaços sociais, com capacidade de escolha e autono- mia para dirigir seu próprio destino, e, desta forma ve- nham também a contribuir com o bem-estar coletivo. A sociedade deve fortalecer-se à crítica, às práticas de categorização e segregação de estudantes encaminha- dos para ambientes especiais e ao questionamento dos modelos homogeneizadores de ensino e de aprendiza- 11 gem, geradores de exclusão nos espaços escolares. Programa mundial, Educação Para Todos, EPT O programa mundial Educação Para Todos, EPT, é fruto do compromisso dos países que parti- ciparam buscando o êxito de uma educação de qua- lidade à qual toda a população, sem exclusões, tenha acesso e que permita um pleno desenvolvimento na vida cotidiana. No Fórum Mundial de Educação, re- alizado em 2000 em Dakar, no Senegal, os governos e as organizações participantes reafirmaram a visão ampliada da educação básica com igualdade e qualida- de, colocada pela primeira vez na Declaração Mundial sobre Educação Para Todos, em Jomtien (Tailândia, 1990). O Marco de Ação de Dakar, adotado no Fó- rum Mundial da Educação, estabelece seis objetivos que levam a fortalecer a educação de qualidade como “direito humano fundamental, e elemento-chave do desenvolvimento sustentável, da paz e da estabilidade de cada país e entre nações” Os objetivos propostos, considerados essen- ciais para a educação no século XXI e alcançáveis através de um compromisso real de toda a sociedade e de uma decisão internacional firme, têm como hori- zonte o ano de 2015. São eles: i)” ampliar e melhorar a proteção e educação inte- grais da primeira infância, especialmente das crian- ças mais vulneráveis e desfavorecidas; ii) zelar para que, até 2015, todos os meninos, e so- bretudo as meninas, que se encontrem em situação difícil e que pertençam a minorias étnicas, tenham 12 acesso a ensino primário gratuito e obrigatório de boa qualidade e o concluam; iii) zelar para que sejam atendidas as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos, median- te um acesso equitativo a programas adequados de aprendizagem e de preparação para a vida cotidiana; iv) aumentar em 50%, até 2015, os níveis de alfabeti- zação dos adultos, particularmente no caso das mu- lheres, e facilitar a todos os adultos um acesso equi- tativo à educação básica e à educação permanente; v) suprimir as disparidades entre os sexos no ensino primário e secundário até 2005, alcançando até 2015 a igualdade entre os sexos na educação, em particu- lar garantindo às meninas um acesso pleno e equita- tivo a uma educação básica de boa qualidade, com as mesmas possibilidades de obter bons resultados; e vi) melhorar todos os aspectos qualitativos da edu- cação, garantindo os parâmetros mais elevados, para conseguir para todos os resultados de aprendizagem reconhecidos e mensuráveis, especialmente em lei- tura, escrita, aritmética e aptidões práticas essenciais para a vida cotidiana.Os compromissos assumidos em Dakar contemplam um monitoramento perma- nente dos resultados obtidos em relação aos objeti- vos propostos. A UNESCO foi designada como Se- cretaria no Fórum Mundial da Educação em Dakar, recebendo o mandato de coordenar e dinamizar as atividades de cooperação em prol da Educação Para Todos. O Diretor Geral da UNESCO convoca anualmente uma reunião do Grupo de Alto Nível, cuja função é estimular a mobilização política e fi- nanceira em favor de EPT. A cada ano, também, a 13 UNESCO encarrega uma equipe independente, si- tuada em sua sede, de preparar um relatório mundial de acompanhamento de EPT, que é apresentado na reunião do Grupo de Alto Nível; esse relatório mostra os progressos realizados em relação aos seis objetivos de Dakar e dá conta dos compromissos assumidos em Dakar. O relatório global de acom- panhamento de 2002, intitulado La Educación para Todos: ¿Va el Mundo por el Buen Camino? Mostrou que os progressos em direção aos seis objetivos são insuficientes e que “o mundo não está bem enca- minhado para alcançar o EPT em 2015”, já que é provável que 28 países, correspondendo a 26% da população mundial, não consigam atingir nenhuma das três metas quantitativas: a educação primária universal, a igualdade dos sexos e a redução à meta- de das taxas de analfabetismo. Da mesma maneira, outros 43 países, que constituem 36% da população mundial, correm o risco de não conseguir alcançar uma dessas metas.” Foro Mundial de la Educación. Marco de Acción de Dakar.Educación para Todos: cumplir nuestros compromisos comunes.Paris, UNESCO, 2000. No contexto internacional do movimento polí- tico para o alcance das metas de educação para todos, a Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNES- CO em 1994, propõe aprofundar a discussão, proble- matizando os aspectos acerca da escola não acessível a todos estudantes. Surge assim, o documento Decla- ração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Necessi- 14 dades EducativasEspeciais, que define que as escolas comuns representam o meio mais eficaz para comba- ter as atitudes discriminatórias, ressaltando que: “O princípio fundamental desta Linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, in- dependentemente de suas condições físicas, intelec- tuais, sociais, emocionais, linguístico ou outras. De- vem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que traba- lham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas. “ (Brasil, 1997, p. 17 e 18). O debate sobre os rumos da Educação Especial torna-se fundamental para a construção de políticas de formação, financiamento e gestão, necessárias para a transformação da estrutura educacional a fim de asse- gurar as condições de acesso, participação e aprendiza- gem de todos os estudantes, entendendo a escola como um espaço que reconhece e valoriza as diferenças. Cresce o movimento mundial pela inclusão, mas em 1994 no Brasil, publica-se o documento Polí- tica Nacional de Educação Especial, com paradigma integracionista, fundamentado no princípio da nor- malização, com foco no modelo clínico de deficiên- cia, atribuindo às características físicas, intelectuais ou sensoriais dos estudantes, um caráter incapacitante que dificulta a inclusão educacional e social. 15 Tal documento define como modalidades de atendimento em Educação Especial, no Brasil: as es- colas e classes especiais; o atendimento domiciliar, em classe hospitalar e em sala de recursos; o ensino itine- rante, as oficinas pedagógicas; a estimulação essencial e as classes comuns. Tal fato estimula a manter a es- trutura paralela e substitutiva da Educação Especial, com concepção integralista, o acesso de estudantes com deficiência ao ensino regular é condicionado: “Ambiente dito regular de ensino/aprendizagem, no qual também, são matriculados, em processo de in- tegração instrucional, os portadores de necessidades especiais que possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais.” (Brasil,1994, p.19) Na contramão de impulsionar a mudança de ideias favorecendo os avanços no processo de in- clusão escolar, essa política demonstra fragilidade perante os desafios impostos à construção do novo paradigma educacional. Sustentando o modelo de or- ganização e classificação de estudantes, estabelece-se o antagonismo entre o discurso inovador de inclusão e o conservadorismo das ações que não possibilitam na escola comum a ressignificação e mantém a escola especial como espaço de acolhimento daqueles estu- dantes considerados inaptos para alcançar os objeti- vos educacionais estabelecidos. Ação que fragiliza as práticas, que produzem mudanças e são capazes de 16 propor alternativas e estratégias de formação e esta- belecimento de recursos nas escolas que respondam afirmativamente às demandas dos sistemas de ensino. As práticas tradicionais que reproduzem a segregação em razão da deficiência e do suposto despreparo da escola comum, historicamente privadas de investi- mentos necessários ao atendimento das especificida- des educacionais desse grupo, continuam. Numa prática, na óptica do paradigma da inclu- são, todos podem estar favorecidos quando: as escolas promovem respostas pedagógicas às diferenças indi- viduais de estudantes, pois a mesma é impulsionada aos projetos de mudanças, e, para a gestão, nas políti- cas públicas implantadas. Para ser gerada é necessário ações, movimentos que busquem repensar o espaço escolar e da identificação das diferentes formas de ex- clusão, geracional, territorial, étnico racial e de gênero. Nessa fase, as diretrizes educacionais brasileiras endossam o caráter substitutivo da Educação Especial, embora expressem a necessidade de atendimento às especificidades apresentadas pelo estudante na escola comum. Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) quanto a Resolução 02 do Conselho Nacional de Educação (2001) denotam ambiguidade quanto à organização da Educação Especial e da es- cola comum no contexto inclusivo. Ao mesmo tempo em que orientam a matrícula de estudantes, público alvo da Educação Especial nas escolas comuns da rede regular de ensino, mantém a prática do atendimento educacional especializado substitutivo à escolarização. No início do século XXI, esta realidade levanta mobilização mais ampla em torno do questionamento 17 à estrutura segregativa que aparece nos sistemas de ensino, que mantém um alto índice de pessoas com deficiência em idade escolar fora da escola e a matrí- cula de estudantes público alvo da Educação Especial, majoritariamente, em escolas e classes especiais. Numa dimensão histórica, a proposta de um sistema educacional inclusivo, impõe um processo de reflexão e prática, que possibilita efetivar mudanças conceituais, político e pedagógicas, coerentes com o propósito de tornar efetivo o direito de todos à edu- cação, preconizado pela Constituição Federal de 1988. A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência outorgada pela ONU em 2006 é ratificada pelo Brasil como emenda constitucional, por meio do decreto Legislativo 186/2008 e pelo Decreto Executi- vo 6949/2009. Este documento sistematiza estudos e debates mundiais realizados ao longo da última década do séc. XX e nos primeiros anos deste século, criando um quadro favorável à definição de políticas públicas fundamentadas no paradigma da inclusão social. Esse acordo internacional altera o conceito de deficiência que, até então, denotava o paradigma in- tegracionista, que era protegido pelo modelo clínico de deficiência, em que a condição física, sensorial ou intelectual da pessoa se caracterizava como obstáculo a sua integração social, cabendo à pessoa com defici- ência, se adaptar às condições existentes na sociedade. De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência “Pessoas com deficiên- cia são aquelas que têm impedimentos de longo pra- zo de natureza física, mental intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem 18 obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. (ONU Art. 1) No paradigma da inclusão, à sociedade cabe dar as condições de acessibilidade necessárias a fim de promover às pessoas com deficiência uma forma independente de participação plena de todos os as- pectos da vida. Nesse contexto, a educação inclusiva torna-se um direito inquestionável e incondicional. O artigo 24 fala sobre o direito da pessoa com deficiên- cia à educação, ao afirmar que: [..]” para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os estados partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida[..].” (ONU,2006). A construção de novos limites legais, políticos e pedagógicos da Educação Especial, promovem as mudanças nos processos de elaboração e desenvolvi- mento de propostas pedagógicas que possibilitam ga- rantir as condições de acesso e participação de todos os estudantes no ensino regular. É meta a transfor- mação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos, a partir de 2003. Estratégias como: o Pro- grama Educação Inclusiva: direito à diversidade, que desenvolve o amplo processo de formação de gesto- res e de educadores, por meio de parceria entre o Mi- nistério da Educação, os estados, os municípios e o 19 Distrito Federal dão início à construção de uma nova política de Educação Especial que enfrenta o desafio de se constituir uma modalidade transversal desde a educação infantil à educação superior. Desta forma são repensadas as práticas educacionais concebidas a partir de um padrão de estudante, de professor, decurrículo e de gestão, rediscutindo a compreensão acerca das condições de infra-estrutura escolar e dos recursos pedagógicos fundamentados na concepção de desenho universal. Estratégias Para isto, seguem pontuações importantes que fazem parte das diretrizes: A Educação Para Todos propõe a partilha da responsabilidade pela educação e que esta deixe de ser domínio exclusivo dos governos para ser interio- rizada pelo conjunto da sociedade. Existe uma cons- ciência social generalizada sobre o valor indiscutível da educação e a importância da participação social na mesma. Os governos dos países devem permitir e in- centivar que setores não governamentais tomem parte na elaboração ou aplicação das políticas educacionais. Diversos atores e setores governamentais e não governamentais devem se envolver na preparação dos planos nacionais de EPT, junto à vontade política de governos para gerar espaços e mecanismos de parti- cipação ativa e efetiva da sociedade civil no planeja- mento e validação dos planos nacionais, os atores da sociedade civil devem exigir seu direito a participar na tomada de decisões políticas e estabelecer alianças com o fim de cooperar e co-responsabilizar-se pelos 20 resultados. Com esta articulação, a sociedade civil vai ganhando cada vez mais terreno no que se refere à influência sobre políticas públicas. Compreende-se, assim, a diversidade de seto- res e atores envolvidos na elaboração dos planos na- cionais, como de metodologias utilizadas para isso. A construção e implementação efetiva de um plano nacional de longo prazo não é viável sem contar com uma visão coletiva do conjunto da sociedade e o com- promisso de cada um de seus integrantes. Promover a participação social desde o início e ao longo do pro- cesso de preparação é fundamental. Para melhorar a participação da sociedade civil, destaca-se a necessida- de de que o governo tenha vontade política para abrir um espaço público de tomada de decisões políticas, e que a sociedade civil se disponha a trabalhar junto com o governo. É preciso, além disso, que se produza maior articulação entre o governo e os diversos se- tores da sociedade civil envolvidos com a educação, dando especial atenção aos meios de comunicação como aliados estratégicos. Assim, é muito importante dar ampla difusão aos planos de educação para todos, de modo que se alcance um compromisso maior das partes e o envolvimento de novos atores. Aponta-se também o papel que deve ter a cooperação internacio- nal em apoio ao EPT e a liderança da UNESCO na mobilização e articulação de ações e recursos para o desenvolvimento educacional dos países. Institucionalizar a participação na execução, mecanismos nacionais de acompanhamento e moni- toramento, forma de vigiar e monitorar a devida im- plementação do Plano Nacional de EPT, identificar 21 necessidades e soluções para superar as dificuldades encontradas, diálogo e consenso, contribui para man- ter o Plano Nacional ao longo das mudanças governa- mentais incluindo o ajuste do Plano Nacional de EPT, de acordo com a necessidade. Geralmente as instituições mais diretamente vinculadas à educação são as que mais participam (a associação docente, por exemplo). É necessário que outros atores sociais que têm importância no proces- so, também intervenham. Entre estes, contam-se os meios de comunicação, o empresariado e as universi- dades. Os meios de comunicação, em particular, têm um papel crucial no estímulo à participação e respon- sabilidade de toda a sociedade pela educação, e tem que assumir, ao mesmo tempo, a responsabilidade pela sensibilização social. A intersetoriedade é indis- pensável para que diferentes setores governamentais articulem seus esforços com vistas ao desenvolvimen- to social e econômico e para que o Plano Nacional de EPT se integre num “esquema mais amplo de redução da pobreza e de desenvolvimento”, como recomenda o Marco de Ação de Dakar. O foco central deve ser os atores-chave da comunidade da educação (alunos, famílias e docen- tes) e que estes se envolvam plenamente na análise da situação educacional e na tomada de decisões com respeito às metas e ações futuras. Espaços de debate, estabelecer mecanismos que garantam a participação efetiva desses atores da comunidade da educação é necessário como também, aproximar o discurso das políticas públicas ao nível da base da escola e sua co- munidade. As políticas educacionais devem permitir 22 que esses atores possam relacionar as implicações do Plano nacional com suas vidas cotidianas e fomen- tar sua responsabilidade social para com a educação. Cada ator tem que fazer seu o plano nacional de edu- cação e assumir a responsabilidade pelos resultados da educação. Elaborar planos locais de desenvolvi- mento educacional, que respondam às características e necessidades da região, município ou comunidade, sem perder de vista o quadro nacional. Tais práticas possibilitam respostas às demandas locais, facilitam a integração das organizações da sociedade civil no desenvolvimento dos planos, tanto nacionais como locais, em todo o processo de elaboração e execução. Enquanto a Declaração Mundial sobre Educa- ção Para Todos (Jomtien, 1990) concentra-se no for- talecimento da concentração de ações entre diferentes setores do governo e organizações não governamen- tais e intergovernamentais, o Marco de Ação de Dakar salienta a obrigação do governo de “garantir o com- promisso e a participação da sociedade civil na for- mulação, aplicação e supervisão das estratégias para o desenvolvimento da educação”. A participação social é uma necessidade de transparência nos sistemas or- çamentários e também de mobilização mais criativa e constante de recursos. O reconhecimento de que a sociedade civil tem muitas experiências e tem um papel essencial tanto a nível macro-político do país como no seio do centro educacional requer uma firme Comité de Redacción del Foro Mundial de Educación. Comenta- rio detallado del Marco de Acción de Dakar. Educación para To- dos: cumplir nuestros compromisos comunes. Paris, UNESCO, 2000. 23 vontade política por parte do governo para gerar es- paços e mecanismos de participação ativa e efetiva da sociedade civil, desde o nível nacional até o do centro educacional. Cabe a sociedade civil assumir a respon- sabilidade pela educação e seus resultados. PRELAC - o Plano de Ação de Educação Para Todos, estabelece cinco focos estratégicos, através dos quais os países, e a região como um todo, vão canalizar seus esforços para atingir os objetivos de EPT: Educação Para Todos - Caribe. Santiago de Chile, UNESCO-ORE- ALC, 2002. 1”. os conteúdos e práticas da educação para cons- truir sentidos sobre nós mesmos, os outros e o mun- do em que vivemos, 2. os docentes e fortalecimento de seu protagonis- mo na mudança educacional, para que respondam às necessidades de aprendizagem dos alunos, 3. a cultura das escolas e para que estas se convertam em comunidades de aprendizagem e participação, 4. a gestão e a flexibilização dos sistemas educacio- nais para oferecer oportunidades de aprendizagem efetiva ao longo da vida, e 5. a responsabilidade social pela educação para gerar compromissos com seu desenvolvimento e resultados.” Na esfera infraconstitucional, as transforma- ções na ordem jurídico-institucional concluem-se com a aprovação, pelo Congresso Nacional, de vários ins- trumentos legais de impacto para a Educação Brasi- leira, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 24 Nacional (Lei nº 9.394, de 1996 - LDB); a Emenda Constitucional nº 14, de 1996, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fun- damental e de Valorização do Magistério – FUNDEF; a Lei n° 10.172, de 2001, que colocou o Plano Nacio- nal de Educação - PNE atualmente vigente; a Lei nº 11.494, de 2007, que regulamentou o Fundo de Ma- nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUN- DEB; e a EmendaConstitucional nº 59, 2009, que am- pliou o ensino obrigatório dos 4 aos 17 anos de idade. A LDB reestruturou e definiu as diretrizes e bases da educação escolar no Brasil. Para a União, Estados, Municípios, escolas e demais instituições de ensino coube conceitos fundamentais que garantem a organização dos sistemas educacionais do país, como princípios educativos, especificação dos níveis e mo- dalidades de ensino, regulamentou a estrutura e o fun- cionamento do ensino nacional. A Lei vem sofrendo várias alterações, visando à adequação de seus dispo- sitivos às alterações constitucionais, à atualização de conceitos às novas visões e estratégias educacionais e ao aprimoramento de parte de suas normas. Sobre Educação Especial, a LDB, 1996 diz: CAPÍTULO V DA Educação Especial “Art. 58. Entende-se por Educação Especial, para os efei- tos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educan- dos portadores de necessidades especiais. 25 § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe- cializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, es- colas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de Educação Especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não pude- rem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - Educação Especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive con- dições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so- ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do 26 ensino regular. Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técni- co e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alterna- tiva preferencial, a ampliação do atendimento aos educan- dos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às insti- tuições previstas neste artigo.” A Secretaria de Educação Especial (SEESP) do Ministé- rio da Educação e Cultura (MEC) é o órgão oficial que se responsabiliza pelo planejamento de ações voltadas ao atendimento educacional do público com necessidades educacionais especiais. Mas esta discussão por muitos anos ocorreu em espaços separados, ou em escolas espe- ciais ou em classes especiais. O FUNDEF estabeleceu um novo modelo de financiamento do ensino fundamental, colocou um mecanismo de redistribuição de recursos vinculados à educação com vistas a cumprir o princípio consti- tucional da equalização do financiamento sendo um instrumento essencial na universalização do ensino fundamental. Em 2007, com a criação do FUNDEB, cuja vigência se estende a 2020, ampliou-se o escopo do financiamento, passando a abranger toda a Educação básica, contemplando Educação infantil, Ensino fundamental, Ensino médio, Educação Especial e Educa-ção de jovens e adultos. 27
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