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• “Análises e interpretações relativas à história do Brasil republicano têm, na maior parte das vezes, destacado uma questão recorrente: a de que a construção da cidadania e da democracia são, simultaneamente, dilema e desafio que perpassam o cotidiano nacional Brasileiro. Dilema, pois a herança do passado colonial/patrimonial persiste sob diferentes formas e graus ao longo da trajetória republicana, reproduzindo manifestações de práticas autoritárias, tanto na esfera privada quanto na pública. Desafio, pois a construção da democracia tem encontrado inúmeros focos de resistência que se manifestam sob diferentes formas de comportamento autoritário, destacando-se os períodos ditatoriais, tanto o do Estado Novo quanto o do regime militar, além das antigas, mas ainda usuais, práticas de mandonismo local, que teimam em persistir, mesmo que no alvorecer de um novo milênio possam parecer ultrapassadas. Na verdade, a democracia e a plena realização da cidadania no Brasil apresentem-se como um dilema histórico ainda a ser decifrado e um desafio a ser enfrentado”. (O tempo ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX/organização Jorge Ferreira e Lucília de Almeida Neves Delgado. – 5ª ed.-Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2012. V.4. pag. 07. O Fragmento acima caracteriza um debate significativo da história do Brasil recente (pós 1964), posicione-se sobre esse debate. Levando em conta os aspectos itens abaixo. (escolha somente dois dos cinco itens para desenvolver) a) Discuta o papel da Segurança Nacional e os Governos Militares? b) Discuta o papel das Esquerdas revolucionárias e a Luta Armada no Brasil pós 1964? c) Analise o papel da espionagem, polícia política, censura e propaganda na perspectiva da repressão no período pós 1964? d) Enfoque o debate sobre cultura e política entre os anos de 1960-1970 e sua herança? e) Discuta o contexto econômico da década de 1970 (“Milagre Brasileiro”) A dificuldade da construção da democracia e cidadania no Brasil Republicano sob a perspectiva da Doutrina Nacional de Segurança e os governos militares. Não é possível falar sobre os governos militares no Brasil sem entendermos onde estavam calcadas as suas bases, seus fundamentos e seus princípios ideários. Neste caso, partimos da análise da DSN (Doutrina de Segurança Nacional) como uma perspectiva, uma lente que nos possibilitará refletir sobre a construção ou não, da cidadania e da democracia no Brasil republicano. A partir do contexto de um país que viveu um período autoritário será possível perceber as suas heranças, tanto coloniais quanto patrimoniais, nos impasses contemporâneos no que diz respeito às frágeis cidadania e democracia nacional. Partimos da ideia de que um governo autoritário é atravessado por diretrizes muito bem estabelecidas, não sendo um acaso, uma aleatoriedade. Um golpe é pensado. Na História existem poucos exemplos ou quase nenhum, de golpes, revoluções, manifestações ou eventos do mesmo nicho que deram certo sem nenhum planejamento. Aqui, podemos citar a Revolução de 1905 na Rússia, por exemplo, que segundo Aarão, foi um fracasso justamente por não ter sido planejada por seus agentes e tampouco era esperada pelo resto das personagens, funcionando somente como um pano de fundo para as revoluções que aconteceriam nos anos posteriores. Assim, pode-se pensar então que seria inúmeras vezes mais fácil conseguir penetrar uma revolução, manifestação ou um governo se ele não estivesse bem estruturado. Talvez por esse motivo, tenha sido tão difícil encontrar chão para plantar valores democráticos e de cidadania enquanto o Brasil estava imerso nesse contexto e até após o seu fim. A concepção da DSN fora criada pela ESG (Escola Superior de Guerra), uma importante instituição político-militar do período, mas que atua ainda hoje. Criada no governo Dutra, incentivava estudos políticos estratégicos para as Forças Armadas, em especial o Exército, tendo como objetivos formar militares de alta performance de excelência nos estudos estratégicos. Ao percebermos os objetivos da ESG, podemos concluir que sua finalidade e também consequência direta seria a construção e formação de uma elite militar. Logo, torna-se evidente os motivos pelos quais a DSN criada pela ESG, fora adotada como base da ditadura civil-militar. Referente a este contexto, é possível pensar sobre o grande impacto que a formação não somente de militares, mas também de cidadãos civis vinculados à ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) como empresários e membros de partidos e associações políticas, teriam na sociedade emergente. A DSN assim como a ditadura civil-militar emergiram em um contexto de Guerra Fria no qual o ideário de binariedade como bem e mal, certo e errado, aliados e adversários liam o mundo. Quando falamos sobre uma teoria de guerra estamos falando que não há margem para a neutralidade, ou você está de um lado ou de outro. No contexto da Guerra Fria, o Brasil se posicionou ao lado dos Estados Unidos. O país sul-americano buscava se qualificar e ser reconhecido internacionalmente, principalmente aos olhos dos EUA, como uma metrópole regional na América do Sul. “Para onde for o Brasil a América do Sul irá”. Neste período, houve uma grande militarização da política, do estado e da sociedade civil, sendo os representantes militares mais capacitados por serem considerados com maior sentimento patriótico. A ideia da ameaça comunista que assolava o mundo também chegou ao Brasil e como consequência e a partir da DSN, o subdesenvolvimento era passível de gerar revoltas na sociedade civil, logo o investimento maior era na construção de um país que se estivesse no lugar de uma grande potência econômica, sendo a consequência disso o período chamado na historiografia como “Milagre Econômico”, no qual o grande crescimento econômico caracterizou a aceleração do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), industrialização e baixa inflação. A ideia era querer mostrar o seu poder e se disseminar por múltiplos espaços. Quem se opunha ao governo era considerado inimigo interno, uma ameaça subversiva pois na ideia binária mundial, ou você era contra ou favor da nação. Neste sentido, a ação autoritária e repressiva não se apresentava como algo desejável, mas como necessária. Logo foram permitidas a criação de órgãos repressivos como o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operação de Defesa Interna) e o SNI (Serviço Nacional de Informações) responsáveis pela proteção e segurança nacional. Com toda essa repressão geradora de perseguições, prisões, torturas, sequestros e assassinatos por vários anos, podemos concluir com assertividade que após o fim da ditadura civil-militar nada seria fácil nos próximos anos que aguardavam a história nacional, tampouco a construção de uma sólida democracia e cidadania. Isso se deu pela enorme repressão das expressões, da imprensa, dos direitos individuais e do livre arbítrio. A sociedade do Brasil Republicano vinha de um grande trauma social, o receio e podemos dizer que até o medo assolava essa mesma sociedade, chegando à beira dela pouco reivindicar os seus direitos e não se manifestar contra os governos vigentes. Até hoje é perceptível nas análises e estudos sobre o Brasil presente que a cidadania e a democracia enquanto conceitos ainda são uma categoria de análise pouco introdutórias na educação básica e talvez por isso e pela recente e presente lembrança de um passado autoritário seja tão difícil desenvolver um sentimento forte de cidadão e agente histórico na sociedade brasileira contemporânea.
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