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FACULDADE PAULISTA DE ARTES LICENCIATURA EM TEATRO THAMIRIS ARIEL ROCHA DE MOURA A SOLIDÃO DA MULHER GORDA: A Gordofobia inserida na sociedade e um processo de desconstrução deste preconceito em cena. SÃO PAULO 2018 Thamiris Ariel Rocha de Moura A SOLIDÃO DA MULHER GORDA: A Gordofobia inserida na sociedade e um processo de desconstrução deste preconceito em cena. Trabalho de conclusão de curso submetido à Faculdade Paulista de Artes, como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Licenciatura em Artes – Habilitação em Teatro. Orientador: Professora Especialista Nívia Maria Rodrigues Rocha SÃO PAULO 2018 Dedico este trabalho a todas as mulheres que acreditam que unidas somos mais fortes e que cada batalha vencida contra os preconceitos e o machismo é a certeza de que não estamos sozinhas, e, que por meio da arte possamos nos expressar cada vez mais, como um ato político. Vamos à luta. AGRADECIMENTOS A minha mãe Cecília e minha irmã Gabriela, minhas bases que me dão força para continuar no caminho que eu escolhi seguir, o teatro. Eu sei o quanto elas torcem pelas minhas conquistas. Gratidão e amor incondicional. A Nívia Maria, orientadora desse projeto, guiou-me em todo processo desta monografia. Gratidão e amor eterno. Ao Alessandro Fritzen, melhor amigo, irmão e confidente, que está ao meu lado em todos os momentos. Meu anjo. A Larissa Dias, minha atriz, que aceitou fazer parte da cena, foi e é muito importante para mim. Amiga para vida. A Natitta Morena, uma amizade regada de muito carinho e companheirismo. Seus conselhos sobre o amor próprio me ajudaram, tanto no processo deste trabalho, como pessoalmente. Ao Allan Christos e Letícia Félix, amigos amáveis. Letícia, por me incentivar a fazer teatro e ingressar na faculdade. E aos professores que passaram pela minha trajetória acadêmica que fizeram a diferença: André Latorre, Daniel Gonzales, Marcelo Braga, Marcelo Soler, Mauricio Mangini, Sabrina Caires e Zécarlos de Andrade. A todos os meus colegas da turma desse curso, pelo aprendizado com cada um deles. Aos membros da Cia. Teatro Documentário (Alessandro Fritzen, Aline Ferraz, Alan Paes, Carolina Angrisani, Danielle Lopes, Gustavo Idelbrando, Julia Moretti, Laila Lima, Marcelo Soler e Márcio Rossi), tenho um carinho e respeito por todos, pois me deram a certeza de que esse é o caminho que eu quero trilhar. Aos meus antepassados, principalmente meu pai Ronie, e, à minha vó materna Maria de Lourdes. Partiram dessa vida para uma a outra vida, mas creio que estamos ligados espiritualmente e que de alguma forma, eles estão satisfeitos com mais uma conquista minha. “Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.” (Cora Coralina) RESUMO O fundamento desta monografia partiu da encenação Solidão da Mulher Gorda, inserida nas disciplinas: Teatro Contemporâneo, Direção Teatral e Prática de Encenação e Teatro Contemporâneo e sua Mediação – Direção Teatral – Processo de Encenação, do curso de Licenciatura em Artes – Habilitação em Teatro – da Faculdade Paulista de Artes (FPA), cujo objetivo primeiro foi mergulhar no aprendizado do processo de criação de uma cena de direção. Trago à tona a discussão sobre o preconceito da Gordofobia, cada vez mais presente nos debates sobre o que é o padrão estético na sociedade atual, que contribui com o crescente empoderamento da mulher gorda em todos os contextos da vida moderna. Palavras-chave: Cena de direção; Empoderamento; Gordofobia. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................8 CAPÍTULO1: GORDOFOBIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA ATUAL..................10 1.1 O que é Gordofobia?...................................................................10 1.1.1 Dados sobre a Gordofobia no Brasil...........................................11 1.1.2 Acessibilidade.............................................................................12 1.1.3 Gordofobia no mercado de trabalho...........................................15 1.1.4 Gordofobia é doença?................................................................17 1.2. Mercado Plus Size........................................................................19 1.3. Gordofobia nas mídias..................................................................20 CAPÍTULO 2: O PROCESSO PARA UMA ENCENAÇÃO AUTO BIOGRÁFICA PERFOMATIVA........................................................................................................27 CAPÍTULO 3: A PROPOSTA DE ENCENAÇÃO A CENA......................................31 3.1. Uma proposta de encenação........................................................31 3.2. A cena em sua concretude...........................................................37 CAPÍTULO 4: A MULHER GORDA NÃO ESTÁ SÓ...............................................40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................44 8 INTRODUÇÃO “Ser gorda é um problema?”, “gordas são carentes”, “gorda que come salada quer emagrecer?”: são frases que fazem parte do cotidiano de quem está acima do peso, são muitos a ditarem que a obesidade é “ruim” para saúde. Por esses motivos resolvi levar essa temática para Cena de Direção. Mulheres que se expressam e enaltecem a sua beleza independentemente de como for, são mulheres que não brigam mais com o espelho e que não negam quem são. Elas resistem ao preconceito e lutam pelo respeito às diferenças. Trata-se de mulheres empoderadas que vêm conquistando aos poucos o seu espaço na sociedade atual, contribuindo para encorajar outras mulheres que buscam o seu amor próprio. Porém, a batalha é árdua, pelo motivo de que muitos se incomodam e não hesitam em despejar os seus discursos de ódio e de intolerância, mas é preciso força para resistir com as armas que temos, a minha foi pela arte, pelo teatro. A gordofobia é um preconceito eminente, presente na sociedade contemporânea, onde falta uma noção mais clara da real dificuldade em articular a defesa do combate à discriminação dos obesos. É necessário dar mais visibilidade, atualmente vários debates são travados, como também muitos embates, sendo um deles o argumento da saúde, pois, trata-se o excesso de gordura como sinônimo de doença e sedentarismo. Depois de muitas pesquisas, leitura de vários depoimentos e assistindo a vídeos sobre o tema, fiquei mais desperta para essa realidade que até então não enxergava, porque estou inserida no universo das mulheres consideradas gordas. Muitas questões minhas foram respondidas no processo de criação da cena “Solidão da Mulher Gorda”, principalmente a percepção das características que vinha carregando de uma mulher solitária, uma mulher insegura, uma mulher que acreditava que para ter um relacionamento amoroso bem-sucedido é necessário emagrecer e tantas outras insinuações que me foram dirigidas. A solidão da mulher gorda é real, ela existe. Exercitar esse olhar para si mesmo e admitir essa anulação é dolorido, mas esse movimento interior é fundamental para o autoconhecimento e tomada de consciência de si, o que contribui para o bem-estar mental e emocional. 9 Estamos num século, no qual todos querem falar o que pensam sem medir consequências desse ato, porém, não há mais tolerância para qualquer tipo de preconceito,por isso as manifestações estão mais fortes. O crescimento, principalmente, das mídias sociais, estimula esse tipo de debate e discussão, esse fato abriu espaço e vem dando força à voz dessas minorias. Outros meios também têm contribuído para ampliação deste debate, seja por meio do teatro, da pintura, da música, da dança, de vídeos para o Youtube, de textos e de manifestações nas ruas, todos esses meios tornam a discussão mais evidenciada e democrática. A arte sempre foi um meio de estimular o senso crítico em relação aos comportamentos humanos da vida em sociedade, bem como cumpre também o papel de provocar os repressores. No primeiro capítulo busco a definição do que venha a ser gordofobia na sociedade brasileira contemporânea, apresentarei o crescimento do mercado plus size e seus equívocos, o mercado de trabalho em relação a inclusão do obeso, acessibilidade e a gordofobia nas mídias. Neste primeiro capitulo, procuro embasar sobre o que é esse preconceito em diferentes âmbitos da sociedade e o quanto foi pertinente para o processo de criação da encenação. No segundo capítulo descrevo como foi a escolha da atriz para encenação, quais foram as minhas inspirações e a performatividade na cena. No terceiro capítulo é a proposta de encenação de como eu queria a cena e por fim explico como foi na sua concretude. No quarto capítulo avalio a encenação, trago depoimentos da atriz da cena e de uma espectadora e a minha última avaliação é as minhas impressões do público no geral. Esse projeto se tornou real e ainda reverbera. Acredito que consegui atingir de alguma maneira aqueles que ainda não tinham a percepção do quão é difícil se aceitar e ser aceita por ser gorda. Contudo, apresento o meu anseio em falar sobre a gordofobia e em mostrar quantos ensinamentos me foram dados, durante e depois da encenação. Compartilho essa experiência de como criar uma encenação, todas suas responsabilidades de uma diretora e a força por essa luta. 10 CAPÍTULO 1 - GORDOFOBIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA ATUAL Neste capítulo discorrerei sobre as várias formas de manifestação do preconceito contra a obesidade, a Gordofobia, latente na sociedade contemporânea. O destaque maior será para o universo feminino, as implicações desta discriminação em relação à saúde física e mental, à vida social e ao mundo do trabalho, como também destacarei as oportunidades do crescente mercado plus size. 1.1. O Que é Gordofobia? “É perfeitamente possível ser gordo e saudável. Assim como é possível ser baixo e saudável. Criou-se uma espécie de superstição em torno da gordura. Se você é gordo nunca se casará, nunca terá um emprego, nunca terá uma vida sexual satisfatória. Frequentemente os gordos adoecem não por causa da gordura, mas sim pelo stress, pela opressão a que são submetidos. Ninguém assume que está incomodado com a gordura, dizem que estão preocupados com nossa saúde” (WANN. Artigo "Gorda Sim, e Daí?", Revista Veja, 1999). 1 A Gordofobia é uma forma de discriminação presente em diversos contextos socioculturais, significando a desvalorização hostil e estigmatizada de pessoas gordas e seus corpos. Está disseminada não apenas nos tipos mais diretos de discriminação, mas também nos valores cotidianos das pessoas (ARRAES, 2017). Nos dias atuais, o corpo magro ganhou status de corpo ideal como nunca se viu em outros tempos. As mídias impressas, campanhas publicitárias exibem esse corpo, nu ou vestido, ditando a moda. É o sonho de consumo milhares de pessoas, nem que para isso, elas tenham que passar por intervenções cirúrgicas (bariátricas, plásticas), dietas de todos os tipos ou exercícios físicos dos mais variados (VASCONCELOS, 2004). A resistência da sociedade em admitir o preconceito dificulta o enfrentamento e o combate à Gordofobia, pela a ausência de reconhecimento da discriminação. “Isso acontece, porque é considerado aceitável intimidar e censurar quem é gordo, fazer observações constrangedoras sobre o que a pessoa gorda está comendo e utilizar todos esses comportamentos intrusivos como justificativos para uma falsa 1 Marilyn Wann é uma escritora norte-americana e principal nome do ativismo gordo. Disponível em: http://hp.unifor.br/pdfs_notitia/168.pdf (Acesso em 25 de outubro de 2017). 11 preocupação com a saúde do indivíduo. Mas mesmo a própria preocupação com a saúde de quem é gordo já demonstra indícios de Gordofobia, uma vez que se assume que aquele sujeito tem problemas de saúde só por ser gordo, enquanto pessoas magras não são abordadas e questionadas a respeito de seus níveis de colesterol, por exemplo. Acontece que, culturalmente, quem é magro é visto inicialmente como saudável, independente de outros fatores” (ARRAES, 2017).2 O universo feminino obeso é mais penalizado pela Gordofobia, tendo em vista os padrões estéticos e de beleza da sociedade. Giselli Souza, arquiteta e urbanista, comenta sobre a cobrança e o peso de se encaixar nesse padrão imposto: “Muitas vezes as mulheres magras não têm a sensibilidade de entender a diferença entre se achar gorda e ser gorda. Todas as mulheres sofrem cobranças para se encaixar em um padrão de beleza, mas ser gorda é sofrer essas cobranças em outro nível. Acho uma enorme falta de empatia quando uma mulher magra reclama que está acima do peso para uma pessoa gorda” (SOUZA, Revista Fórum, 2017).3 1.1.1. Dados sobre Gordofobia no Brasil A revista Superinteressante publicou dados do Ministério da Saúde divulgados em 2016, informando que “51% dos brasileiros estão acima do peso (sendo 17% obesos). Em 2011, eram 48%. De acordo com a análise, na rede pública, 54% dos estudantes que se acham “muito gordos” dizem que são vítimas de bullying. Nas escolas particulares, o índice é ainda mais alto 63%. Entre as garotas, 34% das que se consideram “muito magras” se sentem sozinhas quase sempre. Já no caso dos meninos, 19% dos que se encaixa nesse perfil se sentem da mesma forma. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE) 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma a cada cinco meninas brasileiras com idade entre 13 e 15 anos se acha gorda ou muito gorda. Entre as entrevistadas, apesar de 21,8% se considerarem gordas ou muito gordas, o desejo de perder peso atinge 30,3% delas” 2 Jarid Arraes é escritora, feminista, cordelista cearense. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/digital/163/Gordofobia-como-questao-politica-e-feminista/ (Acesso em 5 de janeiro de 2018). 3 Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/digital/163/Gordofobia-como-questao-politica-e- feminista/ (Acesso em 5 de janeiro de 2018). 12 Conforme a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), segundo o IBGE, o índice de obesidade está próximo de 60%. “Cerca de 82 milhões de pessoas apresentaram o IMC (índice de massa corporal, obtido através da divisão do peso pelo quadrado da altura) igual ou maior do que 25 (sobrepeso ou obesidade). Isso indica uma prevalência maior de excesso de peso no sexo feminino (58,2 %), que no sexo masculino (55,6%). De acordo com o estudo, o excesso de peso aumenta com a idade, de modo mais rápido para os homens, que na faixa de 25 a 29 anos chega a 50,4%. Contudo, nas mulheres, a partir da faixa etária de 35 a 44 anos a prevalência do excesso de peso (63,6%) ultrapassa a dos homens (62,3%), chegando a mais de 70,0% na faixa de 55 a 64 anos. A partir dos 65 anos de idade, observa-se um declínio da prevalência do excesso de peso, tanto no sexo masculino quanto no feminino, sendo mais acentuada nos homens, que na faixa etária de 75 anos e mais corresponde a 45,4% contra 58,3% do sexo feminino.Uma em cada quatro mulheres de 18 anos ou mais de idade (24,4%) era obesa em 2013, enquanto, entre os homens, o percentual era de 16,8%. Isso significa que essas pessoas tinham IMC maior ou igual a 30,. A obesidade chegou a 32,2% nas mulheres com idade de 55 a 64 anos, contra 23,0% nos homens” Esses dados trazem à tona a urgência da criação de políticas públicas voltadas para a saúde da população, por um lado, quando se trata de doenças causadas ou agravadas pela obesidade (comorbidades), e, por outro, considerando o volume da população obesa, igualmente faz-se necessário o combate à Gordofobia, que só piora esse quadro, porque envolve a saúde psicossocial. 1.1.2. Acessibilidade Temos um agravante que é a falta de acessibilidade para o gordo, existem os assentos para os obesos nos transportes públicos, mas ainda a catraca é estreita, o cinto de segurança do avião não serve e as cadeiras são frágeis sem o tamanho devido. O vídeo que a Alexandra Gurgel do canal Alexandrismos no Youtube fez especialmente sobre esse assunto, no qual algumas pessoas relatam constrangimento em relação aos assentos inadequados nas escolas onde foram realizadas as provas do ENEM/2017. No referido vídeo, Alexandra diz o seguinte: 13 “Gordofobia realmente está em todos os lugares, e afeta a vida das pessoas de uma forma estrutural...” (GURGEL. 2017) Imagem 01: Vídeo do canal Alexandrismos da Alexandra Gurgel onde o tema é sobre: ”Gordos, não façam o ENEM!” (2017) 4 Lamentável o quanto é preciso passar por desconfortos em público por pedir aquilo que é de direito como cidadão. Jarid Arraes fala o quanto é difícil a reivindicação dos nossos direitos: “Quase ninguém se sente livre para reivindicar seus direitos. Isso acontece porque a sociedade se incomoda com o espaço que as pessoas gordas ocupam e manifesta isso de diversas maneiras, seja lançando olhares de repulsa e reprovação ou chegando ao ponto de reclamar por qualquer benefício que alguém gordo possa conquistar.” (ARRAES, Revista Fórum, 2013). 5 Há uma lei que entrou em vigor desde 03 de janeiro de 2016 que trata da inclusão de pessoas com deficiência (Lei Federal nº 13.146/2015) e explica a diferença entre “pessoas com deficiência” e “pessoa com mobilidade reduzida”, isto é, a primeira é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que frente a uma possível barreira, pode deixar de ter igualdade de condições em relação aos demais. Já a que tem mobilidade 4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Wy8qIJZmQY8 (Acesso em 14 de janeiro de 2018). 5 Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/2013/10/14/acessibilidade-para-pessoas-gordas-um-ponto- esquecido/ (Acesso em 14 de janeiro de 2018). 14 reduzida apresenta dificuldade de movimentação permanente ou temporária, gerando redução da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção. Agora os obesos têm prioridade e acessibilidade em transportes e lugares públicos. Mas, infelizmente temos problemas com o cumprimento dessa lei, O presidente da Associação dos Portadores de Obesidade do Acre (Apoac), Edvanilson Carvalho, alega que a lei é seguida parcialmente: “A mudança ocorreu entre aspas. Até coloquei que a pessoa que se sentir lesada deve nos procurar para mover uma ação pelo Ministério Público (MP-AC). Se existe uma lei, ela deve ser cumprida totalmente na maneira como foi determinado. Sentimos muito essa deficiência principalmente em restaurantes e bares. Essa semana mesmo, fui com um grupo em um local e as cadeiras eram pequenas e desconfortáveis. Já o cinema melhorou muito" (CARVALHO, G1 notícias, 2016). Edvanilson comenta que, muitas pessoas que fazem parte dessa associação desistiram de usar transporte público por quanta da intimidação, e ele lamenta que por mais que tenhamos a lei em vigor ela não é respeitada: "É muito triste. As pessoas entram no ônibus e os outros passageiros ficam torcendo para ver se o obeso vai passar ou não na roleta. Então, muitos estão optando por comprar motos, infelizmente, é a realidade. Somos discriminados por sermos obesos e ainda temos que passar por esse tipo de constrangimento. Somos pessoas também e só queremos respeito e viver com dignidade" (CARVALHO, 2016) “Uma lei proposta pelo deputado Rogério Nogueira, do PDT, em vigor desde 2008, obriga cinemas, teatros, casas de shows e empresas de transporte público a assegurar, no mínimo, duas cadeiras especiais, mais espaçosas, para quem precisar delas. Com isso, vagões e estações de metrô ganharam assentos de 88 centímetros de largura e com capacidade para suportar 300 quilos (os demais têm 50 centímetros). Em casas de espetáculos como Credicard Hall e Citibank Hall, quem é obeso pode solicitar lugares maiores antes de comprar o ingresso, sem ter de pagar mais por eles. Já a rede de cinemas Cinemark admite que ainda está se adaptando. Em apenas parte de suas salas, o braço de algumas cadeiras pode ser levantado para que o espectador tenha mais espaço. Os complexos a serem lançados a partir do ano que vem terão poltronas para gordinhos, e parte das plateias atuais será adaptada. O Procon lembra que quem não consegue usufruir o 15 ingresso devido a esse aperto deve reivindicar a devolução do dinheiro.” (BERGAMASCO, Daniel. G1 notícias, 2017). Quando se trata de reivindicar os seus direitos de pedir o dinheiro de volta, não se tem tanta reclamação por parte dos obesos, como alega a Andrea Sanchez, da diretoria do órgão de defesa do consumidor: “Mas, por incrível que pareça, não recebemos reclamações assim de obesos, ao contrário do que acontece com cadeirantes, já habituados a reivindicar seus direitos de acessibilidade” (SANCHEZ, 2017). Sabe aquelas máquinas de ressonância de laboratórios de diagnóstico de imagem? Então, elas não suportam pessoas com mais de 120 quilos, e muitas que precisam desse exame não têm condições de serem atendidas para a realização do mesmo, cuja solução é realizar o exame em máquinas veterinárias para equinos, ou seja, mais uma evidência de que há uma desumanização do indivíduo gordo. E por mais que as leis ditem a obrigação da acessibilidade para os obesos em todos os âmbitos: restaurantes, bancos, universidades, transporte público, avião e etc, o corpo gordo não tem os seus direitos garantidos e infelizmente está impedido de circular livremente. É muito urgente a falta de acessibilidade para as gordas(os) e isso só gera menos inclusão ocasionando mais separação entre magros e gordos, trazendo uma baixa estima e não aceitação, porque se o corpo do gordo continuar sendo marginalizado, o índice de pessoas que ficarão doentes por não aguentar a pressão estética só vai aumentar, entretanto, com uma implementação estrutural referente a acessibilidade do obeso, haverá maior auto aceitação e menos discriminação e com certeza a autoestima. 1.1.3. Gordofobia: Mercado de Trabalho Como dito anteriormente, a Gordofobia está presente no dia-a-dia, em diversos ambientes, inclusive no mundo do trabalho, onde a mulher é mais discriminada do que o homem. Especialistas em recrutamento ressaltam que a discriminação contra as mulheres gordas no mercado de trabalho não é algo generalizado, mas está presente e acontece devido ao preconceito criado pelos próprios recrutadores. 16 Segundo o artigo de Ana Paula Lisboa, Claudia Lemoine, conselheira de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), defende que a imagem corporativa deve ser separada da beleza: “Questões básicas de higiene pessoal e roupas adequadas é que devem ser cobradas. Quando passa disso, trata-se de um processo de discriminação estética”, de acordo com AmaliaRaquel Pérez-Nebra. É o caso de quando a empresa impõe que a funcionária alise o cabelo e use maquiagem. Segundo Lemoine: “o modelo de vestimenta e aparência no trabalho, em geral, vai ao encontro dos padrões que a sociedade estabelece e determina”. E afirma como a sociedade é permeada por preconceitos, o mercado de trabalho os repete. Concluindo a posição de Lemoine: “Uma empresa que faz discriminação (estética ou de outro tipo) com funcionários ou potenciais funcionários, discrimina também os clientes. É uma estupidez querer restringir a mão de obra a um padrão, pois, se não há diversidade dentro da instituição, perde-se a chance de trabalhar com isso estrategicamente, sendo capaz de criar soluções para um público diverso. É uma atitude disfuncional”. (LEMOINE. 2016) A Catho Online, empresa de recrutamento, divulgou pesquisa sobre o mercado de trabalho, realizada com profissionais de alta gerência. A conclusão foi que, dos 16 mil entrevistados, 59,1% admitiram ter algum tipo de objeção na hora de contratar funcionários obesos. Demonstração de Gordofobia empresarial. Hoje é comum ouvir os discursos: "as pessoas gordas são lentas"; "as pessoas gordas são preguiçosas"; "as pessoas gordas são obcecadas por comida". São pré-formados, reiterados e disseminados no cotidiano, que só colaboram para a marginalização de quem faz parte desta fatia da sociedade (CALAÇA, 2017). De acordo com o artigo de Antônio Alves dos Santos, Melina Graf, gerente de Planejamento de Carreira da empresa Xavier Recursos Humanos, muitas vezes ocorrem casos em que pessoas obesas são preteridas em processos seletivos. "A empresa julga que eles podem ter problemas de saúde, faltar no trabalho para ir ao médico ou algum tipo de dificuldade que envolva o esforço físico". Afirma Graf: "O importante é a forma como ela pode contribuir para a empresa e os resultados que pode gerar. Infelizmente as pessoas acabam sendo estereotipadas pelo seu tipo físico. Nestes casos, precisam provar que esse pré-conceito não é verdadeiro. E isto é demonstrado com o trabalho no dia a dia. Se o trabalho não exige esforço físico, a agilidade e a performance podem ser iguais para todos" (GRAF, 2010). mailto:anapaulalisboa.df@dabr.com.br 17 Apresento um trecho da matéria que retirei da revista Superinteressante escrita por Alexandre Rodrigues, onde levanta casos de pessoas que enfrentaram o preconceito por serem obesos: “Ser gordo também pode ser um problema para quem quer entrar no serviço público. Em 2011, cinco professoras aprovadas em concurso não puderam entrar para o funcionalismo paulista devido à obesidade. E há o caso de Ricardo Duailibe Leitão, aprovado para a vaga de fiscal de rendas do Estado de São Paulo em um dos mais difíceis concursos do País e reprovado no exame médico. O motivo: com 127 quilos, é considerado obeso. “Todos os meus exames estão dentro da normalidade, faço exercícios regularmente e meu físico não representa nenhum entrave no meu cotidiano”, afirma Ricardo. Mesmo assim, não conseguiu convencer um perito de que seu IMC, de 44,4, não significa falta de saúde. Só após perder dez quilos e passar por uma junta de três profissionais é que foi aceito no emprego. Ele reclama: “Só quem é gordo sabe o que é isso. Em todo lugar tem alguém dizendo que você deveria fazer um regime”. A Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo se defendeu: “não decorre de atitude excludente ou preconceituosa e sim pelo quadro de saúde ir de encontro ao Estatuto do Funcionalismo Público”. Segundo o comunicado, as perícias levam em conta o período por que deve se estender a carreira do funcionário.” (RODRIGUES, 2016). Roberto Justus, um grande empresário e apresentador da TV, alegou em uma entrevista para Marília Gabriela em 2013, que não contrata pessoas gordas: “o que eu vou falar é polêmico, mas diante de dois candidatos com experiências e currículos parecidos, o critério de desempate é a aparência.” (JUSTUS, 2013). Choca essa conduta por parte de uma pessoa que está na mídia, que tem uma visibilidade muito significativa, em que ele propaga um discurso gordofóbico. A Gordofobia sempre existiu, sempre houve ataques indiretos e diretos, só que hoje está mais notório. 1.1.4. Gordofobia é Doença? De acordo com o artigo publicado na revista Galileu, um dos mitos atuais em relação à obesidade é que pessoas gordas não são saudáveis apenas por serem gordas. A obesidade é identificada com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), conforme dito anteriormente. Esse índice é uma classificação da antropometria, um segmento da antropologia que mede o corpo humano e suas 18 partes, e começou a ser usado a partir do século 19 para definir normas sociais sobre o que seria um “corpo humano normal”. Conforme um estudo recente encabeçado por psicólogos da Universidade de Los Angeles (Ucla) apontou que usar o IMC para determinar índice de saúde levou à classificação incorreta de 54 milhões de americanos saudáveis como “doentes”. De acordo com a pesquisa, que cruzou dados de IMC com os de exames laboratoriais, quase metade dos norte-americanos considerados acima do peso conforme seus índices de massa corporal são saudáveis, assim como aproximadamente 20 milhões de obesos. Além disso, mais de 30% das pessoas com o IMC considerado normal na verdade não estão saudáveis A partir do estudo citado acima: Obesidade não é sinônimo de doença, assim como magreza não é sinônimo de saúde. Afirma Francisco Blotta que “sobrepeso não é necessariamente resultado de comida em excesso ou falta de atividade física”. Abaixo, o endocrinologista aponta alguns fatores comprovados cientificamente: Falta de sono - Segundo uma pesquisa do King’s College London, pessoas que dormem menos de sete horas por dia consomem, em média, 385 calorias diárias a mais do que aquelas que dormem; Condições socioeconômicas - Uma pesquisa desenvolvida pelo Ministério da Saúde apontou que o excesso de peso está ligado à escolaridade: 57,3% dos brasileiros com até oito anos de estudo estão com excesso de peso, enquanto aqueles com mais de 12 anos de estudo fazem o índice cair para 48,4%. Medicamentos - Alguns remédios e até anticoncepcionais formulados à base de estrógeno colaboram no ganho de peso. Desequilíbrio hormonal - Um desequilíbrio na glândula tireoide pode causar o hipotireoidismo, que desacelera o metabolismo, o que dificulta o gasto de energia e retém sal e água, levando ao inchaço. Genética - Estudos realizados com gêmeos mostram que a genética influencia nosso peso entre 40% e 70%. Há inclusive genes associados ao acúmulo de gordura, como o FTO — um levantamento recente publicado na revista Nature comprovou que ratos sem esse gene nunca ficam obesos, mesmo comendo muito e se movimentando pouco (BLOTTA, 2017). 19 De acordo com o exposto, vários são os fatores que podem estimular a obesidade, sendo imprescindível um acompanhamento profissional detalhado para um diagnóstico correto. Portanto, vale a afirmação de que é preciso haver um entendimento por parte da sociedade contemporânea, de que o estar gordo não necessariamente significa estar fadado às doenças, e, a conscientização de que a estética não dita o caráter, personalidade ou capacidade de um ser humano. Somos seres sociais que precisamos viver em harmonia com nossos corpos e o nosso meio, respeitando a individualidade de cada um seja ela como e qual for. 1.2. Mercado Plus Size Conforme publicou a folha UOL em julho desse ano, o mercado plus size vem crescendo e tem capacidade para crescer muito mais, abaixo seguem as estatística e estimativas no Brasil: Comparação entre 2015 e 2016: a produção de vestuário feminino aumentou em 2,9% e o vestuário adulto em geral teve queda de 1,3%. Estimativa para 2017: vestuário plus size no geral prevê crescimento de 8,2%,sendo 9,3% vestuário feminino e o vestuário adulto em geral prevê crescimento de 4,7%. Produção feminina das empresas: hoje existem 19.439 empresas produzindo moda feminina, sendo 30,4% (5.909 empresas), investindo em moda plus size. É um mercado promissor, pois afirma o artigo que a demanda ainda é menor do que a procura. Laura Navajas, diz que “Ainda existe muito espaço para o mercado plus size, pois, são poucas as cidades que têm lojas multimarcas especializadas”. As capitais aparentam serem cidades em que este segmento já está esgotado, mas ainda assim há bairros que comportariam receber uma loja especializada (NAVAJAS, 2017). Já o portal do varejo informa que os números comprovam: segundo dados do IEMI – Inteligência de Mercado, existem 19.439 empresas que produzem moda feminina e 30,4% delas produzem plus size feminino e quando o assunto é moda masculina, apenas 19,8% das 14.339 empresas existentes atuam no plus size. “Ainda é um segmento pouco explorado, tanto por lojistas quanto pelos designers e produtores de roupas. Isso, porém, já está mudando, porque existe uma demanda 20 mal suprida de consumidores desejosos por serem tratados como tal”, analisa Marcelo Prado, diretor do IEMI. O Sebrae aponta que o mercado plus size gera muitos negócios, afirma que cresce 6% ao ano, mas tem força para ser maior que isso. Sempre existiu esse mercado que produz roupas com numerações maiores, mas ainda há equívocos em atender exatamente o que esse público anseia, às vezes muito fora de alcance (preço, local etc), e por muitas vezes com mínima representatividade em relação as poucas modelos, como ouvi uma vez de um autor desconhecido: “nem toda mulher gorda é plus size e nem toda plus size é gorda”, a partir desse quesito o mercado tem potencial para crescer mais, se houver maior representatividade da diversidade de oferta de acordo com os estilos dos nossos corpos, e, se houver a necessária compreensão desse segmento, a tendência do plus size crescer é maior ainda do que os dados apontam. 1.3. Gordofobia nas Mídias Quando as emissoras de televisão, que têm um poder midiático muito forte, discutem um tema como a Gordofobia em algum programa da sua grade de programação, temos um debate contraditório, porque querem falar sobre a Gordofobia, mas não levam convidados que realmente são empoderados que sofreram severamente o preconceito e que estão na luta pelo amor próprio. Infelizmente, na maioria das vezes os convidados são os que não são gordos mais e os que estão gordos e necessitam emagrecer. A grande pauta é sobre a obesidade, e os seus males e o quanto é prejudicial, logicamente, é preciso falar sobre isso também, mas não é estigmatizar o gordo, e afirmar que todo gordo é doente, tem que ter o outro lado que demonstra o quão isso é problemático. Não generalizemos as programações, por exemplo, o programa “Como será?” apresentando por Sandra Annenberg, exibido na emissora da Rede Globo, teve uma matéria muito especial, no quadro: “Heróis possíveis para causas impossíveis” que trouxe a história de uma mulher negra, periférica, gorda e rapper, Joyce Fernandes, melhor, Preta Rara, ela é conhecida por esse apelido, e é assim que gosta de ser chamada. Ela relatou um pouco da sua trajetória de vida e das discriminações que 21 sofreu. A exibição do programa é no período da manhã, onde a audiência é baixa. Vale o questionamento: porquê não passar esse tipo de matéria no horário onde a audiência é maior? Precisamos ouvir mais dessas mulheres batalhadoras, precisamos saber dessas histórias, para enxergar os comportamentos diários diante do preconceito, como o caso da Preta Rara, o racial e o gordofóbico. Imagem 02: Capa do vídeo do quadro do programa “Como será” (exibido dezembro de 2017) 6 É claro que a mulher gorda fica a margem dos holofotes – revistas, campanhas publicitárias - obviamente temos propagandas que temos uma mulher gorda, mas nunca evidenciada, sempre atrás da mulher magra, tudo isso vem mudando aos poucos, a moda plus size só cresce, e o seu lugar está sendo conquistado, e de tirar esse corpo gordo que é colocado num lugar diferente dos demais. Nas telenovelas, temos os protagonistas com os seus conflitos e anseios e temos todo o elenco em suas posições dentro da história contada. Onde está a gorda na trama? Num papel de coitada, de piada, de carente, sexualizada, de ser a engraçada. Os aspectos da mulher gorda na história fictícia: É querer atingir o mesmo nível da protagonista, ser magra. O seu corpo se expressa de uma maneira coagida e com muitas inseguranças, sempre cabisbaixa. A inteligente, porque é preciso ser inteligente para suprir aquilo que não se têm fisicamente, um corpo magro. 6 Disponível em: http://g1.globo.com/como-sera/noticia/2017/12/herois-possiveis-para-causas- impossiveis-preta-rara.html (Acesso em 5 de janeiro de 2018). 22 Tem uma paixão platônica por alguém. Sempre está comendo algo. Fetichizada. O agravante da telenovela é reafirmar que o biótipo do corpo gordo se limita a essas características citadas acima e de ser considerada digna de pena. Isso se repete nos filmes e no teatro também, destina-se à mulher principalmente. Ao gordo sempre é destinado o papel secundário. Não é aceitável assistir a essa desconstrução do “papel gordo” no meio artístico. Jarid Arraes afirma que: “É necessário lutar contra a imposição de padrões, seja de aparência, roupas ou comportamentos. Cuidar de si mesmo e amar outras pessoas significa não constrangê-las e envergonhá-las“ (ARRAES, 2016). O que chama a atenção na última novela da emissora Rede Globo: “A força do querer” (abril a outubro de 2017) da autora Glória Perez, na qual ela trouxe vários temas pungentes presentes na nossa realidade, destaca-se a estória de uma personagem chamada Abigail, interpretada por Mariana Xavier. Que demonstra alguns pontos interessantes: Abigail é uma mulher gorda, tem muitos amigos e é divertida, não foi colocada num lugar relativo àquelas características negativas apontadas no parágrafo anterior, pelo contrário, é uma mulher empoderada. Não apresentava aquele discurso de autoafirmação, ou seja, de quanto a mulher gorda sofre, ela se pôs num lugar de uma mulher que não é diferente das demais e que nada se limita ao seu corpo físico, sua trajetória na história é viver outros conflitos, ser gorda é o de menos. Bastante positiva essa visibilidade por um lado, por outro, não teve tanto foco, mas o importante é ir quebrando esses paradigmas, é aos poucos que se conquista o mais. Aguardemos mais personagens como o da Abigail, personagens que através da ficção, nos leva para a compreensão de que o corpo, a estética, a forma, não é o que define ser alguém dentro da sociedade. Somos manipulados a consumir o que é posto na mídia, se está na mídia, porque é algo que pode ser seguido, pois é um exemplo de sucesso. Como diz a Fernanda P. Garcia do blog “série por elas” de um trecho tirado do texto “Precisamos falar sobre a Gordofobia na TV”: 23 Mas é preciso apenas um pouquinho de empatia para imaginar o quão pesado é o fardo de não encaixar-se nos ideais de beleza de uma sociedade e não poder ver-se representada em nenhum meio de comunicação de forma amigável, responsável e digna. (GARCIA, 2016). Imagem 03: Abigail, personagem interpretado por Mariana Xavier na novela “A Força do querer” em 2017. 7 Tivemos uma personagem na novela Alto astral, exibida na emissora Rede Globo (novembro/2014 a maio/2015), interpretado pela Raquel Fabbri, a Bia, formada em psicologia, ficou obesa depois que os pais morreram e não conseguiu emagrecer mais, nunca teve namorados, e refugiava-se nos estudos, sofria bullying de seu irmãoGustavo (Guilherme Leicam), apaixonada pelo médico Israel (Kayky Brito). Bia uma gorda cheia de complexos, com um irmão que representa tudo aquilo de negativo que todas as mulheres nessa condição sofrem, explicita a forma como se esconder de tudo e de todos, essa auto depreciação do seu corpo prevalece em toda a novela. Mais para o final da história a Bia dá um “salto” na sua vida, se tornando uma modelo plus size, quando começa a se enxergar, ver o quão é linda e tudo fica bem. O médico Israel vê o quanto é apaixonado por ela e decide se relacionar seriamente, o seu irmão se arrepende de todos os seus ataques preconceituosos e o perdão é concedido, não houve em nenhum momento algum discurso criticando seriamente esses atos. E o mais curioso é que todos torcem por ela, com pena, mas torcem, se compadecem dessa paixão não correspondida por Israel, aparentemente é um casal que encanta e todos anseiam para que fiquem juntos, mas de alguma forma, muito sútil ela se torna uma história impossível para 7 Disponível em: https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/noticia-da-tv/2017/09/mariana-xavier-fala- sobre-final-de-biga-em-a-forca-do-querer (Acesso em 29 de janeiro de 2018). 24 realidade e só possível na ficção. Eis o que concluímos dessa história: o telespectador acompanhou uma história cheia de estereótipos de uma mulher solitária e esse foi seu grande conflito em todo o folhetim. Observa-se que quando os autores escrevem histórias como essas ou semelhantes, o intuito é criticar o comportamento das pessoas em relação à gordofobia, mas o que pecam é que isso se repete e acaba virando um estereótipo, porque já está no senso comum, é crônico, é necessário que tenha uma mudança na construção dessas personagens, porque a teledramaturgia atinge a grande massa de quem tem acesso aos meios de comunicação, o que pode contribuir para alguma forma alienação no que diz respeito a todo e qualquer assunto da atualidade. Na imagem abaixo temos a atriz Nathalia Dill e a Raquel Fabbri, elas contracenavam como irmãs na novela, lembrando que a Nathalia era a protagonista. Observe o quanto é nítido a opressão que a personagem da Nathalia causa na outra: Imagem 04: Da esquerda para direita, Laura (Nathalia Dill) e Bia (Raquel Fabri) personagens da novela “Alto Astral” em 2015) 8 Provavelmente nessa cena, elas estão sofrendo juntas por algum conflito da trama, mas trago essa foto para ilustrar a representação dentro da teledramaturgia 8 Disponível em: http://gshow.globo.com/novelas/alto-astral/vem-por-ai/noticia/2015/04/laura-de scobre-quem-matou-o-seu-pai.html (Acesso em 14 de janeiro de 2017). 25 de como a mulher gorda é diminuída e o quanto o magro tem destaque maior. É bem difícil essa representatividade da gorda nas telenovelas, uma imagem completamente negativa, mostra mulheres que são solitárias e que precisam se reafirmar no mundo com outras qualidades, para suprir aquilo que não têm no seu físico. As redes sociais têm o poder de mobilizar muitas causas e faz a diferença em diversas pautas que são debatidas dentro das plataformas que possibilitam essa discussão. Temos vários casos de ataques covardes de homens machistas e até mulheres que compartilham desse mesmo pensamento, que criticam severamente por se sentirem incomodados por existirem mulheres empoderadas que são gordas e que lutam por uma posição com mais respeito e dignidade dentro da sociedade, o mínimo que devemos reivindicar sempre. A questão que por esses ataques, felizmente essas mulheres não se calam e colocam isso em evidência, causando a comoção de muitas pessoas com empatia que não suportam esse tipo de intolerância também e querem combater esse mal. A internet e o comportamento humano diante dessa mídia faz com que todos tenham a total liberdade de falar o que quiserem e difamar quem quiserem. Esse tipo de indivíduo se esconde atrás de um computador, celular, para atacar ou descontar todas as suas inseguranças e infelicidade por puro prazer de causar polêmica. Mas o grande ponto é que não se pode deixar impune o agressor. Acompanhamos o quanto é diário um comentário preconceituoso, é dever impor respeito e manifestar firmemente posição contrária, para acabar com esse tipo de ataque, seja o caso de maior ou menor grau. Em contrapartida, temos algumas matérias de jornais digitais e de blogs que têm um compromisso sério com que publica e nos traz esse assunto mais à tona São entrevistas com mulheres e homens que falam sobre a gordofobia de uma forma aberta e real. Está tendo uma procura sobre esse tema, e consequentemente isso gera compartilhamentos nas redes sociais, o que promove a interação de mais pessoas que precisam entender melhor e compreender essa realidade. Quando assistimos a uma peça teatral que temos uma gorda(o) em cena, a crítica sobre essa personagem é a sua luta, não o sofrimento, e sempre tentando fugir da negativa imagem criada do corpo gordo. Envolver-se com o teatro é se 26 libertar de algumas amarras, despertar para um mundo que precisa ter senso crítico, ter uma mente aberta, saber lidar e dosar com que a sociedade impõe, contrapondo os seus princípios e formando a suas opiniões que prezam por um respeito às diversidades. 27 CAPITULO 2 – O PROCESSO PARA UMA ENCENAÇÃO AUTO BIOGRÁFICA PERFOMATIVA No sexto semestre do curso de licenciatura em artes – habilitação em teatro, os alunos têm que apresentar uma Cena de Direção (exercício cênico que cada um deve dirigir individualmente, mostrando os conceitos ensinados nas disciplinas Teatro Contemporâneo, Direção Teatral e Prática de Encenação e Teatro Contemporâneo e sua Mediação – Direção Teatral – Processo de Encenação), em certo momento, sabia que minha encenação seria sobre a Gordofobia. Assisto muitos vídeos no Youtube e um vídeo me chamou atenção do canal Alexandrismos da Alexandra Gurgel 9 – ela se denomina como Body Positive 10 – com o título: “A solidão da mulher gorda é real”. O tema do vídeo é a Gordofobia, e o foco é questionar o quão é difícil essa luta da mulher gorda, a sua visibilidade na sociedade e o estigma de solitária e carente. Ao final do vídeo, percebi o quanto me identifiquei com todas as características que ela apontou, e o quanto anulei o meu corpo até então. Imagem 5: Alexandra Gurgel no vídeo do seu canal do Youtube com o tema: “A solidão da mulher gorda é real” 11 Entrei em contato com a Alexandra Gurgel através de mensagem direta pelo Facebook, e contei um pouco da dificuldade de aceitação do meu corpo, e da 9 Jornalista formada pela PUC- Rio e Youtuber (criador de vídeos para o Youtube), desde de outubro de 2015. 10 “Na tradução literal do inglês, significa imagem corporal positiva. É você ter um olhar positivo e sincero para com a sua imagem e também a dos outros” (GURGEL, Alexandra. Blog Ju Romano. 2017). 11 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rC01h9GHGLI (Acesso em 12 de janeiro de 2018). 28 iminência de dirigir uma cena com o tema que foi abordado em seu vídeo, logo ela respondeu carinhosamente e deu apoio para seguir em frente com a ideia, e com esse incentivo segui firmemente na construção da cena. Neste momento vi minha mente se abrindo para diversas possibilidades de quais escolhas estéticas utilizar para trazer isso em cena. Tentando conter a empolgação, precisava ser mais prática possível, por conta dos prazos que precisava cumprir, tinha claro o que queria expor, e optei em trabalhar de uma forma mais objetiva, criarum esboço de onde queria chegar, visualizar a encenação e depois ver para onde a cena estaria caminhando e para qual vertente eu estava seguindo. Decidi trabalhar apenas com uma atriz – alguém que sofrera do mesmo preconceito. Acredito que ter somente uma atriz na encenação representaria todas essas mulheres que sofrem e já sofreram desse preconceito, mulheres, que como eu, estão passando pela evolução da auto aceitação, um processo que é individual, de se enxergar verdadeiramente, de entender seu peso, de perceber a pressão que a sociedade joga em cima desse processo. O foco da cena era evidenciar essa mulher que está sozinha enfrentando as suas angustias de querer se libertar dessas amarras. O primeiro convite foi para atriz, e aluna do mesmo curso que eu, Letícia Félix, já conhecia o seu trabalho como atriz, e da sua preferência de sempre trabalhar com o professor e diretor Daniel Gonzales, um apreciador da performatividade e performer cuja as últimas montagens as quais dirigiu na FPA possuem forte linguagem performativa. Infelizmente por motivos pessoais ela decidiu não aceitar o convite, compreendi a sua decisão sem questioná-la por isso. Na verdade, percebi nessa negação, que ainda temos mulheres que não se sentem à vontade em falar sobre a Gordofobia, e isso fez com que a minha necessidade de falar disso foi ainda maior. O segundo convite foi para atriz, e também aluna, Larissa Dias. Sem hesitar ela aceitou o convite antes mesmo de expor as minhas ideias para encenação. Conheci o trabalho da Larissa em uma montagem da FPA chamada Leite de Copo (texto do ex-aluno Bruno Canabarro e direção do professor Daniel Gonzales, em julho de 2016), e a a revi em sua participação na Cena de Direção de um colega da minha turma, na qual o tema era o mesmo: Gordofobia. 29 Imagem 6: Larissa dias na Performance Leite de Copo em julho de 2016 12 O tempo era curto então tivermos muitas conversas online, depois de tantas conversas e troca, pedi para que escrevesse um texto de como ela se sente sendo essa mulher gorda e como ela sente que os homens e a sociedade a enxergam, tendo em base a solidão da mulher gorda. Sabia da habilidade de minha atriz em escrever poeticamente e tinha certeza que o texto caberia em minha encenação. “Tentam me encaixar a força, em moldes que não me pertencem. Fetichizam o meu corpo. As minhas curvas são como uma estrada para curtir o feriado. Mas nunca ficar...Dar só uma voltinha. PAREM de nos tratar como objeto de desejo e de consumo. Somos gostosas sim! Nossas curvas são poesia, SIM! Mas isso aqui, é só matéria, carne e osso... Você consegue ver além disso?” (DIAS, LARISSA. 2016) 13 . Percebi a potência da sua pequena dramaturgia e decidi que não escrevesse mais nada além dela. Uma dramaturgia curta, mas que trazia todo o resumo daquilo que causa a solidão da gorda e o quanto isso é limitado e sofrido. Durante os encontros conversamos sobre a minha proposta de encenação e a atriz sugeriu de seguirmos para algo mais performativo, algo que inconscientemente já estava sendo encaminhado desde a minha escolha da própria atriz. Decidimos 12 Foto tirada por Iara Marcek. Disponível em: https://www.instagram.com/p/BHD-SUyAtUT/?hl=pt-br&taken- by=heylarisss (Acesso em 29 de janeiro de 2018). 13 Dramaturgia criada pela atriz Larissa Dias, na qual foi o texto da encenação. 30 também que não haveria muito o que se ensaiar, seria algo mais espontâneo, único e genuíno. Quanto a performatividade da cena, cabe dizer que meu primeiro contato com esta fora durante o semestre de preparo da Cena de Direção, em minha última montagem da FPA. Na verdade foi o meu único contato com a performatividade em cena. O choque que levei de desconstrução de um corpo dramático para um corpo presente e performativo foi no mínimo desafiador. Analisando as características da Performance, as que se é possível analisar, percebo que coube na encenação, em tudo como foi apresentado, pois inclusive não me limitei a essa linguagem, a cena ia além. Acredito que essa minha experiência com a performatividade e principalmente pelas sugestões da atriz que já vinha com essa consciência performática por conta das suas experiências com o mesmo, fora bastante pertinente dento da proposta. 31 CAPÍTULO 3 – DA PROPOSTA DE ENCENAÇÃO A CENA A Proposta de Encenação é o trabalho escrito que fora avaliado junto da Cena de Direção descrita até o momento. Desde o penúltimo semestre do curso de Licenciatura em Artes – Habilitação em Teatro os alunos são instruídos para esta escrita pelos professores da disciplina Teatro Contemporâneo, Direção Teatral e Prática de Encenação no quinto semestre, que tive a sorte de ser o Professor Marcelo Soler, e da disciplina Teatro Contemporâneo e sua Mediação – Direção Teatral – Processo de Encenação, no sexto semestre, que foi o Professor Jairo Maciel. Próximo ao momento de apresentar a Cena de Direção os alunos devem escrever a proposta de como idealizam sua cena, colocando todos os detalhes técnicos e artísticos. Muitas vezes, depois de entregue a Proposta de Encenação, ocorrem imprevistos e adaptações ao tempo e espaço, e parte que se queria alcançar com a proposta pode-se mudar no dia da apresentação. A Proposta será entregue dias antes da cena, pois professor deve estar ciente de como será a encenação. Escrever a encenação é importante, sem dúvida, porque é um objeto de análise e de estudo de como a idealizei e para onde ela foi na sua realização, bem como quais foram os erros e acertos da construção da cena. Neste capítulo irei expor a Proposta de Encenação e a sua concretude, as mudanças e quanto isso fez diferença para o resultado final. 3.1 Uma Proposta de Encenação A identificação com a arte da interpretação na adolescência em meados de 2010 era forte e sempre com uma vontade de estudar e conhecer mais, mas infelizmente não consegui explorar na época. Três anos depois, decidi fazer uma oficina de teatro dentro do cursinho pré-vestibular, e na conclusão da oficina percebi o quanto foi revelador e positivo o meu empenho com o teatro. Nesse período não tive apoio suficiente para a decisão do teatro como profissão, caso eu quisesse prosseguir nessa ideia de fazer um curso superior nesta área. Mas mesmo com esse obstáculo, a “semente que foi plantada” de querer fazer teatro estava crescendo. O 32 contato com pessoas dessa área fora intensificando, portanto, e logo escolher a graduação em teatro mudou de desejo para decisão. Um ano depois, em 2014 iniciei curso de licenciatura em artes – habilitação em teatro na Faculdade Paulista de Artes (FPA), e nesses três anos da graduação houve muitas mudanças significativas na minha vida, foi tudo muito intenso. Com certeza com toda essa base que tive e as orientações e aprendizados me impulsionaram em continuar nessa carreira. Cheguei ao último semestre do curso em que tenho que pôr em prática tudo que aprendi sobre a direção teatral, ou seja, dirigir uma cena como chamamos na FPA de Cena de Direção. Esse momento é de colocar todo o conhecimento que aprendemos no decorrer do curso em cena. Assim como fora minha luta para entrar em uma graduação que desejava, contra todos que tinham ideias contrárias, os anos na academia me ajudaram a abrir os olhos para um assunto pessoal que eu por diversas vezes também lutei para aceitar e ser aceita: meu corpo. E é por isso que o temo de minha Cena de Direção será a Gordofobia. A Gordofobia é um preconceito que vivo por estar numa condição de gorda, na qual a maioria das pessoas nesta condição é rejeitada pelos padrões estéticos impostos pela sociedade contemporânea.Se trata de um assunto delicado, pois é um male enraizado nas pessoas, está no senso comum que ser gorda não é um “estilo” de vida e sim um problema de saúde e estético. Com muito cuidado e firmeza trarei para cena a busca do amor próprio, com o foco na mulher gorda, na solidão desta mulher que sofre diariamente esse afastamento. Falar sobre Gordofobia dentro de um curso de artes, especificamente teatro, se faz mais necessário ainda, pois a ditadura da beleza é bem incisiva nesse meio. Já se perguntou quantas vezes vimos uma gorda num papel de “mocinha”, de protagonista? Pouquíssimas. O papel do gordo, tanto para o teatro quanto para teledramaturgia, é sempre de comicidade, personagens de pouca visibilidade, submissas, carentes, solitárias, a parte cômica do espetáculo, fetichizada, sem contar com a disputa que existe nos bastidores e as inúmeras humilhações que passam para ter uma inclusão devidamente respeitável. 33 Não generalizo, porque o teatro dá um espaço para que os artistas se manifestem da forma que escolher para expressar questões atuais da sociedade, manifestando, despertando e evidenciando a crítica social para ser debatida em cena, sempre em equilibro com o espírito sensível e artístico, e temos grupos de teatro que desconstroem esse corpo e evidenciam a ideia de que não existe o corpo ideal. Posso citar, inclusive, um atual processo de montagem cênica pelo qual estou passando dentro da faculdade: uma montagem performativa dirigida pelo professor Daniel Gonzales que será apresentada no Teatro Ruth Escobar chamada "Como ainda não apodreceu...Branca de Neve" (texto da Angélica Liddell)14 A Gordofobia não é visivelmente grave, e com o crescimento das redes sociais, o discurso das mulheres empoderadas está mais forte e está havendo manifestações significativas de uma luta pela visibilidade dessa minoria, como tantas outras. Com todos esses apontamentos e apurações sobre o tema, começarei a escrever como estimaria a encenação. Para a elaboração da encenação, tive que investigar, estudar, pesquisar sobre o assunto, tudo isso tornou-se material provocativo para a criação da cena, e nessa busca um vídeo do YouTube da jornalista e youtuber Alexandra Gurgel do canal Alexandrismos fez a diferença – um vídeo que se tornara o cerne da encenação. Retratarei a busca do amor próprio, por se tratar de um momento de busca particular e de vontade de mudança de perspectiva. Essa vontade de mudança despertada em querer representar não só a minha luta contra o preconceito em cena, mas como tantas mulheres que precisam se aceitar como são e de não serem mais manipuladas por um padrão estético. A solidão da Mulher Gorda é o nome da encenação por se tratar de um monólogo performativo autobiográfico e para mostrar o quão solitário pode ser a vida de quem sofre Gordofobia, além de se tratar de uma homenagem ao vídeo que serviu de inspiração para a encenação. 14 Nasceu em Figueres na Espanha em 1966. É licenciada em Psicologia e Arte Dramática. Em 1993, fundou a empresa Atra Bilis Teatro. Além dos textos teatrais, ele também escreve poesia, narrativa e realiza Performances. 34 Em cena uma atriz, Larissa Dias, com seu corpo que foge dos padrões de beleza e peso, representando esse universo feminino, especificamente da mulher gorda que está a margem, sozinha, excluída, ou seja, conota-se a ideia da solidão. A partir do texto criado pela atriz de relatos pessoais, após discussões entre nós, trabalharemos com a dramaturgia como um exercício de improvisação. O texto em sua concretude fora colocado dentro da cena através de intervenções sonoras além de sugerir à própria atriz pronuncia-lo no momento e se achar apropriado. O figurino, será também será proposto pela atriz, pedi para ela algo em tons escuros, mas que ela se sinta confortável. Minha intensão é que no dia da encenação, enquanto a aqueço, a direcione a tirar algumas das peças do figurino durante a cena, como quem quer se libertar e por fim ficar com roupas íntimas, obviamente se atriz se sentir confortável nessa condição. O espaço cênico será uma sala com um espelho, já que o reflexo de si mesma é o ponto crucial da encenação. A sala será dividida com um tecido preto, tanto o espaço cênico quanto o espelho - este terá duas partes divididas também. Essa divisão exemplificará o quão árduo o processo da aceitação do corpo. Logo, essa disposição seria assim: Espaço cênico: Um lado no qual a encenação acontecerá e o outro lado onde o espectador entrará e terá uma preparação para a cena. Espelho: Primeira parte onde vai iniciar a cena, terá fotos de modelos de revistas de moda colocadas no tecido; na parte seguinte farei um buraco neste tecido na altura da atriz em que possa ver o seu abdômen refletido; por último a sua imagem por completo no espelho. Escolhi a cor preta para o tecido por muitas mulheres usarem roupas escuras na tentativa de esconder quem são de verdade, medo de mostrar a saliência de seu corpo, eu fui uma delas. Quanto a preparação de público que proporcionarei antes da cena em si, tive a intensão de localizar e mediar o que estava prestes a acontecer em cena, como 35 defende o Professor Doutro Flávio Desgranges15, no livro "A Pedagogia do Espectador"16: “as práticas de mediação teatral compreendem não somente procedimentos artísticos e pedagógicos propostos diretamente aos espectadores iniciantes, mas abordam a formação de espectadores com uma questão que abrange as diversas etapas do evento teatral desde a concepção artística até sua recepção pelo público. É considerado procedimento de mediação toda e qualquer ação que se interponha, situando-se no espaço existente entre o palco e a plateia, buscando possibilitar ou qualificar a relação do espectador com a obra teatral” (DESGRANGES, 2003, p.65) 17 Acredito que, de acordo com Desgranges, causarei um sentimento inicial de conhecimento do universo da mulher gorda, de tudo que ela ouve, por meio de frases de cunho Gordofóbico que muitas vezes passam despercebidas e que muito provavelmente muitos dos espectadores, senão todos, já disseram com ou sem intensão de ofender. As frases escritas em sulfite serão colocadas coladas no tecido que estará dividindo o espaço cênico, do lado "de fora" de onde está a atriz e o espelho. As frases são: “A solução é emagrecer.”; “Ela está ótima, mas engordou”; “Roupa de gorda é sempre mais caro.”; “Tem um rosto tão bonito, se emagrecer vai ficar mais linda ainda”. Com essas frases introduzirei o espectador ao tema central da encenação. A ânsia de levar o público a esse tema pungente através da cena teatral e poder inseri-los, é necessário para a percepção dessa minoria. Concluo com mais uma afirmação de Flávio sobre a pedagogia do espectador: Os espectadores, participantes interessados, precisam constituir parte atuante no processo. A qualidade do trabalho de um ator, de um encenador, ou de um dramaturgo não pode ser avaliada apenas por sua capacidade técnica e inventiva de realização, mas que está fortemente ligada à franqueza, vigor, e interesse com que, em sua prática, se depara e responde à questão central, aquela que o move: Por que fazer teatro? Por que ir ao público hoje? (DESGRANGES, 2003, p. 28) Após cada espectador terminar de ler as frases penduradas, irei direciona-los para o outro lado do tecido, onde estará a atriz aguardando para dar início a 15 Professor Doutor da graduação e da pós-graduação do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC) desde 2015. Atua no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da USP. Livre-docente em Artes Cênicas pela USP. Professor da Universidade de São Paulo entre 2000 e 2015. 16 Primeira edição publicada em 2003 pelaHucitec Editora. 17 Trecho retirado do livro A Pedagogia do Espectador de Flávio Desgranges 36 encenação. Posicionarei o público de maneira que possam sentar no chão, em cadeiras ou até ficar de pé. Essa disposição será delimitada e organizada de acordo com o número de espectadores que irão assistir à encenação. Terá um blackout seguida de uma luz frontal de refletor direcionada na atriz, uma iluminação âmbar ou amarela que desperte uma obscuridade, despertando uma ideia de que estamos visíveis para uns e invisíveis para maioria. Imagem 7: Frases penduradas na entrada do público na encenação da “Solidão da Mulher Gorda” em 2016. 18 A cena começa e o público se vê de frente com as costas da atriz, que permanece de frente com o espelho dividido em três partes como já citado acima. Na primeira parte do tecido a atriz travará uma tentativa de se encaixar em moldes de beleza que não a pertence, “espelhando-se” nas fotos de modelos das revistas de moda que estarão coladas nesse tecido. Na segunda parte do tecido enxergará o seu abdômen, a sua barriga, verá um questionamento por qual motivo isso causa tanta repulsa. Na terceira parte e última ela se descortinará, ou seja, vai ver-se inteiramente refletida no espelho. Durante essa movimentação, será inserida a dramaturgia de acordo com que decidi com a atriz e de acordo com o que ela sentir que deve fazer. Sua movimentação em cena não foi combinada ou marcada, mas durante o processo demonstrei a ela minha intensão de algo bruto, fluído e "pesado". 18 Foto: Acervo Pessoal. 37 Quando a atriz encontrar-se na terceira parte do espelho, já no fim da cena, haverá blackout novamente, e acrescentarei um fato Gordofóbico que passei dentro da faculdada, com meus próprios alunos - deixando mais claro o cunho autobiográfico de minha encenação: Levantarei do meio do público e evidenciarei de alguma forma o apelido que alguns da classe colocaram em mim: "Marcelina"19, demonstrando de alguma forma que só agora, com um aprofundamento no entendimento sobre Gordofobia, pude perceber o preconceito inserido neste apelido e que nunca mais aceitarei ser chamada assim, encerrando neste ponto minha encenação. É válido ressaltar que compreendo os riscos de apresentar uma proposta com alguns pontos em aberto, sujeitos a transformações geradas pelas influencias da atriz e do momento. Essa vem sendo minha intensão desde o momento em que comecei a compreender melhor a performatividade e o poder de um corpo ativo em cena, uma sugestão de minha atriz que abracei por já estar começando a compreender a performance. Acredito que não ficaremos presas a essa linguagem, teremos a base de como pensei a encenação, e seguiremos livres para a criação em cima de uma possível estrutura performativa. “Solidão da Mulher Gorda” estará em cena, mas com certeza depois desse não estarei mais só. 3.2. A Cena em sua Concretude A encenação foi apresentada e quase toda a cena foi da maneira como imaginei, repleta da performativade que já previa em minha proposta de direção e claro, com sugestões da Larissa que foram muito pertinentes. Sua experiência com a Performance fez a diferença para a concretude de cena. O espaço cênico e o espelho foram divididos com o tecido TNT preto. As frases foram distribuídas pelo primeiro espaço, em que reuni mais de 10 frases que estiveram penduradas por fio de nylon e também coladas no tecido que dividiu o espaço. Nesse momento da preparação do público, tive a ideia de colocar uma música enquanto o espectador lia as frases, uma música em formato instrumental 19 Personagem do filme nacional “Minha mãe é uma peça” (2013) interpretado por Mariana Xavier. 38 chamada “Yellow” da banda Coldplay20, a escolha foi apenas por ser uma música que se fez muito presente durante o processo. Imagem 8: Cenário da encenação da "Solidão da mulher gorda" (dezembro 2016) 21 Os espectadores sentaram no chão, e com blackout pausei a música e acendi um refletor de luz amarela. Larissa, a atriz performer22, estava de costas para o público e de frente para a primeira etapa do espelho. A atriz vestiu-se com um top e um short preto pois preferimos que ela ficasse vestida desse modo, estando exposta desde o início e facilitando sua movimentação. A dramaturgia fora mesmo a que ela escreveu durante o processo23. Para a encenação esse texto foi gravado por mim em alguns áudios, optamos que essa voz trouxesse um sentido subjetivo, uma voz que levou a atriz nas suas movimentações, uma voz interna, uma voz questionadora, tudo isso num ritmo moderado e com um tom sereno, para dar uma oposição com que ela propôs em seus movimentos agitados. O primeiro áudio que reproduzi foi com o texto na íntegra, a Larissa estava de frente para primeira etapa do espelho, imitando as poses das modelos nas fotos, 20 Banda britânica de rock alternativo fundada em 1996 na Inglaterra. 21 Foto: Acervo pessoal 22 O performer é aquele que atua na Performance. De acordo com Renato Cohen em seu livro “Performance como linguagem” afirma que: “O performer, enquanto atua, se polariza entre os papéis de ator e a "máscara" da personagem. A questão é que o papel do ator também é uma máscara. E é importante clarificar-se essa noção; quando um performer está em cena, ele está compondo algo, ele está trabalhando sobre sua "máscara ritual" que é diferente de sua pessoa do dia-a-dia. Nesse sentido, não é lícito falar que o performer é aquele que "faz a si mesmo" em detrimento do representar a personagem”. (COHEN, Renato, 2013, pag 58). 23 A dramaturgia criada por Larissa Dias encontra-se (Cap.2, pág 29) 39 e gradativamente ela ia acelerando os movimentos. No seu tempo mudou para segunda etapa, em que reproduzo o segundo áudio que tem um trecho do texto sendo repetido: “Tentam me encaixar a força, em moldes que não me pertencem”; nessa etapa, temos o buraco no meio do tecido como planejei, e com as suas mãos ela apalpava excessivamente a sua barriga, no tempo dela sem parar os movimentos, Larissa chegava na terceira e última parte em que nada está coberto e com isso eu parei o áudio. Ela se observou em silêncio, poucos minutos depois, pronunciou o texto inteiro novamente, terminado, ela se virou para o público e começou a apertar com as mãos abastadamente o seu corpo, como se tivesse amassando cada parte do mesmo, dando a impressão que o peso, a forma do corpo não dita o caráter, isso tudo enquanto dizia e repetia o trecho final do texto: “Vocês conseguem ver além disso?”; Após atingir a exaustão de dizer e apertar o seu corpo diversas vezes, ocorreu outro blackout. A luz retornou com o auxílio do ator e também colega de classe Alessandro Fritzen que direcionou o refletor para o outro lado da sala onde eu me encontrava de pé do lado da lousa, com o apagador nas mãos prestes apagar com toda força que eu tive naquele momento, aquele apelido “carinhoso” que os meus colegas me chamavam - Marcelina - até então eu não sabia como eu ia dispor essa parte, mas com uma sugestão do Alessandro, eu poderia escrever na lousa e apagar no final da cena, e foi isso que aconteceu. Após essa ação, olhei para o público e por fim a luz se apagou, encerrando minha encenação. 40 CAPÍTULO 4 – A MULHER GORDA NÃO ESTÁ SÓ As expectativas e a inquietude de chegar nessa fase da graduação, de ter a responsabilidade de criar e dirigir uma encenação e ver em cena tudo aquilo que planejou-se na sua frente é uma experiência única. Independente de não ter acontecido exatamente como escrita na proposta de encenação, saiu do papel, saiu da minha mente e criou vida, como tinhade ser, no dia da apresentação. O que não deve-se esquecer, é que se tratou de um exercício cênico, no qual os alunos colocam tudo que fora ensinado teoricamente em prática. Esse foi o momento de empregar livremente todo esse conhecimento na encenação, porém ponderando as suas preferências, aprofundando-as e a partir disso criando, dando vida ao seu projeto. O tema da minha encenação, a Gordofobia, foi um grito. Ao chegarmos no momento de dirigir uma cena, incialmente não passou pela minha cabeça colocar esse tema na encenação, talvez por insegurança de falar sobre e de como traria isso para cena, por se tratar de um tema abrangente, era um desafio focar em um ponto. Esse esse atingiu-me por completo, vivo, literalmente, a solidão da mulher gorda e hoje entendo muitos comportamentos de cunho gordofóbico assim como muitos comentários que já ouvi e ouço todos os dias. Acredito que essa minoria na qual me coloco precisa ser evidenciada, precisa de visibilidade, precisa de mais força. A sociedade é carregada de preconceitos e contra isso devemos nos manifestar, lutar de diferentes formas, e uma delas é por meio da arte, no meu caso, através da cena teatral, na qual tentei gritar por essas mulheres e por mim mesma. O teatro foi minha arma. O que se tornou base dessa monografia, do processo de escrever uma proposta de encenação, surgiu através de diversas leituras de depoimentos de mulheres, principalmente as que sofrem, que enfrentam de frente a discriminação estética, mulheres como a rapper Joyce Fernandes24, a jornalista e youtuber Alexandra Gurgel e a blogueira Renata Poskus25. Mulheres que me ajudaram nessa pesquisa acadêmica e pessoal, que estão me dando forças para essa caminhada de 24 Conhecida como Preta-Rara, é rapper, turbanista, professora de história, modelo Plus Size, poetisa e proprietária da marca “Audácia Afro Moda” 25 Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária. 41 desconstrução do meu corpo. Mulheres que se expressam e enaltecem a beleza de como é ser uma mulher gorda. A linguagem pela qual consegui me manifestar e comunicar o que precisava ser comunicado na encenação fora a Performance, e a real noção disso veio depois de cena acontecer. Mesmo antes havendo momentos em que eu e a Larissa conversamos sobre a linguagem, que acreditávamos que caberia dentro da proposta. Isso aconteceu por decorrência do tempo que dispunha para a criação da mesma, como vim relatando nesta monografia, não tivemos como aprofundar essa ideia, seguimos intuitivamente, acabei deixando a Larissa livre para criar a sua partitura dentro da cena em detrimento da proposta de encenação. Por isso acredito que seria interessante apresentar novamente, e com isso entender melhor a Performance na minha encenação. Contudo, acredito que de certa forma atingi lugares muito positivos com minha encenação: “ Para mim um dos momentos mais fortes foi em ver a atriz com o top preto e está feliz e se sentindo bem, está auto confiança que atriz passou em cena foi fantástico, pois a aceitação do seu próprio corpo nos levou para uma grande reflexão que independente de como somos devemos nos amar, é uma cena que não só nos leva a refletir sobre a Gordofobia, vai muito além, nos leva a refletir sobre o nosso comportamento diário, em todas as nossas atitudes. Com a cena pude perceber como algumas pessoas transforma a dor, o sofrimento em poesia, toda a estética da cena está no ar de poesia e na delicadeza.” (SILVA, 2016) 26 Eu mesma posso dizer que sofri grandes mudanças com esse processo e se isso não bastasse, abaixo trago um depoimento da atriz e aluna Larissa Dias sobre a encenação: “Acredito que a arte existe como linha de resistência. E foi por conta disso que eu aceitei, de peito aberto, fazer parte dessa proposta. O fato de falar sobre Gordofobia, para mim é de extrema importância, principalmente no nosso meio, social e artístico. Em um lugar onde a representatividade é falha, a potência de discutir sobre o tema e principalmente ser a via principal da discussão, são colocados como ponto chave para a escolha de pertencer ao projeto. 26 Depoimento sobre a encenação da atriz e aluna Gabrielle Eva Silva em dezembro de 2016. 42 A sensibilidade com que colocamos esse assunto à tona, potencializou a crítica. Senti facilidade de me expressar por conta de que, foi me dado uma liberdade de criação textual que facilitou a imersão da cena. Quase como um documentário, afinal, eu como mulher gorda faço parte desse movimento de luta e resistência. O texto era meu, mas as conversas e pesquisas que fizemos de todo o entrono para além de nós duas possibilitou uma grande variedade de movimentações e de provocações possíveis para se tratar do assunto. Ao todo, me senti empoderada e muito motivada de se falar sobre problemas sociais e políticos dentro do meio teatral, principalmente em uma matéria acadêmica, e esse ato reforçou uma ideia que sempre tive, que devemos ocupar os espaços, fazer barulho, falar sobre coisas que não querem que falemos e principalmente nos enxergar como meio, nos enxergar como potência” Infelizmente tivemos um espaço de tempo curto, sendo que todas as nossas conversas foram via online e conseguindo nos encontrar apenas duas vezes. Ensaios como eu queria, lamentavelmente não foram consumados, devido aos contratempos por parte de nós duas, mas isso não foi negativo para a realização da cena, com certeza, ter mais ensaios é importante para o processo, porém conseguimos atingir o objetivo central, que é a busca do amor próprio. Quanto a avaliação dos espectadores, eles foram em sua maioria colegas do mesmo curso que eu, alguns convidados e o professor e avaliador Jairo Maciel. As principais impressões que ficaram destas avaliações foram bem pertinentes, porém sinto que faltou mais aprofundamento nas críticas. Nas avaliações da Cena de Direção em geral, os alunos costumam avaliar seguindo três pontos que fogem do gosto pessoal que chamamos de “gosto, proponho e questiono” e obrigatoriamente o encenador e os atores participantes não podem se defender, ou justificar nenhum ponto levantado, sendo o professor avaliador a pessoa que geralmente media possíveis intervenções nas falas dos demais espectadores. Não houve muito dessa avaliação, pouco alunos conseguiram se expressar dessa maneira, o professor fez a sua crítica muito embasada em experiências pessoais, mas não me trouxe provocações, senti falta desse julgar teatral mais acentuado. Tive críticas interessantes com relação a como a cena foi conduzida, da percepção de performatividade dentro desta e até fui incentivada a reapresentar a encenação no futuro, no entanto lembro que tinha passado do horário da aula e com isso não 43 conseguimos prolongar a discussão, isso fez com que sentisse que esta ficara muito superficial. Por outro lado, entendo que usei o teatro como "meio" e sendo assim consigo observar que a cena atingiu positivamente algumas das pessoas que não tinham consciência de suas atitudes gordofóbicas, podendo ter mudanças ou não, eu fiz minha parte e acredito que o processo foi válido, pois a encenação nasceu e com ela foi dada a largada à uma busca particular, de muitos aprendizados sobre escrever um projeto e de aceitação. Particularmente o ponto crucial foi analisar a proposta de encenação e o que se concretizou na prática, de ter uma percepção daquilo que não tive, falhas, equívocos e gerar disso uma nova perspectiva para encenação com base nas críticas. Penso seriamente em reapresentar a encenação tendo o tempo necessário para reensaiar e estudar mais sobre a performatividade e os caminhos que ela poderá seguir.
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