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Autoras: Profa. Priscilla Augusta Monteiro Ferronato Profa. Claudia Regina Cortez Handebol: Aspectos Pedagógicos e Aprofundamentos Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Professoras conteudistas: Priscilla Augusta Monteiro Ferronato / Claudia Regina Cortez Priscilla Augusta Monteiro Ferronato Atleta durante a infância e adolescência da modalidade de handebol pela Federação Paulista de Handebol, cursou bacharelado em Educação Física na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de 1998 a 2001, na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo. Em seguida, na mesma universidade, ingressou no curso de mestrado (2003-2005), no qual foi investigado o desenvolvimento e os processos que levam às mudanças nos mecanismos de controle postural em crianças e adultos. Professora na Universidade Paulista (UNIP) desde 2004 e coordenadora do curso de Educação Física no campus de Alphaville desde 2007. Membro do Grupo de Estudos da Ação e Intervenção Motora na Universidade de São Paulo (USP), dedica as pesquisas ao desenvolvimento do comportamento ativo das mãos, especialmente em bebês, tema esse da tese de doutorado executado nessa universidade com Estágio Sanduíche realizado na Universidade de Umea-Suécia (Processo Capes 1592412-2) no ano de 2013 e doutorado concluído no ano de 2015. Atualmente é responsável pelo projeto de pesquisa sobre a emergência e o desenvolvimento da ação manipulativa de apertar em bebês de 1 a 3 meses de idade com financiamento Fapesp (processo 2015/50530-1). Claudia Regina Cortez Possui formação superior em licenciatura plena em Educação Física pelo Centro Universitário Metropolitano de São Paulo (1985) e mestrado em Educação pelo Centro Universitário Salesiano (2001). Atualmente, é professora assistente do curso de Educação Física do Centro Universitário Fieo – Unifieo e Universidade Paulista – UNIP. Possui experiência na área de Educação Física, com ênfase em Educação Física no Ensino Básico, nas áreas Handebol, Aprendizagem motora, Crescimento e desenvolvimento motor e Educação Física nos Ensinos Infantil, Fundamental e Médio. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13 Zacariotto, William Antonio Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230. 1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título 681.3 ? Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Nascimento Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Sumário Handebol: Aspectos Pedagógicos e Aprofundamentos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 O HANDEBOL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – ETAPAS DE APRENDIZAGEM E AS FASES DE DESENVOLVIMENTO: O MOMENTO DE INICIAR O HANDEBOL........................... 11 2 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO ENSINO DO HANDEBOL .................................................. 15 2.1 Educação Infantil (2 a 5 anos)/Fase pré-escolar...................................................................... 16 2.2 Ensino Fundamental I (6 a 11 anos)/Fase universal e fase universal no handebol .... 16 2.3 Ensino Fundamental II (11-14 anos)/Fase de orientação e fase de direção ................. 17 2.4 Ensino Médio (15 a 17 anos)/Fase de especialização ............................................................ 19 2.5 Fase de aproximação/Integração – 18 aos 21 anos ............................................................... 19 2.6 Fase de alto nível .................................................................................................................................. 20 2.7 Fase de recuperação/Readaptação ................................................................................................ 20 2.8 Fase de recreação e saúde ................................................................................................................ 20 3 CONCEITOS BÁSICOS PARA A ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO – APRENDIZAGEM EM HANDEBOL .................................................................................................................. 21 3.1 Estrutura de aula .................................................................................................................................. 22 4 AS HABILIDADES BÁSICAS DO HANDEBOL E A CONSTRUÇÃO DO JOGO ................................. 23 4.1 Aquisição e combinação de elementos técnicos básicos ..................................................... 23 4.1.1 Recepção .................................................................................................................................................... 23 4.1.2 Passe ............................................................................................................................................................. 25 4.1.3 Drible ............................................................................................................................................................ 27 4.1.4 Arremesso .................................................................................................................................................. 29 4.1.5 Progressão .................................................................................................................................................. 33 4.1.6 Fintas ............................................................................................................................................................ 36 Unidade II 5 CONCEITOS BÁSICOS ..................................................................................................................................... 43 5.1 Tática ......................................................................................................................................................... 43 5.2 Tática individual .................................................................................................................................... 43 5.3 Tática de grupo ..................................................................................................................................... 44 5.4 Tática coletiva ........................................................................................................................................44 5.5 Táticas de grupo.................................................................................................................................... 45 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 5.5.1 Ritmo de bola e fixação do oponente ............................................................................................ 45 5.5.2 Equilíbrio ofensivo .................................................................................................................................. 46 5.5.3 Engajamento ............................................................................................................................................. 47 5.5.4 Cruzamento ............................................................................................................................................... 47 5.5.5 Bloqueio ofensivo ................................................................................................................................... 49 5.5.6 Cortina ......................................................................................................................................................... 49 5.5.7 Quebra de ritmo ...................................................................................................................................... 50 5.5.8 Passa e vai .................................................................................................................................................. 51 5.6 Táticas de grupo ofensivas em superioridade numérica ...................................................... 52 5.7 Táticas de grupo defensivas ............................................................................................................. 52 5.7.1 Cobertura ................................................................................................................................................... 52 5.7.2 Troca de marcação.................................................................................................................................. 53 5.7.3 Acompanhamento .................................................................................................................................. 54 5.7.4 Marcação de bloqueio ofensivo ........................................................................................................ 54 5.8 Táticas de grupo defensivas em inferioridade numérica ..................................................... 55 6 TÁTICA DEFENSIVA .......................................................................................................................................... 55 6.1 Postos específicos defensivos .......................................................................................................... 56 6.2 Fases da defesa ...................................................................................................................................... 58 6.3 Tipos de sistemas defensivos ........................................................................................................... 59 6.4 Defesa individual .................................................................................................................................. 59 6.4.1 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 62 6.4.2 Erros comuns ............................................................................................................................................ 62 6.4.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo individual ................................................ 62 6.5 Defesa por zona .................................................................................................................................... 63 6.6 A ordenação dos jogadores nos sistemas defensivos ............................................................ 63 6.7 Sistema defensivo por zona 3:3 ..................................................................................................... 64 6.7.1 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 65 6.7.2 Erros comuns ............................................................................................................................................ 65 6.7.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo 3:3 ............................................................. 65 6.8 Sistema defensivo por zona 3:2:1 ................................................................................................. 66 6.8.1 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 66 6.8.2 Erros comuns ............................................................................................................................................ 67 6.8.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo 3:2:1 ......................................................... 67 6.9 Sistema defensivo por zona 4:2 ..................................................................................................... 67 6.9.1 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 68 6.9.2 Erros comuns ............................................................................................................................................ 68 6.9.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo por zona 4:2 .......................................... 69 6.10 Sistema defensivo por zona 5:1 ................................................................................................... 69 6.10.1 Função dos jogadores ......................................................................................................................... 70 6.10.2 Erros comuns .......................................................................................................................................... 70 6.10.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo por zona 5:1 ........................................ 71 6.11 Sistema defensivo por zona 6:0 ................................................................................................... 71 6.11.1 Função dos jogadores ......................................................................................................................... 72 6.11.2 Erros comuns .......................................................................................................................................... 72 6.11.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo por zona 6:0 ........................................ 72 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 6.12 Sistemas defensivos combinados ou mistos .......................................................................... 73 6.13 Defesa combinada ou mista 5+1 ................................................................................................ 73 6.13.1 Função dos jogadores ......................................................................................................................... 74 6.13.2 Erros comuns ......................................................................................................................................... 74 6.13.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo combinado ou misto 5+1 ............. 75 6.14 Sistema defensivo combinado ou misto 4+2 ........................................................................ 75 6.14.1 Função dos jogadores ......................................................................................................................... 76 6.14.2 Erros comuns......................................................................................................................................... 76 6.14.3 Vantagens e desvantagens do sistema defensivo combinado ou misto 4+2 ............. 76 7 TÁTICA OFENSIVA ............................................................................................................................................ 77 7.1 Os postos específicos ofensivos ...................................................................................................... 77 7.2 Características dos postos específicos ofensivos .................................................................... 78 7.2.1 Os armadores ............................................................................................................................................ 79 7.2.2 Os pontas ................................................................................................................................................... 80 7.2.3 Os pivôs ....................................................................................................................................................... 80 7.3 As linhas ofensivas ............................................................................................................................... 81 7.4 Fases do ataque ..................................................................................................................................... 82 7.5 Sistemas de ataque.............................................................................................................................. 83 7.5.1 Posicional ................................................................................................................................................... 83 7.5.2 Circulação .................................................................................................................................................. 83 7.5.3 Combinado ................................................................................................................................................ 84 7.6 Sistemas de ataque posicional ........................................................................................................ 84 7.6.1 Sistema de ataque com um pivô – 5x1 ......................................................................................... 84 7.6.2 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 85 7.6.3 Erros comuns ............................................................................................................................................ 85 7.6.4 Vantagens e desvantagens do sistema ofensivo posicional 5x1 ......................................... 85 7.7 Sistema de ataque com dois pivôs – 4x2 ................................................................................... 86 7.7.1 Função dos jogadores ........................................................................................................................... 86 7.7.2 Erros comuns ............................................................................................................................................ 87 7.7.3 Vantagens e desvantagens do sistema ofensivo posicional 4x2 ......................................... 87 8 O GOLEIRO ......................................................................................................................................................... 88 8.1 Características físicas dos goleiros ................................................................................................ 89 8.1.1 Medidas antropométricas de goleiros de handebol ................................................................. 89 8.2 Posições defensivas básicas .............................................................................................................. 91 8.3 Deslocamentos defensivos ............................................................................................................... 92 8.4 Formas de defesa .................................................................................................................................. 94 8.5 Defesas em bolas altas ....................................................................................................................... 95 8.6 Defesas em bolas meia altura ......................................................................................................... 96 8.7 Defesas em bolas baixas .................................................................................................................... 97 8.8 Saída em “X” ........................................................................................................................................... 98 9 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 APRESENTAÇÃO A disciplina de Handebol tem a intenção de contextualizar o esporte como prática social, escolar e esportiva, levando em consideração as fases de desenvolvimento do aprendiz, bem como os processos pedagógicos de ensino-aprendizagem envolvidos no ensino da modalidade. Sendo assim, tem como objetivos oferecer ao aluno a oportunidade de vivenciar e aprender o handebol enquanto prática social e esportiva; e ainda, conhecer os aspectos metodológicos do seu ensino no ambiente escolar e de alto rendimento. INTRODUÇÃO O handebol se caracteriza como um esporte coletivo de invasão, jogado com as mãos que visa à obtenção do gol. De maneira geral, é uma modalidade composta de gestos técnicos simples (receber, passar, saltar, correr e arremessar) que estão baseados em habilidades motoras fundamentais que começam a ser realizadas por crianças desde a primeira infância. Talvez por essa simplicidade do gesto técnico o handebol seja uma das modalidades mais praticadas em ambiente escolar. Os relatos da sua origem e criação apresentam divergências, entretanto, há concordância de que o esporte da forma contemporânea, como é apresentado atualmente, tem sua origem por volta da década de 1930, na região da Escandinávia. Como todos os esportes, o handebol começou sua história sendo um jogo originário no século XIX. No século XX, a modalidade foi institucionalizada, ou seja, passou a ter uma instituição responsável pela sua regularização, normatização e divulgação da prática. Essa institucionalização aconteceu em 1934 na cidade de Estocolmo, Suécia. O handebol é uma modalidade que se manifesta de diferentes formas, seja como esporte escolar, seja para reabilitação, saúde, lazer e recreação, rendimento e profissional. A modalidade apresenta diversas adaptações para que possa ser jogada por diferentes populações em distintos ambientes como: quadra, praia, cadeira de rodas, na terceira idade em equipes máster; logo, é um esporte para todos. O esporte é considerado hoje como um dos fenômenos sociais mais importantes da humanidade (GRECO; ROMERO, 2012), pois além de um fator de educação apresenta componentes formativos para a cidadania, como Bento (2004) descreve, o esporte é pedagógico e educativo pois proporciona oportunidades, obstáculos e desafios, também quando fomenta a procura do rendimento na competição e para isso se exercita, se treina e reserva-se um pedaço da vida. O esporte pode ser concebido como um fenômeno cultural, global (BENTO; 2004). Ele é cultural pois, faz parte da cultura dos povos desde as mais antigas civilizações e perdura até os dias atuais, fundamenta-se pela e na cultura. É global porque se encontra nos mais distintos pontos do planeta, e por isso, apresenta significados diferentes nas diversas culturas, seja para seus praticantes, seja para seus expectadores. Com todas essas características que fazem parte não só do handebol, mas também de todos os outros esportes, o presente livro-texto tem a pretensão deapresentar de maneira contextualizada o handebol como prática social, escolar e esportiva, levando em consideração as fases de desenvolvimento 10 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 do aprendiz, assim como os processos pedagógicos de ensino-aprendizagem envolvidos no ensino da modalidade. Será apresentada uma proposta de desenvolvimento do handebol no ambiente escolar, bem como em clubes ou escolas de iniciação esportiva. A proposta está baseada em algumas teorias da Pedagogia do Esporte, e em seguida serão demonstrados os fundamentos e recursos técnicos específicos da modalidade. Na sequência será observada a nomenclatura e simbologia padronizada da modalidade, bem como os recursos táticos individuais e de grupo tanto ofensivos quanto defensivos que compõem e caracterizam o esporte handebol. 11 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Unidade I 1 O HANDEBOL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – ETAPAS DE APRENDIZAGEM E AS FASES DE DESENVOLVIMENTO: O MOMENTO DE INICIAR O HANDEBOL O desenvolvimento das modalidades esportivas tem no ambiente escolar um grande aliado para sua propagação. Tendo em vista que a escola tem como finalidade a formação do aluno, faz parte também desse processo, o desenvolvimento da constituição do repertório motor. Nesse sentido, o professor deve estar atento para distribuir os conteúdos das modalidades de acordo com as possibilidades e o nível de desenvolvimento motor dos alunos. Para o ensino do Handebol, assim como qualquer outra modalidade, é importante analisar além da faixa etária do grupo de alunos, o nível de habilidade motora, para poder comparar com os estágios de desenvolvimento motor propostos na literatura, a fim de ter um “desenho do estado motor” em que se encontra o aprendiz. Aplicando esses conceitos para o ambiente escolar, podemos utilizar os modelos de estágios de desenvolvimento motor propostos para ajudar a formar um desenho do grupo de alunos e para auxiliar no planejamento das atividades de cada série escolar. O modelo mais conhecido de progressão motor foi proposto por Gallahue (1989). Esse autor identificou estágios específicos, observados em quatro grandes fases: fase dos movimentos reflexos, fase dos movimentos rudimentares, fase dos movimentos fundamentais e fase dos movimentos especializados. Elas estão associadas ao eixo temporal da vida de um indivíduo e às características de movimento descritas na fase dos movimentos fundamentais, compartimentalizadas em estágios inicial, elementar e maduro, têm subsidiado a elaboração de propostas curriculares para a Educação Física. Na proposta de Gallahue (1989), embora o autor afirme que o processo de desenvolvimento motor esteja relacionado com a idade, ele também aponta que não é dependente dela. Ou seja, assume uma certa participação das experiências no processo de transposição de etapas, porém apresenta os estágios relacionando-os às idades aproximadas de 2/3 anos; 4/5 anos e 6/7 anos, respectivamente. Assim, à medida que as crianças avançam em idade, tendem a progredir para movimentos que otimizam sua performance, orientado ao nível mais superior da sequência, favorecendo, em consequência, a aquisição de habilidades mais complexas. 12 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I Movimentos reflexos Movimentos rudimentares Movimentos fundamentais Movimentos específicos Movimentos transitórios Movimentos especializados Barreira de eficácia Barreira de eficiência Figura 1 - Modelo adaptado da pirâmide proposto por Gallahue em 1989 A primeira etapa relatada por Gallahue (1989) é a fase de movimentos reflexos, que estaria relacionada ao primeiro ano de vida. Nela os movimentos são desencadeados por uma estimulação específica e tem como objetivo garantir a sobrevivência e o controle postural do recém-nascido. A fase de movimentos rudimentares sobrepõe-se à fase de movimentos reflexos em termos temporais e vai além, até por volta dos dois anos de idade. Nela, o bebê demonstra as primeiras formas de movimento voluntário e já não apresentaria comportamento reativo (reflexivo). O movimento é realizado de forma voluntária e independente, no entanto, sem refinamento, com aspecto grosseiro. A fase de habilidades motoras fundamentais compreende o período aproximado de 2 até 7 anos de idade. Aqui, ocorre um refinamento dos movimentos rudimentares, bem como aquisição de novas formas de controle postural, locomoção e manipulação. Essa etapa abrange a idade escolar, portanto o acesso ao processo de iniciação esportiva. Dentro da etapa de movimentos fundamentais, outras 3 subetapas foram criadas, seriam uma forma mais detalhada de apresentar as modificações pelas quais o comportamento vai passando dentro de cada habilidade fundamental (saltar, correr, andar, rolar, chutar, rebater etc.), são elas: estágio inicial, estágio elementar e estágio maduro. Finalmente, a fase de habilidades especializadas, essencialmente relacionadas às esportivas de alto rendimento. Nela, os indivíduos passariam por um processo formal de prática específica para cada tipo de habilidade motora. Esse processo deveria apresentar um período de tempo prolongado para que o estágio fosse atingido. Tal etapa foi nitidamente responsável por Gallahue fazer ajustes no modelo de estágios em forma de pirâmide proposto em 1989. Em 2001, a fase de movimentos especializados passou a considerar como especializados diversos tipos de movimentos, e não apenas os esportivos. Nesse grupo entraram também as atividades de lazer e profissionais, que foram chamadas de culturalmente determinadas. 13 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Utilização permanente na vida diária Utilização permanente recreativa FASE MOTORA ESPECIALIZADA Estágio de utilização permanente OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MOTOR 14 anos e acima As fases do desenvolvimento motor FAIXAS ETÁRIAS APROXIMADAS DE DESENVOLVIMENTO Estágio madurode 6 a 7 anos Estágio de pré-controlede 1 a 2 anos Estágio de aplicaçãode 11 a 13 anos Estágio elementarde 4 a 5 anos Estágio de inibição de reflexosdo nascimento até 1 ano Estágio de decodificação de informaçõesde 4 meses a 1 ano Estágio transitóriode 7 a 10 anos Estágio inicialde 2 a 3 anos Estágio de codificação de informaçõesdentro do útero e até 4 meses de idade FASE MOTORA FUNDAMENTAL FASE MOTORA RUDIMENTAR FASE MOTORA REFLEXIVA Utilização permanente competitiva Figura 2 - Modelo de ampulheta de Gallahue e Ozmun, 2001 Com isso, a forma do modelo mudou de pirâmide para ampulheta, a fim de abranger mais categorias. Como na pirâmide a ponta do modelo era bem mais estreita do que a base, passava a impressão de que poucos atingiriam a etapa de movimentos especializados. O que realmente não deixa de ser uma verdade, poucas são as pessoas que tem o interesse, a motivação e a oportunidade de praticar por longos períodos de tempo uma determinada modalidade esportiva (já que a fase de movimentos especializados estava unicamente associada a movimentos esportivos). No modelo da ampulheta a superfície é tão ampla quanto a base, indicando que muito mais pessoas poderiam atingir o padrão especializado já que esse agora abrangeria atividades do cotidiano, lazer e esportivas. Lembrete A troca do modelo de Pirâmide para Ampulheta se deu por conta da mudança no conceito de habilidades especializadas, que passou a englobar as atividades de lazer, trabalho e habilidades diárias. Além dessesmodelos propostos por Gallahue (1989) e Gallahue e Ozmun (2001), Manoel (1994) apresentou uma sequência de desenvolvimento levando em consideração o estudo do processo que leva ao produto (desenvolvimento motor ou comportamento motor observável). Neste modelo, houve a inclusão da fase de movimentos fetais correspondendo ao período da concepção até o nascimento. Também a inclusão de movimentos espontâneos juntamente à fase de movimentos reflexos. E por fim, a inclusão da fase de combinação de movimentos fundamentais relacionada ao período aproximado, de sete até dez 14 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I anos de idade. Na fase de combinação de movimentos fundamentais seria o período em que emergiriam as habilidades associadas mais formalmente aos gestos técnicos das modalidades esportivas. Movimentos culturalmente determinados Fase de combinação de movimentos fundamentais Fase de movimentos fundamentais Fase de movimentos rudimentares Fase de movimentos espontâneos e reflexos Fase de movimentos fetais Figura 3 - Modelo de desenvolvimento motor de Manoel, 1994 Lembrete O modelo de Manoel incluiu os movimentos fetais que não haviam sido mencionados nos de Gallahue. O foco do professor de Educação Física deve estar nas idades entre 2 e 5 anos, que engloba a Educação Infantil (apesar de não ser obrigatório especialista em Educação Física nesse nível de ensino, diversas escolas têm optado por colocar um professor especialista em Educação Física para trabalhar os aspectos motores nessa faixa etária). Crianças entre 5 e 11 anos (Ensino Fundamental I), crianças e jovens de 12 a 14 anos (Ensino Fundamental II) e por fim, os jovens entre 15 e 17 anos (Ensino Médio). Uma proposta teórica bastante utilizada na Europa é o modelo de iniciação esportiva nomeado Escola da Bola, uma proposta originalmente alemã que se preocupa com a formação motora geral dos cidadãos e não com a especialização precoce e o alto rendimento. Basicamente os pilares principais dessa proposta são: • formação de um amplo repertório motor aplicável a todas as modalidades esportivas; • contrária à especialização precoce; • ensino dos esportes através dos princípios táticos inicialmente; • proposição de um período de DEStreinamento para o ex-atleta. Seguindo esses princípios, o professor poderia aplicar essa proposta – que originalmente na Europa é utilizada em atividades esportivas extracurriculares – no ambiente escolar, uma vez 15 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS que a proposta está baseada em pilares que atendem aos objetivos da Educação Física escolar (FERRONATO, 2007). Outro aspecto diferencial da proposta da Escola da Bola é o ensino das modalidades esportivas, focando a atenção no desenvolvimento dos aspectos cognitivos através de mecanismos de tomada de decisão e compreensão aprofundada dos jogos. Segundo os preceitos da proposta, uma iniciação esportiva ideal deve contemplar: • tomada de decisão e formação de conceitos por parte do aluno; • compreensão do contexto dos jogos esportivos; • trabalho da tática na iniciação. A tomada de decisão envolve oferecer ao aluno a oportunidade de escolha entre duas ou mais ações a serem executadas durante o jogo, isso é basicamente o trabalho da tática, uma vez que, uma definição de tática é a tomada de decisão. Para que seja capaz de tomar decisões adequadas, a cada situação que o jogo oferece, o aluno precisa ter experiência suficiente ser capaz de avaliar as consequências da decisão. Ou seja, o aluno deve compreender os mecanismos norteadores do jogo (saber jogar no sentido de entender como funciona o jogo e não unicamente no sentido de saber executar os movimentos/ técnicas que o jogo exige), isso é ter entendimento do jogo. Para que tais habilidades sejam trabalhadas, o processo de iniciação esportiva e de formação do repertório motor não pode priorizar a execução e repetição dos movimentos, mas deve oferecer a oportunidade de executar tais comportamentos em situações de jogo (seja esse jogo uma modalidade esportiva, um pré-desportivo ou ainda uma brincadeira). Baseado nesses conceitos, a seguir será apresentada uma sugestão de organização e planejamento da Educação Física escolar baseada nos princípios da Escola da Bola alemã e das propostas de Iniciação Esportiva Universal de Greco e Benda (1998) – que também está baseada nas propostas da Escola da Bola. 2 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO ENSINO DO HANDEBOL A proposta de desenvolvimento do handebol está embasada nos conceitos das propostas pedagógicas da Iniciação Esportiva Universal de Greco e Benda (1998). Ela é orientada à aprendizagem incidental (proposital, planejada e estruturada) sobre o controle e progresso das capacidades, em meio às inter-relações estabelecidas entre professor-aluno, na pretensão do desenvolvimento das capacidades coordenativas, para a construção e constituição do potencial do indivíduo, oferecendo-lhe a possibilidade de compartilhar decisões e a conscientização político-social contextualizada à sua ação. Essa proposta apoia-se nas Teorias da Aprendizagem Motora e Controle Motor, além da psicologia geral e cognitivista. Apesar de apresentar uma ideia de divisão de trabalho do handebol na escola, a mesma proposta pode ser aplicada fora do ambiente escolar, como em clubes e escolas de iniciação esportiva. 16 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I Saiba mais Para um conhecimento mais aprofundado sobre o tema, leia: KRÖGER, C.; ROTH, K. Escola da bola: um abc para iniciantes nos jogos esportivos. São Paulo: Phorte, 2002. 2.1 Educação Infantil (2 a 5 anos)/Fase pré-escolar KREBS (1992), acredita que, nesse período até o fim do Ensino Fundamental, o professor deverá proporcionar uma vivência diversificada de movimentos sem que haja exigência de um padrão ideal, isto é: não existe execução errada de movimento. Nessa fase, denominada pelo autor de estimulação motora, o padrão de movimento deve ser tomado apenas como estímulo para que a criança construa seu próprio plano motor. Atividades básicas de deslocamento, equilíbrio, acoplamento, esquema corporal, relação espaçotemporal entre outras são prioritárias e devem, preferentemente, ser apresentado em formas jogadas, tipo de jogos de imitação e perseguição sem focar uma modalidade esportiva específica. 2.2 Ensino Fundamental I (6 a 11 anos)/Fase universal e fase universal no handebol O ensino das habilidades motoras deve ser administrado conforme a idade e o nível de experiência motora do aprendiz. Essa fase pode ser separada em dois subestágios que forem capazes de agrupar as crianças de acordo com a capacidade de execução das habilidades. O primeiro subestágio abrange as crianças de 6 a 8 anos e o segundo de 9 a 11 anos. Entre 6 e 8 anos, a criança está explorando as habilidades básicas de locomoção, manipulação e estabilização/equilíbrio em um processo de refinamento progressivo, podendo assim, participar de um número maior e mais complexo de atividades motoras. Nesse período, o jogo precisa ser um elemento didático-pedagógico que deverá ser oferecido conforme as características evolutivas do aprendiz, especialmente no que se refere à sua maturidade, evolução psicológica e cognitivo-social. Por exemplo, crianças de 6-8 anos devem trabalhar com a combinação das habilidades motoras básicas e com jogos de perseguição, estafetas, jogos de relevos, dentre outros. Já com crianças de 9-11 anos, além de aumentar o grau de dificuldade das combinações das habilidades motoras, pode-se começar a desenvolver jogos coletivos, através de pequenos jogos(reduzidos), jogos de iniciação, grandes jogos e em alguns casos, jogos pré-desportivos. É a fase mais ampla e rica dentro do processo de formação esportiva. Nessa etapa é importante proporcionar aos alunos a vivência na modalidade através de minijogos e brincadeiras para que possam experimentar os movimentos relacionados com a modalidade. Trabalhar orientação espacial através de brincadeiras, utilizando grandes espaços como quadra toda do handebol, 17 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS pequenos espaços como a área do gol, meia quadra do handebol, área entre o meio da quadra e a linha dos 9 m, dividir a quadra em quatro espaços e utilizar apenas alguns deles, utilizar ritmos diferentes, ou seja, jogos de rápida movimentação pelos espaços, contrapondo com atividades mais lentas. O professor deve estar preocupado em desenvolver o repertório motor do aluno através de várias atividades e utilizando-se de uma grande variedade de materiais, ou seja, coordenação motora para grandes grupos musculares por meio de corridas, saltos, rolamentos. Também executar a coordenação motora fina com o manejo de bola, pequenos deslocamentos com o corpo, desenvolver o equilíbrio estático e dinâmico, utilizando-se das linhas da quadra, banco sueco, deslocamentos com paradas bruscas, saltos e recuperação da posição ereta. O trabalho com os jogos de invasão como mãe da rua, rouba bandeira, pega-pega, minijogos de handebol, jogos que estimulem movimento de passe, arremesso e recepção como queimada, pega-pega com bola, rouba bandeira com bola, câmbio, jogo dos dez passes, jogos de apoio com e sem bola, entre outros, no qual o aluno deve conduzir a bola até um local determinado também contribuem para o desenvolvimento da capacidade de jogo das crianças, fazendo com que elas tenham que tomar decisões para agir. Essa tomada de decisão é na verdade um trabalho de desenvolvimento da tática de jogo. Com tais elementos, o professor estará conjugando elementos técnicos e táticos individuais e coletivos. Se o aluno passou por um bom trabalho de desenvolvimento das habilidades básicas e a sua combinação na etapa anterior, estará preparado para receber essas novas informações e será capaz de facilmente ampliar seu repertório motor executando as habilidades que já devem estar razoavelmente automatizadas, liberando a atenção para a tomada de decisão que os jogos irão exigir. A ação do processo de ensino-aprendizagem deve ser voluntária por parte da criança (no caso de prática extracurricular), não impedindo a realização de outros possíveis interesses. A frequência média de atividades esportivas sistemáticas não deve ultrapassar três vezes por semana, com duração de aproximadamente 1 hora/dia. 2.3 Ensino Fundamental II (11-14 anos)/Fase de orientação e fase de direção Nesse momento é importante destacar que se deve ter como um dos objetivos a iniciação do aperfeiçoamento técnico, porém, não deixando de se preocupar com o trabalho da tática (tomada de decisão). O gesto do esporte (fundamento esportivo) em sua forma global, ações motoras gerais que servem para a solução de tarefas esportivas (porém, sem realizar treinamento técnico, visando a perfeição do gesto, e sim, uma passagem pelas técnicas das diferentes disciplinas esportivas), observando quais são as exigências que se apresentam em cada um desses objetivos. A técnica deve ser trabalhada em sua forma global, procurando sua automatização-estabilização, sem insistir na perfeição dos gestos. A possibilidade de variação das técnicas deve ser prioridade. É importante entender o conceito da citada variação; isto significa que devem ser oferecidas atividades em que, por exemplo, através do jogo, a criança seja incentivada a desenvolver, aprender a aplicar técnicas de movimento especificas do esporte, porém sem um alto nível de perfeição gestual. O aperfeiçoamento da coordenação de movimentos e das capacidades senso-perceptivas pode ser concretizado através do 18 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I desenvolvimento das capacidades táticas gerais (aquelas que são comuns a todos os esportes coletivos, tais como tabela, cruzamentos, bloqueios ou corta-luz, dentre outras). Começa assim a se delinear a finalização do processo de iniciação esportiva. Aqui o jogo, em qualquer forma de organização (jogos de iniciação, pré-esportivos, grandes jogos, jogo recreativo, entre outros), tem um sentido recreativo, porém, possui um alto valor educativo, pois serão estabelecidas as bases para uma “ação inteligente”. O conteúdo de informação teórica, assim como a sua forma de transmissão, são de suma importância. BAYER (1987) cita a possibilidade de oferecer, nessa faixa etária, um processo de ensino-aprendizagem caracterizado pela “pedagogia das intenções”. Ela se caracteriza pela iniciação esportiva, evidenciando os conceitos táticos básicos a cada esporte. As atividades desenvolvidas podem estar apoiadas nos princípios da variedade técnico-tática individual e de grupos com iniciação aos meios táticos (jogos 2x2). Pode-se começar a iniciação ao conceito individual e zonal dos esportes. A frequência recomendada de atividades curriculares e extracurriculares sistemáticas deve ser por volta dos 3 encontros semanais, com duração média de 60 a 90 minutos cada. Nos anos finais do Ensino Fundamental II, pode ser iniciada a fase de direção, na qual as técnicas são trabalhadas em situações representadas em forma de exercícios, em que a requisição da técnica seja variada, nos seus parâmetros de execução e de aplicação. A “inteligência de jogo” continuará a ser desenvolvida através de atividades que exijam a aplicação do conhecimento adquirido na fase de formação e aperfeiçoamento, de tal forma a produzir transformações dos conceitos teóricos em ações esportivas. “O conhecimento teórico é base na qual se apoiam os processos cognitivos” (GRECO; BENDA, 1998), sendo importante destacar que eles são os que dirigem nossa ação tática. Com isto, o professor deve privilegiar a formação de jogadores inteligentes, fazendo isso parte integrada no processo de ensino-aprendizagem. A fase de direção terá como objetivo a transmissão e aplicação de regras gerais de ação tática no esporte, ainda que ele não tenha como intenção a prática de esporte especializado. Segundo Greco (1998), “a iniciação ao esporte termina quando o jogador adquire as bases para coordenar procedimentos táticos entre dois ou três jogadores, passando, posteriormente, a situações espaciais concretas de jogo”. Os objetivos do professor devem estar pautados em atividades que desenvolvam a variedade técnico-tática individual em posto específico e em atividades de grupo com relação aos postos específicos. Também devem ser trabalhados os sistemas de jogo coletivo (sistemas de ataque e de defesa). Nessa etapa, é o momento ideal, para o aluno que tenha interesse, em começar com o aperfeiçoamento e a especialização técnica em uma modalidade esportiva. Entretanto, a frequência de prática da modalidade como atividade extracurricular deverá ser de 3 ou 4 vezes por semana, sendo que cada sessão de treinamento não ultrapasse 1h30/dia. Além disso, é importante que o jovem ainda participe de duas ou três modalidades esportivas. 19 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS 2.4 Ensino Médio (15 a 17 anos)/Fase de especialização Essa fase continua a sequência evolutiva do jovem adolescente. Para alunos que passaram adequadamente por todas as etapas anteriores de formação do repertório motor, nesse momento são capazes de realizarcom certa destreza as habilidades de qualquer modalidade, e assim, podem concretizar a especialização em uma modalidade escolhida para ser praticada em atividade extracurricular. No entanto, durante as aulas de educação física no Ensino Médio é o momento em que o professor poderia transformar as aulas em sessões de treinamento, logicamente oferecendo a oportunidade de prática no maior número de modalidades possíveis. Nesse período, o professor e o aluno podem procurar o aperfeiçoamento e a otimização do potencial técnico e tático, que sirvam de base para o emprego de comportamentos táticos de alto nível. Inicia-se, paralelamente, um processo de estabilização das capacidades psíquicas e pode haver um aumento na participação em competições. Trata-se da primeira fase de direcionamento para o esporte de alto nível, é o momento de concretizar a especialização na modalidade escolhida e o aperfeiçoamento do potencial técnico e tático. Assim, em atividades extracurriculares, as sessões de prática podem ser de 3 a 4 vezes por semana com duração de 2 a 3h/dia. 2.5 Fase de aproximação/Integração – 18 aos 21 anos Esse estágio, que abrange dos 18 aos 21 anos, não inclui mais o período escolar, entretanto, nos clubes e escolas de iniciação esportiva o trabalho pode continuar a ser feito. E tal proposta metodológica, que não corrobora com a especialização precoce no esporte, aponta que somente aos 18 anos deveria começar a se pensar no esporte de alto rendimento. Assim, o jovem que passou por todo programa de iniciação terá seu repertório motor amplo o suficiente para promover uma especialização técnica rápida. De acordo com os ideais da proposta, o aperfeiçoamento da técnica não é privilegiado nesse programa da Escola da Bola, o foco do trabalho é o desenvolvimento da tática, associado com a capacidade de compreensão do jogo para a tomada de decisão adequada. Assim, como são anos do programa trabalhando a capacidade de jogar (tática) das crianças e jovens, quando chegar a hora da especialização para o alto rendimento essas habilidades já estarão bem desenvolvidas e apenas precisarão ser lapidadas para a modalidade específica. Também, como o desenvolvimento psicológico e cognitivo está mais maduro aos 18 anos, o jovem pode passar pelas exigências dos programas de alto rendimento com menos danos emocionais e psicológicos. A fase de crescimento encontra-se quase finalizada, ficando assim determinado o biótipo corporal e os traços do seu perfil psicológico. Portanto, a quantidade e duração das sessões de treinamento podem ser 5 vezes/semana, mais ou menos, 4h/dia. Esse momento é considerado o mais importante na transição do jovem para uma provável carreira esportiva. Aqui se definem os caminhos e se observa se será possível visar o esporte de alto rendimento e a profissionalização. Serão estabelecidos os limites e projetada sua possibilidade concreta de êxito no esporte de alto nível. Esses fatores fazem com que o momento da decisão para o esporte de alto nível, ou o esporte de lazer ou em níveis de rendimento, seja relativamente reduzido. Nessa fase, com o trabalho de aperfeiçoamento e otimização das capacidades técnicas, táticas e físicas, é importante conceder um grande espaço de tempo à otimização das capacidades psíquicas e sociais. Não é fácil realizar-se no esporte profissional. Por 20 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I esse motivo, a fase de aproximação permite uma integração com a etapa seguinte. Aqui, deve-se pensar nos grandes talentos, que só ficam na promessa de tornarem-se sucesso e, às vezes, não atingem tal objetivo, devido à deficiência ou falta de trabalho que é nossa proposta no sistema da fase de aproximação/integração. 2.6 Fase de alto nível A estabilização e domínio técnico-tático-psíquico e social atingidos na fase anterior serão aprimorados, tendo em conta um significativo aumento da relação das cargas de treinamento, no que diz respeito ao volume/intensidade/densidade e, consequentemente, será dirigido o processo para a meta de otimização dos processos cognitivos (no que se refere à situação esportista/alto rendimento/ estilo de vida) e psicológicos (psicorregulação, motivação intrínseca). Há um aumento nas cargas de treinamento. Nessa fase é possível estender as sessões de treinamento para uma frequência de 5 vezes/semana com duração de 4h ou mais/dia. 2.7 Fase de recuperação/Readaptação Visa-se a readaptação do ex-atleta à sociedade, bem como a aplicação de atividades físicas e programas adequados, que contribuam para o destreinamento de maneira gradativa, conduzindo-o ao esporte recreativo como forma de benefício à saúde. Procura-se adaptar os parâmetros fisiológicos para evitar problemas de saúde, ou seja, se adequar a uma vida comum com uma carga de treinamento muito inferior às cargas da fase anterior. Um programa de readaptação deve ser planejado sob a supervisão médica. Quando se projeta um programa semelhante, devem-se levar em consideração as necessidades individuais de cada atleta, sua anamnese, condições médicas atuais, capacidades funcionais, entre outras. Objetivos realistas devem ser determinados, considerando as limitações de tempo, espaço e interesse do próprio atleta. Nessa fase, objetiva-se a readaptação do ex-atleta à sociedade, e a aplicação das atividades físicas e programas adequados para o destreinamento de maneira gradativa. Sendo assim, a frequência e duração recomendada das sessões de treinamento podem ser de 2 a 3 vezes/semana com duração de 1h/dia. 2.8 Fase de recreação e saúde O conhecimento das experiências passadas e presentes em atividades físicas e uma avaliação cuidadosa da adaptabilidade individual em realizar esforços devem proporcionar a estrutura básica da formulação inteligente, de programas de atividade física que assegurem os efeitos positivos na manutenção da função fisiológica. De maneira geral, a frequência e duração das atividades físicas podem ser iguais as da etapa anterior. Entretanto, a maioria das pessoas não só se exercita porque gosta, mas por desejar obter alguns outros objetivos; por exemplo, perder peso, estética, manutenção de saúde e do convívio social, dentre outros. 21 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Saiba mais Para mais detalhes sobre a proposta de iniciação esportiva universal, leia: GRECO, P. J.; BENDA, R. N. Iniciação esportiva universal I: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. 3 CONCEITOS BÁSICOS PARA A ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO – APRENDIZAGEM EM HANDEBOL Apesar da divisão dos conteúdos desse livro-texto estar embasada na ideia da Iniciação Esportiva Universal de Greco e Benda (1998), a proposta de estratégias metodológicas para trabalhar os conteúdos supracitados está fundamentada em outra proposta das correntes da Pedagogia do Esporte, a chamada Escola da Bola de Kröger e Roth (2002). Ambas têm princípios semelhantes, pois têm sua fundamentação nas Teorias de Aprendizagem e Controle Motor e também em princípios da Psicologia Geral e Cognitivista. Entretanto, a Escola da Bola está apoiada em uma ação pedagógica orientada para a cultura do jogar de forma natural, livre e variada, o que acreditamos ser uma metodologia de ensino-aprendizagem motivante tanto para a escola quanto para clubes e escolinhas de iniciação esportiva. Dessa forma, assim como nas propostas da Iniciação Esportiva Universal, a Escola da Bola preconiza o trabalho inicial da capacidade de jogo (desenvolvimento da tática/capacidade de tomada de decisão e compreensão do jogo) e posteriormente o trabalho das capacidades coordenativas incidental (proposital), privilegiando fatores de pressão (tempo, precisão, complexidade,organização, variabilidade e carga) condicionantes da motricidade, também o desenvolvimento das habilidades com bola e da construção de movimentos específicos ao esporte (técnicas do handebol). Nas propostas de Greco e Benda (1998), inicialmente seriam trabalhados o desenvolvimento das capacidades coordenativas e subsequentemente as competências de jogo. Basicamente os mesmos elementos seriam realizados com tipos de exercícios iguais, entretanto, acreditamos que o início do trabalho do esporte com a introdução de jogos se torna mais dinâmico e forma um aluno pensante desde o princípio, pois oferece situações de jogo nas quais ele deve ser ativo na tomada de decisões, e para isso deve compreender os princípios básicos do jogo. Observação A proposta da Escola da Bola é uma das várias correntes de Pedagogia do Esporte existentes. 22 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I 3.1 Estrutura de aula De acordo com as prerrogativas da proposta da Escola da Bola, que tem como objetivo evitar a especialização precoce, a composição da aula deve possuir a seguinte estrutura: • jogos situacionais (tática) (também funciona como aquecimento): objetiva-se a aprender a jogar com liberdade, ou seja, no desenvolvimento da capacidade tática básica para o reconhecimento das situações de jogo; • desenvolvimento das capacidades coordenativas/coordenação (básica e fundamentos esportivos): trata-se do desenvolvimento das capacidades motoras básicas que permitirão uma transferência para as técnicas específicas de uma modalidade esportiva orientada para melhora da coordenação com bola, uma inteligência sensório motriz; • desenvolvimento de habilidades específicas (simulação de situações do jogo): trata-se do desenvolvimento de uma variada gama de habilidades técnicas e elementos comuns em vários esportes, permitindo desenvolver maiores possibilidades técnicas a partir da exercitação de elementos técnicos básicos dos diferentes esportes. Organizando tal estrutura de aula para os diferentes níveis de ensino e diferentes idades, em cada etapa uma dessas partes deve ser o foco. Assim, para aulas de Educação Infantil teríamos apenas o trabalho de Coordenação Motora Básica, pois, o nível de desenvolvimento motor dessa faixa etária ainda não permite que os aprendizes sejam capazes de participar de jogos com regras ou de realizar comportamentos mais complexos. Para o Ensino Fundamental I, podemos trabalhar as 4 partes sugeridas anteriormente, porém, com maior enfoque no trabalho da tática, em que devem ser usados diversos tipos de jogos para o aprendiz ir se acostumando a solucionar os problemas do jogo tomando decisões. Já no Ensino Fundamental II, podemos trabalhar as 4 partes supracitadas, porém, com maior enfoque no trabalho da técnica (coordenação), contudo com alguns elementos da modalidade handebol, já que esses alunos passaram os anos do Ensino Fundamental I exercitando a coordenação motora básica, agora já estarão aptos a transferir essas competências e para a aplicação de alguns elementos da modalidade. Nos ciclos finais do Ensino Fundamental II, o ideal é o professor oferecer atividades com combinação de técnicas, progredindo para níveis cada vez mais complexos, que poderão ser aproveitadas na modalidade handebol e também em outras. Durante o Ensino Médio, o professor deve trabalhar as 4 partes da aula com ênfase nas habilidades específicas. Esse é o momento no qual deve ser enfocado tanto trabalho da técnica (execução aperfeiçoada dos fundamentos) quanto da tática (tomada de decisão em situação de jogo de handebol). Seguindo essa estrutura, possivelmente teremos alunos com um amplo repertório motor, que poderá ser aplicável a qualquer modalidade esportiva, evitando assim, a especialização precoce, e mais importante, impossibilitando o aperfeiçoamento em apenas uma modalidade. Reforçando que tal 23 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS estrutura foi apresentada na Europa para ser usada em clubes, entretanto se encaixa perfeitamente na Educação Física Escolar. Observação A proposta de conteúdos a serem trabalhados em cada etapa da Educação Física Escolar pode ser a mesma a ser usada em clubes e escolinhas de iniciação esportiva. Deve-se apenas considerar o nível de habilidade motora dos alunos e a faixa etária para fazer as divisões dos grupos. 4 AS HABILIDADES BÁSICAS DO HANDEBOL E A CONSTRUÇÃO DO JOGO Todos os fundamentos do handebol devem ser trabalhados no primeiro bimestre, sendo eles: recepção, passe, drible, progressão e arremessos, além das fintas, que não são propriamente dito um fundamento, mas um recurso que se usa para ludibriar o adversário. 4.1 Aquisição e combinação de elementos técnicos básicos 4.1.1 Recepção Define-se como “a ação de tomada de contato com a bola com o objetivo de apoderar-se dela, controlando-a para realizar na continuação outra ação” (FERNÁNDEZ et al., 2012). É a ação específica e o efeito de receber a bola, assim como o gesto/forma empregado para fazê-la. A recepção é um elemento fundamental para o jogo de handebol, uma vez que caracteriza a posse de bola efetivamente, ponto de partida para qualquer ação consequente. Trata-se da ligação com o passe, e esses dois elementos são a base fundamental da modalidade. Para receber a bola, é importante se posicionar em local adequado (desmarcado), oferecendo-se como opção para receber e posicionar o corpo com estabilidade e controle para que a tomada de contato seja segura e efetiva, além disso deve-se estar atento a alguns princípios para receber: • posicionamento das duas mãos, (de preferência) à frente do corpo, como referência para a pessoa que está lançando a bola; • posicionamento do corpo sempre atrás da bola, formando uma linha entre passador-bola-recebedor; • contato inicial com a bola o mais longe do corpo possível e, após esse contato, traga a bola próxima ao corpo para mantê-la segura; • manutenção do contato visual com a bola, durante todo o momento de aproximação dela; • após a recepção, preparo rápido para a ação seguinte, quer seja arremessar, passar, driblar ou progredir. 24 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I A mecânica da recepção é dependente da maneira como a trajetória da bola se apresenta para a tomada de contato. É recomendado para garantir maior estabilidade e segurança que a recepção seja feita com posicionamento frontal com relação à direção da bola. Entretanto, muitas vezes durante as situações de jogo, não é possível que ela seja frontal, e aconteça com posicionamento diagonal, lateral ou por trás. Nesses casos, o mais importante é que a recepção aconteça a partir de qualquer posicionamento, desde que seja garantida a tomada de contato. A recepção frontal pode ser classificada em diversas categorias (de acordo com a trajetória da bola): • recepção alta; • recepção intermediária; • recepção baixa, e; • recepção da bola rolando. O posicionamento corporal para as recepções alta e intermediária são semelhantes. A mecânica do gesto fica facilitada quando as pernas estão afastadas, oferecendo maior estabilidade corporal, braços semiestendidos à frente do corpo para alcançar a bola, dedos semiflexionados em formato de concha voltados para cima, estando a ponta dos polegares e dos indicadores próximas uma das outras, à frente do corpo. 1 2 3 4 5 Figura 4 - Recepção intermediária, a) posicionamento corporal de preparação para recepção, b) execução da recepção, c) proteção da bola. 1) extensão dos braços, 2 e 3) alinhamento dos dedos, 4) flexão dos cotovelos, 5) aproximação da bola ao tronco Para a recepçãobaixa e de bola rolando, o posicionamento de troncos e pernas deve ser semelhante ao descrito anteriormente, entretanto os dedos devem estar voltados para baixo para o contato com a bola. 25 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS 5 3 2 1 4 6 a b c 7 Figura 5 - Recepção baixa a) preparação, b) recepção e c) proteção. 1) palma das mãos para baixo, 2) ponta dos dedos para baixo, 3) alinhamento dos dedos juntos, 4) flexão dos joelhos, 5) extensão dos braços, 6) flexão dos cotovelos, 7) aproximação da bola ao tronco 4.1.2 Passe O passe é a ação de enviar a bola de um indivíduo a outro. É a maneira mais utilizada no handebol para deslocamento da bola, por ser mais rápida do que a condução através do drible. Assim, com a recepção, é um dos fundamentos mais realizados nessa modalidade. Uma vez que é a maneira fundamental de deslocamento da bola entre os jogadores, deve ser realizada de forma adequada tecnicamente e de modo a garantir a maior segurança para que se mantenha a posse de bola da equipe. A segurança do passe depende de fatores como: a escolha do companheiro em melhor posicionamento para receber a bola e da escolha do tipo de passe a ser feito para tal companheiro, além da força a ser empregada. Geralmente, no handebol os passes são executados com uma das mãos pela liberdade e velocidade de manejo da bola que essa técnica propicia, entretanto, nada impede que passes sejam feitos com as duas mãos. De acordo com a situação de execução, os passes podem ser de três formas: parado, em deslocamento e em suspensão. O passe parado acontece quando um ou os dois pés estão em contato com o chão. Os passes em deslocamento requerem que o indivíduo esteja andando ou correndo durante a execução. Por fim, os passes em suspensão ocorrem quando o indivíduo se encontra na fase aérea de um salto. Os passes também podem ser classificados de acordo com a trajetória da bola: Figura 6 - Parabólico Figura 7 - Reto e Rasteiro Figura 8 - Quicado 26 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I Ainda com relação à técnica ou mecânica de execução, os passes mais frequentemente realizados podem ser: de ombro frontal ou lateral, pronação, por trás das costas e retificado. O passe de ombro (frontal ou lateral) é realizado com uma das mãos. O posicionamento das pernas é, geralmente, anteroposterior com o intuito de favorecer os mecanismos de alavancas para geração de torque desde a articulação do tornozelo, passando pelo quadril que deve apresentar leve rotação para trás, articulação do ombro, cotovelo e punho. O posicionamento adequado dos braços requer que haja ângulos de aproximadamente 90 graus entre braço e tronco e braço e antebraço, dessa forma, o mecanismo de alavancas também é beneficiado, minimizando a exigência em apenas uma articulação e assim distribuindo a tarefa de gerar força para empregar no passe. A mão deve estar posicionada atrás da bola com os dedos orientados para cima (a bola deve estar presa pela ação dos dedos). A propulsão da bola é iniciada pela ação de rotação do tronco e ombro, seguida de rotação do braço, extensão do antebraço e terminando com um movimento do punho para melhor direcionamento da trajetória da bola. A perna do mesmo lado do braço de arremesso pode acompanhar o movimento de rotação do tronco e ombro, saindo da posição atrás e finalizando com um passo para frente, o qual deve coincidir com soltura da bola. Figura 9 - Passe de ombro O passe de pronação é também bastante frequente durante o jogo, devido ao posicionamento dos jogadores na quadra, que estão geralmente um ao lado do outro e todos de frente para o gol. Dessa forma, ele permite que o referido passe seja feito com maior agilidade, pois não precisa que o tronco esteja voltado para o companheiro que o receberá. Portanto, o tronco pode estar voltado para a direção do gol, as pernas afastadas para garantir estabilidade e a bola é largada lateralmente ao tronco na direção do companheiro. A execução do movimento está mais focada no movimento do braço que tem a posse de bola. Assim, a mão (do lado do passe) deve estar voltada para baixo e segurando a bola através da pressão dos dedos. 27 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Caso seja difícil segurar a bola nessa posição durante as tentativas iniciais de prática, a outra mão pode ser posicionada em baixo da bola, palma da mão para cima. O braço e antebraço são movimentados na direção do passe e terminam com o movimento de pronação para melhor direcionar a trajetória da bola. Figura 10 - Passe de pronação O passe por trás das costas tem uma técnica de execução que exige maior repertório e refinamento do gesto motor, é um recurso técnico muito útil em situações específicas, como, por exemplo, quando o companheiro está do lado oposto ao lado em que a bola está sendo segurada. A mão deve estar posicionada em cima da bola, que deve ser segurada através da pressão dos dedos. A movimentação se inicia com o braço que fica levemente posicionado atrás do tronco para que o cotovelo seja flexionado, levando o antebraço e a mão para a região das costas. O punho e os dedos então empurram e direcionam a bola para o companheiro. 4.1.3 Drible O drible refere-se à ação de lançar a bola contra o chão e retomar o seu contato vinda do chão. É o fundamento que permite ao jogador maior possibilidade de deslocamento com posse de bola. Apesar de pouco utilizado no handebol, é um recurso importante em algumas situações, como, por exemplo: • quando o jogador quiser se deslocar rapidamente em uma distância relativamente longa com posse de bola. Essa circunstância ocorre frequentemente em situações de contra-ataque; • após o jogador ter executado três passos e ainda ter intenção de se deslocar pelo espaço com posse de bola; • quando não for possível realizar o passe, esperar um melhor posicionamento dos companheiros ou, então, necessitar fugir de alguma situação difícil, imposta pela marcação de algum adversário. 28 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I Além da possibilidade de deslocamento e progressão na quadra, o drible pode ser utilizado para: • desmarcar com posse de bola (esquivar-se da marcação); • fintar o adversário com posse de bola (utilizar de mudança de direção com a intenção de ludibriar o marcador); • buscar espaços livres para arremesso ao gol. Com relação ao posicionamento corporal, pode-se realizar a ação estando: em pé, sentado, deitado, parado, em deslocamento, com uma ou duas mãos alternadas. Para a mecânica adequada da realização do drible em pé, parado, com uma ou duas mãos alternadas, é recomendado que as pernas estejam ligeiramente afastadas em posição paralela quanto ao anteroposterior, a fim de aumentar a estabilidade corporal, tronco ereto, porém com ligeira flexão, cabeça erguida para que o olhar possa estar voltado para frente. O braço que executa o drible deve estar ligeiramente flexionado e a palma das mãos tocará a parte de cima da bola com os dedos também levemente flexionados. 8 7 5 4 3 6 1 2 Figura 11 - Execução do drible 1) mãos abertas em cima da bola, 2) flexão do cotovelo, 3) extensão do cotovelo, 4) movimentação de punho, 5) dedos voltados para o chão, depois de empurrar a bola, 6) cabeça erguida, 7) flexão cotovelo, 8) mão em cima da bola • lançando a bola ao chão: a bola deve ser controlada por apenas uma mão, sendo o contato realizado pelos dedos e com a palma da mão voltada parabaixo. Dessa forma, a mão deverá sempre estar posicionada sobre e não na lateral da bola. A bola deve ser lançada ao chão por uma extensão do cotovelo e por uma ligeira flexão do punho, no fim da ação de extensão do cotovelo; • recebendo a bola de volta: a bola deve ser controlada, após o seu toque no solo, a partir de um contato com os dedos. Ao mesmo tempo, o cotovelo precisa ser levemente flexionado e o punho 29 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS estendido para amortecer e mudar a trajetória da bola. Inicie novamente a ação de lançá-la ao solo, se assim for intencionado. Para o drible em deslocamento, o posicionamento corporal é o mesmo do descrito anteriormente, entretanto o lançamento da bola ao chão deve considerar a posição futura que o corpo estará por conta do deslocamento corporal. Assim, a bola precisa ser lançada mais à frente do que no drible parado. Para o drible sentado, deitado ou em qualquer outra situação de desequilíbrio, é importante que se tente manter o mínimo de controle postural para que o braço executor possa realizar o movimento de lançar a bola ao chão e a retomada de contato. 4.1.4 Arremesso O arremesso ou lançamento ao gol é definido como a ação de enviar a bola em direção ao gol, vencendo o goleiro. É o elemento que sintetiza o objetivo final do jogo, que é marcar o gol. Pode ser realizado com diferentes técnicas de execução, cada uma delas deve atender às demandas que a situação de jogo oferece para vencer a defesa e o goleiro. O arremesso deve ser realizado de preferência em situações nas quais a bola percorra uma trajetória livre até o gol. As características essenciais que o diferem do passe são: a força de execução, que geralmente é maior do que a empregada para um passe, e o objetivo, que no passe é alcançar o companheiro e no arremesso é vencer o goleiro e chegar ao gol. Toda movimentação tática (preparação da jogada), realizada na composição do arremesso, tem o intuito de levar à execução do arremesso em condições favoráveis para conseguir o gol. A movimentação rápida, característica do handebol, propicia o surgimento de muitas oportunidades de arremesso e o executante deve ser capaz de escolher e executar o arremesso mais apropriado de acordo com as oportunidades surgidas. A eficiência e a eficácia do arremessador dependem do conhecimento e entendimento, por parte do executante, dos seguintes princípios: • arremessar em movimento: quando possível, realizar o arremesso com uma movimentação em direção ao gol. Isto faz com que a velocidade e força do arremesso sejam aumentadas (momentum do corpo); • levar em consideração a posição/movimento do goleiro: arremessar em uma área do gol na qual o goleiro não esteja cobrindo. Dessa forma, o arremessador deve não apenas vencer o defensor (bloqueio), mas também o goleiro; • precisão no arremesso: muitas vezes, apenas arremessar com força não é suficiente para vencer o goleiro; o local onde a bola é arremessada é essencial. Portanto, a precisão do arremesso é fator primordial para o seu sucesso. Os pontos mais vulneráveis são os cantos inferiores e superiores da área delimitada pelas traves; 30 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 12 - Pontos vulneráveis do gol • levar em consideração a distância e ângulo de arremesso: aqueles realizados na área central da quadra, tem maior possibilidade de ser convertidos em gols (maior ângulo de arremesso); Figura 13 - Área central • arremessar fora do alcance do defensor: executar os arremessos quando os defensores propiciarem espaço; por sobre os defensores, ao redor ou entre eles. Entretanto, o arremessador NÃO deve FORÇAR o arremesso. Apenas fazê-lo quando uma clara oportunidade for criada. Com relação à posição do gol, os arremessos podem ser: altos, intermediários (de altura média) ou baixos. No que se refere à mobilidade da execução, os arremessos mais simples podem ser: parados com pé de apoio, em deslocamento, em suspensão e retificados. A mecânica de execução do arremesso simples basicamente envolve a realização de um passe de ombro (fundamental), apenas de forma mais acentuada quanto à forma e velocidade, que na maioria das vezes, é combinada com um salto. Os principais arremessos simples são: • de frente parado; 31 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS 2 a b c 4 7 6 5 31 Figura 14 - Arremesso parado (com pé de apoio) a) preparação, b) execução, c) finalização 1) armação do arremesso, 2) colocação do peso no pé de trás, 3) ombros perpendiculares ao gol, 4) balanço com passo para frente, 5) rotação do ombro na direção do gol, 6) braço contrário de apoio, 7) término da movimentação do braço de arremesso • de frente em suspensão, que pode ser suspensão horizontal ou vertical; 5 4 6 7 1 32 1 a b c Figura 15 - Arremesso em suspensão a) preparação, b) execução e c) queda. 1) saltar, 2) armar o braço de arremesso, 3) braço contrário na frente do corpo, 4) rotação do ombro, 5) balanço do braço para frente, 6) continuação do movimento do braço de arremesso, 7) amortecimento da queda 32 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 Unidade I • de frente com passada cruzada; Figura 16 - Arremesso com passada cruzada à frente • com inclinação lateral, que pode ser do mesmo lado ou do lado contrário ao braço de arremesso; Figura 17 - Arremesso com inclinação lateral • da extremidade; Figura 18 - Arremesso da ponta esquerda 33 Re vi sã o: K le be r N as ci m en to d e So uz a - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s S ou za - d at a 18 /0 1/ 20 17 HANDEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS Os arremessos especiais são aqueles que apresentam giros, quedas e rolamentos em sua execução. São gestos mais complexos, portanto, somente devem ser ensinados depois que o aprendiz já consegue realizar os arremessos simples com facilidade. Os arremessos especiais geralmente executados por indivíduos mais experientes e com repertório motor mais amplo na modalidade. Alguns dos principais arremessos especiais são: • com queda para frente: pode ser combinado com giro e/ou salto; 1 a b c 4 5 3 2 Figura 19 - Arremesso com queda para frente. A) preparação, b) execução e c) queda. 1) giro para posicionar de frente para o gol, 2) elevação do braço para armar o arremesso, 3) movimentação do braço para a realização do arremesso, 4) extensão do braço, 5) preparação para contato com o solo As diferentes técnicas de arremesso podem ser mais frequentemente executadas em cada uma das posições da quadra. Por exemplo, os jogadores armadores geralmente fazem os arremessos da região mais central da quadra, tanto da linha dos 9 m quanto da linha dos 6 m. Nessas posições, os arremessos podem ser tanto parados quanto em deslocamento. Os arremessos da linha dos 6 m frequentemente acabam por terminar em queda na intenção de projetar o corpo para dentro da área do goleiro e se livrar da marcação. Entretanto, os arremessos mais frequentes dos 9 m são com deslocamento, parado, com salto e com giros. No entanto, os pontas geralmente arremessam da linha dos 6 m das extremidades da quadra, e os pivôs na região central. 4.1.5 Progressão A progressão tem sido considerada na literatura da modalidade tanto como um fundamento técnico (movimento específico da modalidade) quanto como um recurso (possibilidade de ação dentro da modalidade). A progressão pode ser definida como a movimentação em que
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