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Trabalho Saúde Mental

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universidade do estado do rio de janeiro
centro de educação e humanidades
instituto de psicologia
curso de graduação em psicologia
 MARCELLA APARICIO, MATHEUS BOGOSSIAN E RANNY DIAS
TRABALHO
Psicanálise e saúde mental
Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia Clínica e Saúde Mental, ministrada pela professora Dóris Rinaldi, para obtenção parcial de nota no curso de graduação em Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Rio de Janeiro - RJ
JULHO/2015
Resumo: Este trabalho tem o objetivo de fazer um breve apanhado histórico a respeito da emergência e constituição do termo loucura relacionado com saúde/doença mental. A partir daí será abordado o modo pelo qual a saúde mental é tratada na clínica psicanalítica, de maneira a esclarecer as contribuições desse campo teórico para a promoção de saúde.
Palavras-chave: Psicanálise, Clínica, Saúde Mental
Durante os primeiros séculos depois de Cristo até o século XV, a loucura tal como é conhecida hoje era tratada como possessão demoníaca. A partir da influência racionalista do renascimento, no entanto, a noção da loucura atrelada ao misticismo e à religião foi substituída pelo conceito de alienação mental, um estigma que durante muito tempo levou à exclusão junto de outras pessoas que eram consideradas indesejadas pela sociedade. Esta política não visava o tratamento do louco, apenas seu afastamento da vida coletiva. 
Por volta do século XVIII, a loucura passa a ser vista como desrazão, tornando-se uma patologia e originando critérios para sua classificação e descrição, assim como convertendo-se em objeto de estudo para a medicina, mais especificamente a psiquiatria. No entanto, a compreensão dos loucos como pessoas que sofriam de doenças mentais não levou ao surgimento de uma atenção particular direcionada ao tratamento deles, só significou que haveria um lugar específico onde eles seriam depositados para serem isolados e receberem medicações padronizadas. Segundo Tenório (2002), “a psiquiatria não foi capaz de oferecer outra resposta por razões que começam no mandato social que a legitima (reclusão dos loucos), passam pelos valores culturais e sociais mais amplos de segregação da diferença [...] e culminam na dificuldade técnica [...]”.
As situações de descaso e abandono a que eram submetidas aqueles considerados doentes mentais começaram a ser denunciadas e expostas, assim como foi questionada sua prerrogativa teórica nos próprios ambientes psi. Particularmente através do surgimento da psicanálise freudiana, que se destacou pela proposta da escuta, da valorização do discurso do louco e da cura pela palavra, muito diferente do que se fazia na psiquiatria até então. A influência da psicanálise foi muito forte e se estendeu para outros países, por exemplo: na França surgiu um movimento criado por psicanalistas denominado como psicoterapia institucional francesa, que discutiu em seu âmbito o conceito de um coletivo que não elimine as singularidades. Outro exemplo se manifestou na Itália, a partir de questionamentos de intelectuais ligados à área psi, propondo a noção de que apenas o tratamento medicamentoso não seria suficiente.
O termo saúde mental em si surgiu nos Estados Unidos em substituição de “doença mental” no sentido de positivar e atenuar seu estigma. A saúde mental poderia ser caracterizada por uma relação tríade de conceitos, envolvendo a transgressão de normas sociais, sofrimento grave por parte dos sujeitos e a criação de políticas públicas por parte de instituições que percebam essa questão como um fator de importância. Definida como um movimento político, social e clínico que levantava a bandeira da cidadania do louco, a reforma psiquiátrica inaugurou um novo modelo de atendimento no Brasil, tendo como exemplo de experiência envolvendo promoção de saúde a implementação dos NAPS (Núcleos de Assistência Psicossocial) e dos CAPS (Centros de Assistência Psicossocial), que representaram alternativas à internação manicomial.
Por terem sido os primeiros núcleos a serem estabelecidos, os NAPS tinham algumas desvantagens de atendimento em relação aos CAPS, entre elas a ausência de leitos e de um trabalho que levasse em maior consideração o conceito de “território” de onde o paciente viria. Ainda assim, eles representaram um marco da responsabilidade pública em relação ao serviço de saúde mental universal, e a partir daí, os CAPS puderam incrementar saberes de outras áreas em um trabalho interdisciplinar, com objetivo de promover um melhor planejamento de saúde que acolhesse demandas de diferentes segmentos. Outros exemplos do compromisso com a saúde mental puderam ser vistos a partir de intervenções em casas de saúde que ainda funcionavam como “depósito de doentes mentais”, assim como a criação de programas de assistência social voltados para o retorno dos pacientes a suas famílias, caso pudessem ser localizadas, e o fornecimento de terras e de dinheiro, caso não pudessem. 
A reforma psiquiátrica não foi só uma preocupação com os maus tratos que os loucos sofriam nos asilos, era uma preocupação de contribuir para um melhor tratamento daqueles que sofriam. Nesse contexto, para que a promoção de saúde se tornasse bem sucedida seria necessária uma análise caso a caso, pois o desenvolvimento de técnicas homogêneas poderia excluir a singularidade do sujeito. Considerando isso, a psicanálise teria contribuições a fornecer para o tratamento, pois esta se baseia na clínica do sujeito – uma clínica que respeita os limites propostos pelos sujeitos singulares e aborda os paradoxos inerentes à existência subjetiva.
A partir desta perspectiva não se preconiza a inserção social como objetivo a ser alcançado, mas sim como uma consequência da abertura de um espaço para a escuta do discurso do sujeito. A clínica psicanalítica tem o objetivo não de normatizar e enquadrar os sujeitos, mas de tentar compreender os motivos por trás da inadequação e da falta de inserção no meio social, trabalhando a partir daí no sentido de minimizar o sofrimento psíquico relacionado ao sintoma. 
Um bom exemplo dessa abordagem está presente em O caso Schreber, que apesar de não ter sido tratado oficialmente por Freud, seu autorrelato foi analisado pelo psicanalista. A partir do livro “Memórias de um doente dos nervos”, Freud interpreta a maneira através da qual o diálogo com o delírio foi responsável pela estabilização da condição do paciente e a possibilidade de sua permanência no convívio social. Partindo de um desejo emasculatório de querer ser copulado como uma mulher e de crises nervosas relacionadas a isso, o próprio paciente chegou a uma fantasia de que ele seria a mulher de Deus e geraria uma nova raça de homens. Este delírio o estabilizou de modo a alterar parcialmente sua compreensão da realidade, sendo que o surto representou uma maneira do louco se situar no mundo.
Dessa forma, foram explicitados os aspectos que influenciaram o desenvolvimento do conceito de loucura e saúde mental, abrangendo contribuições de diferentes países. A partir daí, a efetivação da reforma psiquiátrica no Brasil com a criação de NAPS e CAPS, que inovaram no tratamento de doentes mentais, e as imprescindíveis contribuições da psicanálise na área clínica e na promoção e planejamento de saúde.
REFERÊNCIAS:
GENEROSO, C.M. Situação-problema: dificuldades no caminho da inserção social da psicose. In: GUERRA, A.M.C., & MOREIRA, J.O.(Eds.). A psicanálise nas instituições públicas – saúde mental, assitência e defesa social. Curitiba: CRV, 2010, p. 109-117
FREUD, S. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. Obras completas Sigmund Freud.
PALOMBINI, A. Por uma ética da clínica, aposta nos que resistem. In: GUERRA, A.M.C., & MOREIRA, J.O.(Eds.). A psicanálise nas instituições públicas – saúde mental, assitência e defesa social. Curitiba: CRV, 2010, p. 119-127
RINALDI, D. O acolhimento, a escuta e o cuidado: algumas notas sobre o tratamento da loucura. Revista Em Pauta Faculdade de Serviço Social da UERJ, 2000, n. 13, p. 7-18 
RINALDI, D. A ordem médica:a loucura como doença mental. Revista Em Pauta Faculdade de Serviço Social da UERJ,1998, n.13, p.103-115
RINALDI, D. Reinserção social e clínica: impasses no campo da reforma psiquiátrica. In: A psicanálise nas instituições públicas – saúde mental, assitência e defesa social. . Curitiba: CRV, 2010, p.129-139
TENÓRIO, F. Introdução e Capítulo 1. A Psicanálise e a clínica da reforma psiquiátrica, Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001
FOUCAULT, M. História da loucura, São Paulo: Perspectiva.1997.

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