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RESUMO DOS TEXTOS DE PSICOLOGIA MÉDICA – 2ª UNIDADE DISCENTE: ANNA BEATRIZ FONSECA – MEDFTC2020.1 – 2° SEMESTRE – TURMA A – TUT 3 DERMATITES DERMATITE ATÓPICA; EXPERIÊNCIA COM GRUPO DE CRIANÇAS E FAMILIARES DO AMBULATÓRIO DE DERMATOLOGIA SANITÁRIA Os indicadores epidemiológicos da demanda clínica da Dermatite atópica em psicoterapia afere que na infância existe um predomínio de meninos, enquanto na vida adulta o maior número de busca terapêutica é de mulheres. Quanto à faixa etária, embora ocorra em todas as idades, em 85% dos casos os sintomas iniciais são apresentados durante os primeiros cinco anos de vida. o Winnicott desenvolveu estudos relacionando queixas dermatológicas com o estado emocional da criança. Preocupava-se em romper o círculo vicioso que levava a criança à coceira, à irritação da pele e à formação de pápulas, ciclo este que, frequentemente só era interrompido pela exaustão da criança, angustiando pais e paciente. A ideia de que o estresse emocional costuma acompanhar os problemas dermatológicos e, por este motivo, influencia as alterações da pele é endossada por Azambuja, que vai afirmar que todos os aspectos da vida da pessoa devem ser considerados durante o atendimento, devido à interação de inúmeros fatores relacionados ao desencadeamento e desenvolvimento da doença dermatológica. O mesmo autor entende que este campo de estudo aplica o conceito integrativo ao ser humano e que a saúde deve ser compreendida em suas diversas dimensões: física, emocional, mental e social, incluindo atualmente, a dimensão espiritual. Este é o campo da Psicodermatologia, um ramo da dermatologia que estuda a influência do psiquismo nos problemas dermatológicos. Alguns métodos que para redução do estresse podem ser feitos pelo próprio paciente, como por exemplo: priorizar e organizar o tempo, praticar exercício físico aeróbico, ouvir música, ler e até meditar. Os pais devem aprender a controlar sua ansiedade, pois é muito comum a criança com DA captar o nervosismo dos pais. Outros métodos para o controle do estresse podem requerer assistência profissional, como por exemplo, uma consulta com um psicólogo, ou a participação em grupos de apoio para pessoas que sofrem de dermatite atópica. A AADA é uma entidade sem fins lucrativos, formada por médicos, pacientes, psicólogos e outros profissionais da área da saúde. Uma das finalidades da Associação é de tentar aproximar o paciente de outras pessoas que sofrem do mesmo problema. Entre as atividades realizadas pela AADA, destaca-se a formação de grupos de apoio para pacientes portadores de DA e seus familiares. De preferência, um grupo deve ser formado por um médico, ou outro profissional da área da saúde, que tenha certa experiência em lidar com pacientes com DA. Este profissional é quem geralmente, coordena as reuniões. Além de um médico é essencial a presença de um psicólogo durante as reuniões. Grupo A – “Na pele do coelhinho...” No grupo realizado no mês de abril, trabalhou-se com o tema da Páscoa. Foram-lhes oferecidos diversos materiais, com o intuito de trabalhar e experienciar diferentes texturas: tecido, algodão, papéis, etc. O objetivo foi de sensibilizar para o tato e o contato com a própria pele, principalmente na região das lesões, cuja experiência tátil é diferente. Com os pais foram trabalhadas questões referentes ao cuidado e à evolução do tratamento; as orientações eram trazidas pela médica dermatologista. Foi discutida a importância dos animais de estimação para as crianças e avaliada a relação risco-benefício para cada portador. Os pais começaram, espontaneamente, a associar eventos estressores com o aumento das lesões. Mais do que a equipe, os próprios pais se “autorizavam” a dar orientações. Grupo B – “Quem cuida de quem?” ou “Quem vai cuidar da plantinha?” Assim como a mãe cuida (ou deve cuidar) de seu filho, cada filho deve cuidar da sua pele, da sua lesão. Neste grupo cada criança ganhou uma pequena planta, a qual deve ser cuidada pela própria criança até o próximo encontro. Nos depoimentos dos pais, o tema cuidado aparece em diferentes relatos. Em alguns relatos, percebia-se a inversão de papéis entre pais/cuidadores e filhos/cuidados. Grupo C – “Quem vai tirar férias?” Aproveitando a eminência do período de férias de inverno. Neste encontro a proposta foi de construção, com sucata, de um brinquedo que cada criança pudesse levar para casa ao final do grupo. O objetivo da equipe era chamar a atenção ao fato de que, mesmo quando tiramos férias, precisamos cuidar das lesões. As orientações dermatológicas enfatizaram os cuidados com o frio: o uso de estufa, a água muito quente no banho, a necessidade de maior hidratação da pele no inverno. Familiares provenientes do interior, da região da serra, deveriam redobrar os cuidados, dadas as temperaturas mais baixas da região. O tema do cuidado e o movimento de autonomia das crianças foram mais uma vez retomado. Os pais mais frequentes passaram a funcionar como “co-coordenadores”, compartilhando suas experiências com os pais que assistiam ao grupo pela primeira vez. Grupo D – “Enchendo balões de sentimentos” No grupo realizado no mês de outubro o tema foi o dia da criança. A proposta era trabalhar os sentimentos que poderiam, simbolicamente, ser colocados em um balão. No final da atividade, as crianças ganhavam balões cheios, que continham uma mensagem. A cada balão estourado, a criança guardaria a mensagem do grupo. No grupo de mães, sentimentos relacionados ao rechaço dos filhos com DA foram enfatizados. Resultado da pesquisa: Verifica-se que o primeiro impasse das famílias diz respeito à aceitação da doença, que é crônica e de curso imprevisível. A representação da doença de pele como algo que é sujo e contagioso se repete sempre com intenso sofrimento. A vergonha de mostrar as lesões fica evidente no uso de mangas e calças compridas, pela maioria das crianças, mesmo quando é calor. A associação do sofrimento emocional com o aparecimento ou agravamento das lesões, proposta por Winnicott e endossada por Azambuja é evidente desde o primeiro grupo. Percebeu-se que os pais que estabelecem uma relação de apego seguro com seus filhos portadores de DA, revelaram maior colaboração com as rotinas de cuidado das crianças, e que estas apresentavam uma evolução clínica mais rápida, com diminuição das lesões de pele. Já os pais ou cuidadores mais angustiados ou com problemas de vinculação com suas crianças, revelaram dificuldade em aderir ao tratamento, rechaçando e/ou expondo as crianças, desistindo do tratamento antes que o resultado deste se efetivasse. A possibilidade de compartilhar experiências com outros familiares, aliado à escuta multiprofissional tem deixado os pais mais tranquilos e confiantes nos cuidados de seus filhos; já as crianças têm revelado maior autonomia ao assumir ou aceitar o tratamento. De outro lado, o aproveitamento e a satisfação dos pacientes e familiares tem funcionado como dispositivo para o maior engajamento da equipe, em uma cadeia de retroalimentação positiva. A PELE EXPRESSANDO O AFETO: UMA INTERVENÇÃO GRUPAL COM PACIENTES PORTADORES DE PSICODERMATOSES: Objetivo da pesquisa: Analisar a intervenção psicoterapêutica grupal com pacientes portadores de psicodermatoses como ferramenta para trabalhar as questões emocionais envolvidas no adoecimento de pele. Resultados: A análise dos dados gerou 5 categorias: Expectativas e projeções: construindo a confiança Assim como em qualquer situação nova, o início de um grupo com pacientes apresenta dificuldades características, pois a nova experiência é mobilizadora de ansiedades, seja pelo medo do novo, seja pela mudança ou pelo papel que imaginam que eles mesmos irão ocupar. Os mecanismos de defesaentão aparecem, podendo ser compreendidos como os diferentes tipos de operações mentais que têm por finalidade a redução das ansiedades. Lidando com a doença e dando sentido a ela - "O grito" Na sociedade atual, em que vigoram padrões estéticos bem delimitados e de certa forma exigentes, uma doença de pele pode provocar impacto emocional, físico e social, afetando a vida dos seus portadores. A visibilidade, o aspecto desfigurante, o estigma e muitas vezes a cronicidade contribuem para que as dermatoses tragam prejuízos importantes para a qualidade de vida e para os relacionamentos interpessoais, os sentimentos de inadequação e de baixa autoestima. Müller ajuda a compreender esse sentimento, ao dizer que a pele age como um abrigo da individualidade e, ao mesmo tempo em que protege, é a fachada que expõe cada um. Pesquisas mostram que a maioria dos portadores de psicodermatoses já experimentou o sentimento de ser fisicamente não atraente, não desejável ou ambos, além de ter sofrido algum tipo de discriminação ou rejeição em locais de circulação social ou no trabalho. Apesar de ser clara a exposição a que ficam submetidos os portadores de qualquer tipo de dermatose, muitos deles, principalmente os mais graves, apresentam queixas e frustrações com relação ao manejo da doença, à ineficácia dos tratamentos e por perceber que o impacto da doença ainda é subestimado pelos profissionais da saúde. Assim, pode-se dizer que dói também o "não olhar", ou seja, a desqualificação da dor. O estresse também aparece como um elemento importante no desencadeamento ou no agravamento das psicodermatoses: 1. Em pesquisa realizada sobre os possíveis desencadeantes relatados por pacientes de psoríase e vitiligo, verificou-se que a perda por morte ou separação de membros da família foi o fator mais citado, seguido por problemas familiares, crises do ciclo vital, eventos estressores imprevisíveis, além de características do próprio indivíduo; 2. Estudos realizados demonstram a relação entre o eczema infantil e a privação de afeto pela falta de contato físico, terno e envolvente por parte da mãe. Crianças que vivenciaram traumas iniciais no desenvolvimento e cuja necessidade de estímulo tátil cutâneo não foi apropriadamente desenvolvida podem tornar-se inábeis para lidar com a ansiedade, podendo desencadear sintomas na pele quando estressados, cuja profundidade é proporcional à profundidade do dano psíquico. Por esse motivo, entende-se a doença como representativa de emoções não resolvidas, apresentando- se como manifestações orgânicas. Limites e diferenciação Durante o desenvolvimento inicial, especialmente até o primeiro ano de vida, a criança vive num estado primário não integrado, em que é extremamente dependente dos cuidados de um adulto. O toque e os cuidados maternos afetivos conferem ao bebê, num primeiro momento, a sensação de continência, definido por Winnicott como holding. Tais cuidados, juntamente com a vivência desse processo de fusão e separação, permitem a construção da noção de confiança, integridade e identidade. Além disso, a pele está integrada ao desenvolvimento da imagem corporal, ou seja, à representação mental do corpo e de seus órgãos, que se desenvolve em resposta à presença empática do cuidador, principalmente pelo cuidado, apego seguro e pelo toque. Este propicia o contorno da borda original da superfície do corpo, e por meio disso confere-lhe uma forma e a noção dos limites entre interno e externo. Se a pele exerce o papel de "barreira" e de limite entre o eu e o outro, pode-se dizer que o adoecimento de pele fala de adoecimento dos limites e que essa barreira se encontra fluida e permeável. No grupo, foi possível perceber esta como uma característica própria dos pacientes portadores de psicodermatoses. O adoecimento de pele escancara algo que se passou nas relações iniciais e é um sintoma que fala da dificuldade de diferenciação e do estabelecimento de limites eu- outro. Ainda conforme, a busca de fusão com o outro, exemplificada pela dificuldade em expressar emoções e fazer isso por meio do corpo também marca o seu oposto, a busca da diferenciação. O grupo como espaço de ressignificação das relações A intervenção grupal permite a criação de um ambiente que oportuniza aos participantes falarem de si e se verem nos demais, mas também é um espaço em que se deparar com a dor e o sofrimento é necessário para que possam experimentar não apenas novas formas de se relacionar consigo mesmos e com os outros, como também novas vias de expressão dos afetos. O grupo pode ser comparado a uma galeria de espelhos, em que cada um se reflete e é refletido pelos demais, sendo esse um fator terapêutico importante do grupo. Por esse aspecto, o componente visual da abordagem grupal é de extrema importância, pois pacientes e terapeuta funcionam como espelhos para cada um e para si mesmos. Além disso, o grupo oportuniza que cada um compare e constate suas próprias maneiras com as de outros e familiarize-se com novas maneiras de sofrimento e de solução de conflitos. Validando o grupo como ferramenta A intervenção grupal com pacientes portadores de psicodermatoses oportunizou a criação de um espaço de escuta e acolhimento, no qual os participantes, por viverem situações semelhantes, puderam enxergar a si e aos demais, aprender com a experiência dos outros e ensaiar movimentos e mudanças com relação à forma de se relacionarem consigo mesmos e com o mundo. A função de holding é o principal atributo do setting grupal, sendo que o próprio grupo funcionou como um importante continente das necessidades e angústias de cada um, na medida em que o paciente conquista a condição que realmente pertence a ele. Assim, a função de holding é exercida não só pelo terapeuta, mas ainda pelo conjunto grupal, sendo essa uma das funções terapêuticas universais realizadas por um grupo. Nos grupos somáticos homogêneos, o fato de os pacientes sofrerem por problemas semelhantes e enfrentarem situações parecidas contribui para que se crie um forte clima de coesão grupal e mútua solidariedade entre si, o que Mello Filho chama de "universalidade de conflitos". Dessa forma, sentem alívio ao perceber que os outros também vivem situações e sentimentos semelhantes, além de oportunizar que os participantes se sintam valorizados em apoiar e colaborar com seus pares de grupo. Além disso, esse processo de identificação e trocas repercute no aumento do repertório de comportamentos, respostas e interações. Considerações finais: Através da intervenção psicoterapêutica grupal, criou-se um espaço que possibilitou ir para além da doença de pele: esta foi somente a porta de entrada para que, saindo da pele-superfície, se adentrasse a níveis mais profundos, íntimos e singulares do psiquismo, em que a doença aparece como um sintoma de algo que não pode mais deixar de ser visto: escancara o que é da ordem do afeto, do psíquico, do emocional. Se a pele exerce o papel de barreira entre o interno e o externo, então pode-se dizer que o adoecimento da pele fala de adoecimento dos limites, sendo um sintoma da dificuldade de diferenciação entre o eu e o outro. Além disso, o espaço grupal pôde servir ora como espelho, possibilitando que os pacientes se enxergassem através do outro e para dentro de si, ora como ventre, permitindo que mudanças pudessem ser gestadas e reaprendizagens feitas. Por isso, compreende-se que a intervenção grupal foi uma importante ferramenta na abordagem de pacientes portadores de psicodermatoses, na medida em que se configurou como um espaço seguro de expressão de afetos e ressignificação de vínculos e padrões de relacionamento estereotipados. Ao evidenciar os aspectos emocionais presentes nas psicodermatoses,se privilegia um novo olhar e um modelo mais integrado de atenção. SAÚDE DO HOMEM COMO HOMENS IDOSOS CUIDAM DE SUA PRÓPRIA SAÚDE NA ATENÇÃO BÁSICA? A partir da análise dos dados, obtivemos duas categorias: Formas de cuidados à saúde pelo homem idoso: “O outro me cuida” traduz as falas dos entrevistados que demonstraram a necessidade de cuidador como responsável por sua saúde, incluindo o controle de administração de medicamentos, mesmo quando poderiam lançar estratégia de memorização dos mesmos. Nesse contexto, os entrevistados optaram por atender à solicitação de familiar que coordena a rotina de cuidados à saúde. Explicitaram também a necessidade de maior incentivo à saúde do homem para que se sintam mais motivados a frequentar tal espaço, uma vez que tem outros atrativos ao invés de irem aos serviços de saúde, como socializar com amigos. A segunda subcategoria “eu me cuido” foi mais discreta, pois alguns dos entrevistados se preocuparam em realizar o cuidado com a própria saúde, mas ainda restrito a realização de exames laboratoriais gerais ou relacionados à saúde sexual e reprodutiva; e apontaram a importância de se cuidar para significar o estar vivo. Outros procuraram os cuidados apenas quando apresentaram algum quadro agudo de alteração da saúde. Alguns entrevistados pontuaram que homens buscam menos os cuidados à saúde, quando comparados às mulheres, pois eles não necessitam desses cuidados frequentemente, apontando que mulheres adoecem mais que homens, ou que elas são privilegiadas nesse contexto. Serviço de saúde como apoiador no (des)cuidado do homem idoso: No que tange à UBS, os entrevistados ressaltaram a proximidade desse serviço de saúde com suas residências como ponto positivo, mas destacaram a dificuldade de acesso aos medicamentos. E quanto aos profissionais de saúde da UBS, alguns apontaram o atendimento desqualificado, já outros, descreveram como satisfatório, mas foram unânimes sobre a espera exagerada na fila para esse atendimento. Segundo os participantes, esses aspectos também fragilizam os cuidados com a própria saúde. Discussão: Os participantes deste estudo reforçaram questões de gênero, como ser homem os respalda a ter menos cuidados com a própria saúde. Mas, pelo fato de serem idosos com morbidades diagnosticadas, diferentemente de quando jovens, destacaram a busca, mesmo que irregular, de serviços de saúde, porém acreditam que esse cuidado precisa ser realizado por outra esfera, seja um elemento (exames para diagnóstico, fármacos), familiar (em geral, figura feminina) ou profissionais de saúde. Mesmo quando descreveram mudanças de comportamento ao longo dos anos, ou seja, de não frequentadores de serviços de saúde para se tornarem presentes em consultas com profissionais da UBS, revelaram pensamentos de que essas ações pontuais são suficientes para o cuidado de sua própria saúde. Esse movimento remete à cultura de que o homem precisa ser cuidado, e não se cuidar. Dessa maneira, os entrevistados desta investigação pontuaram o acesso à tríade (medicamentos, exames, profissionais) como sinônimo de ter saúde. O comportamento de não buscarem serviços de saúde com frequência, destacado pelos idosos desta investigação como típico do sexo masculino, foi relacionado ao imaginário cultural sobre o que é ser homem; o medo de descobrirem que estão doentes e a vergonha em expor o seu corpo. Esse aspecto só reforça de que não há necessidade de mais programas, além dos existentes. Indicando que precisa é ser garantido o acesso à AB, como proposto pela política nacional de atenção básica, e dessa forma, populações resistentes a desenvolver comportamentos de promoção à saúde e prevenção de agravos, como a de homens com mais de 60 anos, possam se apropriar de informações que os tornem protagonistas de seu cuidado, ou seja, participação de ações de educação em saúde, pois à medida que identificássemos demandas adicionais, estas poderiam ser incorporadas à nossa cultura de cuidado. Além disso, outro motivo que pode justificar a baixa procura dos homens pelos serviços de saúde é o desajuste da estrutura no atendimento e assistência às demandas específicas à população masculina, o que pode ampliar as suas dificuldades na busca pela assistência à saúde, bem como contribuir para um menor empenho dos mesmos em manter hábitos de vida saudáveis e adesão a tratamentos nas situações de maior vulnerabilidade. Os homens idosos entrevistados apontaram estratégias para estabelecer vínculo de homens idosos e UBS, como oferta de incentivos específicos, atendimento direcionado para homens, para que dessa maneira se sintam incluídos no cuidado, do mesmo modo que identificaram o atendimento às mulheres. Sugeriram atendimento por separação de gênero, mesmo quando para acompanhamento de condição crônica. Já que as UBS, geralmente, funcionam no período diurno, coincidindo com o horário de trabalho desses indivíduos. Esse aspecto poderia ser também relacionado à falta de conhecimento da maioria dos participantes sobre a campanha “novembro azul” e reduzida cobertura da estratégia saúde da família portanto, a minoria tem agentes domiciliares com informações atualizadas sobre ações de saúde. Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública: Para atender a essa população, a equipe precisa se apropriar de ferramentas que possa despertar no homem idoso seus próprios cuidados, pois não tem coerência no contexto histórico-político-econômico o reforço de machismo e assistencialismo. Uma das ferramentas que podemos implementar no atendimento aos homens idosos é o autocuidado apoiado, que tem como foco a promoção de saúde e prevenção de agravos. E dessa forma, homens nessa faixa etária poderão atingir metas para melhorar sua condição de saúde e protagonizar seu plano terapêutico. Nesse sentido, percebemos que a oferta de acesso aos homens é de fundamental importância para estabelecimento/fortalecimento de vínculos entre usuários e profissionais de saúde, para tanto esse movimento demandará profissionais treinados e sensibilizados com necessidades de saúde de homens idosos independentes, para que juntos desenvolvam projeto terapêutico sinérgico de tratamento, prevenção de agravos e promoção de saúde. HOMENS E CUIDADO À SAÚDE NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: Apesar de serem mais vulneráveis e morrerem mais precocemente, os homens quase não buscam os serviços de saúde, principalmente, a atenção básica, pois se consideram invulneráveis. Isso contribui para que se cuidem menos, os tornando mais propensos ao risco de adoecer. As causas apontadas por dificultar este acesso são inúmeras e dividem-se, basicamente, em dois grupos: as barreiras socioculturais e institucionais. As barreiras socioculturais estão relacionadas aos estereótipos de gênero que concebem o ser homem, como um ser forte, viril e invulnerável; Dentre as barreiras institucionais que comprometem a busca dos homens pelos serviços de saúde, pode-se citar o horário de funcionamento das unidades, coincidente com a jornada de trabalho; as equipes de saúde constituída, predominantemente, por mulheres; a demora em conseguir atendimento; o acolhimento deficiente; o despreparo dos profissionais; a ausência de programas voltados ao público masculino; a estrutura física que não permite uma privacidade no atendimento; a precarização e baixa resolutividade dos serviços de saúde, principalmente na atenção básica. Para atender o indivíduo e a coletividade a ESF (Estratégia de saúde e família) é operacionalizada por equipes multiprofissionais que têm na promoção, proteção da saúde, tratamento e reabilitação, os pilares do seu trabalho. O trabalho desenvolvido na ESF, mesmo que voltado ao indivíduoe às coletividades, prioriza a atenção para grupos específicos e os homens mantêm-se, neste modelo de atenção, de certa maneira afastados de algumas abordagens da estratégia, quais sejam a prevenção e promoção da saúde. Para reverter o distanciamento entre o homem e a atenção à saúde e incorporá-lo em todos os níveis de atenção, em especial, aqueles na faixa etária entre 20 e 59 anos, o Ministério da Saúde implantou, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). A forma como o profissional reconhece o usuário dentro do serviço de saúde e a representação social deste profissional, pode influenciar sua ação na produção do cuidado, uma vez que esta tem uma característica peculiar que é a subjetividade de cada profissional. Nesse sentido, fundamentou-se na Teoria das Representações Sociais (TRS) para buscar compreender esse fenômeno na percepção dos sujeitos sociais que atuam na ESF, permitindo elucidar a subjetividade inerente aos cuidados que o homem tem com a sua saúde à luz de quem o acompanha. Esta apreensão poderá nortear futuros estudos de intervenção social sobre a temática, as quais podem ser direcionadas no sentido de combater o estigma e preconceito que tantos profissionais de saúde têm sobre o homem e o cuidado à saúde. Diante disso, nestes momentos que procedem à implantação da PNAISH, para a avaliação da efetividade de suas ações, torna-se importante conhecer a representação que os profissionais de saúde têm acerca do ser homem e do cuidado com a sua saúde. Resultados: As evocações que apareceram no quadrante superior esquerdo são consideradas mais significativas para os profissionais, constituindo o núcleo central e a provável representação do objeto estudo: desinteresse, medo, descuidado, falta de prevenção e câncer de próstata. Os termos que compuseram o primeiro sistema periférico foram: doença crônica, atendimento imediato e machismo. Essas evocações atuam como elementos reforçadores dos elementos centrais, sendo caracterizados como elementos periféricos, flexíveis e tangíveis, tendo maior frequência e menor importância atribuída pelos profissionais. Quanto à segunda periferia, localizada no quadrante inferior direito foram categorizadas as evocações: cuidar, falta de tempo, provedor e saúde. Esses termos léxicos são elementos mais claramente periféricos, tendo em vista que são menos frequentes e menos importantes para os profissionais em suas representações. Por fim, verificou- se que os termos DST, preconceito, dificuldade de acesso, irresponsável, tabagismo e vergonha, são elementos com menor frequência, porém, com maior importância no esquema cognitivo, constituindo os elementos de contraste da representação, provendo a sustentação e solidez do núcleo central. Os termos evocados, neste estudo, revelam uma representação negativa por parte dos profissionais de saúde acerca dos homens no cuidado à sua saúde e revelam, provavelmente, o quanto o pensamento social de gênero e os estereótipos estão (re)significando a práxis e produzindo afetos nesses profissionais, refletindo no cotidiano do processo de trabalho. Os principais termos evocados, núcleo central, reafirmam o imaginário social perpetuado através do modelo machista hegemônico que aprisiona o homem à ideia do ser forte, viril, invulnerável, provedor do lar e da família. Entretanto, essa visão reducionista talvez esteja vinculada ao fato dos homens acessarem os serviços de saúde em busca do urologista, preocupados com a próstata, ou quando acometidos por problemas agudos, como a dor, ou por doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabetes ou por questões de ordem sexual, como as doenças sexualmente transmissíveis. A despeito do descuido com a saúde, o medo de descobrir alguma doença grave, e/ou da morte, geralmente, está presente no imaginário masculino, acentuando o abismo que separa o homem do cuidado e dos serviços de saúde. Além desse, a vergonha é outro sentimento que aparece na zona de contraste deste estudo, sendo objetivada pela vergonha de expor o corpo, principalmente, no tocante a prevenção do câncer de próstata, de partilhar espaços educativos com mulheres, de demonstrar sinal de fraqueza ao buscar os serviços de saúde, que historicamente é um comportamento feminino e, até mesmo, vergonha de expor suas necessidades a profissionais do sexo feminino, o que também aparece na literatura como forma de expressão da resistência masculina ao autocuidado. Atendimento imediato, elemento evocado na primeira periferia, reflete uma concepção que caracteriza o homem, dentro do serviço de saúde, de forma negativa em função da sua impaciência na espera por atendimento. Os homens buscam um atendimento imediato e, por isso, muitas vezes, prioriza os serviços de farmácias e prontos- socorros, ou mesmo a automedicação. Entretanto, apesar das barreiras que dificultam o acesso masculino aos serviços de saúde, eles têm buscado atendimento. Estudo destaca que nos serviços pesquisados foi notória a presença masculina, embora sejam predominantes os idosos e crianças. É através do trabalho que o homem consegue significar o seu papel de chefe da família. Entretanto, essa obrigação social que torna o homem o principal responsável pelo sustento da família, desobriga-o do papel de cuidar da própria saúde, forçando-o a priorizar na divisão do seu tempo o trabalho, ao invés da saúde. Os termos cuidado e saúde, que também aparecem na segunda periferia, são evocados nesse sentido, onde a população masculina precisa priorizar mais o cuidado com a própria saúde. As transformações que ocorreram na sociedade ao longo do tempo, como a crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho, muitas vezes, tornando-as chefes de família e provedoras do lar, atribuições ainda, hegemonicamente masculinas, mobilizaram afetos nos homens, produzindo novos significados e representações ao ideal de masculinidade construído e apreendido socialmente, deixando-os afetados quanto ao seu papel e frustrados com algumas instituições sociais, como o casamento e o trabalho7 . Assim, mesmo com as mudanças ocorridas na sociedade nos últimos anos, o homem quando tenta romper com essas barreiras impostas pelo modelo machista hegemônico e resignificar o cuidado com a própria saúde, ainda se torna alvo de críticas, pois a representação da sociedade frente ao ser homem ainda é algo limitado que merece diversas análises. É necessário agir intensamente no sentido de desconstruir a imagem de masculinidade vigente no imaginário social, numa tentativa de aproximar o universo masculino ao cuidado ativo com a saúde. HIV/AIDS PERCEPÇÃO DE PACIENTES COM AIDS DIAGNOSTICADA NA ADOLESCÊNCIA SOBRE O ACONSELHAMENTO PRÉ E PÓS-TESTE HIV REALIZADO No Brasil, o grupo populacional entre 13 e 19 anos continua apresentando taxas crescentes de incidência de AIDS. A dinâmica atual da epidemia em adolescentes indica uma feminização mais intensa que nas outras faixas etárias, bem como o aumento entre homens jovens que fazem sexo com homens. O aconselhamento para a realização do exame anti-HIV é preconizado pelo Ministério da Saúde e se trata de um procedimento de escuta ativa, individualizado e centrado no cliente. Tem por objetivos principais promover a reflexão que possibilite a percepção dos próprios riscos, a adoção de práticas mais seguras e a adesão ao tratamento. O processo de aconselhamento contém três componentes: apoio emocional, apoio educativo e avaliação de riscos. O apoio educativo trata das trocas de informações sobre DST e HIV/AIDS, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento; A avaliação de riscos propicia a refexão sobre valores, atitudes e condutas, incluindo o planejamento de estratégias de redução de risco. Contribui tambémpara uma relação de confiança entre profissional de saúde e usuário, e torna o indivíduo sujeito no processo de prevenção e no cuidado de si, sendo referência importante para o controle da doença. Em se tratando de adolescentes o aconselhamento adquire um valor ampliado, por ser uma fase da vida de aquisição de novas competências e habilidades que vão contribuir para a garantia do autocuidado à saúde na idade adulta. O diagnóstico de uma doença crônica e incurável como a Aids na adolescência é fato impactante, pois pode provocar variadas mudanças no cotidiano, na vida estudantil, no processo de socialização fora do ambiente familiar, entre outras, impostos pelos sinais e sintomas da enfermidade e também por seu tratamento. A prioridade da vida muda, passa a ser o cuidado da doença. Neste sentido, o aconselhamento pré e pós-teste HIV da forma como for realizado pode aumentar ou reduzir o impacto do diagnóstico e a adesão ao tratamento. O estatuto da criança e do adolescente – ECA e as normas éticas de atendimento a adolescentes garantem o direito à autonomia, à confidencialidade e ao sigilo das consultas, sem a participação dos responsáveis. Porém, determinadas situações em que se considera que a saúde do adolescente está colocada em risco, a manutenção do sigilo é questionada e quase sempre não recomendada, para proteção do paciente. O profissional de saúde deve avaliar até que ponto o adolescente está apto a exercer o autocuidado. A divulgação do resultado de exame HIV positivo é uma destas situações. Portanto, é aconselhável que esta notícia seja dada na presença de algum familiar que possa dar o suporte afetivo e o amparo neste difícil momento de vida. Verificamos que na maioria dos casos o diagnóstico foi dado para o adolescente sozinho, principalmente aos rapazes. Pré-teste HIV Identificamos que na percepção de nossos entrevistados, o diálogo que se estabelece na consulta sobre o pedido do exame se restringe à motivação da solicitação do mesmo com ou sem avaliação de risco. Porém, para a maioria deles, nada foi falado sobre a justificativa da solicitação do teste. O fundamento externado para a demanda do teste HIV foi: para alguns, sinais e sintomas de DST ou de doenças oportunistas; para outros, a atividade sexual de risco que inclui o não uso de preservativo ou parcerias HIV positivos. Alguns pacientes pediram para fazer o teste por vontade própria e outros foram informados se tratar de um exame de rotina, principalmente as adolescentes do sexo feminino quando submetidas ao exame ginecológico preventivo ou no pré-natal. O teste HIV é preconizado para todas as gestantes durante o pré-natal, faz parte da rotina. Entretanto, ele não é obrigatório e o aconselhamento deve ser feito. Mas o que tem sido observado nos estudos com gestantes é que esta prática já está incorporada à clínica e o aconselhamento tem sido esquecido. Certo autoritarismo na postura do profissional de saúde, que se sente possuidor de arbítrio sobre o paciente, da prerrogativa de decidir o que é melhor para ele, pois detém o saber. Ao problematizar a formação dos aconselhadores, Galindo et al. observam dois modos de aconselhar: O primeiro se refere à postura tradicional das práticas em saúde, autoritária, protocolar e instrutiva; A segunda postura profissional é baseada na simetria da relação, com foco no protagonismo do usuário, que representa maior possibilidade de compreensão e do autocuidado. Aconselhamento pós-teste HIV Pudemos observar que, na percepção de nossos interlocutores, o aconselhamento bem conduzido parece ter contribuído com a expressão de atitudes positivas em relação ao futuro e à convivência com doença crônica e incurável. Nestes casos o profissional acolheu e deu apoio emocional ao paciente, explicou sobre a doença e seu tratamento e desmistificou as fantasias que existem em relação à sua evolução. Como consequência eles se engajam mais responsavelmente no tratamento com autocuidado e percebem suas próprias vidas como normais. Para outros, o resultado do exame foi apenas entregue, não tendo recebido nenhuma orientação sobre o diagnóstico, só a informação que eram soropositivos ou então lhes foram prescritas condutas e deveres sem sentido para eles, de difícil compreensão. Nestes casos nossos entrevistados se perceberam inseguros, amedrontados em relação ao futuro, com falta de perspectivas. Dar um diagnóstico de uma doença crônica e incurável não é uma tarefa fácil, além de implicar em dilemas éticos. Por outro lado, a formação médica na maioria das escolas ainda privilegia a tecnologia, não dando muito atenção a outras questões como as habilidades comunicacionais. Mais da metade dos jovens investigados mencionaram o suicídio em casos de confirmação da soropositividade. A ideação suicida foi mais frequente no sexo masculino e na faixa etária mais jovem, em menores de 30 anos. Os autores ressaltam que o aconselhamento pré e pós-teste HIV pode rastrear o risco de suicídio em pacientes com comportamentos depressivos e criar estratégias de intervenção para evitá-los. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO HIV/AIDS PARA AS PESSOAS QUE CONVIVEM COM A SÍNDROME: Os significados da AIDS: Entre sentimentos e definições: As unidades de significação correspondentes à categoria são: sentimento de tristeza, AIDS como doença crônica, desespero após o diagnóstico, medo da AIDS, AIDS como um problema, AIDS como fator limitante, AIDS como algo prejudicial, surpresa pelo diagnóstico, doença sexualmente transmissível, AIDS como sinônimo de dor, doença de gays, doença do outro, exclusão pelos outros, revolta pela doença e doença do século. O sentimento de tristeza emerge como a temática de maior representatividade nesta categoria. Esta situação pode ser explicada pelo fato de o diagnóstico de HIV/AIDS configurar-se como sofrimento e tristeza que precisam ser absorvidos no cotidiano da vida, considerando que a síndrome não possui cura. O diagnóstico apresenta-se como uma realidade que vivenciam, precisam aceitar e este processo de aceitação da doença está presente no contexto dos quadros simbólicos do grupo social a que pertencem. A tristeza pode estar associada ao diagnóstico e à preocupação com os familiares, temendo deixar os entes queridos. Neste sentido, a tristeza relaciona-se não só a si mesmo, como também aos demais envolvidos em seu grupo social e, principalmente, à família. A AIDS assume, também, o significado de desespero. O medo da síndrome pode ser explicado pelo estigma enfrentado pelas AIDS, pelo sentimento de morte iminente ou pelas complicações impostas pela fragilidade no sistema imunológico. Este desespero reforça a ideia de que os profissionais de saúde, em especial os de enfermagem, precisam ser sensíveis para perceber que o tratamento exige empatia e a visualização da fragilidade psicológica do paciente. Os aspectos biopsicossociais devem ser tratados para melhorar a adesão medicamentosa e intensificar os cuidados que os clientes precisam ter em seu dia a dia quanto à alimentação, repouso e exercícios físicos, conforme a descrição a seguir sinaliza. Outro aspecto importante dessa temática ocorre pela ancoragem da aids em doenças crônicas não transmissíveis aceitas no cotidiano das pessoas, o que significa um processo de naturalização da síndrome. Este novo processo de ancoragem tem semelhanças em outros estudos e possui relação com mudanças representacionais observadas nas representações sociais da síndrome nos últimos anos. O enfrentamento da AIDS: a abordagem de algumas estratégias: As unidades de significação referentes à categoria são: mudança de hábitos, aids como qualquer doença, aids como sinônimo de maior cuidado pessoal, aids como algo natural, superação, valorizaçãoda família e da vida, luta pela vida, aids como vida, recomeço após o diagnóstico, se amar mais, pessoas sem preconceito, aproximação da fé como ponto de apoio, liberdade, experiência de vida e felicidade após o diagnóstico. Nesta categoria, observa-se que a infecção pelo vírus trouxe, para alguns, uma aproximação com a fé, servindo como ponto de apoio para a superação do diagnóstico e de suas interfaces e a procura por um poder superior como uma forma de alívio, força e superação. Com isto, foi-se desenhando um modelo de cuidado que abordasse não só os aspectos biológicos, mas também os biopsicossociais e espirituais do indivíduo. O fator espiritual pode ser preponderante para o bem-estar do indivíduo; contudo, infelizmente, pode ser um fator negligenciado pelos profissionais de saúde, em parte pela sensação de subjetividade na intervenção desse quesito. Pode-se observar, ainda, a representação da síndrome como recomeço, em que se deve valorizar mais a vida e o convívio familiar, como se enfrentassem uma luta diária pela vida e precisassem de força e do apoio dos outros para superá-la. Este recomeço está associado, em alguns casos, com o tratamento medicamentoso que exige disciplina e associa-se a mudanças de hábitos e costumes, especialmente com aqueles que interferem negativamente no efeito e na eficácia dos medicamentos, bem como no processo de adesão ao tratamento. A aids possui a representação de incentivo para um maior cuidado pessoal, associada ao aumento do amor próprio quando o indivíduo passa a valorizar mais a sua existência. O momento do diagnóstico é um divisor de águas na vida dos sujeitos. As imagens da aids: doença incurável, morte e Cazuza: Nesta categoria, observa-se o HIV/AIDS como uma doença sem solução, um caminho mais rápido e sem volta para a morte, podendo ser considerada por alguns como o fim dos tempos. As dimensões representacionais que compõem esta categoria conferem ao HIV/AIDS atributos negativos, assim como a primeira categoria. O pensamento de morte é associado à depressão ocasionada pelo diagnóstico e a percepção da aids como doença incurável, bem como às imagens negativas presentes na sociedade sobre a síndrome. Sabe-se que, apesar dos avanços tecnológicos e científicos, a percepção da morte iminente ainda está presente no dia a dia das PVHA, sendo necessária uma atenção maior dos profissionais de saúde frente a este sentimento. No tema Cazuza como imagem da aids, observa- -se que o cantor, no fim de sua carreira, em estado caquético e terminal e, com as fortes imagens de vídeo e filme sobre sua vida, fizeram fortalecer a ideia de terminalidade, tornando-se sinônimo de morte. Conclusão: Nota-se que cada sujeito tem uma forma de lidar com a síndrome e que, em alguns casos, a pessoa pode visualizar a situação com dimensões positivas, em que se tem um reencontro com a família, a busca por mais saúde e bem-estar e a preocupação consigo mesmo. Esta situação é considerada como importante, uma vez que representa uma nova visão, que dificilmente era associada ao HIV/ AIDS anteriormente. Em outra vertente, tem-se a aids ainda como algo fomentador de muito preconceito em que pessoas percebem o diagnóstico da soropositividade como uma sentença de morte. Neste contexto, a finitude da vida torna-se mais próxima a cada dia, como em uma contagem regressiva, além das manifestações físicas que são esperadas pelos sujeitos, oriundas da ancoragem nas imagens de Cazuza e outros artistas contemporâneos. SAÚDE DOS MÉDICOS E DOS ESTUDANTES DE MEDICINA SUICÍDIO ENTRE MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA: REVISÃO DE LITERATURA: Suicídio e ideações suicidas em estudantes de Medicina e médicos: 1. A taxa de suicídio em médicos é de três a cinco vezes maior do que a da população geral. Com relação aos métodos utilizados, seis casos foram por enforcamento/asfixia, cinco casos por salto de uma grande altura, dois por intoxicação e um por salto em frente a um trem. Em 50% desses casos, os estudantes já haviam tido acompanhamento psiquiátrico e dois estavam em tratamento na época da morte. 2. Estima-se que 60% dos indivíduos que se suicidam apresentavam previamente ideações. Os preditores identificados nesta população foram falta de controle sobre as situações, traços de personalidade, estado civil solteiro, eventos negativos na vida e sofrimento mental, especialmente depressão e ansiedade. Fatores que influenciam os comportamentos suicidas: A relação a essa junção de fatores que podem influenciar a ideação e o comportamento suicida, a maior parte dos artigos indica transtornos psiquiátricos, como depressão e abuso de substâncias, e fatores externos, como questões relacionadas às condições de trabalho, pressão psicológica, alta carga de trabalho, etc. 1. Estudos indicam que há evidências de que os estudantes de Medicina e residentes têm mais possibilidade de sofrer de depressão do que alunos de outras pós-graduações e adultos jovens em geral. A escola médica é reconhecida por inúmeras pesquisas como desencadeadora de estresse e como influência negativa no bem-estar físico e psicológico, e no desempenho acadêmico dos estudantes de Medicina. Os principais fatores de risco para esse transtorno encontrados nesta população são grande carga de trabalho, privação do sono, dificuldade com pacientes, ambientes insalubres, preocupações financeiras e sobrecarga de informações. Esses estressores podem influenciar negativamente o desempenho acadêmico, a saúde física e o bem-estar psicológico dos estudantes, tornando-os mais vulneráveis emocionalmente. 2. Uma pesquisa realizada com 603 estudantes de Medicina de diversos períodos no Brasil revelou que 20,1% da amostra apresentaram alto grau de ansiedade e 79,9% sugeriram ansiedade média. Nenhum estudante apresentou escores de baixa ansiedade. O maior percentual de traço de ansiedade alta foi encontrado no sexto ano (26,8%) e o menor no terceiro ano (11,6%). 3. Cerca de um terço dos 850 alunos participantes da pesquisa usa algum tipo medicação de forma regular como uma fuga dos problemas através de fármacos. Para além desses dados e resultados, Püschel e Schalinski chamam atenção para o movimento de subnotificação dos suicídios no meio médico, alterando os certificados de óbito em função da proteção contra a imagem negativa que o ato suicida pode causar. Analisando uma população de suicidas, foi possível verificar que, meses antes da morte, colegas próximos identificaram mudanças comportamentais, aumento da indecisão, desorganização e quadros depressivos, assim como identificado na população geral. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, embora os aspectos que contribuam para o suicídio variem entre grupos e populações específicos, os principais grupos de risco são os jovens, idosos e grupos socialmente isolados. Ou seja, sugere-se que o isolamento social pode interferir na ideia, no planejamento e na execução do suicídio. Discussão: Nota-se que ainda hoje o tema do suicídio é um tabu na sociedade. Desde o início do curso médico, os estudantes aprendem a ver a morte como sua maior adversária, que ela deve ser combatida e, se possível, vencida em nome da ciência e da competência. Em busca de compreender esse fenômeno e identificar intervenções possíveis e eficazes para o problema, reflete-se sobre o processo de formação médica. Esse processo implica, de forma significativa, a falta de tempo para o lazer e para contato com os amigos, família e parceiros(as) amorosos(as), grande número de perdas durante o curso, desconstrução da idealização da onipotência médica, crescente consciência dos problemas existentes na profissão, além de convivência O processo de formação médica se inicia com a seleção para o ingressonas faculdades de Medicina. Porém, existem outros aspectos não menos importantes que não são avaliados nesse processo, mas que influenciam diretamente o sucesso acadêmico dos estudantes e o sucesso profissional dos médicos. Habilidades sociais, como empatia, sociabilidade e tolerância à frustração, são exemplos dessas características. Resultado: A prevenção do suicídio é possível. Os estudos sobre a ideação suicida em médicos e estudantes de Medicina estão elucidando as causas, influências sociais, processos cognitivos e de tomada de decisão de finalizar a própria vida. As formas de intervenção consistem no diagnóstico e tratamento dos transtornos psicológicos comumente presentes na população e uma mudança no processo de formação médica que valorize e destaque as habilidades sociais e emocionais a fim de contribuir com o bem-estar do profissional no seu ofício. TENTATIVAS DE SUICÍDIO E PROFISSIONAIS DE SAÚDE: SIGNIFICADOS POSSÍVEIS: O significado que os profissionais de saúde atribuem às tentativas de suicídio por eles atendidas foi organizado com base em três subcategorias: Subcategoria 1. Definição de suicídio: Para os participantes, o suicídio é definido como acabar com a vida, chamar a atenção e dar fim ao sofrimento. Em acabar com a vida, observa-se um conceito para o suicídio que contempla o agir contra si mesmo, de autoagressão, cujo resultado é tirar a própria vida. Nas palavras de outro participante, "suicídio é uma tentativa de terminar com a própria vida". Este conceito, apontado por quinze participantes, é semelhante ao conceito descrito pelos dicionários, que define o suicídio como "ato ou efeito de suicidar-se", e suicidar-se como "pôr termo à vida, matar-se". O suicídio também é definido como uma forma de “dar fim ao sofrimento”. O suicídio é relacionado à presença de um sofrimento a que se quer dar fim. Logo, é sinônimo de dar fim ao sofrimento, portanto uma definição que, ao mesmo tempo, motiva a ação do paciente. E, por último, o suicídio é definido como uma tentativa de chamar a atenção. Ainda que se considere o suicídio como o ato de atentar contra a própria vida, quando o fenômeno é apontado como chamar a atenção, passa a ser definido com base em sua "função", situação está que traz consequências importantes para a prática profissional. Silva e Boemer (2004), em estudo realizado também com profissionais de saúde, mostram que "a tentativa de suicídio consiste, [...] num gesto calculado para impressionar, assustar, ou forçar pessoas com quem o paciente está em contato a dar-lhe atenção e prestar-lhe favores". Subcategoria 2: "O que os profissionais pensam sobre o suicídio": Esta subcategoria reúne o que pensam os profissionais de saúde sobre o suicídio baseado em seis elementos de análise: demanda para a Saúde Pública, ausência de solução, ato de coragem, conhecimento sobre os métodos utilizados, o inverso da morte e fragilidade da rede de apoio e de atenção. É importante lembrar não apenas as mudanças da noção de saúde ocorridas nos últimos anos, que incorporam esferas mais amplas ao conceito, mas, também as noções de humanização e integralidade, que balizam o Sistema Único de Saúde brasileiro. Os participantes também pensam no suicídio como uma situação para a qual o paciente não enxerga outra solução, apresentada como ausência de solução. Este elemento de análise reúne conteúdos que destacaram o sofrimento, a falta de perspectiva e de alternativas e o suicídio como única solução vislumbrada pelo paciente. A existência de um sofrimento e a ausência de solução, para o qual não se enxerga alternativa ou outras saídas que não seja tirar a própria vida. Entender o suicídio como um ato de coragem também esteve presente nas falas dos participantes. Os profissionais apontam que os pacientes comumente fazem uso de doses baixas ou inadequadas para que o método utilizado, sejam medicamentos, sejam substâncias químicas de fácil acesso como produtos de limpeza, cause algum dano sério à saúde ou provoque a morte. Observou-se que a pessoa não busca uma morte física, cujas decorrências práticas abarcariam rituais fúnebres e de despedida, velório, enterro e caixão, mas sim uma morte simbólica, um morrer que as faça renascer para uma vida diferente, uma vida sem sofrimento. Outra característica importante é o arrependimento do paciente após a tentativa. Tais informações vão ao encontro do estudo realizado por Botega et al (2005), que mostrou que apenas 25% das pessoas que tentaram suicídio queriam realmente morrer, sendo mais presente o desejo de dormir ou de se afastar dos problemas, ficando clara uma baixa intencionalidade de morte. E por fim, os profissionais observam uma fragilidade da rede de apoio e de atenção à pessoa, tanto de familiares como das instituições que atuam nas diferentes políticas públicas, sejam elas saúde, assistência social etc. Tais fragilidades estão presentes em duas esferas: a fragilidade na rede de apoio do paciente, que muitas vezes é uma pessoa que vive só, que não tem a rede de apoio próxima ou esta rede é distante, e a fragilidade da rede institucional para acolher a demanda do paciente, seja de acesso às unidades de saúde, como, por exemplo, dificuldades para agendar consultas, de acesso aos profissionais de saúde mental, para os quais há fila de espera para atendimento ou a outras políticas que se fizerem necessárias como a política de Assistência Social. Subcategoria 3 "Motivos pelos quais as pessoas tentam suicídio" Esta subcategoria reúne o que os participantes expressam como motivos pelos quais os pacientes cometem suicídio. Os principais motivos apontados foram dar uma solução ao sofrimento, a fragilidade dos recursos psíquicos do paciente, chamar a atenção de outrem, a falta de perspectivas para o futuro, a presença de conflitos conjugais, a presença de conflitos familiares, a pessoa considerar a tentativa ou sua morte um alívio para os outros e a presença de transtornos mentais. O principal motivo observado é que a pessoa que tenta suicídio está buscando uma solução ao sofrimento. É expressivo que a quase totalidade dos participantes tenha apontado que as pessoas que tentam suicídio encontram- se numa condição de sofrimento psíquico presente há muito tempo. Segundo elas, há uma história de vida e de dificuldades, em diferentes esferas da vida da pessoa, que, na presença de um estressor, pode desencadear a tentativa. Outro motivo pelos quais as pessoas tentam suicídio é a fragilidade dos recursos psíquicos. O Manual de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde (Brasil, 2006) aponta três principais aspectos psicológicos, que precisam ser considerados numa pessoa sob risco de suicídio, a saber, a ambivalência, a impulsividade e a rigidez/constrição, sendo o pensamento "tudo ou nada" comum às pessoas que não conseguem vislumbrar formas alternativas de solucionar seus problemas. O motivo chamar a atenção também foi trazido pelos participantes. Segundo eles, a tentativa de suicídio é utilizada com o objetivo de sinalizar que algo não está bem, como um grito de socorro ou desempenhando uma função específica na relação com o outro. Com base nisto, Maliska e Wallauer (2012) afirmam existir uma desconsideração do sofrimento psíquico presente por parte de alguns profissionais. A falta de perspectivas para o futuro é outro motivo apontado pelos participantes. Essa para o futuro é percebida em diversos contextos da vida das pessoas, desde aspectos profissionais, no que se refere a trabalho e emprego, aspectos financeiros, de renda e dinheiro até aspectos de relacionamento afetivo, como por exemplo, conflitos, separações. Na sequência, estão os conflitos conjugais, também entendidos como motivos para as pessoas tentarem suicídio. Pode-seperceber que os conflitos familiares apresentados referem-se à relação mãe e filho, entre cônjuges e ainda outra questão da família estendida que reverbere na relação familiar como, por exemplo, doença da família, cuidado de pessoas idosas etc. Outro motivo apontado para uma pessoa tentar suicídio refere-se ao "alívio para os outros". Segundo os participantes, as pessoas entendem que ao tentar suicídio estarão fazendo um bem para as pessoas próximas, sejam amigos, sejam familiares, acreditando que os fariam deixar de sofrer ou de precisar se preocupar com elas. E o último motivo pelo qual uma pessoa tenta suicídio observado nas falas dos participantes é a presença de transtornos mentais. De acordo os profissionais, há diferentes transtornos mentais que podem levar a pessoa a atentar contra sua própria vida, como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar de humor etc.
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