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Sumário Prefácio Apresentação Parte 1 O sentido de ensinar Geografia A pesquisa ação na contrução das atividades A cidade de São Gonçalo Atividades de aprendizagem Mediação A escola pública e seus sujeitos Parte 2 Aprendendo sobre as bacias hidrográficas A importância da cartografia escolar Atividades de aprendizagem sobre a China O jogo da memória A mobilidade urbanda Oficina de modelagem Relação do êxodo rural no nordeste Nosso cotidiano na cidade de São Gonçalo A oficina de problemas urbanos O trabalho de campo ENSINO DE GEOGRAFIA E A CIDADE DE SÃO GONÇALO Ana Claudia Ramos Sacramento Organizadora 1ª edição 2017 Reitor Ricardo Luiz Louro Berbara Vice-reitor Luiz Carlos de Oliveira Lima Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alexandre Fortes Pró-Reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação Lúcia Helena Cunha dos Anjos Conselho Consultivo Alexandre Linhares Guedes Carlos Eduardo F. Monteiro (UPFe) Luís Jorge Gonçalves (U. Lisboa) Márcia Keske-Soares (UFSM) Pablo Pérez (UDEP) Raimundo Nonato Santos (UFRRJ) Waldir Florêncio da Veiga (UFAM) Carlos Eduardo Soares da Cruz (UERJ) Conselho Editorial Célia Regina Otranto Fabrícia Vellasquez Luiz Claudio Valente Walker de Medeiros Evânia Mendonça Sissi Aparecida Martins Pereira Luciano Ramos Suzart Fábio Pereira Cerdera Tereza de Jesus Ramos da Silva Coordenação Administrativa Mariangela de Campos Dias Vice coordenação Administrativa Teresinha de Jesus Alves Pereira Diagramação Teresinha de Jesus Alves Pereira Capa Theo Moraes da Silva Revisão Pamela Chistine F. G. da Silva Ramos Jackson Douglas S. de Oliveira Erica Volpato Ficha catalográfica 910.71 E59 Ensino de geografia e a cidade de São Gonçalo [recurso eletrônico]/Organizadora: Ana Claudia Ramos Sacramento. - Seropédica, RJ: Ed. da UFRRJ, 2016. Inclui bibliografias. Modo de acesso: Internet. ISBN: 978-85-8067-092-9 (E-BOOK). 1. Geografia – Estudo e ensino. 2. São Gonçalo (RJ) - Geografia. 3. São Gonçalo (RJ) - História. I. Sacramento, Ana Claudia Ramos. II. Título. Copyright© 2016 Edur Todos os direitos desta edição reservados à Editora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem autorização expressa da editora. Título Original: Ensino de Geografia e a cidade de São Gonçalo Depóstito Legal na Biblioteca Nacional Editora filiada à Abeu PREFÁCIO Encontramos aqui um trabalho que expressa e compartilha uma dinâmica viva da escola, bem como o compromisso com quem nela atua, estudando, trabalhando, transformando-se. Em tempos difíceis para o cotidiano urbano pobre e periférico desse mundo dourado capitalista, os desafios dos educadores escolares e não escolares se agigantam. Os trabalhos aqui relatados contêm narrativas inspiradoras, enfrentamentos singelos e carregados de crença na capacidade positiva de nossa juventude em idade escolar. As concepções teóricas que orientaram as atividades, a interpretação da realidade escolar e docente e a fundamentação dos estudos de professores e licenciandos estão em consonância com os esforços investigativos presentes nos estudos sobre a geografia que se ensina, bem como traduzem os esforços formativos no campo da educação geográfica. São orientações que se explicitam nas mudanças ocorridas na prática das professoras da escola, bem como no autorreconhecimento que essas educadoras e esses educadores assumem sobre o fazer pedagógico. A pesquisa-ação e os procedimentos investigativos indicam a integração entre os sujeitos pesquisados/pesquisadores no processo, articulando-os desde seus respectivos lugares num diálogo e colaboração profícuos. Nesse ponto, as características urbanas de São Gonçalo – como periferia do leste metropolitano do Rio de Janeiro – encontram e impõem à FFP-UERJ, como universidade pública, uma exigência enorme: a de fazer-se presente no território do município por meio dos temas educacionais e socioculturais. Esta experiência a partir da educação geográfica escolar por meio da qual dialogam educadores do ensino básico, professores universitários, licenciandos e uma parcela da população estudantil é um bom indicador de caminhos possíveis e promissores. Foram diversas as escolhas da equipe para promover uma educação geográfica assentada no respeito aos sujeitos e partir dos seus lugares. Entre tais escolhas pode-se começar com o desafio de educar para a cidadania, encaminhado pela decisão de promover conteúdos de ensino-aprendizagem abordando a cidade de São Gonçalo, buscando atividades pedagógicas que visaram interpretar a complexidade presente no seu espaço, nas disparidades socio espaciais que a compõem e conformam. O resultado é a compreensão de que o município é um todo articulado interna e externamente aos processos de produção do espaço capitalista, numa periferia metropolitana. Outra decisão interessante foi tomar a cidade como conteúdo de ensino que, estruturando as atividades pedagógicas, proporciona a formulação de uma leitura a partir da vivência e espacialidade que orientam as práticas espaciais dos alunos. Combina com essa perspectiva de promover e reconhecer o valor educativo da geografia defender a importância da escola pública na periferia metropolitana, bem como a interação das práticas pedagógicas nela desenvolvida com a realidade cotidiana dos estudantes. Num segundo bloco de contribuições, uma série de experiências metodológicas e práticas docentes estão oferecidas ao conhecimento, ao debate, conformando uma demanda importante: apresentar a possibilidade de promover conhecimento, autoria a partir das experiências das salas de aula e das tentativas de deslocar-se do lugar comum. Ora de maneira mais ousada, ora numa singela e firme apresentação das possibilidades reais de trabalhar a geografia na escola, diferentes experiências são compartilhadas e expostas à leitura e ao debate. Com autoria legítima e plena de sentido, jogos, releituras, pesquisa de campo e outras formas de ação e práticas educativas são compartilhados. Veja-se como a ideia de bacia hidrográfica abordando a vivência cotidiana urbana termina por impactar a aprendizagem geográfica e a prática docente. Atividades que tomam cartografia como linguagem que precisa impactar o ensino em múltiplos conteúdos escolares, também como instrumento pedagógico de leitura da representação do vivido no local, nos mostra que resultou na ampliação do entendimento da escala geográfica e de um raciocínio espacial mais complexo. Outras diversas experiências são estimulantes, ainda que à primeira vista escondam a complexidade do processo: note-se como estudantes se tornaram pesquisadores ao buscar dialogar e interpretar a vida dos imigrantes chineses no município; o uso de recursos digitais e mapas online para a promoção da aprendizagem em Geografia, favorecendo o diálogo entre cotidiano e saber científico escolar e tecnológico, além de a articulação universidade-escola ampliar horizontes para os participantes daquela atividade. A fragmentação que marca a Geografia, e é um dilema da comunidade geográfica, é também considerada quando conteúdos sobre a fisicidade da paisagem, com as suas formas de relevo e as bacias hidrográficas, são conduzidos por um pensar espacial no contexto escolar, inspirado nas práticas espaciais dos estudantes; uma vida urbana que não dá lugar à dicotomia sociedade-natureza. Igualmente os processos migratórios e a questão da identidade dos estudantes e a vida das suas famílias no bairro; as narrativas sobre a cidade e o aprendizado sobre a leitura da paisagem combinam-se com a autoafirmação do fazer docente. Embalados nessa experiência, em que a educação geográfica ganha força para contribuir para a educação dos sujeitos (professores, licenciandos, estudantes), os jogos e a experiência lúdica combinam-se à interpretação dos elementos urbanos e, para coroar, o bairro é (re)visto e (re)visitado numa dinâmica de trabalho de campo. Chega em boa hora a contribuição que a ProfessoraAna Claudia Ramos Sacramento nos oferece ao organizar este livro. Ele chega como resultado de um trabalho que vê na parceria da Faculdade de Formação de Professores com a escola pública uma maneira de expressar o compromisso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro com a cidade de São Gonçalo, com a escola e seus educadores. Deveria ser assim em todo município onde há universidade pública! Igualmente a reflexão e a pesquisa sobre a educação geográfica ganha força e ampliam-se as exigências e expectativas futuras. Da experiência fundamental do trabalho desenvolvido numa escola de bairro, periférica,plena de vida e que demanda dos educadores geógrafos uma prática encarnada no lugar, espera-se que os estudantes possam ter alcançado uma resposta fundamental para uma questão que eles mesmos formularam: O que tem de bom nesse bairro? Que possam afirmar: o que há de bom nesse lugar somos nós! Nós que somos sujeitos capazes de compreender nosso mundo e agir nele orientados por fundamentos de justiça e liberdade! Esta atitude positiva já está aqui grafada por cada autor e autora. Que seja boa a leitura! Prof. Dr. Manoel Martins de Santana Filho (FFP/UERJ) APRESENTAÇÃO Uma das questões mais presentes no campo da pesquisa dentro da ciência geográfica no ambiente escolar é como dar sentido aos conceitos e conteúdos geográficos nas práticas cotidianas dos estudantes. Outro ponto está voltado às diferentes metodologias de ensinar para que se rompa com um ensino descontextualizado da escola e do mundo vivido. Além disso, objetiva-se analisar como os professores têm efetivado a construção da geografia escolar em sala de aula. Todos esses elementos têm fomentado estudos, novas leituras e ações na escola, em prol da melhoria da escola pública. Os avanços da pesquisa no ensino de Geografia têm contribuído para repensar várias questões: a formação docente inicial e em serviço; as discussões metodológicas; o processo de ensino e de aprendizagem; os usos de recursos didáticos e das apropriações de novas linguagens na sala de aula; as transformações do mundo contemporâneo para novas leituras espaciais; as ações didático- pedagógicas, e assim por diante. Nos últimos anos, a discussão da Educação Geográfica tem ganhado forças, pois nesta concepção, ensinar geografia está articulado às leituras críticas dos fenômenos geográficos que possibilitam novas formas de promover discussão conceitual sobre os temas que cercam a Geografia, bem como o cotidiano dos estudantes. Dessa maneira, esta concepção tem possibilitado que os estudantes sejam autores de suas próprias aprendizagens, ao trazer diferentes formas de abordagem não mais vinculada à memorização ou descontextualizada do espaço vivido, mas desenvolvendo práticas efetivas para que compreendam e tomem consciência desse aprender. Assim, trazer uma formação consciente e crítica pode promover a formação de estudantes críticos diante das contradições do mundo afora. Sua capacidade refletiva deve fazer com que o ensino se torne dinâmico e atual, no qual o aluno compreenda o espaço em que vive. A partir do momento em que se estabelece que a escola é o espaço da construção do conhecimento, é necessário que se permita que ela desenvolva atividades que promovam a autonomia de pensamento, bem como o diálogo constante com as disciplinas que fomentaram as provocações que fazem os estudantes perceberem o lugar em que vivem e se questionem sobre como as diferentes formas de saber permitem com que nos relacionemos com as situações diárias. A cidade, como organização espacial, fornece-nos múltiplas leituras do espaço vivido, da territorialidade, do lugar do cidadão e das paisagens impressas na memória viva da sociedade. Pensar como ensinar a cidade e o urbano possibilita aos professores e aos alunos reconstruírem sua própria espacialidade, tomando consciência espacial dos aspectos sociais e físicos próprios da cidade onde vivem. A Educação Geográfica tem o princípio de repensar práticas para a construção dos conhecimentos geográficos que façam sentido para os alunos, como também organizar as práticas pedagógicas em Geografia em direção às novas concepções de trabalhar o ensino e a aprendizagem. Compreender a cidade de São Gonçalo como um conteúdo dentro do ensinar geografia, para desenvolver outras capacidades para orientar os estudantes a construir outras relações dentro da escola, está ligado também às ações didático-pedagógicas. Essa cidade tem suas multiplicidades de relações socioeconômicas, espaciais e culturais organizadas e estruturadas para que os moradores vivenciem os seus lugares. Desenvolver os projetos de pesquisa Educação Geográfica e o Estudo da Cidade e do Urbano em São Gonçalo: um estudo da construção das práticas docentes e discentes (Programa de Apoio à Melhoria do Ensino em Escola da Rede Pública sediadas no Estado do Rio de Janeiro, FAPERJ, 2014-2015), Um estudo sobre as didáticas e as concepções de cidade e de urbano dos alunos e professores de Geografia da cidade de São Gonçalo (Programa universal, CNPQ, 2013-2016) e Geografia (sub projeto na escola CIEP 439 – Luiz Gonzaga Júnior, localizado no bairro Luiz Caçador, no município de São Gonçalo-RJ, PIBID/CAPES, 2014-2016) promoveu uma experiência dinâmica das professoras bolsistas, dos estudantes bolsistas de ensino médio e da graduação, da professora colaboradora e dos estudantes da graduação que desenvolveram diversas atividades de aprendizagem, proporcionando diferentes formas de ensinar Geografia a partir da Cidade de São Gonçalo. O objetivo dos projetos foi analisar a relação de ensinar e de aprender sobre a cidade de São Gonçalo, por estudantes e professores de Geografia do ensino fundamental II e do ensino médio da rede pública, além de propor diferentes metodologias que possibilitassem o ensino de Geografia, bem como o uso de diferentes linguagens e recursos didáticos. Dessa forma, pensar um livro que retrate as atividades desenvolvidas na escola é uma forma de respeitar o que professores e bolsistas produziram no cotidiano escolar. Aqui estão apresentados alguns dos trabalhos que buscaram articular na teoria-prática o pensar sobre a cidade de São Gonçalo como objeto de ensino. A elaboração das atividades de aprendizagem possibilitou a relação entre estudantes, professores e saberes para construir o conhecimento sobre seus lugares vividos. Assim, a importância de compreender os conteúdos e os conceitos deve ser de analisar cotidianamente as práticas sociais dos estudantes para que possam desenvolver uma leitura de mundo sobre as questões pertinentes à Geografia. Além disso, esses conteúdos relacionados à discussão sobre a cidade e sobre o urbano foram trabalhados a partir do uso do currículo mínimo do Estado do Rio de Janeiro e de diferentes materiais utilizados e construídos durante as atividades. O livro está dividido em dois momentos: o primeiro trata de uma discussão mais teórica sobre o ensinar geografia, a cidade e o urbano; também sobre a metodologia de pesquisa, a escola e os estudantes. O segundo trata das atividades de aprendizagem propriamente ditas e realizadas na escola. A primeira parte do livro analisa a concepção teórico-metodológica para a construção dos projetos e das atividades a serem produzidos pelos sujeitos e objetos da pesquisa. No primeiro capítulo, buscam-se compreender os sentidos da concepção conceitual de ensinar Geografia e sua importância e função no ambiente escolar. O segundo trata da discussão metodológica da pesquisa e como foram pensados os projetos numa perspectiva participativa. O terceiro busca fazer um recorte da importância de se pensar a cidade como um elemento de reflexão sobre a construção cidadã, como também de compreensão sobre a própria cidade. Já no quarto capítulo são trabalhadas discussões conceituais sobre o papel da mediação do conhecimento como forma de ensinar a Cidade de São Gonçalo. O texto do quinto capítulo, por sua vez, foi escrito em colaboração com a diretora da escola, em que discorremos sobre a importância daescola pública de modo geral, sobre os sujeitos – os estudantes do CIEP e suas características. A segunda parte do livro apresenta as atividades desenvolvidas pelas professoras e pelos bolsistas dos projetos. É o momento mais importante, que mostra os trabalhos construídos em conjunto e individualmente por cada sujeito e autor dos projetos. A primeira atividade teve como objetivo articular os problemas das bacias hidrográficas urbanas com os rios dos bairros, mostrando a importância do estudo para a compreensão dos problemas sobre a questão da gestão urbana. A segunda atividade propõe uma discussão da cartografia escolar sistêmica, problematizando as dificuldades dos estudantes em analisar elementos básicos do mapa, e como seu uso pode ser construído para a compreensão sobre o município e das diferentes escalas. A terceira atividade mostra a preocupação da discussão das diferentes escalas, uma vez que a cidade tem um número considerável de migrantes chineses. A pesquisa de campo foi fundamental para compreender porque esses chineses vivem na cidade. O texto da quarta atividade o jogo construído pelos estudantes a partir da discussão da paisagem urbana da cidade para analisar mudanças e permanências. A questão do fluxo em São Gonçalo é um dos grandes problemas urbanos focados na quinta atividade. Neste texto é apresentado o contexto da cidade, bem como o contexto do bairro onde a escola se localiza. A atividade tem como perspectiva tratar o assunto de forma lúdica. Para tanto, os estudantes tiveram aula no laboratório de informática na UERJ-FFP. A sexta atividade, por sua vez, objetivou articular o estudo do relevo com o lugar vivido dos estudantes, a partir das oficinas de modelagem de relevo que possibilitaram um debate muito importante sobre a compreensão do conceito e as diferentes paisagens em escalas geográficas. A sétima atividade aborda a relação do êxodo rural com a questão da vinda dos migrantes para São Gonçalo e a falta de planejamento dos governos locais para organizar o espaço. Dessa forma, discutiram-se alguns problemas urbanos característicos das grandes cidades. Já a oitava atividade trata as questões do espaço vivido pelos estudantes com a construção de um livro e de uma caixa geográfica, recursos utilizados a partir de palavras-chave trabalhadas na sala de aula para discutir a questão cidade e urbano. A nona atividade descreve uma oficina desenvolvida sobre os principais problemas urbanos e ambientais, tanto na escala do bairro quanto da cidade, por meio de vídeos, imagens, reportagens e posteriormente, o trabalho de campo. Por fim, a décima atividade apresenta conceitualmente a relevância de pensar a metodologia de ensino proposta como uma forma de ensinar os conceitos e os conteúdos da Geografia, a partir dos elementos constituintes do bairro, com a elaboração de um roteiro de atividades desenvolvidas durante o campo com os estudantes. SUMÁRIO Parte 1 - Base teórico-metodológica do Ensino da Cidade de São Gonçalo O sentido de ensinar a Geografia Escolar Ana Claudia Ramos Sacramento A pesquisa-ação na construção das atividades de Geografia Ana Claudia Ramos Sacramento A cidade de São Gonçalo como elemento espacial para estudar Geografia Ana Claudia Ramos Sacramento Atividades de aprendizagem: mediação didática para ensinar São Gonçalo como conteúdo de ensino Ana Claudia Ramos Sacramento A Escola Pública e seus sujeitos: O CIEP 439: Luis Gonzaga Junior Ana Claudia Ramos Sacramento e Mila Ferreira Pereira Guimarães Parte 2 - As atividades didáticas na construção do conhecimento de São Gonçalo Aprendendo sobre as Bacias Hidrográficas urbanas em São Gonçalo-RJ: O caso da Bacia Guanxidiba-Alcântara Aline Campos Mello Nathália Villela Peres dos Santos A importância da Cartografia Escolar e os mapas da Cidade de São Gonçalo no ensinar Geografia Bruna Pugliesi e Fabiana Sanches de Carvalho Atividade de aprendizagem sobre China e São Gonçalo-RJ Nathália Villela Peres dos Santos e Aline Campos Mello Jogo da Memória sobre Paisagens Gonçalenses como recurso didático nas aulas de Geografia Fabiana Sanches de Carvalho A Mobilidade Urbana em São Gonçalo: atividade sobre transporte Fabiana Sanches de Carvalho Oficina de Modelagem sobre o relevo das macroestruturas do Brasil e a relação com a cidade de São Gonçalo Adriana Pereira Ribeiro Relação do êxodo rural no Nordeste e a falta de planejamento urbano: os problemas urbanos em São Gonçalo Jupiara de Jesus Pereira da Silva Nosso cotidiano na cidade de São Gonçalo Aline Mello Campos A oficina de problemas urbanos e ambientais de São Gonçalo por meio de alguns materiais didáticos Nathália Villela Peres dos Santos, Bruna Pugliesi da Silva e Edson José Diniz Leite O trabalho de campo no Bairro Luis Caçador: elementos para pensar o espaço geográfico Ana Claudia Ramos Sacramento, Aline Mello Campos, Fabiana Sanches de Carvalho e Jupiara de Jesus Pereira da Silva Parte 1 - Base teórico-metodológica do Ensino da Cidade de São Gonçalo O SENTIDO DE ENSINAR A GEOGRAFIA ESCOLAR Ana Claudia Ramos Sacramento Introdução A construção do conhecimento é fundamental para entendermos o espaço em que vivemos. A Geografia é o “saber” que nos permite olhar muito além da aparência e nos ajuda a perceber a essência deste mundo tão complexo o qual, ao longo do tempo, foi transformado de acordo com a necessidade humana de se desenvolver. Isso por conta das diversas contradições sociais, que modificaram tudo que era natural em artificial, permitindo a construção de um vivido dialético. Por muito tempo, a Geografia foi um instrumento importante para as classes hegemônicas que se apropriaram de seu conhecimento para produzir uma ideologia nacional, não permitindo a crítica ou a discussão de diversas questões ligadas ao cotidiano. Um dos instrumentos estratégicos dessas classes foi a escola, a qual, desde cedo, desempenhou um papel que se direcionava à submissão dos alunos por uma ideologia camuflada do patriotismo, da descrição pura e simples da Geografia. Com o passar do tempo, notamos que os conhecimentos geográficos continuaram servindo a essas classes dominantes. A Geografia era, e ainda é, ensinada de forma fragmentada, sendo considerada uma síntese de conteúdos: Natureza, Homem e Economia, divisão que compartilhava um saber apolítico, embora não despolitizada, ou seja, sem percepção da realidade destes. Em nenhum momento ela estava comprometida em buscar a produção do conhecimento dos alunos, mas somente com a reprodução. Assim, ela era vista como uma disciplina sem cunho político, nem social; mas sim, como a que “fazia uma descrição da terra através da fragmentação do relevo, clima, geologia...”. Isto na visão determinista, apropriada por exaltar a Natureza e, por conseguinte, estabelecia o domínio do “solo” para construção de uma pátria. Depois, mostrava-se a relação homem-meio, na qual se configurava a cultura de um povo, de acordo com os padrões regionais que se estabeleciam. Conforme a “evolução” do pensamento geográfico, a perspectiva da Geografia mudou. Hoje, depois de um longo tempo, aquela é vista com outros olhos, visto que recebeu a influência das significações do materialismo histórico e dialético, e do marxismo, os quais permitiram à Geografia uma visão crítica da realidade, não somente através da descrição, mas principalmente por uma análise profunda das contradições existentes no espaço. A partir daí, houve a busca pela construção de conhecimentos, e não somente sua reprodução. Desse modo, mostrar a importância social da Geografia é caracterizar como ela pode proporcionar a construção do cidadão crítico, posicionando as questões dialéticas que perpassam seu cotidiano; mostrar como os alunos vivem essas contradições incutidas na discussão do espaço, socialmente produzido pelo homem, o qual é um ser concreto, que sofre emoções e ao mesmo tempo tem que ser racional. Buscar o universo vivido dos alunos nos faz analisar a construção do lugar, enquanto produção do local e do mundial,mas também do afetivo, da emoção, observando a importância de se conhecer o espaço vivido para entender as mudanças do espaço. Este que é dialético, produzido pelo trabalho social do homem ao transformar o natural em artificial, em promover as relações sociais dicotômicas as quais estão à mercê do capitalismo, e que vão modificando o espaço vivido e produzido pelos alunos. A importância desta produção é esclarecer, ao fim, como a escola pode ser um instrumento de construção crítica do conhecimento do vivido, através das concepções e conhecimentos geográficos. Tanto as escolas quanto os professores têm influência neste cotidiano, porque a escola é o espaço onde os alunos passam uma parte de seu tempo e também proporciona uma parte da produção teórica a qual deve servir para o entendimento e discussão das contradições de seus cotidianos. A importância de Geografia escolar Observando o papel da Geografia, nos últimos 150 anos, percebe-se a importância que ela teve no contexto mundial, bem como no contexto escolar. O caráter dado à disciplina em seu primórdio, até hoje permite a pergunta sobre a função atual dela para o aluno e para o contexto das políticas educativas, na formação docente e principalmente, na formação do cidadão. Para pensar a importância de se estudar a disciplina, precisa-se entender qual o seu significado atualmente. Analisar o sentido que ela tem para a sociedade e para a escola, enquanto produtora de um saber que se preocupa em analisar os fenômenos que transformam o espaço em uma determinada localização é fundamental. La geografía estudia el espacio terrestre en cuanto que es el resultado de la acción dinámica y transformadora de las sociedades humanas, actuación que engendra configuraciones espaciales particulares y jerarquizadas de los territorios, y esta concepción de una geografía centrada en el análisis de las prácticas socioespaciales, desde un enfoque simultáneo e indisociable de lo social y lo espacial, es lo que le confiere una utilidad social. (LESTEGÁS, 2000, p. 40 apud LE ROUX, 1995). Portanto, estudar a Geografia é pensar na ação que a sociedade exerce sobre um determinado espaço, estabelecendo uma relação dinâmica e hierarquizada cujo foco é a preocupação em entender como as práticas da sociedade se materializam no território, buscando a compreensão sobre a ação no espaço. Percebem-se as particularidades que envolvem cada escala e cada tipo social que se concretiza na paisagem. Além da finalidade acima descrita, a disciplina Geografia também possibilita aos alunos um pensamento crítico, buscando a construção da cidadania, do pensar seu lugar, seu espaço nacional e mundial, bem como pensar a relação da luta entre classes em que estão envolvidos, por serem também agentes e transformadores do espaço. A Geografia sempre foi a ciência da ação, do poder estratégico, do saber pensar as diversidades espaciais, do saber político, mas isso somente no campo universitário e no poder militar do Estado. Ela não conseguia superar esse obstáculo, primeiramente, porque as classes dominantes não permitiam que na escola fosse estudada uma disciplina que se preocupasse em desmistificar o espaço vivido. Esta é uma ciência que estuda ou explica como os homens se orientam na superfície terrestre e como eles a representam; como eles modelam a terra para habitá-la e tirar dela aquilo que consomem; como eles a vivem, se apegam a ela e a fazem sua. (CLAVAL, 2010, p. 133). A disciplina deve ter um caráter que faça com que os estudantes se desenvolvam e saibam se orientar e analisar o que o espaço geográfico representa em todas as escalas. Devem compreender como se vive ou como se tem o direito sobre este lugar, e o sentido de pertencimento que faz com que se torne único para eles. Segundo Moreira (2008b), a geografia é uma ciência social, visto que seu objeto - o espaço - é produto das ações humanas por meio da transformação do meio natural, pelo trabalho social. Dessa maneira, pensar essa disciplina é compreender que os homens, pelas suas práticas sociais, organizam suas práticas espaciais, estabelecendo as diferentes formas de produzir o espaço. Ainda para o autor, esta é uma forma de leitura do mundo. Sendo assim, a maneira como é lida depende da representação social que se faz por meio dialético, entre a imagem e a fala, que se apresenta por meio de seus conceitos. Partindo das concepções de alguns autores como Santos (2002), a Geografia é o estudo do conjunto de objetos e ações modificados de acordo com as concepções ambientais, técnicas, políticas e sociais que formam o espaço. Essa reflexão também tem que permitir ao aluno perceber a sociedade em sua essência e a transformação dos fixos e fluxos, por aqueles que constroem e reconstroem esse espaço. Então o que seria ensinar geografia e qual a sua função? Essa disciplina possibilita uma forma de interpretação na leitura de mundo, está articulada ao conhecimento sobre um determinado objeto central, de acordo com as concepções filosóficas e educativas da própria forma de ver o mundo. O que seria ler esse mundo? Segundo Moreira (2008b); Callai (2005), saber ler uma informação do espaço vivido, explorando os elementos naturais e humanizados presentes na paisagem em suas diferentes concepções conceituais, vinculadas às concepções já características como o espaço, território, paisagem e região, que criam uma identidade para os estudos dos fenômenos geográficos. A disciplina proporciona o desvendar dessas questões que ficam obscuras, muitas vezes camuflando uma essência de seu poder.Enfim, a Geografia é uma das disciplinas que dão conta da compreensão e análise da realidade. A Geografia permite ao aluno, também visualizar concretamente o poder, mostrando quem é o dominante e o dominado, fazendo o estudante analisar sua posição enquanto sujeito/objeto do espaço que ele próprio produz, mas não se dá conta disso. O poder é uma forma de dominação que nos faz observar que o mais fraco fica sempre à margem da transformação, a partir do momento em que ele não pode e não tem argumentos para questionar, por exemplo, o Estado, ainda que este represente um povo. Sendo assim, a necessidade de conscientizar o aluno desse questionamento deve ser o papel social da Geografia, pois esse indivíduo só entenderá a sua relação com a sociedade e o porquê de ele sofrer as consequências, quando se der conta da sua posição dentro do Estado capitalista, no qual a burguesia manda e desmanda a sua mercê com representações geográficas diversificadas, tanto nas esferas local, regional, nacional, podendo representar esse poder na perspectiva dos mapas. Assim, para Lacoste: Os geógrafos, sejam eles pesquisadores ou professores do secundário ou do primário, têm de contribuir na tomada de consciência dos fenômenos de dominação, não somente de uma maneira teórica e geral mas também como podem ser mostrados pela análise geográfica em diferentes escalas. (LACOSTE, 1995, p. 79). A Geografia também tem de permitir ao aluno analisar a sociedade em sua essência e a transformação do seu meio técnico-científico representado no espaço através dos objetos e ações do homem, enquanto aquele que constrói e reconstrói esse espaço, que se apresenta de forma concreta e complexa, e fundamentalmente para o enriquecimento das representações geográficas dentro da realidade. Segundo Castellar (2005, p. 104), a Geografia Escolar contribui para que os alunos reconheçam a ação social e cultural de diferentes lugares. Devido à vida em sociedade, a dinâmica e o espaço geográfico absorvem as contradições em relação com ritmos estabelecidos pelas inovações no campo da informação e da técnica, o que implica, de certa maneira, alterações no comportamento e na cultura do professor dos diferentes lugares. Caracterizando desta maneira, os objetivos de ensinar e aprender de acordo com as necessidades cognitivas do aluno. Resende (1986) pesquisou, a partir das práticas sociais dos alunos trabalhadores, como construir conhecimentos geográficos. Desenvolveu atividades com os alunos de umaescola noturna, a qual interagiu os conhecimentos de vida deles com a relação do tipo de conteúdo que poderia articular o cotidiano com a ciência geográfica. Dessa maneira, devem-sepensar os processos educativos: as diferentes formas de ensino e de aprendizagem pela mediação dos professores em pensar diferentes metodologias, didáticas e outras que têm como objetivo a produção de uma aprendizagem significativa. Para isso, os processos precisam refletir sobre as concepções pedagógicas desenvolvidas ao longo do tempo. O objetivo da Geografia seria criar condições de formar uma consciência espacial cidadã, aprendendo a fazer a leitura do mundo por meios das diferentes categorias de análises, para que os alunos compreendam como os objetos e os fenômenos se encontram organizados no espaço. A partir disso, eles podem ter consciência sobre como a sociedade se utiliza da natureza para criar objetos ou recriá-los para fins econômicos. Além disso, deve-se fazer com que o aluno compreenda o desenvolvimento e organização espacial através do poder, incentivando um raciocínio mais crítico em relação à construção e à transformação das múltiplas análises espaciais que, às vezes, mostram-se em categorias como lugar, território, paisagem, região e que precisam ser entendidas como outras representações do mundo em que vivemos, sendo estudadas de formas articuladas. Como relata Cavalcanti: [...] aprender a observar a paisagem do ponto de vista de uma ordenação territorial e o do dominar a linguagem criada [...] O ensino da Geografia deve visar o desenvolvimento da capacidade de apreensão da realidade do ponto de vista de sua espacialidade [...] A finalidade de ensinar Geografia para crianças e jovens devem ser justamente a de os ajudar a formar raciocínios e concepções mais articulados e aprofundados a respeito do espaço. (CAVALCANTI, 1998, p. 24). Construir a prática de pensar o que se passa na realidade vivida dos alunos e dos professores, fazê-los enxergar o que é, o que representa seu lugar, seu município, de forma a entender a sua geograficidade, e assim construir os conhecimentos geográficos e o conjunto de concepções acadêmicas, para fazer com que o aluno “perceba” com outros olhos o seu espaço. Desenvolver nos alunos a leitura dos arranjos territoriais construídos socialmente dentro de relações de poder impostas nas transformações culturais que vão se dando na paisagem. Essas transformações fazem parte de um momento da realidade que se é vivida pelo alunoo qual tem de se compreender como o sujeito da construção da sociedade de seu município, de seu Estado e de seu país, observando além da aparência, procurando analisar a essência. A importância de saber ler, interpretar e localizar-se por meio dos mapas nos orientam para os lugares ou para onde se localizam as coisas no espaço e que seja pensada para contribuir com as questões práticas do cotidiano, bem como, uma interpretação dos fenômenos geográficos em que os professores envolvam os alunos para que estes compreendam o significado daqueles em seu espaço vivido. Castellar e Vilhena (2010) comentam que o Ensino de Geografia, por meio da uma educação geográfica, tem como objetivo analisar as interações que a sociedade busca e estuda para controlar e modificar a natureza, como forma de articular as ações realizadas neste espaço entre diferentes períodos, uma vez que as contextualizações são importantes para fazer com que o aluno entenda as diversas contradições existentes em cada cultura a qual vai estabelecer uma diferenciação espacial e da percepção dos lugares. Por isso, é importante que se trabalhe com os procedimentos didático-pedagógicos geográficos articulados com a concepção de Educação Geográfica, pois um dos seus aspectos é formar o cidadão responsável com o espaço social habitado pelos sujeitos/alunos. Após as reuniões/oficinas sobre a questão da mediação do conhecimento, percebeu-se uma reflexão mais ativa nas aulas. Por conseguinte, aquela disciplina descritiva dá lugar a uma voltada para a discussão da cidade e do urbano como parte dos conteúdos ministrados em sala de aula, promovendo uma articulação entre o espaço vivido do estudante, os conceitos e os conteúdos necessários para a análise espacial. Dessa maneira, o ponto de vista para se estudar a geografia é: olhando o espaço, olhando em volta, percebendo o que existe, sabendo analisar as paisagens, como o momento instantâneo de uma história que vai acontecendo. Essa é a leitura do mundo da vida, mas que não se esgota metodologicamente nas características de uma geografia viva e atual. (CALLAI, 2005). Edução Geográfica e os conceitos geográficos[1] A Educação Geográfica pressupõe o estímulo de ações que mobilizem o aluno à construção do conhecimento. Dessa maneira, pensar o ensino de Geografia é criar condições para que estes compreendam os fenômenos geográficos que ocorrem a sua volta. Esse processo se dá na medida em que o professor enquanto mediador organize e estruture a aula levando em consideração os conhecimentos prévios trazidos pelos alunos. Segundo Cavalcanti (2005), a educação geográfica pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade, para a reflexão sobre a atuação do indivíduo (aluno) nas suas relações pessoais ao grupo no coletivo e suas atividades de compromisso com classes, grupos sociais, culturas, valores e gerações do passado e do futuro. Desta maneira, no Brasil, autoras, como Callai (2005); Castellar (2005); Cavalcanti (2005) trazem um referencial teórico a respeito da construção da importância de se pensar a Geografia Escolar e de se trabalhar com a questão da Educação Geográfica, ou seja, de se superar as aprendizagens repetitivas e arbitrárias. Isso pode ser realizado adotando-se outras práticas de ensino, promovendo o conhecimento geográfico para análises, interpretações e aplicações em situações práticas; trabalhando-se a cartografia como metodologia para a construção do conhecimento geográfico, a partir da linguagem cartográfica; analisando-se os fenômenos em diferentes escalas; buscando-se compreender a dimensão ambiental, política e socioeconômica dos territórios. Tudo isso dá um caráter renovado ao currículo escolar. Ensinar Geografia é mais do que “passar informação ou dar conteúdos desconectados”, é articular o conhecimento geográfico na dimensão do físico e do humano, superando as dicotomias, utilizando a linguagem cartográfica com o intuito de valorizar a Geografia como disciplina escolar, é tornar a Geografia escolar significativa com a finalidade de compreender e relacionar os fenômenos estudados. (CASTELLAR, 2005, p. 48-49). Dessa maneira, pensar atualmente a Geografia Escolar é buscar uma inter-relação com as teóricas pedagógicas, articular os conhecimentos pedagógicos que fomentarão a tentativa de avançar para uma construção do conhecimento pedagógico geográfico, fazendo com que os conteúdos e os conceitos sejam trabalhos de maneira a permitir que as práticas cotidianas e os fenômenos geográficos contribuam para uma produção de interpretação, análise e orientação do saber geográfico no espaço vivido do aluno. Trabalhar nessa concepção é trazer a sociedade e sua interação com o espaço como lócus de construção do conhecimento o qual visa fazer com que o aluno saiba aplicá-lo nas ações e nas práticas do seu vivido. Assim, as contribuições dos estudos da geografia tendo como considerações um currículo multicultural também devem ter como objetivo a concepção da vivência do cotidiano e da diversidade sociocultural dos alunos. Segundo Cavalcanti (1998; 2005), a educação geográfica pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade, para a reflexão sobre a atuação do indivíduo (aluno) nas suas relações pessoais ao grupo no coletivo e suas atividades de compromisso com classes, grupos sociais, culturas, valores e gerações do passado e do futuro. Santos (2007) diz que o objetivo da geografia é se conscientizar de que existem diferentes grupos raciais, sendo importante a leitura e a análise da distribuição espacialdos grupos raciais; os comportamentos e as práticas nas relações raciais que se materializam no território; os diferentes grupos étnicos e suas matrizes culturais; e outros que fazem parte do ensinar geografia. A formação do conceito tem como objetivo conceituar um fenômeno, sendo assim, é necessário centrar atenção em suas características (analisar, descrever sua totalidade concreta) a fim de destacar seus traços fundamentais, abstraindo-os do conjunto, em seguida, misturar (sintetizar) esses atributos mais importantes e simbolizá-lo com uma palavra. Para construir um conceito, Meirieu (1998) destaca que são utilizadas diferentes estratégias de aprendizagem que representam a aprendizagem em ação, podendo ser caracterizadas como uma sequência de operações de assimilação dos dados e operações de tratamento dos dados. Essas estratégias fazem parte do processo de mediação do conhecimento, pois, a organização da atividade/estratégia de aprendizagem, que em parte, relaciona-se ao que o autor classifica como “diferenciação sucessiva”, quel pode ser regulada por uma simples observação do reagir da turma, na qual se pode ser conservada o controle de toda a turma, mas esforça-se para variar sucessivamente as situações e as ferramentas. Para Castellar e Vilhena (2010), o conceito é uma ideia acerca de um objeto ou fenômeno. Dessa forma, pensar um conceito da Geografia é promover uma construção do ensinar que permita a apropriação desse conceito para a compreensão do mundo, e para tanto, segundo as autoras, é necessário pensar didaticamente a aula. Para Callai (2005), os conceitos são fundamentais para que se possam analisar os territórios em geral e os lugares específicos que vão sendo construídos pelos sujeitos, ao longo dos processos de análise. Segundo a autora, ao se apropriar dessa linguagem conceitual, a criança desencadeará um processo de leitura do mundo, com um olhar espacial. A categoria-chave ou central para as discussões na geografia escolar é o espaço – espaço geográfico. É a partir dele que as outras categorias ganham corpo ou, como declara Haesbaert (2011), tornam-se suas constelações. Sabe-se que o espaço tem múltiplas concepções, considerando-a um espaço-território. Para Santos (2002) o espaço é a complexa indissociação do sistema de objetos e ações que, condicionados a uma lógica dialética-sócio-espacial, modificam e transformam a condição de ser do espaço social a cada momento. Para Moreira (2008a), é a forma como o fenômeno aparece no espaço. Sendo assim, para se pensar o ensino de geografia, Callai (2005) afirma que fazer a análise geográfica é dar conta de estudar, analisar, compreender o mundo com o olhar espacial. Esta é a nossa especificidade – por intermédio do olhar espacial, procurar compreender o mundo da vida, entender as dinâmicas sociais, como se dão as relações entre os homens e quais as limitações/condições/possibilidades econômicas e políticas que interferem. Ao ler o espaço, a criança estará lendo a sua própria história, representada concretamente pelo que resulta das forças sociais e, particularmente, pela vivência de seus antepassados e dos grupos com os quais convive atualmente. Os conceitos geográficos passam a ser a forma como os alunos se compreendem, como os fenômenos se espacializam, a partir da descrição e análise da paisagem. Para dar caráter científico ao mundo em que vivemos, os conceitos são primordiais para os alunos saírem do senso comum e contemplar as concepções geográficas sobre determinados objetos e lugares. Perceber um fenômeno em sua dimensão geográfica é assim primeiramente localizar, distribuir, conectar, medir a distância, delimitar a extensão e verificar a escala de sua manifestação na paisagem. A forma como o fenômeno aparece no espaço é a do objeto espacial, a exemplo da fábrica no fenômeno econômico, da igreja no fenômeno cultural e do parlamento no fenômeno político. Todo conhecimento em geografia por isso começa na descrição da paisagem. (MOREIRA, 2008a, p. 116-117). Para ler os fenômenos, os alunos precisam ter uma lógica de organização da aprendizagem, realizar algumas etapas de como eles percebem as diferentes formas de análise sobre uma dada realidade. Desta maneira, é importante que as ações didáticas dos professores estejam sempre direcionadas a pensar na construção dos conceitos, já que se possui elementos cognitivos necessários para entender os conceitos. Como destaca o autor, para se conhecer a Geografia, é preciso fazer a descrição da paisagem, pois é a partir dela que vamos desvendar os outros aspectos característicos do espaço, visto que a paisagem é a materialização concreta dos fenômenos e dos objetos. Sendo assim, o homem como tal, constitui-se também a partir de sua relação com seu meio, que está impregnado de elementos físicos e sociais, parte da sua vida cotidiana. Assim, sua maneira de agir e de pensar está relacionada com a forma que ele se vê no mundo, ou como o jeito que ele vivencia esse mundo exterior. À medida que ele reconhece sua existência, vai se tornando mais complexa sua relação com esse meio e com os que o cerca, fazendo com que sua capacidade intelectual também mude porque ele vivencia um momento histórico que o faz refletir sobre sua relação com uma vida social, e, consequentemente, com uma determinada realidade. É por meio dos conceitos que os alunos começam a entender como os conteúdos se articulam e como eles se contextualizam em um determinado lugar, ou seja, precisa-se ter consciência da essência geográfica, como analisa Tudo na geografia começa então com os princípios lógicos. Primeiro é preciso localizar o fenômeno na paisagem. O conjunto das localizações dá o quadro da distribuição. Vem, então, a distância entre as localizações dentro da distribuição. E com a rede e conexão das distâncias vem a extensão, que já é o princípio da unidade do espaço (ou do espaço como princípio da unidade). A seguir, vem a delimitação dos recortes dentro da extensão, surgindo o território. E, por fim, do entrecruzamento desses recortes surge a escala e temos o espaço constituído em toda sua complexidade. (MOREIRA, 2008a, p. 117). Os conceitos geográficos implicam a importância de saber ler, interpretar, orientar-nos, saber nos localizar em diferentes lugares ou onde se localizam os objetos no espaço. Segundo Moreira (2008a), a geografia é uma forma de leitura do mundo. Por isso, é necessário que exista uma lógica sobre o pensar dos fenômenos para se desvencilhar do senso comum. Assim, precisa-se fazer com que o aluno reconheça, analise e reflita sobre sua realidade, tendo como sentido básico, educar esse aluno geograficamente. É fazê-lo perceber os fenômenos geográficos localizados em um determinado espaço, saber descrever e analisar as diferentes formas das paisagens de um determinado lugar e o meio no qual ele está inserido, também de forma cartográfica. Para Castellar (2005, 2011), comprender alguns conceitos-base para a Geografia, como o de lugar, é dar sentido à forma como o professor no processo de mediação realiza algumas atividades necessárias para que a criança entenda o lugar em que vive. Essa atividade sugerida pela autora pode ser um desenho (rua, escola, moradia e outros não tão próximos), porque, a partir do que a criança desenha, o professor é capaz de entender como ela pensa e conceitua, e transformando-a, possibilitando ações que repensem o desenho, com o seu significado para sua vida, trazendo a experiência vivida com o científico. Seguindo a linha, a autora, a representação simbólica, as relações espaciais, a reversibilidade (conceitos de Piaget) contribuem para construir na cartografia escolar – o letramento cartográfico - quando o professor elabora as atividades didáticas, ele desenvolve na criança a leitura, a elaboração de mapas mentais, dentre outros. Dessa maneira, organiza-se o significado dos símbolos e signos, de acordo com fenômenos representados nos desenhos e associados à produção da legenda. Paganelli (1998; 2007) estuda como os desenhos das crianças são imbuídosde representações sobre a realidade. Partindo de uma perspectiva da geografia crítica, buscou nos seus estudos compreender as concepções das crianças sobre o espaço vivido, articulado com os conceitos geográficos. O método utilizado por essa autora possibilitou a análise de como os estudantes pensam, a partir dos desenhos, dos croquis e das cartas ou dos mapas mentais, como podem ser desconstruídas as diferentes ideias sobre uma paisagem, um lugar, um território, por exemplo. Dessa maneira, construindo nas aulas a discussão dos conceitos e dos conteúdos de forma crítica, promove nos estudantes as noções básicas espaciais para a sua cidadania. Partindo de uma visão mais socioconstrutivista vigotskiniana, que considera o ensino como construção do estudante, a partir de sua experiência social, intelectual e afetiva para a busca de uma ação consciente sobre aquilo que eles vivenciam e os conhecimentos científicos. Cavalcanti (1998; 2005) numa abordagem sociocultural, e Couto (2005; 2012) a partir de uma prática socioespacial dos estudantes, têm como referencial pensar a abstração e a socialização dos conceitos, a partir do conhecimento dos estudantes sobre o cotidiano. Cavalcanti (1998; 2005) defende o ensino da construção do conhecimento por meio das representações das diversidades socioculturais pelo estudante, pois este é o sujeito ativo do seu processo de formação e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social. Assim, a autora desenvolve as diversas possibilidades de construir os conceitos, através de um problema ou de uma atividade de aprendizagem que estimule o conhecimento. Ao dar o exemplo sobre a Cidade, enquanto conteúdo e também conceito construídos na escola, aquela não é concebida apenas como forma física, mas como materialização de modos de vida, como um espaço simbólico. Seu estudo volta-se, assim, para desenvolver no estudante a compreensão do modo de vida da sociedade contemporânea e de seu cotidiano em particular. Couto (2005; 2012) estuda os processos de generalização, na perspectiva de Davýdov (1982), em sua unidade com os de abstração e com os formativos de conceitos. A abstração, a generalização e o conceito são partes fundamentais do pensamento, pois caracterizam atividades mentais que proporcionam maior desenvolvimento psíquico/psicológico do ser humano. Para o autor, levar o estudante ao confronto de uma tarefa desenvolve os conceitos já conhecidos ou não, para depois levá-lo ao confronto com a prática social vivenciada por ele. Por isso, pensar a prática social espacial (a partir dos elementos da prática espacial geográfica, da teoria da pedagogia histórico- crítica e teoria da generalização dos conceitos) possibilita articular o conceito da vivência dos estudantes com a relação da construção cognitiva, para que eles possam transpor esse conhecimento para suas práticas sociais vividas. Para Cavalcanti (2011), se a escola tem o compromisso com a mudança social do aluno, é possível que o professor de geografia desenvolva o papel de autor de um trabalho de educação geográfica que se preocupa e se articula - a partir de escolhas criteriosas e comprometidas –, de modo que os alunos desenvolvam modos de pensamentos geográficos, internalizem métodos e procedimentos de forma a captar a realidade, tendo consciência de sua espacialidade. Conclusão Pensar o ensino da Geografia é entender seus objetivos, tendo como problemática, refletir sobre a formação de uma consciência cidadã espacial nas diferentes escalas de análises e práticas sociais, em suas diferentes concepções geográficas e pedagógicas. A importância de saber ler, interpretar, e localizar-se no mundo, por meio da interpretação dos conceitos e dos mapas, permite pensar nos objetivos necessários para que o ensino de Geografia cumpra o seu papel social, como destaca Moreira (2008a),Castellar (2005) e Cavalcanti (2005). Dessa forma, quando se ensina pautado nas concepções de uma educação geográfica, propõe-se um processo no qual o professor e seu aluno se relacionam com o mundo, por meio das relações que travam entre si na escola. O propósito do aprendizado refere-se à busca por elementos para compreensão sobre o espaço vivido, tendo como referencial a reflexão acerca das transformações realizadas nesses espaços, articulados com os conceitos e conteúdos que dão suporte na compreensão da sua realidade. Contudo, ler o mundo no âmbito escolar, requer que entendamos os processos educativos reformulados ao longo do tempo, e mais, como Castellar (2005), Couto (2005) e outros mostram, as teorias da aprendizagem e as concepções pedagógicas ajudam-nos a dar novos sentidos no ensinar, desenvolvendo métodos de ensino que permitem a construção do conhecimento geográfico escolar. Podemos dizer, então, que a partir dessas reflexões, a formação cidadã manifesta-se conforme os objetivos de ensinar a leitura e interpretação da dimensão espacial que se configura na materialização do agir do espaço socialmente produzido. O conteúdo das representações sociais do espaço vivido pelos alunos, integrado à geografia escolar como referencial geográfico, permitirá ao professor elaborar estratégias didáticas para concretização da aprendizagem, por meio da mediação dos conceitos e conteúdos. Uma vez que são fundamentais para a formação espacial cidadã, é preciso, preliminarmente, tratar o conteúdo da aprendizagem por meio da identificação de um problema e de um raciocínio geográfico, de introduzir questionamentos e debates a respeito do espaço vivido dos alunos. Referências CALLAI, Helena Coppetti. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia dos anos iniciais do Ensino Fundamental. In: CASTELLAR, Sonia. (Org.). Educação Geográfica e as Teorias de Aprendizagens. Campinas – SP: Cadernos Cedes, col. 25, n. 66, maio/ago., 2005, p. 227-248. CASTELLAR, Sônia. (Org.). A psicogenética e a aprendizagem de Geografia. In: Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Editora Contexto. 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Decidiu- se fazer essa pesquisa qualitativa, com base na pesquisa-ação, por acreditar-se que esta seja fruto de uma relação dinâmica, já que os sujeitos são os objetos desse trabalho e que, por sua vez, não podem ser traduzidos literalmente em números. Os projetos foram desenvolvidos na forma interpretativa, analítica de observação e produção de materiais, de forma que as professoras e as bolsistas desenvolvessem-nos em sua prática cotidiana. A interpretação dos dados foi analisada a partir da participação nos encontros semanais do grupo, para aprofundamento do referencial teórico-metodológico do estudo proposto; observações das aulas; levantamento bibliográfico dos temas a serem discutidos para o cotidiano do trabalho na escola; organização das atividades desenvolvidas na escola e nos espaços não-formais, conjuntamente com os alunos da graduação e dos alunos dos ensinos fundamental e médio; organização e produção de simulações e sequências didáticas para organização do ensino e da aprendizagem, e construção e produção de materiais didáticos sobre a cidade de São Gonçalo. 1. Ao retratar a investigação qualitativa, Bodgan eBiklen (1994) consideram cinco características importantes para a formulação da pesquisa. Desse modo, serão citadas as características de cada item, as quais se julgam importantes para a compreensão da pesquisa, de acordo com as argumentações dos referidos autores: A fonte direta dos dados é o ambiente natural, constituindo o investigador, o instrumento principal, ou seja, a escolha do lugar, dos equipamentos utilizados dependerá do pesquisador e de sua ação. No nosso caso, o ambiente: a escola CIEP 439 – Luis Gonzaga Junior. Na escola, foram utilizados a biblioteca, a sala de aula, a sala de geografia, a sala de vídeo, o laboratório de informática, bem como espaços de pesquisa e reuniões. Além disso, foram utilizados espaços da UERJ-FFP para realização de outras atividades, como a biblioteca, o laboratório do CEDIPE e o laboratório de informática. 2. A investigação qualitativa é descrita. Os dados recolhidos são dos questionários respondidos pelos estudantes e das análises sobre a escola e o bairro. 3. Interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos. A pesquisa baseia-se na observação, nas reuniões e nos materiais desenvolvidos, e como forma de desenvolver o trabalho na sala de aula. 4. Busca-se analisar os seus dados de forma indutiva, ou seja, desenvolvendo dentro do trabalho, uma pesquisa de percepção e conhecimento dos agentes envolvidos no processo. No caso, a ida às escolas e a convivência com os sujeitos pesquisados, nos quais se reflete a importância de uma produção e reflexão conjunta para o desenvolvimento da pesquisa. 5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa. Trabalhar com os professores é possibilitar não só a nós, mas também a eles, uma reflexão sobre os diferentes sujeitos e objetos do conhecimento e suas inter-relações. Consequentemente, o significado só é possível mediante as diversas reuniões, nas quais se faz a organização e elaboração das atividades de aprendizagem de Geografia. Essas características orientaram os projetos, ao dinamizar a ação participativa de todos os envolvidos(os pesquisadores, professores, alunos e a escola), de forma que houvesse uma articulação entre a teoria e a prática, para uma produção do conhecimento que permitisse um envolvimento dos sujeitos e dos objetos do conhecimento escolar. Como sujeitos dos projetos, além dos estudantes no CIEP, participaram as professoras bolsistas supervisoras do PIBID-CAPES e Treinamento e Capacitação Técnica (TCT) - FAPERJ, os estudantes bolsistas da graduação de Iniciação à Docência - PIBID-CAPES, Iniciação Científica da FAPERJ, e do ensino médio Pré- iniciação Científicas (Jovens Talentos) FAPERJ. Cada um tinha atividades específicas e conjuntas nos projetos, o que foi importante para a construção e a produção do conhecimento geográfico sobre a Cidade e o Urbano de São Gonçalo.Além dos bolsistas, os professores da UERJ-FFP colaboraram nas atividades realizadas, por meio de oficinas e de atividades desenvolvidas pelos seus bolsistas da graduação e da pós-graduação. O foco foi apesquisa-ação, porque o trabalho foi orientado não só pela nossa ação, mas por todos os envolvidos que, direta ou indiretamente, trabalharam no projeto buscando uma articulação dos sujeitos como pesquisadores e mediadores do conhecimento, e não somente como “reprodutores”. A pesquisa-ação traz a possibilidade de uma ação efetiva entre o pesquisador e seu objeto, não se limitando a uma pesquisa precisa, mas permitindo aos envolvidos “fazerem”, “dizerem” algo. A ação é um movimento duplo, e à medida que se torna significativa ao processo escolar, não é só executada pelo pesquisador, mas por todos os envolvidos na pesquisa. Segundo Thiollent (2007), esta tem alguns aspectos importantes: a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada; b) dessa interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta; c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas, e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nessa situação; d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada; e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação; f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados. Estes aspectos possibilitam-nos pensar no desenvolvimento de uma pesquisa, principalmente porque se deseja manter um diálogo aberto entre o pesquisador e os sujeitos, buscando possíveis soluções, repensando as práticas efetivas na sala de aula. Por isso, repensar o currículo de Geografia leva-nos a debater sobre a conjuntura social do aluno, da escola e da sociedade, para que a disciplina se torne um “elo” na busca da compreensão dessa sociedade e, consequentemente, mova o aluno à percepção e observação do espaço em que vive. Utiliza-se a pesquisa-ação como meio de articular os trabalhos entre os pesquisadores e os sujeitos/objetos de pesquisa, a fim de mostrar a importância dese produzir, “agir” sobre o conhecimento, possibilitando, dessa forma, a mudança de atitudes nos envolvidos da pesquisa. Ademais, organiza uma prática efetiva dentro do próprio ambiente escolar, no caso, dos professores e dos alunos, que percebem a necessidade de construir ações que mobilizem a dinâmica do ambiente escolar em busca de transformações. A discussão entre o pesquisador e o sujeito da pesquisa promove condições no movimento desse grupo na tentativa de romper com a dicotomia entre objeto e sujeito, passando a ser, efetivamente, o pesquisador/sujeito das ações. Desse modo, a contribuição da pesquisa-ação é fundamental para que ocorra esse movimento, uma vez que o sujeito se torna pesquisador. Thiollent (2007) situa a pesquisa-ação na escola ao mencionar que: Com a orientação metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condição de produzir informações e conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico. Tal orientação contribuiria para o esclarecimento das microssituações escolares e para a definição de objetivos e ação pedagógica e de transformações mais abrangentes. (THIOLLENT, 2007, p. 81). A importância da pesquisa-ação como metodologia de trabalho permite a construção de conhecimento de todas as partes da pesquisa, o pensar e a reflexão dos objetos que estão em volta, e a melhoria social e educativa dos sujeitos. A pesquisa-ação é uma metodologia dinâmica e ativa, pois os agentes sempre estão em processo de ação, de construção, de produção, por isso a dificuldade de sistematizá-la, uma vez que, o pesquisador, os sujeitos e o objeto se inter-relacionam. Fiorentini (2004) traz-nos contribuições muito importantes para o entendimento da pesquisa-ação no ambiente escolar. Ao trabalhar com os professores de Matemática em Campinas, discutiu-se que o objetivo central dessa metodologia de pesquisa é promover e valorizar o trabalho docente, fazendo- os refletir sobre sua atuação como mediadores do conhecimento, ao analisar a necessidade de o professor se tornar o sujeito/pesquisador do trabalho e não um mero reprodutor. Concorda-se com o autor, quando ele argumenta: Embora possamos considerar a pesquisa-ação como uma técnica especial de coleta de informações, ela também pode ser vista como uma modalidade de pesquisa que torna o participante da ação um pesquisador de sua própria prática e o pesquisador um participante que intervém nos rumos da ação, orientado pela pesquisa que realiza. Acreditamos que esse é o principal sentido da pesquisa-ação. E, em que pese o sufixo ‘ação’, a pesquisa-ação também deve ser concebida como um processo investigativo intencionado, planejado e sistemático de investigar a prática. (FIORENTINI,2004, p. 70-71). Seguindo a mesma linha que o autor citado, Silva (1986), em seu livro Refletindo a pesquisa participante, argumenta como Thiollent (2007) trabalha a relação da pesquisa-ação. Segundo a autora, essa metodologia promove uma ação coletiva entre o sujeito, o pesquisador e o objeto, com o propósito de transformar em todos os aspectos os envolvidos, sendo que o sujeito acaba se tornando também o pesquisador do processo, por isso, a questão da ação, do movimento dos participantes. O sujeito passa a ser tanto agente passivo, como ativo na construção do conhecimento, possibilitando mudanças em sua atuação no ambiente. A autora salienta que nessa metodologia da educação os modos de intervenção são múltiplos, uma vez que no ambiente escolar, o trabalho é com professores, alunos, comunidades externa e interna, com o conhecimento, construindo-se, assim, várias relações no movimento dentro da pesquisa. As metas para a realização desses projetos foram: a) compreender os conhecimentos didáticos dos professores dos ensinos fundamental II e médio acerca dos conceitos a serem analisados; b) promover nos alunos a aprendizagem significativa e a articulação com o saber pesquisar; c) verificar como os alunos da licenciatura e da pós-graduação interagem com a comunidade escolar, compreendem os conceitos e os conteúdos geográficos, por meio de estratégias de ensino, como o uso de jogos, leituras de imagens e mapas, uso de diferentes linguagens textuais, mídias e outros; d) identificar se há articulação entre o conhecimento adquirido na universidade e o conhecimento tratado na escola, a partir da elaboração e aplicação de sequências didáticas que incorporem linguagem cartográfica, modelagem, jogos; e) analisar como os professores se apropriam das discussões nas oficinas, para refletirem e reorganizarem suas práticas. Essas metas foram importantes para traçar como seriam realizadas, conjuntamente com os sujeitos, as atividades referentes à construção do conhecimento geográfico. Partindo-se dessa perspectiva tratada pela pesquisa-ação, será relatada a metodologia em etapas, as quais foram realizadas dos anos de 2014 a 2016. 1ª Parte da pesquisa: 1ª etapa - Observação e reconhecimento das escolas, dos professores, dos alunos e das aulas; 2ª etapa - Aplicação de questionário para os estudantes; 3ª etapa - Análise dos questionários dos estudantes; 4ª etapa - Reuniões com professores e bolsistas, com discussões sobre textos e atividades a serem realizadas nas escolas e na UERJ-FFP (contínuo) e, 5ª etapa - Atividades de pesquisa realizadas pelos bolsistas na biblioteca municipal e na biblioteca na UERJ-FFP. Na primeira etapa, a observação é fundamental para a compreensão de como um determinado grupo ou sujeito desenvolve suas atividades, principalmente na pesquisa-ação, que possibilita um trabalho livre. Nesse caso, a observação do nosso objeto de estudo e seu local, a escola, na qual existe uma relação social, educativa, histórica e espacial. Por isso, a preocupação de observá-la, principalmente o desenvolvimento das aulas dos docentes e das atividades realizadas pelos alunos, para percebermos os conteúdos ministrados em aulas. Conhece-se também o espaço físico da escola, pois a utilização dos espaços existentes faz parte dos aspectos curriculares e da prática dos professores.Também houve o reconhecimento e análise sobre o bairro, para o trabalho de campo. Na segunda etapa, aplicaram-se os questionários para os professores, a fim de conhecê-los melhor. Na terceira etapa, analisaram-se os dados do questionário dos estudantes, para conhecer e compreender o tipo de sujeito que atua na pesquisa. Na quarta etapa, concentramo-nos nas reuniões com as professoras e os bolsistas, nas quais discutimos textos básicos e as atividades a serem realizadas na escola. Na quinta etapa, realizaram-se as atividades de pesquisa na biblioteca municipal e na biblioteca UERJ-FFP, com o objetivo dos bolsistas conhecerem mais sobre a cidade e sobre os conteúdos a serem trabalhados nas atividades. 2ª Parte da pesquisa: 1ª etapa - Elaboração das atividades a serem desenvolvidas pelos docentes e bolsistas; 2ª etapa - Construção de materiais didáticos sobre a Cidade de São Gonçalo; 3ª etapa - organização da semana da Geografia, com exposição dos trabalhos desenvolvidos, bem como oficinas com os estudantes de graduação e professores da UERJ-FFP e, 4ª etapa – elaboração de artigos e textos para apresentação em eventos científicos. A primeira etapa constituiu-se pela produção de estratégias de aprendizagem, como elaboração de sequências didáticas, trabalho de campo, oficinas, metodologia ativa e outros, que promoveram a organização das atividades em espaços formais e não-formais. Nessa etapa, com o uso do currículo mínimo do Estado do Rio de Janeiro, foram pensadas as atividades de aprendizagem para a construção do conhecimento geográfico dos conceitos e conteúdos, bem como da Cidade de São Gonçalo e de seus diferentes elementos. Na segunda etapa são apresentados os materiais que dão suporte às atividades construídas pelas professoras e pelos bolsistas, como modelagem, simulações e jogos, dentre outros. Na terceira etapa, há a concretização das atividades desenvolvidas durante os dois anos de projetos na escola. Estas apresentadas na Semana daGeografia. A quarta etapa foram as construções de textos sobre as atividades desenvolvidas pelos bolsistas. Dessa maneira, todos apresentaram trabalhos em diferentes eventos científicos, com apresentações de painéis, comunicações orais e com artigos. A partir dessas etapas e das metas estabelecidas, pode-se concretizar as diferentes formas de ensinar conceitos e conteúdos, na educação geográfica, que envolvem a cidade e o urbano da Cidade de São Gonçalo. Tal concretização se dá a partir do desenvolvimento das bases teórico- metodológicas de cidade, urbano, lugar, território das práticas dos professores; desenvolvimento da pedagogia crítica nas aulas e no cotidiano dos professores e alunos; mostra a importância da discussão sobre São Gonçalo nos conceitos e conteúdos geográficos, buscando a formação da consciência espacial cidadã dos alunos e dos professores; elaboração de atividades de formação para professores, pelos professores e alunos da universidade; publicação de artigos e trabalhos científicos sobre os resultados. A importância de discutir sobre a cidade promoveu as diferentes formas de realizar a construção do conhecimento geográfico que estivesse direcionado a partir dos aspectos cotidianos do município, bem como de muitos estudantes. Para os alunos, a semana de Geografia representou uma nova experiência, visto que a universidade foi até a escola, sem desvalorizar o conhecimento do ensino básico, mas se aliançando para mostrar onde está a geografia no cotidiano. Referências BIKLEN, SariKnopp; BODGAN, Robert S. Características da investigação qualitativa. IN: ______. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto, 1994, p. 47-51. FIORENTINI, Dario. Pesquisar práticas colaborativas ou pesquisar colaborativamente? In: ARAÚJO, J. L (org). Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática: Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. p. 47-76. SILVA, Maria Ozanirada. Refletindo a pesquisa participante no Brasil e na América Latina. São Paulo: Cortez, 1986. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007. A CIDADE DE SÃO GONÇALO COMO ELEMENTO ESPACIAL PARA ESTUDAR GEOGRAFIA Ana Claudia Ramos Sacramento Introdução A escola do século XXI tem sofrido exigências diárias para que seus estudantes tenham novas formas de conteúdo, novos valores, novas concepções de mundo, devido às questões globais e aos impactos que ela promove nas vidas cotidianas. Essa instituição está com o papel de promover o conhecimento das disciplinas escolares, a fim de formar cidadãos capazes de ler os fenômenos especializados no mundo vivido. A globalização promove dois impactos: a homogeneização dos espaços, e ao mesmo tempo as desigualdades sociais, socioeconômicas, socioambientais; a violência, desempregos e tantos outros problemas que estão no espaço e fazem parte da construção social de um país. Nos últimos anos, temos percebido esses problemas em todas as escalas: de locais a nacionais que estão presentes tanto em países ditos desenvolvidos, quanto nos desenvolvidos. Muitos deles, relacionados às mudanças da cidade e do urbano com novas complexidades para pensar as pessoas que a habitam, a saber: a) alguns impactos de grande e menor escala; como os problemas de mobilidade urbana, que têm causado enormes transtornos a populações de grande e média cidades, em que se perde muitas horas no trânsito, para chegar e sair do trabalho; b) os problemas de violência urbana, devido à falta de uma infraestrutura do governo a respeito do desemprego e da segregação espaciais; c) os problemas com saneamento básico em parte dos países da América Latina, Ásia e África, causando problemas ambientais de todos os tipos; d) a “falta efetiva” de um planejamento urbano; e) os problemas de guerras, que têm promovido fugas de imigrantes para outros países, e tantas outras questões. Além disso, há também os avanços tecnológicos que têm promovido uma relação mais próxima com os lugares do mundo, com as tecnologias da informação e comunicação, que proporcionam às redes, em parte do mundo, a possibilidade de conhecimento mais rápido, facilitando a observação de todos os tipos de culturas, acontecimentos e fenômenos. Este é um dos aspectos importantes para pensar, que os estudantes todos os dias acessam a internet, o telefone celular, a TV a cabo, e outros dispositivos eletrônicos, e estão conectados a todas as informações possíveis. Igualmente, estão expostos a todos os tipos de linguagens, como imagens, vídeos, imagens cartográficas e outros. Os aspectos deste mundo contemporâneo permitem-nos pensar como são as práticas cotidianas das pessoas e suas relações com o lugar vivido. Para tanto, a formação da cidadania tem de ser uma prática comum de construção e reconstrução de conhecimentos, capacidade e valores, assim como as práticas socioespaciais dos estudantes que caminham, circulam, conhecem partes das cidades que têm as vivências dos problemas que ocorrem nelas. O tema da cidade já é estudado nos currículos de várias partes do mundo, mas, muitas vezes, sem trabalhá-lo como conteúdo dos outros conteúdos, ou seja, quando se trabalha os elementos físicos, não há a articulação com a cidade, ou quando se trabalha com a população, não se discute efetivamente as relações com a cidade. Muitos autores do ensino da geografia têm escrito sobre a cidade em toda a América Latina, discutindo sobre a importância do estudo da cidade dentro da escola, a fim de se pensar propostas didáticas por meio dos aspectos socioespaciais, de forma a pensar a cidadania dos estudantes. Este texto está dividido em quatro momentos: o primeiro, cuja discussão gira em torno do ensino da cidade e o urbano na formação do cidadão; o segundo, que tem a cidade como conteúdo; o terceiro, em que a cidade é entendida enquanto representação espacial; e o quarto, em que a cidade de São Gonçalo é um conteúdo a ser estudado. O ensino da cidade e do urbano na formação cidadão A construção da cidadania não é um elemento tão fácil, pois se trata de conscientizar o outro sobre seus direitos, suas ações e compreender a importância de lutar por igualdade social, ambiental e econômica. É um conceito muito complexo, uma vez que promove a discussão de como se pode sair das práticas básicas e buscar a vida cotidiana e suas complexidades diárias. A cidadania para muitos é a possibilidade de ter direito sobre seus direitos, ou seja, ter a consciência de refletir sobre as diferentes formas de práticas e exercícios de atos, para estar e ser no mundo e sobre ela aprender a ter a oportunidade de intervir junto com os outros, a defender suas ideias ou compreender como se estabelecem as contradições. Cavalcanti (2011) afirma que o conceito de cidadania é firmado tanto do ponto de vista da vida pública e seus aspectos formais, quanto para os direitos e deveres no sentido ético, assim como o processo cultural com os direitos à igualdade. Para tanto, segundo a autora, a escola pode construir ações democráticas e ativas para recriar os processos histórico, social, econômico e cultural do município, do estado, do país; e trabalhar conjuntamente com as práticas socioespaciais dos estudantes, para que eles tenham consciência de seus espaços, ou seja, saibam ler os fenômenos que estão transformando seus espaços vividos e de outras escalas, de forma a saber intervir, conhecer seus signos e símbolos, e lutar por seus direitos de viver sobre ela. Assim, pensar uma Educação Cidadã é uma possibilidade de transformação na forma de ensinar, a fim de refletir sobre as mudanças da vida socioespacial estabelecida pelos governos, pela produção do trabalho, pelos conflitos sociais, como também pelas práticas sociais dos passantes e de seus próprios habitantes de um determinado lugar. Un campo teórico y práctico donde se traducen, enacuerdos y desacuerdos, nuestrasconcepciones de la vida social y política, ladefinición de derechos, libertades y obligaciones que estimamos legítimas para nosotros y para
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