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Maria Soledade Gomes Borges Fátima Garcia Chaves Metodologia do ensino de história e geografia Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Borges, Maria Soledade Gomes. B644m Metodologia do ensino de história e geografia / Maria Soledade Gomes Borges, Fátima Garcia Chaves. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. 136 p. : il. ISBN 1. Ensino fundamental. 2. Ensino fundamental – História. 3. Ensino funda- mental – Geografia. 4. Metodologia. I. Chaves, Fátima Garcia. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 372 © 2018 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Revisão textual Stela Maria Queiroz Dias Diagramação José Roberto Rodrigues Junior Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Fátima Garcia Chaves Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba – Uniube. Especialista em Planejamento Educacional pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Especialista em Educação Escolar pela Faculdade Politécnica de Uberlândia – FPU; graduada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências Filosofia e Letras – FCFL e em Letras pela Uniube. Especialista em EAD pela Universidade de Uberaba – Uniube. Docente nos Cursos de Licenciatura em Pedagogia e Educação Física na Uniube. Maria Soledade Gomes Borges Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Orientação Educacional e Planejamento Educacional (UFU). Especialista em Saúde Coletiva do Centro de Graduação em Enfermagem e em Planejamento e Prática Pedagógica no curso de Especialização em Docência na Educação Superior pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino (FISTA), graduada em Piano e licenciada em Música pela Faculdade de Artes de Uberlândia. Docente do Curso de Pedagogia do Centro de Ensino Superior de Uberaba e da Universidade de Uberaba (Uniube). Professora de Didática no curso de Especialização em Gestão Ambiental no Centro de Ensino Superior de Uberaba e no de Enfermagem e professora do Curso de Especialização em Docência na Educação Superior na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Coordenadora pedagógica na Pró-reitoria de Ensino Superior da Universidade de Uberaba (Uniube). Sobre as autoras Sumário Apresentação .............................................................................................................VII Capítulo 1 A construção dos conceitos básicos e o ensino da geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental .......... 1 1.1 Características e significado social do conhecimento geográfico na escola ...........9 1.2 A construção do conceito de espaço ......................................................................20 1.3 A localização espacial .............................................................................................28 1.4 A importância social do conhecimento geográfico .................................................33 1.5 O conteúdo da geografia: trabalhando com blocos temáticos ...............................40 1.6 Conclusão ...............................................................................................................49 Capítulo 2 O ensino da Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental: fundamentos teóricos e práticos ................ 55 2.1 Retomando alguns conceitos básicos ....................................................................57 2.1.1 Sugestões de atividade práticas envolvendo outras áreas do conhecimento ............................................................................................... 60 2.2 Contribuições da geografia .....................................................................................65 2.2.1 Objetivos da geografia nos anos iniciais ......................................................67 2.3 A relação homem/natureza na produção da paisagem .........................................71 2.3.1 A relação sociedade/natureza .....................................................................72 2.4 Conclusão ...............................................................................................................73 Capítulo 3 O ensino da história nas séries iniciais do Ensino Fundamental: estudo e construção de conceitos básicos ............................................................................... 75 3.1 Introdução: repensando o significado do estudo da história nas séries iniciais do Ensino Fundamental ..........................................................................................82 3.2 A construção do conceito de grupo social e relações sociais ................................92 3.2.1 A socialização da criança ..............................................................................96 3.2.2 Socialização: a criança e a construção das regras do mundo adulto ..........99 3.3 A construção do conceito de trabalho ...................................................................103 3.4 A construção do conceito de tempo ......................................................................106 3.4.1 Dimensões do conceito de tempo: duração ...............................................117 3.4.2 Outras dimensões do conceito de tempo: sucessão, simultaneidade .......118 3.5 Conclusão .............................................................................................................122 Apresentação As mudanças no cenário mundial podem ser comparadas às ondas provocadas por uma pedra atirada em um grande lago límpido e calmo. A pedra representa acontecimentos marcantes que desencadeiam ondas. E essas ondas são movimentos que influenciam na organização de grandes nações e de pequenas comunidades longínquas. Refletem tanto na vida de cidadãos comuns, como na de ricos investidores do mercado financeiro. Lulu Santos quando canta que “tudo muda o tempo todo no mundo”, expressa bem essa dinâmica processual de mudanças. Com base, nessa realidade mutante, contemplamos o estudo da geografia e da história, como uma consequência das “ondas” que se propagam pelo imenso “lago” da realidade mundial. Nas séries iniciais do Ensino Fundamental não é diferente; os alunos, embora “pequenos”, de forma direta ou indireta, também, são influenciados pela globalização. Nessa abordagem processual, apresentamos o livro de Metodologia do ensino de história e geografia como uma referência e não como um programa fechado para o estudo dessas disciplinas. Refletiremos, também sobre a proposta de conteúdos da história e da geografia nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – volume 5 e suas implicações na formação global desse aluno. No primeiro capítulo, você estudará como “A construção dos conceitos básicos e o ensino da geografia nas séries inicias do Ensino Fundamental” se relaciona com os conceitos de: espaço, tempo, grupo social, relações sociais e trabalho. Perceberá que a paisagem local e o espaço em que se vive devem ser comparados às semelhanças e diferenças de outrostempos e espaços distantes. Sabendo que os alunos dessa modalidade de ensino, ainda se encontram em processo de alfabetização, você perceberá a importância de utilizar diferentes formas de linguagem: desenhos, imagens, figuras, texto escrito, músicas, brincadeiras e vídeos, VIII UNIUBE contribuindo assim com o processo amplo de alfabetização da criança. Haverá também uma ponderação sobre metodologias que promovem a interdisciplinaridade, superando a visão fragmentada da construção do conhecimento nos diferentes componentes curriculares das séries iniciais do Ensino Fundamental. No segundo capítulo, intitulado “O ensino da geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental: fundamentos teóricos e práticos”, você construirá novos conhecimentos sobre os conteúdos da geografia e sua abordagem prática e relacional. Serão consideradas atividades lúdicas, envolvendo as diversas áreas do conhecimento num enfoque interdisciplinar, partindo de diferentes linguagens expressivas: plástica, musical e cênica. Esse tipo de atividade possibilitará à criança o desenvolvimento da criatividade, enriquecendo suas vivências, sua linguagem, suas estruturas cognitivas e sua imaginação – o que é de fundamental importância para a “leitura de mundo”. O capítulo três, “O ensino da história nas séries iniciais do Ensino Fundamental: estudo e construção de conceitos básicos”, aponta para a construção da identidade e da cidadania. Faz-nos perceber que estudar história, nessa fase do desenvolvimento humano, favorece o pensamento dialógico e reflexivo acerca de si mesmo, da sociedade e das relações sociais. Ao analisar a importância da pesquisa em várias fontes, inclusive nas “não oficiais”, daremos possibilidade ao aluno de compreender que todas as pessoas fazem parte da história, e que todos juntos, construímos essa história. Com isso, o aluno, embora “pequeno”, apreenderá que os homens se comunicam de diferentes formas: pela escrita, pela oralidade, pelo gesto, por meio da música, da dança, das produções plásticas e que esses recursos podem ser utilizados por ele em suas pesquisas escolares. Ao concluir os estudos de Metodologia de ensino de história e geografia, esperamos que você, tenha incorporado o caráter pesquisador, dialógico e relacional da disciplina e que tenha se tornado um crítico da realidade atual. Dessa forma, quando, na sala de aula, você trabalhar com a criança quem sou eu?, você não se esquecerá do contexto sócio-histórico de cada uma, contemplando-a em sua individualidade. Bons estudos. Maria Soledade Gomes Borges Introdução A construção dos conceitos básicos e o ensino da geografi a nas séries iniciais do Ensino Fundamental Capítulo 1 Figura 1: Painel Paulo Freire no CEFORTEPE. Fonte: Wikipédia (2010c). A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográfi cos. Faz cultura [...] (FREIRE, 1983) O estudo deste capítulo possibilita uma refl exão sobre a proposta de conteúdos da geografi a nas séries iniciais do Ensino Fundamental, contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – volume 5. 2 UNIUBE Figura 2: Mapa da ecorregião da Amazônia. Os limites da ecorregião amazônica são mostrados em branco. NASA. Fonte: Wikipédia (2010b). A Geografia, na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, tem um tratamento específico como área, uma vez que oferece instrumentos essenciais para compreensão e intervenção na realidade social. Por meio dela, podemos compreender como diferen- tes sociedades interagem com a natureza na construção de seu espaço, as singularidades do lugar em que vivemos, o que o diferen- cia e o aproxima de outros lugares e, assim, adquirirmos uma consciência maior dos vínculos afetivos e de identidade que estabe- lecemos com ele. Também podemos conhecer as múltiplas relações de um lugar com outros lugares, distantes no tempo e no espaço, e perceber as marcas do passado no presente. O documento de geografia propõe um trabalho pedagógico que visa à ampliação das capaci- dades dos alunos, do Ensino Fundamen- tal, de observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar em que vivem e de diferentes paisagens e espaços geográficos. (BRASIL, 1997b, p.67) Possibilita, portanto, a compreensão de que os conceitos estudados para a compreensão da história – identidade, grupo social/relações sociais, trabalho e tempo estão intimamente ligados ao conceito de espaço, fundamental para os estudos da geografia. UNIUBE 3 Ao estudar Geografia, a criança precisa construir o conceito de espaço compreendendo-o como construção do homem em um determinado tempo e em uma determinada sociedade. Dessa forma, ela é capaz de perceber que as transformações e conquistas socioculturais e econômicas que ocorrem nesses espaços não são usufruídas por todos e que cada um, de acordo com suas possibilidades, deve colaborar para a democratização dessas conquistas. A construção do conceito de espaço permite à criança operar com as relações espaciais e entender as diferentes categorias de análise geográfica (território, paisagem e lugar). Veja as relações das propostas de estudo da geografia com os conceitos básicos a serem construídos: SINTETIZANDO... POSSIBILITA COMPREENDER COMO AS SOCIEDADES INTERAGEM COM A NATUREZA NA CONSTRUÇÃO DO SEU ESPAÇO. (TRABALHO) POSSIBILITA COMPREENDER A SINGULARIDADE DE CADA ESPAÇO. (ESPAÇO) PERMITE A COMPREENSÃO DO QUE DIFERENCIA OU APROXIMA OS DIFERENTES LUGARES. (ESPAÇO) PERMITE A PERCEPÇÃO DOS VÍNCULOS AFETIVOS E DE IDENTIDADE COM OS LUGARES. (GRUPO SOCIAL RELAÇÕES SOCIAIS) PERMITE CONHECER A RELAÇÃO DE UM LUGAR COM OUTROS LUGARES. (RELAÇÕES SOCIAIS) PERMITE PERCEBER AS MARCAS DO PASSADO NO PRESENTE. (TEMPO E ESPAÇO) OFERECE INSTRUMENTOS PARA A COMPREENSÃO DA FORMA COMO O HOMEM PODE INTERFERIR NA REALIDADE. (RELAÇÕES SOCIAIS – TRABALHO) PERMITE CONHECER RELAÇÕES DISTANTES NO TEMPO E NO ESPAÇO. (TEMPO E ESPAÇO) GEOGRAFIA Quadro 1: Geografia e suas relações com os conceitos básicos 4 UNIUBE Os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem como objetivos dos estudos da geografia no 1o ciclo (corresponde às 1a e 2a séries do Ensino Fundamental): Espera‑se que, ao final do primeiro ciclo, os alunos sejam capazes de: • reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridas, as diferen- tes manifestações da natureza e a apropria- ção e transformação dela pela ação de sua coletividade, de seu grupo social; • conhecer e comparar a presença da nature- za, expressa na paisagem local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens; • reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidia- nos, nas formas de se expressar e no lazer; • conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para tanto, alguns procedimentos básicos; • saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral; • reconhecer, no seu cotidiano, os referen- ciais espaciais de localização, orientação e distância de modo a deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se relacionam; • reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidado com o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se deve ter na preservação e na manutenção da natureza. (BRASIL, 1997b, p. 89) De acordo com os PCNs, os primeiros estudos da geografia devem ter em vista possibilitar ao aluno conhecer apaisagem local UNIUBE 5 e o espaço em que vive: como o homem e os grupos sociais ali presentes se relacionaram e se relacionam hoje com a natureza e de que forma ocorreu a ocupação e a construção daquele espaço geográfico. A partir daí, o aluno poderá compreender melhor quais as relações entre sociedade e natureza: quais as marcas que as atividades econômicas e os hábitos culturais, as políticas ambientais têm, historicamente, deixado na paisagem local... [...] por meio da arquitetura, da distribuição da população, dos hábitos alimentares, da divisão e constituição do trabalho, das formas de lazer e inclusive por suas próprias características biofísicas pode-se observar a presença da natureza e sua relação com a vida dos homens em sociedade. Do mesmo modo, é possível também compreender por que a natureza favorece o desenvolvimento de determinadas atividades e não de outras e, assim, conhecer as influências que uma exerce sobre outra, reciprocamente. (BRASIL, 1997b, p.88) Além disso, é importante que o aluno consiga estabelecer relações entre a paisagem local e outras paisagens de outros tempos e espaços procurando observar o porquê das semelhanças e diferenças, das permanências e transformações através dos tempos. É importante que você, professor(a), verifique os conhecimentos prévios de seus alunos com relação ao lugar onde vivem e sobre outros lugares que conhecem. Esses conhecimentos oriundos da família, das pessoas com as quais eles convivem, dos meios de comunicação, embora fragmentados, constituem o foco sobre o qual você pode atuar para sistematizar e organizar as informações provocando avanços nas concepções que os alunos têm sobre a geografia. Embora os alunos estejam, ainda, em processo de alfabetização, é importante utilizar tanto imagens, desenhos, figuras como o texto 6 UNIUBE escrito, pois isso os ajudará no domínio da escrita e da leitura, essenciais para a aprendizagem de todos os conteúdos. Brincadeiras como “Caça ao Tesouro”, “Coelhinho na Toca” e outras do mesmo tipo possibilitam, de forma lúdica, a construção do conceito de espaço. A criança deve fazer vários tipos de registros de suas observações. Como no desenho ela expressa várias noções (proporção, direção, distância), é importante utilizar essa forma de registro que a auxiliará na compreensão da linguagem cartográfica. Os alunos devem ser incentivados a ler e construir mapas simples que estejam ligados a situações do dia a dia e os auxiliem a se localizar e a se movimentar nos espaços. A geografia é um instrumento importante para a compreensão do mundo, portanto, pensar o ensino de geografia em sua função alfabetizadora, é tomar as noções de espaço, território, lugar e ambiente como conteúdos alfabetizadores. Nesta perspectiva, o cotidiano se constitui no eixo articulador de uma prática alfabetizadora em que a aprendizagem das letras está intimamente vinculada à aprendizagem do espaço e as experiências culturais locais da criança. A função alfabetizadora da geografia deve possibilitar à criança, em fase inicial de escolarização, traduzir suas percepções e configurações espaciais em linguagem. Tal aprendizagem é um processo de múltiplas operações mentais que se desenvolve a partir da compreensão simbólica do mundo e das relações espaciais topológicas locais. (PERES, [s/d]) Utilizando diferentes tipos de mapas, atlas, globo terrestre, plantas e maquetes, trabalhando com imagens e representação dos lugares, realizando estudos do meio onde vivem por meio de visitas e excursões, os alunos compreenderão mais rapidamente a linguagem da geografia. UNIUBE 7 Alguns procedimentos fazem parte dos métodos para trabalhar o conhecimento geográfico e devem ser orientados por você, como professor(a): observar, descrever, representar e construir explicações, sobretudo no início dos estudos, quando a criança ainda não tem autonomia e precisa da sua presença e direcionamento. Ela deve aprender a olhar de forma intencional, buscando respostas para problemas observados, elaborando hipóteses e registrando suas conclusões. De acordo com os PCNs: Ensinar os alunos a ler uma imagem, a observar uma paisagem ou ainda a ler um texto – mesmo que a leitura não seja realizada diretamente por eles – para pesquisar e obter informações faz parte do trabalho do professor desse ciclo. Do mesmo modo, cabe a ele estimular e intermediar discussões entre os próprios alunos, para que possam aprender a compartilhar seus conhecimentos, elaborar perguntas, confrontar suas opiniões, ouvir seus semelhantes e se posicionar diante do grupo (BRASIL, 1997b, p. 87). Adotando essas práticas em suas aulas, você estará auxiliando o aluno a construir e a reconstruir sua forma de “olhar” a paisagem local, tornando-se consciente dos vínculos afetivos e de identidade que tem com o lugar onde vive. O trabalho de forma interdisciplinar é essencial nessa fase para que a criança compreenda o mundo onde vive de forma global e não fragmentada: [...] a interface com a História é essencial. A Geografia pode trabalhar com recortes temporais e espaciais distintos dos da História, embora não possa construir interpretações de uma paisagem sem buscar sua historicidade. Uma abordagem que pretende ler a paisagem local, estabelecer comparações, interpretar as múltiplas relações entre a sociedade e a natureza de um determinado lugar, pressupõe 8 UNIUBE uma inter-relação entre essas disciplinas, tanto nas problematizações quanto nos conteúdos e procedimentos. Com a área de Ciências também há uma afinidade peculiar nos conteúdos desse ciclo, uma vez que o funcionamento da natureza e suas determinações na vida dos homens devem ser estudados. (BRASIL, 1997b, p. 88) Portanto, o importante é que você, professor(a), esteja atento aos saberes que os alunos trazem de suas vivências, auxilie na construção de novos saberes, oriente-os para que saibam ler uma imagem, observar uma paisagem ou ler um texto e organize o conteúdo de forma interdisciplinar sem, no entanto, se esquecer da especificidade do campo de estudos da Geografia. Prezado aluno, ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • refletir sobre a proposta de ensino da Geografia contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs – volume 5 (séries iniciais do Ensino Fundamental ‑ Geografia) analisando suas bases teóricas e as práticas pedagógicas propostas para esse campo do conhecimento, na escola (séries iniciais do Ensino Fundamental); • identificar as características e o significado social do conheci- mento geográfico na escola; • identificar as etapas da construção do conceito de espaço pela criança; • utilizar metodologias que possibilitem a construção do conceito de espaço e localização espacial e a compreensão da relação deste conceito com os de: grupo social/relações sociais e tempo; • identificar as categorias de análise geográfica: território, paisa- gem e lugar, como se dá o seu processo de construção e qual o papel das sociedades na (re)construção e (re)produção desses espaços; Objetivos UNIUBE 9 • analisar as ações do homem em sociedade e as consequências dessas ações, em diferentes espaços e tempos, para agir de forma consciente com relação às questões socioambientais; • utilizar metodologias que promovam a interdisciplinaridade, su- perando a visão fragmentada da construção do conhecimento nos diferentes componentes curriculares das séries iniciais do Ensino Fundamental. 1.1 Características e significado social do conhecimento geográfico na escola 1.2 A construção do conceito de espaço 1.3 A localização espacial 1.4 A importância social do conhecimento geográfico 1.5 O conteúdo da geografia: trabalhando com blocos temáticos 1.6 Conclusão Esquema Características e significado social do conhecimento geográfico na escola 1.1 Quando você se recorda dos seus estudos de geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental, é provável que venha àsua cabeça decorar nomes e mais nomes de serras, rios, nomes de estados e suas capitais, cidades principais etc. Era um estudo da Geografia que, mesmo percebendo a presença do homem nos diferentes espaços, não tinha como objetivo analisar as relações sociais estabelecidas na interação homem-natureza. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que: [...] estudava‑se a população, mas não a sociedade; os estabelecimentos humanos, mas não as relações sociais; as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas não o processo de produção. Ou seja, não se discutiam as relações intrínsecas à sociedade, abstraindo assim o homem do seu caráter social. (BRASIL, 1997b, p. 103) 10 UNIUBE De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, essa forma de estudar era característica da chamada Geografia Tradicional. Os estudos eram centrados na explicação objetiva e quantitativa da realidade. Você considera que, hoje, houve modificações na forma de estudar os conteúdos da geografia? Como você percebe as propostas para este estudo nas escolas? Continuam sendo apenas um estudo descritivo, com base na memorização? Castrogiovanni e Goulart (1990), em artigo publicado pela Revista Educação e Realidade, ressaltam a importância de o professor manter o entusiasmo e a criatividade em sala de aula e que, para isso, é preciso acreditar no que está fazendo. Partem, então, de três perguntas que podem direcionar o caminho do ensino da geografia em sala de aula: O que é geografia? Para que serve a geografia? Qual a sua função como disciplina escolar? Em resposta a essas questões, consideram que: Geografia é o campo do conhecimento que busca a compreensão do espaço produzido pela sociedade, suas desigualdades e contradições (sic), as relações de produção que nele se desenvolve, bem como a apropriação que essa sociedade faz da natureza. (CASTROGIOVANNI; GOULART, 1990, p. 64) Portanto, não é possível estudar o espaço isolando natureza e sociedade. E para que serve o estudo da Geografia? Os autores consideram que [...] cabe à Geografia explicar como as sociedades produzem o espaço, conforme seus interesses em determinado momento histórico. [...] Assim, enquanto disciplina escolar, a Geografia ajuda o aluno a entender a estruturação e a organização do espaço; a compreender como é que as sociedades vão utilizando e transformando os recursos de que dispõem, de acordo com seus UNIUBE 11 interesses e contradições. Para isso as crianças precisam desenvolver “as habilidades de localização, orientação, interpretação e representação desde as séries iniciais, pois são instrumentos de conhecimento para a valorização e utilização da natureza, assim como para a estruturação espacial”. (CASTROGIOVANNI; GOULART, 1990, p. 64) Você já refletiu sobre essas questões? Essas preocupações fazem parte do seu trabalho na escola? E, se você ainda não é professor, percebeu seus estudos de geografia na escola dessa forma? PARADA PARA REFLEXÃO Os PCNs chamam a atenção para a caracterização da área da geografia no Ensino Fundamental. Leia, com atenção, o texto dos PCNs a seguir: CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE GEOGRAFIA Geografia no Ensino Fundamental A produção acadêmica em torno da concepção de Geografia passou por diferentes momentos, gerando reflexões distintas acerca dos objetos e métodos do fazer geográfico. De certa forma, essas reflexões influenciaram e ainda influenciam muitas das práticas de ensino. Em linhas gerais, suas principais tendências podem assim ser apresentadas. As primeiras tendências da Geografia no Brasil nasceram com a fundação da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e do Departamento de Geografia, quando, a partir da década de 40, a disciplina Geografia passou a ser ensinada por professores licenciados, com forte influência da escola francesa de Vidal de La Blanche. Essa Geografia era marcada pela explicação objetiva e quantitativa da realidade que fundamentava a escola francesa de então. Foi essa escola que imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência asséptica, não SAIBA MAIS 12 UNIUBE politizada, com o argumento da neutralidade do discurso científico. Tinha como meta abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva, buscando a formulação de leis gerais de interpretação. Essa tendência da Geografia e as correntes que dela se desdobraram foram chamadas de Geografia Tradicional. Apesar de valorizar o papel do homem como sujeito histórico, propunha-se, na análise da produção do espaço geográfico, estudar a relação homem‑natureza sem priorizar as relações sociais. Por exemplo, estudava-se a população, mas não a sociedade; os estabelecimentos humanos, mas não as relações sociais; as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas não o processo de produção. Ou seja, não se discutiam as relações intrínsecas à sociedade, abstraindo assim o homem de seu caráter social. Era baseada, de forma significativa, em estudos empíricos, articulada de forma fragmentada e com forte viés naturalizante. No ensino, essa Geografia se traduziu, e muitas vezes ainda se traduz, pelo estudo descritivo das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada do espaço vivido pela sociedade e das relações contraditórias de produção e organização do espaço. Os procedimentos didáticos adotados promoviam principalmente a descrição e a memorização dos elementos que compõem as paisagens sem, contudo, esperar que os alunos estabelecessem relações, analogias ou generalizações. Pretendia‑se ensinar uma Geografia neutra. Essa perspectiva marcou também a produção dos livros didáticos até meados da década de 70 e, mesmo hoje em dia, muitos ainda apresentam em seu corpo ideias, interpretações ou até mesmo expectativas de aprendizagem defendidas pela Geografia Tradicional. No pós-guerra, a realidade tornou-se mais complexa: o desenvolvimento do capitalismo afastou-se cada vez mais da fase concorrencial e penetrou na fase monopolista do grande capital; a urbanização acentuou-se e megalópoles começaram a se constituir; o espaço agrário sofreu as modificações estruturais comandadas pela Revolução Verde, em função da industrialização e da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo; as realidades locais passaram a estar articuladas em uma rede de escala mundial. Cada lugar deixou de explicar-se por si mesmo. Os métodos e as teorias da Geografia Tradicional tornaram‑se insuficientes para apreender essa complexidade e, principalmente, para explicá-la. O UNIUBE 13 levantamento feito por meio de estudos apenas empíricos tornou‑se insuficiente. Era preciso realizar estudos voltados para a análise das relações mundiais, análises essas também de ordem econômica, social, política e ideológica. Por outro lado, o meio técnico e científico passou a exercer forte influência nas pesquisas realizadas no campo da Geografia. Para estudar o espaço geográfico globalizado, começou‑se a recorrer às tecnologias aeroespaciais, tais como o sensoriamento remoto, as fotos de satélite e o computador como articulador de massa de dados: surgem os SIG (Sistemas Geográficos de Informações). A partir dos anos 60, sob influência das teorias marxistas, surge uma tendência crítica à Geografia Tradicional, cujo centro de preocupações passa a ser as relações entre a sociedade, o trabalho e a natureza na produção do espaço geográfico. Ou seja, os geógrafos procuraram estudar a sociedade por meio das relações de trabalho e da apropriação humana da natureza para produzir e distribuir os bens necessários às condições materiais que a garantem. Critica‑se a Geografia Tradicional, do Estado e das classes sociais dominantes, propondo‑se uma Geografia das lutas sociais. Num processo quase militante de importantes geógrafos brasileiros, difunde‑se a Geografia Marxista. (BRASIL, 1997, p.71-72) Essa nova perspectiva considera que não basta explicar o mundo, é preciso transformá‑lo. Assim a geografia ganha conteúdospolíticos que são significativos na formação do cidadão. As transformações teóricas e metodológicas dessa geografia tiveram grande influência na produção científica das últimas décadas. Para o ensino, essa perspectiva trouxe uma nova forma de se interpretar as categorias de espaço geográfico, território e paisagem, e influenciou, a partir dos anos 1980, uma série de propostas curriculares voltadas para o segmento de quinta a oitava séries. Essas propostas, no entanto, foram centradas em questões referentes a explicações econômicas e a relações de trabalho que se mostraram, no geral, inadequadas para os alunos dessa etapa da escolaridade, devido a sua complexidade. Além disso, a prática da maioria dos professores e de muitos livros didáticos conservaram a linha tradicional, descritiva e descontextualizada herdada da Geografia Tradicional, mesmo quando o enfoque dos assuntos estudados era marcado pela Geografia Marxista. 14 UNIUBE Tanto a Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista ortodoxa negligenciaram a relação do homem e da sociedade com a natureza em sua dimensão sensível de percepção do mundo: o cientificismo positivista da Geografia Tradicional, por negar ao homem a possibilidade de um conhecimento que passasse pela subjetividade do imaginário; o marxismo ortodoxo, por tachar de idealismo alienante qualquer explicação subjetiva e afetiva da relação da sociedade com a natureza. Uma das características fundamentais da produção acadêmica da Geografia desta última década é justamente a definição de abordagens que considerem as dimensões subjetivas e, portanto, singulares que os homens em sociedade estabelecem com a natureza. Essas dimensões são socialmente elaboradas — fruto das experiências individuais marcadas pela cultura na qual se encontram inseridas — e resultam em diferentes percepções do espaço geográfico e sua construção. É, essencialmente, a busca de explicações mais plurais, que promovam a interseção da Geografia com outros campos do saber, como a Antropologia, a Sociologia, a Biologia, as Ciências Políticas, por exemplo. Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente na interpretação política e econômica do mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição de um espaço: o espaço geográfico. As sucessivas mudanças e debates em torno do objeto e método da Geografia como ciência, presentes no meio acadêmico tiveram repercussões diversas no Ensino Fundamental. Positivas de certa forma, já que foram um estímulo para a inovação e a produção de novos modelos didáticos. Mas também negativas, pois a rápida incorporação das mudanças produzidas pelo meio acadêmico provocou a produção de inúmeras propostas didáticas, descartadas a cada inovação conceitual e, principalmente, sem que existissem ações concretas para que realmente atingissem o professor em sala de aula, sobretudo o professor das séries iniciais que, sem apoio técnico e teórico, continuou e continua, de modo geral, a ensinar Geografia apoiando‑se apenas na descrição dos fatos e ancorando-se quase que exclusivamente no livro didático. UNIUBE 15 Mas não apenas a prática do professor se encontra permeada por essa indefinição e confusão; muitas propostas de ensino também o estão. Segundo a análise feita pela Fundação Carlos Chagas, observa-se, sobretudo nas propostas curriculares produzidas nas últimas décadas, que o ensino de Geografia apresenta problemas tanto de ordem epistemológica e de pressupostos teóricos como outros referentes à escolha dos conteúdos. No geral, são eles: • abandono de conteúdos fundamentais da Geografia, tais como as categorias de nação, território, lugar, paisagem e até mesmo de espaço geográfico, bem como do estudo dos elementos físicos e biológicos que se encontram aí presentes; • são comuns modismos que buscam sensibilizar os alunos para temáticas mais atuais, sem uma preocupação real de promover uma compreensão dos múltiplos fatores que delas são causas ou decorrências, o que provoca um “envelhecimento” rápido dos conteúdos. Um exemplo é a adaptação forçada das questões ambientais em currículos e livros didáticos que ainda preservam um discurso da Geografia Tradicional e não têm como objetivo uma compreensão processual e crítica dessas questões, vindo a se transformar na aprendizagem de slogans; • há uma preocupação maior com conteúdos conceituais do que com conteúdos procedimentais. O objetivo do ensino fica restrito, assim, à aprendizagem de fenômenos e conceitos, desconsiderando a aprendizagem de procedimentos fundamentais para a compreensão dos métodos e explicações com os quais a própria Geografia trabalha; • as propostas pedagógicas separam a Geografia humana da Geografia física em relação àquilo que deve ser apreendido como conteúdo específico: ou a abordagem é essencialmente social e a natureza é um apêndice, um recurso natural, ou então se trabalha a gênese dos fenômenos naturais de forma pura, analisando suas leis, em detrimento da possibilidade exclusiva da Geografia de interpretar os fenômenos numa abordagem socioambiental; • a memorização tem sido o exercício fundamental praticado no ensino de Geografia, mesmo nas abordagens mais avançadas. Apesar da proposta 16 UNIUBE de problematização, de estudo do meio e da forte ênfase que se dá ao papel dos sujeitos sociais na construção do território e do espaço, o que se avalia ao final de cada estudo é se o aluno memorizou ou não os fenômenos e conceitos trabalhados e não aquilo que pôde identificar e compreender das múltiplas relações aí existentes; • a noção de escala espaço-temporal muitas vezes não é clara, ou seja, não se explicita como os temas de âmbito local estão presentes naqueles de âmbito universal e vice‑versa, e como o espaço geográfico materializa diferentes tempos (da sociedade e da natureza). (BRASIL, 1997b, p. 72‑73). O ensino de Geografia pode levar os alunos a compre- enderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e proposi- tiva. Para tanto, porém, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e procedi- mentos básicos com os quais este campo do conheci- mento opera e constitui suas teorias e explicações, de modo a poder não apenas compreender as relações socioculturais e o funcionamento da natureza às quais historicamente pertence, mas também conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade: o conhecimento geográfico. (BRASIL, 1997b, p.74) Os avanços das pesquisas realizadas nos diversos campos da geografia, bem como a utilização de novas técnicas para estudar o espaço geográfico globalizado (tecnologias aeroespaciais, por exemplo), vêm provocando modificações nas propostas de estudos da área. Ao caracterizar a área de geografia, os PCNs apresentam um histórico dos estudos desse conteúdo: as primeiras tendências da geografia no Brasil vinculam-se à Geografia Tradicional. Criticando a posição da Geografia Tradicional e tomando como referência as teorias marxistas, surge uma nova proposta de estudos – a Geografia Marxista – uma geografia das lutas sociais, com um forte componente político; trata‑se de um estudo da sociedade analisando as relações de trabalho e a forma de apropriação do espaço pelo capitalismo; nessa perspectiva, estuda-se geografia não só para explicar o mundo, mas para transformá‑lo. UNIUBE 17 De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997b, p. 71‑72): Geografia Tradicional: trata‑se de uma geografia fundamentada na explicação objetiva e quantitativa da realidade; uma geografia “neutra”, não-politizada que tem como objetivo abordar a relação do homem com a natureza de forma objetiva. Geografia Marxista: uma concepção de geografiaque se preocupa com a formação do cidadão por meio de conteúdos políticos. Considera que não basta explicar o mundo, mas é preciso transformá-lo. SAIBA MAIS Os PCNs apontam críticas a essas duas posições: tanto a Geografia Tradicional como a Marxista deixaram de valorizar os aspectos da subjetividade e afetividade do homem na sua relação com a natureza. Um dos elementos importantes que caracteriza a produção acadêmica da geografia nas últimas décadas é uma nova abordagem que considera: [...] as dimensões subjetivas e, portanto, singulares que os homens em sociedade estabelecem com a natureza e que [...] são fruto das experiências individuais marcadas pela cultura na qual se encontram inseridas – e resultam em diferentes percepções do espaço geográfico e sua construção. (BRASIL, 1997b, p.105‑106) Subjetividade Dimensão relacionada ao sujeito; que é individual, pessoal, particular. No estudo da geografia, significa a preocupação com as dimensões singulares que os seres humanos em sociedade estabelecem com a natureza, resultantes de experiências individuais, marcadas pela cultura à qual o indivíduo pertence e que são fruto de diferentes percepções do espaço geográfico. 18 UNIUBE No entanto, percebe-se hoje que, ao aderir às novas propostas, o ensino da Geografia tem apresentado problemas sérios por várias causas: adesão aos modismos sem conseguir se desvincular do que foi criticado na forma de ensino da Geografia Tradicional; preocupação com os conteúdos conceituais deixando de lado os procedimentais e também os atitudinais que são muito importantes para a compreensão da geografia, abandono de conteúdos importantes para a compreensão da geografia tais como: o estudo das categorias do espaço geográfico – território, lugar, paisagem; o estudo dos elementos físicos e biológicos presentes nos espaços; separação da geografia física da geografia humana. A metodologia continua centrada na memorização e não se estabelece a relação entre o espaço local com outros espaços em diferentes tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre os termos destacados... Conteúdos conceituais Referem-se à construção ativa das capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias, imagens e representações que permitem organizar a realidade. [...] A aprendizagem de conceitos permite organizar a realidade, mas só é possível a partir da aprendizagem de conteúdos referentes a fatos (nomes, imagens, representações). [...] Aprender conceitos permite atribuir significados aos conteúdos aprendidos e relacioná‑los a outros. Conteúdos procedimentais Os procedimentos expressam um saber fazer, que envolve tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma ordenada e não aleatória, para atingir uma meta. [...] os conteúdos procedimentais sempre estão presentes nos projetos de ensino, pois uma pesquisa, um experimento, um resumo, uma maquete, são proposições de ações presentes nas salas de aula. AMPLIANDO O CONHECIMENTO UNIUBE 19 Conteúdos atitudinais De acordo com os PCNs, são conteúdos que devem estar presentes em todo o conhecimento escolar e referem-se a atitudes, valores e normas que a escola, como contexto socializador, precisa cultivar nos alunos e que não são construídos somente a partir de informações. “Para a aprendizagem de atitudes é necessária uma prática constante, coerente e sistemática, em que valores e atitudes almejados sejam expressos no relacionamento entre as pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados. (BRASIL, 1997a, p. 74-76). Neidson Rodrigues (1993) afirma que a geografia: [...] se despojada de sua deformação de ciência que se limita a descrever pontos geográficos, rios e picos, poderia se transformar num poderoso instrumento de conhecimento do espaço como produção humana, seja o espaço do homem do campo, seja o espaço urbano, seja o espaço natural apropriado e transformado pela ação ordenada ou desordenada, produtiva ou predativa, construtiva ou destrutiva, dos interesses que determinam a sua ocupação. O estudo da geografia deve mostrar que o espaço incorporado à realidade humana se humaniza pelo trabalho humano e o trabalho não pode ser apossado por poucos que consomem o fruto do trabalho junto com a vida do trabalhador. (RODRIGUES, 1993, p. 84) Estudar os Parâmetros Curriculares Nacionais é importante para todos os professores, principalmente o PCN que se refere ao conteúdo que o professor leciona, pois ele fornece a oportunidade de compreensão tanto do que se propõe quanto à forma de operacionalização desse conteúdo em sala de aula. IMPORTANTE! 20 UNIUBE A construção do conceito de espaço1.2 De acordo com os estudos que estão sendo desenvolvidos desde a primeira etapa do curso, você já compreendeu que a escola precisa possibilitar à criança a compreensão do que é a vida em sociedade e como se dá a ação dos grupos sociais no tempo e no espaço. Como possibilitar a construção do conceito de espaço? Na medida em que as interações do sujeito com o seu meio ambiente vão ocorrendo, a noção de espaço se desenvolve e se amplia. Para que isso ocorra, é preciso que a criança vivencie situações em que utilize relações espaciais como: saber localizar-se, analisar espaços sociais, compreender que esses espaços foram construídos e também destruídos pelo homem em um determinado tempo. Portanto, a construção desse conceito é essencial para que a criança possa situar-se espacialmente e compreender não só a sua realidade próxima, mas ampliar a visão de mundo. Para construir esse conceito, a criança precisa saber não só localizar-se como também orientar‑se e expressar‑se graficamente, isto é, saber traçar no papel um trajeto que faz de um ponto a outro, identificar algum local em uma planta da escola ou de um bairro, por exemplo. No início desses estudos, saber localizar‑se significa apenas que ela compreende as relações de proximidade e vizinhança: começa a situar-se em relação a outros objetos, outra pessoa. Aos poucos consegue sair do seu próprio ponto de referência (motivado pelo egocentrismo) e situar os objetos uns em relação aos outros. Isso é um grande avanço com relação à compreensão do espaço. Percebe que, tanto o seu próprio corpo como os objetos ocupam espaços diferenciados (noção de separação); vai construindo a noção de envolvimento ou fechamento, isto é, percebe-se e localiza objetos dentro ou fora de um determinado espaço. UNIUBE 21 Os desafios para a construção do conceito de espaço não podem se limitar ao conhecimento de rótulos como: longe‑perto, dentro/fora, em cima/ embaixo por meio de exercícios gráficos. De nada adianta à criança colocar um X em um objeto que está em cima de uma mesa se ela não tiver experenciado concretamente o que significa estar em cima ou embaixo. Para Castellar (2005), a aprendizagem da geografia na Educação Básica consiste em um processo de “construção da espacialidade que corresponde a orientar‑se, deslocar‑se no espaço” capacitando o aluno para aplicar os saberes geográficos na utilização de mapas e em trabalhos de campo. Ampliará, também, a sua compreensão dos espaços de sua localidade, de sua região, do mundo; entenderá as semelhanças e diferenças entre os espaços e o que dá identidade a cada um deles; perceberá como os lugares foram sendo organizados socialmente e perceberá como os homens foram utilizando os recursos naturais disponíveis. De acordo com a Aula no 6 – A Construção da Noção de Espaço – que faz parte de uma sequência de vinte aulas propostas pelo Centro Brasileiro de TV Educativa (MEC), apresentadas em uma proposta de Qualificação profissional para o magistério (1987), na construção das noções espaciais, a criança passa por diversas fases que estão ligadas ao seu desenvolvimento. A criança constrói as noções espaciais “operando”, de forma gradativa com elas. Engatinhando, andando no caracol, enfiando contas no colar, desenhando trajetos, jogando “batalha Naval”, a criança está vivenciandodiferentes tipos de relações espaciais. Assim ela constrói gradativamente a noção de espaço, através da ação físico-motora e da ação mental representada. (BRASIL, 1987) A criança, por meio dos sentidos e das atividades de deslocamento que realiza desde o período sensório-motor (rastejar, engatinhar, andar), vai 22 UNIUBE adquirindo as primeiras noções de espaço. De acordo com essa proposta de Qualificação para o Magistério desenvolvida pela TVE/MEC, em um primeiro momento, o espaço é o espaço da ação, um espaço prático que a criança vai dominando aos poucos. Ele é construído em contato direto com o objeto. Com o aparecimento da função simbólica, por volta dos dois anos, a criança vai, aos poucos, tornando-se capaz de representar esses espaços: falar sobre eles e desenhá-los. É o espaço que é construído na ausência do objeto. Se de início ela interioriza as ações vivenciadas por ela (espaço intuitivo), mais tarde, na fase do espaço operatório já consegue fazer ordenações diretas e também é capaz de representar a ordem inversa. Assim, a criança vai entendendo que pode estar, por exemplo, à direita de um objeto, mas ao mesmo tempo à esquerda de um outro. As representações que constrói são móveis e reversíveis. Segundo Brasil (1987), temos as seguintes considerações. AMPLIANDO O CONHECIMENTO Figura 3: Criança engatinhando. Fonte: Adaptada de Brasil (1987, p. 47). A criança, ao engatinhar, por meio de movimentos do próprio corpo, explora e ocupa o espaço. Ações como rastejar, rodear, seguir, voltar, entre outras, estão ligadas à noção de espaço (BRASIL, 1987, p. 47). UNIUBE 23 Figura 4: Andando no caracol. Fonte: Adaptada de Brasil (1987, p. 47). Acompanhando limites do desenho no chão, andando no caracol, a criança realiza atividades de vizinhança, de dentro e fora, contínuo, que já domina, ou seja, utiliza‑se de relações espaciais (BRASIL, 1987, p. 47). Figura 5: Enfiando contas. Fonte: Adaptada de Brasil (1987, p. 47). Ao fazer um colar colorido, uma criança de cinco anos apresenta o domínio sequencial quando considera a ordem de vizinhança das cores, mesmo que, não consiga inverter a ordem feita, quando solicitada (BRASIL, 1987, p. 47). Figura 6: Construindo um itinerário. Fonte: Adaptada de Brasil (1987, p. 47). 24 UNIUBE Ao ter a oportunidade de desenhar um itinerário de ida e volta, a criança pode representar graficamente um passeio, por exemplo, evocando uma ação realizada anteriormente (BRASIL, 1987, p. 47). Figura 7: Batalha Naval. Fonte: Adaptada de Brasil (1987, p. 47). Em jogos como “Batalha Naval”, por exemplo, a criança tem a oportunidade de utilizar duas referências como a vertical e a horizontal, bem como dois eixos de coordenadas, para localizar objetos (BRASIL, 1997, p. 47). • Espaço perceptivo ou espaço da ação: refere-se às primeiras noções de espaço: ao lado, perto, longe, dentro, fora, em cima, embaixo. Esse é um espaço prático, construído por meio dos sentidos e de seus próprios deslocamentos. Nessa fase é preciso dar possibilidade para que a criança explore e ocupe o espaço com o próprio corpo. Por isso ela precisa engatinhar, rastejar, subir, descer, ir a um lugar à sua frente, voltar etc. • Espaço representativo: tem início com o aparecimento da função simbólica, quando a criança já é capaz de pensar sobre coisas ausentes; ocorre com o surgimento da linguagem; a criança se torna capaz de substituir uma ação por um símbolo, torna-se capaz de interiorizar as ações (sabe falar sobre os espaços, desenhá-los). EXPLICANDO MELHOR UNIUBE 25 Esta fase se subdivide em duas: • Espaço intuitivo: as representações que a criança faz são ainda estáticas e irreversíveis. Quando ordena objetos – cartões coloridos, por exemplo – em uma sequência de cores, não é capaz de representá-los na ordem inversa. • Espaço operatório: a capacidade de fazer representações se torna móvel e reversível. Por exemplo: é capaz de traçar um trajeto para ir de um ponto ao outro e representar a inversão desse trajeto. Por que é importante que o professor compreenda como a criança constrói o conceito de espaço e em que fase se encontra? Porque dessa forma ele é capaz de identificar as possibilidades da criança naquele momento e desenvolver o seu trabalho a partir desse conhecimento. Saber “ler” o mundo social e desvendar a sua lógica; conhecer as regras e as leis que regem a organização e estruturação do espaço, desde o espaço cotidiano da criança até o espaço‑nação – isso tudo significa educar‑se e educar a criança. (BRASIL, 1987, p. 49) Como você pode facilitar a construção do conceito de espaço, na escola? • Utilizando jogos e brincadeiras que você, professor(a), provavelmente conhece, o que facilita a construção do conceito de espaço: Coelhinho na Toca, Caça ao Tesouro etc.; • brincando com jogos pedagógicos que possibilitem encaixes, construções diversas e com espaços tridimensionais (entrar e sair de caixas, construir túneis, maquetes com sucatas, etc.); EXEMPLIFICANDO! 26 UNIUBE • trabalhando com dobraduras, montando e desmontando caixas para que elas se tornem figuras planas; • solicitando às crianças que o(a) ajudem a organizar o espaço da sala de aula, tanto para o uso individual ou para o coletivo (trabalho em grupo, apresentações artísticas) e conversando com elas sobre como foi feita a arrumação; • criando legendas para contar uma história (por exemplo, “Os três porquinhos), utilizando símbolos que representem os diferentes elementos da paisagem (esta atividade prepara a criança para entender, mais tarde, a linguagem representativa nos mapas geográficos); • reproduzindo sequências espaciais com bandeirinhas coloridas, palitos, com contas enfiadas em cordões, em atividades gráficas no papel; • propondo “aulas‑passeio” para estudo do meio: planejando anteriormente (para onde vamos? Com que objetivo? O que vamos observar? O que vamos perguntar? Como vamos registrar nossas aprendizagens?) Esse tipo de atividade, se bem planejada, é de grande valor educativo; • movimentando-se de um lugar para outro na escola, ou mesmo fora dela e registrando o caminho percorrido e quais os pontos de referência foram utilizados; • descrevendo ou representando um espaço (desenhando a planta da sala de aula, por exemplo); • trabalhando com mapas e representações cartográficas. No vídeo O desenho da criança, a educadora Monique Deheinzelin comenta as ações e falas das crianças e explica por que por meio do desenho e da manipulação da argila, as crianças traduzem suas noções espaciais. PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 27 Caso você queira conhecer melhor sobre esse assunto, acesse o endereço: <http://revistaescola.abril.com.br/crianca‑e‑adolescente/desenvol- vimento‑e‑aprendizagem/peca‑mundo‑constroi‑espaco‑pontos‑re ferencia-crianca-lateralidade-reversibilidade-503957.shtml> Vale a pela você conhecer! Você pode trabalhar de forma lúdica utilizando a literatura como recurso para perceber como as crianças compreendem a noção de espaço. Veja a sugestão a seguir: Leia o poema “O Menino Azul”, de Cecília Meireles, com atenção. Utilizando esse poema, além de possibilitar que as crianças conheçam esta grande poetiza e chamar a atenção para a beleza dos versos, que conceitos espaciais você pode explorar em sala de aula? Descreva que estratégias e recursos você utilizaria. Converse com seus colegas e socialize os resultados! O Menino Azul O menino quer um burrinho para passear. Um burrinho manso, que não corra nem pule, mas que saiba conversar. Cecília Meireles Caso você queira ler o poema na íntegra, acesse o endereço: <http://www.paulinas.org.br/arquivos/cecilia.pdf> PESQUISANDO NA WEB 28 UNIUBE A localização espacial1.3 Quando a criança inicia o Ensino Fundamental, por volta dos seis ou sete anos, ela já possui conhecimentos relacionados à localização espacial como fruto se suas experiências anteriores. Ela já sabe o que significa dentro, fora, em cima, embaixo, longe, perto,ao lado, entre... De acordo com a proposta de Qualificação para o Magistério (TVE/MEC – Aula no 7) o trabalho da escola será o de propor desafios para que as crianças ampliem e aprofundem essas noções por meio de experiências vividas. Para Piaget, ao construir e representar o espaço, a criança utiliza três tipos de relações geométricas: as relações topológicas, as projetivas e as euclidianas. As relações topológicas são as primeiras. As crianças utilizam-se de relações de vizinhança, dentro-fora: [...] as relações topológicas, por serem as primeiras relações construídas pelas crianças, possuem caráter qualitativo, no qual não existe nenhuma preocupação com dados numéricos, isto é, ênfase nas questões que envolvem proporcionalidade ou distância, que só vai ocorrer após construção das relações projetivas e posteriormente das euclidianas (MURAKAMI; FRANCO, 2008). Quando a criança começa a utilizar as dimensões: em cima, embaixo, na frente, atrás, à direita, à esquerda, ela toma como referência um outro tipo de relação espacial geométrica denominada “projetiva”. De início ela toma como referência o seu próprio corpo no espaço e, paulatinamente, vai deslocando o ponto de referência para outras pessoas ou objetos, conseguindo situar-se em relação a eles ou situar UNIUBE 29 uns em relação aos outros. Isso ocorre na medida em que a criança consegue sair da compreensão do mundo centrada em si mesma e avança para uma compreensão mais aberta. De acordo com a proposta de Qualificação para o Magistério (TVE/MEC – aula no 7), uma das noções mais importantes que ela vai adquirindo nessa fase é a de direita e esquerda. Por volta de 5 a 8 anos (mais ou menos) ela consegue perceber direita e esquerda apenas do seu ponto de vista. Entre 8 e 11 anos (aproximadamente) ela consegue identificar quando o objeto está à direita ou à esquerda de uma outra pessoa. Somente a partir dos 11, 12 anos (aproximadamente) ela é capaz de perceber que os objetos estão à esquerda ou à direita uns dos outros. Para que esses avanços ocorram, o professor deve possibilitar muitas experiências que levem a criança a vencer o egocentrismo para compreender o universo objetivo. Quando a criança já é capaz de localizar os objetos ou pessoas utilizando um sistema de referência fixo, utilizando medidas de distância, área e equivalência entre as figuras compreendendo a equivalência entre o real e a representação, então ela já estará utilizando um outro tipo de relações espaciais: as relações euclidianas. Isso permite a ela compreender, por exemplo, as direções dos pontos cardeais – Norte, Sul, Leste e Oeste, situar‑se ou situar objetos em relação a eles. Essa construção começa pela compreensão de medidas espontâneas como palmos, passos e outras. Euclidianas Relativo a Euclides, geômetra da Grécia antiga que viveu no séc. III a.C. 30 UNIUBE Sugestão de atividade 1 O desenho é uma forma muito rica de expressão, própria da criança. Incentive seus alunos a desenharem como forma de expressar a realidade onde vivem, o tipo de trabalho que as pessoas da localidade onde moram desenvolve. Quando a criança desenha, fala do seu mundo. No momento em que a criança desenha os lugares de vivência, o espaço perceptivo se estrutura sucessivamente, passando das relações espaciais topológicas às projetivas e euclidianas. Tal construção inicia-se no período sensório-motor e a criança desenvolve ações que motivam a evolução dessas noções espaciais ao se deslocar; essa percepção vai evoluindo à medida que a criança se descentraliza espacialmente, ampliando as suas referências (corpo, diferentes pontos de referência, Sol) (CASTELLAR, 2005). Figura 8: Desenho infantil. Fonte: Lopes e Borges (1998). Sugestão de atividade 2 Figura 9: Maquete da sala de aula. UNIUBE 31 Construir a maquete da sala de aula é uma forma interessante para que a criança construa a noção de espaço. Dessa forma o espaço é concretizado por meio da representação concreta da disposição das crianças em sala de aula, do mobiliário e de particularidades que existem na sala: cantinho de leitura com almofadas, cartazes, mesa com jarro de flores e outros. Sugestão de atividade 3 Faça a seguinte experiência com seus alunos (ou nas atividades de estágio): Observe essa paisagem: pense que aquela menina é você, de costas, dentro desta paisagem, tendo o sol à sua direita. Marque os pontos cardeais e responda: Figura 10: Desenho infantil. Fonte: Lopes e Borges (1998). Em que direção está a casa? Em que direção estão as árvores? Em que direção estão os morros? Em que direção está a estrada? 32 UNIUBE Observação: se a criança responder corretamente às questões, isto significa que ela já é capaz de utilizar as relações espaciais euclidianas. Veja outra sugestão: Sugestão de atividade 4 Há momentos em que não é possível se orientar pelos astros (Sol, lua, estrelas). Por isso, os homens inventaram um aparelho chamado BÚSSOLA. Esse é um instrumento muito antigo, provavelmente inventado pelos chineses. A sua agulha imantada (que tem ímã) marca, com exatidão, a direção NORTE. Construa, com o auxílio de sua professora, a sua própria bússola. Anote no seu caderno o que você observou com a experiência. Figura 11: Como construir uma bússola. Fonte: Lopes e Borges (1998). De acordo com Castellar (2005), a evolução conceitual das relações espaciais topológicas continuará ocorrendo “simultaneamente com as projetivas e euclidianas, porque será desenvolvida a noção de proximidade e afastamento (perto e longe), dentro e fora, área, tamanho, parte e todo”. UNIUBE 33 A importância social do conhecimento geográfico1.4 Para que você, professor(a), possa identificar as categorias de análise geográfica: território, paisagem e lugar, como se dá o seu processo de construção e qual o papel das sociedades na (re)construção e (re) produção desses espaços, leia, com atenção o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais – Geografia sobre essa questão: Conhecimento geográfico: características e importância social A Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem. A divisão da Geografia em campos de conhecimento da sociedade e da natureza tem propiciado um aprofundamento temático de seus objetos de estudo. Essa divisão é necessária, como um recurso didático, para distinguir os elementos sociais ou naturais, mas é artificial, na medida em que o objetivo da Geografia é explicar e compreender as relações entre a sociedade e a natureza, e como ocorre a apropriação desta por aquela. Na busca dessa abordagem relacional, a Geografia tem que trabalhar com diferentes noções espaciais e temporais, bem como com os fenômenos sociais, culturais e naturais que são característicos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição. Identificar e relacionar aquilo que na paisagem representa as heranças das sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza é um de seus objetivos. Nesse sentido, a análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e não a descrição e o estudo de um mundo estático. A compreensão dessas dinâmicas requer movimentos constantes entre os processos sociais e os físicos e biológicos, inseridos em contextos particulares ou gerais. A preocupação básica é abranger os modos de produzir, de existir e de perceber os diferentes espaços geográficos; como os fenômenos que constituem as paisagens se relacionam com a vida que as anima. Para tanto, é preciso observar, buscar explicações para aquilo que, numa determinada paisagem, permaneceu ou foi transformado, isto é, os elementos do passado 34 UNIUBE e do presente que nela convivem e podem ser compreendidos mediante a análise do processo de produção/organização do espaço. O espaço geográfico é historicamente produzidopelo homem enquanto organiza econômica e socialmente sua sociedade. A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito construtor do espaço geográfico, um homem social e cultural, situado para além e através da perspectiva econômica e política, que imprime seus valores no processo de construção de seu espaço. Assim, o estudo de uma totalidade, isto é, da paisagem como síntese de múltiplos espaços e tempos deve considerar o espaço topológico – o espaço vivido e o percebido – e o espaço produzido economicamente como algumas das noções de espaço dentre as tantas que povoam o discurso da Geografia. Pensar sobre essas noções de espaço pressupõe considerar a compreensão subjetiva da paisagem como lugar: a paisagem ganhando significados para aqueles que a vivem e a constroem. As percepções que os indivíduos, grupos ou sociedades têm do lugar nos quais se encontram e as relações singulares que com ele estabelecem fazem parte do processo de construção das representações de imagens do mundo e do espaço geográfico. As percepções, as vivências e a memória dos indivíduos e dos grupos sociais são, portanto, elementos importantes na constituição do saber geográfico. No que se refere ao Ensino Fundamental, é importante considerar quais são as categorias da Geografia mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária, ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades que se espera que eles desenvolvam. Embora o espaço geográfico deva ser o objeto central de estudo, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas, principalmente nos ciclos iniciais, quando se mostram mais acessíveis aos alunos, tendo em vista suas características cognitivas e afetivas. O conceito de território foi originalmente formulado nos estudos biológicos do final do século XVIII. Nessa definição inicial, ele é a área de vida de uma espécie, onde ela desempenha todas as suas funções vitais UNIUBE 35 ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, para animais e plantas, o território é o domínio que estes têm sobre porções da superfície terrestre. Foi por meio dos estudos comportamentais que Augusto Comte incorporou o conceito de território aos estudos geográficos, como categoria fundamental para as explicações geográficas. Na concepção ratzeliana de Geografia1 esse conceito define‑se pela propriedade, ou seja, o território para as sociedades humanas representa uma parcela do espaço identificada pela posse. É dominado por uma comunidade ou por um Estado. Na geopolítica, o território é o espaço nacional ou área controlada por um Estado-nacional: é um conceito político que serve como ponto de partida para explicar muitos fenômenos geográficos relacionados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens. O território é uma categoria importante quando se estuda a sua conceitualização ligada à formação econômica e social de uma nação. Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o território. Território não é apenas a configuração política de um Estado‑Nação, mas sim o espaço construído pela formação social. Para estudar essa categoria é necessário que os alunos compreendam que os limites territoriais são variáveis e dependem do fenômeno geográfico considerado. Hoje, por exemplo, quando se estudam os blocos econômicos, o que se entende por território vai muito além do Estado-nacional. Além disso, compreender o que é território implica também compreender a complexidade da convivência em um mesmo espaço, nem sempre harmônica, da diversidade de tendências, ideias, crenças, sistemas de pensamento e tradições de diferentes povos e etnias. É reconhecer que, apesar de uma convivência comum, múltiplas identidades coexistem e por vezes se influenciam reciprocamente, definindo e redefinindo aquilo que poderia ser chamado de uma identidade nacional. No caso específico do Brasil, o sentimento de pertinência ao território nacional envolve a compreensão da diversidade de culturas que aqui convivem e, mais do nunca, buscam o reconhecimento de suas especificidades, daquilo que lhes é próprio. 1 A Geografia ratzeliana valoriza o homem abrindo frentes de estudo referentes à história e ao espaço, tais como a formação do território, as migrações e a colonização. Seus estudos, no entanto, privilegiaram a visão das influências naturais sobre a evolução das sociedades; portanto, a geografia ratzeliana mantém uma visão naturalista da sociedade. O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da aplicação da geografia à história. 36 UNIUBE A categoria território possui uma relação bastante estreita com a de paisagem. Pode até mesmo ser considerada como o conjunto de paisagens contido pelos limites políticos e administrativos de uma cidade, estado ou país. É algo criado pelos homens, é uma instituição. A categoria paisagem, porém, tem um caráter específico para a Geografia, distinto daquele utilizado pelo senso comum ou por outros campos do conhecimento. É definida como sendo uma unidade visível, que possui uma identidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente. A paisagem é o velho no novo e o novo no velho! Assim, por exemplo, quando se fala da paisagem de uma cidade, dela fazem parte seu relevo, a orientação dos rios e córregos da região, sobre os quais se implantaram suas vias expressas, o conjunto de construções humanas, a distribuição da população que nela vive, o registro das tensões, sucessos e fracassos da história dos indivíduos e grupos que nela se encontram. É nela que estão expressas as marcas da história de uma sociedade, fazendo, assim, da paisagem uma soma de tempos desiguais, uma combinação de espaços geográficos. A categoria paisagem, por sua vez, está relacionada à categoria de lugar. Pertencer a um território e sua paisagem significa fazer deles o seu lugar de vida e estabelecer uma identidade com eles. Nesse contexto, a categoria lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos mais afetivos e subjetivos que racionais e objetivos: uma praça, onde se brinca desde menino, a janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina, de onde se avista a cidade. O lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico. Além disso, espaço geográfico, paisagem, território e lugar, atualmente, estão associados à força da imagem, tão explorada pela mídia. Pela imagem, a mídia traz à tona valores a serem incorporados e posturas a serem adotadas. Retrata, por meio da paisagem, as contradi- ções em que se vive, confundindo no imaginário aquela que é real e a que se deseja como ideal; toma para si a tarefa de impor e inculcar um modelo de mundo, de reproduzir o cotidiano por meio da imagem massificante repetida pelo bombardeamento publicitário, sobrepon- do‑se às percepções e interpretações subjetivas e/ou UNIUBE 37 singulares por outras padronizadas e pretensamente universais. A Geografia estaria, então, identificada como a ciência que busca decodificar as imagens presentes no cotidiano, impressas e expressas nas paisagens e em suas representações, numa reflexão direta e imedia- ta sobre o espaço geográfico e o lugar. Nessa abrangência, a Geografia contribui para que se compreenda como se estabelecem as relações locais com as universais, como o contexto mais próximo contém e está contido em um contexto mais amplo e quais as possibilidades e implicações que essas dimensões possuem. No mundo atual, o meio técnico‑científico informacional adquiriu um papel fundamental e, em meio ao processo de globalização e massificação, o mundo convive com novos conflitos e tensões,tais como o declínio dos estados-nações, a formação de blocos comerciais, as novas políticas econômicas, a desterritorialidade e outros temas que recuperam a importância do saber geográfico. Há uma multiplicidade de questões que, para serem entendidas, necessitam de um conhecimento geográfico bem estruturado. O estudo de Geografia possibilita, aos alunos, a compreensão de sua posição no conjunto das relações da sociedade com a natureza; como e por que suas ações, individuais ou coletivas, em relação aos valores humanos ou à natureza, têm consequências – tanto para si como para a sociedade. Permite também que adquiram conhecimentos para compreender as diferentes relações que são estabelecidas na construção do espaço geográfico no qual se encontram inseridos, tanto em nível local como mundial, e perceber a importância de uma atitude de solidariedade e de comprometimento com o destino das futuras gerações. Além disso, seus objetos de estudo e métodos possibilitam que compreendam os avanços na tecnologia, nas ciências e nas artes como resultantes de trabalho e experiência coletivos da humanidade, de erros e acertos nos âmbitos da política e da ciência, por vezes permeados de uma visão utilitarista e imediatista do uso da natureza e dos bens econômicos. Desde as primeiras etapas da escolaridade, o ensino da Geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade na qual as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado 38 UNIUBE – constantemente em transformação – do qual ele faz parte e, portanto, precisa conhecer e sentir-se como membro participante, afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente. (BRASIL, 1997b, p. 74-76) Território De acordo com Ratzel, para as sociedades humanas, representa uma parcela do espaço identificada pela posse. É dominado por uma comunidade ou por um Estado. Na geopolítica, o território é o espaço nacional ou área controlada por um estado nacional. Paisagem É definida como sendo uma unidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos. É o “visível”. Nela estão as marcas da história de uma sociedade, fazendo, assim, da paisagem, uma soma de tempos desiguais: é o velho no novo e o novo no velho. Lugar É onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber o espaço geográfico. Traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos mais afetivos e subjetivos que racionais e objetivos: uma praça onde se brinca desde menino, a janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina de onde se avista a cidade... AMPLIANDO O CONHECIMENTO Entendendo essas categorias, o seu trabalho, professor(a), poderá ser muito mais significativo. Perceber que a geografia só pode ser ensinada e aprendida quando não fica restrita à geografia física (foco principal da geografia tradicional), mas envolva as noções de sociedade, cultura, trabalho e natureza; envolva procedimentos de observação, registro, descrição, documentação, representação e pesquisa dos fenômenos UNIUBE 39 sociais, culturais ou naturais que fazem parte do espaço geográfico; utilize recursos diversificados como a literatura, desenho, músicas, poemas, fotos comuns, fotos aéreas, filmes, vídeos, mapas; possibilite aos alunos comparar, perguntar, dar forma às suas representações subjetivas. Como nos diz Carmem Lúcia Perez: Entendo que o ensino de geografia nas séries iniciais deve ter como fundamento a palavra mundo. Fazer geografia é dialogar com o mundo, possibilitando à criança ampliar os significados construídos, transformando sua observação em discurso, de modo que possa compreender o sentido do mundo. O sentido do mundo está no próprio mundo, portanto, ler o espaço é apreender o seu sentido. Tal abordagem nos possibilita pensar a função alfabetizadora da geografia como uma construção epistemológica. (PEREZ, s/d). Você entendeu bem o sentido da categoria lugar? Essa categoria demonstra como os estudos da Geografia têm sofrido mudanças, pois considera importante para a construção da cidadania o sentimento de pertencer a uma determinada realidade de uma forma subjetiva, afetiva, pessoal o que exige responsabilidade e comprometimento com aquele determinado espaço geográfico. PARADA PARA REFLEXÃO Essa categoria não seria importante na visão da geografia tradicional, que negava o valor da subjetividade para os estudos da geografia e valorizava a descrição das paisagens. Também não teria valor para a tendência marxista da geografia, que consideraria como alienação as explicações subjetivas e afetivas das relações do homem com a natureza considerando como mais importante a explicação política e econômica do mundo. A partir da compreensão dessa categoria, como você descreveria o “seu lugar”? Que relações e compromissos você estabelece com ele? Como você se percebe nele? 40 UNIUBE O conteúdo da geografia: trabalhando com blocos temáticos1.5 De acordo com os PCNs, é interessante que você, professor(a), organize o conteúdo a ser estudado em Blocos Temáticos. O estudo sobre a paisagem local pode ser subdividido nos seguintes blocos temáticos: “Tudo é natureza” – “Conservando o ambiente” – “Transformando a natureza” e “O lugar e a paisagem”. Os alunos poderão fazer diferentes pesquisas sobre a paisagem de sua localidade, o que possibilitará a eles conhecer e discutir temas relacionados ao papel da natureza e sua relação com a vida das pessoas, na construção do espaço geográfico. Bloco temático: “Tudo é natureza” Estudando a natureza, é importante que o aluno perceba que ela está presente em tudo: olhando de uma forma mais ampliada, ela está presente na organização dos bairros, da cidade, nas atividades econômicas, sociais e culturais. A natureza está expressa na paisagem local e se relaciona com os hábitos de consumo da população, com as técnicas e instrumentos de trabalho utilizados na transformação da paisagem local; na apropriação e transformação dos elementos naturais disponíveis. Segundo Lopes (1998), o meio ambiente em que vivemos é formado por elementos naturais e culturais: os elementos naturais são aqueles que não foram criados pelo homem, como o relevo, o solo, as águas, o ar, as plantas e os animais. A ação desses elementos naturais provoca mudanças na paisagem natural: a ação da água da chuva ou dos rios carrega terra e vegetais de um lugar para outro; o vento leva terra e plantas de um lugar para o outro. Os elementos culturais são aqueles criados pelo homem: estradas, casas, pontes, túneis, ruas, plantações e muitos outros. UNIUBE 41 Para viver melhor e resolver seus problemas, o homem constrói pontes, viadutos, estradas, túneis, ruas, avenidas, casas, prédios e praças; faz barragens nos rios; faz aterros e desaterros; canaliza as águas dos rios para as casas; faz canais de irrigação para as plantações; transforma vegetação natural em campos de pastagem ou de cultivo. Partindo desse tema, você, professor(a), pode oportunizar reflexões e realizar muitas atividades. Veja a seguir. Sugestão de atividade 1 Tomando como referência o bloco temático: “Tudo é natureza” (BRASIL, 1997b, p. 90) a professora da 1a série propôs para os alunos uma série de visitas às áreas verdes da cidade (estudo do meio). Para você, essa atividade é importante? Com quais objetivos ela deve ser organizada? Que atividades podem ser desenvolvidas? Que estratégias e recursos você utilizaria antes, durante e depois de realizadas essas visitas para estudo do meio? Como você avaliaria os resultados dessa proposta? Bloco temático: “Conservando o ambiente” Com relação à conservação do ambiente, as crianças podem refletir a partir de observações da sua própria sala de aula, da sua casa, da sua rua, de uma praça. Pode também ampliar suas reflexões, como na sugestão a seguir: 42 UNIUBE Pense em que Lopes
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