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G iancar l o Lucca Planejamento Estratégico Administração Planejamento Estratégico Giancar l o Lucca Administração 5Giancarlo Lucca �����DE I Planejamento Estratégico Giancarlo Lucca O Professor Doutor Giancarlo Lucca é professor universitário há mais de treze anos. Coordenador de cursos de graduação e pós-graduação em Administra- ção em instituições diversas no estado do Paraná. Graduado em Administração e também em Ciências Contábeis, com especialização em Ciência da Com- putação. Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas com enfoque na qualidade e produtividade. Doutorado em Engenharia de Produção na área de concentração de estratégia e organizações. Neste material apresentamos um conjunto essencial de conhecimentos teó- ricos e práticos sobre planejamento estratégico. Esta obra está dividida em três unidades que caminham em uma ordem lógica pela apresentação inicial dos conceitos básicos e evoluindo para os conceitos e aplicações mais avançadas. A Unidade I apresentará os conceitos essenciais básicos de planejamento estra- tégico. Estes conceitos garantem o suporte ao entendimento da Unidade II, que tratará das áreas estratégicas funcionais: estratégia financeira, estratégia merca- dológica, estratégia operacional e estratégia de recursos humanos. A Unidade III conduzirá a praticidade do planejamento estratégico pela exposição das técnicas de orientação, diagnóstico, medição de desempenho e definição de planos de ação estratégicos. O estudo do planejamento estratégico começa com a organi- A � �e �� n ta çã o Planejamento Estratégico6 zação deste material. O estudante irá perceber que ao longo das unidades apa- recerão seções do tipo: “Fique por dentro”, “Reflita” e “Atividades de autoestudo”. Estas seções serão destacadas a fim de garantir o aprendizado necessário e desejado por você, aluno. Divirta-se! Bons estudos! Professor Doutor Giancarlo Lucca Giancarlo Lucca 7 UNIDADE 1: OS CONCEITOS ESSENCIAIS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 11 Introdução 13 As Diretrizes Estratégicas 14 A Missão, Visão e Valores Organizacionais 16 A Visão Estratégica 27 Os Valores Estratégicos 33 O Processo Evolutivo do Planejamento Estratégico 37 A Dé cada de 1960 39 Igor Ansoff 39 Albert Humphrey 42 A dé cada de 1970 44 Boston Consulting Group 44 Michael Porter 47 O Planejamento Estraté gico na General Eletric 49 S� m �� io Planejamento Estratégico8 A Dé cada de 1980 50 Henry Mintzberg 51 UNIDADE 2: O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO VERSUS GESTÃO ESTRATÉGICA 61 Introdução 63 A Gestão Estratégica 63 A Nova Visão de Sucesso Empresarial 66 O Balanced Scorecard 73 As Estratégias Funcionais e sua Inter-relação 76 A Estratégia Financeira 80 A Estratégia Mercadológica 81 A Estratégia Operacional 83 Giancarlo Lucca 9 A Estratégia de Pessoas 85 O Balanced Scorecard e sua Sistemática 90 UNIDADE 3: A ESTRATÉGIA NA PRÁTICA 99 Introdução 101 Como Aplicar as Etapas da Gestão Estratégica 101 O Processo de Orientação Estratégica 103 O Processo de Diagnóstico Estratégico 104 As Cinco Forças de Porter 121 A Primeira Forç a – A Concorrê ncia 121 A Segunda Forç a – Os Clientes 125 A Terceira Forç a – Os Fornecedores 127 A Quarta Forç a – A Ameaça de Novos Entrantes 130 Planejamento Estratégico10 A Quinta Forç a – A Ameaça de Produtos Substitutos 133 O Processo de Direção Estratégica 135 O Processo de Medição Estratégica 139 As Ações Estratégicas 142 CONCLUSÃO 151 Os Conceitos Essenciais de Planejamento Estratégico Giancarlo Lucca ObjetivOS de AprendizAgem • As Diretrizes Estratégicas • A Missão, Visão e Valores Organizacionais • O Processo Evolutivo do Planejamento Estratégico U n id a d e 1 13Giancarlo Lucca �����DE I INTRODUÇÃO Nes ta Unidade estudaremos os aspectos básicos essenciais do planejamen- to estratégico, de forma a constituir um conjunto de conhecimentos de suporte ao entendimento das ferramentas e técnicas que permitirão a implantação de um projeto prático de gestão estratégica em uma organização empresarial real. Devemos entender as diretrizes estratégicas que definem uma orientação estra- tégica com base no estabelecimento das declarações de missão, visão e valo- res. As diretrizes estratégicas funcionam como um mapa que irá conduzir todo o processo de gestão estratégica, por isso o seu entendimento é fundamental. Estudaremos nesta Unidade o detalhamento da missão estratégica, enfatizando a importância da comunicação da razão de existir da empresa aos stakeholders (interessados na organização, como clientes, fornecedores, acionistas, colabora- dores, etc.). Da mesma forma, detalharemos o conceito de visão, estabelecendo técnicas de criação da visão empresarial, para refletir sobre o macro-objetivo de longo prazo da organização. Estudaremos também os valores estratégicos que atuam como balizadores das práticas empresariais e direcionadores para o alcan- ce da visão empresarial. Após o entendimento do processo de orientação estra- tégica, partiremos para o estudo histórico do planejamento estratégico, de forma a compreendermos sua evolução, suas práticas, técnicas e metodologias ao longo dos anos. Conheceremos os principais mentores e gurus do planejamento 14 Planejamento Estratégico �����DE I estratégico, autores de metodologias consagradas até os dias atuais, como a fa- mosa Matriz de Análise SWOT, criada na década de 1960 por Albert Humphrey; a Matriz BCG, criada pelo Boston Consulting Group na década de 1970; e também o estudo das Cinco Forças de Porter, proposto por Michael Porter na década de 1980. Finalmente, nesta unidade, estudaremos as diferenças entre os termos planejamento estratégico e gestão estratégica, para que possamos compreender como a cultura estratégica das organizações se adaptou às mudanças do am- biente competitivo dos dias atuais. AS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS As diretrizes estratégicas são as definições iniciais necessárias para balizar o comportamento e desenvolvimento das atividades empresariais. Vamos fazer uma analogia com o planejamento de uma viagem de férias. É claro que é possível simplesmente pôr o pé na estrada sem que nenhum planejamento seja realizado, mas aí vem a pergunta: qual é a probabilidade de ocorrerem problemas que com- prometam a viagem? Problemas de ordem diversa podem ocorrer, desde a falta de dinheiro para realizar determinadas atividades até a impossibilidade de realizar ati- vidades de lazer devido ao clima. Sim, claro, se formos mapear a possibilidade de problemas, estaremos criando cenários do que possa acontecer durante a viagem e neste momento estaremos exercendo um certo tipo de planejamento. Sendo 15Giancarlo Lucca �����DE I assim, vamos pensar na nossa viagem, começando pelas diretrizes estratégicas: 1. Qual é o objetivo da viagem? 2. Qual é o destino da viagem? 3. Quem irá viajar? 4. Quando a viagem deverá ocorrer? 5. Quanto tempo a viagem irá durar? 6. Como será a viagem? Qual será o meio de transporte? Hospedagem? 7. Qual é o custo estimado da viagem? Com o simples fato de elaborar estas questões podemos afirmar que estamos definindo as diretrizes estratégicas para a viagem. A resposta a estes questiona- mentos pode dar origem a um plano estratégico. A documentação das diretrizes estratégicas é o limite entre o plano das ideias e o plano das ações, sendo assim, a formalização das diretrizes estratégicas é o primeiro passo da construção de um planejamento estratégico. No âmbito empresarial as diretrizes estratégicas devem refletir a razão de existir do empreendimento (missão); seu objetivo macro de longo prazo (visão); e os pa- drões de comportamento ético e moral compartilhado com os participantes da or- ganização (valores). Em resumo, o pensamento estratégico nas organizações pre- cisa de diretrizes balizadoras, a formalização das diretrizes por meio de declaração 16 Planejamento Estratégico �����DEI formal dá início ao que chamamos planejamento estratégico. Portanto, as diretrizes estratégicas essenciais são a declaração formal da missão, visão e valores. A MISSÃO, VISÃO E VALORES ORGANIZACIONAIS A missão estratégica é um conceito militar que remete à realização de um con- junto de objetivos e metas determinado por oficiais aos níveis mais operacionais do exército. Os generais estrategistas criavam declarações de missão para inspirar os soldados a realizarem as tarefas designadas com total empenho. Durante a Revolução Industrial, em meio à transformação do processo produtivo padrão de artesanato para manufatura, com o surgimento das primeiras organizações empre- sariais, muitos conceitos, técnicas e ferramentas foram importados do sistema de organização militar. As guerras vividas pela humanidade produziram muita tecnolo- gia utilizada nas mais diversas áreas do conhecimento humano, e a área empresa- rial recebeu muita contribuição da área militar. Pode-se dizer que assim como na área militar, a declaração de missão empre- sarial deve inspirar os colaboradores da organização, de forma a obter o máximo comprometimento dos seus esforços e manter o empreendimento competitivo. Portanto, podemos definir a missão empresarial da seguinte forma: a missão em- presarial é a razão de existir do empreendimento e deve balizar o desenvolvimen- to das atividades empresariais no ambiente competitivo, inspirando as pessoas a 17Giancarlo Lucca �����DE I cumprirem os objetivos determinados com comprometimento e respeito aos valo- res organizacionais. Com base no que foi discutido, vamos avaliar alguns exemplos de missão empresarial: Figura 1.1: Missão da Microsoft Fonte: joeppoulssen / 123RF. A missão da Microsoft, segundo o Portal IBC: Na Microsoft, a nossa função é ajudar as pessoas e empresas em todo o mundo a concretizarem todo o seu potencial. Esta é a nossa missão. Onde tudo o que fazemos reflete-se nesta missão e nos valores que a tornam possível. (2018). 18 Planejamento Estratégico �����DE I Figura 1.2 - Missão da Arcor Fonte: Arcor do Brasil / Wikimedia Commons. A missão da Arcor, segundo o Portal IBC: Dar, às pessoas de todo o mundo, a oportunidade de adquirir produtos de qualidade a um preço justo, criando valor para nossos acionistas, colabo- radores, clientes, comunidade, fornecedores e meio ambiente, mediante uma gestão baseada em processos sustentáveis. (2018) Figura 1.3 - Missão da Natura Fonte: Raphael Figueira / Wikimedia Commons. 19Giancarlo Lucca �����DE I A missão da Natura, segundo o Portal IBC: Para ser percebida como uma empresa social e ambientalmente responsável e atuante, a Natura parte da premissa de que os impactos ambientais de sua atividade decorrem de uma cadeia de transformações, da qual representa so- mente uma parte. Por isso, acredita que, para ter eficácia, as ações ambien- tais precisam: considerar cada cadeia produtiva de maneira integral. ( 2018). Figura 1.4 - Missão da Fiat Fonte: ewastudio / 123RF. A missão da Fiat, segundo o Portal IBC é “desenvolver, produzir e comercializar carros e serviços que as pessoas prefiram comprar e tenham orgulho de possuir, garantindo a criação de valor e a sustentabilidade do negócio”. (2018). 20 Planejamento Estratégico �����DE I Figura 1.5 - Missão da Nestlé Fonte: Jonathan Weiss / 123RF. A missão da Nestlé, segundo o Portal IBC: É oferecer ao consumidor brasileiro produtos reconhecidamente líderes em qualidade e valor nutricional, que contribuam para uma alimentação equilibrada, gerando sempre oportunidades de negócios para a empresa e valor compartilhado com a sociedade brasileira”. (2018). 21Giancarlo Lucca �����DE I Figura 1.6 - Missão da Rede Globo Fonte: Hans Donner / Wikimedia Commons. A missão da Central Globo de Televisão, segundo o Portal IBC: “criar, produzir e distribuir conteúdos de qualidade que informem, eduquem e divirtam, construindo relações que tornem melhor a vida dos indivíduos e das comunidades”. (2018) Figura 1.7 - Missão da Petrobrás Fonte: Alexandre Rotenberg / 123RF. �2 Planejamento Estratégico �����DE I A missão da Petrobrás, segundo o Portal IBC: Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambien- tal, nas atividades da indústria de óleo, gás e energia nos mercados na- cionais e internacionais, fornecendo produtos e serviços adequados às necessidades dos seus clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua (2018). Podemos observar que praticamente todas as organizaç õ es têm uma missã o. Um empreendedor inicia um negócio esperando cumprir uma missão, e mesmo que não seja declarada ela existe. O detalhe é que a não declaração da missão pode dificultar a comunicaç ã o da razã o de existir da empresa para os colaborado- res, clientes, fornecedores, governo etc. O principal objetivo da declaraç ã o de missã o é a evidenciaç ã o do propó sito da organizaç ã o, devendo: orientar as aç õ es da organizaç ã o, explicitar seu objetivo geral, proporcionar um senso de direç ã o e orientar as tomadas de decisão. A criação da declaração da missão pode ser apoiada por técnicas, como o brainstorming, mapas mentais, diagramas de afinidades etc. Uma boa forma de criar uma declaraç ã o de missã o consistente e representativa é utilizar os 5W2H (What, Why, Where, When, Who, How e How Much), ou seja, entender: 23Giancarlo Lucca �����DE I What – Qual é o negócio ou segmento da empresa? Why – Por que atuar neste negócio? Where – Onde atuar? Qual é a amplitude de atuação da empresa? When – Quando atuar ou há quanto tempo a empresa atua neste segmento? Who – Quem são os interessados no negócio? How – Como atuar de forma efetiva neste negócio? How Much – Qual é a viabilidade de atuar neste negócio? É claro que neste caso nã o é necessá rio utilizar todos os Ws ou Hs, mas a té c- nica auxilia muito dando um norte para a criaç ã o da missã o. O quadro 1.1 ilustra a aplicaç ã o dos 5W2H para declaraç ã o da missã o. S IGLA QU ESTà O WHAT Qual é o negócio ou segmento da empresa? WHO Quem são os interessados no negócio? WHY Por que atuar neste negócio? WHERE Onde atuar? Qual é a amplitude de atuação da empresa? WHEN Quando atuar ou há quanto tempo a empresa atua neste segmento? HOW Como atuar de forma efetiva neste negócio? HOW MUCH Qual é a viabilidade de atuar neste negócio? Quadro 1.1: O Uso dos 5W2H para Declaraç ã o da Missã o Fonte: Elaborado pelo autor. 24 Planejamento Estratégico �����DE I Lucca (2013) apresenta um exemplo interessante da aplicaç ã o dos 5W2H na criaç ã o da missã o. Vamos imaginar: uma organizaç ã o que fabrica calç ados infantis (what); que comercializa seus produtos para revendedores atacadistas e varejistas (who); acredita no diferencial de qualidade dos seus produtos principalmente em relaç ã o ao conforto (why); pretende oferecer seus produtos para todo o Brasil e també m para outros paí ses da Amé rica do Sul (where); está no mercado há mais de dez anos (when); pratica a melhoria contí nua de seus processos e preza pela satisfaç ã o dos clientes internos e externos (how); oferece produtos de alto valor agregado e de excelente custo-benefí cio (how much). Com base neste exemplo poderemos construir a missã o da empresa, mesmo que nã o usando todos os Ws e Hs, mas sim selecionando os aspectos que mais representam a organizaç ã o. Exemplo: “Oferece r conforto e qualidade aos pé s infantis fabricando calç ados com tec- nologia inovadora e garantindo um alto valor agregado aos clientes e respeito aos colaboradores”. Neste exemplo utilizamos: • What – Qual é o negócio ou segmento da empresa? “Oferecer conforto e qualidade aos pé s infantis fabricando calç ados”. • How – Como atuar de forma efetiva neste negócio? “[...] com tecnologia inovadora [...] e respeito aos colaboradores”. 25Giancarlo Lucca �����DE I • How much – Qual é a viabilidade de atuarneste negócio? “[...] um alto valor agregado aos clientes [...]”. Para melhor esclarecer esta té cnica vamos agora examinar algumas das mis- sõ es apresentadas anteriormente. O quadro 1.2 mostra o desdobramento da mis- são da empresa Fiat, conforme a estrutura 5W2H: MISSÃO Fiat – “Desenvolver, produzir e comercializar carros e serviços que as pessoas prefiram comprar e tenham orgulho de possuir, garantindo a criação de valor e a sustentabilidade do negócio”. WHAT Carros e serviços. WHO Pessoas (consumidor). WHY Fazer com que as pessoas tenham orgulho da marca. WHERE Não especificou. WHEN Não especificou. HOW Garantindo a preferência dos consumidores. HOW MUCH Valor agregado e sustentabilidade do negócio. Quadro 1.2: O Desdobramento da Missão da Fiat Fonte: Elaborado pelo autor. Seguindo o mesmo padrão, vamos analisar a missão da empresa Nestlé, con- forme o Quadro 1.3. 26 Planejamento Estratégico �����DE I MISSÃO Nestlé – “é oferecer ao consumidor brasileiro produtos reco- nhecidamente líderes em qualidade e valor nutricional, que contribuam para uma alimentação equilibrada, gerando sempre oportunidades de negócios para a empresa e valor compartilha- do com a sociedade brasileira”. WHAT Produtos reconhecidamente líderes em qualidade e valor nutricional. WHO Consumidor brasileiro. WHY Para uma alimentação equilibrada. WHERE A sociedade brasileira. WHEN Não especificou. HOW Gerando sempre oportunidades de negócios para a empresa e valor compartilhado com a sociedade brasileira. HOW MUCH Valor compartilhado. Quadro 1.3 -: O Desdobramento da Missão da Nestlé Fonte: Elaborado pelo autor. Com base no que foi discutido, percebe-se que a missã o deve ser mais que um slogan disposto no hall de entrada das organizaç õ es. A missã o deve refletir a identidade da empresa, justificar suas prá ticas; caso contrá rio, a missã o pode cair no ridí culo e produzir um efeito contrá rio à sua proposta. Por meio da missã o é possí vel comunicar aos stakeholders (todos os interessados na empresa: pro- prietários, investidores, colaboradores, clientes, fornecedores, governo, sociedade etc.) sua proposta de vida, seus valores e seu diferencial competitivo. 27Giancarlo Lucca �����DE I A Visão Estratégica Assim como a missão, a visão é uma diretriz estratégica essencial. É o estabe- lecimento da visão que abre a mente dos gestores para uma reflexão acerca do futuro da organização. Sem uma visão clara e definida não se pensa no futuro e, consequentemente, não se criam as condições ideais no presente, pois qualquer caminho serve para quem não sabe aonde quer chegar. Existem muitas definições de visão, e criamos uma definição adequada aos objetivos desta obra: “a visão é o estabelecimento de uma situação futura desejada representada por uma declaração que se assemelha a um macro-objetivo”. Para que se possa compreender de forma prática o estabelecimento da visão estratégi- ca, vamos avaliar algumas visões de empresas ao redor do mundo: A visão da Microsoft, segundo o Portal IBC, é “ser em um futuro próximo uma empresa que irá oferecer produtos de software aptos a capacitar pessoas a qual- quer hora, em qualquer lugar e a partir de qualquer dispositivo” (2018). A visão da Arcor, segundo o Portal IBC é “ser a empresa nº1 de guloseimas e bis- coitos da América Latina e consolidar a participação no mercado internacional” (2018). A visão da Natura, segundo o Portal IBC: A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das rela- ções que estabelece e por seus produtos e serviços, será uma marca de expressão mundial, identificada com a comunidade das pessoas que se 28 Planejamento Estratégico �����DE I comprometem com a construção de um mundo melhor por meio da me- lhor relação consigo mesmas, com o outro, com a natureza da qual fazem parte e com o todo (2018). A visão da Fiat, segundo o Portal IBC, é “estar entre os principais players do mer- cado e ser referência de excelência em produtos e serviços automobilísticos” (2018). A visão da Nestlé, segundo o Portal IBC: Ser o parceiro que ajuda você a crescer por meio de soluções criativas em alimentos e bebidas, respaldadas por marcas reconhecidas, que per- mitam inovar e satisfazer seus clientes. Como empresa líder mundial em nutrição, saúde e bem-estar, a equipe Nestlé profissional tem verdadeira paixão pelo que faz e está sempre comprometida com a tarefa de oferecer fórmulas criativas, personalizadas e comercialmente viáveis. (2018). A visão da Central Globo de Televisão, segundo o Portal IBC: Queremos ser o ambiente onde todos se encontram. Entendemos mídia como instrumento de uma organização social que viabilize a felicidade. Trabalhamos juntos para a criação de um ambiente estimulante, desafia- dor, produtivo e divertido, onde ideias inovadoras são realizadas a cada dia, cativando telespectadores e anunciantes e gerando resultados cres- centes e permanentes (2018). 29Giancarlo Lucca �����DE I A visão da Petrobrás, segundo o Portal IBC, “seremos uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo e a preferida pelos nossos públicos de interesse” (2018). Um questioná rio para conduzir o processo de criaç ã o da visã o estraté gica foi desenvolvido pelo renomado consultor e professor universitá rio americano Warren Bennis (1996). Sua grande contribuiç ã o acadê mica repousa na á rea de lideranç a, e suas pesquisas o levaram à criaç ã o de um modelo denominado SIQ (Strategic Intention Quotient). O modelo SIQ deve ser aplicado aos colaboradores ligados à área estratégica da organização individualmente. Deve-se pedir que os gestores das áreas estratégicas respondam às perguntas sozinhos, o mais sinceramente possí vel e nã o as discutam com ningué m. O modelo SIQ de Warren Bennis, conforme Lucca (2013), foi adaptado para este material e é composto das seguintes questõ es: 1. A organizaç ã o tem um objetivo futuro definido? ( ) Sim ( ) Nã o tenho certeza ( ) Nã o 2. Em que medida este objetivo futuro está claro para os colaboradores da organização? ( ) Todos os colaboradores tê m conhecimento. ( ) Alguns colaboradores tê m conhecimento. 30 Planejamento Estratégico �����DE I ( ) Poucos colaboradores tê m conhecimento. ( ) Nenhum colaborador tem conhecimento. 3. A organizaç ã o tem uma declaraç ã o de visã o compreensí vel? ( ) Sim ( ) Nã o 4. Você é capaz de escrevê -la em uma ou duas frases? ( ) Sim ( ) Nã o 5. Os colaboradores que desempenham um papel estraté gico na organizaç ã o compreendem essa visã o estraté gica? ( ) Sim ( ) Nã o 6. Considerando que a visã o declarada da organizaç ã o nã o esteja diante dos olhos dos colaboradores, eles conseguiriam escrevê -la em uma ou duas frases sem que també m nã o pudessem consultar uns aos outros? ( ) Apenas um colaborador conseguiria. ( ) Alguns colaboradores conseguiriam. ( ) Nenhum colaborador conseguiria. ( ) Todos conseguiriam. 31Giancarlo Lucca �����DE I 7. A visã o declarada é um guia eficaz para as decisõ es que os colaboradores tomam com relaç ã o aos negó cios da organizaç ã o? ( ) Totalmente eficaz. ( ) Moderadamente eficaz. ( ) Regularmente eficaz. ( ) Totalmente ineficaz. 8. As escolhas estraté gicas da organizaç ã o sã o balizadas na visã o declarada? ( ) Totalmente balizadas. ( ) Moderadamente balizadas. ( ) Regularmente balizadas. ( ) Totalmente nã o balizadas. 9. Existem ou já existiram reuniõ es estraté gicas para definiç ã o de uma direç ã o futura consensual para a organizaç ã o? ( ) Sim ( ) Nã o 10. Existe um consenso ou ainda há diferentes versõ es para o direcionamento futuro da organizaç ã o? ( ) Consenso total. 32 Planejamento Estratégico �����DE I ( ) Consenso parcial. ( ) Pouco consenso. ( ) Nã o existe consenso. 11. Você consegue visualizar claramente o objetivo macro futuro da organizaç ã o e os processos necessários para realizá-lo? ( )Sim ( )Nã o 12. Escreva em uma ou duas frases sua pró pria visã o estraté gica da organizaç ã o. Apó s a conclusã o dos questioná rios, os estrategistas devem se reunir para discutir e comparar suas percepç õ es e opiniõ es sobre a visã o estraté gica da or- ganizaç ã o. Durante este processo haverá, com certeza, divergê ncias sobre a vi- sã o organizacional, que deverã o ser superadas pela obtenç ã o de um consenso. Quando o consenso for obtido, os gestores deverão ser capazes de escrever uma declaraç ã o da visã o organizacional bem mais coerente com a realidade da organi- zação. Conforme Lucca (2013), para que uma visã o estraté gica seja efetiva e clara, ela precisa responder aos seguintes questionamentos: 1. O que diferencia nossa organização dos demais concorrentes? 2. Quais objetivos e metas sã o prioritários para o pró ximo exercício? �3Giancarlo Lucca �����DE I 3. Quais os fatores críticos para estabelecer um compromisso com esta visã o durante os pró ximos cinco ou dez anos? 4. O que o mundo deseja que a nossa empresa forneça? 5. O que a organizaç ã o tem que mudar para que eu me comprometa, esteja alinhado e orgulhoso dela? Os Valores Estratégicos Após a definição da missão e visão da organização, cabe agora entender os valo- res que norteiam o comportamento da empresa no desempenho de suas atividades. Quando se fala em valores, automaticamente se pensa em cultura, e não é possível dis- sociá-los. Nossa definição para os valores repousa no aspecto de que: “os valores sã o o conjunto de crenç as e sentimentos que constroem a cultura e as aç õ es da empresa”. É comum os valores estarem atrelados à missã o, como princí pios morais ou polí ticas or- ganizacionais. Os valores representam um conjunto de crenç as essenciais que regem as pessoas em relaç ã o aos seus comportamentos na organizaç ã o. Empresas multinacio- nais, ou que fabricam e distribuem produtos para paí ses ou estados com diferenç as cul- turais significativas, tê m que se adaptar e respeitar os costumes dos seus stakeholders. Vamos avaliar umas das empresas de tecnologia mais influentes e de sucesso no mundo: o Google. A empresa divulga sua cultura e valores em seu site da se- guinte forma, de acordo com o Quadro 1.4 – Google Quem Somos. 34 Planejamento Estratégico �����DE I AS DIRETRIZES ESTRATÉ GICAS DO GOOGLE Missã o “A missão do Google é organizar as informações do mundo e torná -las mundialmente acessíveis e úteis”. Nossa Cultura “São realmente as pessoas que fazem do Google o tipo de empresa que ele é. Contratamos pessoas que são inteligentes e determina- das, e preferimos a capacidade em vez da experiência. Embora os Googlers compartilhem da mesma visão e objetivos da empresa, vie- mos de todos os caminhos da vida e falamos dezenas de línguas, refletindo a audiência global à qual servimos. E quando não estão no trabalho, os Googlers têm interesses que vão da bicicleta à apicultura, do frisbee ao foxtrot. Esforçamo-nos para manter a cultura livre, muito parecida com startups, onde todos são colaboradores participativos e sentem-se confortáveis para trocar ideias e opiniões. Em nossas reuniões gerais semanais ("TGIF"), sem falar nos e-mails ou nos cafés, os Googlers fazem perguntas diretamente para Larry, Sergey e outros executivos sobre qualquer tipo de problema da empresa. Nossos escritórios e cafés são projetados para incentivar as interações entre os Googlers dentro e entre as equipes, e para estimular conversas sobre o trabalho e brincadeiras”. 35Giancarlo Lucca �����DE I Valores Concentre-se no usuário e tudo mais virá. É melhor fazer algo realmente bem. Rápido é melhor que devagar. A democracia funciona na web. Você não precisa estar em sua escrivaninha para precisar de uma resposta. É possível fazer dinheiro sem fazer o mal. Sempre haverá mais informações. A busca por informações cruza todas as fronteiras. É possível ser sério sem usar terno. Excelente ainda não é o bastante. Quadro 1.4 - As Diretrizes Estratégicas do Google Fonte: Google (2013). Dentro das organizaç õ es, os valores devem guiar as atividades e comporta- mentos das pessoas diariamente, para que possam realizar a missã o e alcanç ar a visã o organizacional. Cabe aos lí deres o exemplo e a busca de mecanismos eficientes para internalizar os valores para os grupos que representam. A declaração dos valores organizacionais, da mesma forma que a missão e visão, deverá ser feita pelos gestores das áreas estratégicas por meio de reuniões de Brainstorming. Estas reuniões poderão ter como tema: “quais sã o os valores organizacionais que devemos transmitir aos nossos stakeholders?”. Ao reunir o 36 Planejamento Estratégico �����DE I conjunto de valores-chave, o grupo deverá chegar ao consenso de quais valores irã o auxiliar a realizaç ã o da missã o e o alcance da visã o. O pró ximo passo será pu- blicar estes valores juntamente com a missã o e a visã o nos meios de comunicaç ã o da organizaç ã o e promover a “internalizaç ã o” destas diretrizes aos demais colabo- radores. Os Quadros a seguir ilustram a declaração das diretrizes organizacionais. O Quadro 1.5 traz o exemplo da Gerdau S/A. DIRETRIZES ESTRATÉ GICAS DA GERDAU S/A Missã o “Gerar valor para nossos clientes, acionistas, equipes e a sociedade, atuando na indú stria do aç o de forma sustentá vel”. Visã o “Ser global e referê ncia nos negó cios em que atua”. Valores “Ter a preferê ncia do cliente; Seguranç a das pessoas acima de tudo; Pessoas respeitadas, comprometidas e realizadas; Excelê ncia com simplicidade; Foco em resultados; Integridade com todos os pú blicos; Sustentabilidade econô mica, social e ambiental.” Quadro 1.5 -: Diretrizes Estraté gicas da Gerdau S/A Fonte: Portal IBC (2018). Como professor universitá rio e també m consultor empresarial presenciei muitas missõ es empresariais mal-formuladas. A aná lise proposta neste tó pico deverá au- xiliar os profissionais de estraté gia a formularem declaraç õ es de missã o coerentes. Alé m do exemplo muito bem claro e definido da Gerdau, segue o exemplo da 37Giancarlo Lucca �����DE I empresa de aviaç ã o brasileira Gol Linhas Aé reas Inteligentes S/A, conforme ilustra o Quadro 1.6. DIRETRIZES ESTRATÉ GICAS DA GOL LINHAS AÉ REAS INTELIGENTES S/A Missã o “Aproximar pessoas com seguranç a e inteligê ncia”. Visã o “Ser a melhor companhia aé rea para viajar, trabalhar e investir”. Valores Seguranç a; Inovaç ã o; Foco do cliente; Orientaç ã o para resultados; Sustentabilidade. Quadro 1.6 - Diretrizes Estraté gicas da Gol Linhas Aé reas Inteligentes S/A Fonte: Elaborado pelo autor. Muito bem, caro estudante, agora que conhecemos o conceito de diretrizes es- tratégicas e sua importância, bem como vimos de forma prática o seu uso, vamos estudar o processo evolutivo do planejamento estratégico. O PROCESSO EVOLUTIVO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O pensamento estraté gico é tã o velho quanto o pró prio homem. Desde os primó rdios nas cavernas, os primeiros seres humanos tinham preocupaç õ es es- traté gicas em relaç ã o à sobrevivê ncia e à continuidade da espé cie. Registros em pinturas e utensí lios em pedra descobertos pela ciê ncia historiadora há milhares de 38 Planejamento Estratégico �����DE I anos já revelam uma preocupaç ã o organizacional dos homens das cavernas. Um certo tipo de contabilidade da caç a e da pesca mostra os primó rdios da evoluç ã o do pensamento estraté gico. Existem relatos, nã o comprovados cientificamente, da existê ncia de um general chinê s conhecido como Sun Tzu há cerca de 2.300 anos. Este lí der militar teria criado um tratado estraté gico para alcanç ar sucesso em suas batalhas: “A Arte da Guerra”. Este tratado, que a partir do sé culo XX passou a ser difundido no meio empresarial, faz uma analogia entre as tá ticas de guerra dos antigos guerreiros chinesese o atual ambiente competitivo. Autores diversos da literatura sobre es- traté gias empresariais afirmam que “A Arte da Guerra” é um livro de cabeceira dos grandes executivos e gestores em todo o mundo. O termo “Planejamento Estraté gico” vem sendo utilizado amplamente na litera- tura estraté gica a partir da dé cada de 1950. O sucesso do Japã o no pó s-guerra instituindo o controle da qualidade total (CQT) e o gerenciamento da qualidade total (GQT) trouxe muita contribuiç ã o aos estudos empresariais. Neste perí odo a competitividade empresarial se consolidou a ní vel global, e muitos mé todos, té cnicas e ferramentas foram desenvolvidas para suportar as ne- cessidades de sucesso das organizaç õ es. O cená rio de guerra empresarial que se apresentava neste perí odo era exponencialmente dinâ mico e competitivo. 39Giancarlo Lucca �����DE I A Dé ca da de 1960 A dé cada de 1960 foi primordial para a expansã o mundial dos conceitos de Planejamento Estraté gico. No iní cio, tais conceitos consistiam apenas em analisar as oportunidades, ameaç as e pontos fortes e fracos de uma organizaç ã o, e partir dessa aná lise elaborar uma estraté gia que conseguisse um bom desempenho da organizaç ã o. Neste perí odo s urgiram duas preocupaç õ es bá sicas do planejamento estraté - gico: o conteú do estraté gico e o processo de implantaç ã o da estraté gia. Muitos autores contribuí ram com estas duas questõ es importantes, conteú do e forma. Entre eles, o guru do planejamento estraté gico, Igor Ansoff, e o criador da matriz de aná lise SWOT, Albert Humphrey. Igor Ansoff De acordo com Lucca (2013), um dos grandes responsá veis pela dissemi- naç ã o do planejamento estraté gico no mundo foi um professor e consultor nor- te-americano chamado Igor Ansoff, sendo uma de suas principais contribuiç õ es a Matriz Ansoff de planejamento estraté gico, baseada na expansã o e diversificaç ã o empresarial por meio de uma sequê ncia de decisõ es, conforme a Figura 1.8. 40 Planejamento Estratégico �����DE I PRODUTOS Existentes Novos Mercados Existentes Penetração de Mercado Desenvolvimento de Produtos Novos Desenvolvimento de Mercado Diversificação Figura 1.8: Matriz de Planejamento de Igor Ansoff Fonte: Elaborada pelo autor. Essa matriz representa algumas variá veis que Ansoff dizia poder aprimorar o desempenho competitivo das organizaç õ es. A matriz apresenta quatro estraté gias distintas: penetraç ã o de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produto e diversificaç ã o. Observa-se na Figura 1.8.8 que a matriz tem duas dimensõ es, produtos e mercados; e sobre essas duas dimensõ es, quatro estraté - gias podem ser formadas, conforme Lucca (2013): • Penetraç ã o de mercado: a organização direciona seus esforços para a cap- taç ã o e fidelizaç ã o dos clientes. 41Giancarlo Lucca �����DE I • Desenvolvimento de mercado: a organização busca introduzir novos produ- tos e fortalecer os existentes em novos mercados. • Desenvolvimento de produtos: a organização dedica recursos e esforços para pesquisa e desenvolvimento, e investe na inovaç ã o para competir em mercados existentes. • Diversificaç ã o: sendo esta uma estraté gia de maior risco, devido às incerte- zas dos novos produtos em novos mercados, tendo a certeza de que esta ação estratégica possa trazer resultados satisfatórios. Conforme já citado, o pó s-guerra foi um marco para os estudos sobre o plane- jamento estraté gico. As organizaç õ es passaram a se preocupar realmente com o ambiente competitivo no qual estavam inseridas. Enquanto os pioneiros da admi- nistraç ã o empresarial clá ssica (Taylor, Fayol, Mayo, entre outros gurus) tinham foco à parte interna das organizaç õ es, para Ansoff o ambiente externo se tornava cada vez mais dinâ mico e influente no desempenho das empresas. Essa preocupaç ã o ambiental foi fortemente apresentada por Sun Tzu em “A Arte da Guerra”, há 2.000 anos, conforme apresentamos na seç ã o anterior, mas foi identificada e salientada pelos estudiosos modernos de administraç ã o em obras do chamado planejamento estraté gico. 42 Planejamento Estratégico �����DE I Albert Humphrey O conteú do estraté gico diz respeito ao objeto de aná lise, a quais variá veis de- vem ser controladas pelos gestores a fim de levarem suas organizaç õ es para uma situaç ã o futura desejada. Muitas contribuiç õ es surgiram em relaç ã o a esta pre- ocupaç ã o, e uma delas é a famosa aná lise SWOT (Strenghts, Weaknesses, Opportunities, and Threats), que em portuguê s significa respectivamente for- ç as, fraquezas, oportunidades e ameaç as. Esta té cnica foi desenvolvida pelo engenheiro quí mico e consultor empresa- rial Albert Humphrey (1926-2005), especializado em gestã o organizacional e em mudanç as culturais nas organizaç õ es. Humphrey nasceu nos Estados Unidos e desenvolveu a aná lise SWOT enquanto trabalhou no Instituto Stanford de Pesquisa, no iní cio da dé cada de 1960. Esta té cnica está fortemente relacionada à preocupaç ã o com o conteú do es- traté gico. Neste caso, o conteú do da estraté gia está definido como: conhecer as forç as e estabelecer estraté gias de maximizaç ã o; reconhecer as fraquezas e criar estraté gias de minimizaç ã o; identificar as oportunidades e desenvolver estraté gias de aproveitamento; e identificar as ameaç as e criar mecanismos de neutralizaç ã o. A Figura 1.9 ilustra a Matriz SWOT de Humphrey. 43Giancarlo Lucca �����DE I Figura 1.9 - Matriz SWO T de Albert Humphrey Fonte: Elaborada pelo autor. A matriz SWOT, conforme a Figura 1.9, está distribuí da em duas dimensõ es quanto ao alcance dos objetivos: favorá vel (forç as e oportunidades) e prejudicial (fraquezas e ameaç as). E classificada quanto ao ambiente empresarial, como: am- biente interno (forç as e fraquezas) e ambiente externo (oportunidades e ameaç as). A aplicaç ã o da matriz SWOT superou as fronteiras temporais e permanece como uma grande ferramenta de diagnó stico estraté gico. Com certeza esta té c- nica merece um destaque especial nesta obra e terá sua aplicaç ã o detalhada na Unidade III. �4 Planejamento Estratégico �����DE I A dé cada de 1970 A dé c ada de 1970 é també m conhecida como a “dé cada de ouro” do Planejamento Estraté gico. Nesta é poca o crescimento dos mercados era inferior à expectativa de crescimentos das organizaç õ es da é poca, e isto impulsionava a competitividade. As organizaç õ es da é poca foca vam seus esforç os no desenvolvimento de produtos que pudessem atender às necessidades e expectativas dos clientes. O Japã o intensificou os estudos sobre té cnicas de desenvolvimento de produtos de acordo com as necessidades do mercado e desenvolveu mé todos, como o desdobramento da funç ã o qualidade QFD (Quality Function Deployment). Nos Estados Unidos, as empresas de consultoria tiveram muito trabalho para auxiliar as organizaç õ es a competirem e se destacarem no atual ambiente competitivo. Nessa é poca o BCG (Boston Consulting Group) propô s a matriz BCG. Boston Consulting Group O BCG (Boston Consulting Group) é uma empresa de consultoria em- presarial especializada em estraté gias empresariais. Foi fundada pelo americano Bruce Henderson em 1963. Sua principal contribuiç ã o foi a criaç ã o da Matriz BCG, uma ferramenta estraté gica para diagnó stico de produtos ou de unidades de negó cio baseada no conceito de ciclo de vida de produto. A Figura 1.10 ilustra a Matriz BCG. 45Giancarlo Lucca �����DE I Figura 1.10: A Matriz BCG Fonte: Adapt ado de Kotler (2000, p. 91). Conforme a Figura 1.10, a matriz tem duas dimensõ es: taxa de crescimento de mercado e participaç ã o relativa de mercado (que é a participaç ã o da empresa em relaç ã o à participaç ã o de seu maior concorrente). Estas dimensõ es sã o ava- liadas como altas ou baixas, e essa combinaç ã o gera os quadrantes de avaliaç ã o do portfó lio da empresa,gerando uma ideia clara do posicionamento do produto em seu ciclo de vida. Esta matriz auxilia na decisã o de fortalecer ou nã o os in- vestimentos em cada um dos produtos do seu portfó lio. De acordo com Lucca (2013), os produtos são inseridos na matriz BCG e classificados de acordo com o seu respectivo quadrante: 46 Planejamento Estratégico �����DE I • O quadrante questionamento: també m conhecido como "ponto de inter- rogaç ã o" ou "crianç a-problemá tica", tem uma situaç ã o delicada quanto ao retorno sobre o investimento. Produtos neste quadrante precisam receber investimentos para aumentarem sua participaç ã o em mercado promissor e crescente, e neste caso tornarem-se um produto “estrela”. Por outro lado, caso a decisã o seja nã o investir no produto para mudar sua participaç ã o de mercado, o tempo de ciclo do mercado poderá expirar, e o produto terá absorvido um grande investimento, tornando-se um "abacaxi". • O quadrante estrela: os produtos “estrela” sã o referê ncias no mercado e possuem uma alta participaç ã o em um mercado promissor e crescente. Sã o lucrativos, embora exijam grandes investimentos e tenham taxas de cresci- mento potencialmente elevadas. A melhor decisã o estraté gica é garantir os investimentos para que o produto nã o perca sua participaç ã o no mercado, pois, quando a potencialidade de crescimento do mercado perder sua forç a com o tempo, ele pode se tornar uma "vaca leiteira". • O quadrante vaca leiteira: neste quadrante estã o os produtos mais lucrativos da empresa. Com o baixo crescimento do mercado, estes produtos nã o exigem grandes investimentos e já detê m uma alta taxa de participaç ã o no mercado. Geralmente sã o estes produtos que sustentam o desempenho atual da organizaç ã o. 47Giancarlo Lucca �����DE I • O quadrante abacaxi: també m conhecido como "cã o", "vira-lata" ou "animal de estimaç ã o", deve ser evitado e minimizado nas empresas. Sã o produtos que nã o sã o lucrativos, pois tê m baixa participaç ã o no mercado e nã o pos- suem expectativa de crescimento. Quando nã o houver mais rentabilidade, a melhor decisã o estraté gica será abandonar o produto. Est a ferramenta é també m muito importante para o diagnó stico estraté gico e, assim como a aná lise SWOT, també m terá sua aplicaç ã o detalhada na Unidade III. Michael Porter Outro grande estudioso dos conceitos e aplicaç õ es de estraté gia empresarial e competitividade é Michael Eugene Porter. Formou-se inicialmente em engenharia mecâ nica e aeroespacial, em seguida obteve um MBA e doutorado em Economia empresarial na Harvard Business School, onde se tornou professor, com ape- nas 26 anos de idade. Atuou como consultor de estraté gia de muitas empresas norte-americanas, e seu trabalho teve influê ncia em muitas organizaç õ es pú blicas e privadas, e até governos internacionais. Uma de suas contribuiç õ es foi o estudo das trê s fontes gené ricas de vantagem competitiva: diferenciaç ã o, baixo custo e focalizaç ã o estra- té gica em mercados especí ficos. 48 Planejamento Estratégico �����DE I Sua principal contribuiç ã o ocorreu em 1979, com a concepç ã o de um modelo de diagnó stico estraté gico em torno de cinco forç as competitivas co- nhecidas como as cinco forç as de Porter. Conforme Lucca (2013), a aná lise das cinco forç as de Porter consiste no diagnó stico estraté gico em relaç ã o a: competição acirrada entre os atuais concorrentes, poder de negociação dos clientes, poder de negociação dos fornecedores, ameaç a da entrada de novos competidores e ameaç a de produtos substitutos. A Figura 1.11 ilustra o modelo das cinco forç as de Porter. Figura 1.11 - O Mod elo das Cinco Forç as de Porter Fonte: Elaborada pelo autor. 49Giancarlo Lucca �����DE I Da mesma forma que a ma triz SWOT e a matriz BCG, o modelo das cinco for- ç as de Porter permanece como uma grande ferramenta de diagnó stico estraté gico e terá sua aplicaç ã o detalhada na Unidade III. O Planejamento Estraté gico na General Eletric Na dé cada de 1970, muitas contribuiç õ es acadê micas surgiram em prol da consolidaç ã o do Planejamento Estraté gico como ferramenta indispensá vel para a sobrevivê ncia das organizaç õ es no ambiente competitivo. Mas foi com o exem- plo da General Eletric (GE) que o Planejamento Estraté gico se posicionou for- malmente dentro das organizaç õ es. Segundo Lucca (2013), houve a criaç ã o do conceito de unidades estraté gicas de negó cios, que funcionavam como organis- mos descentralizados com capacidade de decisão própria para defnição de ações estratégicas. O exemplo da GE passou a ser seguido por grandes organizaç õ es empresariais do mundo todo. Um dos grandes estrategistas da G E foi o consultor Jack Welch, que iniciou sua carreira na empresa no iní cio dos anos 1960. Em 1981, tornou-se o presidente da companhia e realizou grandes feitos. Nos seus 20 anos como presidente da GE, desburocratizou e aplicou diversas inovaç õ es gerenciais. A partir da gestã o de Jack Welch, o Planejamento Estraté gico da Companhia tomou novos rumos. Welch eli- minou o departamento de Planejamento Estraté gico da GE, pois acreditava que a 50 Planejamento Estratégico �����DE I repartiç ã o havia se convertido em um elefante branco burocrá tico onde reinava o comodismo. Este departamento era constituí do por cerca de 200 profissionais. Há relatos de que nessa é poca os relató rios de planejamento estraté gico da empresa ultrapassavam os 3 metros de comprimento. A Dé cada de 1980 Apó s a id ade de ouro do Planejamento Estraté gico, observou-se uma nova ê n- fase do pensamento estratégico, com um novo olhar preocupado com a surpresa, mudanç a ou antevisã o de problemas de recursos ou quaisquer outros aspectos que pudessem ter impacto na organizaç ã o. O iní cio dos anos 1980 foi um perí od o de recessã o e muitas crí ticas ao Planejamento Estraté gico, que surgiram devido a diversos erros cometidos por muitas empresas, gerando muitos prejuí zos. Pensadores como Henry Mintzberg reforç avam que um processo de planejamento estraté gico rí gido e inflexí vel trazia prejuí zos ao pensamento criativo e à inovaç ã o. Para Mintzberg (2005), a estraté - gia deveria ser administrada, e nã o apenas planejada. Surge entã o o conceito de “Gestã o Estraté gica” em contraponto ao “Planejamento Estraté gico”. 51Giancarlo Lucca �����DE I SAIBA MAIS Planejamento Estratégico O desenvolvim ento dos estudos sobre plane jamento estratégico caminhou em parceria com o movimento pela qualidade que revolucionou as fábricas japonesas a partir da segunda metade do século XX. Para que você fique antenado sobre as influências das metodologias de gestão da qualidade sobre as práticas de planeja- mento estratégico, vale a pena conhecer um pouco das ferramentas utilizadas e seus autores, e correlacioná-las com nossos estudos sobre o planejamento estratégico. Fonte: Elaborado pelo autor. Henry Mintzberg Henry Mintzberg nasceu em 1939 em Montreal no Canadá e atualmente é pro- fessor na McGill University, no Quebec, Canadá , onde leciona desde 1968, apó s ter concluí do seu Mestrado e Doutorado em Gerê ncia no MIT (Massachusetts Institute of Technology) nos Estados Unidos. Mintzberg é um grande colabora- dor dos estudos de estraté gia empresarial, com mais de treze livros e 140 artigos publicados. Uma de suas principais obras é o livro “A Ascensã o e a Queda do Planejamento Estraté gico”, que é considerada uma leitura obrigató ria para os toma- dores de decisã o. Nesta publicaç ã o, Mintzberg (2005) critica algumas das prá ticas 52 Planejamento Estratégico �����DE I do planejamento estraté gico tradicional e propõ e um processo mais consistente, dinâ mico e contí nuo de administraç ã o estraté gica. Segundo Henry Mintzberg (2005), as organizaç õ es sã o constituí das por seis componentes bá sicos com funç õ es especí ficas: 1.Vé rtice Estraté gico: é constituí do pelos gestores de alto escalã o (conselhos de administraç ã o, conselhos gerenciais etc.) e pelo pessoal de assessoria (staff). 2. Nú cleo Operacional: é constituí do pelos funcioná rios que executam as ativi- dades bá sicas da empresa. 3. Linha Hierá rquica Mé dia: é constituí da pelos gestores intermediá rios e diretores funcionais, que fazem a ligaç ã o entre o vé rtice estraté gico e o nú cleo operacional. 4. Tecnoestrutura: é constituí da pelos analistas, engenheiros, contabilistas etc., responsá veis pela organizaç ã o, pelos sistemas e pelos mé todos. Enfim, é a equipe de profissionais que desenha os sistemas de trabalho da empresa. 5. Logí stica: é constituí da pelo pessoal que tem a seu cargo as funç õ es de apoio, como: serviç os jurí dicos, relaç õ es pú blicas, pesquisa e desenvolvi- mento etc. 6. Ideologia ou Cultura: inclui os valores, as crenç as e as tradiç õ es, ou seja, a personalidade da organizaç ã o que a distingue de todas as outras. Tais valo- res funcionam como impulsionadores ou limitadores de aç õ es estraté gicas. Fonte: Elaborado pelo autor. 53Giancarlo Lucca �����DE I Para Mintzberg (2005), a combinaç ã o destes seis elementos apresentados possibilita compreender as arquiteturas corporativas e assim formular hipó teses estraté gicas mais pautadas na realidade organizacional. Outra grande contribuiç ã o de Henry Mintzberg juntamente com Bruce Ahlsltrand e Joseph Lampel foi o livro “Safári de Estraté gia”. Escrito em 1998 e editado em Porto Alegre pela Bookman em 2000, nesta obra o autor retrata a estraté gia empre- sarial em dez Escolas Estraté gicas por meio do estudo das prá ticas observadas ao longo dos anos. As escolas estraté gicas do Safá ri de Estraté gia sã o: • Escola de design: criada pelos autores Selznick apud Mintzberg (2005) e Andrews apud Mintzberg (2005), visualiza a estraté gia como um modelo mental do estrategista, geralmente o CEO (Chief Executive Officer) ou presidente da empresa. O estrategista, como um general, desenha as opor- tunidades e ameaç as do ambiente externo com base nas suas potenciali- dades e fraquezas. • Escola do Planejamento: liderada pelas ideias de Igor Ansolf, caracteri- za-se por uma visã o extremamente estruturada e formal da estraté gia. A figura do estrategista má ximo tomador de decisõ es já nã o é o foco como na escola anterior, mas sim a formaç ã o de uma equipe estraté gica que deverá formalizar planos acerca dos recursos disponí veis e possibilidades oferecidas pelo mercado. 54 Planejamento Estratégico �����DE I • Escola do Posicionamento: é mais evidente nos anos 1970 e 1980, liderada por Schendel, Cooper, Hatten e principalmente Porter. Esta escola enfatiza o conteú do estraté gico, com base nas variá veis que definem o posicionamen- to da organizaç ã o nos mercados econô micos. • Escola Empreendedora: baseada na visã o, na intuiç ã o e na capacidade de empreender dos estrategistas. Seus fundadores foram Shumpeter (1954) e Cole (1959), além de outros economistas da é poca. • Escola cognitiva: baseada no espí rito empreendedor, porém buscando ferramentas da psicologia cognitiva para penetrar na mente do estrate- gista concorrente. • Escola do Aprendizado: nesta escola a estraté gia tem um ponto de partida, mas ela nã o se apresenta como um plano definitivo e formal. O tempo vai auxiliar na construç ã o de um padrã o estraté gico ideal com base nos erros e acertos da empresa ao longo do tempo. • Escola do Poder: os pensadores desta escola enfatizem as questõ es polí ti- cas e o processo de negociaç ã o dentro e fora da organizaç ã o. • Escola da Cultura Empresarial: teve início nos fins dos anos 1960 e foi im- pulsionada por Rhenman e Normann, na Sué cia. Para estes autores, a es- traté gia está enraizada na cultura da empresa, visando à coletividade e à cooperaç ã o na organizaç ã o. �5Giancarlo Lucca �����DE I • Escola do ambiente: també m foi criada no final dos anos 1960, propondo que os processos de criaç ã o de estraté gias fossem baseados na reaç ã o da empresa com o contexto em que está inserida, ou seja, seu ambiente. • Escola da configuraç ã o: foi criada e defendida por Mintzberg nos anos 90 como a principal forma de sobreviver no atual ambiente competitivo, bus- cando ideias de todas as outras escolas e adaptando os conceitos de forma contingente às necessidades e situações empresariais. REFLITA O Declínio do Planejamento Estratégico Em um mundo dinâmico, de mudan- ças rápidas e necessidade de alta flexibili- dade, o quanto é válido para a organização a prática do planejamento estratégico? Qual é a viabilidade de investir tempo e recursos planejando os próximos anos, se pequenas variações nas condições atuais podem ocasionar grandes variações nos resultados previstos? Fonte: Elaborado pelo autor. Nesta unidade foi possível compreender as bases teóricas necessárias para o entendimento do planejamento estratégico na prática. Inicialmente foram discutidas as diretrizes estratégicas: missão, visão e valores. Estas diretrizes foram apresenta- das como o primeiro passo para um planejamento estratégico de excelência. Também foi possível entender o processo evolutivo do planejamento estratégi- co. Este entendimento é muito importante, pois possibilita aos novos gestores a 56 Planejamento Estratégico �����DE I compreensão de técnicas e ferramentas desenvolvidas ao longo da história, suas aplicações, seus sucessos e seus fracassos. Muitas das ferramentas e metodolo- gias desenvolvidas no passado permanecem vivas e são de importante aplicação nos dias atuais. Foi possível investigar estes métodos desde a década de 1960, com os estudos de Igor Ansoff, passando pelas matrizes SWOT, desenvolvida por Albert Humphrey, e a BCG, do Boston Consulting Group, até as forças de Porter, no final dos anos 1970. A próxima unidade irá discutir o próximo passo do planejamento estratégico em sua trajetória de sucessos e fracassos, o declínio do termo planejamento estratégi- co e a ascensão dos processos de gestão estratégica. INDICAÇÃO DE LEITURA Livro: Gestão Estratégica Balanceada Autor: Giancarlo Lucca Ano: 2013 Editora: Atlas ISBN: 9788522483624 Sinopse: Esse livro apresenta um conjunto de técnicas e ferramentas para a im- plantação da gestão estratégica balanceada, e aborda os conceitos básicos para o seu entendimento. A gestão estratégica balanceada é uma visão da administração 57Giancarlo Lucca �����DE I estratégica e promove a integração dos processos de gestão – finanças, marke- ting, operações e pessoas. Entende-se que o resultado financeiro será sustentável à medida que o mercado estiver satisfeito e bem atendido; e o mercado estará satisfeito e bem atendido se as operações funcionarem com excelência e de forma otimizada. Além disso, os processos alcançarão a excelência se as pessoas que os operam estiverem preparadas, motivadas e inseridas em um ambiente orga- nizacional propício. A organização da obra foi feita com base em uma ferramenta estratégica, o 5W2H (What, Why, Where, When, Who, How e How Much), de forma que o leitor possa compreender. What – o que é gestão estratégica balanceada?; Why – por que gestão estratégica balanceada?; Where – onde aplicar a gestão es- tratégica balanceada?; When – quando aplicar a gestão estratégica balanceada?; Who – quem deve aplicar a gestão estratégica balanceada?; How – como implantar a gestão estratégica balanceada?; How Much – quanto custa um projeto de gestão estratégica balanceada? Os capítulos estão organizados de forma construtiva, e os conceitos gerais e teóricos que dão suporte às práticas e às ferramentas aparecem primeiro. Em todos os capítulos e seções desse trabalho são apresentadas ativida- des vivenciais e exercícios de reflexão e fixação dos conteúdos. Planejamento Estratégico5858 A T I V I D A D E S D E A U T O E S TU D O 1) O conceito de estratégia teve origem na área militar há alguns séculos. Porém, é comum haver confusão em relação a sua prática empresarial. Qual das al- ternativas abaixo apresenta apenas práticas estratégicas? a. Definição dos pontos de reposição do estoque para uma determinada matéria-prima. b. Definição da Missão, Visão e Valores da organização. c. Contratação de um novo gestor de marketing para a organização. d. Desenvolvimento da programação e controle da produção para as ordens pendentes. e. Análise dos relatórios da auditoria contábil e financeira. 2) A análise SWOT tem uma relação forte com a frase "Conhecer a si mesmo em cem batalhas nenhum perigo". Isto porque ela promove uma análise interes- sante dos ambientes interno e externo da organização. Quais aspectos estão presentes na análise SWOT? a. Estrela, Ponto de Interrogação e Vaca Leiteira. b. Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. c. Concorrência, Clientes, Fornecedores, Potenciais Concorrentes e Produtos Substitutos. 59Giancarlo Lucca 59 A T I V I D A D E S D E A U T O E S T U D O d. Forças, Fraquezas, Clientes e Fornecedores. e. Ponto de Interrogação, Estrela, Oportunidades e Ameaças. 3) O estudo das cinco forças de Porter é muito útil para uma análise ambiental estratégica da organização e em diagnósticos estratégicos. Qual das alterna- tivas abaixo apresenta estas forças? a. Colaboradores, Gestores, Auditores, Governo e Acionistas. b. Concorrência, Clientes, Fornecedores, Novos Entrantes e Produtos Substitutos. c. Finanças, Marketing, Produção, Recursos Humanos e Sociedade. d. Nível Estratégico, Nível Tático, Nível Operacional, Nível de Assessoria e Nível de Direção. e. Planejamento, Organização, Direção, Controle e Aprendizado. 60 Planejamento Estratégico R E F E R Ê N C I A S 60 1. GOOGLE. A filosofia da empresa. Google. Disponível em: <http://www. google.com/intl/pt-BR/about/company/>. Acesso em: 13 mar. 2018. 2. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: a edição do novo milênio. São Paulo: Prentice Hall, 2000. 3. LUCCA, G. Gestão Estratégica Balanceada: um enfoque nas boas práti- cas estratégicas. São Paulo: Atlas, 2013. 4. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 5. PORTAL IBC, Definição e exemplos de missão de uma empresa . Portal IBC. Disponível em <https://www.ibccoaching.com.br/portal/rh-gestao-pes- soas/definicao-exemplos-missao-empresa/> . Acesso em: 13 mar. 2018.> 6. PORTAL IBC. Definição e exemplos de visão de uma empresa. Portal IBC. 26 mar. 2018. Disponível em <https://www.ibccoaching.com.br/por- tal/rh-gestao-pessoas/definicao-e-exemplos-de-visao-de-uma-empresa/>. Acesso em: 13 abr. 2018. O Planejamento Estratégico Versus Gestão Estratégica Giancarlo Lucca ObjetivOS de AprendizAgem • A Gestão Estratégica • A Nova Visão de Sucesso Empresarial • As Estratégias Funcionais e sua Inter-relação • O Balanced Scorecard e sua Sistemática U n id a d e 2 63Giancarlo Lucca �����DE �I INTRODUÇÃO Nes ta unidade estudaremos os aspectos que levaram a uma quebra de para- digma em relação à visão estratégica empresarial moderna. Uma nova terminologia passou a ser empregada de forma a representar mais fielmente a realidade das prá- ticas estratégicas nas organizações contemporâneas: a gestão estratégica. Uma nova visão de sucesso empresarial se instalou a partir da década de 1990, e me- todologias que exploram as estratégias funcionais – finanças, marketing, produção e recursos humanos – tomaram conta do cenário estratégico a nível mundial. Com isso, apresentaremos, além dos aspectos que justificam essa quebra de paradig- ma, o conceito e a sistemática do sistema Balanced Scorecard, sendo este o principal modelo de gestão estratégica contemporâneo. A GESTÃO ESTRATÉGICA O termo “Gestã o Estraté gica” vem sendo utilizado na literatura estraté gica desde a dé cada de 1980, pelo entendimento de que o termo “Planejamento Estraté gico” está superado. Alguns autores de livros publicados recentemente com o tí tulo “Planejamento Estraté gico” afirmam que esta mudanç a de terminologia nã o repre- senta grandes mudanç as substanciais, mas, a meu ver, esta é uma aná lise superficial do estudo estraté gico. Existem diferenç as substanciais sim, e esta diferenç a está nos termos, nas prá ticas e na motivaç ã o para exercer a estraté gia nas organizaç õ es. 64 Planejamento Estratégico �����DE �I Com relaç ã o à terminologia “Planejamento”, apresentamos aqui nossa pró pria definiç ã o: planejar é o esforç o de descrever amplamente as decisõ es que pode- rã o conduzir a organizaç ã o para uma situaç ã o futura desejada, criar metas, definir polí ticas, identificar os vetores de desempenho e conhecer os fatores crí ticos de sucesso. Ao longo dos anos o termo “Planejamento” incorporou e se associou a outros termos, como “Previsã o”, “Projeç ã o” e “Plano”. A previsã o diz respeito ao esforç o de se conhecer o que poderá ocorrer no futuro com base no registro de uma sé rie de probabilidades. A projeç ã o corresponde à situaç ã o em que o futuro tende a ser igual ao passado. Grá ficos de projeç ã o sã o muito ú teis para evidenciar o com- portamento das vendas, das finanç as, da produtividade etc. O plano é o limite da formalizaç ã o do planejamento, é o momento em que o planejamento se torna um documento oficial da organizaç ã o e també m é neste momento que o planejamento se torna está tico. O fazer planos exige investimento da organizaç ã o, sendo assim, é necessá rio avaliar a relaç ã o de custos e benefí cios. Já a terminologia “Gestã o”, ou “Administraç ã o”, tem um sentido mais amplo e, quando aplicada ao pensamento estraté gico, influencia a forma de se lidar com o conteú do e o processo de implantaç ã o da estraté gia na empresa. Administrar é um processo dinâ mico e cí clico que implica planejar, organizar, dirigir e controlar uma organizaç ã o. A Figura 2.1 ilustra este conceito. 65Giancarlo Lucca �����DE �I Figura 2.1 - Conceito de Adm inistraç ã o Fonte: Elaborada pelo autor. Portanto, nã o se propõ e abando nar o “Planejamento” da organizaç ã o, mas sim inseri-lo em um conceito mais efetivo das prá ticas estraté gicas atuais: a “Administraç ã o ou Gestã o Estraté gica”. A gestã o estraté gica é muito mais dinâ mi- ca, conforme o Quadro 2.1, a seguir. O S PROCESSOS DA GESTà O ESTRATÉ GICA P lanejamento - Definir as diretrizes organizacionais (missã o, visã o e valores). - Realizar o diagnó stico estraté gico (aná lise SWOT, matriz BCG, forç as de Porter etc.). - Identificar a direç ã o estraté gica (objetivos estraté gicos e metas). �6 Planejamento Estratégico �����DE �I Organizaç ã o - Relacionar os fatores crí ticos de sucesso para o alcance dos objetivos estraté gicos e metas planejadas. - Reunir os recursos materiais, humanos e financeiros para garantir o alcance das metas estraté gicas. Direç ã o - Definir as aç õ es estraté gicas para alcance dos objetivos estraté - gicos, com base na observaç ã o dos fatores crí ticos de sucesso. - Redigir o plano de aç ã o baseado nos 5W2H e dessa forma transformar a estraté gia em aç õ es concretas. Controle - Definir os indicadores de desempenho para medir o progresso do alcance das metas, e consequente realizaç ã o da visã o. - Avaliar os resultados da mediç ã o e reavaliar o planejamento. - Reiniciar o processo cíclico. Quadro 2.1 - Os Processos da Gestã o Estraté gica Fonte: Elaborado pelo Autor Portanto, observa-se que no atual cená rio competitivo, vigente a partir da dé - cada de 1980, o conceito de planejamento estraté gico passou a ser substituí do pelo conceito de gestã o estraté gica. A atual arena de negó cios necessita de maior dinamicidade nas decisõ es, práticas e aç ões contí nuas e ininterruptas, e também um constante fluxo de formaç ã o e aperfeiç oamento da estraté gia. A NOVA VISÃO DE SUCESSO EMPRESARIAL A dé cada de 1990 marcou as crescentes crí ticas aos sistemas de mediç ã o de desempenho tradicionais com enfoque puramente em indicadores financeiros. A 67Giancarlo Lucca �����DE �I grande motivaç ã o para estas crí ticas tem sido as mudanç as ambientais ocorridas principalmente apó s a Segunda Guerra Mundial. Observa-se que na maior parte do sé culo XX os sistemas de mediç ã o de de- sempenho tradicionais funcionavam em um ambiente está vel de produtos maduros e poucas mudanç as tecnoló gicas. O desenvolvimento dos sistemas de mediç ã o tradicionais ocorreu até cerca de 1925, quando os procedimentos de contabilida- de utilizados até entã o faziam parte do orç amento das organizaç õ es, como: custos padronizados, preç os de transferê ncia, modelo de retorno sobre o investimento DuPont etc. Apó s a Segunda Guerra Mundial, o avanç o tecnoló gico e o crescimento e de- senvolvimento industrial tornaram as organizaç õ es mais complexas. O novo cená rio competitivo e a complexidade organizacional criaram novas demandas aos siste- mas de mediç ã o de desempenho tradicionais. As medidas financeiras refletiam os resultados de decisõ es já tomadas, mas deixavam a desejar ao fornecer uma orientaç ã o adequada para o desenvolvimento estraté gico de longo prazo. Dessa forma, pesquisadores organizacionais desenvolveram metodologias e ferramentas para um melhor gerenciamento das organizaç õ es, como: movimentos da quali- dade (Total Quality Control – TQC e Total Quality Management – TQM); o modelo Kaizen de melhoria contí nua; a filosofia JIT (Just in Time) de produç ã o enxuta; a reengenharia de processos etc. 68 Planejamento Estratégico �����DE �I A utilizaç ã o de ferramentas de gestã o organizacional baseadas na melhoria contí nua raramente tiveram iniciativa nos departamentos de contabilidade ou de gerenciamento financeiro, e isto ocorreu principalmente devido à s caracterí sticas conceituais divergentes de cada modelo de gestã o. Os modelos baseados na gestã o de desempenho tradicional geralmente tê m uma visã o de curto prazo, ao contrá rio das ferramentas de gestã o baseadas na melhoria contí nua. Por isso, a possibilidade de conflito entre os objetivos dos novos instrumentos de gestã o com os sistemas de mediç ã o de desempenho tradicionais é considerá vel. A estraté gia de uma organizaç ã o focada na satisfaç ã o dos clientes por meio da melhoria dos processos nã o é consistente com o pensamento de curto prazo, que, facilmente, resulta do enfoque sobre medidas financeiras isoladas. Existe um grande nú mero de empresas que ainda possuem sistemas de avalia- ç ã o tradicionais – o problema é que os indicadores puramente financeiros apresen- tam algumas limitaç õ es, principalmente por nã o contemplarem, de forma balancea- da, o suporte aos objetivos estraté gicos das empresas. Estes indicadores nã o tê m a capacidade de agregar à necessidade de integraç ã o das á reas estraté gicas da organizaç ã o, por serem focados em processos de controles isolados. Isto promove uma visã o restrita da organizaç ã o, acarretando sistemas de custeio que produzem informaç õ es baseadas simplesmente em dados histó ricos e que nã o refletem o ambiente altamente dinâ mico e competitivo. 69Giancarlo Lucca �����DE �I As principais crí ticas aos sistemas de avaliaç ã o tradicionais sã o: • Enfatizam os resultados imediatos. • Não consideram algumas medidas, já que os relató rios financeiros sã o usu- almente encerrados mensalmente, à medida que surgem decisõ es que pre- cisam ser tomadas com urgência. Os resultados financeiros na maioria da vezes não chegam a tempo. • Consideram apenas a medida de valores financeiros para quantificar desempenho. • Geralmente são pré-formatados, deixando o registro das informações de forma inflexí vel, ignorando o fato de que cada processo organizacional tem caracterí sticas específicias. • Não consideram as informaç õ es relativas à qualidade, confiabilidade e flexi- bilidade, não contemplando o foco estraté gico. • Enfatizam apenas otimizações locais, por exemplo: manter estoques para ter produtividade nas má quinas e operadores. • Não dão ênfase às inovaç õ es. • Nã o possibilitam a tradução de mé tricas sobre o olhar para o cliente e tam- bém para o desempenho da concorrê ncia. 70 Planejamento Estratégico �����DE �I Quando se diz que as medidas financeiras não são suficientes para medir o re- sultado organizacional por completo não significa que devemos descartá-las, pelo contrá rio, acredita-se que essas medidas precisam ser combinadas com métricas que revelem o desempenho das aç õ es produzir resultados. O conjunto de mudanças ambientais que presente na dé cada de 1990 é uma jornada que iniciou na era industrial a caminho da era da informaç ã o, impactando na competitividade e fazendo com que os novos estrategistas abandonassem os velhos princí pios de gestão, utilizados na era industrial, para criarem novas aborda- gens focadas na era da informaç ã o. Para Kaplan e Norton (1997), o avanço das tecnologias de informaç ã o para suportar os negó cios organizacionais possibilitou o que os autores denominam “Novo Ambiente Operacional”, definido por algumas caracterí sticas conforme os itens a seguir: • Processos integrados: processos organizacionais interligados que envolvem todas as funç õ es tradicionais, gerando eficiência e precisão na execução dos processos. • Integraç ã o entre clientes e fornecedores: a tecnologia da informação e co- municação permite que tenhamos uma produção puxada pelo mercado e não mais empurrada. 71Giancarlo Lucca �����DE �I • Mercado segmentado: o uso cada vez maior de sistemas de relacionamento com o cliente (CRM – Customer Relationship Management) direciona as organizações para a segmentação e personalização dos produtos. • Globalizaç ã o do mercado: com a eliminação das barreiras globais e expres- sivo uso dos mercados on-line, as organizações precisam adaptar seu perfil estratégico a esta nova realidade. • Rá pida inovaç ã o tecnoló gica: o avanço exponencial das tecnologias faz com que o ciclo de vida dos produtos seja cada dia menor. • Exploraç ã o do conhecimento dos funcioná rios: o velho paradigma de separar a classe intelectual dos profissionais operacionais deve ficar no passado. O co- nhecimento de todos os colaboradores tem muito valor para as organizações. Um estudo realizado em 2003 sobre os condutores de valor para as organi- zações no segmento financeiro de aç õ es demonstrou a incapacidade de os ges- tores atuarem proativamente em relaç ã o à comunicaç ã o de suas métricas “nã o financeiras” aos analistas de mercado de ações. Consequentemente, em relaç ã o aos investidores, houve uma dificuldade no entendimento correto das estraté gias, métricas de desempenho e previsã o futura de eventos da organizaç ã o. O estudo també m revelou que as falhas na comunicaç ã o entre administrado- res, analistas de mercado e acionistas proporcionaram relevantes mudanças no 72 Planejamento Estratégico �����DE �I compartilhamento de informaç õ es “nã o financeiras” nas avaliações de desempe- nho, como: • Observou um crescimento significativo no impacto das informaç õ es nã o fi- nanceiras utilizadas pelos analistas em suas medições e recomendaç õ es de compra e venda. • Os analistas se mostraram interessados nos fatores relacionados com a execuç ã o estratégica. • Observou que a variaç ã o das métricas ocorreu conforme a indú stria, e nã o segundo uma estraté gia em específica. • Detectou que os analistas que utilizam mais expressivamente as informa- ç õ es “nã o financeiras” apresentam projeç õ es mais corretas. • Percebeu que um terç o das informaç õ es usadas pelos acionistas institucio- nais foi útil na justificativa de seus novos investimentos.• Enfatizou a existê ncia de uma relaç ã o entre as mudanç as nas informaç õ es e o valor das aç õ es. Dessa, percebemos que os investidores querem conhecer, de forma mais pro- funda, o modelo de negó cio das organizações, através da visã o dos principais ín- dices de desempenho, relativos às perspectivas nã o financeiras, utilizando-os para 73Giancarlo Lucca �����DE �I impulsionar a decisã o de investimento, evidenciando a influê ncia de tais índices no valor das aç õ es das empresas. Estas caracterí sticas do novo ambiente competitivo tê m impulsionado a busca por sistemas de avaliação de desempenho que possam oferecer parâ metros mais coerentes, em relação ao passado, presente e principalmente futuro da organização. O Balanced Scorecard O conceito de gestã o estraté gica balanceada surgiu no iní cio da dé cada de 1990, com os estudos de Robert Kaplan e David Norton, ambos professores da Harvard Business School. Os autores acreditavam que a visã o puramente con- tá bil e financeira de avaliaç ã o do desempenho, em prá tica até entã o, já nã o refletia a realidade estraté gica das organizaç õ es. Com isso, propuseram um sistema de me- diç ã o de desempenho denominado por eles Balanced Scorecard. O termo “ba- lanceado” foi utilizado pelos autores por entenderem que a visã o estraté gica deveria ser desdobrada em quatro á reas estraté gicas-chave das organizações: á rea finan- ceira, á rea do mercado, á rea dos processos e á rea do desenvolvimento humano. Este sistema de mediç ã o de desempenho teve uma repercussã o mundial, sendo utilizado em empresas de diversos segmentos e portes, com a obtenção de excelentes resultados. Melhorias neste sistema ao longo dos anos o transfor- maram no principal modelo de gestã o estraté gica disponí vel na década de 1990 74 Planejamento Estratégico �����DE �I e que continua forte na primeira década deste novo milênio. Com isso, optamos por utilizar também e explorar as contribuições do Balanced Scorecard de Kaplan e Norton neste livro. Buscamos desenvolver aqui uma abordagem prá tica e adaptada, de forma a utilizar outras ferramentas muito importantes já citadas nos tó picos anteriores. O Balanced Scorecard, também conhecido pela sigla BSC, foi desenvol- vido por David Norton e Robert Kaplan na dé cada de 1990 com o título original Measuring Performance in the Organization of the Future. No início, este estudo foi desenvolvido pela crença de que os sistemas de mediç ã o de desempenho convencionais estavam se tornando utrapassados por utilizarem apenas métricas que contemplavam os ativos tangí veis da empresa e os índices contá beis e financeiros. De acordo com Kaplan e Norton (1997), os ativos intangí veis precisam ser considerados tã o relevantes quanto os ativos tangí veis, por possibilitarem os seguintes aspectos: 1. Criar relações que mantenham a fidelidade dos clientes. 2. Relações que possibilitam a expansã o do segmento de clientes. 3. Que permitam o lanç amento de produtos inovadores de acordo com as necessidades e expectativas dos clientes-alvo. 4. Elaborem produtos de alta qualidade a preç os acessíveis e com ciclos de vida mais curtos. 75Giancarlo Lucca �����DE �I 5. Possibilitem valorizar e impulsionar as habilidades dos funcioná rios para a melhoria contí nua dos processos. 6. Atribuam maior valor a informaç ã o e ao conhecimento por meio do uso efe- tivo da tecnologia de informaç ã o e sistemas. Com o intuito de desenvolver um novo modelo para se adaptar ao novo am- biente operacional, Kaplan e Norton (1997) organizaram seminários bimestrais com representantes de dezenas de empresas industriais e do segmento de serviç os, desde a manufatura pesada até a indú stria de alta tecnologia, sendo que em um desses seminários um dos membros participantes demonstrou um scorecard corporativo contendo, alé m das métricas financeiras tradicionais, outros indicado- res de desempenho relacionados a prazos de entrega, qualidade e produtividade, bem como a efetividade no desenvolvimento de novos bens e serviços. Os resultados dos estudos realizados por David Norton e Robert Kaplan, e seu grupo de profissionais e estudantes, foram resumidos por Kaplan e Norton (1992) no artigo “The Balanced Scorecard – Measures that drives performance”. Em seguida originou-se o modelo balanceado de avaliação de desempenho – o Balanced Scorecard (BSC). 76 Planejamento Estratégico �����DE �I AS ESTRATÉGIAS FUNCIONAIS E SUA INTER-RELAÇÃO O balanceamento da estratégia partiu da ideia de um sistema de avaliação de desempenho (scorecard) de múltiplas dimensões, que incorporasse índices financeiros e nã o financeiros, medidas de ocorrê ncia e de tendê ncia, visando aos desempenhos interno e externo da empresa. O principal intuito foi oferecer um sistema de avaliação de desempenho apto a medir o desempenho organizacional sob quatro perspectivas: perspectiva de finanças, perspectiva do cliente, pers- pectiva dos processos internos e perspectiva do aprendizado e crescimento. O método bá sico apresentado por Kaplan e Norton (1997) é baseado nos seguin- tes questionamentos: 1. Para obtermos sucesso financeiramente, como nó s devemos aparecer para nossos investidores? 2. Para alcanç ar nossa visã o, como devemos ser vistos pelos clientes? 3. Para satisfazermos nossos acionistas e clientes, em quais processos deve- mos nos sobressair? 4. Para alcanç ar nossa visã o, como sustentar a habilidade de mudar e progredir? Kaplan e Norton (1997) apresentaram este primeiro enfoque considerando a necessidade de um sistema de avaliação de desempenho com a capacidade de relacionar o controle operacional de curto prazo à visã o estraté gica de longo prazo, �7Giancarlo Lucca �����DE �I levando em conta que os modelos de medição de desempenho, até entã o exis- tentes, eram baseados apenas em indicadores contá beis e financeiros, oq ue di- ficultava a demonstração das potencialidades de geraç ã o de resultados futuros. A primeira versão do Balanced Scorecard como sistema de avaliação de de- sempenho assume o conceito explícito de estraté gia e visã o estratégica, estabele- cendo a base das quatro perspectivas, considerando que para cada uma delas é preciso formular objetivos estraté gicos, índices de desempenho, metas especí ficas e planos de aç ã o, conforme mostra a Figura 2.2: Fi gura 2.2 - Modelo bá sico do BSC de Kaplan e Norton Fonte: Adaptada de Kaplan e Norton (1997, p. 10). 78 Planejamento Estratégico �����DE �I As dimensões propostas pelo modelo inicial de Kaplan e Norton – perspec- tiva financeira, dos clientes, dos processos internos do negó cio e do aprendi- zado e crescimento – foram demonstradas como a estrutura fundamental do Balanced Scorecard, por solucionarem o problema de avaliação de desempe- nho da grande maioria das empresas, entretanto, os autores chamam a atenção para o fato de que elas devem ser consideradas apenas um modelo, e nã o uma “camisa de forç a”. O que é importante frisar é a relaç ã o de sinergia que deve existir entre tais pers- pectivas. Existe uma relaç ã o de causa e efeito entre as perspectivas bá sicas do BSC, uma sinergia natural que faz com que os resultados obtidos em uma condu- zam o desempenho da outra. Por exemplo: considere os í ndices de faturamento de uma organizaç ã o (perspectiva financeira), que poderá aumentar ou diminuir depen- dendo do í ndice de captaç ã o, retenç ã o e satisfaç ã o dos clientes (perspectiva do cliente). Um cliente insatisfeito nã o retornará à empresa, e isso influenciará direta- mente a á rea financeira, da mesma forma que o í ndice de qualidade, produtividade e confiabilidade dos processos (perspectiva dos processos internos do negó cio) condicionam a satisfaç ã o dos clientes e determinam a imagem da organizaç ã o no mercado. Agora, imagine como os í ndices de competê ncia, motivaç ã o e satisfaç ã o dos colaboradores
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