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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 METODOLOGIA PARA A PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA .................................................................... 4 2.1 Epidemiologia .......................................................................................................................... 4 2.2 ÁREA DE ATUAÇÃO – EPIDEMIOLOGIA ................................................................................... 6 3 PLANEJAMENTO DE UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO ...................................................................... 6 4 TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS .......................................................................................... 9 4.1 ESTUDOS................................................................................................................................ 10 4.2 ESTUDOS OBSERVACIONAIS .................................................................................................. 10 4.2.1 ESTUDOS DESCRITIVOS ................................................................................................. 11 4.2.2 ESTUDOS ANALÍTICOS ................................................................................................... 13 4.3 ESTUDOS EXPERIMENTAIS .................................................................................................... 21 4.3.1 ENSAIO CLÍNICOS RANDOMIZADOS .............................................................................. 22 4.3.2 ENSAIO DE CAMPO ........................................................................................................ 22 4.3.3 ENSAIO COMUNITÁRIO ................................................................................................. 24 5 LEITURA CRÍTICA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS .................................................................................. 24 5.1 RASTREAMENTO DE PLÁGIO ................................................................................................. 27 5.2 ANÁLISE DA METODOLOGIA ................................................................................................. 28 5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................... 29 5.4 ANÁLISE DA DISCUSSÃO ........................................................................................................ 30 5.5 CONFERÊNCIA DAS REFERÊNCIAS ......................................................................................... 30 6 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS ........................................................................................... 31 6.1 Conceito geral ....................................................................................................................... 31 7 PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS .............................................................................................. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................. 38 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 METODOLOGIA PARA A PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA 2.1 Epidemiologia Fonte: dahw.org.br Epidemiologia pode ser definida como a ciência que estuda o processo saúde- doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL; GOLDBAUM; SANTANA, 2013). O significado etimológico do termo epidemiologia deriva do grego (PEREIRA, 2013): Portanto, de forma simplificada, o termo “epidemiologia” significa o estudo sobre a população, que direcionado para o campo da saúde pode ser compreendido como o estudo sobre o que afeta a população. A epidemiologia congrega métodos e 5 técnicas de três áreas principais de conhecimento: estatística, ciências biológicas e ciências sociais. A área de atuação da epidemiologia é bastante ampla e compreende em linhas gerais (PEREIRA, 2013): »O ensino e pesquisa em saúde; »A descrição das condições de saúde da população; »A investigação dos fatores determinantes da situação de saúde; »A avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde. A epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos relacionados à saúde (como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de saúde) não se distribuem ao acaso entre as pessoas. Há grupos populacionais que apresentam mais casos de certo agravo, e há outros que morrem mais por determinada doença. Tais diferenças ocorrem porque os fatores que influenciam o estado de saúde das pessoas não se distribuem igualmente na população, portanto, acometem mais alguns grupos do que outros. Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição das doenças na população é influenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos aspectos socioculturais e econômicos de sua comunidade e pelos aspectos ambientais do seu entorno, fazendo com que o processo saúde-doenças e manifeste de forma diferenciada entre as populações (PEREIRA, 2013). A epidemiologia tornou-se ao longo dos anos uma ciência ampla que abriga inúmeras áreas do conhecimento e muitas subdivisões, tais como (PEREIRA, 2013): No entanto, em linhas gerais, ela apresenta três grandes áreas de atuação (PEREIRA, 2013): »Epidemiologia clínica; »Epidemiologia investigativa; »Epidemiologia nutricional; »Epidemiologia de campo; »Epidemiologia descritiva; »Etc. 6 2.2 ÁREA DE ATUAÇÃO – EPIDEMIOLOGIA 1.Descrição das condições de saúde da população por meio da construção de indicadores de saúde. Exemplo: taxa de mortalidade, taxa de incidência de uma doença; 2.Investigação dos fatores determinantes da situação de saúde. Exemplo: investigação de agentes etiológicos, fatores de risco; 3.Avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde. Exemplo: avaliação do impacto do saneamento para diminuir parasitoses na comunidade. 3 PLANEJAMENTO DE UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO Fonte: encrypted- Na elaboração de um projeto de pesquisa epidemiológica devemos seguir uma sequência que não é rígida, mas que apresenta itens obrigatórios. Hulley e colaboradores (2007), num texto que focaliza essa questão, apresentam de maneira interessante cada uma das partes desse processo, apontando a necessidade de explicitar a composição da pesquisa, observando os seguintes itens: 1) apresentação da relevância do tema; 2) definição da questão a ser pesquisada; 3) opção pelo desenho ou tipo de estudo; 4) definição da população de estudo;7 5) definição das variáveis de estudo; 6) plano para o manejo e análise dos dados. A organização formal desses itens compõe o protocolo da pesquisa, que nada mais é do que os passos a serem seguidos pelo pesquisador no desenvolvimento da investigação, diminuindo a probabilidade de falhas que poderão comprometer a validade interna e externa dos resultados do estudo. Na introdução do projeto é necessária a apresentação de uma breve revisão sobre o tema, apontando o que há de novo a respeito e salientando pontos em relação aos quais não exista consenso na literatura, discutindo a plausibilidade biológica das hipóteses explicativas e, quando necessário, incluir uma tabela cronológica dessas publicações. Finalizando a introdução, deve-se apontar o porquê da relevância da investigação proposta, assim como os resultados esperados do estudo e quais tipos de questões poderão ser resolvidos e como influenciarão decisões seja em condutas clínicas seja em estratégias de intervenções saúde pública (SZKLO & NIETO 2007). A definição da questão a ser pesquisada ou pergunta a ser respondida pela investigação, delimita o objetivo da pesquisa, devendo ser, tanto quanto possível, específica. A definição da estratégia ou tipo de estudo a ser adotado pela pesquisa proposta constitui um dos pontos mais importantes na elaboração do protocolo de pesquisa, motivo pelo qual dedicaremos um item inteiro deste capítulo para a apresentação deste assunto. Um aspecto importante e que, de certa forma, define o tipo de estudo é a escolha da unidade de estudo, quando optamos em tomar como unidade um agregado de indivíduos, temos os denominados estudos ecológicos ou de correlação, enquanto que nos demais delineamentos, experimentais e observacionais, a unidade de estudo é o indivíduo (HULLEY et al. 2007). A identificação da população de estudo é outro tópico indispensável na elaboração do protocolo. Neste ponto, devemos definir de forma clara qual o universo que dá origem a população de estudo e explicitar detalhadamente os procedimentos utilizados na seleção dos indivíduos incluídos na investigação, assim como para o cálculo do tamanho da amostra. Nos estudos analíticos, o tamanho da amostra deve equivaler ao número mínimo necessário para observarmos de forma consistente a diferença entre os grupos estudados, enquanto que, nos estudos descritivos, deve abranger o número mínimo necessário para produzir estatísticas descritivas (média, 8 proporções, etc.) com precisão adequada. Ainda nesse item, dependendo do tipo de estudo escolhido, deverão ser apresentadas as definições de caso e de controle e critérios de inclusão e de exclusão (SZKLO & NIETO, 2007). Dois itens importantes a serem incluídos no projeto de pesquisa são: a identificação das fontes de dados e a descrição dos procedimentos para sua coleta (entrevista, exames clínicos e de laboratório, compilação de registros), formas de mensuração das variáveis de exposição e dos instrumentos utilizados com tal finalidade (questionários, formulários, etc.). Os manuais de codificação das variáveis e os destinados a padronizar procedimentos utilizados nas atividades de campo, assim como o Termo de Consentimento devem ser apresentados como anexos do projeto (SZKLO & NIETO, 2007). Concluída essa fase, o próximo passo será a definição das variáveis, ou seja, quais as características do sujeito de estudo que serão analisadas, descrevendo como serão medidas e categorizadas. Nos estudos analíticos nós temos basicamente dois tipos de variáveis, as variáveis de exposição ou preditoras ou independentes e as variáveis de desfecho ou dependentes. Tomando como exemplo um estudo que pretende verificar a associação da doença coronariana com algumas exposições como o tabagismo, a hipertensão arterial, a diabetes e níveis elevados de colesterol no sangue. A doença coronariana é a variável de desfecho ou dependente, enquanto que as demais são as variáveis preditoras ou independentes (HULLEY et al. 2007). Finalmente, devemos explicitar qual é o plano para o manejo e análise dos dados. Para estudos analíticos sejam eles observacionais ou experimentais, essa fase sempre inclui o teste de hipótese como componente, o que pressupõe a prévia especificação da principal hipótese. Exemplo: O estado nutricional está associado com a gravidade do sarampo. Os estudos descritivos não requerem hipótese, pois seu objetivo é principalmente estudar como as variáveis se distribuem e não como elas estão associadas entre si (LOPES, 2015). Ainda com referência ao plano para o manejo e análise dos dados, devemos descrever detalhadamente como os dados serão analisados estatisticamente, assim como justificar os métodos propostos e apontar como serão controladas as variáveis de confusão. É recomendável iniciar a análise com modelos mais simples antes da utilização dos mais sofisticados e complexos. Devemos iniciar analisando as 9 incidências brutas (não ajustadas) que são as verdadeiras e em seguida as ajustadas que nos permitem comparações (HULLEY et al. 2007; SZKLO & NIETO 2007). Concluído o protocolo do estudo, devemos nos preocupar com a maneira pela qual o mesmo será conduzido e com a qualidade de seus resultados, salientando que os estudos são úteis à medida que permitam inferências válidas, ou seja, que possamos conhecer em que grau as conclusões do pesquisador descrevem corretamente o que realmente ocorreu na amostra estudada (validade interna), e permitam generalizações daquilo que foi verificado no estudo para o universo externo à amostra estudada (validade externa) (LOPES, 2015). 4 TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Fonte: blogspot.com 10 4.1 ESTUDOS A investigação epidemiológica de campo pode ser definida como a aplicação dos princípios e métodos da pesquisa epidemiológica para o estudo de problemas de saúde inesperados, para os quais é demandada uma resposta imediata e uma intervenção oportuna na população. A demanda por uma resposta imediata significa que o estudo opera no terreno onde ocorre o problema; o imperativo pela intervenção oportuna significa que essa investigação tem duração e extensão limitadas no tempo. A investigação epidemiológica de campo utiliza uma variedade de princípios, métodos e aplicações das ciências básicas, clínicas, sociais, estatísticas e epidemiológicas. Entre estas últimas, a investigação de campo, incluindo a investigação de surtos, costuma aplicar um desenho descritivo (estudo de caso e série de casos, estudo de prevalência, ou ambos), seguido de um desenho analítico (em geral um estudo caso-controle), habitualmente de caráter exploratório (BRASIL, 2010). A investigação epidemiológica de campo, pelo seu procedimento ágil, rigoroso, eficaz e tecnicamente simples, está estruturada para oferecer respostas urgentes que são requeridas pelos tomadores de decisão, especialmente os de nível local, perante situações de surto ou epidemia. Sua simplicidade técnica não implica que a mesma seja simplória; pelo contrário. O cumprimento sistemático de suas diferentes etapas requer a aplicação racional dos princípios de epidemiologia para o controle de doenças. A investigação de surtos representa uma das atividades básicas do trabalho epidemiológico de campo em qualquer sistema local de saúde e trata-se de um excelente modelo para estimular e exercitar o desempenho das equipes locais de saúde (BRASIL, 2010). 4.2 ESTUDOS OBSERVACIONAIS O estudo epidemiológico que não recorre à experimentação baseia-se essencialmente na observação dos fatos e das suas variações, e a análise das informações assim obtidas constitui o objetivo da Epidemiologia Analítica. Os estudos observacionais também podem ser chamados de estudos não experimentais, porque os dados são obtidos de situações naturais (MATHIAS, 2014). 11 Fonte: slideplayer.com.br O objetivodo estudo é saber se a proporção de indivíduos apresentando simultaneamente o efeito e o fator (a) é significativamente maior do que se poderia esperar se esses dois eventos não fossem relacionados entre si. Essa questão pode ser elucidada por diversos tipos de estudos observacionais. Os estudos observacionais podem ser longitudinais ou seccionais. No estudo longitudinal, o fator causal e o efeito são estudados em momentos históricos sucessivos. Com relação ao tempo, há duas maneiras: - Acompanhar o grupo no futuro - estudo prospectivo- Investigar o grupo em relação aos acontecimentos passados - estudo retrospectivo A diferença entre os dois modos de realizar a pesquisa dependerá de, ao iniciar o estudo, a moléstia encontrar-se ou não presente na coorte. O estudo prospectivo é mais oneroso, e os resultados são mais demorados, mas as informações são mais completas, e a exposição ao fator em estudo pode ser mais bem controlada (MATHIAS, 2014) 4.2.1 ESTUDOS DESCRITIVOS Epidemiologia descritiva Ocupa-se de observar a distribuição e a progressão da enfermidade na população. Por meio da observação, procura-se obter toda a sorte 12 de informações relacionadas com a natureza e a magnitude do problema, procurando caracterizar todas as variáveis que concorram para sua ocorrência, como, por exemplo, extensão, espécies envolvidas, sexo, idade, estado físico, condições ambientais etc. Os estudos descritivos informam sobre a frequência e a distribuição de um evento. Como o próprio nome indica, têm o objetivo de descrever os dados colhidos na população. Geralmente é a primeira parte de uma investigação epidemiológica, na qual são feitos o registro e a observação da doença e de possíveis fatores causais (MATHIAS, 2014) 4.2.1.1 RELATO E SÉRIES DE CASOS Relatos de casos e séries de casos são, ainda hoje, integrantes importantes das publicações médicas e continuam a ser publicados em vários importantes periódicos como Lancet e New England. Geralmente, são a primeira fonte de evidências para novas terapias (cirúrgicas ou clínicas) e para detecção de efeitos adversos raros de medicamentos. Embora a diferenciação entre os dois tipos de estudos seja subjetiva e divergente entre os autores, um relato de caso engloba não mais do que 3 casos e uma série de casos compreende de 3 a 10 casos, segundo alguns, e mais do que isso de acordo com outros autores (ALBRECHT et al, 2005) Relatos são a descrição detalhada de casos clínicos, contendo características importantes sobre os sinais, sintomas e outras características do paciente e relatando os procedimentos terapêuticos utilizados, bem como o desenlace do caso. Possuem indicação clara em situações de doenças raras, para as quais tanto o diagnóstico como a terapêutica não estão claramente estabelecidos na literatura científica. Relatos e séries de casos ocupam posições hierarquicamente inferiores em relação ao nível de evidência de um estudo quando comparados, por exemplo, com ensaios clínicos. Exatamente por esse fato, um estudo desse tipo somente deve ser publicado em revista especializada quando englobam objetivos e propósitos definidos. Um bom relato de caso deve ter o objetivo de acrescentar benefícios às práticas atuais ou de traçar possíveis novas direções na pesquisa de determinado tema em que um único ou poucos indivíduos possam ser representativos. Propõe formas inovadoras na abordagem de uma doença ou tratamento, além da formulação de novas hipóteses que podem ser testadas em outros desenhos de estudo. Além disso, em determinadas 13 situações, o relato é um estudo inicial para a elaboração de estudos maiores (JENICEK, 2008). São ainda importantes para detecção de epidemias. Como indicações claras de relato e série de casos teríamos: detecção de epidemias, descrição de características de novas doenças, formulação de hipóteses sobre possíveis causas para doenças, descrição de resultados de terapias propostas para doenças raras e de efeitos adversos raros em doenças comuns. Como principais desvantagens desses estudos temos: conclusões baseiam-se em poucos casos, não possuem amostragem representativa e metodologia capaz de validar associação causal, não há grupo controle para comparação, não quantifica a prevalência na população e a metodologia de diagnóstico não é padronizada (JENICEK, 2008). Uma situação em que classicamente o relato de caso tem uma grande importância é no estudo de doenças raras. Isso se deve ao fato de ser praticamente impossível a compilação de vários casos de pacientes em um único estudo. Terapêuticas são avaliadas quanto ao sucesso e ao fracasso num único indivíduo e esses “erros e acertos” são apreendidos para um próximo caso. Exemplo recente disso é o uso de uma terapia contra raiva, que foi inicialmente testada nos Estados Unidos, e que propiciou o primeiro caso de sobrevivência com a doença instalada5,6 e que depois foi utilizada em mais dois casos no mundo, sendo um no Brasil, noticiado amplamente pela imprensa (WILLOUGHBY et al, 2005). Além do fato de terem menor nível de evidência, os relatos de casos são menos citados por outros autores, quando comparados com outros estudos como metanálises e ensaios clínicos. Na busca desenfreada por um maior fator de impacto (fator que classifica os periódicos atualmente), os editores das importantes revistas desprestigiam relatos e séries de casos, somente publicando aqueles realmente relevantes e que acrescentem avanços a determinado assunto (PATSOPOULOS et al, 2005). 4.2.2 ESTUDOS ANALÍTICOS Os estudos analíticos são geralmente comparativos entre grupos segundo a exposição ou a presença de um efeito à saúde. O primeiro passo na realização de tais estudos, para qualquer pesquisador, é a definição da hipótese a ser testada. A hipótese alternativa é aquela que se deseja comprovar. Caso os testes estatísticos 14 evidenciem alguma “diferença estatística”, abandona-se a hipótese nula (quando não há diferença entre os grupos de estudo) e adota-se a hipótese alternativa. Os dois grupos necessitam ser as mais semelhantes possível e serem submetidos aos mesmos procedimentos. Isso é válido para todos os estudos analíticos. Deve-se evitar erros de seleção (ex.: escolha da população a ser estudada) e de medição (ex.: equipamentos não calibrados). A presença de variáveis de interferência (confounding) também distorce a associação exposição-doença. Como exemplos de vieses, pode-se citar: a) se no Grupo Estudo for incluída uma população mais idosa, uma maior proporção de efeitos neurológicos pode estar associada a esse perfil etário; b) o excesso de tremores de mãos em um grupo, ao invés de ser um indicativo de maior proporção de lesão neurológica, pode ter como origem o fato de um dos grupos incluir mais indivíduos alcoólatras (BRASIL, 2010). 4.2.2.1 ESTUDOS ECOLÓGICOS Os estudos ecológicos (ou de correlação), de modo a formular hipóteses sobre possíveis causas de doença, medem, em diferentes populações ou grupos, a presença de um determinado fator e comparam-no com a ocorrência de uma doença. Exemplo: um estudo, realizado em Birmingham, no Reino Unido, procurou a associação entre o número médio de horas de Sol e a incidência de tuberculose, entre 1982 e 2010. Os estudos ecológicos são classificados de acordo com o método de agregação das unidades de observação e a medição da exposição. A agregação das unidades de observação pode ser realizada pelo lugar (desenho de grupos múltiplos) (e.g., distritos de Portugal), pelo tempo (desenho de tendência temporal ou séries temporais) ou por uma combinação de ambos (desenho misto). Relativamente ao método de medição da exposição, se não existe uma exposição específica de interesse ou se a exposição de interesse não está medida, dizemos que o estudo ecológico é exploratório. Este tipo de estudo tem como objetivo procurar padrões espaciaisque possam sugerir hipóteses etiológicas (KOH et al, 2013). Se a exposição é medida e incluída na análise então o estudo diz analítico e avalia a associação ecológica entre o nível médio de exposição e a prevalência ou incidência da doença entre vários grupos. Os estudos ecológicos são bastante utilizados e rápidos de executar uma vez que, na maior parte dos casos, os dados 15 estão disponíveis em bases de dados pré-existentes como as das estatísticas vitais, registos de base populacional, censos, entre outras. Como não exigem colheita de dados primários são, igualmente, pouco dispendiosos. No entanto, ao utilizarmos dados secundários podemos ficar reféns dos que estão disponíveis. É frequente não encontrarmos dados clínicos agregados ou encontrarmo-los incompletos, pouco fiáveis ou demasiado brutos. Podem, ainda, existir diferenças na classificação de doenças e no cálculo dos indicadores ou divergências nas áreas geográficas o que pode impossibilitar a comparação dos dados. Adicionalmente, quando os estudos ecológicos se baseiam em dados de mortalidade, a inferência causal ecológica é mais limitada uma vez que este indicador reflete, simultaneamente, a ocorrência e o desfecho da doença (MILNER et al, 2013). Os estudos ecológicos são uma alternativa sempre que não existem dados individuais completos (e.g., não temos dados relativos à exposição de cada indivíduo mas temos uma média de exposição do grupo a que esse indivíduo pertence) ou existem limitações de desenho com dados não agregados. Os estudos ecológicos são uma boa opção na avaliação do impacto de um programa ou política de saúde. Dos estudos ecológicos resultam inferências ecológicas acerca dos efeitos de determinadas características nas taxas e indicadores. Podemos concluir, a partir dos seus resultados, que existe uma associação entre taxas e indicadores e não que existe a nível individual. (FRONTEIRA, 2013) Suponhamos que vários estudos ecológicos demonstram uma correlação entre a área de espaços verdes e de lazer e a prevalência de excesso de peso. Seria errado concluirmos que viver em zonas com determinada área de espaços verdes e lazer influencia individualmente o risco de ter excesso de peso. À inferência errada que pode ocorrer quando uma associação observada a um nível agregado é transposta para um nível individual chama-se falácia ecológica, viés ecológico ou de agregação, ou seja, uma relação causal que existe a nível agregado pode não existir necessariamente a nível individual. A falácia ecológica pode ocorrer quando o modelo conceptual em que se baseia o estudo e os dados em análise se referem a diferentes níveis. Os estudos ecológicos (principalmente as séries temporais) podem ser temporalmente ambíguos pois não é possível ter a certeza que a exposição foi anterior à doença (o que se torna particularmente preocupante quando o indicador de doença pode influenciar o de exposição). Também é frequente, especialmente em desenhos 16 de grupos múltiplos, a colinearidade entre indicadores, particularmente naqueles relacionados com fatores demográficos e ambientais, o que dificulta a análise e interpretação dos dados (PORTA et al, 2008). 4.2.2.2 ESTUDOS TRANSVERSAIS Os estudos transversais (survey, inquérito de frequência de doença ou estudo de prevalência) analisam a relação entre a frequência de doença ou outra condição de interesse e outras características da população num determinado tempo e lugar. Referem-se a um ponto no tempo ou a um curto intervalo de tempo. O Inquérito Nacional de Saúde é um estudo transversal que fornece dados de prevalência de problemas de saúde como a diabetes, a hipertensão arterial ou as doenças pulmonares obstrutivas crónicas e permite comparar a evolução destes problemas de saúde por ser repetido cada 5 a 6 anos. Outro exemplo: um estudo, realizado nos Estados Unidos, teve como objetivo determinar a prevalência da adesão a testes de despiste de sífilis de três em três meses em homens que têm sexo com homens (HSH) e fatores associados. Verificou-se que 37,5% dos HSH faziam o teste de três em três meses. A adesão a este regime estava associada a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, ter mais de 10 parceiros sexuais, praticar sexo anal desprotegido com um parceiro casual e conhecer a recomendação (KATZ et al, 2013). Nos estudos transversais, a informação acerca da exposição é colhida ao mesmo tempo que a de doença, de modo a poder comparar diferentes subpopulações de exposição relativamente à prevalência de doença. Em seguida, classificamos cada indivíduo em sem exposição e sem doença, sem exposição e com doença, com exposição e sem doença e com exposição e com doença. Os estudos transversais são pouco dispendiosos, relativamente rápidos de executar e largamente usados. Permitem conhecer a prevalência das doenças e de fatores associados, o estudo simultâneo de várias doenças e seus determinantes, e, quando repetidos ao longo do tempo, avaliar a evolução do problema (GORDIS, 2009). Nos estudos transversais identificamos os casos prevalentes (não incidentes) que podem não representar todos os casos de doença. Há uma sobre representação dos casos com duração prolongada de doença e uma sub-representação daquela cuja doença dura pouco (por cura ou por morte). Assim, e encontrada uma associação entre a doença e um possível fator causal, essa associação pode apenas ocorrer entre 17 a sobrevivência à doença e o fator causal. Por outro lado, estes estudos são incapazes de comprovar uma relação de temporalidade, que a causa antecedeu, de fato, a doença. Quando encontramos uma associação entre uma exposição e um efeito, podemo-nos sentir tentados a concluir que existe uma maior possibilidade de doença entre os expostos ou, então, de exposição entre os doentes. No entanto, que não é correto uma vez que, tendo sido feita, simultaneamente, a medição da causa e do efeito, não podemos discernir se foi a causa que levou ao efeito ou o contrário (CRISLIP, 2010) 4.2.2.3 ESTUDOS DE CASO CONTROLE Os estudos de caso-controle são desenhados para avaliar a associação entre um fator de risco/ exposição e a ocorrência de doença. Constituem, frequentemente, o primeiro passo do estudo etiológico de uma doença. Partindo de uma população de origem bem definida, os indivíduos são selecionados com base no estado de doença/não doença, independentemente do fator de risco ou exposição em estudo. Escolhemos os casos de entre os indivíduos doentes e os controlos de entre os que não apresentam a doença. Depois, casos e controles são avaliados relativamente à prevalência da exposição/fator de risco (GORDIS, 2009). Apresentação esquemática de estudos de caso controle: 18 Fonte: LOPES (2015) Os resultados podem ser resumidos em casos com e sem exposição, controlos com e sem exposição. Num exemplo: um estudo, realizado na Holanda, teve como objetivo estudar estilos de vida e características clínicas enquanto fatores de risco para a ruptura de aneurisma intracraniano. Foram estudados indivíduos com hemorragia subaracnoideia por ruptura de aneurisma (casos) e indivíduos com aneurisma intracraniano sem ruptura (controlos). Foram colhidos dados sobre estilos de vida e história clínica. A comparação de casos e controlos revelou que os hábitos tabágicos e a presença de cefaleias aumentavam o risco de ruptura do aneurisma enquanto a hipercolesterolêmica o diminuía. Não foi encontrada associação entre história de hipertensão e ruptura do aneurisma (VLAK et al, 2013). O estudo de caso-controle começa pela seleção dos casos. O que entendemos por caso deve ser clara e inequivocamente definido de modo a diminuir a probabilidade de um caso ser classificado erradamente como controlo (sensibilidade do critério) ou que um indivíduo sem doença ser classificado como caso (especificidade do critério). Oscasos podem ser identificados a partir do registo de casos clínicos, de registos populacionais, de casos identificados em estudos de coorte 19 ou em estudos transversais. Idealmente, os casos devem ser novos (incidentes) pois nos prevalentes os fatores de risco podem estar relacionados com a sobrevivência e não propriamente com a doença; e devem representar todos os casos de interesse para o estudo na população. Casos incidentes são habitualmente obtidos a partir de estudos de coorte (GORDIS, 2009). Os controles também devem ser selecionados sem qualquer relação com a exposição, representar indivíduos que seriam selecionados se desenvolvessem a doença e ser semelhantes aos casos, de modo a reduzir potenciais confundimentos. Para garantirmos a similitude entre casos e controlos, podemos optar, por exemplo, pela estratificação ou o emparelhamento de grupo ou individual. Os controles podem ser selecionados de entre indivíduos hospitalizados por outro motivo que não a doença em estudo, a partir da comunidade, de registos de mortalidade, de um bairro ou até da própria família do caso. A escolha da fonte de controlos está ligada aos objetivos do estudo e à necessidade de controlar o efeito de alguns fatores. Para cada tipo de fonte existem vantagens e desvantagens (GRIMES et al, 2005). A inclusão de controles provenientes de diferentes fontes aumenta a validade interna. O número de controles necessários para cada caso depende do estudo que estamos a realizar. Em algumas situações, os controlos são limitados. Noutras, existem em grande número. Por outro lado, mesmo os controlos estando disponíveis devemos ponderar o custo de estudar mais controlos face ao benefício que nos trará. Depois, se tivermos poucos casos, um maior número de casos (até quatro por caso) contribui para aumentar a capacidade de detectar diferenças significativas. Os principais problemas dos estudos de caso-controlo prendem-se com o viés de seleção e o de memória (ROTHMAN, 2012) O primeiro diz respeito aos erros sistemáticos que se introduzem aquando da seleção dos indivíduos. O viés de memória refere-se ao erro resultante da capacidade para relembrar ou colher dados sobre eventos ou experiências passadas. Os estudos de caso-controle permitem-nos calcular a prevalência de exposição entre casos e controlos e perceber até que ponto a chance de doença está associada com a exposição. Não nos permitem, contudo, calcular medidas de risco como incidência cumulativa ou risco relativo (GORDIS, 2009). 20 4.2.2.4 ESTUDOS DE COORTE Nos estudos de coorte, subgrupos de uma determinada população são identificados de acordo com estarem, terem sido e virem a ser expostos, ou não, a um ou mais fatores que se pensa influenciarem a ocorrência de uma doença. Assim, grupos grandes de indivíduos são seguidos durante um período tempo suficiente (habitualmente anos) e a incidência de doença comparada entre grupos com diferentes níveis de exposição. Habitualmente existe pelo menos uma coorte de expostos podendo existir, ou não, uma de não expostos. Os estudos de coorte os mais semelhantes aos experimentais uma vez que um grupo de indivíduos sujeitos a uma exposição é seguido de modo a contar novos casos de doença. A única diferença é que o investigador não intervém na distribuição dos indivíduos. A Danish Birth Cohort é um exemplo de um estudo de coorte que se iniciou em 1996, na Dinamarca e que tem como objetivo o estudo do efeito de exposições no período pré-natal até aos 18 meses de vida. Ao todo o estudo já recrutou mais de 60 000 grávidas e seus bebes (PORTA et al, 2008). A seleção dos indivíduos depende do tipo de exposição em estudo, da frequência da exposição na população, da aceitação por parte dos indivíduos e da probabilidade de continuarem no estudo. Quer expostos quer não expostos devem estar livres da doença e ser igualmente susceptíveis ao desenvolvimento desta. Por outro lado, a informação disponível para uns e para outros deve ser equivalente, em qualidade e quantidade. Ambos devem estar acessíveis, igualmente motivados para participar no estudo e ser seguidos durante o tempo previsto. Expostos e não expostos não devem diferir nas características no início do seguimento, exceto no que diz respeito à exposição. Adicionalmente, os não expostos devem ser selecionados a partir da mesma população (ou comparável) dos expostos sendo que vários grupos de não expostos, selecionados de forma diferente, podem aumentar a validade do estudo (FRONTEIRA, 2013) É extremamente importante que os critérios de diagnóstico da doença ou da condição de interesse estejam claramente definidos e que os novos casos sejam identificados o mais perto do início dos sintomas possível. Podemos resumir os resultados de um estudo de coorte, em expostos e não expostos que desenvolveram e não desenvolveram a doença e calcular medidas de incidência (novos casos no total da população em seguimento ou por tempo de seguimento) e várias medidas de risco. 21 O principal problema dos estudos de coorte são as perdas do seguimento já que podem colocar sérias dúvidas à validade do estudo. Um seguimento de 60% é inadequado para tirar qualquer conclusão, sendo 80% aceitável, dependendo do tipo de características dos indivíduos perdidos (FRONTEIRA, 2013) 4.3 ESTUDOS EXPERIMENTAIS Fonte: encrypted- Por meio da experimentação, podem-se evidenciar diretamente os fatores causais do agravo em estudo. Também é chamado estudo de intervenção.O estudo experimental pode ser planejado de maneira a converter-se em programa destinado especificamente à prevenção da doença. A população é manipulada diretamente em relação ao fator que tenha possível aplicação como meio preventivo. Um grupo experimental e um grupo-controle são escolhidos. No grupo experimental, ou grupo- teste, é feita a intervenção, que consiste na aplicação ou supressão do fator sob estudo (variável independente) com vistas a observar e possivelmente medir a produção do efeito correspondente (variável dependente) (MATIAS, 2014). No outro grupo, chamado grupo-controle ou de comparação, cuja composição deve ser a mais semelhante possível à do grupo experimental, não é realizada a intervenção. Os dois grupos devem diferir entre si apenas no que tange ao fator de intervenção. Em medicina humana, o uso desse tipo de estudo é limitado por razões éticas. Não é aceitável a inclusão de fatores que possam causar algum prejuízo às pessoas de qualquer um dos grupos. Mais aceitáveis, embora às vezes com restrições, são os possíveis experimentos nos quais se agregam fatores suspeitos de 22 serem benéficos ou quando se retira algum fator prejudicial à saúde. Há vários exemplos históricos de estudos de intervenção, como o uso de frutas frescas no tratamento do escorbuto, realizado por Lind em 1747, os experimentos de Jenner com inoculação de vacina contra a varíola, em 1796 etc. Pode ser também planejado com o objetivo do esclarecimento de relações causais, sem finalidade preventiva obrigatória. As hipóteses que sugerem etiologias podem ser testadas com maior precisão pelo uso de estudos experimentais (MATIAS, 2014). 4.3.1 ENSAIO CLÍNICOS RANDOMIZADOS A randomização refere-se à alocação dos sujeitos da pesquisa nos grupos de intervenção e controle de forma randômica, ou seja, por sorteio. Nos estudos com viés de alocação, a denominação ensaio randomizado não pode ser feita. A literatura não é consistente quanto à classificação dos ensaios, alguns autores não apresentam classificações. Os ensaios podem ser subclassificados em terapêutico, de intervenção e de prevenção. O terapêutico tem o propósito de testar agentes terapêuticos com o intuito de buscar a cura de pessoas doentes, de aliviar sintomas ou aumentar a sobrevida dos pacientes. O de intervenção busca avaliar intervenções entre aqueles com maior risco dedesenvolver a doença antes desse desenvolvimento, por exemplo, teste do tratamento com AZT entre pessoas HIV positivas. Já o preventivo ou profilático tem o propósito de identificar a eficácia de um agente preventivo entre não- doentes. Os ensaios também foram subclassificados em ensaio de campo, ensaio clínico e ensaio randomizado por cluster ou intervenção comunitária (MARTINS et al, 2013). 4.3.2 ENSAIO DE CAMPO No ensaio de campo, ao contrário dos ensaios clínicos, os sujeitos não são definidos pela presença de doença, ou pela apresentação para assistência clínica; em vez disso, o foco é sobre a ocorrência inicial da doença. Geralmente requer um número muito maior de sujeitos do que os ensaios clínicos. Os participantes são avaliados no trabalho, na residência ou na escola, por isso, são muito mais caros. Os gastos com os ensaios de campo limitam seu uso ao estudo da prevenção de doenças extremamente comuns ou extremamente graves. Nos ensaios de campo, quando o desfecho da doença ocorre raramente, é mais eficiente estudar sujeitos sob maior 23 risco. Tais estudos são usados, cada vez mais frequentemente, em ensaios de intervenção preventiva. Devido ao seu caráter investigativo, caracteriza-se como um estudo experimental, bem como epidemiológico, analítico/comparativo, longitudinal, prospectivo (MARTINS et al, 2013). Fonte: LOPES (2015) Ensaio clínico é definido como experiência em seres humanos para determinar eficácia de um agente ou procedimento de natureza curativa ou de uma medida de prevenção de complicações de uma doença. É o tipo de estudo padrão para avaliação das intervenções, devendo, quando bem conduzido, conter aleatorização dos grupos experimentais, presença de grupo controle, cegamento e padronização de critérios. Com a aleatorização dos grupos experimentais, também chamada de randomização, os pacientes são aleatoriamente designados para cada tratamento a partir de um sorteio. Isso significa que o método de determinar o tratamento de cada paciente está na sorte e não no julgamento pessoal para que potenciais erros de alocação sejam evidenciados. Com a randomização, busca-se constituir grupos com características muito semelhantes, com exceção das intervenções que se quer avaliar, pois o valor de um tratamento só pode ser julgado comparando seus resultados com os de um curso alternativo de ação. Com a distribuição equitativa de fatores de risco ou de prognóstico, podem-se atribuir as diferenças observadas entre os grupos às intervenções que estão sendo comparadas. 24 Pela randomização de pacientes em diferentes tratamentos, é possível assegurar que os grupos de tratamento são balanceados, em média, para todas as variáveis de consequência, e que os fatores de confusão em potencial estarão próximos e igualmente divididos nos diferentes grupos de intervenção (MARTINS et al, 2013). 4.3.3 ENSAIO COMUNITÁRIO O ensaio comunitário é uma extensão de um ensaio de campo que envolve intervenção comunitária. A distinção está se a intervenção é implementada em nível individual, uma vacina administrada em nível individual; se uma fluoretação de água para prevenir cárie dentária é ordinariamente administrada em reservas de água, ou seja, comunidades inteiras foram selecionadas e expostas. Grupos de intervenção podem ser exércitos, salas de aula, ocupantes de veículos, ou qualquer outro grupo cujos membros são expostos simultaneamente à intervenção. O que separa esses estudos de ensaios de campo comuns é que a intervenção é mais facilmente aplicada a grupos do que a indivíduos. Classifica-se como estudo epidemiológico, experimental, longitudinal, analítico/comparativo e prospectivo (MARTINS et al, 2013). 5 LEITURA CRÍTICA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS Fonte: blogspot.com Para compreender a linguagem científica é preciso analisar de forma crítica diversos aspectos durante a leitura do texto científico (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2012). 25 Existe uma lista de critérios para a leitura de qualidade de artigos científicos. Parte dessa lista é baseada no Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE), instrumento avaliativo de estudos epidemiológicos que foi traduzido por um grupo de pesquisadores brasileiros. O STROBE fornece recomendações sobre como relatar estudos de forma clara, com descrição precisa e completa (MALTA et al., 2010). Assim, a adoção de uma lista de critérios além de situar o leitor sobre o que deverá observar no artigo, permite que ele vá direto à seção que lhe interessa (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2012). O conhecimento da estrutura é o elemento básico para compreender a composição de um artigo científico. Um roteiro com algumas dicas pode auxilia o leitor a entender o conteúdo apresentado e a ter o domínio das características de cada parte proporcionando a apreciação da arte e da técnica relacionada à comunicação científica (PEREIRA, 2012a). A avaliação de um artigo científico é uma etapa muito importante durante o processo de publicação de artigos. Como em qualquer avaliação, existe um teor subjetivo, mas se o instrumento for objetivo, pode minimizar falhas ou injustiças. Ou seja, às vezes, uma simples reformulação em um ou mais tópicos seria mais adequada que uma rejeição imediata do referido manuscrito. Trata-se, portanto, de um processo pedagógico, no qual o avaliador pode orientar a escrita mais adequada daquele relatório de pesquisa e, não simplesmente, fornece um simples ‘‘sim’’ ou ‘‘não’’ para a decisão de publicar o manuscrito no periódico (PORTO et al, 2018). A avaliação de trabalhos acadêmicos por pares pode ter sua motivação amparada pela necessidade de assegurar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento constantes da apresentação dos relatórios de pesquisa. No caso dos artigos científicos, trata-se de ‘‘um meio formal de registro da autoria e das descobertas científicas’’ cujo processo de avaliação envolve diferentes pessoas e etapas. Avaliar um trabalho científico faz parte de um processo pedagógico e o avaliador deve ter o máximo de respeito pelos autores do trabalho. Provavelmente, o manuscrito é fruto de um trabalho árduo de um grupo de pessoas e existe uma expectativa grande dos autores para que seu trabalho seja aprovado. Uma adequada avaliação, mesmo que não lhes dê aprovação, pode ser uma forma de estimular os autores a não desistirem de publicar (WERLANG, 2013). Um avaliador deve analisar: 26 a) O manuscrito em sua estrutura e conteúdo; b) A contextualização da situação-problema bem como a coerência entre os objetivos, a justificativa e a relevância social, além das hipóteses, se for o caso. c) A metodologia do trabalho, verificando se está coerente e adequada com o que foi pretendido no estudo, além de verificar se está com o devido detalhamento para ser reproduzida; d) Se os resultados estão, adequadamente, descritos e de acordo com o que foi coletado e informado na metodologia. Além disso, se o uso de gráficos e tabelas facilita e se há redundância de informações sobre os achados do estudo; e) Se a discussão está coerente e atual, dialoga com os objetivos propostos e os resultados obtidos Além disso, recomenda-se: f) Fazer comentários construtivos e questões com o intuito de esclarecer o que não foi, em sua opinião, bem explicado pelos autores; g) Fazer inserções e exclusões para tentar melhorar a fluidez do texto, sem, no entanto, modificar a forma ou tentar parecer um coautor do trabalho. Essas alterações são requeridas caso haja a necessidade, podendo o avaliador sugerir uma revisão linguística no texto; h) Indicar textos que possam melhorar o artigo; i) Finalmente, com base em argumentos sólidos e bem apresentados, recomendar o parecer: aprovado, rejeitado, exigência de modificações etc. Algumas más práticas correntes são: a) Grosserias de avaliadores, secretários e editores das revistas científicas,apresentando, muitas vezes, juízo de valor e opiniões pessoais, tais como o avaliador dizer que boa parte do texto poderia ser jogada fora por não acrescentar nada ou que a discussão ‘‘está maluca’’; secretário dizer que é preciso aguardar, com paciência, a resposta dos avaliadores e que eles já sabem que precisam avaliar (essa paciência é pedida mesmo quando já se espera por oito meses algum retorno da revista e o contato foi, apenas, para perguntar se há previsão da avaliação do artigo submetido); 27 ou quando o editor diz que um determinado tipo de artigo não é aceito pela revista por ser ‘‘fraco metodologicamente’’, mas, que, nas normas, da revista, o tal tipo de artigo é aceito. b) Avaliações incoerentes; c) Demora no retorno da avaliação; d) ‘‘Terceirização’’ da avaliação: professores que entregam o manuscrito para outras pessoas avaliarem, mas não comunicam à revista tampouco revisam o que foi feito pelos seus delegados. 5.1 RASTREAMENTO DE PLÁGIO Pode parecer estranho que alguém submeta um manuscrito, que corresponde a um relatório de parte ou a da integralidade de sua pesquisa científica, com cópias parciais ou totais de outros trabalhos acadêmicos. Pode ser estranho, por ser incoerente, mas não é incomum. Nos últimos tempos temos acompanhado uma série de publicações que tentam explicar as causas desse fenômeno de banalização da ciência (VALENTIM, 2014), que tem a participação até de pesquisadores de renome (VEJA, 2014), mas o fato é que as revistas têm, também, recebido artigos que são resultados de fraudes acadêmicas. Sabendo que isso pode acontecer, o avaliador pode otimizar o seu tempo de avaliação ao rastrear plágios. Quer dizer, se o artigo tiver plágios, o avaliador pode optar por não continuar a avaliação técnica do artigo porque, provavelmente, já terá sido avaliado por outra revista (aquela em que o artigo fora, originalmente, publicado). Existem vários aplicativos gratuitos e/ou pagos para auxiliar na detecção de plágios disponíveis na Internet, que têm plug-in para o editor de texto Microsoft Word, como o Grammarly e o Farejador (JAPOS,2013). Tais softwares conseguem detectar trechos idênticos ao que já foi publicado e está disponível na internet (PERTILE, 2011). É importante destacar que, ao detectar o plágio pelo software, há que se ter o cuidado de ter sido, apenas, um erro de citação, ou seja, o autor fez uma citação direta de um texto, sem colocar no formato que uma citação direta exige (aspas, número de páginas etc.). E sob esse aspecto, também, cabe o papel pedagógico do avaliador em mostrar os equívocos e indicar material de estudo para as devidas correções. 28 Ao detectar o plágio, o avaliador deve comunicar aos editores da revista, mas, também, pode escrever para os autores, algo como ‘reformular o texto. A ideia é o autor desenvolver seu próprio texto, com base em leituras prévias. Você deve ser capaz de ler e interpretar tais textos e, caso venha a usá-los, que seja correto em citá- los. Perceba que os trabalhos publicados já foram avaliados por equipe técnica qualificada, por isso, estão públicos. Favor respeitar os direitos autorais. Além disso, o avaliador pode indicar material para estudo. É importante salientar que avaliar ou, não, a presença de plágio ou equívocos nas citações por parte dos autores dos manuscritos não é uma tarefa exclusiva dos avaliadores, é uma responsabilidade compartilhada com toda a equipe editorial da revista científica. A recente banalização dessa prática (considerando os mais diversos tipos de plágio) reforça a necessidade de um maior cuidado por parte dos avaliadores e da equipe editorial das revistas (TCC MONOGRAFIAS E ARTIGOS, 2013). 5.2 ANÁLISE DA METODOLOGIA Ao analisar a metodologia, o avaliador precisa compreender os procedimentos adotados na pesquisa científica. A escrita deve estar detalhada para permitir ao leitor compreender deque forma o autor executou a pesquisa. Considerando que o trabalho poderá ser lido por um público heterogêneo em termos de maturidade acadêmica, deve ser explicado por que os tais procedimentos foram importantes. Principalmente, na metodologia, se detecta se os procedimentos são adequados aos objetivos propostos, se as variáveis investigadas estão justificadas e/ou se há hipóteses (esses relatados na introdução). Basicamente, se a pesquisa for bibliográfica (ou documental), o avaliador deverá detectar: a) Que tipos de trabalho foram usados (livros, artigos, teses...)? b) Onde estava disponível o material usado? c) Dificilmente, TODOS os trabalhos encontrados serão usados. Como foram, então, selecionados aqueles trabalhos que interessavam ao autor? Quais os critérios de inclusão dos trabalhos? Que palavras-chaves foram usadas para a busca? E em qual (is) idioma (s)? Quando foi feita a pesquisa? 29 d) Que técnica (s) de leitura e análise de texto foi (foram) usada (s)? e) A pesquisa bibliográfica seguiu alguma norma de escrita como o PRISMA (GALVÃO et al., 2015)? Já se a pesquisa for de campo (ou experimental), o avaliador deverá detectar: a. Qual o local de feitura da pesquisa? b. Quando foi feita a pesquisa? c. Que instrumentos foram usados (questionários, balança, adipômetro, paquímetro, câmeras etc.)? Os dados dos fabricantes estão informados? O modo como foram usados está informado? Os questionários foram validados? d. A amostra e a população estão, devidamente, descritas? Como foi processo de seleção? Existe grupo controle? e. Os procedimentos da investigação estão descritos, detalhadamente? f. Houve submissão do trabalho a um comitê de ética? Qual o número de aprovação? g. Os procedimentos seguiram recomendações padronizadas na literatura, como CONSORT (MARTINS et al., 2009), STROBE (MALTA et al., 2010) ou outra? Existem guias de redação de trabalhos acadêmicos que, cada vez mais, são exigidos pelas revistas; a ideia é aumentar a transparência e a uniformização na apresentação dos relatórios de pesquisa na área da saúde (EQUATOR NETWORK, 2017). Para isso, os avaliadores, também, devem ter ciência desses documentos, que já têm algumas traduções para o Português. 5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados da investigação podem ser apresentados sem texto, gráficos e/ou tabelas, porém, necessariamente, devem estar, coerentemente, relacionados aos objetivos, responder às hipóteses. Outro item importante é detectar se tudo o que foi investigado, descrito na metodologia, apresenta resultados no texto. No que tange 30 às ilustrações, as tabelas resumem um conjunto de observações e devem ser autoexplicativas, sem repetir informações já contidas no texto. Já os gráficos, são formas de apresentação dos dados que têm a função de produzir uma visualização mais rápida dos dados investigados (THOMAS et al., 2012). 5.4 ANÁLISE DA DISCUSSÃO Na discussão, os autores devem refletir sobre seus achados à luz da literatura científica atual da área. O avaliador deverá identificar se essa discussão está coerente com os objetivos e as hipóteses trabalhadas, mostradas na introdução do paper, se apresenta material, academicamente qualificado para o dado propósito e se é atual. Por outro lado, não significa que obras clássicas da área não possam ser usadas. Por isso, também, é importante o avaliador ser um expert da área do estudo que avalia para evitar críticas desnecessárias quanto a esse aspecto (PORTO et al, 2018). 5.5 CONFERÊNCIA DAS REFERÊNCIAS Como dito, na lista de referências, devem estar incluídas, somente, aquelas que foram citadas no texto. Esses equívocos e a falta de padronização das referências podem inexistir se os autores fizerem uso de programas de gerenciamento de referências bibliográficas, como o Mendeley (2017) e o Endnote Web (MY END NOTE WEB, 2017). Outro programa interessante é o Mecanismo Online para Referências (More), baseado na NBR 6023/2002,norma da ABNT atualmente em vigor (UFSC, 2017). Essas são dicas que o avaliador pode dar aos autores caso perceba esse tipo de erro no trabalho. O presente artigo sugere um roteiro para avaliação de artigos científicos, debate os principais aspectos a serem observados, bem como os cuidados éticos e metodológicos relacionados ao processo de revisão. É inequívoca a necessidade de ampliar a discussão sobre o papel e a tarefado avaliador, no Brasil e no mundo. Apenas através de um amplo debate será possível aprimorar a evolução da qualidade científica da produção nacional, a qual perpassa, entre outros fatores, pela importância pedagógica do avaliador e do processo de avaliação (PORTO et al, 2018). 31 6 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS 6.1 Conceito geral Fonte: unimedfesp.coop.br A medicina baseada na evidência (EBM) constitui-se como abordagem/movimento, que pretende incentivar uso de investigação de elevada qualidade nas práticas e decisões clínicas. Traduz-se no espírito de basear sistematicamente as decisões e práticas clínicas de forma consciente, explícita, judiciosa e razoável, na melhor evidência disponível, aplicando-as aos pacientes enquanto entidade individual. De acordo com a sua definição, o conceito de EBM representa a confluência e integração de três áreas: experiência clínica; valores do paciente; utilização das melhores evidências disponíveis no processo de tomada de decisões relacionadas com a saúde dos pacientes (COSTA, 2020). A expressão da EBM na realidade clínica requer que os clínicos e entidades envolvidas se mantenham atualizados e tenham a capacidade de aplicar regras formais de triagem e avaliação de evidência na consulta de bibliografia clínica, no sentido de otimizarem as suas práticas. a EBM não é, nem pretende ser um “livro de receitas” onde as abordagens e procedimentos clínicos são meras execuções protocolares; pretende sim, assumir-se como uma atitude direcionada às atividades clínicas e problemas inerentes, baseada na experiência e aprendizagem, em que os objetos da nossa intervenção (pacientes) criam a necessidade de considerar informação de maior importância e qualidade, relativa a diagnóstico, prognóstico, 32 terapêutica entre outras questões associadas a cuidados médicos e à saúde (BUDSBERG 2017). Os conceitos e aplicação prática da EBM à medicina humana não diferem da EBM no contexto da medicina veterinária (EBVM). Budsberg (2017) menciona 5 regras/passos/elementos e uma outra forma utilizada na conceptualização da sua aplicação prática, chamada o algoritmo dos 5 A’s. Os 5 passos básicos da EBV: 1-Conversão da necessidade de informação para a forma de uma pergunta capaz de ser respondida. No desenvolvimento deste ponto insere-se o conceito expresso pelo acrónimo PICO. Este método é utilizado na definição das questões sobre as quais as revisões sistemáticas incidem, sendo aplicado na primeira etapa das mesmas aquando da realização do protocolo (O’CONNOR et al, 2018): Fonte: lh3.googleusercontent.com - P: Populações/paciente/problema-como é que o clínico descreve um grupo de pacientes semelhante ao paciente que suscita a questão? Quais são as características mais importantes do paciente? Aqui pode incluir-se o problema principal, doença ou afeções coexistentes; 33 - I: Intervenção/intervenções-qual a intervenção, fator de prognóstico ou teste de diagnóstico que o clínico está a considerar? O que é que o clínico pretende fazer pelo paciente? Prescrição de fármacos? Pedir um teste? Recomendar um procedimento cirúrgico? Quais os fatores que podem influenciar o prognóstico do paciente? (Idade, raça, sexo, estatuto metabólico); - C: Comparação-qual é a alternativa principal comparável com a intervenção a considerar? A indecisão é relativa a 2 fármacos? Medicar ou não medicar? 2 testes de diagnóstico? (A questão clínica não necessita obrigatoriamente de uma comparação específica); - O: “Outcome” (desfecho) - qual é o objetivo do clínico para com o paciente? Aliviar ou eliminar sintomas? Reduzir o número de efeitos adversos? Melhorar a função ou valores de análises? (BUDSBERG 2017). 2- Pesquisa da melhor evidência que responde à pergunta; assim que a pergunta é formulada, selecionam-se os meios de pesquisa apropriados e disponíveis para a realização da pesquisa. 3- Avaliação crítica das evidências relativamente à sua validade, impacto e aplicabilidade; quando a aquisição da informação/evidência está concluída, segue-se a avaliação da sua validade (força dos dados) e aplicabilidade (utilidade na prática clínica). Neste ponto identifica-se a melhor evidência em relação à totalidade de informação obtida. De uma forma geral, a força e níveis de evidência que as investigações produzem podem ser nivelados e comparados mediante escalas e sistemas de pontuação e valorização. Por princípio, quanto mais rigoroso for o desenho de um estudo, maior o nível de evidência que produz. Este critério tem como consequência a criação da chamada “pirâmide da força de evidência”, que ajuda os clínicos a ter uma ideia do potencial de força e validade de evidência de determinada investigação com base no seu desenho de estudo e a sua relação/posição hierárquica comparativamente com outros desenhos de estudo. Este modelo/escala de atribuição de força de evidência às investigações, guiada pelo respetivo desenho de estudo é abordado mais à frente no ponto8. 4- Integração da avaliação crítica feita com a experiência do clínico e com as circunstâncias do cliente/paciente; aplicação da evidência ao paciente; 34 5- Avaliaçãocríticada eficácia e eficiência da execução dos passos anteriores, desempenho do clínico e desfecho obtido no paciente, procurando formas de os melhorar (BUDSBERG 2017). Concluindo, os clínicos orientando-se pela EBM têm pela frente três tarefas: - Utilização de informação clínica filtrada por processos discriminadores de força de evidência; - Ajudar a desenvolver e evoluir as revisões sistemáticas ou “guidelines” da EBM na sua área de especialização; - Envolver pacientes em estudos relacionados com tratamento, diagnóstico e prognóstico, nos quais as práticas médicas se baseiam (MASIC et al. 2008). 7 PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS Fonte: psicologiaprevitali.com.br A teoria relaciona-se com a prática e a investigação, orientando assim a prática de enfermagem descrevendo, explicando ou prevendo determinados fenómenos. A teoria é “um conjunto coerente de conceitos, de proposições e de definições, visando descrever, explicar ou predizer fenómenos”. O pensamento teórico é constituído por conceitos, que podem ser empíricos quando são observáveis ou abstratos quando não se conseguem observar. O conceito é como “algo concebido na mente, um pensamento ou uma noção. Os conceitos são palavras que representam a 35 realidade e facilitam a nossa capacidade de comunicação sobre ela”. Os Padrões da Qualidade dos Cuidados destacam quatro conceitos principais para a qualidade do exercício profissional dos enfermeiros: a pessoa; a saúde; o ambiente e os cuidados de enfermagem, enquadrando conceitualmente as metaparadigmas da Enfermagem. Uma teoria de enfermagem contempla contexto, que é o ambiente no qual o ato de enfermagem tem lugar; conteúdo, que se refere ao assunto da teoria e processo que é o método pelo qual o enfermeiro age ao utilizar a teoria (BALONA, 2016). Para a prática de enfermagem é fundamental a aplicação de teorias, com o objetivo de melhorar a qualidade dos cuidados e os resultados nos clientes. A Pratica Baseada em Evidências tem sido tem sido uma teoria cada vez mais defendida, pois conjuga a prática clínica com a melhor evidência clínica que advém da pesquisa sistemática, guiando assim a nossa decisão (LARRABEE, 2011), esta teoria enquadra-se no modelo de June Larrabee, sendo por isso essa a nossa escolhada teórica a seguir neste trabalho. Durante o seu percurso profissional, as áreas de interesse de Larrabee são a EMC e a prática baseada em evidência, centrando-se na qualidade dos cuidados de saúde e nos resultados nos clientes que cuidava. Tornou-se então, responsável pela gestão da qualidade em saúde e mais tarde direcionou a sua área de interesse para a satisfação dos clientes, e a relação entre a fadiga dos enfermeiros e a segurança dos clientes (BALONA, 2016). June Larrabee desenvolveu dois modelos teóricos: o Modelo Teórico da Qualidade e o Modelo para a Mudança da Prática Baseada em Evidência (MMPBE). O MMPBE foi proposto em 1999 por Larrabee & Rosswun, após várias revisões teóricas, com o objetivo de melhorar a qualidade dos cuidados. “ A PBE é uma iniciativa com comprovada eficácia em melhorar a qualidade dos cuidados” (LARRABEE, 2011). Segundo o Plano Nacional de Saúde 2012-2016 (GEORGE et al., 2013) a Qualidade em Saúde “pode ser definida como a prestação de cuidados de saúde acessíveis e equitativos, com um nível profissional óptimo, que tenha em conta os recursos disponíveis e consiga a adesão e satisfação do cidadão”. Segundo então o MMPBE proposto por Larrabee, pretende mudar o paradigma da prática tradicional que se baseia na experiência, na opinião e no raciocínio fisiopatológico, para uma Prática Baseada na Evidência (PBE) através do desenvolvimento da investigação e 36 do acesso aos seus resultados, incorporando um pensamento crítico, justificando as nossas ações em pesquisas científicas, na investigação e nos resultados obtidos. A MMPBE segundo Larrabee (2011) é desenvolvida em seis etapas: 1. Avaliar a necessidade de mudança da prática; 2. Localizar as melhores evidências; 3. Fazer uma análise crítica das evidências; 4. Projetar a mudança da prática; 5. Implementar e avaliar a mudança da prática; 6. Integrar e manter a mudança da prática. Seguidamente descrevemos as seis etapas propostas por Larrabee: Etapa 1– Esta etapa consiste em identificar e incluir as partes interessadas nos problemas da prática, colher dados internos sobre a prática corrente, comparar dados externos com dados internos para confirmar a necessidade de mudança, identificar o problema e fazer uma ligação entre o mesmo com as intervenções e os resultados. Etapa 2– Esta etapa consiste na identificação de tipos e fontes de evidências, rever os conceitos da pesquisa, planear a procura e a revisão e realizar a procura. “Inclui-se aqui os instrumentos para avaliação crítica de estudos qualitativos, guidelines de prática clínica e revisões sistemáticas. Também estão incluídos quadros de evidência ou matriz para organizar os dados sobre o estudo antes de fazer a síntese” (LARRABEE, 2011, p.35). Etapa 3– Esta etapa consiste em fazer uma avaliação crítica das evidências, sintetizar as melhores evidências e avaliar a viabilidade, os benefícios e os riscos da nova prática. Etapa 4– Nesta etapa define-se a mudança proposta, identifica-se quais os recursos necessários e planeia-se a avaliação e a implementação das mesmas mudanças. “As estratégias de mudança incluem a utilização de líderes de mudança, líderes de opinião, sessões educativas, sistema de lembretes, auditoria e feedback” (LARRABEE, 2011, p.36) 37 Etapa 5– Esta etapa consiste em implementar as mudanças, avaliar processos, resultados e custos e desenvolver conclusões e recomendações. Etapa 6– Esta etapa consiste em comunicar a mudança recomendada às partes interessadas, integrar a nova prática, monitorizar periodicamente o processo e os resultados e disseminar os resultados do projeto de mudança. As etapas descritas por Larrabee não são estritamente lineares, pois sempre que necessário, pode-se retomar a etapas anteriores, “as atividades de cada etapa podem gerar atividades de outra etapa” (LARRABEE, 2011). O MMPBE foi testado em 1998, através da criação de um programa sistemático de utilização da pesquisa para melhorar a qualidade dos cuidados dos clientes, foram implementados 19 projetos que levaram à mudança e ainda decorrem 8 projetos. A pesquisa em enfermagem é essencial para a procura da excelência dos cuidados e da qualidade, com os melhores resultados nos clientes. A integração de sistemas de pesquisa permite o desenvolvimento pessoal, profissional e incentiva boas práticas. A pesquisa tem como funções: identificar oportunidades para melhorar a prática utilizando fontes de informação, criar e melhorar os processos de tomada de decisão, conduzir pesquisas clinicamente relevantes, modificar os padrões de cuidados e melhorar a prática (LARRABEE, 2011). Na perspectiva da enfermagem, o objetivo é que todos os profissionais procurem a evidência e a consigam aplicar na prática diária. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRECHT J, MEVES A, BIGBY M. 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