Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aspectos Contábeis do Sistema Tributário Brasileiro APRESENTAÇÃO Em função da importância da representatividade e do impacto dos tributos nas atividades de uma empresa, torna-se fundamental o conhecimento sobre a contabilidade tributária e a forma como se pode atuar para obter os melhores resultados possíveis, cumprindo a legislação e garantindo a competitividade e a sustentabilidade da organização. Nesse contexto, esta unidade de aprendizagem expõe o que a contabilidade tributária exerce como atividade, a metodologia da contabilidade, o planejamento tributário, além de comentar sobre a elisão e a evasão fiscal. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar atividades e funções da contabilidade tributária.• Descrever os principais aspectos de um planejamento tributário.• Reconhecer as diferenças e as peculiaridades dos atos de elisão e de evasão fiscal.• DESAFIO O desafio apresentado trata de duas farmácias cujos sócios são primos, a empresa W e a empresa Y. • A farmácia W é proprietária de um imóvel avaliado em R$ 850.000,00. • A empresa Y tinha a intenção de adquirir o imóvel e possuía em suas aplicações financeiras o valor suficiente para a aquisição, e assim firmou-se contrato de compra e venda entre ambas. No entanto, por perceberem que teriam que pagar o ITBI (Imposto Municipal sobre a Transmissão de Bens Imóveis), resolveram cancelar o contrato. Como as empresas não queriam se sujeitar à incidência do ITBI, resolveram deixar de lado a compra e a venda do imóvel e realizaram uma fusão. A farmácia W se uniu com a farmácia Y, surgindo a empresa WY. Com o passar de algumas semanas, as duas empresas realizaram uma cisão, voltando à situação em que estavam anteriormente: farmácia Y e farmácia W. Cabe ressaltar que o imóvel passou para a empresa Y, e a empresa W passou a ter R$ 850.000,00 no seu caixa, uma vez que em operações societárias a transferência de imóveis é isenta de pagamento do ITBI. Diante dessas informações, como você avalia as transações ocorridas na empresa? Trata-se de uma elisão ou uma evasão fiscal? Apresente argumentos para justificar sua resposta. INFOGRÁFICO Diante da alta carga tributária que impacta significativamente a saúde financeira das empresas, é necessário encontrar alternativas de ação. Assim, as organizações agem para buscar benefícios, como a redução da carga tributária, sendo que há duas formas de atuação: a elisão fiscal, modo lícito de atuação antes da realização do fato gerador e a evasão fiscal, meio ilícito em que se age após a incidência do fato gerador. O infográfico apresentado a seguir evidencia tal diferenciação. CONTEÚDO DO LIVRO O planejamento estratégico é uma ferramenta que envolve organização e estudo de meios lícitos para atuar na complexa contabilidade tributária, envolvendo conhecimentos tanto da metodologia contábil, como da legislação tributária. Frente a esse ambiente, que muitas vezes causa insegurança para empresários e profissionais da área, é indispensável reconhecer a licitude das ações ou atos tributários com o objetivo de evitar erros que podem acarretar multas e sanções. Para compreender melhor esse assunto, leia na obra Contabilidade tributária, o capítulo Aspectos contábeis do Sistema Tributário Nacional, iniciando no tópico O que a contabilidade tributária exerce como atividade? e encerre sua leitura no tema Evasão fiscal. Bons estudos! CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Conteúdo: Ramon Alberto Cunha de Faria Pablo Rojas Coordenador F224c Faria, Ramon Alberto Cunha de. Contabilidade tributária [recurso eletrônico] / Ramon Alberto Cunha de Faria coordenação: Pablo Rojas. – Porto Alegre : SAGAH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-69726-12-8 1. Contabilidade tributária. 2. Tributação. I. Título. CDU 657:336.221 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 © SAGAH EDUCAÇÃO S.A., 2016 Colaboraram nesta edição: Coordenador técnico: Pablo Rojas Capa e projeto gráfico: Equipe SAGAH Imagem da capa: Shutterstock Editoração: Kaka Silocchi Reservados todos os direitos de publicação à SAGAH EDUCAÇÃO S.A., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 - Porto Alegre, RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da empresa. 40 INTRODUÇÃO A contabilidade tributária é o ramo que estuda a teoria e as aplica pela prática dos princípios e normas da legislação tributária, visando sempre pelo gerenciamento das apurações dos tributos incidentes sobre as diversas atividades de diversos segmentos de empresa, e também as auxiliando nas gerações de diversas obrigações acessórias que o governo às impõe, para que não sejam passíveis de sofrerem sanções e penalidades fiscais. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final desta unidade você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Compreender adequadamente o instituto e estudo da contabilidade voltada a área tributária; • Entender como funciona um planejamento tributário, obedecendo os preceitos e normas tributárias, sempre também obedecendo os postulados contábeis; • Entender os mecanismos que levam ao motivo de que é necessário gerenciamento nos resultados contábeis para área tributária, pois estes darão as medidas para uma saúde financeira tributária para as empresas. O QUE A CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA EXERCE COMO ATIVIDADE? Umas das primordiais funções e atividades da contabilidade tributária são: • Escrituração dos documentos fiscais, através das Notas Fiscais que hoje são praticamente todas eletrônicas, independente dos estados (Nota Fiscais de Venda) ou dos municípios (Notas Fiscais de Serviços Prestados), que serão transcritos em livros fiscais, para que se possa determinar o montante devido de tributos que a empresa terá de recolher dentro do prazo, geralmente sempre um mês após a competência da nota fiscal (emissão da NF). • Exatidão na base de cálculo ou resultado tributável, no lucro de um determinado período fiscal, a até mesmo obtenção de um possível prejuízo, que na frente se devidamente registrado e controlado (através 41 da contabilidade) irá gerar um benefício fiscal para a empresa, como poder abater um percentual do valor de prejuízos de anos anteriores do lucro tributável do exercício para fins de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Jurídica, diminuindo assim seu imposto a recolher. Nesse âmbito, paremos para refletir o quão importante se torna o papel da contabilidade, pois sem ela, não teríamos condições e ferramentas para controlar corretamente o uso do prejuízo fiscal para obter essa vantagem de deduzir o devido valor de um determinado tributo. Se a empresa não tiver um rígido controle, certamente estará pagando mais tributos do que deveria somente nesse único detalhe. • Contabilização das provisões dos tributos, em obediências ao princípio (contábil) da competência, pois alguns dos tributos tem em suas apurações períodos trimestrais e até mesmo anuais, e como a contabilidade é um sistema responsável por prestar informações, é seu dever também provisionar os devidos valores dos tributos, para que a empresa possa organizar seu fluxo de caixa para o devido pagamento quando chegar a data. • Embasamento e orientação fiscal para as empresas que possuem filiais, controladas, coligadas e de demais grupos. Estas orientações são de vital importância, pois a localização da empresa, pode mudar sua carga tributária, dependendo do municípios onde o ISS (imposto sobre serviço) tem uma alíquota reduzida, ou até mesmo em outro estado, onde o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) poderá ter sua alíquota também reduzida, ou algum outro benefício fiscal relacionado. • Emissão e gerenciamentode guias de tributos para o departamento de contas a pagar, o acompanhamento do pagamento destes, para que a empresa não venha futuramente a receber comunicados de penhoras de bens por falta de pagamento de tributos. CONTABILIDADE - METODOLOGIA Para que possamos entender a contabilidade voltada a área tributária, primeiramente se faz necessário um estudo prévio da metodologia contábil. A contabilidade é a ciência que visa a interpretar, compreender e aplicar os fatos empresariais e assim gerar informações para que gestores e administradores de seus negócios possam ter diretrizes e saber quais rumos tomarem, ou seja 42 é um indicador de tomadas de decisões e até mesmo de soluções. A contabilidade tem um dos seus pilares fundamentais na teoria chamada “método das partidas dobradas”, consiste em um sistema padronizado e utilizado por empresas e demais entidades para registrar transações financeiras. Esse método consiste em controlar e registrar as origens e as aplicações de recursos, onde para cada transação à no mínimo duas contas a serem contabilizadas, uma a débito e outra a crédito em igual valor para ambas as contas. Método das partidas dobradas: Foi escrito e desenvolvido por Luca Pacioli em seu livro chamado “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità em 1494”. DICA DÉBITO – É o lançamento contábil que identifica para quais contas foram os recursos, “as aplicações derivadas das origens dos recursos” (toda entrada de recurso debita-se em determinada conta). CRÉDITO – É o lançamento contábil que identifica a origem ou a procedência dos recursos (toda saída de recursos, seja ele financeiros ou patrimonial, credita-se determinada conta). PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Diante de um sistema tributário complexo, burocrático, e aliado a isso a alta carga tributária, chegando em média a 37% do PIB (Produto Interno Bruto), as empresas necessitam como forma de gestão, de um planejamento no momento de se pagar um determinado tributo. No entanto na seara tributária o planejamento é considerado por vezes 43 ilícito, devido ao fisco se manifestar na posição de que o contribuinte que visa diminuir os seus tributos em seus planejamentos, já o visa na intenção. O planejamento tributário consiste em organizar as operações mercadológicas da empresa, através de ferramenta e mecanismos de forma estrutural e jurídica, capaz de antever e até mesmo evitar a hipótese de incidência tributária, ou podendo modificá-la através da materialidade ou de lapso temporal, fazendo com que tal medida de hipótese de incidência venha a ser mais benéfica em tempos propícios. Esta medida trata de um comportamento técnico formal, como explícita Humberto Bonavides, que visa a reduzir, adiar ou até mesmo excluir os respectivos encargos tributários. Vemos então que o planejamento tributário, consistem em estudar determinadas alternativas lícitas tributárias, para que a empresa possa se precaver, postergar e até mesmo diminuir seus tributos, antes da ocorrência do fato gerador. No entanto, o fisco não analisa desta maneira o planejamento tributário, dizendo que isto se faria por meio de ato ilícito, através da sonegação fiscal. A respeito disso vou tratar de dois pilares de diferenciação de planejamento tributário lícito (elisão fiscal) e o ilícito (evasão fiscal). ELISÃO FISCAL Elisão fiscal é um ato formal e jurídico, totalmente lícito, para que o contribuinte possa reduzir a carga tributária, através de um ato para antever o fato gerador, podendo ser feito através da própria legislação, e também de lacunas na legislação. Planejamento tributário feito através da própria legislação: São benefícios fiscais concedidos (mediante lei), a determinados ramos de atividades empresariais, que possibilita a empresa optar por essa ou outra escolha que visa a reduzir sua carga tributária, em prol de um ato vinculado. Cito um exemplo do benefício fiscal concedido sobre os Juros sobre o Capital Próprio (JCP), em que o governo permite as empresas remunerarem seus sócios através desta sistemática, ao invés de distribuir “dividendos”. Ao optar 44 pela remuneração de seus sócios / investidores através dos JCP, a empresa pode computar este pagamento como despesa do próprio exercício, e deduzi- la do lucro para fins de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Jurídica. “Lei nº 9.249 de 26 de dezembro de 1995 – artigo 9º: A pessoa jurídica poderá deduzir para efeitos de apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados a variação pro rata dia da Taxa de Juros a Longo Prazo – TJLP”. Esta é uma das formas lícita onde podemos planejar qual a melhor maneira de se obter uma carga tributária menos elevada, e dentro da lei. Planejamento tributário realizado através de lacunas na legislação fiscal: São interpretações na legislação tributária ao qual visam a beneficiar o contribuinte, devido a lei estar obscura ou má redigida, pois quem faz a lei não tem a mesma visão de quem as aplica. Cito o exemplo do início, término, interrupção e demais aspectos de contagens do prazo prescricional e decadencial, sendo deles surtidos os efeitos a partir da constituição federal delegando a matéria para ser tratada em lei complementar, que por sua vez não a tratou como deveria, sendo objeto de soluções de consultas, pareceres normativos, e também de doutrinas e jurisprudências, fazendo com que os contribuintes optem pela melhor interpretação. Vemos então, para que não se tenha uma interpretação divergente daquela dada pelo fisco, tem o legislador que ser preciso em sua redação legislativa, caso não o tenha, não pode o contribuinte ser julgado como sonegador de imposto por interpretar de maneira diversa. Esse é um ponto importantíssimo que irá nos precaver de sofrer sanções fiscais. EVASÃO FISCAL É o ato ou ação ilícita de se evitar, protelar, reduzir determinado tributo após a ocorrência do fato gerador. O conceito de “evasão fiscal” não está disciplinado em lei, porem o seu teor 45 está contido na lei nº 8.137/1990 – Lei de crime contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, em seu artigo 1ª que diz, constitui crime contra a ordem tributária (...) I - Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - Falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V - Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação. Vemos então que o conceito de evasão está sem dúvida totalmente equivocado com a interpretação de planejamento tributário. REFERÊNCIAS BORGES, H.B. Gerencia de impostos: IPI, ICMS e ISS. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 55. ROCHA, V. de O. (coord.). O planejamento tributário e a lei complementar 104. 1ª reimp. São Paulo: Dialética, 2002. p. 15. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR O planejamento tributário é uma ferramenta que permite a empresa antever a incidência tributária. É um mecanismo indispensável para a realização de uma gestão tributária eficaz. Você sabe como implementar na prática o planejamento tributário? Neste vídeo você verá algumas dicas para realizar esse planejamento. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual dos itens não podeser considerado uma das principais atividades da contabilidade tributária? A) Contabilização de provisões de tributos. B) Pagamento de guias de tributos. C) Orientações tributárias para as filiais e as coligadas da empresa. D) Transcrição em livros fiscais de informações das notas fiscais. E) Apuração correta na base de cálculo ou de resultado tributável. 2) Sobre metodologia contábil e planejamento tributário, assinale a alternativa correta. A) O planejamento tributário é considerado lícito pelo fisco. B) O método das partidas dobradas é um sistema que deve ser personalizado a cada organização devido a particularidades de cada uma. C) De modo lícito não é possível evitar a hipótese de incidência tributária. D) O planejamento tributário permite que as empresas possam reduzir seus tributos após a ocorrência do fato gerador. E) O objetivo principal do método das partidas dobradas é o registro das origens e das aplicações de recursos. 3) A respeito de evasão fiscal, marque a alternativa correta: A) A evasão fiscal é uma ferramenta encontrada pelas empresas para obter vantagens fiscais antes da ocorrência do fato gerador. B) O fornecimento de documentação inexata ao fisco não pode ser considerado ato de evasão fiscal. C) O seu conceito está disciplinado na Lei n.o 8.137/1990. D) A Lei n.o 8.137/1990 não trata da falsificação de notas fiscais. E) Quando a empresa se nega a fornecer informações ao fisco pode estar cometendo o crime de evasão fiscal. 4) Entre as alternativas, assinale a que não pode ser considerada como um facilitador para a realização do planejamento tributário em uma organização: A) Realizar uma análise considerando não apenas a relação custo-benefício, como também o levantamento de riscos. B) Obter da contabilidade informações e relatórios fidedignos sobre a realidade da empresa. C) Desenvolver um diagnóstico fiscal considerando como foco a empresa, mesmo que faça parte de um grupo de organizações. D) Realizar simulações considerando três cenários: pessimista, otimista e conservador. E) Possuir na empresa uma equipe de profissionais com diversas formações e conhecimentos na área tributária e fiscal. 5) Em relação ao tema elisão fiscal, assinale a assertiva incorreta: A) Uma das diferenças entre elisão fiscal e evasão fiscal reside no fato de que a primeira é um ato lícito, e a segunda, ilícito. B) A elisão fiscal pode ser considerada sinônimo de planejamento tributário. C) A elisão fiscal só pode ser realizada com base no que consta na legislação. D) Um exemplo de elisão fiscal é o benefício fiscal concedido sobre os juros sobre o capital próprio. E) Há situações de interpretações divergentes entre o fisco e o legislador. NA PRÁTICA Como já mencionado, o planejamento tributário permite uma economia à empresa. Buscando compreender na prática essa realidade, segue o exemplo. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Planejamento tributário pode reduzir tributos das empresas Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O preço da sonegação Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar