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Manuela Gonzaga 
 
 
 
 
 
 
Aspectos da Sintaxe Do Advérbio Em Português 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado em Linguística Portuguesa 
Descritiva, orientada pela Professora Doutora Manuela Ambar, 
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 
 
 
 
Lisboa 
1997 
 
Agradecimentos 
 
 À Prof ª Manuela Ambar, minha orientadora, agradeço o acompanhamento 
atento durante o período de elaboração desta tese. Agradeço-lhe a coragem que sempre 
me transmitiu e todo o entusiasmo contagiante pela sintaxe. Um agradecimento muito 
particular por todas as discussões, ideias e críticas que tanto contribuiram para a 
realização este trabalho. 
 Agradeço ao Professor Malaca Casteleiro pois foi nos seus seminários que me 
comecei a interessar pelos advérbios. 
 À Prof ª Inês Duarte agradeço as primeiras aulas de sintaxe e semântica da 
licenciatura em Linguística porque foi com ela que comecei a gostar de sintaxe. 
 Agradeço também à Drª Elisa de Macedo a compreensão que sempre 
demonstrou permitindo que alterasse o meu ritmo de trabalho no Centro de Linguística, 
muito particularmente no período final deste trabalho. Também à Inês pela troca de 
ideias e pela ajuda com alguns juízos de gramaticalidade. 
 À minha amiga Regina Falcão tenho que agradecer a amizade e o carinho. 
 Finalmente, agradeço a todos os meus familiares e amigos que sofreram directa 
ou indirectamente com a elaboração desta tese, muito particularmente aos meus pais e 
ao meu irmão Nuno que nos últimos momentos sempre me apoiaram e encorajaram. 
 Obrigado a todos ! 
Índice 5 
1. Introdução 7 
2. O advérbio na tradição gramatical portuguesa 9 
2.1. Gramática da Língua Portuguesa de João de Barros 9 
2.2. Grammática Philosophica de Jeronymo Soares Barbosa 11 
2.3. Gramática Histórica da Língua Portuguesa de Said Ali 13 
2.4. Syntaxe Historica Portuguesa de Epiphânio da Silva Dias 15 
2.5. Nova Gramática do Português Contemporâneo de Cunha e Cintra 19 
2.6. Conclusões 24 
3. Diferentes perspectivas 29 
3.1. Jackendoff (1972): As posíções típicas dos advérbios 
de VP e dos advérbios de frase. 29 
3.2. Casteleiro (1982): “Análise gramatical dos advérbios de 
frase” 39 
3.3. Pollock (1989): A divisão de Infl(ection) em Agr(eement) e 
T(ense) 42 
3.4. Ambar (1989): Subida do verbo, posição do sujeito e dos 
advérbios 47 
3.5. Belletti (1990): A subida do verbo em italiano 52 
3.6. Cinque (1993): Uma hierarquia dos advérbios e respectivas 
posições funcionais 65 
3.7. Laenzlinger (1993): O Critério-Adv e o modelo X’ com duas 
posições de Spec 69 
3.8. Costa (1996): Posição dos advérbios ambíguos 79 
3.9. Conclusões 83 
4. O advérbio em português 85 
4.1. Propriedades fundamentais de diferentes classes de advérbios 85 
4.1.1. Advérbios que podem ocupar as três posições com 
alteração de significado 86 
4.1.2. Advérbios que podem ocupar as três posições sem 
mudança de significado 98 
4.1.3. Advérbios que só podem ocorrer em posição inicial e 
de auxiliar 105 
4.1.4. Advérbios que só podem ocupar a posição de auxiliar e 
posição final 107 
4.1.5. Advérbios que só podem ocorrer em posição final 114 
4.1.6. Advérbios que só podem ocorrer em posição de auxiliar 120 
4.2. O tratamento dos dados 121 
4.2.1. O posicionamento teórico 121 
4.2.2. Generalizações e análise 125 
5. Outros advérbios - Sempre 153 
5.1. Ordem e interpretação em alguns advérbios (sempre, ainda, já, 
logo ...) 153 
5.2. Sempre 160 
5.2.1. Sempre e tempo 170 
5.2.2. Sempre e ordem 181 
5.2.3. Sempre e clíticos 190 
5.2.4. Sempre e negação 200 
6. Conclusão 209 
Bibliografia 213 
 
1. Introdução 
 
 Apesar do constante avanço das teorias gramaticais, o advérbio é uma 
categoria que continua a constituir um desafio dado o grande número de 
comportamentos e de dados por descrever. Neste sentido surge a necessidade de 
reflectir um pouco sobre tais comportamentos e de encontrar pistas que 
contribuam para uma análise exaustiva do advérbio. 
 
 Neste espírito são basicamente três os objectivos deste trabalho: 
1. em primeiro lugar analisar criticamente alguma da literatura sobre este 
assunto não só com o objectivo de fazer um ponto da situação, mas também 
para reunir dados e ideias sobre os advérbios em diferentes momentos e em 
diferentes línguas; 
2. em segundo lugar apresentar de modo sistemático e tanto quanto possível 
exaustivo os diferentes tipos de advérbios considerando as propriedades 
sintácticas e semânticas particulares de cada tipo e a relação que mantêm com 
os restantes elementos da frase; 
3. num terceiro momento procurar um tratamento abrangente e unificado 
recorrendo aos trabalhos de Laka (1990), Chomsky (1993), Zanuttini (1994) e 
Ambar (1996). Analisaremos a hipótese de considerar a projecção ∑P, 
proposta por Laka, para explicar o comportamento dos advérbios, aliando 
aquela proposta à perspectiva minimalista de Chomsky (1993) e (1995). 
Além disso, consideraremos a proposta sobre a negação de Zanuttini e a 
proposta de Ambar sobre o tempo objecto. 
 7
4. finalmente, depois de desenvolvida uma análise para os advérbios em -mente, 
analisaremos o caso de sempre que esperamos venha comprovar as propostas 
feitas. 
 
 Organizaremos este trabalho em seis capítulos. O primeiro capítulo consta 
desta breve introdução sobre o tema a desenvolver. Num segundo capítulo 
apresentaremos um estudo crítico sobre a análise dos advérbios que os gramáticos 
tradicionais apresentam com vista à clarificação dos pontos a ter em consideração. 
O terceiro capítulo apresentará, na linha do anterior, uma discussão sobre a 
literatura mais recente feita no âmbito da teoria generativa e que referirá trabalhos 
de início dos anos setenta até aos mais recentes dos anos noventa. No quarto 
capítulo começaremos a análise dos advérbios à luz das propostas existentes, 
nomeadamente, com base no trabalho de Jackendoff (1972), para concluirmos 
com uma proposta diferente de tratamento da classe dos advérbios. O quinto 
capítulo consistirá na aplicação da nova proposta à análise do advérbio sempre, 
tratando de forma sistemática diferentes aspectos gramaticais do comportamento 
daquele advérbio para os quais concorrem outros fenómenos gramaticais, também 
aqui analisados - determinação, propriedades sintáctico-semânticas dos verbos, 
tempo (morfológico) e aspecto, ordem, negação. Finalmente o capítulo sexto 
terminará este trabalho, reunindo as principais conclusões e ideias. 
 8
2. O advérbio na tradição gramatical portuguesa 
 
 No contexto de uma nova proposta de análise dos advérbios, impunha-se a 
análise dos tratamentos dados ao advérbio em algumas gramáticas tradicionais. 
 Esta análise reveste-se de uma extrema importância não só porque nos 
permite recolher pistas fulcrais para uma diferente perspectiva de análise desta 
categoria, mas também porque nos permite entender a posição de cada um dos 
gramáticos consultados relativamente à classificação dos advérbios no âmbito da 
gramática. 
 As análises ou descrições do comportamento do advérbio nas gramáticas 
tradicionais são, regra geral, muito breves e pouco esclarecedoras relativamente às 
várias questões que se levantam na linguística actual. Contudo, foi nosso 
objectivo seleccionar diferentes períodos de análise gramatical por daí advirem 
diferentes conceptualizações do conceito de língua e, consequentemente, 
diferentes interpretações da função e significado atribuídos à categoria advérbio. 
 
2.1. Gramática da Língua Portuguesa de João de Barros 
 
 Uma das primeiras observações das gramáticas tradicionais relativamente 
ao advérbio diz respeito à sua própria definição. Consideram-no estas gramáticas, 
nageneralidade, modificador do verbo por aparecer frequentemente próximo 
deste, sendo a etimologia da palavra advérbio um reflexo deste comportamento: 
ad verbum. Assim, referindo a caracterização do advérbio, João de Barros afirma: 
 
 9
“Avérbio é ua das nóve partes da òraçám que sempre anda 
conjunta e coseita com o vérbo e daqui tomou o nome, porque ad 
quér dizer çerca e, composto com verbum, fica adverbium que quér 
dizer àçerca do vérbo.” (João de Barros: p.345) 
 
 Outro ponto importante na análise dos advérbios, também referido em 
João de Barros, diz respeito à função do advérbio na oração: 
 
“Foi por ésta párte mui neçessária, ca per éla se denóta a eficáçia 
ou remissám do verbo, porque, quando digo: Eu amo a verdáde, 
demóstro que simplesmente fáço a óbra de amár; mas dizendo: Eu 
amo muito a verdade, p[er] este advérbio muito, denóto a cantidáde 
do amor que tenho à cousa; e se dissér: Amo pouco a verdáde, com 
este pouco se diminuie o muito de çima; e: Nam amo a verdáde, 
desfáço toda a óbra de amár.” (idem) 
 
 A grande importância atribuída ao advérbio na significação do verbo 
traduz-se, no exemplo do autor, na quantificação do verbo dada por advérbios 
como muito e pouco e na sua relação com o complemento. Esta caracterização 
mostra-nos o poder do advérbio quanto à avaliação quantitativa e/ou qualitativa 
do estado de coisas dado pelo verbo e seus complementos: 
 
“Assi que tem o avérbio este poder: acresçenta, deminuie e 
totalmente destruie a óbra do vérbo a que se junta, e ele é ô que dá 
 10
aos vérbos cantidáde ou calidáde açidental ...” (idem) 
 
 Mas a observação do comportamento dos advérbios suscita outras 
questões que este autor não refere. Um exemplo consiste nas restrições que se 
estabelecem entre o verbo, o seu complemento e o advérbio. Com efeito, o 
exemplo do autor não resultaria se, em vez de pouco ou muito, tivesse escolhido 
um advérbio como imediatamente ou ontem porque a caracterização ou o 
conjunto de propriedades semânticas de qualquer um destes advérbios não é 
partilhado pelo verbo (e sua flexão) e pelo complemento deste. 
 Uma outra questão diz respeito à posição que o advérbio ocupa 
efectivamente no exemplo dado e as que poderá ocupar noutros contextos. Assim, 
podemos, por exemplo, na forma exclamativa aceitar 
 
Muito eu amo a verdade! 
 
ou reforçar a extensão do amor pela verdade com o advérbio no fim da frase: 
 
Eu amo a verdade muito! 
 
 
2.2. Grammatica Philosophica de Jeronymo Soares Barbosa 
 
 A distinção entre gramática particular (própria de uma língua particular) e 
gramática geral (“usos e factos de todos ou da maior parte dos idiomas 
conhecidos” (Barbosa: p.xi)) feita por Jeronymo Soares Barbosa no início do 
 11
século XIX conduz-nos à expectativa de uma análise mais inovadora do advérbio. 
 E, com efeito, a perspectiva que este gramático tem do advérbio 
caracteriza-se por uma tomada de posição diferente das restantes análises 
tradicionais ao romper com a aproximação (também ela etimológica) entre verbo 
e advérbio como registada em João de Barros. A sua originalidade consiste em 
interpretar “verbum” não só como a categoria gramatical verbo, mas também 
como toda e qualquer palavra passível de ser modificada. 
 
“O adverbio, pois, não modifica só os verbos, como querem os 
grammaticos, mas qualquer palavra susceptível de determinação 
(...). A etymologia da palavra adverbio, como quem diz adjunto ao 
verbo, não se deve entender do verbo como uma das seis partes 
elementares da oração, mas de qualquer palavras capaz da 
modificação; que isto significa o nome latino verbum em toda a sua 
extensão.” (Barbosa: p.235) 
 
 Outro aspecto inovador nesta análise diz respeito à distinção clara entre 
função adverbial e natureza categorial dos advérbios. Assim, embora aceite e 
reconheça a existência de outros elementos que exercem funções adverbiais, 
nomeadamente os nomes adverbiados e as expressões adverbiais, este gramático 
caracteriza e define os advérbios como sendo indeclináveis e constituídos por uma 
só palavra. 
 
“O adverbio é uma reducção da preposição com seu complemento 
em uma só palavra, e essa invariável, e sem outro uso na língua. 
 12
(...) É uma palavra indeclinável e invariável em genero e numero, e 
além disto não tem outro emprego em nossa língua afóra este.” 
(idem) 
 
 Devemos notar que do conjunto dos nomes adverbiados que o autor 
considera muitos são classificados como advérbios nas gramáticas 
contemporâneas. As referidas expressões adverbiais são classificadas, nestas 
últimas gramáticas, como locuções adverbiais, por exercerem função adverbial. 
No entanto, morfologicamente as mesmas expressões podem ser consideradas 
locuções prepositivas visto serem formadas pela preposição e seu complemento. 
 
 
2.3. Gramatica Histórica da Língua Portugueza de M. Said Ali 
 
 Numa perspectiva ou num contexto menos inovador e filosófico, a 
gramática histórica de Said Ali mantém uma linha de análise do advérbio bastante 
tradicional. Considerando o advérbio como um “vocabulo determinativo do verbo, 
do adjectivo ou de outro advérbio” (Said Ali: p.208) por lhes acrescentar “ o 
conceito de tempo, lugar, modo etc.”(idem), este autor restringe mais a definição 
de advérbio, não o considerando, tal como J.S. Barbosa (Barbosa: p.235) 
modificador de “qualquer palavra susceptível de determinação”. 
 A descrição de Said Ali é mais tradicional na medida em que assenta 
principalmente numa descrição morfológica e histórica de alguns advérbios, bem 
como na classificação de significado dos advérbios em oito classes, algumas já 
anteriormente consideradas. 
 13
 
“Dividem-se os advérbios segundo a sua significação em advérbios 
de tempo, de lugar, de modo, de negação, affirmação, de duvida, de 
quantidade, de ordem. Muitos dentre eles exprimem condições e 
circumstancias capazes de augmento ou diminuição.” (Said Ali: 
p.209) 
 
 Apesar do carácter tradicional da descrição apresentada para a categoria 
em estudo, a gramática de Said Ali é interessante em diferentes aspectos. Um 
exemplo é-nos dado pela motivação histórica que refere para a ocorrência em 
posição final de algumas conjunções que em momentos anteriores da história do 
português foram advérbios. 
 
“A origem adverbial de porem dá a razão da possibilidade de 
collocar-se esta palavra no meio e, até, no fim da oração, lugar 
improprio das conjunções” (Said Ali: p. 214). 
 
 Relativamente à negação é interessante também a distinção de 
interpretação da negação dupla em diferentes camadas sociais. Assim, e de acordo 
com este autor, a negação dupla era entendida como um reforço da negação pelo 
povo. Pelo contrário, para as pessoas mais instruídas “negar o negado equivale a 
afirmar” excepto se o novo termo negativo não anteceder não. 
 
“Quanto à presença, dentro da mesma oração de outros termos 
negativos alem da palavra não, é facil de ver que não anda o 
 14
raciocinio dos homens cultos bem emparelhado com o sentimento 
popular. Para o povo, o acumulo de negativas indica reforço. 
Entende a gente de letras, pelo contrario, que negar o negado 
equivale a afirmar; mas abre excepção (...) desde que o novo termo 
negativo não anteceda o adverbio não.” (Said Ali: p. 228) 
 
2.4. Syntaxe Historica de Epiphânio da Silva Dias 
 
 Esta gramática é talvez a menos abrangente no contexto de todas as 
gramáticas analisadas. 
 Dividindo o capítulo V, da primeira parte da gramática, dedicado ao 
advérbio, em duas secções, E.S. Dias considera, por um lado, os advérbios que se 
usam na gradação de adjectivos e de advérbios e, por outro lado, as 
particularidades que alguns advérbios registam em português. 
 Relativamente aos advérbios que se usam na gradação, o autor distingue, 
por um lado, os do comparativo e, por outro lado, os do superlativo. 
 O advérbio que se usa na formação do comparativo de superioridade, 
comorefere, é o advérbio mais, embora no caso de alguns advérbios existam 
formas próprias. 
 
“De comparativo (de superioridade) de grande serve maior; de 
bom e de bem, melhor; de pequeno, menor ( a par de mais 
pequeno); de máo e de mal, pior” (Silva Dias, p. 169) 
“De comparativo (de superioridade)de muito (adjectivo e advérbio) 
serve mais; de pouco (adjectivo e advérbio), menos. (idem, p. 170). 
 15
 
 Relativamente ao comparativo de inferioridade e de igualdade, o autor 
aponta, apenas, a formação do primeiro com o advérbio menos e do segundo com 
os advérbios tão e tanto. 
 
“§ 226. O comparativo de inferioridade do adjectivo e do advérbio 
forma-se com o advérbio menos: 
menos prudente, menos prudentemente. 
§ 227. O comparativo de igualdade do adjectivo e do advérbio 
forma-se com o advérbio tão (tanto, quando o adjectivo ou o 
advérbio estiverem ocultos): tão prudente, tão prudentemente.” 
(idem, p. 170) 
 
 Também relativamente ao segundo membro da comparação o autor 
distingue, por um lado, o comparativo de superioridade e de inferioridade usando 
que ou do que, e, por outro lado, o comparativo de igualdade usando como. 
 
Ҥ 228. a) Com os comparativos de superioridade e de 
inferioridade, o segundo termo de comparação é designado por 
que ou do que:” 
“papel e tinta tem morto mais homens em o mundo que ferro e aço 
(Barros, Ropica, 250, 251).” 
“b) Com os comparativos de igualdade o segundo termo de 
comparação é designado por como: 
 16
Huma mulher tão ornada nos vestidos como desordenada na vida 
(Vieira, XI, 209).” (idem, p.170, 171) 
 
 No que respeita à formação do grau superlativo, a breve descrição do autor 
destaca, em primeiro lugar, a formação do superlativo perifrástico (ou analítico) 
do adjectivo e advérbio através de muito; em segundo lugar, a formação de 
superlativo para os comparativos de superioridade e de inferioridade através dos 
advérbios mais e menos, respectivamente, precedidos de artigo definido. 
 
“O simples superlativo periphrastico do adjectivo e do adverbio 
forma-se com o adverbio muito ou mui: muito prudente, muito 
prudentemente. 
Como superlativo de muito, só se emprega muitissimo” 
 
 A segunda parte deste capítulo sobre o advérbio refere, como indicámos 
atrás, algumas particularidades de um grupo de advérbios. 
 Assim, o autor observa que os advérbios portadores do sufixo -mente, 
quando coordenados, só exibem aquele sufixo no último advérbio coordenado, à 
excepção de casos de ênfase onde todos o poderão receber. 
 
“curados mimosa e não radicalmente (Vieira, XI, 260). tirou a 
consequencia tão discreta como verdadeiramente (Id., XI, 250).” 
(idem, p.174) 
 
 17
 Além do caso dos advérbios sufixados em -mente, os advérbios de tempo e 
de lugar também são considerados como possuindo algumas particularidades, 
nomeadamente o seu emprego substantivo quando são precedidos das preposições 
de, desde, para, por, até. 
 A dimensão e o conteúdo que o capítulo do advérbio apresenta permitem-
nos chegar a uma conclusão: o advérbio não é aqui considerado uma das nove 
partes da oração, à semelhança de outros autores já referidos, mas apenas um 
elemento gramatical com a função de indicar o grau. É evidente nesse capítulo a 
ausência de um apontamento sobre outros advérbios ou tipos de advérbios que 
não os de grau. 
 Verificámos também o recurso a advérbios, nomeadamente de tempo, para 
exemplificar o uso dos vários tempos (na secção I da 2ª parte da sua obra) ou para 
apontar nuances típicas da língua, sem que a sua função seja, de algum modo, 
destacada. 
 
“Em segundo lugar, designa-se com o presente: (...) 
2) o que se repete e costuma acontecer (presente iterativo): Elle 
janta habitualmente às 5 horas.” (Silva Dias, p. 184) 
 
“b) Em segundo lugar, emprega-se, quando noticiamos o que no 
momento em que fallamos é facto consumado (preterito absoluto) 
(...) 
Obs. 1ª Quando a enunciação de um facto que se deu, se quer 
apresentar como simples negação de elle ainda não se ter dado, a 
lingoa portuguesa, se o contexto não deixa ver claramente a 
 18
intenção de quem falla, ajunta o adverbio já ao pret. definido (ao 
passo que outras lingoas, nomeadamente a inglesa, empregam o 
pret. definido): Já foi a Sintra? (= já esteve em Sintra?) (em inglês: 
Have you been at Sintra?). (idem, p.189) 
 
2.5. Nova Gramática do Português Contemporâneo de Cunha & 
Cintra 
 
 Esta gramática traduz em alguns aspectos uma perspectiva linguística 
distinta das obras anteriormente referidas. 
 Se em Jeronymo Soares Barboza se procura mostrar como a língua(gem) é 
o espelho da mente e vontade humanas, se em Said Ali e Silva Dias o percurso 
histórico da língua é apresentado para justificar a descrição dessa língua em 
momentos ou épocas precisas, a gramática de Cunha & Cintra constitui um 
terceiro grupo cujo objectivo primeiro é fornecer ao ensino do português um 
instrumento de trabalho baseado principalmente no conceito de correcção. 
 
“Esta Gramática (...) Sentímo-la como uma urgente necessidade 
para o ensino da língua portuguesa” 
“Parecia-nos faltar uma descrição do português contemporâneo que 
levasse em conta, simultaneamente, as diversas normas vigentes 
dentro do seu vasto domínio geográfico (...) e fosse, assim, fonte de 
informação, tanto quanto possível completa e actualizada, sobre 
elas; serviria simultaneamente de guia orientador de uma expressão 
oral e escrita que (...) se pudesse considerar «correcta» de acordo 
 19
com o conceito de correcção que adoptamos” (Cunha e Cintra p. 
XIII) 
 
 O capítulo 14 dedicado ao advérbio, traduz a perspectiva descritiva e 
prescritiva em que os autores pretendem inscrever o seu trabalho. Aí o advérbio é 
classificado como preferencial modificador do verbo, podendo alguns advérbios 
(nomeadamente os de intensidade) reforçar adjectivos ou advérbios, e outros 
ainda reforçar a oração. 
 
“I. O ADVÉRBIO é, fundamentalmente, um modificador do verbo: 
 Logo depois, recomeçara a chover. 
 Você compreendeu-me mal. 
 O almoço decorria agora lentamente. 
2. A essa função básica, geral, certos advérbios acrescentam outras 
que lhe são privativas. 
 Assim, os chamados ADVÉRBIOS DE INTENSIDADE e 
formas semanticamente correlatas podem reforçar o sentido de : 
 a) de um adjectivo; 
 b) de um advérbio. 
3. Saliente-se ainda que alguns advérbios aparecem, não raro, 
modificando toda a oração: 
 Infelizmente, nem o médico lhes podia valer. 
 Possivelmente, não haverá ceia este ano. 
 20
Neste último emprego, vêm geralmente destacados no início ou no 
fim da oração, de cujos termos se separam por uma pausa nítida, 
marcada na escrita por uma vírgula.” (idem, pp. 537, 538) 
 
 A classificação dos advérbios que os autores propõem tem na base uma 
perspectiva semântica. Distinguem dez subclasses: afirmação, dúvida, 
intensidade, lugar, modo, negação, tempo, ordem, exclusão, designação. 
 A esta classificação semântica, não presidem critérios de análise 
explícitos. Igualmente não são tidos em consideração dados linguísticos 
suficientes que fundamentem a proposta. Pode, por isso, questionar-se por 
exemplo a razão de ser de advérbios como certamente e efectivamente serem 
considerados de afirmação e quais as circunstâncias em que também podem ser 
advérbios de modo dado que a classificação apresentada aí inclui “quase todos os 
terminados em -mente.” 
 Definindo locução adverbial como “o conjunto de duas ou mais palavras 
que funcionam como advérbio”, os autores dividem-nas também em classes 
semânticas de afirmação, (ou dúvida), intensidade, lugar, modo, negação e tempo. 
 A colocação dos advérbios na frase não se inspira nem reflecte 
directamente a divisão semântica que apresentam. 
 Considerando a sua colocação na frase distinguem das restantes classes os 
advérbios que modificam adjectivos, particípios passados ou outros advérbios, os 
quais normalmente ocorrem antes dascategorias que modificam. 
 
 21
“Invejei o noivo, tão alegre, tão amável, a grossa gargalhada a 
irromper a cada instante. 
Muito apressado, num visível nervosismo, veio de casa até ali. 
- O teu pai está muito mal.” (Cunha e Cintra, p. 541) 
 
 Os modificadores do verbo subdividem-se em três grupos: 
(i) em primeiro lugar, os advérbios que geralmente ocorrem depois do verbo: 
 
“A mãe e a irmã choravam tristemente ... 
Ela ouvia-o atentamente. 
Quatro jovens vestidas de panos escuros entram vagarosamente no 
local vindas dos lados dos espectadores.” (idem, p. 542) 
 
(ii) em segundo lugar, os advérbios de tempo e de lugar que, sendo mais livres, 
podem colocar-se antes ou depois do verbo: 
 
“De manhã, acordei cedo. 
Hei-de atirar com esse tipo de cá para fora.” (Idem, p.542) 
 
(iii) finalmente, o advérbio de negação, que ocorre, em português, à esquerda do 
verbo. 
 Se não se nos afigura pertinente descrever aqui exaustivamente o conteúdo 
do capítulo dedicado ao advérbio na obra referida - que inclui a descrição do 
comportamento dos advérbios nos seus diferentes graus, ou de alguns 
 22
comportamentos particulares de certos advérbios - parece-nos porém oportuno 
referir algumas questões que se levantam em resultado da análise ou da descrição 
que este autores apresentam do advérbio. 
 Como referímos já, a análise da colocação dos advérbios não pretende 
estabelecer uma relação com a classificação semântica apresentada. Assim, e dada 
essa análise, podemos por exemplo perguntar: 
(i) se muito se coloca antes do adjectivo quando com ele co-ocorre, onde se 
coloca quando co-ocorre com o verbo? 
(ii) qual a posição dos advérbios de dúvida? 
 Além disso, no caso específico dos advérbios de tempo e de lugar, a 
descrição apontada pelos autores não é explícita em relação aos casos em que o 
advérbio ocorre antes e depois do verbo, bem como não indica se essa alternância 
de posição é livre e se resulta numa alteração semântica. 
 Considerando um exemplo referido pelos autores: 
(1) “Aqui outrora retumbaram hinos.” 
onde ocorre um advérbio de lugar (aqui) e um de tempo (outrora), nada é dito 
relativamente à possibilidade de os referidos advérbios ocuparem distintas 
posições sem que daí advenham alterações relevantes de significado: 
 
(2) a. Aqui retumbaram outrora hinos. 
 b. Aqui retumbaram hinos outrora. 
 c. Outrora retumbaram aqui hinos. 
 d. Outrora retumbaram hinos aqui. 
 
 23
Do mesmo modo, também nada é dito relativamente à posição preferencial que 
alguns advérbios de tempo exibem. Cedo, nomeadamente, é um dos advérbios de 
tempo que dificilmente pode ocorrer antes do verbo: 
 
(3) a. “De manhã, acordei cedo” 
 b. Hoje, o João saiu cedo. 
 c. O despertador tocou cedo. 
 
 As observações que referímos vão no sentido de mostrar a grande 
necessidade de se fazer uma análise dos advérbios combinando critérios 
semânticos e sintácticos, o que não acontece na gramática de Cunha & Cintra. 
 
2.6. Conclusões 
 
 A análise/consulta destas cinco gramáticas tradicionais permite-nos 
concluir, em primeiro lugar, que não é possível, com base nelas, estabelecer uma 
tipologia dos advérbios considerando elementos morfológicos, sintácticos e 
semânticos. Além disso, nenhuma delas, independentemente da perspectiva que 
adopta (filosófica, histórica, didáctica ou outra), consegue estabelecer um quadro 
de análise mais ou menos exaustivo da classe dos advérbios. 
 Um dos principais pontos que parecem não ficar esclarecidos em todas 
estas gramáticas é o de distinguir entre a classe advérbio e a função adverbial. 
Tomando como exemplo a gramática de João de Barros, é claro que o autor 
considera a classe do advérbio ao assumir que ele é uma das nove partes da 
 24
oração; no entanto, no mesmo parágrafo aproxima-se o nome desta categoria 
advérbio (adverbum) da categoria verbal por esta ser frequentemente modificada 
pelo primeiro. Em Soares Barbosa, por outro lado, o advérbio é encarado 
principalmente do ponto de vista funcional, capaz de modificar tudo o que possa 
ser modificado, e não como uma das seis partes da oração.1
 Nas gramáticas históricas a preocupação em descrever a evolução 
diacrónica das formas adverbiais conduz, necessariamente, a um afastamento da 
distinção classe vs. função adverbial. 
 Também na mais recente das gramáticas analisadas (Cunha & Cintra 
(1984)) a distinção que aqui discutimos não é apresentada como questão crucial. 
A categoria advérbio é caracterizada por oposição à locução adverbial. No 
entanto, o objectivo sempre presente de fornecer critérios de correcção conduz a 
uma distinção basicamente semântica de classes onde se incluem advérbios e 
locuções adverbiais. Em termos de função também aqui o advérbio é apresentado 
como um típico modificador do verbo, e potencialmente do adjectivo, de outro 
advérbio ou de toda a oração. O modo como estas ‘classes’ são modificadas pelo 
advérbio não é explicitado, no sentido de registar os diferentes comportamentos e 
aplicações consoante modifica um adjectivo, um advérbio ou uma oração. 
 Dado que a função crucial do advérbio admitida pelos gramáticos é a de 
modificar o verbo, seria talvez de esperar que nos oferecessem uma análise em 
que a sintaxe e a semântica dos verbos estabelecesse uma dada relação com a dos 
advérbios. Da observação dessa relação resultaria, sem dúvida, um melhor 
conhecimento do comportamento das duas categorias implicadas, nomeadamente 
 
1 O facto de o número de partes da oração em João de Barros e Soares Barbosa ter uma diferença 
aritmética de três classes, pode apontar ou ser um indício de uma perspectiva mais funcional e 
 25
das suas compatibilidades e restrições de ocorrência. De facto isso não acontece. 
Embora o verbo possua um papel de destaque na sintaxe e na semântica do 
advérbio, essa importância não é visível nas análises apresentadas. Sabendo-se 
que existem classificações que distribuem os verbos por classes sintáctico-
semânticas, e sendo estes, além disso, marcados morfologicamente, 
nomeadamente com marcas de tempo e de aspecto, seria interessante encontrar, 
numa classificação dos advérbios, uma aproximação, por exemplo, entre 
advérbios de tempo e as várias formas temporais que um dado verbo pode 
adquirir; isto é, ver explicitado de alguma forma como é que o tempo dos 
advérbios (de tempo) se articula com o tempo das formas verbais2. Por outro 
lado, e aceitando uma classificação de predicados onde se distinguem estativos, 
eventivos, processuais, etc. (considerando também que possam existir subclasses 
dentro destas), deveríamos poder estabelecer como é que um verbo de uma dada 
classe se conjuga com um determinado advérbio3. 
 Em suma, a análise das referidas gramáticas leva-nos a concluir que o que 
falta na análise dos advérbios é estabelecer clara e explicitamente de que forma(s) 
 
menos categorial em Soares Barbosa. 
2 Uma análise integrada dos advérbios deveria explicar como é que os advérbios, neste caso 
advérbios de tempo, se articulam com os tempos verbais impedindo por exemplo que se produzam 
frases como: 
 *Amanhã fui à praia. 
e permitindo frases como: 
 Amanhã vou à praia. 
3 Ou seja, porque é que não podemos usar um verbo que denota mudança de estado (como morrer) 
modificado por um advérbio de quantidade (como muito), mas podemos usar este verbo com um 
advérbio que denote tempo, por exemplo. 
 (i) a. *Ele morreu muito. 
 b. Ele morreu ontem. 
 
Contrariamente, verbos do tipo de “comer” são compatíveis com advérbios de quantidade, mas na 
sua forma intransitiva (sem o complemento expresso) só de forma marcada aceitam advérbios de 
tempo: 
 (ii) a. Ele comeu muito. 
 b. ??Ele comeu ontem. 
 c. Ele comeu depressa. 
 26
eles interagemcom as restantes categorias lexicais ou sintácticas, ao nível do 
significado e da posição que ocupam na frase. 
 O principal objectivo do capítulo seguinte é reunir análises mais técnicas, 
de um ponto de vista teórico, do comportamento do advérbio, sempre com o 
propósito de atingir uma descrição cada vez mais exaustiva e um explicação clara 
e unificadora dos elementos daquela classe. 
 
 27
 28
3. Diferentes perspectivas 
 
 Depois de analisadas várias gramáticas representativas da tradição 
gramatical portuguesa, e tendo constatado que as questões pertinentes, 
relativamente aos advérbios, não encontram em nenhuma delas resposta 
adequada, é talvez o momento para nos determos na apreciação de alguns 
trabalhos teoricamente mais sofisticados, na esperança de neles encontrar pistas 
para uma análise dos advérbios em português. 
 A organização do presente capítulo é orientada por um fio cronológico que 
no quadro da gramática generativa corresponde a várias etapas de evolução. 
 Começaremos por Jackendoff (1972), na fase do transformacionalismo 
onde as diferentes estruturas de superfície são o resultado da aplicação de distintas 
regras. A análise de Casteleiro (1982), a seguir, que se inscreve ainda no período 
do transformacionalismo. Depois com Pollock (1989), Ambar (1989) e Belletti 
(1990), analisaremos duas propostas enquadradas nos últimos anos da teoria do 
governo e da ligação, constinuada posteriormente pelo programa minimalista onde 
se desenvolve e enquadra a análise de Cinque (1993), Laenzlinger (1993) e Costa 
(1996). 
 
3.1. Jackendoff (1972): As posições típicas dos advérbios de VP e 
dos advérbios de frase. 
 
 Partindo da escassa literatura e pesquisa feitas, na época, sobre os 
advérbios, este autor tenta compreender a causa dessa situação. A variedade de 
 29
funções sintácticas e semânticas que os advérbios, em geral, desempenham é 
apontada como um dos factores responsáveis por essa situação mais grave antes 
da introdução de informação semântica ao nível do tratamento do léxico. 
 A partir do momento em que a teoria linguística passa a assumir uma 
componente sintáctica e uma componente semântica representadas no léxico por 
meio de traços, a subdivisão em classes das várias categorias passa a ser feita com 
base em traços lexicais sintácticos e semânticos e já não por regras estruturais. 
Porém, tal procedimento não é simultâneo para todas as categorias e os advérbios 
continuam a subdividir-se em classes exclusivamente estruturais. 
 Como referidos pelo autor, os resultados desta evolução são não só o 
admitir estruturas subjacentes muito distintas para adverbiais idênticos, mas 
também o acreditar que o advérbio é apenas uma noção de estrutura de superfície 
sem interferência na sintaxe e semântica da estrutura subjacente ou profunda. 
 Com base neste estado de coisas, o objectivo do autor neste trabalho é o de 
mostrar as contribuições de todo o tipo de adverbiais para a interpretação 
semântica das frases, independentemente das diferentes regras estruturais. 
 Assumindo o pressuposto de que todos os itens lexicais têm uma 
interpretação semântica, abandona a classificação dos advérbios assente em 
critérios apenas sintácticos, e procura mostrar que as semelhanças existentes entre 
a estrutura semântica de alguns advérbios e os adjectivos correspondentes resulta 
da partilha de propriedades lexicais idênticas. Abandona também a perspectiva 
transformacionalista para optar pela hipótese de que os advérbios são gerados na 
base. 
 Considerando os dados do inglês, o autor propõe seis subclasses de 
advérbios que estabelece de acordo com a possibilidade de ocorrerem nas três 
 30
posições que assume - a saber: posição inicial, posição final sem pausa e posição 
de auxiliar, entre o sujeito e o verbo principal - , bem como de registarem ou não 
alterações de interpretação nas várias posições. 
 A primeira subclasse considerada caracteriza-se por poder ocupar as três 
posições descritas com uma consequente mudança de significado, que pode variar 
entre uma interpretação de modo e uma interpretação orientada para o sujeito: 
 
(4) a. John cleverly/ clumsily dropped his cup of coffee. 
 b. Cleverly/clumsily (,) John dropped his cup of coffee. 
 c. John dropped his cup of coffee cleverly/clumsily. 
 
Ao contrário do inglês em português parece ser impossível a ocorrência 
dos advérbios correspondentes em posição inicial e final sem serem precedidos de 
pausa, assim como a interpretação de modo: 
 
(5) a. O João inteligentemente/desastradamente deixou cair o café. 
 b. Inteligentemente/desastradamente *(,)o João deixou cair o café. 
 c. O João deixou cair o café *(,) inteligentemente/desastradamente. 
 
A segunda subclasse de advérbios é caracterizada pela possibilidade de 
ocorrerem em todas as posições sem alteração de significado. Relativamente ao 
português, e embora não haja também alteração na interpretação de modo, parece, 
no entanto, haver diferentes domínios de escopo para o advérbio nas várias 
posições, que resultam numa interpretação de modo orientada para o sujeito da 
 31
enunciação, para o sujeito gramatical ou para a acção expressa pelo predicado 
verbal. 
 
(6) a. Rapidamente o João leu o livro. 
 b. O João rapidamente leu o livro. 
 c. O João leu rapidamente o livro. 
 d. O João leu o livro rapidamente. 
 
A terceira subclasse de advérbios apresentada pelo autor, define-se pela 
possibilidade de ocorrer em posição inicial, em posição de auxiliar e posição final 
com pausa, de que são exemplo evidently, probably. 
 
(7) a. Evidently/probably, Horatio has lost his mind. 
 b. Horatio has evidently/probably lost his mind. 
 c. * Horatio has lost his mind evidently/probably. 
 d. Horatio has lost his mind, evidently/probably. 
 
Neste caso o único contraste com o português reside no facto de, nesta última 
língua4, quando o advérbio ocupa uma posição entre o auxiliar e o verbo principal 
as frases serem mais estranhas, ao contrário do que se verifica em inglês. 
A quarta classe de advérbios compreende aqueles que apenas podem 
ocorrer em posição final e de auxiliar: completely, easily. 
 
4 Em português, dependendo dos elementos intervenientes nos vários exemplos as frases podem 
ser completamente gramaticais ou marginais. No entanto, se este comportamento se verifica com 
frequência com os advérbios a ocuparem a posição entre auxiliar e verbo principal, o mesmo não 
se verifica nas restantes posições. 
 32
 
(8) a. *Completely/easily Stanley ate his wheaties. 
 b. Stanley completely/easily ate his wheaties. 
 c. Stanley ate his wheaties completely/easily. 
 
Mais uma vez o contraste existe com os dados do português. O advérbio 
facilmente pode ocorrer em posição inicial e em posição medial o que não 
acontece com o advérbio completamente, como em inglês. 
 
(9) a. Facilmente/ * completamente o João comeu o bolo. 
 b. O João facilmente/ *completamente comeu o bolo. 
 c. O João comeu facilmente/completamente o bolo. 
 d. O João comeu o bolo facilmente/completamente. 
 
 Assim, relativamente a esta quarta classe de advérbios, o português (e 
talvez também outras línguas) dispõe de dados que sugerem a necessidade de a 
dividir em mais subclasses. Com efeito, constituindo exemplos equivalentes aos 
exemplos do autor (3.11, 3.12 e 3.13), constatamos que, para além das diferenças 
já referidas, em português, ao contrário do inglês, não é possível a ocorrência de 
um advérbio como completamente em posição medial (entre sujeito e verbo), 
embora seja possível entre verbo e complemento, o que não se verifica em inglês 
por razões que Pollock (1989) retoma. 
 Porém, Jackendoff não refere nem fornece dados do inglês que mostrem a 
possibilidade de ocorrência de advérbios como completamente nas posições 
 33
características desta classe no contexto de outro tipo de predicados,nomeadamente de verbos do tipo de “comprar”. Assim, aquilo que observamos 
em português é que não só a ocorrência do advérbio completamente é impossível 
entre o sujeito e o verbo, no caso do verbo “comer”, como é impossível em 
qualquer outra posição se o verbo for “comprar”. 
 
(10) a. O João comeu completamente o bolo 
 b. O João comeu o bolo completamente. 
 c. *O João comprou completamente o bolo. 
 d. *O João comprou o bolo completamente. 
 
A quinta subclasse referida é constituída pelos advérbios que só ocorrem 
em posição final como well. 
 
(11) a. * Well Sam did his work. 
 b. * Sam well did his work. 
 c. Sam did his work well. 
 
Neste caso, o contraste com o português consiste na possibilidade de nesta 
língua o advérbio correspondente, bem, poder ocorrer em posição pós-verbal, 
mantendo-se a semelhança com o inglês relativamente às posições inicial, pós-
sujeito e final. 
 
(12) a. * Bem fez o João o trabalho. 
 34
 b. * O João bem fez o trabalho.5
 c. O João fez bem o trabalho. 
 d. O João fez o trabalho bem. 
 
Note-se, também, que a possibilidade de advérbios como bem ocorrerem 
em posição final em português está intimamente ligada com a complexidade do 
NP objecto, ou mais precisamente com o seu carácter “pesado” (“heavy NP 
shift”). Assim, em construções cujo complemento é modificado por uma frase, a 
posição preferencial do advérbio é a posição imediatamente pós-verbal. 
 
(13) a. ?? O João fez [o trabalho [que tu lhe pediste a semana passada]] 
 bem. 
 b. O João fez bem [o trabalho [que tu lhe pediste a semana passada]]. 
 
Finalmente, a última classe de advérbios definida em Jackendoff (1972) 
compreende os que apenas podem ocorrer em posição de auxiliar, como truly, 
merely e simply. 
 
(14) a. Albert is simply being a fool. 
 b. * Simply is Albert being a fool. 
 c. *Albert is being a fool simply. 
 
Também nesta subclasse se verificam contrastes com o português. Além 
 
5 A agramaticalidade desta frase verifica-se na interpretação de modo que estamos a 
 35
da posição de auxiliar que caracteriza a classe, os correspondentes advérbios em 
português podem ocupar também a posição final se precedida de pausa. 
 
(15) a. O João é simplesmente um tolo. 
 b. * Simplesmente o João é um tolo. 
 c. * O João é um tolo simplesmente. 
 d. O João é um tolo, simplesmente. 
 
 Relativamente à posição de auxiliar (entre sujeito e verbo), o facto de 
todos os advérbios com sufixo -ly poderem aí ocorrer aponta para a possibilidade 
de essa ser uma posição subjacente. Além disso, com base nessa hipótese, o autor 
pode aproximar a relação que os referidos advérbios parecem manter com o 
núcleo da oração (Aux)6, da relação que em Chomsky (1970) se assume existir 
entre um adjectivo e o nome que ele modifica. 
 No que respeita à posição final de advérbios sem o sufixo -ly, o autor 
segue Klima (1965) onde os advérbios são analisados como preposições 
intransitivas, sendo gerados basicamente na posição normal das preposições. 
 Para o caso dos advérbios -ly existem, aparentemente, duas possibilidades. 
Uma consiste em considerar também a hipótese das preposições intransitivas, a 
outra consiste em postular uma transformação que mova o advérbio da posição de 
auxiliar para dentro do VP. A opção do autor vai ser a primeira, geração básica do 
advérbio em posição final, porque também dá conta de casos em que o verbo 
selecciona um advérbio. Por essa razão, a primeira hipótese é menos pesada para 
 
considerar, embora com uma outra interpretação a frase seja gramatical. 
6 Recorde-se que na altura “Aux” compreendia aquilo que hoje denominamos de FLex. 
 36
o sistema transformacional. 
 O problema que se poderá colocar é o de saber como é que 
semanticamente se distingue um advérbio gerado em posição final, apenas porque 
aí ocorre superficialmente, de um advérbio que é gerado em posição final porque 
é seleccionado pelo verbo. 
 Por último, no que respeita à posição inicial, em face das duas hipóteses 
anteriormente referidas, o autor opta, neste caso, pela geração transformacional 
devido ao reduzido número de advérbios que aí ocorrem. A geração básica em 
posição inicial iria resultar num aumento de regras transformacionais que 
explicassem que a maioria dos advérbios não pode ocupar tal posição. 
 Além das três posições assumidas, o autor reconhece também a 
possibilidade de alguns advérbios ocorrerem dentro do VP em posições distintas 
daquelas. Essas posições são explicadas recorrendo à convenção da 
transportabilidade proposta por Keyser (1968) que marca determinados elementos 
com um traço extra, [+ transportável], só aplicável a advérbios dominados por S 
dado que os dominados por VP são seleccionados não podendo por isso mover-se 
livremente. 
 Em termos de interpretação semântica, a opinião do autor vai no sentido 
de considerar os advérbios orientados para o sujeito locutor ou para o sujeito da 
frase como dominados por S. Assim, as posições que define como típicas deste 
grupo são a posição inicial, a posição de auxiliar e a posição final com pausa: 
 
(16) a. Evidently John ate the beans. 
 b. John evidently ate the beans. 
 37
 c. John ate the beans, evidently. 
 
 Relativamente aos advérbios com interpretação de modo, o autor 
considera-os dominados por VP podendo ocorrer em posição final sem pausa e em 
posição de auxiliar. Neste caso resulta uma ambiguidade estrutural entre uma 
interpretação de modo e uma interpretação orientada para o falante ou para o 
sujeito: 
 
(17) a. John ate the beans completely. 
 b. John completely ate the beans. 
 
 Quando em presença de um verbo modal ou de um verbo auxiliar, os 
advérbios de VP distinguem-se dos de S pela possibilidade de só os últimos 
ocorrerem em posição pré-auxiliar. Não havendo nenhuma restricção 
relativamente à posição posterior a estes auxiliares ou modais: 
 
(18) a. George probably has read the book. 
 b. *George completely has read the book. 
 c. George has probably read the book. 
 d. George has completely read the book. 
 
 No caso de existirem dois auxiliares ou modais a ocorrência de um 
advérbio de S entre eles é preferencial dada a sua propriedade de 
transportabilidade. Pelo contrário, quando o advérbio ocorre depois de dois 
 38
auxiliares apenas pode ser um advérbio dominado por VP. 
 
(19) a. George will probably have read the book. 
 b. ?/*George will completely have read the book. 
 c. *George will have probably read the book. 
 d. George will have completely read the book. 
 
 O trabalho de Jackendoff (1972), como pudemos observar, reveste-se de 
grande importância não só por apresentar a análise de um grande número de 
advérbios do inglês, mas também por constituir uma primeira abordagem aliando 
a informação lexical de cada advérbio e as características sintácticas das 
estruturas onde eles ocorrem. 
 
3.2. Casteleiro (1982): “Análise gramatical dos advérbios de frase” 
 
 O objectivo do trabalho deste autor é estabelecer uma classificação dos 
advérbios de frase. No seu entender, o que define o advérbio de frase é a 
possibilidade que tem de transmitir a opinião do sujeito falante. Além disso, os 
advérbios de frase têm a particularidade de se comportarem como predicados ou 
modificadores de toda a frase. 
 Relativamente à caracterização geral que faz do grupo dos advérbios de 
frase, Casteleiro (1982) destaca quatro propriedades básicas: 
• a possibilidade de os advérbios ocorrerem em posição inicial, em posição 
medial e em posição final; 
 39
• os advérbios de frase podem constituir resposta a interrogativas totais, 
contrastando com advérbios locativos, temporais e processuais de modo que 
apenas podem constituir resposta a interrogativas parciais; 
 
(exs.(8)e (9) de Casteleiro (1982)) 
(20) a) - Então o sismo não provocou estragos ? 
 - Felizmente. 
 b) - Então o colóquio vai ser adiado ? 
 - Provavelmente. 
 
• os advérbios de frase, ao contrário dos advérbios locativos, de tempo e de 
modo, não podem ocorrer em estruturas enfáticas marcadas com é que; 
• também por oposição aos advérbios de tempo, de lugar e de modo, estes 
advérbios não podem ocorrer em estruturas de foco com senão. 
 Após a classificação geral que referímos, o autor apresenta quatro 
subclasses de advérbios de frase com as respectivas propriedades sintáctico-
semânticas. 
 Em primeiro lugar refere a classe dos advérbios emotivos cuja função 
primordial é transmitir a opinião subjectiva do falante relativamente à oração que 
acompanha os advérbios. Neste grupo inclui advérbios como afortunadamente, 
estranhamente, (in)felizmente, lamentavelmente e surpreendentemente. Estes 
advérbios caracterizam-se, principalmente por não ocorrerem em frases 
interrogativas nem imperativas. Pelo contrário, ocorrem frequentemente em 
estruturas exclamativas que introduzem factos reais. 
 A segunda subclasse de advérbios que considera é a dos advérbios modais, 
 40
que são responsáveis por transmitir a pressuposição do falante relativamente à 
veracidade da proposição que introduzem. A esta classe pertencem advérbios 
como aparentemente, certamente, evidentemente, naturalmente, 
presumivelmente, possivelmente, provavelmente e verosimilmente. 
Relativamente às propriedades sintáctico-semânticas, estes advérbios 
caracterizam-se, basicamente, por não disporem de uma forma negativa 
correspondente, pela impossibilidade de ocorrerem em frases interrogativas, bem 
como pela possibilidade de ocorrerem em estruturas hipotéticas. 
 A terceira classe, a dos advérbios pragmáticos, é a que, segundo o autor, 
agrupa advérbios que permitem ao falante fazer a caracterização do que diz em 
termos de conteúdo ou de forma. Assim, os advérbios que caracterizam o 
conteúdo são do tipo de francamente, honradamente, honestamente, 
lealmente, sinceramente e verdadeiramente. Os advérbios que caracterizam a 
forma são abreviadamente, brevemente, concisamente, concretamente, 
grosseiramente, laconicamente, lapidarmente, resumidamente, etc. 
 No que toca às propriedades consideradas pelo autor, este terceiro grupo é 
caracterizado principalmente por aceitar a forma do gerúndio falando a anteceder 
o advérbio (falando lealmente, falando resumidamente, etc.) e por aceitar a 
paráfrase de um ponto de vista + adjectivo. Além disso, não aceitam as 
construções negativas correspondentes, como exemplificado abaixo. (ex. (56) de 
Casteleiro (1982)): 
 
*Desonestamente, os jornais não prestaram atenção ao assunto. 
 
 41
 Finalmente considera os advérbios sectoriais que restringem a uma dada 
área do saber o valor da oração que introduzem. Neste grupo encontramos 
advérbios como psicologicamente, esteticamente, filosoficamente, 
geograficamente, literariamente, matematicamente, moralmente, 
politicamente, etc. 
 Os advérbios deste grupo, relativamente a propriedades, também aceitam a 
forma do gerúndio falando, podem co-ocorrer com frases interrogativas, mas não 
permitem uma forma negativa. 
 Em resumo, a análise do autor, embora se socorra de propriedades 
maioritariamente sintácticas, resulta numa classificação primordialmente 
semântica. As classes resultantes desta classificação partilham propriedades 
importantes que o autor ordena e organiza, pelo que nos parece ser este trabalho 
de grande importância como ponto de partida para uma análise sintáctica 
globalizante dos advérbios de frase. 
 
3.3. Pollock (1989): A divisão de Infl(ection) em Agr(eement) e 
T(ense). 
 
O trabalho de Pollock (1989) consiste em mostrar como se processa o 
movimento do verbo em francês e inglês partindo da ideia de que os traços 
morfológicos tradicionalmente integrados em Infl têm naturezas diferentes, pelo 
que devem ocupar projecções independentes (TP e AgrP). 
A análise distribucional de pares de frases do francês e do inglês leva 
Pollock a concluir que o comportamento dos verbos, no que respeita à subida para 
 42
Infl, é diferente nas duas línguas em análise. Deste modo, em estrutura de 
superfície, a posição que um advérbio ocupa em francês, relativamente ao verbo, é 
oposta à que ocupa o advérbio equivalente em inglês. 
 
(21) a. Jean embrasse souvent Marie. 
 b. *Jean souvent embrasse Marie. 
 c. *John kisses often Mary. 
 d. John often kisses Mary. 
 
Como mostram os exemplos de Pollock o contraste entre estas duas 
línguas resulta da exigência de o advérbio ocupar a posição pós-verbal e pré-
verbal, respectivamente em francês e em inglês. 
 Do mesmo modo, e se for adoptada a análise de Kayne (1975) segundo a 
qual os quantificadores se movem para posições adverbiais, os dados das duas 
línguas relativamente aos quantificadores parecem apontar para a mesma linha de 
análise: 
 
(22) a. *My friends love all Mary. 
 b. Mes amis aiment tous Marie. 
 c. My friends all love Mary. 
 d. *Mes amis tous aiment Marie. 
 
Esta assimetria verificada nas duas línguas em contextos idênticos é 
 43
explicada em Pollock pela possibilidade que existe em francês de qualquer verbo 
subir para Infl, o que apenas está disponível em inglês para os verbos auxiliares. 
Em termos teóricos a explicação do autor passa por defender que o nó 
Agr(eement) em inglês tem um carácter mais fraco que em francês (é [-
transparente] ou opaco, nos termos de Pollock) impedindo, desse modo, um verbo 
com grelha temática movido para Infl de atribuir papel-θ ao seu argumento 
interno. Por oposição, em francês, o carácter mais forte ([+transparente], menos 
opaco) de Agr(eement) permite a qualquer verbo atribuir papel-θ ao argumento 
seleccionado. 
Relativamente aos advérbios, assunto em análise, o trabalho de Pollock 
aponta para que a posição de advérbios como souvent e often (frequentemente) 
seja antes de VP ou em posição inicial de VP em estrutura-P para que possam 
resultar as seguintes ordens em superfície: 
V Adv em francês depois do movimento de qualquer verbo; 
Adv V em inglês sem movimento de verbos lexicais. 
 
 Para confirmar a sua hipótese o autor recorre a exemplos com negação 
dupla: 
 
(23) a. Pierre n’a rien mangé. 
 b. *Pierre n’a mangé rien. 
 c. Pierre ne mange rien. 
 d. *Pierre ne rien mange. 
 
 44
 Assim, os exemplos mostram que num contexto de tempos compostos, 
rien só pode ocorrer entre o verbo auxiliar e o verbo principal, verificando-se, 
desse modo, o movimento do verbo auxiliar em francês. No caso de tempos 
simples, rien só pode ocorrer depois do verbo principal, caso em que se verifica 
também o movimento do verbo. 
 O comportamento do português, em casos idênticos aos das línguas 
analisadas em Pollock (1989), parece apontar para a necessidade de uma 
explicação “mista”, quer no contexto dos advérbios, quer no contexto dos 
quantificadores. 
 
(24) a. O João beija frequentemente a Maria. 
 b. O João frequentemente beija a Maria. 
 c. Os meus amigos amam todos a Maria. 
 d. Os meus amigos todos amam a Maria. 
 
De acordo com a análise de Pollock, em português o verbo deve poder 
mover-se (a e c) ou não (b e d) para Infl não havendo agramaticalidade em 
nenhum dos casos. 
A aplicação ao português da análise proposta para o inglês e o francês 
coloca a questão de saber então o que é que marca a opcionalidade de movimento 
do verbo em português. De notar, no entanto, que a estrutura mais corrente em 
português é aquela em que, segundo a análise de Pollock, existe movimento do V 
para Infl. 
 45
 Relativamente ao inglês e francês, a estrutura de superfície com tempos 
compostos é idêntica: 
Aux Adv V
• em francês porque todos os verbos podem subir; 
• em inglês porque só o auxiliar pode subir. 
A questão coloca-se, novamente, em relação ao português que não permite o 
advérbio entreo verbo auxiliar e o verbo principal. 
 
(25) a. ??O João tem frequentemente beijado a Maria.7
 b. John has often kissed Mary. 
 c. Jean a souvent embrassé Marie. 
 
Do mesmo modo não permite que um constituinte negativo ocorra entre o verbo 
auxiliar e o verbo principal em tempos compostos: 
 
(26) a. *O Pedro não tinha nada comido. 
 b. O Pedro não tinha comido nada. 
 c. O Pedro não comeu nada. 
 
 Se, como o autor defende, rien (nada) não se pode mover para a esquerda 
de um verbo flexionado, então o português aponta para a existência de um terceiro 
padrão de línguas. Nestas, não só o auxiliar mas também o particípio passado tem 
 
7 Relativamente à posição pós-verbo auxiliar de alguns advérbios verificamos que nem sempre é 
fácil decidir sobre o grau de gramaticalidade das estruturas. O juízo de gramaticalidade 
apresentado é pois disso resultado. 
 46
flexão, razão pela qual quer o auxiliar quer o verbo principal (particípio) têm 
obrigatoriamente de se mover nos tempos compostos. 
 Em resumo, os três padrões de línguas serão: 
- o padrão do inglês em que só verbos auxiliares, como have e be, se movem 
para Infl dado o carácter opaco de Agr; 
- o padrão do francês em que apenas se movem os verbos auxiliares nos 
tempos compostos; 
- finalmente, o padrão do português onde verbos auxiliares e verbos 
principais, sob a forma de particípios, têm obrigatoriamente de se mover nos 
tempos compostos. 
 Alternativamente, uma outra explicação para a subida do verbo e/ou para a 
distribuição dos advérbios tem de ser encontrada. 
 A secção seguinte apresentará argumentos que, com base nos dados de 
uma língua que não o inglês ou o francês, apoiam outra explicação para este 
fenómeno. 
 
3.4. Ambar (1989): Subida do verbo, posição do sujeito e dos 
advérbios 
 
 Com base em estruturas com alteração da ordem canónica do sujeito 
relativamente ao verbo, a autora propõe-se apresentar argumentos a favor da ideia 
de que existe na gramática um movimento sistemático do verbo para a direita. 
 A partir da análise de estruturas interrogativas qu- do tipo abaixo 
exemplificado (exs. (1), (2) e (5) de Ambar (1989), respectivamente) : 
 
 47
(27) a. Que prémio ganhou esse actor? 
 b. Que prémio esse actor ganhou ? 
 
(28) a. Que ganhou esse actor ? 
 b. *Que esse actor ganhou ? 
 
(29) a. Que tem esse actor ganho ? 
 b. Que tem ganho essa actor ? 
 
(30) Que ofereceu o Pedro à Maria ? 
 
e assumindo que a estrutura dos constituintes qu- interrogativos inclui uma cabeça 
nominal, a autora defende que só a presença de uma categoria regente em Cº pode 
evitar a agramaticalidade de (28b). Assim, na sua análise a possibilidade de 
movimento cabeça a cabeça permite ao verbo ocupar a cabeça da projecção em 
cujo Spec ocorre o Qu- com o N vazio. Sobretudo frases como as de (29a) e (30) 
constituem argumento a favor da hipótese da autora na medida em que a presença 
do NP sujeito entre o verbo auxiliar e o particípio passado do verbo principal 
dificilmente pode ser explicada com base no movimento deste NP para a direita 
como defendido em Kayne e Pollock (1978). A existir, tal movimento teria como 
efeito quebrar um constituinte verbal complexo ao introduzir-se o sujeito entre o 
V auxiliar e o V principal., (cf. (29a), ou entre o V principal e o seu complemento 
(cf. (30)). 
 48
 É assim que ganha força a ideia do movimento do verbo para uma posição 
superior à sua posição básica, em detrimento de um movimento do NP sujeito 
para uma posição abaixo daquela onde é gerado. 
 Contudo, se as frases com interrogativas Qu-, acima exemplificadas, 
parecem apontar no sentido do movimento do verbo para Cº, o caso complica-se 
perante estruturas com um advérbio como a seguinte: 
 
(31) Penso que finalmente comprou o Pedro o jornal.8
 
 Seguindo a proposta inicial para as interrogativas Qu-, a autora é levada a 
analisar a possibilidade de uma estrutura em que o advérbio ocorreria em Cº com 
o complementador e com o verbo movido. Vai, no entanto, rejeitar esta hipótese 
porque nem mesmo assumindo que complementador e verbo formam um 
complexo descontínuo conseguiria explicar como é que o advérbio ocorre no meio 
desse complexo. 
 Da mesma forma, mas por razões diferentes, rejeita também uma segunda 
hipótese que faz apelo ao movimento impróprio de adjunção de categorias Xº a 
projecções máximas (pela adjunção do V e do advérbio a IP). 
 Outra das hipóteses sugeridas pela autora é considerar que o advérbio é 
gerado em Spec de CP dado que alguns advérbios aparentemente aí são gerados 
(exs. (26) de Ambar (1989): 
 
(32) a. Evidentemente que o Pedro gosta de cinema. 
 
8 A gramaticalidade desta frase depende, como refere a autora, de um valor de foco sobre o 
constituinte o Pedro. 
 49
 b. Felizmente que ele não se apercebeu da situação. 
 
Mas se (32) é perfeitamente gramatical o mesmo não podemos dizer de (33). (ex. 
(28) de Ambar (1989)): 
 
(33) a. *Penso que evidentemente que o Pedro gosta de cinema. 
 b. *O Pedro pensa que felizmente que ele não se apercebeu da 
 situação. 
 
pelo que é abandonada a proposta de geração de base do advérbio em Spec de CP. 
 Alternativa a considerar que o advérbio é gerado em Spec de CP é admitir, 
como muitos outros autores, que o sujeito é gerado dentro do VP como 
especificador. Assim sendo, a posição de Spec de TP seria uma posição 
disponível, por exemplo, para os advérbios e facilmente se poderia derivar a 
ordem de estruturas como (31) . 
 Considerando a representação da frase proposta por Pollock (1988) 
 
(34) TP 
 
 NP T’ 
 
 T AGR’ 
 
 AGR VP 
 
 V AGR’ 
 
 50
 VP 
 
 V NP 
 
a autora questiona a razão de AGR não ser cabeça de uma projecção máxima e 
propõe assumir-se uma uniformização da teoria X’. Desta uniformização resulta 
que AGR passa a ser uma cabeça que projecta uma projecção máxima 
contemplando agora uma posição Spec disponível para o movimento do sujeito. 
Desta forma, e se se aceitar a necessidade de um movimento do sujeito para este 
Spec como explicação para o fenómeno de concordância nas línguas, ao assumir 
que advérbios como os de tempo ocupam a posição de Spec da categoria TP 
assume-se, consequentemente, a existência da mesma relação de concordância 
para os advérbios. Além disso, e tratando-se de uma relação prevista pela teoria, 
espera-se que esteja também disponível a posição de Spec de outras categorias 
para outros advérbios. É neste sentido, e admitindo a existência de várias 
subclasses de advérbios nas línguas, que a autora propõe que o advérbio seja 
basicamente engendrado na posição de Spec das várias categorias que modifica. 
Deste modo, como defende, poderíamos explicar a existência de distinções 
semânticas na classe dos advérbios através da relação de adjacência que eles 
mantêm com as cabeças que modificam. As posições naturais, que, em superfície, 
surgem sem pausa, são as de Spec da categoria modificada; as posições marcadas, 
as que, em superfície, se fazem acompanhar de pausa, são as posições de adjunção 
à projecção máxima cuja cabeça o advérbio modifica. 
 
3.5. Belletti(1990): A subida do verbo em italiano. 
 51
 
O objectivo do trabalho de Belletti(1990), Generalized Verb Movement. 
Aspects of Verb Syntax, consiste principalmente em comprovar a necessidade da 
existência de movimento sistemático do verbo, como já anteriormente sugerido, 
por exemplo, em Pollock (1989) e Ambar (1989) para explicar alguns fenómenos 
sintácticos. 
Na primeira parte do referido trabalho a autora parte do pressuposto de 
que existe em italiano um movimento sistemático da cabeça verbal (verbo) para a 
cabeça flexional mais alta. Com esta proposta procura-se determinar a posição 
básica de diferentes advérbios. 
Em primeiro lugar, propõe uma estrutura de frase idênticaà de Pollock 
(1989), no sentido em que também assume a existência da divisão de Infl em 
AGR e T. Porém, e considerando dados do italiano, língua morfologicamente 
mais rica do que o inglês, Belletti (1990) defende que o movimento sucessivo do 
verbo deve encontrar um reflexo directo na ordem dos afixos verbais. Para isso é 
necessário que seja AGR a c-comandar T na estrutura da frase, uma vez que nas 
formas flexionadas de qualquer verbo, o último afixo (desinência) a juntar-se ao 
radical é o de concordância (AGR(eement)). 
No que respeita à posição relativa da negação, a autora distingue advérbios 
negativos de negação propriamente dita. As questões que se colocam 
relativamente à negação e aos advérbios negativos dizem respeito à posição que 
ocupam na estrutura da frase, quer se considere a estrutura-P quer a estrutura-S. 
Em Pollock (1989) é proposta a existência de uma projecção NEGP entre 
AGRP e TP. De acordo com os dados em análise no trabalho de Belletti a cabeça 
daquela projecção seria ocupada por non no italiano, da mesma forma que Pollock 
 52
propõe que ne a ocupe em francês. A posição de especificador dessa projecção 
NEGP seria a indicada para os (já referidos) advérbios negativos, pressupondo 
também que a cabeça da negação teria, de alguma maneira, um carácter clítico 
que a faz mover-se com o verbo. 
 Depois de assumida a projecção NEGP com ne e non como cabeça e os 
advérbios negativos como especificadores, de acordo com Belletti (1990) o que 
distinguiria as duas línguas seria a possibilidade ou obrigatoriedade de 
preenchimento da posição de especificador de NEGP em italiano e francês, 
respectivamente. 
 
(35) a. Gianni non parla più. (Belletti (1990), (8)a) 
 b. Maria non rideva ancora. (Belletti (1990), (8)b) 
 c. Lui non diceva mai la verità. (Belletti (1990), (8)c) 
 
(35) 
 AGRP 
 
 
NP AGR’ 
 
 
 AGRº NEGP 
 
NEG T 
 ADV NEG’ 
 
 più NEGº TP 
 mai non 
 ancora 
 T’ 
 
 Tº VP 
 
 
 V 
 
 
 53
 
 A derivação das frases de (35) resulta, na análise da autora, de três 
movimentos. Um primeiro que move non para AGR, seguido do movimento de V 
para T e do subsequente movimento de T, incorporando o V, para AGR. 
Quando se trata da negação com tempos compostos, temos duas situações 
distintas. Por um lado, o caso em que a negação não é reforçada por um advérbio 
negativo e em que se verifica um comportamento idêntico ao verificado com os 
tempos simples (subida do Aux para AGR). Por outro lado, o caso em que a 
negação é composta pela partícula de negação propriamente dita e por um 
advérbio negativo, existem então duas situações possíveis com tempos compostos, 
como mostra a autora. 
Assim, pode resultar a ordem: 
 
(37) Aux Advneg Particípio 
 
através da subida do particípio até AgrOP e do Aux até AGRP mais alto, 
ocupando o advérbio uma posição entre os dois. 
(38) (representação (18/19) de Belletti (1990)) 
 
 
 AGRP 
 
 
 NP AGR’ 
 
 
 AGRº NEGP 
 
 
 3 pers più NEG’ 
 sing 
 
 NEGº TP 
 
 
 non 
 54
 
 
 
 TP 
 
 
 T’ 
 
 
 Tº AUXP 
 
 
 pres AUX AGRP 
 
 
 avere AGR’ 
 
 
 AGRº VP 
 
 
 -t(o) 
 
 
 
 VP 
 
 
 V’ 
 
 
 Vº 
 
 
 parla- 
 
 
 
A alternativa seria: 
 
(39) Aux Particípio Advneg
 
uma ordem marcada para alguns falantes do italiano. 
 
(40) a. Gianni non há parlato più. (Belletti (1990), (14)a) 
 b. Maria non è uscita mai. (Belletti (1990), (14)ba) 
 c. I ragazzi non hanno incontrato ancora i loro amici. 
 (Belletti (1990), (14)c) 
 
 55
Contrastivamente, o português parece dispor apenas desta ordem com tempos 
compostos, como já havíamos referido em 3.3.9. 
 Para derivar esta última ordem possível Belletti propõe duas hipóteses: 
- ou se verifica uma incorporação do particípio no auxiliar movendo-se ambos 
para AGR mais alto; 
- ou a posição que o advérbio negativo ocupa é outra, possivelmente em início de 
VP como acontece com outros advérbios. 
 
 Considerando a primeira hipótese, a ordem Aux Particípio Adv será 
sempre possível se o advérbio ocupar uma posição abaixo de AGRO. Com a 
segunda hipótese, prediz-se que seja possível a ordem Aux Particípio Adv se o 
advérbio ocorrer numa posição abaixo de AGRO; se isto não se verificar a ordem 
resultante será sempre Aux Adv Particípio. 
 De facto, a autora refere contextos do francês que apoiam a ideia de os 
advérbios negativos poderem ser gerados numa posição mais baixa do que Spec 
de NEGP. Assim, e assumindo que pas em francês ocupa a posição de Spec de 
NEGP que tem de ser preenchida obrigatoriamente nesta língua, os exemplos com 
o verbo no infinitivo mostram pelo contraste entre pas e plus que o advérbio 
negativo é gerado necessariamente numa posição mais baixa do que Spec de 
NEGP: 
 
(41) a. (?)Pierre dit ne manger plus. (Belletti (1990), (20)) 
 b. Pierre dit ne pas manger. (Belletti (1990), (21)a.) 
 
9 Como referímos naquela secção, na maioria dos casos não é evidente que juízo de 
gramaticalidade atribuir às frases. A nossa intuição, no entanto, é de que a ocorrência de um 
 56
 c. *Pierre dit ne manger pas. (Belletti (1990), (21)b.) 
 d. Pierre dit ne plus manger. (Belletti (1990), (22)) 
 
 Os contrastes entre francês e italiano apontam também, como observado 
pela autora, para uma obrigatoriedade de preenchimento de Spec de NEGP em 
francês (pas), e para a possibilidade de preenchimento de Spec de NEGP em 
italiano (più, mai,...). Além disso, este comportamento distinto nas línguas em 
estudo aponta ainda para uma subdivisão nos adverbiais negativos em francês que 
não se verifica em italiano. Neste sentido, o francês dispõe de um elemento, pas, 
cuja distribuição se resume à posição de Spec de NEGP; por outro lado, possui 
elementos negativos como plus que podem ocupar a posição Spec de NEGP 
(como acontece em italiano com più, mai, etc.), mas que também podem ocupar 
uma posição mais baixa (provavelmente início de VP) à semelhança do que se 
verifica também em italiano. Em suma, o francês dispõe de dois tipos de 
advérbios negativos e o italiano de um tipo apenas. 
 É curioso, no entanto, verificar que o italiano regista dois comportamentos 
diferentes, tal como acontece com os advérbios negativos em francês, mas com 
advérbios positivos como già, sempre, pur e ben. Assim, temos, por um lado, già 
e sempre que podem ocorrer em início de VP ou em Spec de NEGP: 
 
(42) a. Maria parlava sempre/già di lui. (Belletti (1990), (23)a) 
 b. Maria ha sempre/già parlato di lui. (Belletti (1990), (23)b) 
 c. Maria non parlava già/sempre di lui. (Belletti (1990), (29)a) 
 d. Maria non ha già/sempre parlato di lui.(Belletti (1990), (29)b) 
 
 57
advérbio entre o auxiliar e o particípio é sempre uma opção marcada. 
 
Por outro lado, temos pur e ben que, podendo ocorrer em início de VP, não 
podem contudo ocorrer em Spec de NEGP: 
 
(43) a. Maria parlava pur/ben di lui. (Belletti (1990), (23)c) 
 b. Maria ha pur/ben parlato do lui. (Belletti (1990), (23)d) 
 c. *Maria non parlava pur/ben di lui. (Belletti (1990), (29)c) 
 d. *Maria non ha pur/ben parlato di lui. (Belletti (1990), 
(29)d) 
 
 De acordo com os dados acima descritos concluimos que o italiano dispõe 
de dois tipos de advérbios positivos: um tipo (sempre/già) que pode ocorrer seja 
em Spec de NEGP (adquirindo valor negativo), seja em início de VP; e um outro 
(pur/ben) que apenas pode ocorrer em início de VP. 
 Com base na hipótese, avançada pela autora, de estes constituirem a 
contraparte positiva dos advérbios negativos, parece-nos talvez mais correcto 
pensar que apenas già e sempre, de entre os advérbios positivos indicados, 
possam desempenhar tal papel.Nesse caso, o seu valor de polaridade parece estar 
em relação com a presença ou não da negação na frase. 
 Relativamente aos advérbios de frase, Belletti (1990) considera três 
posições possíveis: 
 
- posição inicial; 
- posição final antecedida de pausa; 
 58
- e posição pós-sujeito. 
 
De acordo com a autora (e ao contrário de Jackendoff (1972) que assume a 
posição pós-sujeito como a posição básica destes advérbios), a posição típica dos 
advérbios de frase é a posição inicial; o advérbio ocupa uma posição adjunta a 
AGRP (cf. representação (44)), a projecção mais alta da frase. A posição final 
resulta da deslocação do advérbio à direita e a posição pós-sujeito resulta da 
topicalização do sujeito (cf. representação (45)): 
 
(44) (representação (31) de Belletti (1990)) 
 AGRP 
 
 ADV AGRP 
 
 probabilmente NP AGR’ 
 evidentemente 
 AGRº TP 
 
 T’ 
 
 Tº VP 
 
 ... 
 
(45) (representação (34) de Belletti (1990)) 
 
 TOPP 
 
 TOP’ 
 
 TOPº CP 
 
 Gianni C’ 
 
 Cº AGRP 
 
 ADV AGRP 
 
 probabilmente NP AGR’ 
 
 AGRº TP 
 
 telefonerà T’ 
 
 Tº VP 
 
 
 ... alle 5 
 59
 
 Como verificámos na análise dos advérbios negativos, a distribuição dos 
advérbios de frase também apresenta contrastes importantes nas várias línguas. 
 
(46) a. Gianni probabilmente telefonerà alle 5. (Belletti (1990), (32)a.) 
 b. John probably likes linguistics. (Belletti (1990), (36)a.) 
 c. *Jean probablement aime la linguistique. (Belletti (1990), (36)b.) 
 d. O João provavelmente ama a linguística. 
 
(47) a. Gianni probabilmente ha sbagliato troppe volte. 
 b. John probably has made several mistakes. (Belletti (1990), (37)a.) 
 c. *Jean probablement a fait plusieurs erreures. 
 (Belletti (1990), (37)b.) 
 d. O João provavelmente tem feito muitos erros. 
 
 Ao contrário do que se admitia na análise de Pollock (1989) que 
justificava as diferentes posições de often e souvent em inglês e francês, 
respectivamente, pela ausência de subida do verbo vs. a obrigatoriedade desse 
movimento, nestes casos os contrastes não podem dever-se à ausência de 
movimento do verbo no francês, onde ele é obrigatório. Por outro lado, tal como 
em francês, em italiano e em português, o movimento é obrigatório e, no entanto 
as frases equivalentes às agramaticais francesas são, nestas línguas, gramaticais. 
Por isso, e não querendo recorrer à hipótese de que os advérbios se movem em 
determinadas condições, a autora propõe-se explicar os referidos contrastes com 
base noutros processos sintácticos. 
 60
Nesse sentido, o que parece ser factor de distinção entre francês por um 
lado e inglês, italiano, português por outro, é repectivamente a impossibilidade vs. 
possibilidade de topicalização nas línguas. Assim, segundo a autora, o parâmetro 
que opõe estas línguas incide sobre o processo de topicalização. 
A análise dos advérbios de frase com tempos compostos levanta contudo 
mais problemas. As posições possíveis para estes advérbios são as que estão 
disponíveis no contexto de tempos simples. Para além dessas, existe uma posição 
entre o auxiliar e o particípio passado. 
Para derivar esta última posição Belletti (1990) apresenta diferentes 
possibilidades de explicação. Excluindo a possibilidade de o advérbio ser gerado 
como modificador de AGRP, a cabeça da frase, posição que gerava uma ordem 
impossível em que più teria necessariamente que dominar ou anteceder 
probabilmente, o que empiricamente não se verifica, Belletti aponta para uma 
segunda hipótese de acordo com a qual apenas a posição inicial, adjunta a AGRP, 
estaria disponível para estes advérbios. Porém com esta hipótese levantam-se 
problemas nos casos em que o sujeito é um quantificador negativo, que não pode 
deslocar-se à esquerda: 
 
(48) a. Lui ha probabilmente sbagliato. 
 b. *?Nessuno ha probabilmente sbagliato troppe volte. 
 
Finalmente, a terceira hipótese sugerida aponta para a ocorrência dos 
advérbios de frase em posição inicial e entre as duas cabeças funcionais mais 
altas. Neste caso, o advérbio só pode aí ocorrer se existir um auxiliar na frase. 
 A autora baseia esta hipótese na possibilidade de recursividade livre de 
 61
AGRP, mas considerando que apenas uma das projecções AGRP é preenchida 
com traços morfológicos. As outras posições AGR seriam posições vazias que, 
provavelmente, só os auxiliares podem ocupar. 
 No que respeita à ordem: 
 
 Aux Particípio Passado Adv. 
 
a autora sugere, como já referido, duas hipóteses de análise: uma que supõe a 
incorporação do particípio no auxiliar e outra que assenta na ideia de os advérbios 
ocuparem uma posição mais baixa do que Spec de NEGP. 
 Na análise dos advérbios negativos vimos que, se a posição final do 
advérbio se deve à incorporação do particípio no auxiliar, a ocorrência pós-
particípio do advérbio deve ser sempre possível. Na opinião da autora os dados 
dos advérbios de frase são importantes por mostrarem, através da impossibilidade 
de o advérbio ocorrer depois do particípio, que não existe processo de 
incorporação em italiano. 
 
(49) a. *Lui ha sbagliato probabilmente. (Belletti (1990), (61)a) 
 b. *Maria ha rivelato evidentemente il segreto.
 (Belletti(1990), (61)b) 
 
 Assim sendo, a possibilidade que nos resta é a de considerar que os 
advérbios negativos podem ocupar também uma posição mais baixa que Spec de 
NEGP, provavelmente como advérbios de VP. 
 Após a análise do comportamento dos advérbios negativos e dos advérbios 
 62
de frase, a autora passa a uma terceira classe de advérbios que classifica como 
“advérbios mais baixos”, de que são exemplo spesso e completamente. As 
principais características que aponta são o facto de ocorrerem numa posição mais 
baixa do que a negação e de tipicamente não ocorrerem em posição inicial de 
frase. 
 
(50) a. Non ha mai parlato spesso con te. (Belletti (1990), (66)a) 
 b) *Non ha spesso parlato mai con te. (Belletti (1990), (66)b) 
 
 Com base em dados com verbos transitivos a autora postula a posição em 
início de VP como a posição básica destes advérbios. 
 
(51) a. Quel medico risolverà completamente/spesso i tuoi problemi. 
 (Belletti(1990), (67)a e b) 
 b. Quel medico risolverà i tuoi problemi completamente/spesso. 
 (Belletti(1990), (68)a e b) 
 
 Assim, a posição pós-verbal seria o resultado directo da subida do verbo, e 
a posição final a consequência da adjunção do advérbio à direita do VP. 
 Um contraste apontado pela autora e que parece opor, de algum modo, 
estes dois advérbios consiste na possibilidade, de que apenas spesso dispõe, de 
ocorrer em posição inicial de frase. 
 
(52) a. Spesso Gianni sbaglia. (Belletti(1990), (69)a) 
 b. *Completamente Gianni sbaglia. (Belletti(1990), (69)c) 
 
 63
 Também a este respeito, e não querendo fornecer mecanismos específicos 
para a explicação do comportamento dos advérbios, a autora atribui a 
propriedades de carácter lexical a impossibilidade de completamente ser 
topicalizado, contrariamente ao que se verifica com spesso que, quando em início 
de frase, para aí foi movido. Os argumentos a favor desta hipótese de 
topicalização do advérbio advêm-lhe de frases do italiano que com um 
constituinte topicalizado, nomeadamente o complemento directo, para além do 
advérbio, resultam em construções mal-formadas. O mesmo comportamento não 
se verifica quando, pelo contrário, apenas o complemento é topicalizado 
permanecendo o advérbio na sua posição de base. Além disso, não havendo 
distinção entre spesso que é passível de ser topicalizado e completamente que 
não é, não haveria forma de explicar porque é que apenas o primeiro destes 
advérbios pode ocorrer em posição imediatamente pós-sujeito. A única hipótese 
possível e que contraria o objectivo do trabalho da autora seria a de admitir que 
nem sempre existe movimento do verbo em italiano.

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