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1 Beatriz Machado de Almeida Medicina do trabalho – Aula 12 Adicional de insalubridade Primeiramente, existem algumas profissões que quando são exercidos, o trabalhador tem o direito de receber uma porcentagem a mais. O Adicional de Insalubridade é um adicional no valor de 10, 20 ou 40% do salário-mínimo regional, conforme o trabalhador tenha uma insalubridade em grau mínimo (10%), médio (20%) ou máximo (40%). A porcentagem não é em cima do salário que o trabalhador recebe, mas sim do salário-mínimo. Exemplo: salário-mínimo brasileiro é 1.100 reais, ou seja, o adicional vai ser de 110 reais, 220 reais ou 440 reais. Para o trabalhador receber esse dinheiro, é necessário que esse exerça sua atividade com exposição a um agente nocivo que pode ser de natureza física, química ou biológica. O professor brinca que apesar de ser professor e trabalhar com agente nocivos – estudantes de medicina – ele não ganha adicional por isso, visto que sua profissão não foi incluída no documento chamado Norma Regulamentadora nº 15 (NR15). A NR15 tem a lista dos agentes nocivos. Exemplos: • Físico → calor (siderúrgica): O calor do ambiente é medido por termômetros de bulbo seco, bulbo úmido e de globo. A unidade de medida dessa temperatura é feita em IBUTG (unidade de medida para temperatura ambiental com fins trabalhistas). Outro exemplo de agente nocivo físico é a radiação ionizante: para o técnico de radiologia ou para o médico radiologista intencionista, por exemplo, é bastante perigoso esse tanto de exposição, tanto que eles possuem um aparelho semelhante a um crachá chamado dosímetro utilizado para medir o quanto de radiação chegou nele; a unidade de leitura desse dosímetro é mSv (milisievert). Pode acontecer do trabalhador ser afastado por algum tempo por conta da grande exposição. Existem vários outros exemplos de agentes nocivos físicos. • Químico → benzeno, tolueno, chumbo, cádmio, manganês, várias aminas, amidas, ésteres, cetonas, hidrocarbonetos ... • Biológico → bactérias, fungos, vírus, príon ... São pessoas que trabalham na galeria de esgoto, que precisam desentupir galerias, fazer manutenção em emissários submarinos, estação de tratamento de esgoto. Na Chapada do Rio Vermelho tem a estação de tratamento deputado Paulo Jackson. Não é tratamento de água potável e sim do esgoto, dejetos excrementos e, ainda assim, tem que gente que trabalha. Quem trabalha em laboratórios de análises clínicas recebe fezes, urina, sangue, escarro (pesquisa por tuberculose – BK - baciloscopia) e, por isso, precisa ensinar a pessoa como mobilizar a secreção (ex. o escarro precisa vir do brônquio e não do nariz). É preciso fazer a coloração Ziehl-Neelsen para avaliação da presença dos bacilos álcool-ácido- resistentes (BAAR). Tais trabalhadores tem direito ao adicional de insalubridade, assim como as pessoas que trabalham em laboratórios de anatomia anatomopatológica (biópsia – colocar no formol, corar, fazer a lâmina, avaliar possível presença de atipia nuclear, malignidade, margens livres ou comprometidas, estadiamento, necessidade de quimio ou outro tipo de tratamento, painel imunohistoquímico, imunoterapia). Formol, aldeído, álcool tóxico utilizado na fixação da peça macroscópica, eletricidade ou outros agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos estão previstos na Norma Regulamentadora nº 15. Adicional de Insalubridade, Adicional de Periculosidade e Aposentadoria Especial 2 Beatriz Machado de Almeida Medicina do trabalho – Aula 12 A exposição ao agente nocivo precisa ser uma exposição habitual, não podendo ser ocasional (¨é o que acontece de caju em caju¨ - ex. uma vez no ano) nem intermitente (¨liga, desliga, tá raso, tá fundo¨). Pra ter direito ao adicional de insalubridade é preciso estar trabalhando com esses agentes de maneira habitual. Adicional de periculosidade Existe um outro adicional denominado adicional de periculosidade, que é no valor de 30% do salário do trabalhador propriamente dito. NÃO é do salário mínimo, é do seu salário, não tendo mínimo, médio ou máximo. É quando você trabalha exposto a explosivos inflamáveis, energia elétrica de alta potência ou segurança armada. Importante: • O adicional de insalubridade você ganha quando você trabalha com um fator de risco que está ali o tempo todo, minando a sua saúde aos pouquinhos todos os dias. Quando você trabalha com ruído, você não fica surdo no mesmo dia, mas de tanto voltar pro ruído (todos os dias da semana), ao longo de anos, você vai perdendo neurônio no órgão de Corti, reduzindo a acuidade auditiva pela apoptose de neurônios altamente específicos. Em relação a insalubridade tem que pensar em uma patologia que aos poucos vai se desenrolando e tirando sua saúde e lesionando a estrutura anatômica, chegando a um tempo em que a doença se manifesta (lembrar que tem a fase latente, subclínica – alteração de tecido que pode ser encontrada em um exame de rastreamento), clínica. Você está ali a todo momento sendo bombardeado por um agente nocivo que vai cobrar um preço no futuro. A periculosidade é diferente! Enquanto o explosivo não explodir, tá de boa, não é uma coisa que vai lhe prejudicando aos poucos. Enquanto não acontecer o evento, a saúde permanece impecável. Você pode trabalhar todos os dias sentado em um barril de pólvora ... enquanto a pólvora não explodir, é só um barril. No dia que a pólvora explodir, um indivíduo fica em pedaços. No caso dos inflamáveis, como por exemplo, frentista, enquanto não for tudo pelos ares, tranquilo. A gasolina é inflamável, mas se não pegou fogo, não inflamou. Energia elétrica de alta potência, não é o cara que foi consertar a tomada da sua casa – rede doméstica, e sim de uma linha de transmissão importante (exemplos – companhia hidroelétrica de São Francisco, torres imensas vistas nas estradas, estação da Coelba). A energia elétrica da tomada de casa (110-220v) não é de alta potência, é só um choquinho. Numa subestação de energia, existem campos eletromagnéticos no solo, então, você tem que andar com passos curtos, porque se der uma passada comprida, você pode estar com um pé no campo eletromagnético e outro não, aí no caso, a corrente elétrica sobe por uma perna e desce pela outra, mesmo usando botas de borracha e equipamentos de proteção individual. Caso isso não aconteça, a pessoa sofre eletrotroplessão ou eletropulsão e morre. Além disso, tem que ter uma segurança armada porque a pessoa é o protetor de um patrimônio. É necessário se comportar de maneira adequada. Então, percebam, o adicional de periculosidade se refere a situações agudas, situação “tudo ou nada”, ou não aconteceu e você está ótimo ou aconteceu e já era. Esse adicional de periculosidade é um valor só (30% do salário do trabalhador) e o adicional de insalubridade tem 3 degraus mas é em cima do salário. Vamos imaginar uma pessoa que trabalha como frentista no posto de gasolina: ao mesmo tempo que a gasolina é um hidrocarboneto volátil (agente nocivo químico), ela é inflamável, periculosa, ou seja, ela é insalubre e periculosa ao mesmo tempo. Nesses casos, o valor não é o patrão que escolhe, é o trabalhador que decide qual dos dois que vai receber e na maioria das vezes ele escolhe periculosidade porque quando faz as contas vale mais (30). A única hipótese que a insalubridade é mais vantajosa é se ele ganhar salário mínimo e se ele se enquadrar no grau máximo, porque se o salário dele é o mínimo a base de cálculo é igual e aí, nesse caso, 40 é mais do que 30. Uma outra coisa importante desses adicionais é que eles são aquilo que se chama no direito de salário condição, ou seja, é uma verba que você só recebe enquanto aquela condição é atendida. Se aquela condição não é mais verificada aquele valor não seincorpora mais naquilo. Por exemplo, vamos imaginar que a pessoa trabalha com um agente nocivo químico e criaram uma tecnologia nova e a empresa que você 3 Beatriz Machado de Almeida Medicina do trabalho – Aula 12 trabalha comprou a máquina nova que é capaz de produzir o mesmo produto sem usar aquele agente nocivo, então aquele agente não está mais presente no seu ambiente de trabalho, logo, você não vai mais precisar ganhar o adicional de insalubridade, sua saúde está protegida. O adicional de insalubridade é por exposição. Não significa que todo mundo que for exposto vai adoecer, não quer dizer que todo mundo tenha as consequências futuras. Caso tenha lesão corporal, vai processar o patrão na justiça do trabalho, pedindo indenização pelo dano efetivamente sofrido. As pessoas, pela mera exposição tem direito ao adicional. Os que ficarem doentes, pedirão indenização por terem sido danificados, lesionados. Aposentadoria especial Vocês já ouviram notícias de que uma galeria subterrânea desmoronou e que as pessoas ficaram presas embaixo da terra, havendo um grande esforço para salvar essas pessoas antes que acabasse o oxigênio embaixo? A mineração é um tipo de trabalho muito ruim. A aposentadoria especial é uma aposentadoria mais precoce, adiantada, quando se trabalha numa situação muito ruim. Se a gente exigisse que essas pessoas trabalhassem na situação terrível que trabalham o mesmo tempo que outros profissionais trabalham, a pessoa ia morrer lá. A pessoa tem uma aparência velha, é uma vida muito sofrida. Na mineração tem a frente de mineração subterrânea, tem direito de se aposentar com apenas 15 anos de trabalho. Quem trabalha em frente de mineração de superfície ou asbestos, se aposenta com 20 anos de trabalho. Se tem uma lista no anexo IV do Decreto 3048/1999 de situações especiais que dão direito a aposentadoria com 25 anos de trabalho. Antes da reforma da previdência o homem tinha que trabalhar 35 anos, a mulher, 30. Nesse decreto, uma das coisas que pode levar a aposentar especial é a exposição a agente biológico (infectologista). Para se aposentar especial, a exposição tem que ser permanente, não basta ser habitual. Para ganhar adicional de insalubridade, basta que a exposição seja habitual. Para ganhar aposentadoria especial, é preciso que a exposição seja permanente. A diferença é que a permanente é indissociável, logo, não é possível, produzir o bem ou prestar o serviço sem estar exposto ao agente nocivo. Material baseado na aula de Dr. Bruno Gil – Medicina UniFTC – 7º semestre
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