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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS CURSO DE ENGENHARIA DE PESCA DISCIPLINA DE ECOLOGIA DOCENTE: ÉDER ANDRÉ GUBIANI APOSTILA DE ECOLOGIA LIVRO TEXTO: ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. MONITORA: ELENICE SOUZA DOS REIS TOLEDO – PR 2009 2 SUMÁRIO 1 O ECOSSISTEMA.....................................................................................5 1.1 A estrutura do ecossistema ................................................................7 1.2 O estudo dos ecossistemas ...............................................................7 1.3 O controle biológico do ambiente geoquímico: a Hipótese de Gaia...8 1.4 Produção global e decomposição ......................................................8 1.4.1 Tipos de fotossíntese .....................................................................9 1.4.2 Tipos de organismos produtores....................................................9 1.4.3 Tipos de decomposição e de decompositores .............................11 1.5 Estabilidade dos ecossistemas ........................................................13 1.6 Exemplo de ecossistema: componentes básicos de um lago ..........15 1.7 A cidade: um ecossistema heterotrófico...........................................15 1.8 Classificação dos ecossistemas.......................................................16 1.9 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO ...........................17 2 A ENERGIA NOS SISTEMAS ECOLÓGICOS ........................................18 2.1 O ambiente energético .....................................................................18 2.2 Conceito de produtividade................................................................20 2.2.1 A distribuição da produção primaria.............................................21 2.3 Cadeias alimentares, redes alimentares e níveis tróficos.................22 2.4 Modelo universal de fluxo energético ...............................................26 2.5 O papel dos consumidores na dinâmica das redes alimentares ......28 2.6 Qualidade de energia .......................................................................29 2.7 Metabolismo e tamanho de indivíduos .............................................30 2.8 Estrutura trófica e pirâmides ecológicas...........................................31 2.9 A Teoria da Complexidade, a Energética de Escala, a Lei dos Retornos Minguantes e o conceito da capacidade de suporte ..............................34 2.9.1 Exemplo de retornos ....................................................................36 2.10 Uma classificação de ecossistemas baseada na energia ................37 2.11 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO ...........................38 3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS..................................................................39 3.1 Padrões e tipos básicos de ciclos biogeoquímicos ..........................39 3.1.1 O ciclo do nitrogênio ....................................................................41 3.1.2 O ciclo do fósforo .........................................................................45 3 3.1.3 O Ciclo do Enxofre .......................................................................46 3.1.4 Efeitos da poluição atmosférica ...................................................47 3.2 O ciclo do carbono e o ciclo hidrológico ...........................................48 3.2.1 Ciclo do carbono ..........................................................................48 3.2.2 Ciclo hidrológico...........................................................................50 3.3 O ciclo sedimentar............................................................................51 3.4 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPITULO ...........................53 4 FATORES LIMITANTES E O AMBIENTE FÍSICO ..................................54 4.1 Conceito de Fatores Limitantes; "Lei" do Mínimo de Liebig .............54 4.2 Limites de tolerância.........................................................................55 4.3 Compensação de fatores e ecotipos ................................................56 4.4 Condições de existência como fatores reguladores .........................57 4.5 Importância dos fatores físicos como fatores limitantes ...................57 4.5.1 Temperatura.................................................................................58 4.5.2 Radiação: Luz ..............................................................................59 4.5.3 Água.............................................................................................59 4.5.4 Gases atmosféricos .....................................................................60 4.5.5 Sais biogênicos: Macronutrientes e Micronutrientes ....................61 4.5.6 Correntes e pressões...................................................................62 4.5.7 Solo..............................................................................................62 4.6 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPITULO ...........................63 5 DINÂMICA DAS POPULAÇÕES .............................................................64 5.1 Propriedades do grupo populacional................................................64 5.1.1 Densidade....................................................................................64 5.1.2 Natalidade....................................................................................65 5.1.3 Mortalidade ..................................................................................65 5.1.4 Distribuição etária da população..................................................66 5.2 Crescimento populacional ................................................................66 5.2.1 Crescimento exponencial .............................................................67 5.2.2 Crescimento sigmoidal .................................................................68 5.3 Flutuações e oscilações “cíclicas" do populações............................70 5.4 Estrutura das populações: padrões internos de distribuição (dispersão) .........................................................................................................70 5.5 Isolamento e territorialidade .............................................................72 4 5.6 Repartição e otimização da energia" Seleção r e Seleção K ...........73 5.7 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO ...........................75 6 POPULAÇÕES EM COMUNIDADES......................................................76 6.1 Interações entre duas espécies........................................................76 6.1.1 Competição interespecífica e coexistência ..................................78 6.1.2 Predação, herbivoria, parasitismo e alelopatia (antibiose)...........79 6.1.3 Interações positivas: comensalismo, cooperação e mutualismo..80 6.2 Conceitos de habitat, nicho ecológico e guilda.................................81 6.3 Diversidade de espécies, diversidade de padrões e diversidade genética nas comunidades ....................................................................................82 6.3.1 Curvas do componente dominância da diversidade.....................83 6.3.2 Índices de diversidade..................................................................84 6.4 Populações e comunidades em gradientes geográficos, ecotones e efeito de borda.......................................................................................................86 6.5 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO ...........................87 7 DESENVOLVIMENTO E EVOLUÇÃO NO ECOSSISTEMA ...................88 7.1 A estratégia de desenvolvimento do ecossistema............................88 7.2 O conceito de clímax........................................................................90 7.3 Evolução dabiosfera........................................................................91 7.4 Seleção natural ................................................................................91 7.5 Co-evolução .....................................................................................92 7.6 Seleção de grupo .............................................................................92 7.7 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO ...........................92 5 1 O ECOSSISTEMA Ecossistema significa qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não-vivas. Sendo os ecossistemas sistemas abertos, o ambiente de entrada e o ambiente de saída devem ser considerados partes importantes do conceito. Os componentes e processos que tornam funcional um ecossistema são mostrados na Figura 2-1. O fluxo de energia ocorre num só sentido; uma parte da energia solar que entra é transformada, e sua qualidade, elevada (quer dizer, é convertida em matéria orgânica, uma forma de energia mais concentrada que a luz solar) pela comunidade, mas a maior parte é degradada, passa pelo sistema e sai dele na forma de energia calórica, de baixa qualidade (sumidouro de calor). A energia pode ser armazenada e depois liberada sob controle, ou exportada, como mostra o diagrama, mas não pode ser reutilizada. Contrastando com a energia, os materiais, inclusive os nutrientes necessários para a vida (carbono, nitrogênio, fósforo etc.) e a água, podem ser reutilizados inúmeras vezes. A eficiência da reciclagem e a grandeza das importações e exportações de nutrientes variam muito segundo o tipo de ecossistema. 6 Todos os ecossistemas, inclusive a biosfera, são sistemas abertos: existe uma entrada e uma saída necessárias de energia. É claro que os ecossistemas abaixo do nível da biosfera também estão abertos, em vários graus, aos fluxos de materiais e à imigração e emigração de organismos. Por conseguinte, representa uma parte importante do conceito de ecossistema reconhecer que existe tanto um ambiente de entrada quanto um ambiente de saída, acoplados e essenciais para que o ecossistema funcione e se mantenha. A Fig. 2-2 enfatiza esta característica: um ecossistema conceitualmente completo inclui ambientes de entrada e saída junto com o sistema delimitado, ou seja, ecossistema = AE + S + AS. O tamanho do ambiente de entrada e saída variam muito em função de certos parâmetros, tais como: (1) o tamanho do sistema (quanto maior, menos dependente do exterior) (2) a intensidade metabólica (quanto mais alta a taxa, maiores a entrada e saída) (3) o equilíbrio autotrófico-heterotrófico (quanto maior o desequilíbrio, mais elementos externos são necessários para reequilibrar), e (4) o estádio de desenvolvimento (sistemas jovens diferem de sistemas maduros). 7 1.1 A estrutura do ecossistema Um ecossistema apresenta dois estratos: um estrato autotrófico superior, ou "faixa verde", de plantas ou partes de plantas que contêm clorofila, onde predominam a fixação de energia luminosa, a utilização de substâncias inorgânicas simples e a construção de substâncias orgânicas complexas; e um estrato heterotrófico inferior, ou "faixa marrom", de solos com sedimentos, matéria em decomposição, raízes, etc, no qual predominam a utilização, rearranjo e decomposição de materiais complexos. Os componentes que constituem o ecossistema são: substâncias inorgânicas envolvidas nos cicios de materiais; compostos orgânicos que ligam o biótico ao abiótico ambiente atmosférico, hidrológico e do substrato, incluindo o regime climático e outros fatores físicos; produtores, organismos autotróficos, principalmente as plantas verdes, que manufaturam o alimento a partir de substâncias inorgânicas simples; macroconsumidores ou fagótrofos, organismos heterotróficos, principalmente animais, que ingerem outros organismos ou matéria orgânica particulada; microconsumidores, saprótrofos, decompositores ou osmótrofos, organismos heterotróficos, principalmente bactérias e fungos que obtêm a sua energia ou degradando tecidos mortos ou absorvendo matéria orgânica dissolvida segregada por plantas ou outros organismos. As atividades decompositoras dos saprótrofos liberam nutrientes inorgânicos em forma disponível aos produtores; também fornecem alimento para os macroconsumidores e excretam substâncias parecidas com hormônios, que inibem ou estimulam outros componentes bióticos do ecossistema. 1.2 O estudo dos ecossistemas Os ecologistas adotam duas abordagens no estudo dos ecossistemas grandes e complexos, tais como lagos e florestas: (1) a holológica, na qual as entradas e saídas são medidas, as propriedades coletivas e emergentes do todo são 8 avaliadas e, então, as partes componentes são investigadas de acordo com as necessidades; e (2) a abordagem merológica, na qual as partes principais são estudadas em primeiro lugar, para depois serem integradas num sistema inteiro. 1.3 O controle biológico do ambiente geoquímico: a Hipótese de Gaia Os organismos individuais não somente se adaptam ao ambiente físico, mas, através da sua ação conjunta nos ecossistemas, também adaptam o ambiente geoquímico segundo as suas necessidades biológicas. Desta forma, as comunidades de organismos e os seus ambientes de entrada e saída desenvolvem- se em conjunto, como os ecossistemas. A química da atmosfera e o ambiente físico fortemente tamponado da Terra são completamente diferentes das condições reinantes em qualquer outro planeta do nosso sistemas solar, fato este que levou à Hipótese Gaia, que sustenta que os organismos, principalmente os microrga nismos, evoluíram junto com o ambiente físico, formando um sistema complexo de controle, o qual mantém favoráveis à vida as condições da Terra. A Hipótese de Gaia sugere a importância de descobrir e preservar os controles que permitem que a biosfera se ajuste a certas quantidades, pelo menos, de poluição de fontes não-pontuais, como gás carbônico, calor, enxofre, óxidos nitrogenosos etc. Conseqüentemente, além de se esforçarem para reduzir a poluição de todas as maneiras possíveis, os seres humanos devem, também, preservar a integridade e a grande escala do sistema tamponado que mantém a vida. 1.4 Produção global e decomposição Durante a maior parte do tempo geológico, uma fração muito pequena porem significativa da matéria orgânica produzida é incompletamente decomposta em sedimentos anaeróbios (anóxicos) ou é totalmente enterrada e fossilizada, sem nunca ser respirada ou decomposta. Este superávit de produção orgânica, em relação à respiração, é considerado uma das principais razões para um decréscimo de CO2 e um aumento no teor de oxigênio na atmosfera até os níveis altos dos tempo geológicos recentes. Há cerca de 300 milhões de anos, uma produção especialmente excessiva formou os combustíveis fosseis que tornaram possível a revolução industrial. Durante os últimos 60 milhões de anos, mudanças nos usuario Note hipótese de gaia, sustenta que os organismos, principalmetne os organismos evoluiram juntamente com o ambiete fisico, formando o sistema complexo de controle, o qual mantem favoraveis à vida as condições da Terra. ressalta a importancia em preservar as quantidades "ideais" de fontes de poluição não pontuais, como o gas carbonico calor, enxofre, óxidos nitrogenosos. 9 balanços bióticos acoplados com variações na atividade vulcânica, intemperismo de rochas, sedimentação e entrada solar resultaram num estado contínuo oscilante na produção atmosférica de CO2/O2. Durante o ultimo meio século, as atividades agroindustriais humanas aumentaramsignificativamente a concentração de CO2 na atmosfera; isto, por causa do potencial para alteração climática, constitui um problema global sério. 1.4.1 Tipos de fotossíntese Quimicamente, o processo fotossintético significa a armazenagem de uma parte da energia solar sob a forma da energia potencial ou "presa" do alimento. A equação geral da reação e da oxidação-redução pode ser descrita como se segue: Para os vegetais verdes em geral (algas e plantas superiores), A é o oxigênio; a água é oxidada com a liberação do oxigênio gasoso e o gás carbônico é reduzido para carboidrato (CH2O), com a liberação de água. Na fotossíntese bacteriana, por outro lado, H2A (o “redutor”) não é água e sim um composto inorgânico de enxofre, como o ácido sulfídrico (H2S) no caso das sulfobactérias verdes e roxas, ou um composto orgânico, como no caso das bactérias não sulfúreas roxas e pardas. Conseqüentemente, o oxigênio não é liberado nestes tipos de fotossíntese bacteriana. 1.4.2 Tipos de organismos produtores bactérias fotossintéticas e plantas C3 e C4 As bactérias fotossintéticas são principalmente aquáticas (marinhas e dulcícolas) e, na maioria das situações, elas desempenham um papel pouco importante na produção de matéria orgânica. No entanto, podem funcionar sob condições desfavoráveis para a maior parte das plantas verdes ciclam certos 10 minerais dos sedimentos aquáticos. As sulfobactérias verdes e roxas, por exemplo, são importantes no ciclo do enxofre. São anaeróbios obrigatórios (capazes de funcionar apenas na ausência de oxigênio) e ocorrem na camada-limite entre as zonas oxidadas e reduzidas em sedimentos ou água onde existe luz de baixa intensidade. As bactérias fotossintéticas não sulfúreas geralmente são anaeróbios facultativos (capazes de funcionar com ou sem oxigênio). Elas podem funcionar também como heterótrofos, na ausência de luz, à semelhança de muitas algas. A fotossíntese bacteriana, então, pode ser útil em águas poluídas e eutróficas e, por isso, está sendo estudada cada vez mais, mas não pode substituir a fotossíntese "normal", geradora de oxigênio, da qual o mundo depende. Microrganismos denominados bactérias quimiossintéticas são considerados quimiolitótrofos porque obtém a energia para a assimilação de gás carbônico em componentes celulares não pela fotossíntese, mas pela oxidação química de compostos inorgânicos simples. As plantas C3 e plantas C4 Estas plantas realizam a fotossíntese diferindo somente quanto as vias de redução do gás carbônico, sendo que as plantas C3 usam o Ciclo de Calvin e as plantas C4 usam o ciclo do ácido carboxílico. A Fig. 2-6 mostra a resposta das plantas C3 e C4 em relação à luz e à temperatura. As primeiras tendem achegar a uma taxa fotossintética máxima intensidades luminosas e temperaturas moderadas e a serem inibidas por altas temperaturas e à plena luz do sol. Ao contrário, as plantas C4 estão adaptadas a luz e temperatura altas, superando em muito a produção das plantas C3 sob estas condições. Também utilizam mais eficientemente a água, precisando de menos de 400g de água, geralmente, para produzir um grama de matéria seca, em comparação com a necessidade de 400 a 1.000g de água das plantas C3. Além disso, não são inibidas por uma concentração alta de oxigênio, ao contrário das plantas C3. 11 A maioria das espécies de vegetais superiores (espermatófitos) e muitas espécies de algas requerem apenas nutrientes inorgânicos simples, sendo assim completamente autotróficas. Algumas espécies de algas, porém, precisam de uma única substância orgânica complexa “de crescimento", que elas mesmas não sintetizam. Outras espécies ainda requerem uma, duas, três ou muitas de tais substâncias de crescimento, sendo, portanto, parcialmente heterotróficas. O termo auxotrófico (no sentido de fontes auxiliares) é usado muitas vezes para denominar os estádios intermediários entre a autotrofia e a heterotrofia. 1.4.3 Tipos de decomposição e de decompositores O processo heterotrófico da decomposição equilibra aproximadamente o metabolismo autotrófico. Se a decomposição for considerada como sendo "qualquer oxidação biótica liberadora de energia", então vários tipos de decomposição são aproximadamente paralelos aos tipos de fotossíntese, no que se refere às necessidades de oxigênio: a) Respiração aeróbia: oxigênio gasoso (molecular) é o aceptor de elétrons (oxidante). 12 b) Respiração anaeróbia: oxigênio gasoso não entra. Um composto inorgânico, que não o oxigênio nem composto orgânico, é o aceptor de elétrons (oxidante). c) Fermentação: também anaeróbia, mas o composto orgânico oxidado também é o aceptor de elétrons (oxidante). A respiração aeróbia é o contrário da biossíntese "normal", sendo o processo pelo qual a matéria orgânica é decomposta, devolvendo CO2 e H2O com a liberação de energia. Todos os vegetais e animais superiores e a maioria dos Monera e Protista obtêm desta maneira a energia para a sua manutenção e para a formação de material celular. A respiração completa produz CO2, H20 e material celular, mas o processo pode não ser completo, deixando compostos orgânicos que ainda contêm energia para o uso posterior de outros organismos. Como modo de vida, a respiração sem O2 restringe-se principalmente aos saprófagos, tais como bactérias, leveduras, mofos e protozoários, embora também ocorra como processo dependente dentro de certos tecidos de animais superiores. Os saprófagos anaeróbios (tanto obrigatórios como facultativos), embora sejam componentes pouco visíveis da comunidade, são importantes no ecossistema porque só eles conseguem respirar nas camadas escuras, sem oxigênio, dos solos e dos sedimentos aquáticos. Eles "resgatam" a energia e os materiais que sobem das profundidades e os tornam disponíveis aos organismos aeróbios. Atualmente, os compostos reduzidos inorgânicos e orgânicos produzidos pelos processos microbianos anaeróbios servem como reservatórios de carbono e energia para a energia fixada na fotossíntese. Quando expostos posteriormente a condições aeróbias, os compostos servem como substratos para quimiolitótrofos e heterótrofos aeróbios. Desta forma, os dois estilos de vida estão intimamente acoplados e funcionam em conjunto para benefício mútuo. Os produtos mais resistentes da decomposição acabam como húmus (ou substâncias húmicas), que é um componente dos ecossistemas. Existem três fases da decomposição: (1) a formação de detritos particulados por ação física e biológica, acompanhada da liberação de matéria orgânica dissolvida; (2) a formação relativamente rápida de húmus e a liberação de mais compostos orgânicos solúveis pelos sáprótrofos; e (3) a mineralização do húmus, em ritmo mais lento. 13 Na fossilização, a matéria orgânica passa por um processo de duas etapas: a humificação , principalmente aeróbia e relativamente rápida, e a carbonificação, principalmente anaeróbia e muito lenta. Os detritos, substâncias húmicas e toda matéria orgânica que esteja sofrendo decomposição são importantes para a fertilidade do solo. Em quantidades moderadas, estes materiais fornecem uma textura favorável para o crescimento vegetal. Além disso, muitas substâncias orgânicas formam complexos com minerais, afetando consideravelmente a disponibilidade biológica dos minerais. Embora os saprótrofos pareçam mais importantes na produção de hormônios ambientais, as algas também liberam substâncias que têm grandes efeitos sobre a estrutura e função das comunidades aquáticas. Excreções inibidoras das folhas e raízes de vegetais superiores são igualmente importantes neste respeito. Em resumo, a degradação da matéria orgânica é um processo longo e complexo, controlando várias funções importantes no ecossistema. Por exemplo, (1) recicla os nutrientes através da mineralização da matéria orgânica morta; (2) complexaos nutrientes minerais; (3) recupera nutrientes e energia por ação microbiana; (4) produz alimento para uma seqüência de organismos na cadeia alimentar de detritos; (5) produz metabólitos secundários que podem ser inibidores ou estimuladores e que são, muitas vezes, reguladores; (6) modifica os materiais inertes da superfície terrestre, produzindo, o complexo característico da terra que é o "solo"; e (7) mantém uma atmosfera que permita a vida de aeróbios de grau de biomassa, como nós. 1.5 Estabilidade dos ecossistemas Além dos fluxos de energia e ciclos de materiais, os ecossistemas são ricos em redes de informação, que compreendem fluxos de comunicação físicos e químicos que interligam todas as partes e governam ou regulam o sistema como um todo. Conseqüentemente, os ecossistemas podem ser considerados cibernéticos na natureza, mas as funções de controle são internas ou difusas, ao contrário das funções externas e específicas dos mecanismos cibernéticos elaborados pelo homem. A redundância (mais de uma espécie tendo a capacidade de realizar uma determinada função) também aumenta a estabilidade. O grau de estabilidade 14 atingido varia muito, dependendo do rigor do ambiente externo além da eficiência dos controles internos. Existem duas formas de estabilidade: estabilidade de resistência (capacidade de se manter "estável” diante do estresse, mantendo intactas sua estrutura e funcionamento. Ex: uma floresta de pinheiros é extremamente resistente ao fogo em função da casca grossa das arvores, mas se queimar, recuperar-se-á muito lentamente, ou talvez, nunca) estabilidade de elasticidade (capacidade de se recuperar rapidamente quando o ecossistema é afetado por uma perturbação. Ex: uma vegetação de pastagem pega fogo com facilidade, mas recupera-se rápido em poucos anos). O grau de estabilidade realmente alcançado por um determinado ecossistema depende não somente da sua história evolutiva e da eficiência dos seus controles internos, mas também da natureza do ambiente de entrada e também, da complexidade. Em termos gerais, os ecossistemas tendem a se tornar mais complexos em ambientou físicos benignos do que quando sujeitos a perturbações imprevisíveis da entrada, tais como tempestades. 15 1.6 Exemplo de ecossistema: componentes básicos de um lago Substâncias Abióticas: incluem compostos básicos inorgânicos e orgânicos tais como água, gás carbônico, oxigênio, cálcio, nitrogênio, enxofre e sais de fósforo, aminoácidos e humicos, entre outros. Organismos Produtores: Num lago, os produtores podem ser de dois tipos: (1) grandes plantas flutuantes ou enraizadas (macrófitas), geralmente crescendo apenas em água rasa, e (2) minúsculas plantas flutuantes, geralmente algas, chamadas fitoplâncton, distribuídas por todo o lago até a profundidade em que a luz penetra. Quando abundante, o fitoplâncton dá à água uma cor esverdeada. Organismos Macroconsumidores: Os macroconsumidores primários ou herbívoros alimentam-se diretamente de plantas vivas ou partes de plantas. No lago há dois tipos: zooplâncton (plâncton animal) e bentos (formas de fundo), criando um paralelo com os dois tipos de produtores. Os consumidores secundários ou carnívoros, tais como os insetos e peixes piscívoros alimentam-se dos consumidores primários ou de outros consumidores secundários (tornando-se consumidores terciários). Um outro importante tipo de consumidores são os detritívoros que subsistem da "chuva" de detritos orgânicos provenientes das camadas autotróficas acima, e que, junto com os herbívoros, servem como alimento para os carnívoros. Organismos Saprotróficos: As bactérias, flagelados e fungos estão distribuídos por tudo o ecossistema, mas são especialmente abundantes na interface lama-água do lago. Quando as condições de temperatura são favoráveis, os primeiros estádios da decomposição ocorrem rapidamente. 1.7 A cidade: um ecossistema heterotrófico Uma cidade, especialmente uma cidade industrializada, e um ecossistema incompleto ou heterotrófico, dependente de grandes áreas externas a ele para a obtenção de energia, alimentos, fibras, água e outros materiais. A cidade difere de um ecossistema heterotrófico natural, tal como um recife de ostras, uma vez que apresenta: (1) um metabolismo muito mais intenso por unidade de área, exigindo um influxo maior de energia concentrada (atualmente suprida, na maior parte, por combustíveis fósseis); (2) uma grande necessidade de entrada de materiais, como metais pura uso comercial e industrial; e (3) uma saída maior e mais venenosa de 16 resíduos, muitos dos quais são substâncias químicas sintéticas mais tóxicas do que seus precursores naturais. No consumo de energia, as cidades são "pontos quentes". O calor, a poeira e os outros poluentes atmosféricos resultantes tornam o clima das cidades sensivelmente diferentes daquele do campo circundante. Via de regra, as cidades são mais quentes, com maior nebulosidade, apresentando menor insolação e mais chuviscos e neblina do que as áreas rurais adjacentes. A construção urbana tornou- se a principal causa da erosão de solos nos Estados Unidos, ameaçando inverter os ganhos na área de conservação do solo que foram alcançados com tanta dificuldade nas áreas rurais. 1.8 Classificação dos ecossistemas Os ecossistemas podem ser classificados por características ou funcionais ou estruturais. Uma classificação baseada na quantidade e qualidade da "função motriz” da entrada de energia é um exemplo de um esquema funcional útil. A vegetação e/ou importantes características físicas estáveis fornecem a base para a classificação largamente utilizada de biomas. Principais tipos de ecossistemas naturais e biomas da biosfera: Biomas terrestres -Tundra: ártica e alpina -Florestas boreais de coníferas -Florestas temperadas decíduas -Campos temperados de gramíneas Campos e savanas tropicais -Chaparral: regiões de chuvas no inverno e secas no verão -Deserto: herbáceo e arbustivo -Floresta tropical semiperenifólia: estações chuvosa e seca pronunciadas -Floresta tropical úmida perenifôlia Tipos de ecossistemas dulcícolas -Lêntico (águas paradas): lagos, tanques etc. -Lôtico (águas correntes): rios, riachos etc. -Terras úmidas: brejos e florestas de pântanos Tipos de ecossistemas marinhos -Oceano aberto (pelágico) 17 -Águas da plataforma continental (águas costeiras) -Regiões de ressurgência (áreas férteis de alta produtividade pesqueira) -Estuários (baías litorâneas, estreitos, desembocaduras de rios, salgadios etc.). 1.9 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO POGGIANI, F. Ecologia e reflorestamento. Circular técnica n. 61. Disponível em: < http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr061.pdf>. Acesso em 16 jul 2009. MUGNAI, R.; GATTI, M. J. Infra-estrutura básica de suporte para o estudo de ecossistemas aquáticos. Oecol. Bras., 12 (3): 506-519, 2008. Disponível em < http://66.102.1.104/scholar?q=cache:PTk9LKoPv9QJ:scholar.google.com/+estrutura +do+ecossistema+pdf&hl=pt-BR> Acesso em 16 jul 2009. PESSOA, V. T.; NEUMANN-LEITÃO, S.; GUSMÃO, L. M. O.; SILVA, A. P.; PORTO- NETO, F. F. Comunidade Zooplanctônica na Baía de Suape e nos estuários dos Rios Tatuoca e Massangana, Pernambuco (Brasil). Revista Brasileira Engenharia de Pesca, n. 4 (1), jan. 2009. Disponível em http://ppg.revistas.uema.br/index.php/REPESCA/article/viewFile/132/121 Acesso em 17 jul 2009. 18 2 A ENERGIA NOS SISTEMAS ECOLÓGICOS A energia define-se como a capacidade de realizar trabalho. O comportamento da energia é descrito pelas seguintes leis: A primeira lei da termodinâmica, ou a lei da conservação da energia, afirma que a energia pode ser transformada de um tipo em outro, mas não pode ser criada nem destruída. A segunda lei termodinâmica, ou a lei da entropia, pode ser assim enunciada: nenhum processo que implique natransformação de energia ocorrerá espontaneamente, a menos que haja degradação da energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa. O calor de um objeto quente tenderá espontaneamente a se dispersar num ambiente mais frio. A entropia é uma medida da energia não-disponível que resulta das transformações. O termo também é associado a uma desordem associada com a degradação da energia. Os organismos, os ecossistemas e a biosfera inteira conseguem criar e manter um alto grau de ordem interna, ou uma condição de baixa entropia. No ecossistema, a "ordem" de uma estrutura complexa de biomassa é mantida pela respiração total da comunidade, que "expulsa'' continuamente a desordem. Desta forma, os ecossistemas e os organismos são sistemas termodinâmicos abertos, fora do ponto de equilíbrio, que trocam continuamente energia e matéria com o ambiente para diminuir a entropia interna a medida que aumenta a entropia externa (obedecendo assim as leis termodinâmicas). Embora a entropia, no sentido técnico, refira-se a energia, a palavra é usada num sentido mais amplo para se referir a degradação de materiais. O comportamento da energia nos ecossistemas pode ser chamado convenientemente de fluxo de energia, porque as transformações energéticas são de "sentido único", em contraste com o comportamento cíclico dos materiais. 2.1 O ambiente energético Os organismos sobre a superfície terrestre ou perto dela recebem constantemente a radiação solar e o fluxo de radiação térmica, de grande comprimento de onda, das superfícies próximas. Os dois tipos contribuem para o ambiente climático (temperatura, evaporação da água, movimento de ar e água), 19 mas apenas uma pequena fração da radiação solar pode ser convertida pela fotossíntese em energia para os componentes do ecossistema. A radiação que penetra a atmosfera é atenuada exponencialmente pelos gases e poeiras atmosféricas, o grau em que isso ocorre variando conforme a freqüência ou comprimento de onda. A energia radiante que chega à superfície terrestre num dia sem nuvens compreende aproximadamente 10% de ultravioleta, 43% de luz visível e 45% de infravermelho. A radiação visível é a menos atenuada quando passa pelas nuvens e pela água, o que significa que a fotossíntese (a qual está limitada à faixa visível) pode continuar em dias nublados e, até uma certa profundidade, em águas límpidas. A vegetação absorve fortemente os comprimentos de onda azul e vermelho visíveis e infravermelho longo, menos fortemente o verde e muito fracamente o infravermelho próximo. Sendo o verde e o infravermelho próximo refletidos pela vegetação, estas faixas espectrais são empregadas no sensoriamento remoto e fotogrametria aéreos e de satélite para revelar os padrões de vegetação natural, a condição das culturas, a presença de plantas doentes etc. A sombra fresca e intensa da floresta deve-se à absorção pela folhagem arbórea da radiação visível e do infravermelho longo. A clorofila absorve em especial a luz azul e vermelha (as faixas de 0,4 a 0,5 µm e de 0,6 a 0,7 µm, respectivamente), enquanto que a água nas folhas e o vapor d'água em volta delas absorvem a energia térmica do infravermelho longo. Desta forma, as plantas verdes absorvem eficientemente a luz azul e vermelha, mais útil na fotossíntese. Rejeitando, por assim dizer, a faixa do infravermelho próximo, onde se concentra a maior parte da energia térmica solar, as folhas das plantas terrestres evitam temperaturas letais. Além disso, as folhas são resfriadas pela evaporação, e as plantas aquáticas são "refrigeradas a água". A radiação térmica, o outro componente do ambiente energético, provém de qualquer superfície ou objeto que esteja a uma temperatura acima do zero absoluto. Isto inclui não somente o solo, a água e a vegetação, mas também as nuvens, as quais contribuem com uma quantidade substancial de energia térmica que é irradiada para os ecossistemas embaixo. Apesar de o fluxo total de radiação determinar as condições de existência dos organismos, é a radiação solar integrada e direta recebida pelo estrato autotrófico - a energia solar recebida pelas plantas verdes durante os dias, meses e o ano - que é usuario Highlight usuario Highlight 20 de maior interesse para a produtividade e a ciclagem de nutrientes dentro do ecossistema. Esta entrada primária de energia é que movimenta todos os sistemas biológicos. De interesse especial é a chamada radiação líquida na superfície terrestre, ou seja, a diferença entre todos os fluxos de radiação dirigidos para baixo e todos os fluxos de radiação dirigidos para cima. 2.2 Conceito de produtividade Define-se a produtividade primária de um sistema ecológico, de uma comunidade ou de qualquer parte deles, como a taxa na qual a energia radiante é convertida, pela atividade fotossintética e quimiossintética de organismos produtores (na maior parte, plantas verdes), em substâncias orgânicas. É importante distinguir as quatro etapas sucessivas no processo produtivo, que são: 1. Produtividade primária bruta é a taxa global de fotossíntese, incluindo a matéria orgânica, usada na respiração durante o período de medição. Também se chama "fotossíntese total" ou "assimilação total". 2. Produtividade primária líquida é a taxa de armazenamento de matéria orgânica nos tecidos vegetais, em excesso relativamente ao uso respiratório pelas plantas durante o período de medição. Também se chama "fotossíntese aparente" ou "assimilação líquida". Na prática, a quantidade de respiração geralmente é acrescentada às medidas de fotossíntese "aparente" como correção, para estimar a produção bruta. 3. Produtividade líquida da comunidade é a taxa de armazenamento de matéria" orgânica não utilizada pelos heterótrofos (ou seja, a produção primária líquida menos o consumo heterotrófico) durante o período em consideração, geralmente a estação de crescimento, ou um ano. 4. Finalmente, as taxas de armazenamento energético em níveis de consumidores são denominadas produtividades secundárias. Uma vez que os consumidores utilizam apenas materiais alimentares já produzidos, com as perdas respiratórias apropriadas, convertendo-os em tecidos diversos por um só processo geral, a produtividade secundária não deve ser dividida em quantidades “bruta” e “liquida”. 21 Altas taxas de produção ocorrem em ecossistemas tanto naturais como cultivados, quando os fatores físicos estão favoráveis e, principalmente, quando subsídios de energia, vindos de fora do sistema, reduzem os custos da manutenção. Tais subsídios de energia podem ser a ação do vento e da chuva numa floresta úmida, a energia das marés num estuário ou a energia de combustíveis fósseis e do trabalho humano e animal usado no cultivo agrícola. Para avaliar a produtividade de um ecossistema, deve-se considerar a natureza e a grandeza não só dos prejuízos energéticos resultantes dos estresses climáticos, da colheita, da poluição e outros, que desviam a energia do processo produtivo, mas também dos subsídios energéticos que auxiliam este processo produtivo, reduzindo a perda de calor respiratório necessária para manter a estrutura biológica. A produtividade de um ecossistema refere-se à fertilidade ou "riqueza”. Embora seja possível que uma comunidade rica ou produtiva contenha um número maior de organismos que uma comunidade menos produtiva, tal não ocorre se os organismos da comunidade produtiva forem removidos ou se forem repostos rapidamente. Qualquer fonte de energia que reduza o custo da auto-manutenção interna do ecossistema, aumentando, assim, a quantidade de energia de outras fontes, que possa ser convertida em produção, denomina-se um fluxo de energia auxiliar ou “subsidio de energia”. Temperaturas altas (e grave falta de água) geralmente exigem que a planta gaste na respiração uma proporção maior da sua energia de produçãobruta. As comunidades naturais que se beneficiam de subsídios energéticos naturais apresentam a maior produtividade bruta. Um fator que, sob determinado conjunto de condições ambientais ou nível de intensidade, age como subsidio pode, sob outras condições ambientas ou num nível mais intenso de entrada, agir como um prejuízo energético que reduz a produtividade. Um excesso pode ser tão prejudicial como uma carência. Por exemplo, a evapotranspiração pode ser um prejuízo energético em climas secos e um subsidio energético em climas úmidos. 2.2.1 A distribuição da produção primaria A distribuição vertical da produção primária e a sua relação com a biomassa são ilustradas na Fig. 3-6. Nesses diagramas, a floresta (Fig. 3-6A), na qual o tempo 22 de reposição (razão entre biomassa e produção) mede-se em anos, é comparada com o mar (Fig. 3-6B), no qual o tempo de reposição mede-se em dias. Mesmo se considerássemos apenas as folhas verdes, que compõem de 1 a 5% da biomassa total da floresta, como sendo comparáveis ao fitoplancton, o tempo de reposição seria maior na floresta. Nas águas costeiras mais férteis, a produção primária concentra-se nos 30 e tantos metros superiores, nas águas mais transparentes, porém mais pobres; do mar aberto, a zona de produção primária pode estender-se até uma profundidade de 100 metros ou mais. Por isso, as águas costeiras parecem esverdeadas, escuras, e as águas oceânicas, azuis. Em todo tipo de água, a taxa máxima de fotossíntese tende a ocorrer logo abaixo da superfície, porque o fitoplancton circulante está adaptado a sombra, sendo inibido pela luz intensa. Na floresta, onde as unidades fotossintéticas estão permanentemente fixas no espaço, as folhas das copas das árvores estão adaptadas ao sol e as dos estratos inferiores, à sombra. Uma parte bem grande da Terra está na categoria de baixa produção, porque são fortemente limitantes tanto os nutrientes, no oceano aberto, como a água, em desertos e campos naturais. Áreas naturalmente férteis, que recebem subsídios energéticos naturais, encontram-se principalmente em deltas fluviais, estuários, áreas costeiras de ressurgimento o áreas de subsolo rico, do origem glaciária, e de. solos vulcânicos ou transportados pelo vento, em regiões de precipitação suficiente. Existe uma correlação geral entre a evapotranspiração (e, em grau menor, a precipitação propriamente dita) e a produtividade terrestre, e uma correlação inversa entre a produtividade e a profundidade em lagos e no oceano. 2.3 Cadeias alimentares, redes alimentares e níveis tróficos A transferência da energia alimentar, desde a fonte nos autótrofos (plantas), através de uma série de organismos que consomem e são consumidos, chama-se cadeia alimentar ou cadeia trófica. Em cada transferência, uma proporção (muitas vezes até 80 ou 90%) da energia potencial perde-se sob a forma de calor. Portanto, quanto menor a cadeia alimentar, ou quanto mais próximo o organismo do início da cadeia, maior a energia disponível à população. As cadeias alimentares são de dois tipos básicos: a cadeia de pastagem, que, começando de uma base de planta verde, passa por herbívoros que pastam (organismos que comem células ou tecidos 23 vegetais vivos), até carnívoros; e a cadeia de detritos, que passa de matéria orgânica não-viva para microrganismos e depois para organismos comedores de detritos (detritívoros) e seus predadores. As cadeias alimentares não são seqüências isoladas; estão interligadas. O padrão de interconexões amiúde denomina-se rede alimentar ou rede trófica. Em comunidades naturais complexas, diz-se que os organismos que obtêm seu alimento do sol através do mesmo número de estádios pertencem ao mesmo nível trófico. Assim, as plantas verdes (o nível de produtores) ocupam o primeiro nível trófico, os herbívoros, o segundo nível (o nível dos consumidores primários), carnívoros primários, o terceiro nível, e carnívoros secundários, o quarto nível (o nível dos consumidores terciários). Esta classificação trófica é de função e não de espécies como tais. Uma dada população de uma espécie pode ocupar mais de um nível trófico, segundo a fonte da energia assimilada. O fluxo de energia através de um nível trófico é igual à assimilação total (A) a esse nível, a qual, por sua vez, é igual à produção (P) de biomassa e matéria orgânica, mais a respiração (R). Um modelo muito simplificado de fluxo energético para os três níveis tróficos se apresenta na Fig. 3-9. Este fluxograma introduz as notações padrão para os vários fluxos e ilustra a maneira pela qual o fluxo energético reduz-se substancialmente a cada nível sucessivo, independentemente de se são considerados o fluxo total (E e A) ou os componentes P e R. Também são mostrados o metabolismo duplo dos produtores e o aproveitamento luminoso da ordem de 50% absorção e 1% conversão, no primeiro nível trófico. A produtividade secundária (P2 e P3 no fluxograma) é de uns 10% a níveis tróficos sucessivos de consumidores, embora a eficiência tenda a ser mais alta, digamos 20%, nos níveis de carnívoros, como mostra a Fig. 3-9. Onde for alta a qualidade nutritiva da fonte energética, as eficiências de transferência podem ser muito mais altas. 24 Na Fig. 3-10, as cadeias de pastagem e de detritos são representadas como fluxos separados num fluxograma energético em forma de Y, ou de dois canais. Este modelo é mais realista do que o modelo de um único canal porque (1) ele se adequa à estrutura estratificada básica dos ecossistemas; (2) o consumo direto de plantas vivas e a utilização da matéria orgânica morta geralmente ocorrem separados temporal e espacial-mente; c (3) os macroconsumidores (animais fagotróficos) e os microconsumidores (bactérias e fungos saprotróficos) diferem muito em relação tamanho-metabolismo. usuario Note a porção de energ.a produção liquida flui por dois caminhos. varia em diferentes tipos de ecossistemas e muitas vezes dentro do mesmo ecossistema. 25 A porção da energia da produção líquida que flui ao longo dos dois caminhos varia em diferentes tipos de ecossistema e muitas vezes varia anualmente ou com a estação, dentro do mesmo ecossistema. Em todos os ecossistemas, as cadeias de pastagem e de detritos estão interligadas, de modo que mudanças podem ocorrer rapidamente nos fluxos em resposta a entradas de funções motrizes de fora do sistema. Todo o alimento ingerido por animais de pasto não é realmente assimilado; uma parte - por ex., o material não digerido nas fezes - é desviada para a cadeia de detritos. O impacto do animal de pasto sobre a comunidade depende da velocidade a que ele remove o material vegetal vivo e não apenas da quantidade de energia assimilada do alimento. O zooplâncton marinho freqüentemente "pasta" uma quantidade maior de fitoplâncton do que consegue assimilar, o excesso sendo egerido para a cadeia de detritos. Como já foi debatido na seção sobre produtividade primária, a retirada direta de mais de 30 a 50% da produção anual de biomassa vegetal, por animais terrestres de pasto ou pela segadura, torna o ecossistema menos resistente a perturbações futuras. Os fluxos energéticos que se originam em materiais orgânicos não-vivos incluem vários caminhos distintos nas cadeias alimentares, como mostra a Fig. 3-11. O caminho de detritos da Fig. 3-10 agora está subdividido em três fluxos no modelo gráfico da Fig. 3-11. Um fluxo, muitas vezes o dominante, origina-se da matéria orgânica particulada (MOP); os outros dois caminhos partem da matéria orgânica dissolvida (MOD). Fungos denominados micorrizas, pulgões, parasitas e agentes patogênicos extraem ativamente o fotossintato direto do sistema vascular ou dos tecidos vegetais, enquanto que a grande maioria dos microrganismos saprotróficos utilizam a MOD, que "vaza" das células, das raízes, etc. Duas cadeias alimentares, que formamsubsistemas distintos, estão restritas, em grande parte, a ecossistemas terrestres ou de águas rasas: a cadeia alimentar granívora, que se origina das sementes, fontes energéticas de alta qualidade, que são itens importantes na dieta lauta de animais como de seres humanos, e a cadeia alimentar nectarívora, que se origina do no nectário das plantas com flores que dependam dos insetos e de outros animais para a polinização. 26 2.4 Modelo universal de fluxo energético A Fig. 3-12 apresenta o que se poderia chamar de um modelo ''universal", aplicável a qualquer componente vivo, seja ele planta, animal, microrganismo, indivíduo, população ou grupo trófico. Em conjunto, tais modelos podem representar cadeias alimentares ou a bioenergética de um ecossistema inteiro. Na Fig. 3-12, o 27 quadrado sombreado B representa a estrutura viva de biomassa do componente. Embora a biomassa geralmente seja medida como alguma forma de peso (peso vivo [úmido], peso seco, peso sem cinzas), aqui a biomassa deve ser expressa em calorias, a fim de se estabelecerem as relações entre as taxas de fluxo energético e a biomassa existente, instantânea ou média. Na Fig. 3-12, a entrada total de energia está indicada por E. Para autótrofos estritos, esta energia é a luz; para os heterótrofos estritos, é alimento orgânico. Algumas espécies de algas e bactérias podem utilizar as duas fontes de energia, muitas delas podendo precisar das duas em certas proporções. Uma situação semelhante ocorre com certos invertebrados e liquens, que contêm algas mutualistas. Em tais casos, o fluxo de entrada no fluxograma energético pode ser subdividido da mesma forma, para mostrar as diferentes fontes de energia, ou a biomassa pode ser subdividida em quadrados separados, se for desejável manter tudo que estiver dentro do mesmo quadrado ao mesmo nível energético. Um dos aspectos principais do modelo é a separação da energia assimilada nos componentes P e R. A parte da energia fixada (A) que é queimada e perdida sob forma de calor denomina-se respiração; (R); a parcela transformada em matéria orgânica nova ou diferente denomina-se produção (P). Isto representa a produção 28 líquida das plantas e a produção secundária dos animais. O componente P é energia disponível para o nível trófico subseqüente, ao contrário do componente NU, ainda disponível no mesmo nível trófico. 2.5 O papel dos consumidores na dinâmica das redes alimentares Os animais e outros consumidores não são apenas "comedores" passivos ao longo da cadeia alimentar. Satisfazendo as suas próprias necessidades energéticas, muitas vezes eles exercem uma retro-alimentação positiva nos níveis tróficos "corrente acima". Através da seleção natural, os predadores e parasitas adaptam-se de tal forma que, em muitos casos, além de evitar a destruição das suas fontes alimentares, garantem ou até ampliam o bem-estar continuado das suas presas. Teoricamente, então, existem não somente controles por retro alimentação negativa, como também efeitos de retro-alimentação positiva. Entretanto, foi somente durante a última década que casos específicos foram documentados, mostrando que os consumidores podem afetar, de forma positiva, a produção primária. O comprimento das cadeias alimentares é de algum interesse. Uma redução na energia disponível a elos sucessivos limita, evidentemente, o comprimento das cadeias tróficas. Contudo, a disponibilidade de energia pode não ser o único fator, uma vez que cadeias alimentares compridas ocorrem amiúde em sistemas inférteis, como lagos oligotróficos, e cadeias curtas encontram-se freqüentemente em situações muito produtivas ou eutróficas. A produção rápida de material vegetal nutritivo pode levar a uma pastagem intensiva, resultando numa concentração do fluxo de energia nos dois ou três primeiros níveis tróficos. A eutrofização de lagos também desloca a rede alimentar planctônica, desde uma seqüência de fitoplâncton- grande zooplâncton-peixes apropriados para a pesca, para um sistema de micróbios-detritos-microzooplâncton, menos conducente à sustentação da pesca esportiva. Outros mecanismos, além de consumidores, ajudam a controlar o uso da produção primária, por ex., as substâncias alelopáticas produzidas por plantas que inibem, elas mesmas, o consumo heterotrófico. Todos esses mecanismos teóricos de controle estão operando no mundo real, mas não há uma teoria que possa explicar tudo. 29 2.6 Qualidade de energia A energia possui qualidade, além de quantidade. Todas as calorias não são iguais, porque as mesmas quantidades de formas diferentes de energia variam amplamente no seu potencial de trabalho. Formas altamente concentradas, como o petróleo, apresentam um potencial de trabalho maior e, portanto, uma qualidade superior em relação a formas mais diluídas, como a luz solar. A luz solar, por sua vez, é de qualidade superior ao calor de baixa temperatura, que está ainda mais dispersado. Mede-se a qualidade de energia pela energia usada na transformação ou, mais especificamente, pela quantidade de um tipo de energia necessária para desenvolver outro tipo, numa cadeia de transformações energéticas, como uma cadeia alimentar ou uma cadeia de conversões energéticas que levam à geração de eletricidade. Conseqüentemente, à medida que a quantidade declina numa cadeia, a qualidade da energia realmente convertida (depois da dissipação termodinâmica apropriada) na nova forma aumenta proporcionalmente, a cada passo. Em outras palavras, à medida que se degrada a quantidade, eleva-se a qualidade. Um fator conveniente de qualidade pode ser definido como a quantidade de calorias de luz solar que precisa ser dissipada para se produzir uma caloria de uma forma de qualidade mais elevada (por ex., alimento ou madeira). Secundariamente, a estrutura química da fonte energética determina a sua qualidade como fonte alimentar para os consumidores. Na comparação de fontes energéticas para uso direto pela humanidade, deve-se considerar a qualidade, bem como a quantidade disponível e, onde for possível, deve-se adequar a qualidade da fonte à qualidade do uso. O princípio de qualidade de energia é ilustrado nos dois fluxogramas da Fig. 3-16. Numa cadeia alimentar natural, a energia declina em cada etapa, desde a entrada solar de uns 10 kcal/m até 100 kcal/m2, ou menos, no nível de predadores (consumidores secundários), conforme foi descrito na seção anterior. Entretanto, a qualidade de energia, em termos do número de quilocalorias solares dissipadas, aumenta de 1 para 10.000 (Fig. 3-16A). Dez mil kcal de luz solar são necessárias para se produzir 1 kcal de predador. Ou, 100 kcal de herbívoro são necessárias para cada kcal de predador. Conseqüentemente, uma pequena biomassa de predadores apresenta uma qualidade energética 100 vezes maior que a de uma biomassa exercida por unidades "corrente abaixo" sobre unidades "corrente acima". 30 Basicamente, a qualidade de energia é medida pela distância do Sol, em termos termodinâmicos. O fluxo energético real, num dado nível, multiplicado pelo fator de qualidade, denomina-se a energia incorporada daquele componente está disponível ou não a um consumidor, depende da qualidade de recurso. A Fig. 3-16B mostra uma cadeia energética que leva à geração de eletricidade. A quantidade de energia declina ao longo da cadeia, mas a qualidade de energia, a capacidade de realizar trabalho, aumenta com cada conversão. Os combustíveis fósseis apresentam uma qualidade ou potencial de trabalho 2.000 vezes maior do que a da luz solar. Assim, para a energia solar fazer o trabalho ora realizado pelo carvão mineral ou pelo petróleo, ela deve ser concentrada 2.000 vezes. 2.7 Metabolismo e tamanho de indivíduos A biomassa existente (expressa como o peso seco total ou conteúdo calórico total dos organismos presentesnum determinado momento) que pode ser sustentada por um fluxo constante de energia numa cadeia alimentar depende muito do tamanho dos organismos individuais. Quanto menor o organismo, maior o seu metabolismo por grama (ou por caloria) de biomassa e menor a biomassa que pode ser sustentada num determinado nível trófico do ecossistema. Inversamente, quanto 31 maior o organismo, maior a biomassa existente. Assim, a quantidade de bactérias presentes em um dado momento seria muitíssimo menor que a “safra” de peixes ou de mamíferos, muito embora o consumo de energia pudesse ser igual nos dois casos. O metabolismo por grama de biomassa dos animais e vegetais pequenos, como algas, bactérias e protozoários, é imensamente maior que a taxa metabólica de grandes organismos, corno as arvores e vertebrados. Isto se aplica tanto à fotossíntese como à respiração. Em muitos casos, as partes metabolicamente importantes de uma comunidade não são os poucos organismos grandes e visíveis, mas sim os muitos organismos amiúde invisíveis ao olho nu. Desse modo, as minúsculas algas (fitoplâncton), que pesam apenas uns poucos miligramas por hectare de lago num dado momento, podem apresentar um metabolismo tão grande quanto um volume muito maior de arvores numa floresta ou de feno num prado. Da mesma forma, poucos quilogramas de pequenos crustáceos (zooplâncton), "pastando” nas algas, podem apresentar uma respiração total igual à de muitas vacas num pasto. A taxa de metabolismo dos organismos, ou de um grupo de organismos, muitas vezes é estimada medindo-se a taxa de consumo de oxigênio (ou taxa produção de oxigênio, no caso da fotossíntese). A taxa metabólica de um animal tende a aumentar conforme o aumento no volume (ou peso), elevado à potência de dois terços. A taxa metabólica por grama de biomassa também diminui inversamente com o comprimento. Uma relação semelhante parece existir nas plantas, embora diferenças estruturais entre plantas e animais tornem difícil uma comparação direta de volume e comprimento. É importante lembrar que é a taxa metabólica específica do peso, não o metabolismo total do indivíduo, que diminui conforme aumenta o tamanho. Assim, um ser humano adulto precisa, no total, de mais comida do que uma criança pequena, porém de menos comida por quilograma de peso corporal. 2.8 Estrutura trófica e pirâmides ecológicas A interação do fenômeno da cadeia alimentar (perda de energia em cada transferência) com a relação entre tamanho e metabolismo resulta em que as comunidades possuem uma estrutura trófica definida, a qual, muitas vezes, 32 caracteriza um determinado tipo de ecossistema (lago, floresta, recife de coral, pasto etc). A estrutura trófica pode ser medida e descrita tanto em termos da biomassa existente por unidade de área, quanto em termos da energia fixada por unidade de área e por unidade de tempo, em níveis tróficos sucessivos. A estrutura trófica e a função trófica podem ser mostradas graficamente pelas pirâmides ecológicas, onde o primeiro nível, o dos produtores, constitui a base, níveis sucessivos formando as camadas até o ápice. As pirâmides ecológicas podem ser de três tipos gerais: (1) a pirâmide de números, na qual se representa o número de organismos individuais; (2) a pirâmide de biomassa, baseada no peso seco total, no valor calórico ou em outra medida da quantidade total de material vivo; (3) a pirâmide de energia, a qual se mostra o fluxo energético e/ou produtividade em níveis tróficos sucessivos. As pirâmides de números e de biomassa podem ser invertidas (ou parcialmente), ou seja, a base pode ser menor que uma ou mais das camadas superiores, se os organismos produtores individuais forem maiores, em média, que os consumidores individuais. Por outro lado, a pirâmide de energia deve ter sempre uma forma piramidal reta, não-invertida, desde que se considerem todas as fontes de energia alimentar do sistema. Os três tipos de pirâmides ecológicas são ilustrados na Fig. 3-18. A pirâmide de números não é bem fundamental ou instrutiva como artifício ilustrativo, uma vez que não estão indicados os efeitos relativos da cadeia aumentar e do tamanho. A forma da pirâmide de números variará muito com as diversas comunidades, dependendo de se os indivíduos produtores são pequenos (fitoplâncton ou gramíneas) ou grandes (árvores). Também, os números apresentam uma variação tão grande, que é difícil mostrar-se a comunidade inteira na mesma escala numérica. De um modo geral, a pirâmide de biomassa proporciona um quadro mais claro das relações de biomassa existente para grupos ecológicos como um todo. Ao se plotar o peso total dos indivíduos em níveis tróficos sucessivos, pode-se esperar uma pirâmide de inclinação gradativa, desde que o tamanho dos organismos não difira muito. Contudo, se os organismos dos níveis inferiores forem muito menores, em média, do que os dos níveis superiores, a pirâmide de biomassa pode se inverter. Quando, por ex., os produtores são muito pequenos, e os consumidores, grandes, o peso total destes últimos pode ser maior, num momento qualquer. Em Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight Ariane Highlight 33 tais casos, muito embora uma quantidade maior de energia passe através do nível trófico dos produtores do que através dos níveis de consumidores (o que deve ocorrer sempre), o metabolismo acelerado e a rápida de reposição desses pequenos organismos produtores realizam uma produção maior, com uma biomassa menor em qualquer instante. 34 Dos três tipos de pirâmides ecológicas, a pirâmide de energia é a que proporciona, de longe, a melhor imagem geral da natureza funcional das comunidades. O número e a massa de organismos que podem ser sustentados num dado nível, numa dada situação, não dependem da quantidade de energia fixada presente, num determinado momento, no nível imediatamente inferior, mas sim da velocidade em que o alimento está sendo produzido. Ao contrario das pirâmides de números e de biomassa, que ilustram os estados instantâneos, a pirâmide de energia demonstra a velocidade de passagem da massa alimentar ao longo da cadeia trófica. A sua forma não é afetada por variações no tamanho e na taxa metabólica dos indivíduos e, se todas as fontes de energia forem consideradas, ela deve estar sempre na posição direita, por causa da segunda lei da termodinâmica. O conceito de fluxo de energia permite não apenas que se comparem os ecossistemas entre si, como também que se avalie a importância relativa das populações dentro do subsistema da comunidade biótica. Como artifícios gráficos, as pirâmides ecológicas podem ser utilizadas para se ilustrarem relações quantitativas nas partes específicas de um ecossistema em que eventualmente haja um interesse especial, por ex., em conjuntos de predador-presa ou hospedeiro-parasita. Uma pirâmide de números de parasitas geralmente seria invertida, ao contrário das pirâmides de biomassa e energia. Infelizmente, populações inteiras de parasitas e hiperparasitas (parasitas que vivem de outros parasitas) raramente foram medidas. 2.9 A Teoria da Complexidade, a Energética de Escala, a Lei dos Retornos Minguantes e o conceito da capacidade de suporte À medida que aumentam o tamanho e a complexidade de um sistema, o custo energético de manutenção tende a aumentar proporcionalmente, a uma taxa maior. Ao se dobrar o tamanho do sistema, torna-se geralmente necessário mais que o dobro da quantidade de energia, a qual deve ser desviada para se reduzir o aumento na entropia associado à manutenção da maior complexidade estrutural e funcional. Existem retornos crescentes com a escala, ou economias de escala, associados a um aumento do tamanho e da complexidade, tais como melhor qualidade e estabilidade frentea perturbações. No entanto, também existem retornos minguantes com a escala, ou "deseconomias" de escala, envolvidos no usuario Highlight usuario Highlight 35 maior custo necessário para se livrar da desordem. Estes retornos minguantes são inerentes a sistemas grandes e complexos, podendo ser diminuídos por melhorias no projeto básico que aumentem a eficiência da transformação da energia. Contudo, não podem ser de todo mitigados. A lei dos retornos minguantes aplica-se a todo tipo de sistema. À medida que um ecossistema torna-se maior e mais complexo, aumenta a proporção da produção bruta que deve ser respirada pela comunidade para sustenta-la e diminui a proporção que pode ser dedicada ao crescimento. No momento do equilíbrio entre estas entradas e saídas, o tamanho não pode aumentar mais. A quantidade de biomassa que pode ser sustentada sob estas condições denomina-se a capacidade máxima de suporte. As evidências indicam cada vez mais que a capacidade ótima de suporte, sustentável durante muito tempo frente às incertezas ambientais, é mais baixa, talvez 50% mais baixa que a capacidade teórica máxima de suporte. Os conceitos de capacidade de suporte podem ser esclarecidos por um diagrama como a Fig. 3-19. O crescimento de tamanho e complexidade das populações, bem como dos ecossistemas como um todo, muitas vezes segue uma curva em forma de S, ou sigmóide. Dois pontos da curva de crescimento devem ser notados agora: K, a assíntota superior, representa a capacidade máxima de suporte, e I, o ponto de inflexão onde a taxa de crescimento é máxima, é mostrado pelo diagrama inferior da Fig. 3-19. O nível I é a odutividade máxima sustentável ou densidade ótima dos administradores de caça e pesca, uma vez que, teoricamente, a biomasa retirada seria reposta com a máxima rapidez neste ponto. O problema com manter-se o nível máximo K no ambiente variável do mundo real é que é provável que os limites sejam ultrapassados, seja por causa do ímpeto do crescimento, que faz com que o tamanho da população exceda K, seja por causa de uma redução periódica na disponibilidade de recursos, que reduz K, pelo menos temporariamente. Quando os limites são ultrapassados e a entropia excede a capacidade do sistema de a dissipar, deve ocorrer uma redução em tamanho, ou “craque”. Se, no processo a capacidade produtiva do ambiente for lesada, o próprio K pode baixar, pelo menos temporariamente, a um novo nível. 36 2.9.1 Exemplo de retornos Um exemplo de retornos, tanto crescentes como minguantes, em relação ao tamanho de uma cidade está esboçado na Fig. 3-20. Enquanto aumenta o tamanho da cidade, os salários tendem a aumentar, mas a qualidade do ar diminui Outros retornos minguantes com a escala, à medida que aumenta o tamanho da cidade, são: 1. Custos de transporte sobem. 2. Desemprego em massa durante recessões econômicas. 3. Sobe a taxa de doença dos empregados (efeitos crônicos da poluição atmosférica e de outras modalidades). 37 2.10 Uma classificação de ecossistemas baseada na energia A fonte e a qualidade da energia disponível determinam, a um grau maior ou menor, os tipos e a abundância dos organismos, o padrão dos processos funcionais e de desenvolvimento e o estilo de vida dos seres humanos. Já que a energia é um denominador comum e a função motriz final em todos os ecossistemas, sejam antropogênicos ou naturais, ela fornece uma base lógica para uma classificação de "primeira ordem". Com esta base, é conveniente distinguirem-se quatro classes básicas de ecossistema: 1. Ecossistemas naturais que dependem da energia solar, sem outros subsídios. 2. Ecossistemas naturais que dependem da energia solar, com subsídios de outras fontes naturais de energia. 3. Ecossistemas que dependem da energia solar, com subsídios antropogênicos. 4. Sistemas urbano-industriais, movidos a combustível (combustíveis fósseis ou outros combustíveis orgânicos ou nucleares são as fontes de energia). 38 Esta classificação baseia-se no ambiente de entrada contrastando com e complementando a classificação por biomas, que se baseia na estrutura interna do ecossistema. 2.11 ARTIGOS RELACIONADOS A ESTE CAPÍTULO FORSBERG, B.R. ET AL. Teias energéticas aquáticas da Amazonia Central. Anais do II Congresso Latino-Americano de Ecologia. Caxambu, MG, 1992. Disponível em < http://boto.ocean.washington.edu/lc/RIVERS/68_forsberg_br_caxambu.pdf > Acesso em 17 jul 2009. ESPOSITO, T. SOUZA, D.B. ROSSINI, D., SANTOS, R., FERNANDES, S. FLYNN, M. N. Marisma fluxo energético e pirâmide de biomassa. Disponível em < http://189.126.102.98/download/artigos/ambiental167.pdf > Acesso em 17 jul 2009. REZENDE, C. F., CARAMASCHI, E. M. P., MAZZONI, R. Fluxo de energia em comunidades aquáticas, com ênfase em ecossistemas lóticos. Oecol. Bras., 12 (4): 626-639, 2008. Disponível em < http://66.102.1.104/scholar?q=cache:BXOZ3CKtNagJ:scholar.google.com/+fluxo+en ergetico+ecossistema&hl=pt-BR> Acesso em 17 jul 2009. 39 3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS 3.1 Padrões e tipos básicos de ciclos biogeoquímicos Os elementos químicos, inclusive todos os elementos essenciais do protoplasma, tendem a circular na biosfera em vias características, do ambiente aos organismos e destes, novamente, ao ambiente. Estas vias mais ou menos circulares se chamam ciclos biogeoquímicos. O movimento desses elementos e compostos inorgânicos que são essenciais para a vida pode ser adequadamente denominado ciclagem de nutrientes. Cada ciclo também pode ser convenientemente dividido em dois compartimentos ou pools: (1) o pool reservatório, componente maior, de movimentos lentos, geralmente não-biológico, e (2) o pool lábil ou de ciclagem, uma parcela menor porém mais ativa que se permuta (se move alternadamente nos dois sentidos) rapidamente, entre os organismos e o seu ambiente imediato. Do ponto de vista da biosfera como um todo, os ciclos biogeoquímicos se classificam em dois grupos básicos: (1) os tipos gasosos, nos quais o reservatório está situado na atmosfera ou na hidrosfera (oceano), e (2) os tipos sedimentares, nos quais o reservatório localiza-se na crosta terrestre. Dos noventa e tantos elementos conhecidos da natureza, sabe-se que 30 a 40 são necessários aos organismos vivos. Alguns elementos, tais como o carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o nitrogênio, são necessários em grandes quantidades; outros são necessários em quantidades pequenas, ou até mínimas. Seja qual for a necessidade, os elementos essenciais exibem ciclos biogeoquímicos definidos. Os elementos não-essenciais (elementos não necessários para a vida), apesar de estarem menos intimamente ligados aos organismos, também apresentam ciclos, muitas vezes fluindo junto com os elementos essenciais, por causa das suas afinidades químicas com estes. Na. Fig. 4-1, um ciclo biogeoquímico está superposto a um diagrama simplificado de fluxo energético, a fim de se mostrar como o fluxo unidirecional da energia movimenta o ciclo da matéria. Na natureza, os elementos quase nunca estão distribuídos homogeneamente, nem estão presentes na mesma forma química através do ecossistema todo. Na Fig. 4-1, o pool reservatório, a parcela que fica 40 química ou fisicamente afastada dos organismos, é indicado pelo compartimento intitulado "pool de nutrientes”, enquanto que o pool ou a parcela de ciclagem é designada pelo círculo sombreado que passa dos autótrofos aos heterótrofos e, destes, novamente aos autótrofos. Às vezes a parcela de reservatório é chamada de pool "não-disponível", e o pool de ciclagem ativa é chamado de pool "disponível" ou "permutável". O fundamento lógico para se classificarem os ciclos biogeoquímicos em tipos gasosos e tipos sedimentares está em que alguns ciclos, tais como aqueles que envolvem carbono, nitrogênio ou oxigênio, ajustam-se bastante rapidamente a perturbações,por causa dos grandes reservatórios atmosféricos ou oceânicos, ou ambos. Os aumentos locais na produção de CO2 por oxidação ou combustão, por exemplo, tendem a ser rapidamente dissipados por movimentos atmosféricos, sendo o aumento dessa produção compensado pelo aumento de absorção pelas plantas e formação de carbonatos no mar. Os ciclos do tipo gasoso, com grandes reservatórios atmosféricos, podem ser considerados como "bem-tamponados" em termos globais, por causa da grande capacidade de se ajustarem às mudanças. Entretanto, existem limites definidos à capacidade de ajuste, mesmo de um reservatório tão grande quanto a atmosfera. Os ciclos sedimentares, que envolvem elementos tais como fósforo ou ferro, tendem a ser muito menos controlados ciberneticamente e a ser mais facilmente afetados por perturbações locais, porque a 41 grande massa de material está no reservatório relativamente inativo e imóvel da crosta terrestre. Conseqüentemente, alguma parcela do material permutável tende a ficar perdido por grandes períodos de tempo, quando o movimento "ladeira abaixo" se torna mais rápido que o retorno "ladeira acima". Os mecanismos de retorno ou de reciclagem, em muitos casos, são principalmente bióticos. Três exemplos ilustrarão o princípio da ciclagem. O ciclo do nitrogênio é exemplo de um ciclo tipo gasoso muito complexo e bem-tamponado; o ciclo do fósforo é exemplo de um tipo sedimentar mais simples e menos bem-regulado. Estes dois elementos, muitas vezes, são fatores muito importantes que limitam ou controlam a abundância dos organismos e, por isso, já foram alvo de muita atenção e estudo. O ciclo do enxofre é um bom exemplo para se ilustrarem as ligações entre o ar, a água e a crosta terrestre, pois existe uma ciclagem ativa dentro de, e entre, cada um desses pools. Tanto o ciclo do nitrogênio quanto o do enxofre ilustram o papel fundamental desempenhado pelos microrganismos, bem como as complicações causadas pela poluição atmosférica industrial. 3.1.1 O ciclo do nitrogênio A Fig. 4-2 mostra três maneiras diferentes de se ilustrarem as complexidades do ciclo do nitrogênio; cada diagrama ilustra uma das principais características gerais ou forças motrizes. A Fig. 4-2A acentua a circularidade dos fluxos e os tipos de microrganismos que são necessários para as trocas básicas entre os organismos e o ambiente. O nitrogênio do protoplasma é decomposto, passando de uma forma orgânica para uma forma inorgânica, pela ação de uma série de bactérias decompositoras, cada uma delas especializada em realizar uma parte do processo. Parte desse nitrogênio se transforma em amônia e nitrato, as formas mais facilmente utilizadas pelas plantas verdes. A atmosfera, que contém 80% de nitrogênio, é o maior reservatório e a válvula de escape do sistema. O nitrogênio entra continuamente na atmosfera pela ação das bactérias desnitrificantes, e continuamente retorna ao ciclo pela ação das bactérias ou algas fixadoras de nitrogênio (biofixação), por meio da radiação e por outras formas de fixação física. A Fig. 4-2B ilustra os processos do ciclo: fixação, assimilação, nitrificação, desnitrifícação, decomposição, lixiviação, escoamento, solução pela chuva etc. A figura também mostra algumas estimativas (números entre parênteses) de fluxos usuario Highlight 42 globais anuais, em teragramas (1 Tg = 1O6 toneladas), inclusive estimativas da grandeza dos dois fluxos diretamente relacionados às atividades do homem, a saber, emissões na atmosfera e fixação industrial; esta se destina em grande parte às terras agrícolas, sob a forma de fertilizantes à base de nitrogênio. Este último fluxo é de uma quantidade apreciável, aproximadamente igual à fixação atmosférica natural, mas menor que a biofixação, que, naturalmente, também é aumentada pela cultura de leguminosas. Como o reservatório atmosférico de N2 não tem mudado em tempos recentes, acredita-se que as entradas e saídas do reservatório atmosférico (desnitrificação x fixação) continuam equilibradas, de modo geral, talvez com um pequeno excesso de fixação. A Fig. 4-2C mostra os componentes do ciclo do nitrogênio, destacando a energia necessária para a operação do ciclo. As etapas desde as proteínas até os nitratos fornecem energia para os organismos que realizam esta decomposição, enquanto que a transformação no sentido inverso requer energia de outras fontes, tais como a matéria orgânica ou a luz solar. As bactérias quimiossintéticas Nitrosomonas (que convertem a amônia em nitrito) e Nitrobacter (que convertem nitrito em nitrato), por ex., obtém energia da decomposição química, enquanto que as bactérias desnitrificantes e fixadoras de nitrogênio precisam de energia de outras fontes para realizarem as suas respectivas transformações. 43 CICLO DO NITROGÊNIO Até cerca de 1950, acreditava-se que a capacidade de se fixar o nitrogênio atmosférico estava limitada a estes poucos, embora abundantes, tipos de microrganismos: 1. Bactérias de vida livre 44 2. Bactérias simbióticas dos nódulos das plantas leguminosas 3. Algas verde-azuladas (cianofíceas), também conhecidas como cianobactérias Descobriu-se, então, que a bactéria roxa Rhodos pirillum e outros representantes das bactérias fotossintéticas são fixadores de nitrogênio e que uma variedade de bactéria do solo, também tem esta capacidade. Mais tarde, descobriu- se que os actinomicetos encontrados nos nódulos das raízes dos amieiros e de outras plantas lenhosas não-leguminosas, fixam o nitrogênio com tanta eficiência quanto as bactérias Rhizobium nos nódulos das leguminosas. A fixação do nitrogênio pelas algas verde-azuladas ou cianobactérias pode ocorrer em formas de vida livre ou em simbiose com fungos, como em certos liquens, ou com briófitos, pteridófitos e pelo menos um espermatófito. As folhas da pequena pteridófita aquática flutuante Azolla contêm pequenos poros cheios de cianobactérias simbióticas que fixam ativamente o nitrogênio. Há séculos, esta pteridófita desempenha um papel importante na rizicultura do Oriente; antes do plantio das mudas de arroz, os arrozais inundados são cobertos com essas samambaias aquáticas, as quais fixam uma quantidade suficiente de nitrogênio para abastecer a cultura de arroz à medida que ele amadurece. Esta prática, bem como o favorecimento de cianobactérias de vida livre, permite que o arroz seja cultivado ano após ano no mesmo campo, sem o acréscimo de fertilizantes. Como no caso das bactérias dos nódulos das leguminosas, as cianobactérias são mais eficientes que as de vida livre. Apenas os procariotas, que são organismos anucleados e mais primitivos, conseguem converter o gás nitrogênio, sem utilidade biológica nas formas nitrogenadas necessárias para se construir e se manter vivo o protoplasma. Quando esses microrganismos formam relacionamentos mutuamente benéficos com as plantas superiores, a fixação do nitrogênio é aumentada em grande escala. A planta fornece um habitat apropriado, protege os micróbios contra um excesso de O2, o qual inibe a fixação, e fornece para os micróbios a energia de alta qualidade necessária. Em troca, a planta recebe uma provisão facilmente assimilável de nitrogênio fixado. 45 3.1.2 O ciclo do fósforo O ciclo do fósforo parece ser mais simples do que o ciclo do nitrogênio, porque o fósforo ocorre em poucas formas químicas. O fósforo, um componente importante e necessário do protoplasma, tende a circular quando os compostos orgânicos desintegram-se, finalmente, em fosfatos, que estão novamente disponíveis ás plantas. Porém, grande reservatório de fósforo não é o ar, mas são as rochas e outros depósitos formados em idades geológicas passadas. Estes depósitos sofrem gradualmente erosão e liberam fosfatos para o ecossistema; porém, grande quantidade de fosfato escapa para o
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