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A Lei nº 14 155_2021 em análise_ invasão de dispositivo informático, furto eletrônico, fraude eletrônica e competência

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jusbrasil.com.br
25 de Junho de 2021
A Lei nº 14.155/2021 em análise: invasão de dispositivo
informático, furto eletrônico, fraude eletrônica e
competência
Por Bruno Gilaberte e Marcus Montez
1- INTRODUÇÃO
Com a pandemia de COVID-19, o direito penal se viu obrigado a
enfrentar uma realidade inesperada, com reflexos em debates
dogmáticos outrora tímidos – como a possibilidade de
complementação de normas penais em branco por atos normativos
estaduais e municipais – e na produção de tipos penais incriminadores,
muitos contemplando comportamentos até então considerados
inimagináveis, citando-se como exemplo o delito de simulação de
aplicação de vacina, previsto no Projeto de Lei nº 432/2021, da Câmara
dos Deputados.
Esse panorama afetou também infrações penais clássicas, que
absorveram meios executórios tecnológicos contemporâneos. Estamos
falando dos crimes de furto e estelionato, que já haviam se tornado
comuns nas transações bancárias digitais e em situações análogas de
movimentação de recursos à distância. O distanciamento social, o
recolhimento domiciliar e os períodos de fechamento ou limitação das
atividades empresariais fizeram com que tais fraudes alcançassem um
aumento exponencial, inclusive com o surgimento de diversos golpes, o
que não passou despercebido pelo legislativo. Saliente-se que,
consoante leciona Eric Hingendorf, “a criminalidade da internet e da
computação se volta, majoritariamente, contra bens jurídicos
tradicionais; apenas o modo da agressão é novo”.[1]
Nessa esteira, em 28/05/2021, publicou-se a Lei nº 14.155, que alterou
a estrutura dos artigos 155 e 171 do Código Penal, punindo de forma
sensivelmente mais grave as fraudes eletrônicas e informáticas,
trazendo, a reboque, modificações no conteúdo do crime previsto no
art. 154-A do CP (invasão de dispositivo informático).
O legislador aproveitou a oportunidade, ainda, para alteração de regras
de competência concernentes a algumas espécies de estelionato,
estimulado por – inexplicável – polêmica surgida no seio do STJ,
sepultada pela própria Corte em decisão da Terceira Seção.[2]
Algumas das alterações introduzidas são interessantes; a maior parte,
contudo, depende de uma cuidadosa interpretação de textos mal
formulados. Há inconstitucionalidades pontuais. E, como no caso da
competência, prova-se que, de boas intenções, o inferno está cheio,
como diz o conhecido provérbio. Dediquemo-nos, assim, ao estudo da
nova lei.
2- INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO
As primeiras alterações promovidas pelo novo diploma legal recaíram
sobre o artigo 154-A do CP (invasão de dispositivo informático). Aliás,
causa espécie que um crime criado em 2012 seja reformado em tão
curso espaço de tempo, o que, todavia, não chega a surpreender, dada a
má técnica legislativa reinante no Brasil.
A redação original do tipo penal mencionava a “violação indevida de
mecanismo de segurança” como elementar. Ou seja, somente se
reputava caracterizado o delito quando o agente burlasse senhas de
acesso, criptografia, firewalls ou qualquer outra forma de proteção do
conteúdo armazenado no dispositivo. Afastou-se, na reforma, essa
exigência. Qualquer intrusão não autorizada – desde que realizada com
os elementos subjetivos especiais legalmente previstos – a dispositivo
informático é apta a permitir a subsunção. Por exemplo, se uma pessoa
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1219122839/lei-14155-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28004011/artigo-154a-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
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esquece seu laptop ligado e acessível a terceiros e outra se aproveita da
distração para apagar a dissertação de mestrado que era elaborada pelo
usuário do dispositivo, temos o crime em comento.
Outra inovação relevante recai sobre o dispositivo informático
invadido: antes, a conduta era praticada sobre dispositivo alheio,
conduzindo à interpretação de que o dispositivo tinha que pertencer a
outrem; agora, a norma fala em dispositivo “de uso alheio”. E qual é a
implicação prática? Mesmo o proprietário do dispositivo pode praticar
o crime, desde que esse dispositivo esteja cedido ao uso de outrem.
Frise-se que a norma, ao mencionar a ausência de autorização, já não
fala em “titular do dispositivo”, mas em “usuário do dispositivo”,
concatenando-se com a nova dinâmica delitiva.
Perceba-se que não houve alteração no que concerne à incidência da
conduta única e exclusivamente sobre “dispositivos informáticos”,
conceituado como todo aparelho ou mecanismo “capaz de tratar
informação, diga-se, armazenar ou processar dados (cálculo, alteração,
inclusão ou exclusão)”.[3] São dispositivos informáticos os
smartphones, computadores, discos rígidos externos, pen drives,
aparelhos de GPS, smart TVs, consoles de videogames etc. O conceito
não alcança aplicativos isoladamente considerados, plataformas
digitais e afins. Todavia, esses softwares trabalham com dados que são
armazenados em servidores, que são dispositivos informáticos de uso
alheio. Assim, se uma pessoa consegue acesso aos arquivos
armazenados na “nuvem” por outra, ainda que não se valha da invasão
de um dispositivo pertencente ao titular desses arquivos,
invariavelmente atingirá o servidor da empresa que presta o serviço,
um dispositivo usado por aquele que tem seus arquivos devassados. Ou
seja, sepulta-se qualquer discussão que possa existir acerca da extensão
da conduta.[4]
A pena do art. 154-A foi sensivelmente alterada: de detenção, de três
meses a um ano, e multa, passou a ser de reclusão, de um a quatro
anos, e multa. Ou seja, o delito perdeu sua característica de infração de
menor potencial ofensivo. O mesmo movimento de recrudescimento
penal atingiu a majorante do § 2º, outrora estabelecida no patamar um
sexto a um terço e ora fixada nos limites de um terço a dois terços.
Igualmente, alterou-se a sanção penal cominada ao tipo qualificado do
§ 3º: de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, para reclusão, de
dois a cinco anos, e multa. A qualificadora trazia uma cláusula de
subsidiariedade expressa, abolida na reforma.
Não ocorreu nenhuma modificação no que tange aos parágrafos 4º e
5º, que contemplam causas de aumento da pena. Contudo, deu-se uma
alteração da aplicabilidade do disposto no § 5º, que, em virtude da
redação do art. 68, parágrafo único, do CP, prevalecia sobre a norma
do § 2º. Todavia, como o patamar de aumento da sanção penal do § 2º
agora supera o estabelecido pelo § 5º, a situação se inverteu: no
concurso entre as majorantes, prevalece a do § 2º.
Impõe-se observar que a pena do tipo qualificado, acrescida de dois
terços, pode chegar ao limite máximo de oito anos e quatro meses de
reclusão, o que seguramente suscitará discussões sobre a
proporcionalidade da sanção penal.
3- FURTO ELETRÔNICO
Após diversas intervenções legislativas (leis nº 9.426/1996,
13.330/2016 e 13.654/2018), a Lei nº 14.155/2021 manteve a tendência
legislativa de criar qualificadoras para o crime de furto. Persiste,
inclusive, a despreocupação sistemática, com a criação de margens
penais diferentes para cada categoria de qualificadoras, sem que haja
exposição de motivos para a opção.
Consta do § 4º-B que a pena do furto “é de reclusão, de 4 (quatro) a 8
(oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de
dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
computadores, com ou sem a violação de mecanismode segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo”.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631687/artigo-68-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631646/par%C3%A1grafo-1-artigo-68-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103287/lei-9426-96
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/369171746/lei-13330-16
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/570158021/lei-13654-18
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1219122839/lei-14155-21
Cumpre salientar, de início, que a qualificadora é uma forma de furto
fraudulento, todavia mais específica. Daí se extraem três conclusões:
(a) se a conduta não é fraudulenta, não há se falar na aplicação do § 4º-
B (por exemplo, quando um dispositivo eletrônico é usado para
explodir um cofre ou para abrir uma fechadura, situações em que o
furto será qualificado, mas por circunstâncias diferentes); (b)
reconhecendo-se a incidência do novo dispositivo, resta absorvida a
formulação genérica prevista no § 4º, II, CP; (c) com a determinação de
que o furto é efetivamente fraudulento, o crime existirá
invariavelmente na forma qualificada, pois, se afastado o § 4º-B,
invariavelmente existirá a possibilidade de reconhecimento do § 4º, II.
Dispositivo eletrônico não se confunde com informático. Essas
definições existem em uma relação de gênero e espécie. Em outras
palavras: dispositivo eletrônico é um conceito mais abrangente,
contemplando aparelhos e mecanismos que não são necessariamente
informáticos, como calculadoras eletrônicas, aparelhos de fax, cartões
bancários dotados de chip e outros. Assim, torna-se possível asseverar
que, nesse ponto, o âmbito de aplicabilidade do art. 155, § 4º-B é mais
alargado do que aquele dedicado ao art. 154-A, CP.
Impõe-se que o meio para a execução do crime seja um dispositivo
eletrônico ou informático. Meio é a forma pela qual o delito é
diretamente praticado, não se confundindo com a expressão “modo de
execução”, que se refere ao recurso que propicia o emprego dos meios
executórios. Exemplificando, tomemos a hipótese de um homicídio em
o agente que se vale de dissimulação para ficar sozinho com a vítima,
após o que a ataca a golpes de faca. A dissimulação é o modo de
execução, ao passo em que o emprego da faca é o meio. Transportemos
esse ensinamento para a órbita do furto: se o sujeito ativo se vale de
um dispositivo informático (por exemplo, comunicações feitas através
de aplicativos de smartphone) para ser convidado à casa da vítima e,
uma vez no imóvel, subtrai fisicamente joias encontradas em uma
gaveta, esse crime não é qualificado pelo § 4º-B. O uso de um
dispositivo informático foi o modo do qual se valeu o autor para se
aproximar da vítima, não o meio executório. Todavia, se o cartão
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28004011/artigo-154a-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
bancário eletrônico da vítima é usado, de forma não autorizada, para
sacar dinheiro de sua conta, incide a qualificadora. Nesse caso, o
dispositivo eletrônico foi usado como meio de execução.
Não é necessário que os dispositivos estejam conectados à rede
mundial de computadores. Aliás, no que concerne a dispositivos
eletrônicos que não sejam informáticos, frequentemente não estão.
Tampouco é relevante a burla a um mecanismo de segurança ou o uso
de um programa malicioso, que pode existir ou não.
A parte final do dispositivo autoriza a qualificação do crime quando
usado “qualquer outro meio fraudulento análogo”. Certamente
surgirão, nesse ponto, duas interpretações: (a) trata-se de técnica de
interpretação analógica, ou seja, aplica-se o parágrafo quando há o uso
de outros meios eletrônicos ou informáticos, ainda que não se
traduzam no uso de um dispositivo (aparelho ou mecanismo),
guardando-se, assim, a semelhança para com a casuística normativa;
(b) há uma indevida autorização para a analogia in malam partem,
vedada pelo princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX, CRFB e art. 1º,
CP). Em tese, a única interpretação que preserva a constitucionalidade
desse trecho é a primeira. Convém, no entanto, consignar a advertência
de Nilo Batista, ao criticar a imprecisão das normas penais:
“Formulações típicas ou majorantes de pena que se valem da
enunciação descritiva de alguns elementos, seguida de uma cláusula de
caráter analógico, são igualmente perigosas (...)”.
No tocante à sanção penal, nenhuma outra forma de furto qualificado
contempla a mesma sanção (quatro a oito anos de reclusão, além de
multa). Nesse ponto, mostra-se pertinente a questão: a que se deve a
(ilógica) pluralidade de limites penais para cada uma das espécies de
furto qualificado? Originalmente, quando o art. 155 do CP era
qualificado unicamente pelo § 4º, todas as hipóteses possuíam pena
mínima de dois e máxima de oito anos de reclusão. Agora há penas de
quatro a dez anos; de três a oito; de dois a cinco; e a mais recente,
criada pela Lei nº 14.155. Ora há pena de multa cumulativa (§§ 4º, 4ª-
A, 4º-B e 7º), ora não (§§ 5º e 6º). Em nenhuma das situações há uma
explicação plausível para a opção legislativa.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729288/inciso-xxxix-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639741/artigo-1-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1219122839/lei-14155-21
A despreocupação com a sistemática da legislação penal é flagrante,
revelando que o legislador comina penas sustentado apenas no seu
capricho e na sua conveniência, não com esteio em argumentos
consistentes de política criminal. Não por outro motivo,
frequentemente a doutrina penal aponta violações aos princípios
penais – mormente o da proporcionalidade – por conta da
inadequação. Outrora refratária, a jurisprudência já começa a dar
guarida a tais ponderações (STF, RE nº 979962).
Não obstante a qualificação da conduta, o legislador criou causas de
aumento da pena incidentes apenas sobre o tipo qualificado do § 4º-B
alocando-as no § 4º-C. Assim, “considerada a relevância do resultado
gravoso”, aumenta-se a pena de um terço a dois terços “se o crime é
praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional” (inciso I); ou de um terço ao dobro “se o crime é praticado
contra idoso ou vulnerável” (inciso II).
No inciso I, justifica-se a majoração porquanto o uso de servidores
situados fora do Brasil dificulte a repressão ao delito, tornando mais
complexo o trabalho de apuração. Ademais, demonstra-se maior nível
de sofisticação e, consequentemente, maior especialização do agente
criminoso, avultando a reprovabilidade comportamental. No inciso II,
a vítima é pessoa que, pela idade avançada, ou por alguma outra causa
de especial vulnerabilidade, é mais propensa a ser ludibriada quando
meios tecnológicos são adotados.
A utilização de servidor situado fora do território nacional evidencia
crime em trânsito, ou seja, que envolve o território de dois ou mais
países. Não é necessário que o autor esteja fora do Brasil, bastando o
servidor. Aqui, as margens penais podem alcançar o limite mínimode
cinco anos e quatro meses (quatro anos + 1/3) e máximo de treze anos
e quatro meses de reclusão. Perceba-se que a pena é superior àquela
cominada ao roubo e à extorsão (quatro a dez anos de reclusão). Assim,
se o autor, valendo-se de meios tecnológicos e de um servidor
localizado fora do Brasil, sequestra o banco de dados de uma empresa
e, mediante grave ameaça, cobra uma quantia para devolução dos
dados, o que configura crime de extorsão, a pena é inferior a do agente
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/631604013/recurso-extraordinario-re-979962-rs-rio-grande-do-sul
que, valendo-se dos mesmos meios tecnológicos e de um servidor fora
do país, limita-se a transferir valores de uma conta para outra. Em
suma, a extorsão, que possui tutela jurídica plural (patrimônio,
integridade corporal e liberdade individual) é apenada de forma mais
suave do que o furto. Flerta-se com a desproporcionalidade.
Por servidor, compreenda-se o “sistema informático que permite o
acesso a informação por parte de outros sistemas ou computadores
dispostos em rede”, ou o “computador que, numa rede de
computadores, aloja esse tipo de sistema informático”.[5]
A questão etária e a vulnerabilidade da vítima – não necessariamente
coligada a uma faixa etária – determinaram a majoração prevista no
inciso II. Se, no inciso I, já se observada possível desproporção, no
inciso II ela se torna notória. A pena alcança margem penal mínima de
cinco anos e quatro meses e máxima de dezesseis anos de reclusão.
Saliente-se que o furto é um crime não violento, apto a atingir
unicamente o patrimônio da vítima. Nada justifica que sua pena seja
quatro anos superior àquela cominada a um homicídio simples; ou que
supere a sanção do roubo praticado mediante restrição da liberdade da
vítima (art. 157, § 2º, V, CP, que é arrolado – discutivelmente – como
crime hediondo), ou da extorsão com emprego de arma (art. 158, § 1º,
CP), apenas para ficarmos em dois exemplos. Ou seja, não se discute
que o crime praticado contra idosos ou vulneráveis seja punido de
forma mais intensa, porém a majoração deve comportar limites,
preservando a lógica do sistema punitivo (se é que resta alguma).
Pessoa idosa é aquela com idade igual ou superior a sessenta anos (art.
1º da Lei nº 10.741/2003). A interpretação do termo “vulnerável”, ao
seu turno, é mais tormentosa, pois não há um conceito padrão de
vulnerabilidade. Não nos filiamos à opção pelo conceito de
vulnerabilidade reservado aos crimes previstos nos arts. 217-A a 218-B.
A vulnerabilidade, nesses dispositivos, é unicamente de conotação
sexual. Ademais, mesmo nesse contexto, o conceito de vulnerabilidade
é fluido. Por exemplo: no âmbito do estupro de vulnerável, são assim
considerados os menores de quatorze anos; no favorecimento da
prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança ou
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619340/artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619245/par%C3%A1grafo-2-artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619066/inciso-v-do-par%C3%A1grafo-2-do-artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10618981/artigo-158-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10618951/par%C3%A1grafo-1-artigo-158-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10994722/artigo-1-da-lei-n-10741-de-01-de-outubro-de-2003
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028080/estatuto-do-idoso-lei-10741-03
adolescente ou de vulnerável, a pessoa menor de dezoito anos.
Ademais, há outros diplomas tratando de vulnerabilidade, citando-se
de forma não exaustiva: a feminina, quando há uma violência praticada
no âmbito da família ou das relações domésticas (Lei nº 11.340/2006);
a de deficientes físicos e mentais, assim definida na Lei nº 13.146/2015.
Há situações, ainda, de definição jurisprudencial de vulnerabilidade,
como no caso do Caso Fazenda Brasil Verde, em que a Corte
Interamericana de Direitos Humanos menciona que a pessoa em
situação de pobreza é vulnerável no âmbito das relações trabalhistas e
do crime de redução a condição análoga a de escravo (art. 149 do CP).
Portanto, a definição sobre quem é o “vulnerável” deve se coadunar
para com a dinâmica dos crimes patrimoniais e a ratio legis da causa
de aumento da pena, de modo que aqui falamos da pessoa
patrimonialmente vulnerável. Nesse âmbito podem ser alocadas
crianças, pródigos, mulheres em situação de violência patrimonial em
âmbito doméstico ou familiar (já que a Lei nº 11.340/2006, em seu art.
7º, IV, expressamente contempla a hipótese) e outras.
Mesmo em face dessa conclusão, novamente a formulação legislativa
insinua-se como violadora dos princípios penais, desta feita, o da
taxatividade.
O trecho “considerada a relevância do resultado gravoso” também é, no
mínimo, esdrúxulo. O resultado aqui tratado é evidentemente a parcela
do patrimônio do lesado atingida pelo ato de subtração. Resultados
insignificantes não constituem o objeto da expressão, pois sequer são
aptos à caracterização do furto. Portanto, a relevância da lesão
patrimonial se cinge às hipóteses em que a conduta é criminosa. Pode-
se destacar, assim, dois tipos de situações: o furto de pequeno valor,
onde há a incidência de um tratamento penal mais brando (art. 155, §
2º, CP); e aquelas em que o montante patrimonial atingido não pode
ser considerado de pequeno valor. O furto de pequeno valor, por
expressa disposição legal, é considerado menos relevante.
Consequentemente, resta à expressão “relevância do resultado
gravoso” as hipóteses que não se inserem no § 2º.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/205855325/lei-13146-15
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10621211/artigo-149-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868703/artigo-7-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868543/inciso-iv-do-artigo-7-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619772/par%C3%A1grafo-2-artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
Corriqueiramente, a doutrina baliza o furto de pequeno valor pelo
salário-mínimo. Em outras palavras: é de pequeno valor a subtração
que não ultrapassa o montante de um salário. Há ainda aqueles que
preferem uma apreciação com foco no dano experimentado pelo
lesado, usando suas características pessoais para determinar se o furto
foi ou não de pequeno valor. Por exemplo, não se aplicaria o disposto
no § 2º ao furto da quantia de R$ 800,00 em poder de uma pessoa em
situação de pobreza extrema. Pugnamos pela conjunção desses dois
fatores, compreendendo ser possível a análise subjetiva, mas sempre
estabelecendo como teto o valor do salário-mínimo.
Importante frisar que a primariedade do agente – embora influencie na
subsunção ao § 2º – é irrelevante no contexto do § 4º-C, pois a norma
se circunscreve à relevância do resultado, afastadas as características
pessoais do autor, que nenhuma relação possuem com o resultado em
si.
4- FRAUDE ELETRÔNICA
Sob o nomen juris de “fraude eletrônica”, o legislador incluiu, no § 2º-
A do art. 171 do Código Penal, uma modalidade de estelionato
qualificado: “A pena é de reclusão,de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações
fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de
redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico
fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo”.
O legislador reproduziu as mesmas margens penais (reclusão de 4 a 8
anos) do novel furto eletrônico, incluído, pela mesma lei, no § 4º-B, do
art. 155 do Código Penal. Utilizou-se, também, da mesma técnica de
interpretação analógica (ou intra legem), em que descreve hipóteses
casuísticas para, então, traçar a regra geral de interpretação.
Por óbvio, que o § 2º-A (fraude eletrônica) deve ser interpretado no
contexto do crime descrito no caput do art. 171 do CP. Explica-se: o
estelionato é delito de duplo resultado (vantagem indevida + prejuízo
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alheio), praticado por meio fraudulento. Tal binômio é exigência do
tipo penal e necessariamente deve ser consequência da adoção do meio
fraudulento, ou haverá inadequação típica à conduta descrita no tipo
penal.
Em sua modalidade simples, o crime de estelionato é delito de forma
livre. O que o legislador fez, ao incluir o § 2º-A, foi prever uma
qualificadora para um meio específico de se praticar o estelionato, qual
seja, a “fraude eletrônica”. Porém, o binômio (vantagem indevida +
prejuízo alheio), gerado pelo meio fraudulento eletrônico, deve
persistir. Dito de outra forma: a mera fraude eletrônica, sem prejuízo
(patrimonial) à vítima e vantagem indevida ao autor, poderá
caracterizar outro delito, mas não se adequará à figura típica do
estelionato, salvo na modalidade tentada, em que, todavia, o autor age
dolosamente em relação ao binômio, não conseguinte produzi-lo (ou
produzindo-o apenas parcialmente).
O § 2º-A, portanto, descreve meios do que o legislador entendeu como
“fraude eletrônica”. Para tanto, seguiu a mesma formulação descrita no
§ 4º-B, do art. 155 do CP, ao adotar a técnica da interpretação
analógica, descrevendo hipóteses casuísticas e, ao final, uma
formulação geral (“ou por qualquer outro meio fraudulento análogo”).
Infelizmente, a redação utilizada pelo legislador deixa dúvidas.
Acreditamos que a única interpretação que mantenha a coesão e
coerência de todos os seus elementos seja a seguinte: a fórmula geral
“ou qualquer outro meio fraudulento análogo” se refere apenas aos
meios casuísticos citados pelo legislador (redes sociais, contato
telefônicos, ou envio de correio eletrônico fraudulento). Dito de outra
forma, não será qualquer outro meio fraudulento que atenderá aos
requisitos da interpretação analógica formulada pelo legislador, mas
apenas os meios análogos aos citados nos exemplos casuísticos.
Necessário, portanto, delimitarmos o ponto em comum, ou a ratio,
utilizada pelo legislador ao enumerar as “redes sociais”, “contatos
telefônicos” e o “correio eletrônico” como meios fraudulentos
justificadores de uma reprimenda penal maior. Esse cerne é situado na
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fraude praticada eletronicamente, seja por intermédio da internet ou
não (veja-se o exemplo “contatos telefônicos” citado pelo legislador,
que dispensa a conexão à rede mundial de computadores).
O legislador claramente se utilizou do incremento substancial de
fraudes praticadas por meios eletrônicos e virtuais como móvel
justificador do aumento da pena. Esse cenário, em boa medida, decorre
da imposição de distanciamento social decorrente da pandemia de
Covid-19, que gerou a necessidade de que grande parte das relações
negociais e empresariais venham a ser realizada remotamente. Como a
dinâmica social influencia diretamente o surgimento de novos
comportamentos criminosos, tornaram-se epidêmicos não apenas os
germes patogênicos, mas também as fraudes eletrônicas. Nesse
contexto, se tornou prática comum entre estelionatários, por exemplo,
o encaminhamento de boletos fraudados por e-mail; ou de links em
aplicativos de mensagens que redirecionam incautos a sites falsos; ou
de mensagens via SMS, ou a realização de ligações telefônicas, como
forma de obter informações pessoais das vítimas etc.
Esse aperfeiçoamento tecnológico do estelionato permite que sejam
alcançadas pessoas nos mais diversos Estados brasileiros – ou mesmo
no exterior – e torna mais difícil a repressão. Assim, a interpretação
analógica da cláusula genérica obrigatoriamente deve ter por base
também a questão tecnológica derivada dos meios eletrônicos.
O tipo penal restringe claramente a incidência do § 2º-A, ao impor que
a fraude seja “cometida com a utilização de informações fornecidas
pela vítima ou por terceiro”. Exige-se, portanto, uma atuar da vítima ou
do terceiro, fornecendo as informações ou dados que serão objeto da
fraude. Nesse ponto, pensamos, caminhou mal o legislador, ao exigir
um atuar positivo da pessoa enganada como elementar típica.
Resta-nos indagar: e se a autor, ao encaminhar um e-mail fraudulento
à vítima, lograr capturar seus dados pessoais indevidamente, sem que a
vítima os tenha fornecido? Incidirá a forma qualificada do art. 171, §
2º-A, do CP (Estelionato por fraude eletrônica)? Ou teríamos o crime
de art. 171, caput, do CP (Estelionato simples)?
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Ab initio, em respeito ao princípio da legalidade estrita, não vemos
como sustentar a subsunção de tal conduta à forma qualificada. Tal
hermenêutica ultrapassaria os limites da interpretação analógica
prevista no tipo penal, caracterizando verdadeira analogia in malam
partem. Restaria, portanto, a subsunção na modalidade simples do
crime de estelionato, art. 171 do Código Penal.
Verifica-se, ainda, dependendo do caso, a possibilidade de afastamento
completo do delito de estelionato, com subsunção ao crime de furto
mediante fraude eletrônica (art. 155, § 4º-B, do CP). Para tanto, mister
que o meio fraudulento eletrônico ou informático se preste a uma
subtração patrimonial. Essa solução, inclusive, se mostra mais
equitativa, eis que as penas se mantêm idênticas (quatro a oito anos),
ao passo em que, no estelionato do caput, a pena é de um a cinco anos
de reclusão.
Certo é que a restrição imposta ao § 2º-A do art. 171 do CP, no sentido
do fornecimento de informações pela pessoa enganada, gera apenas
mais uma celeuma interpretativa desnecessária.
A concordância nominal usada no dispositivo também não é a mais
adequada. O texto legal aborda o fornecimento de informações “pela
vítima ou terceiro induzido a erro”, passando a impressão de que não é
necessário que a vítima aja em falsa representação da realizada
determinada pelo autor. Quando o sujeito é composto e constituído por
gêneros diferentes, o ideal é que o predicativo concorde no masculino
plural, a fim de que não pairem dúvidas. Assim, a construção da frase
deveria se referir à vítima e a terceiro “induzidos a erro”, que é
efetivamente o que o legislador quis dizer.
O legisladorpreviu uma causa de aumento de pena de 1/3 a 2/3
quando a fraude eletrônica é praticada mediante a utilização de
servidor mantido fora do território nacional, considerada a relevância
do resultado gravoso: “§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo,
considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização
de servidor mantido fora do território nacional”.
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O legislador repetiu a imprecisa expressão “relevância do resultado
gravoso”, igualmente utilizada como critério de aumento de pena do
furto mediante fraude (art. 155, § 4º-C, do CP). Nesse ponto,
remetemos o leitor às considerações já feitas anteriormente. O mesmo
se diga sobrea a circunstância do crime ter sido praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional (correlação
para com o inciso I, § 4º-C, do art. 155 do CP).
Sob o nomen juris de estelionato contra idoso ou vulnerável, o
legislador alterou o § 4º do art. 171 do CP, prevendo uma causa de
aumento de penal de um terço ao dobro, nas hipóteses da vítima ser
idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.
Sobre os conceitos aí arrolados, remetemos o leitor às considerações
feitas no comentário ao inciso II, § 4º-C, do art. 155 do CP.
Ressalvamos, entretanto, que, ao contrário do que ocorre no furto
eletrônico, a majorante sob análise incide em qualquer hipótese de
estelionato, não apenas na fraude eletrônica.
Aproveitou-se a referência que a lei já fazia ao estelionato contra idoso
e ampliou-se seu espectro também para os vulneráveis, restringindo o
alcance apenas no que concerne à “relevância do resultado gravoso”.
Impõe-se observar que a redação anterior do § 4º (estelionato contra
idoso) aumentava a pena no dobro. Agora, esse incremento começa em
um terço, chegando até o dobro, como outrora. São consequências daí
derivadas: (a) no que tange ao idoso como vítima, a redação atual
consiste em novatio legis in mellius (ou seja, retroativa), desde que
haja um relevante resultado gravoso; (b) se a vítima é pessoa idosa,
mas não existe um relevante resultado gravoso, resta abolida a
majoração, o que faz com que a norma aqui também seja retroativa; (c)
no tocante aos vulneráveis, cuida-se de nova causa de aumento da
pena, a ser aplicada a partir da entrada em vigor da norma, nunca
retroativamente (novatio legis in pejus).
5- COMPETÊNCIA EXCEPCIONALMENTE DEMARCADA
PARA MODALIDADES ESPECÍFICAS DE ESTELIONATO
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O art. 2º da Lei 14.155/21 inovou em matéria processual, incluindo no
§ 4º no art. 70 do CPP incomum regra sobre a competência territorial
no crime de estelionato: “§ 4º. Nos crimes previstos no art. 171 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o
pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso
de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção”.
Por tratar-se de norma cuja natureza é estritamente processual, aplica-
se a regra do tempus regit actum, prevista no art. 2º do CPP.[6]
Sabe-se que a regra, em tema de competência territorial, é a adoção da
teoria do resultado (art. 70, caput, do CPP)[7]. O estelionato, por ser
crime material e exigir, para sua consumação, duplo resultado
(vantagem indevida + prejuízo alheio) sempre seguiu a regra
processual de que o juízo competente para processo e julgamento seria
o do lugar da consumação do delito (locus comissi delicti).
Nesse sentido, como o iter criminis natural do estelionato é o emprego
da fraude, seguido do prejuízo sofrido pela vítima, e a consequente
obtenção da vantagem indevida pelo autor (ocasião em que o delito
resta consumado), firmou-se jurisprudência de que o crime de
estelionato se consumaria no lugar de obtenção da vantagem indevida
pelo autor. A súmula 48 do STJ reproduz essa jurisprudência ao
afirmar que “compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita
processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação
de cheque.”[8]
Hipótese que fugia à regra (fraude -> prejuízo à vítima -> vantagem
indevida do autor) era o crime de estelionato praticado mediante
fraude no pagamento por maio de cheque (art. 171, § 2º, II, do Código
Penal). Nesta hipótese, temos uma excepcional inversão do iter
criminis convencional, pois a fraude é empregada pela entrega de um
cheque, como ordem de pagamento à vista, porém sem suficiente
provisão de fundos, fazendo com que a vítima entregue o bem (gerando
a vantagem indevida ao autor), sem que o prejuízo patrimonial já tenha
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/393080708/artigo-2-da-lei-n-14155-de-27-de-maio-de-2021
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1219122839/lei-14155-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/393668433/par%C3%A1grafo-4-artigo-70-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10674098/artigo-70-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10679101/artigo-2-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
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https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617176/par%C3%A1grafo-2-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617098/inciso-ii-do-par%C3%A1grafo-2-do-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
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se realizado, o que só irá efetivamente ocorrer com a frustração do
pagamento do cheque. Logo, nessa hipótese a ordem natural do iter
criminis se inverte: fraude -> vantagem indevida do autor -> prejuízo à
vítima. Devido a essa peculiar realidade, sempre se considerou que o
estelionato praticado mediante fraude no pagamento por meio de
cheque se consumaria no lugar do prejuízosofrido pela vítima, ou seja,
no foro da recusa do cheque (agência bancária do sacado). A súmula
244 do STJ (“Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o
crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos”)
contemplava justamente essa hipótese, sendo reafirmada pela Súmula
521 do STF. Ressalte-se que tais súmulas não excepcionavam a regra da
teoria do resultado (nem poderiam, pois seriam súmulas contra
legem), mas, ao contrário, confirmavam o comando normativo do art.
70 do CPP, afinal o tipo penal somente se consumava no lugar e
momento em que o cheque tinha seu pagamento recusado pelo banco
sacado (foro da agência do banco sacado).
A evolução da sociedade contemporânea, todavia, criou novas
dinâmicas que não foram encampadas pelo Direito processual.
Conflitos e práticas criminosas emergentes passaram a demandar um
novo olhar da doutrina. Cite-se, como exemplo, as fraudes praticadas
por meio eletrônico, em grande parte utilizando a rede mundial de
computadores, no contexto dos bancos puramente digitais, que, em sua
grande maioria, sequer possuem agências físicas. Pensemos no
seguinte exemplo: A sofre uma fraude eletrônica, depositando em uma
conta do “banco digital X” valores oriundos de sua conta corrente,
estabelecida no “banco digital Y”. Como, nesse caso, fixar a
competência territorial para processo e julgamento? E, acrescente-se,
por analogia, como se fixar a atribuição para atos de investigação?
Nesse exemplo, com o qual já nos deparamos na prática diária,
considerando a inexistência de agência físicas para se delimitar tanto o
lugar da obtenção da vantagem indevida, quanto o lugar do prejuízo
alheio, a regra do art. 70 do CPP se mostrava insuficiente.
Sustentávamos, então, a aplicação subsidiária da regra do art. 72 do
CPP[9], ou seja, competência pelo domicílio do réu, que, a princípio,
também seria também desconhecido, e, por fim, a regra de prevenção.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10674098/artigo-70-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
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Com o novo § 4º do art. 70 do CPP, incluído pela Lei 14.155/2021,
houve substancial alteração. O legislador expressamente determinou
que o local do domicílio da vítima será o critério utilizado para fixar a
competência territorial no caso do crime de estelionato, quando
praticado no contexto do art. 171, § 2º, IV, do CP (emissão dolosa de
cheque sem suficiente provisão de fundos ou com o pagamento
frustrado), bem como quando a fraude for praticada mediante depósito
ou transferência de valores, hipótese que poderá se adequar ao art. 171,
caput, do CP, ou, caso praticada pela internet ou outro meio eletrônico
(fraude eletrônica), ao art. 171, § 2ª-A, do CP.
Perceba-se que a alteração da competência (e a consectária
modificação da atribuição investigativa) não se basta no recém-criado
crime de fraude eletrônica, alcançando situações bem mais antigas,
como a fraude no pagamento por meio de cheque. Analisando o texto
legal, algumas conclusões podem ser realizadas: (a) frente a essa nova
regra introduzida pelo legislador, restam, prejudicadas as súmulas 244
do STJ e 521 do STF;[10] (b) no caso do uso de cheque como meio
executório, a cláusula de competência somente incide sobre as
modalidades do § 2º, VI, ou seja, não abraça, entre outras, a hipótese
em que alguém usa um cheque falsificado para realizar compras no
comércio; (c) a alteração promovida no CPP não altera o momento
consumativo do crime, deixando apenas de considerá-lo para a
determinação do foro em que ocorrerão processo e julgamento; (d)
embora a norma processual mencione a transferência de valores, ela
não será aplicável aos casos de furto mediante transferência de valores
(assim como nos saques não autorizados em caixas eletrônicos), mas
apenas ao estelionato (tratando-se de regra excepcional, sequer poderá
ser aplicada analogicamente).
Pensamos que a utilização do foro do domicílio da vítima não tenha
sido a solução mais efetiva à investigação criminal e ao futuro processo.
Não raro, os atos de coleta de prova, como o exemplo de oitiva de
testemunhas, ocorrerão em foros completamente diversos, o que
demandará a expedição de cartas precatórias e significativo prejuízo à
duração razoável do processo. Consideremos, nessa toada, o exemplo
da vítima que mora em Pernambuco e é lesada por integrantes de uma
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/393668433/par%C3%A1grafo-4-artigo-70-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
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associação criminosa atuante no Paraná, os quais se valem de meios
fraudulentos informatizados, permitindo a prática de crimes à
distância. Fica evidente o prejuízo à eficiência investigativa.
Acreditamos que, de lege ferenda, o legislador teria caminhado melhor
caso previsse a possibilidade de foros concorrentes entre o lugar de
consumação do delito, domicílio do réu, domicílio da vítima, ou mesmo
lugar da prática dos atos executórios fraudulentos, seguindo-se a regra
da prevenção para fixação do foro. Com isso, preservaríamos a
efetividade das investigações e a duração razoável do processo.
A ideia do forum conveniens não é figura completamente estranha à
ceara processual penal. Atualmente, resta pacificado que a
competência territorial do Tribunal do Júri para julgamento dos crimes
dolosos contra a vida excepciona a regra imposta pelo art. 70 do CPP
(teoria do resultado), podendo-se falar, frente à conveniência da coleta
probatória (principalmente provas testemunhais), na adoção da teoria
da ubiquidade.[11]
Eugênio Pacelli[12], há tempos, já defendia a análise, em concreto, da
conveniência do foro do lugar de consumação do delito:
[...] o local no qual se consuma o crime nem sempre é favorável à
produção da prova, se outro tiver sido o lugar da ação ou dos atos de
execução. A testemunha ocular da prática de um crime, de modo geral,
reside ou tem domicílio naquele local. Assim, se a vítima for deslocada
para outra cidade, a fim de receber cuidados médicos, não resta dúvida
de que a instrução criminal, e, por isso, a ação penal, deveriam ter
curso no local onde se praticou a ação e não onde ocorreu o resultado.
O STJ também já se manifestou pela adoção do foro mais adequado à
instrução probatória e à ampla defesa para o crime de descaminho[13]
e para o crime de estelionato,[14] excepcionandoa regra do art. 70 do
CPP. Nesse contexto, acreditamos que a novel regra do art. 70, § 4º, do
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10674098/artigo-70-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
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CPP (foro do domicílio da vítima) poderá ser excepcionada, no caso
concreto, desde que devidamente fundamentada na inviabilidade da
coleta probatória e do próprio exercício da ampla defesa.
[1] HINGELDORF, Eric. Digitalização e Direito. São Paulo: Marcial
Pons, 2020. p. 140. Nesse ponto, o autor ressalta sua posição contrária
ao relatório Sieber, apresentado durante o 69º Congresso dos Juristas
Alemães, no qual se destaca a existência de “novos objetos jurídicos
imateriais”.
[2] “Nos termos do art. 70 do CPP, a competência será de regra
determinada pelo lugar em que se consumou a infração e o estelionato,
crime tipificado no art. 171 do CP, consuma-se no local e momento em
que é auferida a vantagem ilícita. De se lembrar que o prejuízo alheio,
apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do
crime de estelionato e não à conduta propriamente. De fato, o núcleo
do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se
dá no momento em que os valores entram na esfera de disponibilidade
do autor do crime, o que somente ocorre quando o dinheiro ingressa
efetivamente em sua conta corrente. (…) 3. Tendo a vítima efetuado um
depósito em dinheiro e duas transferências bancárias para duas contas
correntes vinculadas a agências bancárias situadas na cidade de São
Bernardo do Campo⁄SP, é de se reconhecer a competência do Juízo de
Direito de São Bernardo do Campo⁄SP para conduzir o inquérito
policial” (CC nº 167.025/RS).
[3] JESUS, Damásio; MILAGRE, José Antônio. Manual de Crimes
Informáticos. São Paulo: Saraiva, 2016.
[4] Nesse sentido já decidiu o TJDF: "APELAÇÃO CRIMINAL.
INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO. FORMA
QUALIFICADA. TIPICIDADE CONFIGURADA. CONDENAÇÃO
MANTIDA. DOSIMETRIA. CONSEQUENCIAS DO CRIME. ANÁLISE
ESCORREITA. QUANTUM. READEQUAÇÃO. PENA PECUNIÁRIA.
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EXCLUSÃO. IMPOSSIBILIDADE. REDUÇÃO.
PROPORCIONALIDADE COM A PENA CORPORAL. SUBSTITUIÇÃO.
POSSIBILIDADE. I - A expressão" dispositivo informático "não se
refere apenas aos equipamentos físicos (hardware), mas também os
sistemas, dispositivos que funcionam por computação em nuvem,
facebook, instagram, e-mail e outros. II - O crime previsto no art. 154-A
do CP possui dois núcleos de conduta típica não cumulativos: (i)
invadir dispositivo informático alheio, com o fim de obter, adulterar ou
destruir dados ou informações sem autorização do titular e (ii) instalar
vulnerabilidades, visando obter vantagem ilícita. Pela literalidade do
dispositivo, a ausência de violação de dispositivo de segurança impede
a configuração típica apenas da conduta de invadir. III - Pratica a
conduta tipificada no art. 154-A, § 3º, do CP aquele que, sem o
conhecimento de sua então namorada, instala programa espião no
notebook dela, com o fim de monitorar as conversas e atividades e,
diante dessa vulnerabilidade, consegue violar os dispositivos de
segurança e, com isso, ter acesso ao conteúdo das comunicações
eletrônicas privadas e outras informações pessoais, inclusive diversas
senhas. (...)." (3ª Turma Criminal, 20160110635069 DF 0009088-
86.2016.8.07.0016, Rel. Nilsoni de Freitas Custódio, julg. em
19/09/2019).
[5] Definição obtida através do acesso ao Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa On-line, disponível em
https://dicionario.priberam.org/servidor. Acesso em 30.05.2021.
[6] Art. 2º do CPP. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
[7] Art. 70, CPP. A competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em
que for praticado o último ato de execução.
[8] O Enunciado 9 da edição nº 84 da Jurisprudência em Teses do STJ
nº 84 menciona que o estelionato se consuma no local em que a vítima
sofre o prejuízo. Sendo o estelionato um crime de duplo resultado, tal
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28004011/artigo-154a-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28004011/artigo-154a-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760776306/20160110635069-df-0009088-8620168070016
https://dicionario.priberam.org/servidor
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lição não está necessariamente errada, desde que o prejuízo suceda a
obtenção da vantagem. Ressalta-se, contudo, que essa posição está na
raiz da celeuma pacificada pelo CC nº 167.025/RS.
[9] Art. 72, CPP. Não sendo conhecido o lugar da infração, a
competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.
§ 1º. Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á
pela prevenção.
§ 2º. Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu
paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do
fato.
[10] Súmula 244 do STJ – Compete ao foro do local da recusa
processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos.
Súmula 521 do STF – O foro competente para o processo e julgamento
dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de
cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do
pagamento pelo sacado
[11] STJ, HC 95.853/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado
em 11/09/2012. STF, 1ª Turma. RHC 116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 13/8/2013. No mesmo sentido, Guilherme de Souza Nucci.
Código de Processo Penal Comentado. 8ª ed., São Paulo: RT, 2008, p.
210.
[12] PACELLI, Eugênio; FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de
Processo Penal e sua jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 156
[13] STJ, AgRg no CC 175.150/PR, rel. Min. Laurita Vaz, Terceira
Seção, julg. em 09.12.2020, DJe 18.12.2020.
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https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22580686/habeas-corpus-hc-95853-rj-2007-0287153-9-stj
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/875242266/recurso-em-habeas-corpus-rhc-116200-df-2019-0225860-9
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https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41[14] STJ, CC nº 169.792/RJ, rel. Min. Ribeiro Dantas, Terceira Seção,
julg. em 11.03.2020, DJe 18.03.2020.
Disponível em: https://profbrunogilaberte.jusbrasil.com.br/artigos/1229253925/a-lei-n-14155-
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