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Polícia da saúde Sistema Único de Saúde do Brasil: os primeiros 30 anos e perspectivas para o futuro Marcia CCastro, AdrianoMassuda, Gisele Almeida, NaercioAquinoMenezes-Filho, MonicaViegas Andrade, QuêniaValériaMicaela de SouzaNoronha, Rudi Rocha, JamesMacinko, Thomas Hone, RenatoTasca, LigiaGiovanella, AnaMariaMalik, HeitorWatchuneck, Luiz HeitorWatchuneck, AnaMariaMalik de Souza de Souza Em 1988, a Constituição brasileira definiu a saúde como direito universal e responsabilidade do Estado. O progresso rumo à cobertura universal de saúde no Brasil foi alcançado por meio de um sistema único de saúde (Sistema Único de Saúde [SUS]), criado em 1990. Com sucessos e retrocessos na implementação de programas de saúde e na organização de seu sistema de saúde, o Brasil alcançou acesso quase universal a serviços de saúde para a população. A trajetória de desenvolvimento e expansão do SUS oferece lições valiosas sobre como dimensionar a cobertura universal de saúde em um país altamente desigual, com recursos relativamente baixos alocados para serviços de saúde pelo governo em comparação com os de países de renda média e alta . A análise dos últimos 30 anos desde o início do SUS mostra que as inovações vão além do desenvolvimento de novos modelos de atenção e destaca a importância do estabelecimento de estruturas políticas, jurídicas, organizacionais e de gestão, com papéis claramente definidos tanto para o governo federal. e governos locais na governança, planejamento, financiamento e prestação de serviços de saúde. A expansão do SUS permitiu ao Brasil atender rapidamente às mudanças nas necessidades de saúde da população, com um aumento dramático da cobertura dos serviços de saúde em apenas três décadas. No entanto, apesar de seus sucessos, a análise de cenários futuros sugere a necessidade urgente de abordar as persistentes desigualdades geográficas, financiamento insuficiente e colaboração setor privado-setor público abaixo do ideal. desafios restantes, seguidos por uma análise dos cenários financeiros futuros e resultados de saúde associados até 2030 (o ano da meta para os Objetivos de Desenvolvimento da UNSustainable) para mostrar as consequências do fortalecimento fiscal para o sistema de saúde brasileiro. As políticas fiscais, econômicas, ambientais, de educação e saúde (por exemplo, para adolescentes e atenção básica à saúde [APS]) introduzidas pelo governo Bolsonaro em 2019 apresentam uma série de riscos para o SUS. Discutimos essas ameaças e exploramos as opções de políticas que precisam ser introduzidas para sustentar o SUS. Lanceta 2019; 394: 345-56 Publicados Conectados 11 de julho de 2019 http://dx.doi.org/10.1016/ S0140-6736 (19) 31243-7 Departamento de Saúde Global Escola Chan de Saúde Pública, Boston, MA, EUA (Prof MC Castro PhD, AMassuda PhD, da Saúde Coletiva, Setor de Ciências da Saúde, Federal Universidade do Paraná, Curitiba, Brasil ( AMassuda); Saúde PanAmericanHealth Washington, DC, EUA 2018 marcou o 30º aniversário da sétima constituição do Brasil, 1 o 40º aniversário da Declaração de Alma-Ata, 2 e o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 3 No Brasil, a Constituição de 1988 representou um instrumento de mudança e um movimento social que instituiu a saúde como um direito da população brasileira, incorporando elementos importantes da Declaração dos Direitos Humanos e da Declaração de Alma-Ata ao contrato social. A constituição impôs ao estado a responsabilidade de fornecer assistência à saúde para todos, abrindo caminho para o Sistema Único de Saúde (SUS). Também deu início à jornada para a cobertura universal de saúde, com o objetivo de melhorar os resultados de saúde em um sistema de saúde que era altamente fragmentado e caracterizado por amplas desigualdades no acesso aos cuidados de saúde e resultados de saúde. Desde sua criação, em 1990, o SUS tem feito avanços consistentes no sentido de oferecer atenção à saúde universal e integral à população brasileira, ajudando a reduzir as desigualdades no acesso à saúde e a obter melhores resultados, mas não sem desafios. 4,5 Apesar dos sucessos, o SUS está em uma encruzilhada. 6,7 As medidas de austeridade introduzidas em 2016 (Emenda Constitucional 95) impuseram um limite estrito ao crescimento da despesa pública até 2036 a um montante baseado no valor do exercício anterior corrigido pela inflação, 8,9 ameaçando uma maior expansão e sustentabilidade do SUS (apêndice pp 2-5), 6 com consequências adversas para a equidade e os resultados de saúde. Nesta Política de Saúde, apresentamos um panorama dos primeiros 30 anos do SUS (apêndice pp 2–5), destacando trajetórias legais e organizacionais, conquistas e Políticas Públicas, Insper, São Paulo, Brasil ( NAMenezes-Filho PhD); Departamento de Economia, (NAMenezes-Filho); Centro para Desenvolvimento e Regional Planejamento, Universidade Federal de Brasil ( MVAndrade PhD, KVMde Souza Noronha PhD); Após o estabelecimento de seus princípios na Constituição de 1988 e sua criação em 1990, os mecanismos legais para a operacionalização e expansão do SUS foram desenvolvidos progressivamente ao longo de 30 anos (anexo pp 2–5). Os principais programas de saúde foram lançados para combater doenças infecciosas persistentes e emergentes, alta mortalidade materna e infantil (tabela 1) e novos desafios impulsionados por quatro transições importantes: primeiro, a migração de áreas rurais para urbanas, levando ao crescimento desorganizado de municípios com infraestrutura limitada ; 10 segundo, a abertura da fronteira amazônica na década de 1980; 11 terceiro, a rápida transição demográfica com redução da fertilidade total (que caiu de 4,4 nascimentos por mulher em 1980 para 1,7 nascimentos por mulher abaixo do nível de reposição em 2015) e envelhecimento da população; 12,13 e, quarto, transição epidemiológica, com aumento da mortalidade e morbidade por doenças não transmissíveis. 14,15 O SUS ajudou a reduzir as desigualdades em saúde com melhorias na cobertura e no acesso à saúde em todo o país, mas com grandes variações AMMalik PhD); Escola de Saúde Pública UCLA Fielding, Centro de Ciências da Saúde, Los Angeles, Los Angeles, CA, EUA ( Prof J Macinko PhD); Departamento de Atenção Básica e Saúde Pública, Imperial (T Hone PhD); Unidade de Sistemas e Serviços de Saúde, PanAmericanHealth Organização, Brasília, Brasil Saúde Pública SergioArouca, FundaçãoOswaldoCruz, Rio de Janeiro, Brasil (Prof L Giovanella PhD); Suplementar, Rio de Janeiro, and Center for Epidemiological Pesquisa, Universidade Federal (Prof LA Fachini PhD) e população, HarvardT H Prof RAtunMBBS); Departamento Unidade de Sistemas e Serviços, Organização / Escritório Regional de A organização mundial da saúde, Introdução (GAlmeida DrPH); Centro para Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil Minas Gerais, Belo Horizonte, Escola Paulista de Administração de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, Brasil ( R Rocha PhD,30 anos de SUS Universidade da Califórnia College London, Londres, Reino Unido (RTascaMD); Escola Nacional de Agência Nacional de Saúde Brasil ( HWerneck DrPH); de Pelotas, Pelotas, Brasil www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 345 http://crossmark.crossref.org/dialog/?doi=10.1016/S0140-6736(19)31243-7&domain=pdf Polícia da saúde Correspondência para: Prof Rifat Atun, Departamento de Saúde Global e População, HarvardT HChan School of Saúde Pública, Boston, MA 02115, EUA ratun@hsph.harvard.edu Vejo Conectados para apêndice 1990 2000 2010 2015 Indicadores demográficos e epidemiológicos População total (n) Crescimento anual da população (%) Proporção da população com 65 anos ou mais (%) Taxa total de fertilidade (nascimentos por mulher) Expectativa de vida ao nascer (anos) Acesso a outras fontes (% da população) Acesso a instalações de saneamento (% da população) Mortalidadepor doenças não transmissíveis entre 30 anos e 70 anos (%) * Mortalidade por suicídio (por 100.000 habitantes) Mortalidade por acidentes de trânsito (por 100.000 pessoas) Mortalidade neonatal (por 1.000 nascidos vivos) Mortalidade em crianças com 5 anos ou menos (por 1000 nascidos vivos) Mortalidade infantil (nascimento a 1 ano) (por 1000 nascidos vivos) Taxa de mortalidade materna (por 100000 nascidos vivos) Prevalência de desnutrição (% da população) Prevalência de excesso de peso Inmen (%) Mulheres (%) Indicadores econômicos Desemprego (% da força de trabalho total) Proporção do número de pessoas na pobreza de US $ 1,90 por dia (paridade do poder de compra em 2011;% da população) PIB (milhões de $) Despesa total com saúde (% do PIB) † Gastos com saúde per capita ($ constante de 2010) § Gastos com saúde per capita † ¶ Público (%) Privado (%) Despesas diretas com saúde (% despesas privadas em serviços de saúde) Despesas de seguro privado (% despesas privadas em serviços de saúde) Índice de Gini (estimativa do Banco Mundial) Indicadores do sistema de saúde Partos assistidos por profissionais de saúde qualificados (% do total) Cobertura de vacinas BCG (% de crianças de 1 ano) Sarampo (% de crianças de 12 a 23 meses) Difteria, coqueluche e tétano (% de crianças de 12 a 23 meses) Haemophilus influenzae tipo b, terceira dose (% de crianças de 12 a 23 meses) Pólio, terceira dose (% de crianças de 1 ano) Vírus da hepatite B, terceira dose (% de crianças de 1 ano) Cobertura da terapia antirretroviral (% de pessoas com HIV) 149352145 1 · 80% 4 · 04% 2 · 91 65,34 88,5% 66,6% NR 175287587 1 · 45% 5,07% 2,30 70 · 02 93,5% 74,7% 25% 196796269 0 · 97% 6,73% 1 · 81 73,77 96,9% 80,5% 19% 205962108 0,85% 7,96% 1 · 74 75,20 98 · 1% 82,8% 17% NR NR 25,7 64,2 5,2 15,9 17,1 35,8 5,9 20,8 10,4 19,8 6,3 22,6 8,2 15,7 53,4 104 NR 31,3 66 12% 17,7 65 2,5% 14,0 44 2,5% 36,2% 40,6% 44,8% 47,0% 53,0% 52,4% 56,8% 54,9% NR 21,6% 13,9% 11,6% 8,5% 4,7% 8,5% 3,4% 461952 6,7% 535 · 1 655421 7,0% 614,5 2208872 8,3% 931 · 6 1796187 8,3% ‡ 984 · 9 ‡ 43 · 1% 56,9% NR 40,3% 59,7% 63,6% 45,8% 54,2% 50,4% 46,0% ‡ 54 · 0% ‡ 47 · 2% ‡ NR 34,3% 47,0% 49,7% ‡ 60,5 58,4 52,9 51,3 87,6% 98 · 6% 98 · 9% 99 · 1% 79% 78% 66% 99% 99% 98% 99% 99% 99% 99% 96% 96% NR 90% 99% 96% 58% NR NR 99% 94% 27% 99% 96% 38% 98% 96% 57% Os dados foram extraídos do banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento Mundial 16 e o Banco de Dados de Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU. 17 NR = sem registro. PIB = produto interno bruto. * Porcentagem de pessoas de 30 anos que morreriam antes de completar 70 anos de qualquer doença cardiovascular, câncer, diabetes ou doença respiratória crônica, supondo que experimentariam taxas de mortalidade atuais em todas as idades e não morreriam de qualquer outra causa (por exemplo , lesões ou HIV e AIDS). † As estimativas para todos os anos são baseadas nos dados do WHOGlobal HealthObservatory (2017). 18 §Dados são de 2014. ‡ Estimado usando o PIB (constante em 2010US $ milhões) e o tamanho da população fornecido pelo Banco Mundial, 19 e despesas com saúde como porcentagem do PIB. ¶As estimativas de gastos públicos e privados com saúde para 1990 são baseadas em Paim et al (2011). 20 Tabela 1: Indicadores demográficos, econômicos e do sistema de saúde no Brasil de 1990 a 2015 346 www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 Polícia da saúde permaneceram entre os municípios no que se refere à infraestrutura, recursos humanos, capacidade de gestão e acesso a serviços de saúde eficazes. 21,22 Painel: O financiamento e uso dos setores público e privado na área da saúde A Constituição Federal do Brasil de 1988 reconhece o papel do setor privado no sistema de saúde. As famílias podem deduzir despesas com saúde da renda tributável e os empregadores podem deduzir o valor total pago como benefícios de saúde de seus lucros tributáveis. Prestadores de serviços de saúde sem fins lucrativos são subsidiados pelo governo federal por meio de isenções fiscais. Ao todo, os incentivos fiscais para indivíduos, empregadores e organizações sem fins lucrativos representam cerca de 30% dos gastos do governo federal com saúde. Uma análise de incidência de benefícios, que estimou o uso de saúde para cada quintil de renda da população multiplicado pelo gasto público médio dos tipos de serviços de saúde, mostrou que aqueles em quintis de baixa renda recebiam mais serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), e que os fundos públicos beneficiaram principalmente este grupo quando comparados com quintis de renda mais alta. Para pacientes internados, ambulatoriais e serviços odontológicos, as estimativas de uso de serviços de saúde indicaram um benefício para as populações mais pobres. Os subsídios para esses serviços também favoreciam os pobres. O SUS foi a principal fonte de assistência à saúde daqueles que vivem em quintis de baixa renda e sem acesso a planos de saúde privados, embora com diferenças regionais substanciais. Mudanças na governança e organização A implantação do SUS teve início após a promulgação das Leis 8.080 e 8.142, em 1990, incorporando os princípios da universalidade, integralidade, descentralização e participação da comunidade, com transferência de responsabilidade e recursos para a assistência à saúde do governo federal para os governos estaduais e municipais, reorientar o poder político e a responsabilidade para os governos locais. A descentralização do poder foi acompanhada pela criação de comissões intergerenciais tripartite e bipartite, com a participação dos governos federal, estadual e municipal para a tomada de decisão compartilhada sobre as políticas de saúde, e as conferências e conselhos de saúde como mecanismos de participação social (tabela 1; anexo pp 2 –5). Como parte do processo de descentralização, os municípios brasileiros foram obrigados a criar uma secretaria de saúde para administrar as unidades de saúde e assumir a responsabilidade pelo co-financiamento dos programas de saúde e pela prestação e gestão dos serviços de saúde. Os 5.570 municípios do Brasil são responsáveis pela prestação da APS e vigilância sanitária e garantem o acesso do paciente à atenção hospitalar geral e especializada, incluindo atendimento de emergência e serviços de saúde mental. 23 A descentralização também envolveu a criação de regiões de saúde (conjunto contíguo de cidades e municípios com contexto social, econômico e de infraestrutura compartilhado com o objetivo de integrar a organização e o planejamento das ações e serviços de saúde), o desenvolvimento de diretrizes para o planejamento integrado em saúde, e a criação de conselhos gerenciais regionais, coordenados pelas secretarias estaduais de saúde em parceria com as prefeituras. 24 A expansão do acesso universal à saúde no Brasil coincidiu com a evolução de um sistema de saúde segmentado, compreendendo um sistema de financiamento público, nacional e de pagamento único e um sistema de saúde do setor privado, acessado principalmente por pacientes de alta renda e pagos por pagamentos diretos e seguro privado (painel). 25,26 Em 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi criada para controlar a qualidade dos medicamentos, produtos e serviços de saúde. Em 2000, a Agência Nacional de Saúde Suplementar foi criada para regulamentar o setor de seguro privado (apêndice pp 2–5). Pacientes com alta renda costumam usar serviços do setor privado, mas mudam para o SUS para intervenções complexas, como o tratamento do câncer. 27 A Constituição Federal de 1988 determinou que 30% do orçamento da seguridade social, sem o custo do seguro-desemprego, deveria ser destinado ao setor público de saúde pelo governo federal até a aprovação da Lei Orçamentária Anual, que estabelecia a participaçãoanual de o orçamento federal direcionado ao setor de saúde pública (apêndice pp 2–5). A Constituição brasileira estipula que os recursos públicos para financiar a saúde devem provir dos orçamentos dos governos federal, estadual e municipal; no entanto, as fontes de financiamento do SUS não estão claramente definidas no orçamento da seguridade social e esse financiamento tem sido alocado sistematicamente para outros setores. Em setembro de 2000, uma emenda constitucional (apêndice pp 2-5) definiu o valor mínimo de financiamento da saúde como 15% da receita anual para os municípios, 12% para os estados, 28 Os gastos federais com saúde em 2017 foram de 15% da receita líquida, mas a Emenda Constitucional 95, introduzida em 2016, limita as despesas para 2018–36 ao valor de 2017, com gastos ajustados pela inflação. 6 Desde 1998, várias iniciativas que visavam aumentar o financiamento para o SUS foram desenvolvidas (anexo pp 2–5); por exemplo, a criação do imposto de Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira garantiu a destinação de cerca de 30% do orçamento federal para serviços de saúde entre 1997 e 2007. O imposto estabilizou o financiamento da saúde com recursos federais no mesmo valor de 1995 , com reduções nas demais contribuições sociais (ex: Contribuição para Financiamento da Previdência Social). 29 Entre 1989 e 2014, o gasto real com saúde per capita aumentou 149%, mas o crescimento dos setores de saúde público e privado foi muito diferente Desde a sua criação, o SUS é subfinanciado. O Brasil é o único país com um sistema de saúde universal onde o gasto público em saúde (cerca de 44%) é inferior ao do setor privado (cerca de 56%; tabela 1). 18,19 Todos os cidadãos têm direito aos serviços prestados pelo SUS, que é a principal fonte de assistência à saúde das camadas de baixa renda e sem acesso a planos privados de saúde. Mudanças no financiamento www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 347 Polícia da saúde em diferentes períodos de tempo (tabela 1). Por exemplo, na década de 1990, o gasto per capita com saúde aumentou 15%, impulsionado principalmente pelo crescimento dos gastos do setor privado após a expansão da cobertura de seguro saúde privado para os grupos populacionais de renda média que estavam insatisfeitos com a qualidade do SUS. 30,31 No entanto, entre 2000 e 2014, quando o crescimento dos gastos com saúde per capita foi de 60%, os gastos no sistema de saúde do setor público cresceram 83% em comparação com o crescimento de 45% no setor privado (tabela 1). de leitos em 2017, mas os hospitais do SUS enfrentam desafios organizacionais, como falta de autonomia e responsabilização, sistemas de financiamento e pagamento ineficientes, uso ineficiente de recursos, qualidade de atendimento variável, falta de integração nas redes de saúde e gestão subótima. 46 Outras mudanças na atenção à saúde pelo SUS incluem o desenvolvimento de centros de referência especializados e redes de atenção à saúde, compreendendo unidades de APS e hospitais. 47-49 Por exemplo, o processo de reforma psiquiátrica 50 incluiu inovações pioneiras em serviços de saúde mental com a criação de centros comunitários de apoio psicossocial. Além disso, uma rede de serviços de emergência foi estabelecida reunindo serviços de ambulância, coordenadores de resposta a emergências que monitoram a ocupação do hospital e serviços de emergência pré-hospitalares (apêndice pp 2–5). No entanto, o acesso ao atendimento especializado continua sendo um grande gargalo, resultando em demanda não atendida, filas, longos tempos de espera e atrasos nos diagnósticos. Além disso, a demanda induzida pelo fornecedor, o uso excessivo e o uso excessivo de diagnósticos exacerbam a situação. 51 Como resposta, os setores público e privado estão desenvolvendo redes integradas de APS, atenção secundária e atenção terciária, 52 e introdução da terceirização e estabelecimento de parcerias público-privadas, como a organização social de saúde brasileira (Organizaçao Social de Saúde), na qual o financiamento e as instalações são pagos pelo público, mas a administração e o pessoal são do setor privado. 46 O SUS implementou várias iniciativas para melhor regulamentar os produtos para a saúde e para melhorar sua disponibilidade e acessibilidade (apêndice pp 2–5), incluindo a política de medicamentos genéricos, uma lista de medicamentos essenciais e promoção da produção local de produtos estratégicos para a saúde. 53 O programa nacional de imunização foi ampliado para fornecer 19 vacinas para 20 doenças, respondendo por cerca de 95% de todas as doses dadas à população. 54 O acesso a medicamentos essenciais aumentou ao longo do tempo, 55 reduzindo hospitalizações evitáveis e mortalidade. 56 Contudo, o gasto catastrófico com medicamentos ainda é a principal causa da sobrecarga do orçamento familiar, afetando principalmente as famílias de baixa renda. 57 A judicialização dos cuidados de saúde, invocando o direito constitucional à saúde como mecanismo para obrigar o governo a fornecer produtos e serviços de saúde, revelou-se um desafio ao acesso aos medicamentos. 58 Entre 2008 e 2015, os gastos do governo federal com reivindicações relacionadas a medicamentos passaram de 70 milhões para 1 bilhão de reais. 59 A maior parte dessas ações foi movida por advogados particulares, representando um indivíduo em busca de acesso a medicamentos de alto custo para o tratamento de doenças genéticas ou câncer não cobertos pelo SUS, levantando questões de equidade. 60 No entanto, existem diferenças regionais nas pessoas que fazem uso das vias judiciais; em algumas regiões, os indivíduos de baixa renda, que usam o contencioso como instrumento para melhorar o acesso ao atendimento, são a maioria dos litigantes. 61,62 A implantação do SUS marcou uma mudança no modelo de atenção à saúde, por meio da rápida expansão de centros de APS integrais e do desenvolvimento de redes de saúde para serviços de saúde mental, pronto-atendimento e serviços ambulatoriais especializados. O programa de agentes comunitários de saúde foi estabelecido em 1991 para atender às áreas mais pobres do Nordeste do Brasil, seguido pelo programa de saúde da família em 1994, que estabeleceu padrões para o número de funcionários das equipes de saúde da família, incluindo um clínico geral, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, e agentes comunitários de saúde, que fornecem serviços agudos, promoção da saúde, prevenção de doenças, gestão de doenças crônicas e serviços materno-infantis. As equipes de saúde da família passaram a ser o núcleo da APS do SUS com grande expansão nos anos subsequentes. 32 No entanto, o SUS tinha quadro de pessoal inadequado, dificultando a expansão eqüitativa. O número de equipes de saúde da família aumentou progressivamente de cerca de 2000 em 1998 (os primeiros dados disponíveis) para 42.975 em 2018, 33 aumentando a oferta de serviços de 7 milhões (4% da população) para 130 milhões (62% da população) de pessoas, incorporando mais de 264 mil agentes comunitários de saúde e 26 mil equipes de saúde bucal. 34-36 Em 2006, o Programa de Saúde da Família passou a se chamar Estratégia Saúde da Família (ESF) para refletir seu papel de pedra angular do sistema público de saúde. 37 e em 2007 foram criadas especialidades multiprofissionais, conhecidas como equipes de apoio à saúde da família, para apoiar as equipes de APS. As evidências sugerem que a expansão da ESF melhorou a saúde da população, com redução da morbimortalidade. 38-41 No entanto, as disparidades na cobertura da ESF permanecem entre grupos de renda e geográficos. 35 Para suprir a escassez de médicos, as disparidades de cobertura e o acesso aos serviços de APS, foi lançado o Programa Mais Médicos (Programa Mais Médicos) em 2013. O programa aumentou em 18.000 o número de médicos trabalhando naAPS em 4058 municípios, ampliou a cobertura da APS para incluir mais 15% da população brasileira (mais 20 milhões de pessoas), 42-44 e melhorou a qualidade do atendimento e melhorou a satisfação do paciente. 45 Além da APS, o SUS oferece serviços hospitalares abrangentes, incluindo tratamentos complexos. Os leitos hospitalares do SUS representaram 76,1% de todos os leitos hospitalares no Brasil em 2006, que diminuiu ligeiramente para 69,3% Para mais informações sobre programa de trabalhadores de saúde comunitários Vejo http://www.saude.gov.br/acoes- agente-comunitario-de-saude Para mais informações sobre programa de saúde da família consulte http: // www. saude.gov.br/acoes-e- programas / saude-da-familia Mudanças nos serviços de saúde e-programas / saude-da-familia / 348 www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/agente-comunitario-de-saude http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/agente-comunitario-de-saude http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/agente-comunitario-de-saude http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/agente-comunitario-de-saude http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/agente-comunitario-de-saude http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia Polícia da saúde 1998 2003 2008 2013 * valor p Todos os centros Consulta ao médico nos últimos 12 meses Qualquer USC USC = posto ou centro de saúde USC = hospital USC = privado ou outro Procurou serviço nas últimas 2 semanas Não tratado pela primeira vez Hospitalizado no passado 12 meses Dentista nos últimos 2 anos Centros SUS Consulta ao médico nos últimos 12 meses Qualquer USC USC = posto ou centro de saúde USC = hospital USC = privado ou outro Procurou serviço nas últimas 2 semanas Não tratado pela primeira vez Hospitalizado no passado 12 meses Dentista nos últimos 2 anos 54 · 69% (54 · 15–55 · 23) 62 · 82% (62 · 32–63 · 32) 67 · 68% (67 · 24–68 · 12) 74 · 20% (73 · 41–74 · 98) p <0,01 71,22% (70,27–72,15) 41 · 93% (40 · 61–43 · 27) 34 · 58% (33 · 31–35 · 87) 23 · 49% (22 · 70–24 · 29) 12 · 99% (12 · 71–13 · 26) 79 · 27% (78 · 44–80 · 06) 52 · 70% (51 · 53–53 · 86) 27 · 07% (25 · 95–28 · 22) 20,23% (19,61–20,87) 14,59% (14,34–14,44) 73 · 64% (72 · 91–74 · 36) 57 · 01% (55 · 99–58 · 02) 21,47% (20,54-22,44) 21 · 52% (20 · 87–22 · 19) 14 · 50% (14 · 24–14 · 77) 77 · 07% (76 · 19–77 · 93) 47 · 87% (46 · 52–49 · 22) 21 · 03% (20 · 06–22 · 02) 31 · 11% (29 · 91–32 · 33) 17 · 54% (16 · 90–18 · 19) p <0,01 p <0,01 p <0,01 p <0,01 p <0,01 3 · 68% (3 · 44–3 · 93) 6 · 94% (6 · 80–7 · 09) 3 · 59% (3 · 36–3 · 82) 7 · 01% (6 · 88–7 · 15) 3 · 75% (3 · 53–3 · 98) 7 · 11% (6 · 97–7 · 27) 4 · 75% (4 · 09–5 · 52) 7 · 03% (0,0665–7 · 42) p <0,01 Não significativo 51 · 76% (51 · 18–52 · 34) 57 · 83% (57 · 33–58 · 34) 64 · 93% (64 · 48–65 · 38) 63 · 69% (62 · 85–64 · 53) p <0,01 49 · 27% (48 · 68–49 · 85) 57 · 74% (57 · 16–58 · 31) 63 · 26% (62 · 75–63 · 77) 69 · 32% (68 · 40–70 · 22) p <0,01 68 · 55% (67 · 40–69 · 68) 55 · 30% (53 · 61–56 · 98) 33 · 92% (32 · 32–35 · 56) 10 · 78% (10 · 19-11 · 39) 11 · 14% (10 · 85–11 · 43) 78 · 14% (77 · 15–79 · 10) 67 · 66% (66 · 24–69 · 04) 24 · 87% (23 · 51–26 · 27) 7 · 48% (7 · 13–7 · 84) 12 · 86% (12 · 58–13 · 13) 72 · 39% (71 · 52–73 · 24) 73 · 81% (72 · 61–74 · 99) 18,15% (17,22–19,34) 8 · 04% (7 · 68–8 · 41) 12 · 90% (12 · 62–13 · 19) 76 · 03% (75 · 00–77 · 04) 61 · 13% (59 · 72–62 · 51) 20,34% (19,26–21,46) 18,53% (17,52–19,59) 15 · 96% (15 · 29–16 · 65) p <0,01 p <0,01 p <0,01 p <0,01 p <0,01 5 · 03% (4 · 70–5 · 38) 6 · 59% (6 · 42-6 · 76) 4 · 79% (4 · 49–5 · 10) 6 · 59% (6 · 44–6 · 74) 5 · 09% (4 · 79–5 · 40) 6 · 75% (6 · 57–6 · 92) 6,28% (5,40–7,29) 6 · 54% (6 · 13–6 · 98) p <0,01 Não significativo 44 · 83% (44 · 23–45 · 43) 51 · 52% (50 · 98–52 · 06) 59 · 19% (58 · 70–59 · 68) 58 · 19% (57 · 27–59 · 10) p <0,01 Os resultados são proporções ponderadas de pesquisas nacionalmente representativas realizadas em 1998, 2003 e 2008 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios [PNAD]), 63 e 2013 (Pesquisa Nacional de Saúde [PNS]). 64 Todas as tendências de tempo dentro do grupo (todos os centros e centros apenas do SUS) são estatisticamente significativas (os testes estatísticos Walld foram feitos em pares dentro de cada linha e os intervalos de confiança estão listados entre parênteses), exceto hospitalizações nos últimos 12 meses, que não mostraram alterações para nenhum dos grupos . SUS = Sistema Único de Saúde. USC = fonte usual de atendimento. * A pesquisa de 2013 alterou algumas perguntas e usou uma estratégia de amostragem diferente em comparação com as pesquisas nacionais anteriores. Mesa 2: Proporções da população que utiliza serviços de saúde em todas as instituições de saúde brasileiras e centros específicos do SUS de 1998 a 2013 Principais conquistas do SUS municípios com governança mais forte - por exemplo, os municípios das capitais dos estados, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Recife e Belém. 70 Tal como acontece com as melhorias nos resultados de saúde, a satisfação do usuário com o SUS melhorou, embora os desafios permaneçam. Em 1998, a proporção de usuários avaliando os serviços hospitalares como melhores que a média variou de 80,7% (região Norte) a 87,7% (região Sul) para hospitais do SUS, e de 89,4% (região Norte) a 95 · 3% (região Sudeste) para hospitais privados. Em 2013, a satisfação com o SUS e os serviços hospitalares privados diminuiu, variando de 69,4% (região Norte) para 87,5% (região Sudeste) para hospitais do SUS e de 87,8% (região Nordeste) para 93,3% (Região Sul) para serviços privados (anexo p 13). O SUS tem contribuído substancialmente para o aumento do uso de serviços de saúde, melhores resultados de saúde e maior equidade em saúde. 14,65 Em comparação com os países vizinhos da América Latina, outros países de renda média alta e países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil obteve grandes melhorias no acesso à água e saneamento, cobertura de imunização e expectativa de vida ao nascer (apêndice p 12). O acesso aos serviços de saúde melhorou e o uso dos serviços aumentou para toda a população brasileira (tabela 2); 66 por exemplo, com base na Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, entre aqueles que procuraram atendimento de saúde, cerca de 95% receberam atendimento na primeira vez que o procuraram, um número que tem sido bastante consistente de 1998 a 2013. 67 Essas medidas de acesso são semelhantes às observadas em países de alta renda. 68,69 A expansão da cobertura da APS, sustentada pelo programa de saúde da família e a subsequente ESF, levou a grandes melhorias nos resultados de saúde. 32,38,40,41,70-72 com quedas substanciais na mortalidade infantil 39,73,74 e hospitalizações evitáveis, 72,75,76 uma redução na desigualdade racial na mortalidade e uma queda na mortalidade amenizável, especialmente em no futuro financiamento do SUS Nos últimos 30 anos, o SUS ampliou o acesso aos serviços de saúde acompanhado da queda das desigualdades nos indicadores de saúde da população, mas seu desempenho futuro está ameaçado pelas transições demográficas, epidemiológicas, econômicas, políticas e sociais enfrentadas pelo Brasil. Efeitos projetados das mudanças na saúde da população www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 349 Polícia da saúde ln (mortalidade infantil) Proporção com saúde da família cobertura de estratégia Modelo 4 Modelo 5 0 · 174 0 · 180 (0 · 006) † (0 · 007) † · · · · Proporção de mães que frequentam ≥7 consultas de cuidados pré-natais Modelo 7 Model 8 0 · 019 0 · 035 (0 · 003) † (0 · 004) † ·· · · Modelo 1 - 0 · 027 (0 · 014) * · · Modelo 2 - 0 · 288 (0 · 065) † · · Modelo 3 - 0,004 (0 · 018) - 0 · 110 (0 · 059) · · Modelo 6 0 · 173 (0 · 008) † 0 · 005 (0 · 019) · · Modelo 9 - 0,009 (0 · 004) † 0 · 137 (0 · 013) † · · ln (transferências federais de saúde) ln (transferências federais) -por família interação de cobertura de subsídio ln (transferências federais) por município interação tamanho 2 ln (transferências federais) por município interação tamanho 3 ln (transferências federais) por município interação tamanho 4 ln (transferências federais) por município interação tamanho 5 · · - 0 · 052 (0 · 081) 0 · 153 (0 · 069) * 0 · 305 (0 · 065) † 0 · 317 (0 · 065) † · · 0 · 011 (0 · 006) 0 · 008 (0 · 007) - 0 · 023 (0 · 007) † - 0 · 089 (0 · 008) † · · 0 · 004 (0 · 004) 0 · 003 (0 · 004) 0 · 003 (0 · 004) - 0,030 (0 · 004) † · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · SEs (mostrados entre parênteses) são agrupados no nível do município. Todos os modelos de regressão controlam para um termo de interação entre os níveis de linha de base e uma tendência linear de tempo no indicador, para efeitos fixos de ano e municipal, para efeitos fixos de ano e estadual, e para as variáveis ln (produto interno bruto municipal per capita), abono de família (Bolsa Família) (% da população total), cobertura de seguro privado (% da população total) e alinhamento político entre prefeito e governador. As regressões para mortalidade infantil e consultas de pré-natal são ponderadas pelo número médio municipal de nascimentos computados no período da amostra. Detalhes completos são fornecidos no apêndice. ln = logaritmo natural. Tamanho do município 2 = 5.000–9999 habitantes. Tamanho do município 3 = 10.000–19999 habitantes. Tamanho do município 4 = 20.000–49999 habitantes. Tamanho do município 5 = ≥50000 habitantes. * p <0,05. † p <0,01. Tabela 3: Resultados do modelo de regressão da relação entre as transferências federais de saúde para os municípios e indicadores de saúde selecionados no Brasil (2004-15) Para avaliar como essas transições podem afetar quatro indicadores de saúde até 2030 (ano-alvo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU), consideramos quatro cenários hipotéticos de transferência federal de recursos aos municípios. No primeiro, as transferências federais de saúde para os municípios foram mantidas constantes no valor transferido em 2015 até 2030. Nos três cenários restantes, assumimos que as transferências cresceriam na mesma taxa do Produto Interno Bruto (PIB): 1% ao ano no segundo cenário, 2% no terceiro e 3% no quarto. Para cada um dos quatro cenários, simulamos o desempenho dos quatro indicadores (todas as metas da Meta de Desenvolvimento Sustentável 3) até 2030. Apresentamos em detalhes nossos métodos, premissas e verificações de robustez no apêndice (páginas 6–11). O primeiro indicador considerado foi a mortalidade infantil, 77 segundo, a proporção de nascimentos cujas mães compareceram a sete ou mais consultas em centros de cuidados pré-natais, uma medida dos serviços de saúde preventiva; terceiro, cobertura da ESF, uma medida de acesso à APS; e, por último, a mortalidade amenizável (mortes prematuras menores de 75 anos que poderiam ter sido evitadas, com atenção à saúde eficaz e oportuna) por doenças cardiovasculares, principal causa de morte no Brasil entre pessoas com 60 anos ou mais (usando os códigos I05 –I09, I15, I20 – I25 e I60 – I68 da Classificação Internacional de Doenças, 10 a revisão), 78 uma medida da qualidade do atendimento. 79 No geral, os aumentos nas transferências federais de fundos para os governos municipais foram associados a uma redução na mortalidade infantil, maior cobertura da ESF e consultas mais frequentes ao centro de atenção pré-natal (tabela 3). Cada aumento de 10% no financiamento federal aos municípios foi associado a um aumento na cobertura da ESF de 1,74 pontos percentuais e a um aumento de 0,19 pontos percentuais pontos da proporção de mães que completam sete ou mais visitas ao centro de cuidados pré-natais. Nós replicamos as regressões mais saturadas, adicionando interações entre transferências federais e dummies que indicam diferentes tamanhos de municípios. No caso da mortalidade infantil, os efeitos estimados da variação do financiamento foram maiores nos menores municípios e não houve diferenças significativas entre o efeito da transferência de recursos na primeira e na segunda categoria de porte. A magnitude do efeito do financiamento alterado diminuiu significativamente nos municípios nas categorias de terceiro porte e não foi estatisticamente diferente de zero na quarta e quinta categorias. Um padrão análogo de efeitos maiores para municípios de pequena população também foi observado para a cobertura da ESF e para as consultas de pré-natal (tabela 3). Esses resultados sugerem que os subsídios federais são muito mais eficazes em municípios menores, que dependem mais de recursos federais do que os municípios maiores. Como o esquema do Bolsa Família (transferência de renda) visa ajudar as famílias mais pobres, e como a análise de incidência de benefícios mostrou que os serviços públicos de saúde e os gastos públicos do SUS beneficiam principalmente as famílias de baixa renda, replicamos o modelo saturado descrito anteriormente e adicionamos uma interação entre alteração do financiamento federal da saúde e cobertura do auxílio família (tabela 3). Os resultados mostraram que o efeito do financiamento federal da saúde sobre a mortalidade infantil foi muito mais forte quando a cobertura do programa de transferência de renda foi mais ampla, sugerindo que nas regiões mais pobres o retorno dos investimentos federais em saúde no combate à mortalidade infantil foi maior. Resultados semelhantes foram observados para a proporção de mães que frequentam com frequência as visitas ao centro de cuidados pré-natais. Notavelmente, uma das condicionalidades do programa de bolsa família é que mulheres grávidas 350 www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 Polícia da saúde Modelo 1 0 · 019 (0 · 013) · · · · · · · · · · · · Modelo 2 - 0 · 047 (0 · 016) * 0 · 338 (0 · 059) * · · · · · · · · · · Modelo 3 0 · 393 (0 · 057) * · · - 0 · 093 (0 · 014) † · · · · · · · · Modelo 4 0 · 187 (0 · 047) * · · · · - 0,089 (0,053) - 0 · 113 (0 · 049) † –0 · 112 (0 · 049) † - 0 · 191 (0 · 047) * –0 · 169 (0 · 048) * - 0 · 199 (0 · 047) * –0 · 144 (0 · 048) * Modelo 5 0 · 346 (0 · 079) * 0 · 208 (0 · 066) * - 0,056 (0,016) * - 0 · 093 (0 · 053) ln (transferências federais) ln (transferências federais) -por-interação de cobertura de auxílio-família ln (transferências federais) -por-interação IQIM Interação ln (transferências federais) - por município tamanho 2 ln (transferências federais) - por município tamanho 3 interação ln (transferências federais) - por município tamanho 4 interação ln (transferências federais) - por município tamanho 5 interação SEs (mostrados entre parênteses) são agrupados em nível de município. Todos os modelos de regressão controlam para um termo de interação entre os níveis de linha de base e uma tendência linear de tempo no indicador, para efeitos fixos de ano e municipais, para efeitos fixos de ano e estaduais e para as variáveis ln (produto interno bruto municipal per capita), Cobertura do bolsa família (% da população total), seguro privado (% da população total) e alinhamento político entre Prefeito e Governador. Além disso, todos os modelos são ponderados pela população média do município com 60 anos ou mais (média do município calculada durante o período da amostra). Detalhes completos são fornecidos no apêndice. ln = logaritmo natural. IQIM = Índice de qualidade institucional municipal. Tamanho do município 2 = 5.000–9999 habitantes. Tamanho do município 3 = 10.000–19999habitantes. Tamanho do município 4 = 20.000–49999 habitantes. Tamanho do município 5 = ≥50000 habitantes. * p <0,01. † p <0,05. Tabela 4: Modelo de regressão das associações entre transferências federais de saúde para municípios e mortalidade por doenças cardiovasculares amenizáveis em pessoas com 60 anos ou mais deve se cadastrar no programa de pré-natal e seguir o calendário de consultas, que se acredita contribuir para a melhoria do atendimento ao pré-natal. Considerando a diferença absoluta na mortalidade infantil entre o menor (<5000 pessoas) e o maior (≥50000 pessoas) municípios, os resultados simulados indicaram que, no cenário um, a diferença aumentaria de 0,8 pontos em 2015 para 1,2 pontos em 2030 (um aumento de cerca de 0,4 mortes por 1000 nascimentos). Em contraste, no cenário quatro (onde o financiamento aumentou 3% ao ano), essa diferença na mortalidade infantil diminuiria de 0,8 pontos em 2015 para -0,6 pontos em 2030 (apêndice p 14). A desigualdade na mortalidade infantil simulada foi avaliada por meio do uso de uma razão de iniquidade (uma razão entre a mortalidade infantil nos menores e nos maiores municípios), que fornece uma medida das diferenças na distribuição regional da mortalidade infantil. 80 No cenário um, a razão de desigualdade aumentou de 1 · 07 em 2015 para 1 · 10 em 2030. Em 2030, a razão de iniquidade para o cenário dois era de 1,049, 0,998 para o terceiro cenário e 0,0953 para o quarto cenário. Focalizando os municípios menores, a proporção de mortalidade infantil simulada no cenário um em relação ao cenário quatro foi 1,14 para o menor município (<5.000 habitantes) e 1,17 para municípios com 5.000–9999 habitantes. A análise das visitas ao centro de atenção pré-natal mostrou que um declínio na proporção de mães que frequentam o centro de atenção pré-natal com frequência (≥7 visitas) só seria observada até 2030 no cenário um, e essas quedas seriam insignificantes para municípios maiores (apêndice p 15) . Em 2015, a proporção de mães que frequentam com frequência o centro de cuidados pré-natais era de 0,7123; isto foi modelado para chegar a 0.7122 no cenário um e 0.725 no cenário quatro. A razão de iniquidade entre os menores e os maiores municípios foi menos pronunciada do que a observada para a mortalidade infantil; aumentou de 1,10 no cenário um para entre 1,11 e 1,12 para os outros três cenários. Os efeitos simulados das mudanças de financiamento na cobertura da ESF foram maiores do que os observados para visitas a centros de cuidados pré-natais. Independentemente do porte do município, a cobertura da ESF seria reduzida no cenário um (anexo 15). Analisando os dados de todos os municípios, a proporção da população atendida pela ESF em 2015 era de 0,88 e esse valor diminuiu para 0,87 em 2030 no cenário um, mas aumentou para 0,94 no cenário quatro. Municípios com menos de 20.000 habitantes teriam as maiores quedas na cobertura de saúde no cenário um, mas os maiores aumentos nos outros três cenários (tabela 4). Para contabilizar a capacidade dos municípios para gerenciar recursos (índice de qualidade institucional municipal [IQIM]), 81 adicionamos um termo de interação entre a quantidade de transferências federais de saúde e IQIM (tabela 4; modelo 3) ao modelo, o que indicou que uma maior capacidade do município para gerenciar recursos (IQIM mais alto) foi associada a uma maior redução em doenças cardiovasculares receptivas mortalidade por doença nos cenários dois, três e quatro (figura). A estimativa pontual de financiamento federal permaneceu estável quando adicionamos os termos de interação para o tamanho do município e a cobertura do programa de bolsa-família (tabela 4; modelo 5). A adição das interações entre o financiamento federal e os termos fictícios que representam os diferentes tamanhos de municípios revelou que os municípios menores teriam as menores reduções na mortalidade por doenças cardiovasculares amenizáveis (tabela 4; modelo 4). Discussão: olhando para o futuro Nossos resultados indicam uma deterioração de todos os quatro indicadores de saúde no cenário um, onde o financiamento não aumenta. Mais importante ainda, a deterioração foi maior entre os municípios menores, exacerbando as desigualdades geográficas e, portanto, revertendo uma tendência recente de melhorias gerais. 4 Em 1990, a Cúpula Mundial da Criança adotou uma meta de reduzir a mortalidade infantil em um terço ou para 70 mortes por 1000 nascidos vivos, o que fosse a maior redução, até o ano 2000. 82 O Brasil registrou uma queda de 42% na mortalidade infantil entre 1990 e 2000 e uma incidência www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 351 Polícia da saúde 0,8 IQIM <2,5 2,5 a <3,5 3,5 a <4,55 ≥4,5 ocorreu. Em parte, essa queda deveu-se à redução do número de fumantes e ao melhor acesso à APS por meio da ESF. 20,41,70 Um declínio na mortalidade por doenças cardiovasculares amenizáveis entre pessoas com 60 anos ou mais foi observado entre 2004 e 2015: em média, a mortalidade diminuiu cerca de 6% durante este período, com 598,8 mortes por doenças cardiovasculares amenizáveis por 100.000 pessoas com 60 anos ou mais ocorrendo em 2015. Os declínios na mortalidade infantil e na mortalidade por doenças cardiovasculares têm diferentes caminhos, principalmente devido aos seus diferentes fatores de risco, cronicidade das doenças e nível de atendimento onde as doenças são tratadas (por exemplo, primário vs atenção secundária). O tratamento que pode reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares, disponível por meio da atenção secundária, também tende a ser mais caro e nem sempre disponível em municípios menores e menos ricos. Embora nossos cenários simulados indicassem pequenos efeitos na mortalidade por doenças cardiovasculares amenizáveis, aumentos no financiamento federal foram associados a reduções de mortalidade em municípios que têm uma gestão do setor público de melhor qualidade. Portanto, as mudanças nas transferências federais podem ter um efeito sobre a mortalidade infantil (diretamente associada à APS), especialmente em pequenos municípios, e sobre a mortalidade por doenças cardiovasculares amenizáveis (associada à atenção primária e secundária), especialmente em municípios que têm boa capacidade de gestão de recursos . Nosso estudo tem algumas limitações. Primeiro, usamos dados administrativos em nossa análise, que podem ter sido subnotificados. Levamos em consideração uma possível subnotificação em nossos modelos (apêndice pp 6–11), ajustando os dados de doenças cardiovasculares para causas mal definidas de morte, e excluímos 459 municípios muito pequenos, que provavelmente não mudarão a magnitude ou direção de nossos resultados, porque eles não tinham informações sobre o financiamento federal da saúde. Em segundo lugar, e mais importante, nossos cenários simulados não foram construídos para quantificar precisamente os efeitos das medidas de austeridade, mas para indicar tendências prováveis em resultados selecionados. Terceiro, argumentamos que nossos resultados fornecem uma imagem muito conservadora do efeito que as mudanças no financiamento federal para a saúde podem ter. O Brasil já tem uma baixa mortalidade infantil, 87 As simulações mantiveram todos os outros fatores constantes e variaram apenas o financiamento federal da saúde per capita, mas é provável que haja redução do financiamento ou encerramento de outros programas sociais após medidas de austeridade. Assim, o efeito negativo da austeridade sobre a mortalidade infantil pode ser maior do que o modelado. Além disso, a provável redução na porcentagem de mães que aderem às recomendações brasileiras sobre o número de consultas pré-natais em um cenário de financiamento federal da saúde restrito pode afetar a saúde materna e, consequentemente, o número de mortes fetais e neonatais,88,89 aumentando ainda mais a mortalidade infantil. A redução da cobertura da ESF afeta diretamente de 27,6 mortes por 1000 nascidos vivos após o período de 10 anos, superando a meta estabelecida. O Brasil teve o segundo melhor desempenho na redução da mortalidade em crianças menores de 5 anos de 1990 a 2006, 83 e foi um dos poucos países a cumprir a Meta de Desenvolvimento do Milênio 4, de reduzir a mortalidade infantil em dois terços entre 1990 e 2015. 83,84 Além disso, a partir de 1995, a desigualdade no número de óbitos infantis entre as áreas mais pobres e mais ricas começou a diminuir, e os municípios com as maiores taxas de mortalidade infantil observaram as maiores quedas no número de óbitos. 85 No entanto, os resultados de nossos cenários simulados mostram que as medidas de austeridade, implementadas em 2018, provavelmente reverterão essa queda e agravarão as desigualdades regionais de mortalidade infantil, afetando as áreas mais pobres em 5% em comparação com 2015, o primeiro aumento neste indicador desde 1990 . 86 O aumento das desigualdades em relação à cobertura da ESF e à proporção de mães que frequentam um centro de atenção pré-natal também foi observado em nossos cenários de financiamento simulados. A redução na cobertura da ESF tende a ter um efeito maior nos municípios menores do que nos maiores, pois os governos municipais contam com a ESF para fornecer APS à população. Os benefícios da ESF nos resultados de saúde são essenciais em municípios menores. 34 Quanto ao efeito da alteração do financiamento das visitas ao pré-natal, embora modesto em magnitude, os resultados sugerem que o cenário um, em que o financiamento permaneceria constante de 2015 a 2030, contribuiria para uma diferença crescente no acesso ao serviço entre municípios maiores e menores . As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil; 79 no entanto, entre 1996 e 2007, um declínio de 20% na mortalidade por doença cardiovascular padronizada por idade 0,66 0,44 0 · 02 0 - 0 · 02 - 0 · 04 Cenário um Cenário dois Cenário três Cenário quatro Figura: Efeito de diferentes montantes de financiamento federal na diferença entre a mortalidade por doença cardiovascular moderada em 2030 e a mortalidade observada em 2015 O gráfico mostra a diferença na mortalidade por doenças cardiovasculares sob os diferentes modelos de financiamento categorizados pelos valores de IQIM. Cenário um = as transferências federais de saúde são mantidas constantes no valor transferido em 2015 até 2030. Cenário dois = as transferências federais de saúde crescem 1% ao ano. Cenário três = as transferências federais de saúde crescem 2% ao ano. Cenário quatro = as transferências federais de saúde crescem 3% ao ano. IQIM = índice de qualidade institucional municipal 352 www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 D i f e r e n ç a n a m o r t a l i d a d e p o r d o e n ç a c a r d i o v a s c u l a r a m e n i z á v e l Polícia da saúde a provisão de APS, particularmente em pequenos municípios, que provavelmente resultará em aumentos adicionais da mortalidade infantil e na deterioração de outros resultados de saúde. 39 Além disso, a redução do financiamento federal per capita provavelmente afetará os serviços prestados nos centros de atenção secundária, o que poderia comprometer a prestação de serviços essenciais necessários para mitigar condições relacionadas a doenças cardiovasculares. No entanto, apesar das limitações, nossos achados estão de acordo com outros estudos 90 e com as estatísticas vitais e indicadores de saúde recém-divulgados, que apontam para aumento da mortalidade infantil, infantil e materna e redução drástica da cobertura vacinal, de 2015 a 2016. 86 Embora o SUS, sem dúvida, tenha contribuído para melhorias na saúde e no bem-estar da população brasileira e ajudado a reduzir as disparidades de saúde, esses ganhos são frágeis. O Brasil está passando por uma grande transição sócio-política e econômica; a mudança política para o populismo de extrema direita está testando a democracia e ameaçando os direitos humanos. Essa mudança, muitas vezes acompanhada por políticas de austeridade, pode afetar negativamente o SUS e agravar as desigualdades. A nova política fiscal para acabar com o financiamento direcionado do orçamento federal para saúde e educação corre o risco de impedir os investimentos nesses setores. 91 Não foi desenvolvido um plano abrangente para futuras ações de saúde sob o novo Governo do Brasil, o que envia mensagens conflitantes. Por um lado, uma proposta do Ministério da Saúde para fortalecer e ampliar ainda mais o acesso à APS é animadora. 91 Por outro lado, mudanças e reorganizações de programas de saúde bem-sucedidos podem atrasar as conquistas do passado. Por exemplo, o fim da cooperação com o governo cubano para o programa Mais Médicos pode afetar negativamente a saúde das populações mais pobres. A primeira iniciativa de substituição de 7.271 cargos de cubanos por médicos brasileiros foi preenchida por 2.844 profissionais de saúde que já atuavam no SUS, 92 o que equivalia apenas a redistribuir recursos de uma área para outra. As mudanças em relação à saúde reprodutiva e aos adolescentes são particularmente preocupantes. Em uma conferência da ONU em março de 2019, o governo brasileiro rejeitou o uso das expressões “incluindo o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva” e “a exclusão dos serviços de saúde sexual e reprodutiva dos programas de cobertura universal de saúde”, citando que estes políticas podem promover o aborto. 93 Além disso, o governo proibiu as ilustrações de cartilhas distribuídas a adolescentes com instruções sobre o uso do preservativo. Na mesma linha, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos se recusou a adicionar a comunidade LGBTQ + como um grupo explicitamente protegido por seu mandato, afirmando que “as políticas de diversidade têm ameaçado a família brasileira”, 94 enquanto o Ministério da Educação apoiou o polêmico esquema Escolas Sem Partido, que promove políticas que proíbem os professores de incentivar os alunos a envolver-se em discussões sobre identidade de gênero, diversidade, educação sexual e política. 95 Combinadas, essas políticas provavelmente afetarão a saúde e o bem-estar dos adolescentes em um ambiente onde o aumento dos casos de sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis e gravidez em menores de idade entre as comunidades mais pobres é um grande desafio. Um novo decreto para modificar o Estatuto do Desarmamento sobre o registro, posse e comercialização de armas de fogo e munições 96 levará ao aumento da disponibilidade de armas em um país que tem uma das maiores incidências de homicídios e mortes violentas no mundo. 95 O pipeline de políticas diz respeito à saúde. Grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública avalia a conveniência e oportunidade da redução do imposto sobre os cigarros fabricados no Brasil. 97 Além disso, vários outros novos projetos de lei e emendas constitucionais estão atualmente em discussão no Congresso Nacional para eliminar ou reduzir consideravelmente as restrições às licenças ambientais para novos projetos de infraestrutura e outras atividades econômicas, e impedir a demarcação de novas áreas indígenas e protegidas, ou até mesmo revogar as existentes para abrir espaço para a expansão do agronegócio - políticas que ameaçam o sistema ambiental brasileiro. 98 Como resultado da situação no Brasil e de nossos cenários modelados, fazemos seis recomendações para garantir a sustentabilidade do SUS e prevenir a piora dos resultados de saúde e o aprofundamento das desigualdades em saúde. Em primeiro lugar, os princípios do SUS devem ser mantidos para garantir o uso eficiente, eficaz e eqüitativo dos recursos públicos. Universalidade,integralidade e atenção gratuita no SUS são fundamentais para avançar rumo à cobertura universal de saúde no Brasil. Porém, a falta de definições claras e fragilidades regulatórias para a aplicação efetiva dos princípios do SUS resulta na chamada judicialização da saúde, com o judiciário brasileiro acatando as demandas individuais e determinando a oferta de serviços e produtos de saúde que, em muitos casos, não o são. regularmente ofertados pelo SUS, com consequentes iniquidades. 63 Para mitigar a judicialização e garantir a equidade, devem ser definidas listas nacionais e locais de serviços e produtos de saúde oferecidos pelo SUS (com avaliação adequada e definição de prioridades). Em segundo lugar, deve-se garantir financiamento público suficiente e alocação eficiente de recursos essenciais para a sustentabilidade do SUS. As medidas de austeridade, implementadas em 2016, irão agravar o subfinanciamento crônico do SUS, levando a um sistema de saúde que atende as populações mais pobres com baixa qualidade de atendimento, com piora nos resultados de saúde, proteção financeira e iniquidades. Terceiro, os serviços de saúde devem ser prestados por meio de uma rede integrada. O modelo da ESF melhorou os resultados de saúde e reduziu as desigualdades em saúde no Brasil, 39,73-76 mas a falta de integração entre os serviços primários, secundários e terciários e a regulamentação subótima do setor privado causou fragmentação, redundância e grandes lacunas na atenção à saúde. Um Integrado www.thelancet.com Vol 394, 27 de julho de 2019 353 Polícia da saúde Uma rede de serviços de saúde públicos e privados, sustentada por fortes práticas de APS, poderia aumentar a eficiência, eficácia e acesso aos cuidados de saúde para toda a população. Quarto, um novo modelo de governança interfederativa deve ser desenvolvido. A expansão do SUS foi possível devido ao papel fundamental dos municípios na prestação da assistência à saúde. No entanto, a descentralização onerou os municípios financeira e tecnicamente com recursos e capacidade insuficientes. Novas formas organizacionais são necessárias para melhorar a coordenação da atenção à saúde em nível regional, com um novo pacto federal entre os governos federal, estadual e municipal para promover um equilíbrio de poder, papéis e responsabilidades para a gestão das redes regionais de saúde. Essa estrutura de governança também deve considerar as transferências de equalização intergovernamental para reduzir as disparidades entre os municípios. Municípios com populações menores têm receitas mais baixas e maior dependência de transferências intergovernamentais. Municípios de médio e grande porte têm receitas mais altas, mas atraem transferências intergovernamentais menores e, em média, usam uma proporção maior de suas receitas para cuidados de saúde. Assim, as transferências intergovernamentais para pequenos municípios para enfrentar as desigualdades existentes devem vir de novas fontes e não devem prejudicar os municípios médios. Quinto, a expansão dos investimentos no setor da saúde e o fortalecimento das políticas econômicas, tecnológicas, industriais e sociais e das estruturas regulatórias que afetam a produção e a valorização das tecnologias e serviços de saúde, incluindo a propriedade intelectual, são essenciais. Além disso, o desenvolvimento de políticas do complexo industrial da saúde para a melhoria da formação e melhor alocação de recursos humanos é essencial para atender às necessidades e desigualdades de saúde, juntamente com melhores planos de carreira para quem trabalha no SUS. 42,43 Por último, a promoção do diálogo social como estratégia fundamental para transformar o SUS a partir do princípio do direito à saúde e para aprender com a experiência nacional e internacional no fortalecimento da cobertura universal de saúde. Um debate aberto e honesto e um amplo diálogo entre os atores governamentais, aqueles que atuam no SUS, a academia e a sociedade civil é um passo importante para desenvolver valores compartilhados e uma visão de sustentabilidade do SUS. Contribuidores RA concebeu o estudo e desenvolveu em conjunto o esboço do estudo com GA, MCC, AM e contribuições subsequentes de todos os autores. MCC, RR, NAM-F, MVA e KVMdSN conduziram a modelagem econômica, e NAM-F realizou a análise. RA, GA, MCC e AM escreveram o primeiro rascunho com contribuições de todos os autores. Todos os autores contribuíram para os rascunhos subsequentes e o manuscrito final. Declaração de interesses Declaramos não haver interesses conflitantes. Agradecimentos Agradecemos a Vitor Estrada de Oliveira pelo excelente auxílio na pesquisa. Referências 1 Presidência da República, Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03 / Constituicao / Constituicao.htm (acesso em 7 de setembro de 2018). WHO. Declaração de Alma-Ata. Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde. 1978. http://www.who.int/social_determinants/ tools / multimedia / alma_ata / en / (acessado em 15 de julho de 2018). UN. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. http: // www. un.org/en/universal-declaration-human-rights/ (acessado em 15 de julho de 2018). 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