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2019_tcc_nsomartinspirataria moderna

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE DIREITO 
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO 
 
 
 
 
NÁJILA DOS SANTOS OLIVEIRA MARTINS 
 
 
 
 
 
PIRATARIA MODERNA E A DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS ONLINE DE FORMA 
GRATUITA 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2019 
 
 
NÁJILA DOS SANTOS OLIVEIRA MARTINS 
 
 
 
 
 
PIRATARIA MODERNA E A DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS ONLINE DE FORMA 
GRATUITA 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do 
título de bacharel em Direito. Área de 
concentração: Direito Penal 
Orientador: Prof. Dr. Samuel Miranda Arruda 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2019 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
M344p Martins, Nájila dos Santos Oliveira.
 Pirataria moderna e a distribuição de livros online de forma gratuita / Nájila dos Santos Oliveira
Martins. – 2019.
 57 f. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito,
Curso de Direito, Fortaleza, 2019.
 Orientação: Prof. Dr. Samuel Miranda Arruda.
 1. Pirataria moderna. 2. Direito autoral. 3. Internet . I. Título.
 CDD 340
 
 
NÁJILA DOS SANTOS OLIVEIRA MARTINS 
 
PIRATARIA MODERNA E A DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS ONLINE DE FORMA 
GRATUITA 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Direito da Universidade Federal 
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do 
título de bacharel em Direito. Área de 
concentração: Direito Penal 
Orientador: Prof. Dr. Samuel Miranda Arruda 
 
 
Aprovada em: ___/___/_____. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
______________________________________________ 
Prof. Dr. Samuel Miranda Arruda (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
_____________________________________________ 
Prof. Dr. Alex Xavier Santiago da Silva 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
_____________________________________________ 
Vanessa de Lima Marques Santiago (Doutoranda) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, a minha família e aos meus amigos. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, por sua misericórdia, graça e bondade, sem as quais eu não estaria aqui e esse 
trabalho não poderia ser feito. A Ele, toda honra, glória, louvou e gratidão. Porque Dele, por 
Ele e para Ele não todas as coisas. É tudo sobre você! 
Ao meu marido e parceiro de críticas Uedson, por todo o amor, apoio, calma e paciência 
para comigo. Obrigada por todas as revisões e por todo o incentivo. Sem você esse trabalho 
seria muito mais chato e complicado. Te amo! 
Aos meus pais Dinoval e Eliude, minha eterna gratidão pelos valores e ensinamentos. 
Por sempre me incentivarem a prosseguir nos estudos e por me ensinarem o valor da 
perseverança. Obrigada, obrigada, obrigada. Amo vocês! 
As minhas queridas irmãs, Lory e Ina, agradeço por me ensinarem o valor da irmandade 
e da amizade. Obrigada pelos conselhos e por ouvir meus imensos áudios quando eu precisava 
desabafar. Amo vocês! 
A minha coelha Smurfette, que obviamente não poderá ler esses agradecimentos, mas 
que contribuiu com a sua presença e suas lambidas para que eu terminasse esse trabalho. Te 
amo, bola de pelos. 
Aos meus sogros Ione e Son, minhas cunhadas Hellen e Hellaná, aos seus respectivos 
maridos Anderson e João, obrigada por toda a compreensão e apoio nesse momento. E, 
agradeço, em especial, ao meu querido sobrinho Antônio, que tornou esses dias mais leves e 
agradáveis pelo simples fato de existir. 
Aos meus amigos, Renata, Sara e Lucas, e Thayná, que mesmo de longe puderam me 
apoiar em toda essa trajetória. Obrigada pelas conversas, risadas e orações! 
Ao “clubinho do desespero”, Georgia, Erik e Rayanne. Obrigada por serem um abrigo 
nesse período tumultuado e antes mesmo dele. Sem vocês a faculdade de direito seria muito 
sem graça. Obrigada por tirarem as minhas milhões de dúvidas e por compartilharem o 
desespero desse trabalho. 
As “meninas universitárias”, Thayná e Jéssica, parceiras de carona, que tornaram as idas 
à faculdade prazerosas e que me ajudaram em tudo que precisava quando estavam tanto longe 
quanto perto. 
A minha banca examinadora. Professor Alex Santiago, obrigada pelas aulas leves e por 
me lembrar do meu amor ao direito penal. E à Vanessa Lima, obrigada por tornar o NPJ especial 
e por ser essa pessoa cheia de luz. 
 
 
E por último, e não menos importante, agradeço ao meu orientador Samuel Miranda 
Arruda, por ser esse professor e orientador incrível, no momento que terminei aquelas aulas de 
criminologia soube que era para ser o Sr. o meu orientador e não me arrependi dessa decisão. 
Gratidão pela paciência e correções. 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente estudo trata da pirataria moderna e a distribuição de livros online de forma gratuita, 
examinando o direito autoral e sua separação em direito autoral moral e direito autoral 
patrimonial, juntamente com uma análise do domínio público, bem como do Copyright e do 
Droit d’Auteur. Para tal estudo, se fez mister a definição de pirataria moderna e a verificação 
da prática de disponibilização e tradução de livros na internet e quais as razões tanto para quem 
pratica tais condutas, como para quem lê livros considerados piratas. Tão importante quanto a 
conceituação de pirataria, é a exploração das sanções civis e penais relativas a essa violação. 
Para isso, foi feito uma descrição aliada à valoração das sanções presentes na Lei de Direitos 
Autorais e no Código Penal. Por fim, são tecidas considerações a respeito da atual proteção ao 
direito autoral, com ênfase nas críticas as sanções penais e são apresentadas um conjunto de 
possíveis soluções para o problema da pirataria. O objetivo geral desse trabalho foi analisar o 
instituto da pirataria moderna, com ênfase na distribuição de livros online de forma gratuita, 
perpassando pela observação do direito autoral e das sanções cíveis e penais diante da violação 
do direito do autor, dentro do âmbito da internet, gerado pela utilização de obras intelectuais, 
sem a devida autorização. Os objetivos específicos foram: examinar a lei 9.610 de 19 de 
fevereiro de 1998, lei de Direitos Autorais; Observar a proteção do direito autoral; Estudar o 
instituto da pirataria de livros na internet; Verificar as sanções cíveis, presentes na lei de 
Direitos Autorais, e das sanções penais, previstas no Código Penal Brasileiro; Analisar a 
justificativa da tutela penal como sanção do crime de pirataria, mais especificamente, na 
reprodução de livros no meio digital, quando não se tem a intenção de obter lucro. A 
metodologia usada foi a pesquisa exploratória e qualitativa como uso de pesquisa bibliográfica 
e revisão de literatura juntamente com pesquisa documental. 
Palavras-chave: Pirataria moderna. Direito autoral. Internet. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This paper deals with modern piracy and free online book distribution by examining copyright 
laws and their separation into two elements.: Copyright Law and its moral aspect; and 
Copyright Law and property rights. Furthermore, it was assessed the concepts of Public 
Domain, Copyright and Droit d’Auteur. For this research it was necessary to look into the 
definition of modern piracy and verify the current distribution and translation of books on the 
Internet, as well as the reasons why someone would practice this conduct, such as the reading 
of illegally downloaded books. Just as important as the definition of modern piracy is the 
examination of civil and penal sanctions related to the Copyright violation. In this regard, it was 
described and evaluated the penalties stated in theLei de Direitos Autorais and in the Código 
Penal. Finally, were made considerations about the current Copyright protection, with an 
emphasis on a critical assessment of the penal sanction, and was presented a set of possible 
solutions for the piracy problem. The general purpose of the research was analyze the modern 
piracy with enphasis on the online book distribution for free, going through observations of 
Copyright law and the civil and penal sactions front of violations of the author’s rights, on the 
internet, related to use of their intellectual works without their permission. The specific goals 
were: exame the law 9.610, of 19 february 1998, Lei dos Direitos Autorais; observe the 
protection of Copyright; study the modern piracy related ti books on the internet; verify the 
civil penalties on the Lei de Direitos Autorais and the penal sanctions on the Código Penal, 
more specifically on the digital book distribution when there’s no intention of obtein financial 
profit. The metodology uses was exploratory and qualitative research, as well as the 
bibliographic research and literature search along with document search. 
Keywords: Modern piracy. Copyright. Internet 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 
2 DIREITOS AUTORAIS ..................................................................................................... 11 
2.1 Surgimento e evolução .................................................................................................. 12 
2.2 A Lei de Direitos Autorais ............................................................................................ 15 
2.3 Necessidade de proteção ao direito do autor .............................................................. 19 
3 PIRATARIA ........................................................................................................................ 23 
3.1 Definição ........................................................................................................................ 23 
3.2 Pirataria moderna ......................................................................................................... 24 
3.2.1 A Internet e o Direito Autoral ................................................................................. 25 
3.2.2 A tradução e a disponibilização de livros na Internet ............................................ 27 
4 SANÇÕES A VIOLAÇÃO DO DIREITO AUTORAL ................................................... 31 
4.1 Sanções cíveis ................................................................................................................. 32 
4.2 Sanções penais ............................................................................................................... 35 
5 CRÍTICAS A PROTEÇÃO DO DIREITO AUTORAL E SUAS SANÇÕES ............... 41 
5.1 Direito a educação/cultura/conhecimento versus Direito do autor........................... 43 
5.2 Críticas às sanções penais ............................................................................................. 47 
5.3 Possíveis soluções para o problema da pirataria ....................................................... 50 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 53 
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 54 
 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A escolha do tema foi baseada na quantidade de downloads que boa parte dos 
estudantes fazem no ambiente acadêmico. Porém, essa não é uma prática comum somente nas 
universidades. A sociedade de forma geral costuma fazer uso de livros digitais baixados de 
forma ilegal. Por esse motivo a pirataria moderna foi objeto desse estudo. 
 O estudo do direito autoral e suas ramificações se faz fundamental para entender a 
pirataria moderna e a distribuição de livros online de forma gratuita, em razão de o conceito de 
pirataria moderna remeter a violação de direitos autorais. 
Com o surgimento e a evolução do direito autoral no mundo, a proteção dada a ele 
foi se modificando, e com o Estatuto da Rainha Ana, em 1709, tal proteção foi ganhando os 
contornos do que hoje chamamos de direito autoral. 
No Brasil, o direito autoral foi objeto de proteção de diversos decretos e leis, 
atualmente é regido pela Lei de Direitos Autorais (LDA), lei número 9.610 de 19 de fevereiro 
de 1998. Nessa lei são encontradas as noções de autor, obra intelectual, direito autoral e violação 
a esse direito. Entretanto, embora possa ser considerada recente, a LDA apresenta uma imensa 
desatualização frente aos avanços tecnológicos. 
Foi exatamente devido tais avanços tecnológicos, que a pirataria ganhou uma nova 
cara. A chamada violação do direito do autor pode ser observada ao longo da história, o que 
mostra que a proteção dada ao direito autoral é pertinente. Porém, desde a invenção da Prensa 
de Gutenberg, por volta de 1450, essa violação ganhou uma nova proporção. Com a invenção 
da internet, a ideia de pirataria teve um ressignificado levando a prática de condutas como a 
tradução e a distribuição de livros na internet. 
Ainda que a pirataria tenha mudado de forma, o direito autoral permaneceu estático 
a essas mudanças, com noções firmadas em séculos passados, fazendo com que as sanções civis 
e penais, a essa violação, sejam, em muitos casos, incompatíveis com a realidade vivida 
atualmente, o que acaba por possibilitar o aumento dessa conduta. Outros fatores contribuem 
com essa prática, fatores esses relacionados aos editores, tradutores, livrarias e bibliotecas. 
As violações ao direito autoral são passíveis de sanções civis e penais, todavia, tais 
sanções se mostram em muitos casos, ineficazes e até desproporcionais. Por esses e outros 
motivos, a proteção ao direito autoral sofre inúmeras críticas. 
E, é nesse cenário, de desatualização do direito autoral frente às novas práticas da 
sociedade digital e desproporcionalidade das sanções, que esse trabalho tem lugar, com o 
objetivo geral de analisar o instituto da pirataria moderna, com ênfase na distribuição de livros 
10 
 
online de forma gratuita, perpassando pela observação do direito autoral e das sanções cíveis e 
penais diante da violação do direito do autor, dentro do âmbito da internet, gerado pela 
utilização de obras intelectuais, sem a devida autorização. 
E é desenvolvido da seguinte maneira, com os seguintes objetivos específicos: no 
primeiro momento, é feita uma análise do direito autoral, seu surgimento e evolução, da Lei de 
Direitos Autorais nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, assim como da necessidade da proteção 
do direito autoral. 
No segundo momento, passa-se a uma breve explanação da pirataria e da pirataria 
moderna e sua relação com a internet, bem como da relação entre a pirataria, a internet e a 
distribuição de livros online de forma gratuita. 
No terceiro momento, é feito um estudo das sanções civis presentes na Lei de 
Direitos Autorais, tal como das sanções penais encontradas no Código Penal de 1940, referentes 
à violação do direito autoral. 
No quarto e último momento, são elaboradas considerações a respeito da proteção 
do direito autoral da forma como é aplicada. Em seguida, é feita uma comparação entre o direito 
à educação, cultura e conhecimento, versus o direito do autor. Prossegue com críticas as sanções 
penais, e por fim, são ofertadas possíveis soluções para o problema da pirataria. 
 
11 
 
2 DIREITOS AUTORAIS 
 
Direitos autorais são as prerrogativas que o criador de uma obra intelectual tem 
sobre a sua criação. Sendo o direito autoral um ramo do direito privado que trata de tais direitos, 
incluindo os direitos conexos. O autor possui direitos sobre a coisa que criou, direito de usar, 
gozar, fruir, dispor e ser reconhecidocomo autor de sua obra. É considerado um direito especial, 
sui generis, pois versa sobre direito pessoal, referente ao direito moral do autor e direito real, 
relacionado ao direito patrimonial. 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, XXVII, aduz que: “aos autores 
pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, 
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar.” E prossegue: 
 
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais 
em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades 
desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que 
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas 
representações sindicais e associativas; (BRASIL, 1988) 
 
A Convenção da União de Berna (CUB) reconheceu o direito do autor antes mesmo 
da Constituição. A CUB foi concluída na cidade de Berna na Suíça em 9 de setembro de 1886, 
foi revista em Paris em 24 de julho de 1971 e foi aprovada no Brasil pelo Congresso Nacional 
no Decreto Legislativo nº 94, de 4 de dezembro de 1974, entrando em vigor na data de 20 de 
abril de 1975. 
A CUB tinha por objetivo assegurar ao autor o direito sobre sua obra, no seu país e 
em outros países, uma vez que, antes da CUB o autor que tivesse o seu direito reconhecido em 
um país poderia ter a sua obra reproduzida em outro, sendo o reprodutor detentor dos direitos 
autorais naquele país. 
No Brasil, a matéria é regida pela lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, conhecida 
como Lei de Direitos Autorais, nela se encontram as regulamentações sobre o direito do autor 
e os que lhe são conexos. Conexos são os direitos decorrentes do direito autoral, como o direito 
dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de 
radiodifusão. 
As violações do direito autoral produzem sanções cíveis e penais. As sanções cíveis 
são enunciadas na própria Lei de Direitos Autorais, nos artigos 102 ao 110. Já as sanções penais 
estão presentes no Código Penal de 1940, nos artigos 184 e 186, com alteração feita pela Lei nº 
10.695, de 1º de julho de 2003. 
 
12 
 
2.1 Surgimento e evolução 
 
Segundo relata Vieira (2018, p. 267), a primeira aparição do direito autoral que se 
tem notícias é na antiguidade, com a colocação de identificações, que permitia saber quem era 
o autor em pinturas e esculturas. 
Na Grécia antiga, é observado uma espécie de reprovação moral para pessoas que 
se intitulassem como autoras de obras que não eram suas. Em Roma, a remuneração era dada a 
quem fazia a cópia manuscrita de livros, sendo que em muitos casos, o autor não era 
reconhecido e quando o era, lhe restava reputação de ser o autor da obra, isso se o copista fizesse 
a cópia fiel. Nessa época, se verifica a noção de plágio, já que o reconhecimento como autor da 
obra era tudo que restava ao autor. 
Com a invenção da Prensa de Gutenberg, as cópias de obras passaram a ser feitas 
de forma mais barata e rápida, eliminando a figura do copista e dando espaço as figuras do 
impressor, que manuseava a prensa, e do livreiro que comercializava a impressão. Através da 
invenção da prensa, notou-se que o que gerava lucro não era a cópia do conteúdo, e sim o 
conteúdo por si mesmo, uma vez que se um autor fosse considerado bom, mais livros dele 
seriam vendidos. 
A criação intelectual, nesse momento, passou a ser observada. Com a intenção de 
lucros maiores, surge a necessidade da proteção, não do autor, e sim da obra. A reprodução da 
obra passou a ser concedida a determinados impressores e livreiros com o objetivo de impedir 
que ideias que fossem contrarias a Igreja e a Monarquia fossem propagadas livremente e 
impedir que a mesmas obras fossem reproduzidas por vários impressores e livreiros, o que 
certamente diminuiria o lucro. Nesse momento, observa-se que o autor não detinha nenhum 
direito patrimonial. 
Em 1709, foi publicado na Inglaterra o Estatuto da Rainha Ana, conhecida como a 
primeira lei de direitos autorais. Com essa lei, os autores passaram a gozar de direitos autorais. 
A proteção concedida, garantia ao autor a remuneração por seu trabalho intelectual, e aos 
livreiros o direito de comercialização de tais obras. Isso incentivou o autor a produzir mais, pois 
a partir daquele momento lhe era garantido o reconhecimento de sua autoria e pagamento pela 
reprodução de suas obras. 
Além disso, criou o domínio público, que limitava o direito autoral patrimonial a 
um tempo estabelecido em lei. O Estatuto da Rainha Ana, conhecido como Copyright Act 
inglês, inspirou diversas outras legislações. 
13 
 
Para Thales Lordão Dias (MARQUES; SILVA, 2012, p. 166), com o início do 
chamado Copyright Act, a proteção dada às obras, passou a ser de 21 anos para obras impressas, 
a partir da data de impressão, e de 14 para obras não impressas. 
Somente no início do século XVIII que os autores, após se oporem aos privilégios 
concedidos aos editores, passaram a gozar de proteção na Inglaterra. Na França, essas proteções 
só começaram a tomar forma após a Revolução Francesa, em 1789 e em 1791 chegou ao fim 
os privilégios dos editores. Já na Suíça, em 1886, começa a se falar sobre os direitos autorais 
no sentido que hoje conhecemos, o que originou a Convenção de Berna. 
No Brasil, o direito autoral tem a sua primeira aparição na Lei Imperial de 11 de 
agosto de 1827. Essa lei do império tinha por objetivo criar os cursos de ciências jurídicas e 
sociais em São Paulo e Olinda. Mesmo com o intuito diverso da criação do direito autoral, a lei 
em questão acaba por dar uma proteção ao autor. No final do artigo 7º, é assegurado ao autor 
dos compêndios o privilégio exclusivo da obra por 10 anos. Todavia, é importante salientar que 
o conteúdo da lei imperial só se aplicava no âmbito dos cursos criados. Os demais autores não 
tinham o privilégio exclusivo sobre as suas obras. 
É somente em 1831 que os autores passam a ter direitos protegidos por lei. O 
primeiro código a falar sobre o tema foi o Código Criminal do Império, que foi sancionado em 
1830, mas só passou a vigorar em 1831. Em seu artigo 261, o Código Criminal do Império 
punia quem imprimisse, gravasse, litografasse ou introduzisse quaisquer escritos ou estampas 
que tivesse sido composto ou traduzido por cidadãos brasileiros, os cidadãos estrangeiros não 
eram protegidos pela lei. Dessa forma o direito autoral foi garantido. 
Assim como na lei imperial de 1827, foi estipulado um prazo para a proteção, nesse 
caso o prazo era da vida do autor e proteção de até 10 anos após sua morte se deixasse herdeiros. 
Em 1890 o Código Penal ao tratar sobre o direito autoral nos artigos 342 ao 350, 
manteve a proteção do autor enquanto estivesse vivo, mas inovou ao proteger a pessoa a quem 
o autor tivesse transmitido a sua propriedade, tal proteção era vitalícia também. O prazo após a 
morte permaneceu de 10 anos. A tradução da obra sem o consentimento do autor foi uma 
novidade trazida pelo Código. 
Além disso, deu proteção para as leis, decretos, resoluções, regulamentos, relatórios 
e quaisquer atos dos poderes legislativo e executivo da Nação e dos Estados que não poderiam 
ser impressos ou publicados em coleções. Os documentos, estampas, cartas, mapas e outras 
publicações feitas por conta da Nação ou dos Estados tiveram proteção semelhante. 
A primeira Constituição brasileira a abordar o direito autoral foi a de 1891. Uma 
vez que, em seu artigo 72, parágrafo 26, deu ao autor o direito exclusivo de reprodução de sua 
14 
 
obra pela imprensa ou por qualquer outro mecanismo. O prazo após a morte do autor era pelo 
tempo que a lei determinasse. 
A lei nº 496 de 1º de agosto de 1898, foi a primeira lei civil a tratar de direitos 
autorais. Estipulou em seu artigo 3°, parágrafo 1º, o prazo de proteção de 50 anos a partir do 
dia 1º de janeiro do ano em que se fez a publicação.Porém, para adquirir o direito a proteção 
era necessário que a obra fosse depositada na Biblioteca Nacional em até 2 anos. O autor tinha 
o prazo de 10 anos para fazer ou autorizar traduções, representações ou execuções. 
A lei 496, além de definir a contrafação, colocou limitações ao direito autoral. Por 
garantir proteção somente aos nacionais e aos estrangeiros que residissem no Brasil, foi 
necessário que a promulgação do decreto no 2.577, de 17 de janeiro de 1912, para que as obras 
dos estrangeiros pudessem adquirir direitos iguais, mas com algumas condições. 
Em 1917, a lei 496 foi substituída pelo Código Civil de 1916. O direito autoral era 
regulado pelos artigos 649 a 673, o prazo de proteção era vitalício e de 60 anos após a morte do 
autor. O número de limitações ao direito do autor aumentou e o registro passou a ser facultativo. 
Foram feitas várias atualizações dos artigos referentes ao direito autoral ao longo dos anos 
subsequentes. 
Devido às inúmeras alterações, a lei 5.988, de 14 de dezembro de 1973 foi 
sancionada. O prazo de proteção permaneceu o mesmo, todavia, os sucessores necessários 
passaram a gozar da proteção enquanto vivessem. 
Preleciona o autor Thales Lordão Dias (MARQUES; SILVA, 2012, p. 166) que: 
“No Brasil, o direito autoral, inicialmente, estava regulado de forma não sistematizada, em leis 
e decretos esparsos. Somente em 1973, com a promulgação da Lei nº 5.998, as normas sobre os 
direitos do autor foram condensadas em um só diploma legal”. 
Na Constituição atual, a Constituição Federal de 1988, o artigo 5º, incisos XXVII e 
XXVIII, disciplinam o direito autoral, garantido o direito do autor de utilização, publicação ou 
reprodução de suas obras, que é exclusivo e transmissível aos herdeiros pelo prazo que a lei 
fixar, o autor tem ainda direito de fiscalizar o aproveitamento econômico das obras que criou 
ou participou como coautor. 
A lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 revogou a lei 5.988 e passou a ser a atual 
Lei de Direitos Autorais (LDA) em vigor no Brasil. Dessa forma, as limitações dos direitos 
autorais foram reduzidas e o prazo de proteção estabelecido foi o de 70 anos contados da morte 
do autor, além, é claro, do período enquanto o mesmo viver, dentre outras modificações. Em 
2013, a lei 12.853 alterou alguns artigos da LDA. 
15 
 
O atual Código Penal, de 1940, trata da violação do direito autoral em seus artigos 
184, 185 e 186. Tais artigos sofreram alterações em 2003 pela lei 10.695, sendo que o artigo 
185 foi revogado. 
 
2.2 A Lei de Direitos Autorais 
 
A LDA teve por intuito alterar, atualizar e consolidar a legislação brasileira sobre 
direitos autorais. Nela é possível encontrar importantes conceituações, limitações e até as 
sanções referentes à matéria. Nesse capítulo, abordaremos somente as necessárias para 
compreensão do tema, enquanto as sanções serão abordas em capítulo próprio. 
É na LDA que se encontra a definição de autor: Art. 11. “Autor é a pessoa física 
criadora de obra literária, artística ou científica.” O parágrafo único do artigo ainda atribui a 
proteção, que é concedida à pessoa física, à pessoa jurídica: Parágrafo único. “A proteção 
concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei.” 
(BRASIL, 1998). A proteção à pessoa jurídica é baseada no fato da pessoa jurídica poder ser 
titular de direito autoral, através da criação de obra intelectual ou da transferência de direito 
autoral. 
Contudo, antes mesmo de dar a definição de autor, a Lei de Direitos Autorais em 
seu artigo 7º traz a definição obras intelectuais como “criações do espírito” que foram 
exteriorizadas: “São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por 
qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se 
invente no futuro, tais como: I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; [...]”. 
 E continua no artigo seguinte listando as obras que não são protegidas pela LDA: 
Art. 8º “Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: I - as ideias, 
procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais; 
[...]”. 
Da leitura dos artigos 7º e 8º e de seus incisos, nota-se a necessidade de que as obras 
intelectuais sejam expressas por qualquer meio, de forma oral ou escrita, por meio de imagens, 
sons, entre outros, para que assim possa se assegurar o direito do autor. As obras que 
permanecem no campo das ideias, sem que ninguém as conheça, a não ser o autor, não podem 
ser protegidas pela LDA. 
De acordo com João Henrique da Rocha Fragoso (2009, p. 40 apud VIEIRA, 2018, 
p. 883): “A criação que, por qualquer forma, meio ou processo não for exteriorizada, não é obra, 
posto não poder ser perceptível no mundo físico, e, por isso, simplesmente não existe”. 
16 
 
Outro requisito da obra intelectual é que tal obra seja original, não podendo ser uma 
cópia de outra já existente. Sobre a originalidade Carlos Alberto Bittar informa que: 
 
Ademais, apresenta a originalidade caráter relativo, não se exigindo, pois, novidade 
absoluta, eis que inexorável é, de um ou outro modo, o aproveitamento, até 
inconsciente, do acervo cultural comum. Basta a existência, pois, de contornos 
próprios, quanto à expressão e à composição, para que a forma literária, artística ou 
científica ingresse no circuito protetor do Direito de Autor. (BITTAR, 2008, p. 23.) 
 
Porém, poderá uma obra intelectual ser fruto de outra já existe, mitigando o 
requisito da originalidade, são as chamadas obras derivadas. Como o nome já diz, obra derivada 
é aquela que decorre de outra, mas é uma criação intelectual nova feita através de um processo 
de elaboração que se diferencia da obra original, é o que acontece, por exemplo, na tradução. 
As obras derivadas necessitam de consentimento do autor da obra original, a não 
ser que esta obra esteja em domínio público. O autor da obra derivada goza de proteção do 
direito autoral sobre a sua obra, não cabe, pois, ao autor da obra original, direito sobre a obra 
que deriva da sua. 
Para que a obra intelectual tenha proteção não é exigido que a mesma seja 
registrada, é o que diz o artigo 18 da LDA: Art. 18. “A proteção aos direitos de que trata esta 
Lei independe de registro”. 
Todavia, o registro poderá auxiliar o autor, caso seja necessário, uma vez que ele é 
tido como evidência da existência da obra e da autoria e em um processo. Por valer como prova 
processual, acarreta a inversão do ônus da prova. Por esse e outros motivos, o registro mesmo 
não sendo exigido é útil e traz uma maior segurança e confiabilidade para as obras intelectuais. 
A autoria da obra intelectual é observada mediante a inserção do nome do autor ou 
de seu pseudônimo, nome que o autor adota diferente do seu nome real. Pode ainda a obra 
intelectual ser anônima, onde não é possível saber o nome do autor, ou porque o mesmo não 
quis se identificar ou por ser o autor desconhecido. Nesse caso, detém o direito autoral, no 
aspecto patrimonial, quem faz a publicação. Porém, se o autor se identificar, passará a gozar 
dos direitos autorais a partir daquele momento. 
A obra intelectual pode comportar mais de um autor, é o caso da coautoria, cabendo 
a cada autor direitos autorais. Coisa diferente é a obra coletiva, obra onde uma pessoa, que pode 
ser física ou jurídica, fica responsável pela organização, contando com a participação de várias 
outras pessoas, mas sendo ela a detentora de direitos autorais, uma vez fez o trabalho de 
organização sem o qual a obra coletiva não existiria. 
A titularidade do direito autoral poderá ser originária, no caso do autor da obra, ou 
derivada, no caso da transferência do direito autoral. 
17 
 
Segundo a LDA, o direito autoral é dividido em direito moral e patrimonial: Art. 
22. “Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.” A partirda 
criação e da exteriorização da obra intelectual, o autor passa a desfrutar dos direitos morais e 
patrimoniais, esses direitos nascem conjuntamente, mas podem ser separados, pois possuem 
funções distintas. 
Segundo Bittar (2008, p.45), “O direito moral é a base e o limite do direito 
patrimonial que, por sua vez, é a tradução da expressão econômica do direito moral”. 
Direito autoral moral se refere ao direito de reconhecimento que o autor tem perante 
sua obra, podendo alterá-la, colocar a obra em circulação ou não, retirar de circulação, se opor 
a qualquer modificação e ter acesso a exemplar único ou raro da obra. É o direito pessoal do 
autor. 
Os artigos 24, 25, 26 e 27 da LDA dispõem sobre os direitos morais do autor que 
são inalienáveis, irrenunciáveis, imprescritíveis e impenhoráveis, o rol de direitos enunciados 
não é taxativo. Tais direitos duram enquanto o autor estiver vivo e alguns são transmitidos aos 
sucessores após a morte do autor, não tendo prazo para acabar. 
Já o direito autoral patrimonial, presente nos artigos 28 ao 45 da LDA, e na CF, 
artigo 5º, XXVII, garante ao autor o direito de explorar economicamente a sua obra e requer a 
autorização prévia e expressa do autor para a utilização, reprodução, tradução, entre outros, de 
obra de sua autoria, seja ela toda ou em parte. É o direito real do autor, prescritível, penhorável 
e renunciável. Para Alexandre Vieira: 
 
O núcleo dos direitos patrimoniais são os três direitos exclusivos: utilização; 
publicação; reprodução. A lei de Direitos autorais e tratados internacionais, entretanto, 
açambarcam feixe de direitos que extrapola os direitos de utilização, publicação e 
reprodução. Por exemplo, a LDA rege também direitos de transmissão/emissão, 
retransmissão, distribuição e comunicação ao público [...]. (VIEIRA, 2018, p. 900- 
901) 
 
O direito autoral patrimonial é considerado bem móvel, sendo, pois, alienável, 
podendo o autor vender ou até doar a sua obra a terceiros. Os incisos do artigo 29 da LDA 
trazem um rol exemplificativo das modalidades de utilização da obra. A autorização, que deve 
ser prévia e escrita, é específica e não se estende às demais modalidades, devendo o detentor se 
limitar a forma de autorização concedida. 
Com isso, constata-se que o autor poderá ter vínculos com diversas pessoas através 
da alienação das várias modalidades a pessoas diferentes. O artigo 37 da LDA faz uma 
diferenciação de quem compra uma obra daquele que adquire direitos autorais patrimoniais: 
Art. 37. “A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente 
18 
 
qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os 
casos previstos nesta Lei”. 
Essa diferenciação é bem explicada por Alexandre Viera: 
 
Trata-se da diferenciação entre corpus mechanicum que é o suporte material por meio 
do qual a obra se exterioriza, e corpus misticum que é a obra intelectual propriamente 
dita. Ou seja, por exemplo, ao comprar um livro protegido pelos direitos autorais, o 
adquirente tem direito à propriedade do bem material, o suporte físico em si. [...], no 
entanto, o uso da obra em si, do texto do livro, só poderá ser efetivado dentro das 
premissas expressas da lei. Não é facultado ao proprietário do livro copiar o seu 
conteúdo na íntegra, qualquer que seja a finalidade. (VIEIRA, 2018, p. 925) 
 
Poderá, também, o autor, transferir seus direitos autorais patrimoniais, é o que diz 
o artigo 49 da LDA: 
 
Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, 
por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por 
meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, 
cessão ou por outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações: 
I - a transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo os de natureza 
moral e os expressamente excluídos por lei; [...]. (BRASIL, 1998) 
 
As modalidades de utilização permitidas são as que existem na data do contrato, 
modalidades que posteriormente vierem a ser inventadas não serão válidas para contratos 
anteriores a sua invenção. Se no contrato não estiver estipulado a modalidade da utilização, será 
feito uma interpretação restritiva a uma só modalidade que seja imprescindível para o 
cumprimento daquele contrato. A transmissão de direitos autorais pode ser gratuita ou onerosa. 
Com a autorização de uso, a transmissão de direitos autorais e a sucessão surge o 
detentor de direitos autorais. Figura que apesar de não ser o autor, passa a ser titular de direitos 
autorais patrimoniais, e no caso dos sucessores, de alguns direitos morais também. Por serem 
várias as modalidades de utilização, poderão existir conjuntamente diversos titulares de direitos 
patrimoniais, sendo cada direito limitado ao uso compatível com a sua condição. 
Assim como o direito autoral moral, o direito autoral patrimonial dura enquanto o 
autor estiver vivo, e após a sua morte se transmite aos sucessores. Porém, diferentemente do 
direito autoral moral, o direito autoral patrimonial não é perpetuo, após 70 anos, contados de 1º 
de janeiro no ano posterior ao falecimento do autor, a obra intelectual passa a pertencer ao 
domínio público, podendo ser reproduzida, adaptada, traduzida entre outros, sem que seja 
necessária a autorização do autor ou do detentor dos direitos autorais. Contudo, a permissão 
para utilização da obra não abarca o direito autoral moral, uma vez que esse é eterno. 
Eduardo Pimenta e Rui Caldas Pimenta (2005, p. 48) trazem uma rica conceituação 
de domínio público: “O domínio público, nos direitos autorais, é a prescrição do exercício 
19 
 
exclusivo de manifestação de vontade do titular de direitos, em relação à obra e em prol da 
coletividade”. 
O domínio público alude a ideia de uso comum, por qualquer pessoa, podendo até 
o usuário auferir lucro com esse uso, mas não pode se opor a outras formas de utilização, a não 
ser que seja cópia da sua. A obra em domínio público não pode ser privada de suas 
características básicas e nem modificada ou usada de forma que afete a moral do autor. 
Pertencem também ao domínio público as obras de autores desconhecidos, e as 
obras de autores já falecidos que não tenham sucessores. O prazo de proteção do direito 
patrimonial de obras anônimas e pseudônimas é de 70 anos, que são contados a partir do 
primeiro dia no ano posterior ao da publicação. Entretanto, caso o autor se identifique antes do 
fim do prazo, contará com a proteção de 70 anos, contados a partir de janeiro do ano posterior 
a sua morte, prazo igual ao caso de obras póstumas, que são publicadas após a morte do autor. 
Nas obras com mais de um autor, hipótese de coautoria, o prazo só começa a contar 
da morte do último coautor, e se os outros coautores, que falecerem antes do último, não 
possuírem sucessores, o último a falecer adquire os direitos autorais patrimoniais e os transmite 
a seus sucessores. Cabe ao Estado a defesa da autoria e da integridade das obras pertencentes 
ao domínio público. 
 
2.3 Necessidade de proteção ao direito do autor 
 
O direito autoral é a proteção que é dada ao autor de obra intelectual, sendo 
observada em quase todos os países, possuindo algumas variações. 
A proteção autoral no mundo tem como base duas percepções: Copyright e o Droit 
d’Auteur. Com suas origens respectivamente na Inglaterra e na França, ambas as percepções 
tratam do direito autoral, mas com características próprias. 
O copyright, que nada mais é que o direito de cópia, tem por intuito principal a 
proteção da reprodução de cópias. Os direitos autorais se resumem a isso. A proteção é atribuída 
à obra e não ao autor, com isso, se observa uma prevalência da proteção ao aspecto patrimonial, 
quase não existindo proteção ao aspecto moral. Após a publicação da obra, e posterior venda 
pelo autor, ele perde qualquer direitopatrimonial, sendo detentor de tais direitos quem o 
adquiriu. Existe, no caso, uma clara mistura do direito do autor com o direito da indústria. 
A justificativa está na ideia de que, para criar a obra intelectual, o autor usou de 
influências externas, ou seja, sua obra, por mais inovadora que seja, foi produzida através de 
um conjunto de ideias já existes e externadas por outros membros da sociedade. Se o autor 
20 
 
sofreu tal influência, não é justo que mantenha a obra para si, a sociedade que o influenciou 
deve usufruir daquela obra, podendo essa obra influenciar na criação de outras e assim por 
diante. 
Com isso, nasce a ideia de que a obra pertence a sociedade, ao menos na teoria, uma 
vez que na prática, a obra acaba por pertencer a quem adquiriu o direito de cópia, favorecendo 
as grandes indústrias que contam com um prazo exclusivo. Prazo esse que vem aumentando ao 
longo do tempo, para explorar aquela obra. 
Um país que aderiu de forma completa o conceito de copyright, foi os Estados 
Unidos da América. Nos EUA, a lei que coíbe a violação do direito de cópia nos meios 
eletrônicos é a Digital Millennium Copyright Act, também conhecida como DMCA. 
Duas importantes vertentes do copyright podem ser observadas no país, a primeira 
está relacionada à ideia de que com a primeira venda de uma cópia particular, alguns direitos 
autorais se esgotam, por isso, o adquirente poderá usar a cópia não só para uso pessoal. A outra 
linha segue a noção do uso justo da cópia, que permite ao usuário usar a cópia, desde que de 
forma justa, de um jeito que caracterizaria, se não fosse o uso justo, a violação de direitos 
autorais. Por não ser explicito quais usos caracterizariam o uso justo, cabe aos tribunais 
analisarem e decidirem no caso concreto. 
Bittar acrescenta que: 
 
O direito moral não se achava contemplado no Copyright Act; apenas em algumas leis 
civis estaduais se reconhecia um moral right, até a adesão à Convenção de Berna, 
invocando-se ora para impedir-se reprodução e utilização de obra sem o 
consentimento do autor. (BITTAR, 2008, p. 91) 
 
Já no Droit d’Auteur, o que é levado em consideração é a produção intelectual e 
não a obra. A proteção é dada ao autor, referente a sua obra, garantindo proteção moral e 
patrimonial. Trata-se da ideia de que sem o autor a obra não existiria, e por isso, o potencial 
criativo do autor e a originalidade são observados, mesmo que para a criação da obra, o autor 
tenha se favorecido de ideias já exteriorizada por outros, uma vez que a sua produção intelectual 
é legitima. 
O Droit d’Auteur teve grande influência na Convenção de Berna, que por sua vez 
teve grande influência no direito brasileiro. Por isso, no Brasil se adota a vertente do Droit 
d’Auteur e não do Copyright. 
No Brasil, os direitos autorais são protegidos em função da criação intelectual, 
função essa que envolve a criatividade, traço inerente ao ser humano, que possibilita o 
desenvolvimento cultural, científico e tecnológico de toda uma sociedade. 
21 
 
Tal garantia tem o intuito de incentivar o autor, mediante proteção autoral moral, 
garantindo que esse autor será para sempre conhecido como autor daquela obra, entre outras 
garantias, e da proteção autoral patrimonial, que dá ao autor o direito de usufruir 
economicamente de sua obra enquanto viver e após a sua morte, por seus sucessores, por um 
período de tempo determinado em lei. 
A proteção autoral moral é necessária, uma vez que sem ela, uma pessoa que 
produzisse uma obra intelectual poderia ver essa mesma obra sendo apresentada por outra 
pessoa, sem que lhe fosse dado o devido crédito, e qualquer um poderia usar daquela obra como 
bem entendesse. Assim poderia modificar e até deturpar o sentido da obra, sem que o autor 
nada pudesse fazer, o que desestimularia a produção de novas obras devido ao não 
reconhecimento e a facilidade do uso de obras já produzidas. 
Já a proteção autoral patrimonial é necessária, pois ao autor compete o direito de 
poder usar de sua obra como preferir e de ser remunerado, se assim desejar, por esse uso. 
Garante ao autor a prerrogativa de autorizar a utilização, por outras pessoas, de sua criação. 
Com isso, ocorre um incentivo para a produção de obras, visto que, cabe ao autor 
escolher como vai fazer uso de sua obra, além do possível retorno financeiro, caso outros se 
interessem pela criação, retorno esse que muitas vezes permite ao autor viver de suas criações, 
permitindo mais tempo para novas produções, tornando essa atividade uma verdadeira 
profissão. 
Sem essa proteção, mesmo que fosse garantido ao autor o reconhecimento, ficaria 
ele obrigado a aceitar qualquer uso de sua obra por outros, que normalmente iriam receber 
algum lucro e ao autor nada restaria. Impossibilitando assim viver de sua criação, uma vez que 
teria que encontrar outra fonte de renda, o que limitaria seu tempo disponível para criar. 
A proteção do direito autoral se faz necessária pela coletividade, para Carlos 
Alberto Bittar: 
 
Essa é, alias, a posição geral da coletividade, a quem cabe respeitar os direitos do 
criador, nos planos citados, não podendo extrair da obra senão os usos que de sua 
comunicação resultarem e na medida do respectivo alcance, à exceção dos casos de 
utilização livre, explicitamente contemplados na lei (art. 46). Podem, pois, fruir de sua 
esteticidade ou de suas luzes, de conformidade com o gênero correspondente, 
exatamente dentro do repositório legal excepcionado em função do interesse da 
difusão da cultura, da ciência, da censura e de outros valores ínsitos na comunidade, 
em razão de que o autor sempre se aproveita, na criação, de elementos do acervo 
comum da humanidade. (BITTAR, 2008, p. 55) 
 
Uma vez que é papel do Estado zelar pelos interesses da sociedade e pelo pleno 
desenvolvimento cultural, científico e artístico do país, cabe a ele a defesa do direito autoral 
22 
 
moral e patrimonial, por meio de intervenções para coibir violações e para punir casos tais 
violações se concretizem. 
Outros aparatos podem ser utilizados para assegurar a proteção ao direito autoral. 
Entidades públicas e privadas que endossam a proteção dada pelo Estado. Entre esses aparatos 
podem ser citados: as entidades centrais, na área cultural, as associações de titulares, a censura 
e a autoridade policial. 
 
23 
 
3 PIRATARIA 
 
O termo pirataria foi usado durante muitos anos como referência a pirataria 
marítima, onde homens conhecidos como piratas saqueavam navios em alto mar. Apesar de até 
hoje existir a pirataria marítima, com o tempo, o termo passou a ser utilizado como menção a 
falsificação, a cópia e o uso não autorizados de obras intelectuais e de produtos. 
A pirataria passou então a ser conhecida como pirataria moderna. A pirataria 
moderna faz alusão à violação dos direitos autorais e de seus direitos conexos, com o uso não 
autorizado da propriedade intelectual. 
A propriedade intelectual engloba tanto a propriedade industrial quanto os direitos 
autorais. Todavia, por seu caráter mais criativo e cultural, o direito autoral acabou por alcançar 
um patamar mais elevado sobre a propriedade industrial. Alguns acreditam que seria o 
contrário, uma vez que a propriedade industrial movimenta a sociedade e verdadeiros montantes 
de dinheiro. 
É exatamente por ser tão importante para o desenvolvimento da sociedade que a 
propriedade industrial possui regras diferentes das regras atribuídas ao direito autoral, regras 
muitas vezes mais limitadoras ao criador da propriedade industrial que ao autor. 
Isso se deve ao fato de que as criações industriais acabam por mover a sociedade 
de uma forma que o direito autoral não poderia. E se as normas que regem a propriedade 
industrial fossem muito limitadoras, a própria sociedade deixaria de avançar. 
Para Alexandre Pires Vieira, a proteção ao direito do autor é exacerbada: 
 
No mais, o direito autoral é praticamente absoluto e em nomedos “direitos morais do 
autor” não admite licenciamento compulsório ou caducidade, permitindo ao detentor 
do direito autoral abusos que jamais seriam tolerados pela óptica da legislação de 
propriedade industrial. Tanto mais vantajoso é que o lobby da indústria da tecnologia 
da informação pretendia dar proteção autoral aos bens informáticos afastando-se da 
proteção dada a propriedade industrial, contudo a Convenção de Washington de 1989 
acabou por fixá-lo numa posição intermediária entre o direito autoral e a propriedade 
industrial. (VIEIRA. 2018, p. 153) 
 
Dessa forma, o direito autoral possui, em alguns casos, regras mais rígidas, uma vez 
que a propriedade intelectual movimenta o sistema capitalista de forma mais livre. Isso talvez 
explique por que a pirataria moderna é combatida de forma tão ferrenha. 
 
3.1 Definição 
 
24 
 
O termo pirataria e o seu significado, no âmbito jurídico, são encontrados no 
parágrafo único do artigo 1º do decreto 5.244 de 14 de outubro de 2004: “Parágrafo único. 
Entende-se por pirataria, para os fins deste Decreto, a violação aos direitos autorais de que 
tratam as Leis nºs 9.609 e 9.610, ambas de 19 de fevereiro de 1998.” O decreto 5.244 de 2004 
teve por intuito dispor sobre “a composição e o funcionamento do Conselho Nacional de 
Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual e dá outras providências”. 
O decreto 5.244 foi revogado pelo decreto nº 9.875 de 27 de junho de 2019. A definição 
de pirataria passou a ser dada no parágrafo único do artigo 2º, com a redação quase idêntica à 
anterior: “Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se pirataria a violação aos direitos 
autorais de que tratam a Lei nº 9.609 de 19 de fevereiro de 1998, e a Lei nº 9.610, de 19 de 
fevereiro de 1998”. 
A pirataria e contrafação são sinônimos, a Lei de Direitos Autorais nº 9.610 de 19 
de fevereiro de 1998, em seu artigo 5º, inciso VII, dispõe que: “Para os efeitos desta Lei, 
considera-se: VII - contrafação - a reprodução não autorizada.” E prossegue em seu artigo 29 
dizendo que: 
 
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por 
quaisquer modalidades, tais como: 
I - a reprodução parcial ou integral; 
[...] 
IV - a tradução para qualquer idioma; 
[...] 
VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, 
satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da 
obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por 
quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça 
por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário; (BRASIL, 1998) 
 
3.2 Pirataria moderna 
 
A história da pirataria moderna de livros está intrinsecamente ligada à história da 
proteção do direito autoral, proteção essa que garante o monopólio da obra pelo autor, ou por 
pessoas autorizadas por ele. O prazo de duração do monopólio aumentou com o tempo, é o que 
diz Alexandre Pires Vieira: 
 
Em sua origem, em 1710, o monopólio durava 14 anos da publicação original. Por 
força do lobby da indústria cultural este prazo foi sendo ampliado, passando para 28, 
25 e depois 50 anos após a morte do autor e hoje, a maior parte dos países garante o 
monopólio por 70 anos da morte do autor [...]. Dizia-se que o direito de autor se 
destinava a premiar a contribuição trazida pelo autor à coletividade e a estimular as 
novas produções, mediante monopólio atribuído por período limitado... contudo o 
período atual de proteção não é limitado, 70 anos pós-morte, que podem chegar até 
mais de 150 anos se o autor morrer muito após a criação da obra, não tem nada de 
25 
 
limitado. Na realidade os autores nunca se sentirão estimulados desse modo: é-lhes 
irrelevante. A única beneficiada, em detrimento da sociedade, é a Indústria Cultural, 
a quem foi atribuída 20 anos limpos de monopólio econômico na última expansão de 
prazo, expansão que, foi retroativa “incentivando” até autores já há muito tempo 
mortos. Nem Brás Cubas, o mais célebre defunto-autor, concordaria com tal 
incoerência. (VIEIRA, 2018, p. 147) 
 
O termo pirataria moderna serve para atender os interesses da indústria, uma vez 
que em nada se assemelha a pirataria marítima. Não faz uso da força, nem de armas, não se 
rouba o original. Serve somente para causar um certo impacto. Também não é possível 
comparar a pirataria de livros com a pirataria de produtos, uma vez que pirataria nesse sentido, 
normalmente é associada à inferioridade da reprodução. 
Sobre a pirataria moderna na internet e o fato dela ser diferente das demais 
piratarias, Eduardo Pimenta e Rui Caldas Pimenta comentam que: 
 
A técnica numérica (sistema binário de linguagem eletrônica), aplicada sobe um 
suporte material, possibilita a multiplicação infinita da obra, sem poder distinguir a 
cópia da original [...] pode haver a reprodução idêntica e indiscriminada. 
Na França, esta ação, de reprodução idêntica, tem sido denominada de clonagem. 
(PIMENTA, E.; PIMENTA, R. 2005, p. 51-52) 
 
3.2.1 A Internet e o Direito Autoral 
 
É notório que a internet trouxe mudanças significativas para a sociedade como um 
todo. E como não poderia deixar de ser, o direito autoral foi especialmente atingido por tais 
mudanças, especificamente em relação aos livros. 
Tais mudanças foram sentidas a partir do reconhecimento do autor e de suas obras, 
que passou a ser mais rápido, através de comentários na rede; da forma de aquisição de livros, 
o chamado comércio eletrônico, onde não se faz mais necessário sair de casa para adquirir um 
livro; e por último, a criação dos chamados e-books, versão digital dos livros. 
Em todos esses pontos, o direito autoral foi durante atingindo. Se por um lado, o 
reconhecimento de alguns autores e obras aumentou, por outro lado, ficou mais fácil copiar 
ideias e obras e até se passar pelo autor original, sem que ninguém saiba a verdade ou que 
demore muito tempo para se descobrir devido ao “tamanho” da rede digital. 
Não que isso, não pudesse acontecer antes da era digital, mas a chance de, por 
exemplo, alguém conhecer a obra de um escritor do interior de São Paulo, que não fosse famoso 
e copiasse o conteúdo do outro lado do mundo era menor. Ainda assim, o alcance da internet 
também facilitou que casos de plágios fossem descobertos. Ou seja, prós e contras, um não vem 
sem o outro. 
26 
 
Sobre o comércio eletrônico, a maior vantagem, como citado, foi a facilidade para 
adquirir os produtos, nenhuma grande desvantagem pode ser observada para os autores. 
O principal ponto de mudança foram os livros digitais. É nesse ponto que reside o 
maior número de complicações. O e-book trouxe maior comodidade para os leitores, além de 
transformações para o comércio com o surgimento dos e-readers, que são chamados de leitores 
digitais, dispositivos que tem por finalidade o armazenamento de diversos livros em formato 
digital, onde o usuário pode ler em qualquer lugar sem precisar carregar o livro físico. 
Outra importante modificação é a referente ao suporte onde o livro se encontra. 
Trata-se da já discutida diferenciação entre corpus mechanicum e corpus misticum, o livro físico 
é o corpus mechanicum, e o conteúdo da obra o corpus misticum, todavia, nos chamados e-
book o corpus mechanicum some, nas palavras de Alexandre Pires Viera: 
 
Na Sociedade da Informação o corpus mechanicum deixa de existir, o que traz aos 
leigos sentimento dúbio: se uma pessoa pode emprestar ou vender um livro ou CD, 
por que não pode compartilhar o conteúdo do mesmo livro ou álbum musical e 
formato digital? Se o usuário perder a versão digital de um livro, pode pedir outro? 
(VIEIRA, 2018, p. 929) 
 
O referido autor cita Patrícia Pinheiro (2010, p.133 apud VIERA 2018, p. 929) 
“Logo, o que está sendo comercializado de fato é um direito preso em um suporte, quando não 
há mais suporte surgem diversas situações de lacuna jurídicaou que o direito ainda não 
consegue endereçar uma resposta adequada”. 
Segundo Sergio Amadeu chamar de pirataria o uso não autorizado de músicas e 
softwares não é correto, a mesma lógica se aplica a e-books: 
 
É uma péssima metáfora chamar uma suposta ou real violação de copyright de 
pirataria. Uma música, um algoritmo, um conjunto de rotinas integradas em um 
software não possuem existência física, material. Os bens intangíveis e imateriais não 
conhecem a escassez, nem o desgaste. Por isso, uma música pode ser reproduzida 
infinitamente sem nenhum prejuízo para a sua existência. Um software, no mundo 
digital, pode ser copiado sem nenhuma alteração para o seu original. A quantidade de 
cópias não traz nenhuma implicação para sua fonte, por isso, no cenário digital a 
proposta da originalidade perde força. (ALVORIO; SPYES, 2015, p. 2318) 
 
Além dessas complicações referentes ao e-book, a leitura da lei mostra que a mesma 
pode gerar desentendimento, já que alguns termos que se aplicam ao livro físico podem não 
aplicar a versão digital. 
Surge daí um questionamento a respeito da atualidade do direito, pois não se sabe 
se o ordenamento jurídico, da forma como foi concebido e que se mantém até hoje, será capaz 
de normatizar de forma plena o “mundo digital” e as consequências trazidas por ele para o 
“mundo real”. 
27 
 
A internet faz com que o direito autoral tenha que se ajustar às novas circunstâncias, 
pois na época em que fora criado, as formas de reprodução e de distribuição das obras eram 
outras, dificultando o acesso a cópias, coisa que não acontece mais nos dias atuais, o que torna 
a proteção atual ao direito autoral obsoleta. 
Ronaldo Lemos, comenta a respeito da desatualização das regras de direito autoral: 
 
O direito da propriedade intelectual é um bom exemplo dessa relação entre a 
manutenção da dogmática jurídica e a transformação da realidade. Apesar do 
desenvolvimento tecnológico que fez surgir, por exemplo, a tecnologia digital e a 
internet, as principais instituições do direito de propriedade intelectual, forjadas no 
século XIX com base em uma realidade social completamente distinta da que hoje 
presenciamos, permanece praticamente inalteradas. (LEMOS, 2005, p. 8) 
 
Não se faz necessário que surja uma nova modalidade de direito, como o direito 
autoral digital ou um direito da internet, uma vez que a internet é reflexo da sociedade, que tem 
regras já positivadas, o que é essencial é a adequação da Lei de Direitos Autorais a realidade 
vivida por ele nos tempos atuais. 
 
3.2.2 A tradução e a disponibilização de livros na Internet 
 
A versão digital dos livros, apesar de seus benefícios, possivelmente foi o maior 
problema enfrentado pelos autores. Devido aos altos preços e a dificuldade de acesso, diversas 
obras foram traduzidas e disponibilizadas no meio digital sem o consentimento dos respectivos 
titulares de direitos. 
Nas palavras de Thales Lordão Dias: 
 
Não se pode negar que a facilidade com que são disponibilizados no meio cibernético 
obras intelectuais reforça os problemas que dizem com os direitos de autor. 
Ora, hodiernamente, com a eficiência dos mecanismos de busca na Internet, como o 
Google, encontrar obras literárias, artísticas ou esmo científicas relativas a qualquer 
assunto tornou-se tarefa deveras simples. 
Não se discute o lado positivo, que é incomensurável, para a educação e para a cultura. 
No entanto, até mesmo no campo da propagação do saber, do conhecimento, está a 
falta de segurança quanto à fidedignidade das informações obtidas na Internet, 
justamente em razão da facilidade de divulgação de qualquer trabalho no meio virtual: 
a integridade e, por vezes, a confidencialidade de determinada oba não gozam de 
qualquer proteção, na maior parte dos casos. O conteúdo disponível na rede mundial 
de computadores, em regra, pode ser acessado, copiado e modificado sem grandes 
dificuldades. (MARQUES, SILVA, 2012, p. 170-171) 
 
Tanto disponibilizar quanto traduzir um livro sem o consentimento do autor é 
considerado pirataria. No entanto, o que motiva as pessoas a cometer tal crime muitas vezes 
está completamente desassociado ao intuito de obter lucros. 
28 
 
A intenção principal de disponibilizar um livro na versão digital na grande maioria 
dos casos tem a ver com a propagação daquele conteúdo, considerado bom e interessante para 
outras pessoas, que sem aquela versão digital e gratuita possivelmente não teriam acesso aquele 
material. 
O anonimato, quase completo da conduta no meio virtual, acaba por reforçá-la. 
Disponibilizar um livro na internet requer a versão original, ou ao menos uma cópia daquela, 
isso quase sempre é feito com a compra do livro; requer tempo e disposição para digitar todo 
aquele texto, equipamento para digitalizar o livro, ou tempo e conhecimento tecnológico para 
quebrar as defesas de um e-book. As pessoas geralmente não fazem isso com uma obra que 
consideram ruim ou que achem que não é do interesse de outras. 
A tradução de livros funciona basicamente da mesma forma, pessoas traduzem 
livros para que outras, que não sabem falar aquele idioma, possam ler aquela obra. Isso acaba 
por fazer um autor conhecido em um país onde nenhuma editora comprou seus direitos autorais. 
Muitas vezes, com a tradução de um livro, diversos outros livros daquele autor são procurados, 
atraindo a atenção das editoras para aquele autor. 
Até mais que a disponibilização a tradução requer trabalho, como tempo, 
conhecimento do idioma original, a aquisição da obra e a disposição. Por mais ilógico que possa 
parecer, a intenção em ambos os casos é prestigiar o autor, mesmo que para isso prive o autor 
de seu direito autoral patrimonial. 
As motivações por trás de quem lê livros considerados piratas são as mais diversas. 
A principal delas é o alto custo dos livros no Brasil. O acesso à cultura no país geralmente já é 
dispendioso, mas ao se tratar de livros, o custo tende a ser ainda maior, a razão disso é que ler 
não é um habito tão comum quanto ouvir música ou assistir um filme. Isso acontece talvez 
porque tais atividades são bem menos onerosas, pagando somente o aparelho e a energia 
elétrica, coisa que não ocorre com a leitura, pois é necessário ir até uma biblioteca pública, que 
nem sempre está equipada para atender a toda uma comunidade. 
Com filmes e músicas não há dependência da quantidade ofertada, uma pessoa ou 
dez mil podem assistir um filme na TV aberta. Na biblioteca caso existam apenas duas cópias 
de um livro e três pessoas procurarem aquele item, alguém ficará sem o livro. 
Outro fator que faz com que a leitura não seja tão popular tem relação com a 
educação. Raramente alunos aprendem um conteúdo através de filmes e músicas, o que 
desmotiva a que esses queiram ler outros livros em seus horários livres. 
Outra causa da leitura não ser para todos está ligada à alfabetização. Filmes e 
músicas dependem de sentidos que já nascem com a maior parte das pessoas: a visão e a 
29 
 
audição. Já o livro requer que se saiba ler. Talvez essas circunstâncias possam justificar o alto 
valor dos livros, além é claro dos custos para a produção do mesmo. 
Sobre os custos, era de se imaginar que com a criação dos e-books as despesas com 
a produção teriam diminuído e isso seria refletido no valor dos livros, porém não é isso que se 
vê em muitos casos. Ao fazer uma busca por livros, é comum encontrar livros digitais com o 
mesmo valor e até alguns com o valor acima da versão física. No entanto, é de se ressaltar que 
também existem livros que a versão digital é mais barata que a física. Infelizmente, essa regra 
não se aplica em todos os casos. 
Sergio Amadeu, complementa dizendo que: 
 
O custo marginal ou adicional de reprodução de um imaterial, seja uma música, um 
vídeo ou um software, é igual a zero, ou seja, o que custa é o suporte da reprodução, 
o que se pode calcular é o tempo para se processar a cópia. Assim, o contexto de bensmateriais é completamente diferente do que encontramos na economia de ideias. 
Comparar o roubo de um celular ou de um carro à cópia de uma música é um absurdo. 
Não existe download de carros. Quando se furta uma bolsa, a vítima fica privada de 
seu uso. Todos os bens materiais, tangíveis, possuem o que os economistas 
denominam de rivalidade no uso. Entretanto, o bem imaterial não tem uso rival. 
Podemos ouvir a mesma música digital simultaneamente que milhões de pessoas. 
(ALVORIO; SPYES, 2015, p. 2323) 
 
Aliado ao custo alto, outra importante motivação tem a ver com a facilidade de se 
encontrar livros para download ou livros online na internet. O ditado popular que diz que a 
oportunidade faz o ladrão, também se aplica em downloads ilegais. Tais livros ficam 
disponíveis com apenas um clique, sem custo, sem trabalho e, principalmente, sem fiscalização 
por parte das autoridades. 
Outra influência para a leitura de livros piratas está relacionada com o fato de que 
a relação entre leitor e autor, na maior parte das vezes, está atravessada por editoras, tradutores, 
livrarias e bibliotecas. Muitas vezes, a editora que compra o direito autoral pode demorar anos 
até fazer a publicação de um livro, isso é notado principalmente em livros em série, fazendo 
com que fãs daquele autor procurem uma forma de burlar esse empecilho, encontrando uma 
forma de ter acesso à obra já escrita. 
Em outras situações, nenhuma editora daquele país comprou os direitos autorais de 
uma obra que já circula em outras partes do mundo ou nenhum tradutor independente adquiriu 
o direito de tradução. É aí que os tradutores piratas traduzem e distribuem esses livros. Não 
raro, ocorre que mesmo com o livro já em circulação, algumas livrarias não o comercializam 
ou possuem em baixa quantidade, isso impossibilita que a aquisição do exemplar, já que o 
número de livrarias no país vem diminuindo ao longo do tempo. 
30 
 
Sobre as bibliotecas, é fato notório que, independentemente se o livro é para lazer 
ou para educação, a maioria delas não dispõem de acervo suficiente para suprir as necessidades 
dos leitores. 
Sobre a possibilidade de alienação dos direitos autorais patrimoniais para outras 
pessoas, Alexandre Pires Viera acrescenta que: 
 
Esta possibilidade de alienação cria um elemento a mais na relação entre sociedade e 
autor, o intermediário, que exerce um importante papel na difusão da obra intelectual, 
mas que pode ser um fator de desequilíbrio quando se fala em acesso à cultura e ao 
conhecimento. Este intermediário é quem acaba detendo a titularidade dos direitos 
patrimoniais e se apropriando de percentual majoritário do resultado da exploração da 
obra. (VIEIRA, 2018, p. 932) 
 
Visto isso, não se pretende aqui fazer nenhum juízo de valor sobre as editoras, os 
tradutores, as livrarias ou as bibliotecas. Por se notar que cada um deles enfrenta questões 
próprias que em parte justificam suas ações. 
31 
 
4 SANÇÕES A VIOLAÇÃO DO DIREITO AUTORAL 
 
As sanções a violação do direito autoral são tanto de natureza cível quanto penal. 
As sanções de natureza cível são encontradas na Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, Lei de 
Direitos Autorais, no título VII, capítulos I e II. Já as sanções penais, são descritas no Código 
Penal, no título III, capítulo I. A aplicação de uma não anula a outra, podendo ser aplicadas 
conjuntamente em juízos distintos. 
Carlos Alberto Bittar acrescenta ainda a esfera administrativa, sanções que seriam 
aplicadas por órgãos responsáveis pelo registro e fiscalização das obras intelectuais: 
 
Os direitos autorais podem ser protegidos sob os aspectos administrativo, civil e penal 
– cumulada, sucessiva ou independente – contando, em cada qual, com variado 
conjunto sancionatório, constituído por medidas próprias, engendradas, ao longo dos 
tempos , para propiciar aos titulares tutela adequada contra os atentados possíveis, que 
nascem, tanto em relações contratuais, como em extracontratuais, incluídos nesse 
contexto os direitos conexos. [...] Ora, a tríplice proteção recebida por esses direitos 
conforma-se a respectiva índole e, na prática, a resposta do ordenamento jurídico a 
violação depende do mecanismo acionado pelo lesado, que pode, conforme o caso, 
estender sua reação por uma, por algumas ou por todas as veredas citadas, em face da 
independência que impera entre as modalidades de tutela reconhecidas (proclamada 
por expresso, aliás, em nossa lei, art. 121). (BITTAR, 2008, p. 131-132) 
 
Já Eduardo Pimenta e Rui Caldas Pimenta citam, somente, as esferas cível e penal 
de violação: 
 
A violação do direito moral poderá ter uma sanção cível e/ou sanção penal (ato 
punitivo ao transgressor). Uma moral abalada, saldo melhor juízo, não se restabelece 
com simples ressarcimento econômico. A sanção penal punirá o violador para que, 
então, a sociedade tenha garantido o respeito aos seus direitos e aos de seus cidadãos. 
Ao direito patrimonial corresponde uma sanção cível (ressarcimento do dano), sem 
prejuízo da sanção penal. 
[...] 
Os atos que atentam dolosamente, ou fraudulentamente, contra a obra intelectual estão 
afetos ao direito penal. A matéria, a priori, é, por natureza, cível, e apenas a presença 
de atos fraudulentos, a este bem vital a sociedade, justificam a tutela do direito penal, 
tendo que a sanção cível é potente para agir na proteção e no ressarcimento do dano 
ao direito autoral. (PIMENTA, E; PIMENTA, R. 2005, p. 23) 
 
Como já foi visto nesse trabalho, a regra é a proteção dos direitos autorais de forma 
mais completa possível, podendo o violador, além de reparar o dano causado, sofrer com as 
penas de detenção e até reclusão. 
A razão para que ocorra a proteção tanto penal quanto civil do direito autoral, 
segundo quem defende a dupla proteção, é porque cada uma possui uma finalidade diferente, 
no caso da sanção cível, o objetivo dela seria reparar o dano causado pelo violador ao autor, 
enquanto a sanção penal teria por finalidade evitar a prática futura de tais violações mediante 
apenação do agente. 
32 
 
Carlos Alberto Bittar acredita que as sanções a violação do direito autoral servem 
para quatro fins, quais sejam: 
 
a) abstenção de continuação de atos violadores (ou inibição prática de ação violadora); 
b) apreensão de coisas nascida do ilícito (retirada de circulação do material); c) 
reparação de prejuízos de ordem moral e patrimonial (com danos emergentes e lucros 
cessantes); e d) apenação do agente (com cominações de ordem pecuniária, privativa 
de liberdade ou mista). (BITTAR, 2005, p. 132) 
 
Novamente, a internet trouxe uma significativa mudança nos direitos autorais, e 
nesse caso, a própria violação mudou de forma, dificultando o cumprimento das sanções devido 
ao grande número de violações que ocorrem todos os dias. Criadas para punir o violador dos 
direitos autorais, as sanções cíveis e penais acabam por não cumprir o seu papel, sendo que de 
nada vale uma norma na teoria se na prática ela não pode ou não consegue ser cumprida. 
 
4.1 Sanções cíveis 
 
O direito civil e o direito processual civil são os mais indicados para sancionar a 
violação do direito autoral, uma vez que eles possuem ferramentas aptas a resguardar o direito 
do autor e punir o violador de forma proporcional à violação cometida. 
O direito civil nesse caso pode ser divido em dois. O direito comum, que se aplica 
a todos, independentemente de serem autores ou não, e devido a essa generalidade se aplica ao 
direito autoral, sendo que tais regras são encontradas no Código Civil. Também engloba o 
direito civil com regras específicas que regem a relação entre autores e outras pessoas, só sendo 
aplicadas em relação aos direitos autorais. Tais regras estão presentes na Lei de Direitos 
Autorais, na regulamentação das comunicações, entre outros dispositivos. 
Bittar (2008, p. 138), faz uma separação das penalidades cíveis comuns que podem 
ser aplicadas também em casos de direito autoralem: sanções “de prevenção, de garantia, de 
preservação e de reparação.” E continua dizendo: 
 
Encontram-se, assim, ao dispor do lesado, diferentes mecanismos de ação, seja, de um 
lado, para prevenir-se ou para resguardar-se contra lesões, iminentes ou 
potencialmente possíveis, seja, de outro, para fazer cessar a violação, evitando o 
prolongamento do dano, seja, para reposição das coisas no estado anterior, com a 
necessária composição de danos. Endereçando-se, pois, a atos de ameaça ou de 
preparação, ou, de outra parte, a violações concretizadas, as medidas de defesa dos 
interesses dos autores buscam no plano civil, basicamente, a elisão de atentado, 
potencial ou concreto, e, no último caso, a cessação da prática e a eliminação do estado 
de fato lesivo, com a restituição, ao patrimônio do ofendido, das perdas havidas, em 
nível moral ou pecuniário (como nas ações específicas de busca e apreensão; 
destruição ou adjudicação, ao autor, dos exemplares contrafeitos; divulgação 
compulsória de nome; indenização por danos morais e patrimoniais e outras). 
(BITTAR, 2008, p. 138) 
33 
 
 
Já a Lei de Direitos Autorais, lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, traz em seu 
conteúdo punições diferentes e que só se aplicam aos direitos autorais. O artigo 101 da referida 
lei informa que as sanções nela presentes são aplicadas sem prejuízo das penas cabíveis. O 
artigo seguinte, 102, garante ao titular da obra o direito de requerer a apreensão dos exemplares 
copiados e a suspensão da divulgação, sem que isso prejudique a indenização cabível. No caso 
de cópias digitais não há no que se falar em apreensão de exemplares. 
A suspensão da divulgação apresenta outro problema nas cópias digitais, pois a 
rapidez com que o conteúdo se espalha quase impossibilita que a divulgação seja suspensa. É 
possível retirar determinado link para download do ar, porém, assim como na mitologia grega, 
quando se corta uma cabeça da Hidra, várias outras surgem em seu lugar, ou no caso da internet, 
vários outros links já surgiram derivados daquele que foi excluído. 
O artigo 103 da LDA obriga quem edita obra artística, literária ou científica, sem 
que o autor autorize tal edição, entregar os exemplares que forem apreendidos e pagar o valor 
dos que já tiverem sido vendidos. O parágrafo único do artigo segue dizendo que caso não se 
saiba a quantidade de exemplares editados, deverá ser pago o equivalente a três mil exemplares 
junto com o valor dos apreendidos. Novamente nota-se que não é possível apreender 
exemplares de livros digitais. 
Em caso de edição fraudulenta para doação, onde não se tem lucro da venda, e se 
sabe a quantidade de livros doados, a aplicação de tal artigo estaria comprometida, podendo 
somente ter seus exemplares apreendidos, uma vez que não poderá pagar para o autor o valor 
dos que vendeu, já que não comercializou nenhum e é possível identificar a quantidade de 
cópias doadas. Nesse caso, o compartilhamento de um livro na rede mundial de computadores, 
sabendo-se o número de cópias feitas, não seria enquadrado em tal artigo. 
Entretanto, caso não se saiba quantos downloads foram feitos, seria necessário o 
pagamento do equivalente a três mil cópias, tal ação seria enquadrada no artigo? Diversos 
questionamentos surgem da leitura do artigo não só com relação aos livros e cópias físicas, mas 
também com relação às versões digitais, mostrando que a Lei de Direitos Autorias não está apta 
a solucionar quentões evolvendo a era digital. 
Já o artigo 104 trata daquele que não fez a cópia, mas que vendeu, colocou a venda, 
ocultou, adquiriu, distribuiu, teve em depósito ou utilizou uma obra ou um fonograma que 
foram reproduzidos mediante fraude, com a intenção de vender ou de obter lucro direto ou 
indireto, vantagem, ganho, proveito pra si ou para outra pessoa. Quem incorre em tais condutas 
responde de forma solidária a quem fez a cópia não autorizada. 
34 
 
Fica claro, apesar do artigo ser complexo, que a sanção só é aplicada se tal pessoa 
tiver a intenção de se beneficiar com a cópia, se não tiver tal finalidade ou se não foi beneficiada, 
não sofrerá penalidade, podendo adquirir e até distribuir tal obra copiada. Porém, se importar 
ou distribuir no exterior, será considerada contrafator. 
O artigo nada fala sobre quem distribui obra estrangeira no país. Pela leitura do 
artigo, conclui-se que caso ocorra um download ou compartilhamento de livros sem a intenção 
de lucro, a sanção presente no artigo não pode ser aplicada. 
Prossegue a lei com o artigo 105 ordenando a suspensão ou a interrupção, pela 
autoridade judicial competente, da transmissão ou retransmissão, independentemente de como 
ela é feita, e da comunicação ao público de obras artísticas, literárias ou cientificas que forem 
feitas através da violação de direitos autorais. Cabendo ainda multa diária pelo descumprimento 
e outras indenizações cabíveis. Se o violador foi reincidente, o valor da multa poderá ser 
duplicado. 
Na esfera da internet, tal suspensão ou interrupção se daria ou pela retirada do 
material da rede, ou como é feito em alguns países, da interrupção do serviço de internet do 
infrator. Como já foi apontado, dificilmente se retira um conteúdo da rede. 
O artigo 106 trata da sentença condenatória, que pode determinar que sejam 
destruídos os exemplares feitos sem a autorização do autor, assim como tudo que foi utilizado 
para praticar a contrafação, mesmo que sejam máquinas e equipamentos, desde que o uso delas 
sejam destinados unicamente para tal fim, caso tenham outras utilidades a lei determina a perda 
desses equipamentos. 
A destruição no âmbito dos livros digitais se daria com a exclusão do material para 
download ou de acesso online da internet e a apreensão de computadores, smartphones e tablets 
usados para tal fim. 
O artigo 107 dispõe que independentemente da perda dos equipamentos, o infrator 
que alterar, inutilizar, suprimir ou modificar, de qualquer forma, sem autorização, dispositivos 
técnicos ou sinais codificados que foram inseridos em obras para restringir e evitar a cópia, ou 
para restringir a comunicação ao público, responderá por perdas e danos. No caso dos e-books, 
geralmente, é feita uma proteção para impedir que o conteúdo seja copiado, ou que seja aberto 
em outro dispositivo, com formato diferente. 
Também responde por essa violação, quem altera ou suprime informações sobre a 
gestão de direitos de uma obra ou quem distribuiu, importa para distribuição, emite, comunica 
ou coloca à disposição do público obra que sabe que passou pelos processos citados 
anteriormente. Essas perdas e danos não poderão ser inferiores ao valor dos exemplares que 
35 
 
tiverem vendido e se não souber quantos vendeu, o equivalente a três mil exemplares, conforme 
regra do artigo 103 e de seu parágrafo único. 
Nesse artigo, diferentemente dos outros não se fala sobre lucro, ou qualquer 
benefício e por isso se entende que tal regra se aplica a qualquer pessoa que cometer tais atos, 
não importando se tais atos foram cometidos para uso privado, distribuição gratuita ou venda. 
O artigo 108 trata da não divulgação ou indicação do nome do autor ou do intérprete 
de obra intelectual. Quem não o fizer, responderá por danos morais e terá que se retratar fazendo 
a divulgação ou indicação conforme estabelece os incisos I, II e III do artigo. Já os artigos 109, 
109 A e 110, tratam da execução pública, que em tese não possui relação com a pirataria de 
livros. 
Tais artigos evidenciam a proteção do direito do autor, esse também costuma ser o 
entendimento da jurisprudência e da doutrina. A esse respeito, Bittar afirma que: 
 
Observe-se, por fim, que, em todas essas ações, doutrina e jurisprudência têm-se 
mostrado francamente protetivas do autor, respondendo esta, positivamente, na 
concretização dos interesses dos titulares em várias situações submetidas à sua 
apreciação; a) contrafações; b) reimpressões clandestinas; c)

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