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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5 2 INTRODUÇÃO A FARMACOLOGIA ........................................................... 6 2.1 Noções e conceitos em farmacologia: .................................................. 7 2.2 Origem dos medicamentos ................................................................... 9 2.3 Ação dos medicamentos ...................................................................... 9 2.4 Formas de apresentação dos medicamentos ..................................... 10 3 FARMACOCINÉTICA ............................................................................... 11 3.1 Princípios farmacocinéticos ................................................................ 12 3.2 Absorção ............................................................................................ 14 3.3 Distribuição ......................................................................................... 16 3.4 Biotransformação e excreção ............................................................. 17 4 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO E FORMAS FARMACÊUTICAS .................. 18 4.1 Interação entre fármacos .................................................................... 21 5 FARMACODINÂMICA............................................................................... 23 5.1 Interação fármaco – receptor ............................................................. 24 6 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ........................................................ 32 7 MEDIADORES INFLAMATÓRIOS ............................................................ 39 8 FARMACOLOGIA NA ESTETICA ............................................................. 42 8.1 Tecido epitelial ................................................................................... 42 8.2 Imunologia .......................................................................................... 43 9 FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E IMUNOSSUPRESSORES ........ 53 9.1 Inibidores da ciclo-oxigenase ............................................................. 53 3 9.2 Fármacos imunossupressores ........................................................... 56 9.3 Fármacos usados em gota e hiperuricemia ........................................ 58 10 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA CARDIOVASCULAR E VASCULAR ................................................................................................................59 10.1 Hipertensão ..................................................................................... 59 10.2 Fármacos que afetam a função cardíaca ........................................ 62 10.3 Fármacos antiarrítmicos .................................................................. 63 10.4 Fármacos que aumentam a contração do miocárdio ...................... 66 10.5 Fármacos antianginosos ................................................................. 67 10.6 Sistema renina-angiotensina ........................................................... 70 10.7 Fármacos vasoativos ...................................................................... 72 10.8 Fármacos vasoconstritores ............................................................. 72 10.9 Fármacos vasodilatadores .............................................................. 74 10.10 Vasodilatadores de ação indireta .................................................... 75 10.11 Insuficiência cardíaca ..................................................................... 78 11 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA RESPIRATÁRIO ......... 81 11.1 Doença pulmonar e seu tratamento ................................................ 81 11.2 Asma brônquica .............................................................................. 81 11.3 Doença pulmonar obstrutiva crônica ............................................... 84 12 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SITEMA URINÁRIO .................... 86 12.1 Fármacos que atuam sobre o rim ................................................... 86 12.2 Usos clínicos dos diuréticos de alça (p. ex., furosemida) ................ 87 12.3 Usos clínicos dos diuréticos tiazídicos (p. ex., bendroflumetiazida) 87 12.4 Usos clínicos dos diuréticos poupadores de potássio (p. ex., amilorida, espironolactona): ................................................................................... 88 12.5 Fármacos usados na insuficiência renal ......................................... 88 4 12.6 Hipercalemia ................................................................................... 89 13 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO APARELHO GASTROINTESTINAL.......... ..................................................................................... 90 13.1 Fármacos usados para inibir ou neutralizar a secreção de ácido gástrico...................... ............................................................................................ 90 13.2 Usos clínicos de agentes que afetam a acidez gástrica .................. 91 13.3 Tratamento da infecção pelo Helicobacter pylori ............................ 91 13.4 Fármacos que protegem a mucosa ................................................. 92 13.5 Fármacos antieméticos ................................................................... 93 13.6 Fármacos que aumentam a motilidade gastrointestinal .................. 94 14 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO ................. 95 14.1 Fármacos analgésicos .................................................................... 95 14.2 Analgésicos opioides ...................................................................... 96 14.3 Tratamento da dor neuropática ..................................................... 100 14.4 Usos clínicos dos analgésicos ...................................................... 101 14.5 Usos clínicos dos analgésicos ..................................................... 102 15 BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 104 16 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: .................................................... 112 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 INTRODUÇÃO A FARMACOLOGIA Fonte: sanarmed.com A palavra farmacologia é derivada (do Grego, pharmakos, droga, e logos, estudo) é a ciência que estuda como as substâncias interagem com o organismo, e a capacidade de promoverem ações, funcionais ou estruturais. Cerca de 4.000 anos a.C., os sumerianos conheciam os efeitos psíquicos provocados pelo ópio, inclusive também para a melhora da diarreia. A palavra droga origina do holandês antigo droog que significa folha seca, pois, antigamente quase todos os medicamentos eram feitos àbase de vegetais. Embora em francês drogue signifique erva, relacionada por alguns autores como a origem da palavra droga, a maioria dos autores, fundamentando-se em antigos dicionários, afirmam que se deve a palavra droog a origem do nome. Foi somente no século XIX, através da descoberta da química orgânica, que as primeiras drogas puderam ser identificadas e isoladas, favorecendo a evolução para a farmacologia moderna. A primeira substância isolada foi a morfina em 1805 por Sertüner, que a extraiu do ópio. Posteriormente, em 1847, Rudolf Buchheim fundou o primeiro Instituto de Farmacologia, na Universidade de Dorpat, na Estônia, sendo, portanto, um dos pioneiros no desenvolvimento da farmacologia como uma ciência (PIRES, 2010). No século XX a indústria farmacêutica revolucionou o mercado farmacêutico. A produção em massa de substâncias sintéticas fez declinar o trabalho dos boticários, https://www.sanarmed.com/ 7 que manipulavam os medicamentos em farmácias, assim como surgir novos conceitos em farmacologia. Atualmente a farmacologia é considerada uma das principais ferramentas para os profissionais de saúde, assim como para aqueles que têm o contato direto ou indireto com os medicamentos. Ao estudar os efeitos e mecanismos de ação das drogas, pode-se compreender não somente como os fármacos atuam, mas também conhecer a fisiologia normal do organismo. Esse conhecimento permite empregar os medicamentos de forma mais objetiva, melhorando o tratamento. 2.1 Noções e conceitos em farmacologia: Medicamento: produto tecnicamente elaborado contendo um ou mais fármacos. Os outros componentes do medicamento recebem a denominação de excipientes, os quais podem ter as mais variadas funções, como melhorar o sabor, odor e até mesmo atuar como conservantes do mesmo; lembrando que do ponto de vista terapêutico o excipiente é inerte, não devendo também, interagir com o fármaco. Os medicamentos podem ser classificados em: magistrais, oficiais e oficinais; por sua vez, os medicamentos oficiais por sua vez podem ser classificais em: referencia, similares e genéricos. Preenchem uma das seguintes finalidades: • Preventiva ou Profilática: quando evita o aparecimento de doenças ou reduz a gravidade da mesma. • Diagnóstica: localiza a área afetada. • Terapêutica: quando é usada no tratamento da doença. • Paliativa: quando diminui os sinais e sintomas da doença, mas não promove a cura. Dose: quantidade de fármaco capaz de provocar alterações no organismo. Esta dose pode eficaz (DE), letal (DL), ataque ou de manutenção. A DE é dose capaz de produzir o efeito terapêutico desejado, podendo ser classificada em mínima eficaz e máxima tolerada. A DL por sua vez é a dose capaz de causar mortalidade. Em ambos os casos (DE e DL) a eficácia pode ser determinada em porcentagem, portanto, DE50 é a dose eficaz em 50% dos tecidos ou pacientes. 8 Droga: É denominada como droga qualquer substância natural ou sintética (química) capaz de alterar as funções normais e habituais do ser que, ao ser introduzida no organismo, produz alterações em seu estado psíquico ou físico. Efeito indesejado: efeito provocado pela ação do fármaco no organismo indiferente do planejado. Pode se classificado em previsível e imprevisível. Os efeitos previsíveis podem se dividir em: toxicidade por superdosagem, efeito secundário (reação provocada pelo efeito principais do fármaco em um sítio diferente do alvo principal), efeito colateral e interações medicamentosas. Por sua vez, o efeito imprevisível pode ser dividido em: idiossincrático, alérgico e intolerância. Fármaco: substancia química capaz de provocar algum efeito terapêutico no organismo. Fórmula farmacêutica: é o conjunto de substâncias que compõem a forma pela qual os medicamentos são apresentados e possui os seguintes componentes: princípio ativo (agente químico), o corretivo (sabor, corantes, açúcares) e o veículo (dá volume, em forma de talco, pós). Forma farmacêutica: forma de apresentação do medicamento: comprimidos, capsulas, xaropes. Índice terapêutico: relação entre a DL50 e a DE50, pode ser um indicativo da segurança do fármaco. Interação medicamentosa: efeito resultante da infeção entre dois fármacos, podendo como resultado final ocorrer o aumento, redução ou atenuação do efeito farmacológico de ou mais fármacos envolvidos. Janela terapêutica: faixa entre a dose mínima eficaz e máxima eficaz Remédio: qualquer tratamento faca bem a saúde do paciente, o conceito de remédio é bem mais amplo, envolvendo até mesmo o medicamento. Prescrição medicamentosa: é o documento ou a principal fonte de informações. Nela deve constar o nome do paciente, a data da prescrição, o registro e o nome do medicamento, a dose, a frequência e horário da administração e a assinatura e carimbo do profissional. Só poderá ser verbal em situação de emergência. Princípio Ativo: É a substância que existe na composição do medicamento, responsável por seu efeito terapêutico. Também pode ser chamado fármaco. 9 Medicamentos Simples: Aqueles usados a partir de um único fármaco. Ex. Xarope de Vitamina C. Medicamento Composto: São aqueles preparados a partir de vários fármacos. Ex.: Comprimido de Ácido Salicílico+ Cafeína. Medicamento de Uso Externo: São aqueles aplicáveis na superfície do corpo ou nas mucosas. Ex.: Cremes, Xampus... Medicamentos de Uso Interno: São aqueles que se destinam à administração no interior do organismo por via bucal e pelas cavidades naturais (vagina, nariz, ânus, ouvidos, olhos etc.) Medicamentos de Manipulação: São aqueles preparados na própria farmácia, de acordo com normas e doses estabelecidas por farmacopeia ou formulários e com uma designação uniforme. Potencialização: Efeito que ocorre quando um fármaco aumenta ou prolonga a ação de outro fármaco. Pró-droga: fármaco que necessita ser ativado no organismo para ação terapêutica. 2.2 Origem dos medicamentos Segundo a sua origem os medicamentos podem ser: • Naturais: extraídos de órgãos, glândulas, plantas ou peçonhas de animais. Ex: Insulinas • Sintéticos: preparados com o auxílio de matéria-prima natural, são resultados exclusivamente do trabalho de laboratórios. Ex: alguns antibióticos. • Semi-Sintéticos: resultam de alterações produzidas em substâncias naturais, com a finalidade de modificarem as características das ações por elas exercidas. 2.3 Ação dos medicamentos Os medicamentos agem no organismo vivo sob várias maneiras, produzindo efeito ou ação. 10 • Ação Local: Aquele que exerce seu efeito no local da aplicação, sem passar pela corrente sanguínea (pomadas e colírios). • Ação Geral ou Sistêmica: A medicação é primeiramente absorvida, depois entra na corrente sanguínea para atuar no local de ação desejado. Para produzir um efeito geral, é necessário que o medicamento caia na corrente sanguínea, pois através dela o medicamento atinge o órgão ou tecido sobre o qual tem ação específica. • Ação Remota: Ocorre em partes distantes do organismo. Uma droga pode estimular um órgão que por sua vez estimula outro. (digitalina = coração = aumenta a circulação = maior atividade diurética). • Ação Local Geral: Uma droga aplicada poderá produzir um efeito local, ser absorvida e provocar um efeito geral. Ex: Epinefrina aplicada na mucosa nasal = estanca a hemorragia = absorção da corrente circulatória = aumento da pressão arterial. 2.4 Formas de apresentação dos medicamentos Os medicamentos são apresentados no mercado nos seguintes estados: sólido, líquido e gasoso. • Sólido: a) Comprimidos: possuem consistência sólida e formato variável. São obtidos pela compreensão em moldes da substância medicamentosa. b) Pó: Deve ser tomado em colheradas ou é acondicionado em saches. (Fluimucil). c) Drágeas: O princípio ativo está no núcleo da drágea,contendo revestimento com goma-laca, açúcar e corante. São fabricados em drágeas os medicamentos que não devem ser administrados em forma de comprimidos, por apresentarem: sabor desagradável, exigem absorção no intestino, medicamentos que atacam a mucosa e/ou que devem ser deglutidos com facilidade. d) Cápsulas: O medicamento está revestido por um invólucro de gelatina para eliminar sabor desagradável, facilitar a deglutição e/ou facilitar a liberação do medicamento na cavidade gástrica. e) Pastilhas: É um preparado sólido, de forma circular com o princípio ativo unido com açúcar e uma 11 mucilagem para que a dissolução seja lenta na cavidade oral. f) Enema, clister, enteroclisma, lavagem ou irrigação: Sua composição varia de acordo com a indicação. g) Supositórios: óvulos ou lápis - tem formato cônico ou oval, destina-se à aplicação retal, pode ter ação local ou sistêmica. • Pomadas: Formas pastosas ou semi-sólidas constituídas de veículos oleosos, o princípio ativo é o pó. i) Cremes: São exclusivamente para uso tópicos, na epiderme (com ação epidérmica, endodérmica), vaginais e retais. • Líquidos: a) Soluções: mistura homogênea de líquidos ou de um líquido e um sólido. b) Xarope: Solução que contém dois terços de açúcar. c) Elixir: São preparações líquidas, hidroalcóolicas; açucaradas ou glicerinadas, destinadas ao uso oral, contendo substâncias aromáticas e medicamentosas. d) Emulsão: Preparação feita de dois líquidos, óleo e água. e) Colírios: Soluções aquosas para uso na mucosa ocular. • Gasosos: a) Gás: Oxigênio. b) Aerossol: Aerolin spray. 3 FARMACOCINÉTICA Fonte: pixabay.com.br A farmacocinética está inserida na dinâmica de interação entre fármaco e corpo. Consiste na absorção, distribuição, biotransformação e excreção de fármacos. 12 Estes fatores, associados à dose, determinam a concentração da droga em seus locais de ação e, portanto, a intensidade dos seus efeitos em relação ao tempo (GOODMAN; GILMAN, 2012). 3.1 Princípios farmacocinéticos Na prática terapêutica, os fármacos devem ser capazes de atingir um local de ação especifico após a administração por uma via própria. Em termos bem simplistas, a farmacocinética costuma ser referida como "o que o corpo faz com o fármaco" - envolve processos que vão desde a absorção até a excreção do medicamento. Quando um fármaco é administrado por via enteral, especialmente a via oral, ele deve ser absorvido no sangue a partir do seu sítio de administração (como o intestino), distribuído para o tecido alvo, onde será o sítio de ação (como o cérebro, no caso de um medicamento benzodiazepínico, como o clonazepam), e finalmente, depois de provocar o seu efeito, o fármaco deve ser eliminado a uma velocidade razoável por excreção do corpo. Em alguns casos, a substância química administrada é absorvida imediatamente e distribuída e somente depois é convertida no fármaco ativo pelos processos biológicos no interior do corpo. Esses são chamados de pró-fármaco. Os pró-fármacos são derivados química e farmacologicamente inativo da molécula matriz, que requer transformação no organismo para liberar o fármaco ativo, processo chamado de latenciação (KOROLKOVAS, 1988, apud CHIN 1998. p. 75). A latenciação é a modificação química utilizada para converter um composto biologicamente ativo em forma de transporte inativo. O pró-fármaco que é uma forma inativa do fármaco sofre um ataque enzimático ou químico liberando assim a forma ativa. Alguns critérios devem ser considerados durante o planejamento do pró- fármaco: • Existência de grupos funcionais na molécula matriz capazes de sofrer derivatização; 13 • Existência de mecanismos e/ou sistemas no organismo capazes de bioativar o pró-fármaco; • Facilidade e simplicidade da síntese e purificação do pró - fármaco; • Estabilidade química do pró-fármaco; • Regeneração, in vivo, da molécula matriz, em quantidades ideais; • Toxicidade do transportador e do pró-fármaco per se. Dessa forma, a latenciação permite, mediante a escolha de transportadores adequados, via de regra desprovidos de atividade biológica, o aprimoramento das propriedades do fármaco (CHUNG, 2005, apud CHIN 1998. p. 76). Pró – fármacos são subdivididos em: • Pró- fármacos clássicos; • Bioprecursores; • Pró- fármacos mistos; • Fármacos dirigidos; • Fármacos recíprocos. Pró-fármacos clássicos promovem a melhoria da atividade terapêutica por aumento de biodisponibilidade, diminuição da toxicidade, prolongamento da ação, aumento da seletividade, mediante a escolha de transportador adequado, geralmente de caráter lipofílico. Um exemplo é o Valaciclovir, pró-fármaco do Aciclovir. Bioprecursores: não apresentam transportadores e são obtidos por modificações moleculares. Como exemplo são os medicamentos: Azitromicina (AZT), Metronidazol e Enalapril. Pró-fármacos mistos: têm características de pró-fármacos clássicos e de bioprecursor. É uma molécula inerte que requer várias reações químicas para a sua conversão à forma ativa. O sistema CDS (Chemical Delivery System) é um exemplo. Foi originalmente empregado para liberação da forma ativa no cérebro. Nesse sistema, o transportador é biotransformado após atravessar a barreira hematoencefálica (BHE), sofrendo primeiramente oxidação e assim tornando-se positivamente carregado e acumulando-se no SNC, onde sofre em seguida, reação de biotransformação para liberar o fármaco ativo. 14 Vários fármacos foram desenvolvidos utilizando o sistema CDS, como por exemplo, para doença de Alzheimer foram desenvolvidos vários pró-fármacos anti- inflamatórios derivados de diclofenaco e do ibuprofeno. Fármacos dirigidos, os transportadores utilizados nesta forma latente são capazes de transportar os fármacos seletivamente do local de administração até o sítio de ação (receptores específicos). O objetivo principal do fármaco dirigido é minimizar as reações adversas provocadas pela ação inespecífica do fármaco em outros alvos, diminuindo, pois, a toxicidade. Pró - fármacos recíprocos, caracterizam-se por seu transportador, diferentemente dos pró-fármacos clássicos, também possuir atividade terapêutica. Dessa forma, pode-se obter pró-fármaco com atividades terapêuticas diferentes ou semelhantes, atuando por mecanismos da ação diferentes ou iguais (SINGH, 1994, apud CHIN 1998. p. 76). Exemplo: pró-fármaco de sulfapiridina e ácido aminossalicílico (5- ASA). 3.2 Absorção Fonte: slideplayer.com.br A absorção consiste na passagem da droga do seu local de aplicação até a corrente sanguínea. Raramente, o fármaco é administrado diretamente em seu tecido alvo como acontece, por exemplo, na aplicação tópica de um agente anti-inflamatório 15 na pele ou na membrana mucosa. O mais comum é a administração em um compartimento diferente do corpo. Exemplo: um fármaco com ação no SNC, que foi administrado por uma via oral, necessita que a substância seja absorvida no intestino, e ao chegar no sangue, seja distribuída para seu local de ação, permeando através das barreiras que separam esses compartimentos. Quando um fármaco é administrado por via oral, para que produza um efeito no Sistema Nervoso Central (SNC), vai precisar passar pelas: Barreiras da parede do intestino → barreiras das paredes dos capilares que perfundem o intestino → barreira hematoencefálica → paredes dos capilares que perfundem o cérebro. E normalmente após fazer surgir o efeito desejado, um fármaco deve ser eliminado a uma taxa razoável por meio de inativação metabólica conhecido como processo de biotransformação e assim com a formação de metabólitos inativos poderá ser eliminado do corpo, através do processo de excreção. Normalmente, cerca de 75% de um fármaco administrado por via oral são absorvidos em 1-3 horas, entretanto, numerosos fatores alteram essa absorção,alguns fisiológicos e outros relacionados com a formulação do fármaco (RANG., 2010). Os fatores que influenciam, incluem: • Fatores físico-químicos; • Transito gastrintestinal; • Tamanho das partículas e tipo de formulação; • Fluxo sanguíneo esplâncnico. Para atravessar a luz do intestino delgado para a circulação sistêmica, a substância não apenas deve penetrar na mucosa intestinal, como também deve passar por uma gama de enzimas que podem inativá-la na parede intestinal e no fígado. O termo biodisponibilidade é utilizado para indicar a proporção da substância que passa para a circulação sistêmica após administração oral, levando em consideração tanto a absorção quanto a degradação metabólica local. A absorção diretamente a partir da cavidade oral, que acontece nas administrações sublinguais, é muito útil quando existe necessidade de obter uma resposta rápida, particularmente quando o fármaco é instável em pH gástrico ou é rapidamente metabolizado pelo fígado. Como por exemplo, o trinitrato de glicerina que é absorvido pela boca (via 16 sublingual) e passa diretamente para a circulação sistêmica sem penetrar no sistema portal, escapando, do metabolismo de primeira passagem. 3.3 Distribuição O conceito de biodisponibilidade, no sentido restrito, é o termo empregado para descrever a fração da dose administrada de um produto farmacêutico capaz de alcançar a circulação sistêmica e exercer ação terapêutica. Este parâmetro expressa a extensão e a velocidade das fases biofarmacêutica e farmacocinética da substância ativa (REYNOLDS, 1993, apud MOURA, 2002). Após ser absorvido ou injetado na corrente sanguínea, o fármaco distribui-se para os líquidos intersticial e celular. Padrões de distribuição dependem de determinados fatores fisiológicos e propriedades físico-químicas das substâncias. Pode ser diferenciada uma fase inicial de distribuição que remete o débito cardíaco e o fluxo sanguíneo regional. O coração, o fígado, os rins, o cérebro e outros órgãos bem profundidos recebem a maior parte dos fármacos durante os primeiros minutos após a sua absorção. O aporte do fármaco à musculatura, à maioria das vísceras, à pele e ao tecido adiposo é mais lento, e estes tecidos exigem de minutos a algumas horas para ser atingido um estado de equilíbrio dinâmico. Os principais compartimentos são: • O plasma (5% do peso corporal). • O líquido intersticial (16%). • O líquido intracelular (35%). • O líquido transcelular (2%). • A gordura (20%). O volume de distribuição (Vd) é um outro parâmetro fundamental na discussão dos processos de distribuição farmacológica. O volume de distribuição (Vd) relaciona a concentração de fármaco no organismo com a concentração de fármaco (C) no sangue e no plasma, dependendo do líquido medido. Este volume não se refere necessariamente a um volume fisiológico identificável, mas apenas ao volume de líquido que seria necessário para conter todo o fármaco no organismo na mesma concentração em que se encontra no sangue ou no plasma: 17 Vd = Quantidade de fármaco no organismo /C Substâncias insolúveis em lipídios estão principalmente confinadas no plasma e ao líquido intersticial; a maioria não penetra no cérebro após administração aguda, assim tem sua distribuição limitada e seus locais de ação potenciais, também são limitados. Outro fator que limita a distribuição do fármaco é a ligação às proteínas plasmáticas, principalmente, à albumina no caso de fármacos ácidos, e à alfa-ácido- glicoproteína no caso de substâncias básicas. Os fármacos podem acumular-se nos tecidos de acordo com a dose administrada e afinidade com os tecidos. As substâncias lipossolúveis, por exemplo, alcançam todos os compartimentos e podem acumular-se no tecido adiposo para substâncias que acumulam fora do compartimento plasmático, (por exemplo, no tecido adiposo ou por estarem ligados a tecidos), o Vd pode ultrapassar o volume corporal total. 3.4 Biotransformação e excreção O metabolismo de fármacos compreende o conjunto de reações enzimáticas que biotransformam fármacos e outros compostos estranhos (xenobióticos) em metabólitos de polaridade crescente, para que sejam excretados pela urina. O metabolismo desempenha, assim, um importante papel na eliminação de fármacos, e impede que estes compostos permaneçam por tempo indefinido no nosso organismo. As reações metabólicas são divididas em fase 1 (oxidação, redução e hidrólise) e fase 2 (conjugação). Os produtos de degradação (metabólitos), por sua vez, podem ser inativos ou ativos. Em relação ao fármaco de origem, os metabólitos ativos podem agir por mecanismos de ação similares ou diferentes, ou até mesmo por antagonismo. O conhecimento da cinética da formação dos metabólitos ativos é importante não apenas para previsão do resultado terapêutico, mas também para explicar a toxicidade de um dado fármaco (LIN, 1997, apud PEREIRA, 2007). Os compostos são removidos do organismo para o meio externo através do processo chamado excreção. A remoção de um fármaco do organismo humano pode ocorrer através de várias vias: renal, biliar, intestinal, pulmonar, além do suor, saliva, secreção nasal, e, leite materno. A principal via de excreção de fármacos é constituída 18 pelo sistema renal, entretanto há outras vias de grande importância, como por exemplo, a via pulmonar (muito importante para fármacos voláteis como o álcool e anestésicos gasosos), leite materno, sistema biliar (é uma via muito importante para fármacos que dependem do ciclo enterohepático como os contraceptivos hormonais, cloranfenicol, tetraciclinas, rifampicina e digoxina), lágrimas, saliva (atualmente muitos fármacos e substâncias endógenas tem sido monitorados por meio de sua concentração salivar), suor, fecal entre outras. 4 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO E FORMAS FARMACÊUTICAS Fonte: NatueLife.com.br Vias de administração correspondem ao local que o fármaco entra em contato com o organismo, liberando a quantidade adequada do medicamento para que ocorra o efeito terapêutico desejado. A resposta terapêutica depende de fatores como a concentração do princípio ativo, seu transporte pelos líquidos corporais através das membranas biológicas, bem como a resistência à degradação metabólica. A via de administração e a formulação terapêutica influenciam diretamente na biodisponibilidade de um medicamento. Além disso, ambos podem ser fatores importantes na adesão do paciente ao tratamento. 19 A forma farmacêutica e a via de administração podem influenciar a seletividade de um medicamento e, portanto, suas indicações clinicas. As três principais vias de administração são: Oral ou per os, parenteral e retal (MAGALHÃES, 1985 apud MONTANHA 2013). A partir da forma farmacêutica e a via de administração, a dose eficaz de um medicamento pode mudar, considerando que os fármacos administrados por via intravenosa entram diretamente na circulação sistêmica e aqueles administrados por via oral raramente são absorvidos de forma completa até a circulação sistêmica, devido às diversas barreiras físicas, químicas e fisiológicas presentes. Dessa forma, uma dose mais baixa é indicada para a administração parenteral (injetável) em relação à oral, para obter os mesmos níveis sanguíneos e efeitos clínicos. A escolha da via de administração de um medicamento é norteada pelos seguintes fatores: tipo de ação desejada se é local ou geral, rapidez da ação desejada, esta orienta, por exemplo, se deve ser preferida a via inta-muscular ou a intravenosa em determinados casos, e a natureza do medicamento, os voláteis pela via pulmonar (anestésicos inalatórios); os que resistem ao sulco gástrico podem ser dados pela via oral, os que não resistem ao sulco gástrico devem ser administrados por via parenteral, se cáustico, só deve ser dado por via intravenosa; os insolúveis nãodevem ser administrados por via parenteral. As vias de administração dos fármacos podem ser a grupados da seguinte maneira. A via oral é a administração do fármaco através da cavidade bucal, sua principal finalidade é conduzir o medicamento ao estomago e intestino, para aí ser absorvidos e levado por via sanguínea aos tecidos susceptíveis. Embora algumas soluções para uso oral, em forma aquosa ou de elixir, e suspensão estejam comercialmente disponíveis, a maioria das formas para a dosagem oral são sólidas. Como limitações desta via temos: inativação do medicamento pelo suco digestivo, incerteza da quantidade absorvida e possibilidade de ação irritante sobre a mucosa. A via sublingual permite a retenção do fármaco por tempo mais prolongado. Propicia uma rápida absorção de pequenas doses de alguns fármacos, devido à vasta vascularização sanguínea e a pouca espessura da mucosa sublingual, permitindo a absorção direta na corrente sanguínea (LIMA, 2008 apud MONTANHA, 2013). 20 As vias transmucosas ou tópicas são utilizadas normalmente para a obtenção de efeitos terapêuticos não sistêmicos, isto é, localizados, no entanto pode haver absorção de certos medicamentos pela pele integra. A via parenteral entende se por todas as vias de administração que exigem que se pratiquem uma abertura na pele ou nas mucosas para se atingir os tecidos susceptíveis (MAGALHÃES, 1985, apud MONTANHA, 2013). A administração parenteral das drogas implica evitar-se o trato gastrointestinal. As vias parenterais incluem injeções intravenosas (IV), intramuscular (IM), e subcutânea (SC). A via intravenosa tem como vantagem a obtenção rápida de efeitos, a possibilidade de administração de grandes volumes, em infusão lenta, e de substancias irritantes. Tem como desvantagem riscos de embolia, infecções por contaminação, sendo imprópria para substâncias oleosas ou insolúveis. A via subcutânea é preferível quando se necessita quem medicamento seja absorvido de forma lenta e continua. Esta via tem como desvantagem a absorção constante para soluções e lenta para suspensões e “pellets”, tem como vantagem a facilidade de produzir sensibilização e, ainda, dor e necrose, quando utilizadas substâncias irritantes. A via intramuscular tem a vantagem de absorção relativamente rápida, sendo adequada para administração de volumes moderados, de veículos aquosos, oleosos, suspensão ou preparação de depósitos. Suas desvantagens são a dor e o aparecimento de lesões musculares pela aplicação de substâncias irritantes ou de pH distante da neutralidade, promovendo o aparecimento de processos infamatórios. A via inalatória pode ser utilizada normalmente quando o agente terapêutico é um gás, tendo, em medicina veterinária, utilização restrita à anestesia. Estes agentes anestésicos gasosos e líquidos voláteis, administrados por inalação, são rapidamente absorvidos na circulação sistêmica através do epitélio alveolar. A via retal é a administração de medicamentos através do reto, para que sejam absorvidas pelo plexo hemorroidal, o quadro abaixo resume as principais vias de administração de fármaco e suas respectivas formas farmacêuticas. 21 Fonte: ANSEL, 2007. 4.1 Interação entre fármacos É a ação combinada de uma ou mais drogas, administradas sucessiva ou simultaneamente, podendo induzir a efeitos benéficos ou maléficos. Essas interações podem ser do tipo sinérgica ou antagônica. Tipos de sinergismo: Adição: os efeitos de duas drogas são iguais aos efeitos de cada uma delas isoladamente (efeito AB = A + B). Potencialização: cocaína inibe a captação de noradrenalina e epinefrina, a aumentando a contração muscular (efeito AB > A + B). Tipos de antagonismo Antagonismo químico: droga A e droga B interagem em solução (antes da administração) e ocorre inativação, precipitação ou diminuição do efeito de uma delas. Exemplo: quelantes se ligam aos metais pesados e diminuem sua toxicidade. Antagonismo fisiológico ou funcional: efeito da droga A é oposto ao da droga B, de modo que uma droga anula o efeito da outra. Exemplo: curare que atua como relaxante muscular, diminuindo o efeito da estricnina, que tem ação convulsivante. 22 Antagonismo farmacológico competitivo: droga A e droga B se ligam ao mesmo receptor e competem por ele quando administradas sucessiva ou simultaneamente. Antagonismo competitivo reversível: uma droga antagonista se liga ao receptor e impede a ligação da droga agonista. No entanto, quando se aumenta a concentração do agonista, ele desloca o antagonista do receptor e se liga ao receptor. Em outras palavras, a substância com maior concentração no receptor é quem se liga e desenvolve seu efeito. Antagonismo competitivo irreversível: a droga antagonista se liga irreversivelmente ao receptor, levando ao aumento da concentração do agonista, sem deslocar o antagonista do receptor. Antagonismo farmacocinético: droga A interfere na absorção, distribuição, metabolismo ou excreção da droga B. Exemplo de interação na absorção: antiácidos como sal de frutas aumentam o pH estomacal e diminuem a absorção de drogas ácidas como ácido acetilsalicílico (AAS). Exemplo de interação na distribuição: a fenilbutazona, um anti-inflamatório, diminui a ligação da warfarina, um anticoagulante, às proteínas plasmáticas, aumentando sua distribuição e, em consequência, seus efeitos (hemorragias). Exemplo de interação no metabolismo: dissulfiram diminui o metabolismo da warfarina, reduzindo a coagulação sanguínea e favorecendo a hemorragia. Exemplo de interação na excreção: bicarbonato de sódio aumenta a excreção urinária de fármacos ácidos como ácido acetilsalicílico (AAS). 23 5 FARMACODINÂMICA Fonte: tuasaude.com A Farmacodinâmica investiga os efeitos dos fármacos nos organismos, seus mecanismos de ação e a relação entre a dose e efeito (GOODMAN, 2012). Princípios gerais: • As moléculas do fármaco precisam estar ligadas a constituintes específicos das células para produzirem efeito. • Receptores: qualquer molécula a qual uma substância se liga para iniciar seus efeitos. Sítios de ligação: • Proteínas alvo; • Enzima; • Molécula transportadora; • Canal iônico; • Receptor. 24 5.1 Interação fármaco – receptor A ativação do receptor é a capacidade da molécula ligada de desencadear uma resposta tecidual, exemplificando temos como modelo “chave-fechadura”. O termo “relação estrutura-atividade” compreende o estudo dos efeitos que a estrutura química de um composto ligante pode causar durante sua interação com o receptor biológico e, assim, racionalizar os principais fatores que comandam esta interação (ARROIO, 2010, apud BENITE,2019, p.574). A ligação de um fármaco com seu receptor biológico é determinada por forças intermoleculares, como: interações lipofílicas, polares, eletrostáticas entre outros. Sendo assim, substâncias que apresentam propriedades farmacológicas e terapêuticas ao interagirem com um alvo específico que pode ser uma enzima, um receptor, um canal iônico ou qualquer outra macromolécula biológica, devem possuir uma estrutura tridimensional de forma que as disposições de seus grupos funcionais permitam uma maior complementariedade ao sítio de ligação. Quanto melhor o “encaixe” e a complementaridade das propriedades de um fármaco, maior será sua afinidade e logo maior será sua atividade biológica. Agonista: substância biologicamente ativa que ao ligar-se ao receptor causa efeito. Antagonista: substância que ao ligar-se ao receptor não produz efeito. Figura adaptada: BARREIRO, 2001. 25 Mecanismos de ação dos fármacos A interação fármaco-receptor compreende duas fases: 1. Complexação do fármaco com o receptor. 2. Produção do efeito. Além da afinidade ao receptor é necessário que o fármacotenha atividade intrínseca, isto é, capacidade de formar um complexo fármaco-receptor que produza efeito biológico. Logo somente o agonista possui atividade intrínseca. Existem dois centros no receptor farmacológico: • Específico ou crítico que interage com os grupos farmacológicos do agonista. • Inespecífico ou não crítico que se complexa principalmente com os grupos apolares do antagonista. Os fármacos ditos estruturalmente inespecíficos são aqueles que dependem única e exclusivamente de suas propriedades físico-químicas, (coeficiente de partição, pKa) para promoverem o efeito biológico. Os anestésicos gerais são um exemplo clássico de substâncias que pertencem a esta classe de fármacos, uma vez que seu mecanismo de ação envolve a depressão inespecífica de biomembranas lipo-protéicas, elevando o limiar de excitabilidade celular ou a interação inespecífica com sítios hidrofóbicos de proteínas do sistema nervoso central, provocando perda da consciência. Neste caso específico, em que a complexação do fármaco com macromoléculas da biofase dá-se predominantemente através de interações de Van der Walls, a potência do fármaco está diretamente relacionada com a sua lipossolubilidade (FOYE, 1995 apud BARREIRO, 2001). Em alguns casos, a alteração das propriedades físico-químicas decorrentes de modificações estruturais de um fármaco pode alterar seu mecanismo de interação com a biofase. Um clássico exemplo encontra-se na classe dos anticonvulsivantes. O pentobarbital é estruturalmente específico e tem ação sobre o receptor Ácido gama- aminobutírico (GABA) ionóforo. A simples substituição de um átomo de oxigênio por um átomo de enxofre produz o tiopental, cuja lipossolubilidade é maior e tem ação anestésica inespecífica. Os fármacos estruturalmente específicos exercem seu efeito biológico pela interação seletiva com uma determinada biomacromolécula alvo, que apresenta na maior parte dos casos propriedades de enzima, proteína sinalizadora (receptor), canal javascript:%20void(0); 26 iônico ou ácido nucléico. O reconhecimento do fármaco (micromolécula) pela biomacromolécula depende do arranjo espacial dos grupamentos funcionais e das propriedades de superfície da micromolécula, que devem ser complementares ao sítio de ligação localizado na macromolécula, o sítio receptor. A complementaridade necessária para a interação da micromolécula com a biomacromolécula receptora pode ser ilustrada simplificadamente pelo modelo “chave-fechadura”. Neste modelo podemos comparar a biomacromolécula com a fechadura, o sítio receptor com o “buraco da fechadura” e as diferentes chaves com ligantes do sítio receptor, isto é, regiões da micromolécula que vão interagir diretamente com a macromolécula. Neste caso específico “abrir a porta” ou “não abrir a porta” representariam as respostas biológicas desta interação. Na imagem a seguir, pode ser evidenciado três principais tipos de chaves: a) a chave original, que se encaixa adequadamente com a fechadura, permitindo a abertura da porta, corresponderia ao agonista natural (endógeno) ou substrato natural, que interage com o sítio receptor da biomacromolécula localizado respectivamente em uma proteína ou enzima, desencadeando uma resposta biológica; b) a chave modificada, com propriedades estruturais que a tornam semelhantes à chave original e permitem seu acesso à fechadura e a abertura da porta, corresponderia a um agonista modificado da biomacromolécula, sintético ou de origem natural, capaz de reconhecer complementarmente o sítio receptor e desencadear uma resposta biológica qualitativamente idêntica àquela do agonista natural; e c) a chave falsa, que apresenta propriedades estruturais mínimas que permitem seu acesso à fechadura, sem ser capaz, entretanto de permitir a abertura da porta, corresponderia ao antagonista, sintético ou de origem natural, capaz de ligar- se ao sítio receptor sem promover a resposta biológica e bloqueia a ação do agonista endógeno e/ou modificado, ocasionando uma resposta qualitativamente inversa àquela do agonista. javascript:%20void(0); 27 Fonte: qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=tema.15 Receptores Os receptores consistem em elementos sensoriais no sistema de comunicações químicas que coordena a função de todas as diferentes células do corpo, sendo que os mensageiros químicos são representados por vários hormônios, transmissores e outros mediadores. Os receptores podem induzir diversos efeitos celulares. Classificação: • Tipo 1: canais iônicos regulados por ligantes - Inotrópicos. • Tipo 2: receptores acoplados à proteína G - Metabotrópicos. • Tipo 3: receptores ligados à proteína quinase e receptores relacionados. • Tipos 4: receptores nucleares. http://qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=tema.15 28 Fonte: RANG, 2012. Características importantes dos receptores Tipo 1: canais iônicos regulados por ligantes - Inotrópicos: • Regulados por ligantes; • Ligantes = fármaco ou substância endógena. • Receptor = proteína de membrana: • Sítio de ligação extracelular. • São acoplados a canais iônicos. • São receptores de ação rápida: Exemplos: Nicotínico, Glutamato e Gaba (figura abaixo). 29 Fonte: WordPress.com Receptor tipo 2 ou metabotrópico ou acoplado à proteína G, contêm sete α hélices transmembrana (hepta-helicoidal) com um domínio N-terminal extracelular e um domínio C terminal intracelular. A proteína G se liga no domínio intracelular e vai atuar no sistema efetor (proteínas efetoras) que podem ser enzimas ou canais iônicos. A proteína G, portanto, é responsável em propagar a informação veiculada pela substância que se ligou ao domínio extracelular (FANELLI,2005, apud HOELZ, 2013 p. 983). Exemplos de receptores metabotrópicos: • Receptores hormonais; • Receptores muscarínicos da acetilcolina (lentos); • Receptores adrenérgicos; • Receptores opioides. A ação desses receptores é lenta porque necessitam de mensageiros (proteína G) para propagar a informação. Proteína G, são proteínas ancoradas a membrana interna que atuam como transdutores celulares reconhecendo o receptor tipo 2 e enviando a informação ao alvo final. É formada por três subunidades (α, β e γ). https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjJj8mZ5NvlAhVYJrkGHXudDGcQjB16BAgBEAM&url=https%3A%2F%2Fwaitimstudying.wordpress.com%2F2017%2F05%2F30%2Fsistema-nervoso-somatico-e-autonomo%2F&psig=AOvVaw1NzmqHiqiCWn6FWSokqCJf&ust=1573342634707445 https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjJj8mZ5NvlAhVYJrkGHXudDGcQjB16BAgBEAM&url=https%3A%2F%2Fwaitimstudying.wordpress.com%2F2017%2F05%2F30%2Fsistema-nervoso-somatico-e-autonomo%2F&psig=AOvVaw1NzmqHiqiCWn6FWSokqCJf&ust=1573342634707445 30 Fonte: RANG, 2007. A cascata de ativação intracelular começa com a ação de uma proteína auxiliar: GEF. A proteína GEF desloca GDP e dá lugar à ligação de GTP, configurando o estado ativo da proteína. A subunidade α dissocia-se do dímero βγ e inicia cascatas de sinalização intracelular, como pode ser observado na figura acima. O início da cascata de sinalização intracelular resulta em ativação dos efetores (aqueles que recebem o estímulo) como: • Adenilato ciclase; • GTPase; • Fosfolipases; • Cinases ou Quinases. Os receptores ligados à proteína quinase do tipo 3, estão ligados a quinases. É um composto de uma cadeia com até mil resíduos. O domínio extracelular é ligado por uma α hélice ao domínio intracelular, e este possui atividade enzimática. Esses receptores estão relacionados às ações de fatores de crescimento, citocinas e hormônios como a insulina, cujos efeitos são realizados, principalmente, em nível de transcrição gênica (RANG, 2003, apud HOELZ, 2013 p. 985). As proteínas quinases têm como função fosforilar proteínas efetoras intracelulares e, comoresultado há alterações na atividade bioquímica destas, já que receberam fosfato, e sofreram interações com outras. Principais tipos de receptores tipo 3: 31 • Receptores tirosina quinase (RTKs) incorporam uma porção de tirosina quinase na região intracelular desse receptor. Fosforilam proteínas que tenham resíduos de tirosina. Os receptores de insulina são RTKs, assim como os receptores para fator de crescimento epidérmico e neural. • Receptores de serina/treonina quinases fosforilam resíduos de serina e/ou treonina. Exemplo: fator de transformação de crescimento. • Receptores de citocinas não possuem atividade enzimática intrínseca. Atuam ativando proteínas quinases citosólicas. Exemplo: receptores de citocinas, fatores estimuladores de colônias e hormônios do crescimento. • Receptores associados à guanilil ciclase: a porção enzimática é guanilil ciclase, e regula a formação de GMPc através da hidrólise de GTP. Mecanismo da fosforilação: • Fosforilação = quinases = adição de fosfato • Desfosforilação =fosfatases = retirada de fosfato Fonte: RANG, 2003. 32 6 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Fonte: spdm.org.br Uma interação medicamentosa é definida como o fenômeno que ocorre quando os efeitos ou a farmacocinética de um fármaco são alterados pela administração prévia ou coadministração de um segundo fármaco. As associações medicamentosas podem ser benéficas quando proporcionam um melhor efeito terapêutico ou uma redução da toxicidade, entretanto, podem ser prejudiciais quando favorecem o aparecimento de reações adversas ou diminuição do efeito de um ou ambos os fármacos. 6.1 Interações farmacocinéticas Interações que afetam a absorção Geralmente as interações que afetam a absorção, são provocadas por medicamentos administrados por via oral (ROE, 1984, apud MOURA 2002). A absorção pode ser alterada devido à: formação de complexos não absorvíveis: como exemplo a combinação de tetraciclinas (antibiótico) com íons metálicos provenientes de antiácidos e suplementos minerais. Nesse caso, ocorre a eliminação do antibiótico e prejuízo do seu efeito. Alteração do pH gástrico ou 33 intestinal: que afetam o equilíbrio de dissociação de medicamentos ácidos ou bases fracas. Como exemplo, a administração de antiácidos diminui a absorção de fenobarbital, pois ao aumentar o pH, predomina a forma ionizada que é menos lipossolúvel. Alteração da velocidade do esvaziamento gástrico e ou motilidade intestinal: Alguns medicamentos inibem o esvaziamento gástrico, como a escopolamina ou opiáceos como morfina e codeína, ou podem acelerar o esvaziamento como metoclopramida. Os medicamentos que aumentam a velocidade de esvaziamento, geralmente promovem um aumento da eliminação da substância, diminuindo seus efeitos e aqueles que diminuem o esvaziamento são perigosos no caso de ingestão de substâncias tóxicas que poderão ficar mais tempo no organismo, assim potencializando seus efeitos. Interações que afetam a distribuição Ao chegar à circulação sanguínea, o princípio ativo é transportado pelas proteínas plasmáticas, podendo atravessar barreiras para alcançar determinados tecidos onde será armazenado, transformado ou exercerá seus efeitos. Parte do medicamento administrado vai ficar ligado às proteínas e essa porção não será ativa farmacologicamente. Somente a porção que estiver livre no plasma, poderá atravessar as barreiras e chegar aos compartimentos. Assim, quando dois medicamentos que se ligam fortemente às proteínas são administrados simultaneamente, produzirão uma interação competitiva. Um dos medicamentos será deslocado da ligação às proteínas, aumentando a proporção de medicamento livre e dessa forma, aumentando sua atividade. Interações que afetam a biotransformação No processo de biotransformação, os medicamentos são transformados pelas enzimas microssomais hepáticas em frações menores, hidrossolúveis. As interações que acontecem nessa fase, geralmente são originadas por medicamentos com potencial de inibirem ou induzirem o sistema enzimático (FINE, 1981, apud SECOLI, 2001). 34 A inibição enzimática de sistemas como, por exemplo, do citocromo p450, das colinesterases e monoaminoxidases (MAO), promovem a lentificação da biotransformação do próprio medicamento e de outros que tenham sido administrados concomitantemente. Nesse processo, ocorre o acúmulo de substâncias no organismo, podendo assim ocorrer potencialização dos seus efeitos e aumento de toxicidade. Um exemplo interessante é a administração de alguns medicamentos com suco de toranja (grapefruit), que reduz a biotransformação da terfenadina e de outros fármacos como paroxetina, por inibir a enzima Citocromo CYP3A4 e assim esses medicamentos não são biotransformados e têm o efeito potencializado por não serem excretados do organismo. Já na indução enzimática, um fármaco promove o aumento da ação de algum sistema enzimático, promovendo o aceleramento do processo de biotransformação de fármacos que serão eliminados do organismo mais rapidamente e assim seus efeitos serão diminuídos ou não apresentarão efeito. A indução enzimática pode causar toxicidade de um segundo fármaco, se os seus efeitos tóxicos são mediados por um metabólito. A toxicidade do paracetamol é o caso, ela é causada pela N-acetil-p-benzoquinonaimina, que é formada pelo citocromo p450. Consequentemente, o risco de lesão hepática séria após uma dose excessiva de paracetamol e aumentada em pacientes cujo sistema citocromo p450 tenha sido induzido, por exemplo, com o uso crônico de álcool. Aqui então temos dois exemplos diferentes, no primeiro caso, o próprio medicamento (paracetamol) está gerando a indução, pois o aumento da dose do medicamento proporciona um aumento na biotransformação pelo sistema citocromo p450, considerando que em doses terapêuticas a maior parte do fármaco é conjugado ao ácido glicurônico ou ao sulfato, porém o organismo não promove a formação dos metabólitos conjugados quando em doses acima da terapêutica, assim o sistema citocromo p450 é recrutado mas promove formação do metabólito tóxico citado anteriormente que causa morte celular. No outro exemplo, o álcool que é um indutor enzimático do citocromo p450, quando administrado junto com o paracetamol, promove a biotransformação por essa via, promovendo a formação dos metabólitos tóxicos. Em alguns casos, essas interações podem ser benéficas como por exemplo a indução enzimática provocada pela administração de fenobarbital em prematuros para induzira 35 glucuronil transferase, portanto, aumentando a conjugação da bilirrubina e reduzindo o risco de icterícia. Interações que afetam a excreção Os principais mecanismos pelos quais um fármaco pode afetar a taxa de excreção renal de outro são: • alterando a ligação à proteína e, por consequência, a filtração. • inibindo a secreção tubular. • alterando o fluxo urinário e/ou o pH urinário. Os diuréticos tendem a aumentar a excreção urinária de outros fármacos. A alteração do pH urinário interfere no grau de ionização de bases e ácidos fracos, afetando as respostas farmacológicas e promovendo um aumento da reabsorção ou da excreção dos fármacos. As drogas ácidas são reabsorvidas em urina ácida e excretadas em urina alcalina, já as drogas alcalinas são reabsorvidas em urina alcalina e excretadas em urina ácida. Como exemplo, é comum o uso de bicarbonato de sódio para aumentar a excreção de ácidos fracos em casos de intoxicação com barbitúricos (TROVATO, 1991, apud MOURA 2002). Interações farmacodinâmicas A interação farmacodinâmica causa modificação do efeito bioquímico ou fisiológico do medicamento. Geralmente ocorre no local de ação dos medicamentos (receptores farmacológicos) ou através de mecanismosbioquímicos específicos, sendo capaz de causar efeitos semelhantes (sinergismo) ou opostos (antagonismos). Sinergismo é um tipo de resposta obtida a partir da associação de dois ou mais medicamentos, resultando em efeito maior do que os efeitos isolados. Pode ocorrer efeitos: • Aditivo: medicamentos com mesmo mecanismo de ação. • Somação: medicamentos que agem por diferentes mecanismos. • Potencialização: medicamentos que atuam em diferentes receptores farmacológicos. Do sinergismo podem surgir associações com efeitos terapêuticos ou tóxicos. 36 Antagonismo: o efeito de um fármaco pode ser diminuído ou abolido na presença de outro, e isso pode ocorrer através de vários mecanismos: Antagonismo competitivo: descreve a situação comum em que uma substância é ligada seletivamente a determinado tipo de receptor sem ativá-lo e impede a ligação deum fármaco agonista. Antagonismo não competitivo: o antagonista bloqueia, em algum ponto, a cadeia de eventos que leva à produção de uma resposta pelo agonista. Antagonismo químico: nesse caso, duas substâncias se combinam em solução, de forma que o efeito do fármaco ativo é perdido. Como por exemplo, o uso do quelante dimercaprol que se liga a metais pesados e, assim, reduz a sua toxicidade. Antagonismo fisiológico: é a interação de duas substâncias cujas ações opostas no organismo tendem a anular uma à outra. Por exemplo, a histamina atua sobre os receptores das células parietais da mucosa gástrica, estimulando a secreção de ácido, enquanto, o lanzoprazol bloqueia esse efeito ao inibir a bomba de prótons, assim podemos dizer que as duas substâncias atuam como antagonistas fisiológicos. Interação medicamentos e nutriente A interação medicamento-nutriente é definida como uma alteração da cinética ou da dinâmica de um medicamento ou nutriente, ou ainda, o comprometimento do estado nutricional como resultado da administração de um medicamento, compreendendo-se a farmacocinética como a descrição quantitativa de um medicamento ou sua disposição, o que inclui a absorção, distribuição, metabolismo e excreção. A farmacodinâmica caracteriza-se pelo efeito clínico ou fisiológico do medicamento (SCHWEIGERT, 2008, apud LOPES, 2010). A maioria das drogas e dos nutrientes é absorvida no intestino delgado. As interações droga-nutriente podem alterar essa absorção por meio da redução do tempo de esvaziamento do trato digestório e pela formação de quelatos, originados a partir de reações entre cátions metálicos, presentes na matriz dos alimentos, com os fármacos, devido às suas características físico-químicas, bem como pelas mudanças na absorção de gorduras, das vitaminas lipossolúveis e do colesterol devido às lesões produzidas na mucosa intestinal. 37 Por sua vez, pode também ocorrer interação fármaco nutriente durante a fase farmacocinética de distribuição plasmática. Estudos demonstram que a ligação da droga a uma proteína plasmática pode ser alterada por uma dieta hiperlipídica. Já as alterações no metabolismo das drogas são geralmente afetadas pela inibição enzimática ou pela formação de complexos insolúveis com os nutrientes. Algumas drogas podem aumentar ou diminuir a excreção renal de certos nutrientes, por meio da filtração glomerular, interferindo na reabsorção renal dos nutrientes. As possíveis interações dos medicamentos com a alimentação dos pacientes podem levar ao prejuízo da ação do medicamento e/ou alimento, podendo causar um aumento da necessidade de utilização dos fármacos em tratamentos crônicos ou desnutrição, ocasionados aumentos no custo e no tempo de internação hospitalar. Interações medicamentos e álcool O álcool é um indutor enzimático da enzima citocromo p450 e dessa forma acelera a biotransformação de alguns medicamentos como, por exemplo, antibióticos, acarretando na redução do efeito do medicamento, por esse motivo que muitos medicamentos não podem ser associados como o etanol. Existe uma contraindicação específica ao uso de álcool simultâneo com certos antimicrobianos, como metronidazol, sulfas e cloranfenicol, pois causam uma reação semelhante ao dissulfiram na presença de álcool. (WANNMACHER, 2007, apud SILVA 2017 p.16). O dissulfiram é um fármaco utilizado no tratamento do alcoolismo, sua ação é exercida quando existe ingestão simultânea de álcool. Este medicamento inibe de maneira irreversível a enzima aldeído-desidrogenase (ALDH) responsável por metabolizar o álcool, promovendo o acúmulo de acetaldeído, provocando a reação etanol-dissulfiram (RED). Causando efeitos como sudorese, cefaleia, tonturas, náusea, dispneia. Os anestésicos gerais, anticonvulsivantes, antidepressivos, hipno-sedativos, ansiolíticos, entre outros psicotrópicos, podem apresentar interações sinérgicas com o álcool, fazendo com que a depressão central seja aumentada. Outro fato indiscutível 38 é que o uso simultâneo de etanol com outros depressores do sistema nervoso central acentua efeitos como sedação, agravo de coordenação motora e comprometimento da memória, risco de quedas, entre outros. O álcool potencializa a ação da loperamida e ivermectina frente ao sistema nervoso central. Aumenta a tendência de hemorragia gástrica resultante do uso de AAS e anti-inflamatórios não esteroides, devido destruir a mucosa gástrica e eleva a retrodifusão de íons hidrogênio (H+). Em pacientes com diabetes mellitus o álcool pode causar efeitos similares ao dissulfiram. O uso intenso de etanol estende a ação dos hipoglicemiantes, já o uso crônico inibe os mesmos. Pode-se notar que a interação entre fármacos e o álcool é prejudicial, e infelizmente hoje essa associação ainda é extremamente frequente entre a população. O álcool etílico altera o metabolismo de muitos medicamentos, afetando as concentrações desses fármacos no corpo e, além de que, pode prejudicar a eficácia de certas drogas, aumentando seus efeitos colaterais. Esta combinação pode causar efeitos colaterais graves, incluindo efeitos potencialmente fatais. Interação medicamento e nicotina A nicotina é uma droga psicotrópica, de uso comum através do cigarro, tem ações farmacológicas diversas devido à ação em vários efetores, podendo produzir ações estimulantes e depressoras sequenciais e dose dependente (JUSTO, 1979, apud FRANKEN, 1996 p. 371). A nicotina age sobre o sistema enzimático hepático e intestinal estimulando sua ação e aumentando a velocidade de biotransformação de fármacos exógenos e produtos endógenos. Estimula ainda a liberação de prolactina, hormônio de crescimento, vasopressina, beta endorfinas e cortisol. É biotransformação primeiramente no fígado e, parcialmente eliminada in natura, pelos rins. O principal metabólito e a cortinina excretada pelos rins. Devido às diferentes ações farmacológicas, a nicotina independente da via de administração, interage com uma série de medicamentos, modificando sua ação ou exigindo a administração de maiores doses para produção do efeito desejado. Estudos mostraram que pacientes fumantes que utilizam benzodiazepínicos experimentam menor ação tranquilizadora, comparados aos pacientes não fumantes. 39 Os fumantes também apresentam menor tolerância à dor, necessitando de maiores doses de analgésicos narcóticos. Os antagonistas de H2 como cimetidina e ranitidina não produzem efeitos em fumantes à noite. Em pacientes diabéticos, dependentes de insulina, que fumam, o efeito da insulina é diminuído, e isso faz que com necessitem de doses maiores. 7 MEDIADORES INFLAMATÓRIOS Fonte: medicinanet.com Mediadores inflamatórios são substâncias liberadas em uma área tecidual lesada ou por células adequadamente ativadas que coordenam o processo da resposta inflamatória (OLIVEIRA, 2016 apud POLUHA, 2018). O processo inflamatório é uma resposta do organismo que se inicianos vasos sanguíneos em direção aos tecidos quando há lesão por qualquer agente etiológico. A finalidade da inflamação é proteger o organismo através de mecanismos para destruição e eliminação do agente etiológico, além de reparar a área afetada. Desta forma, pode-se entender que existem diversos tipos e intensidades de inflamação, variando o agente e a área afetada. 40 A resposta inflamatória, pode ser qualificada como uma cascata complexa de eventos fisiológicos, os quais possibilitam a proteção aos tecidos e órgãos do corpo. O evento atua restringindo os danos no local da agressão, embora possa ter efeitos deletérios quando ocorre de forma exacerbada (BILATE, 2007). Quando são exagerados, os processos inflamatórios causam doenças como processos dolorosos, alergias, autoimunidades e destruição tecidual. O controle da inflamação, atualmente, é feito principalmente com anti-inflamatórios não esteroidais e corticoterapia, a depender do caso. Não existe uma sequência exata estrita para os eventos da inflamação, isto é, as etapas podem ocorrer simultaneamente, porém, três fases principais podem ser identificadas: 1. Fase aguda de fenômenos vasculares: ocorre vaso dilatação, aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade vascular, com extravasamento de proteínas e outras biomoléculas. 2. Fase tardia: ocorre infiltração de células do sistema imune como neutrófilos e outros fagócitos por diapedese e migração dessas células para o local da inflamação, para captura e destruição do agente causador da inflamação. 3. Fase de degeneração tecidual com fibrose. O conhecimento das principais substâncias envolvidas na resposta inflamatória torna-se importante para os estudos de farmacologia. Os mediadores da inflamação são os responsáveis pelo caráter considerado uniforme dos processos inflamatórios, não importando se o agente etiológico é uma bactéria, um corpo estranho, radiação etc. Principais mediadores dos processos inflamatórios: • Histamina: encontrada pré-formada na maioria dos tecidos corporais, tem sua ação condicionada aos receptores onde se liga, a saber: 1. Receptores H1 (várias regiões corporais): contração da musculatura lisa, brônquios, bronquíolos; edema, eritema, prurido, aumento da secreção de muco e da permeabilidade de capilares; indução de vômito. 2. Receptores H2 (estômago): estimula a secreção de suco gástrico. 41 • TXA2 (Tromboxano A2): faz vasoconstrição e estimula a agregação plaquetária. • PAF (Fator de Agregação Plaquetária): estimula a agregação plaquetária, é vasodilatador, aumenta a permeabilidade vascular e tem ação quimiotática (atração) de células imunológicas para o local da inflamação. • Bradicinina: ação vasodilatadora, aumenta a permeabilidade vascular, estimula a contração do intestino. • Prostaglandinas • PGE2: reduz o limiar da nocicepção, tem ação sinérgica com substâncias que causam dor por estimulação das terminações nervosas, causa febre e broncoconstrição. • PGI2: tem ação vaso dilatadora e antiagregação plaquetária. • Leucotrienos 1. LTB4 (Leucotrieno B4): promove adesão, ativação e proliferação de células imunológicas. 2. LTC4 (Leucotrieno C4): broncoconstritor. 3. LTD4 (Leucotrieno D4): vasodilatador. 4. LTE4 (Leucotrieno E4): vasoconstritor. 42 8 FARMACOLOGIA NA ESTETICA 8.1 Tecido epitelial Fonte: aquiemgoias.com O sistema tegumentar é formado pela epiderme e derme. A primeira é constituída por células epiteliais chamadas de queratinócitos que são produzidas na camada basal, e a derme é responsável pela resistência e elasticidade da pele. Sabe-se que as camadas da pele são avasculares, com isso, a única forma de nutrição é feita por difusão através dos leitos capilares da derme, que se apresenta bem vascularizada (BOUCAUD, 2001 apud BEM, 2010). O tecido epitelial é responsável pelo revestimento e formação de alguns órgãos e glândulas. Protege os tecidos subjacentes de lesões e choques, atua na absorção de biomoléculas, percepção sensorial, transporte transecular de moléculas e controle do fluxo de substancias através das junções aderente e comunicante. Especificamente, a pele é um tecido de revestimento pavimentoso estratificado queratinizado, isto é, possui células superficiais achatadas anucleadas com revestimento de queratina, composta de células velhas, colesterol, proteínas e lipídeos (triglicérides, fosfolipídios, ácidos graxos livres, etc.). Dividida em epiderme (mais superficial) e derme, possui uma camada mais profunda de tecido adiposo que constitui um tecido conjuntivo frouxo que conecta a derme à musculatura e faz isolamento térmico, a hipoderme. 43 A epiderme, camada mais superficial, é dividida em: 1. Estrato córneo: apresenta células mortas, sem núcleo ou organelas, onde está depositado o manto hidrolipídico. 2. Camada granular: camada com queratinócitos achatados. 3. Camada espinhosa: apresenta células novas altamente compactadas que mantém a resistência do tecido. 4. Lâmina basal: possui elevada quantidade de células-tronco, por isso é chamada de camada germinativa. Nesta camada estão os melanócitos e a junção dermo- epidermica, que faz a nutrição das camadas mais superiores, que não são irrigadadas. A derme é rica em colágeno e elastina, de modo que confere resistência à pele. É formada de tecido conjuntivo, inervação, irrigação, além de folículos e glândulas, como as sudoríparas e sebáceas. 8.2 Imunologia A imunologia é uma ciência que trata dos mecanismos e respostas complexas desenvolvidas pelo organismo para reconhecimento e consequentemente eliminar ou conter substâncias ou corpos estranhos que invadem o organismo, como vírus, microrganismos, proteínas e outras moléculas que podem alterar o funcionamento normal do corpo. Existe também o reconhecimento de substâncias próprias do organismo, para que não sejam inclusas nestas vias de defesa, o que aponta um alto nível de organização e segurança destes mecanismos. A este conjunto dá-se o nome de imunidade. A função imunológica tem sido conceitualmente dividida em imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade inata representa uma resposta rápida e estereotipada a um número grande, mas limitado, de estímulos. É representada por barreiras físicas, químicas e biológicas, células especializadas e moléculas solúveis, presentes em todos os indivíduos, independentemente de contato prévio com imunógenos ou agentes agressores, e não se altera qualitativa ou quantitativamente após o contato (MEDZHITOV, 2000 apud CRUVINE, 2010). 44 A resposta imune é, na realidade, uma via integrada, composta por mecanismos complexos simultâneos de defesa. Contudo, para facilitar o estudo, divide-se a resposta imune em dois ramos: 1. Resposta Imune Inata: é a imunidade que o indivíduo traz consigo quando nasce. Os mecanismos da imunidade inata se instalam de maneira rápida como componente de defesa e agem de maneira inespecífica para diferentes agressores, isto é, usam o mesmo mecanismo de defesa para qualquer agente reconhecido como estranho ao organismo. A amamentação é importante para este mecanismo, uma vez que os anticorpos da mãe são transmitidos ao feto pelo leite, conferindo certa capacidade de defesa orgânica à criança. As respostas da imunidade inata são feitas por células chamadas de fagócitos, (células capazes de capturar o agente agressor e destruí-lo com substâncias presentes em grânulos no citoplasma), a saber: a) basófilos; b) eosinófilos (atuam principalmente em defesa contra parasitas); c) macrófagos (localizados nos tecidos internos); d) células NK; e) sistema de complemento (proteínas que complementam a defesa contra microrganismos de maneira geral). Alguns agentes agressores podemser mais fortes que outros, tanto que, quando existe necessidade de tratamento por medicação, as dosagens e o tipo de medicamento costumam variar significativamente. A esta propriedade dos agentes agressores dá-se o nome de virulência. O fato de a imunidade inata não agir de maneira diferenciada para diferentes agressores, portanto, indica que os mecanismos inatos podem não ser eficientes em determinados casos, já que o nível da defesa deve ser proporcional ao da virulência (que podemos entender também como nível de periculosidade), e não existe esta variação na imunidade inata. Para desenvolver respostas mais eficientes e específicas, existem os mecanismos da imunidade adaptativa: 2. A imunidade adaptativa é adquirida ao longo da vida do indivíduo através de 45 contato direto com o agressor por exposição, vacinas, transfusão etc. Atua através de diversos mecanismos (propriedade de complexidade) de forma específica para o combate (propriedade de especificidade), sendo capaz de agir rapidamente caso um agente agressor previamente combatido entre no organismo novamente (capacidade de memória imunológica), como nas vacinas e reinfecções. A imunidade adaptativa realiza a vigilância imunológica, que é o monitoramento da entrada e presença de agentes agressores e substâncias relacionadas. Falhas neste monitoramento podem causar neoplasias malignas. A imunidade adaptativa se desenvolve principalmente a partir de anticorpos e antígenos. Os anticorpos (também conhecidos por imunoglobulinas) são glicoproteínas que reconhecem os agentes agressores (antígenos) de maneira específica e ligam-se a estes (para cada antígeno é produzido um tipo de anticorpo). Esta ligação funciona como um mecanismo de marcação do antígeno, avisando aos demais componentes do sistema imune que há algo de estranho no organismo que deve ser eliminado. Na imunidade adaptativa, o sistema de complemento é ativado pela ligação de anticorpos preformados ao patógeno ou antígeno (imunocomplexo) (BARRINGTON, 2001 apud CRUVINEl, 2010). Os antígenos são moléculas que possuem a capacidade de serem reconhecidas pelas células e moléculas do sistema imune, ou seja, são capazes de se ligarem aos receptores celulares e anticorpos. O antígeno pode ser uma fração da estrutura de bactérias, vírus, fungos, protozoários, helmintos ou substâncias solúveis produzidas por microrganismos e outras células. A maioria dos antígenos são proteínas, porém, alguns são polissacarídeos, lipídeos ou glicolipídios. Os antígenos normalmente possuem vários locais onde o anticorpo pode se ligar que são chamados de epítopos. Existem epítopos que podem induzir uma resposta imune mais forte, como podem ter resposta mais fraca. Esta resposta depende da sua estrutura química, que definirá o nível da força de ligação (complexação) ao anticorpo. Os antígenos são chamados de imunogênicos quando são capazes de induzir uma resposta imune, são chamados de alergênicos quando 46 induzem reações de hipersensibilidade (alergias) e são chamados de tolerogênicos quando são capazes de inibir o desenvolvimento de uma resposta imune. Na imunidade adaptativa, o antígeno é capturado pelo linfócito B (célula imunológica) e processado para geração do epítopo. Este fragmento do antígeno é então apresentado ao linfócito T (os linfócitos possuem capacidade de memória e especificidade), que libera substâncias (citocinas) que estimulam o linfócito B a produzir anticorpos específicos para o antígeno capturado. Estes anticorpos s e ligam a outras células imunológicas. Quando o antígeno se ligar ao anticorpo, a célula imunológica libera substâncias presentes no seu interior para eliminar o antígeno, através do rompimento da membrana celular, o que chamamos de desgranulação. Desta forma, se estabelecem os mecanismos de defesa. Hipersensibilidades O termo hipersensibilidade é aplicado quando uma resposta adaptativa ocorre de forma exagerada ou inapropriada, causando reações inflamatórias e dano tecidual. A hipersensibilidade é uma característica do indivíduo e não se manifesta no primeiro contato com o antígeno indutor da reação de hipersensibilidade, mas geralmente aparece em contatos subsequentes (Andrade, 2012). São tipos: 1. Hipersensibilidade tipo 1 (alergias): é caracterizada pelo excesso de produção de anticorpos IgE para mínimas quantidades de antígenos, geralmente inertes para a maioria d a população. Os fagócitos liberam o conteúdo dos seus grânulos, causando sinais e sintomas diversos, a depender do órgão afetado, como rinite, dermatite, conjuntivite e rinossinusite. 2. Hipersensibilidade tipo 2: também chamada de citotóxica, ocorre quando o anticorpo se liga a uma superfície celular e não a reconhece como normal, estimulando o sistema imune a destruí-la. O caso mais clássico é a anemia hemolítica do recém - nascido, onde os anticorpos da mãe destroem as hemácias do feto em caso de variação do fator RH. 3. Hipersensibilidade tipo 3: ocorre quando há a formação de imunocomplexos patogênicos com forte potencial inflamatório, por excesso de anticorpos ou por 47 erros na programação da avidez. 4. Hipersensibilidade tipo 4: chamada de tardia, envolve a participação de células imunológicas (linfócitos T, macrófagos etc.) sem anticorpos livres, na geração de resposta inflamatória. Os sinais são percebidos no mínimo 48h depois do início, por isso recebe o nome de tardia. Dermatites As dermatites são processos patológicos da pele que podem ser de causa alérgica, infecciosa, por agentes físicos ou químicos. Quando a causa é desconhecida, diz-se que é idiopática. O estudo das dermatites em cosmetologia é importante para a prevenção e prestação dos primeiros cuidados ao paciente vítima de efeitos colaterais dos produtos de uso tópico. Não necessariamente o paciente com reações adversas utilizou o produto incorretamente: cada indivíduo é único, e as defesas da pele podem não reconhecer determinadas substâncias como inertes, e iniciar processos que tendem a eliminá-las. O caso mais clássico é a vermelhidão por utilização de peróxido de benzoíla a 4 ou 5% para o tratamento da acne ou mesmo o uso de ácidos para renovação celular. Com isso, percebe-se a importância de registrar todo o histórico de utilização de produtos do paciente, afim de não repetir erros de prescrição. São os principais tipos de dermatite: Dermatite atópica ou eczema atópico são termos que designam as manifestações inflamatórias cutâneas associadas à atopia. Segundo uma visão atual, a atopia seria predisposição hereditária do sistema imune a privilegiar reações de hipersensibilidade mediada por IgE, em resposta a antígenos comuns na alimentação, no ambiente intra e extradomiciliar, conceito esse situando a dermatite atópica como uma das manifestações das doenças da tríade atópica (dermatite atópica, asma, rinite alérgica) (RANCÉ, 2005 apud LEITE, 2007). • Esta dermatite é uma forma de hipersensibilidade tipo 4 e pode ser causada pelos mesmos alérgenos que desencadeiam os demais transtornos alérgicos, além de substancias irritantes (toxinas, metais, perfumes e desinfetantes) e alimentos, podendo também ter causa emocional. Pode durar de horas a dias, 48 a depender do nível de exposição do indivíduo são os principais sinais e sintomas: 1. Em jovens e adultos, as áreas mais acometidas por eritema e forte prurido são as regiões flexoras (joelhos, cotovelos etc.), mas também podem acometer o pescoço e a face (o que é mais comum em crianças). 2. Hipercromia da região orbital. 3. Tendência a infecções cutâneas. O manejo deste paciente é feito com medicamentos, demandando encaminhamento para médico alergista ou dermatologista. • Dermatite de Contato:também conhecida como eczema de contato, é uma patologia inflamatória causada pelo contato com substância irritante. Não é de origem alérgica, e dura de poucos minutos a algumas horas. Os mecanismos são inflamatórios e desencadeados por diversos agentes, desde água quente ou fria, sabonetes, ácidos, saliva, urina e principalmente cosméticos. A cura total é vista quando a substância irritante é afastada totalmente. • Manejo em cabine: Em primeiro lugar, a substância deve ser totalmente removida com gaze seca (caso esteja em veículo semissólido) e a área deve ser lavada com sabonete neutro, se possível glicerinado. Para efeito de alívio, a região afetada p ode ser tratada com soro fisiológico frio, que é inerte e capaz de fazer vaso constrição, o que é importante em caso de vermelhidão. Géis em pH 7 com extratos naturais calmantes são úteis nesta etapa. A associação de alfabisabolol com extratos glicólicos de camomila e calêndula tem efeito sobre a pele do paciente em pouco tempo. Recomenda-se que este produto seja aplicado frio também para vasoconstrição. Não há necessidade de remoção logo após aplicação. • Dermatite Seborreica: processo inflamatório que afeta as áreas mais ricas em glândulas sebáceas, principalmente o couro cabeludo e a face. As causas são desconhecidas, e a presença do fungo Pityrosporum ovale agrava a doença. 49 Ocorre descamação intensa, eritema, prurido forte, manchas, formação de crostas. Manejo: As crostas de dermatite podem ser removidas manualmente após emoliência feita com óleos vegetais (óleo de oliva, macadâmia, girassol etc.). O uso de shampoos anticaspa é importante para o controle da doença. A recomendação é que sejam utilizados em dias alternados, e que o shampoo de cetoconazol seja usado por apenas 30 dias. A associação de ingredientes naturais com atividade antisséptica como o extrato de própolis, óleo de melaleuca, dentre ouros, é benéfica, contudo as dosagens devem ser observadas com atenção, já que costumam ser produtos de odor forte característico, o que pode ser desagradável ao paciente. Além do risco de tonalização capilar, um desconforto ainda maior. Cosmetotoxicidade A Toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo, sob condições específicas de exposição. Assim, a Toxicologia é a ciência que investiga experimentalmente a ocorrência, a natureza, a incidência, os mecanismos e os fatores de risco dos efeitos deletérios de agentes químicos. Os efeitos tóxicos variam desde os considerados leves, como irritação nos olhos, até respostas mais sérias como o dano hepático ou renal, podendo ser tão graves quanto incapacitação permanente de um órgão, como a cirrose ou o câncer. (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008 apud CANOVA, 2015). A Toxicologia de cosméticos trata das reações adversas e os efeitos decorrentes do uso inadequado ou da susceptibilidade individual aos produtos. Agente tóxico ou toxicante é a substância capaz de causar dano a um sistema biológico, em condições específicas de exposição. Os xenobióticos são substâncias que o organismo reconhece como estranho, através de mecanismos imunológicos. Intoxicação é um processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas, caracterizado por desequilíbrio fisiológico gerado pelas alterações bioquímicas no organismo. 50 Na intoxicação aguda, os sintomas surgem geralmente em algumas horas após curto período de exposição ao agente tóxico. Poderá se manifestar de forma leve, moderada ou grave, dependendo da quantidade de substância absorvida e da sensibilidade do organismo. A intoxicação subcrônica indica exposição moderada ou pequena a produtos alta ou medianamente tóxicos e as consequências surgem mais lentamente. A intoxicação crônica tem surgimento em meses ou até anos, após exposição a agentes tóxicos, podendo causar danos irreversíveis à saúde do indivíduo. Principais vias de intoxicação por cosméticos • A via dérmica é a mais comum de intoxicações pela maioria dos agentes. A absorção depende principalmente da composição d a formulação, tempo de exposição, solubilidade, grau de ionização, dimensão das moléculas, se ocorre hidrólise no pH da epiderme, estado de hidratação da camada córnea, umidade ambiental, temperatura do corpo e do ambiente e exposição à luz solar Além das dermatites, são consequências da intoxicação por via dérmica: › Fotolergia: indução de resposta alérgica da p ele semelhante à mediada pela radiação UV. › Fototoxicidade: potencial do material induzir uma resposta irritante da pele mediada por irradiação UV. › Teratologia: toxicidade potencial para o feto. Mais comum para produtos de uso interno. São elementos fundamentais na toxicologia cutânea: composição e dosagem da formulação, nível de exposição, quantidade da substância per meada, classe do cosmético na qual o ativo pode ser utilizado, método, duração e frequência de aplicação, quantidade de produto em cada aplicação e possível exposição do produto à luz solar. • Via respiratória: As vias aéreas são revestidas de mucosas altamente irrigadas, portanto o potencial de absorção nesta área é considerado elevado. 51 Produtos que geram gases, fumaças, neblinas e poeiras, principalmente em espaços com pouco arejamento, podem causar intoxicação. Embora não seja a unanimidade, pode-se afirmar que os cosméticos são produtos seguros quando utilizados de maneira adequada e seguindo as recomendações do fabricante. As reações adversas com esses produtos não são frequentes, e, quando ocorrem, na maioria dos casos, é devido ao uso de forma inadequada ou a acidentes. Nas últimas décadas, muitos ingredientes foram banidos da composição de cosméticos em todo o mundo, como o hexaclorofeno (conservante), compostos de mercúrio e halogenados, propelentes de clorofluorcarbono e ingredientes geradores de nitrosaminas. Para garantir a segurança de produtos de higiene, cosméticos e perfumes, são necessárias comprovações que vão desde o histórico de segurança do produto e de suas matérias-primas até a realização de ensaios toxicológicos específicos. Em princípio, para todo produto cosmético, seja ele de grau de risco 1 ou 2, o fabricante tem por obrigação dispor dos dados de segurança. São considerações a serem feitas por tipo de produto: » produtos para uso infantil – irritação cutânea primária; » produtos para a área dos olhos – irritação ocular cumulativa; » produtos para os cabelos, como tinturas e alisantes de cabelo – irritação dérmica e do couro cabeludo; » produtos para proteção das radiações solares – testes de fototoxicidade e fotoalergia; » produtos para a higiene íntima – testes clínicos de irritação de mucosa genital em humanos; » produtos destinados à pele sensível – testes de irritabilidade acumulada, sensibilização, fototoxicidade e fotoalergia cutânea; » produtos que no rótulo contenham as expressões “hipoalergênico”, “não comedogênico”, “não acnogênico”, “dermatologicamente oftalmológico + ginecologicamente testado”, “clinicamente testado”, “produto para gengiva sensível” e “produto para pele + couro cabeludo sensível” – testes comprobatórios dessas 52 propriedades. Também, sempre que a rotulagem mencionar atributos, tais como “não irritante”, “não arde os olhos” etc. São questões problemáticas em toxicologia dos cosméticos: 1. Corantes: As moléculas tintoriais podem causar irritações à pele e ao ouro cabeludo, uma vez que são produtos sintéticos e geralmente misturas de variados polímeros. Muitos fabricantes têm optado por retirar os produtos coloridos do mercado quando há suspeitas de toxicidade, já que os altos custos paraprovar a sua segurança nem sempre justificam economicamente a permanência no mercado. 2. Fragrâncias: também são produtos sintéticos, e o sintoma inicial mais comum é o aparecimento de rinite com a aplicação tópica do produto. 3. Formaldeído: substância de elevado potencial carcinogênico, com o uso permitido pela Anvisa como conservante (até 0,2%) e até 5% para endurecer unhas. O uso nas concentrações permitidas não proporciona alisamento capilar, com risco de forte queda após o procedimento. 4. Tensoativos: como são moléculas anfílicas, o manto hidrolipídico pode ser removido e a perda de água transepidermal facilitada, especialmente os de cadeia pequena, que podem se instalar na pele com mais facilidade. Atualmente existe uma tendência para opção por fosfolipídios orgânicos, que são mais semelhantes aos lipídios da pele. 5. Parabenos (sistema conservante): além do risco de dermatite de contato, existe o risco de lesão de queratinócitos em caso de exposição solar e potencial cancerígeno com uso prolongado. O uso de conservantes naturais tem sido uma opção interessante para a indústria cosmética e para a manipulação, especialmente os produtos orgânicos e de apelo green-concept. 6. Metais: a toxicidade por metais pesados é um problema antigo. Além da indução de dermatites, o potencial tóxico se expande para a carcinogênese, por exemplo, no caso dos sais de alumínio usados em formulações ati-transpirantes. 53 9 FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E IMUNOSSUPRESSORES Fonte: mdsaude.com Os anti-inflamatórios não-esteróides (AINE’s) constituem uma das classes de fármacos mais difundidas em todo mundo, utilizados no tratamento da dor aguda e crônica decorrente de processo inflamatório. Possuem ação anti-inflamatória, analgésica e antipirética por inibição da síntese de prostaglandinas mediante ao bloqueio da ciclooxigenase1 (COX-1) e ciclooxigenase2 (COX-2), criando subgrupos de AINE seletivos e não-seletivos para COX-2. Todavia, as cicloxigenases expressam ações distintas. As propriedades farmacológicas dos AINE’s decorrem principalmente da ação inibitória sobre a COX-2, enquanto as reações adversas são resultantes da inibição da COX-1 (SILVA, 2014). 9.1 Inibidores da ciclo-oxigenase Este grupo compreende os AINEs1 “tradicionais”, assim como os coxibes, que são mais seletivos para a COX-2. Estes fármacos, analgésicos e antipiréticos, estão entre os mais usados de todos anti-inflámatorios. Siglas: AR: artrite reumatoide; C&E: cefaleia e enxaqueca 54 CV: cardiovascular; D: dismenorreia; EA: espondilite anquilosante; G: gota aguda; ME: lesões musculoesqueléticas e dor; OA: osteoartrite; PO: dor pós-operatória; SPM: sem prescrição médica. Comparação entre alguns anti-inflamatórios comuns, inibidores da ciclo-oxigenase Fármaco Tipo Indicação Seletividade para a COX Comentários Aceclofenaco Fenilacetato AR, OA, EA – – Acemetacina Éster indólico DR, OA, ME, PO - Éster da indometacina Ácido mefenâmico Fenamato AR, OA, PO, D - Atividade moderada Ácido tiaprofênico Propionato AR, OA, ME - - Ácido tolfenâmico Fenamato C&E - - Aspirina Salicilato Uso principal CV Fracamente seletiva para COX- 1 Componente de muitos SPM Celecoxibe Coxibe AR, OA, EA Moderadamente seletiva para COX-2 Menos efeitos gastrointestinais Cetoprofeno Propionato AR, OA, G, ME, PO, D Fracamente seletiva para COX- 1 Adequado para doença moderada Cetorolaco Pirrolizina PO Altamente seletiva para COX-1 - Dexcetoprofeno Propionato PO, D, C&E - Isômero de cetoprofeno 55 Dexibruprofeno Propionato OA, ME, D, C&E - Enantiômero ativo do ibuprofeno Diclofenaco Fenilacetato AR, OA, G, ME, PO, C&E Fracamente seletiva para COX-2 Potência moderada. Diversos sais Etodolaco Piranocarcoxilato AR, OA Moderadamente seletiva para COX-2 Possivelmente menos efeitos gastrointestinais Etoricoxibe Coxibe AR, OA, G, EA Muito seletiva para COX-2 - Fenoprofeno Propionato AR, OA, ME, PO Não seletiva Pró-fármaco; ativado no fígado Flurbiprofeno Propionato AR, OA, ME, PO, D, C&E Muito seletiva para COX-1 - Ibuprofeno Propionato AR, OA, ME, PO, D, C&E Fracamente seletiva para COX- 1 Adequado para crianças Indometacina Indol AR, OA, G, ME, PO, D Fracamente seletiva para COX- 1 Adequado para doença moderada a grave Meloxicam Oxicam AR, OA, EA Moderadamente seletiva para COX-2 Possivelmente menos efeitos gastrointestinais Nabumetona Naftilalcetona AR, OA - Pró-fármaco ativado no fígado Naproxeno Propionato AR, OA, G, ME, PO, D Fracamente seletiva para COX- 1 Possivelmente seguro para CV? 56 Parecoxibe Coxibe PO - Pró-fármaco ativado no fígado Piroxicam Oxicam AR, OA, EA Fracamente seletiva para COX- 2 - Sulindaco Indeno AR, OA, G, ME Fracamente seletiva para COX- 2 Pró-fármaco Tenoxicam Oxicam AR, OA, ME - - Fonte: adaptado de RANG & DALE, 2016 e os dados da seletividade para a COX foram testados por WARNER & MITCHELL, 2004 e 2008. 9.2 Fármacos imunossupressores Os imunossupressores são usados na terapia de doenças autoimunes e com o objetivo de prevenir e/ou tratar rejeição de transplantes. Como comprometem as respostas imunológicas, trazem o risco de uma diminuição da resposta a infecções e podem facilitar a emergência de linhagens celulares malignas. No entanto, a relação entre estes efeitos adversos e a potência para prevenir rejeição de enxertos varia com os diferentes fármacos. O uso clínico dos imunossupressores está resumido no quadro clínico. Siglas: AC; anticorpo; AP: artrite psoriática; AR: artrite reumatoide; DC: doença de Crohn; ES: espondilite anquilosante; LES: lúpus eritematoso sistêmico; PP: psoríase em placa (p. ex., cutânea). Alvo Fármaco Tipo Modo de ação Indicação TNF solúvel Adalimumabe Ab monoclonal humanizado Imuno- neutralização AR (moderada- grave), AP, EA, PP, DC 57 Certolizumabe pegol Fragmento de ac peguilado AR (moderada- grave) Golimumabe Ac monoclonal humanizado AR (moderada- grave), AP, PS Infliximabe Ac quimérico neutralizante AR (moderada- grave), AP, EA, PP Etanercepte Proteína de fusão do receptor- armadilha Neutralização AR (moderada- grave), AP, EA, PP IL-1 solúvel Anacinra Versão recombinante da IL-1 Neutralização AR (moderada- grave) IL-6 solúvel Tocilizumabe Ab monoclonal humanizado Neutralização AR (moderada- grave) Células T Abatacepte Proteína de fusão Previne a coestimulação das células T AR (moderada- grave) Basiliximabe Ac monoclonal quimérico Antagonista do receptor de IL-2 Imunossupressão para cirurgia de transplante Balatacepte Proteína de fusão Previne a ativação das celulas T Daclizumabe Ac monoclonal humanizado Antagonista do receptor de IL-2 Natalizumabe Ac monoclonal humanizado VLA-4 em linfócitos (neutraliza) Esclerose múltipla grave Células B Belimumabe Ac monoclonal humanizado Imuno-neutraliza o fator de ativação das células B LES Rituximabe Ac monoclonal quimérico Causa lise das células B AR (moderada- grave), algumas 58 doenças malignas Fonte: adaptado de RANG & DALE, 2016 9.3 Fármacos usados em gota e hiperuricemia • Tratamento da crise aguda de gota: ➢ Um AINE, p. ex., ibuprofeno, naproxeno ➢ A colchicina é útil quando os AINEs são contraindicados ➢ Um glicocorticoide, p. ex., hidrocortisona (oral, intramuscular ou intra- articular) é outra alternativa para AINEs • Para profilaxia (em geral, não deve ser iniciada até que o pacienteesteja assintomático) ➢ Alopurinol ➢ Um fármaco uricosúrico (p. ex., probenecida, sulfimpirazona), para pacientes alérgicos ao alopurinol ➢ Rasburicase por infusão intravenosa para a prevenção e tratamento de hiperuricemia aguda, em pacientes com malignidade hematológica e risco de lise rápida. Administrado por via oral, o alopurinol é bem absorvido e possui meia-vida de 2-3 horas; é convertido em aloxantina, cuja meia-vida é de 18-30 horas. O alopurinol aumenta o efeito da mercaptopurina, um antimetabólito usado na quimioterapia do câncer, e da azatioprina, que é metabolizada em mercaptopurina. O alopurinol também aumenta o efeito de outro fármaco antineoplásico, a ciclofosfamida. O efeito da varfarina aumenta porque seu metabolismo é inibido. 59 10 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA CARDIOVASCULAR E VASCULAR Fonte: saudavelefeliz.com O coração humano é um órgão tanto mecânico quanto elétrico. Para perfundir o corpo adequadamente com sangue, os componentes mecânicos e elétricos do coração precisam atuar juntos em harmonia. O componente mecânico bombeia o sangue, enquanto o componente elétrico controla o ritmo da bomba (ARMSTRONG, 2012). Quando o componente mecânico falha, apesar de um ritmo normal, pode ocorrer insuficiência cardíaca. Quando o componente elétrico passa a funcionar de modo inapropriado (arritmia), os miócitos cardíacos não conseguem se contrair de modo sincrônico e ocorre comprometimento do bombeamento efetivo. A ocorrência de alterações no potencial de membranas das células cardíacas afeta diretamente o ritmo cardíaco, e os agentes antiarrítmicos atuam, em sua maioria, ao modular a atividade dos canais iônicos na membrana plasmática. 10.1 Hipertensão A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma situação clínica de natureza multifatorial caracterizada por níveis de pressão arterial (PA) elevados. A HAS multiplica o risco de danos cardiovasculares, contribuindo para aumentar a morbimortalidade e os custos sociais com invalidez e absenteísmo ao trabalho. O controle adequado dessa situação reduz 60 significativamente os riscos individuais e os custos sociais. (PELIZZARO, 2003 apud SBC, 2003). A hipertensão arterial tem um componente familiar, cerca da metade dos pacientes hipertensos apresentam um traço familiar para hipertensão ou mortalidade cardiovascular prematura em seus parentes de primeiro grau. Um dos principais obstáculos no tratamento da hipertensão consiste na natureza em grande parte assintomática da doença, mesmo com elevação pronunciada da pressão arterial sistêmica. (GOLAN, 2014). Os principais grupos de medicamentos anti-hipertensivos são: • Bloqueadores adrenérgicos: são drogas que intervêm na transmissão simpática. Exemplos: atenolol, doxazosina, propranolol; • Bloqueadores dos canais de cálcio: atuam ao bloquear a entrada de cálcio em resposta à despolarização; dilatam os vasos de resistência de capacitância. Exemplos: nimodipina, verapamil, nifedipina, diltiazem, anlodipina; • Diuréticos: drogas que aumentam a excreção de sódio e água do corpo, através de uma ação sobre os rins. Seu efeito primário consiste em diminuir a reabsorção de sódio e de cloreto do filtrado, sendo o aumento da perda de água secundário à excreção aumentada de sal. Exemplos: furosemida, espironolactona, hidroclorotiazida; • Drogas que intervêm no sistema renina-angiotensina: a enzima Angiotensina II contribui para disfunção endotelial, alteração na hemodinâmica renal e hipertrofia vascular e cardíaca. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) impedem a conversão de angiotensina I em angiotensina II, que é um vasoconstritor potente, atenuando assim seus efeitos. Os inibidores da enzima conversora podem ser usados em qualquer etapa do esquema terapêutico, incluindo a primeira como monoterapia. O resultado clínico do sistema de inibição renina-angiotensina inclui decréscimo no infarto do miocárdio, angina, derrame cerebral e doença ou mortalidade associada à insuficiência 61 cardíaca. Exemplos: enalapril, lisinopril, captopril. Há, também, antagonista dos receptores de angiotensina II, por exemplo: losartan; Cardiopatia isquêmica Os depósitos ateromatosos são universais nas artérias coronárias dos adultos que vivem em países desenvolvidos. São assintomáticos na maior parte da história natural da doença, mas podem progredir insidiosamente, culminando em infarto agudo do miocárdio e suas complicações, incluindo arritmia e insuficiência cardíaca. Consequências importantes da aterosclerose coronariana incluem: • Angina (precordialgia causada por isquemia cardíaca); • Infarto do miocárdio. Angina Ocorre angina quando a oferta de oxigênio ao miocárdio é insuficiente para suas necessidades. A dor tem distribuição característica no peito, membro superior e pescoço, e é ocasionada por esforço físico, frio ou agitação. Clinicamente são reconhecidos três tipos de angina: estável, instável e variante. Infarto do miocárdio Ocorre infarto do miocárdio quando uma artéria coronária é bloqueada por trombo. O evento pode ser fatal e é causa comum de morte, geralmente em decorrência de insuficiência mecânica Um intuito terapêutico importante é a prevenção de dano isquêmico irreversível após um episódio de trombose coronariana. O essencial é abrir artéria obstruída, e é importante que isso seja prontamente realizado, independente da maneira de fazê-lo. Caso logisticamente possível, a angioplastia (realizada utilizando um cateter com um balão inflável próximo da extremidade, com um antagonista da glicoproteína IIb/IIIa– para evitar a reobstrução) é mais eficaz do que os fármacos trombolíticos. Os principais medicamentos incluem fármacos que melhoram a função cardíaca através da manutenção da oxigenação e redução do trabalho cardíaco, assim como os utilizados para o tratamento da dor e prevenção de trombose posterior. São utilizados em combinação, e compreendem: 62 • Combinações de fármacos trombolíticos, antiplaquetários (aspirina e clopidogrel) e antitrombóticos (uma preparação de heparina) para abrir a artéria bloqueada e impedir a reoclusão; • Oxigênio se há hipóxia arterial; • Opioides (administrados juntamente com um antieméticos) para prevenir a dor e reduzir a atividade simpática excessiva; • Nitrato orgânico; • β-bloqueadores; • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECAs) ou bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina. Os antagonistas dos receptores β-adrenérgicos reduzem o trabalho cardíaco e, assim, as necessidades metabólicas do coração, e são usados assim que o paciente está estável. Os ECAs também reduzem o trabalho cardíaco e melhoram a sobrevida ao abrirem a artéria coronária (com angioplastia ou fármaco trombolítico) e tratamento antiplaquetário. 10.2 Fármacos que afetam a função cardíaca Os fármacos com ação importante sobre o coração podem ser divididos em três grupos. Fármacos que afetam diretamente as células do miocárdio. Estes incluem: • Neurotransmissores autônomos e fármacos relacionados; • Antiarrítmicos; • Glicosídeos cardíacos e outros fármacos inotrópicos; • Fármacos e hormônios variados; (p. ex., doxorrubicina, tiroxina; glucagon). Fármacos que afetam indiretamente a função cardíaca. Estes têm ações em outras partes do sistema vascular. 63 Alguns antianginosos (p. ex., nitratos) caem nesta categoria, assim como muitos fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca (p. ex. diuréticos e IECAs). Antagonistas do cálcio. Estes afetam a função cardíaca por ação direta sobre as células do miocárdio e, também, indiretamente, por relaxamento da musculatura lisa vascular. Fonte: Adaptado de PELIZZARO, PANCHENIAK, 2003 10.3 Fármacos antiarrítmicos O tratamento de emergência de arritmiasgraves geralmente se faz por meios físicos (p. ex., marca-passo ou cardioversão elétrica por aplicação de um choque de corrente direta ao tórax ou por meio de um aparelho implantado), e não por fármacos. (PELIZZARO, 2003) Antiarrítmicos não classificados no sistema de Vaughan Williams: Fármaco Uso Atropina • Bradicardia sinusal Epinefrina (adrenalina) • Parada cardíaca Isoprenalina • Bloqueio cardíaco Digoxina • Fibrilação atrial rápida Adenosina • Taquicardia supraventricular Cloreto de cálcio • Taquicardia ventricular por hipercalemia Cloreto de magnésio • Fibrilação ventricular, toxicidade pela digoxina Fonte: PELIZZARO, PANCHENIAK, 2003 64 Resumo dos antiarrítmicos (Classificação de Vaughan Williams): • Classe I: fármacos que bloqueiam canais de sódio sensíveis a voltagem. São subdivididos em: Ia, Ib e Ic. • Classe II: antagonistas dos receptores β-adrenérgicos. • Classe III: fármacos que prolongam, substancialmente, o potencial de ação cardíaco. • Classe IV: antagonistas do cálcio. Classe Exemplo(s) Mecanismo Ia Disopiramida Bloqueio de canais de sódio (dissociação intermediária) Ib Lidocaína Bloqueio de canais de sódio (dissociação rápida) Ic Flecainida Bloqueio dos canais de sódio (dissociação lenta) II Propranolol Antagonismo dos receptores β- adrenérgicos III Amiodarona, sotalo Bloqueio de canais de potássio IV Verapamil Bloqueio de canais de cálcio Fonte: PELIZZARO, 2003 Mecanismos de ação Fármacos da classe I: Os fármacos da classe I bloqueiam os canais de sódio, assim como o fazem os anestésicos locais, ligando-se a pontos na subunidade α. Como isto inibe a propagação do potencial de ação em muitas células excitáveis, é denominado atividade “estabilizadora de membrana”, termo que é melhor evitar agora que o mecanismo iônico já foi compreendido. O efeito característico sobre o potencial de ação é reduzir a velocidade máxima de despolarização durante a fase 0. A razão para a subdivisão destes fármacos em classes Ia, Ib e Ic é que os mais antigos, quinidina e procainamida (classe Ia), têm efeitos diferentes de muitos dos 65 fármacos desenvolvidos mais recentemente, embora todos compartilhem o mesmo mecanismo básico de ação. Os fármacos da classe Ib, por exemplo a lidocaína, associam-se e desassociam-se rapidamente no decurso de tempo do batimento cardíaco normal. O fármaco liga-se a canais abertos durante a fase 0 do potencial de ação (afetando muito pouco a velocidade de elevação, mas deixando muitos dos canais bloqueados no momento em que o potencial de ação chega ao pico). Ocorre dissociação no momento do potencial de ação seguinte, desde que o ritmo cardíaco seja normal. Um batimento prematuro, contudo, será abortado porque os canais ainda estão bloqueados. Além disso, os fármacos da classe Ib se ligam, seletivamente, aos canais inativados, e, deste modo, bloqueiam, preferencialmente, quando as células estão despolarizadas, por exemplo, na isquemia. Os fármacos da classe Ic, como a flecainida e a encainida, associam-se e dissociam-se muito mais lentamente, chegando assim a um nível de equilíbrio que não varia de forma apreciável durante o ciclo cardíaco. A condução é acentuadamente inibida através do sistema His-Purkinje. A classe Ia, que é o grupo mais antigo (p. ex., quinidina, procainamida, disopiramida), encontra-se a meio caminho em suas propriedades entre Ib e Ic, mas, além disso, prolonga a repolarização, se bem que menos acentuadamente que os fármacos da classe III. Fármacos da classe II: Os fármacos da classe II compreendem os antagonistas dos receptores β-adrenérgicos. A epinefrina pode causar arritmias por seus efeitos sobre o potencial de marca-passo e sobre a corrente lenta de entrada de Ca2+. As arritmias ventriculares após infarto do miocárdio são decorrentes, em parte, do aumento da atividade simpática, fornecendo uma fundamentação para usar β- bloqueadores nessa situação. A condução AV depende, criticamente, da atividade simpática; os β-bloqueadores aumentam o período refratário do nó AV e podem, portanto, impedir crises recorrentes de taquicardia supraventricular (TSV). Os β- bloqueadores também são usados para prevenir crises paroxísticas de fibrilação atrial quando estas ocorrem em situação de ativação simpática. 66 Fármacos da classe III: A categoria da classe III baseou-se, originalmente, no comportamento incomum de um único fármaco, a amiodarona já tenham sido descritos. Tanto a amiodarona como o sotalol têm mais de um mecanismo de ação antiarrítmica. A característica especial que os define como fármacos da classe III é que prolongam, substancialmente, o potencial de ação cardíaco. O prolongamento do potencial de ação aumenta o período refratário, sendo responsável por atividade antiarrítmica potente e variada, por exemplo, interrompendo taquicardias reentrantes e suprimindo atividade ectópica. Fármacos da classe IV: Os agentes da classe IV atuam bloqueando canais de cálcio sensíveis à voltagem. Os fármacos da classe IV em uso terapêutico para arritmias (p. ex., verapamil) atuam sobre os canais do tipo L. Os fármacos da classe IV tornam mais lenta a condução nos nós AS e AV, onde a propagação do potencial de ação depende da corrente de entrada lenta de Ca2+, tornando mais lento o coração e extinguindo a TSV por meio de bloqueio AV parcial. Abreviam o platô do potencial de ação e reduzem a força de contração. A redução da entrada de Ca2+ reduz a pós- despolarização e, deste modo, suprime os batimentos ectópicos prematuros. 10.4 Fármacos que aumentam a contração do miocárdio Glicosídeos cardíacos Os glicosídeos cardíacos são provenientes da dedaleira (Digitalis spp.) e plantas relacionadas. A planta contém vários glicosídeos cardíacos com ações semelhantes. Sua estrutura química básica consiste em três componentes: uma estrutura açúcar, um esteroide e um anel lactona. A lactona é essencial para a atividade, as outras partes da molécula determinam a potência e as propriedades farmacocinéticas. Terapeuticamente, o glicosídeo cardíaco mais importante é a digoxina. Ações e efeitos adversos 67 As principais ações dos glicosídeos são sobre o coração, mas alguns dos seus efeitos adversos são extra cardíacos, incluindo náuseas, vômitos, diarreia e confusão. Os efeitos cardíacos são: • Redução da frequência cardíaca e da velocidade de condução nó AV, devido à atividade vagal aumentada • Aumento da força de contração • Distúrbios de ritmo, notadamente: ➢ Bloqueio da condução AV ➢ Aumento da atividade marca-passo ectópica. Os efeitos adversos são comuns e podem ser graves. Uma das principais desvantagens dos glicosídeos em uso clínico é a estreita margem entre eficácia e toxicidade. 10.5 Fármacos antianginosos A angina é tratada pelo uso de fármacos que melhoram a perfusão do miocárdio ou reduzem sua demanda metabólica, ou ambos. Dois dos principais grupos de fármacos, os nitratos orgânicos e os antagonistas do cálcio, são vasodilatadores e produzem os dois efeitos. Quanto ao terceiro grupo, os β-bloqueadores reduzem a frequência cardíaca e consequentemente reduzem a demanda metabólica. A ivabradina reduz a frequência cardíaca por inibição da corrente If do nó sinusal, e é uma alternativa aos β-bloqueadores para pacientes nos quais estes não são tolerados ou estão contraindicados. A ranolazina foi introduzida recentemente como adjunto de outros fármacos antianginosos: esta inibe a corrente tardia de sódio e, desse modo, reduz indiretamente o cálcio intracelular e a força de contração, sem afetar a frequência cardíaca; estão em desenvolvimento inibidores mais potentes e seletivos da corrente de sódio persistente. 1) Nitratos orgânicos 68 O nitrito de amila agora foi substituído pelo trinitrato de glicerila (TNG). Vários nitratosorgânicos correlatos, dos quais o mais importante é o mononitrato de isossorbida, apresentam ação prolongada. O nicorandil, um ativador de canais de potássio com atividade nitrovasodilatadora adicional, é por vezes combinado como outros tratamentos antianginosos em casos resistentes. A ação antianginosa dos nitratos envolve: • Redução do trabalho cardíaco, pela redução da pré-carga (venodilatação) e dos pós carga (redução da onda reflexa arterial), levando à redução da necessidade de oxigênio pelo miocárdio; • Redistribuição do fluxo coronariano em direção a áreas isquêmicas através de colaterais; • Alívio do espasmo coronariano. Além dos seus efeitos sobre a musculatura lisa, o óxido nítrico (NO) aumenta a velocidade de relaxamento do músculo cardíaco (denominada ação “lusiotrópica”). 2) Ativadores de canais de potássio O nicorandil combina ativação do canal de potássio KATP com ações nitrovasodilatadoras (como doador de óxido nítrico). É um dilatador arterial e venoso e causa os efeitos indesejáveis esperados de cefaleia, rubor e tonturas. É usado em pacientes que continuam sintomáticos apesar de conduta ótima com outros fármacos, muitas vezes enquanto aguardam cirurgia ou angioplastia. 3) Antagonistas de receptores β-adrenérgicos Os β -bloqueadores são importantes na profilaxia da angina estável e no tratamento de pacientes com angina instável. Funcionam, para estas indicações, reduzindo o consumo cardíaco de oxigênio. Também reduzem o risco de morte após infarto do miocárdio, provavelmente através da sua ação antiarrítmica. Quaisquer efeitos sobre o diâmetro dos vasos coronários são de importância menor, embora esses fármacos sejam evitados na angina variante em razão do risco teórico de que aumentem o espasmo coronariano. 69 4) Antagonistas do cálcio O termo “antagonistas do cálcio” é usado para fármacos que bloqueiam a entrada celular de Ca2+ através dos canais de cálcio, e não suas ações intracelulares. Os antagonistas do cálcio terapeuticamente importantes atuam sobre os canais do tipo L. Os antagonistas do cálcio do tipo L compreendem três classes quimicamente distintas: fenilalquilaminas (p. ex., verapamil), di-hidropiridinas (p. ex., nifedipino, anlodipino) e benzotiazepinas (p. ex., diltiazem). As paredes das artérias, arteríolas, vênulas e veias contêm musculatura lisa cujo estado contrátil é controlado por hormônios circulantes e por mediadores liberados, localmente, das terminações nervosas simpáticas e células endoteliais. Essas substâncias agem, principalmente, regulando o Ca2+ nas células musculares lisas vasculares As ações dos fármacos sobre o sistema vascular podem ser divididas em efeitos sobre: • A resistência vascular sistêmica total (“periférica”), um dos principais determinantes na pressão arterial; • A resistência de certos leitos vasculares individuais, a qual determina a distribuição local do fluxo sanguíneo para e em diferentes órgãos; tais efeitos são relevantes para o tratamento farmacológico da angina, fenômeno de Raynaud, hipertensão pulmonar e choque circulatório; • A complacência da aorta e a reflexão de onda de pulso, que são relevantes para o tratamento da hipertensão, da insuficiência cardíaca e da angina; • O tônus venoso e o volume sanguíneo (a “plenitude” da circulação), que juntos determinam a pressão venosa central e são relevantes para o tratamento da insuficiência cardíaca e da angina; os diuréticos (que reduzem o volume sanguíneo); ateroma e trombose. • A formação de novos vasos (angiogênese) – importante, por exemplo, na retinopatia diabética e no tratamento de doença maligna. O músculo liso vascular é controlado por mediadores secretados por nervos simpáticos e endotélio vascular, e por hormônios circulantes. 70 A contração da célula muscular lisa é iniciada por uma elevação da [Ca2+]i, que ativa a quinase de cadeias leves da miosina, causando fosforilação da miosina. Alternativamente, o que ocorre é sensibilização dos miofilamentos ao Ca2+ por inibição da miosina fosfatase. Fármacos podem causar contração através de um ou mais mecanismos: • liberação de Ca2+ através do trisfosfato de inositol • despolarização da membrana, abrindo os canais de cálcio controlados por voltagem e causando entrada de Ca2+ • aumento da sensibilidade ao Ca2+ através de ações sobre a quinase de cadeia leve da miosina e/ou miosina fosfatase . Fármacos causam relaxamento por: • Inibição da entrada de Ca2+ através dos canais de cálcio operados por voltagem, direta (p. ex., nifedipino) ou indiretamente por hiperpolarização da membrana (p. ex., ativadores dos canais de potássio, como o metabólito ativo do minoxidil) • Aumento do AMPc ou GMPc intracelulares; o AMPc inativa a quinase da cadeia leve da miosina e facilita o efluxo de Ca2+; o GMPc opõe-se aos aumentos de [Ca2+] induzidos por agonistas. Fonte: Adaptado de RANG & DALE, 2016 10.6 Sistema renina-angiotensina O sistema renina-angiotensina tem ação sinérgica com a divisão simpática do sistema nervoso, aumentando, por exemplo, a liberação de norepinefrina das terminações nervosas simpáticas. Estimula a secreção de aldosterona e desempenha um papel central no controle da eliminação de Na+ e do volume de líquido, bem como do tônus vascular. A renina é uma aspartil protease produzida e secretada pelo aparelho justaglomerular, um conjunto especializado de células musculares lisas que revestem as arteríolas aferentes e eferentes do glomérulo renal. O resultado final da secreção 71 de renina consiste em vasoconstrição e retenção de Na+, duas ações que mantêm a perfusão tecidual e que aumentam o volume de líquido extracelular. A atividade nervosa simpática renal, os agonistas de receptores β - adrenérgicos e a PGI2 estimulam diretamente a secreção de renina, enquanto a angiotensina II causa inibição em retroalimentação (feedback). O peptídeo natriurético atrial também inibe a secreção de renina. A renina é removida rapidamente do plasma. Atua sobre o angiotensinogênio (uma globulina plasmática produzida no fígado), destacando um decapeptídeo, a angiotensina I. Fonte: revista.hupe.uerj.br A angiotensina I está inativa, mas é convertida pela enzima conversora de angiotensina (ECA) em um octapeptídeo, a angiotensina II, que é um potente vasoconstritor. A angiotensina II é substrato para enzimas (aminopeptidases A e N) que removem resíduos isolados de aminoácidos, dando origem, respectivamente, à angiotensina III e à angiotensina IV. A angiotensina III estimula a secreção de aldosterona e está envolvida na sensação de sede. A angiotensina IV também tem ações distintivas, provavelmente através de seu próprio receptor, incluindo a liberação endotelial do inibidor-1 do ativador do plasminogênio. Os receptores para angiotensina IV têm distribuição característica, inclusive no hipotálamo. 72 10.7 Fármacos vasoativos Os fármacos podem afetar a musculatura lisa vascular, atuando diretamente sobre as células musculares lisas, ou indiretamente, por exemplo, sobre as células endoteliais, sobre as terminações nervosas simpáticas ou sobre o sistema nervoso central (SNC). Classificação dos fármacos vasoativos de ação indireta: Local Mecanismo Exemplos Vasoconstritores Nervos simpáticos Liberação de norepinefrina (noradrenalina) Tiramina Bloqueia captura de norepinefrina Cocaína Endotélio Liberação de endotelina Angiotensina II (parcialmente) Vasodilatadores Nervos simpáticos Inibem a liberação de norepinefrina Prostaglandina E2, guanetidina Endotélio Liberação de óxido nítrico Acetilcolina, substância P Sistema nervoso central Inibição vasomotora Anestésicos Enzimas Inibição da enzima conversora de angiotensina Captopril Fonte: Adaptado de RANG & DALE, 2016 10.8 Fármacos vasoconstritores •Angiotensina II 73 O papel fisiológico do sistema renina-angiotensina foi descrito anteriormente. A angiotensina II é aproximadamente 40 vezes mais potente que a norepinefrina para elevar a pressão arterial. Assim como os agonistas α 1-adrenérgicos, causa constrição principalmente da vasculatura cutânea, esplâncnica e renal, com menos efeito sobre o fluxo sanguíneo para o cérebro e a musculatura esquelética. Não tem usos clínicos de rotina, residindo sua importância terapêutica no fato de que outros fármacos (p. ex., captopril e losartana; afetam o sistema cardiovascular por redução de sua produção ou ação. • Hormônio antidiurético O hormônio antidiurético (ADH, também conhecido como vasopressina) é um hormônio peptídico da neuro-hipófise. É importante por sua ação antidiurética sobre os rins, mas também é um vasoconstritor potente na pele e em alguns outros leitos vasculares. Seus efeitos são iniciados por dois receptores distintos (V1 e V2). A retenção de água é mediada através dos receptores V2, ocorre em baixas concentrações plasmáticas de ADH e envolve ativação da adenilil ciclase nos ductos coletores renais. A vasoconstrição é mediada através dos receptores V1 (dois subtipos, exige concentrações mais altas de ADH e envolve ativação da fosfolipase C. O ADH causa vasoconstrição generalizada, incluindo os vasos celíacos, mesentéricos e coronários. Afeta, também, outros músculos lisos (p. ex., gastrointestinais e uterinos) e causa cólicas abdominais por essa razão. É ocasionalmente usado para tratar pacientes com hemorragia em varizes esofágicas e hipertensão porta antes de tratamento mais definitivo. • Endotelina Apresentam ações vasodilatadoras e vasoconstritoras, mas predominando a vasoconstrição. A administração intravenosa causa vasodilatação transitória seguida por vasoconstrição profunda e de longa duração. As endotelinas são vasoconstritores ainda mais potentes que a angiotensina II. 74 10.9 Fármacos vasodilatadores Os vasodilatadores têm papel importante no tratamento de problemas comuns, incluindo hipertensão, insuficiência cardíaca e angina de peito, bem como certos distúrbios menos comuns, porém graves, incluindo hipertensão pulmonar e doença de Raynaud. • Vasodilatadores de ação direta Os alvos sobre os quais estes fármacos agem para relaxar a musculatura lisa vascular incluem os canais de cálcio dependentes de voltagem na membrana plasmática, os canais do retículo sarcoplasmático (liberação ou recaptação de Ca2+) e as enzimas que determinam a sensibilidade das proteínas contráteis ao Ca2+. Antagonistas do cálcio Fármacos que ativam canais de potássio Assim como suas ações no coração, causam vasodilatação arterial generalizada, embora agentes individuais exibam padrões distintos de potência regional. As di-hidropiridinas (p. ex., nifedipino) atuam preferencialmente na musculatura lisa, enquanto o verapamil atua no coração (efeitos cronotrópico e inotrópico negativos), além de causar vasodilatação; o diltiazem apresenta especificidade intermediária. Consequentemente, as di-hidropiridinas de ação rápida geralmente produzem taquicardia reflexa, enquanto o verapamil e o diltiazem não o fazem. Alguns fármacos (p. ex., minoxidil e diazóxido) relaxam a musculatura lisa por indução à abertura de canais KATP. Essa ação hiperpolariza as células e “desliga” os canais de cálcio dependentes de voltagem. Os ativadores dos canais de potássio trabalham pela ação antagonizante da ATP intraceluar nestes canais. Fonte: Adaptado de Rang & Dale, 2016 75 10.10Vasodilatadores de ação indireta Os dois principais grupos de fármacos vasodilatadores de ação indireta são inibidores dos principais sistemas vasoconstritores, como o sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Segundo Rang & Dale (2016): Acredita-se que o controle central da vasoconstrição mediada pelo simpático envolva os receptores α2-adrenérgicos e outra classe de receptores, denominados receptores de imidazolina I1, presentes no tronco encefálico, na parte rostral anterolateral do bulbo. A clonidina (agonista do receptor α2-adrenérgico, agora amplamente obsoleto como fármaco anti-hipertensivo) e a moxonidina, agonista do receptor I1, diminuem a pressão sanguínea através da redução da atividade simpática no sistema nervoso central. Além disto, muitos vasodilatadores (p. ex., acetilcolina, bradicinina, substância P) exercem alguns ou todos os seus efeitos por estimulação da biossíntese de prostaglandinas vasodilatadoras ou de NO (ou de ambos) pelo endotélio vascular (ver anteriormente e, causando, assim, antagonismo funcional do tônus constritor promovido pelos nervos simpáticos e pela angiotensina II. Resumo dos fármacos que inibem o sistema renina-angiotensina-aldosterona Classe Fármaco Farmacocinética Efeitos adversos Usos Observações Inibidores de ECA Captopril Ação curta t1/2 ∼2 h Doses 2-3 vezes por dia Tosse Hipotensão Proteinúria Distúrbios do paladar Hipertensão Insuficiência Cardíaca após IM Os IECAs são depurados principalmente por eliminação renal Enalapril Pró-fármaco – o metabólito ativo é o enalaprilate t1/2 ∼11 h Doses 1-2 vezes por dia Tosse Hipotensão Comprometimento renal reversível (em pacientes com estenose da artéria renal) Como o captopril Lisinopril, perindopril, ramipril, trandalopril são semelhantes Alguns estão aprovados para outros usos (p. ex., AVC, hipertrofia ventricular esquerda) 76 Bloqueadores de receptores de angiotensina (BRAs) Valsartana t1/2 ∼6 h Hipotensão Dano renal reversível (em pacientes com Hipertensão Insuficiência cardíaca Os BRAs são depurados por metabolismo hepático Losartana Metabólito de ação prolongada t1/2 ∼8 h Como a valsartana Como a valsartana Nefropatia diabética A irbesartana é similar, com t1/2 ∼10-15 h Candesarta na t1/2 5-10 h Ação prolongada, pois o complexo com o receptor é estável Como a valsartana Como a valsartana Administrado na forma de prófármaco éster (candesartana cilexetil) Inibidor da renina Alisquireno Baixa biodisponibilidade Oral t1/2 24 h Como a valsartana, e diarreia Hipertensão essencial Contraindicado em pacientes com doença renal, diabetes Antagonistas da aldosterona Eplerenona t1/2 3-5 h Como a valsartana, especialmente hipercalemia Náuseas, diarreia Insuficiência cardíaca após IM Espironola ctona Pró-fármaco convertido em canrenona, que possui t1/2 ∼24 h Como a eplerenona, e efeitos estrogênicos (ginecomastia, irregularidades menstruais, disfunção erétil) Hiperaldoster onismo primário Insuficiência cardíaca Edema e ascite (p. ex., na cirrose hepática) Fonte: Adaptado de RANG & DALE, 2016 apud • Liberação de renina: os bloqueadores β-adrenérgicos inibem a liberação de renina (embora suas outras ações possam acarretar pequeno aumento da resistência vascular periférica); • Atividade da renina: inibidores da renina inibem a conversão de angiotensinogênio em angiotensina I; • ECA: inibidores da ECA (IECAs) bloqueiam a conversão de angiotensina I em angiotensina II; • Receptores tipo 1 da angiotensina II (AT1): antagonistas dos receptores AT1; 77 • Receptores da aldosterona: antagonistas dos receptores da aldosterona Inibidores de renina: O aliskireno, um inibidor da renina, não peptídico, ativo por via oral, foi desenvolvido e registrado como fármaco anti-hipertensivo. Ele diminui a pressão sanguínea, mas não tem obtido sucesso clinicamente, com efeitos adversos que incluem diarreia (comum), insuficiência renal aguda e, raramente, angioedema e reações alérgicas graves. Inibidores da enzimaconversora de angiotensina: O primeiro IECA a ser comercializado foi o captopril, um dos primeiros exemplos de projeto de fármaco bem- sucedido baseado no conhecimento químico da molécula-alvo. Verificou-se também que vários peptídeos pequenos eram inibidores fracos da enzima. O captopril foi elaborado para combinar as propriedades estéricas de tais antagonistas peptídicos em uma molécula não peptídica, que era ativa quando dada por via oral. Apresenta uma meia-vida plasmática curta (cerca de 2 h) e deve ser administrado duas a três vezes ao dia. Muitos dos inibidores da ECA desenvolvidos subsequentemente, que são amplamente usados na clínica, têm uma duração de ação mais longa e são administrados uma vez ao dia. Efeitos farmacológicos Os inibidores da ECA causam apenas uma pequena queda da pressão arterial em indivíduos saudáveis que estejam consumindo a quantidade de sal contida em uma dieta ocidental normal, porém uma queda muito maior nos hipertensos, particularmente naqueles em que a secreção de renina esteja aumentada (p. ex., nos pacientes que recebem diuréticos). Os IECAs afetam os vasos de capacitância e de resistência e reduzem a carga cardíaca, bem como a pressão arterial. Atuam, preferencialmente, sobre os leitos vasculares sensíveis à angiotensina, que incluem os rins, o coração e o cérebro. Essa seletividade pode ser importante para sustentar a perfusão adequada desses órgãos vitais em face da redução da pressão de perfusão. A estenose crítica da artéria renal é uma exceção, caso em que a inibição da ECA acarreta queda da taxa de filtração glomerular 78 10.11Insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica caracterizada por sintomas de falta de ar e/ou fadiga, em geral com sinais de sobrecarga de líquido (edema, estertores durante ausculta do tórax). A anormalidade subjacente fisiológica é um débito cardíaco inadequado para satisfazer as demandas metabólicas do organismo, de início durante o exercício, mas, com o progresso da síndrome, também em repouso. Pode ser causada por doença do próprio miocárdio (mais comumente em consequência de doença da artéria coronária, mas também de outras patologias incluindo fármacos cardiotóxicos como a doxorrubicina ou o trastuzumab) ou por fatores circulatórios, como sobrecarga de volume (p. ex., regurgitação valvar ou shunts arteriovenosos causados por defeitos congênitos) ou sobrecarga de pressão (p. ex., valvas estenosadas – ou seja, estreitadas –, hipertensão arterial ou pulmonar). Os fármacos usados na insuficiência cardíaca atuam de vários modos complementares, com os seguintes efeitos. Aumento da natriurese: Os diuréticos, especialmente os de alça (Ca), são importantes para aumentar a eliminação de sal e água, especialmente se houver edema pulmonar. Na insuficiência cardíaca crônica, os fármacos que demonstram melhorar a sobrevivência foram todos estudados em pacientes tratados com diuréticos. Inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona: Este sistema permanece inadequadamente ativado em pacientes com insuficiência cardíaca, especialmente quando tratados com diuréticos. Os β -bloqueadores inibem a secreção de renina e são usados em pacientes clinicamente estáveis com insuficiência cardíaca crônica. Os IECAs bloqueiam a formação de angiotensina II e os BRAs inibem sua ação, reduzindo assim a resistência vascular, melhorando a perfusão tecidual e reduzindo a pós-carga cardíaca. Causam também natriurese, por inibição da secreção de aldosterona e redução do efeito estimulante direto da angiotensina II sobre a reabsorção de Na+ e HCO3 − na porção inicial do túbulo contorcido proximal. O mais importante de tudo é que prolongam a vida. 79 Bloqueio de receptores β -adrenérgicos: A insuficiência cardíaca é acompanhada por ativação potencialmente perigosa do sistema nervoso simpático, bem como do sistema renina-angiotensina, fornecendo um embasamento para o uso de β-bloqueadores. A maioria dos médicos mostrou-se muito preocupada com essa estratégia pela ação inotrópica negativa desses fármacos, porém, quando iniciados em doses baixas e aumentados lentamente, o metoprolol, o carvedilol e o bisoprolol melhoram a sobrevida quando acrescentados a tratamento ideal em pacientes clinicamente estáveis com insuficiência cardíaca crônica. Bloqueio de receptores de ADH: O ADH é liberado na insuficiência cardíaca e pode contribuir para vasoconstrição indesejada (através de receptores V1A) e hiponatremia (via receptores V2).15 Estão disponíveis dois antagonistas não peptídicos do receptor de vasopressina (“vaptanas”) e estão mais em desenvolvimento (RANG & DALE, 2016 apud FINLEY et al., 2008). A conivaptana é um antagonista V1A/V2 não seletivo, licenciado para o tratamento da síndrome de secreção inadequada de ADH, e intravenosamente, para o tratamento por curto período de insuficiência cardíaca hipovolêmica (ou euvolêmica). A tolvaptana é um antagonista seletivo do receptor V2 aprovado para o tratamento oral de hiponatremia hipovolêmica (ou euvolêmica) clinicamente significativa. A longo prazo, nenhum dos dois foi capaz de melhorar a sobrevida da insuficiência cardíaca, e atualmente seu possível lugar na terapia é alvo de intensa investigação (RANG & DALE, 2016 apud JESSUP et al., 2009). Relaxamento da musculatura lisa vascular: O trinitrato de glicerila é infundido por via intravenosa para o tratamento da insuficiência cardíaca aguda. Seu efeito venodilatador reduz a pressão venosa, e seus efeitos sobre a complacência arterial e reflexão de onda reduzem o trabalho cardíaco. A combinação de hidralazina (para reduzir a pós-carga) com um nitrato orgânico de ação prolongada (para reduzir a pré-carga) em pacientes com insuficiência cardíaca crônica melhorou a sobrevida em um ensaio controlado aleatório (randomizado) na América do Norte, mas os resultados sugeriram que o benefício se restringia a pacientes de origem africana. Este grupo étnico é geneticamente muito heterogêneo e não se sabe quais outros grupos se beneficiariam de tal tratamento. Aumentar a força de contração cardíaca: Os glicosídeos cardíacos são usados em pacientes com insuficiência cardíaca que também apresentem fibrilação atrial rápida crônica (nos quais melhora a função cardíaca por meio da diminuição da frequência ventricular e, consequentemente, do enchimento ventricular, além do 80 benefício da sua ação inotrópica positiva), ou em pacientes que continuem sintomáticos apesar de tratamento com um diurético e um IECA. A digoxina não reduz a mortalidade em pacientes insuficientes com ritmo sinusal que estejam de maneira geral sendo tratados de forma ótima, mas realmente melhora os sintomas e reduz a necessidade de internações. Diferentemente, os inibidores de fosfodiesterase aumentam o débito cardíaco, mas aumentam a mortalidade na insuficiência cardíaca, provavelmente através de arritmias cardíacas. A dobutamina (um agonista β1-adrenérgico seletivo) é usada por via intravenosa quando se necessita de uma resposta rápida em curto prazo, por exemplo, após cirurgia cardíaca. Fármacos usados na insuficiência cardíaca crônica • Diuréticos de alça, por exemplo, furosemida. • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (p. ex., ramipril) • Antagonistas dos receptores subtipo 1 da angiotensina II (p. ex., valsartana, candesartana). • Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos (p. ex., metoprolol, bisoprolol, carvedilol), introduzidos em dose baixa em pacientes estáveis. • Antagonistas dos receptores de aldosterona (p. ex., espironolactona; e eplerenona). • A digoxina, especialmente em insuficiência cardíaca associada a fibrilação atrial rápida estabelecida. Também indicada a pacientes que continuam sintomáticos apesar de um ótimo tratamento. • Os nitratos orgânicos (p. ex., mononitrato de isossorbida) reduzem apré-carga, e a hidralazina reduz a pós-carga. Usados em combinação, prolongam a vida em afroamericanos. 81 11 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA RESPIRATÁRIO Fonte: slideplayer.com 11.1 Doença pulmonar e seu tratamento Os sintomas comuns de doença pulmonar incluem falta de ar, sibilos, dor no peito e tosse, com ou sem produção de escarro ou hemoptise – sangue no escarro. De maneira ideal, o tratamento é o da doença subjacente, mas, algumas vezes, o tratamento sintomático da tosse, por exemplo, é tudo o que é possível (RANG & DALE, 2016). 11.2 Asma brônquica A asma é a doença crônica mais comum em crianças de países desenvolvidos, sendo também comum em adultos. Sua prevalência e gravidade estão aumentando. Trata-se de uma doença inflamatória na qual há obstrução recorrente e reversível das vias aéreas em resposta a estímulos irritantes que são fracos demais para afetar os não asmáticos. Fármacos usados em prevenção e tratamento da asma Há duas categorias de fármacos antiasmáticos: broncodilatadores e anti- inflamatórios. Os broncodilatadores revertem o broncoespasmo da fase imediata; os anti-inflamatórios inibem ou previnem os componentes inflamatórios de ambas as 82 fases. Essas duas categorias não são mutuamente exclusivas: alguns fármacos classificados como broncodilatadores também têm certo efeito anti-inflamatório. Não é tarefa simples saber como melhor usar esses fármacos no tratamento da asma. Uma diretriz para o controle da asma especifica cinco passos terapêuticos para adultos e crianças com asma crônica. • Doença muito leve pode ser controlada exclusivamente com um broncodilatador de ação curta (salbut ou terbutalina) - passo 1. • Mas se o paciente precisar do medicamento mais de uma vez por dia, deverá ser acrescentado um corticosteroide inalatório regular - passo 2. • Se a asma continuar sem controle, no passo 3 acrescenta-se um broncodilatador de ação prolongada (salmeterol ou formoterol); esta manobra minimiza a necessidade de aumento das doses de corticosteroides inalatórios. A teofilina e os antagonistas dos leucotrienos, como o montelucaste, também exercem um efeito poupador de corticosteroides, mas isso é menos confiável. • Um ou outro é acrescentado para pacientes que permanecem sintomáticos - passo 4 - e/ou a dose de corticosteroide inalatório é aumentada até o máximo recomendado. • O passo 5 é acrescentar um corticoide oral regular (p. ex., prednisolona). Os corticosteroides constituem o pilar da terapia porque são os únicos fármacos para asma que potencialmente inibem a ativação dos linfócitos T e, desse modo, a resposta inflamatória, nas vias aéreas asmáticas. Broncodilatadores: Os principais fármacos usados como broncodilatadores são agonistas β2- adrenérgicos; outros incluem teofilina, antagonistas dos receptores de cisteinil- leucotrienos e antagonistas muscarínicos. Agonistas de receptores β-adrenérgicos Seu efeito primário na asma é dilatar os brônquios por ação direta sobre os receptores β2-adrenérgicos da musculatura lisa. Sendo antagonistas fisiológicos dos 83 broncoconstritores, relaxam o músculo brônquico quaisquer que sejam os espasmógenos envolvidos. Também inibem a liberação de mediadores de mastócitos e a liberação de TNF-α de monócitos, além de aumentarem a remoção do muco por ação sobre os cílios. Os agonistas β2-adrenérgicos geralmente são administrados por inalação de aerossol, pó ou solução nebulizada (i.e., uma solução que foi convertida em “nuvem” ou uma mistura de micro gotas), mas alguns podem ser administrados por via oral ou parenteral. Usa-se um inalador com válvula medidora de dose para preparações em aerossol. Duas categorias de agonistas β2-adrenérgicos são usadas na asma. Agentes de ação curta: salbut e terbutalina. São administrados por inalação; o efeito máximo ocorre em 30 minutos e a duração da ação é de 3-5 horas; geralmente são usados “conforme a necessidade” para controlar os sintomas. Agentes de ação mais longa: por exemplo, salmeterol e formoterol. Estes são administrados por inalação, e a duração de ação é de 8 a 12 horas. Não são usados “conforme a necessidade”, mas administrados regularmente, duas vezes ao dia, como terapia complementar em pacientes cuja asma não esteja adequadamente controlada com glicocorticoides. Fármacos antiasmáticos: broncodilatadores Os agonistas dos β2-adrenérgicos (p. ex., salbut) são fármacos de primeira escolha: • Atuam como antagonistas fisiológicos dos mediadores espasmogênicos, mas têm pouco ou nenhum efeito sobre a hiper-reatividade brônquica. • O salbut é administrado por inalação; seus efeitos se iniciam imediatamente e duram 3-5 h; também pode ser administrado por infusão intravenosa no estado de mal asmático. • O salmeterol ou o formoterol são administrados regularmente por inalação; sua duração de ação é de 8-12 h. • É uma metilxantina 84 Teofilina (geralmente formulada como aminofilina): • Inibe fosfodiesterase e bloqueia receptores de adenosina • Tem janela terapêutica estreita: os efeitos indesejáveis incluem arritmia cardíaca, crises convulsivas e distúrbios gastrointestinais • É administrada por via intravenosa (por infusão lenta) para estado de mal asmático ou por via oral (em preparação de liberação contínua) como terapia complementar para corticosteroides inalatórios e agonistas β2 de ação prolongada (passo 4) • É metabolizada no fígado pelo P450; sua concentração e meia-vida plasmática (normalmente cerca de 12 h) aumentam em presença de disfunção hepática e infecções virais • Interage de modo importante com outros fármacos; alguns (p. ex., certos antimicrobianos) aumentam a meia-vida da teofilina; outros (p. ex., anticonvulsivantes) a diminuem. Fonte: adaptado de RANG & DALE, 2016 Os antagonistas dos receptores de cisteinil-leucotrienos (p. ex., montelucaste) são fármacos de terceira escolha para asma. Eles: • Competem com a cisteinil-leucotrienos pelos receptores CysLT1 • São usados principalmente como terapia complementar com corticosteroides inalatórios e agonistas β2 de ação longa (passo 4). 11.3 Doença pulmonar obstrutiva crônica A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um grande problema de saúde pública – projeções recentes sugerem que seja a terceira causa de morte desde 2012. O tabagismo é a causa principal e está aumentando no mundo em desenvolvimento. A poluição do ar, também etiologicamente importante, também está aumentando e há 85 uma necessidade imensa não satisfeita de fármacos eficazes. Apesar disso, a DPOC tem recebido menos atenção que a asma. Aspectos específicos do tratamento Os broncodilatadores inalatórios com ação curta e longa podem ser paliativos úteis em pacientes com componente reversível. Os principais fármacos com ação curta são o ipratrópio e o salbut; os fármacos com ação prolongada incluem tiotrópio e salmeterol ou formoterol. A teofilina pode ser administrada por via oral, mas não se tem certeza do seu benefício. Seu efeito estimulante respiratório pode ser útil para pacientes que tendem a reter CO2. Outros estimulantes respiratórios (p. ex., doxapram) são eventualmente usados por curto período na insuficiência respiratória aguda (p. ex., no pós-operatório), mas têm sido amplamente substituídos por suporte ventilatório mecânico (ventilação com pressão positiva intermitente). Surfactantes Os surfactantes pulmonares atuam não através da ligação a alvos específicos, mas, sim, através da diminuição da tensão de superfície do fluido que reveste os alvéolos, permitindo a entrada de ar. São eficazes na profilaxia e no tratamento da síndrome da angústia respiratória em recém-nascidos, em especial prematuros nos quais a produção de surfactante endógeno é deficiente.Exemplos incluem beractanto e poractanto alfa, que são derivados do surfactante pulmonar fisiológico. São administrados diretamente na árvore traqueobrônquica através de cânula endotraqueal. (As mães de prematuros são ocasionalmente tratadas com glicocorticoides antes do parto na tentativa de acelerar a maturação do pulmão fetal e minimizar a incidência deste distúrbio.) 86 12 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SITEMA URINÁRIO Fonte: estudopratico.com Os principais fármacos que funcionam alterando a função renal – os diuréticos – são cruciais para o controle de doenças cardiovasculares, bem como para pacientes com doença renal. Os rins são os principais órgãos pelos quais os fármacos e seus metabólitos são eliminados do organismo e, portanto, os esquemas posológicos de muitos fármacos precisam ser adaptados em pacientes com comprometimento da função renal. Além disso, os rins são alvo de vários tipos de toxicidade medicamentosa devido, em parte, à elevada concentração de fármacos e seus metabólitos em alguns tecidos renais (RANG & DALE, 2016). Os fármacos, bem como os procedimentos cirúrgicos, também são usados para tratar distúrbios do trato urinário inferior que comumente causam retenção urinária ou incontinência. Pacientes com anemia devido à insuficiência renal crônica se beneficiam com a epoetina. 12.1 Fármacos que atuam sobre o rim Os diuréticos aumentam a eliminação de Na+ e água. Diminuem a reabsorção de Na+ e de um ânion acompanhante (em geral) de Cl− do filtrado, sendo o aumento da perda de água secundário ao aumento da eliminação de NaCl (natriurese). Isso pode ser obtido por: 87 • Ação direta sobre as células do néfron; • Indiretamente, por modificação do conteúdo do filtrado. A maioria dos diuréticos com ação direta sobre as células do néfron atuam a partir do interior da luz tubular e chegam a seus locais de ação pelo fato de serem secretados para o túbulo proximal (com exceção da espironolactona). Diuréticos que atuam diretamente sobre as células do néfron Os principais diuréticos terapeuticamente úteis atuam sobre: • O ramo ascendente da alça de Henle; • O início do túbulo distal; • Os túbulos e ductos coletores. 12.2 Usos clínicos dos diuréticos de alça (p. ex., furosemida) • Os diuréticos de alça são usados (com cautela), em combinação com restrição de sal na dieta e muitas vezes com outras classes de diuréticos, no tratamento de sobrecarga de sal e água associada a: ➢ Edema agudo de pulmão ➢ Insuficiência cardíaca crônica ➢ Cirrose hepática complicada por ascite ➢ Síndrome nefrótica ➢ Insuficiência renal. • Tratamento de hipertensão complicada por comprometimento renal (os tiazídicos são preferidos, caso a função renal estiver preservada). • Tratamento de hipercalcemia após reposição do volume plasmático usando solução intravenosa de NaCl. 12.3 Usos clínicos dos diuréticos tiazídicos (p. ex., bendroflumetiazida) • Hipertensão. • Insuficiência cardíaca leve (em geral preferem-se diuréticos de alça). 88 • Edema resistente grave (metolazona, em especial é usada juntamente com diuréticos de alça). • Para prevenir formação recorrente de cálculos na hipercalciúria idiopática. • Diabetes insípido nefrogênico. 12.4 Usos clínicos dos diuréticos poupadores de potássio (p. ex., amilorida, espironolactona): • Juntamente com diuréticos perdedores de K+ (i. e., de alça ou tiazídicos) de modo a prevenir perda de K+, em casos nos quais a hipocalemia seja especialmente perigosa (p. ex., pacientes que necessitem de digoxina ou amiodarona;). • Espironolactona ou esplerenona usadas em: ➢ Insuficiência cardíaca, para aumentar a sobrevida ➢ Hiperaldosteronismo primário, (síndrome de Conn) ➢ Hipertensão essencial resistente (em especial hipertensão com renina baixa) ➢ Hiperaldosteronismo secundário causado por cirrose hepática complicada por ascite. 12.5 Fármacos usados na insuficiência renal O antiácido hidróxido de alumínio liga-se ao fosfato no trato gastrointestinal, reduzindo sua absorção, mas pode aumentar o alumínio no plasma em pacientes submetidos a diálise. Os agentes ligantes de fosfato à base de cálcio (p. ex., carbonato de cálcio) são amplamente usados. Estão contraindicados na hipercalcemia ou na hipercalciúria, mas, até recentemente, acreditava-se que fossem em geral seguros. No entanto, os sais de cálcio podem predispor a calcificação tecidual (inclusive das paredes arteriais), e os ligantes de fosfato contendo cálcio podem realmente contribuir para as taxas de morte muito altas por doença cardiovascular em pacientes submetidos a diálise (RANG & DALE, 2016 apud GOLDSMITH et al., 2004). 89 Uma resina trocadora de ânions, o sevelâmer, reduz o fosfato plasmático e apresenta menos possibilidade de causar calcificação arterial do que o carbonato de cálcio. O sevelâmer não é absorvido e tem o efeito adicional de reduzir o colesterol de lipoproteínas de baixa densidade. É administrado em doses de gramas por via oral três vezes ao dia com as refeições. Seus efeitos adversos são perturbações gastrointestinais e está contraindicado em obstrução intestinal. 12.6 Hipercalemia A hipercalemia profunda coloca a vida em risco. A toxicidade cardíaca é neutralizada pela administração de gluconato de cálcio intravenoso e por medidas que desloquem o K+ para o compartimento intracelular, por exemplo, glicose mais insulina. O salbut administrado intravenosamente ou por inalação também causa captação celular de K+ e é usado para essa indicação, por exemplo (RANG & DALE, 2016 apud MURDOCH et al., 1991); atua de maneira sinérgica com a insulina. O bicarbonato de sódio intravenoso também costuma ser recomendado e movimenta potássio para dentro das células em troca de prótons intracelulares que emergem para tamponar o fluido extracelular. A remoção do potássio em excesso do organismo pode ser obtida por resinas trocadoras de cátions como o poliestireno sulfonato de sódio ou de cálcio administrado por via oral (em combinação com sorbitol para prevenir constipação) ou como enema. Em geral, a diálise faz-se necessária. 90 13 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO APARELHO GASTROINTESTINAL Fonte: aminoapps.com O estômago secreta cerca de 2,5 litros de suco gástrico por dia. Os principais componentes exócrinos são pró-enzimas, como a pró-renina e o pepsinogênio, elaborados pelas células principais ou pépticas, e o ácido clorídrico (HCl) e fator intrínseco, secretados pelas células parietais ou oxínticas. A produção de ácido é importante para promoção da digestão proteolítica dos alimentos, absorção do ferro e eliminação de patógenos (RANG & DALE, 2015) Considera-se que desequilíbrios desses mecanismos secretores e protetores estejam envolvidos na patogênese da úlcera péptica, e, de fato, em outros tipos de comprometimento gástrico como a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e lesões causadas pelos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). 13.1 Fármacos usados para inibir ou neutralizar a secreção de ácido gástrico As principais indicações clínicas para reduzir a secreção de ácido são a ulceração péptica (duodenal e gástrica), a DRGE (na qual a secreção gástrica causa lesão no esôfago) e a síndrome de Zollinger-Ellison (uma rara afecção hipersecretora causada por um tumor secretor de gastrina). Se não for tratada, a DRGE pode causar displasia no epitélio esofágico que pode progredir para uma afecção pré-cancerosa potencialmente perigosa denominada esôfago de Barrett. https://aminoapps.com/ 91 Muitos AINEs inespecíficos causam sangramento e erosões gástricas através da inibição da ciclo-oxigenase-1, a enzima responsável pela síntese das prostaglandinas protetoras. Inibidores da ciclo-oxigenase-2 como o celecoxibe, mais seletivos, parecem causar menos lesões gástricas. A terapia da úlcera pépticae da esofagite de refluxo visa diminuir a secreção de ácido gástrico usando antagonistas dos receptores H2 ou inibidores da bomba de prótons, e/ou neutralizar o ácido secretado com antiácidos (RANG & DALE, 2016). 13.2 Usos clínicos de agentes que afetam a acidez gástrica 1) Antagonistas dos receptores H2 da histamina (p. ex., ranitidina): • Úlcera péptica • Esofagite de refluxo. 2) Inibidores da bomba de prótons (p. ex., omeprazol, lansoprazol): • Úlcera péptica • Esofagite de refluxo • Como componente da terapia na infecção pelo Helicobacter pylori • Síndrome de Zollinger-Ellison (doença rara causada por tumores secretores de gastrina) 3) Antiácidos (p. ex., trissilicato de magnésio, hidróxido de alumínio, alginatos): • Dispepsia • Alívio sintomático na úlcera péptica ou (alginato) refluxo esofágico. 4) Quelato de bismuto: • Como componente da terapia para infecção pelo H. pylori. 13.3 Tratamento da infecção pelo Helicobacter pylori A infecção pelo H. pylori tem sido implicada como fator causal na produção de úlceras gástricas e, mais particularmente, de úlceras duodenais, bem como fator de risco para câncer gástrico. Na verdade, alguns argumentariam que a gastroduodenite 92 infecciosa realmente é a entidade clínica principal associada a úlceras, e o câncer de estômago, sua sequela proeminente. A erradicação da infecção pelo H. pylori seguramente promove fechamento rápido e duradouro de úlceras, sendo prática de rotina fazer testes para o microrganismo em pacientes que apresentem sintomas sugestivos. Se o teste for positivo, então o microrganismo poderá, em geral, ser erradicado com um esquema de 1 ou 2 semanas de “terapia tríplice”, compreendendo um inibidor da bomba de prótons combinado aos antibacterianos, amoxicilina e metronidazol ou claritromicina; outras combinações são também utilizadas. Ocasionalmente adicionam-se preparações contendo bismuto. Conquanto a eliminação do bacilo possa produzir remissão de úlceras por longo prazo, poderá ocorrer reinfecção pelo microrganismo. 13.4 Fármacos que protegem a mucosa Quelato de bismuto Às vezes, o quelato de bismuto (dicitratobismutato tripotássico) é usado em esquemas combinados para tratar H. pylori. Tem efeitos tóxicos sobre o bacilo e também pode impedir sua aderência à mucosa ou inibir suas enzimas proteolíticas bacterianas. Os efeitos adversos incluem náuseas e vômitos e escurecimento da língua e das fezes. Sucralfato O sucralfato é um complexo de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada que libera alumínio em presença de ácido. O complexo residual possui forte carga negativa e se liga a grupos catiônicos em proteínas, glicoproteínas etc. Pode formar géis complexos com o muco, ação que se pensa diminuir a degradação do muco pela pepsina e limitar a difusão de íons H+. O sucralfato pode também inibir a ação da pepsina e estimular a secreção de muco, bicarbonato e prostaglandinas pela mucosa gástrica. Todas essas ações contribuem para o seu efeito protetor da mucosa. 93 O sucralfato é administrado por via oral, e 3 horas após a administração cerca de 30% ainda estão presentes no estômago. No ambiente ácido, o produto polimerizado forma uma pasta persistente que, por vezes, pode produzir uma crosta obstrutiva (conhecida como bezoar) que fica presa ao estômago. Reduz a absorção de uma série de outros fármacos, incluindo antibióticos fluorquinolonas, teofilina, tetraciclina, digoxina e amitriptilina. Como exige ambiente ácido para ativação, os antiácidos administrados concomitantemente ou antes de sua administração reduzem sua eficácia. Os efeitos adversos são poucos, sendo o mais comum a constipação. Efeitos menos comuns, além da formação de bezoar gástrico, incluem boca seca, náuseas, vômitos, cefaleia e rashes. Misoprostol As prostaglandinas das séries E I têm, geralmente, uma ação homeostática protetora no trato gastrointestinal, e uma deficiência na produção endógena (depois da ingestão de um AINE, por exemplo) pode contribuir para a formação de úlcera. O misoprostol é um análogo estável da prostaglandina E1. É administrado por via oral e usado para promover a cicatrização de úlceras ou para prevenir lesão gástrica que pode ocorrer com o uso crônico de AINEs. Exerce ação direta sobre a célula ECS (e possivelmente sobre a célula parietal também;), inibindo a secreção basal de ácido gástrico, bem como a estimulação da produção que ocorre em resposta a alimentos, pentagastrina e cafeína. Também aumenta o fluxo sanguíneo na mucosa e aumenta a secreção de muco e de bicarbonato. Os efeitos adversos incluem diarreia e cólicas abdominais; também podem ocorrer contrações uterinas, de modo que o fármaco não deve ser usado durante a gravidez (a menos que deliberadamente para induzir abortamento terapêutico;). Fonte: RANG & DALE, 2016 13.5 Fármacos antieméticos Existem vários agentes antieméticos disponíveis, em geral usados para condições específicas, embora possa haver certa sobreposição. Tais fármacos são de particular importância como complemento na quimioterapia para câncer, em que 94 as náuseas e os vômitos produzidos por muitos citotóxicos podem ser quase insuportáveis. O uso de fármacos para alívio das náuseas matinais da gravidez sempre deve trazer à mente o problema da potencial lesão ao feto. Em geral, todos os fármacos devem ser evitados durante os primeiros 3 meses da gravidez, se possível. Usos clínicos dos antieméticos Antagonistas dos receptores H1 da histamina: • ciclizina: cinetose • cinarizina: cinetose, distúrbios vestibulares (p. ex., doença de Ménière) • prometazina: náuseas matinais intensas da gravidez Antagonistas dos receptores muscarínicos: • hioscina: cinetose. Antagonistas dos receptores D2 da dopamina: • fenotiazínicos (p. ex., proclorperazina): vômitos causados por uremia, radiação, gastrenterite viral, náuseas matinais intensas da gravidez. • metoclopramida: vômitos causados por uremia, radiação, distúrbios gastrointestinais, citotóxicos. • pelo fato de passar a barreira hematoencefálica com dificuldade, a domperidona tem menos probabilidade de causar efeitos colaterais centrais. Antagonistas dos receptores 5-HT3 da 5-hidroxitriptamina (p. ex., ondansetrona): • citotóxicos ou radiação, vômitos pós-operatórios. Canabinoides (p. ex., nabilona): citotóxicos 13.6 Fármacos que aumentam a motilidade gastrointestinal A domperidona é usada, primariamente, como antiemético, mas também aumenta a motilidade gastrointestinal. Clinicamente, aumenta a pressão no esfíncter esofágico inferior (desse modo, inibindo o refluxo gastresofágico), aumenta também o 95 esvaziamento gástrico e o peristaltismo duodenal. É útil em distúrbios do esvaziamento gástrico e no refluxo gástrico crônico. A metoclopramida (também antiemético) estimula a motilidade gástrica, provocando acentuada aceleração do esvaziamento gástrico. É útil no refluxo gastresofágico e em distúrbios do esvaziamento gástrico, mas é ineficaz no íleo paralítico. A prucaloprida é um agonista seletivo do receptor 5-HT4 que tem marcadas propriedades pró-cinéticas no intestino. Geralmente é usada apenas quando falham outros tipos de tratamentos laxativos. 14 MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO Fonte: todamateria.com 14.1 Fármacos analgésicos Fármacos opioides O ópio é um extrato do suco da papoula Papaver somniferum, que contém morfina e outros alcaloides relacionados. Vem sendo usado com finalidades sociais e medicinais há milhares de anos como agente promotor de euforia, analgesia e para evitar a diarreia. 96 14.2 Analgésicos opioides Terminologia: Opioide Qualquer substância, endógena ou sintética, que produz efeitos semelhantes aos da morfina e que são bloqueados por antagonistas como a naloxona Opiáceos Compostos como amorfina e a codeína que são encontrados na papoula Analgésicos narcóticos Termo antigo para opioides; o termo narcótico refere-se à capacidade de induzir o sono. Infelizmente, esse termo foi subsequentemente sequestrado e inadequadamente utilizado por alguns para se referir aos fármacos com potencial abusivo. Fonte: RANG & DALE, 2016 • Os agonistas semelhantes à morfina mais importantes incluem a diamorfina, a oxicodona e a codeína. • Os principais grupos de análogos sintéticos são as piperidinas (p. ex., petidina e fentanila), os fármacos semelhantes à metadona, os benzomorfanos (p. ex., pentazocina) e os derivados da tebaína (p. ex., buprenorfina). • Os analgésicos opioides podem ser administrados por via oral, parenteral ou intratecal, para produzir analgesia. Ações farmacológicas Analgesia: A morfina é típica de muitos opioides analgésicos e será tomada como composto de referência. Os efeitos mais importantes da morfina ocorrem no SNC e no trato gastrointestinal, embora tenham sido descritos inúmeros efeitos de significância menor sobre muitos outros sistemas. Hiperalgesia: exposição prolongada aos opioides pode paradoxalmente induzir o estado de hiperalgesia no qual pode ocorrer sensação de dor ou alodinia (RANG & DALE, 2016 apud LEE et al., 2011). 97 Isso pode aparecer na forma de redução da resposta analgésica à determinada dose de opioides, porém não deve ser confundido com tolerância, que é a redução da responsividade decorrente, em grande parte, da dessensibilização do receptor. Euforia: A morfina causa potente sensação de contentamento e bem-estar. Este é um componente importante de seus efeitos analgésicos, porque a agitação e a ansiedade, associadas a uma doença dolorosa ou trauma, são assim reduzidas. Se a morfina ou a diamorfina (heroína) forem administradas por via intravenosa, o resultado será um “ímpeto súbito “. A euforia produzida pela morfina depende consideravelmente das circunstâncias. Nos pacientes angustiados, é pronunciada, mas nos pacientes acostumados à dor crônica, a morfina causa analgesia com pouca ou nenhuma euforia. Alguns pacientes relatam agitação, e não euforia, sob estas circunstâncias. Depressão respiratória: A depressão respiratória, resultando em aumento da Pco2 arterial, ocorre com uma dose normal analgésica de morfina ou compostos relacionados, embora em pacientes com dor grave o grau de depressão respiratória produzido possa ser menor do que o antecipado. Ações da morfina Os principais efeitos farmacológicos são: ✓ analgesia ✓ euforia e sedação ✓ depressão respiratória e supressão da tosse ✓ náuseas e vômitos ✓ constrição pupilar (miose) ✓ redução da motilidade gástrica, levando à constipação ✓ liberação de histamina, causando coceira, constrição brônquica e hipotensão. • Os efeitos adversos mais problemáticos são náuseas e vômitos, constipação e depressão respiratória. • A superdosagem aguda com a morfina produz coma e depressão respiratória. 98 • A diamorfina apresenta-se inativa nos receptores opioides, mas é rapidamente metabolizada no cérebro em 6-acetilmorfina e morfina. • A codeína também é convertida em morfina através do metabolismo hepático, porém mais lentamente. Características dos principais analgésicos opioides: Fármaco Uso(s) Via (s) de administração Aspectos farmacocinéticos Principais efeitos adversos Observações Morfina Amplamente usada para dores crônica e aguda Oral, incluindo a forma de liberação sustentada Injeção Intratecal Meia-vida de 3-4 h Convertida em metabólito ativo (morfina 6- glicuronídeo) Sedação Depressão respiratória Constipação Náuseas e vômitos Prurido (liberação de histamina) Tolerância e Dependência Euforia Tolerância e sintomas de abstinência não são comuns quando usada para analgesia Diamorfin a (heroína) Dor aguda e crônica Oral Injetável Atua mais rapidamente que a morfina, em razão da rápida penetração cerebral Como a morfina Não disponível em todos os países Metabolizada em morfina e em outros metabólitos ativos Hidromor fona Dor aguda e crônica Oral Injetável Meia-vida de 2-4 h Não tem metabólitos ativos Como a morfina, porém alega-se que seja menos sedativa O levorfanol é semelhante, com maior duração de ação Oxicodon a Dor aguda e Crônica Oral, incluindo a forma de liberação sustentada Injetável Meia-vida de 3-4,5 h Como a morfina Como a morfina Metadona Dor crônica Manutenção de dependentes Oral Injetável Meia-vida longa (> 24 h) Início de ação lento Como a morfina, porém menor efeito eufórico Pode ocorrer acúmulo Recuperação lenta resulta em síndrome de abstinência atenuada em consequência da meia-vida longa Dor aguda Oral Injeção Meia-vida de 2-4 h Metabólito ativo Como a morfina Efeitos Conhecida como meperidina nos 99 Petidina intramuscular (norpetidina) pode ser responsável pelos efeitos estimulantes anticolinérgicos Risco de excitação e convulsões Estados Unidos Interage com inibidores da monoaminooxidase Buprenor fina Dor aguda e Crônica Manutenção de dependentes Sublingual Injeção Intratecal Meia-vida de Aproximadamente 12 h Início lento Oralmente inativa por causa do metabolismo de primeira passagem Como a morfina, porém menos pronunciados Depressão respiratória não revertida pela naloxona (portanto, não adequada para uso) Pode precipitar a retirada do opioide (agonista parcial) Útil na dor crônica com sistemas de injeção controlados pelo paciente Pentazoci na Principalmente dor aguda Oral Injetável Meia-vida de 2-4 h Efeitos psicotomiméticos (disforia) Irritação no local da injeção Pode precipitar síndrome de abstinência da morfina (efeito antagonista μ) Nalbufina é semelhante Dipipeno na Dor moderada a grave Oral Meia-vida oral 3,5h (embora existam registros de valores superiores) Além dos efeitos semelhantes aos da morfina, provoca psicose Comercializada em combinação com ciclasina (Diconal) e tornou-se uma droga IV de uso abusivo popular Fentanila Dor aguda Anestesia Intravenosa Epidérmica Adesivo transdérmico Meia-vida de 1-2 h Como a morfina Alta potência permite administração transdérmica Sufentanila é semelhante Remifent anil Anestesia Infusão intravenosa Meia-vida de 5 min Depressão respiratória Início e recuperação muito rápidos Codeína Dor moderada Oral Atua como prófármaco Metabolizada em morfina e outros opioides ativos Principalmente constipação Não é passível de dependência Eficaz somente em dor moderada Também usada para suprimir a tosse Di- hidrocodeína é 100 semelhante Dextropro poxifeno Dor moderada Principalmente oral Meia-vida de ∼ 4 h Metabólito ativo (norpropoxifeno) com meia-vida de ∼24 h Depressão respiratória Pode causar convulsões (possivelmente por ação do norpropoxifeno) Semelhante à codeína Não é mais recomendado Tramadol Dor aguda Principalmente pós-operatória e crônica Oral Intravenosa Bem absorvido Meia-vida de 4-6 h Tontura Pode causar convulsões Sem depressão respiratória Mecanismo de ação incerto Agonista fraco nos receptores de Opioides Também inibe a captação de monoaminas O tapentadol é semelhante Fonte: RANG & DALE, 2016 14.3 Tratamento da dor neuropática A dor neuropática é a dor grave, debilitante e crônica que ocorre em certas condições, como neuralgia do trigêmeo, neuropatia diabética, neuralgia pós- terapêutica e dor do membro fantasma. Inúmeros fármacos não opioides, que também são utilizados clinicamente para efeitos outros que não analgésicos, foram descritos como clinicamente eficazes sobre a dor neuropática (RANG & DALE, 2016 apud DWORKINet al., 2010), em grande parte como resultado de observações casuais, em vez de um programa racional de descoberta de fármacos. Os antidepressivos tricíclicos, particularmente a amitriptilina, a nortriptilina e a desipramina, são amplamente utilizados. Fármacos como a duloxetina e venlafaxina, que inibem a captação de noradrenalina e serotonina, também são eficazes e apresentam um perfil diferente de efeitos adversos, mas os inibidores seletivos da recaptação da serotonina apresentam pouco ou nenhum benefício. A gabapentina e seu congênere, pregabalina, são fármacos antiepilépticos que também são eficazes no tratamento da dor neuropática. Reduzem a expressão das 101 subunidades α2δ dos canais de cálcio ativados por voltagem na membrana nervosa e a liberação de neurotransmissores. A carbamazepina, outro tipo de fármaco antiepiléptico, é eficaz na neuralgia do trigêmeo, porém não existem evidências da sua eficácia sobre outros tipos de dor neuropática. A carbamazepina bloqueia os canais de sódio controlados por voltagem, sendo levemente mais potente no bloqueio dos canais Nav1.8 do que Nav 1.7 e Nav 1.3 A lidocaína (lignocaína), um fármaco anestésico local, pode ser utilizada topicamente no alívio da dor neuropática. Provavelmente, atua através do bloqueio de descargas espontâneas dos terminais nervosos sensoriais danificados. Alguns fármacos antiarrítmicos (p. ex., mexiletina, tocainida, flecainida;) são eficazes por via oral. Fármacos utilizados no tratamento da dor neuropática Em doses elevadas, os opioides podem ser eficazes, caso os efeitos adversos possam ser tolerados. Diferentes antidepressivos (p. ex., amitriptilina, duloxetina) oferecem benefícios terapêuticos. A gabapentina e a pregabalina são utilizadas atualmente mais para alívio da dor neuropática do que como agentes antiepilépticos. A carbamazepina, assim como outros agentes antiepilépticos que bloqueiam os canais de sódio, pode ser eficaz no tratamento da neuralgia do trigêmeo. A lidocaína pode oferecer alívio quando aplicada topicamente. 14.4 Usos clínicos dos analgésicos • Os analgésicos são usados para tratar e prevenir dor, por exemplo: ➢ No pré e no pós-operatório ➢ Em afecções dolorosas comuns, incluindo cefaleia, dismenorreia, trabalho de parto, trauma, queimaduras 102 ➢ Em muitas emergências clínicas e cirúrgicas (p. ex., infarto do miocárdio e cólica renal) ➢ Em doença terminal (especialmente câncer metastático) • Os analgésicos opioides são usados em algumas afecções não dolorosas, como, por exemplo, insuficiência cardíaca aguda (em razão de seus efeitos hemodinâmicos) e insuficiência cardíaca crônica terminal (para aliviar a angústia). • A escolha e a via de administração dos analgésicos dependem da natureza e da duração da dor. • Costuma ser usado direcionamento progressivo, iniciando-se com anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs), suplementados primeiramente por analgésicos opioides fracos e depois por opioides fortes. • Em geral, a dor aguda intensa é tratada com opioides fortes (p. ex., morfina, fentanila) administrados por via parenteral. Dor inflamatória leve (p. ex., entorses, artralgia leve) é tratada com AINEs (p. ex., ibuprofeno) ou por paracet suplementado por opioides fracos (p. ex., codeína). Dor intensa (p. ex., dor do câncer) é tratada com opioide forte administrado por via oral, intratecal, epidural ou subcutânea. Os sistemas de infusão controlados pelo paciente são úteis no pós- operatório. • A dor neuropática crônica é menos responsiva aos opioides e pode ser tratada com antidepressivos tricíclicos (p. ex., amitriptilina) ou anticonvulsivantes (p. ex., carbamazepina, gabapentina). 14.5 Usos clínicos dos analgésicos (2) • Os anti-inflamatórios não esteroidais, incluindo o paracet, são úteis para dor musculoesquelética, odontológica e dismenorreia. Reduzem as necessidades de opioides na dor aguda (p. ex., pós-operatória) e crônica (p. ex., metástase óssea). • Os opioides fracos (p. ex., codeína) combinados com o paracet são úteis para dor moderadamente intensa se os não opioides não forem suficientes. O 103 tramadol (opioide fraco que tem ação adicional sobre a captura de 5- hidroxitriptamina e norepinefrina) é uma alternativa. • Os opioides fortes (p. ex., morfina) são usados para dor intensa, particularmente de origem visceral. • Observe que: ➢ A via intravenosa proporciona alívio rápido da dor e da angústia ➢ A dose intravenosa é muito mais baixa que a oral, em razão do metabolismo pré-sistêmico ➢ A morfina é administrada por via oral, como solução ou como comprimidos de “liberação imediata”, a cada 4 horas ➢ A dose é titulada; quando a necessidade diária é aparente, a preparação é mudada para uma formulação de liberação modificada, permitindo posologia uma ou duas vezes ao dia ➢ A morfina e a oxicodona podem ser administradas oralmente sob a forma de comprimidos de liberação lenta. ➢ A administração transdérmica (p. ex., adesivos de fentanila) é uma alternativa rápida para alívio da dor ➢ Os efeitos adversos (náuseas, constipação) são antecipados e tratados preventivamente ➢ A dependência não é uma questão na situação de cuidados terminais. • Doses subanestésicas de óxido nitroso são analgésicas, e a autoadministração de mistura de óxido nitroso com oxigênio é amplamente usada durante trabalho de parto, para trocas de curativo dolorosas etc. 104 15 BIBLIOGRAFIA ANDRADE, B. 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