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Caio Fábio - A Graça De Deus X O Mito Do Super-homem

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Prévia do material em texto

Caio Fábio
AGRACA 
DE DEÚS
O MITO DO 
SUPER-HOMEM
A GRAÇA DE DEUS
ven&cd
O MITO DO 
SUPER-HOMEM
Mesmo estando debaixo da graça de Deus 
o cristão está livre de incompreensões, 
decepções pessoais ou dificuldades 
financeiras? E as dores que nos sobrevêm: 
são necessariamente fruto do pecado?
Adquira uma perspectiva lúcida sobre este 
assunto a partir das experiências vividas pelo 
apóstolo Paulo e analisadas neste excelente 
livro. Não somos chamados para ser super­
homens ou supermulheres mas para conhecer o 
socorro e o amor divinos que se manifestam na 
plenitude de nossa humanidade.
"Se você está se sentindo triste, solitário, não se 
odeie por isso, mas levante a cabeça, olhe para 
o Senhor e sinta-se desafiado a experimentar 
esta graça sem que você precise se transformar 
num super-herói espiritual".
VINDE
COMUNICAÇÕES
ISB
N: 
85
-72
71-
044
-2
A GRAÇA 
DE DEUS
X
O MITO DO 
SUPER-HOMEM
Caio Fábio
VINDE
Comunicações
Publicado com a 7devida autorização 
e todos os direitos reservados à 
VINDE COM UNICAÇÕES 
Caixa Postal 100.084 
24001-970 - Niterói - RJ 
Tel.: (021) 719-8770 
Fax: (021) 717-9622
Primeira Edição -1994 
Tiragem:3.000 exemplares
Revisão:
Suely de Carvalho e Elivânia Lima
Capa:
Arte Clube
Editoração Eletrônica:
Josnei e Vera Formagio
Não é permitida a reprodução de nenhuma 
parte deste livro, sob qualquer forma, sem a 
permissão por escrito do autor e da Editora.
ISBN 85-7271-044-2
Filiada à AEVB e à ABEC.
Impresso no Brasil
4
APRESENTAÇÃO
A maioria dos homens que querem 
viver uma vida abundante da graça de 
Deus sofre calada as dores inerentes à 
sua natureza. Para alguns, até parece 
que, porque se converteram, agora têm 
que viver como se fossem super-homens 
e supermulheres, que não sofrem 
fraquezas, que não se abalam com a 
traição, que não se deprimem com a 
solidão, que não se angustiam com 
nada.
O texto de II Timóteo 4:9-22 mostra 
como Paulo consegue ser forte em Deus 
e, ao mesmo tempo, não negar a sua 
humanidade. Na vida de Pãulo, a graça 
de Deus não o transformou num super­
homem, mas se manifestou em sua vida 
como socorro e amor divinos na ple­
nitude da humanidade do apóstolo.
5
A mensagem contida neste livreto foi 
pregada pelo Rev. Caio por ocasião do 
aniversário do Rev. Antonio Elias, em 
1982, e através dele você que deseja 
crescer na graça de Deus será desafiado 
a fazê-lo sem a obrigação de se trans­
formar num super-homem espiritual. A 
plenitude da graça de Deus pode ser 
experimentada na plenitude de nossa 
humanidade.
Que Deus possa falar com você 
através deste texto.
Alda D ’Araújo
6
INTRODUÇÃO
V iven d o como indivíduos no reino 
de Deus, às vezes ficamos esquecidos 
de que, conquanto cristãos e protegidos 
por Deus, continuamos criaturas 
formadas do pó da terra e sujeitas a 
inúmeras lutas, sofrimentos e difi­
culdades.
O grande apóstolo Paulo, além de 
canonizado pela Igreja Católica, é visto 
na perspectiva evangélica como um dos 
nossos santos intocáveis — isto porque, 
embora negando, consideramos os 
nossos “santos” como seres que tran­
sitam entre a humanidade mortal e a 
divindade absoluta, “elos de ligação” , 
“seres de transição” . Paulo, todavia, era 
muito mais humano do que dese- 
jávamos que ele fosse.
Quem lê o livro de Atos dos Apóstolos
7
sabe que Paulo esteve preso em Roma 
por duas vezes. Percebe-se, através da 
leitura, que ele ficou em prisão do­
miciliar, em uma casa alugada por ele 
mesmo, vigiado por guardas romanos 
que se revezavam em turnos, mantendo- 
o todo tempo acorrentado. “Uma vez 
em Roma, fo i perm itido a Paulo m orar 
p o r sua conta, tendo em sua companhia 
o soldado que o guardava. "(Atos 28:16)
Ele, contudo, tinha liberdade para 
receber as pessoas que iam ouvir sueis 
exposições sobre o reino de Deus. 
“H avendo-lhe eles m arcado um dia, 
vieram em grande núm ero ao encontro 
de Paulo na sua própria residência. ” 
(Atos 28:23)
Há divergências entre os comen­
taristas a respeito do que acontece 
depois deste período. Alguns deles dizem 
que sua situação em Roma ve io a 
complicar-se em função de suas de­
clarações e testemunho a respeito de 
Jesus, a ponto de ser levado para uma 
masmorra, onde ficou à espera da
8
morte. Outros imaginam que houve um 
intervalo com sua soltura, oportunidade 
em que fez uma terceira viagem mis­
sionária em direção à parte superior da 
Europa, indo até a Espanha, seu grande 
sonho, sendo novamente aprisionado na 
volta. Independentemente dessas duas 
suposições, no entanto, o fato é que, ao 
escrever sua segunda carta a Timóteo, 
Paulo se encontra no fundo de um 
calabouço, numa solitária, herme- 
ticamente fechado, visitado espora­
dicamente pelos que lhe restaram. Ele 
está velho, doente e à véspera da morte.
Está tão consciente de que sua morte 
já fora decretada que afirma: “Já agora 
a coroa da justiça m e está guardada, a 
qual o Senhor, reto juiz, m e dará naquele 
dief (v.8). Confirmando seu pensamento 
(v.6) que diz: “ Quanto a m im, estou 
sendojá oferecido p o r libação, e o tem po 
da m inha partida é chegado. ”
E importante saber, todas as vezes 
que se lê esta epístola, especialmente o 
capítulo quatro, que estamos “ouvindo”
9
as derradeiras palavras de Paulo. Este é 
o quadro físico, geográfico e histórico no 
qual este texto é escrito ou ditado. Ele, 
então, diz a Timóteo: “Procura vir ter 
com igo depressa. Forque Demas, tendo 
am ado o presente século, m e aban­
donou e se fo i para Tessalônica; Cres­
cente fo i para a Galácia. Som ente Lucas 
está com igo. Toma contigo a Marcos e 
traze-o, p o is m e é ú til para o m i­
nistério. Quanto a Tíquico, m andei-o a 
Éfeso. Quando vieres, traze a capa que 
deixei em Trôade, em casa de Carpo, 
bem com o os livros, especialmente os 
pergam inhos. A lexandre, o la toeiro, 
causou-me m uitos males; o Senhor lhe 
dará a paga segundo as suas obras. Na 
minha prim eira defesa ninguém fo i a 
m eu fa vor; antes, todos m e aban­
donaram. Que isto não lhe seja posto 
em conta. Mas o Senhor m e assistiu e 
m e revestiu de forças, para que, p o r meu 
intermédio, a pregação fosse plenamente 
cumprida, e todos os gentios a ouvissem; 
e fu i libertado da boca do leão O Senhor
10
m e livrará também de toda obra ma­
ligna, e m e levará salvo para o reino 
celestial. A ele, glória pelos séculos dos 
sécu los. A m ém . Saúda a Prisca e 
Á qüila ,e à casa de Onesíforo. Erasto 
ficou em Corinto. Quanto a Trófim o, 
deixei-o doente em M ileto. Apressa-te a
A
vir antes do inverno. Eubulo te envia 
saudações; o m esm o fazem Pruden­
te,Lino,Cláudia e os irm ãos todos. O 
Senhor seja com o teu espírito. A graça 
seja convosco” (9-22).
11
O CRISTÃO NÃO É IMUNE 
AO SOFRIMENTO
T em o s comumente a idéia de que, 
pelo fato de sermos de Jesus, estamos 
isentos de passar por tribulações. Sem 
dúvida, esta concepção do que seja uma 
vida santa na presença de Deus é, no 
mínimo, medieval. Vemos, em nosso 
meio, que a idéia do santo, do con­
sagrado, daquele que vive para o 
Senhor, é a de alguém que está livre de 
problemas ou, quando os enfrenta, não 
os sofre, como se estivesse acima das 
contingências. Romantizamos essa 
questão e, às vezes, caímos na negação 
de nossa própria humanidade, das 
nossas realidades. E por isso que, 
sempre que nos sentimos aflitos e 
machucados, negamos o mal que está 
nos atingindo e começamos a afirmar,
13
em nome da fé, que elas não acon­
teceram, que não são importantes, 
ocasionando uma imposição que nos 
leva a profundo stress, numa dor íntima 
imensa. Começamos, então, a ques­
tionar que se Deus é Deus, por que não 
nos poupa de situações semelhantes ou, 
então, por que, sendo crentes, sentimos 
essas dores e angústias, pois não 
deveriamos senti-las; ou, ainda, caímos 
na situação de superficialidade, de 
anestesiamento da alma, uma espécie 
de morte psicológica, quando afir­
mamos que não sentimos nada, que está 
tudo ótimo, quando a realidade é que 
estamos nos afogando em lágrimas.O que aconteceu a Paulo tem muito 
a ver com muitas das dores que nos 
afligem , com a universalidade da 
angústia humana.
Se examinarmos com atenção as 
diversas situações pelas quais ele 
passou, vamos entender que a realidade 
do apóstolo era muito diferente das 
interpretações triunfalistas que muitos
14
querem dar à vida cristã. Paulo passou 
por muitas dificuldades, apesar de ser 
homem de Deus. Eis a seguir algumas 
das muitas situações de crise as quais 
ele enfrentou:
MAL INTERPRETADO 
TEOLOGICAMENTE
Teologicamente falando, Paulo de­
parou com muitos conflitos, porque, 
quando se anda com Deus, não se está 
isento de ser acusado de heresia. Em 
Romanos 3:8, ele diz estar sendo 
acusado de uma interpretação distorcida 
da mensagem divina. N o fato em 
questão, colocaram nos lábios de Páulo 
a afirmação de que, para receber os 
benefícios de Deus, precisaríamos 
praticar males. Na verdade, o que Paulo 
queria dizer é que nossos “males” 
realçam a graça de Deus, ou seja, 
quanto mais injustos somos, mais se 
evidencia a justiça divina; diante da 
nossa mentira, a verdade de Deus
15
cresce; em confronto com a nossa 
mesquinhez, a misericórdia do Senhor 
se evidencia. Paulo estava expondo a 
graça de Deus e não os incentivando ao 
pecado. Mas havia alguns que não 
tinham profundidade para entendê-lo e, 
por Isto, acusaram-no de heresia. Paulo 
sofreu muitas angústias em razão disso.
INCOMPREENSÓES NO 
PASTORADO
V em o s em I Coríntios 3:3-4, a crítica 
que ele fez à Igreja, quando esta se 
dividiu em favoritismos sectários, o que 
levou à criação de grupos que afir­
mavam “ eu sou de Paulo” , “eu sou de 
A p o io ” , e até favoreceu os “ ultra- 
espirituais” , precursores da “igreja sem 
rótulo” , a se defender dizendo “ eu sou 
de Cristo”. Tudo isto levaria a Igreja a 
pleitear sua autonomia em relação a seu 
ministério. Paulo pregava a unidade do 
corpo de Cristo, mostrando os diversos 
ministérios e valores de cada um dentro
16
de cada comunidade. Mas nessa in­
tenção pastoral de educar a igreja, 
sobrou para ele. Alguns se revoltaram 
com sua pedagogia e insurgiram-se 
contra sua autoridade, fazendo com que 
ele passasse por angústias enormes. 
Aliás, as duas cartas de Paulo aos 
Coríntios têm relação com essas si­
tuações de luta pastoral e apostólica 
contra uma igreja insubmissa e pro­
blemática.
AUSÊNCIA DE SUPORTE 
FINANCEIRO
E m outro momento, lemos em I 
Coríntios 9:6 sua queixa por não poder 
contar com apoio financeiro dos irmãos, 
e vemos o ressentimento do apóstolo por 
não poder se dedicar integralmente ao 
ministério. Imagine quantas igrejas, 
quantos crentes hoje, não se sentiríam 
honrados em colaborar financeiramente 
com o ministério do apóstolo Paulo. 
Paulo já não está entre nós, mas o
17
trabalho continua, a mensagem deve ser 
pregada com ou sem apoio... N o 
entanto, pense na situação dele: ele vira 
a Jesus e fora por Ele chamado a pregar. 
Entretanto, a igreja que ele fundou não 
tinha a visão de sustentá-lo. Mais 
angústia!
SOFREU CALÚNIAS
A própria igreja da qual fora pastor- 
fundador e que se tornara uma co­
munidade ultracarismática o acusou de 
leviandade. Isto se deu porque, como 
lemos em II Coríntios 1:17, ele afirma 
que, se fosse possível, lhes faria uma 
visita e, como não conseguira chegar lá, 
foi chamado de leviano e acusado de 
tomar decisões na “carne” , e não por 
“revelação de Deus” .
Ele não escapou da insinuação de 
que vivia mundanamente, comovemos 
em II Coríntios 10:2, pois julgavam seu 
comportamento como o de quem vivia 
“em disposições de m undanoprocede.f.
18
Como podemos observar, a reputação 
do nosso irmão nem sempre foi tão 
“intocável” .
Com tudo isso, ele tinha cautela para 
não correr o risco de ser acusado de má 
administração financeira, já que ele 
também era passível desse tipo de 
julgamento. Ele, portanto, como vemos 
em II Coríntios 8:20, resguardava-se de 
carregar dinheiro sozinho, fazendo-se 
acompanhar, por saber da existência de 
olhos observadores e desejosos de 
encontrar alguma razão ou indício de 
possível desonestidade, o que com­
prometería sua idoneidade.
NÃO FOI VALORIZADO
S u a palavra também não era con­
siderada agradável, ao contrário, em II 
Coríntios 10:10, ele menciona que os 
comentários eram de que sua presença 
pessoal era fraca e a palavra, des­
prezível.
Segundo alguns historiadores, ele era 
19
baixinho, amorenado, de pernas curvas 
e com sobrancelhas que se encontravam 
no meio da testa. Martin Lloyd-Jones 
diz que ele, possivelmente, sofria de 
conjuntivite crônica. Já pensou? Lá 
vinha o irmão chegando, sem nenhuma 
cara de apóstolo, mais parecendo um 
pé-rapado.
Ele mesmo considerava sua palavra 
fraca, e o grande impacto do seu 
discurso em Cesaréia — que mereceu 
interrupção do Rei Agripa quando disse: 
“ó, Paulo, as m uitas letras te fazem 
delirar” — não deve ser compreendido 
como uma exaltação à sua capacidade 
de falar com beleza e, sim, como 
transbordamento de um coração im­
pregnado da mensagem de Cristo, que 
ele anunciava com poder, resultado da 
unção que havia nele. Mas as angústias 
que tal desprezo lhe causaram são 
claramente percebidas na leitura de II 
Coríntios 9 a 13.
20
TUDO ISSO E MUITO MAIS!
/Além de todas as possíveis insi­
nuações maledicentes, Paulo ainda era 
consumido de paixão devido ao estado 
do povo de Deus. Em II Coríntios 
11:28,29, ele nos conta de sua preo­
cupação por todas as igrejas e de sua 
solidariedade com os fracos e com os 
escandalizados. Sua vida parecia mais 
com a de um guerrilheiro do que com a 
de um pastor, se a analisarmos do ponto 
de vista convencional. Quem lê II 
Coríntios 11:23 a 27, certamente não 
encontra um curriculum vitae que o 
recomende a pastorear qualquer uma de 
nossas igrejas. Alguém podería até dizer: 
“esse homem é um pé frio. Entra no 
navio, o navio afunda; entra numa 
estrada, é assaltado; aonde ele vai a 
tragédia o acomete.” E perseguido, 
açoitado, aprisionado. Para ele não 
existia essa teologia que diz que se crente 
é assaltado é porque está em pecado. 
Pior ainda é a descrição do v.26 que diz:
21
“em perigos de rios, em perigos de 
salteadores, em perigos e n te pa tícios, 
em perigos e n te gentios, em perigos 
na cidade, em perigos no deserto, em 
perigos no mar, em perigos e n te falsos 
irmãos".
Trace um paralelo e tente encaixar a 
sua realidade à do apóstolo. Como é que 
você se sente hoje? Como se sente 
agora? Se você foi abandonado, traído, 
deixado, desprezado; se está solitário, 
doído, vazio — não importa quem você 
é, a idade que tem , sua condição social, 
seu estado civil. Se você juntar os 
estilhaços de sua dor, você vai verificar 
que o que Paulo sentiu tem muito a ver 
com o que você sente; e que as saídas 
que Deus mostrou a ele são aquelas que 
vai mostrar a você também.
SER CRISTÃO NÃO SIGNIFICA 
NÃO SER HUMANO
0 gigante apóstolo Paulo era um ser 
muito humano. Apesar de sua íntima
22
comunhão com Deus e de sua vida santa, 
jamais perdeu a fragilidade da natureza 
humana. Nós o vemos, por exemplo, em 
grande sofrimento e tribulação acima de 
suas forças, a ponto de desesperar até 
da própria vida (II Coríntios 1:8). 
Normalmente, lemos referências como 
esta e não atentamos muito para elas; 
mas sua realidade trágica está ali escrita, 
documentada, no texto bíblico. Viver já 
não era algo pelo que ele esperasse; 
desesperar, sim, não mais esperar! Sua 
dor era tão grande que ele desistira da 
vida. Em Filipenses 2:27, ele diz que 
Epafrodito adoecera mortalmente: 
“Deus, porém , se com -padeceu dele, e 
não somente dele, mas também de mim, 
para que eu não tivesse tristeza sobre 
tristeza”.
Vemos, então, que o apóstolo, nem 
sempre, era aquele homem de alegria 
efervescente, saltitante. Como qualquer 
mortal ele era, eventualmente, solapado 
com tristeza sobre tristeza que caía sobre 
ele como avalanche, derrubando-o,
23
ferindo-o.
Em II Coríntios 2:12-13 ele diz:11 Ora, 
quando cheguei a Trôade para pregar oevangelho de Cristo, e uma porta se m e 
abriu no Senhor, não tive, contudo, 
tranqüilidade no m eu esp írito (.J\ Em 
II Coríntios 7:5, narra ainda: “Porque 
chegando nós à Macedônia, nenhum 
alívio tivem os; pelo contrário, em tudo 
fom os a tribu lados: lu tas p o r fora , 
temores p o r dentro".
Finalmente, ao lermos o texto de II 
Timóteo 4:9-22, vemos Paulo confessar 
que se sente solitário e abandonado na 
prisão romana. Se ter conhecimento 
disso ajuda, a mim ajuda; se conforta, a 
mim conforta. Comece, então, a receber 
conforto e ânimo dessas informações. 
O homem que foi levado ao terceiro céu, 
que teve visão de anjos, um encontro 
especialíssimo com Jesus, que vivia 
cheio do Espírito Santo, debaixo da 
graça de Deus; o homem que trans­
pirava poder, orava pelos enfermos e os 
curava; exorcizava os espíritos imundos;
24
que tinha poder para persuadir os que o 
contradiziam e que vivia como um 
verdadeiro cristão, enfrentava um 
abismo existencial incrível.
A realidade que Paulo compartilha 
conosco neste texto é a de que a graça 
de Deus não nos transforma em super­
homens. Ou seja, não faz de nós 
minerais, criaturas de pedra; con­
tinuamos de carne e osso; continuamos 
pó da terra.
Ela é graça de Deus porque me 
fortalece na minha fraqueza, supre o que 
não tenho — sinal de que em mim falta 
algo. O que acho tremendo neste texto 
é o fato de que esse homem que vive 
da graça continua gente; continua 
homem — de carne e sangue; continua 
carente. A grandeza de um homem 
está na sua própria humanidade, e 
a beleza de sua espiritualidade está 
na confirmação dela diante de 
Deus. Quais são as lutas e necessidades 
que podem sobrevir aos que creem em 
Jesus, mesmo vivendo sob a graça?
25
OS AMIGOS SÃO PROVISÃO 
DA GRAÇA DE DEUS PARA 
NOS ACOMPANHAR EM 
NOSSA SOLIDÃO
Entre as lutas e carências humanas, 
podemos notar que, embora sejamos 
ensinados de que a graça de Deus supre 
tudo, ela, no entanto, não nos isenta da 
necessidade de amigos. Quase nunca 
levamos isso em consideração. Pen­
samos muito na graça de Deus como 
algo transcendente, que vem do céu até 
nós; no entanto, ela também tem um 
significado imanente, ou seja, diz 
respeito a coisas que se encarnam; ela 
também nos alcança através de relações 
horizontais — interpessoais — de 
amizade. Por mais cristão que eu seja, 
se tenho sido solapado pela vida, 
abandonado pelo companheiro em 
virtude de sua morte ou de ausência 
consentida, mais do que nunca vou 
sentir que Deus não me isenta dessa 
necessidade.
26
Paulo não sublimou esta situação, não 
a tratou com descaso, mas admitiu-a 
com plena sinceridade e transparência. 
E o que mostra o v. 9, quando diz a 
Tim óteo: “procu ra v ir te r com ig o 
depressa.”
Repare que Paulo já deveria ser idoso, 
mas nem por isso desprezou a com­
panhia do moço. No v.21, ele reforça 
esse pedido: “ Apressa-te a vir antes do 
inverno.” Que coisa bonita! Não obs­
tante andar cheio de Deus, do Espírito 
Santo, o apóstolo não desprezava a 
companhia do irmão! He sabia que, no 
plano de Deus, sua chegada seria graça 
para lhe suprir as carências. As vezes, 
vam os vivendo um tremendo frio 
psicológico, sem ninguém que nos 
aqueça, que nos ouça; talvez, inclusive 
por nossa culpa, nós mesmos criamos a 
situação de abandono, a prisão gelada 
na qual nos fechamos. E essa é a pior 
prisão, aquela na qual nos colocamos, 
fechando a porta por dentro quando, 
então, ninguém entra.
27
O v . l l diz que Paulo precisava de 
Marcos; o v. 10, que sentia falta de 
Crescente; o v. 12, de Tíquico; o v. 19, 
de Prisca, Áquila e de Onesíforo; o v. 
20, de Erasto e Trófimo, a quem deixara 
doente em Mileto. Veja, pois, como 
Paulo se fazia rodear de pessoas que 
amava, e cuja falta sentia de forma 
aguda e declarada. Ele sente falta de 
toda essa gente por uma razão muito 
simples: ele é homem. É bom não 
esquecer o que Deus disse a Adão: “Não 
é bom que o homem esteja sâ\ depois 
de formar o homem do pó da terra.
Ele não se referia ao macho, mas à 
espécie humana, pois ele sabia que, 
mesmo vivendo debaixo de sua graça, 
homem ou mulher sentiriam sempre 
falta de amigos. E inútil romantizar esta 
situação afirmando ter o Senhor, e isto 
basta. Pãulo também o tinha, e muito 
próximo, mas ainda assim se sentia, às 
vezes, carente de companhia e de afeto.
Você é carne e osso, tem mente, tem 
estrutura psicológica, está sujeito a
28
emoções, à afetividade; precisa de 
relações horizontais. A graça de Deus 
não é apenas uma manifestação que 
vem do alto para minha vida, mas ela 
também se manifesta com os' cabelos 
lisos, encaracolados, pixaim; ela se 
manifesta com olhos azuis, castanhos; 
com pele negra, morena, branca; a graça 
de Deus se manifesta com cara com­
prida, cara redonda, lisa ou com barba. 
Quando você, porém, vai assumindo, 
engolindo a solidão e afugentando os 
que tentam aproximar-se de você, 
mandando-os embora, vai se tornando 
ensimesmado, gente de assunto único 
— o de suas dores e dramas — , afun­
dando-se numa eterna autopiedade, 
afastando as pessoas de você. Afinal, 
ninguém consegue conviver muito 
tempo com aquele cujo único tema de 
conversa é a tragédia. Ao cultivarmos 
esta tendência de cultuarmos a solidão, 
vamos entrando num processo doentio, 
patológico, alienante, cada vez mais sós, 
encaramujados, num ostracismo pro­
29
fundo.
Tal solidão acaba sendo o melhor 
ambiente para as tentações de todo tipo, 
como a de curá-la ou minorá-la com 
uma relação pecaminosa.Torna-se 
terreno adubado para taras, manias, 
psicopatias, desconfianças. Com muita 
freqüência, vemos homens de Deus 
caírem de maduros e, se observarmos, 
vemos que são pessoas solitárias, às 
vezes até alienadas, isoladas no “santo 
dos santos” , sem permitirem o acesso 
de ninguém. Sabem qual o grande 
perigo disto tudo? O de nos tornarmos 
céticos, amargurados, indiferentes, 
armados contra tudo e todos. Vamos 
sendo feridos, magoados, traídos e 
depois de um tempo desistimos de crer, 
de amar, de nos abrir; desistimos de 
investir nosso coração nas pessoas.
Em virtude das freqüentes decepções, 
podem os nos tornar vulneráveis à 
tentação de sermos eternamente des­
confiados dos outros. Sempre que me 
vejo envolvido por problemas deste tipo,
30
tento dizer para mim mesmo que é 
melhor ser traído por ter confiado 
do que nunca ser traído por nunca 
ter confiado. Atendo centenas e 
centenas de pessoas, e mesmo aquelas 
que têm a fé mais arraigada, não 
raramente, em meio à sua solidão já 
tiveram pelo menos desejo de que a vida 
se lhes terminasse logo, para que o 
desespero que as surpreendeu chegasse 
a um fim. Às vezes, não se chega à 
resolução de um suicídio propriamente 
dito, mas armam-se esquemas de 
autopunição. Admita, pois, que mesmo 
sendo cristão, você não está isento da 
necessidade de ter amigos que ajudem 
a arrancar de você essas vozes da culpa 
e da autopunição.
O que acontece no coração de uma 
mulher que fica viúva? Ou é aban­
donada pelo marido? Ou é engravidada 
e o rapaz desaparece? Ela fica num 
buraco, muito só, sentindo-se ex­
tremamente desprezada; abandonada, 
muitas vezes. E é nesta hora que ela
31
precisa entender que am igos são 
respostas concretas de Deus para a sua 
situação; que é necessário pedir a ele 
um companheiro ou companheira de 
jugo, não para conversar sobre as 
calamidades, mas para se fortalecerem 
mutuamente.
Apesar de viver num lar excep­
cionalmente feliz, com minha esposa e 
quatro filhos, tenho que confessar que 
há ocasiões nas quais preciso manter um 
contato com amigos, para com eles 
compartilhar certos problemas e as­
suntos impossíveis de se conversar em 
minhas relações familiares. Imagine, 
então, como não há de ser difícil, 
quando se tira a família de tudo isso ou 
a esposa... Muito mais acentuada será 
esta necessidade.
32
A GRAÇA DE DEUS TAMBÉM 
NÃO NOS ISENTA DE 
PROFUNDAS DECEPÇÕES 
COM AS PESSOAS
N ã o é só com os amigos — até 
mesmo os melhores — que podemos 
nos decepcionar: isso atingetambém 
nossas parcerias de vida. Paulo ex­
perimentou desapontamento ao de- 
cepcionar-se com seu amigo Demas, 
que o abandonou, como declara no 
v.10. Ele fazia parte de sua equipe de 
evangelização, viajava com ele e o 
acompanhava em suas viagens evan- 
gelísticas, como lemos em Colossenses 
4:14. Em sua carta a Filemon, v.24, 
Paulo diz que confiava nele, mas em II 
Timóteo ele declara que o amigo preferia 
as atrações do presente século a ele. Nos 
v.14 e 15, ele diz ainda que Alexandre, 
o latoeiro, causara-lhe muitos males. Ele 
delatara atividades evangelísticas de 
Paulo, o que naqueles dias em Roma 
era subversão. Fora um irmão que dera
33
informações falsas sobre Paulo. A idéia 
que subjaz, pois, é a de traição — se 
Demas o abandonou, Alexandre o traiu. 
O v.16 fala da falta de solidariedade, ou 
seja, na sua primeira defesa ninguém foi 
a seu favor, ninguém se solidarizou com 
ele: nem a igreja, nem os irmãos.
Três idéias básicas aparecem neste 
texto: a primeira é abandono; a segunda, 
traição e, a terceira, falta de soli­
dariedade. As três se encaixam na vida 
de cada um de nós, seja quem for. No 
caso específico de Paulo, o abandono 
foi de um companheiro de ministério; a 
traição, de um irmão, e a falta de 
solidariedade, da igreja. E no seu caso, 
quem o abandonou? Quem o traiu? 
Quem não foi solidário com você? 
Esqueça que quem está falando sobre 
isto é Páulo e tome apenas as situações, 
os sentimentos que o possuíram e as 
realidades que o cercam e traga-os para 
o seu conjunto de ocorrências de vida. 
Foram três as situações que lhe ocor­
reram e, talvez, as suas sejam seme­
34
lhantes às dele: abandono, traição, falta 
de solidariedade.
A graça de Deus não nos isenta de 
tais experiências. Conheço pessoas 
muito piedosas, que nem por isso 
deixaram de ser atingidas, golpeadas na 
vida, talvez não diretamente por estas 
três situações, mas pelas implicações 
profundas e emocionais que advêm das 
suas realidades.
A GRAÇA DE DEUS TAMBÉM 
NÃO NOS ISENTA DE 
ENFRENTAR DIFICULDADES 
MATERIAIS
T alvez alguém pergunte sobre o que 
a nossa realidade tem a ver com este 
texto. Respondo que tem muito a ver. 
Por exemplo, a mulher abandonada ou 
que ficou só tem a responsabilidade de 
sustentar os filhos que lhe tocaram como 
herança; quando a mãe solteira tem que 
se movimentar tremendamente para 
que ela e o filho sobrevivam; a viúva
35
nem sempre tem o amparo necessário 
para continuar à espera do tempo de 
partir naturalmente, e não morrer de 
inanição antes da hora; o rapaz que se 
forma e não consegue emprego logo; o 
pai de família que perde o emprego ou 
tem uma crise em seu negócio. Há ainda 
situações as mais diversas carregadas 
sempre da tragédia do inesperado. 
Analise, então, a sua situação concreta, 
a partir das experiências e observações 
feitas.
No v.13, o apóstolo diz: “ Quando 
vieres, traze também a capa que deixei 
em Trôade, em casa de C arpo(..J\ Isso 
tem a ver com o v.21: “Apressa-te em 
vir antes do inverno” , que nos leva a 
perceber o frio intenso que Paulo 
passava naquela masmorra úmida. Ele 
não era tão romântico a ponto de dizer: 
“Não preciso de nada!” Não! Se a capa 
não chegasse, o frio ia lhe gelar os ossos. 
Ou seja, Paulo precisava de proteção, 
de suprimento. A palavra grega que 
significa capa descreve uma espécie de
36
poncho, um tipo de cobertor com um 
buraco onde se enfiava a cabeça. Assim 
é que Paulo revela bem que o frio que 
ele estava passando era intenso. Ele, 
portanto, não espiritualizava esta 
necessidade, nem para sentir frio. Ele 
não diz: “eu decreto que não está frio” . 
Ele pede a capa!
A graça de Deus não evita ter que 
atender a algumas necessidades ma­
teriais. A promessa de Jesus, em Mateus 
6, de que teríamos garantidos vestuário 
e comida, diz respeito ao básico; o v.33 
nos manda buscar em primeiro lugar o 
reino dos céus, para que todas “ estaá' 
coisas nos sejam acrescentadas. Quais 
são “estas co isa i' às quais ele se referiu 
no contexto antecedente? Comida, 
roupa! Não prometeu um carro do ano, 
nem uma casa de campo além da casa 
própria. Ou seja, os acessórios, aquilo 
que Deus não tem nenhuma obrigação 
de providenciar podem vir ou não, mas 
não está incluído no “contrato” . Jesus 
apenas disse que, assim com o os
37
passarinhos não morrem de fome, nós 
também sobreviveriamos. Busque o 
Reino, e você irá sobreviver apesar de 
todas as lutas. No entanto, mesmo com 
essa promessa, o Evangelho não nos 
livra de privações: é só atentar para a 
vida de Paulo ou, melhor ainda, para a 
vida de Jesus. A Bíblia revela que “As 
raposas têm os seus covis e as aves do 
céu, ninhos; mas o Filho do homem não 
tem onde reclinar a cabeçá ' (Mateus 
8:20).
Em II Coríntios 11:27, Paulo diz que 
passou fome; também frio e nudez. No 
cap.12, v.10, declara que passava 
necessidades, dizendo — por incrível 
que pareça — que sentia prazer nisso. 
Seu prazer não residia no sofrimento, 
mas no fato de que ele podia ama­
durecer e se “enriquecer” enquanto 
sofria. As necessidades materiais são 
quase medidas terapêuticas de Deus 
para nosso caráter. Servem-nos igual­
mente para realçar nossa necessidade 
de dependência integral de Deus e
38
ressaltam quais são, de fato, as relações 
que temos com a vida.
Onde está meu coração? Em que 
tenho investido? Por favor, quando as 
coisas estiverem apertadas para você, 
não pense que a única causa de um 
fracasso seja pecado, pois homens que 
vivem sob a graça de Deus também 
estão sujeitos a necessidades materiais.
Durante um ano e meio, há bastante 
tempo, trabalhou na VINDE um irmão 
que semanalmente entrava em meu 
escritório para dizer: “ Pr. Caio, o Senhor 
me revelou que você está em pecado. 
Confesse que você é uma montanha de 
soberba” . Eu respondia: “Sei que não 
sou humilde como deveria ser, mas 
também não sou a montanha de so­
berba que você está dizendo” .
Aquilo não era cruz, era espinho na 
carne mesmo! Toda vez que passá- 
vamos por qualquer dificuldade finan­
ceira, lá vinha ele: “E resultado de seu 
pecado. A missão está sofrendo por sua 
culpa.”
39
Você não sabe o que é passar um ano 
e meio ouvindo esse tipo de “mensa­
gem” em sua própria sala! Eu, ali, 
pedindo paciência a Deus para lidar com 
a situação.
Alguns anos depois de ter saído da 
missão, ele resolveu montar um grande 
evento no Rio de Janeiro, endividando- 
se até a alma para pagar toda a 
campanha promocional com outdoors, 
cartazes, além do som da melhor 
qualidade. O evento foi realizado, mas 
o dinheiro gasto não foi recuperado, e a 
dívida perdurou por muitos anos.
Tempos depois, ele esteve em meu 
escritório e disse: “Eu vim pedir perdão, 
porque foi necessário que eu vivesse 
situação idêntica para entender que 
necessidade material não é sinônimo de 
pecado. Perdoe-me a estupidez de todos 
aqueles anos.”
Em Atos 11:29 e 30, percebemos que 
os irmãos que moravam na Judéia 
estavam precisando urgentemente de 
socorro, pois uma crise se abatera sobre
40
o mundo, inclusive sobre a Igreja, nos 
dias de Cláudio.
Cito este exemplo bíblico para dar 
maior força ao fato de que muitos 
irmãos, em nossos dias, enfrentam 
dificuldades de toda sorte. Vivemos 
tempos de crise em nosso país, de 
desemprego, de baixa renda, e muitas 
são as vezes em que, nesta economia 
terrível, tem-se que juntar trocados para 
pagar o aluguel, comprar o leite e 
alguma coisa para abastecer a geladeira, 
numa luta tremenda pela sobrevivência. 
Não obstante a tudo isso, a graça de 
Deus que abençoa, conforta e supre o 
nosso ser não retira de nós nossa 
humanidade.
Muitas de nossas perdas materiais são 
oriundas de circunstâncias adversas à 
nossa vontade, resultado de escolhas 
erradas, negligências ou, ainda, de atos 
inconseqüentes de nossa parte. Não é 
sempre, portanto, que estamos total­
mente isentos de culpa. Se você já 
perdeu, tire pelo menos, da perda, o
41
resultado espiritual de um sacrifício. 
Entregue a situação a Deus; receba sobre 
si todas as suas conseqüências,mesmo 
que sejam as imposições das neces­
sidades materiais. Ofereça, então, sua 
pobreza ou a dim inuição de seus 
recursos e suas privações como sacrifício 
de louvor a Deus. Se tiver participado 
de modo culposo no que aconteceu, 
peça a ele perdão, apanhe o que restou 
e entregue a ele, como libação, como 
oferenda.
A graça de Deus não nos isenta de 
passar pelas necessidades materiais; o 
que devemos é oferecê-las ao Senhor 
como sacrifício de louvor. E mais: não 
deixe que um eventual fracasso jogue 
você na cultura da pobreza e da 
escassez. Você não é forçado a ter a fim 
de ser abençoado. Mas você não é 
obrigado a não ter para se interpretar 
como espiritual. Ter ou não ter não 
significam nada além de ter ou não ter. 
Quando a parte anda no amor de Deus, 
todos as coisas cooperam para o nosso
42
bem, seja o ter ou seja o não ter.
A GRAÇA DE DEUS NÃO NOS 
ISENTA DE ENFRENTAR O 
TÉDIO DA INATIVIDADE
abandono e da inatividade. No v.13, 
Paulo diz: “ Traze também os livros, 
especialmente ospergam inhoá'. Você já 
imaginou esse homem ativo, ebuliente, 
indomável, de um caminhar irreprimível, 
de uma agitação tremenda, agora 
recluso em uma prisãozinha? Esse 
homem que era uma usina de imagi­
nações do reino de Deus e que sonhava 
com o mundo, que não encontrava 
terras longínquas demais pelas quais não 
se apaixonasse, depara-se num cubí­
culo, inativo, entediado no horroroso 
silêncio da manhã, no marasmo da 
tarde, na escuridão da noite.
Faz-me lembrar uma carta de 
Bonhoeffer, escrita de uma prisão 
nazista: “Acordo às 6 da manhã; a
vezes, o tédio decorre do
43
manhã é longa e eu ando durante três 
horas na cela, de um lado para o outro 
para exercitar minha musculatura. A o 
meio-dia, tenho meia hora ao sol, e, 
então, eu fico torcendo para chegar a 
tarde quando leio a Bíblia e oro. Às 
16:30 servem a refeição, após o que eu 
peço a Deus que a noite chegue para 
que eu possa mergulhar num sonho. E 
maravilhoso ter a oportunidade de 
sonhar; eu me liberto à noite,viajo por 
onde não posso viajar, vou aonde meu 
corpo não pode ir.”
Paulo também procura encontrar um 
meio de ocupar a mente na inatividade: 
“Traze os livros e os pergam inhos ”, eu 
quero viajar por meio deles, quero 
ocupar a mente com trabalho, com 
apontamentos.
E interessante como ele não espi­
ritualiza o tédio, assumindo que este mal 
requer um remédio material. E simples: 
quem está entediado precisa se distrair. 
Isto me faz lembrar de pastores sem 
igreja, jubilados; homens aposentados,
44
mulheres viúvas ou divorciadas que 
criaram seus filhos e se vêem sozinhas; 
pessoas que de alguma forma se viram 
limitadas em sua ação; pessoas que, por 
contingências diversas, perderam sua 
capacidade de expressão, de comu­
nicação. A graça de Deus não nos isenta 
disso tudo. Justamente para isto é que 
temos de encarar as oportunidades de 
distração como instrumentos da graça 
de Deus para nos libertarem das rotinas 
tediosas e enclausurantes.
A PROVISÃO DE DEUS PARA 
AS DIFICULDADES
plicitadas; gostaria de ressaltar, contudo, 
que o texto não apenas levanta o 
problema e as situações que podem 
atropelar nossa existência, mas apre­
senta recursos de Deus para os en­
fermos.
Em primeiro lugar, acho lindíssimo o 
que se encontra em II Timóteo 4:17,
provisões já foram ex-
45
onde Paulo diz: “Mas o S enhor m e 
assistiu e m e revestiu de forças para que, 
p o r m eu intermédio, a pregação fosse 
plenamente cumprida, e todos os gentios 
a ouvissem; e fu i libertado da boca do 
leãd\
Aqui, Paulo mostra que apesar de não 
ter sido poupado da dor, ele era 
fortalecido em suas fraquezas e ca­
rências.
Isto é graça, é a força que eu não 
tenho; e o acréscimo do que me 
falta. Você já ouviu pessoas dizendo: “Eu 
tenho certeza de que nunca conseguiría 
passar uma situação desse tipo” . Aí, de 
repente, elas se vêem dentro dessa 
câmara de aflições e, sem que saibam 
como, passam por ela e saem com a 
certeza de que sozinhas não poderíam, 
mas conseguiram.
É graça!
Paulo sabia muito bem que o socorro 
de Deus era real e presente, pois para 
ele não há impedimentos, lugares 
lúgubres demais, abismos ou poços tão
46
fundos nos quais a graça não possa 
penetrar.
Em segundo lugar, o Senhor nos livra 
das ciladas que nos armam. Os versos 
17 e 18 deixam isto muito claro: “e fu i 
libertado da boca do leão. O Senhor m e 
livrará também de toda obra maligna...”
Paulo não está preocupado em não 
ter luta, ele está preocupado em não 
deixar seu coração se envolver com 
obras malignas. Nossa preocupação não 
deve ser a de não passar por conflitos, 
mas a de pedir a Deus que o nosso 
coração, de alguma forma, não fique 
mergulhado, chafurdado em amargura, 
em ódio, em vingança, em ressen­
timento, em cinismo, em descrença, em 
dúvida e medo de se dar. E nessa hora 
que surge a possibilidade e espaço para 
a obra maligna.
Em terceiro lugar, ele nos dá a visão 
de que nada que nos possam fazer e 
nada que nos possa acontecer pode tirar 
a verdadeira riqueza da nossa vida.
No verso 18 ele diz: “ O Senhor m e
47
levará a salvo para o reino". Às vezes, 
Deus não nos livra da morte, mas nos 
livra através dela. Às vezes, Deus não 
nos livra da fome, mas nos livra através 
da fome; não nos livra da decepção, 
mas, sim, por m eio dela, até que 
cheguemos ao lar celestial!
Em último lugar, o Senhor põe 
sempre ao nosso lado alguns que nos 
amam e que nos confortam .Todo 
mundo foi embora, som ente Lucas está 
com igo. Há sempre um Lucas, olhe ao 
lado, ele está aí. Às vezes, é a sua esposa 
que está de plantão; seus amigos lhe 
traíram, mas ela está aí...
Meu irmão, se você estiver-se sentindo 
triste, solitário, não se odeie por isto, mas 
levante a cabeça, olhe para o Senhor, 
olhe para os irmãos amados e lembre- 
se de que a graça de Deus não o tornará 
um super-herói. Assuma a imanência 
desta graça nas coisas naturais e aceite 
que, quando estamos solitários, a graça 
de Deus vem através de amigos e não 
de um quarto escuro. Quando estamos
48
com frio, a graça de Deus é roupa 
quente. Quando estamos entediados, 
precisamos de distração.
N o Amazonas, temos um amigo 
nascido na Irlanda, de boa família, que 
foi jogador de futebol da primeira divisão 
daquele país, candidato à seleção 
profissional. Ao converter-se, sentiu um 
chamado para o ministério sagrado. 
Quando casou, recebeu convites para 
pastorear na Irlanda, mas sentiu-se 
cham ado para o Amazonas, num 
lugarzinho perdido e desconhecido, de 
nome Lábrea. Saiu, então, da Irlanda 
com a mulher e veio de navio. Che­
gando a Manaus, depois de viajar dias 
e dias, entrou num barco e, ao de­
sembarcar em Lábrea, a mulher morreu 
de febre negra. Não falava uma palavra 
em português, nem mesmo “ai” . O 
capitão do barco disse: “Esse homem 
vai se suicidar...” Porque não era 
possível acontecer tanta desgraça junta: 
novinho, deixa sua terra e parte para o 
fim do mundo para ser missionário e,
49
assim que chega, lhe morre a mulher, 
nova e bonita. Ele pôs, então, um rapaz 
o dia inteiro atrás dele, para impedi-lo 
de um gesto insano. Mas aquele mis­
sionário saiu, encomendou um caixão, 
carregando-o sozinho até o cemitério da 
cidade, debaixo de uma chuva torren­
cial. Cavando um buraco, colocou 
dentro o caixão, cobrindo-o de terra. 
Sobre ela, jogou as flores que arranjara 
e caiu prostrado sobre o lugar, chorando 
muito, alagando o túmulo junto com a 
chuva naquela terra que lhe escondia a 
mulherzinha amada. “Senhor, eu não 
posso suportar isto!” “Deus, eu amo 
Jesus. Mas quero confessar-te uma 
coisa: se eu chegasse ao céu hoje, a 
primeira pessoa que eu gostaria de ver 
não seria Jesus, mas minha mulher. Não 
agüento mais a saudade dela!” , orou 
dias depois.
Deus não é o soberano distante e 
vingador que pintamos, alguém que 
exige reverência e distância. Ao con­
trário, ele é Deus amigo e Pai mise­
50
ricordioso — ele não é uma divindade 
pagã, Zeus, Poseidon ou Exu Caveira. 
Ele se importa com seus filhos. Mesmo 
sendoo que sou, se meu filho perdesse 
a mulher e me dissesse que queria vê-la 
primeiro, eu diria: — Você tem toda 
razão, meu filho. Quanto mais ele!
“ Ora, ainda vos declaram os p o r 
palavras do Senhor isto: nós os vivos, 
os que ficarm os até a vinda do Senhor, 
de m odo nenhum precederemos os que 
dormem. Porquanto o Senhor mesmo, 
dada a palavra de ordem, ouvida a voz 
do arcanjo, e ressoada a trombeta de 
Deus, descerá dos céus, e os m ortos em 
Cristo ressuscitarão primeiro, depois nós, 
os vivos, os que ficarm os, serem os 
arrebatados juntam ente com eles, entre 
nuvens, para o encontro do Senhor nos 
aresf.J. ” (I Ts 4:15-16)
Nesta passagem, Deus estava lhe 
dizendo que ele veria sua mulher; ela 
ressuscitaria e ele, vivo, iria ao seu 
encontro e juntos iriam ao encontro do 
Senhor nos ares! Com isso, Deus está
51
também dizendo que os seres humanos 
podem se amar, pois nós precisamos uns 
dos outros.
E lá ficou o moço; aprendeu a língua, 
fundou uma igreja, uma escola e, anos 
mais tarde, casou com uma mulher de 
lá. Hoje, com filhos adolescentes, ele 
garante que antes de passar por aquilo 
tudo, não poderia jamais pensar que 
agüentaria; e após ter passado, não sabe 
como, humanamente, agüentou; sabe 
apenas que o Senhor o assistiu.
Talvez você esteja se dizendo que já 
não suporta mais ser jogado nesse 
destino selvagem. Mas acredite: o 
Senhor quer renovar-lhe o alento, quer 
revesti-lo de forças, quer cobrar-lhe 
ânimo, quer que você saia dessa 
curvatura, desse compromisso de 
assumir a tragédia e que renove a 
combatividade.
52
O SENHOR VEM E NOS 
LIVRA DAS CILADAS QUE 
NOSARMAM
O final do v.17 e o v.18 nos dizem: 
“ ...fu i libertad o da boca do leã o .O 
Senhorm e livrará também de toda obra 
m aligna (..J\ Tenha em mente o se­
guinte: quase todas essas situações de 
abandono, solidão, tédio, necessidades 
e carências, nostalgias, separações e 
fraturas de relacionamentos trazem por 
trás a obra maligna. Nem sempre 
conseguimos ser abandonados e fazer 
com que esse abandono não redunde 
em obra maligna; nem sempre con­
seguimos passar por tais situações sem 
dar lugar a que essa obra se intrometa 
entre nós.
Paulo, no entanto, nos adverte em sua 
carta aos Efésios 4:26 e 27: “Irai-vos e 
não pequeis; não se ponha o sol sobre a 
vossa ira, nem deis lugar ao diabo”.
Muitas vezes, a luta e o sofrimento 
promovidos pela vida podem funcionar
53
como uma “cilada” . Se nos baseamos 
em nossas tribulações, podemos ser 
arrastados para elas nos sentindo com 
direito à rispidez e desconfiança com 
tudo e todos.
A graça de Deus promove perdão, 
transforma a tragédia em bênção se nos 
deixarmos controlar pelo Espírito Santo 
e se exercitarmos o perdão.
54
CONCLUSÃO
D e u s desafia a mim e a você a 
experim entar esta graça sem que 
precisemos nos transformar em super- 
heróis espirituais.
Olha, irmão, se percebermos isto, 
teremos não apenas esta transcendência 
da graça, mas a veremos com fre- 
qüência em coisas, pessoas, amigos, e 
assim, poderemos exclamar: Emanuel, 
Deus conosco! Aleluia!
55
ESTUDANDO O TEXTO
Agora que você acabou a leitura desta 
mensagem, gostaríamos de incentivá-lo 
a estudar e refletir um pouco mais sobre 
a realidade aqui exposta. As perguntas 
a seguir podem ser aplicadas em grupos 
de estudo, Escola Dominical, no culto 
em família ou mesmo na devocional. 
Isto é um exercício para que a Palavra 
se torne prática e eficaz na sua vida.
1- Quando você pensa no apóstolo 
Páulo, você pensa num homem sujeito 
a fraquezas? De que tipo?
56
2- Durante a leitura você se iden-tificou 
com as fraquezas humanas do apóstolo 
Paulo? Qual delas?
3- O que os amigos representam para 
você?
4- O que é mais difícil: ter amigos ou 
ser amigo?
57
5- De que maneira você pode atuar 
como um “Lucas” na vida do seu 
próximo?
6- Das crises descritas neste livreto, 
qual a pior vivida pelo apóstolo Paulo?
7- De acordo com Mateus 6, o que 
podem os esperar da “provisão de
Deus”?
58
8- Como, de modo prático, a Igreja 
pode interferir no “tédio da inatividade”?
9- Dê exemplos práticos de como 
Deus pode nos livrar da boca do leão e 
de toda a obra maligna?
10- Você acha que a solidão pode ser 
“ambiente de tentação”? Por quê?
59
	ven&cd
	O CRISTÃO NÃO É IMUNE AO SOFRIMENTO
	MAL INTERPRETADO TEOLOGICAMENTE
	INCOMPREENSÓES NO PASTORADO
	AUSÊNCIA DE SUPORTE FINANCEIRO
	SOFREU CALÚNIAS
	NÃO FOI VALORIZADO
	TUDO ISSO E MUITO MAIS!
	SER CRISTÃO NÃO SIGNIFICA NÃO SER HUMANO
	A PROVISÃO DE DEUS PARA AS DIFICULDADES
	CONCLUSÃO
	ESTUDANDO O TEXTO

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