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REGES – DIREITO PENAL I EXCLUSÃO DE ILICITUDE Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. EXCESSO PUNÍVEL Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. O que é antijuridicidade? Segundo Damásio E. de Jesus, “é a contradição do fato, eventualmente adequado ao modelo legal, com a ordem jurídica”(1). Todo fato típico é também antijurídico, salvo se concorre qualquer causa de exclusão da ilicitude. “A ilicitude resolve- se na lesão de um bem penalmente protegido, independentemente da culpabilidade do sujeito. Ela existe por si só. Em face disso, o inimputável pode realizar condutas ilícitas, embora não culpáveis”(1) Divide-se a antijuridicidade em formal e material: “A antijuridicidade formal é a simples contradição entre o fato praticado pelo sujeito e a norma de proibição. Nesse sentido: Miguel Reale Júnior, Teoria do delito, 1. ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1998, p. 91. A antijuridicidade material é a existente na conduta humana que fere o interesse tutelado pela norma. Prender um perigoso bandido sem mandado e sem flagrante é formalmente antijurídico e materialmente jurídico. Não se justifica um conceito de antijuridicidade formal em contradição a um conceito material de ilicitude. A primeira confunde-se com a tipicidade. Portanto, não existe ilicitude formal. Existe um comportamento típico que pode ou não ser ilícito em face do juízo de valor. A antijuridicidade é sempre material, constituindo a lesão de um interesse penalmente protegido. No sentido de que a ilicitude é material: JTACrimSP, 69:441, 83:166; RT, 605:311”(1) São causa de exclusão da antijuridicidade as seguintes: 1ª) estado de necessidade; 2ª) legítima defesa; 3ª) estrito cumprimento de dever legal; 4ª) exercício regular de direito. Dessa forma, incidindo quaisquer das acima exclui-se a antijuridicidade, embora o fato permaneça típico, mas faltando um dos requisitos do crime (sob o aspecto formal), não há crime. Cumpre observar que todas as causas de exclusão da antijuridicidade possuem um elemento subjetivo, como ensina Damásio E. de Jesus: “As causas de exclusão da ilicitude possuem um elemento subjetivo (teoria dos elementos subjetivos de justificação): é necessário que o sujeito conheça a situação de fato justificante. Caso contrário, i. e., inexistente esse elemento subjetivo, não incide a causa descriminante, subsistindo a ilicitude e, em conseqüência, o crime. Assim como o tipo incriminador possui elementos objetivos e subjetivos, o tipo permissivo, i. e., a norma penal permissiva, compõe-se de "elementos objetivos e subjetivos de justificação". Além da satisfação dos requisitos de ordem objetiva da causa da justificação, o autor deve agir com "conhecimento da situação de fato justificante". A ausência do elemento objetivo ou subjetivo no fato praticado leva à ilicitude da conduta. O requisito subjetivo é previsto no estado de necessidade, em que o fato é praticado pelo sujeito "para salvar de perigo atual" "direito próprio ou alheio"”(1). EXCESSO (PARÁGRAFO ÚNICO) “Há excesso nas causas de exclusão da antijuridicidade quando o sujeito, encontrando-se inicialmente em estado de necessidade, legítima defesa etc., ultrapassa os limites da justificativa” (1) Segundo Damásio E. de Jesus, as causas do excesso “se origina do uso imoderado dos meios de reação. A posição dominante, entretanto, considera-o em face: a) do emprego de meios desnecessários; b) do emprego imoderado dos meios necessários. Nesse sentido: TJSP, ACrim 154.323, rel. Des. Silva Pinto, RT, 719:393 e 395. Para nós, o emprego desnecessário de meios exclui a legítima defesa” (1) Apresenta-se sob duas formas: a) doloso ou consciente: “No excesso doloso, o sujeito tem consciência, após ter agido licitamente, da desnecessidade de sua conduta. Ele pressupõe tenha o agente, numa primeira fase, agido acobertado por uma descriminante. Numa segunda, consciente de que, por exemplo, a agressão injusta ou a situação de perigo já cessou, continua agindo, neste caso, ilicitamente. O excesso intencional leva o sujeito a responder pelo fato praticado durante ele a título de dolo (art. 23, parágrafo único)” (1); b) não-intencional ou inconsciente: “É o derivado de erro, em que o autor, em face da falsa percepção da realidade motivada pelas circunstâncias da situação concreta ou pelos requisitos normativos da causa de justificação, não tem consciência da desnecessidade da continuidade da conduta. Na primeira fase, ele age licitamente; na segunda, por causa do erro, passa a conduzir-se ilicitamente” (1). Por outro lado, assume relevo a questão do “excesso involuntário derivado de erro de tipo e de erro de proibição”, como explica Damásio E. de Jesus: “Adotada pelo Código Penal a teoria limitada da culpabilidade, é necessário distinguir: a) se o excesso não-intencional deriva de erro sobre os pressupostos fáticos da causa de justificação, cuida-se de erro de tipo (CP, art. 20, § 1º). Se escusável, ficam afastados dolo e culpa, aplicando-se o disposto no § 1º, 1ª parte; se inescusável, surge o excesso culposo, respondendo o sujeito por delito culposo, nos termos do art. 23, parágrafo único, parte final, c/c o art. 20, § 1º, 2ª parte; b) se, entretanto, o excesso não-intencional deriva de erro sobre os limites normativos da causa de justificação, trata-se de erro de proibição (CP, art. 21). Se escusável, há exclusão da culpabilidade, aplicando-se o art. 21, caput, 2ª parte; se inescusável, não há exclusão da culpabilidade, respondendo o sujeito por crime doloso, com a pena diminuída de um sexto a um terço (art. 21, caput, parte final)” (1) ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL (III) Sendo o ordenamento jurídico coeso, uno como um todo, não podem haver contradições em seu bojo, de onde o agente cumprindo regularmente um dever legal, não pode ele estar praticando, ao mesmo tempo, um ilícito penal. Assim, impondo a própria lei que o sujeito cumpra determinada conduta, não pode esta ser tida por antijurídica. A excludente obriga a existência de que o executor seja um funcionário ou agente público atuando por ordem da lei , compreendendo-se o “dever legal” como em sendo “o previsto em norma jurídica, tanto penal como extrapenal (podendo ser regulamento, resolução, decreto ou qualquer ato emanado do poder público), desde que tenha caráter geral, mas não deveres morais, religiosos, etc. *Crimes culposos: alegação da excludente: Inadmissibilidade. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO (III) “Qualquer pessoa pode exercer um direito subjetivo ou faculdade, posto que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei (Constituição Federal, art. 5º, inc. II), de onde não há antijuridicidade desde que o agente obedeça, rigorosamente, aos requisitos objetivos traçados pelo poder público, pois fora daí há abuso de direito, respondendo o agente pelo fato constitutivo da conduta abusiva” (3) Damásio E. de Jesus anota o seguinte (1): “Expressão ‘direito’: É empregada em sentido amplo, abrangendo todas as espécies de direito subjetivo (penal ou extrapenal). Desde que a conduta se enquadre no exercício de um direito, embora típica, não apresenta o caráter de antijurídica. Regularidade do exercício: O Código fala em exercício regular de direito, pelo que é necessário que o agente obedeça, rigorosamente, aos requisitos objetivos traçados pelo poder público. Fora daí, há abuso de direito, respondendo o agente pelo fato constitutivo da conduta abusiva. No sentido do texto: RT, 572:297; TACrimSP, ACrim 333.897, RT, 587:340”. Homicídio: A ele é inaplicável a excludente do exercício regular de direito: inexiste qualquer direito cujo exercício importa a faculdade de matarCONSENTIMENTO DA VÍTIMA “O consentimento do ofendido pode funcionar como: a) causa excludente da tipicidade; e b) causa excludente da antijuridicidade” (1) “Consenso excludente da tipicidade: Quando a figura típica contém o dissentimento do ofendido como elemento específico, o consenso funciona como causa de exclusão da tipicidade. No crime do art. 150 do Código Penal, se o titular do bem jurídico consente na entrada do agente, o fato por este cometido é atípico, i. e., não se amolda à definição legal da violação de domicílio”(1); “Consenso como excludente da ilicitude, segundo a doutrina tradicional: Quando a figura típica não contém o dissentimento do ofendido como elementar, tratando-se de pessoa capaz e disponível o bem jurídico, o consenso funciona, nos termos da doutrina tradicional, como causa de exclusão da antijuridicidade. Por exemplo: não há crime de dano (art. 163) quando o titular do bem jurídico consente em que seja danificado, destruído ou deteriorado. Hoje, contudo, adotada a teoria da imputação objetiva, essa conduta deve ser considerada atípica. Vide nossa Imputação objetiva, São Paulo, Saraiva, 2000” (1) “Requisitos: Para que o consentimento tenha eficácia, há a necessidade de duas condições: 1ª) que o bem jurídico seja disponível: tratando-se de bem jurídico indisponível o fato é ilícito; 2ª) que o ofendido seja capaz de consentir: é necessário que a vontade seja expressa por quem já atingiu a capacidade penal, aos 18 anos de idade, não eivada de qualquer causa que lhe retire o caráter de validade (inimputabilidade por doença mental, erro, dolo ou violência)” (1) “Momento do consentimento: Deve ser manifestado antes ou durante a prática do fato. Se posterior, não tem força de excluir o crime, podendo valer como renúncia ou perdão nos casos de ação penal privada (CP, arts. 104 e 105)” (1) ESTADO DE NECESSIDADE Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. O artigo sob exame trata de uma das causas de exclusão da antijuridicidade (ver art. 23 CP), o qual “é uma situação de perigo atual de interesses protegidos pelo direito, em que o agente, para salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio senão o de lesar o interesse de outrem” (1) ......................................................................................................................................................... Para compreensão do estado de necessidade, sua análise deve ser realizada de acordo com seus requisitos, como abaixo, pois a ausência de quaisquer deles excluiu o estado de necessidade. Requisitos I) situação de perigo (ou situação de necessidade) a) um perigo atual; b) ameaça a direito próprio ou alheio; c) situação não causada voluntariamente pelo sujeito; d) inexistência de dever legal de arrostar perigo (§ 1º). II) conduta lesiva (ou fato necessitado). a) inevitabilidade do comportamento lesivo; b) inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado; c) conhecimento da situação de fato justificante (elemento subjetivo) I,a) Perigo atual ou iminente “Perigo atual é o presente, que está acontecendo; iminente é o prestes a desencadear-se. É certo que o Código Penal menciona apenas o primeiro caso. Entendemos, porém, que não se pode obrigar o agente a aguardar que o "perigo iminente" se transforme em "perigo atual". Se o perigo está prestes a ocorrer, não parece justo que a lei exija que ele espere que se torne real para praticar o fato necessitado. Nesse sentido, admitindo o perigo iminente: RT, 376:108. Contra, não admitindo o "risco iminente": TJSP, ACrim 33.768, RT, 597:287” (1). Obviamente que se o perigo já ocorrera ou se era esperado para o futuro, não há estado de necessidade. Deve se observar que a situação de perigo por ser causada tanto por fato natural como conduta humana A expressão "direito" deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo qualquer bem jurídico, como a vida, a integridade física, a honra, a liberdade e o patrimônio. É necessário que os interesses em litígio se encontrem protegidos pelo direito. Se a ordem jurídica nega proteção a um dos bens jurídicos, fica afastada a ocorrência do estado de necessidade. I,b) Ameaça a direito próprio ou alheio (Necessidade própria ou de terceiro) Na espécie, a proteção deve recair sobre “bens” que encontrem-se protegidos pelo direito, haja vista que se trata de causa de exclusão da antijuridicidade, não podendo o direito negar proteção a um bem para em sua defesa extrair-se um conduta lícita (jurídica) Em virtude do direito ameaçado, o qual vai ser protegido pelo sujeito através do estado de necessidade, surgem o “estado de necessidade próprio” e “de terceiro”, conforme se trate de intervenção (agir) do sujeito para por a salvo um bem jurídico seu ou de terceiro. Não exige a lei penal qualquer relação de parentesco, subordinação, afetiva ou etc entre aquele que age em estado de necessidade e o terceiro. Cumpre observar que no estado de necessidade de terceiro, a vontade deste (terceiro) é substituída pela vontade daquele que age para salvar o bem alheio, ou seja, não é preciso que o terceiro consinta ou manifeste-se no sentido de querer que seja salvaguardado seu bem Estado de necessidade putativo: “Se o agente supõe a existência do perigo (que na realidade não existe) ocorre o denominado "estado de necessidade putativo", resultante da combinação dos arts. 23 e 20, § 1º, 1ª parte, desde que escusável o erro de tipo. Neste caso, o erro exclui dolo e culpa. Se inescusável, o agente responde por crime culposo (art. 20, § 1º, parte final), desde que prevista a modalidade culposa. Se o erro decorrer de apreciação a respeito da própria existência da causa de justificação ou seus requisitos normativos, trata-se de erro de proibição, aplicáveis os princípios do art. 21 do Código Penal. Se escusável, exclui-se a culpabilidade; se evitável, responde o sujeito por crime doloso, com a pena atenuada” (1) Ao se observar sob o prisma do terceiro que sofre a ofensa em seu bem jurídico daquele que age em estado de necessidade, surge o que a doutrina denomina estado de necessidade agressivo e estado de necessidade defensivo. Segundo Damásio E. de Jesus, “Há estado de necessidade agressivo quando a conduta do sujeito atinge um bem jurídico de terceiro inocente. Há estado de necessidade defensivo quando a conduta do sujeito atinge um interesse de quem causou ou contribuiu para a produção da situação de perigo” (1) I, c) situação não causada voluntariamente pelo sujeito O entendimento de Damásio E. de Jesus é no sentido de que somente a situação de perigo causada dolosamente impede o reconhecimento do estado de necessidade. Para tanto, justifica da seguinte forma: “Entendemos que somente o perigo causado dolosamente impede que seu autor alegue encontrar-se em fato necessitado. Além da consideração de ordem humana, temos apoio no próprio Código Penal, que define a tentativa empregando a expressão "vontade", que é indicativa de dolo. Assim, por meio de interpretação sistemática, analisando a expressão "vontade" contida nos dois dispositivos (arts. 14, II, e 24), e sendo a primeira indicadora de dolo, chegamos à conclusão de que só o perigo causado dolosamente tem força de excluir a alegação justificadora do agente. Mas, se o provocou culposamente, é lícito invocar a descriminante. No sentido do texto: JTACrimSP, 43:195” (1) Não obstante, há entendimentos em sentidocontrário, de que a situação de perigo causada culposamente também excluiria o estado de necessidade, como a conferir: “Aquele que provoca situação de perigo, mediante atuação no mínimo culposa perante a mesma, não pode com êxito invocar estado de necessidade real ou putativo” (RJDTACRIM 3/143); “Para admitir-se a necessidade como causa justificativa do crime de furto, exige-se seja ela grave, atual, inevitável e não atribuível à culpa do necessitado, devendo este, ainda, fazer prova destas circunstâncias, não sendo suficiente mero desemprego laboral” (RJDTACRIM 24/162) De acordo com Júlio Fabbrini Mirabete, predomina na doutrina “a possibilidade de alegação do estado de necessidade quando o próprio agente causou culposamente o perito” (3) I,d) Inexistência de dever legal de enfrentar a situação de perigo “É indispensável que o sujeito não tenha, em face das circunstâncias em que se conduz, o dever imposto por lei de sofrer o risco de sacrificar o próprio interesse jurídico. Nestes casos, o sujeito não pode pretender justificar a lesão do interesse alheio sob o fundamento de que uma conduta diversa viria lesionar o bem próprio. Ocorre que há uma lei, decreto ou regulamento impondo a obrigação de ele arrostar o perigo ou mesmo sofrer a perda” (1) * arrostar = olhar de frente, encarar, sem medo; afrontar; fazer face a; cf Aurélio. Outrossim, não pode haver desproporção entre os bens (a ser preservado e o a ser sacrificado), sendo de se lembrar de que “não se pode exigir que o sujeito se deixe imolar. Assim, para a salvaguarda de um bem patrimonial, não se pode exigir do bombeiro que sacrifique a própria vida” (1) Obviamente que dentre aqueles que tem o dever legal de enfrentar o perigo, exige-se que o agente que tem o dever de enfrentar o perigo encontre-se no exercício de suas atividades específicas, pois em caso contrário não estaria obrigado a expor o seu bem jurídico a perigo de dano, excetuando-se as hipóteses impostas pela própria função exercida II,a) Inevitabilidade do comportamento (conduta) lesiva Na espécie, trata-se de situação “em que o agente não podia, de outro modo, impedi-lo, que sua ação seja imprescindível, não podendo fugir, socorrer-se da autoridade pública etc” (3), ou, “Significa que o agente não tem outro meio de evitar o perigo ao bem jurídico próprio ou de terceiro que não o de praticar o fato necessitado” (1). II,b) Inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado Justifica-se a ação lesiva contra bem de terceiro inocente quando não é razoavelmente exigível do agente, nas circunstâncias concretas em que se encontra, o sacrifício de direito próprio ou alheio ameaçado por situação de perigo, atual ou iminente, inevitável e não provocada. Dessa forma, não pode existir outro recurso a não ser o assumido pelo sujeito. Para que se configure a excludente é necessário que o agente pratique o ato para salvar direito próprio ou alheio de perigo atual ou iminente inevitável e que só pode ser impedido através da violação do bem jurídico alheio. Sem comprovação de se tratar de recurso inevitável, de ação in extremis, não se caracteriza o estado de necessidade (RT 637/273). “É o requisito da proporcionalidade entre a gravidade do perigo que ameaça o bem jurídico do agente ou alheio e a gravidade da lesão causada pelo fato necessitado. Não se admite, por exemplo, a prática de homicídio para impedir a lesão de um bem patrimonial de ínfimo valor” (1) Explicita Júlio Fabbrini Mirabete que “Essa razoabilidade deve ser verificada nas circunstâncias do fato, sendo relevante a confrontação entre o bem jurídico em perigo e o bem jurídico lesado. Deve haver pelo menos um equilíbrio entre os direitos em conflito. Não haverá estado de necessidade se o direito lesado era maior valor do que o protegido pelo agente. Nesse caso, o agente é responsabilizado penalmente pelo fato, mas o juiz, tendo em vista as circunstâncias, poderá diminuir a pena de um a dois terços” (3), conforme o art. 24, § 2º: “Nos termos do § 2º, "embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços". Significa que, embora reconheça que o agente estava obrigado a uma conduta diferente, pelo que não há estado de necessidade e deve responder pelo crime, o juiz pode diminuir a pena. Nesse sentido: RT, 449:427 e 649:291. A redução é obrigatória, não se tratando de simples faculdade judicial. Assim, o juiz "poderá", diante do juízo de apreciação, diminuí-la, se presentes os requisitos; ou deixar de fazê-lo, se ausentes. Nesse sentido: STJ, REsp 64.374, 6ª Turma, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU, 6 maio 1996, p. 14479” (1) Outrossim, a situação de perigo e a prática do fato necessário devem ser mediante apreciação pessoal da descriminante, ou seja, devem ser analisadas de acordo com a ótica do sujeito, pois podem haver casos nos quais não há tempo (e é comum) para o homem medir o valor ou peso dos bens em conflito, devendo agir sob pena de não proteger o bem pretendido. II,c) Elemento subjetivo “Não há estado de necessidade quando o sujeito não tem conhecimento de que age para salvar um interesse próprio ou de terceiro. O fato necessário possui requisitos objetivos e subjetivos. Para a justificação de um fato típico não basta que ocorram os elementos objetivos de justificação, sendo necessário que o autor, além de conhecê-los, tenha as tendências subjetivas especiais de justificação. O nosso Código Penal exige esse requisito subjetivo, uma vez que a conduta é cometida pelo sujeito "para salvar de perigo atual" "direito próprio ou alheio" (grifo nosso)”(1) .......................................................................................................................................................... Excesso O excesso da excludente pode ser: i) doloso ou não-intencional: é quando o sujeito de maneira consciente extrapola os limites da causa de justificação, ou seja, os limites legais do estado de necessidade, de onde responde a título de dolo pelo fato constitutivo do excesso (art. 23, parágrafo único) ii) inconsciente: pode advir de erro sobre: a) a situação de fato: aplicam-se os princípios do erro de tipo permissivo (inevitável: exclui dolo e culpa; evitável: exclui dolo e permite punição a título de culpa, se previsto) b) os limites normativos da causa de justificação: aplicam-se os princípios do erro de proibição (se inevitável, há exclusão da culpabilidade; se evitável, responde por crime doloso com diminuição de pena de 1/6 a 13/) LEGÍTIMA DEFESA Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Requisitos (A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legítima defesa) A) agressão injusta, atual ou iminente; B) direitos do agredido ou de terceiro, atacado ou ameaçado de dano pela agressão; C) repulsa com os meios necessários; D) uso moderado de tais meios; E) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se). A) AGRESSÃO INJUSTA, ATUAL OU IMINENTE a) A agressão é a conduta humana que ataca ou coloca em perigo um bem jurídico. Pode ser ela ativa ou passiva (ação ou omissão), mas na passiva exige-se que o agressor omitente esteja obrigado atuar. Embora na maior parte das vezes a agressão se faça mediante violência (física ou moral), isso não é imprescindível (Ex: A pode agir em legítima defesa contra B , que está prestes a cometer um furto mediante destreza de C). b) Exige-se que a agressão seja injusta, contrária ao ordenamento jurídico, pois senão será lícita, jurídica ou justa. Sua análise é objetiva, independentemente da consciência da ilicitude por parte do agressor, não precisando basear-se em intenção lesiva. Basta que a conduta do agressor se representeobjetivamente ameaçadora de lesão, pouco importando que não se ligue ao agressor pela voluntariedade. Assim, admite-se legítima defesa contra a conduta de inimputável, pois ela é antijurídica embora não seja culpável pela causa de exclusão da culpabilidade, e da mesma forma contra quem pratica o fato acobertado por outras causas de exclusão da culpabilidade (coação moral irresistível, obediência hierárquica ou embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior – arts. 22, 1ª parte; 22, 2ª parte; 28, § 1º, todos do Código Penal). (1) c) Não há legítima defesa real contra legítima defesa real, pois se a conduta de um é em legítima defesa o é em razão da conduta do outro ser ilícita, não podendo ao mesmo tempo ser lícita. d) Admite-se legítimas defesas putativas recíprocas, quando como, por exemplo, duas pessoas levam as mãos na altura da cintura, à procura de um objeto qualquer. Os dois, supondo a iminência da agressão, sacam das armas e acionam os gatilhos, ferindo-se. Prova-se depois que nenhum dos dois pretendia agredir o outro. As duas tentativas de homicídio foram praticadas em legítima defesa putativa. e) Admite-se legítima defesa real contra legítima defesa putativa. Há legítima defesa putativa quando o agente, por erro de tipo ou de proibição plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em face de agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio. Nela não se exclui a ilicitude do fato, mas a tipicidade do fato ou a culpabilidade do agente, de onde a legítima defesa putativa é injusta (ilícita) e, por efeito, o suposto agressor inicial poderá praticar a ofensa legítima (2, p. 383/384). Ex: A ameaça B de morte. A, certo dia, encontrando-se com B, leva a mão na cintura, como se estivesse à procura da arma. B, supondo que vai ser alvejado com arma de fogo, empolga o seu revólver, estando prestes a atirar em A . Este, que apenas estava procurando um lenço, percebendo que se encontra na iminência de ser atingido, toma de C um revólver e mata B. B estava em legítima defesa putativa, pois diante das circunstâncias (ameaça anterior e suposta agressão de A empolgar a arma), supôs a iminência da agressão injusta. f) É possível legítima defesa putativa contra legítima defesa real. Ex: vejo um estranho prestes a atirar em meu pai. Supondo agir em legítima defesa de terceiro, atiro e o mato. Prova- se depois que o estranho estava em legítima defesa, na iminência de agressão injusta de meu pai. Pratiquei o ato em legítima defesa putativa contra a legítima defesa real do estranho. g) Não é preciso que a agressão seja dolosa, podendo ser culposa. h) A agressão não necessita ser apenas um injusto penal, bastando que contrarie o direito i) Provocação: Se a provocação não constitui agressão, não fica excluída a possibilidade de seu autor agir em legítima defesa. Não é razoável que diante da provocação inicial fique à mercê do agressor. Agora, se a provocação constitui agressão, o provocador não pode agir em legítima defesa, pois a conduta agressiva do provocado é lícita. Se a conduta dele é legítima, o posterior comportamento do provocador não pode ser também legítimo, uma vez que não há legítima defesa contra legítima defesa. No sentido de que a provocação exclui a legítima defesa: JTACrimSP, 35:233, 38:246, 39:159, 43:214 e 56:337; RT, 528:339, 340:364 e 572:340. No sentido do texto, admitindo a excludente quando a provocação não constitui agressão: JTACrimSP, 45:287 e 48:345; RT, 463:334, 483:345 e 492:392. Se o sujeito provoca e toma a iniciativa da agressão não pode invocar a excludente (TJRS, RJTJRS, 116:146) (1) j) Pretexto de legítima defesa Ocorre quando a provocação é realizada com o fim de produzir uma situação de defesa legítima. É o caso de o sujeito provocar a agressão da vítima para matá-la. Não há legítima defesa. (1) l) Agressão atual ou iminente Agressão atual é a presente, a que está acontecendo. Iminente é a que está prestes a ocorrer.(1) m) Agressão passada ou futura Não há legítima defesa contra ela. Se a agressão já ocorreu, a conduta do agredido não é preventiva, tratando-se de vingança ou comportamento doentio. Se há ameaça de mal futuro, pode intervir a autoridade pública para evitar a consumação. No sentido do texto, tratando de agressão futura: RT, 549:316. Agressão passada: RT, 564:394, 569:360 e 715:433; PJ, 24:267. (1) n) Iniciador da agressão Não pode alegar legítima defesa. No sentido do texto: RT, 387:91 e 717:407; JTACrimSP, 44:418; TJRS, RJTJRS, 116:62 e 146; TARS, ACrim 294.082.813, JTARS, 91:44. (1) o) Conduta culposa do próprio sujeito Em relação a ela não pode ser alegada a excludente. Hipótese de sujeito que age culposamente e, em face da situação, ataca um bem jurídico e pretende alegar defesa legítima. Inadmissibilidade. No sentido do texto: TACrimSP, ACrim 447.567, JTACrimSP, 91:288. (1) B) DIREITOS DO AGREDIDO OU DE TERCEIRO, ATACADO OU AMEAÇADO DE DANO PELA AGRESSÃO a) Tendo-se em vista o titular do bem jurídico sujeito à agressão, há duas formas de legítima defesa: i) própria: ocorre quando o autor da repulsa é o próprio titular do bem jurídico atacado ou ameaçado; ii) de terceiro: ocorre quando a repulsa visa a defender interesse de terceiro (1) b) Natureza do interesse defendido Qualquer bem jurídico pode ser protegido através da ofensa legítima, não se fazendo distinção entre bens pessoais e impessoais (vida, incolumidade pessoal, honra, pudor, liberdade, tranqüilidade doméstica, patrimônio, pátrio poder etc.). No sentido do texto: RT, 458:366; JTACrimSP, 38:258. Legítima defesa contra a injúria verbal: RT, 544:382, 551:341, 552:355, 649:311 e 673:362; JTACrimSP, 23:122, 31:383 e 49:55; TAPR, ACrim 862/87, PJ, 29:255. Legítima defesa da honra, com lesão corporal, em face de confissão de infidelidade da companheira (TACrimSP, ACrim 633.061, RT, 665:313). No sentido de que somente os bens suscetíveis de ofensa material podem ser protegidos: RT, 378:233 C) REPULSA COM OS MEIOS NECESSÁRIOS; a) A medida da repulsa deve ser encontrada pela natureza da agressão em face do valor do bem atacado ou ameaçado, circunstâncias em que se comporta o agente e meios à sua disposição para repelir o ataque. O meio escolhido deixará ser necessário quando se encontrem à sua disposição outros meios menos lesivos. O sujeito que repele a agressão deve optar pelo meio produtor do menor dano. Se não resta nenhuma alternativa, será necessário o meio empregado (1). Como lembrava Nélson Hungria, não se trata de pesagem em balança de farmácia, mas de uma aferição ajustada às condições de fato do caso concreto. Não se pode exigir uma perfeita adequação entre o ataque e a defesa, desde que o necessário meio tinha de acarretar, por si mesmo, inevitavelmente, o rompimento da referida equação. Um meio que, à primeira vista, parece desnecessário, não será tal se as circunstâncias demonstrarem sua necessidade em concreto. Mezger, analisando o problema, ensina que não é exigida uma absoluta paridade entre ataque e defesa: em caso de necessidade, pode o agredido recorrer ao emprego dos meios mais graves, mas é imprescindível que o agente não tenha à sua disposição um meio menos grave de repelir o ataque. D) USO MODERADO DE TAIS MEIOS (MODERAÇÃO) a) O sujeito deve agir com moderação, i. e., não empregar o meio além do que é preciso para evitar a lesão do bem próprio ou de terceiro. Caso contrário, desaparecerá a legítima defesa ou aparecerá o excesso culposo. Nessa apreciação, cada caso deve ser analisado isoladamente, de acordo com prudente critério judicial (1) b) Critério de apreciação da moderação O requisito do emprego moderado do meio necessário não pode ser apreciado com rigor excessivo. Muitas vezes o agredido, em face das circunstâncias, não tem condições psicológicas para medir a proporcionalidade do revideem confronto com o ataque. Nesse sentido: TJSP, ACrim 114.801, RT, 677:358 (1) 5º) CONHECIMENTO DA AGRESSÃO E DA NECESSIDADE DA DEFESA (VONTADE DE DEFENDER-SE) a) Elemento subjetivo A par dos requisitos de ordem objetiva, a legítima defesa exige requisitos de ordem subjetiva: é preciso que o sujeito tenha conhecimento da situação de agressão injusta e da necessidade da repulsa. A repulsa legítima deve ser objetivamente necessária e subjetivamente conduzida pela vontade de se defender. A falta do requisito subjetivo afasta a justificativa (1) EXCESSO Em face da agressão injusta, o agredido pode conscientemente empregar um meio desnecessário para evitar a lesão do bem. Neste caso, ausente um dos requisitos previstos no art. 25 (necessidade da repulsa concreta), responde por homicídio doloso. É possível que, não obstante empregando o meio necessário, o sujeito seja imoderado em sua conduta. Surge o denominado excesso na legítima defesa, que pode ser doloso ou culposo. (1) Formas: a) doloso; b) culposo. Pressuposto: A condição essencial para que exista excesso é a preexistência de uma situação objetiva de legítima defesa. Deve haver uma agressão injusta, de modo que o excesso se refere aos limites da conduta do agredido, não à sua inicial licitude. Para reconhecer que há excesso é preciso admitir que se encontram presentes as condições básicas da legítima defesa e que uma delas, a proporcionalidade, encontra-se hipertrofiada.(1) Excesso doloso Ocorre quando o sujeito conscientemente vai além do necessário para repelir a agressão. De uma conduta lícita passa a um comportamento ilícito. Responde por crime doloso (CP, art. 23, parágrafo único). Pode ocorrer que durante a conduta constitutiva do excesso voluntário (doloso) o sujeito venha a: a) matar o anterior agressor; b) feri-lo; c) errar o alvo. Pressupondo, nas hipóteses, por exemplo, que tenha disparado tiros de revólver no anterior agressor para matá-lo, as soluções são as seguintes: no caso a responde por homicídio doloso; nos casos b e c, por tentativa de homicídio (doloso). (1) O excesso doloso não exclui a anterior legítima defesa É comum dizer que o excesso doloso exclui a legítima defesa. Essa opinião merece reserva. O excesso doloso exclui a legítima defesa a partir do momento em que o agente pratica a conduta constitutiva do excesso, pois antes disso se encontrava acobertado pela descriminante. No sentido do texto: TJSP, ACrim 52.290, RJTJSP, 109:423 e 425. (1) Excesso derivado de erro involuntário É possível que o agente não tenha querido o excesso, tendo este decorrido de um erro de cálculo quanto à gravidade do ataque ou quanto ao modo da repulsa. Neste caso, é preciso distinguir. Tratando-se de erro escusável, invencível, i. e., erro que qualquer homem cometeria em face das circunstâncias, o agente fica isento de pena por ausência de dolo e culpa (chamada legítima defesa subjetiva). Neste caso, trata-se de erro de tipo, previsto no art. 20, § 1º, 1ª parte: o agente, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima (tornaria a reação legítima defesa real). Ele supõe, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, que incide sobre o cálculo quanto à gravidade do ataque ou quanto ao modo da repulsa, encontrar-se ainda na situação de necessidade de reagir. Há erro de tipo escusável, excludente de dolo e culpa. Cuidando-se de erro inescusável, vencível, i. e., que o homem equilibrado não deveria cometer, advindo de imponderação, desatenção, o agente responde por crime culposo, se prevista a modalidade culposa para o fato, surgindo o excesso culposo, contido no art. 23, parágrafo único, do Código Penal. É possível, entretanto, que o erro do sujeito não recaia sobre os requisitos fáticos da legítima defesa, mas sobre seus limites normativos, v. g., sobre a injustiça da agressão. Nesse caso, trata-se de erro de proibição, incidindo sobre a ilicitude do fato. Aplica-se o art. 21 do Código Penal: se escusável, há exclusão da culpabilidade; se inescusável, o sujeito responde pelo resultado produzido durante o excesso a título de dolo, com a pena diminuída de um sexto a um terço (art. 21, caput, parte final). (1) Hipóteses do excesso involuntário No excesso involuntário, derivado de erro de tipo escusável, atirando o sujeito para matar a vítima, pode ocorrer que venha a: a) matar o anterior agressor; b) feri-lo; c) errar o alvo. Nos três casos, não responde pelo fato por exclusão de dolo e culpa. No excesso involuntário, derivado de erro de tipo inescusável, pode ocorrer, no mesmo exemplo, que o agente venha a: a) matar o anterior agressor; b) feri-lo; c) errar o alvo. Na hipótese a responde por homicídio culposo (CP, art. 23, parágrafo único, c/c o art. 20, § 1º, parte final). Nas hipóteses b e c responde por tentativa de homicídio culposo. Note-se que o excesso é culposo, mas o resultado é doloso, determinando o Código Penal, entretanto, que se aplique a pena do crime culposo. Não obstante ter agido com dolo no sentido do resultado, se mata o anterior agressor responde por homicídio culposo; se tenta matar, por tentativa de homicídio culposo. É a chamada culpa imprópria, que admite a figura da tentativa (nossa posição). (1) Excesso culposo De acordo com a jurisprudência, pode derivar do emprego de meio desnecessário ou da imoderação: RT, 395:91, 396:91 e 399:110. (1) Excesso intensivo e extensivo Dá-se o nome de excesso intensivo (excesso nos meios, na ação ou reação) "à intensificação desnecessária de uma ação inicialmente justificada" (Soler, Derecho penal argentino, 1970, I/371). Ex.: o sujeito é agredido injustamente. Reage licitamente do ponto A ao B. De B em diante, não obstante não mais necessária a reação, prossegue agindo, ultrapassando os limites da conduta imposta pela situação. É o tipo de excesso previsto no art. 23, parágrafo único, do CP, respondendo o sujeito por dolo ou culpa. Difere do excesso extensivo (excesso na causa), hipóteses em que o autor simula uma situação de legítima defesa (pretexto de justificação) ou há desproporção entre a agressão e a reação (ex.: morte de uma criança que, na feira, está furtando uma maçã). Neste caso, o excesso extensivo exclui as características da legítima defesa. (1) OFENDÍCULOS Conceito Ofendículo significa obstáculo, impedimento ou tropeço. Em sentido jurídico, significa aparato para defender o patrimônio, o domicílio ou qualquer bem jurídico de ataque ou ameaça. Exemplo: cacos de vidro no muro, ponta de lança na amurada, armas de fogo que disparam mediante dispositivo predisposto, corrente elétrica na maçaneta da porta, corrente elétrica na cerca de propriedade (RT, 751:537), arame farpado no portão etc. (1) Adequação típica permissiva A predisposição do aparelho constitui exercício regular de direito. Nesse sentido: RT, 751:537. Mas, quando funciona em face de um ataque, o problema é de legítima defesa preordenada (RT, 751:537), desde que a ação do mecanismo não tenha início até que tenha lugar o ataque e que a gravidade de seus efeitos não ultrapasse os limites da excludente da ilicitude. (1) Solução Depende do caso concreto. Assim, se o proprietário eletrifica a maçaneta da porta da rua, responde pelo resultado produzido em terceiro que a toque (a título de culpa ou dolo). Nesse sentido: RT, 751:537. Se eletrifica a maçaneta de uma porta interna contra ataque de ladrão, encontra-se em legítima defesa. Nesse sentido: RT, 659:303 e 305. Se o dono de uma fazenda eletrifica a cerca de local onde passam crianças, responde pelo resultado causado em algumas delas. Nesse sentido: STF, RT, 751:537. Se, satisfeitos os requisitos da justificativa, há ferimento em terceiro inocente, trata-se de legítima defesa putativa. No sentido geral da solução: TACrimSP, JTACrimSP, 15:247; RT, 476:374, 304:464 e 476:374; TJRJ, RCrim 1.271, RJTJRJ,47:241; TARS, ACrim 286.034.749, JTARS, 60:110. Cerca eletrificada instalada no interior de propriedade que causa a morte de invasor: legítima defesa (TAMG, RvCrim 814, RT, 659:303). Morte culposa com emprego de fio elétrico para proteger propriedade: RT, 549:363. Colocação do ofendículo configura exercício regular de direito: RT, 607:367. Existência de crime culposo: tela de arame eletrificada (RT, 476:374; JTACrimSP, 35:259); eletrificação de caixa d'água (JTACrimSP, 50:228); eletrificação de teto e cerca de residência (TJDF, ACrim 2.202, DJU, 4 out. 1973, p. 7440); baixa eletrificação ao redor da residência (RT, 549:363). (1) A reação do aparelho deve ser proporcionada ao risco da agressão A defesa preventiva não pode ser empregada imoderadamente: RT, 476:374; JTACrimSP, 35:259. Bibliografia utilizada: (1) JESUS, Damásio Evangelista. Direito Penal, 1º vol. São Paulo: Saraiva, 2001. (os negritos e grifos não encontram- se nos originais; grifos nossos) (2) MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. (os negritos e grifos não encontram- se nos originais; grifos nossos)
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