Buscar

PLATÃO APOLOGIA A SOCRATES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA DO DIREITO
RESENHA
 DIÁLOGOS DE SÓCRATES E O MÉTODO RETÓRICO
PLATÃO, 427-347 a.C. Apologia de Sócrates precedido de Êutifron (sobre a piedade) e seguido de Críton (sobre o dever) / Platão; introdução, tradução do grego e notas de André Malta – Porto Alegre, RS: L&PM, 2016. 144 páginas.
 A obra Apologia de Sócrates, escrita por seu discípulo Platão, compõe-se de uma introdução e três partes. Na introdução o tradutor André Malta apresenta o julgamento de Sócrates como um dos fatos históricos mais importantes da Grécia Antiga, o qual com o tratamento que lhe foi dado por Platão (responsável por lhe atribuir grande dimensão-filosófica-literária) ultrapassou seu tempo e se eternizou como inesgotável fonte inspiradora. Posteriormente precedida de Sobre a piedade (Êutifron) que apresenta o diálogo entre Sócrates e Êutifron dias antes do julgamento, em seguida tem-se a Apologia de Sócrates, onde este apresenta seu discurso proferido no tribunal para se defender das acusações de que fora alvo, e finalizada Sobre o dever (Críton), que retrata conversa entre ele e um velho companheiro na prisão, enquanto Sócrates aguarda o momento de sua execução. Os três textos tratam do processo contra Sócrates e de sua morte.
Em Sobre a piedade (Êutifron), primeiro diálogo apresentado no do livro, Sócrates antes de seu julgamento conversa com Êutifron (adivinho que dá nome à obra) sobre a definição mais adequada para a palavra piedade (ou religiosidade). Ambos estão envolvidos em processos que giram em torno da questão do que é bom e o que é profano. Sócrates é acusado de não cultuar os deuses da cidade e de introduzir novas divindades, já Êutifron acusa o próprio pai pela morte de um servo o que para ele constituía vergonha inaceitável. Para Êutifron ele teria o direito ao seu lado e estaria agindo de forma correta ao processar o próprio pai pelo homicídio cometido. Êutifron julgava conhecer as coisas divinas suficientemente bem e buscava justificar sua moral projetando os modelos divinos ao mundo profano. Recorria aos deuses para explicar uma conduta alheia ao mundo sagrado. Sócrates achando esta situação, de certa forma, incomum a utiliza para conduzir Êutifron a um diálogo sobre o que seria a piedade. Os dois tentam conjuntamente defini-la, todavia, são expostos a um dilema: saber se aquilo que é correto moralmente decorre da vontade de um Deus, que impõe todas as normas; ou se aquilo que é moralmente correto tem essa característica em si e, por isso, é esperada pela divindade. Sócrates busca demonstrar sua noção de piedade, criticando a concepção vigente em seu tempo, que consistia em uma relação de troca de favores entre os deuses e os homens, o que ele considera um absurdo, pois a piedade para ele “consistiria em fazer a obra de um deus para o lucro dos seres humanos”. A piedade teria uma essência própria e normativa tanto para os deuses quanto para nós. Ele acredita ainda que para se tornar virtuoso e piedoso, o homem precisa se autoconhecer, para que assim tenha domínio sobre suas ações. Para ambos esta questão não é um problema, pois os mesmos concordam no fato de o moralmente correto portar tal característica em si e, assim, agradar a Deus. Contrapõem-se no que diz respeito à tese de que a correspondência de um comportamento à vontade de Deus é o que torna tal comportamento correto. O diálogo os conduz a um impasse aparentemente sem solução. 
Na Apologia de Sócrates, no segundo capitulo, demonstra-se o discurso proferido por Sócrates no tribunal para se defender das acusações que recaem sobre ele. Tal discurso pode ser dividido em três partes distintas. Primeiramente Sócrates aborda todas as acusações que recaem sobre si, das mais antigas até as mais recentes, afirmando que todas são insustentáveis. Em sua defesa ele argumenta que tais acusações surgiram depois que ele passou a investigar as palavras do oráculo de Delfos, de que era o mais sábio entre os homens, foi dessa investigação que sugiram inimizades e delas se derivaram outras tantas calúnias a que foram atribuídas a Sócrates pelo fato do oráculo ter afirmado que ele era sábio. Meleto um de seus acusadores afirma que Sócrates cometeu crime, pois havia corrompido os jovens e não considerava como Deuses aqueles que a cidade considera, porém outras divindades novas, todavia este se contradiz sobre a natureza da acusação feita ao filósofo, afirmando num momento que este pregava o ateísmo, e em outro, que acreditava em semideuses. A partir de tais acusações Sócrates faz diversas indagações dotadas de ironia e sarcasmos a Meleto, de uma maneira que o deixa sem palavras. Em resposta às acusações, afirma que não fazia nada além do que apenas filosofar, pontuando ainda que não havia quem pudesse dizer-se prejudicado com seus ensinamentos. Permanece perseverante em suas ideias e não admite renunciar ao que ensinou. Conclui afirmando que não havia cometido nenhum crime distintamente dos juízes que o julgaram. Todavia sua longa argumentação não é capaz de absolvê-lo. No discurso seguinte da Apologia, Sócrates tem a possibilidade de escapar da pena de morte que lhe foi imposta, o envenenamento. Espera-se que ele indique o exilio como punição, todavia ele propõe para si comer de graça as custa da cidade, pois afirma não ter cometido mal algum visto que estava a serviço de Deus. Tal proposta de punição soa como extremo de arrogância e provocação, o que resulta em seu sentenciamento à morte por mais de dois terços dos votos. Nas suas palavras finais, Sócrates se dirige aos que o condenaram e os que o absolveram, afirmando aos primeiros que não se arrependeu do modo como se defendeu, profetizando que estes sofrerão com a intensificação dos questionamentos que buscavam eliminar. Aos que votaram pela sua absolvição, afirma imaginar que a morte deve ser algo bom, um sono tranquilo ou o convívio no Hades com os grandes homens que lá habitam. 
Em Sobre o dever (Críton) tem-se, de certa maneira, uma continuidade à discussão jurídica de iniciada na Apologia. A conversa entre ele e um velho companheiro acontece na prisão enquanto Sócrates aguarda o momento de sua execução, Críton tenta convencer Sócrates a fugir, afirmando que seus amigos custeariam todas as despesas da fuga. Mas Sócrates recusa tal plano de fuga, passando a tecer uma analise sobre se é justo retribuir uma injustiça com outra injustiça, afirmando que as próprias leis da cidade o interpelam por cogitar uma fuga, fazendo, tais leis, de forma contradizente uma espécie de defesa ao condenado. Um dos princípios que norteia a vida de Sócrates é o viver bem, que se traduziria em viver com honra e viver com honra seria viver conforme a justiça. Sócrates como cidadão ateniense tinha o compromisso de honrar com as leis da cidade, e aceitar a proposta de fuga seria desonrar tais leis. Para Sócrates diante do pacto tácito estabelecido entre a cidade e o cidadão o não cumprimento da sentença que lhe foi imposta configuraria um ato incoerente e injusto, se descumprisse tal condenação ele se mostraria como malfeitor, confirmando a decisão dos jurados que o condenaram. 
Apologia a Sócrates precedido de Sobre a piedade e seguido de Sobre o dever são textos que partem de uma discussão filosófica, mas assumem ramificações religiosas, políticas e éticas. A obra deixa expõe de forma clara o método adotado por Sócrates em seus discursos, chamado por ele chamou de maiêutica, pelo qual os ouvintes eram conduzidos à reflexão e ao conhecimento ou reconhecimento da falta de conhecimento por meio de um raciocínio próprio. Durante toda a obra Sócrates utiliza a dialética como recurso, contradizendo todos os argumentos que lhe acusam, buscando não ser condenado, todavia tal recurso causa ainda mais ira naqueles que o acusam. A obra apresenta ainda a luta de um homem crítico contra a opinião da multidão, protegendo as ideias de defesa da liberdade do pensamento e de expressão, as quais norteiam toda a obra. De forma concisa, tem-se uma breve incitação à coragem de enfrentar o poder estabelecido e lutar, e até morrer se precisofor, por uma causa maior, a defesa pela consciência e verdade.

Continue navegando