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Mieloma múltiplo Hematologia – Prof. Marinho Marques Aula 12 - 10/05/2021 É uma neoplasia linfoide de células B (plasmócitos); Mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna caracterizada pela proliferação de plasmócitos clonais (doentes) na medula óssea; Tipicamente acompanhada pela produção monoclonal de imunoglobulina, produção exagerada de apenas 1 das 5 imunoglobulinas existentes, normalmente é uma imunoglobulina disfuncional o que proporciona o indivíduo a ter infecções; Detecção da proteína monoclonal pode ser feita no soro e/ou na urina; Efeitos: dor óssea, anemia, suscetibilidade às infecções, hipercalcemia, insuficiência renal. Epidemiologia Representa 1% de todas as doenças neoplásicas e 13% dos cânceres hematológicos; Média de idade ao diagnóstico: ±70 anos; 37% < 65 anos; 26% entre 65-74 anos e 37% ≥ 75 anos de idade ao diagnóstico; Incidência ajustada para idade de 6/100.000/ano; 02 a 03 vezes mais comum em afroamericanos. Neoplasia hematológica mais comum em negros; Relação homem/mulher: 1,5/1; Com as novas terapias e TMO a sobrevida média aumentou de 03 para 06 anos nas últimas 02 décadas; Em pacientes < 60 anos, a sobrevida média em 10 anos é de aproximadamente 30%. Fatores de risco Exposição a pesticidas e radiação; Mineiros; Vírus? Parentes de primeiro grau; Obesidade; Maior incidência em pacientes com HIV; Gamopatia monoclonal de significado indeterminado: 1/3 dos casos emergem de alguma desordem monoclonal pré-existente. Diferenciação da células B Comprometimento do plasmócito é a célula final da diferenciação da célula linfoide B. o percentual normal de plasmócitos na MO é de 5%, no paciente com mieloma esse percentual aumenta. Medicina UniFTC – 8º semestre Mª Manuela Ribeiro Estrutura das imunoglobulinas Os plasmócitos são responsáveis pela produção das imunoglobulinas. Existem 5 tipos clássicos de imunoglobulinas: • IgG • IgE • IgD • IgM: é um pentâmero (molécula bem grande) • IgA: é um dímero São compostas por uma cadeia pesada e uma leve, a cadeia leve pode ser de Kappa ou Lambida, e a cadeia pesada são as imunoglobulinas (IgG, IgE, IgD, IgM, IgA). Patogênese do mieloma Surge de uma proliferação pré-maligna assintomática de plasmócitos monoclonais (formação de pequenos clones neoplásicos); 1. Surgimento de pequenas anormalidades citogenéticas e moleculares que provocam uma alteração no microambiente da MO. 2. formação de pequenos clones plasmocitários que produz uma pequena quantidade de proteína monoclonal, conhecido como gamopatia monoclonal de significado indeterminado, que pode permanecer assim para o resto da vida ou evoluir para o mieloma. 3. A evolução para o mieloma acontece quando há a presença de alterações citogenéticas e moleculares secundárias, que fazem com que haja mieloma intra ou extramedular. Além disso, pode ter uma doença mais agressiva que é a leucemia de células plasmáticas, que é quando esses plasmócitos passam a circular. 4. Tudo isso está relacionada a uma alta reabsorção óssea, porque a célula do mieloma interage com o osteoclasto e provoca reabsorção e fragilidade óssea, além do aumento da angiogênese. Derivam da célula B pós-centro germinativo; Alterações genéticas progressivas e no microambiente levam a transformação destas células em uma neoplasia; Gamopatia monoclonal de significado indeterminado → mieloma smoldering (assintomático) → mieloma sintomático (único que precisa ser tratado). Papel do microambiente medular: envolve interação célula-célula e célula-matriz, citocinas e fatores de crescimento; Células que compõem o microambiente: osteoblastos, células do estroma medular, células endoteliais e células do sistema imune inato e adaptativo, incluindo células T regulatórias.; Inibição de proteínas reguladoras do ciclo celular e anti- apoptóticas; As células plasmocitárias reagem com as células do estroma medular provocando a ativação das vias de sinalização, que vão promover aumento da angiogênese e ativação dos osteoclastos (macrófagos ósseos), causando reabsorção óssea e comprometem a matriz óssea, liberando mais cálcio para o intravascular (hipercalcemia). Alterações cromossômicas: • Alteração inicial no cromossomo 14; • Anormalidades no gene MYC (oncogene); • Alterações na expressão de microRNAs; • Modificações na metilação de genes. Patogênese que envolve mais de 01 fator e é progressiva. Doença óssea Reabsorção óssea e enfraquecimento do osso com alteração da matriz óssea e hipercalcemia. Anemia Substituição da medula óssea normal por plasmócitos; Inibição da hematopoese por fatores tumorais. Insuficiência renal Lesão tubular por deposito de cadeia leve Hipercalcemia Hipeuricemia Infecções recorrentes Depósito glomerular amilóide Suscetibilidade a infecção Hipogamaglobulinemia: aumento da proteína monoclonal → hipergama numérica. Porém, como essas imunoglobulinas não funcionam, para o paciente é como se fosse uma hipogama. Hipercalcemia Lise óssea e liberação de cálcio para o intravascular; Coagulopatia Plaquetopenia, disfunção plaquetária, ligação do componente M com fatores de coagulação. Hiperviscosidade Hipergamaglobulinemia (componente monoclonal muito elevado), o paciente fica com o sangue muito viscoso e dificil de circular, podendo ter manifestações neurológicas, cefaléia, tontura, zumbido. Quadro clínico Pode ser assintomático nos estágios iniciais; Dor óssea – principal queixa; Dor lombar e anemia em idosos → obrigatório investigação para mieloma, realizar pelo menos uma eletroforese de proteínas; Principais manifestações: anemia, infecções frequentes, lesões ósseas, insuficiência renal; Hipercalcemia; Hiperviscosidade: componente monoclonal muito elevado. Quadro inicial pode ser indolente ou agressivo: • Insuficiência renal aguda; • Síndrome de compressão medular (se tiver muita fragilidade óssea as estruturas das vertebras podem não suportar o peso e comprimir a raiz nervosa da medula, além disso, o plasmocito tem um tropismo por infiltrar a musculatura paravertebral, fomando tumores – plasmocitoma- e comprimem as raízes nervosas); • Fratura óssea (desprporcional a intensidade do trauma); • Sepse; • Coma. Investigação diagnóstica História clínica e exame físico; Exames de laboratório: sangue e urina; Exames radiológicos (avaliar grau de comprometimento ósseo): • Raios X, tomografias, RNM; Avaliação da medula óssea: • Mielograma; • Biópsia de medula óssea. Biópsia de lesões tumorais. Suspeita clínica Triagem laboratorial Hemograma Creatinina Cálcio Albumina Ácido úrico Eletroforese de proteína sérica e urinária Rx de áreas sintomáticas Exames positivos Serviço especializado Exames complementares especializados Confirmação diagnóstica Aspirado de MO Biopsia de MO Imunofixação sérica e urinária Rx do esqueleto Avaliação do dano orgânico Hemograma Creatinina Clearance de creatinina Cálcio Albumina LDH RX do esqueleto Carga tumoral e prognóstico B2 microglobulina Albumina Citogenética e FISH Dosagem proteína M Cálcio RX do esqueleto Situações especiais Imunofenotipagem TC RNM Achados nos exames laboratoriais Hemograma e hematoscopia Anemia (hemoglobina < 12mg/dl) – 73% no diagnóstico e 97% durante a doença; Leucopenia (20%) e plaquetopenia (5%) Rouleaux (>50%): quando a proteína monoclonal está muito elevada, ela promove o empilhamento das hemácias, chamado de fenomeno de Rouleaux. Podendo até formar uma falsa macrocitose (VCM) Presença de plasmócitos (se > 2000/ul → Leucemia de células plasmáticas) Exame de rastreio inicial para avaliação do componente monoclonal → Eletroforese de proteína: curva eletroforética, em que as proteínas mais pesadas se depositam primeiro, sendo a albumina a que se deposita primeiro, seguida de alfa 1 e 2, beta e as gamaglobulinas. No paciente normal o formato dacurva das gamaglobulinas tem um formato mais ovalado, enquanto que da albumina tem formato de pico, no paciente com mieloma, normalmente ele tem pico monoclonal na região de gama, perdendo o formato ovalado. A hipergamaglobulinemia pode ser policlonal também, preservando o formato ovalado com a base alargada, e geralmente não é mieloma, pode ser doenças infecciosas/ reumatológicas. Imunofixação: pra ter certeza que o componente é monoclonal e, principalmente, identificar qual é a imunglobulina que está envolvida. Por IgA ser um dímero, uma molécula maior, pode ter maior risco de provocar hiperviscosidade e os pacientes com mieloma multiplo em que a IgA está envolvida os pacientes cursam, frequentemente, com insuficiência renal. Avaliação da médula óssea No aspirado da MO terá plasmocitose, com nucleo deslocado para periferia, area de golgi bem proeminente ao redor do plasmócito, e até plasmócitos binucleados. Estudo radiológico Raio X esqueleto (PADRÃO OURO): demostra lesões osteolíticas quando mais de 50% do osso trabecular é afetado. Osteopenia acomete mais de ¼ dos pacientes; TC: Avalia sinais precoces, ou seja, com menor acometimento da cortical; RNM: evidencia infiltração da MO, mas não lesões líticas. Útil para dignóstico, mas não para monitoramento. Critérios diagnósticos I – Presença de proteína monoclonal sérica ou urinária; II – Presença de plasmocitoma ou > 10% plasmócitos na médula óssea; III – Lesão de órgão alvo (tratados segundo os critérios do CRAB) C – Hipercalcemia (cálcio > 10,5mg/dl) R – Insuficiência renal (creatinina > 2mg/dl) A – Anemia (Hemoglobina < 10g/dl) B – Lesões osteolíticas/ osteoporose com fraturas Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado - GMSI 1- Proteína monoclonal sérica e/ou urinária de baixa concentração: IgG sérica < 3g/dl, IgA sérica < 2g/dl ĸ ou λ urinária < 1g/24h; 2- Plasmócitos < 10% na MO (não tem plasmocitose nem plasmocitoma); 3- Ausência de lesões líticas, anemia , hipercalcemia ou insuficiência renal. Taxa de progressão anual para MM de 1% Mieloma Múltiplo Smoldering ou assintomático 1- Proteina M >3g/dL (IgG) ou >2,0g/dl (IgA); 2- Plasmócitos > 10% na MO (plasmocitose); 3- Ausência de lesões líticas, anemia, hipercalcemia ou insuficiência renal. Não preencher critérios para MM sintomático. Taxa de progressão anual para MM de 10% MIELOMA MÚLTIPLO - sintomático 1- Proteína monoclonal presente, sérica e/ou urinária; 2- Plasmócitos monoclonais na MO > 10% e/ou plasmocitoma; 3- Dano orgânico relacionado ao MM (1 ou mais) – critérios CRAB Estadiamento Vai de I (baixa carga tumoral) a III (alta carga tumoral) Tratamento GMSI, MM smoldering ou assintomático → Observação; Plasmocitoma isolado→ Radioterapia; Mieloma múltiplo sintomático → Tratamento imediato. Cuidados: profilaxia de infecções; avaliação odontológica pré-terapia; órteses (coletes, moletas...); bisfosfonatos (são inibidores da osteolise, fortalecem e promovem a remineralização óssea e, por isso, o paciente não pode fazer procedimentos dentários que envolvam a movimentação dentária). Existem algumas drogas na quimioterapia que o paciente não pode usar se tiver feito o transplante. Elegibilidade para o transplante autólogo de MO: paciente com no máximo 70 anos, sem doenças cardiacas, pulmonares, renais ou disfunção hepática grave, comorbidade não controlada (DM). Os paciente não elegíveis para transplantes estão liberados para fazer a quimioterapia. O transplante autólogo melhorou a sobrevida dos pacientes. Terapia de suporte Anemia: Citorredução, reposição de hemácias e eritropoetina recombinante humana (50 a 75% de resposta); • Só transfundir hemácias se o paciente estiver muito mal do ponto de vista cardiovascular; Insuficiência Renal: Hidratação, quimioterapia, alopurinol, corrigir hipercalcemia e hemodiálise (10%); Hiperviscosidade: Citorredução e plasmaférese (se tiver muito grave e sintomático); Infecção: Antibioticoterapia (microorganismos mais frequentes depende da fase da doença), profilaxia (vacina antiinfluenza, anti-pneumocócica, imunoglobulinas); Hipercalcemia: Citorredução, hidratação, corticóide, bisfosfonatos; Dores ósseas: Citorredução, analgésico, radioterapia, bisfosfonatos.
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