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editorial Manipulação emocional Gláucia Viola, editora “Há muitas espécies de ciúme; o mais raro é o do coração.” Duque de Lévis 12 3R F R elacionar-se não é tarefa fácil em nenhuma esfera do comportamento humano. Seja entre o casal, na FAMÓLIA��NO�GRUPO�DE�AMIGOS��COM�OS�lLHOS��3OMOS�SERES�COMPLEXOS�E�SABER�LIDAR�COM�O�OUTRO�EXIGE� GRANDE�MAESTRIA��%SSE�TEMA�PODE�RENDER�UMA�SÏRIE�DE�BONS�DEBATES�NAS�PÉGINAS�DESTA�REVISTA��MAS�A� Psique�DIRECIONA�OS�HOLOFOTES�DESTA�EDI¥ÎO�PARA�UMA�QUESTÎO�QUE�LEVANTA�CERTA�PERPLEXIDADE�EM�PLE- NO�SÏCULO�88)��A�VIOLÐNCIA�CONTRA�A�MULHER��QUE�NO�ÊMBITO�INTERPESSOAL�AINDA�Ï�UMA�DAS�MAIS�DIFÓCEIS�DE�SER� PREVENIDA�E�EVITADA��-UITAS�MULHERES�QUE�VIVEM�RELA¥ÜES�ABUSIVAS�MOSTRAM�DIlCULDADE�EM�TER�CONSCIÐNCIA�DA� SITUA¥ÎO��/�CIÞME�EXAGERADO�GERADOR�DE�INÞMERAS�PRIVA¥ÜES��POR�EXEMPLO��Ï�CONSIDERADO�POR�MUITAS�PESSOAS� como prova de cuidado e amor. /�DOSSIÐ�ABORDA�O�CICLO�DESSE�TIPO�DE�RELACIONAMENTO��DESDE�A�FASE�DO�NAMORO�ATÏ�A�DECISÎO�DO�CASAL�DE�TER� lLHOS��EQUIVOCADAMENTE��COM�A�PRETENSÎO�DE�SOLUCIONAR�ESSAS�QUESTÜES�MAL�RESOLVIDAS��!lNAL��CASAIS�VIOLENTOS� tendem a seguir o mesmo modelo de conduta na gestação e depois dela, afetando inclusive as crianças. Importante destacar que o ciclo da violência ocorre para todas as formas de agressão, não somente a física. !�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�TAMBÏM�APRESENTA�A�MESMA�SÏRIE�DE�EVENTOS�� /�QUE�ACONTECE�NA�MAIORIA�DOS�CASOS�Ï�QUE�A�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�Ï� mais difícil de ser detectada, até mesmo para quem sofre dela, dife- rente da agressão física aparente. Um estudo recente apresentado no artigo indica que a violência no namoro entre casais adolescentes pode se perpetuar até a vida adulta COM�NOVAS�ONDAS�DE�RISCO�Ì�SAÞDE�MENTAL�DO�CASAL�E�DOS�lLHOS��h%M� curto prazo, diversos efeitos danosos da violência no namoro têm sido DOCUMENTADOS�� INCLUINDO�DEPRESSÎO�� TRANSTORNO�DE�ESTRESSE�PØS TRAU- MÉTICO��ABUSO�DE�ÉLCOOL��DESEJO�DE�PÙR�lM�Ì�PRØPRIA�VIDA�E��EM�CASOS�EX- TREMOS��SUICÓDIO�E�HOMICÓDIOv��EXPLICAM�OS�PSICØLOGOS�AUTORES�DO�TEXTO� Romper esse vínculo de afeto, mesmo violento, é um dever ár- duo. Condutas autolesivas são especialmente frequentes em tenta- tivas de término, fazendo com que a vítima não saia deste padrão de comportamento. 6ALE�RESSALTAR�TAMBÏM�QUE�MUITOS�ELEMENTOS�NESSES�RELACIONAMENTOS�PODEM�SER�GRATIlCANTES��E��MESMO�QUE� PARA�ALGUÏM�QUE�OBSERVA�DE�FORA�PARE¥A�INCOMPREENSÓVEL�QUE�UMA�RELA¥ÎO�VIOLENTA�POSSA�TER�MUITOS�PONTOS�DE� SATISFA¥ÎO��Ï�FUNDAMENTAL�ENTENDER�QUE�Ï�EXATAMENTE�POR�ISSO�QUE�O�SENTIMENTO�lCA�TÎO�CONFUSO��¡�TAMBÏM�POR� ESSA�RAZÎO�QUE�A�PROCURA�POR�AJUDA�ESPECIALIZADA�PODE�FAZER�TODA�A�DIFEREN¥A�PARA�A�SOLU¥ÎO�DO�PROBLEMA� O atendimento às vítimas e perpetradores de violência nos relacionamentos deve compor um continuum de serviços focados no enfrentamento, prevenção e na promoção da qualidade das relações amorosas. Boa leitura! Gláucia Viola www.facebook.com/PortalEspacodoSaber CAPA sumário 35 28/06/2017 18:18:2 0 MATÉRIAS ENTREVISTA A psicóloga Luiza Elena do Valle defende alteração de técnicas que propiciam a APRENDIZAGEM�INmUENCIADA�PELA� interação com o ambiente SEÇÕES 06 EM CAMPO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 32 COACHING 34 LIVROS 50 CIBERPSICOLOGIA 52 NEUROCIÊNCIA 54 RECURSOS HUMANOS 64 DIVà LITERÁRIO 66 CINEMA 70 PERFIL 72 IN FOCO 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE 08 Compreensão do cérebro Avanços tecnológicos permitiram conhecer melhor o funcionamento cerebral e tentam responder se a mente pode mudar o cérebro Prejuízo à saúde Transtorno de estresse pós-traumático é considerado um dos diagnósticos mais populares da Psiquiatria em decorrência das sequelas da violência urbana 22 74 O significado de tudo O ato do nascimento mostra um ser desprovido de qualquer noção de si e do outro, mas quando entra na linguagem a criança descobre um novo mundo56 IM AG EM D A CA PA : S HU TT ER ST OC K DOSSIÊ: Sérias consequências emocionais Relacionamentos abusivos atingem até mesmo mulheres grávidas e frequentemente as pessoas envolvidas encontram GRANDE�DIlCULDADE�EM�SE� libertar dessa situação www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5 giro escala LIBERDADE X ESCOLHAS REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 127 Em mais um artigo publicado na edição 127 da revista &ILOSOlA� #IÐNCIA�6IDA, o pesquisador do Ge- des (Grupo de Estudos sobre Direito, Estado e Sociedade) e professor con- vidado do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da FESPSP (Fundação Escola de Socio- logia e Política), Luiz Felipe Panelli aborda a justiça e equidade com base na lição aristotélica em relação ao Estado no século XXI. Tal estudo im- pacta um de seus projetos atuais, que é sua tese de doutorado, que analisa a QUESTÎO�DE� UM� SUPOSTO� CONmITO� ENTRE� o direito de liberdade e igualdade, em especial nas políticas públicas de dis- tribuição de renda. Para o professor, pode-se objetar que a teoria marxista separa o mundo em base e superestrutura e que, se nos preocuparmos em manter a paz social e o bom funcionamento do Estado, es- taremos preservando a base por meio de incrementos pontuais na superes- trutura, ou seja, não estaremos com- batendo de forma efetiva a exploração do homem pelo homem, tampouco buscando a igualdade verdadeira que só virá com a coletivização dos meios de produção. Pensador atuante no UNIVERSO� DA� &ILOSOlA� DO�$IREITO� E� DA� &ILOSOlA�0OLÓTICA��0ANELLI�RESSALTA�UMA� disciplina que tem chamado atenção DE� INÞMEROS� ACADÐMICOS�� A� *USlLOSO- lA��6ALE� LEMBRAR�QUE�UM�DOS�GRANDES� REPRESENTANTES� DO� TEMA� Ï� O� lLØSOFO� Norberto Bobbio, que conseguiu es- tabelecer conceitos preciosos sobre a democracia e a sociedade. REFLEXÃO E PRÁTICA: o resgate do conceito de comunidade por meio da amizade ANO X No 127 – www.portalespacodosaber.com.br Quando a liberdade e o individualismo passam a ser grandes fontes de angústia e bloqueio do pensamento ARISTÓTELES A história nos mostra que uma das aspirações perenes do homem do século XXI é a Justiça ÉMILE DURKHEIM Como mobilizar argumentos baseados nas ideias do mestre em debates sobre religião e socialismo ESCOLHAS SOFISTAS Uma síntese da obra de umas das maiores correntes fi losófi cas de todos os tempos RENATO JANINE RIBEIRO A importância do diálogo para o fortalecimento da democracia em tempos de cólera O DILEMA DAS UMA REBELDE NATA REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 69 Uma catadora de histórias e uma REBELDE� NATA�� !SSIM� Ï� POSSÓVEL� DElNIR� em poucas palavras a fotógrafa, docu- mentarista e cineasta Tania Quaresma, que se enquadra em uma classe especial de artistas singulares, que, com talento, sempre fazem o que querem, mas sem- pre com muita qualidade e competên- cia. E isso sem ligar para o machismo hegemônico e castrador, que dominava seu tempo de juventude, e que ainda domina a própria narrativa histórica humana da atualidade. Começou sua CARREIRA�PROlSSIONAL�MUITO�CEDO��AOS���� anos, para os padrões vigentes da épo- ca, documentando os movimentos es- tudantis e operários de protesto contra o governo militar. Desde então, trabalhou para as mais importantes redes de TV do Brasil. Passou a se dedicar ao cinema e seu primeiro longa – Nordeste: Cor- del, Repente, Canção (1975) – ganhou os prêmios Air France de Cinema e Coruja de Ouro de melhor som. Jun- tamente com sua equipe, produziu e dirigiu uma série de projetos cultu- rais e sociais, culminando com o su- cesso de Catadores de História (2016). O f ilme conquistou três prêmios na mostra competitiva do TroféuCâma- ra Legislativa no Festival de Cinema de Brasília: melhor trilha sonora, melhor fotograf ia e melhor f ilme de longa-metragem ( júri of icial). Para alcançar seus objetivos no trabalho, seja de vídeo ou f ilme, ela não dis- pensa o sentido social. A entrevista completa com Tania está na edição 69 da revista 3OCIOLOGIA. O DIA A DIA DE CATADORES DE LIXO EM FILME DE TANIA QUARESMA www.portalespacodosaber.com.br Caderno de Exercícios: Música negra e racismo nos Estados Unidos Ego e sociedade Lógica egoísta e paranoica orienta mercado e nações, em livro de Frank Schirrmacher Inteligência artificial Cientistas rumo ao algoritmo capaz de replicar o cérebro humano em meio cibernético- -informacional Por uma ideia de liberdade Contracultura e transgressão sob olhar sociológico em Easy Rider – Sem Destino Profissão John Kennedy Ferreira comenta a não obrigatoriedade do ensino de Sociologia nas escolas DARCY RIBEIRO O BRASIL DE 6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br em campo SINAL DE ALZHEIMER Na Universidade do Sul da Califórnia, pesquisadores descobriram que adultos idosos com níveis elevados de placas de obstrução cerebral – mas com cognição aparentemente normal – experimentam declínio mental mais rápido, sugestivo de doença de Alzheimer. Por outro lado, também verif icaram que a simples presença dessas placas (chamadas placas amiloides) no organismo já seria um preditor do problema. Os pesquisadores compararam a placa amiloide no cérebro com o colesterol no sangue. Ambos são sinais de alerta com poucas manifestações externas, até ocorrer um evento catastróf ico. O estudo em questão apoia a ideia de que a doença começa antes dos sintomas, o que estabelece as bases para a realização de intervenções precoces e ef icazes contra a evolução do quadro. “Para ter o maior impacto sobre a doença, precisamos intervir contra a amiloide, a causa molecular básica do problema, o mais cedo possível”, disse Paul Aisen, autor sênior do estudo e diretor do USC Alzheimer’s Therapeutic Research Institute (ATRI), ligado à universidade, em comunicado à imprensa especializada. “Este estudo Ï�UM�PASSO�SIGNIlCATIVO�PARA�A�IDEIA� de que os níveis elevados de amiloide são um estágio inicial da doença de Alzheimer, um estágio apropriado para a terapia anti-amiloide”. Uma em cada três pessoas com mais de 65 anos tem amiloide elevada no cérebro, e a maioria desses indivíduos evoluirá para a doença de Alzheimer sintomática dentro de 10 anos. por Jussara Goyano ARTE E COGNIÇÃO PROJETOS ARTÍSTICOS ATIVAM SISTEMA DE RECOMPENSA NO CÉREBRO De acordo com um novo estudo realizado pela Universidade Drexel, na &ILADÏLlA��%5!��PUBLICADO�NO�PERIØDICO�The Arts in Psychotherapy, a realização DE�TRABALHOS�ARTÓSTICOS�LEVA�mUXO�SANGUÓNEO�A�ÉREAS�DO�CÏREBRO�PERTENCENTES�AO� sistema de recompensa. Tal consequência ocorreria independentemente da habi- lidade artística das pessoas avaliadas, mostrando que tais atividades são fonte de PRAZER�E�BEM ESTAR�EM�POTENCIAL��NÎO�IMPORTANDO�SUA�lNALIDADE� Os pesquisadores envolvidos utilizaram espectroscopia de infravermelho funcional para avaliar a atividade cerebral de 26 voluntários, entre artistas e não artistas, enquanto todos completavam diferentes tarefas em artes, tais como colorir uma mandala ou desenho livre, intercaladas a intervalos de descanso. &OI�VERIlCADO�UM�AUMENTO�NO�mUXO�DE�SANGUE�NO�CØRTEX�PRÏ FRONTAL�DO�CÏ- rebro dessas pessoas, em comparação com os períodos de descanso, nos quais O� mUXO� SANGUÓNEO� DIMINUIU� PARA� AS� TAXAS� NORMAIS�� /� CØRTEX� PRÏ FRONTAL� ESTÉ� associado à regulação de pensamentos, sentimentos e ações. Também está rela- cionado a sistemas emocionais e motivacionais e parte do circuito neuronal de recompensas do cérebro humano. !�ATIVIDADE�QUE�PROPORCIONOU�MAIOR�mUXO�MÏDIO�DE�SANGUE�NAS�ÉREAS�MEN- cionadas foi o chamado doodle, rabisco realizado enquanto a pessoa está distraída ou ocupada, como, por exemplo, os desenhos que são realizados aleatoriamente quando se está ao telefone, ou enquanto se ouve uma palestra. O desenho livre ativou igualmente o cérebro de artistas e não artistas. Já a atividade de colorir mandalas resultou em atividade cerebral negativa nos artistas, que podem ter se SENTIDO�LIMITADOS�EM�EXECUTAR�TAREFAS�TÎO�BEM�DElNIDAS��SEM�MUITA�MARGEM�PARA� o uso de sua criatividade. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7 IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K CUMPRIMENTO DE METAS DISTRAÍDOS DIFICILMENTE TÊM OBJETIVOS DE LONGO PRAZO, DIZ ESTUDO Mentes diletantes, ou que tendem a vagar por seus pensamentos no dia a dia, são menos propensas a manter objetivos de longo prazo, segundo pesquisa liderada pela Universidade de Waterloo, Canadá, com artigo a respeito publicado recentemente no Canadian Journal of Experimental Psychology. A conclusão foi fruto de três estudos distin- tos. Nos dois primeiros, os pesquisadores anali- saram a presença de mente errante, a desatenção e o grit de 280 voluntários (grit é um traço de personalidade que envolve interesse e esforço sustentados em metas de longo prazo, indepen- dentemente do nível de inteligência da pessoa). No terceiro estudo, 105 estudantes foram con- vidados a avaliar seus hábitos mentais durante uma aula e preencher questionários a respeito. Um próximo passo da pesquisa vai avaliar como alternativas como meditação e treinamen- to mindfulness seriam capazes de mitigar os im- pactos de tal errância mental e o quanto a força DE�VONTADE�EM�FAZÐ LO�INmUENCIA�NOS�RESULTADOS� gerais de aplicação das opções citadas. AR Q UI VO P ES SO AL Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na Unifesp. E-mail: atendimento@jussaragoyano.com RELAÇÕES E INDIVIDUALIDADE ESTUDO ESTABELECE LIGAÇÃO ENTRE SOLIDÃO E EGOCENTRISMO Estudos realizados ao longo de mais de uma década indicam que a solidão aumenta o egocentrismo e, em menor grau, o egocentrismo tam- bém aumenta a solidão. O achado foi publicado no Personality and Social Psychology Bulletin por cientistas ligados à Universidade de Chicago, EUA. A descoberta pode ajudar a mitigar questões de saúde pública, uma vez que pessoas consideradas solitárias estão mais sujeitas a doen- ças – essa população apresenta, inclusive, taxa de mortalidade maior que a de outros grupos em que a convivência social é mais intensa. Os pesquisadores escreveram que “abordar o egocentrismo como parte de uma intervenção para diminuir a solidão pode ajudar a que- brar um ciclo de feedback positivo que mantenha ou piore a solidão ao longo do tempo”. Lembram ainda que, na sociedade moderna, tornar-se mais autocentrado protege pessoas solitárias no curto prazo, mas não no longo prazo, em que são acumulados efeitos nocivos ao bem-estar individual. Isso levando-se em conta a noção de solidão como “um sen- timento de angústia anômalo ou temporário, sem valor redimível ou propósito adaptativo”. Os dados referentes às pesquisas foram coletados de 2002 a 2013 como parte do estudo de saúde, envelhecimento e relações sociais de Chicago. A amostra aleatória consistiu em 229 indivíduos que variaram de 50 a 68 anos de idade no início do estudo, variando também em gê- nero e status socioeconômico, incluindo hispânicos, afro-americanos e caucasianos. 8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Lucas Vasques é jornalista e colabora com esta publicação Para a psicóloga Luiza Elena L. Ribeiro doValle, os resultados da educação no Brasil estão nos últimos lugares, em comparação com outros países do mundo. Então, está na hora de mudar técnicas para reverter o quadro O DESAlO�DA�APRENDIZAGEM��AO� LONGO�DOS� anos, foi e continua sendo tema central da preocupação de especialistas e tam- bém dos pais, que buscam orientação no SENTIDO�DE�ACERTAR�O�CAMINHO�MAIS�ElCIENTE�EM�RELA- ¥ÎO�A�ESSA�FASE�DA�VIDA�DOS�lLHOS��.A�OPINIÎO�DE�,UIZA� %LENA� ,�� 2IBEIRO� DO�6ALLE�� PSICØLOGA� COM� ESPECIALI- ZA¥ÎO�EM�0SICOLOGIA�#LÓNICA�E�MESTRE�EM�0SICOLOGIA� %SCOLAR�E�%DUCACIONAL��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER� através do jogo, da brincadeira, da instrução formal OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E�UM�APRENDIZ�MAIS� experiente, demonstrando a importância da mediação PARA�QUE�OS�SIGNOS�CULTURAIS�POSSAM�SER�INTERNALIZADOS� “São estudos que nos deixam a responsabilidade de OFERECER�OPORTUNIDADES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DE- senvolvimento potencial de cada criança. Entretanto, MUITAS�CRIAN¥AS�AINDA�hESTUDAMv�COMO�SE�FAZIA�SÏCU- los atrás, sentadas, em silêncio, diante de um professor que “ensina”, e, pior ainda, muitas crianças mal têm TEMPO�PARA� BRINCAR�� RECURSO� ESSENCIAL� NA� APRENDIZA- gem, se pensarmos na apropriação ativa do conheci- MENTOv��AVALIA�,UIZA�%LENA� A psicóloga ressalta a importância do sistema sen- sorial. Para ela, esse elemento é a porta de entrada dos estímulos. As informações recebidas pelo sistema sen- SORIAL� SÎO�CONDUZIDAS�PARA� ÉREAS� ESPECÓlCAS�DO�CØR- TEX�CEREBRAL��ONDE�AS�FUN¥ÜES�SUPERIORES�ORGANIZAM SE� como sistemas funcionais complexos, o que envolve uma integração de redes de conexão de neurônios, UMA�VEZ�QUE�OS�ESTÓMULOS�SÎO�DIVERSOS�E�SIMULTÊNEOS� ,UIZA�%LENA�Ï�DOUTORANDA�EM�0SICOLOGIA�3OCIAL�E�DO� 4RABALHO��COM�EXTENSÎO�EM�#OMPETÐNCIAS�'ERENCIAIS� E�)NTERNATIONAL�#OACHING��%NTRE�OS�LIVROS�LAN¥ADOS�ESTÎO� A Aprendizagem na Educação de Crianças e Adolescentes, Adolescência. !S�#ONTRADI¥ÜES�DA�)DADE�E�$ESAlOS�DO�-UNDO� 0ROlSSIONAL, todos publicados pela Wak Editora. A ).4%2!§/ DA PESSOA #/-�/�!-")%.4%�02/-/6%� A !02%.$):!'%- ,5):!�%,%.!�,��2)"%)2/�$/�6!,,% Por Lucas Vasques GI OV AN I S ILV A E SH UT TE RS TO CK E 1 23 RF www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9 E N T R E V I S T A Segundo Luiza Elena, a aprendizagem ocorre pela descoberta, no momento em que a criança está com a maturidade adequada para aquela determinada função 10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br LUIZA: !� APRENDIZAGEM� ACONTECE� PELA� descoberta, como um registro que se FAZ�DAQUILO�QUE�SE�OBSERVOU�NO�AMBIEN- te. Isso ocorre no momento em que a criança está com a maturidade ade- quada para aquela determinada função e esses processos obedecem a caracte- rísticas pessoais, que são diferentes de PESSOA�PARA�PESSOA��5MA�CRIAN¥A�PODE� aprender a andar mais depressa se tiver oportunidade de exercitar o movimen- to, quando alcançar a maturidade para essa função. Há uma sequência no de- senvolvimento a ser mediado, que se- gue desde o estágio em que a criança SE�ENCONTRA��POR�UMA�ZONA�DE�DESENVOL- vimento proximal, até chegar ao apren- DIZADO� DESEJADO� �6YGOTSKY �� %STUDOS� POSTERIORES�� DE� 'ARDNER�� MOSTRARAM� que as inteligências são múltiplas: uma pessoa pode ser ótima em matemáti- ca e ter fraca habilidade para aprender leitura, por exemplo. O quanto se pode aprender é impossível determinar, não TEM� LIMITESå�/� PROCESSO� DE� APRENDIZA- gem reúne múltiplos sistemas internos e externos, por isso cada pessoa é única E�ISSO�Ï�FANTÉSTICOå�¡�PRECISO�lCAR�ATENTO� com crianças porque, você sabe, na in- fância existem períodos quase mágicos, em que as redes neurais se desenvolvem muito rapidamente e a criança aprende COM�UMA�RAPIDEZ�INCRÓVEL����!PRENDE�ATÏ� o que ninguém ensinou... Então, você se surpreende e pergunta: como foi que ela aprendeu isso? COMO SE DEFINE O SISTEMA SENSORIAL E EM QUE MEDIDA ELE INFLUENCIA A APRENDIZAGEM? LUIZA: São as portas de entrada dos es- tímulos. As informações recebidas pelo SISTEMA�SENSORIAL��VISÎO��AUDI¥ÎO��OLFATO�� TATO��PALADAR �SÎO�CONDUZIDAS�PARA�ÉRE- AS� ESPECÓlCAS�DO�CØRTEX� CEREBRAL�� ONDE� AS� FUN¥ÜES� SUPERIORES� ORGANIZAM SE� como sistemas funcionais complexos, o que envolve uma integração de redes DE�CONEXÎO�DE�NEURÙNIOS��UMA�VEZ�QUE� os estímulos são diversos e simultâneos: você ouve, vê e sente ao mesmo tempo, IMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K É CORRETO AFIRMAR QUE A APRENDIZA- GEM É O PROCESSO PELO QUAL A CRIANÇA SE APROPRIA ATIVAMENTE DO CONTEÚDO DA EXPERIÊNCIA HUMANA, DAQUILO QUE O SEU GRUPO SOCIAL CONHECE? EM CASO POSITIVO, PODE-SE DIZER QUE A APREN- DIZAGEM DEPENDE FUNDAMENTALMENTE DA INTERAÇÃO DA CRIANÇA COM O MEIO? LUIZA: Sim, a interação da pessoa com O� AMBIENTE� PROMOVE� A� APRENDIZAGEM�� Teorias bastante ricas fundamentaram esse conhecimento, comprovadas com EXAMES�SOlSTICADOS�QUE�AVALIAM�OS�PRO- cessos do cérebro pela ação sobre o am- biente, que leva à assimilação e acomo- dação. Os estudos de Piaget descreveram passo a passo o desenvolvimento infantil e a adaptação do comportamento através DE�ORGANIZA¥ÜES�MENTAIS�QUE�ELE�DENOMI- nou de “esquemas” de representação do mundo, que permitem construir conhe- CIMENTOS��6YGOTSKY�TROUXE�A�TEORIA�SOCIO- cultural do desenvolvimento cognitivo, mostrando que as estruturas sociais e as relações sociais levam ao desenvolvimen- TO�DAS�FUN¥ÜES�MENTAIS��.ESSA�PERSPECTI- VA��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER�ATRAVÏS� do jogo, da brincadeira, da instrução for- MAL�OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E� UM� APRENDIZ� MAIS� EXPERIENTE�� DEMONS- trando a importância da mediação para que os signos culturais possam ser inter- NALIZADOS��3ÎO�ESTUDOS�QUE�NOS�DEIXAM�A� responsabilidade de oferecer oportunida- DES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DESENVOLVI- mento potencial de cada criança. Entre- tanto, muitas crianças ainda “estudam” COMO�SE�FAZIA�SÏCULOS�ATRÉS��SENTADOS��EM� silêncio, diante de um professor que “en- sina”, e, pior ainda, muitas crianças mal têm tempo para brincar, recurso essen- CIAL� NA� APRENDIZAGEM�� SE� PENSARMOS� NA� apropriação ativa do conhecimento. DE ACORDO COM A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM, PARA QUE SE POSSA EN- TENDER ESSE PROCESSO É NECESSÁRIO RECONHECER QUE AS OPERAÇÕES COG- NITIVAS SÃO SEMPRE CONSTRUÍDAS NA IN- TERAÇÃO COM OUTROS INDIVÍDUOS. VOCÊ CONCORDA COM ESSE CONCEITO? O quanto se pode aprender é impossível determinar, não tem limites! O processo de aprendizagem reúne múltiplos sistemas internos e externos, por isso cada pessoa é única e isso é fantástico! ¡�PRECISO�lCAR�ATENTO� com crianças LUIZA:� #ONCORDO�� PORQUE� Ï� UMA� AlR- mação comprovada pela ciência. #RIAN¥AS� QUE� NÎO� RECEBEM� ESTÓMULO� visual, por exemplo, não desenvolvem a área do cérebro correspondente à VISÎO��5MA�PSICØLOGA�RENOMADA��JÉ�FA- LECIDA�� "EATRIZ� ,EFRÒVE�� REALIZOU� UMA� PESQUISA� SOBRE� APRENDIZAGEM� COMPA- rando as crianças da região Sudeste DO� "RASIL� COM� CRIAN¥AS� DO� .ORDESTE�� em relação à coordenação motora: ela nos mostrou que, enquanto as crian- ças do Sul respondem melhor ao trei- no no manejo do lápis, as crianças do .ORDESTE� DOMINAM� HABILIDADES� COMO� bordados, compartilhadas por toda fa- mília, de acordo com os valores locais, MAS� FALHAVAM�NA�ESCRITA� �O�QUE�PODE- RIA�SUGERIR�HABILIDADE�MOTORA�lNA�DEl- CIENTE��O�QUE�NÎO�ERA�VERDADE ��)MAGINE� como foram revolucionárias essas con- clusões, embora, com frequência, as crianças são exigidas e avaliadas sem considerar nada disso. EXISTE UM PROCESSO PREDETERMINADO QUE DEFINE A APRENDIZAGEM? OU SEJA, É POSSÍVEL MEDIR COMO E QUANDO SE DEVE APRENDER? E ESSE PROCESSO É ÚNICO OU FUNCIONADE ACORDO COM AS PARTICU- LARIDADES DE CADA CRIANÇA? www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11 volvem inteligência espacial: por exem- PLO�� PARA� ENCONTRAR� E�MEMORIZAR� ROTAS�� em tarefas motoras dirigidas a um alvo, em raciocínio matemático. As mulheres FALAM�MAIS��mUÐNCIA�VERBAL ��SÎO�MELHO- RES�EM�CÉLCULOS�SIMPLES�E�EM�MEMORIZAR� detalhes importantes de um caminho. Existem diferenças, de modo geral, mas DEVE�lCAR�CLARO�QUE�A�EXPERIÐNCIA�SOCIAL� interfere, assim como o esforço pessoal, EM�DETERMINADA�ÉREA��O�CÏREBRO�Ï�SENSÓ- VEL�A�ESTÓMULOS �� HÁ MUITAS CONTROVÉRSIAS SOBRE A ME- LHOR IDADE PARA O INÍCIO DA ALFABETIZA- ÇÃO. EM TERMOS DE COGNIÇÃO INFANTIL, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ESSA QUESTÃO? LUIZA: É importante entender que a APRENDIZAGEM�Ï�UM�PROCESSO�PESSOAL�E� intransferível. Em termos de cognição infantil, o importante é que a criança es- teja pronta, interessada e possa interagir COM�OS�ESTÓMULOS�PARA� FAZER� SUAS� hDES- cobertas”, que a encantam e provocam uma vontade de saber mais. Por outro LADO��A�ALFABETIZA¥ÎO�Ï�UM�CØDIGO�DETER- minado, que ela não pode inventar e vai aprender com mais facilidade se for me- diada para aprender corretamente. Fica NESSE�PONTO�A�CONTROVÏRSIA��A�APRENDIZA- gem deve ser espontânea e, ao mesmo TEMPO��A�ALFABETIZA¥ÎO�PRECISA�SER�CUIDA- dosa, porque é a base dos outros conhe- CIMENTOS���#ONSIDERO�ESSENCIAL�VALORIZAR� os passos que a criança dá, mas ela pre- cisa receber as informações mediadas, porque não dá para vencer um jogo sem SABER�AS�REGRAS��E�NA�ALFABETIZA¥ÎO�NÎO�Ï� diferente. Aos 6 anos, em geral, a criança já tem prontidão, se ela “descobrir” an- TES�O�PROCESSO�DE�LEITURA��NÎO�DEVE�lCAR� proibida de seguir em frente, mas, ainda assim, há necessidade de mediação posi- tiva, que a estimula a melhorar. Aquelas que não conseguem associar as letras aos sons espontaneamente precisarão de ajuda para provocar essas descobertas. Pode-se chamar atenção para o fato de que as crianças nos impressionam com o manuseio de recursos tecnológicos, em que ela erra e insiste, perde a “vida” MUITAS�VEZES�ATÏ�SEM�CONSCIÐNCIA�DISSO�� Existem, ainda, mecanismos internos de regulação que acontecem sem a sua de- terminação, como a condução elétrica de estímulos e a produção de hormônios que são liberados no sangue e interferem em sua resposta, que se soma à memó- RIA�QUE�VOCÐ�ARMAZENA�SOBRE�OS�EVENTOS�� Até a percepção dos erros nos ajuda a nos direcionar. A conclusão que você retira das informações percebidas por seu sistema sensorial irá formar o seu conhecimento do mundo, sua aprendi- ZAGEM�� %NTRETANTO�� CONSIDERANDO� A� BA- gagem aprendida, a percepção de um objeto, como um facão, por exemplo, representa perigo, quando associado aos conhecimentos que você já tem, enquan- to uma criança pequena vê diferente de você o mesmo objeto e vai brincar sem preocupação. Espera-se que a criança possa ser mediada e não precise se ma- CHUCAR�NESSA�APRENDIZAGEM�� COMO OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS SE COM- PORTAM DIANTE DESSE PROCESSO? QUAL SE- RIA O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA APREN- DIZAGEM, O DIREITO OU O ESQUERDO? LUIZA: Diversos pesquisadores, desde o século XIX, perceberam diferenças fun- cionais nos hemisférios cerebrais e pro- CURARAM�RElNAR�A�BUSCA�PELAS�DIFEREN¥AS� motoras e sensitivas dos hemisférios. Foi concluído que: o hemisfério esquerdo é VERBAL��USA�PALAVRAS�PARA�NOMEAR�E�DES- CREVER �� Ï� ANALÓTICO� �DECIFRA� POR� PARTES �� TEMPORAL� �SE� MANTÏM� NUMA� SEQUÐNCIA� DE�FAZER�UMA�COISA�E�DEPOIS�OUTRA ��ANA- LÓTICO�E�ABSTRATO��DECIFRA�POR�PARTES�E�AS� UTILIZA�PARA�REPRESENTAR�O�TODO ��ENQUAN- to o hemisfério direito é dito “artístico”, sintético, emocional, não verbal e espa- CIAL��-ENINOS�TÐM�DESEMPENHO�SUPERIOR� ao das meninas nas atividades que en- Na infância, existem períodos quase mágicos, em que as redes neurais se desenvolvem muito rapidamente e a criança aprende com uma rapidez incrível. Aprende até o que ninguém ensinou. Então, você se surpreende As estruturas e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais e, nessa perspectiva, a aprendizagem pode ocorrer por meio do jogo, da brincadeira 12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br É importante entender que a aprendizagem é um processo pessoal e intransferível. Em termos de cognição infantil, o importante é que a criança esteja pronta, interessada e possa interagir com os estímulos para fazer suas “descobertas” no joguinho e tenta de novo, até desco- brir que melhorou para mais um nível e COMEMORA�����!�APRENDIZAGEM�DA�LEITURA� deve reconhecer esse incrível recurso que a informática oferece, que não se adequa às características escolares co- piadas de tempos antigos, como se nada houvesse acontecido de novo. VOCÊ JÁ FALOU SOBRE TÉCNICAS PARA UM APRENDIZADO EFETIVO E RÁPIDO. EXISTEM, DE FATO, ESSAS TÉCNICAS E QUAIS SERIAM? LUIZA: Sem dúvida! Todos os conheci- mentos sobre o desenvolvimento infan- TIL�� SOBRE� O� PROCESSO� DE� APRENDIZAGEM� precisam ser considerados para que a criança aprenda rapidamente e de for- ma efetiva. É muito comum você ouvir QUEIXAS� DE� ADULTOS� QUE� AlRMAM� QUE� A� criança interage com videogames com mais facilidade que eles, mas, na hora de “estudar”, a mudança é nítida e vira uma guerra. De fato, com muita frequência, ainda predomina a mesma forma de “estudar” que afastou tantas crianças da escola. Os resultados da educação no Brasil estão nos últimos lugares, em comparação com outros países do mun- do, há muitos anos; então, está na hora DE� MUDAR� AS� TÏCNICASå� -EU� INTERESSE� PELA� APRENDIZAGEM�DA� LEITURA� E� ESCRITA�� eu acho que nasceu comigo. Quando TERMINEI�O�ENSINO�FUNDAMENTAL��lZ�CON- curso para a rede pública no magistério DO�2IO�DE�*ANEIRO�E�FUI�APROVADA��-UITO� jovem, fui trabalhar em escolas e recebi CLASSES� DE� ALFABETIZA¥ÎO� COM� DIlCULDA- DES� DE� APRENDIZAGEM� IMENSAS�� � $ESDE� então, não parei de procurar entender como mudar essa realidade e acho que nunca vou parar de estudar essa questão, porque a cada momento surgem novas possibilidades e é essencial que elas se- jam aproveitadas por tantas pessoas que guardam no coração a vontade de que nossas crianças tenham oportunidades, ainda inacessíveis, desde os primeiros anos da escola. As minhas descobertas resultaram numa integração de todas as pesquisas a que tive acesso, reunin- do reconhecidos trabalhos numa ferra- menta prática, que lançarei este ano: “A revolução das letras”. É um novo jeito de LIDAR�COM�A�ALFABETIZA¥ÎO��CONSIDERANDO� MINHA�EXPERIÐNCIA�EM�#LÓNICA��0SICOPE- dagogia e Psicologia Educacional, que me coloca em contato com necessidades diversas, levando-me a criar uma turma de super-heróis diferentes: a turma do &UTURO�6ERDE��VERDE�DE�ESPERAN¥A��VERDE� DE�NATUREZA��VERDE�DE�"RASIL ��/�TRABALHO� promove a inclusão digital e social, além DO�PRAZER�DE�APRENDER� HÁ FREQUENTEMENTE UMA CONFUSÃO ENTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E A OCORRÊNCIA DE TRANSTORNOS OU DIS- TÚRBIOS. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS? LUIZA:� 3ÎO� DIFEREN¥AS� QUE� FAZEM� A� DI- FEREN¥Aå�!�DIlCULDADE�DE�APRENDIZAGEM� se refere à presença de um obstáculo, uma barreira, um sintoma, que pode ser de origem tanto cultural quanto cogni- tiva ou até mesmo emocional. É essen- cial que o diagnóstico seja feito o quan- TO�ANTES��UMA�VEZ�QUE�HÉ�CONSEQUÐNCIAS� EM�LONGO�PRAZO��¡�INTERESSANTE�LEMBRAR� QUE� A� DIlCULDADE� DE� APRENDIZAGEM�� PODE�� MUITAS� VEZES�� SER� RESOLVIDA� NO� ambiente escolar, como questão psico- pedagógica. O transtorno ou distúrbio DE�APRENDIZAGEM�ESTÉ�LIGADO�A�UMA�DIS- função neurológica ou biopsicossocial. .ESSE�CASO��OS�PORTADORES�DO�DISTÞRBIO�DE� APRENDIZAGEM� NÎO� CONSEGUEM� AD- quirir o conhecimento de determinadas matérias e devem ser encaminhados PARA� AVALIA¥ÎO� ESPECIALIZADA�� PARA� QUE� AS� CRIAN¥AS� NÎO� SEJAM� PENALIZADAS� POR� SEU�PROBLEMA��#ONCLUSÜES�COM�BASE�EM� Quando a criança consegue decifrar as letras, ela pode ler, o que não representa uma leitura funcional, porque apenas repete os sons, e não aplicará esse conhecimento www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13 A aprendizagem deve ser espontânea e a alfabetização precisa ser cuidadosa, porque é a base dos outros conhecimentos. Considero essencial valorizar os passos que a criança dá, mas ela precisa receber as informações mediadas suposições em nada ajudam a solucio- nar a queixa, como convencer a criança de que ela “tem” de se esforçar, deixar de ser preguiçosa, que ninguém aguenta MAIS�ETC��!lRMA¥ÜES�ASSIM�PREJUDICAM� SUA�AUTOCONlAN¥A�E�ATRASAM�A�INTERVEN- ção que ela necessita para a adoção de recursos adequados à singularidade de cada caso. Diante de dúvidas, a colabo- ração interdisciplinar é indispensável para a orientação de pais e professores. É POSSÍVEL PREVENIR ALGUM DOS PROBLE- MAS DE APRENDIZAGEM? LUIZA: Sim. Essa é a função de todos os que se dedicam ao desenvolvimento in- fantil, em qualquer especialidade. Todas as crianças podem aprender, o que é um direito constitucional, obrigação da fa- mília e da sociedade e dever do Estado. Quando se pesquisa como os indivíduos aprendem, quais as etapas e caminhos a serem percorridos ou os fatores que in- TERFEREM�NO�APRENDIZADO��PODEM SE�AN- TECIPAR�PROBLEMAS�PARA�PREVENI LOS��.ÎO� estamos falando em alterar condições biológicas, o que já se tem conseguido em muitos casos, mas em adequar a situação de ensino para propiciar con- dições de progresso às necessidades do aluno, sendo preciso desenvolver ferra- mentas que atendam os comprometi- mentos que não forem reversíveis. UM DESSES PROBLEMAS É A HIPERATIVI- DADE NO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO. A HIPERATIVIDADE SEMPRE VEM ASSOCIADA À FALTA DE ATENÇÃO? LUIZA: /�TRANSTORNO�DE�DÏlCIT�DE�ATEN- ção envolve os sintomas de desatenção e hiperatividade, basicamente. Pode haver predomínio de desatenção, predomí- nio de hiperatividade-impulsividade e apresentação combinada. O TDAH foi revisto para publicação da nova edição DO� $3- �� E� SOFREU� ALGUMAS� PEQUENAS� MODIlCA¥ÜES�� 0ERMANECE� A� LISTA� DE� ��� sintomas, sendo nove de desatenção, seis de hiperatividade e três de impulsivida- DE��ESTES�DOIS�ÞLTIMOS�COMPUTADOS�CON- JUNTAMENTE � DA� EDI¥ÎO� ANTERIOR�� 4ODOS� esses sintomas, para serem considerados CLINICAMENTE�SIGNIlCATIVOS��DEVEM�ESTAR� presentes pelo menos durante seis me- ses e serem nitidamente inconsistentes COM� A� IDADE� DO� INDIVÓDUO� �OU� SEJA�� SER� muito mais desatento ou inquieto do que o esperado para uma determinada ida- DE �� $EVE� HAVER� COMPROMETIMENTO� EM� PELO�MENOS� DUAS� ÉREAS� DIFERENTES� �CASA� E�ESCOLA��POR�EXEMPLO �E�OS�SINTOMAS�SÎO� prejudiciais à adaptação e ao desempe- nho. As mudanças tornaram possível FAZER�O�DIAGNØSTICO�DE�4$!(�COM�UM� quadro de autismo, mas permanecem exigências de os sintomas não ocorre- rem exclusivamente durante outro qua- DRO� �ESQUIZOFRENIA�� POR� EXEMPLO � E� NÎO� serem mais bem explicados por outro TRANSTORNO��ANSIEDADE�OU�DEPRESSÎO��POR� EXEMPLO ��/�NOVO�$3- �� TRAZ�A�OP¥ÎO� de TDAH com remissão parcial, que deve ser empregado naqueles casos em que houve diagnóstico pleno de TDAH ANTERIORMENTE��ISTO�Ï��DE�ACORDO�COM�TO- DOS�OS�CRITÏRIOS ��PORÏM�COM�UM�MENOR� número de sintomas atuais. Outra novi- dade da quinta edição é a possibilidade DE�SE�CLASSIlCAR�O�4$!(�EM�LEVE��MO- derado e grave, de acordo com o grau de comprometimento que causa na vida do indivíduo. O transtorno deve ser diag- nosticado por um especialista clínico. Há pessoas com TDAH que passam a vida toda sem terem sido diagnosticadas e enfrentam uma série de problemas por lhes faltar a compreensão do que pre- cisam nesse quadro neuropsicológico que não se limita à infância. De fato, as queixas dos adultos são as mesmas das crianças: distração, falta de concentra- ção, baixo rendimento nas atividades, impulsividade, falta de persistência para levar as tarefas adiante. COMO É REALIZADO O PROCESSO DE REA- BILITAÇÃO COGNITIVA? LUIZA: Para iniciar a reabilitação, é reco- MENDÉVEL�CONHECER�O�PROBLEMA��#OME- ça aí uma controvérsia, porque ainda se insiste tentar de “tudo” antes de buscar AJUDA� INTERDISCIPLINAR� OU� ESPECIALIZADA� para avaliar a queixa. O processo de reabilitação dependerá da necessidade VERIlCADA�� MAS�� BASICAMENTE�� SE� VOLTA� para atender as causas e reverter os re- sultados; pode fortalecer os fatores que compensam as áreas comprometidas �NO� CASO� DE� 4$!(� PODEM� SER� DESEN- VOLVIDOS� RECURSOS� DE� ORGANIZA¥ÎO� E� DE� AUTOCONTROLE�� ENTRE� OUTROS � OU� AUXILIAR� NA� UTILIZA¥ÎO� DE� RECURSOS� QUE� POSSAM� permitir uma adaptação satisfatória �RECURSOS� TECNOLØGICOS�� POR� EXEMPLO �� 3ABENDO SE� QUE� O� CÏREBRO� Ï� mEXÓVEL� E� que as conexões neurais se desenvolvem conforme haja estimulação e processa- mento do conhecimento, a melhora da performance não é indicada apenas para comprometimento, mas também para aqueles que querem melhorar seu índice de resultados. Essa foi a intenção quan- do procurei desenvolver uma técnica que me ajudasse a estimular a memória, que sofre uma queda na produtividade COM�O�AVAN¥O�DA�IDADE��#REIO�QUE�Cére- bro e Aprendizagem: um Jeito Diferente de Viver, livro em que reuni pesquisas sobre o assunto, ajudou bastante, especialmen- te pela proposta de brincar, em qualquer IDADE��.ÎO�VALE�MESMO�A�PENA�SE�RENDER� a tensões que nos provocam diariamen- te, não é? IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E 12 3R F 14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Todas as crianças podem aprender, o que é direito constitucional. Quando se pesquisa como os indivíduos aprendem, quais as etapas a serem percorridas ou os fatores que interferem no aprendizado, podem-se antecipar problemas para preveni-los QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS QUE PO- DEM SE BENEFICIAR COM A REABILITA- ÇÃO COGNITIVA? LUIZA: Todos os conhecimentos são úteis para compreender melhor a pessoa e podem auxiliá-la a planejar e a alcan- çar os objetivos que a levarão a uma re- ALIZA¥ÎO�PESSOAL��A�UMA�MAIOR�INTERA¥ÎO� com o meio, encontrando satisfação e AUTOESTIMA��#URIOSAMENTE��PENSA SE�QUE� OS�PROBLEMAS� SE� LIMITAM�A�DElCIÐNCIAS�� mas as crianças bem dotadas também sofrem: precisam acompanhar etapas que já superaram e são podadas em suas INICIATIVAS�DE�UTILIZAR�SEU�POTENCIAL��TEN- dendo à desadaptação, sem que se reco- nheça a necessidade de uma orientação DIAGNØSTICA�QUE�OS�BENElCIE� EM SUA OPINIÃO, QUAIS AS RELAÇÕES EN- TRE COGNIÇÃO E LINGUAGEM? LUIZA: A linguagem é um processo cog- NITIVO��COMANDADO�POR�ÉREAS�ESPECÓlCAS� do córtex cerebral em inter-relação com todo o cérebro. A área de Wernick, que se situa no centro da face lateral do he- MISFÏRIO�ESQUERDO��DOS�DESTROS ��Ï�ADMI- tida como essencial para todas as moda- lidades de linguagem. Associada a essa ZONA�HÉ�UM�POLO�MOTOR�ANTERIOR��REGIÎO� DE�"ROCA ��UM�POLO�POSTERIOR��PARIETO�OC- CIPITAL � RELACIONADO� Ì� LEITURA� E� ESCRITA� E� um polo parietal relacionado com a ativi- dade gestual. A linguagem é um instru- mento de comunicação entre as pessoas E�UM�ORGANIZADOR�PRIVILEGIADO�DO�PENSA- MENTO�n�Ï�COMO�DElNO�A� LINGUAGEM�AO� apresentar o livro Aprendizagem, Lingua- gem e Pensamento, que reúne importantes autores que discutem esse tema com base nas teorias que o consolidam. EXISTEM EXERCÍCIOS INDICADOS PARA A CRIANÇA LER MAIS E MELHOR? VOCÊ FALA EM EXERCÍCIOSDE FLEXIBILIDADE NA LEI- TURA. COMO FUNCIONAM? LUIZA: Quando a criança consegue deci- frar todas as letras do alfabeto, ela pode ler, mas isso não representa uma leitura funcional, porque ela apenas repete os SONS�� SEM� SABER� SEU� SIGNIlCADO� E� NÎO� poderá aplicar esse conhecimento, por- tanto, às diversas situações de sua expe- riência. A criança pode decorar também algumas palavras que vê com frequência E�ALGUMAS�CHEGAM�A�DIZER�UM�TEXTO�IN- teiro sem ler uma única palavra realmen- te. A criança está se exercitando quando brinca de ler e escrever palavras em situ- ações diversas, quando tenta ler palavras novas ou tenta escrever e ler o que lhe interessa. Ela aprendeu o nome dela em letra de forma, por exemplo, e descobre que pode ser escrito com letras maiús- culas e minúsculas e que outros nomes também apresentam aquelas letras que ela conhece. Descobrir que a leitura é uma forma de comunicação, quando a criança tem oportunidade de perceber A�DIVERTIDA�mEXIBILIDADE�DA�LEITURA�OU�AS� inúmeras combinações de letras que ati- çam a curiosidade de saber mais. É POSSÍVEL APRENDER A ESCREVER BEM OU ESSA PRÁTICA É UM DOM INATO QUE SE MANIFESTA NA INFÂNCIA E SE CONSOLIDA NA IDADE ADULTA? LUIZA: .ÎO� Ï� UM� DOMÓNIO� INATO�� POR- que você precisa conhecer o código de linguagem para escrever bem; se você nunca tiver acesso a esse recurso, será impossível aprender. Quando uma pes- soa tem uma habilidade mais destacada, naturalmente, ela se sente bem ao utili- ZAR�O�DOM��SEJA�NA�ESCRITA��NA�MÞSICA��NO� domínio da matemática ou de artes, ou em qualquer domínio de conhecimento OU� INTELIGÐNCIA�� #ONFORME� ELA� SE� DEDI- CA�� A� CAPACIDADE� SE� DESENVOLVE� E� A� FAZ� se sentir bem e tende a se consolidar. É claro que descobrir um dom inato numa CRIAN¥A�E�APOIÉ LA�Ï�O�MÉXIMOå�-AS��EU� QUERO�DIZER��QUE�TODOS�PRECISAM�DESCO- brir seus talentos, em qualquer idade, mesmo quem não teve oportunidade quando pequeno. EXISTEM FORMAS DIFERENTES DE RACIO- CINAR? QUAIS SERIAM? LUIZA: O ser humano raciocina para re- ALIZAR�QUALQUER�TIPO�DE�ATIVIDADE��DESDE� as mais simples até as mais complexas. 2ACIOCINAR�Ï�A�ATIVIDADE�MENTAL�QUE�PER- MITE�A�ORGANIZA¥ÎO�DO�PENSAMENTO�PARA� conseguir a conclusão de ideias, deter- minar resultados. O raciocínio pode ser VERBAL��QUE�CONSISTE�NA�UTILIZA¥ÎO�DE�ELE- mentos verbais, ou não verbal, quando envolve exercícios de raciocínio lógico com problemas matriciais, geométricos e aritméticos. O raciocínio espacial en- volve a capacidade de manipular repre- sentações mentais visuais. O raciocínio abstrato se refere à capacidade para determinar ligações abstratas entre con- ceitos através de ideias inovadoras. Di- versos outros tipos de raciocínio ainda podem ser listados, mas o importante é observar o foco o melhor possível, rela- cionar as informações, arriscar proposi- ções, analisar hipóteses, comparar, ouvir as pistas internas e... relaxar. O raciocí- nio é um super-herói que não gosta de pressão: brinque, solte-se e ele acontece. O APRENDIZADO É CONSTANTE EM NOSSA VIDA. UMA DAS MOTIVAÇÕES, INCLUSIVE, FOI A DESCOBERTA SOBRE A ELASTICIDA- DE CEREBRAL. HÁ TÉCNICAS QUE PODEM SER USADAS POR ADULTOS EM DESENVOL- VIMENTO DE APRENDIZAGEM? SÃO DIFE- RENTES DAS APLICADAS EM CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR? CASO SEJAM, POR QUÊ? IMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida �� Não estamos falando em alterar condições biológicas, o que já se tem conseguido em muitos casos, mas em adequar a situação de ensino para propiciar condições de progresso às necessidades do aluno, sendo preciso desenvolver ferramentas LUIZA: Aprender é constante, resulta de estar vivo e em relação com o am- BIENTE��-ESMO� DORMINDO�� A� APRENDIZA- gem ocorre, porque o sono consolida a memória e libera a consciência de crí- ticas. Sem dúvida, saber que o cérebro NÎO�ESTABELECE�UM�LIMITE�DE�APRENDIZA- gem, e até pode reativar funções cogni- tivas que possam ter sido afetadas por doenças ou traumatismos, abriu um le- que de expectativas das quais o ser hu- mano pode usufruir. As técnicas devem ser diferentes, porque devem atender as características de cada um. Ou seja, a APRENDIZAGEM� NÎO� SE� LIMITA� Ì� INFÊNCIA�� embora seja um período de inestimáveis POSSIBILIDADES�NA�APRENDIZAGEM��/�CÏRE- BRO��SENDO�UM�ØRGÎO�mEXÓVEL��DEVE�SEGUIR� buscando aperfeiçoamento. Eu mesma acabei me voltando para a Psicologia Social e do Trabalho, área em que com- PLETEI�MEU�DOUTORAMENTO��NA�530��COM� a orientação do incrível prof. dr. Sig- MAR�-ALVEZZI��3ABEMOS�QUE�NEM�TODOS� têm a oportunidade de receber estímu- LOS�ADEQUADOS�NA� INFÊNCIA� �MAS� SEMPRE� EXISTE�A�PSICOTERAPIA �E�ME�CONVENCI�DE� QUE��SE�REUNIRMOS�OS�PROlSSIONAIS�QUE�SE� DEDICAM�A�ESTUDOS�CIENTÓlCOS�DE�CONHE- cimentos e teorias que fortalecem esse CAMPO�� CONSEGUIREMOS� FAZER�MAIS� PELA� educação, promovendo mais crianças. Então, me voltei para os professores, psi- CØLOGOS��FONOAUDIØLOGOS��lSIOTERAPEUTAS�� MÏDICOS�� ENlM�� PARA� AQUELES� QUE� TRA- BALHAM��%M�VÉRIOS� LIVROS�QUE�ORGANIZEI� tive o privilégio de ser atendida por au- TORES�QUE�ADMIRO�E�ACEITARAM�O�DESAlO� de melhorar as condições brasileiras de educação, saúde e trabalho. Escreveram capítulos e defenderam seus temas em nosso congresso interdisciplinar, que AGORA�FAZ����ANOS� COMO A PSICOTERAPIA PODE CONTRIBUIR PARA O TRATAMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS E COGNITIVOS ENTRE OS ADO- LESCENTES? LUIZA: O autoconhecimento é a estra- TÏGIA�UTILIZADA�EM�PSICOTERAPIA��#ONFOR- me o indivíduo consegue se perceber de forma mais consciente, com suas fra- QUEZAS�E�FOR¥AS��ELE�SE�TORNA�MAIS�CAPAZ� de aceitar as pessoas e de interferir no mundo de forma positiva, com resulta- dos satisfatórios, que promovem cada VEZ�MAIS�ESSA�INTERA¥ÎO� DE QUE FORMA VOCÊ OBSERVA A QUES- TÃO DA VISIBILIDADE E INVISIBILIDADE SOCIAL DO ADOLESCENTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO? LUIZA: Os problemas da adolescência estão ganhando espaço social no mun- do contemporâneo com avanços em sua visibilidade, mas há muito a caminhar e vencer. Frequentemente, os adolescen- tes estão visíveis, como preocupação, e mais pela percepção dos problemas do que pelas soluções. A vulnerabilidade dessa etapa de vida diante da violência urbana, do apelo às drogas, da falta de PERSPECTIVAS� PROlSSIONAIS� DE� REALIZA- ção pessoal ainda representa um desa- lO�PARA�O�%STADO�E�A�SOCIEDADE��3ENDO� uma fase essencial para o futuro, com forte impacto na sociedade e em sua produção, é preciso conseguir mais do que promover a punição de infrações e, também, apoiar os pais através de pro- gramas que possam orientar os jovens e prevenir desvios de conduta, espe- cialmente nas comunidades mais ca- rentes, que contam com menos opções Quando a pessoa tem uma habilidade, naturalmente ela se sente bem ao utilizar o dom, seja na escrita, na música ou no domínio da matemática 16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br DE� SUPORTE��-EDIDAS� DE� INCENTIVO� PRO- lSSIONALIZANTE� PODEM� AJUDAR� A� OCUPAR� o tempo e a energia dos adolescentes, para que invistam em retorno concreto, tão necessário a essa fase que se perde em devaneios com facilidade. Educa- ¥ÎO��SAÞDE��ESPORTE��CULTURA��ARTE�E�LAZER� devem estar mais ao alcance dos jovens nas políticas públicas, apesar das re- conhecidas conquistas. A visibilidade que governantes precisam ter sobre a adolescência é de conhecimentos que tragam respostas aos problemas, com caminhos mais seguros para lidar com ELES�E��PARA�ISSO��PROlSSIONAIS�PESQUISA-dores deveriam ser reunidos e ouvidos, para que os projetos sejam debatidos e acertados, buscando os aspectos que ainda estão invisíveis, que são as expec- tativas dos adolescentes e suas possibili- dades de contribuir com a sociedade: “A SOCIEDADE�PRECISA�SE�DISPOR�A�FAZER�MAIS� do que críticas, ajudando a construir o FUTURO�DOS�NOSSOS�JOVENSv��Adolescência – as Contradições da Idade � DENTRE OS INÚMEROS DESAFIOS PARA O EDUCADOR DO SÉCULO XXI, CONVERSAR COM OS ALUNOS SOBRE SEXUALIDADE E GÊ- NEROS SERIA UM DOS MAIORES? LUIZA: .ÎO� DEVERIA� SER� UM� PROBLEMA� conversar com alunos sobre sexuali- DADE�E�GÐNEROS��!�DIlCULDADE�ESTÉ�EM� conversar. O educador do século XXI acumulou inúmeras funções, confor- me se entende cada aluno como um ser especial em desenvolvimento, e seu papel presume muito mais do que re- PASSAR�INFORMA¥ÜES��QUE��AlNAL��PODEM� ser obtidas por diversos meios. Os pais, parceiros mais do que interessados em compartilhar dessas tarefas, nem sem- pre são alcançáveis. Acho que o mais difícil é ouvir esses alunos, que acumu- lam conhecimentos de fontes duvidá- veis, e responder conforme as dúvidas, permitindo a chance de se colocarem no lugar do outro para aceitar cada um, mas, principalmente, visando autoes- TIMA�� VALORIZANDO� AS� PRØPRIAS� CARAC- terísticas e sonhos, que, dessa forma, POSICIONAM SE�ACIMA�DE�BULLYING��4AM- bém é difícil para o adolescente lidar com seus fracassos pessoais, que acon- tecem nas relações diárias e advêm da DIlCULDADE�PARA�AGIR�EM�CONFORMIDADE� com seus valores, lembrando que, nessa fase, os grupos se formam e o desejo de SER� ACEITO� FAZ� O� JOVEM� PASSAR� ATÏ� POR� cima de si mesmo ou se isolar. OUTRA QUESTÃO FUNDAMENTAL SERIA A RELAÇÃO DO ADOLESCENTE COM A VIO- LÊNCIA, EXTRAPOLANDO PARA CONFLI- TOS NA ESCOLA. COMO LIDAR COM ESSE PROBLEMA? LUIZA: O estresse está presente na vida diária e as exigências, frequentemente, superam as possibilidades de o jovem CORRESPONDER��O�ADOLESCENTE�PODE�ABRIR� mão de encontrar com a pessoa que FAZ� SEU� CORA¥ÎO� BATER�MAIS� FORTE��MAS� NÎO�TERÉ�GARANTIAS�DE�UMA�BOA�CLASSIl- CA¥ÎO�NUMA�PROVA ��¡�UM�MOMENTO�DE� desenvolvimento em que os amigos do grupo parecem ser aqueles que podem compreendê-lo, o que nem sempre se CONCRETIZA��3ÎO�FATOS�QUE�TORNAM�A�ADO- lescência uma fase complicada, exter- namente, enquanto, internamente, as mudanças não obedecem o seu coman- do e se evidenciam nas espinhas do rosto, no corpo que muda, nos pensa- mentos que ganham o espaço. Sentir- -se confuso, sem saber como conciliar desejos e práticas, aumenta o descom- PASSO� DE� UMA� FASE� CARACTERIZADA� POR� uma montanha-russa de emoções, que incluem também a agressividade. De repente, para aquele jovem grande, de CORPO�� E� AINDA� IMATURO� NAS� A¥ÜES� FAZ� Para iniciar a reabilitação cognitiva é recomendável conhecer o problema. Começa aí uma controvérsia, porque ainda se insiste em tentar de “tudo” antes de buscar ajuda interdisciplinar ou especializada para avaliar a queixa Na fase da adolescência, é comum a formação de grupos, pois a necessidade de ser aceito faz o jovem passar até por cima de si mesmo ou se isolar IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 17 falta um direcionamento, ao seu lado, ACOMPANHANDO� SEU� FAZER�� SEU� QUERER� e ajudando-o a se posicionar com su- cesso, lidando com a inteligência emo- cional, que se divorcia do adolescente nessa fase tão inexplorada. A violência SE�FAZ�Ì�NOSSA�VOLTA�E�SE�LIGA�A�UM�COM- portamento social que precisa ser com- preendido, porque ela exclui indivíduos da possibilidade de convívio. A escola TEM�A�CHANCE�DE�ACOLHER�OS�CONmITOS�E� buscar resoluções com a família, com a 0SICOLOGIA�OU�COM�OS�PROlSSIONAIS�QUE� forem indicados para a resolução do problema, na prevenção, antes que ele aconteça. Ignorar a situação é empur- rá-la para um agravamento, por isso, no livro Violência e Educação – a Socie- dade Criando Alternativas, procuramos ouvir especialistas, que nos mostram que o futuro se constrói agora. EXISTE UMA AFIRMAÇÃO DE QUE O ADO- LESCENTE DORME DEMAIS, SENTE MAIS SONO. HÁ UMA ASSOCIAÇÃO ENTRE SIN- TOMATOLOGIA DEPRESSIVA E DISTÚRBIOS DO SONO NESSA FAIXA ETÁRIA? LUIZA: .ÎO� NECESSARIAMENTE�� ¡� UMA� fase de intenso gasto de energias, e a reposição ocorre justamente através do sono, tema que considero da maior importância e que não recebe a aten- ção correspondente aos danos que sua falta provoca e poderiam ser evitados �ORGANIZEI� DOIS� LIVROS� SOBRE� O� ASSUNTO� e tive como coorientador de doutorado O� PROF�� DR�� 2UBENS�2EIMÎO�� DO�'RUPO� DE�0ESQUISA�!VAN¥ADA�EM�-EDICINA�DO� 3ONO��DO�QUAL�FA¥O�PARTE ��!S�ALTERA¥ÜES� HORMONAIS�NA�ADOLESCÐNCIA�INmUENCIAM� AS�MUDAN¥AS��!�MELATONINA�PRODUZIDA� pela glândula pineal e altamente envol- vida no ciclo do sono passa a ter seu pico de excreção mais tarde, atrasando a sensação de sono nos jovens. Sua pro- dução também é afetada com a exposi- ¥ÎO�Ì�LUZ��O�QUE�ACONTECE��POR�EXEMPLO�� no uso de aparelhos eletrônicos antes de dormir, o que é quase uma norma. !O�LADO�DA�MUDAN¥A�lSIOLØGICA��APARE- cem as mudanças sociais, assim como O processo de reabilitação dependerá da necessidade, mas se volta para atender as causas e reverter os resultados; pode fortalecer os fatores que compensam as áreas comprometidas ou auxiliar no uso de recursos que permitam adaptação satisfatória a carga de exigências escolares, que contribuem para que o adolescente durma mais tarde, alterando o padrão do ciclo vigília-sono. O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e acordar mais tarde, sen- do que na maior parte da manhã seu cérebro não está em estado de vigília. A duração do sono noturno desem- penha papel importante na saúde dos ADOLESCENTES��TEM�IMPACTO�SIGNIlCATIVO� em seu bem-estar físico e psicológico e está associada a problemas compor- tamentais e neurocognitivos. Estudos têm sugerido que os adolescentes pre- cisam de nove a nove horas e meia de sono por noite e, quando isso não ocor- re, eles podem apresentar maior sono- LÐNCIA� DIURNA�� DIlCULDADES� DE� ATEN¥ÎO� e de concentração, baixo desempenho ESCOLAR�� ALÏM�DE� mUTUA¥ÜES� DO�HUMOR�� É importante pensar em práticas ade- quadas de atividades físicas regulares, redução do tempo de ociosidade em frente ao computador e à televisão e, ainda, um tempo para acompanhar as situações que lhe provocam ansiedade – tudo isso ajuda a promover uma roti- na no período noturno para que o sono seja satisfatório. Da mesma forma, ape- NAS�RECLAMAR�DESSE�TRA¥O�lSIOLØGICO�SØ� OS�FAZ�BUSCAR�DISSIMULAR�O�QUE�SENTEM�� causando uma irritação que, mesmo CONTROLADA��NÎO�TRAZ�OS�OBJETIVOS�DESE- jados, que devem ser enunciados junto COM�OS�JOVENS��%M�-"!�EM�'ESTÎO�DE� 0ESSOAS� PODE SE� CONlRMAR�� HOJE�� LIDE- rança não é a capacidade de falar mais ALTO��3AIR�DO�CONTROLE�SØ�CONDUZ�AO�ES- tresse, doença que se espalha facilmen- te. Por isso, se tiver dúvidas, procure um especialista. O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e acordar mais tarde, sendo que na maior parte da manhã seu cérebro não está em estado de vigília 18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopositiva por Lilian Graziano O trabalho nos desafia e, ao fazê-lo, nos torna seres humanos melhores. Dessa forma, vale dizer que uma outra implica- ção da pergunta inicial seria a existência de uma conexão entre a felicidade e aqui- lo quefazemos de nossas vidas, o que faz todo sentido, uma vez que somos o exato produto de nossas escolhas. O questionamento sobre a existên- cia ou não de profissões mais felizes logia anacrônica que insiste em discutir a mais valia. É sempre bom lembrar que, apesar de também poder ser utilizado como forma de exploração, o trabalho é, antes de tudo, uma forma de autorreali- zação. Além disso, às demandas geradas pelo mundo do trabalho devemos boa parte de nossas conquistas pessoais, tais como a disciplina, a responsabilidade, o convívio com o outro, a tolerância etc. VISTO POR MUITOS COMO FONTE DE SOFRIMENTO, O TRABALHO POSSUI ESTREITA LIGAÇÃO COM A FELICIDADE. EXISTIRIAM, ENTÃO, PROFISSÕES MAIS “FELIZES”? D ia desses me dirigiram uma pergunta interessante: Exis- tem profissões mais felizes que outras? Podemos analisar essa pergunta de várias maneiras. Come- cemos (é claro) pela mais otimista. Tal questão estabelece o pressuposto de que felicidade e trabalho sejam conciliáveis, o que por si só representa para mim um alí- vio, acostumada que estou a uma Psico- O que você vai ser quando CRESCER? www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19 Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K/ A CE RV O PE SS OA L demonstra também um crescente inte- resse das pessoas pelo tema da satisfação no trabalho, o que parece corroborar a afirmação de Seligman de que nossa economia estaria mudando rapidamente “de uma economia de dinheiro para uma economia de satisfação”. O problema ocorre quando a opção pela satisfação entra em choque com a concepção vi- gente acerca do sucesso. Reféns de uma educação voltada para o “ter”, crescemos acreditando no sucesso como prosperi- dade financeira e, fundamentados por essa crença, muitas vezes nos perdemos na trajetória de nossas carreiras. Nesse sentido, ao discutir o sucesso, o psicólo- go Viktor Frankl parece bastante atual. Diz ele: “O sucesso, assim como a felici- dade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer natural- mente, e o mesmo ocorre com o suces- so; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que a sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão a longo prazo – estou dizendo: a longo prazo! – o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele”. É aí então que chegamos ao que cha- mo de premissa equivocada da pergunta inicial sobre a possibilidade da existência É SEMPRE BOM LEMBRAR QUE, APESAR DE TAMBÉM PODER SER UTILIZADO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO, O TRABALHO É, ANTES DE TUDO, UMA FORMA DE AUTORREALIZAÇÃO de profissões mais felizes, que é a de que a felicidade estaria em algo externo ao próprio indivíduo, tal como uma profis- são que seria mais ou menos feliz per se. Talvez nesse ponto devamos substi- tuir a clássica pergunta “o que você vai ser quando crescer?” por algo do tipo “como você vai ser quando crescer”? Isso porque, ao questionarmos nossos filhos sobre o que deverão ser, talvez estejamos lhes ensinando, equivocada e subliminarmente, que existem profis- sões melhores do que outras e nos fe- chando para o fato de que uma pessoa pode atingir o verdadeiro sucesso (leia- -se felicidade) por meio de uma dezena de profissões diferentes, desde que por meio delas encontre meios de expressar o seu melhor, deixando no mundo a sua marca individual como ser humano. Vale lembrar também que, com o au- mento da expectativa de vida, costuma- -se falar hoje sobre múltiplas carreiras. Portanto, como você vai ser quando crescer? Quando partir para a segun- da, terceira ou mesmo quarta carreira? Lembre-se de que se hoje para nós a medida do sucesso parece vir de uma comparação constante entre o nosso modelo de iphone ou de carro com o do nosso vizinho, acreditar na felicidade no trabalho como resultado da maneira com que nos relacionamos com ele tal- vez nos faça enxergar que, como dizia Hemingway, “não há nobreza em ser superior ao próximo. Nobreza é ser su- perior ao que você já foi”. NAS BANCAS! www.escala.com.br 20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopedagogia por Maria Irene Maluf A EPILEPSIA é um problema biológico A ESCOLA, RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DO CIDADÃO, PRECISA FAZER PARTE DAS INTERVENÇÕES, QUER NO ASPECTO PEDAGÓGICO OU NO SOCIOEMOCIONAL DAS CRIANÇAS QUE TÊM A DOENÇA D e origem grega, a palavra epilambanei (“surpresa”) é uma condição biológica, que revela um desequilíbrio neu- rológico manifestado frequentemente na forma de crises convulsivas inespe- radas e recorrentes, com grau variável de intensidade e duração. através de exames específ icos, e que a intervenção, medicamentosa ou cirúrgica, ofereça à grande maioria dos epilépticos uma condição de vida normal, alguns fatores decorrentes podem trazer prejuízos a sua vida escolar, mesmo se sabendo que não há comprometimento cognitivo asso- A convulsão é apenas um dos sinto- mas da doença, a qual traduz a existên- cia ocasional de uma descarga excessiva e desordenada do tecido nervoso sobre os músculos do organismo. Não é con- tagiosa e pode surgir em qualquer idade. Ainda que a conf irmação des- se diagnóstico seja da área médica, www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21 Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K/ A RQ UI VO P ES SO AL ciado ao quadro, até pelo contrário: a maioria dos epilépticos tem funcio- namento normal e acima da média (Mattos, Duchesne, 1994). A epilepsia é comum a cerca de 2% de nossa população, especialmen- te na infância, já que nos primeiros anos de vida há mais vulnerabilida- de para infecções do sistema nervo- so central, e acidentes ocorrem com certa frequência. As crises epilépticas podem ser de diversos tipos, confor- me as áreas do cérebro afetadas. Há crises parciais, outras generalizadas, assim como há as chamadas crises de ausência, em que não há uma evidên- cia motora. Os sintomas da epilepsia variam de acordo com os neurônios que estão em estado de hiperexcita- ção, e em decorrência podem surgir confusão temporária, ausência, mo- vimentos musculares descoordena- dos e completa perda da consciência. Quando as crises ocorrem apenas em parte do cérebro, elas são chamadas de crises convulsivas parciais, mas quando a hiperexcitação neuronal não se atém apenas a uma determi- nada região cerebral, ocorrem crises convulsivas generalizadas. Relatos e registros têm mostrado que nem todo professor está apare- lhado para agir no caso de um aluno ter uma crise convulsiva e, decorren- te a esse fato, as crianças, os cole- gas de classe também não têm esse conhecimento e se assustam, pois não fazem ideia do que ocorrecom o amigo em crise. Por isso, o impacto geral é na maioria das vezes marcante para quem assiste a uma convulsão, já que a ideia de morte, aliada aos mitos que envolvem a epilepsia, ainda é grande na atualidade. Pode ser mesmo uma cena impactante se a crise for inten- sa e a pessoa se machucar na queda. Embora quem tem o ataque epilépti- co não padeça de dor f ísica, pode se machucar ao se debater contra uma superf ície rígida, pontiaguda. Mas pior é o mal-estar do ponto de vista pessoal e social: epilépticos em geral relatam vergonha dos co- legas, sentem-se vulneráveis a ter outras crises e serem objeto de pena e discriminação. Tornam-se crian- ças e jovens menos sociáveis, pois a sua condição repercute no aspec- to psicossocial, de relacionamento com meio ambiente, tanto na famí- lia como na escola e, mais tarde, na vida prof issional. A família toda precisa de orien- tação e frequentemente essa advém da escola: muitos pais tornam-se su- perprotetores, ansiosos, permissivos e há um importante estresse familiar permeando, o que aumenta o senti- mento de inadequação, dependência, imaturidade do epiléptico. Além dis- so, nesse contato do professor com a família, informações sobre diag- nóstico, medicação e características especiais desse aluno trarão maiores recursos aos prof issionais, criando ainda condições de esclarecimento de base científ ica sobre o que é uma convulsão, o que é a epilepsia e afas- tar tabus que rondam a doença. Por essa razão, é de extrema importância RELATOS E REGISTROS TÊM MOSTRADO QUE NEM TODO PROFESSOR ESTÁ APARELHADO PARA AGIR NO CASO DE UM ALUNO TER UMA CRISE CONVULSIVA NA SALA DE AULA que os professores saibam o que fazer antes, durante e após a crise. Conhecimentos científ icos especí- f icos sobre o assunto estão em bons sites na internet, em boas revistas e em livros de autores experientes, além de cursos de primeiros socorros que são indispensáveis para quem tem sob sua responsabilidade muitas crianças e adolescentes diariamente. Sabe-se que mesmo entre os alu- nos medicados e que não apresentam crises convulsivas típicas na escola, devido ao efeito de algumas dessas medicações e a algumas interrupções na frequência às aulas, podem apare- cer prejuízos no processo de apren- dizagem devido a uma relativa baixa atentiva, e de memória, um rebaixa- mento na velocidade de processamen- to, no desenvolvimento das funções da linguagem, no perceptivo motor e no aprendizado do cálculo (Mattos; Duchesne, 1994). Se houver surgimento de uma eventual dif iculdade de aprendizado ligada à epilepsia, certamente será complicada por fatores de ordem socioemocionais e de ensino-apren- dizagem, referente à maneira como a escola desenvolve a inclusão da criança no grupo. É importante não apenas lembrar que incentivar a criança a elaborar es- tratégias de aprendizagem adequadas ao seu perf il de aprendiz lhe oferece oportunidade de desenvolver suas ha- bilidades cognitivas e ter sucesso na escola, autoconf iança e motivação. Mas também é preciso estar atento ao fato de que alunos com dif iculdades escolares de toda ordem precisam de retorno e reforço mais constante, para que modif iquem sua conduta no senti- do da superação. 22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE 12 3R F NEUROPLASTICIDADE www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23 Marineide Almeida Fernandes é psicóloga, terapeuta de casais e família, terapeuta EMDR, master coach, practitioner em PNL e hipnoterapeuta e ativista quântica. Site: marineidealmeida.com.br | Fanpage: facebook.com/PsiMarineideAlmeida | Instagram: @PsiMarineideAlmeida (���������G��!������(���G�\��\ �I��IG� ��������G9����������������G���G������G���Ë���I�:� Site: drmiltonmoura.com | Canal no Youtube: youtube.com/DrMiltonMoura | Fanpage: facebook.com/AtivismoQuantico | Instagram: @DrMiltonMoura-AtivismoQuantico Por Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura Avanços tecnológicos proporcionam entender melhor o funcionamento da mente, especialmente em pesquisas realizadas pela neurociência que mostram que o cérebro não diferencia realidade da imaginação Processos de SINAPSES IGUAIS PPPPPPPPPPPPooooooooooorrrrrrrrrrrrrr MMMMMMMMMMMMMMMMaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrriiiiiiinnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddeeeeeeeeeeeeee AAAAAAAAAAAAAAAAllllllllllmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddaaaaaaaaaaaaa FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnndddddddddddddeeeeeeeeeeeeeessssssssssssss eeeeeeeeeeeeee MMMMMMMMMMMMMMMiiiiiiiiiilllllllllttttttttttttttooooooooooonnnnnnnnnnnnnn CCCCCCCCCCCeeeeeeeeeeeeeessssssssssssaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrr FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrllllllllllliiiiiiiinnnnnnnnnnnnnn MMMMMMMMMMMMMMMMooooooooooouuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaPor Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura AAAAAAAAAAAAvvvvvvvvvvvaaaaaaaaaannnnnnnnnnççççççççççoooooooosssssssss ttttttttttteeeeeeeeeeeccccccccccnnnnnnnnnnoooooooolllllllóóóóóóóóóógggggggggggggiiiiiiiccccccccoooooooosssssssss ppppppppppprrrrrrrrrroooooooopppppppppppoooooooooorrrrrrrrrrrcccccccciiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaaammmmmmmmmmm eeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttteeeeeeeeeeennnnnnnnnnddddddddddeeeeeeeeeeerrrrrrrrrr mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeellllllllhhhhhhhhhhhoooooooorrrrrrrrrrr oooooooo fffffffffffuuuuuuuuuunnnnnnnnnncccccccciiiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaammmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttoooooooo ddddddddddaaaaaaaaaa mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee,,,, eeeeeeeeeeessssssssspppppppppppeeeeeeeeeeeccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaallllllllmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee eeeeeeeeeeemmmmmmmmmm pppppppppppeeeeeeeeeeesssssssssqqqqqqqqqquuuuuuuuuuiiiiiiisssssssssaaaaaaaaaasssssssss rrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaalllllllliiiiiiizzzzzzzzzzzaaaaaaaaaaaddddddddddaaaaaaaaaaasssssssss pppppppppppeeeeeeeeeeelllllllaaaaaaaaaaa nnnnnnnnnneeeeeeeeeeeuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrooooooooccccccccciiiiiiiêêêêêêêêêêênnnnnnnnnnccccccccciiiiiiaaaaaaaaaaa qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee mmmmmmmmmmmoooooooossssssssstttttttttttrrrrrrrrrrraaaaaaaaaammmmmmmmmmm qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee oooooooo ccccccccééééééééééérrrrrrrrrrreeeeeeeeeeebbbbbbbbbbbrrrrrrrrrrroooooooo nnnnnnnnnnããããããããããoooooooooo ddddddddddiiiiiiiiffffffffffffeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrreeeeeeeeeeennnnnnnnnnnccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaaa rrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaallllllliiiiiiiiddddddddddaaaaaaaaaaddddddddddeeeeeeeeeee ddddddddddaaaaaaaaaa iiiiimmmmmmmmmmmaaaaaaaaaagggggggggggggiiiiiinnnnnnnnnnaaaaaaaaaaçççççççççççãããããããããããoooooooooo Avanços tecnológicos proporcionam entender melhor o funcionamento da mente, especialmente em pesquisas realizadas pela neurociência que mostram que o cérebro não diferencia realidade da imaginação Processos de SINAPSES IGUAIS 24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE Em cada percepção surgem, simultaneamente, o sujeito que observa e o objeto que é observado. Como isso acontece? Como ocorre essa separação entre o sujeito e o objeto? Por meio da chamada cisão sujeito/objeto da observação Em algum momento al-guém já pensou sobre o fenômeno da percep-ção? Como se perce-bem as coisas ao redor e no mundo externo? Todos temos um aparato de percepção: o cére- bro. Ele é o responsável por colocar o ser humano em contato com tudo o que existe. É praticamente impos- sível não se impressionar quando se pensa na compreensão do fenô- meno da percepção. A cada obser- vação, o cérebro grava o ambiente externo e cria uma representação interna. Um processo complexo e ainda pouco compreendido emsua totalidade pela neurociência. Em cada percepção surgem, si- multaneamente, o sujeito que ob- qual a mente e o cérebro interagem: realidade e imaginação. A mente pode mudar o cérebro? Essa é uma questão que sempre esteve pre- sente em várias discussões. Quem causa quem? O cérebro, através dos seus processos internos de funcio- namento dos neurônios, produz a mente? A mente pode causar algu- ma mudança na estrutura física do cérebro? São questões importantes e merecem ser respondidas. Essas respostas permitirão uma expansão da própria consciência. Consciência e cérebro guardam uma íntima (inter)relação, o pro- blema é acreditar que a consciên- cia surge devido ao funcionamento do cérebro. Desde muito tempo, William James – um dos fundado- res da Psicologia moderna – já pen- sava nessa interação. Ele realizou experimentos pessoais com o óxido nítrico, ou gás hilariante, com o qual sentia a consciência se libertar do corpo. Isso o levou a questionar publicamente, em 1898, se o cére- bro de fato produzia a consciência. Hoje, com a utilização do mape- amento cerebral, é possível estudar o cérebro de forma dinâmica (es- tudar o cérebro vivo), o que trouxe uma importante consequência para as pesquisas da consciência. O cé- rebro não consegue diferenciar rea- lidade de imaginação. Os processos de sinapses utilizados pelo cérebro durante a percepção de um objeto separado e externo são os mesmos usados durante a imaginação desse mesmo objeto, agora na percepção interna e particular. Isso começa a proporcionar um embasamento científ ico para todas as terapias que lidam com o campo sutil, sejam elas oficializadas por órgãos competen- tes ou não. O fato de um grupo de pessoas apenas imaginar que está apren- dendo determinada habilidade, comparado com outro grupo que IMAG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K serva e o objeto que é observado. Como isso acontece? Como ocorre essa separação entre o sujeito e o objeto? Por meio da chamada ci- são sujeito/objeto da observação. Como surge o sujeito que observa? Existe a mais pura nitidez dessa se- paração: a observação é capaz de produzir o “Eu” que percebe, que dá signif icado, que cria a realida- de. Percepção e realidade guardam uma íntima correlação. E a imagi- nação? Quando se fecham os olhos, o que acontece com o cérebro? Os avanços tecnológicos de in- vestigação do cérebro permitiram uma expansão na compreensão de seu funcionamento. Avançou-se muito com os estudos proporciona- dos pela neurociência no campo no O cérebro coloca o ser humano em contato com tudo o que existe, ou seja, a cada observação, o cérebro grava o ambiente externo e cria uma representação interna www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 A mente pode mudar o cérebro? Essa é uma questão que sempre esteve presente. O cérebro, através dos seus processos internos de funcionamento dos neurônios, produz a mente? A mente pode causar alguma mudança na estrutura física do cérebro? HO UG HT ON L IB RA RY A T HA RV AR D UN IV ER SI TY /W IK IP ED IA realmente está treinando mecani- camente essa habilidade, não mos- trou nenhuma diferença signif i- cativa entre ambos. Esse conceito fez despertar e emergir o conceito da neuroplasticidade: a capacidade que todos têm de criar novos cir- cuitos cerebrais para expressar no- vas habilidades de nossa consciên- cia. Ou seja, estimular a formação de novas sinapses em um processo denominado sinaptogênese, que é feito a cada momento diante das inúmeras percepções que são cap- tadas do mundo exterior. As novas sinapses determinam novas redes neurais que, por sua vez, formarão novas memórias. Pesquisa realizada pelo médi- co espanhol Alvaro Pascual-Leone observou esses aspectos, um expe- rimento elegante e elogiado pelos cientistas que estudam o fenôme- no da neuroplasticidade. Com o aperfeiçoamento dos equipamentos de mapeamento cerebral, Pascu- al-Leone conseguiu levar adiante os trabalhos de Ramón y Cajal, médico e histologista espanhol, considerado o “pai da neurociência moderna”. A imaginação pode mudar a anatomia cerebral? Os detalhes do experimento sobre a imaginação foram simples e realizados com pessoas que nunca tinham estuda- do piano. Foi ensinado a um grupo uma sequência de notas, mostran- do-lhes quais dedos mexer e dei- xando que ouvissem as notas à me- dida que fossem tocadas. Ou seja, esse grupo estava sentado ao piano e fazendo os exercícios físicos. Um outro grupo, chamado grupo do exercício mental, iria apenas imagi- nar a mesma sequência de notas por duas horas por dia, durante cinco dias. Os grupos tiveram o cérebro mapeado antes, durante e depois do experimento. Ambos os grupos fo- ram solicitados a tocar a sequência aprendida e treinada enquanto um computador media a precisão de sua performance. Pascual-Leone concluiu que ambos os grupos mostraram mu- danças semelhantes no mapa cere- bral. O grupo do exercício mental produziu uma mudança física no sistema motor semelhante ao gru- po que executou o exercício físi- co. Ao f inal do quinto dia, as mu- danças para os músculos eram as mesmas nos dois grupos. Durante o processo de imaginação, é pos- sível promover mudanças físicas no cérebro, demonstrando que o exercício mental provoca tais mu- danças cerebrais. Isso traz à tona Um dos criadores da Psicologia moderna, William James sempre acreditou que a consciência e o cérebro têm uma íntima relação de interatividade TECNOLOGIA É UTILIZADA PARA ATIVAR NEURÔNIOS PARA SABER MAIS Um aparelho chamado Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) foi utilizado pela primeira vez na Faculdade de Medicina de Harvard. Trata- se de um dispositivo que emite uma estimulação magnética transcraniana capaz de impulsionar os neurônios. Pascual-Leone é o pioneiro no uso da TMS para ativar neurônios. Ele estudou como os pensamentos alteram o cérebro utilizando a TMS para observar mudanças nos mapas dos dedos de pessoas que aprendem a tocar piano. Podemos mudar nossa anatomia cerebral simplesmente usando a imaginação. Dois grupos de estudos foram formados, um sentado diante de um piano e executando uma sequência de notas com dedos específicos. Outro grupo imaginaria tocar a mesma sequência de notas sem estar diante do piano. Após algumas semanas de treinos e submetidos ao mapeamento cerebral através do TMS, observou- se que no grupo do exercício mental o nível alcançado em performance era igual ao nível atingido pelo grupo do exercício físico. O cérebro não separa realidade de imaginação! 26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE novamente que a consciência não pode ser o resultado do funciona- mento dos neurônios. Pelo contrá- rio, a consciência deve exercer um papel causal. Mundo quântico Será que o pensamento e o mundo quântico têm alguma relação? Em 1988, Amit Goswami – profes- sor PhD de Física Quântica Teórica da Universidade de Oregon, nos Es- tados Unidos – afirmou que sim. Le- vou um bom tempo para se perceber a mensagem da Física Quântica: a matéria, assim como qualquer forma de energia, comporta-se como on- das de possibilidades, em potentia. A Física Quântica traz para a fórmula da realidade o papel do observador até então afastado e separado. A ex- periência da fenda dupla, idealizada por Tomaz Young – físico, médico e egiptólogo britânico, conhecido pela experiência que possibilitou a determinação do caráter ondula- tório da luz –, sintetiza muito bem essa mensagem. O fenômeno da ob- Quando se entra em contato com o mundo externo, tornando- -o real, ocorre na percepção a cisão sujeito/objeto, ou seja, percebe-sea realidade/objeto separada, ao mes- mo tempo que guarda-se a sensação de um sujeito observando. Todos estão a todo instante mensurando as coisas ao redor. Estímulos diver- sos chegam ao cérebro para se co- criar a realidade. Esses estímulos necessitam da luz ref letida sobre os objetos para que haja sua percep- ção, para posterior uso através do aprendizado, ou seja, a memória. As informações advindas das diversas interações sociais que o ser humano vivencia em seu dia a dia alimentam o córtex cerebral e o Os processos de sinapses utilizados pelo cérebro durante a percepção de um objeto separado e externo são os mesmos usados durante a imaginação desse mesmo objeto, agora na percepção interna e particular �Estudo do comportamento neural A programação neurolinguística (PNL) pode ser definida como a metodologia que estuda o aprendizado comporta- mental, ou seja, como o cérebro percebe, codifica, organiza e armazena as infor- mações, no que se refere a experiências. Esse processo determina as relações da pessoa com o meio. Explica de que for- ma, em dado contexto e circunstância, a pessoa age ou reage, como experimen- ta, como influencia o mundo ao redor e como é influenciada por ele, positiva ou negativamente. Em 1988, Amit Goswami, PhD em Física Quântica Teórica da Universidade de Oregon, nos EUA, disse que o pensamento e o mundo quântico têm relação direta servação é capaz de provocar o “co- lapso” da função de onda da matéria, simplesmente por observar. Quem provoca o colapso da função de onda da matéria? Para Amit Goswami, a consciência é a base de tudo e é ela que causa a realidade. Em um futuro bem próximo, a medicina oficial incorporará em suas práticas a opção da medita- ção, da contemplação, da oração, das atividades físicas relaxantes, das terapias energéticas, além da abordagem alopática hoje em práti- ca. O ser humano necessita de uma abordagem integral, pois é um ser integral, constituído de intuições, pensamentos, sentimentos, além da biologia molecular que o envolve. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27 O fato de um grupo apenas imaginar que está aprendendo uma determinada habilidade, comparado com outro grupo que realmente está treinando mecanicamente essa habilidade, não mostrou nenhuma diferença significativa entre ambos IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K hipocampo, ambos localizados no cérebro. Esses contatos e interações alimentam o psiquismo, bem como o cérebro. Todas essas impressões e vibrações vivenciadas pelo ser humano requerem uma gama de energias que qualif icam cada ex- periência. As células nervosas es- timuladas por todo esse conteúdo vibracional das experiências fazem tocar um acorde específ ico no cor- po, utilizando-se de moléculas es- pecíf icas chamadas de substâncias informacionais: hormônios, neuro- transmissores, peptídeos etc. Essas substâncias, por sua vez, estimulam o núcleo da célula a produzir, por intermédio do DNA, o RNA, men- sageiro que irá até o citoplasma para sintetizar a proteína específ ica para a f inalidade em questão. Che- ga-se, assim, em uma comunicação entre mente-corpo-gene. A comunicação O estímulo percorre então um processo de comunicação en- tre mente e cérebro, depois conti- nua a comunicação entre cérebro e corpo, que por f im chega à célula, que se comunica com o gene. Os trabalhos de neurocientistas corro- boram essa constatação. A mente, através dos pensamentos, estimula o cérebro que se comunica com o corpo, que atua na célula e chega aos genes, estimulando-os a produ- zir proteínas específ icas para exer- cerem funções específ icas. Portanto, as terapias que en- volvem exercício mental, como a meditação, contemplação, oração, sono reparador, terapias energéti- cas, exercícios físicos relaxantes e até mesmo a medicina convencio- nal, são agora novos aliados na bus- ca da promoção da saúde. Serenida- de, calma, benevolência, caridade, gratidão, perdão, humildade, equi- líbrio, fraternidade, indulgência, esperança, compreensão, valores forma adequada, culminando com a harmonia no funcionamento do organismo, ou seja, saúde! Imaginar é poder O neurocientista Joe Dispenza, em sua obra Evolve your Brain: the Science of Changing your Mind, revela que o cérebro, longe de ser estático e imutável, está em cons- tante transformação e comporta- -se como poderoso instrumento de criação da realidade, mesmo imagi- nada. Segundo ele, possuímos o po- der de, a qualquer instante, trazer à tona uma memória desagradável e revivê-la como se estivesse ocor- rendo. Dispenza ressalta ainda que as células cerebrais são constante- mente remodeladas e reorganiza- das por experiências e pensamen- tos. A atenção recorrente que se dá tanto às frustrações quanto às pre- ocupações e ansiedades não apenas inf luencia as emoções como tam- bém transforma neurologicamente as pessoas. Esse poder exercido pela ima- ginação sobre o indivíduo justif i- ca-se na constatação de o cérebro não discernir realidade e imagina- ção. O professor de Neurociência No futuro próximo, a medicina tradicional incorporará em suas práticas as opções da meditação, da contemplação, das atividades físicas relaxantes, entre outras diversos esquecidos ou adormeci- dos irão fazer tocar um acorde dife- rente, em que as informações, agora com um novo teor vibracional, che- garão até as células e elas produzi- rão proteínas de forma equilibrada e efetiva para exercer as funções de 28 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE A neuroplasticidade é a capacidade que todos têm de criar novos circuitos cerebrais para expressar novas habilidades de nossa consciência. Ou seja, estimular a formação de novas sinapses em um processo denominado sinaptogênese Cognitiva, Giorgio Ganis, apontou que pela neuroimagem foi possível identif icar uma coincidência de mais de 90% entre as regiões cere- brais ativadas pelas percepções vi- suais e aquelas ativadas pelas ima- gens mentais. Isso signif ica que, por meio da imaginação, nosso cérebro é capaz de produzir representações internas com a mesma natureza da- quelas construídas durante a per- cepção, sem a presença de qualquer estímulo visual externo. Tony Robbins – renomado es- critor e palestrante motivacional – elucida a importância das repre- sentações internas para a criação do estado emocional: são elas as lembrança positiva se fortaleça, é importante pedir ao paciente que a imagine grande, nítida, brilhante, colorida e focada. Da mesma forma, a f im de que as experiências ruins sejam extenuadas, deve-se conduzi- -lo a representá-las de forma desfo- cada, escura, pequena e confusa. A neurociência demonstrou que a imaginação, além de viabili- zar a ressignif icação e a transfor- mação de uma experiência, tam- bém possibilita a criação de novas habilidades. Os neurônios ativados durante o desempenho de uma ati- vidade também são estimulados ao se imaginar a execução dessa ati- vidade. Estudo realizado com ele- trodos implantados no cérebro de pacientes com epilepsia mostrou a semelhança entre a percepção vi- sual e a imaginação. Entre as con- vulsões, registrou-se a atividade de 276 neurônios isolados. Segundo Ganis, “os neurônios responderam tanto aos estímulos visuais quan- to às imagens mentais visuais dos mesmos estímulos”. Treinamento mental Outro estudo foi realizado para de-terminar a possibilidade de ganho de força muscular a partir de treinamen- to mental, sem a prática de exercícios físicos. Nesse experimento, um gru- po de voluntários realizou contrações muscularesmentais do pequeno dedo abdutor, enquanto outro grupo execu- tou contrações físicas desse membro. O treinamento durou 12 semanas (15 minutos por dia, durante cinco dias na semana). Ao final do estudo, identifi- cou-se um acréscimo de 35% na força dos dedos daqueles que realizaram con- trações mentais – em contraposição ao de 53% para as contrações físicas. Durante os atendimentos, quan- do é apresentada alguma situação- -problema, é importante estimular o paciente a extrair pelo menos um aspecto positivo, pois essa é uma responsáveis pela produção dos es- tados de depressão e de êxtase. Em uma linguagem mais científica, a alteração da consciência envolve o uso da imaginação para a transfe- rência de representações presentes na memória de longo prazo para a memória de trabalho. A partir disso, torna-se possível a reinterpretação e a transformação de representações negativas por meio da aplicação de estratégias terapêuticas. A partir de recursos da progra- mação neurolinguística (PNL) é possível modificar o signif icado de um evento por meio da alteração de sua representação. Assim, du- rante o atendimento, para que uma De acordo com a neurociência, há comunicação entre mente e cérebro, depois continua entre cérebro e corpo, que chega à célula, que se comunica com o gene www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 29 Pesquisa realizada pelo médico espanhol Alvaro Pascual-Leone observou o fenômeno da neuroplasticidade. Leone conseguiu levar adiante os trabalhos de Ramón y Cajal, considerado o “pai da neurociência moderna” estratégia poderosa para o enfrenta- mento da adversidade. O relaxamen- to no qual o paciente imagina uma cena perfeita para a situação-pro- blema é outra estratégia bastante recorrente nos meus atendimentos. Peço para que ele use o maior nú- mero de sentidos e de modalidades possíveis, como cores; temperatu- ra; cheiros; sons; sensações e senti- mentos. Justifica-se tal conduta em razão das imagens mentais serem multissensoriais. Quanto mais rica em elementos for a imagem, mais as representações internas criarão es- �Popularização da PNL O norte-americano Tony Robbins é um palestrante motivacional, escritor e estra- tegista, responsável pela popularização da programação neurolinguística (PNL), além de ser um famoso coach. Realiza palestras a respeito de técnicas que permitem usar os recursos de comunicação interna e ex- terna ao indivíduo de forma mais eficien- te. Várias personalidades internacionais receberam seu treinamento, como Andre Agassi, Princesa Diana, Anthony Hopkins, Quincy Jones e Bill Clinton, entre outras. IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K ST EV E JU RV ET SO N/ W IK IP ED IA O neurocientista Joe Dispenza descobriu que o cérebro está em transformação e comporta-se como instrumento de criação da realidade, mesmo imaginada tados e sensações similares à reali- dade pretendida. Sofrimento intenso Dentre tantos comportamen-tos-problema apresentados no consultório, destaco dois, por serem comuns na sociedade e pela intensidade do sofrimento. O pri- meiro deles é de um paciente que, mesmo sendo o melhor aluno do cursinho, foi reprovado 18 vezes no vestibular para medicina. Revi- ver cada reprovação provocava um quadro de intensa ansiedade que o debilitou física e emocionalmente. Durante os atendimentos, pedia para ele se imaginar realizando a prova da melhor forma possível. Nessa cena perfeita, introduzíamos dif iculdades que costumeiramente apresentava durante as provas, e so- licitava que ele gerasse habilidades para solucionar tais dif iculdades. Normalmente, ele respirava e dizia consigo mesmo: “Eu sei. Eu sou ca- paz. Eu consigo”. Depois de apenas uma semana intensiva de tratamen- to, ele foi aprovado e o relato dele foi muito interessante: disse que a sensação enquanto fazia a prova era a mesma experimentada por ele no consultório durante a imaginação. O outro caso é de uma paciente de 58 anos que, apesar de já possuir carteira de habilitação, parou de dirigir após um momento de expo- sição traumático, que desenvolveu nela um sentimento de incapaci- dade. Após alguns treinos de visu- alização, nos quais ela se percebia segura na direção, a paciente con- seguiu tirar o carro da garagem. Depois de outras intervenções, ela passou a sair acompanhada por 30 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE As informações advindas das diversas interações sociais que o ser humano vivencia em seu dia a dia alimentam o córtex cerebral e o hipocampo, ambos localizados no cérebro. Esses contatos e interações estimulam o psiquismo, bem como o cérebro REFERÊNCIAS CALLEGARO, Marco. O Novo Inconsciente: como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental. Porto Alegre: Artmed, 2011. DISPENZA, J. Evolve your Brain: the Science of Changing your Mind. Flórida: Health Communication, 2007. . Breaking the Habit of Being yourself: how to Lose your Mind and Create a New One. Estados Unidos: Hay House, 2012. . You Are the Placebo: Making your Mind Matter. Estados Unidos: Hay House, 2014. DOIDGE, Norman. O Cérebro que se Transforma: como a Neurociência Pode Curar as Pessoas. Tradução Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Record, 2011. GANIS, G. Visual mental imagery. In: LACEY, S.; LAWSON, R. (Eds.). Multisensory Imagery. Nova York: Springer-Verlag New York, 2013. GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O Universo Autoconsciente: como a Consciência Cria o Mundo Material. São Paulo: Aleph, 2011. O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolinguística - PNL: um Guia Prático para Alcançar os Resultados que Você Quer. Tradução Carlos Henrique Trieschmann. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2015. ROBBINS, A. Poder sem Limites: o Caminho do Sucesso Pessoal pela Programação Neurolinguística. Tradução Brazil, Nova York. Rio de Janeiro: Best Seller, 1986. RANGANATHAN, V.; SIEMINOW, V.; LIU, J.; SAHGAL, V; YUE, G. From mental power to muscle power: gaining strength by using the mind. Neuropsychologia, n. 42, Elsevier, Cleveland, 2004. pessoas que lhe davam segurança. Ao f inal de 12 sessões, começou a dirigir sozinha, sentindo-se cada vez mais capaz, sentimento e com- portamento estes que se entende- ram para outras áreas de sua vida. É importante ressaltar que todo esse processo não é realizado ape- nas dentro do consultório, mas es- sas estratégias são ensinadas aos pacientes a f im de que as executem o maior número de vezes possível. Vale dizer que essas são apenas al- gumas possibilidades de interven- ção e que cada caso deve ser ana- lisado individualmente, sempre levando em consideração a subje- tividade de cada pessoa e o bem- -estar do paciente. Acredito que, se as pessoas as- similarem as informações de que o cérebro não distingue realidade de imaginação e de que ninguém é mero produto do meio ou de um cérebro condicionado a determinados com- portamentos, se tornarão capazes de controlar a maneira como se sentem em relação àquilo que é externo. A forma como se percebem interna- mente as inf luências externas define tanto o estado emocional quanto o físico, posto que, para cada pensa- mento ou sentimento, há a produção de uma química diversa que vicia o corpo. Desse modo, convido os lei- tores a fazerem uma viagem para seu universo interior e a identificarem, IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K de forma sincera, quais são os vícios emocionais alimentados cotidiana- mente por pensamentos supérf luos. Lembrem-se: nós possuímos o poder de mudar nossa realidade. Pesquisas demonstram que uma pessoa,apesar de habilitada a dirigir, pode desenvolver um sentimento de incapacidade após uma exposição traumática /editoraescalaoficial Ou acesse www.escala.com.br Com a ajuda de especialistas na área, este especial desvenda, em 90 projetos, o universo da iluminação, com muitas ideias para você se inspirar. Já nas bancas! 32 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br coaching por Eduardo Shinyashiki VIVER DESSA FORMA ACELERADA E DISTRAÍDA EM MEIO AOS HÁBITOS AUTOMÁTICOS DO COTIDIANO PODE DIMINUIR A PERCEPÇÃO DE SI MESMO, DO MUNDO AO REDOR E, ASSIM, NOS DISTANCIAR DA ALEGRIA O TURBILHÃO do dia a dia A VIDA É COMO UMA BALANÇA, NA QUAL OS PESOS E MEDIDAS DEVEM ESTAR EQUILIBRADOS PARA MANTER A MOTIVAÇÃO. É FUNDAMENTAL CUIDAR DOS ASPECTOS FÍSICO, MENTAL, EMOCIONAL E ESPIRITUAL N os dias de hoje é comum nos depararmos com pessoas que se sentem distantes delas mes- mas e perdidas em uma roti- na incessante, prisioneiras de hábitos mecânicos e inconscientes que afetam negativamente a saúde, a família e a rea- lização. É como se elas vivessem com o piloto automático acionado. %STAR�NO�PILOTO�AUTOMÉTICO�SIGNIlCA� viver preso a esquemas de comporta- mentos repetitivos, limitados e relacio- nados às experiências passadas. É como andar com o freio de mão puxado, sem energia, força e motivação. O nível de atenção consciente diminui e, por conse- quência, também a qualidade das nossas ações, além dos resultados e a percepção das oportunidades. É ter a sensação de estar atolado e sentir que os objetivos nunca serão alcançados, vivendo grande parte do tempo cansado, desanimado e com a sensação de ser incapaz de pro- mover mudanças. Mas por que as pessoas se sentem tão perdidas e desconectadas de si mesmas? São apenas circunstâncias sociais ou também é uma questão de personalidade, de escolher levar a vida dessa maneira? 0ODEMOS�REmETIR�SOBRE�ESSES�DOIS�PONTOS� É verdade que o excesso de ativi- dades, responsabilidades e tarefas – ao mesmo tempo em que sofremos pres- sões para ser o melhor, o mais inovador, o mais competente e o mais feliz – pesa PARA� CONSEGUIR� CONCILIAR� A� VIDA� PROlS- sional e pessoal. Todas essas exigências induzem as pessoas a sentirem-se pri- sioneiras, com hábitos mecânicos e in- conscientes que afetam negativamente a saúde, a família e a realização. Todas essas ações nascem da forma em que o indivíduo enxerga o mundo ao redor, na maneira em que ele encara as situações e o tipo de pensamentos que ele alimenta. Se não há como evitar as situações estressantes, há como olhá-las de forma mais positiva. A vida é como uma grande balança, na qual os pesos e medidas devem estar equilibrados para manter a motivação. É fundamental cui- dar dos aspectos físico, mental, emocio- nal e espiritual. Embalado pela rotina, o ser huma- no não presta atenção nessa balança. Cada um sabe quais são as medidas certas para que o equilíbrio predomine ATRAVÏS� DA� REmEXÎO�� DA�MEDITA¥ÎO� E� DO� autoconhecimento. É importante estar conectado a si mesmo para expandir a percepção da própria vida, encontrar a natureza mais profunda e ter a cons- ciência do cotidiano para que os lados PESSOAL�E�PROlSSIONAL�SEJAM�MODIlCADOS� por uma nova perspectiva. Algumas situações não podem ser evitadas, como, por exemplo, cumprir horários rígidos ou ter que trabalhar ATÏ�TARDE�POR�CONTA�DA�DEMANDA�PROlS- sional. A grande questão é: o que pode ser feito, mesmo nesses momentos, para tentar desacelerar? Nesse caso, as pessoas podem criar o hábito de dedicar um tempo a si, fazer pausas ou algo diferente – que venha a alimentar a alma, expandir a consciên- CIA� ATRAVÏS� DE� PRÉTICAS� COMO� REmEXÎO�� meditação e concentração, treinando a mente para torná-la mais focada. Essa mudança de conduta traz maior percep- ção de si, do mundo em volta, das pesso- as ao redor e mais atenção ao que se faz com a vida. Isso aumenta a liberdade do ser humano, mesmo no ritmo frenético do cotidiano. O equilíbrio entre o “fazer” e as “pausas” é essencial para estimular a criatividade, as novas ideias, a intuição, o amadurecimento de decisões e a re- generação das forças criativas. Para in- corporar essas iniciativas na rotina, le- vando uma vida mais leve e condizente com o que acredita, é importante reco- nhecer que você tem o privilégio de fa- zer escolhas e promover as mudanças. Direcione a atenção nos pensamentos www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 33 e imagens do que deseja. É importante LEMBRAR� SEMPRE�� A�QUALIDADE�DAS� REmE- XÜES� INmUENCIA� AS� EMO¥ÜES� E�� CONSE- quentemente, as ações. Atenção com as palavras utilizadas, pois elas expressam as intenções e ma- nifestam as vontades. Frases como “não consigo”, “ já tentei” e “não vai dar certo” não ajudam em nada. Quando esquece- mos os sonhos e desrespeitamos a pró- pria vontade e o anseio da alma, a vida se torna cinza, pois as cores vêm dos so- nhos que são alimentados diariamente. Não é simples abandonar velhos comportamentos e padrões para abraçar os novos, mas o ser humano tem uma capacidade única de mudar e evoluir. IMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K E AC ER VO P ES SO AL Eduardo Shinyashiki é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o crescimento e a autoliderança das pessoas. www.edushin.com.br Por isso, quando a mudança é percebida como necessária, quando a vontade está presente e o desejo de fazer diferente su- pera a condição de estagnação, algo co- ME¥A�A�SE�MODIlCAR�PROFUNDAMENTE��¡�O� começo da transformação e é sem volta. Nesse estágio, depois da tomada de de- cisão, é importante persistir, direcionar a atenção no que se quer e não desistir. Acredite no enorme poder pessoal que há dentro de você. A transformação é perfeitamente realizável e, quando tomamos a decisão DElNITIVA� DE� FAZÐ LA�� ELA� SE� TORNA� UMA� força poderosa. Ao mudar o comportamento e sair da inconsciência de viver distraidamente no “piloto automático”, o indivíduo reto- ma as rédeas da vida, sem deixá-las nas mãos de outras pessoas, dos eventos e dos contextos externos. E, assim, se vive a vida que merece e anseia. 34 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br IM AG EN S: D IV UL GA Çà O Por Lucas Vasques Histórias do cérebro (anomalias da neurociência) Com o apurado e já conhecido talento para explicações claras, abrangentes e espirituosas, o re- nomado jornalista e escritor Sam Kean apresenta os personagens que forjaram a surpreendente e incrível história da neurociência. Kean explora os corredores secretos do cérebro e narra casos es- quecidos de pessoas comuns cuja luta, resiliência e profunda humanidade tornaram a neurociência possível. São histórias de curiosidades neurológicas que incluem membros-fantasma, cérebros de gêmeas siamesas, vírus que comem as memórias de pacientes, pessoas cegas que “enxergam” por meio da língua. Kean costura essas narrativas com uma prosa envolvente e espirituosa que faz as páginas passarem voando, numa história de descoberta que remonta ao século XVI e ao notório acidente que inspirou o título do livro – e abriu caminho para uma nova ciência. O Duelo dos Neurocirurgiões e Outras Histórias de Trauma, Loucura e Recuperação do Cérebro Humano Autor: Sam Kean Editora: Zahar Páginas: 408 Transtornos de ansiedade (hipnoterapia cognitiva) Ansiedade, o mal do século, encontrou um combatente à sua altura. Hipnoterapia Cognitiva: Trata- mento Clínico dos Transtornos de Ansiedadee de seus Sintomas, escrito pelo psicólogo Benomy Silberfarb, traz um manual prático com as técnicas adequadas para o tratamento dos seguintes transtornos: ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e fobia social. A obra também serve para integrar a hipnose clínica com a terapia cognitivo-comportamental, potencializando o tratamento para cada tipo de transtorno de ansiedade. O manual ainda ofere- ce diálogos e fraseologias como sugestões para serem utilizadas durante o processo de cura dos pacientes. Um material de apoio importante, já que a demanda por tratamentos de ansiedade nos consultórios psicológicos é grande. Hipnoterapia Cognitiva: Tratamento Clínico dos Transtornos de Ansiedade e de seus Sintomas Autor: Benomy Silberfarb Editora: Sinopsys Páginas: 96 Aprendizagem ativa (Psicopedagogia institucional) Os processos de aprendizagem são singulares porque cada pessoa tem vivências particulares e um modo peculiar de lidar com o mundo. Compreender que cada um tem seu jeito próprio de aprender favorece a construção do conhecimento e da autonomia. O livro Psicopedagogia Institucional – Guia Teórico e Prático tem como proposta sugerir o sujeito como construtor de si mesmo, utilizando suas potencialidades para o desenvolvimento cognitivo-afetivo. Recursos como diagnóstico, avaliação, tratamento, intervenção e prevenção facilitam esse olhar integrado que faz parte da Psicopedagogia Institucional. A obra levanta questões como aspectos psiconeurológicos, o cérebro humano e a cognição, o desenvolvimento da linguagem em Lacan, Saussure, Chomsky e Lenneberg, como estimular a memória e aprendizagem, o papel da afetivida- de no processo do aprender, a função do psicopedagogo, entre outros assuntos da Psicopedagogia. Psicopedagogia Institucional – Guia Teórico e Prático Autoras: Beatriz Acampora e Bianca Acampora Editora: Wak Páginas: 200 livros www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 35 A b u s o p s ic o ló g ic o d o s s i ê A b u s o p s ic o ló g ic o IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K O FANTASMA DOS RELACIONAMENTOS OPRESSORES Boa parte das pessoas não consegue se libertar das relações abusivas e violentas, que ocorrem com muita frequência e atingem mulheres, inclusive, durante o período de gravidez d o s s i ê 36 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Relacionamentos violen-tos ocorrem com mui-ta frequência, como atestam os noticiários. As histórias, quando divulgadas, em geral descrevem níveis muito severos de abuso, que culminam em suicídio ou homicídio. Mas há muitas experiências de v iolên- cia banalizadas e invisibi l izadas, especialmente a v iolência psico- lógica. Comportamentos como controlar, depreciar, diminuir a autoestima, gritar, x ingar, impe- dir de ver amigos e culpabil izar o outro são sinais comuns de v io- lência emocional ou psicológica, a mais frequente entre namoros mundo afora, incluindo o Brasi l (Oliveira; Assis; Njaine; Pires, 2014). Muitas vezes, o controle do parceiro, as crises de ciúmes e as proibições para mantê-lo jun- to a si todo o tempo são confun- didos, equivocadamente, como sinais de amor. Um estudo com jovens de Recife mostrou que muitos deles interpretam essas condutas do parceiro como de- monstrações de bem-querer e cuidado (Nascimento; Cordeiro, 2011). Isso perpetua a v iolência e retarda o término do namoro ou a busca de outras soluções. Além da violência psicológi- ca, como previsto na Lei Maria da Penha (Brasil, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006), há ainda outras formas de violência, como a física, a mais visível de todas, como empurrões e tapas; a sexual, como usar de ameaças à autoes- tima do outro para pressioná-lo a fazer sexo e fazer sexo sem o seu consentimento; a moral, como difamar o parceiro por meio da divulgação de fotos íntimas; e a patrimonial, como quebrar o ce- lular do parceiro e destruir seu carro. Estudos de vários países, incluindo o Brasil, mostram que adolescentes de ambos os sexos, em relações heterossexuais e ho- mossexuais, de diferentes classes sociais, podem ser vítimas e per- petradores de violência no namo- ro. Não se trata, portanto, de um problema restrito a poucos, mas de alcance abrangente. Infelizmente, muitas das for- mas de violência são glorif icadas em nossas produções culturais, como músicas (da bossa nova, passando pelo samba, até o serta- nejo), livros e f ilmes. Assim, cons- trói-se uma cultura de aceitação da violência, como se toda relação de amor envolvesse, em alguma medida, violência e fosse normal viver “entre tapas e beijos” (o que não é o caso). Nesse cenário, não é surpreendente que as relações amorosas sejam construídas com base no pressuposto de que o ou- tro é um objeto a ser possuído, à medida em que são abundantes modelos de relacionamentos ínti- mos violentos dentre as relações próximas, como amigos e familia- res, até inf luências mais distantes, como personagens midiáticos. Soa intrigante por que ado- lescentes e jovens sujeitam-se a Algumas mulheres encontram grande dificuldade para se libertar de relacionamentos violentos, confundindo, frequentemente, controle, crises de ciúme e proibições com sinais de amor De volta para CASA Sheila Giardini Murta é professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e coordenadora do Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo da Vida (www.geppsvida.com.br) Priscila Parada é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília Estela Guida Teixeira, Carla Konrad, Lucas Emmanuel Alves de Lara e Nagy Pereira Sardinha são graduados em Psicologia pela Universidade de Brasília Por Sheila Giardini Murta, Estela Guida Teixeira, Carla Konrad, Lucas Emmanuel Alves de Lara, Nagy Pereira Sardinha e Priscila Parada IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K A b u s o p s ic o ló g ic o d o s s i ê 38 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br indica que a violência no namoro, entre casais adolescentes, pode se perpetuar até a vida adulta (Greenman & Matsuda, 2016), com novas ondas de risco à saúde mental do casal e dos f ilhos. Em curto prazo, diversos efeitos da- nosos da violência no namoro têm sido documentados, incluindo depressão, transtorno de estresse pós-traumático, abuso de álcool, desejo de pôr f im à própria vida e, em casos extremos, suicídio e ho- micídio. Condutas autolesivas são especialmente frequentes em ten- tativa de término (Baker; Helm; Bifulco; Chung-Do, 2015), o que mostra que romper esse vínculo de afeto, mesmo violento, é uma tarefa árdua. O término Alguns estudos, principalmen-te norte-americanos, têm examinado o processo de término de relacionamentos violentos (por exemplo, Edwards; Gidycz; Mur- phy, 2015). As pesquisas na área ainda são poucas, mas já apontam alguns direcionamentos sobre as- pectos que facilitam ou dif icultam dar f im a esse tipo de relação. Um primeiro aspecto que a literatura científ ica aponta diz respeito aos recursos e barreiras estruturais para o f im da relação. Esse concei- to se refere a aspectos de ordem prática, necessários à sobrevivên- cia, como ter ou não renda própria, depender do parceiro f inancei- ramente, ter ou não ter casa. As- pectos como esses limitam muito a possibilidade de escolha de uma pessoa que está em situação de violência e dif icultam que a pes- soa tenha autonomia para sair do relacionamento. Para uma pessoa que enfrentabarreiras como essa (por exemplo, alguém que não tem renda própria ou depende da outra pessoa para sobreviver), um Infelizmente, muitas das formas de violência são glorificadas em nossas produções culturais, como músicas (da bossa nova, passando pelo samba, até o sertanejo), livros e filmes. Assim, constrói-se uma cultura de aceitação da violência relacionamentos v iolentos, dei- xando-se aprisionar em relações tóx icas, mesmo quando ainda não têm f i lhos, não estão casa- dos e não dependem f inanceira- mente do outro. Uma resposta sucinta a essa questão é porque v ínculos afetivos são poderosos e aprendemos a amar assim com o mundo ao nosso redor (“ho- mens são desse jeito”, “mulheres são assim mesmo”, “o amor tudo suporta”, “não consigo v iver sem ele”). Hoje já se sabe que a v iolên- cia no namoro é aprendida com as inf luências sociais, dos pares e familiares às quais os jovens são expostos desde o início da v ida. Pertencer a culturas sex istas e comunidades tolerantes para com a v iolência, ter amigos que são v iolentos com seus parceiros e pais que se tratam com violência como casal e receber tratamento v iolento dos pais são algumas das principais razões que favorecem a v itimização pelo parceiro íntimo. Essas experiências podem cons- truir atitudes de aceitação da v io- lência, dif iculdades em lidar com conf l itos no namoro e inseguran- ça em relacionamentos íntimos (“eu não sou boa o suf iciente, ele é tudo o que eu tenho”). Ao f im, tem-se um amor per- nicioso (ainda que, em alguma medida, gratif icante), que aprisio- na e ameaça o bem-estar e a inte- gridade dos envolvidos, ao longo de gerações. Um estudo recente Casos de namoros abusivos acontecem com frequência e quando são divulgados, geralmente, estão em um estágio severo, que acabam em suicídio ou homicídio www.portalcienciaevida.com.br A b u s o p s ic o ló g ic o�Literatura recomendada O livro Libertando-se de Namoros Violentos: um Guia sobre o Aban- dono de Relações Amorosas Abu- sivas (Sinopsys Editora), de Sheila Giardini Murta, Carlos Eduardo Paes Landim Ramos, Thauana Nayara Go- mes Tavares, Eudes Diógenes Alves Cangussú e Marina Silva Ferreira da Costa, aborda o tema de forma rea- lista. Os relacionamentos amorosos ocupam parcela significativa do co- tidiano. Quando a violência se insta- la nessa área entre os adolescentes, seus efeitos sobre o desenvolvi- mento e o bem-estar dos mesmos são devastadores. Pertencer a culturas sexistas e comunidades tolerantes para com a violência, ter amigos que são violentos com seus parceiros e pais que se tratam com violência como casal são algumas das razões que favorecem a vitimização pelo parceiro íntimo primeiro passo para que seja pos- sível dar f im ao relacionamento diz respeito a procurar formas de autonomia, como conseguir uma fonte de renda, ou buscar apoio f i- nanceiro (ainda que de forma pro- visória) em outras pessoas, como familiares e amigos. Outro ponto que vem se mos- trando muito consistente na lite- ratura científ ica sobre término de relacionamentos violentos diz respeito ao conceito de normas subjetivas. Esse conceito exprime aquilo que uma pessoa considera que as pessoas mais signif icativas para ela, como familiares e ami- gos, pensam sobre um tema, nesse caso, a continuidade ou término do relacionamento. Isso sinaliza que para que uma pessoa consiga sair de um relacionamento violen- to é importante que pessoas ao seu redor a apoiem nisso e expressem para ela esse pensamento e seus e, mesmo que para alguém que ob- serva de fora pareça incompreen- sível, um relacionamento violento pode ter muitos pontos de satisfa- ção e é exatamente por isso que o sentimento f ica tão confuso. A qualidade das alternativas é definida pela maneira como a pes- soa analisa as opções que ela tem disponíveis, como, por exemplo, fi- car sozinha ou buscar outros rela- cionamentos. Essa é uma avaliação subjetiva e muitas coisas a inf luen- ciam. Ainda há poucos estudos sobre isso, mas aspectos como ter baixa autoestima e não se ver ca- paz de ter outros relacionamentos melhores, sentir muita ansiedade e necessidade de ter a outra pessoa por perto, a ponto de não conse- guir tolerar os sentimentos difíceis sentimentos quanto a vê-la naque- la relação. No entanto, é impor- tante ter cuidado ao comunicar isso para que, ao invés de ajudar, o amigo ou familiar não acabem atrapalhando e se tornando mais uma fonte de sofrimento. Um terceiro aspecto que os es- tudos têm investigado diz respeito ao nível de investimento na rela- ção. Esse conceito envolve a com- preensão sobre pelo menos três aspectos: a satisfação com o rela- cionamento, a qualidade das alter- nativas e os investimentos irrecu- peráveis. Sobre a satisfação com o relacionamento, é importante lembrar que as relações violentas não têm só o lado negativo. Muitos elementos nesses relacionamentos podem ser gratif icantes também, A violência psicológica é uma das piores, como depreciar, diminuir a autoestima, gritar, xingar, impedir de ver amigos e culpar o outro, que são sinais comuns dessa práticaIMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K E DI VU LG AÇ ÃO d o s s i ê 40 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Um estudo recente indica de forma veemente que a violência durante o período de namoro, entre casais adolescentes, pode se perpetuar até a vida adulta, com novas ondas de risco à saúde mental do casal e dos filhos se refere, por exemplo, a conse- guir perceber o relacionamento não como algo que vai pelo ralo quando acaba, mas como experi- ências que, mesmo sofridas, trou- xeram aprendizados importantes e fazem parte de uma trajetória de vida que se aproxime daquilo que cada pessoa deseja e busca para si. No Brasil, o Grupo de Estu- dos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo da Vida da Uni- versidade de Brasília tem buscado compreender o que impulsiona a mudança, da violência à autopro- teção frente a namoros com maus- -tratos (Murta; Ramos; Tavares; Cangussú; Costa, 2014a). As expe- riências de pessoas que consegui- ram sair de um namoro violento indicam que existe um caminho a ser percorrido, desde a percepção da violência como um problema que a distância traz, ter outros campos da vida – como estudos, trabalhos ou projetos pessoais – pouco desenvolvidos, de forma que se ver sem a outra pessoa se torne muito difícil, estar isolado ou dis- tanciado de relacionamentos com outras pessoas, como familiares e amigos, tornando aquele namoro a única relação próxima que a pessoa tenha. Em contextos como esses que foram descritos, aproximar- -se de outras pessoas e fortalecer amizades positivas podem ser de grande ajuda. Além disso, procurar orientação terapêutica pode ser um apoio importante. Por f im, os investimentos ir- recuperáveis se referem a como a pessoa avalia que o f im da relação trará perdas que ela não pode re- cuperar. Exemplos de investimen- tos irrecuperáveis são o próprio tempo de relacionamento (que não pode voltar) ou o esforço em- preendido em fazer aquela relação dar certo. Sobre esse último ponto, em muitos relacionamentos vio- lentos as pessoas fazem grandes esforços para promover mudanças e, de fato, às vezes alguns pontos melhoram, mas não o suficiente para trazer tranquilidade e feli- cidade. Essa dinâmica pode dar a PARA SABER MAIS U m estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz, com 3.205 ado- lescentes em dez capitais brasileiras, de todas as regiões do país, encontrou que 86,9% dos jovens foram vítimas e 86,8% já praticaram algum tipo de agressão contrao parceiro íntimo (Oliveira; Assis; Njaime; Oliveira, 2011). As autoras verificaram ainda que 76,6% dos participantes são tanto vítimas como perpetradores das diversas formas de violên- cia. Os dados revelaram, por ordem crescente, violência relacional, como prejudicar as relações afetivas e sociais do parceiro por meio de calúnias (16%, violência sofrida; 8,9%, violência perpetrada); violência física, como espancar (19,6%, violência sofrida; 24,1%, violência perpetrada); ameaça, como prometer abandonar o parceiro como forma de coação (24,2%, violência sofrida; 29,2%, violência perpetrada); violência sexual, como forçar contato íntimo (43,8%, violência sofrida; 38,9%, violência perpe- trada) e, com índices muito elevados, violência verbal/emocional, como humilhar (85%, violência sofrida; 85,3%, violência perpetrada). AGRESSÃO CONTRA PARCEIRO sensação de que o casal está “qua- se lá” e que terminar seria como jogar tudo por água abaixo. Des- sa forma, uma avaliação sobre os investimentos irrecuperáveis que favorece o f im do relacionamento Existem diversas formas de violência entre casais, entre elas a patrimonial, que faz com que um dos parceiros cometa atos como destruir o celular ou o carro do outro www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 41 A b u s o p s ic o ló g ic o Alguns estudos têm examinado o processo de término de relacionamentos violentos. As pesquisas na área ainda são poucas, mas já apontam alguns direcionamentos sobre aspectos que facilitam ou dificultam dar fim a esse tipo de relação que merece ser resolvido até dis- tanciar-se do parceiro. A mudança pode ser lenta e dolorosa. Trata-se de um processo de mudança que não tem tempo determinado, po- dendo variar entre semanas e anos. Começa-se tomando consciência do problema e reconhecendo a re- lação como violenta. Em seguida, toma-se a decisão de fazer alguma coisa para se proteger e os primei- ros passos são dados, nem sempre para sair da relação, mas para tes- tar soluções, cuidar de si e se for- talecer. Tomada a decisão, em se- guida vem o término concreto da relação violenta, quando diversos cuidados precisam ser tomados para lidar com a dor, o medo, a sau- dade e a tensão, quando o parceiro é ameaçador. Por fim, na etapa fi- nal, deve-se cuidar para não haver recaídas, com retorno à relação antiga ou a outros relacionamen- tos com o mesmo padrão violen- to. Esse processo é bem descrito por uma teoria chamada modelo transteórico de mudança, também aplicada para mudança em ou- tros alvos, como deixar de fumar. Etapas O modelo transteórico de mu-dança, indicado para deixar relacionamentos violentos, apre- senta etapas que devem ser segui- das para se manter protegido de relacionamentos abusivos. Para isso, existem exercícios que estão disponíveis no livro Libertando-se de Namoros Violentos: um Guia so- bre o Abandono de Relações Amo- rosas Abusivas, Editora Sinopsys (Murta; Ramos; Tavares; Can- gussú; Costa, 2014b). Na fase inicial, a pessoa terá a impressão de que “a f icha caiu”. Perceberá a tensão que existe na relação e poderá sentir angústia, confusão, culpa e acreditar que não conseguirá resolver a situa- ção. Perceberá a importância de tomar uma atitude, ainda que não saiba muito bem o que fazer. Seu desejo de resolver a situação se mistura ao desejo de permanecer no relacionamento. Essa confusão f ica ainda mais forte quando de- seja sair do relacionamento e ao mesmo tempo investir na relação. As pessoas que tomaram cons- ciência da violência o f izeram a partir da vivência de algum epi- sódio severo e muito doloroso. A partir daí, começaram a se inquie- tar e interpretar a situação como grave. Começaram a observar me- lhor suas emoções diante do par- ceiro e na sua ausência. O apoio de amigos e investir em autocui- dados, como atividade física e te- rapia, são de muita ajuda. Preparação No estágio seguinte, de prepa-ração, a pessoa começa a se dar conta de que os maus-tratos são graves, mas ainda se sente presa à relação violenta. Às vezes, poderá experimentar, sem sucesso, algu- mas estratégias para tentar resolver a situação, como, por exemplo, ame- açar terminar, evitar contato com o parceiro, aceitar suas imposições, revidá-las ou forçar uma gravidez para melhorar o relacionamento. Muitos desses testes de soluções se mostram improdutivos, como a submissão à violência e a retalia- ção, e outros podem ter alto custo, como engravidar para revigorar a relação. O ideal é buscar caminhos É, no mínimo, intrigante o fato de adolescentes e jovens aceitarem relacionamentos violentos, ���G� �¢���G�������G��������Gh�������P����9�������G�� G��Ô����� ������ IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K d o s s i ê 42 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.brNAS BANCAS! Para uma pessoa que enfrenta barreiras para se separar, um primeiro passo para que seja possível dar fim ao relacionamento diz respeito a procurar formas de autonomia, como conseguir uma fonte de renda ou buscar apoio financeiro em outras pessoas para se fortalecer e afastar-se gra- dualmente da relação. Assim como no estágio ante- rior, de tomada de consciência, continua sendo indispensável “se olhar no espelho”, mas é impor- tante aprender novas estratégias e cuidados para “manter os olhos abertos”, como por exemplo: Escreva todas as palavras humi- lhantes e depreciativas que você já ouviu de seu/sua parceiro/a; ouça o que os amigos e familiares dizem so- bre a relação; converse com os ami- seus relacionamentos passados. Que dificuldades se repetem?; invista em cuidados com a saúde mental (como fazer terapia) e saúde física. Esses cuidados ajudam a ver claramente que a relação violenta é um problema que precisa ser re- solvido. Além disso, eles também vão permitir que a pessoa se co- nheça melhor e busque forças para se proteger, ou seja, vão fortalecer para que consiga seguir em frente sem adoecer. gos. Eles podem ajudá-lo a enxer- gar a realidade, a acreditar em você mesmo e a juntar forças para seguir em frente; fortaleça sua autoestima. Lembre-se das coisas boas que já ou- viu sobre você. Se olhe no espelho e responda: quais são as minhas qua- lidades?; preste atenção em experi- ências do passado que podem estar afetando a relação atual. Há algum aspecto do seu jeito de se relacionar que é parecido com o jeito de seus pais e que você não gosta?; relembre Inúmeros efeitos danosos da violência têm sido documentados, incluindo depressão, transtorno de estresse pós-traumático, abuso de álcool, desejo de morte www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 43 A b u s o p s ic o ló g ic o www.escala.com.br Sobre a satisfação com o relacionamento, é importante lembrar que as relações violentas não têm só o lado negativo. Muitos elementos podem ser gratificantes. Um relacionamento violento pode ter muitos pontos de satisfação No estágio da ação, a pessoa começará a fazer pequenas (mas importantes) mudanças na vida. Essa mudança pode ser no com- portamento (por exemplo, pedir para conversar e dizer que quer terminar o namoro), no jeito de se relacionar (por exemplo, não acei- tar mais que seu companheiro ou companheira faça piadas de mau gosto sobre você na frente dos outros) ou até mesmo no jeito de pensar (por exemplo, se convencer de que ciúme não é uma prova de amor). Pode sentir medo, insegu- rança ou outras coisas ruins nes- sa mudança e querer voltar atrás, isso é normal. Mas é importante manter a determinação e, para isso, existem vários exercícios que podem ajudar:Bole um plano para situações que tenha medo que aconteçam. Por exemplo, trabalhe o autocui- dado: é importante zelar por si, procurar o próprio bem-estar; es- timule o empoderamento: tome as próprias decisões, cuide de si mes- mo, saiba quais são os direitos e lute por eles; treine assertividade: expresse sempre os sentimentos e pensamentos de maneira clara, direta e objetiva, sem ofender ou magoar as outras pessoas; acesse o suporte social: pessoas com quem pode contar, como amigos, famí- lia, professores, médicos, agentes comunitários etc.; tente regular as Frequentemente, para que uma pessoa consiga sair de um relacionamento violento é importante que pessoas ao seu redor a apoiem e expressem esse pensamentoIMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K d o s s i ê 44 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br A qualidade das alternativas é definida pela maneira como a pessoa analisa as opções que ela tem disponíveis, como, por exemplo, ficar sozinha ou buscar outros relacionamentos. Essa é uma avaliação subjetiva e muitas coisas a influenciam emoções: identifique e lide com os sentimentos e comportamentos de forma mais eficiente. Quando se sentir muito triste, por exemplo, observe bem o que fez se sentir mal e pense quais são as melhores formas de lidar com essa tristeza. Assim, vai ter certeza de que to- mou as medidas necessárias para se libertar de um namoro violento. Recaídas Apesar de já ter conseguido ter-minar a relação violenta, reca- ídas podem acontecer por diversos motivos. Para evitar uma reapro- ximação com a pessoa ou investi- mentos em novos relacionamen- tos do mesmo tipo, é importante estar atento. Essa é uma fase de manutenção, onde devem ser usa- pessoas que realmente gostam de você e que podem ajudar. Após esse momento turbulento a vida segue, construindo novas oportu- nidades para se ser feliz. Intervenção precoce Em que pese a crença cultu-ralmente compartilhada de que a violência é parte natural das relações, nem todos os namoros são violentos. Adolescentes e jo- vens podem aprender a lidar com conf litos de modo não violento e expressar discordâncias e emo- ções desagradáveis, como raiva e ciúme, de modo assertivo. Parte crucial da qualidade das relações amorosas é a capacidade dos par- ceiros de perceber as necessidades do outro e reagir a elas sensivel- mente, apoiando e respeitando a individualidade do parceiro e, ainda, manifestando as próprias necessidades e preferências sem hostilizar ou culpabilizar o outro. Os serviços de atendimento O processo de separação é confuso, pois a pessoa pode perceber a importância de tomar uma atitude, mas essa vontade se mistura ao desejo de permanecer na relação �Lei Maria da Penha Considerada pela ONU uma das três mais avançadas do mundo nessa questão, a Lei Maria da Penha foi criada para combater a violência doméstica e familiar, assegurando punição rigorosa aos agressores. Cria mecanismos para prevenir a violência e proteger a mulher agre- dida. A legislação configura violên- cia doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação baseada no gênero, que possa causar morte, le- são, sofrimento sexual, psicológico, moral ou patrimonial. das estratégias para ficar longe de situações que podem ser problemá- ticas. Essas estratégias envolvem: manter distância de situações de “tentação” ou risco para a recaí- da, planejando como evitá-las ou como pode sair ou resistir a elas; investir em novos interesses e ob- jetivos de vida; ter em mente que a pessoa é responsável pelo próprio bem-estar, não colocando a felici- dade dependente do outro. É preciso pensar em como foi difícil, mas ao mesmo tempo grati- f icante chegar onde se está, fazen- do o possível para se manter forte. É importante evitar lugares onde possa encontrá-lo(a), afastar-se de coisas que faça recordar dele(a), investir em si, na aparência, nos valores, nas coisas que gosta, nas www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 45 A b u s o p s ic o ló g ic o REFERÊNCIAS BAKER, C. K.; HELM, S. H.; BIFULCO, K.; CHUNG-DO. The relationship between self-harm and teen dating violence among youth in Hawaii. Qualitative Health Research, v. 25, n. 5, p. 652-667, 2015. EDWARDS, K. M.; GIDYCZ, C. A.; MURPHY, M. J. 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Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Os investimentos irrecuperáveis se referem a como a pessoa avalia que o fim da relação trará perdas que ela não pode recuperar. Esses investimentos são o tempo de relacionamento ou o esforço empreendido em fazer aquela relação dar certo às vítimas e perpetradores de vio- lência no namoro devem compor um continuum de serviços focados no enfrentamento e prevenção à violência pelo parceiro íntimo e na promoção da qualidade das re- lações amorosas. Nesses últimos aspectos, ainda é pequena a pes- quisa nacional sobre programas de prevenção à violência no namoro. Os programas até agora existentes têm se centrado em dois braços: o primeiro, dirigido a adolescentes de ensino médio, no contexto esco- lar, por meio de oficinas participa- tivas com múltiplos encontros que discutem temas como o reconhe- cimento da violência no namoro; papéis de gênero e direitos sexuais e reprodutivos; e habilidades de co- municação, tomada de decisão, ma- nejo de emoções e solução de pro- blemas (Murta et al., 2013; 2016). O segundo, voltado também para adolescentes, via intervenções bre- ves em diferentes contextos, com a finalidade de desenvolver habili- dades de empatia, melhorar a qua- lidade da amizade e apoiar amigos que vivem namoros violentos a se protegerem da violência (Santos, 2016).Porém, muito ainda precisa ser feito para fomentar a pesquisa nacional nessa temática, alargar a formação profissional para reco- nhecer e tratar o fenômeno e disse- minar iniciativas preventivas e pro- motoras de qualidade das relações amorosas entre jovens. Há situações em que a mulher elabora estratégias para tentar resolver o problema, como, por exemplo, forçar uma gravidez para melhorar o relacionamento IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K d o s s i ê 46 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br A ideia de casal perfeito, família perfeita é algo muito comum na cultura ocidental. Dessa forma, assim que se decida pela relação con- jugal, casamento, morar juntos, ou qualquer outra expressão que se use para designar convivência em casal, o pressuposto é que “devem ter filhos”. Toda pressão social sobre casais, in- dependentemente da orientação se- xual, é a de que uma união gera fru- tos. Para alguns casais iniciam-se as transformações em seu status social. Alguns casais desejam ter filhos e acreditam que, mesmo não viven- do bem a conjugalidade, investem nos filhos como sendo a possibili- dade de resolução de conflitos, e a energia que necessitam para enfren- tar problemas no casamento, que são dificuldades anteriores à escolha de ter ou não ter filhos. Problemas to- dos têm, a vida toda. É preciso saber administrá-los. Problemas anteriores Todo casal tem suas dificulda-des, geralmente administráveis. Contudo, nem todo casal tem ener- gia, disposição e vontade de olhar para elas e administrá-las. Então, se não houver por parte do casal dedi- cação para solucionar ou reconhecer quais são as diferenças individuais, é possível que surjam problemas que ciclicamente virão à tona em novas situações de estresse. Reconhecer as formas inadequa- das de relacionar conjugalmente, pelo casal, sempre é o caminho de solucionar os problemas. Sabe-se da ideia romântica de casamento e os pensamentos mágicos de que os pro- blemas se solucionarão com a con- vivência e intimidade, mas, na rea- lidade, é aí que mora o perigo e um enorme engano. A imensa maioria das pessoas não está preparada para reconhecer os próprios problemas, diferenças e dificuldades no relacio- namento afetivo\conjugal. A gravidez, ou a questão da pa- ternidade e maternidade, não é algo que a maioria do casal converse de maneira clara. Existem casais em que o sonho de ambos é ter filhos e construir família. Nesses casos, não Gravidez é uma situação que, se não for bem trabalhada entre o casal, pode trazer problemas sérios de relacionamento, principalmente se a decisão for tomada com o objetivo de resolução de conflitos já existentes há conflito. No entanto, há outros casais em que um deseja ter filhos e o outro não tem planos ou desejo de tê-los. Na grande maioria das vezes, nada disso é discutido efetivamente para saber se devem continuar jun- tos com todas as diferenças. Outros pontos importantes são quantos ter e quando, em que momento da vida. Gravidez planejada O panorama geral do buscar a gravidez já pode ser um as- pecto problemático para o casal. Se QUESTÕES mal resolvidas Por Oswaldo M. Rodrigues Jr. e Carla Zeglio Oswaldo M. Rodrigues Jr. é psicólogo, psicoterapeuta de casais e em sexualidade no Instituto Paulista de Sexualidade, assessor de publicações da Alamoc – Associação Latino-Americana de Análise e Modificação do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental. Carla Zeglio é psicóloga, psicoterapeuta de casais e em sexualidade no Instituto Paulista de Sexualidade, representante no Brasil da Alamoc – Associação Latino-Americana de Análise e Modificação do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental. Consequências Seja física, psicológica, sexual ou emo- cional, a violência contra a mulher se torna mais séria ainda durante o período da gravidez, pois traz consequências significativas para a saúde da mãe e do filho, como baixo peso ao nascer, abortos, partos prematuros e mortes materna e fetal. Os estudos que com- provam as afirmações são da Organiza- ção Mundial da Saúde (OMS) no Informe Mundial sobre a Violência e a Saúde. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 47 A b u s o p s ic o ló g ic o A ideia de casal e família perfeitos é muito comum na cultura ocidental e sempre com a exigência social de que obrigatoriamente os �G�I������ ��G���������� o ter filho não for um plano comum aos dois, a busca da gravidez já traz o primeiro desconforto: objetivos dis- tintos no casal. Ao se casar em ceri- mônias religiosas, geralmente ele já é alertado, relembrado e consignado a procriar como função religiosa dessa união. Esse momento apenas reforça o projeto que o mundo ao redor im- põe a todos desde criança, e sempre relembrando aos pequenos de que crescerão, casar-se-ão e terão filhos. Para muitas pessoas apenas esse me- canismo já será suficiente para o de- sejo de gravidez na vida adulta. Além das tão faladas questões hormonais vivenciadas pela mulher, provocando mudanças importantes de humor, descontroles de impulso e mal-estares físicos em vários mo- mentos da gravidez, há aspectos psi- cológicos, emocionais, relacionais para considerar. São eles: Intimidade física do casal – mui- tas mulheres mostram-se exagerada- mente preocupadas com a forma do corpo e a possibilidade (percebida como certeza) de que serão rejeita- das. Olham-se ao espelho e perce- bem-se gordas, inviáveis de serem desejadas pelo marido. Ela se rejeita, tem certeza de que o marido a rejei- tará durante toda a gravidez, e será cada vez pior, quanto mais passe o tempo até o parto. Mas serão essas mulheres que evitarão o contato físi- co do marido. E a consequência para ele é também afastar-se, o que “con- firmará” para a mulher que o marido não a deseja. Uma grande confusão com falta de comunicação nesses casais. Fora aquela justificativa fal- sa, mas utilizada por muitos casais: o sexo fará mal ao bebê. E isso é ex- presso por pessoas de cultura e edu- cação formal altas. Sexo – com as justificativas mais variadas, cada um no casal poderá deixar de buscar sexo. Ansiedades e receios irracionais afastam-nos da busca de atividades sexuais, assim como emoções negativas advindas de outras dificuldades do casal du- rante a gravidez. Nos primeiros me- ses há justificativas de que a náusea impede o sexo, depois é a barriga crescendo, depois é a barriga gran- de; é não receber atenção numa A ideia romântica de casamento e os pensamentos mágicos de que os problemas se solucionarão com a convivência e a intimidade não funcionam, pois a imensa maioria das pessoas não está preparada para reconhecer as próprias dificuldades e limitações IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K d o s s i ê 48 psique ciência&vida Quando uma pessoa integrou a ideia de ter filho assim que se casar, o projeto do mundo social fará efeito direto e na qualidade de necessidade. Nem sempre o casal formou-se com a compreensão mútua de suas necessidades, incluindo a de formar uma família CASAIS VIOLENTOS SEGUEM O PADRÃO DURANTE A GRAVIDEZ PARA SABER MAIS A satisfação conjugal anterior à gravidez tem continuidade durante a ges- tação e após o parto. Problemas com ambos se sentirem satisfeitos com o relacionamento prejudicam o relacionamento com a gravidez e após o par- to (Lawrence et. cols., 2008). Casais nos quais existe violência no relaciona- mento tendem a registrar seguidamente a violência durante a gravidez e além (Mahenge et. cols., 2016). A violência doméstica piora as condições, pois se associa à depressãopós-parto (Ludemir et cols., 2010). A qualidade do relacio- namento de casal, as condições de trabalho, uso de álcool e doenças somáticas associam-se com estresse na gravidez e maternagem (Meyer et cols., 1994). As dificuldades sexuais também tendem a piorar com a gravidez. E uma sexualida- de saudável depende da qualidade da saúde física e mental. Se os outros fatores negativos preexistem, a saúde sexual estará comprometida durante a gravidez. O comprometimento sexual anterior pode ser de todas as ordens, seja no ho- mem (dificuldades com relação a desejo, excitação ou orgasmo) ou na mulher (dificuldades com relação a desejo, excitação ou orgasmo). Importante lembrar que amiúde existem interações das dificuldades sexuais, fazendo com que falte apoio para a melhoria da vida sexual ao longo do relacionamento do casal, pio- rando na gravidez pelos novos fatores estressantes. Muitos desenvolverão um ciúme e se mostrarão muito ressentidos com es- ses meses de alienação conjugal. Ca- sais que não se planejaram para que a vida conjugal ocorresse de modo confortável tendem a reforçar mais as situações negativas. Falta de comunicação e compre- ensões mútuas – homens e mulhe- res percebem a gravidez de modo diferente e cada qual deseja ser o centro de atenções, e ser como eram antes de se iniciar essa busca de pro- criarem. Ser diferente não é ruim, o problema é não saber como lidar com essas diferenças, atacando-se e defendendo-se como estando em diferentes direções e não num casa- mento. As habilidades de comunica- ção e a ansiedade durante a gravidez estão muito associadas por ser a sa- tisfação marital conectada com am- bos fatores (Malary et. cols., 2015). Claro que existem discussões se a sa- tisfação conjugal é produzida ou pro- duz melhor comunicação do casal (Lavner; Karney; Bradbury, 2016). Questões financeiras – embora sempre se escute que “onde comem dois, comem três”, isso não funciona assim. Ter uma criança exige plane- jamento financeiro por cerca de duas décadas, ao menos. Muitas vezes a discussão sairá do racional necessá- rio para o desejo emocional de terem filhos. Os casais percebem que pre- cisarão de um quarto para a criança, fraldas, comida, médico. Imediata- mente ao conhecimento da gravidez deverá acontecer uma série de provi- dências para o nascimento. Novos aparatos sociais O momento histórico atual con-duz à busca de saúde e não à evitação de problemas. Novas for- mas de instituições sociais de saúde virão para compreender a gravidez e considerar o casal como importan- te, não só para a gravidez e o futuro bebê. O casal preexiste e continuará gravidez, todos à volta dão atenção à mulher. Esse é o momento em que o homem se sente rejeitado, coloca- do de lado, sem função por meses, ao menos os últimos seis, quando a gravidez foi socialmente anunciada. condição tão importante, é não ter ajuda quando outros desejos alimen- tares aparecem, desconsiderações. Depressão pré-natal – as mudan- ças de humor ao longo dos meses de gravidez, uma vez mais drásticas po- dem conduzir a quadros depressivos. Afinal, o crescer da percepção de falta de controle sobre o corpo que se alie a pensamentos negativos pode ser im- portante e decisivo nessa fase. Esses quadros diminuem a comunicação entre os cônjuges, com o marido não compreendendo o que se passa, até vendo que deveria ser o contrário, pois, afinal, terão a criança desejada. A insatisfação no casal é o principal preditor de sintomas psicológicos para a depressão pré-parto (Rosand et cols., 2011). Um bom relaciona- mento de casal protege contra certos estressores. Depressão perinatal é pouco reconhecida por profissionais de saúde por estes estarem focados na saúde física da mulher e do feto. A rejeição ao marido – com a www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 49 A buso psicológico Além das tão faladas questões hormonais vivenciadas pela mulher, provocando mudanças importantes de humor, descontroles de impulso e mal-estares físicos em vários momentos da gravidez, há aspectos psicológicos, emocionais, relacionais para considerar Pré-natal A assistência pré-natal é o momento fundamental para identificar as mu- lheres que sofrem violência. Frequen- temente, é a única oportunidade de interromper esse ciclo. O atendimento adequado para grávidas que sofrem violência física, psicológica ou sexual representa apenas uma de muitas me- didas que precisam ser tomadas para se encarar o fenômeno da violência durante a gravidez. a existir após o nascimento (!?). As instituições de saúde têm tido apari- ções nesse sentido há décadas, mas somente existe atuação positiva es- porádica e quando os problemas se tornaram maiores e mais aparentes. Ainda vivemos para cuidar da gravidez. Ainda não agimos sobre o casal para que essa unidade seja be- neficiada, e, assim sendo, beneficie a gravidez e o bebê a nascer. Ainda não atuamos sobre o bem-estar con- jugal e a vida e saúde sexuais para REFERÊNCIAS HENRIKSEN, R. E.; TORSHEIM, T.; THUEN, F. Relationship satisfaction reduces the risk of maternal infectious diseases in pregnancy: the norwegian mother and child cohort study. 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Journal of Affective Disorders, n. 178, p. 165-180, 1 jun. 2015. doi: 10.1016/j.jad.2015.02.023. RØSAND, G-M. B.; SLINNING, K.; EBERHARD-GRAN, M.; RØYSAMB, E.; TAMBS, K. Partner relationship satisfaction and maternal emotional distress in early pregnancy. BMC Public Health, n. 11, p. 161, 2011. doi: 10.1186/1471-2458-11-161. maior satisfação do casal, enquanto casal. No entanto, devemos buscar transformações para que se possa fa- zer diferente. Ao se casar em cerimônias religiosas, o casal já é alertado que deve procriar, o que reforça o projeto que o mundo ao redor impõe a todos desde criança IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K 50 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ciberpsicologiaPor Igor Lins Lemos IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E 12 3R F OS ASPECTOS LEGAIS E PSICOLÓGICOS DOS ATAQUES VIRTUAIS SÃO TEMAS CONSTANTEMENTE DEBATIDOS NA ÁREA DO DIREITO, DA PSICOLOGIA E NAS CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO CRIMES cibernéticos PESQUISA SOBRE OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DOS ATAQUES CIBERNÉTICOS REVELA SINTOMAS GERADOS EM SEUS ALVOS, DENTRE ELES RAIVA, MEDO, ANSIEDADE, DESCONFIANÇA E PÂNICO MORAL A pesar dos debates envolven- do esse fenômeno, uma im- portante informação deve ser salientada no começo do artigo: ainda não existem soluções sólidas para essa problemática. Ape- nas como referência, estão sendo cada vez mais comuns os ataques ciberné- ticos com amplitude mundial. Todos, então, são vulneráveis a esses ataques. De acordo com Kim (2004), os cri- mes virtuais mostram de forma intensa que a virtualidade do ciberespaço pos- sui uma inegável natureza coercitiva de realidade. Segundo, o autor, o fato é que já somos seres virtuais, ao me- nos dentro dos grandes bancos de da- dos de corporações e governos, e cada vez mais temos o conhecimento – “a certeza de que os fenômenos são reais E�POSSUEM�CARACTERÓSTICAS� ESPECÓlCASv� – de que o ciberespaço, apesar de vir- TUAL��Ï�BASTANTE�hREALv��%SSA�AlRMA¥ÎO� do pesquisador, feita há mais de uma década, é bastante atualizada. Indubi- tavelmente é cada vez mais complexo delimitar onde está a fronteira entre os dois campos daquilo que pode ser considerado real ou virtual. E, sim, as- sim como transtornos psiquiátricos e outras temáticas estão relacionados ao campo da virtualidade, o mesmo ocor- re com atos ilícitos. Estamos, então, vulneráveis a riscos de todos os tipos, desde a instalação de vírus, ataques a sites pessoais, roubo de senhas, este- lionatos, entre outros. Barbosa, Ferrari, Boery e Filho (2014) debatem que, fruto do verti- ginoso desenvolvimento tecnológico do século XX, a internet gerou novas formas de relacionamento e de socia- lização. Essa profunda alteração nas relações humanas gerou maior rapi- dez de comunicação, oportunizan- do signif icativos avanços na forma como são estabelecidas as dinâmicas prof issionais, comerciais, científ i- cas, educativas e pessoais. Todas es- sas modif icações provocam diversos benefícios econômicos e sociais, no aumento da geração e divulgação do conhecimento científ ico e também numa maior interação humana, ultra- passando as barreiras da distância e do tempo. Todavia, ressaltam os pes- quisadores, quando mal utilizada, a internet pode resultar em invasão da privacidade, crimes virtuais, apolo- gia a comportamentos inadequados e a atitudes preconceituosas, os quais podem gerar problemas de grande amplitude biopsicossocial, dif íceis de resolver e punir; uma vez que, na internet, as informações podem ser rápidas e facilmente disseminadas e nem todos países possuem aparato legal para lidar com tais problemas, originando conf litos de ordem ética e bioética provenientes da forma como as pessoas interagem nesse novo pal- co de relações humanas. Canetti, Gross, Waismel-Manor, Levanon e Cohen (2017), estudiosos que realizaram uma pesquisa em Is- rael sobre os efeitos psicológicos dos ataques cibernéticos, revelam sinto- mas gerados por esse tipo de fenôme- no aos seus alvos, dentre eles: raiva, medo, ansiedade, desconf iança e pâ- nico moral. Em casos mais graves, os sintomas podem gerar transtorno do estresse pós-traumático, transtorno depressivo maior e ansiedade anteci- patória. Todas essas consequências, de acordo com os pesquisadores, gera confusão no senso de segurança e www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 51 nhecidos benefícios como também a proliferação de temáticas como a ba- leia azul e ataques virtuais. Fato é que atualmente não existem limites para a expressão sintomatológica dos seres humanos e, certamente, os ataques serão cada vez mais frequentes. Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com benignos. Mesmo que não sejam cau- sados danos f ísicos, a oportunidade de causar ansiedade e estresse é imen- sa, provocando paralelamente medo e distúrbios no dia a dia. Certamente a internet é um cam- po de produção plural, desde os co- Referências: BARBOSA, A. S.; FERRARI, M. R.; BOERY, R. N. S. O.; FILHO, D. L. G. Relações humanas e privacidade na internet: implicações bioéticas. Revista de Bioética y Derecho, n. 30, 2014. CANETTI, D.; GROSS, M.; WAISMEL-MANOR, I.; LEVANON, A.; COHEN, H. How cyberattacks terrorize: cortisol and personal insecurity jump in the wake of cyberattacks. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, v. 20, n. 2, 2017. KIM, J. H. Cibernética, ciborgues e ciberespaço: notas sobre as origens da cibernética e sua reinvenção cultural. Horizontes Antropológicos, v. 10, n. 21, 2004. aumento signif icativo nos sentimen- tos de vulnerabilidade. Em pesquisa desenvolvida por esses autores, par- ticipantes foram divididos em dois grupos: aqueles expostos a ciberter- rorismo e o grupo que não passou por essa exposição. Os resultados eram esperados: o grupo que passou pela experiência de ataque demonstrou uma elevação signif icativa no nível de cortisol. Ainda de acordo com a pes- quisa, a resposta ao estresse foi ativa- da quando o participante sofria uma experiência de exposição, acionando o senso de insegurança e vulnerabilida- de, o que pode exacerbar a percepção de ataques iminentes reais. Por f im, Canetti, Gross, Waismel-Manor, Le- vanon e Cohen (2017) mencionam que os ataques cibernéticos não são 52 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br neurociência por Marco Callegaro O perigo dos ANSIOLÍTICOS OS EFEITOS NEGATIVOS DOS MEDICAMENTOS ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS – MUITO USADOS PELA POPULAÇÃO – SÃO BEM CONHECIDOS HÁ DÉCADAS tos, os chamados benzodiazepínicos. O potencial para viciar é também bem conhecido, sendo comum a to- lerância (necessidade de aumentar a dose para obter o mesmo efeito) e de- pendência (a retirada ou diminuição produzem abstinência). O uso de benzodiazepínicos por um período maior do que três semanas leva o cérebro a uma adaptação nada benéf ica à saúde, que é a diminuição da produção natural do neurotrans- missor inibitório mais importante, o chamado GABA (ácido gama-amino- butírico). Existem neurotransmisso- res excitatórios, como serotonina ou O s efeitos nocivos de drogas prescritas para tratar a an- siedade, como Frontal ou Rivotril, são conhecidos há muito tempo. Sonolência, quedas e risco aumentado de demência são apenas alguns dos problemas associa- dos a essa categoria de medicamen- www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 53 IM AG EN S: W IK IP ED IA E S HU TT ER ST OC K E AR QU IV O PE SS OA L UM NOVO ESTUDO COM AMOSTRA MASSIVA ENCONTROU EVIDÊNCIAS DE UM RISCO AINDA MAIOR PARA AS DROGAS USADAS PARA TRATAR A ANSIEDADE E INSÔNIA Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiadoO Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011). Referências: Weich, Scott; Pearce, Hannah Louise; Croft, Peter; Singh, Swaran; Crome, Ilana; Bashford, James et al. Effect of anxiolytic and hypnotic drug prescriptions on mortality hazards: retrospective cohort study. BMJ, v. 348, g1996, 2014. dopamina, que promovem atividade nos neurônios, sendo parte da comu- nicação de sinais no sistema nervoso. Já os neurotransmissores inibitórios promovem o efeito contrário, ajudam a desligar a atividade dos neurônios. O GABA, sendo o principal neuro- transmissor inibitório, tem um papel crucial para processos que dependem de inibição, como relaxar, dormir, desligar pensamentos obsessivos ou impulsos, e assim por diante. Os medicamentos benzodiaze- pínicos, justamente, imitam a mo- lécula do GABA e se encaixam em seus receptores, funcionando como se fossem o neurotransmissor, pro- movendo assim suas ações de inibir a atividade neuronal. O relaxamento e sonolência são efeitos dessa inibi- ção, mas o problema é que depois de três semanas o cérebro entende que já existe muito GABA e para de sin- tetizá-lo naturalmente, deixando a pessoa dependente de ingerir os me- dicamentos sob pena de f icar muito ansiosa ou insone. Está armada uma dependência química com drogas le- gais e prescritas pelo médico. É importante observar que a prescrição adequada desses medica- mentos não deve ser superior a três semanas, e que podem existir indica- ções para uso em períodos menores. Para se ter uma ideia da seriedade dessa questão, os conselhos de Me- dicina de alguns países da Europa punem os médicos que prescrevem de forma prolongada com a cassação da carteira prof issional. Os medica- mentos hipnóticos têm problemas parecidos, e requerem cuidados em seu uso, ocasionando diversos efei- tos colaterais. Um novo estudo com uma amos- tra massiva encontrou evidências de um risco ainda maior para as duas categorias de medicamentos, os an- siolíticos e os hipnóticos. A pesquisa, publicada no British Medical Journal, se baseou em dados de mais de cem mil pacientes que f izeram acompa- nhamento médico durante sete anos. A descoberta chocante foi: os pa- cientes que usaram essas drogas tive- ram mais do que o dobro do risco de morte. Além disso, os pesquisadores observaram que os riscos são propor- cionais à dose usada, ou seja, quanto maior a dose, maior o risco de morte. Os autores da pesquisa aponta- ram que a mensagem principal do es- tudo é que devemos ter mais cuidado com o uso dessas drogas, uma vez que crescem as evidências de que os efeitos colaterais são signif icativos e perigosos. Segundo os autores, temos que fazer tudo o que for possível para minimizar a conf iança excessiva nes- sas drogas como forma principal de lidar com a ansiedade ou problemas de sono, e valorizar as alternativas. Podemos dizer que não existe uma forma a longo prazo de controlar a ansiedade, ou a insônia, através de medicamentos, pelo menos sem ter inúmeros riscos e danos para a saúde e funcionamento do organismo. De forma breve, esses medicamentos são de fato efetivos, mas logo surgem os problemas se o uso for continuado. Ironicamente, a pessoa se torna mais propensa à ansiedade ou insônia com o uso constante, tendo alívio com doses maiores e momentaneamente. Realmente não podemos substi- tuir um estilo de vida saudável por comprimidos sem ter consequências. Existem muitas formas de aprender a reduzir a ansiedade e melhorar o sono de forma natural e saudável, mas que dependem de informações adequadas e de empenho na mudan- ça de hábitos. No entanto, vale muito a pena o esforço, pois o aprendizado e os novos padrões de comportamen- to permanecem e se ampliam na vida, e são uma espécie de patrimônio da reserva de saúde. A terapia cognitivo-comporta- mental, por exemplo, pode contri- buir muito para insônia ou ansieda- de, ensinando aos pacientes técnicas para lidar com pensamentos de an- siedade, hábitos saudáveis de sono, técnicas de relaxamento, meditação mindfulness, entre outras estratégias. Exercícios f ísicos e nutrição ade- quada são ferramentas poderosas de controle da ansiedade e melhoria do sono, e a divulgação de informações sobre a implementação de hábitos saudáveis nessas dimensões é crucial para que a população tenha acesso a alternativas aos medicamentos. Em- bora seja cômodo tomar um compri- mido ao invés de toda uma trajetória de aprendizado e esforço para obter um resultado, hoje entendemos me- lhor os riscos de pegar o caminho mais fácil e os benef ícios de mudar o estilo de vida de forma positiva. 54 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br recursos humanos por João Oliveira das franquias e autor de vários livros de empreendedorismo. Será que esse é o nome registrado pelos pais ou foi adaptado após o sucesso de sua gran- de rede de cursos de inglês? Sua marca pessoal, muito antes da EMBALAGEM� lNAL� �ROUPAS �� Ï� DElNIDA� pelo cabedal linguístico que se utiliza: as expressões e palavras mais marcan- tes. Não se trata de inventar jargões ou novas expressões, mas de ter uma estrutura de conteúdo coerente com o impacto que deseja causar. Apresentar um cuidado em usar um linguajar apro- priado e saber como, quando e onde EXERCER�UMA�BOA�mUÐNCIA�VERBAL�Ï�ESTRA- tégico na formação do seu branding. Um detalhe que não pode ser ne- gligenciado é a linguagem não verbal que vai abranger um vasto campo de signos e sinais, tais como: 1- Gestos e posturas: muitos devem ser evitados a f im de evitar uma imagem negativa; 2- Acessórios e maquiagem: é prio- ritário que o ambiente seja estudado antes para que uma adequação possa ser feita. 3- Roupas: é necessário que o perf il da indumentária seja equiva- lente ao esperado de alguém que se proponha a se apresentar como repre- sentante de algum setor do conheci- mento. Dentre os aspectos que, para a grande maioria das pessoas, passa to- talmente desapercebido estão os cal- çados. De nada vale uma pessoa que TER RECONHECIMENTO E SER LEMBRADO FAZEM TODA DIFERENÇA NO PLANO COMPETITIVO QUE VIVEMOS. MESMO QUE UMA PESSOA NÃO QUEIRA IMPRIMIR SUA MARCA, CAUSA EFEITOS POSITIVOS OU NEGATIVOS EM SUA APRESENTAÇÃO BRANDING PESSOAL O mundo está se tornando cada vez mais uniforme. É fato a facilidade com que a informação circula pelas redes sociais ofertando, em sua time- line, milhares de imagens por dia de pessoas oriundas de várias partes do mundo com culturas diferentes e, ao mesmo tempo, muito parecidas umas com as outras. Dif icilmente podemos memorizar uma pessoa pelas roupas que vestem, pelo tipo de corte de cabelo ou ainda acessórios que ostentam. Af inal, tudo está muito igual. Somente algumas poucas culturas orientais, povos que ainda resistem à globalização, man- têm um estilo particular de se apre- sentar ao planeta. Muitas vezes, essas assinaturas culturais são apenas para um público espectador pagante, turis- tas na maior parte. Assim, a identidade pessoal se fun- de em um universo de calças jeans, blazers e tênis descolados. Para ter uma aderência em um nicho de mer- cado – entendendo “mercado” como seu público-alvo em seu universo la- boral –, é necessário imprimir uma marca pessoal, um estilo próprio e que possa tornar essa pessoa em algo distinguível no cenário geral. Lembrando sempre que: a primei- ra impressão é a que f ica. É impor- tante que o prof issional saiba se apre- sentarde acordo com as expectativas que deseja criar em seu futuro possí- vel networking. Mesmo pessoas que já estão inseridas e com boa visibilidade, colhendo resultados positivos de uma boa imagem, também devem investir em uma possível melhora na criação de seu branding pessoal. De fato, nem se trata de um processo de alto custo, apenas de boas e sensatas escolhas. Um exemplo é a forma como as pessoas são chamadas. Nem sempre o nome próprio de uma pessoa é o mais reconhecido pela comunidade. A própria estruturação do nome de trabalho faz muita diferença. Observe as pessoas que não utilizam o primei- ro nome, ou fazem uma conjugação entre o primeiro nome e algum sobre- nome, ou utilizam apenas o sobreno- me. Como isso impacta na percepção de cada um? Como você gostaria de ser chama- do e por quê? Esse é o primeiro mo- vimento para a criação de sua marca própria registrada no cartão de visi- tas ou no crachá que ostenta. Pensar nisso por alguns minutos pode mudar muita coisa na valoração que você pode imprimir no ambiente. Algumas pessoas se apossam de nomes que nem estão de fato na carteira de iden- tidade e usam como uma real marca. Um exemplo é o empresário Carlos Wizard Martins, referência no mundo www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 55 João Oliveira é Doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora). IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K/ AC ER VO P ES SO AL está muito bem vestida se apresenta os sapatos sujos ou desgastados. Uma instituição de ensino superior de representação nacional, por exem- plo, exige em seu manual de conduta que todos os professores de pós-gra- duação usem blazers para serem dife- renciados dos professores de gradua- ção. Espera-se, portanto, que os alunos tenham mais respeito e admiração por professores que usem blazers. O mes- mo se aplica às professoras que devem usar blazers ou tailleurs. De maneira diferente, a sociedade possui uma visão preconcebida de ou- tros tipos de autoridades do saber. Es- em si uma certa valência que pode ser aproveitada para quem deseja ser notado e deixar sua marca registrada, pessoal, nas pessoas que toca no dia a dia. Basta, para isso, ter bom senso e saber equalizar todas as possibilida- des sem se apoiar totalmente em ape- nas uma das vertentes. A culpa não é do preconceito, é da cultura instalada ao longo da constru- ção de nossa história. Ter atenção ao perf il de marca pessoal que estamos divulgando com a nossa presença em determinados ambientes pode criar feedbacks que irão determinar, no futu- ro, a prosperidade ou a ruína de quem idealizamos ser como prof issionais. pera-se que um gênio da computação use calças jeans desbotadas e uma ca- miseta de algodão na cor cinza. Que um médico sempre use, onde quer que vá, um estetoscópio no ombro e uma modelo prof issional se equilibre em um salto alto de 15 cm. São estereótipos, sem dúvida, e muitas vezes caricatos. Mas guardam É IMPORTANTE QUE O PROFISSIONAL SAIBA SE APRESENTAR DE ACORDO COM AS EXPECTATIVAS QUE DESEJA CRIAR PARA SER NOTADO E DEIXAR SUA MARCA, E ISSO VALE DESDE ROUPAS ÀS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS 56 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ENSAIO PSICANALÍTICO 12 3R F E SH UT TE RS TO CK ENSAIO PSICANALÍTICO O SER NA FALTA Tudo o que acontece no momento da entrada da criança no mundo da linguagem tem significado e traz consequências para o futuro, quando ela se tornar adulta Por Adriano Perez Climaco de Freitas www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 57 Adriano Perez Climaco de Freitas é graduado em Psicologia, atua como psicanalista e supervisor clínico em consultório particular, coordenou diversos cursos de Psicanálise. O último foi no segundo semestre de 2016, “In[ter] venções Psicanalíticas em Cena Freud e o Amor”, e atualmente coordena o “Curso Livre de Psicanálise: Psicose Teoria e Clínica – de Freud a Lacan”. Contato: adrianoperezpsi@gmail.com 58 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ENSAIO PSICANALÍTICO Quando o genitor, com seu rebento no colo, cria uma hipótese sobre o choro: “já está querendo a mãe?”, novamente esse ser está sendo falado pelo outro. Isso tem uma função psíquica, afinal o bebê ainda não se deu conta de que nasceu Quando se fala do mo-mento do parto de uma criança, de modo geral, a imagem que nos vem à mente é a de um bebê envolto na placenta sendo retirado do útero de sua progenitora que, em prantos, en- contra-se de pernas e braços abertos. Na sequência dessa cena – que tanto assistimos em filmes e propagandas de televisão – costumamos pensar em uma pessoa que segura o recém- -nascido, ato que pode ser considera- do como um primeiro acolhimento. Em seguida, visualizamos o rebento sendo levado ao colo da mãe, que re- cebe seu filho – agora do lado de fora, no mundo externo – com um sorriso cansado, aliviado e, sobretudo, feliz. A criança é limpa e conduzida para o berçário, onde ficará protegida. Trata- -se dos cuidados iniciais, característi- cos da espécie humana. Tal sequência de ações provo- ca ref lexões a respeito do quão des- protegido é o filhote humano, cuja chegada no mundo depende desse “adulto” que o acolhe. Esses primei- ros cuidados são repletos de nomea- ções que vão sendo dadas, relativas a um ser que é falado pelo outro. Nas visitas ao bebê, por exemplo, surgem as frases típicas: “Olha o nariz dele! Parece com o do pai”. Mesmo antes do nascimento, esse ser já é falado pelo outro, em situações como no di- álogo entre um casal que, em estado de paixão, sonha com a criança tão esperada – “nosso filho será lindo como você”, declara o namorado – ou quando, durante a gravidez, o futuro pai leva a mão à barriga da gestante, declarando: “Vai jogar bola comigo”. Tal cuidado em relação ao recém- -nascido, assim como essa nomeação por parte das pessoas que o cercam, é o que na Psicanálise se entende pela função materna. Importante ad- vertir que, ao falarmos dessa função, não nos referimos necessariamente à mãe – no jogo entre a criança e seus pais, o casal circula entre os papéis, logo, a função materna é por vezes desempenhada pelo pai. Quando o genitor, com seu rebento no colo, cria uma hipótese sobre o choro: “ já está querendo a mãe?”, novamente esse ser está sendo falado pelo outro. Isso tem uma função psíquica, afinal o bebê ainda não se deu conta de que nasceu, não tem dimensão da sua existência e, assim, não se reconhece, ao mesmo tempo que não reconhece o outro. No momento em que algo se inscreve – e, por estarmos em uma operação subjetiva, essa inscrição não é localizável –, a criança entra na linguagem, o que traz uma marca, �Produção do sujeito Segundo os preceitos da Psicanálise, com o ser humano ocorre da seguinte forma: a entrada na linguagem surge o sujeito. Uma maneira possível de se abordar esse acon- tecimento é a partir da angústia. Dito de outro modo, é preciso se sujeitar para se fazer o sujeito, algo que nos habita, é como se ganhássemos um “presente de grego”. Nosso “cavalo de Troia”, a angústia não é sem função. Ela se apresenta e nesse mo- mento se haver com a mesma é fundamen-tal. É preciso recorrer às nossas ferramentas psíquicas, afinal não existe uma saída uni- forme quando se trata de uma questão que diz da condição humana. ���G���������I�����������I� �����G�I������9�G�I��G�hG�\����G G�G��I���� G��Ô�9�������I�H���������:�-Ô�� os cuidados iniciais, característicos da espécie humana www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 59 No momento em que algo se inscreve, a criança entra na linguagem, o que traz uma marca, percebendo a presença desse outro. Com tal inserção nasce o ser falante, não com palavras, mas a partir do reconhecimento de si simultâneo ao de outra pessoa IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E 12 3R F percebendo a presença desse outro. Com tal inserção nasce o ser falante, não com palavras, mas a partir do re- conhecimento de si simultâneo ao de outra pessoa. Com isso, esse ser pas- sa a demandar, o que acontece, por exemplo, quando o bebê olha para a avó e, depois, direciona seu olhar para um copo d’água. A transição do bebê em gestação, passando pelo seu nascimento, até um ser falante (aquele que reconhe- ce e demanda do outro) – transição esta tão complexa e, de certo modo, mítica na psique humana –, pode ser pensada por meio de diversas leituras teóricas. Aqui, a ideia é abordar esse tema tão profundo de modo ilus- trativo. No filme Procurando Nemo, vemos essa passagem bastante frag- mentada em seu início. Os pais con- versam distraidamente sobre o nome que darão aos seus filhos, enquanto as ovas se encontram confortáveis em um habitat de corais. De repen- te, são surpreendidos por um tuba- rão; desesperados, tentam se abrigar. Passada a confusão, Marlin, o futuro pai, ainda tonto, sai procurando em seu entorno pela esposa. Quando en- tra no coral, encontra uma única ova e imediatamente a segura com suas barbatanas, oferecendo proteção ao filhote – um recém-nascido desam- parado que está prestes a chegar à vida. Em um golpe trágico, para de- sespero de Marlin, sua companheira não está mais ali. Na vida real, é pos- sível conceber essa situação apresen- tada pelo desenho animado como algo parecido com um casal que, sur- outro, enquanto este último seria o ser que reconhece o outro, ou seja, a criança que se dá conta de uma se- gunda pessoa. Essa complexa opera- ção é efeito da relação entre presen- ça e ausência: se a criança sabe da presença da mãe – enquanto função materna –, ela também sabe da au- sência e opera nesses dois polos. Se no ato do nascimento se apresenta o ser desprovido de qualquer noção de si e do outro, é na entrada dessa operação que a criança identifica o outro, que agora deixa de ser uma ex- tensão de si. A partir de então, está dada a separação: é outra voz que lhe fala, outro corpo que se apresenta, ou seja, o outro ganha uma dimensão própria. Nessa dupla operação entre alienação e separação, a interdição acontece. Essa interdição, enquanto lei, é o que se entende por função pa- terna, que, tal qual a anterior, não é necessariamente executada pelo pai. Referência Tendo a criança como referência, a tão complexa entrada na lin- guagem é pensada. Mas será mesmo preendido pelo rompimento da bolsa, vai imediatamente para o hospital. O parto acontece e a criança nasce sau- dável, mas a mãe não resiste e falece. Na cena seguinte, é dado o salto da passagem até o ser falante, quando o filhote de Marlin, Nemo, ansioso pelo primeiro dia de aula, euforica- mente evoca o pai, tagarelando: “Está na hora da escola! Está na hora da es- cola! Acorda! Acorda! Vem, primeiro dia de aula!”. Esse momento em que o filhote solicita a atenção do pai ilustra bem a demanda – neste caso, um pedido. Aqui, cabe mediar essa passagem do ser de necessidade para o ser falan- te. Podemos considerar o primeiro como aquele que é nomeado pelo ������È�I�G� ��Gh��� ���G�I������������IG����������H�������Ô�� ��������� ��\������������G��9� cuja chegada ao mundo depende de um adulto que o acolha 60 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ENSAIO PSICANALÍTICO que se trata de um processo fácil e dócil? Qual sentimento deve ser es- colhido para caracterizar esse mo- mento de reconhecimento do outro, que marca a dualidade entre presen- ça e ausência? Com o tato que lhe era peculiar, Sigmund Freud optou por falar, entre outros, da angústia. Tal- vez essa escolha tenha sido motivada pelo fato de que a angústia não se limita apenas a um sentimento nega- tivo que se tem de evitar a qualquer custo, tentativa que está fadada ao fracasso, já que é impossível passar pela vida sem essa experiência. Nesse sentido, uma passagem interessante no filme referido é quando Marlin comenta com sua amiga Dory: Marlin – Eu prometi que nun- ca deixaria nada acontecer com ele [Nemo]. Dory – Que coisa engraçada de se prometer. Marlin – O quê? Dory – Bem, se você nunca dei- xar que nada aconteça com ele, nada jamais acontecerá para ele. Em um primeiro momento, a fala de Dory pode parecer ingênua. No entanto, trata-se de uma respos- ta rica que pode surpreender, caso se tenha em mente o que se disse a respeito da angústia. Essa é tam- bém um motor que faz girar o ser de necessidade para a constituição terno, não sem antes nos advertir da importância de diferenciá-la de outros afetos: “terror”, “angústia” e “medo” são empregados erronea- mente como sinônimos, mas podem se diferenciar de modo claro na sua relação com o perigo. “Angústia” designa um estado como de expec- tativa do perigo e preparação para ele, ainda que seja desconhecido; “medo” requer um determinado objeto, ante ao qual nos amedron- tamos; mas “terror” se denomina o estado em que ficamos ao correr um perigo sem estarmos para ele prepa- rados, enfatiza o fator da surpresa (Freud, 1920, p. 169). Seguindo nessa cadência, é in- teressante falar brevemente sobre o medo e o terror antes de retornar- mos à angústia. Quando Freud cita um objeto ligado ao medo, pode-se Se no ato do nascimento se apresenta o ser desprovido de qualquer noção de si e do outro, é na entrada dessa operação que a criança identifica o outro, que agora deixa de ser uma extensão de si. A partir de então está dada a separação HANS OCUPA LUGAR NOS ANAIS DA PSICANÁLISE PARA SABER MAIS R egistrado no texto Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos (1909), o caso de Herbert Graf ficou conhecido na literatura psicanalítica como “pequeno Hans”. Cheio de particularidades – como o fato de o paciente ser uma criança e de Freud atuar como supervisor, e não analista –, esse caso ocupa um lugar importante nos anais da Psicanálise. Apaixonado pela área, o pai de Hans, ao observar o comportamento do filho, principalmente em relação à sexualidade e à preocupação com o corpo, passou a escrever a Freud. Hans, após ver um banho da irmã mais nova – cujo nascimento teve grande impacto sobre ele –, teve um sonho de angústia, e a fobia se anunciou. Seu pai transmitia a Freud os diálogos que tinham, o que permitiu que o psicanalista orientasse o tratamento. do sujeito. Aqui, faz-se referência à experiência de separação da mãe en- frentada pela criança. Em seu texto, Além do Princípio do Prazer (1920), Freud aborda a angústia da criança diante da ausência desse outro ma- Mesmo antes de nascer, o bebê já é falado pelo outro, em situações como no diálogo entre um casal que, em estado de paixão, sonha com a criança tão aguardada www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 61 Em Além do Princípio do Prazer, Freud aborda a angústia diante da ausência desse outro materno, não sem antes nos advertir da importância de diferenciá-la de outros afetos: “terror”,“angústia” e “medo” são empregados erroneamente como sinônimosIMAG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K entender que este é localizável; ge- ralmente, as crianças falam sobre seus medos – por exemplo, quando não querem ir a um determinado cômodo da casa, alegando medo de escuro – e, via de regra, evitam a si- tuação. Eleger um objeto e fugir do contato com ele pode ser caracterís- tico de um caso de fobia (interes- sante lembrar do pequeno Hans, um menino que, por ter fobia de cavalos, passou a não querer sair à rua). Em Procurando Nemo, há uma cena que demonstra o medo e sua relação com o objeto e a situação: quando Nemo, após ser capturado, está vivendo no aquário, ele é convocado para um plano de fuga, cabendo a ele colocar uma pedra na engrenagem do filtro que faz a limpeza do local. Já o terror vivido por Nemo fica a cargo da sobrinha do dentista que o pescou. Nessa complicada situação, o jovem peixe-palhaço será dado a ela como presente, mas é advertido pelos demais companheiros sobre antigos residentes do aquário que tiveram o mesmo destino, não re- sistiram à menina e morreram. Um porta-retratos com a foto de uma criança que segura um peixe dentro de um saco com água decora a sala do dentista. A imagem revela uma criança ameaçadora que, sem pudor, agarra o animal como se fosse uma coisa – eis o terror de Nemo, que por vezes fica paralisado, olhando estaticamente para a foto no lado ex- terno do vidro. É como se o peque- no Hans fosse levado aos cavalos: o contato inesperado que ilustra o que Freud quer dizer quando se refere a correr perigo sem estar preparado para ele. Esses dois sentimentos – o medo e o terror – em relação a situações e objetos localizáveis significam que a criança já tem dimensão de si, do outro e, portanto, pode nomear seus anseios. Contudo, a angústia é sem objeto, o que leva Freud a ressaltar o desconhecido ao se referir a esse sentimento, como pontua a passa- gem citada. A angústia é sentida no corpo – em geral, levamos as mãos ao tórax quando falamos dela. É di- fícil verbalizá-la, mas a experiência da angústia é inegavelmente viven- ciada. Freud (1926, p. 72) é preciso: “A angústia é, em primeiro lugar, algo que se sente”. Experiência inicial Uma questão que se coloca dian-te de um sentimento que esca- pa às palavras é: quando se teve a primeira experiência angustiante? Pode-se dizer que a angústia se faz presente na passagem do ser de ne- cessidade para o ser falante. Nesse instante em que a criança é acolhida e cuidada pelo adulto, ela se encon- tra em desamparo. Este último, por sua vez, é angustiante, logo, o que se vê é a angústia pela separação da mãe. Retomando o pequeno Hans, Freud (1909, p. 144) comenta uma fala do paciente em relação a esse tema: “Quando eu dormia, pensei que você foi embora e que não tenho mais mamãe para fazer carinho”. Um sonho de angústia, portanto. Quais possibilidades se apre- sentam diante desse quadro? Pode- -se dizer que se faz necessário criar uma borda a esse estado sem forma. Freud (1920, p. 171) descreve uma Quando Freud cita um objeto ligado ao medo, pode-se entender que este é localizável, pois, geralmente, as crianças falam sobre seus receios e evitam a situação 62 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ENSAIO PSICANALÍTICO passagem muito ilustrativa: “Foi mais que uma observação ligeira, pois durante algumas semanas esti- ve com a criança e os seus pais sob o mesmo teto, e levou certo tempo até ausência materna, vivendo um mo- mento de desamparo. “Ele tinha um carretel de madei- ra, em que estava enrolado um cor- dão. Nunca lhe ocorria, por exem- plo, puxá-lo atrás de si pelo chão, brincar de carro com ele; em vez dis- so, com habilidade lançava o carre- tel, seguro pelo cordão, para dentro do berço, através de seu cortinado, de modo que ele desaparecia, nisso falando o significativo “o---o---o- --o”, e depois o puxava novamente para fora do berço, saudando o apa- recimento dele com um alegre “da” [“está aqui”]. Então era essa a brin- cadeira completa, desaparecimen- to e reaparição, de que geralmente via-se apenas o primeiro ato, que era repetido incansavelmente como um jogo em si, embora sem dúvida o prazer maior estivesse no segundo ato” (Freud, 1920, p. 173). Nessa brincadeira, o objeto mãe é substituído pelo objeto fala, que, por sua vez, é substituído pelo obje- to carretel. Sobre esse enredo, Freud (1920, p. 173) pondera: “Talvez se responda que a ausência tinha de ser encarnada, como precondição para o agradável reaparecimento, que se- ria o verdadeiro propósito do jogo”. Em síntese, o que se coloca é que é possível extrair prazer de sentimen- tos desagradáveis. Mãe ausente Em Procurando Nemo, enquanto mãe biológica, a mãe do peque- no peixe-palhaço é ausente em esta- do bruto, mas sobreviver foi possível – a função materna se fez. Seguindo pelo viés da criança, a angústia da ausência não se dá na morte da mãe no momento do parto, pois a crian- ça não tem ainda a dimensão desse outro. A angústia se encontra na concepção “o outro não é extensão de mim”, portanto “me falta”. Dito de outro modo, a ausência materna é sentida enquanto função, ou seja, “Angústia” designa um estado de expectativa do perigo, ainda que seja desconhecido; “medo” requer um determinado objeto, ante ao qual nos amedrontamos; mas “terror” é o estado em que ficamos ao correr um perigo sem estarmos para ele preparados A EXPERIÊNCIA DO NASCIMENTO É ANGUSTIANTE PARA SABER MAIS No livro Inibição, Sintoma e Angústia, de Sigmund Freud (1926, p. 70-71), o psicanalista considera que “a primeira experiência angustiante, ao menos para os seres humanos, é o nascimento, e ele significa objetivamente a separação da mãe (...)”. Segundo o autor, essa situação pode ser comparada “a uma castração da mãe (segundo a equação criança = pênis)”. Tal passagem contribui para a discussão a respeito do reconhecimento do outro e do momento em que se entende a ausência. Nesse sentido, a castração diz de uma falta – a equação ausência materna = falta para a criança (que, por ser castrada, não completa essa mãe). Freud, nessa obra, aborda, ainda, a formação do sintoma e o define da seguinte maneira: “Um indício e um substituto de uma satisfação pulsional não consolidada; um resultado do processo de recalcamento”. que se revelasse para mim o signifi- cado daquela ação misteriosa e sem- pre repetida”. O que dá para acom- panhar nesse relato é a brincadeira de uma criança que dá contorno à A angústia é sem objeto, o que leva Freud a ressaltar o desconhecido ao se referir a esse sentimento; para ele, a angústia é sentida no corpo www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 63 REFERÊNCIAS FREUD, S. Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos (1909). Rio de Janeiro: Imago, 2006. . Além do Princípio do Prazer (1920). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. . Inibição, Sintoma e Angústia (1926). São Paulo: Companhia das Letras, 2016. Procurando Nemo, dir. Andrew Stanton e Lee Unkrich, 2003. Eleger um objeto e fugir do contato com ele pode ser característico de um caso clássico de fobia (interessante lembrar do pequeno Hans, um menino estudado por Sigmund Freud que, por ter fobia de cavalos, passou a não querer sair à rua) há um lugar psíquico para isso. A fal- ta desse outro aponta para a falta de si. É comum, por exemplo, as crian- ças brincarem de esconde-esconde, e podemos pensar também em um bebê que gargalha quando alguém cobre e descobre seu rosto, dizen- ra cena em que o peixinho aparece falando com o pai. Ainda assim, e até mesmo com todoo mistério que essa passagem deixa em suspenso, considere-se: é no momento da pri- meira fala do filho no filme, em seu pedido para ir à escola, que Marlin de forma significativa o interpela: Marlin – E qual palavra combina com “oceano”? Nemo – Não é seguro. Em termos metafóricos, o ocea- no nos mostra a imensidão da vida. Afirmar que “o oceano não é segu- ro” é ter a ponta do pé na angústia – a relação simbiótica se foi, e agora eu não sou mais um ser de necessi- dade, um objeto falado pelo outro, mas sim um ser de linguagem. Com essa perspectiva sobre o filme, a his- tória de Nemo ilustra lindamente essa passagem que, em essência, diz da condição humana. do “Acho---o---o---o---o”. Em tese, a sensação de aparecimento e desa- parecimento é vivenciada; a criança tem agora a experiência de sair de cena, o que é observado por Freud no vaivém que o menino executa re- petidamente. “Num dia em que sua mãe es- tivera ausente por várias horas, foi recebida, ao voltar, com a saudação: ‘Bebi o---o---o---o!’, que primeira- mente foi incompreensível. Logo se revelou, porém, que durante o longo período em que ficou só ele encon- trara um modo de fazer desaparecer a si próprio. Havia descoberto sua imagem no espelho que vinha quase até o chão e se acocorado, de manei- ra que a imagem foi embora” (Freud, 1920, p. 172). A angústia se apresenta. No filme citado, existe a lacuna entre o nascimento de Nemo e a primei- �Psicanálise em filme O filme Procurando Nemo, uma produção de 2003, é um ótimo material para analisar a mãe ausente. Conta a história de Nemo, um jovem peixe-palhaço, que é levado de sua casa, na Grande Barreira de Corais, para Sydney, na Austrália. Em sua jornada para resgatar o filho, seu pai superprotetor, Marlin, encontra companhia na esquecida peixinha Dory e traz diálogos ricos de in- terpretação psicanalítica. IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K Em tese, a sensação de aparecimento e desaparecimento, que ocorre em determinado momento, é vivenciada, e a criança tem a experiência de sair de cena 64 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br IM AG EN S: 1 23 RF / S HU TT ER ST OC K/ D IV UL GA Çà O E AR QU IV O PE SS OA L UM CONTO DE FADAS - A HISTÓRIA DOS TRÊS PORQUINHOS Autor: Joseph Jacobs Editora: Zahar Ano de edição: 2010 divã literário por Carlos São Paulo EGO feito de alvenaria HISTÓRIAS INFANTIS PODEM NOS LEVAR A CAMINHOS DE REFLEXÃO E SEREM ÚTEIS PARA EXPLICAR O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE DE UM HOMEM OU O DA PRÓPRIA HUMANIDADE, TAL COMO NO CONTO DOS TRÊS PORQUINHOS Um outro modo de olhar para es- sas imagens é observarmos a humani- dade em seu percurso evolutivo. No princípio, sem os recursos que hoje a ciência nos trouxe, a natureza, ou o lobo, em nossa analogia, era uma ameaça constante que deixava nossas vidas efêmeras. Um ego construído como uma casa de madeira, unida por pregos que vão aos poucos sofrendo a corrosão pela oxidação em pontos fundamentais para a sua sustentação, torna-se vulnerável ao sopro do lobo, que, com um pouco mais de insistência e esforço, faz tudo desmoronar. Suas partes agora não ofe- recem mais coerência ao que é senti- do como realidade, enquanto as fadas adormecidas acordam embriagadas e descontentes. Elas são ainda vistas como lobos que atrapalham a vida de si próprio e dos demais. Surge então o quadro neurótico. Essas imagens nos fazem pensar no estágio da humanidade em que esta oferecia alguma resistência à natureza, MAS�NÎO�O�SUlCIENTE�PARA�CONTROLÉ LA��!� ciência do século XVII já havia popu- larizado os sabonetes, que passaram a ter baixo custo, e, no século XIX, Louis Pasteur provava que existia uma rela- ção entre higiene corporal e saúde. Chegam os tijolos, e a casa de al- venaria tem seus blocos unidos por um bom cimento que a faz resistir aos E ssa história foi resgatada na Inglaterra pelo folclorista Jose- ph Jacobs, no século XIX, que o transformou em literatura infantil. Os personagens do conto são os três porquinhos – Cícero, Heitor e 0RÉTICO�n�E�UM�LOBO�lXADO�NA�IDEIA�DE� devorá-los. Começa quando os três por- quinhos decidem sair da casa da mãe e foi cada um construir a sua própria casa. Cícero constrói uma casa de pa- lha e barro; Heitor faz a dele com ma- DEIRA�E�PREGOS��ENQUANTO�0RÉTICO�EDIlCA� com cimento e tijolos. No dia em que o lobo aparece, com um sopro desmo- rona a casa de Cícero, que foge para abrigar-se com o irmão Prático. Com um esforço maior, o lobo também des- trói a casa de Heitor, que vai abrigar- -se com os irmãos. No entanto, o lobo tenta derrubar a casa de Prático e não consegue. Resolve então descer pela chaminé, mas esta estava acesa. Dessa forma, o lobo é assado, e os porquinhos se alimentam dele. Imaginar essa história como metá- fora nos permite explorá-la em várias direções, como fazemos com os nossos sonhos, até que possamos nos dar conta de algo importante para esclarecer nos- sos comportamentos e atitudes. Essa é uma das histórias que nunca acontece- ram, mas revelam uma verdade maior, contida na engrenagem dessas imagens que expressam a nossa natureza. Ao chegarmos ao mundo, abrimos os olhos e os espectadores percebem que há uma consciência. O desenvolvi- mento desse bebê segue junto à constru- ção de um Eu, que é uma estrutura para organizar os conteúdos do que tomamos consciência. Esse eu é a nossa persona- lidade, que se fortalece quando conse- gue exercitar-se no embate da vida. A estrutura, como uma ponte entre o que foi esquecido e a realidade externa que nos convida a interagir, nos faz construir UMA� IDEIA� DE�NØS�MESMOS�DElNIDA�POR� uma imagem que se entrelaça com es- ses conteúdos jogados na escuridão do INCONSCIENTE�E�QUE�DElNIMOS�COMO�EGO� A construção do ego pode ser frá- gil como uma casa de palha e barro. É fácil derrubá-la com o sopro do lobo, OU�COM�OS� CONmITOS�DA�VIDA�� E� REDUZI- -la a seus fragmentos de palha e barro, gerando assim a perda de sua unidade funcional para, em lugar de um eu, fa- zer surgir um feixe de “eus”. Nessa con- dição, os lobos, que são apenas fadas adormecidas, se põem a assombrá-los constantemente. Surge então a loucura. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 65 sopros do lobo. O ego, agora fortaleci- do, mantém-se numa boa relação com a natureza que lhe deu origem. É um verdadeiro ato de religare, que vem do LATIM�E�TEM�O�SIGNIlCADO�DE�RELIGA¥ÎO�� Refere-se a uma nova ligação entre o homem e a totalidade do seu ser, ou à ideia de Deus. Os esforços do lobo não mais abalam esse ego, ou a casa se mantém em sua unidade funcional. As fadas adormecidas acordam para faze- rem parte da vida e deixarem o mundo mais encantado e sem lobos. Esse lobo, como a unilateralidade, a literalidade e a garantia de segurança, não mais nos assombra. Em vez disso, vivenciamos a sabedoria e nos alimentamos dos Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br nossos sonhos, mesmo os utópicos. Não mais desprezamos do eu as partes que, perante a sociedade ou a família, não venham a ser desejáveis. Sentimos o cimento que nos une e somos agora “indivíduo”. O desenvolvimento desse ego de- pende de que a condução com que os CONmITOS� PRODUZIDOS� NA� VIDA�� ENTRE� o que se quer e o que está, seja bem- -feita. É, portanto, a infância o grande momento de se aproveitarem as po- tencialidades da natureza de um ser e oportunizá-las por meio da nossa responsabilidade de adulto. Para isso, precisamos estimular o crescimento de nossas crianças comuma reforma pro- funda nos métodos pedagógicos atuais, cuja evolução é ainda incipiente. A humanidade, por sua vez, experi- MENTA�VIVER�COM�UM�AVAN¥O�CIENTÓlCO� que pretende dominar o lobo e alimen- tar-se dele. É o mundo que precisa do homem não só com a vida longa, mas também um ego feito de alvenaria. Um ego capaz de criar uma imagem apro- priada do amor, em que o tempo nada vale e o eu seja capaz de enfrentar tran- quilo a tristeza do inverno, sem o medo de que, depois dele, não venha a alegria da primavera. A CONSTRUÇÃO DO EGO PODE SER FRÁGIL COMO UMA CASA DE PALHA E BARRO. É FÁCIL DERRUBÁ-LA COM O SOPRO DO LOBO, OU COM OS CONFLITOS DA VIDA, FAZENDO SURGIR UM FEIXE DE “EUS” www.portalcienciaevida.com.brwwwwww.po trtal illcienciaeii ididvida.comom.bbrbrb F ilme dirigido por Juan Antonio Bayona (O Impossí- vel/2012) e roteiro escrito por Patrick Ness baseado em seu livro homônimo, aborda o luto e fala sobre o tema de maneira bastante singular, tocando a emoção naquilo que ELA�TEM�DE�MAIS�REGRESSIVA��AlNAL�TODO�ENLUTAMENTO�JOGA�O�SUJEITO� em conteúdos infantis, o coloca frente ao desamparo mais funda- MENTAL��/�lLME�JOGA�MUITO�BEM�COM�ISSO�QUANDO�ESCOLHE�COLOCAR� em modo animação para representar os medos do protagonista. $A� OBRA� FREUDIANA� UM�DOS� TEXTOS�MAIS� IMPORTANTES� Ï� JUSTA- mente o que traz o título Luto e Melancolia (1915), em que Freud lança conceitos bastante caros a toda sua teoria, talvez mesmo por fazer ver que o trabalho do luto é presente desde as mais tenras experiências. Para entender isso é preciso ampliar o en- tendimento sobre o luto para além da compreensão da perda de pessoas por falecimento. O sentimento de desapego que a tarefa reivindica é um dos mais custosos para o dinamismo psíquico, um dos que mais põem em xeque toda sua economia (no sentido FREUDIANO��JOGO�DE�VETORES ��%��AO�MESMO�TEMPO��DE�CERTA�MANEIRA� A�TAREFA�QUE�FUNDA�O�SUJEITO�E�O�MANTÏM�VIVO�NO�DESEJO� %0)$%-)!� (OJE�MUITOS�PESQUISADORES�E�TEØRICOS�VÐM�FALANDO�DE�UMA�ATUA- lidade em que poderíamos ver a depressão (melancolia) como uma epidemia, entre a discussão em relação ao lobby das indústrias far- macêuticas criando demanda e o vazio de uma suposta “moderni- dade líquida” ou do excesso, que facilitaria o vazio que descamba no adoecimento, podemos supor que o luto está presente como a grande questão da atualidade. Não sabemos se fomos perdendo a capacidade de lidar com essa exaustiva tarefa ou se acumulamos HOJE�COM�TANTO�DESAMPARO�QUE� IMPLODIMOS�NOSSA�CAPACIDADE�DE� elaborar seus conteúdos. Fato é que algo em torno desse desalento contemporâneo é atravessado por esse tema. Podemos então pen- /�%-/#)/.!.4%�&),-%�SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE -%2'5,(!� ./�$/,/2/3/�42!"!,(/�$!� #/.6)6º.#)!�$%�5-!�#2)!.!�&2%.4%� ±�$/%.!�4%2-).!,�$%�35!�-§%� cinema Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps O dinamismo do luto www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 67 sar em que perda foi essa que de tão fun- DAMENTAL�JOGOU�O�HUMANO�EM�UM�ABIS- mo afetivo destituído de uma verdadeira compreensão e com isso a capacidade de encontrar novas saídas. O que fazer quando o chamado da estrutura social sublinha o acumular e pouco ensina so- bre o perder? Freud expõe o tema do artigo em JANEIRO�DE�������MAS�CONFORME�NOTA�DO� editor, no texto, ele o publicará em 1915. 3EUS�ESTUDOS�SOBRE�O�TEMA�APONTAM�PARA� os primeiros postulados do complexo de Édipo em rascunho enviado a Fliess em 1897 e ligam os conteúdos a ques- TÜES�PROVENIENTES�DA�FASE�ORAL��3EGUNDO� ainda o editor, dois conceitos foram fun- damentais a Freud para elaboração de seus estudos sobre luto e melancolia; são eles o de narcisismo e de ideal de ego (diferenciar de ego ideal). A partir des- ses apontamentos olharemos para esse CURIOSO�lLME�QUE�ESCOLHE�NÎO�ABORDAR�O� luto de maneira sentimental, mas indo fundo em seus conteúdos mais obscuros e de ataque, o que Freud destacou em seu texto citado. Os sentimentos de revolta e raiva fazem parte de uma das fases de ela- boração esperadas no luto, como des- CREVE�A�AUTORA�E�PESQUISADORA�%LISABETH� +UBLER 2OSS��NEGA¥ÎO��RAIVA��BARGANHA�� depressão e aceitação). Freud fala des- SA� AGRESSIVIDADE� VOLTADA�PARA�O�OBJETO� perdido tendo como possibilidades a IDENTIlCA¥ÎO�E�INTROJE¥ÎO�DELE�E�POSTE- rior ataque a si mesmo. Os sentimentos de culpa e autorrecriminação podem decorrer de tal manobra. Não é inco- mum vermos em pessoas enlutadas uma certa tendência ao irascível, uma diminuição da capacidade de se vin- cular com alguma alegria aos eventos ATUAIS�� 5M� AUTOR� QUE� DISCORRE� MUITO� belamente sobre essas características é J. D. Nasio em seu livro A Dor de Amar. .O�lLME�TODA�ESSA�DINÊMICA�SERÉ�MUI- to bem apresentada acompanhando o MERGULHO�QUE�#ONOR��,EWIS�-AC$OU- gall) dará em seu estado de dor/raiva/ culpa ao acompanhar o adoecimento e Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. Autores do livro �����G���G��Gd� ���� �� ���������: Participam de palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br morte de sua mãe (Felicity Jones), única lGURA� DE� SUSTENTA¥ÎO� AFETIVA� QUE� TEM� em sua vida. 4EMOS� COMO� UMA� CERTA� TENDÐN- cia social manter a exigência quanto à dissimulação de certos impulsos vistos como agressivos, e sabemos que ao fa- zer isso paga-se algum tipo de tributo dentro dos vetores de negociação, a ENERGIA�NÎO�SERÉ� JAMAIS� IMPEDIDA�PELO� “verniz” social, ela impulsiona em bus- ca de alguma saída. Pedir a quem sofre IM AG EN S: D IV UL GA Çà O E SH UT TE RS TO CK que sofra disciplinadamente e comedi- DAMENTE�JAMAIS�SERÉ�UMA�SOLU¥ÎO�POSSÓ- VEL��E�#ONOR��DIANTE�DE�SUA�AVØ��3IGOUR- ney Weaver), deixará isso bastante em EVIDÐNCIA��%M�SUAS�NEGOCIA¥ÜES�DESEN- volve a fantasia de que irá precisar de SEU� -ONSTRO� �,IAM� .ELSON � PARA� QUE� entre em contato com seus antagôni- cos sentimentos que reagem diante da dura experiência. Algo escapa, como um monstro. O que escapa é inimigo OU� PROTETOR��%SSA� Ï� A� PERGUNTA� QUE� SE� nutre no divã do analista. h6OCÐS�CREEM�EM�MENTIRAS�CONFORTÉ- veis, embora saibam a verdade doloro- SAv�� DIZ� O�-ONSTRO� A�#ONOR��!�HISTØRIA� vai então acompanhar nosso pequeno protagonista em seu enfrentamento de tão difíceis verdades, não por serem inu- sitadas ou tão estranhas, mas exatamen- te por remeterem a sentimentos usuais, mas que são quase sempre barrados como inconscientes, e que colocados na situação que vive tornam-se os mais .!�$)3#533§/� 3/"2%�/�6!:)/� $%�5-!�350/34!� h-/$%2.)$!$%� ,°15)$!v��/�,54/� %34£�02%3%.4%�#/-/� !�'2!.$%�15%34§/� $!�!45!,)$!$% Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida, mas o maior deles será viver a expectativa do luto ao sofrer vendo a mãe enfrentar o câncer em fase terminal 68 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br6868 pspsiquique ce ciêniênciacia&v&vidada wwwwww.po.portartalcilcienciiaevididvidida.ca comom.brbbr 6%-/3�./�&),-%�/� -5.$/�).&!.4),�� -!3�3%2)!�-5)4/� 2%$5#)/.)34!� 0%.3!2�15%�!15),/� 2%02%3%.4!�3/-%.4%� /�%30!.4/�$%�5-!� #2)!.!�0%2!.4%�!� -/24%��!�0%2$!�$/� /"*%4/�!-!$/ OBSCUROS�� !PROXIMAM� A� VERIlCA¥ÎO� DA� ambivalência que constitui todo vínculo e do sentimento de cansaço e abandono que acompanha o ser enlutado. 6°.#5,/�-/24/ 6)6/� /� PAI� �4OBBY� +EBELL � Ï� DISTANTE� E� alheio, sem vínculo amoroso com o lLHO�� 4ALVEZ� ESSE� PERSONAGEM� POSSA� servir parapensarmos em um luto que #ONOR� JÉ� VIVENCIAVA�� O� DO� AFASTAMENTO� de seu pai que, tendo uma nova família, não reservava mais nela um espaço afeti- VO�PARA�SEU�lLHO��VÓNCULO�MORTO VIVO��!� solidão do menino é evidente, afora isso sofre um pesado bullying pelos colegas de escola, todos os dias sendo persegui- do e agredido no caminho para sua casa. !�AVØ�� UMA�MULHER� ENRIJECIDA�PELA�DOR� DE�ACOMPANHAR�O�ADOECIMENTO�DA�lLHA�� ESTÉ�LONGE�DA�DOCE�lGURA�QUE�ACOLHERIA�A� dor e desamparo do neto. !�CRIAN¥A��AO�PERDER�UMA�DAS�lGU- ras que sustentam seu mundo afetivo, viverá o forte sentimento de um aban- dono. Para ela há um intencional em JULGAMENTO� NESSA� PARTIDA�� ASSIM� SEN- tirá reagindo com raiva propriamente dita ou ainda como um sentimento de perda total de autoestima, como se não valesse afetivamente para qualquer pes- soa, destituída de importância, muitas vezes provocando um distanciamento do mundo que a cerca, uma apatia que esconde o caos que carrega dentro de SI�� %MBORA� AINDA� DE� ALGUMA� MANEIRA� ela tente comunicar seu desconforto, SEJA�POR�COMPORTAMENTOS�ERRÉTICOS��SEJA� por representações que escolherá – no CASO� DE� #ONOR�� SEUS� DESENHOS� GRITAM� sua angústia, mas não há ninguém que possa escutá-lo inteligentemente (como recomendaria Winnicott). A dor expos- ta não chama o interlocutor. 6EMOS� NO� lLME� O� MUNDO� INFANTIL�� mas seria muito reducionista pensar que aquilo representa somente o es- panto de uma criança perante a morte, A�PERDA�DO�OBJETO�AMADO��#OMO�JÉ�DE- monstrava Freud, somos todos infantis diante de tão aterrador desamparo, apesar de ele nos fundir e permane- cer de certa maneira como um estado que administramos ao longo de toda a vida, em parte como aversivo, em par- TE� COMO� UM� DESEJO� DE� RETORNO� A� UM� tempo sem angústias, anterior a tudo, ANTES�DO�CAOS�DAS�PULSÜES��/�OBJETO�OR- ganizador das pulsões, por atrair para SI�E�BALANCEAR�O�COMPLEXO�JOGO�PULSIO- nal com seus vetores de amor e de des- trutividade, mantém nossa economia INTERNA� EM� FUNCIONAMENTO�� 3ABEMOS�� DESDE�&REUD��QUE�MUITOS�SÎO�OS�OBJETOS� que nos organizam, algumas vezes até como uma representação de um ideal, e, em assim sendo, a vida exige varia- dos lutos em seu decorrer, uma dose e tanto de apego e desapego como os movimentos que precisamos muscular- mente empreender para dar os passos no polo motor. As perdas não são de- corrência apenas da morte física, al- gumas das mais cruéis, como a do par amoroso, exigem um desprendimento DO�OBJETO��EMBORA�ELE�PERMANE¥A�VIVO�� apenas não mais vinculado a quem vive a perda, desequilibrando assim a frágil tendência a continuar como vetor amo- roso e pesando na ambivalência para as FOR¥AS�DO�ØDIO�QUE�PODERÎO�ENCONTRAR� uma agressão para o antes investido OBJETO� OU� AINDA� RETORNAR� A� SEU� EGO�� ONDE�COLOCARÉ�EM�RISCO�O�PRØPRIO�SUJEI- to em sua ira incompreendida. !02)3)/.!-%.4/ Perder algo ou alguém é uma tarefa que dispende muita energia, algumas vezes empobrecendo completamente A�CAPACIDADE�DO�SUJEITO�DE�REFAZER�SEUS� laços com o mundo externo; quanto mais é desconhecido para ele o que de fato perdeu, mais se verá preso a UM� REDEMOINHO� APRISIONANTE��1UANDO� alguém se vê diante de pessoas queri- das em estado terminal, essa confusão DE� SENTIMENTOS�MUITAS� VEZES� AmORA� DE� maneira confusa e culpada. A inevita- BILIDADE� DA� PERDA� ENQUANTO� O� OBJETO� permanece ainda partindo a cada dia, lentamente, provoca um esgotamento das forças que unem à vida, e muitas vezes um certo sentimento de querer *��G��\� ���G������G�����9������^�I����G�������I��������:�.G����������������G��������G���������G�G� a compreensão de um luto que Conor já vivencia nessa relação www.portalcienciaevida.com.brwwwwww.po ttrtal ilciienciiiae idvidida.com.om.bbrbr !02%.$%-/3� $%3$%�-5)4/�#%$/� 15%�!�!53º.#)!� ¡�!-%!!$/2!�� #/-%!�!,)�./3� $)34!.#)!-%.4/3� -!4%2./3�� -%3-/�15!.$/� 3!5$!6%,-%.4%� 2%02%3%.4!-�!0%.!3� -/-%.4ª.%!3�&!,4!3 -����(�������������� G�(��G¢)���� (��(���������G��:����d�=;<A:� ����hÔ�d�%�G�����������G���G:�"È�����d�!G��G��G9� �G�G� )GI���G�� G ��d�� /�9� ��G��G9��G�G P9� �����/�� �:����GhÔ�d�<;D�������� encerrar surge alimentando ainda mais o circuito confusional gerador de culpa. O desapego é um sentir que mui- tas correntes religiosas chamam para REmEXÎO�� .ÎO� Ï� Ì� TOA� QUE� FAZEM� ISSO�� uma vez que entram sempre para ten- tar minimizar o grande impacto da consciência do desamparo que a ideia DA� MORTE� NOS� PROVOCA�� 3UPOSTAMENTE� somos a única espécie que teria consci- ência de sua existência, talvez aí resida O�SEGREDO�DE�DESEJARMOS�TANTO��/�MEDO� que responde a essa questão nos cega no sentido de entendermos que a vida é uma sucessão de ganhos e de perdas, QUE�PARA�A�mEXIBILIDADE�QUE�A�VIDA�EXIGE� precisamos aprender a deixar partir e A�DESPRENDER SE�DO�QUE� JÉ�NÎO�VINCULA�� 5MA�SÏRIE�DE�46�QUE�VEM�BATENDO�FOR- te nesse tema é Leftovers, que passeia pelos contornos da questão de forma despudorada e brinca com o delírio que ela pode abrir. As religiões, via de regra, buscam seu sustento aí. Aprendemos desde muito cedo que a ausência é ameaçadora, começa ali nos distanciamentos maternos, mesmo quando saudavelmente representam apenas faltas momentâneas. Demora- -se toda uma infância para que se possa prescindir da presença permanente de quem nos fornece a primeira matriz do amor (cuidado). Aprendemos na ado- lescência que é preciso uma dose de raiva para afastar-se desse vínculo em busca de alguma autonomia, é necessá- rio certa tensão e um deslocamento da GRATIlCA¥ÎO��COISA�QUE�MAIS�UMA�VEZ�SE� organiza via a sexualidade, nessa fase JÉ�EM�SUA�PLENITUDE�DE�BUSCA�E�DESLIZA- MENTOS��%SSAS�EXPERIÐNCIAS� FUNDAM�AS� relações que atravessam todo e qual- QUER�ACONTECIMENTO��SEJA�ELE�DE�ORDEM� PESSOAL��SEJA�DE�TODO�UM�GRUPO�OU�AIN- da como um sentir coletivo. Podemos ser a criança ressentida ou o adulto que entende a perda como algo que poderá IMPULSIONAR�OS�NOVOS� VÓNCULOS��%SSA� Ï� A�MENSAGEM�QUE�O�-ONSTRO�TENTA�COM� TODAS� AS� SUAS� FOR¥AS� COMUNICAR� A�#O- nor, que se encontra perdido em sua raiva, revolta e tentativa de preservar o OBJETO�hABANDONADORv�� #ONCLUIREMOS� COM� O� NOSSO� PEQUE- no bravo menino que é preciso apren- DER� A� SOLTAR�� A� DESPRENDER SE� DO� OBJETO� quando ele nos amarra ao núcleo do RESSENTIMENTO�� 1UE� A� VIDA� PEDE� PAS- sagem e requer uma boa dose de cora- gem de soltar-se para que a estagnação não alimente monstros em sentimentos que estragam o belo que havia antes do lM��/S�MONSTROS� INTERNOS� NÎO� NASCEM� à toa, trazem recados que precisam de ESCUTA� E� DESDOBRAMENTOS�� 5M� SINTOMA� assustador quer comunicar, quer tam- BÏM� CURAR�� 0OR�MAIS� CONTRADITØRIO� QUE� isso possa parecer, não são os sintomas O�MAL� QUE� ASSOLA�O� SUJEITO�� ISSO�PORQUE� em parte eles são também uma tenta- TIVA�DE�CURA�� E� ESSE�lLME�Ï�UMA�VERDA- deira aula sobre esse aspecto no qual a 0SICANÉLISE�ORIENTA�TODA�SUA�TÏCNICA��%LA� começou ouvindo as “bocas de ouro” �,ACAN �PARA�ENTENDER�QUE�NOSSOS�PIORES� monstros internos são em parte nossos HERØIS�QUE�BRAVAMENTE�ENFRENTAM�AQUILO� que nos submete. É preciso, sem dúvida alguma, muita coragem para olhar pela JANELA�E�BUSCAR�CONVERSAR�COM�O�ASSUS- TADOR�-ONSTRO�� UMA� ÉRVORE� QUE� SE� SOL- TA�DO�SOLO�E�CAMINHA�PARA� FAZER�#ONOR� COMPREENDER� SEU�PRØPRIO� CONmITO��-AS� como assim, como desprender-se das RAÓZES� E� CAMINHAR�� ¡� SØ� ESCUTAR� O� FAR- falhar das folhas nas árvores, quando o vento passa, que se entenderá com faci- LIDADE�QUE�A�VIDA��DE�UM�JEITO�OU�OUTRO�� remete sempre ao que se mexe, ao que se INQUIETA��AO�mEXÓVEL��AO�QUE�CONTRIBUI�EM� som parao belo caos que é a vida. .� G��G���������������������������������I�����G����G����IG�P���������� �I� ��I���G������`��G���G�G� �����������G������IG�G�� G�� �I�� G ���G��G�\�� ����� �� G��G��G��G IM AG EN S: D IV UL GA Çà O E SH UT TE RS TO CK 70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br PERlL Por Anderson Zenidarci LI BR AR Y OF C ON GR ES S/ W IK IP ED IA GENIAL E POLÊMICO, O BAILARINO VASLAV NIJINSKY TRAZ EM SUA BIOGRAFIA OS INGREDIENTES PARA COMPOR O PERFIL DE UM PERSONAGEM INTERESSANTE E COMPLEXO Frágil revolução da VIDA F ILHO� DE� BAILARINOS� POLONESES� que se apresentavam em tea- TROS� E� CIRCOS�� 6ASLAV� .IJINSKY� ����� ���� � ATUOU� DESDE� OS� �� ANOS� DAN¥ANDO� NAS� APRESENTA¥ÜES� DE� SEUS� PAIS�� )NICIOU� NAS� AULAS� DA� ESCO- LA� DE� BALÏ� DO�4EATRO� )MPERIAL�� EM� 3ÎO� 0ETERSBURGO��NA�2ÞSSIA��CIDADE�ONDE�SUA� MÎE�SE�MUDOU�COM�OS�lLHOS�APØS�TEREM� SIDOS� ABANDONADOS� PELO� PAI�� 6ASLAV� TI- NHA���ANOS��-UITO�APLICADO��SE�DESTACAVA� PELA� HABILIDADE� E� POSTURA�� /� PRIMEIRO� PAPEL�DE�DESTAQUE�VEIO�AOS����ANOS��EM� Le Pavillon d’Armide.�3EU� TALENTO� FOI� RE- CONHECIDO�� 3UA� BELA� APARÐNCIA� SOMADA� AO� DESEMPENHO� EXCEPCIONAL� NA� DAN¥A�� COM�SALTOS�EM�QUE�PARECIA�PAIRAR�NO�AR�E� GRANDE�APURO�TÏCNICO��O�TORNARAM�A�SEN- SA¥ÎO�DO�ESPETÉCULO�E�COMENTÉRIO�GERAL� NO�MEIO�CULTURAL�E�ARTÓSTICO�� %M� ����� FOI� APRESENTADO� AO� EMPRE- SÉRIO�E�DIRETOR�DO�"ALLETS�2USSES��3ERGEI� $IAGHILEV��POR�MEIO�DE�SEU�ENTÎO�NAMO- RADO�� O� PRÓNCIPE� 0AVEL� ,VOV�� �$IAGHILEV� ERA� CARISMÉTICO�� CULTO� E� DE� FORTE� PERSO- NALIDADE�� $IRIGIA� COM� MÎO� DE� FERRO� A� COMPANHIA� COM� O� OBJETIVO� DE� SACUDIR� O�MARASMO�QUE�ACREDITAVA�HAVER� FEITO�O� BALÏ� ESTACIONAR� NO� TEMPO��1UERIA� A� EU- ROPEIZA¥ÎO�DA�DAN¥A�RUSSA�E�ACABOU�POR� REVOLUCIONAR� TOTALMENTE�O�BALÏ��UTILIZAN- DO�O�TALENTO�DE�COREØGRAFOS�INOVADORES�E� DE�ESTRELAS�DE�PRIMEIRA�GRANDEZA��COMO�A� LEGENDÉRIA�BAILARINA�!NNA�0AVLOVA��%SSE� Sua bela aparência somada ao desempenho excepcional na dança o tornaram a sensação no meio cultural e artístico www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 71 PH OT OG RA PH Y DE PA RT M EN T OF T HE IM PE RI AL M AR IIN SK Y TH EA TR E/ W IK IP ED IA AR QU IV O PE SS OA L AOS 29 ANOS, #/-�%315):/&2%.)!�� O BAILARINO ABANDONA OS PALCOS E PERDE A NOÇÃO DA REALIDADE, TENDO O ESTADO CONFUSIONAL #/-/�15!$2/� PREDOMINANTE Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas. /� RELACIONAMENTO� DELES�� QUE� HAVIA� SIDO�MARCADO�PELA�PAIXÎO��AGORA�ERA�DO- MINADO�PELO�DESESPERO��!S�COREOGRAlAS� ASSINADAS� POR� .IJINSKY� REVOLUCIONARAM� AINDA� MAIS� A� DAN¥A�� L’Après Midi d’un Faune� CAUSOU� UM� ESCÊNDALO� SEM� PRE- CEDENTES� AO�MOSTRAR� UMA� SENSUALIDADE� QUASE�AFRONTOSA�PARA�OS�PADRÜES�DA�ÏPO- CA�E�DEPOIS�PORQUE�ROMPIA�VIOLENTAMEN- TE� COM� AS� CARACTERÓSTICAS� FUNDAMENTAIS� DO�BALÏ�TRADICIONAL��.A�COREOGRAlA�Jeux, .IJINSKY�CAUSA�ESPANTO�AO�SE�APRESENTAR� EM�SAPATILHAS�DE�PONTA��TÏCNICA�DO�BALÏ� RESERVADA�UNICAMENTE�ÌS�MULHERES��-AS� .IJINSKY��SENTINDO SE�ABANDONADO�E�SOLI- TÉRIO�EM�EXCURSÎO�PELA�!MÏRICA�DO�3UL�� ATORMENTADO�PELOS�CIÞMES�E� FACILMENTE� INmUENCIADO�E�MANIPULADO��CASA SE�PRE- CIPITADAMENTE� COM�A�CONDESSA�2OMOLA� DE�0ULSZKY��MULHER�OBCECADA�PELO�BAILA- RINO�E�QUE�PASSA�ENTÎO�A�CONTROLAR�A�VIDA� DO� MARIDO�� 4EVE� COM� ELA� DUAS� lLHAS�� +YRA�E�4AMARA�� !O� SABER� DO� CASAMENTO�� QUE� OCOR- REU� EM�"UENOS�!IRES��$IAGHILEV� DEMITE� .IJINSKY��DANDO�O�GATILHO�PARA�A�PRIMEIRA� GRANDE� CRISE� RELACIONADA� AOS� PROBLEMAS� MENTAIS� DO� BAILARINO�� !O� SENTIR SE� SEM� O� APOIO�DO� EMPRESÉRIO� E�NAMORADO�� ELE� ENTRA� NUM� PROCESSO� DE� DESORGANIZA¥ÎO� PSÓQUICA��!OS����ANOS��ESTAVA�SENDO�ACO- METIDO�PELA�ESQUIZOFRENIA��QUE�SE�MANI- FESTOU� INTENSAMENTE� POR� DUAS� CARACTE- RÓSTICAS� BÉSICAS�� ALUCINA¥ÎO� �PERCEP¥ÎO� DAQUILO�QUE�NÎO�EXISTE�REALMENTE �E�DELÓ- RIOS��ALTERA¥ÎO�DO�JUÓZO�CRÓTICO ��!BANDO- NA�OS�PALCOS�E�PERDE�A�NO¥ÎO�DA�REALIDADE�� TENDO�O�ESTADO�CONFUSIONAL�COMO�QUADRO� PREDOMINANTE��$URANTE�OS�TRINTA�ANOS�SE- GUINTES��ELE�PASSOU�POR�INÞMERAS�CLÓNICAS� PSIQUIÉTRICAS�� SEMPRE�MUITO� ALIENADO�DO� MEIO�SOCIAL�E�ATORMENTADO�EM�SEUS�DELÓ- RIOS�E�ALUCINA¥ÜES��ATÏ�QUE��EM�������AOS� ���ANOS�DE�IDADE��MORRE�hO�BAILARINO�LOU- COv�EM�UMA�CLÓNICA�EM�,ONDRES�� TO�MAIS� SUCESSO� PROlSSIONAL�� INCENSADO� POR�SEUS�CONTEMPORÊNEOS�n�SUA�COMPA- NHIA�EXCURSIONAVA�POR� TODO�O�MUNDO�E� RECEBIA� COLABORA¥ÜES� DE� COMPOSITORES� COMO� 3TRAVINSKY�� $EBUSSY� E� 2AVEL� n�� MAIOR�SE�TORNAVA��A�DISTÊNCIA�ENTRE�ELES�� ENCONTRO�DE�DOIS� TALENTOS� INQUIETOS�MU- DOU�TOTALMENTE�A�VIDA�PROlSSIONAL�E�PES- SOAL�DE�AMBOS�E�TAMBÏM�COLABOROU�COM� A�TÎO�DESEJADA�INOVA¥ÎO�DA�DAN¥A�CLÉSSICA�� 3EU�PRIMEIRO�PAPEL�DE�DESTAQUE��DE- POIS� QUE� CONHECEU� $IAGHILEV� E� COME- ¥OU� A� SE� RELACIONAR� COM� ELE�� FOI� COMO� !LBRECHT�� EM� Giselle�� QUE� ESTREOU� EM� 0ARIS� EM� ������ #OM� O�MESMO� PAPEL� O� BAILARINO� PROTAGONIZOU� SEU� PRIMEIRO� ESCÊNDALO�� .IJINSKY� DAN¥OU� SEM� O� CAL- ¥ÎO�QUE�COBRIA�SEU�leotard��A�MALHA�JUSTA� USADA�PELOS�BAILARINOS �EM�UMA�APRESEN- TA¥ÎO�NA�QUAL� ESTAVA�PRESENTE� A� FAMÓLIA� IMPERIAL��.O�DIA� SEGUINTE�� FOI� DEMITIDO� DO�CORPO�DE�BALÏ�DO�4EATRO�-ARIINSKY�� -AS�A�PARCERIA�DOS�DOIS�NÎO�FOI�ABALADA�� AO� CONTRÉRIO�� O� BAILARINO� SE� TORNOU� EX- CLUSIVO�DA�COMPANHIA�DE�$IAGHILEV��&OI� UM�PERÓODO�DE�GLØRIA�� COM�UMA� SUCES- SÎO�DE�EXCURSÜES�E�ÐXITO��%NCORAJADO�POR� $IAGHILEV��POR�QUEM�MOSTRAVA�VERDADEI- RA� ADORA¥ÎO��.IJINSKY� DECIDE� ASSUMIR� A� FUN¥ÎO�DE�COREØGRAFO�PARA�SEUS�ESPETÉ- CULOS��-AS�NEM� TUDO�ERAM�mORES� ENTRE� O�CASAL��$IAGHILEV�APRESENTAVA�UM�QUA- DRO�DE�TRANSTORNO�OBSESSIVO COMPULSIVO� �4/# � DE� LIMPEZA� E� FOBIA� A� BACTÏRIA� E� GERMES�� POIS� APRESENTAVA� VERDADEIRO� HORROR� A� DOEN¥AS� E� TOMAVA� CUIDADOS� EXTREMOS�PARA�NÎO�SE�CONTAMINAR��VIVIA� LIMPANDO�AS�MÎOS��NÎO�PERMITIA�QUE�SEUS� LÉBIOS�FOSSEM�BEIJADOS�E�USAVA�UM�LEN¥O� IMACULADAMENTE� LIMPO�PARA�PROTEGER� A� FACE��!�GRAVIDADE�DA�DOEN¥A�DIlCULTAVA� SUA�VIDA�ÓNTIMA�E�GERAVA�INSEGURAN¥A�EM� .IJINSK��QUE�POR�SUA�VEZ�APRESENTAVA�UMA� PERSONALIDADE�EXTREMAMENTE�DEPENDEN- TE� E� FRÉGIL�� SOLICITANDO�DEMASIADA� AJUDA� PARA� DECISÜES� MÓNIMAS� DO� DIA� A� DIA�� �!NTAGONICAMENTE�� NOS� PALCOS� ERA� UM� SER�SUPREMO��SEGURO��INTEIRO�E�REVESTIA SE� DE� FOR¥A�DESCOMUNAL� AO� ENCARAR� E�HIP- NOTIZAR� A�PLATEIA��!LIADO�A�UMA� TÏCNICA� PERFEITA��SEU�CARISMA�LEVOU�A�TRANSFORMA- ¥ÜES�SIGNIlCATIVAS�DO�BALÏ�DE�SEU�TEMPO�� SENDO� SEU�MAIOR� TRIUNFO�ELEVAR�A�lGURA� MASCULINA�Ì�MESMA�ALTURA�QUE�O�ELEMEN- TO�FEMININO� �5M�DEUS�DE�SAPATILHAS�QUE� JAMAIS�SOUBE�CONVIVER�COM�AS�LIMITA¥ÜES� IMPOSTAS�PELA�CONVIVÐNCIA�SOCIAL��1UAN- Nijinsky apresentava uma personalidade extremamente dependente e vulnerável, solicitando demasiada ajuda para decisões mínimas do dia a dia 72 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br in foco por Michele Müller Quem disse que EDUCAR é FÁCIL? EDUCADORES DEVEM SER, ACIMA DE TUDO, BONS COMUNICADORES. E BONS COMUNICADORES USAM TODOS OS RECURSOS NECESSÁRIOS, COM CRIATIVIDADE, PARA MANTER O PÚBLICO INTERESSADO E ATENTO forem meninos, a probabilidade au- menta em cerca de 40%. Resultados semelhantes já foram colhidos em estudos realizados naAlemanha, Ca- nadá, Espanha e Israel, não deixando dúvidas: uma quantidade alarmante de crianças, no mundo todo, tem sua Instituto Norueguês de Saúde Públi- ca concluíram que os mais novos da sala (que naquele país, assim como no Brasil, são nascidos entre outu- bro e dezembro) têm quase o dobro de chance de serem medicados com psicotrópicos se forem meninas e, se U m novo estudo relaciona imaturidade ao diagnóstico de transtorno de déf icit de atenção com hiperatividade (TDAH). Após analisar informações de quase 510 mil crianças ao longo de uma década, pesquisadores do www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 73 IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E AR QU IV O PE SS OA L imaturidade avaliada como distúrbio e tratada com estimulantes. Se a forma como as crianças são ensinadas pudesse ser avaliada com a mesma precisão com que se cruzam dados de calendários e diagnósticos, sem dúvida encontraríamos um fator ainda mais fortemente relacionado aos problemas de atenção. Os maio- res índices de alunos com dif iculda- des para se concentrar certamente proviriam de classes conduzidas por professores desmotivados e pouco criativos. Muitos esforços são dirigi- dos para que as crianças se adaptem ao sistema educacional, quando o que mais precisamos é adaptar o sistema educacional a elas. Poderíamos colocar em discussão disciplinas, grades horárias, quanti- dade e teor de conteúdo, arquitetura das escolas, métodos de ensino, siste- mas de avaliação e outros tantos fa- tores que compõem a fórmula impre- cisa de uma educação de qualidade. Encontramos variações de tudo isso com mais ou menos sucesso, sempre dentro de limites traçados por pro- cessos legais e burocráticos e, por- tanto, lentos. Mas se restringirmos a discussão a fatores mais tangíveis e não menos impactantes, dependentes apenas de mudanças de perspectivas e posturas na hora de ensinar, já po- demos alcançar grandes resultados em curto prazo. Os ensinamentos que consegui- mos transformar em brincadeira, com a participação ativa da criança, são aprendidos com atenção e com- prometimento. Todas as obrigações das quais elas escapam diariamente, para desespero dos pais e professores, também são magicamente cumpridas quando transformadas em desaf ios. Mas para isso precisamos reinventar a forma como costumamos impor ta- refas e ensinar. Muitas vezes, temos que lançar disputas, inverter papéis, estabelecer limites de tempo, contar pontos, lan- çar adivinhas, criar charadas. Enf im, precisamos rever os hábitos desgas- tantes e pouco ef icientes de exigir atenção aos longos discursos verbais e de repetir as ordens desobedecidas gritando e, ao invés disso, inventar novas regras e maneiras de ensinar, de preferência divertidas, num exercí- cio constante de criatividade. Crianças são naturalmente atraí- das pelo inesperado. Adoram ser sur- preendidas, são fascinadas pelo inco- mum e motivadas pela criatividade – que pode ser muito divertida, mas exige atitudes que nos tiram do con- forto da rotina e de tudo o que é feito com o mínimo de esforço possível. Ser criativo implica abandonar ve- lhos conceitos e investir mais energia em tarefas que realizamos automati- camente – mudanças que desaf iam o comodismo ao qual nos apegamos na vida adulta e colocam em questão também a necessidade de avaliarmos nossas prioridades. Ou seja, a via para chegar a soluções criativas nunca é a mais fácil. Mas quem disse que edu- car é fácil? O ensino não acontece sem uma comunicação ef icaz. Bons pais e bons professores são, acima de tudo, bons comunicadores. E todo bom comu- nicador é necessariamente criativo: sempre vai procurar fugir do óbvio em seu discurso. E mesmo quando a obviedade está presente no conteúdo que precisa transmitir, ele vai buscar se diferenciar na forma como passa a informação. Af inal, sua intenção é, acima de tudo, manter a atenção do ouvinte e, para isso, sabe que deve surpreendê-lo constantemente; deve fazer com que ele se identif ique emo- cionalmente com o conteúdo e que interaja com as informações, criando novas relações. A comunicação só se estabelece quando há, além da atenção, compre- ensão. Se um meio de comunicação não consegue manter a atenção do leitor ou do espectador, nem conse- gue informá-los de forma clara, cer- tamente vai buscar novas maneiras de narrar os fatos, pois culpar o públi- co e insistir no formato que não foi aceito não irão evitar o fracasso do veículo. Pois a educação não deveria funcionar diferente. Nem em casa, nem na escola. Pensamento crítico e criatividade não costumam ser produtos da leitu- ra restrita a livros didáticos e apos- tilas. Muito mais provável que se de- senvolvam nos momentos em que os livros são fechados e as longas expli- cações – destinadas a serem esqueci- das – trocadas por atividades que en- volvem o engajamento das crianças. Quando nos comprometemos em es- tabelecer uma comunicação ef icaz com as crianças, a imaturidade que impede muitos de se sentarem quie- tos para ouvir passivamente deixa de ser considerada doença e trans- forma-se em um desaf io saudável à nossa criatividade. Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br MUITOS ESFORÇOS SÃO DIRIGIDOS PARA QUE AS CRIANÇAS SE ADAPTEM AO SISTEMA EDUCACIONAL, QUANDO O QUE MAIS PRECISAMOS É ADAPTAR O SISTEMA EDUCACIONAL A ELAS 74 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br AMEAÇAAMEAÇA www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 75 Roberta de Medeiros é jornalista científica. medeiros.revista@gmail.com Por Roberta de Medeiros Neurose de GUERRA Traumas provocados pela violência urbana fazem mais vítimas que grandes guerras. As sequelas vão muito além das perdas materiais Situações de grande estresse, como um acidente de carro ou um sequestro, podem deixar marcas pro-fundas. À medida que a exposição à violência urbana aumenta, também maiores são os casos de trauma, especialmente entre adultos e adolescentes. A Organização Mundial da Saúde só veio reconhecer o pro- blema em 1994, a partir da revisão da Classificação Internacio- nal de Doenças (CID). Depois dessa origem, o transtorno é hoje um dos diagnósticos mais populares da Psiquiatria e já começa a fazer parte do acervo popular com força semelhante à que acon- teceu em relação ao termo depressão ou pânico. Em apenas uma década do surgimento do conceito, 50 cen- tros de estudo e tratamento foram criados nos Estados Unidos. Em 1970 apareceram apenas 20 trabalhos científicos sobre o trauma. Em 1990 foram 150 referências e, em 1999, chegaram a mil. A maioria desses trabalhos é de autores dos Estados Unidos, Austrália e Israel. Crianças, em geral, são as maiores vítimas. Pesquisas feitas por autores que analisam os eventos capazes de gerar traumas em meninos concluíram que em 100% dos casos a experiência será traumática, independentemente de aspectos como o nível de desenvolvimento da vítima, sua história de vida ou a qualida- de de suas relações familiares. Pesquisadores encontraram o expressivo índice de 100% de incidência de trauma em meninos que foram sequestrados no ônibus do colégio em Chowchilla, na Califórnia, nos Estados Unidos. Outro estudo obteve o índice de 94,3% ao analisar a12 3R F E SH UT TE RS TO CK 76 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br AMEAÇA frequência do trauma em estudantes adolescentes que, quando estavam na escola, sofreram ataque de um franco-atirador. Diversos especialistas têm son- dado o impacto dessas situações na população. O ranking dos principais fatos geradores de traumas são: se- questro, ataque de franco-atirador, abuso sexual, agressão física, fura- cão, terremoto, guerra, incêndio, de- sastre nuclear, violência doméstica. No Brasil, a ocorrência é maior em relação a acidentes de carro e violên- cia familiar. Nesse caso, a chance de a vítima desenvolver trauma é de 24%. Sensações repetidas O quadro clínico é caracterizado pela presença de temores in- fundados intensos, agitação e a sen- sação de reviver o evento traumáti- co ocorrido. Podem surgir imagens mentais, pensamentos recorrentes ou sonhos repetitivos, relaciona- dos com o episódio traumático. O paciente pode agir como se o even- to traumático estivesse realmente acontecendo de novo. O transtorno é considerado de ordem emocional com ligação a al- gum evento traumático como, por exemplo, história de abuso na in- fância, violência sexual, violência física, ter presenciado alguém doen- te ou gravemente ferido ou ter par- ticipado de algum desastre natural como terremoto ou enchente. E está em quinto lugar no ranking de doen- ças mentais. Cerca de 60% dos pacientes re- conhecem haver sofrido alterações psíquicas entre as primeiras horas e três dias depois do choque vivido com a situação traumática. Imedia- tamente após o trauma, os sintomas mais frequentes são a ansiedade, o estado de aturdimento e a desorien- tação parcial em relação às ativida- des cotidianas. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a duração mínima dos sintomas é de um mês. Quando não está associado a algum outro problema psicológico, o trauma é transitório. Os sintomas, nes- se caso, ocorrem no período de quatro semanas após o evento traumático e desaparecem dentro de algumas horas ou dias. Esse período de latência médio é de 4,5 meses. Permanece na memória Pesquisadores testaram proble-mas no aprendizado e na memó- ria de pessoas vítimas de estupro. Foram 15 vítimas que sofriam com o trauma, comparadas a 16 pesso- as, também vítimas de estupro, mas sem esse transtorno. O grupo ainda 123 RF E S HU TT ER ST OC K �*���������� G������G� Não há dúvida de que a guerra marca in- delevelmente as gerações futuras. Um estudo de Pediatria respalda esse fato em estatísticas. Um terço das crianças da Bósnia que participaram do trabalho - rea- lizado com 364 menores entre 6 e 12 anos - foi testemunha de lesões ou da morte de algum de seus pares ou irmãos. Como consequência, todos eles apresentavam sintomas de problemas psicológicos. O transtorno de estresse pós-traumático aparecia em 94% deles. ��*��G���GhÔ��(�� �G�� G�-Gb ���`� ��I����I�������G��G�I���������G��������� ���<DD?e��� ��\���� ��� �G��`���I���� �G��������G���� G�+�����G���G9�I������hG� ������G����G���������� ������Ô������Ë��I� O quadro clínico é caracterizado pela presença de temor intenso, agitação e a sensação de reviver o evento traumático. Podem surgir também sonhos repetitivos relacionados ao episódio www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 77 torturas físicas e psíquicas, a opres- são política, a negligência socio- econômica, o abandono cívico, o sequestro, o terrorismo. “Algumas pessoas, quando expostas a situa- ções inesperadas, não conseguem tirar as ‘cenas’ da cabeça e podem, por exemplo, até chegar a reviver as sensações de sofrimento do momen- to do atentado ou acidente”, explica a psiquiatra Dilza Feitosa, membro da diretoria da Sociedade Pernam- bucana de Psiquiatria. Lesões físicas Sugerindo que as lesões fí-sicas nem sempre acompa- nham o transtorno de estresse O TRAUMA DOS REFUGIADOS PARA SABER MAIS É notável o sofrimento dos refugiados que testemunham o assassinato dos seus familiares ou amigos e que, ao conseguirem fugir, sendo por vezes os únicos sobreviventes de suas famílias, carregam consigo a culpa e o sentimento de abandono. Estudo feito com refugiados em Portugal, conduzidos pela pesquisadora Maria Cristina Ferraz Saraiva Santinho, mostrou que muitos refugiados não conseguem chegar à verbalização do sofrimento e, assim, permanecem num silêncio profundo. “Sobre as vítimas da ‘banalidade do mal’, como referia Hannah Arendt, já não é sequer possível encontrar o rasto, perdidos que estão numa cidade/sociedade que desconhecem e que os empurra tragicamente para a invisibilidade dos corpos e da existência, na qual o próprio conceito de humano expandiu os seus limites”, diz a pesquisadora. Muitos refugiados não têm acesso à consulta psiquiátrica ou, mesmo após uma consulta psiquiátrica malsucedida, abandonam a tentativa de reconhecimento do seu sofrimento. *���G��������\� I���� ��G �� �� �� ������I���G�� I������GhÔ��G� G������������ ��G��P��I�9�I���� ����`��G� ��GH���� ��� ��G������G���G�9� �����P����������� ���G������G������ �� ���hG������G�� foi comparado com outras 16 que não haviam sido expostas a experi- ências traumatizantes. O grupo que tinha trauma apresentou uma inci- dência de 53% de depressão severa, além de leve deficiência na capaci- dade de memorização. O problema só foi observado em 6% das vítimas de estupro que não ficaram trauma- tizadas. Nenhuma pessoa do grupo que não foi exposta a experiências estressantes tinha depressão. A reexposição a situações que recordam o trauma são muito peno- sas às pessoas com transtorno por estresse pós-traumático. Em recente trabalho de José Luis Medina Amo- re, José Luis Pérez e Inigo Gancedo, constatou-se que essa situação foi re- latada por 86% das vítimas, e houve reação psicofisiológica (vegetativa) na reexposição em 79% dos casos. São de diversas ordens as ações violentas sobre o psiquismo huma- no. Entre as principais, citam-se as No Brasil, a ocorrência é maior em relação a acidentes de carro e violência familiar. Nesse último caso, a chance de a vítima desenvolver trauma é de 24% 78 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br AMEAÇA �+Ë��I��I����I������È�I�G� A síndrome do pânico é uma das con- sequências do estresse pós-traumático. Ela se caracteriza por uma ansiedade aguda na qual ocorrem crises inespe- radas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente. TRANSTORNOS FÓBICOS PARA SABER MAIS As percepções pessoais extremas sobre segurança são negativas, tanto para a pessoa que se considera muito segura e invulnerável, como em caso contrário. Do ponto de vista clínico, os transtornos fóbicos dominam o quadro inicial depois do contato com a violência cega, havendo temor exagerado e impulsos de sair de lugares públicos. Em médio prazo são frequentes as depressões persistentes como autodepreciação e sentimentos de ser uma carga para os demais. A evolução do transtorno de estresse pós-traumático nesses casos costuma ser muito prolongada e, finalmente, poderá ocorrer alteração da personalidade. Essa mudança se apresenta com alterações do caráter, sendo os sintomas mais frequentes a restrição afetiva e relacional, gerando isolamento. Pode haver também alguns transtornos psicossomáticos, tais como hipertensão, alterações de tireoide, diabetes, úlcera digestiva, eczemas, urticária, asma brônquica etc. pós-traumático, um estudo mos- trou que a maioria dos pacientes não sofreu lesões físicas através do acontecimento traumático(45%), ou elas foram muito leves (22%). Em torno de 15% precisaram de um breve período de hospitalização e apenas 18% necessitaram de um pe- ríodo mais prolongado. Alterações psíquicas imediatas ao trauma vivenciado surgiram em 62% dos pacientes, os quais reconhe- ceram ter sofrido desconforto emo- cional nas primeiras horas até um máximo de três dias depois do im- pacto do acontecimento traumático. Os sintomas mais frequentes desse desconforto emocional ime- diato foram a ansiedade, em geral, de forma f lutuante (ora com mais ansiedade, ora com menos), um certo estado de aturdimento com desorientação parcial em relação ao entorno e, finalmente, alterações vegetativas. As alterações dissocia- tivas (da linhagem histérica) apare- cem em 20% dos pacientes. Para o típico transtorno de es- tresse pós-traumático o período de latência entre o aparecimento da sintomatologia correspondeu, em média, a 4,5 meses. Entretanto, no transtorno de estresse pós-traumáti- co observa-se que as alterações emo- cionais podem ter início desde o mo- mento do trauma até 42 meses depois da ocorrência do fato traumático. Aceita-se ainda a existência de um grupo variável de pessoas nas quais os sintomas de estresse pós- -traumático se tornam permanen- tes. A real incidência desse grupo de cronificados é, usualmente, baixa ou muito baixa na maioria de estu- dos e elevada (até 25%) em alguns outros poucos estudos. Em seu estudo, o psiquiatra Ivan Figueiredo salienta que, nas situ- ações em que há possibilidade de guerra, o estresse pós-traumático passa a rondar as sociedades. “Foi assim na Guerra Civil Americana (síndrome do coração irritável), na Primeira Guerra Mundial (choque da granada), na Segunda Guerra Mundial (síndrome de esforço, neu- rose de guerra), na Guerra do Vietnã e, mais recentemente, nos atentados do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono.” Curiosamente, os pesquisadores têm dado pouca atenção aos desastres ocorridos no Brasil, sobretudo mor- tes por acidentes automobilísticos e por armas de fogo. “Para que o diagnóstico do es- tresse pós-traumático seja feito, clí- nicos e pacientes têm que superar diversas barreiras de comunicação. Ambos podem ficar constrangidos em abordar temas que estejam asso- ciados ao segredo e à vergonha.” O psiquiatra lembra a importância de questionar o problema de forma di- reta. Do contrário, o paciente dificil- mente tomará a iniciativa de revelar relevantes, tais como ter sido abusa- do sexualmente na infância. )����G�������� ����������� �`�¢��G��P��I�9� �H����G¢������� G��G����Gh��� ���I���G����� ��� ������^I��� �� �� ���������� �� ��G��G�G�\�� ?=������� ������ G��I���È�I�G� �� �G�����G��P��I� 12 3R F E SH UT TE RS TO CK MOMENTO DO LIVRO Livro: 3 Steps English Número de páginas: 128 Editora: Escala Are you ready? Welcome and enjoy the journey! Este curso vai ajudá-lo a apri- morar o vocabulário e estimular a expressão oral e escrita de forma Veja outras informações no site: www.escala.com.br À venda nas bancas! clara e correta. Com abordagem moderna e proposta dinâmica, você conduzirá o ritmo dos trabalhos de acordo com sua disponibilidade. O conteúdo coloca seus conhe- cimentos em situações cotidianas do uso da língua, partindo das mais simples para as que demandam maior conhecimento e habilidade. Temas interessantes, exercícios que contemplam diferentes estilos de aprendizagem, vocabulário e gramá- tica e trabalho integrado das quatro habilidades linguísticas. O material inclui, também, um CD de áudio para as atividades. 80 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br em contato PRODUÇÃO FEMININA O universo feminino tem aspectos muito interessantes mesmo. A edição 135 da Psique traz uma análise bem bacana de uma dessas vertentes, sob a luz dos indicadores de saúde mental preconi- zados por Freud, o pai da Psicanálise: a capacidade da mulher de amar e produzir. Tem tudo a ver. A questão da produção, sob a perspectiva das atividades manuais, tem ganhado cada vez mais es- paço nos debates. Esse tipo de trabalho, sem dúvida, se relaciona com a busca das próprias origens DA�MULHER��O�QUE�VEM�CAUSANDO�UMA�ONDA�DE�RESSIGNIlCA¥ÎO�DAS�PRÉTICAS�MANUAIS�COMO�FORMA� de agrupamento humano afetivo de pessoas com pensamentos comuns. O artesanato, talvez a PRINCIPAL�FORMA�DE�TRABALHO�MANUAL��SE�TORNOU�DElNITIVAMENTE�TEMA�CENTRAL�DE�ESTUDOS��PESQUISAS� e publicações. Parabéns pelo trabalho desenvolvido pela equipe que faz a revista. Roberto Santana, por e-mail ALMA BRASILEIRA Eu aprendo mais a cada edição da revista Psique. Dessa vez, no número 136 pude tomar conhecimento do que é o arquétipo trickster�� QUE��POR�DElNI¥ÎO�� Ï�O� ELEMENTO� que integra o inconsciente coletivo, re- presentado por personagens do folclore, da mitologia, poesia, teatro, cinema e li- teratura. O texto cita Jung, que falava que em momentos de profundas interrogações políticas e incertezas econômicas e espi- rituais, como o atual, o ser humano volta seus olhos para o futuro. E esse arquétipo ganha mais em importância na medida em que ele se enquadra em questões como subversão não violenta, mediação de opostos, identidade e sentido no âmbito da cura da alma brasileira e o diálogo que o arquétipo propõe com todas as estruturas narrativas, as formas de socialização para se chegar à possibilidade de um recomeço. Nada mais indicado para os dias atuais. Cláudio Mathias, por e-mail O SER HUMANO INTEGRADO Abordar a saúde levando em conta uma perspectiva holística do ser humano me parece uma prática bem interessante. Sempre acreditei ser importante dar o valor devido a questões como qualida- de de vida, felicidade e bem-estar. To- dos esses fatores têm relação direta com a saúde. O artigo veiculado no número 136 da revista deixa isso bem claro, con- siderando a saúde como decorrente do equilíbrio entre os seus corpos e as fun- ções orgânicas/físicas, mental/cogniti- vo, emocional/psicológico e espiritual/ transcendente deles decorrentes. Da saú- de pessoal deriva a saúde do coletivo e, a partir daí, a importância da prevenção e do cuidado nos seus aspectos globais. O material fala também em Psicologia Integral, que, como o próprio nome diz, se baseia na integração de todas as áreas DO�CONHECIMENTO��CIÐNCIA��ARTE��lLOSOlA�E� espiritualidade. Vida longa à Psique. Silvia de Abreu, por e-mail OS MALES DO ESTRESSE Que o estresse é o grande mal da vida moderna não é novidade para ninguém. A prova, de acordo com artigo publicado na edição 136, é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando ao longo dos anos como o estresse tem mexido com o bem-estar geral da população mundial. Em dados atuais, a doença depressiva pas- sou da quarta para a segunda colocação entre os problemas que retiraram a capa- cidade de trabalho das pessoas no ano de 2016. Antes, ela vinha atrás de doenças cardíacas, câncer e acidentes. O pior é que a previsão dá conta de que seja a primeira em 2030. A depressão, muitas vezes causa- da pelo estresse, tem sido um grande fator que contribui para uma vida sem qualida- de, de aumento de doenças autoimunes, bem como para o câncer. Infelizmente, é uma realidade difícil que me parece sem volta. Aconselho a leitura. Carolina Bittencourt, por e-mail O PAPEL DA PSICANÁLISE Adoro as entrevistas da Psique. A que saiu no número 136 não fugiu à regra. Dessa vez foi com a psicóloga e psica- nalista Magda Khouri. Abordando te- mas profundos, mas por meio de uma linguagem acessível até para quem não é da área, a entrevistada procurou en- focar, entre outros assuntos, o futuro da Psicanálise, o papel atual do psicanalis- ta diante de ummundo novo, cheio de mudanças e velocidade, além de várias OUTRAS�REmEXÜES�EXIGIDAS�PELA�SOCIEDADE� contemporânea. E ela ainda faz um aler- ta. “O imperativo de ser feliz, de se estar sempre bem, com um corpo perfeito, as- SOCIADO�Ì�PRESSA�DE�lCAR�LIVRE�DAS�ANGÞS- tias, pode levar a uma forma imediatista de buscar a solução de problemas, mui- tas vezes só via descarga das tensões. Os excessos de exercícios físicos, de consu- mismo, de baladas, por exemplo, podem ser formas ilusórias de tentar minimizar o sofrimento psíquico”. Excelente! Luiza Barroso, por e-mail www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 81 CONSELHO EDITORIAL AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA. ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de LIVROS�E�ARTIGOS�CIENTÓlCOS��PARECERISTA�DE�DIVERSAS� revistas e responsável técnica do Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do RJ. ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta cognitiva pelo Institute of Psychiatry, Universidade de Londres. Diretora do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), atua em clínica, faz treinamento, consultoria e pesquisa. Presidente honorária, ex-presidente e fundadora da ABPC. ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor EM�#IÐNCIAS�NA�ÉREA�DE�.EUROlSIOLOGIA�DA�-EMØRIA e Atenção pela Universidade de São Paulo, onde também é professor no curso de Biociência e coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no Instituto de Biociências. CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, professor associado de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social. DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. Pesquisadora na área da Psicologia Moral e Evolutiva. Professora universitária. DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, professora e supervisora clínica universitária e do CEP, autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise, e de vários outros artigos publicados. LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva Construtivista. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Atua em clínica e consultoria. LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da PUC-SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. Coeditora da revista Junguiana. Diretora de Psicologia da Ser em Cena - Teatro para Afásicos. MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia Hospitalar em Ortopedia. PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista, psicanalista, consultora editorial do programa de entrevistas da FNAC e membro correspondente do Espaço Moebius de Psicanálise de Salvador (BA). PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM. LINHA DIRETA IM AG EN S: 1 23 RF /A RQ UI VO C IÊ NC IA E V ID A CANAL FACEBOOK A revista Psique traz muitas informações interessantes também nas redes sociais. Acesse a fanpage: www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida A internet revolucionou o acesso às infor- mações. Em relação à saúde, não é diferen- te. Atualmente, é possível, por exemplo, VERIlCAR�RESULTADOS�DE�EXAMES�NO�ENDERE- ço eletrônico do laboratório ou acessar si- tes sobre saúde e planos de saúde sem sair de casa. Apesar dos diversos benefícios da web para a saúde humana, uma manifesta- ção psicopatológica vem sendo discutida, além da dependência de jogos eletrônicos, internet, cibersexo e celular: a cibercon- dria. O nome é um neologismo dos termos ciber e hipocondria. Apesar de parecer ofensivo, pesquisadores relevam que a intenção é que a etimologia da cibercon- dria não seja compreendida como sendo pejorativa. A cibercondria está relaciona- da à ansiedade induzida como resultante de buscas on-line relacionadas à saúde. Mais informações em matéria completa, publicada na edição 102, disponível no site www.psiquecienciaevida.uol.com.br Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP CEP: 02725-050 – Telefone - (11) 4114-0965 PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _ Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes. REALIZAÇÃO EDITORA: Gláucia Viola EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Adriano Perez Climaco de Freitas; Carla Konrad; Estela Guida Teixeira; Giovani Silva; Lucas Emmanuel Alves de Lara; Lucas Vasques Peña; Marineide Almeida Fernandes; Milton Cesar Ferlin Moura; Nagy Pereira Sardinha; Priscila Parada; Roberta de Medeiros; Sheila Giardini Murta. REVISÃO: Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Guido Arturo Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas. www.portalespacodosaber.com.br Ano 12 - Edição 137 REALIZAÇÃODIRETO COM A REDAÇÃO Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000 São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2179 SP (CAMPINAS): (+55) 19 98132-6565 SP (RIBEIRÃO PRETO): (+55) 16 3667-1800 RJ: (+55) 21 2224-0095 RS: (+55) 51 3249-9368 PR: (+55) 41 3026-1175 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218 SC: (+55) 47 3041-3323 Tráfego: material.publicidade@escala.com.br ASSINE NOSSAS REVISTAS (+55) 11 3855-2117 – www.assineescala.com.br EDIÇÕES ANTERIORES Adquira as edições anteriores de qualquer revista ou publicação da Escala (+55) 11 3855-1000 www.escala.com.br (sujeito à disponibilidade de estoque) ATENDIMENTO AO LEITOR De seg. a sex., das 9h às 18h. 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Nós temos uma ótima impressão do futuro Ethel Santaella DIRETORA EDITORIAL Denise Gianoglio COORDENADORA EDITORIAL PUBLICIDADE GRANDES, MÉDIASE PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS DIRETORA DE PUBLICIDADE: Rosana Diniz GERENTE DE NEGÓCIOS: Claudia Marin e Guenda Galeazzi PROJETOS ESPECIAIS: Guilherme Monteiro REPRESENTANTES Interior de São Paulo: L&M Editoração, Luciene Dias – Paraná: YouNeed, Paulo Roberto Cardoso – Rio de Janeiro: Marca XXI, Carla Torres, Marta Pimentel – Santa Catarina: Artur Tavares – Regional Brasília: Solução Publicidade, Beth Araújo. www.midiakit.escala.com.br COMUNICAÇÃO, MARKETING E CIRCULAÇÃO GERENTE: Paulo Sapata IMPRENSA – comunicacao@escala.com.br VENDAS DE REVISTAS E LIVROS AVULSOS (+55) 11 3855-2142 – atendimento@escala.com.br ATACADO DE REVISTAS E LIVROS (+55) 11 3855 2147 adm.atacado@escala.com.br Av. 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Se ainda conserva alguma integridade na razão, perdeu total MENTE�O�LIVRE ARBÓTRIO��QUE�SE�ENCONTRA�DOMINADO�PELO�VÓCIO��%� terceiro, em suas condições precárias e incapaz, por questão humanitária, precisa tomar banho, usar roupas limpas, receber alimentação, repor os sais minerais e as vitaminas, combater infecções, hidratar etc. E, é claro, toxiprivação completa. Al guém conhece alguma outra forma de fazer isso, ou de tratar UM�ATROPELADO�EM�ESTADO�GRAVE��OU�UM�ENFARTADO�CARDÓACO��OU� uma apendicite supurada sem internar o paciente? Lembremos, antes de responder, existem, sim, os direitos humanos, mas existem também os deveres humanos, que nós mé dicos sabemos que há momentos em que estes se sobrepõem àqueles, caso não estejam alinhados, sobretudo quando o tema é saúde, vida e a própria dignidade dos nossos semelhantes. Porém, desde já, internação compulsória não pode ser me dida isolada. É apenas o primeiro passo. Precisa muito mais do que isso. Do contrário, soará tão somente como higienismo, UMA�ESPÏCIE�DE�LIMPEZA�SOCIAL��O�QUE�Ï�INCONCEBÓVEL�� AR QU IV O PE SS OA L/ SH UT TE RS TO CK E R OV EN A RO SA /A GÊ NC IA B RA SI L É CERTO�QUE�NENHUM�MÏDICO�QUE�TENHA�NO�MÓNIMO�UMA� boa formação acadêmica deixaria de recomendar a in ternação ao atropelado com traumatismo de crânio, ou INFARTADO�CARDÓACO��OU�DIANTE�DE�APENDICITE� SUPURADA�� No caso da Psiquiatria, nenhum psiquiatra minimamente bem formado deixaria de internar certos doentes mentais, por exem PLO��OS�QUE�ESTÎO�EM�mØRIDO�SURTO�PSICØTICO�OU�QUANDO�SE�TRATA� DE�GRAVE�RISCO�DE�SUICÓDIO� Doença mental é como outra qualquer; porém, no caso das ENFERMIDADES�FÓSICAS��O�MAL�ESTÉ�PREDOMINANTEMENTE�NA�res cor- porea (corpo), ao passo que, na doença mental, incide na res co- gitans (mente). Isso tem algumas implicações: o médico do cor po, quando solicita a internação, é por uma causa que muitos PODEM�VER��ESPECIALISTAS�OU�LEIGOS��POIS�A�MANIFESTA¥ÎO�CLÓNICA� mostra com clareza que “o caso é grave”. Já quando o médico DA�MENTE� IDENTIlCA� A� NECESSIDADE� DE� INTERNA¥ÎO��MUITOS� NÎO� ENXERGAM�COM�NITIDEZ�QUE�A�MEDIDA�Ï�IMPRESCINDÓVEL�� %M� RAZÎO� DISSO�� VÉRIAS� PESSOAS� POSICIONARAM SE� RECENTE mente contra a internação compulsória para os “cracômanos” da Cracolândia, sob os mais diversos argumentos: o paciente tem o direito de escolher se quer ou não ser tratado; internação para viciados não funciona; internação psiquiátrica é “castigo” e tantas outras ideias de semelhante qualidade. Por que é preciso internar o “cracômano” da Cracolândia*? Resposta: por três motivos. Primeiro, porque a dependência do crack na forma como se dá na Cracolândia é doença mental GRAVÓSSIMA�� DE� DIFÓCIL� CURA�� 3EGUNDO�� EMBORA� O� DOENTE� AINDA� Direitos ou deveres HUMANOS? * Cracolândia é uma denominação popular para uma região no centro da cidade de São Paulo em que se concentram dependentes em drogas /escalaoficial Ou acesse www.escala.com.br SIMPATIA ABRE PORTAS, ELIMINA CONFLITOS E EVITA QUE COISAS TOLAS ATRAPALHEM O SEU CAMINHO. Este livro mostra dez passos que esclarecem como nascem a simpatia e a antipatia, e também as cinco saias-justas mais frequentes, apontando como escapar delas com elegância. Nas bancas e livrarias! /escalaoficial Ou acesse www.escala.com.br NAS LIVRARIAS! Este livro foi formado a partir de histórias verídicas que aconteceram em uma família de amigos. Trabalhamos os fatos e mudamos os nomes dos personagens para manter a privacidade de cada um deles. Não queremos louros. Tampouco constrangimentos. Emprestamos nossos ouvidos e nosso coração para acolher as narrativas e interpretar os sentimentos. Fomos fiéis aos juízos éticos e morais, pois se há uma coisa que a fronteira da morte nos ensina é cancelar todos os julgamentos e, sobretudo, as condenações que lhes acompanham. Ouvindo essas narrativas, fomos capazes de entender os caminhos misteriosos da vida que velam, revelam e desvelam os desfechos das mortes misteriosas. A vida é uma gota d´água. O que há de mais simples e inescrutável. A partir dessas histórias reais, vasculhamos as mais elevadas verdades. Não é um tratado mórbido, pois a morte não é mórbida, antes, é o sopro da esperança. UMA OBRA BASEADA EM HISTÓRIAS REAIS