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editorial
Manipulação emocional
Gláucia Viola, editora
“Há muitas espécies de ciúme; 
o mais raro é o do coração.”
Duque de Lévis
12
3R
F
R
elacionar-se não é tarefa fácil em nenhuma esfera do comportamento humano. Seja entre o casal, na 
FAMÓLIA��NO�GRUPO�DE�AMIGOS��COM�OS�lLHOS��3OMOS�SERES�COMPLEXOS�E�SABER�LIDAR�COM�O�OUTRO�EXIGE�
GRANDE�MAESTRIA��%SSE�TEMA�PODE�RENDER�UMA�SÏRIE�DE�BONS�DEBATES�NAS�PÉGINAS�DESTA�REVISTA��MAS�A�
Psique�DIRECIONA�OS�HOLOFOTES�DESTA�EDI¥ÎO�PARA�UMA�QUESTÎO�QUE�LEVANTA�CERTA�PERPLEXIDADE�EM�PLE-
NO�SÏCULO�88)��A�VIOLÐNCIA�CONTRA�A�MULHER��QUE�NO�ÊMBITO�INTERPESSOAL�AINDA�Ï�UMA�DAS�MAIS�DIFÓCEIS�DE�SER�
PREVENIDA�E�EVITADA��-UITAS�MULHERES�QUE�VIVEM�RELA¥ÜES�ABUSIVAS�MOSTRAM�DIlCULDADE�EM�TER�CONSCIÐNCIA�DA�
SITUA¥ÎO��/�CIÞME�EXAGERADO�GERADOR�DE�INÞMERAS�PRIVA¥ÜES��POR�EXEMPLO��Ï�CONSIDERADO�POR�MUITAS�PESSOAS�
como prova de cuidado e amor. 
/�DOSSIÐ�ABORDA�O�CICLO�DESSE�TIPO�DE�RELACIONAMENTO��DESDE�A�FASE�DO�NAMORO�ATÏ�A�DECISÎO�DO�CASAL�DE�TER�
lLHOS��EQUIVOCADAMENTE��COM�A�PRETENSÎO�DE�SOLUCIONAR�ESSAS�QUESTÜES�MAL�RESOLVIDAS��!lNAL��CASAIS�VIOLENTOS�
tendem a seguir o mesmo modelo de conduta na gestação e depois dela, afetando inclusive as crianças. 
Importante destacar que o ciclo da violência ocorre para todas as formas de agressão, não somente a física. 
!�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�TAMBÏM�APRESENTA�A�MESMA�SÏRIE�DE�EVENTOS��
/�QUE�ACONTECE�NA�MAIORIA�DOS�CASOS�Ï�QUE�A�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�Ï�
mais difícil de ser detectada, até mesmo para quem sofre dela, dife-
rente da agressão física aparente.
Um estudo recente apresentado no artigo indica que a violência no 
namoro entre casais adolescentes pode se perpetuar até a vida adulta 
COM�NOVAS�ONDAS�DE�RISCO�Ì�SAÞDE�MENTAL�DO�CASAL�E�DOS�lLHOS��h%M�
curto prazo, diversos efeitos danosos da violência no namoro têm sido 
DOCUMENTADOS�� INCLUINDO�DEPRESSÎO�� TRANSTORNO�DE�ESTRESSE�PØS
TRAU-
MÉTICO��ABUSO�DE�ÉLCOOL��DESEJO�DE�PÙR�lM�Ì�PRØPRIA�VIDA�E��EM�CASOS�EX-
TREMOS��SUICÓDIO�E�HOMICÓDIOv��EXPLICAM�OS�PSICØLOGOS�AUTORES�DO�TEXTO�
Romper esse vínculo de afeto, mesmo violento, é um dever ár-
duo. Condutas autolesivas são especialmente frequentes em tenta-
tivas de término, fazendo com que a vítima não saia deste padrão 
de comportamento.
6ALE�RESSALTAR�TAMBÏM�QUE�MUITOS�ELEMENTOS�NESSES�RELACIONAMENTOS�PODEM�SER�GRATIlCANTES��E��MESMO�QUE�
PARA�ALGUÏM�QUE�OBSERVA�DE�FORA�PARE¥A�INCOMPREENSÓVEL�QUE�UMA�RELA¥ÎO�VIOLENTA�POSSA�TER�MUITOS�PONTOS�DE�
SATISFA¥ÎO��Ï�FUNDAMENTAL�ENTENDER�QUE�Ï�EXATAMENTE�POR�ISSO�QUE�O�SENTIMENTO�lCA�TÎO�CONFUSO��¡�TAMBÏM�POR�
ESSA�RAZÎO�QUE�A�PROCURA�POR�AJUDA�ESPECIALIZADA�PODE�FAZER�TODA�A�DIFEREN¥A�PARA�A�SOLU¥ÎO�DO�PROBLEMA�
O atendimento às vítimas e perpetradores de violência nos relacionamentos deve compor um continuum de 
serviços focados no enfrentamento, prevenção e na promoção da qualidade das relações amorosas.
 
Boa leitura! 
Gláucia Viola
www.facebook.com/PortalEspacodoSaber
CAPA
sumário
35
28/06/2017 18:18:2
0
MATÉRIAS
ENTREVISTA
A psicóloga Luiza Elena 
do Valle defende alteração 
de técnicas que propiciam a 
APRENDIZAGEM�INmUENCIADA�PELA�
interação com o ambiente
SEÇÕES
06 EM CAMPO
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
32 COACHING
34 LIVROS
50 CIBERPSICOLOGIA 
52 NEUROCIÊNCIA
54 RECURSOS HUMANOS
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
70 PERFIL 
72 IN FOCO 
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
08
Compreensão 
do cérebro
Avanços tecnológicos 
permitiram conhecer melhor 
o funcionamento cerebral e 
tentam responder se a mente 
pode mudar o cérebro
Prejuízo à saúde 
Transtorno de estresse 
pós-traumático é considerado 
um dos diagnósticos mais 
populares da Psiquiatria em 
decorrência das sequelas da 
violência urbana
22
74
O significado de tudo 
O ato do nascimento mostra um ser 
desprovido de qualquer noção de 
si e do outro, mas quando entra na 
linguagem a criança descobre um 
novo mundo56
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A 
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DOSSIÊ: Sérias 
consequências emocionais
Relacionamentos abusivos 
atingem até mesmo mulheres 
grávidas e frequentemente as 
pessoas envolvidas encontram 
GRANDE�DIlCULDADE�EM�SE�
libertar dessa situação
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
giro escala
LIBERDADE X ESCOLHAS
REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 127
Em mais um artigo publicado 
na edição 127 da revista &ILOSOlA�
#IÐNCIA�6IDA, o pesquisador do Ge-
des (Grupo de Estudos sobre Direito, 
Estado e Sociedade) e professor con-
vidado do curso de pós-graduação em 
Política e Relações Internacionais da 
FESPSP (Fundação Escola de Socio-
logia e Política), Luiz Felipe Panelli 
aborda a justiça e equidade com base 
na lição aristotélica em relação ao 
Estado no século XXI. Tal estudo im-
pacta um de seus projetos atuais, que 
é sua tese de doutorado, que analisa a 
QUESTÎO�DE� UM� SUPOSTO� CONmITO� ENTRE�
o direito de liberdade e igualdade, em 
especial nas políticas públicas de dis-
tribuição de renda. 
Para o professor, pode-se objetar 
que a teoria marxista separa o mundo 
em base e superestrutura e que, se nos 
preocuparmos em manter a paz social 
e o bom funcionamento do Estado, es-
taremos preservando a base por meio 
de incrementos pontuais na superes-
trutura, ou seja, não estaremos com-
batendo de forma efetiva a exploração 
do homem pelo homem, tampouco 
buscando a igualdade verdadeira que 
só virá com a coletivização dos meios 
de produção. Pensador atuante no 
UNIVERSO� DA� &ILOSOlA� DO�$IREITO� E� DA�
&ILOSOlA�0OLÓTICA��0ANELLI�RESSALTA�UMA�
disciplina que tem chamado atenção 
DE� INÞMEROS� ACADÐMICOS�� A� *USlLOSO-
lA��6ALE� LEMBRAR�QUE�UM�DOS�GRANDES�
REPRESENTANTES� DO� TEMA� Ï� O� lLØSOFO�
Norberto Bobbio, que conseguiu es-
tabelecer conceitos preciosos sobre a 
democracia e a sociedade.
REFLEXÃO E PRÁTICA: o resgate do conceito de comunidade por meio da amizade
ANO X No 127 – www.portalespacodosaber.com.br
Quando a liberdade e o 
individualismo passam a ser 
grandes fontes de angústia e 
bloqueio do pensamento
ARISTÓTELES
A história nos 
mostra que uma das 
aspirações perenes 
do homem do século 
XXI é a Justiça
ÉMILE 
DURKHEIM
Como mobilizar 
argumentos baseados 
nas ideias do mestre 
em debates sobre 
religião e socialismo
ESCOLHAS
SOFISTAS
Uma síntese da obra de umas das maiores 
correntes fi losófi cas de todos os tempos
RENATO JANINE RIBEIRO
A importância do diálogo para o fortalecimento 
da democracia em tempos de cólera
O DILEMA DAS
UMA REBELDE NATA
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 69
Uma catadora de histórias e uma 
REBELDE� NATA�� !SSIM� Ï� POSSÓVEL� DElNIR�
em poucas palavras a fotógrafa, docu-
mentarista e cineasta Tania Quaresma, 
que se enquadra em uma classe especial 
de artistas singulares, que, com talento, 
sempre fazem o que querem, mas sem-
pre com muita qualidade e competên-
cia. E isso sem ligar para o machismo 
hegemônico e castrador, que dominava 
seu tempo de juventude, e que ainda 
domina a própria narrativa histórica 
humana da atualidade. Começou sua 
CARREIRA�PROlSSIONAL�MUITO�CEDO��AOS����
anos, para os padrões vigentes da épo-
ca, documentando os movimentos es-
tudantis e operários de protesto contra 
o governo militar.
Desde então, trabalhou para as 
mais importantes redes de TV do 
Brasil. Passou a se dedicar ao cinema 
e seu primeiro longa – Nordeste: Cor-
del, Repente, Canção (1975) – ganhou 
os prêmios Air France de Cinema e 
Coruja de Ouro de melhor som. Jun-
tamente com sua equipe, produziu e 
dirigiu uma série de projetos cultu-
rais e sociais, culminando com o su-
cesso de Catadores de História (2016). 
O f ilme conquistou três prêmios na 
mostra competitiva do TroféuCâma-
ra Legislativa no Festival de Cinema 
de Brasília: melhor trilha sonora, 
melhor fotograf ia e melhor f ilme de 
longa-metragem ( júri of icial). Para 
alcançar seus objetivos no trabalho, 
seja de vídeo ou f ilme, ela não dis-
pensa o sentido social. A entrevista 
completa com Tania está na edição 
69 da revista 3OCIOLOGIA.
O DIA A DIA DE CATADORES DE LIXO EM FILME DE TANIA QUARESMA
www.portalespacodosaber.com.br
Caderno de Exercícios: Música negra e racismo nos Estados Unidos
Ego e sociedade
Lógica egoísta 
e paranoica 
orienta mercado 
e nações, em 
livro de Frank 
Schirrmacher
Inteligência 
artificial
Cientistas rumo 
ao algoritmo 
capaz de 
replicar o cérebro 
humano em
meio cibernético-
-informacional
Por uma ideia 
de liberdade
Contracultura 
e transgressão 
sob olhar 
sociológico em 
Easy Rider – 
Sem Destino
Profissão
John Kennedy 
Ferreira 
comenta a não 
obrigatoriedade 
do ensino de 
Sociologia 
nas escolas
DARCY RIBEIRO
O BRASIL DE 
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
em campo 
SINAL DE ALZHEIMER
Na Universidade do Sul da Califórnia, 
pesquisadores descobriram que 
adultos idosos com níveis elevados 
de placas de obstrução cerebral – 
mas com cognição aparentemente 
normal – experimentam declínio 
mental mais rápido, sugestivo de 
doença de Alzheimer. Por outro lado, 
também verif icaram que a simples 
presença dessas placas (chamadas 
placas amiloides) no organismo já 
seria um preditor do problema. Os 
pesquisadores compararam a placa 
amiloide no cérebro com o colesterol 
no sangue. Ambos são sinais de alerta 
com poucas manifestações externas, 
até ocorrer um evento catastróf ico. O 
estudo em questão apoia a ideia de que 
a doença começa antes dos sintomas, 
o que estabelece as bases para a 
realização de intervenções precoces e 
ef icazes contra a evolução do quadro.
“Para ter o maior impacto sobre a 
doença, precisamos intervir contra 
a amiloide, a causa molecular básica 
do problema, o mais cedo possível”, 
disse Paul Aisen, autor sênior do 
estudo e diretor do USC Alzheimer’s 
Therapeutic Research Institute (ATRI), 
ligado à universidade, em comunicado 
à imprensa especializada. “Este estudo 
�UM�PASSO�SIGNIlCATIVO�PARA�A�IDEIA�
de que os níveis elevados de amiloide 
são um estágio inicial da doença de 
Alzheimer, um estágio apropriado para 
a terapia anti-amiloide”.
Uma em cada três pessoas com mais 
de 65 anos tem amiloide elevada no 
cérebro, e a maioria desses indivíduos 
evoluirá para a doença de Alzheimer 
sintomática dentro de 10 anos.
por Jussara Goyano
ARTE E COGNIÇÃO
PROJETOS ARTÍSTICOS ATIVAM 
SISTEMA DE RECOMPENSA NO CÉREBRO
De acordo com um novo estudo realizado pela Universidade Drexel, na 
&ILADÏLlA��%5!��PUBLICADO�NO�PERIØDICO�The Arts in Psychotherapy, a realização 
DE�TRABALHOS�ARTÓSTICOS�LEVA�mUXO�SANGUÓNEO�A�ÉREAS�DO�CÏREBRO�PERTENCENTES�AO�
sistema de recompensa. Tal consequência ocorreria independentemente da habi-
lidade artística das pessoas avaliadas, mostrando que tais atividades são fonte de 
PRAZER�E�BEM
ESTAR�EM�POTENCIAL��NÎO�IMPORTANDO�SUA�lNALIDADE�
Os pesquisadores envolvidos utilizaram espectroscopia de infravermelho 
funcional para avaliar a atividade cerebral de 26 voluntários, entre artistas e 
não artistas, enquanto todos completavam diferentes tarefas em artes, tais como 
colorir uma mandala ou desenho livre, intercaladas a intervalos de descanso. 
&OI�VERIlCADO�UM�AUMENTO�NO�mUXO�DE�SANGUE�NO�CØRTEX�PRÏ
FRONTAL�DO�CÏ-
rebro dessas pessoas, em comparação com os períodos de descanso, nos quais 
O� mUXO� SANGUÓNEO� DIMINUIU� PARA� AS� TAXAS� NORMAIS�� /� CØRTEX� PRÏ
FRONTAL� EST�
associado à regulação de pensamentos, sentimentos e ações. Também está rela-
cionado a sistemas emocionais e motivacionais e parte do circuito neuronal de 
recompensas do cérebro humano.
!�ATIVIDADE�QUE�PROPORCIONOU�MAIOR�mUXO�MÏDIO�DE�SANGUE�NAS�ÉREAS�MEN-
cionadas foi o chamado doodle, rabisco realizado enquanto a pessoa está distraída 
ou ocupada, como, por exemplo, os desenhos que são realizados aleatoriamente 
quando se está ao telefone, ou enquanto se ouve uma palestra. O desenho livre 
ativou igualmente o cérebro de artistas e não artistas. Já a atividade de colorir 
mandalas resultou em atividade cerebral negativa nos artistas, que podem ter se 
SENTIDO�LIMITADOS�EM�EXECUTAR�TAREFAS�TÎO�BEM�DElNIDAS��SEM�MUITA�MARGEM�PARA�
o uso de sua criatividade.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
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CUMPRIMENTO 
DE METAS
DISTRAÍDOS DIFICILMENTE 
TÊM OBJETIVOS DE LONGO 
PRAZO, DIZ ESTUDO
Mentes diletantes, ou que tendem a vagar 
por seus pensamentos no dia a dia, são menos 
propensas a manter objetivos de longo prazo, 
segundo pesquisa liderada pela Universidade 
de Waterloo, Canadá, com artigo a respeito 
publicado recentemente no Canadian Journal of 
Experimental Psychology. 
A conclusão foi fruto de três estudos distin-
tos. Nos dois primeiros, os pesquisadores anali-
saram a presença de mente errante, a desatenção 
e o grit de 280 voluntários (grit é um traço de 
personalidade que envolve interesse e esforço 
sustentados em metas de longo prazo, indepen-
dentemente do nível de inteligência da pessoa). 
No terceiro estudo, 105 estudantes foram con-
vidados a avaliar seus hábitos mentais durante 
uma aula e preencher questionários a respeito.
Um próximo passo da pesquisa vai avaliar 
como alternativas como meditação e treinamen-
to mindfulness seriam capazes de mitigar os im-
pactos de tal errância mental e o quanto a força 
DE�VONTADE�EM�FAZÐ
LO�INmUENCIA�NOS�RESULTADOS�
gerais de aplicação das opções citadas.
AR
Q
UI
VO
 P
ES
SO
AL
Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto 
de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance 
e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na Unifesp. 
E-mail: atendimento@jussaragoyano.com
RELAÇÕES E 
INDIVIDUALIDADE
ESTUDO ESTABELECE LIGAÇÃO 
ENTRE SOLIDÃO E EGOCENTRISMO
Estudos realizados ao longo de mais de uma década indicam que a 
solidão aumenta o egocentrismo e, em menor grau, o egocentrismo tam-
bém aumenta a solidão. O achado foi publicado no Personality and Social 
Psychology Bulletin por cientistas ligados à Universidade de Chicago, 
EUA. A descoberta pode ajudar a mitigar questões de saúde pública, 
uma vez que pessoas consideradas solitárias estão mais sujeitas a doen-
ças – essa população apresenta, inclusive, taxa de mortalidade maior que 
a de outros grupos em que a convivência social é mais intensa.
Os pesquisadores escreveram que “abordar o egocentrismo como 
parte de uma intervenção para diminuir a solidão pode ajudar a que-
brar um ciclo de feedback positivo que mantenha ou piore a solidão ao 
longo do tempo”. Lembram ainda que, na sociedade moderna, tornar-se 
mais autocentrado protege pessoas solitárias no curto prazo, mas não 
no longo prazo, em que são acumulados efeitos nocivos ao bem-estar 
individual. Isso levando-se em conta a noção de solidão como “um sen-
timento de angústia anômalo ou temporário, sem valor redimível ou 
propósito adaptativo”.
Os dados referentes às pesquisas foram coletados de 2002 a 2013 
como parte do estudo de saúde, envelhecimento e relações sociais de 
Chicago. A amostra aleatória consistiu em 229 indivíduos que variaram 
de 50 a 68 anos de idade no início do estudo, variando também em gê-
nero e status socioeconômico, incluindo hispânicos, afro-americanos 
e caucasianos.
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Lucas Vasques é jornalista e colabora com esta publicação
Para a psicóloga Luiza Elena L. Ribeiro 
doValle, os resultados da educação 
no Brasil estão nos últimos lugares, 
em comparação com outros países 
do mundo. Então, está na hora de mudar 
técnicas para reverter o quadro
O 
DESAlO�DA�APRENDIZAGEM��AO� LONGO�DOS�
anos, foi e continua sendo tema central 
da preocupação de especialistas e tam-
bém dos pais, que buscam orientação no 
SENTIDO�DE�ACERTAR�O�CAMINHO�MAIS�ElCIENTE�EM�RELA-
¥ÎO�A�ESSA�FASE�DA�VIDA�DOS�lLHOS��.A�OPINIÎO�DE�,UIZA�
%LENA� ,�� 2IBEIRO� DO�6ALLE�� PSICØLOGA� COM� ESPECIALI-
ZA¥ÎO�EM�0SICOLOGIA�#LÓNICA�E�MESTRE�EM�0SICOLOGIA�
%SCOLAR�E�%DUCACIONAL��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER�
através do jogo, da brincadeira, da instrução formal 
OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E�UM�APRENDIZ�MAIS�
experiente, demonstrando a importância da mediação 
PARA�QUE�OS�SIGNOS�CULTURAIS�POSSAM�SER�INTERNALIZADOS�
“São estudos que nos deixam a responsabilidade de 
OFERECER�OPORTUNIDADES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DE-
senvolvimento potencial de cada criança. Entretanto, 
MUITAS�CRIAN¥AS�AINDA�hESTUDAMv�COMO�SE�FAZIA�SÏCU-
los atrás, sentadas, em silêncio, diante de um professor 
que “ensina”, e, pior ainda, muitas crianças mal têm 
TEMPO�PARA� BRINCAR�� RECURSO� ESSENCIAL� NA� APRENDIZA-
gem, se pensarmos na apropriação ativa do conheci-
MENTOv��AVALIA�,UIZA�%LENA�
A psicóloga ressalta a importância do sistema sen-
sorial. Para ela, esse elemento é a porta de entrada dos 
estímulos. As informações recebidas pelo sistema sen-
SORIAL� SÎO�CONDUZIDAS�PARA� ÉREAS� ESPECÓlCAS�DO�CØR-
TEX�CEREBRAL��ONDE�AS�FUN¥ÜES�SUPERIORES�ORGANIZAM
SE�
como sistemas funcionais complexos, o que envolve 
uma integração de redes de conexão de neurônios, 
UMA�VEZ�QUE�OS�ESTÓMULOS�SÎO�DIVERSOS�E�SIMULTÊNEOS�
,UIZA�%LENA��DOUTORANDA�EM�0SICOLOGIA�3OCIAL�E�DO�
4RABALHO��COM�EXTENSÎO�EM�#OMPETÐNCIAS�'ERENCIAIS�
E�)NTERNATIONAL�#OACHING��%NTRE�OS�LIVROS�LAN¥ADOS�ESTÎO�
A Aprendizagem na Educação de Crianças e Adolescentes, 
Adolescência. !S�#ONTRADI¥ÜES�DA�)DADE�E�$ESAlOS�DO�-UNDO�
0ROlSSIONAL, todos publicados pela Wak Editora.
A ).4%2!—§/ DA PESSOA 
#/-�/�!-")%.4%�02/-/6%�
A !02%.$):!'%-
,5):!�%,%.!�,��2)"%)2/�$/�6!,,%
Por Lucas Vasques
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
E N T R E V I S T A
Segundo Luiza Elena, 
a aprendizagem ocorre 
pela descoberta, no momento 
em que a criança está com a 
maturidade adequada para 
aquela determinada função
10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
LUIZA: !� APRENDIZAGEM� ACONTECE� PELA�
descoberta, como um registro que se 
FAZ�DAQUILO�QUE�SE�OBSERVOU�NO�AMBIEN-
te. Isso ocorre no momento em que a 
criança está com a maturidade ade-
quada para aquela determinada função 
e esses processos obedecem a caracte-
rísticas pessoais, que são diferentes de 
PESSOA�PARA�PESSOA��5MA�CRIAN¥A�PODE�
aprender a andar mais depressa se tiver 
oportunidade de exercitar o movimen-
to, quando alcançar a maturidade para 
essa função. Há uma sequência no de-
senvolvimento a ser mediado, que se-
gue desde o estágio em que a criança 
SE�ENCONTRA��POR�UMA�ZONA�DE�DESENVOL-
vimento proximal, até chegar ao apren-
DIZADO� DESEJADO� �6YGOTSKY	�� %STUDOS�
POSTERIORES�� DE� 'ARDNER�� MOSTRARAM�
que as inteligências são múltiplas: uma 
pessoa pode ser ótima em matemáti-
ca e ter fraca habilidade para aprender 
leitura, por exemplo. O quanto se pode 
aprender é impossível determinar, não 
TEM� LIMITESå�/� PROCESSO� DE� APRENDIZA-
gem reúne múltiplos sistemas internos 
e externos, por isso cada pessoa é única 
E�ISSO�Ï�FANTÉSTICOå�¡�PRECISO�lCAR�ATENTO�
com crianças porque, você sabe, na in-
fância existem períodos quase mágicos, 
em que as redes neurais se desenvolvem 
muito rapidamente e a criança aprende 
COM�UMA�RAPIDEZ�INCRÓVEL����!PRENDE�ATÏ�
o que ninguém ensinou... Então, você se 
surpreende e pergunta: como foi que ela 
aprendeu isso?
COMO SE DEFINE O SISTEMA SENSORIAL 
E EM QUE MEDIDA ELE INFLUENCIA A 
APRENDIZAGEM?
LUIZA: São as portas de entrada dos es-
tímulos. As informações recebidas pelo 
SISTEMA�SENSORIAL��VISÎO��AUDI¥ÎO��OLFATO��
TATO��PALADAR	�SÎO�CONDUZIDAS�PARA�ÉRE-
AS� ESPECÓlCAS�DO�CØRTEX� CEREBRAL�� ONDE�
AS� FUN¥ÜES� SUPERIORES� ORGANIZAM
SE�
como sistemas funcionais complexos, 
o que envolve uma integração de redes 
DE�CONEXÎO�DE�NEURÙNIOS��UMA�VEZ�QUE�
os estímulos são diversos e simultâneos: 
você ouve, vê e sente ao mesmo tempo, IMA
GE
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É CORRETO AFIRMAR QUE A APRENDIZA-
GEM É O PROCESSO PELO QUAL A CRIANÇA 
SE APROPRIA ATIVAMENTE DO CONTEÚDO 
DA EXPERIÊNCIA HUMANA, DAQUILO QUE 
O SEU GRUPO SOCIAL CONHECE? EM CASO 
POSITIVO, PODE-SE DIZER QUE A APREN-
DIZAGEM DEPENDE FUNDAMENTALMENTE 
DA INTERAÇÃO DA CRIANÇA COM O MEIO?
LUIZA: Sim, a interação da pessoa com 
O� AMBIENTE� PROMOVE� A� APRENDIZAGEM��
Teorias bastante ricas fundamentaram 
esse conhecimento, comprovadas com 
EXAMES�SOlSTICADOS�QUE�AVALIAM�OS�PRO-
cessos do cérebro pela ação sobre o am-
biente, que leva à assimilação e acomo-
dação. Os estudos de Piaget descreveram 
passo a passo o desenvolvimento infantil 
e a adaptação do comportamento através 
DE�ORGANIZA¥ÜES�MENTAIS�QUE�ELE�DENOMI-
nou de “esquemas” de representação do 
mundo, que permitem construir conhe-
CIMENTOS��6YGOTSKY�TROUXE�A�TEORIA�SOCIO-
cultural do desenvolvimento cognitivo, 
mostrando que as estruturas sociais e as 
relações sociais levam ao desenvolvimen-
TO�DAS�FUN¥ÜES�MENTAIS��.ESSA�PERSPECTI-
VA��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER�ATRAVÏS�
do jogo, da brincadeira, da instrução for-
MAL�OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E�
UM� APRENDIZ� MAIS� EXPERIENTE�� DEMONS-
trando a importância da mediação para 
que os signos culturais possam ser inter-
NALIZADOS��3ÎO�ESTUDOS�QUE�NOS�DEIXAM�A�
responsabilidade de oferecer oportunida-
DES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DESENVOLVI-
mento potencial de cada criança. Entre-
tanto, muitas crianças ainda “estudam” 
COMO�SE�FAZIA�SÏCULOS�ATRÉS��SENTADOS��EM�
silêncio, diante de um professor que “en-
sina”, e, pior ainda, muitas crianças mal 
têm tempo para brincar, recurso essen-
CIAL� NA� APRENDIZAGEM�� SE� PENSARMOS� NA�
apropriação ativa do conhecimento.
DE ACORDO COM A PSICOLOGIA DA 
APRENDIZAGEM, PARA QUE SE POSSA EN-
TENDER ESSE PROCESSO É NECESSÁRIO 
RECONHECER QUE AS OPERAÇÕES COG-
NITIVAS SÃO SEMPRE CONSTRUÍDAS NA IN-
TERAÇÃO COM OUTROS INDIVÍDUOS. VOCÊ 
CONCORDA COM ESSE CONCEITO?
O quanto se pode 
aprender é impossível 
determinar, não tem 
limites! O processo de 
aprendizagem reúne 
múltiplos sistemas 
internos e externos, 
por isso cada pessoa é 
única e isso é fantástico! 
¡�PRECISO�lCAR�ATENTO�
com crianças 
LUIZA:� #ONCORDO�� PORQUE� � UMA� AlR-
mação comprovada pela ciência. 
#RIAN¥AS� QUE� NÎO� RECEBEM� ESTÓMULO�
visual, por exemplo, não desenvolvem 
a área do cérebro correspondente à 
VISÎO��5MA�PSICØLOGA�RENOMADA��JÉ�FA-
LECIDA�� "EATRIZ� ,EFRÒVE�� REALIZOU� UMA�
PESQUISA� SOBRE� APRENDIZAGEM� COMPA-
rando as crianças da região Sudeste 
DO� "RASIL� COM� CRIAN¥AS� DO� .ORDESTE��
em relação à coordenação motora: ela 
nos mostrou que, enquanto as crian-
ças do Sul respondem melhor ao trei-
no no manejo do lápis, as crianças do 
.ORDESTE� DOMINAM� HABILIDADES� COMO�
bordados, compartilhadas por toda fa-
mília, de acordo com os valores locais, 
MAS� FALHAVAM�NA�ESCRITA� �O�QUE�PODE-
RIA�SUGERIR�HABILIDADE�MOTORA�lNA�DEl-
CIENTE��O�QUE�NÎO�ERA�VERDADE	��)MAGINE�
como foram revolucionárias essas con-
clusões, embora, com frequência, as 
crianças são exigidas e avaliadas sem 
considerar nada disso.
EXISTE UM PROCESSO PREDETERMINADO 
QUE DEFINE A APRENDIZAGEM? OU SEJA, É 
POSSÍVEL MEDIR COMO E QUANDO SE DEVE 
APRENDER? E ESSE PROCESSO É ÚNICO OU 
FUNCIONADE ACORDO COM AS PARTICU-
LARIDADES DE CADA CRIANÇA?
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11
volvem inteligência espacial: por exem-
PLO�� PARA� ENCONTRAR� E�MEMORIZAR� ROTAS��
em tarefas motoras dirigidas a um alvo, 
em raciocínio matemático. As mulheres 
FALAM�MAIS��mUÐNCIA�VERBAL	��SÎO�MELHO-
RES�EM�CÉLCULOS�SIMPLES�E�EM�MEMORIZAR�
detalhes importantes de um caminho. 
Existem diferenças, de modo geral, mas 
DEVE�lCAR�CLARO�QUE�A�EXPERIÐNCIA�SOCIAL�
interfere, assim como o esforço pessoal, 
EM�DETERMINADA�ÉREA��O�CÏREBRO�Ï�SENSÓ-
VEL�A�ESTÓMULOS	��
HÁ MUITAS CONTROVÉRSIAS SOBRE A ME-
LHOR IDADE PARA O INÍCIO DA ALFABETIZA-
ÇÃO. EM TERMOS DE COGNIÇÃO INFANTIL, 
QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ESSA QUESTÃO?
LUIZA: É importante entender que a 
APRENDIZAGEM��UM�PROCESSO�PESSOAL�E�
intransferível. Em termos de cognição 
infantil, o importante é que a criança es-
teja pronta, interessada e possa interagir 
COM�OS�ESTÓMULOS�PARA� FAZER� SUAS� hDES-
cobertas”, que a encantam e provocam 
uma vontade de saber mais. Por outro 
LADO��A�ALFABETIZA¥ÎO�Ï�UM�CØDIGO�DETER-
minado, que ela não pode inventar e vai 
aprender com mais facilidade se for me-
diada para aprender corretamente. Fica 
NESSE�PONTO�A�CONTROVÏRSIA��A�APRENDIZA-
gem deve ser espontânea e, ao mesmo 
TEMPO��A�ALFABETIZA¥ÎO�PRECISA�SER�CUIDA-
dosa, porque é a base dos outros conhe-
CIMENTOS���#ONSIDERO�ESSENCIAL�VALORIZAR�
os passos que a criança dá, mas ela pre-
cisa receber as informações mediadas, 
porque não dá para vencer um jogo sem 
SABER�AS�REGRAS��E�NA�ALFABETIZA¥ÎO�NÎO�Ï�
diferente. Aos 6 anos, em geral, a criança 
já tem prontidão, se ela “descobrir” an-
TES�O�PROCESSO�DE�LEITURA��NÎO�DEVE�lCAR�
proibida de seguir em frente, mas, ainda 
assim, há necessidade de mediação posi-
tiva, que a estimula a melhorar. Aquelas 
que não conseguem associar as letras 
aos sons espontaneamente precisarão de 
ajuda para provocar essas descobertas. 
Pode-se chamar atenção para o fato de 
que as crianças nos impressionam com 
o manuseio de recursos tecnológicos, 
em que ela erra e insiste, perde a “vida” 
MUITAS�VEZES�ATÏ�SEM�CONSCIÐNCIA�DISSO��
Existem, ainda, mecanismos internos de 
regulação que acontecem sem a sua de-
terminação, como a condução elétrica 
de estímulos e a produção de hormônios 
que são liberados no sangue e interferem 
em sua resposta, que se soma à memó-
RIA�QUE�VOC�ARMAZENA�SOBRE�OS�EVENTOS��
Até a percepção dos erros nos ajuda a 
nos direcionar. A conclusão que você 
retira das informações percebidas por 
seu sistema sensorial irá formar o seu 
conhecimento do mundo, sua aprendi-
ZAGEM�� %NTRETANTO�� CONSIDERANDO� A� BA-
gagem aprendida, a percepção de um 
objeto, como um facão, por exemplo, 
representa perigo, quando associado aos 
conhecimentos que você já tem, enquan-
to uma criança pequena vê diferente de 
você o mesmo objeto e vai brincar sem 
preocupação. Espera-se que a criança 
possa ser mediada e não precise se ma-
CHUCAR�NESSA�APRENDIZAGEM��
COMO OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS SE COM-
PORTAM DIANTE DESSE PROCESSO? QUAL SE-
RIA O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA APREN-
DIZAGEM, O DIREITO OU O ESQUERDO?
LUIZA: Diversos pesquisadores, desde o 
século XIX, perceberam diferenças fun-
cionais nos hemisférios cerebrais e pro-
CURARAM�RElNAR�A�BUSCA�PELAS�DIFEREN¥AS�
motoras e sensitivas dos hemisférios. Foi 
concluído que: o hemisfério esquerdo é 
VERBAL��USA�PALAVRAS�PARA�NOMEAR�E�DES-
CREVER	�� Ï� ANALÓTICO� �DECIFRA� POR� PARTES	��
TEMPORAL� �SE� MANTÏM� NUMA� SEQUÐNCIA�
DE�FAZER�UMA�COISA�E�DEPOIS�OUTRA	��ANA-
LÓTICO�E�ABSTRATO��DECIFRA�POR�PARTES�E�AS�
UTILIZA�PARA�REPRESENTAR�O�TODO	��ENQUAN-
to o hemisfério direito é dito “artístico”, 
sintético, emocional, não verbal e espa-
CIAL��-ENINOS�TÐM�DESEMPENHO�SUPERIOR�
ao das meninas nas atividades que en-
Na infância, existem 
períodos quase mágicos, 
em que as redes neurais 
se desenvolvem muito 
rapidamente e a 
criança aprende com 
uma rapidez incrível. 
Aprende até o que 
ninguém ensinou. Então, 
você se surpreende
As estruturas e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais e, nessa perspectiva, a 
aprendizagem pode ocorrer por meio do jogo, da brincadeira
12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
É importante entender 
que a aprendizagem 
é um processo pessoal 
e intransferível. Em 
termos de cognição 
infantil, o importante 
é que a criança esteja 
pronta, interessada e 
possa interagir com os 
estímulos para fazer 
suas “descobertas”
no joguinho e tenta de novo, até desco-
brir que melhorou para mais um nível e 
COMEMORA�����!�APRENDIZAGEM�DA�LEITURA�
deve reconhecer esse incrível recurso 
que a informática oferece, que não se 
adequa às características escolares co-
piadas de tempos antigos, como se nada 
houvesse acontecido de novo.
VOCÊ JÁ FALOU SOBRE TÉCNICAS PARA 
UM APRENDIZADO EFETIVO E RÁPIDO. 
EXISTEM, DE FATO, ESSAS TÉCNICAS E 
QUAIS SERIAM?
LUIZA: Sem dúvida! Todos os conheci-
mentos sobre o desenvolvimento infan-
TIL�� SOBRE� O� PROCESSO� DE� APRENDIZAGEM�
precisam ser considerados para que a 
criança aprenda rapidamente e de for-
ma efetiva. É muito comum você ouvir 
QUEIXAS� DE� ADULTOS� QUE� AlRMAM� QUE� A�
criança interage com videogames com 
mais facilidade que eles, mas, na hora de 
“estudar”, a mudança é nítida e vira uma 
guerra. De fato, com muita frequência, 
ainda predomina a mesma forma de 
“estudar” que afastou tantas crianças 
da escola. Os resultados da educação 
no Brasil estão nos últimos lugares, em 
comparação com outros países do mun-
do, há muitos anos; então, está na hora 
DE� MUDAR� AS� TÏCNICASå� -EU� INTERESSE�
PELA� APRENDIZAGEM�DA� LEITURA� E� ESCRITA��
eu acho que nasceu comigo. Quando 
TERMINEI�O�ENSINO�FUNDAMENTAL��lZ�CON-
curso para a rede pública no magistério 
DO�2IO�DE�*ANEIRO�E�FUI�APROVADA��-UITO�
jovem, fui trabalhar em escolas e recebi 
CLASSES� DE� ALFABETIZA¥ÎO� COM� DIlCULDA-
DES� DE� APRENDIZAGEM� IMENSAS�� � $ESDE�
então, não parei de procurar entender 
como mudar essa realidade e acho que 
nunca vou parar de estudar essa questão, 
porque a cada momento surgem novas 
possibilidades e é essencial que elas se-
jam aproveitadas por tantas pessoas que 
guardam no coração a vontade de que 
nossas crianças tenham oportunidades, 
ainda inacessíveis, desde os primeiros 
anos da escola. As minhas descobertas 
resultaram numa integração de todas 
as pesquisas a que tive acesso, reunin-
do reconhecidos trabalhos numa ferra-
menta prática, que lançarei este ano: “A 
revolução das letras”. É um novo jeito de 
LIDAR�COM�A�ALFABETIZA¥ÎO��CONSIDERANDO�
MINHA�EXPERIÐNCIA�EM�#LÓNICA��0SICOPE-
dagogia e Psicologia Educacional, que 
me coloca em contato com necessidades 
diversas, levando-me a criar uma turma 
de super-heróis diferentes: a turma do 
&UTURO�6ERDE��VERDE�DE�ESPERAN¥A��VERDE�
DE�NATUREZA��VERDE�DE�"RASIL	��/�TRABALHO�
promove a inclusão digital e social, além 
DO�PRAZER�DE�APRENDER�
HÁ FREQUENTEMENTE UMA CONFUSÃO 
ENTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E 
A OCORRÊNCIA DE TRANSTORNOS OU DIS-
TÚRBIOS. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS?
LUIZA:� 3ÎO� DIFEREN¥AS� QUE� FAZEM� A� DI-
FEREN¥Aå�!�DIlCULDADE�DE�APRENDIZAGEM�
se refere à presença de um obstáculo, 
uma barreira, um sintoma, que pode ser 
de origem tanto cultural quanto cogni-
tiva ou até mesmo emocional. É essen-
cial que o diagnóstico seja feito o quan-
TO�ANTES��UMA�VEZ�QUE�HÉ�CONSEQUÐNCIAS�
EM�LONGO�PRAZO��¡�INTERESSANTE�LEMBRAR�
QUE� A� DIlCULDADE� DE� APRENDIZAGEM��
PODE�� MUITAS� VEZES�� SER� RESOLVIDA� NO�
ambiente escolar, como questão psico-
pedagógica. O transtorno ou distúrbio 
DE�APRENDIZAGEM�EST�LIGADO�A�UMA�DIS-
função neurológica ou biopsicossocial. 
.ESSE�CASO��OS�PORTADORES�DO�DISTÞRBIO�DE� APRENDIZAGEM� NÎO� CONSEGUEM� AD-
quirir o conhecimento de determinadas 
matérias e devem ser encaminhados 
PARA� AVALIA¥ÎO� ESPECIALIZADA�� PARA� QUE�
AS� CRIAN¥AS� NÎO� SEJAM� PENALIZADAS� POR�
SEU�PROBLEMA��#ONCLUSÜES�COM�BASE�EM�
Quando a criança consegue decifrar as letras, ela pode ler, o que não representa uma leitura funcional, 
porque apenas repete os sons, e não aplicará esse conhecimento
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13
A aprendizagem 
deve ser espontânea 
e a alfabetização 
precisa ser cuidadosa, 
porque é a base dos 
outros conhecimentos. 
Considero essencial 
valorizar os passos 
que a criança dá, mas 
ela precisa receber as 
informações mediadas
suposições em nada ajudam a solucio-
nar a queixa, como convencer a criança 
de que ela “tem” de se esforçar, deixar 
de ser preguiçosa, que ninguém aguenta 
MAIS�ETC��!lRMA¥ÜES�ASSIM�PREJUDICAM�
SUA�AUTOCONlAN¥A�E�ATRASAM�A�INTERVEN-
ção que ela necessita para a adoção de 
recursos adequados à singularidade de 
cada caso. Diante de dúvidas, a colabo-
ração interdisciplinar é indispensável 
para a orientação de pais e professores.
É POSSÍVEL PREVENIR ALGUM DOS PROBLE-
MAS DE APRENDIZAGEM?
LUIZA: Sim. Essa é a função de todos os 
que se dedicam ao desenvolvimento in-
fantil, em qualquer especialidade. Todas 
as crianças podem aprender, o que é um 
direito constitucional, obrigação da fa-
mília e da sociedade e dever do Estado. 
Quando se pesquisa como os indivíduos 
aprendem, quais as etapas e caminhos a 
serem percorridos ou os fatores que in-
TERFEREM�NO�APRENDIZADO��PODEM
SE�AN-
TECIPAR�PROBLEMAS�PARA�PREVENI
LOS��.ÎO�
estamos falando em alterar condições 
biológicas, o que já se tem conseguido 
em muitos casos, mas em adequar a 
situação de ensino para propiciar con-
dições de progresso às necessidades do 
aluno, sendo preciso desenvolver ferra-
mentas que atendam os comprometi-
mentos que não forem reversíveis. 
UM DESSES PROBLEMAS É A HIPERATIVI-
DADE NO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE 
ATENÇÃO. A HIPERATIVIDADE SEMPRE VEM 
ASSOCIADA À FALTA DE ATENÇÃO?
LUIZA: /�TRANSTORNO�DE�DÏlCIT�DE�ATEN-
ção envolve os sintomas de desatenção e 
hiperatividade, basicamente. Pode haver 
predomínio de desatenção, predomí-
nio de hiperatividade-impulsividade e 
apresentação combinada. O TDAH foi 
revisto para publicação da nova edição 
DO� $3-
�� E� SOFREU� ALGUMAS� PEQUENAS�
MODIlCA¥ÜES�� 0ERMANECE� A� LISTA� DE� ���
sintomas, sendo nove de desatenção, seis 
de hiperatividade e três de impulsivida-
DE��ESTES�DOIS�ÞLTIMOS�COMPUTADOS�CON-
JUNTAMENTE	� DA� EDI¥ÎO� ANTERIOR�� 4ODOS�
esses sintomas, para serem considerados 
CLINICAMENTE�SIGNIlCATIVOS��DEVEM�ESTAR�
presentes pelo menos durante seis me-
ses e serem nitidamente inconsistentes 
COM� A� IDADE� DO� INDIVÓDUO� �OU� SEJA�� SER�
muito mais desatento ou inquieto do que 
o esperado para uma determinada ida-
DE	�� $EVE� HAVER� COMPROMETIMENTO� EM�
PELO�MENOS� DUAS� ÉREAS� DIFERENTES� �CASA�
E�ESCOLA��POR�EXEMPLO	�E�OS�SINTOMAS�SÎO�
prejudiciais à adaptação e ao desempe-
nho. As mudanças tornaram possível 
FAZER�O�DIAGNØSTICO�DE�4$!(�COM�UM�
quadro de autismo, mas permanecem 
exigências de os sintomas não ocorre-
rem exclusivamente durante outro qua-
DRO� �ESQUIZOFRENIA�� POR� EXEMPLO	� E� NÎO�
serem mais bem explicados por outro 
TRANSTORNO��ANSIEDADE�OU�DEPRESSÎO��POR�
EXEMPLO	��/�NOVO�$3-
�� TRAZ�A�OP¥ÎO�
de TDAH com remissão parcial, que 
deve ser empregado naqueles casos em 
que houve diagnóstico pleno de TDAH 
ANTERIORMENTE��ISTO���DE�ACORDO�COM�TO-
DOS�OS�CRITÏRIOS	��PORÏM�COM�UM�MENOR�
número de sintomas atuais. Outra novi-
dade da quinta edição é a possibilidade 
DE�SE�CLASSIlCAR�O�4$!(�EM�LEVE��MO-
derado e grave, de acordo com o grau de 
comprometimento que causa na vida do 
indivíduo. O transtorno deve ser diag-
nosticado por um especialista clínico. 
Há pessoas com TDAH que passam a 
vida toda sem terem sido diagnosticadas 
e enfrentam uma série de problemas por 
lhes faltar a compreensão do que pre-
cisam nesse quadro neuropsicológico 
que não se limita à infância. De fato, as 
queixas dos adultos são as mesmas das 
crianças: distração, falta de concentra-
ção, baixo rendimento nas atividades, 
impulsividade, falta de persistência para 
levar as tarefas adiante.
COMO É REALIZADO O PROCESSO DE REA-
BILITAÇÃO COGNITIVA?
LUIZA: Para iniciar a reabilitação, é reco-
MENDÉVEL�CONHECER�O�PROBLEMA��#OME-
ça aí uma controvérsia, porque ainda se 
insiste tentar de “tudo” antes de buscar 
AJUDA� INTERDISCIPLINAR� OU� ESPECIALIZADA�
para avaliar a queixa. O processo de 
reabilitação dependerá da necessidade 
VERIlCADA�� MAS�� BASICAMENTE�� SE� VOLTA�
para atender as causas e reverter os re-
sultados; pode fortalecer os fatores que 
compensam as áreas comprometidas 
�NO� CASO� DE� 4$!(� PODEM� SER� DESEN-
VOLVIDOS� RECURSOS� DE� ORGANIZA¥ÎO� E� DE�
AUTOCONTROLE�� ENTRE� OUTROS	� OU� AUXILIAR�
NA� UTILIZA¥ÎO� DE� RECURSOS� QUE� POSSAM�
permitir uma adaptação satisfatória 
�RECURSOS� TECNOLØGICOS�� POR� EXEMPLO	��
3ABENDO
SE� QUE� O� CÏREBRO� Ï� mEXÓVEL� E�
que as conexões neurais se desenvolvem 
conforme haja estimulação e processa-
mento do conhecimento, a melhora da 
performance não é indicada apenas para 
comprometimento, mas também para 
aqueles que querem melhorar seu índice 
de resultados. Essa foi a intenção quan-
do procurei desenvolver uma técnica 
que me ajudasse a estimular a memória, 
que sofre uma queda na produtividade 
COM�O�AVAN¥O�DA�IDADE��#REIO�QUE�Cére-
bro e Aprendizagem: um Jeito Diferente de 
Viver, livro em que reuni pesquisas sobre 
o assunto, ajudou bastante, especialmen-
te pela proposta de brincar, em qualquer 
IDADE��.ÎO�VALE�MESMO�A�PENA�SE�RENDER�
a tensões que nos provocam diariamen-
te, não é?
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3R
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14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Todas as crianças podem 
aprender, o que é direito 
constitucional. Quando 
se pesquisa como os 
indivíduos aprendem, 
quais as etapas a serem 
percorridas ou os fatores 
que interferem no 
aprendizado, podem-se 
antecipar problemas 
para preveni-los
QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS QUE PO-
DEM SE BENEFICIAR COM A REABILITA-
ÇÃO COGNITIVA?
LUIZA: Todos os conhecimentos são 
úteis para compreender melhor a pessoa 
e podem auxiliá-la a planejar e a alcan-
çar os objetivos que a levarão a uma re-
ALIZA¥ÎO�PESSOAL��A�UMA�MAIOR�INTERA¥ÎO�
com o meio, encontrando satisfação e 
AUTOESTIMA��#URIOSAMENTE��PENSA
SE�QUE�
OS�PROBLEMAS� SE� LIMITAM�A�DElCIÐNCIAS��
mas as crianças bem dotadas também 
sofrem: precisam acompanhar etapas 
que já superaram e são podadas em suas 
INICIATIVAS�DE�UTILIZAR�SEU�POTENCIAL��TEN-
dendo à desadaptação, sem que se reco-
nheça a necessidade de uma orientação 
DIAGNØSTICA�QUE�OS�BENElCIE�
EM SUA OPINIÃO, QUAIS AS RELAÇÕES EN-
TRE COGNIÇÃO E LINGUAGEM?
LUIZA: A linguagem é um processo cog-
NITIVO��COMANDADO�POR�ÉREAS�ESPECÓlCAS�
do córtex cerebral em inter-relação com 
todo o cérebro. A área de Wernick, que 
se situa no centro da face lateral do he-
MISFÏRIO�ESQUERDO��DOS�DESTROS	��Ï�ADMI-
tida como essencial para todas as moda-
lidades de linguagem. Associada a essa 
ZONA�HÉ�UM�POLO�MOTOR�ANTERIOR��REGIÎO�
DE�"ROCA	��UM�POLO�POSTERIOR��PARIETO�OC-
CIPITAL	� RELACIONADO� � LEITURA� E� ESCRITA� E�
um polo parietal relacionado com a ativi-
dade gestual. A linguagem é um instru-
mento de comunicação entre as pessoas 
E�UM�ORGANIZADOR�PRIVILEGIADO�DO�PENSA-
MENTO�n��COMO�DElNO�A� LINGUAGEM�AO�
apresentar o livro Aprendizagem, Lingua-
gem e Pensamento, que reúne importantes 
autores que discutem esse tema com 
base nas teorias que o consolidam. 
EXISTEM EXERCÍCIOS INDICADOS PARA A 
CRIANÇA LER MAIS E MELHOR? VOCÊ FALA 
EM EXERCÍCIOSDE FLEXIBILIDADE NA LEI-
TURA. COMO FUNCIONAM?
LUIZA: Quando a criança consegue deci-
frar todas as letras do alfabeto, ela pode 
ler, mas isso não representa uma leitura 
funcional, porque ela apenas repete os 
SONS�� SEM� SABER� SEU� SIGNIlCADO� E� NÎO�
poderá aplicar esse conhecimento, por-
tanto, às diversas situações de sua expe-
riência. A criança pode decorar também 
algumas palavras que vê com frequência 
E�ALGUMAS�CHEGAM�A�DIZER�UM�TEXTO�IN-
teiro sem ler uma única palavra realmen-
te. A criança está se exercitando quando 
brinca de ler e escrever palavras em situ-
ações diversas, quando tenta ler palavras 
novas ou tenta escrever e ler o que lhe 
interessa. Ela aprendeu o nome dela em 
letra de forma, por exemplo, e descobre 
que pode ser escrito com letras maiús-
culas e minúsculas e que outros nomes 
também apresentam aquelas letras que 
ela conhece. Descobrir que a leitura é 
uma forma de comunicação, quando a 
criança tem oportunidade de perceber 
A�DIVERTIDA�mEXIBILIDADE�DA�LEITURA�OU�AS�
inúmeras combinações de letras que ati-
çam a curiosidade de saber mais. 
É POSSÍVEL APRENDER A ESCREVER BEM 
OU ESSA PRÁTICA É UM DOM INATO QUE SE 
MANIFESTA NA INFÂNCIA E SE CONSOLIDA 
NA IDADE ADULTA?
LUIZA: .ÎO� Ï� UM� DOMÓNIO� INATO�� POR-
que você precisa conhecer o código de 
linguagem para escrever bem; se você 
nunca tiver acesso a esse recurso, será 
impossível aprender. Quando uma pes-
soa tem uma habilidade mais destacada, 
naturalmente, ela se sente bem ao utili-
ZAR�O�DOM��SEJA�NA�ESCRITA��NA�MÞSICA��NO�
domínio da matemática ou de artes, ou 
em qualquer domínio de conhecimento 
OU� INTELIGÐNCIA�� #ONFORME� ELA� SE� DEDI-
CA�� A� CAPACIDADE� SE� DESENVOLVE� E� A� FAZ�
se sentir bem e tende a se consolidar. É 
claro que descobrir um dom inato numa 
CRIAN¥A�E�APOIÉ
LA�Ï�O�MÉXIMOå�-AS��EU�
QUERO�DIZER��QUE�TODOS�PRECISAM�DESCO-
brir seus talentos, em qualquer idade, 
mesmo quem não teve oportunidade 
quando pequeno. 
EXISTEM FORMAS DIFERENTES DE RACIO-
CINAR? QUAIS SERIAM?
LUIZA: O ser humano raciocina para re-
ALIZAR�QUALQUER�TIPO�DE�ATIVIDADE��DESDE�
as mais simples até as mais complexas. 
2ACIOCINAR��A�ATIVIDADE�MENTAL�QUE�PER-
MITE�A�ORGANIZA¥ÎO�DO�PENSAMENTO�PARA�
conseguir a conclusão de ideias, deter-
minar resultados. O raciocínio pode ser 
VERBAL��QUE�CONSISTE�NA�UTILIZA¥ÎO�DE�ELE-
mentos verbais, ou não verbal, quando 
envolve exercícios de raciocínio lógico 
com problemas matriciais, geométricos 
e aritméticos. O raciocínio espacial en-
volve a capacidade de manipular repre-
sentações mentais visuais. O raciocínio 
abstrato se refere à capacidade para 
determinar ligações abstratas entre con-
ceitos através de ideias inovadoras. Di-
versos outros tipos de raciocínio ainda 
podem ser listados, mas o importante é 
observar o foco o melhor possível, rela-
cionar as informações, arriscar proposi-
ções, analisar hipóteses, comparar, ouvir 
as pistas internas e... relaxar. O raciocí-
nio é um super-herói que não gosta de 
pressão: brinque, solte-se e ele acontece. 
O APRENDIZADO É CONSTANTE EM NOSSA 
VIDA. UMA DAS MOTIVAÇÕES, INCLUSIVE, 
FOI A DESCOBERTA SOBRE A ELASTICIDA-
DE CEREBRAL. HÁ TÉCNICAS QUE PODEM 
SER USADAS POR ADULTOS EM DESENVOL-
VIMENTO DE APRENDIZAGEM? SÃO DIFE-
RENTES DAS APLICADAS EM CRIANÇAS EM 
IDADE ESCOLAR? CASO SEJAM, POR QUÊ? IMA
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Não estamos falando em alterar condições 
biológicas, o que já se tem conseguido em muitos 
casos, mas em adequar a situação de ensino para 
propiciar condições de progresso às necessidades 
do aluno, sendo preciso desenvolver ferramentas
LUIZA: Aprender é constante, resulta 
de estar vivo e em relação com o am-
BIENTE��-ESMO� DORMINDO�� A� APRENDIZA-
gem ocorre, porque o sono consolida a 
memória e libera a consciência de crí-
ticas. Sem dúvida, saber que o cérebro 
NÎO�ESTABELECE�UM�LIMITE�DE�APRENDIZA-
gem, e até pode reativar funções cogni-
tivas que possam ter sido afetadas por 
doenças ou traumatismos, abriu um le-
que de expectativas das quais o ser hu-
mano pode usufruir. As técnicas devem 
ser diferentes, porque devem atender as 
características de cada um. Ou seja, a 
APRENDIZAGEM� NÎO� SE� LIMITA� Ì� INFÊNCIA��
embora seja um período de inestimáveis 
POSSIBILIDADES�NA�APRENDIZAGEM��/�CÏRE-
BRO��SENDO�UM�ØRGÎO�mEXÓVEL��DEVE�SEGUIR�
buscando aperfeiçoamento. Eu mesma 
acabei me voltando para a Psicologia 
Social e do Trabalho, área em que com-
PLETEI�MEU�DOUTORAMENTO��NA�530��COM�
a orientação do incrível prof. dr. Sig-
MAR�-ALVEZZI��3ABEMOS�QUE�NEM�TODOS�
têm a oportunidade de receber estímu-
LOS�ADEQUADOS�NA� INFÊNCIA� �MAS� SEMPRE�
EXISTE�A�PSICOTERAPIA	�E�ME�CONVENCI�DE�
QUE��SE�REUNIRMOS�OS�PROlSSIONAIS�QUE�SE�
DEDICAM�A�ESTUDOS�CIENTÓlCOS�DE�CONHE-
cimentos e teorias que fortalecem esse 
CAMPO�� CONSEGUIREMOS� FAZER�MAIS� PELA�
educação, promovendo mais crianças. 
Então, me voltei para os professores, psi-
CØLOGOS��FONOAUDIØLOGOS��lSIOTERAPEUTAS��
MÏDICOS�� ENlM�� PARA� AQUELES� QUE� TRA-
BALHAM��%M�VÉRIOS� LIVROS�QUE�ORGANIZEI�
tive o privilégio de ser atendida por au-
TORES�QUE�ADMIRO�E�ACEITARAM�O�DESAlO�
de melhorar as condições brasileiras de 
educação, saúde e trabalho. Escreveram 
capítulos e defenderam seus temas em 
nosso congresso interdisciplinar, que 
AGORA�FAZ����ANOS�
COMO A PSICOTERAPIA PODE CONTRIBUIR 
PARA O TRATAMENTO DE TRANSTORNOS 
MENTAIS E COGNITIVOS ENTRE OS ADO-
LESCENTES?
LUIZA: O autoconhecimento é a estra-
TÏGIA�UTILIZADA�EM�PSICOTERAPIA��#ONFOR-
me o indivíduo consegue se perceber de 
forma mais consciente, com suas fra-
QUEZAS�E�FOR¥AS��ELE�SE�TORNA�MAIS�CAPAZ�
de aceitar as pessoas e de interferir no 
mundo de forma positiva, com resulta-
dos satisfatórios, que promovem cada 
VEZ�MAIS�ESSA�INTERA¥ÎO�
DE QUE FORMA VOCÊ OBSERVA A QUES-
TÃO DA VISIBILIDADE E INVISIBILIDADE 
SOCIAL DO ADOLESCENTE NO MUNDO 
CONTEMPORÂNEO?
LUIZA: Os problemas da adolescência 
estão ganhando espaço social no mun-
do contemporâneo com avanços em sua 
visibilidade, mas há muito a caminhar e 
vencer. Frequentemente, os adolescen-
tes estão visíveis, como preocupação, e 
mais pela percepção dos problemas do 
que pelas soluções. A vulnerabilidade 
dessa etapa de vida diante da violência 
urbana, do apelo às drogas, da falta de 
PERSPECTIVAS� PROlSSIONAIS� DE� REALIZA-
ção pessoal ainda representa um desa-
lO�PARA�O�%STADO�E�A�SOCIEDADE��3ENDO�
uma fase essencial para o futuro, com 
forte impacto na sociedade e em sua 
produção, é preciso conseguir mais do 
que promover a punição de infrações e, 
também, apoiar os pais através de pro-
gramas que possam orientar os jovens 
e prevenir desvios de conduta, espe-
cialmente nas comunidades mais ca-
rentes, que contam com menos opções 
Quando a pessoa tem uma 
habilidade, naturalmente ela se 
sente bem ao utilizar o dom, 
seja na escrita, na música ou no 
domínio da matemática
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
DE� SUPORTE��-EDIDAS� DE� INCENTIVO� PRO-
lSSIONALIZANTE� PODEM� AJUDAR� A� OCUPAR�
o tempo e a energia dos adolescentes, 
para que invistam em retorno concreto, 
tão necessário a essa fase que se perde 
em devaneios com facilidade. Educa-
¥ÎO��SAÞDE��ESPORTE��CULTURA��ARTE�E�LAZER�
devem estar mais ao alcance dos jovens 
nas políticas públicas, apesar das re-
conhecidas conquistas. A visibilidade 
que governantes precisam ter sobre a 
adolescência é de conhecimentos que 
tragam respostas aos problemas, com 
caminhos mais seguros para lidar com 
ELES�E��PARA�ISSO��PROlSSIONAIS�PESQUISA-dores deveriam ser reunidos e ouvidos, 
para que os projetos sejam debatidos e 
acertados, buscando os aspectos que 
ainda estão invisíveis, que são as expec-
tativas dos adolescentes e suas possibili-
dades de contribuir com a sociedade: “A 
SOCIEDADE�PRECISA�SE�DISPOR�A�FAZER�MAIS�
do que críticas, ajudando a construir o 
FUTURO�DOS�NOSSOS�JOVENSv��Adolescência – 
as Contradições da Idade	�
DENTRE OS INÚMEROS DESAFIOS PARA O 
EDUCADOR DO SÉCULO XXI, CONVERSAR 
COM OS ALUNOS SOBRE SEXUALIDADE E GÊ-
NEROS SERIA UM DOS MAIORES?
LUIZA: .ÎO� DEVERIA� SER� UM� PROBLEMA�
conversar com alunos sobre sexuali-
DADE�E�GÐNEROS��!�DIlCULDADE�ESTÉ�EM�
conversar. O educador do século XXI 
acumulou inúmeras funções, confor-
me se entende cada aluno como um 
ser especial em desenvolvimento, e seu 
papel presume muito mais do que re-
PASSAR�INFORMA¥ÜES��QUE��AlNAL��PODEM�
ser obtidas por diversos meios. Os pais, 
parceiros mais do que interessados em 
compartilhar dessas tarefas, nem sem-
pre são alcançáveis. Acho que o mais 
difícil é ouvir esses alunos, que acumu-
lam conhecimentos de fontes duvidá-
veis, e responder conforme as dúvidas, 
permitindo a chance de se colocarem 
no lugar do outro para aceitar cada um, 
mas, principalmente, visando autoes-
TIMA�� VALORIZANDO� AS� PRØPRIAS� CARAC-
terísticas e sonhos, que, dessa forma, 
POSICIONAM
SE�ACIMA�DE�BULLYING��4AM-
bém é difícil para o adolescente lidar 
com seus fracassos pessoais, que acon-
tecem nas relações diárias e advêm da 
DIlCULDADE�PARA�AGIR�EM�CONFORMIDADE�
com seus valores, lembrando que, nessa 
fase, os grupos se formam e o desejo de 
SER� ACEITO� FAZ� O� JOVEM� PASSAR� AT� POR�
cima de si mesmo ou se isolar.
OUTRA QUESTÃO FUNDAMENTAL SERIA A 
RELAÇÃO DO ADOLESCENTE COM A VIO-
LÊNCIA, EXTRAPOLANDO PARA CONFLI-
TOS NA ESCOLA. COMO LIDAR COM ESSE 
PROBLEMA?
LUIZA: O estresse está presente na vida 
diária e as exigências, frequentemente, 
superam as possibilidades de o jovem 
CORRESPONDER��O�ADOLESCENTE�PODE�ABRIR�
mão de encontrar com a pessoa que 
FAZ� SEU� CORA¥ÎO� BATER�MAIS� FORTE��MAS�
NÎO�TERÉ�GARANTIAS�DE�UMA�BOA�CLASSIl-
CA¥ÎO�NUMA�PROVA	��¡�UM�MOMENTO�DE�
desenvolvimento em que os amigos do 
grupo parecem ser aqueles que podem 
compreendê-lo, o que nem sempre se 
CONCRETIZA��3ÎO�FATOS�QUE�TORNAM�A�ADO-
lescência uma fase complicada, exter-
namente, enquanto, internamente, as 
mudanças não obedecem o seu coman-
do e se evidenciam nas espinhas do 
rosto, no corpo que muda, nos pensa-
mentos que ganham o espaço. Sentir-
-se confuso, sem saber como conciliar 
desejos e práticas, aumenta o descom-
PASSO� DE� UMA� FASE� CARACTERIZADA� POR�
uma montanha-russa de emoções, que 
incluem também a agressividade. De 
repente, para aquele jovem grande, de 
CORPO�� E� AINDA� IMATURO� NAS� A¥ÜES� FAZ�
Para iniciar a 
reabilitação cognitiva 
é recomendável conhecer 
o problema. Começa 
aí uma controvérsia, 
porque ainda se insiste 
em tentar de “tudo” 
antes de buscar ajuda 
interdisciplinar ou 
especializada para 
avaliar a queixa
Na fase da adolescência, é comum a formação de grupos, pois a necessidade de ser aceito faz o jovem 
passar até por cima de si mesmo ou se isolar
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falta um direcionamento, ao seu lado, 
ACOMPANHANDO� SEU� FAZER�� SEU� QUERER�
e ajudando-o a se posicionar com su-
cesso, lidando com a inteligência emo-
cional, que se divorcia do adolescente 
nessa fase tão inexplorada. A violência 
SE�FAZ��NOSSA�VOLTA�E�SE�LIGA�A�UM�COM-
portamento social que precisa ser com-
preendido, porque ela exclui indivíduos 
da possibilidade de convívio. A escola 
TEM�A�CHANCE�DE�ACOLHER�OS�CONmITOS�E�
buscar resoluções com a família, com a 
0SICOLOGIA�OU�COM�OS�PROlSSIONAIS�QUE�
forem indicados para a resolução do 
problema, na prevenção, antes que ele 
aconteça. Ignorar a situação é empur-
rá-la para um agravamento, por isso, 
no livro Violência e Educação – a Socie-
dade Criando Alternativas, procuramos 
ouvir especialistas, que nos mostram 
que o futuro se constrói agora. 
EXISTE UMA AFIRMAÇÃO DE QUE O ADO-
LESCENTE DORME DEMAIS, SENTE MAIS 
SONO. HÁ UMA ASSOCIAÇÃO ENTRE SIN-
TOMATOLOGIA DEPRESSIVA E DISTÚRBIOS 
DO SONO NESSA FAIXA ETÁRIA?
LUIZA: .ÎO� NECESSARIAMENTE�� ¡� UMA�
fase de intenso gasto de energias, e a 
reposição ocorre justamente através 
do sono, tema que considero da maior 
importância e que não recebe a aten-
ção correspondente aos danos que sua 
falta provoca e poderiam ser evitados 
�ORGANIZEI� DOIS� LIVROS� SOBRE� O� ASSUNTO�
e tive como coorientador de doutorado 
O� PROF�� DR�� 2UBENS�2EIMÎO�� DO�'RUPO�
DE�0ESQUISA�!VAN¥ADA�EM�-EDICINA�DO�
3ONO��DO�QUAL�FA¥O�PARTE	��!S�ALTERA¥ÜES�
HORMONAIS�NA�ADOLESCÐNCIA�INmUENCIAM�
AS�MUDAN¥AS��!�MELATONINA�PRODUZIDA�
pela glândula pineal e altamente envol-
vida no ciclo do sono passa a ter seu 
pico de excreção mais tarde, atrasando 
a sensação de sono nos jovens. Sua pro-
dução também é afetada com a exposi-
¥ÎO�Ì�LUZ��O�QUE�ACONTECE��POR�EXEMPLO��
no uso de aparelhos eletrônicos antes 
de dormir, o que é quase uma norma. 
!O�LADO�DA�MUDAN¥A�lSIOLØGICA��APARE-
cem as mudanças sociais, assim como 
O processo de 
reabilitação dependerá 
da necessidade, mas 
se volta para atender 
as causas e reverter os 
resultados; pode fortalecer 
os fatores que compensam 
as áreas comprometidas 
ou auxiliar no uso de 
recursos que permitam 
adaptação satisfatória
a carga de exigências escolares, que 
contribuem para que o adolescente 
durma mais tarde, alterando o padrão 
do ciclo vigília-sono. O adolescente é 
um ser biologicamente programado 
para dormir e acordar mais tarde, sen-
do que na maior parte da manhã seu 
cérebro não está em estado de vigília. 
A duração do sono noturno desem-
penha papel importante na saúde dos 
ADOLESCENTES��TEM�IMPACTO�SIGNIlCATIVO�
em seu bem-estar físico e psicológico 
e está associada a problemas compor-
tamentais e neurocognitivos. Estudos 
têm sugerido que os adolescentes pre-
cisam de nove a nove horas e meia de 
sono por noite e, quando isso não ocor-
re, eles podem apresentar maior sono-
LÐNCIA� DIURNA�� DIlCULDADES� DE� ATEN¥ÎO�
e de concentração, baixo desempenho 
ESCOLAR�� ALÏM�DE� mUTUA¥ÜES� DO�HUMOR��
É importante pensar em práticas ade-
quadas de atividades físicas regulares, 
redução do tempo de ociosidade em 
frente ao computador e à televisão e, 
ainda, um tempo para acompanhar as 
situações que lhe provocam ansiedade 
– tudo isso ajuda a promover uma roti-
na no período noturno para que o sono 
seja satisfatório. Da mesma forma, ape-
NAS�RECLAMAR�DESSE�TRA¥O�lSIOLØGICO�SØ�
OS�FAZ�BUSCAR�DISSIMULAR�O�QUE�SENTEM��
causando uma irritação que, mesmo 
CONTROLADA��NÎO�TRAZ�OS�OBJETIVOS�DESE-
jados, que devem ser enunciados junto 
COM�OS�JOVENS��%M�-"!�EM�'ESTÎO�DE�
0ESSOAS� PODE
SE� CONlRMAR�� HOJE�� LIDE-
rança não é a capacidade de falar mais 
ALTO��3AIR�DO�CONTROLE�S�CONDUZ�AO�ES-
tresse, doença que se espalha facilmen-
te. Por isso, se tiver dúvidas, procure 
um especialista. 
O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e acordar mais tarde, sendo que na maior 
parte da manhã seu cérebro não está em estado de vigília
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
O trabalho nos desafia e, ao fazê-lo, nos 
torna seres humanos melhores. Dessa 
forma, vale dizer que uma outra implica-
ção da pergunta inicial seria a existência 
de uma conexão entre a felicidade e aqui-
lo quefazemos de nossas vidas, o que faz 
todo sentido, uma vez que somos o exato 
produto de nossas escolhas. 
O questionamento sobre a existên-
cia ou não de profissões mais felizes 
logia anacrônica que insiste em discutir 
a mais valia. É sempre bom lembrar que, 
apesar de também poder ser utilizado 
como forma de exploração, o trabalho é, 
antes de tudo, uma forma de autorreali-
zação. Além disso, às demandas geradas 
pelo mundo do trabalho devemos boa 
parte de nossas conquistas pessoais, tais 
como a disciplina, a responsabilidade, o 
convívio com o outro, a tolerância etc. 
VISTO POR MUITOS COMO FONTE DE SOFRIMENTO, 
O TRABALHO POSSUI ESTREITA LIGAÇÃO COM A FELICIDADE. 
EXISTIRIAM, ENTÃO, PROFISSÕES MAIS “FELIZES”?
D
ia desses me dirigiram uma 
pergunta interessante: Exis-
tem profissões mais felizes que 
outras? Podemos analisar essa 
pergunta de várias maneiras. Come-
cemos (é claro) pela mais otimista. Tal 
questão estabelece o pressuposto de que 
felicidade e trabalho sejam conciliáveis, o 
que por si só representa para mim um alí-
vio, acostumada que estou a uma Psico-
O que você vai ser 
quando CRESCER?
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
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O 
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demonstra também um crescente inte-
resse das pessoas pelo tema da satisfação 
no trabalho, o que parece corroborar 
a afirmação de Seligman de que nossa 
economia estaria mudando rapidamente 
“de uma economia de dinheiro para uma 
economia de satisfação”. O problema 
ocorre quando a opção pela satisfação 
entra em choque com a concepção vi-
gente acerca do sucesso. Reféns de uma 
educação voltada para o “ter”, crescemos 
acreditando no sucesso como prosperi-
dade financeira e, fundamentados por 
essa crença, muitas vezes nos perdemos 
na trajetória de nossas carreiras. Nesse 
sentido, ao discutir o sucesso, o psicólo-
go Viktor Frankl parece bastante atual. 
Diz ele: “O sucesso, assim como a felici-
dade, não pode ser perseguido; ele deve 
acontecer, e só tem lugar como efeito 
colateral de uma dedicação pessoal a 
uma causa maior que a pessoa, ou como 
subproduto da rendição pessoal a outro 
ser. A felicidade deve acontecer natural-
mente, e o mesmo ocorre com o suces-
so; vocês precisam deixá-lo acontecer 
não se preocupando com ele. Quero que 
vocês escutem o que a sua consciência 
diz que devem fazer e coloquem-no em 
prática da melhor maneira possível. E 
então vocês verão a longo prazo – estou 
dizendo: a longo prazo! – o sucesso vai 
persegui-los, precisamente porque vocês 
esqueceram de pensar nele”. 
É aí então que chegamos ao que cha-
mo de premissa equivocada da pergunta 
inicial sobre a possibilidade da existência 
É SEMPRE BOM LEMBRAR QUE, 
APESAR DE TAMBÉM PODER SER 
UTILIZADO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO, 
O TRABALHO É, ANTES DE TUDO, 
UMA FORMA DE AUTORREALIZAÇÃO
de profissões mais felizes, que é a de que 
a felicidade estaria em algo externo ao 
próprio indivíduo, tal como uma profis-
são que seria mais ou menos feliz per se.
Talvez nesse ponto devamos substi-
tuir a clássica pergunta “o que você vai 
ser quando crescer?” por algo do tipo 
“como você vai ser quando crescer”? 
Isso porque, ao questionarmos nossos 
filhos sobre o que deverão ser, talvez 
estejamos lhes ensinando, equivocada 
e subliminarmente, que existem profis-
sões melhores do que outras e nos fe-
chando para o fato de que uma pessoa 
pode atingir o verdadeiro sucesso (leia-
-se felicidade) por meio de uma dezena 
de profissões diferentes, desde que por 
meio delas encontre meios de expressar 
o seu melhor, deixando no mundo a sua 
marca individual como ser humano. 
Vale lembrar também que, com o au-
mento da expectativa de vida, costuma-
-se falar hoje sobre múltiplas carreiras. 
Portanto, como você vai ser quando 
crescer? Quando partir para a segun-
da, terceira ou mesmo quarta carreira? 
Lembre-se de que se hoje para nós a 
medida do sucesso parece vir de uma 
comparação constante entre o nosso 
modelo de iphone ou de carro com o do 
nosso vizinho, acreditar na felicidade 
no trabalho como resultado da maneira 
com que nos relacionamos com ele tal-
vez nos faça enxergar que, como dizia 
Hemingway, “não há nobreza em ser 
superior ao próximo. Nobreza é ser su-
perior ao que você já foi”.
NAS BANCAS!
www.escala.com.br
20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
A EPILEPSIA 
é um problema biológico
A ESCOLA, RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DO 
CIDADÃO, PRECISA FAZER PARTE DAS INTERVENÇÕES, 
QUER NO ASPECTO PEDAGÓGICO OU NO 
SOCIOEMOCIONAL DAS CRIANÇAS QUE TÊM A DOENÇA
D
e origem grega, a palavra 
epilambanei (“surpresa”) é 
uma condição biológica, que 
revela um desequilíbrio neu-
rológico manifestado frequentemente 
na forma de crises convulsivas inespe-
radas e recorrentes, com grau variável 
de intensidade e duração. 
através de exames específ icos, e que 
a intervenção, medicamentosa ou 
cirúrgica, ofereça à grande maioria 
dos epilépticos uma condição de vida 
normal, alguns fatores decorrentes 
podem trazer prejuízos a sua vida 
escolar, mesmo se sabendo que não 
há comprometimento cognitivo asso-
A convulsão é apenas um dos sinto-
mas da doença, a qual traduz a existên-
cia ocasional de uma descarga excessiva 
e desordenada do tecido nervoso sobre 
os músculos do organismo. Não é con-
tagiosa e pode surgir em qualquer idade. 
Ainda que a conf irmação des-
se diagnóstico seja da área médica, 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em 
publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de 
especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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ciado ao quadro, até pelo contrário: 
a maioria dos epilépticos tem funcio-
namento normal e acima da média 
(Mattos, Duchesne, 1994).
A epilepsia é comum a cerca de 
2% de nossa população, especialmen-
te na infância, já que nos primeiros 
anos de vida há mais vulnerabilida-
de para infecções do sistema nervo-
so central, e acidentes ocorrem com 
certa frequência. As crises epilépticas 
podem ser de diversos tipos, confor-
me as áreas do cérebro afetadas. Há 
crises parciais, outras generalizadas, 
assim como há as chamadas crises de 
ausência, em que não há uma evidên-
cia motora. Os sintomas da epilepsia 
variam de acordo com os neurônios 
que estão em estado de hiperexcita-
ção, e em decorrência podem surgir 
confusão temporária, ausência, mo-
vimentos musculares descoordena-
dos e completa perda da consciência. 
Quando as crises ocorrem apenas em 
parte do cérebro, elas são chamadas 
de crises convulsivas parciais, mas 
quando a hiperexcitação neuronal 
não se atém apenas a uma determi-
nada região cerebral, ocorrem crises 
convulsivas generalizadas. 
Relatos e registros têm mostrado 
que nem todo professor está apare-
lhado para agir no caso de um aluno 
ter uma crise convulsiva e, decorren-
te a esse fato, as crianças, os cole-
gas de classe também não têm esse 
conhecimento e se assustam, pois 
não fazem ideia do que ocorrecom o 
amigo em crise.
Por isso, o impacto geral é na 
maioria das vezes marcante para 
quem assiste a uma convulsão, já que 
a ideia de morte, aliada aos mitos que 
envolvem a epilepsia, ainda é grande 
na atualidade. Pode ser mesmo uma 
cena impactante se a crise for inten-
sa e a pessoa se machucar na queda. 
Embora quem tem o ataque epilépti-
co não padeça de dor f ísica, pode se 
machucar ao se debater contra uma 
superf ície rígida, pontiaguda.
Mas pior é o mal-estar do ponto 
de vista pessoal e social: epilépticos 
em geral relatam vergonha dos co-
legas, sentem-se vulneráveis a ter 
outras crises e serem objeto de pena 
e discriminação. Tornam-se crian-
ças e jovens menos sociáveis, pois 
a sua condição repercute no aspec-
to psicossocial, de relacionamento 
com meio ambiente, tanto na famí-
lia como na escola e, mais tarde, na 
vida prof issional.
A família toda precisa de orien-
tação e frequentemente essa advém 
da escola: muitos pais tornam-se su-
perprotetores, ansiosos, permissivos 
e há um importante estresse familiar 
permeando, o que aumenta o senti-
mento de inadequação, dependência, 
imaturidade do epiléptico. Além dis-
so, nesse contato do professor com 
a família, informações sobre diag-
nóstico, medicação e características 
especiais desse aluno trarão maiores 
recursos aos prof issionais, criando 
ainda condições de esclarecimento 
de base científ ica sobre o que é uma 
convulsão, o que é a epilepsia e afas-
tar tabus que rondam a doença. Por 
essa razão, é de extrema importância 
RELATOS E 
REGISTROS TÊM 
MOSTRADO QUE 
NEM TODO 
PROFESSOR ESTÁ 
APARELHADO PARA 
AGIR NO CASO DE 
UM ALUNO TER UMA 
CRISE CONVULSIVA 
NA SALA DE AULA
que os professores saibam o que fazer 
antes, durante e após a crise. 
Conhecimentos científ icos especí-
f icos sobre o assunto estão em bons 
sites na internet, em boas revistas e 
em livros de autores experientes, além 
de cursos de primeiros socorros que 
são indispensáveis para quem tem sob 
sua responsabilidade muitas crianças 
e adolescentes diariamente.
Sabe-se que mesmo entre os alu-
nos medicados e que não apresentam 
crises convulsivas típicas na escola, 
devido ao efeito de algumas dessas 
medicações e a algumas interrupções 
na frequência às aulas, podem apare-
cer prejuízos no processo de apren-
dizagem devido a uma relativa baixa 
atentiva, e de memória, um rebaixa-
mento na velocidade de processamen-
to, no desenvolvimento das funções 
da linguagem, no perceptivo motor e 
no aprendizado do cálculo (Mattos; 
Duchesne, 1994).
Se houver surgimento de uma 
eventual dif iculdade de aprendizado 
ligada à epilepsia, certamente será 
complicada por fatores de ordem 
socioemocionais e de ensino-apren-
dizagem, referente à maneira como 
a escola desenvolve a inclusão da 
criança no grupo.
É importante não apenas lembrar 
que incentivar a criança a elaborar es-
tratégias de aprendizagem adequadas 
ao seu perf il de aprendiz lhe oferece 
oportunidade de desenvolver suas ha-
bilidades cognitivas e ter sucesso na 
escola, autoconf iança e motivação. 
Mas também é preciso estar atento ao 
fato de que alunos com dif iculdades 
escolares de toda ordem precisam de 
retorno e reforço mais constante, para 
que modif iquem sua conduta no senti-
do da superação.
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NEUROPLASTICIDADE
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NEUROPLASTICIDADE
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Marineide Almeida Fernandes é psicóloga, terapeuta de casais e família, terapeuta 
EMDR, master coach, practitioner em PNL e hipnoterapeuta e ativista quântica. Site: 
marineidealmeida.com.br | Fanpage: facebook.com/PsiMarineideAlmeida | 
Instagram: @PsiMarineideAlmeida
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Site: drmiltonmoura.com | Canal no Youtube: youtube.com/DrMiltonMoura | Fanpage: 
facebook.com/AtivismoQuantico | Instagram: @DrMiltonMoura-AtivismoQuantico
Por Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura
Avanços tecnológicos 
proporcionam entender melhor 
o funcionamento da mente, 
especialmente em pesquisas 
realizadas pela neurociência que 
mostram que o cérebro não 
diferencia realidade da imaginação
Processos de 
SINAPSES 
IGUAIS
PPPPPPPPPPPPooooooooooorrrrrrrrrrrrrr MMMMMMMMMMMMMMMMaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrriiiiiiinnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddeeeeeeeeeeeeee AAAAAAAAAAAAAAAAllllllllllmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddaaaaaaaaaaaaa FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnndddddddddddddeeeeeeeeeeeeeessssssssssssss eeeeeeeeeeeeee MMMMMMMMMMMMMMMiiiiiiiiiilllllllllttttttttttttttooooooooooonnnnnnnnnnnnnn CCCCCCCCCCCeeeeeeeeeeeeeessssssssssssaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrr FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrllllllllllliiiiiiiinnnnnnnnnnnnnn MMMMMMMMMMMMMMMMooooooooooouuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaPor Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura
AAAAAAAAAAAAvvvvvvvvvvvaaaaaaaaaannnnnnnnnnççççççççççoooooooosssssssss ttttttttttteeeeeeeeeeeccccccccccnnnnnnnnnnoooooooolllllllóóóóóóóóóógggggggggggggiiiiiiiccccccccoooooooosssssssss 
ppppppppppprrrrrrrrrroooooooopppppppppppoooooooooorrrrrrrrrrrcccccccciiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaaammmmmmmmmmm eeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttteeeeeeeeeeennnnnnnnnnddddddddddeeeeeeeeeeerrrrrrrrrr mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeellllllllhhhhhhhhhhhoooooooorrrrrrrrrrr 
oooooooo fffffffffffuuuuuuuuuunnnnnnnnnncccccccciiiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaammmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttoooooooo ddddddddddaaaaaaaaaa mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee,,,, 
eeeeeeeeeeessssssssspppppppppppeeeeeeeeeeeccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaallllllllmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee eeeeeeeeeeemmmmmmmmmm pppppppppppeeeeeeeeeeesssssssssqqqqqqqqqquuuuuuuuuuiiiiiiisssssssssaaaaaaaaaasssssssss 
rrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaalllllllliiiiiiizzzzzzzzzzzaaaaaaaaaaaddddddddddaaaaaaaaaaasssssssss pppppppppppeeeeeeeeeeelllllllaaaaaaaaaaa nnnnnnnnnneeeeeeeeeeeuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrooooooooccccccccciiiiiiiêêêêêêêêêêênnnnnnnnnnccccccccciiiiiiaaaaaaaaaaa qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee 
mmmmmmmmmmmoooooooossssssssstttttttttttrrrrrrrrrrraaaaaaaaaammmmmmmmmmm qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee oooooooo ccccccccééééééééééérrrrrrrrrrreeeeeeeeeeebbbbbbbbbbbrrrrrrrrrrroooooooo nnnnnnnnnnããããããããããoooooooooo 
ddddddddddiiiiiiiiffffffffffffeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrreeeeeeeeeeennnnnnnnnnnccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaaa rrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaallllllliiiiiiiiddddddddddaaaaaaaaaaddddddddddeeeeeeeeeee ddddddddddaaaaaaaaaa iiiiimmmmmmmmmmmaaaaaaaaaagggggggggggggiiiiiinnnnnnnnnnaaaaaaaaaaçççççççççççãããããããããããoooooooooo
Avanços tecnológicos 
proporcionam entender melhor 
o funcionamento da mente, 
especialmente em pesquisas 
realizadas pela neurociência que 
mostram que o cérebro não 
diferencia realidade da imaginação
Processos de 
SINAPSES 
IGUAIS
24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NEUROPLASTICIDADE
Em cada percepção surgem, 
simultaneamente, o sujeito que observa e o 
objeto que é observado. Como isso acontece? 
Como ocorre essa separação entre o sujeito e 
o objeto? Por meio da chamada cisão 
sujeito/objeto da observação
Em algum momento al-guém já pensou sobre o fenômeno da percep-ção? Como se perce-bem as coisas ao redor 
e no mundo externo? Todos temos 
um aparato de percepção: o cére-
bro. Ele é o responsável por colocar 
o ser humano em contato com tudo 
o que existe. É praticamente impos-
sível não se impressionar quando 
se pensa na compreensão do fenô-
meno da percepção. A cada obser-
vação, o cérebro grava o ambiente 
externo e cria uma representação 
interna. Um processo complexo e 
ainda pouco compreendido emsua 
totalidade pela neurociência. 
Em cada percepção surgem, si-
multaneamente, o sujeito que ob-
qual a mente e o cérebro interagem: 
realidade e imaginação. A mente 
pode mudar o cérebro? Essa é uma 
questão que sempre esteve pre-
sente em várias discussões. Quem 
causa quem? O cérebro, através dos 
seus processos internos de funcio-
namento dos neurônios, produz a 
mente? A mente pode causar algu-
ma mudança na estrutura física do 
cérebro? São questões importantes 
e merecem ser respondidas. Essas 
respostas permitirão uma expansão 
da própria consciência. 
Consciência e cérebro guardam 
uma íntima (inter)relação, o pro-
blema é acreditar que a consciên-
cia surge devido ao funcionamento 
do cérebro. Desde muito tempo, 
William James – um dos fundado-
res da Psicologia moderna – já pen-
sava nessa interação. Ele realizou 
experimentos pessoais com o óxido 
nítrico, ou gás hilariante, com o 
qual sentia a consciência se libertar 
do corpo. Isso o levou a questionar 
publicamente, em 1898, se o cére-
bro de fato produzia a consciência. 
Hoje, com a utilização do mape-
amento cerebral, é possível estudar 
o cérebro de forma dinâmica (es-
tudar o cérebro vivo), o que trouxe 
uma importante consequência para 
as pesquisas da consciência. O cé-
rebro não consegue diferenciar rea-
lidade de imaginação. Os processos 
de sinapses utilizados pelo cérebro 
durante a percepção de um objeto 
separado e externo são os mesmos 
usados durante a imaginação desse 
mesmo objeto, agora na percepção 
interna e particular. Isso começa 
a proporcionar um embasamento 
científ ico para todas as terapias que 
lidam com o campo sutil, sejam elas 
oficializadas por órgãos competen-
tes ou não. 
O fato de um grupo de pessoas 
apenas imaginar que está apren-
dendo determinada habilidade, 
comparado com outro grupo que IMAG
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serva e o objeto que é observado. 
Como isso acontece? Como ocorre 
essa separação entre o sujeito e o 
objeto? Por meio da chamada ci-
são sujeito/objeto da observação. 
Como surge o sujeito que observa? 
Existe a mais pura nitidez dessa se-
paração: a observação é capaz de 
produzir o “Eu” que percebe, que 
dá signif icado, que cria a realida-
de. Percepção e realidade guardam 
uma íntima correlação. E a imagi-
nação? Quando se fecham os olhos, 
o que acontece com o cérebro?
Os avanços tecnológicos de in-
vestigação do cérebro permitiram 
uma expansão na compreensão de 
seu funcionamento. Avançou-se 
muito com os estudos proporciona-
dos pela neurociência no campo no 
O cérebro coloca o ser humano em contato com tudo o que existe, ou seja, a cada observação, o 
cérebro grava o ambiente externo e cria uma representação interna
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25
A mente pode mudar o cérebro? Essa é uma 
questão que sempre esteve presente. 
O cérebro, através dos seus processos internos 
de funcionamento dos neurônios, produz a 
mente? A mente pode causar alguma 
mudança na estrutura física do cérebro? 
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realmente está treinando mecani-
camente essa habilidade, não mos-
trou nenhuma diferença signif i-
cativa entre ambos. Esse conceito 
fez despertar e emergir o conceito 
da neuroplasticidade: a capacidade 
que todos têm de criar novos cir-
cuitos cerebrais para expressar no-
vas habilidades de nossa consciên-
cia. Ou seja, estimular a formação 
de novas sinapses em um processo 
denominado sinaptogênese, que 
é feito a cada momento diante das 
inúmeras percepções que são cap-
tadas do mundo exterior. As novas 
sinapses determinam novas redes 
neurais que, por sua vez, formarão 
novas memórias. 
Pesquisa realizada pelo médi-
co espanhol Alvaro Pascual-Leone 
observou esses aspectos, um expe-
rimento elegante e elogiado pelos 
cientistas que estudam o fenôme-
no da neuroplasticidade. Com o 
aperfeiçoamento dos equipamentos 
de mapeamento cerebral, Pascu-
al-Leone conseguiu levar adiante os 
trabalhos de Ramón y Cajal, médico 
e histologista espanhol, considerado 
o “pai da neurociência moderna”. 
A imaginação pode mudar a 
anatomia cerebral? Os detalhes do 
experimento sobre a imaginação 
foram simples e realizados com 
pessoas que nunca tinham estuda-
do piano. Foi ensinado a um grupo 
uma sequência de notas, mostran-
do-lhes quais dedos mexer e dei-
xando que ouvissem as notas à me-
dida que fossem tocadas. Ou seja, 
esse grupo estava sentado ao piano 
e fazendo os exercícios físicos. Um 
outro grupo, chamado grupo do 
exercício mental, iria apenas imagi-
nar a mesma sequência de notas por 
duas horas por dia, durante cinco 
dias. Os grupos tiveram o cérebro 
mapeado antes, durante e depois do 
experimento. Ambos os grupos fo-
ram solicitados a tocar a sequência 
aprendida e treinada enquanto um 
computador media a precisão de 
sua performance. 
Pascual-Leone concluiu que 
ambos os grupos mostraram mu-
danças semelhantes no mapa cere-
bral. O grupo do exercício mental 
produziu uma mudança física no 
sistema motor semelhante ao gru-
po que executou o exercício físi-
co. Ao f inal do quinto dia, as mu-
danças para os músculos eram as 
mesmas nos dois grupos. Durante 
o processo de imaginação, é pos-
sível promover mudanças físicas 
no cérebro, demonstrando que o 
exercício mental provoca tais mu-
danças cerebrais. Isso traz à tona 
Um dos criadores da Psicologia moderna, William 
James sempre acreditou que a consciência e o 
cérebro têm uma íntima relação de interatividade
TECNOLOGIA É UTILIZADA 
PARA ATIVAR NEURÔNIOS
 PARA SABER MAIS 
Um aparelho chamado Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) foi utilizado pela primeira vez na Faculdade de Medicina de Harvard. Trata-
se de um dispositivo que emite uma estimulação magnética transcraniana 
capaz de impulsionar os neurônios. Pascual-Leone é o pioneiro no uso da 
TMS para ativar neurônios. Ele estudou como os pensamentos alteram o 
cérebro utilizando a TMS para observar mudanças nos mapas dos dedos 
de pessoas que aprendem a tocar piano. Podemos mudar nossa anatomia 
cerebral simplesmente usando a imaginação. Dois grupos de estudos foram 
formados, um sentado diante de um piano e executando uma sequência 
de notas com dedos específicos. Outro grupo imaginaria tocar a mesma 
sequência de notas sem estar diante do piano. Após algumas semanas de 
treinos e submetidos ao mapeamento cerebral através do TMS, observou-
se que no grupo do exercício mental o nível alcançado em performance era 
igual ao nível atingido pelo grupo do exercício físico. O cérebro não separa 
realidade de imaginação!
26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NEUROPLASTICIDADE
novamente que a consciência não 
pode ser o resultado do funciona-
mento dos neurônios. Pelo contrá-
rio, a consciência deve exercer um 
papel causal. 
Mundo quântico
Será que o pensamento e o mundo quântico têm alguma relação? 
Em 1988, Amit Goswami – profes-
sor PhD de Física Quântica Teórica 
da Universidade de Oregon, nos Es-
tados Unidos – afirmou que sim. Le-
vou um bom tempo para se perceber 
a mensagem da Física Quântica: a 
matéria, assim como qualquer forma 
de energia, comporta-se como on-
das de possibilidades, em potentia. A 
Física Quântica traz para a fórmula 
da realidade o papel do observador 
até então afastado e separado. A ex-
periência da fenda dupla, idealizada 
por Tomaz Young – físico, médico 
e egiptólogo britânico, conhecido 
pela experiência que possibilitou 
a determinação do caráter ondula-
tório da luz –, sintetiza muito bem 
essa mensagem. O fenômeno da ob-
Quando se entra em contato 
com o mundo externo, tornando-
-o real, ocorre na percepção a cisão 
sujeito/objeto, ou seja, percebe-sea 
realidade/objeto separada, ao mes-
mo tempo que guarda-se a sensação 
de um sujeito observando. Todos 
estão a todo instante mensurando 
as coisas ao redor. Estímulos diver-
sos chegam ao cérebro para se co-
criar a realidade. Esses estímulos 
necessitam da luz ref letida sobre os 
objetos para que haja sua percep-
ção, para posterior uso através do 
aprendizado, ou seja, a memória. 
As informações advindas das 
diversas interações sociais que o 
ser humano vivencia em seu dia a 
dia alimentam o córtex cerebral e o 
Os processos de sinapses utilizados pelo 
cérebro durante a percepção de um objeto 
separado e externo são os mesmos usados 
durante a imaginação desse mesmo objeto, 
agora na percepção interna e particular
Œ�Estudo do 
comportamento neural Œ
A programação neurolinguística (PNL) 
pode ser definida como a metodologia 
que estuda o aprendizado comporta-
mental, ou seja, como o cérebro percebe, 
codifica, organiza e armazena as infor-
mações, no que se refere a experiências. 
Esse processo determina as relações da 
pessoa com o meio. Explica de que for-
ma, em dado contexto e circunstância, a 
pessoa age ou reage, como experimen-
ta, como influencia o mundo ao redor 
e como é influenciada por ele, positiva 
ou negativamente.
Em 1988, Amit Goswami, PhD em Física Quântica Teórica da Universidade de Oregon, nos EUA, disse 
que o pensamento e o mundo quântico têm relação direta
servação é capaz de provocar o “co-
lapso” da função de onda da matéria, 
simplesmente por observar. Quem 
provoca o colapso da função de onda 
da matéria? Para Amit Goswami, a 
consciência é a base de tudo e é ela 
que causa a realidade.
Em um futuro bem próximo, a 
medicina oficial incorporará em 
suas práticas a opção da medita-
ção, da contemplação, da oração, 
das atividades físicas relaxantes, 
das terapias energéticas, além da 
abordagem alopática hoje em práti-
ca. O ser humano necessita de uma 
abordagem integral, pois é um ser 
integral, constituído de intuições, 
pensamentos, sentimentos, além da 
biologia molecular que o envolve.
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O fato de um 
grupo apenas 
imaginar que 
está aprendendo 
uma determinada 
habilidade, 
comparado com 
outro grupo 
que realmente 
está treinando 
mecanicamente 
essa habilidade, 
não mostrou 
nenhuma diferença 
significativa 
entre ambos
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hipocampo, ambos localizados no 
cérebro. Esses contatos e interações 
alimentam o psiquismo, bem como 
o cérebro. Todas essas impressões 
e vibrações vivenciadas pelo ser 
humano requerem uma gama de 
energias que qualif icam cada ex-
periência. As células nervosas es-
timuladas por todo esse conteúdo 
vibracional das experiências fazem 
tocar um acorde específ ico no cor-
po, utilizando-se de moléculas es-
pecíf icas chamadas de substâncias 
informacionais: hormônios, neuro-
transmissores, peptídeos etc. Essas 
substâncias, por sua vez, estimulam 
o núcleo da célula a produzir, por 
intermédio do DNA, o RNA, men-
sageiro que irá até o citoplasma 
para sintetizar a proteína específ ica 
para a f inalidade em questão. Che-
ga-se, assim, em uma comunicação 
entre mente-corpo-gene.
A comunicação 
O estímulo percorre então um processo de comunicação en-
tre mente e cérebro, depois conti-
nua a comunicação entre cérebro e 
corpo, que por f im chega à célula, 
que se comunica com o gene. Os 
trabalhos de neurocientistas corro-
boram essa constatação. A mente, 
através dos pensamentos, estimula 
o cérebro que se comunica com o 
corpo, que atua na célula e chega 
aos genes, estimulando-os a produ-
zir proteínas específ icas para exer-
cerem funções específ icas.
Portanto, as terapias que en-
volvem exercício mental, como a 
meditação, contemplação, oração, 
sono reparador, terapias energéti-
cas, exercícios físicos relaxantes e 
até mesmo a medicina convencio-
nal, são agora novos aliados na bus-
ca da promoção da saúde. Serenida-
de, calma, benevolência, caridade, 
gratidão, perdão, humildade, equi-
líbrio, fraternidade, indulgência, 
esperança, compreensão, valores 
forma adequada, culminando com 
a harmonia no funcionamento do 
organismo, ou seja, saúde!
Imaginar é poder
O neurocientista Joe Dispenza, em sua obra Evolve your Brain: 
the Science of Changing your Mind, 
revela que o cérebro, longe de ser 
estático e imutável, está em cons-
tante transformação e comporta-
-se como poderoso instrumento de 
criação da realidade, mesmo imagi-
nada. Segundo ele, possuímos o po-
der de, a qualquer instante, trazer 
à tona uma memória desagradável 
e revivê-la como se estivesse ocor-
rendo. Dispenza ressalta ainda que 
as células cerebrais são constante-
mente remodeladas e reorganiza-
das por experiências e pensamen-
tos. A atenção recorrente que se dá 
tanto às frustrações quanto às pre-
ocupações e ansiedades não apenas 
inf luencia as emoções como tam-
bém transforma neurologicamente 
as pessoas.
Esse poder exercido pela ima-
ginação sobre o indivíduo justif i-
ca-se na constatação de o cérebro 
não discernir realidade e imagina-
ção. O professor de Neurociência 
No futuro próximo, a medicina tradicional incorporará em suas práticas as opções da meditação, da 
contemplação, das atividades físicas relaxantes, entre outras
diversos esquecidos ou adormeci-
dos irão fazer tocar um acorde dife-
rente, em que as informações, agora 
com um novo teor vibracional, che-
garão até as células e elas produzi-
rão proteínas de forma equilibrada 
e efetiva para exercer as funções de 
28 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NEUROPLASTICIDADE
A neuroplasticidade é a capacidade 
que todos têm de criar novos circuitos 
cerebrais para expressar novas habilidades 
de nossa consciência. Ou seja, estimular a 
formação de novas sinapses em um processo 
denominado sinaptogênese
Cognitiva, Giorgio Ganis, apontou 
que pela neuroimagem foi possível 
identif icar uma coincidência de 
mais de 90% entre as regiões cere-
brais ativadas pelas percepções vi-
suais e aquelas ativadas pelas ima-
gens mentais. Isso signif ica que, por 
meio da imaginação, nosso cérebro 
é capaz de produzir representações 
internas com a mesma natureza da-
quelas construídas durante a per-
cepção, sem a presença de qualquer 
estímulo visual externo.
Tony Robbins – renomado es-
critor e palestrante motivacional 
– elucida a importância das repre-
sentações internas para a criação 
do estado emocional: são elas as 
lembrança positiva se fortaleça, é 
importante pedir ao paciente que a 
imagine grande, nítida, brilhante, 
colorida e focada. Da mesma forma, 
a f im de que as experiências ruins 
sejam extenuadas, deve-se conduzi-
-lo a representá-las de forma desfo-
cada, escura, pequena e confusa.
A neurociência demonstrou 
que a imaginação, além de viabili-
zar a ressignif icação e a transfor-
mação de uma experiência, tam-
bém possibilita a criação de novas 
habilidades. Os neurônios ativados 
durante o desempenho de uma ati-
vidade também são estimulados ao 
se imaginar a execução dessa ati-
vidade. Estudo realizado com ele-
trodos implantados no cérebro de 
pacientes com epilepsia mostrou a 
semelhança entre a percepção vi-
sual e a imaginação. Entre as con-
vulsões, registrou-se a atividade de 
276 neurônios isolados. Segundo 
Ganis, “os neurônios responderam 
tanto aos estímulos visuais quan-
to às imagens mentais visuais dos 
mesmos estímulos”.
Treinamento mental
Outro estudo foi realizado para de-terminar a possibilidade de ganho 
de força muscular a partir de treinamen-
to mental, sem a prática de exercícios 
físicos. Nesse experimento, um gru-
po de voluntários realizou contrações 
muscularesmentais do pequeno dedo 
abdutor, enquanto outro grupo execu-
tou contrações físicas desse membro. 
O treinamento durou 12 semanas (15 
minutos por dia, durante cinco dias na 
semana). Ao final do estudo, identifi-
cou-se um acréscimo de 35% na força 
dos dedos daqueles que realizaram con-
trações mentais – em contraposição ao 
de 53% para as contrações físicas. 
Durante os atendimentos, quan-
do é apresentada alguma situação-
-problema, é importante estimular 
o paciente a extrair pelo menos um 
aspecto positivo, pois essa é uma 
responsáveis pela produção dos es-
tados de depressão e de êxtase. Em 
uma linguagem mais científica, a 
alteração da consciência envolve o 
uso da imaginação para a transfe-
rência de representações presentes 
na memória de longo prazo para a 
memória de trabalho. A partir disso, 
torna-se possível a reinterpretação e 
a transformação de representações 
negativas por meio da aplicação de 
estratégias terapêuticas. 
A partir de recursos da progra-
mação neurolinguística (PNL) é 
possível modificar o signif icado de 
um evento por meio da alteração 
de sua representação. Assim, du-
rante o atendimento, para que uma 
De acordo com a neurociência, há comunicação entre mente e cérebro, depois continua entre cérebro e 
corpo, que chega à célula, que se comunica com o gene
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 29
Pesquisa realizada pelo médico espanhol 
Alvaro Pascual-Leone observou o fenômeno 
da neuroplasticidade. Leone conseguiu levar 
adiante os trabalhos de Ramón y Cajal, 
considerado o “pai da neurociência moderna”
estratégia poderosa para o enfrenta-
mento da adversidade. O relaxamen-
to no qual o paciente imagina uma 
cena perfeita para a situação-pro-
blema é outra estratégia bastante 
recorrente nos meus atendimentos. 
Peço para que ele use o maior nú-
mero de sentidos e de modalidades 
possíveis, como cores; temperatu-
ra; cheiros; sons; sensações e senti-
mentos. Justifica-se tal conduta em 
razão das imagens mentais serem 
multissensoriais. Quanto mais rica 
em elementos for a imagem, mais as 
representações internas criarão es-
Œ�Popularização da PNL Œ
O norte-americano Tony Robbins é um 
palestrante motivacional, escritor e estra-
tegista, responsável pela popularização da 
programação neurolinguística (PNL), além 
de ser um famoso coach. Realiza palestras 
a respeito de técnicas que permitem usar 
os recursos de comunicação interna e ex-
terna ao indivíduo de forma mais eficien-
te. Várias personalidades internacionais 
receberam seu treinamento, como Andre 
Agassi, Princesa Diana, Anthony Hopkins, 
Quincy Jones e Bill Clinton, entre outras.
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O neurocientista Joe 
Dispenza descobriu 
que o cérebro está 
em transformação e 
comporta-se como 
instrumento de criação 
da realidade, mesmo 
imaginada
tados e sensações similares à reali-
dade pretendida.
 
Sofrimento intenso
Dentre tantos comportamen-tos-problema apresentados 
no consultório, destaco dois, por 
serem comuns na sociedade e pela 
intensidade do sofrimento. O pri-
meiro deles é de um paciente que, 
mesmo sendo o melhor aluno do 
cursinho, foi reprovado 18 vezes 
no vestibular para medicina. Revi-
ver cada reprovação provocava um 
quadro de intensa ansiedade que o 
debilitou física e emocionalmente. 
Durante os atendimentos, pedia 
para ele se imaginar realizando a 
prova da melhor forma possível. 
Nessa cena perfeita, introduzíamos 
dif iculdades que costumeiramente 
apresentava durante as provas, e so-
licitava que ele gerasse habilidades 
para solucionar tais dif iculdades. 
Normalmente, ele respirava e dizia 
consigo mesmo: “Eu sei. Eu sou ca-
paz. Eu consigo”. Depois de apenas 
uma semana intensiva de tratamen-
to, ele foi aprovado e o relato dele 
foi muito interessante: disse que a 
sensação enquanto fazia a prova era 
a mesma experimentada por ele no 
consultório durante a imaginação. 
O outro caso é de uma paciente 
de 58 anos que, apesar de já possuir 
carteira de habilitação, parou de 
dirigir após um momento de expo-
sição traumático, que desenvolveu 
nela um sentimento de incapaci-
dade. Após alguns treinos de visu-
alização, nos quais ela se percebia 
segura na direção, a paciente con-
seguiu tirar o carro da garagem. 
Depois de outras intervenções, ela 
passou a sair acompanhada por 
30 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NEUROPLASTICIDADE
As informações 
advindas das 
diversas interações 
sociais que o ser 
humano vivencia 
em seu dia a 
dia alimentam o 
córtex cerebral 
e o hipocampo, 
ambos localizados 
no cérebro. 
Esses contatos 
e interações 
estimulam o 
psiquismo, bem 
como o cérebro
REFERÊNCIAS 
CALLEGARO, Marco. O Novo Inconsciente: como a Terapia Cognitiva e as Neurociências 
Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental. Porto Alegre: Artmed, 2011.
DISPENZA, J. Evolve your Brain: the Science of Changing your Mind. Flórida: Health 
Communication, 2007. 
. Breaking the Habit of Being yourself: how to Lose your Mind and Create 
a New One. Estados Unidos: Hay House, 2012.
. You Are the Placebo: Making your Mind Matter. Estados Unidos: Hay 
House, 2014.
DOIDGE, Norman. O Cérebro que se Transforma: como a Neurociência Pode Curar as Pessoas. 
Tradução Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Record, 2011.
GANIS, G. Visual mental imagery. In: LACEY, S.; LAWSON, R. (Eds.). Multisensory Imagery. Nova 
York: Springer-Verlag New York, 2013. 
GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O Universo Autoconsciente: como a 
Consciência Cria o Mundo Material. São Paulo: Aleph, 2011.
O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolinguística - PNL: um Guia Prático para 
Alcançar os Resultados que Você Quer. Tradução Carlos Henrique Trieschmann. Rio de Janeiro: 
Qualitymark, 2015.
ROBBINS, A. Poder sem Limites: o Caminho do Sucesso Pessoal pela Programação 
Neurolinguística. Tradução Brazil, Nova York. Rio de Janeiro: Best Seller, 1986. 
RANGANATHAN, V.; SIEMINOW, V.; LIU, J.; SAHGAL, V; YUE, G. From mental power to muscle 
power: gaining strength by using the mind. Neuropsychologia, n. 42, Elsevier, Cleveland, 2004.
pessoas que lhe davam segurança. 
Ao f inal de 12 sessões, começou a 
dirigir sozinha, sentindo-se cada 
vez mais capaz, sentimento e com-
portamento estes que se entende-
ram para outras áreas de sua vida.
É importante ressaltar que todo 
esse processo não é realizado ape-
nas dentro do consultório, mas es-
sas estratégias são ensinadas aos 
pacientes a f im de que as executem 
o maior número de vezes possível. 
Vale dizer que essas são apenas al-
gumas possibilidades de interven-
ção e que cada caso deve ser ana-
lisado individualmente, sempre 
levando em consideração a subje-
tividade de cada pessoa e o bem-
-estar do paciente.
Acredito que, se as pessoas as-
similarem as informações de que o 
cérebro não distingue realidade de 
imaginação e de que ninguém é mero 
produto do meio ou de um cérebro 
condicionado a determinados com-
portamentos, se tornarão capazes de 
controlar a maneira como se sentem 
em relação àquilo que é externo. A 
forma como se percebem interna-
mente as inf luências externas define 
tanto o estado emocional quanto o 
físico, posto que, para cada pensa-
mento ou sentimento, há a produção 
de uma química diversa que vicia o 
corpo. Desse modo, convido os lei-
tores a fazerem uma viagem para seu 
universo interior e a identificarem, 
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de forma sincera, quais são os vícios 
emocionais alimentados cotidiana-
mente por pensamentos supérf luos. 
Lembrem-se: nós possuímos o poder 
de mudar nossa realidade. 
Pesquisas demonstram que uma pessoa,apesar de habilitada a dirigir, pode desenvolver um sentimento 
de incapacidade após uma exposição traumática
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32 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
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EM MEIO AOS HÁBITOS AUTOMÁTICOS DO COTIDIANO 
PODE DIMINUIR A PERCEPÇÃO DE SI MESMO, DO MUNDO 
AO REDOR E, ASSIM, NOS DISTANCIAR DA ALEGRIA
O TURBILHÃO do dia a dia
A VIDA É COMO 
UMA BALANÇA, NA 
QUAL OS PESOS E 
MEDIDAS DEVEM 
ESTAR EQUILIBRADOS 
PARA MANTER 
A MOTIVAÇÃO. É 
FUNDAMENTAL 
CUIDAR DOS 
ASPECTOS FÍSICO, 
MENTAL, EMOCIONAL 
E ESPIRITUAL
N
os dias de hoje é comum nos 
depararmos com pessoas que 
se sentem distantes delas mes-
mas e perdidas em uma roti-
na incessante, prisioneiras de hábitos 
mecânicos e inconscientes que afetam 
negativamente a saúde, a família e a rea-
lização. É como se elas vivessem com o 
piloto automático acionado. 
%STAR�NO�PILOTO�AUTOMÉTICO�SIGNIlCA�
viver preso a esquemas de comporta-
mentos repetitivos, limitados e relacio-
nados às experiências passadas. É como 
andar com o freio de mão puxado, sem 
energia, força e motivação. O nível de 
atenção consciente diminui e, por conse-
quência, também a qualidade das nossas 
ações, além dos resultados e a percepção 
das oportunidades. É ter a sensação de 
estar atolado e sentir que os objetivos 
nunca serão alcançados, vivendo grande 
parte do tempo cansado, desanimado e 
com a sensação de ser incapaz de pro-
mover mudanças. 
Mas por que as pessoas se sentem tão 
perdidas e desconectadas de si mesmas? 
São apenas circunstâncias sociais ou 
também é uma questão de personalidade, 
de escolher levar a vida dessa maneira? 
0ODEMOS�REmETIR�SOBRE�ESSES�DOIS�PONTOS�
É verdade que o excesso de ativi-
dades, responsabilidades e tarefas – ao 
mesmo tempo em que sofremos pres-
sões para ser o melhor, o mais inovador, 
o mais competente e o mais feliz – pesa 
PARA� CONSEGUIR� CONCILIAR� A� VIDA� PROlS-
sional e pessoal. Todas essas exigências 
induzem as pessoas a sentirem-se pri-
sioneiras, com hábitos mecânicos e in-
conscientes que afetam negativamente a 
saúde, a família e a realização. 
Todas essas ações nascem da forma 
em que o indivíduo enxerga o mundo ao 
redor, na maneira em que ele encara as 
situações e o tipo de pensamentos que 
ele alimenta. Se não há como evitar as 
situações estressantes, há como olhá-las 
de forma mais positiva. A vida é como 
uma grande balança, na qual os pesos e 
medidas devem estar equilibrados para 
manter a motivação. É fundamental cui-
dar dos aspectos físico, mental, emocio-
nal e espiritual. 
Embalado pela rotina, o ser huma-
no não presta atenção nessa balança. 
Cada um sabe quais são as medidas 
certas para que o equilíbrio predomine 
ATRAVÏS� DA� REmEXÎO�� DA�MEDITA¥ÎO� E� DO�
autoconhecimento. É importante estar 
conectado a si mesmo para expandir a 
percepção da própria vida, encontrar 
a natureza mais profunda e ter a cons-
ciência do cotidiano para que os lados 
PESSOAL�E�PROlSSIONAL�SEJAM�MODIlCADOS�
por uma nova perspectiva.
Algumas situações não podem ser 
evitadas, como, por exemplo, cumprir 
horários rígidos ou ter que trabalhar 
AT�TARDE�POR�CONTA�DA�DEMANDA�PROlS-
sional. A grande questão é: o que pode 
ser feito, mesmo nesses momentos, para 
tentar desacelerar?
Nesse caso, as pessoas podem criar 
o hábito de dedicar um tempo a si, fazer 
pausas ou algo diferente – que venha a 
alimentar a alma, expandir a consciên-
CIA� ATRAVÏS� DE� PRÉTICAS� COMO� REmEXÎO��
meditação e concentração, treinando a 
mente para torná-la mais focada. Essa 
mudança de conduta traz maior percep-
ção de si, do mundo em volta, das pesso-
as ao redor e mais atenção ao que se faz 
com a vida. Isso aumenta a liberdade do 
ser humano, mesmo no ritmo frenético 
do cotidiano.
O equilíbrio entre o “fazer” e as 
“pausas” é essencial para estimular a 
criatividade, as novas ideias, a intuição, 
o amadurecimento de decisões e a re-
generação das forças criativas. Para in-
corporar essas iniciativas na rotina, le-
vando uma vida mais leve e condizente 
com o que acredita, é importante reco-
nhecer que você tem o privilégio de fa-
zer escolhas e promover as mudanças. 
Direcione a atenção nos pensamentos 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 33
e imagens do que deseja. É importante 
LEMBRAR� SEMPRE�� A�QUALIDADE�DAS� REmE-
XÜES� INmUENCIA� AS� EMO¥ÜES� E�� CONSE-
quentemente, as ações. 
Atenção com as palavras utilizadas, 
pois elas expressam as intenções e ma-
nifestam as vontades. Frases como “não 
consigo”, “ já tentei” e “não vai dar certo” 
não ajudam em nada. Quando esquece-
mos os sonhos e desrespeitamos a pró-
pria vontade e o anseio da alma, a vida 
se torna cinza, pois as cores vêm dos so-
nhos que são alimentados diariamente.
Não é simples abandonar velhos 
comportamentos e padrões para abraçar 
os novos, mas o ser humano tem uma 
capacidade única de mudar e evoluir. IMA
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Eduardo Shinyashiki é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora 
e especialista em desenvolvimento das competências de liderança 
organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na 
Europa, é referência em ampliar o crescimento e a autoliderança das pessoas. 
www.edushin.com.br
Por isso, quando a mudança é percebida 
como necessária, quando a vontade está 
presente e o desejo de fazer diferente su-
pera a condição de estagnação, algo co-
ME¥A�A�SE�MODIlCAR�PROFUNDAMENTE��¡�O�
começo da transformação e é sem volta. 
Nesse estágio, depois da tomada de de-
cisão, é importante persistir, direcionar 
a atenção no que se quer e não desistir. 
Acredite no enorme poder pessoal que 
há dentro de você.
A transformação é perfeitamente 
realizável e, quando tomamos a decisão 
DElNITIVA� DE� FAZÐ
LA�� ELA� SE� TORNA� UMA�
força poderosa.
Ao mudar o comportamento e sair 
da inconsciência de viver distraidamente 
no “piloto automático”, o indivíduo reto-
ma as rédeas da vida, sem deixá-las nas 
mãos de outras pessoas, dos eventos e 
dos contextos externos. E, assim, se vive 
a vida que merece e anseia. 
34 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
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Por Lucas Vasques
Histórias do cérebro (anomalias da neurociência)
Com o apurado e já conhecido talento para explicações claras, abrangentes e espirituosas, o re-
nomado jornalista e escritor Sam Kean apresenta os personagens que forjaram a surpreendente e 
incrível história da neurociência. Kean explora os corredores secretos do cérebro e narra casos es-
quecidos de pessoas comuns cuja luta, resiliência e profunda humanidade tornaram a neurociência 
possível. São histórias de curiosidades neurológicas que incluem membros-fantasma, cérebros de 
gêmeas siamesas, vírus que comem as memórias de pacientes, pessoas cegas que “enxergam” por 
meio da língua. 
Kean costura essas narrativas com uma prosa envolvente e espirituosa que faz as páginas passarem 
voando, numa história de descoberta que remonta ao século XVI e ao notório acidente que inspirou 
o título do livro – e abriu caminho para uma nova ciência. 
O Duelo dos Neurocirurgiões e Outras Histórias de Trauma, Loucura e Recuperação do Cérebro Humano 
Autor: Sam Kean 
Editora: Zahar
Páginas: 408 
Transtornos de ansiedade (hipnoterapia cognitiva) 
Ansiedade, o mal do século, encontrou um combatente à sua altura. Hipnoterapia Cognitiva: Trata-
mento Clínico dos Transtornos de Ansiedadee de seus Sintomas, escrito pelo psicólogo Benomy Silberfarb, 
traz um manual prático com as técnicas adequadas para o tratamento dos seguintes transtornos: 
ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno 
obsessivo-compulsivo e fobia social. 
A obra também serve para integrar a hipnose clínica com a terapia cognitivo-comportamental, 
potencializando o tratamento para cada tipo de transtorno de ansiedade. O manual ainda ofere-
ce diálogos e fraseologias como sugestões para serem utilizadas durante o processo de cura dos 
pacientes. Um material de apoio importante, já que a demanda por tratamentos de ansiedade nos 
consultórios psicológicos é grande. 
Hipnoterapia Cognitiva: Tratamento Clínico dos Transtornos de Ansiedade e de seus Sintomas
Autor: Benomy Silberfarb
Editora: Sinopsys
Páginas: 96
Aprendizagem ativa (Psicopedagogia institucional) 
Os processos de aprendizagem são singulares porque cada pessoa tem vivências particulares e um 
modo peculiar de lidar com o mundo. Compreender que cada um tem seu jeito próprio de aprender 
favorece a construção do conhecimento e da autonomia.
O livro Psicopedagogia Institucional – Guia Teórico e Prático tem como proposta sugerir o sujeito como 
construtor de si mesmo, utilizando suas potencialidades para o desenvolvimento cognitivo-afetivo. 
Recursos como diagnóstico, avaliação, tratamento, intervenção e prevenção facilitam esse olhar 
integrado que faz parte da Psicopedagogia Institucional. A obra levanta questões como aspectos 
psiconeurológicos, o cérebro humano e a cognição, o desenvolvimento da linguagem em Lacan, 
Saussure, Chomsky e Lenneberg, como estimular a memória e aprendizagem, o papel da afetivida-
de no processo do aprender, a função do psicopedagogo, entre outros assuntos da Psicopedagogia. 
Psicopedagogia Institucional – Guia Teórico e Prático
Autoras: Beatriz Acampora e Bianca Acampora
Editora: Wak 
Páginas: 200 
livros
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O FANTASMA DOS 
RELACIONAMENTOS 
OPRESSORES
Boa parte das pessoas não 
consegue se libertar das relações 
abusivas e violentas, que 
ocorrem com muita frequência 
e atingem mulheres, inclusive, 
durante o período de gravidez
d o s s i ê
36 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Relacionamentos violen-tos ocorrem com mui-ta frequência, como atestam os noticiários. 
As histórias, quando divulgadas, 
em geral descrevem níveis muito 
severos de abuso, que culminam 
em suicídio ou homicídio. Mas 
há muitas experiências de v iolên-
cia banalizadas e invisibi l izadas, 
especialmente a v iolência psico-
lógica. Comportamentos como 
controlar, depreciar, diminuir a 
autoestima, gritar, x ingar, impe-
dir de ver amigos e culpabil izar o 
outro são sinais comuns de v io-
lência emocional ou psicológica, 
a mais frequente entre namoros 
mundo afora, incluindo o Brasi l 
(Oliveira; Assis; Njaine; Pires, 
2014). Muitas vezes, o controle 
do parceiro, as crises de ciúmes e 
as proibições para mantê-lo jun-
to a si todo o tempo são confun-
didos, equivocadamente, como 
sinais de amor. Um estudo com 
jovens de Recife mostrou que 
muitos deles interpretam essas 
condutas do parceiro como de-
monstrações de bem-querer e 
cuidado (Nascimento; Cordeiro, 
2011). Isso perpetua a v iolência e 
retarda o término do namoro ou a 
busca de outras soluções.
Além da violência psicológi-
ca, como previsto na Lei Maria 
da Penha (Brasil, Lei nº 11.340, 
de 7 de agosto de 2006), há ainda 
outras formas de violência, como 
a física, a mais visível de todas, 
como empurrões e tapas; a sexual, 
como usar de ameaças à autoes-
tima do outro para pressioná-lo a 
fazer sexo e fazer sexo sem o seu 
consentimento; a moral, como 
difamar o parceiro por meio da 
divulgação de fotos íntimas; e a 
patrimonial, como quebrar o ce-
lular do parceiro e destruir seu 
carro. Estudos de vários países, 
incluindo o Brasil, mostram que 
adolescentes de ambos os sexos, 
em relações heterossexuais e ho-
mossexuais, de diferentes classes 
sociais, podem ser vítimas e per-
petradores de violência no namo-
ro. Não se trata, portanto, de um 
problema restrito a poucos, mas 
de alcance abrangente.
Infelizmente, muitas das for-
mas de violência são glorif icadas 
em nossas produções culturais, 
como músicas (da bossa nova, 
passando pelo samba, até o serta-
nejo), livros e f ilmes. Assim, cons-
trói-se uma cultura de aceitação 
da violência, como se toda relação 
de amor envolvesse, em alguma 
medida, violência e fosse normal 
viver “entre tapas e beijos” (o que 
não é o caso). Nesse cenário, não 
é surpreendente que as relações 
amorosas sejam construídas com 
base no pressuposto de que o ou-
tro é um objeto a ser possuído, à 
medida em que são abundantes 
modelos de relacionamentos ínti-
mos violentos dentre as relações 
próximas, como amigos e familia-
res, até inf luências mais distantes, 
como personagens midiáticos.
Soa intrigante por que ado-
lescentes e jovens sujeitam-se a 
Algumas mulheres encontram grande dificuldade para se libertar 
de relacionamentos violentos, confundindo, frequentemente, 
controle, crises de ciúme e proibições com sinais de amor
De volta para CASA
Sheila Giardini Murta é professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e 
coordenadora do Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo da Vida 
(www.geppsvida.com.br)
Priscila Parada é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da 
Universidade de Brasília
Estela Guida Teixeira, Carla Konrad, Lucas Emmanuel Alves de Lara e Nagy Pereira Sardinha são 
graduados em Psicologia pela Universidade de Brasília
Por Sheila Giardini Murta, Estela Guida Teixeira, Carla Konrad, 
Lucas Emmanuel Alves de Lara, Nagy Pereira Sardinha e Priscila Parada
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38 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
indica que a violência no namoro, 
entre casais adolescentes, pode 
se perpetuar até a vida adulta 
(Greenman & Matsuda, 2016), 
com novas ondas de risco à saúde 
mental do casal e dos f ilhos. Em 
curto prazo, diversos efeitos da-
nosos da violência no namoro têm 
sido documentados, incluindo 
depressão, transtorno de estresse 
pós-traumático, abuso de álcool, 
desejo de pôr f im à própria vida e, 
em casos extremos, suicídio e ho-
micídio. Condutas autolesivas são 
especialmente frequentes em ten-
tativa de término (Baker; Helm; 
Bifulco; Chung-Do, 2015), o que 
mostra que romper esse vínculo 
de afeto, mesmo violento, é uma 
tarefa árdua. 
O término
Alguns estudos, principalmen-te norte-americanos, têm 
examinado o processo de término 
de relacionamentos violentos (por 
exemplo, Edwards; Gidycz; Mur-
phy, 2015). As pesquisas na área 
ainda são poucas, mas já apontam 
alguns direcionamentos sobre as-
pectos que facilitam ou dif icultam 
dar f im a esse tipo de relação. Um 
primeiro aspecto que a literatura 
científ ica aponta diz respeito aos 
recursos e barreiras estruturais 
para o f im da relação. Esse concei-
to se refere a aspectos de ordem 
prática, necessários à sobrevivên-
cia, como ter ou não renda própria, 
depender do parceiro f inancei-
ramente, ter ou não ter casa. As-
pectos como esses limitam muito 
a possibilidade de escolha de uma 
pessoa que está em situação de 
violência e dif icultam que a pes-
soa tenha autonomia para sair do 
relacionamento. Para uma pessoa 
que enfrentabarreiras como essa 
(por exemplo, alguém que não 
tem renda própria ou depende da 
outra pessoa para sobreviver), um 
Infelizmente, 
muitas das formas 
de violência são 
glorificadas em nossas 
produções culturais, 
como músicas (da 
bossa nova, passando 
pelo samba, até o 
sertanejo), livros 
e filmes. Assim, 
constrói-se uma 
cultura de aceitação 
da violência
relacionamentos v iolentos, dei-
xando-se aprisionar em relações 
tóx icas, mesmo quando ainda 
não têm f i lhos, não estão casa-
dos e não dependem f inanceira-
mente do outro. Uma resposta 
sucinta a essa questão é porque 
v ínculos afetivos são poderosos 
e aprendemos a amar assim com 
o mundo ao nosso redor (“ho-
mens são desse jeito”, “mulheres 
são assim mesmo”, “o amor tudo 
suporta”, “não consigo v iver sem 
ele”). Hoje já se sabe que a v iolên-
cia no namoro é aprendida com 
as inf luências sociais, dos pares e 
familiares às quais os jovens são 
expostos desde o início da v ida. 
Pertencer a culturas sex istas e 
comunidades tolerantes para com 
a v iolência, ter amigos que são 
v iolentos com seus parceiros e 
pais que se tratam com violência 
como casal e receber tratamento 
v iolento dos pais são algumas das 
principais razões que favorecem a 
v itimização pelo parceiro íntimo. 
Essas experiências podem cons-
truir atitudes de aceitação da v io-
lência, dif iculdades em lidar com 
conf l itos no namoro e inseguran-
ça em relacionamentos íntimos 
(“eu não sou boa o suf iciente, ele 
é tudo o que eu tenho”). 
Ao f im, tem-se um amor per-
nicioso (ainda que, em alguma 
medida, gratif icante), que aprisio-
na e ameaça o bem-estar e a inte-
gridade dos envolvidos, ao longo 
de gerações. Um estudo recente 
Casos de namoros abusivos acontecem com frequência e quando são divulgados, geralmente, estão em 
um estágio severo, que acabam em suicídio ou homicídio
www.portalcienciaevida.com.br
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oŒ�Literatura recomendada Œ
O livro Libertando-se de Namoros 
Violentos: um Guia sobre o Aban-
dono de Relações Amorosas Abu-
sivas (Sinopsys Editora), de Sheila 
Giardini Murta, Carlos Eduardo Paes 
Landim Ramos, Thauana Nayara Go-
mes Tavares, Eudes Diógenes Alves 
Cangussú e Marina Silva Ferreira da 
Costa, aborda o tema de forma rea-
lista. Os relacionamentos amorosos 
ocupam parcela significativa do co-
tidiano. Quando a violência se insta-
la nessa área entre os adolescentes, 
seus efeitos sobre o desenvolvi-
mento e o bem-estar dos mesmos 
são devastadores.
Pertencer a culturas sexistas e comunidades 
tolerantes para com a violência, ter amigos 
que são violentos com seus parceiros 
e pais que se tratam com violência como 
casal são algumas das razões que 
favorecem a vitimização pelo parceiro íntimo
primeiro passo para que seja pos-
sível dar f im ao relacionamento 
diz respeito a procurar formas de 
autonomia, como conseguir uma 
fonte de renda, ou buscar apoio f i-
nanceiro (ainda que de forma pro-
visória) em outras pessoas, como 
familiares e amigos.
Outro ponto que vem se mos-
trando muito consistente na lite-
ratura científ ica sobre término 
de relacionamentos violentos diz 
respeito ao conceito de normas 
subjetivas. Esse conceito exprime 
aquilo que uma pessoa considera 
que as pessoas mais signif icativas 
para ela, como familiares e ami-
gos, pensam sobre um tema, nesse 
caso, a continuidade ou término 
do relacionamento. Isso sinaliza 
que para que uma pessoa consiga 
sair de um relacionamento violen-
to é importante que pessoas ao seu 
redor a apoiem nisso e expressem 
para ela esse pensamento e seus 
e, mesmo que para alguém que ob-
serva de fora pareça incompreen-
sível, um relacionamento violento 
pode ter muitos pontos de satisfa-
ção e é exatamente por isso que o 
sentimento f ica tão confuso. 
A qualidade das alternativas é 
definida pela maneira como a pes-
soa analisa as opções que ela tem 
disponíveis, como, por exemplo, fi-
car sozinha ou buscar outros rela-
cionamentos. Essa é uma avaliação 
subjetiva e muitas coisas a inf luen-
ciam. Ainda há poucos estudos 
sobre isso, mas aspectos como ter 
baixa autoestima e não se ver ca-
paz de ter outros relacionamentos 
melhores, sentir muita ansiedade 
e necessidade de ter a outra pessoa 
por perto, a ponto de não conse-
guir tolerar os sentimentos difíceis 
sentimentos quanto a vê-la naque-
la relação. No entanto, é impor-
tante ter cuidado ao comunicar 
isso para que, ao invés de ajudar, 
o amigo ou familiar não acabem 
atrapalhando e se tornando mais 
uma fonte de sofrimento. 
Um terceiro aspecto que os es-
tudos têm investigado diz respeito 
ao nível de investimento na rela-
ção. Esse conceito envolve a com-
preensão sobre pelo menos três 
aspectos: a satisfação com o rela-
cionamento, a qualidade das alter-
nativas e os investimentos irrecu-
peráveis. Sobre a satisfação com 
o relacionamento, é importante 
lembrar que as relações violentas 
não têm só o lado negativo. Muitos 
elementos nesses relacionamentos 
podem ser gratif icantes também, 
A violência psicológica é uma das piores, como depreciar, diminuir a autoestima, gritar, xingar, impedir de 
ver amigos e culpar o outro, que são sinais comuns dessa práticaIMA
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Um estudo recente indica de forma 
veemente que a violência durante o período 
de namoro, entre casais adolescentes, pode se 
perpetuar até a vida adulta, com novas ondas 
de risco à saúde mental do casal e dos filhos
se refere, por exemplo, a conse-
guir perceber o relacionamento 
não como algo que vai pelo ralo 
quando acaba, mas como experi-
ências que, mesmo sofridas, trou-
xeram aprendizados importantes 
e fazem parte de uma trajetória de 
vida que se aproxime daquilo que 
cada pessoa deseja e busca para si.
No Brasil, o Grupo de Estu-
dos em Prevenção e Promoção de 
Saúde no Ciclo da Vida da Uni-
versidade de Brasília tem buscado 
compreender o que impulsiona a 
mudança, da violência à autopro-
teção frente a namoros com maus-
-tratos (Murta; Ramos; Tavares; 
Cangussú; Costa, 2014a). As expe-
riências de pessoas que consegui-
ram sair de um namoro violento 
indicam que existe um caminho a 
ser percorrido, desde a percepção 
da violência como um problema 
que a distância traz, ter outros 
campos da vida – como estudos, 
trabalhos ou projetos pessoais – 
pouco desenvolvidos, de forma que 
se ver sem a outra pessoa se torne 
muito difícil, estar isolado ou dis-
tanciado de relacionamentos com 
outras pessoas, como familiares e 
amigos, tornando aquele namoro a 
única relação próxima que a pessoa 
tenha. Em contextos como esses 
que foram descritos, aproximar-
-se de outras pessoas e fortalecer 
amizades positivas podem ser de 
grande ajuda. Além disso, procurar 
orientação terapêutica pode ser um 
apoio importante. 
Por f im, os investimentos ir-
recuperáveis se referem a como a 
pessoa avalia que o f im da relação 
trará perdas que ela não pode re-
cuperar. Exemplos de investimen-
tos irrecuperáveis são o próprio 
tempo de relacionamento (que 
não pode voltar) ou o esforço em-
preendido em fazer aquela relação 
dar certo. Sobre esse último ponto, 
em muitos relacionamentos vio-
lentos as pessoas fazem grandes 
esforços para promover mudanças 
e, de fato, às vezes alguns pontos 
melhoram, mas não o suficiente 
para trazer tranquilidade e feli-
cidade. Essa dinâmica pode dar a 
 PARA SABER MAIS 
U
m estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz, com 3.205 ado-
lescentes em dez capitais brasileiras, de todas as regiões do país, 
encontrou que 86,9% dos jovens foram vítimas e 86,8% já praticaram 
algum tipo de agressão contrao parceiro íntimo (Oliveira; Assis; Njaime; 
Oliveira, 2011). As autoras verificaram ainda que 76,6% dos participantes 
são tanto vítimas como perpetradores das diversas formas de violên-
cia. Os dados revelaram, por ordem crescente, violência relacional, como 
prejudicar as relações afetivas e sociais do parceiro por meio de calúnias 
(16%, violência sofrida; 8,9%, violência perpetrada); violência física, como 
espancar (19,6%, violência sofrida; 24,1%, violência perpetrada); ameaça, 
como prometer abandonar o parceiro como forma de coação (24,2%, 
violência sofrida; 29,2%, violência perpetrada); violência sexual, como 
forçar contato íntimo (43,8%, violência sofrida; 38,9%, violência perpe-
trada) e, com índices muito elevados, violência verbal/emocional, como 
humilhar (85%, violência sofrida; 85,3%, violência perpetrada).
AGRESSÃO CONTRA PARCEIRO
sensação de que o casal está “qua-
se lá” e que terminar seria como 
jogar tudo por água abaixo. Des-
sa forma, uma avaliação sobre os 
investimentos irrecuperáveis que 
favorece o f im do relacionamento 
Existem diversas formas de 
violência entre casais, entre 
elas a patrimonial, que faz com 
que um dos parceiros cometa 
atos como destruir o celular ou 
o carro do outro
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Alguns estudos 
têm examinado o 
processo de término 
de relacionamentos 
violentos. As pesquisas 
na área ainda são 
poucas, mas já 
apontam alguns 
direcionamentos sobre 
aspectos que facilitam 
ou dificultam dar fim 
a esse tipo de relação
que merece ser resolvido até dis-
tanciar-se do parceiro. A mudança 
pode ser lenta e dolorosa. Trata-se 
de um processo de mudança que 
não tem tempo determinado, po-
dendo variar entre semanas e anos. 
Começa-se tomando consciência 
do problema e reconhecendo a re-
lação como violenta. Em seguida, 
toma-se a decisão de fazer alguma 
coisa para se proteger e os primei-
ros passos são dados, nem sempre 
para sair da relação, mas para tes-
tar soluções, cuidar de si e se for-
talecer. Tomada a decisão, em se-
guida vem o término concreto da 
relação violenta, quando diversos 
cuidados precisam ser tomados 
para lidar com a dor, o medo, a sau-
dade e a tensão, quando o parceiro 
é ameaçador. Por fim, na etapa fi-
nal, deve-se cuidar para não haver 
recaídas, com retorno à relação 
antiga ou a outros relacionamen-
tos com o mesmo padrão violen-
to. Esse processo é bem descrito 
por uma teoria chamada modelo 
transteórico de mudança, também 
aplicada para mudança em ou-
tros alvos, como deixar de fumar.
Etapas
O modelo transteórico de mu-dança, indicado para deixar 
relacionamentos violentos, apre-
senta etapas que devem ser segui-
das para se manter protegido de 
relacionamentos abusivos. Para 
isso, existem exercícios que estão 
disponíveis no livro Libertando-se 
de Namoros Violentos: um Guia so-
bre o Abandono de Relações Amo-
rosas Abusivas, Editora Sinopsys 
(Murta; Ramos; Tavares; Can-
gussú; Costa, 2014b). 
Na fase inicial, a pessoa terá 
a impressão de que “a f icha caiu”. 
Perceberá a tensão que existe na 
relação e poderá sentir angústia, 
confusão, culpa e acreditar que 
não conseguirá resolver a situa-
ção. Perceberá a importância de 
tomar uma atitude, ainda que não 
saiba muito bem o que fazer. Seu 
desejo de resolver a situação se 
mistura ao desejo de permanecer 
no relacionamento. Essa confusão 
f ica ainda mais forte quando de-
seja sair do relacionamento e ao 
mesmo tempo investir na relação. 
As pessoas que tomaram cons-
ciência da violência o f izeram a 
partir da vivência de algum epi-
sódio severo e muito doloroso. A 
partir daí, começaram a se inquie-
tar e interpretar a situação como 
grave. Começaram a observar me-
lhor suas emoções diante do par-
ceiro e na sua ausência. O apoio 
de amigos e investir em autocui-
dados, como atividade física e te-
rapia, são de muita ajuda.
Preparação
No estágio seguinte, de prepa-ração, a pessoa começa a se 
dar conta de que os maus-tratos são 
graves, mas ainda se sente presa à 
relação violenta. Às vezes, poderá 
experimentar, sem sucesso, algu-
mas estratégias para tentar resolver 
a situação, como, por exemplo, ame-
açar terminar, evitar contato com o 
parceiro, aceitar suas imposições, 
revidá-las ou forçar uma gravidez 
para melhorar o relacionamento. 
Muitos desses testes de soluções 
se mostram improdutivos, como a 
submissão à violência e a retalia-
ção, e outros podem ter alto custo, 
como engravidar para revigorar a 
relação. O ideal é buscar caminhos 
É, no mínimo, intrigante o fato de adolescentes e jovens aceitarem relacionamentos violentos, 
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42 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.brNAS BANCAS!
Para uma pessoa que 
enfrenta barreiras 
para se separar, um 
primeiro passo para 
que seja possível dar 
fim ao relacionamento 
diz respeito a procurar 
formas de autonomia, 
como conseguir uma 
fonte de renda ou 
buscar apoio financeiro 
em outras pessoas
para se fortalecer e afastar-se gra-
dualmente da relação.
Assim como no estágio ante-
rior, de tomada de consciência, 
continua sendo indispensável “se 
olhar no espelho”, mas é impor-
tante aprender novas estratégias 
e cuidados para “manter os olhos 
abertos”, como por exemplo:
Escreva todas as palavras humi-
lhantes e depreciativas que você já 
ouviu de seu/sua parceiro/a; ouça o 
que os amigos e familiares dizem so-
bre a relação; converse com os ami-
seus relacionamentos passados. Que 
dificuldades se repetem?; invista em 
cuidados com a saúde mental (como 
fazer terapia) e saúde física.
Esses cuidados ajudam a ver 
claramente que a relação violenta 
é um problema que precisa ser re-
solvido. Além disso, eles também 
vão permitir que a pessoa se co-
nheça melhor e busque forças para 
se proteger, ou seja, vão fortalecer 
para que consiga seguir em frente 
sem adoecer.
gos. Eles podem ajudá-lo a enxer-
gar a realidade, a acreditar em você 
mesmo e a juntar forças para seguir 
em frente; fortaleça sua autoestima. 
Lembre-se das coisas boas que já ou-
viu sobre você. Se olhe no espelho e 
responda: quais são as minhas qua-
lidades?; preste atenção em experi-
ências do passado que podem estar 
afetando a relação atual. Há algum 
aspecto do seu jeito de se relacionar 
que é parecido com o jeito de seus 
pais e que você não gosta?; relembre 
Inúmeros efeitos danosos da violência têm sido documentados, incluindo depressão, transtorno 
de estresse pós-traumático, abuso de álcool, desejo de morte
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www.escala.com.br
Sobre a satisfação 
com o relacionamento, 
é importante lembrar 
que as relações 
violentas não têm só 
o lado negativo. Muitos 
elementos podem 
ser gratificantes. 
Um relacionamento 
violento pode ter 
muitos pontos 
de satisfação
No estágio da ação, a pessoa 
começará a fazer pequenas (mas 
importantes) mudanças na vida. 
Essa mudança pode ser no com-
portamento (por exemplo, pedir 
para conversar e dizer que quer 
terminar o namoro), no jeito de se 
relacionar (por exemplo, não acei-
tar mais que seu companheiro ou 
companheira faça piadas de mau 
gosto sobre você na frente dos 
outros) ou até mesmo no jeito de 
pensar (por exemplo, se convencer 
de que ciúme não é uma prova de 
amor). Pode sentir medo, insegu-
rança ou outras coisas ruins nes-
sa mudança e querer voltar atrás, 
isso é normal. Mas é importante 
manter a determinação e, para 
isso, existem vários exercícios que 
podem ajudar:Bole um plano para situações 
que tenha medo que aconteçam. 
Por exemplo, trabalhe o autocui-
dado: é importante zelar por si, 
procurar o próprio bem-estar; es-
timule o empoderamento: tome as 
próprias decisões, cuide de si mes-
mo, saiba quais são os direitos e 
lute por eles; treine assertividade: 
expresse sempre os sentimentos 
e pensamentos de maneira clara, 
direta e objetiva, sem ofender ou 
magoar as outras pessoas; acesse o 
suporte social: pessoas com quem 
pode contar, como amigos, famí-
lia, professores, médicos, agentes 
comunitários etc.; tente regular as 
Frequentemente, para que uma pessoa consiga sair de um relacionamento violento é importante que 
pessoas ao seu redor a apoiem e expressem esse pensamentoIMA
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A qualidade das alternativas é definida 
pela maneira como a pessoa analisa as 
opções que ela tem disponíveis, como, 
por exemplo, ficar sozinha ou buscar 
outros relacionamentos. Essa é uma avaliação 
subjetiva e muitas coisas a influenciam 
emoções: identifique e lide com os 
sentimentos e comportamentos de 
forma mais eficiente. Quando se 
sentir muito triste, por exemplo, 
observe bem o que fez se sentir 
mal e pense quais são as melhores 
formas de lidar com essa tristeza. 
Assim, vai ter certeza de que to-
mou as medidas necessárias para 
se libertar de um namoro violento. 
Recaídas
Apesar de já ter conseguido ter-minar a relação violenta, reca-
ídas podem acontecer por diversos 
motivos. Para evitar uma reapro-
ximação com a pessoa ou investi-
mentos em novos relacionamen-
tos do mesmo tipo, é importante 
estar atento. Essa é uma fase de 
manutenção, onde devem ser usa-
pessoas que realmente gostam de 
você e que podem ajudar. Após 
esse momento turbulento a vida 
segue, construindo novas oportu-
nidades para se ser feliz.
Intervenção precoce
Em que pese a crença cultu-ralmente compartilhada de 
que a violência é parte natural das 
relações, nem todos os namoros 
são violentos. Adolescentes e jo-
vens podem aprender a lidar com 
conf litos de modo não violento 
e expressar discordâncias e emo-
ções desagradáveis, como raiva e 
ciúme, de modo assertivo. Parte 
crucial da qualidade das relações 
amorosas é a capacidade dos par-
ceiros de perceber as necessidades 
do outro e reagir a elas sensivel-
mente, apoiando e respeitando 
a individualidade do parceiro e, 
ainda, manifestando as próprias 
necessidades e preferências sem 
hostilizar ou culpabilizar o outro. 
Os serviços de atendimento 
O processo de separação é confuso, pois a pessoa pode perceber a importância de tomar uma atitude, 
mas essa vontade se mistura ao desejo de permanecer na relação
Œ�Lei Maria da Penha Œ
Considerada pela ONU uma das três 
mais avançadas do mundo nessa 
questão, a Lei Maria da Penha foi 
criada para combater a violência 
doméstica e familiar, assegurando 
punição rigorosa aos agressores. 
Cria mecanismos para prevenir a 
violência e proteger a mulher agre-
dida. A legislação configura violên-
cia doméstica e familiar contra a 
mulher qualquer ação baseada no 
gênero, que possa causar morte, le-
são, sofrimento sexual, psicológico, 
moral ou patrimonial.
das estratégias para ficar longe de 
situações que podem ser problemá-
ticas. Essas estratégias envolvem: 
manter distância de situações de 
“tentação” ou risco para a recaí-
da, planejando como evitá-las ou 
como pode sair ou resistir a elas; 
investir em novos interesses e ob-
jetivos de vida; ter em mente que a 
pessoa é responsável pelo próprio 
bem-estar, não colocando a felici-
dade dependente do outro.
É preciso pensar em como foi 
difícil, mas ao mesmo tempo grati-
f icante chegar onde se está, fazen-
do o possível para se manter forte. 
É importante evitar lugares onde 
possa encontrá-lo(a), afastar-se de 
coisas que faça recordar dele(a), 
investir em si, na aparência, nos 
valores, nas coisas que gosta, nas 
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espectador. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
Os investimentos 
irrecuperáveis se 
referem a como a 
pessoa avalia que 
o fim da relação 
trará perdas que ela 
não pode recuperar. 
Esses investimentos 
são o tempo de 
relacionamento ou o 
esforço empreendido 
em fazer aquela 
relação dar certo
às vítimas e perpetradores de vio-
lência no namoro devem compor 
um continuum de serviços focados 
no enfrentamento e prevenção à 
violência pelo parceiro íntimo e 
na promoção da qualidade das re-
lações amorosas. Nesses últimos 
aspectos, ainda é pequena a pes-
quisa nacional sobre programas de 
prevenção à violência no namoro. 
Os programas até agora existentes 
têm se centrado em dois braços: o 
primeiro, dirigido a adolescentes 
de ensino médio, no contexto esco-
lar, por meio de oficinas participa-
tivas com múltiplos encontros que 
discutem temas como o reconhe-
cimento da violência no namoro; 
papéis de gênero e direitos sexuais 
e reprodutivos; e habilidades de co-
municação, tomada de decisão, ma-
nejo de emoções e solução de pro-
blemas (Murta et al., 2013; 2016). 
O segundo, voltado também para 
adolescentes, via intervenções bre-
ves em diferentes contextos, com 
a finalidade de desenvolver habili-
dades de empatia, melhorar a qua-
lidade da amizade e apoiar amigos 
que vivem namoros violentos a se 
protegerem da violência (Santos, 
2016).Porém, muito ainda precisa 
ser feito para fomentar a pesquisa 
nacional nessa temática, alargar a 
formação profissional para reco-
nhecer e tratar o fenômeno e disse-
minar iniciativas preventivas e pro-
motoras de qualidade das relações 
amorosas entre jovens.
Há situações em que a mulher elabora estratégias para tentar resolver o problema, como, por exemplo, 
forçar uma gravidez para melhorar o relacionamento
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A ideia de casal perfeito, família perfeita é algo muito comum na cultura ocidental. Dessa forma, 
assim que se decida pela relação con-
jugal, casamento, morar juntos, ou 
qualquer outra expressão que se use 
para designar convivência em casal, o 
pressuposto é que “devem ter filhos”. 
Toda pressão social sobre casais, in-
dependentemente da orientação se-
xual, é a de que uma união gera fru-
tos. Para alguns casais iniciam-se as 
transformações em seu status social.
Alguns casais desejam ter filhos 
e acreditam que, mesmo não viven-
do bem a conjugalidade, investem 
nos filhos como sendo a possibili-
dade de resolução de conflitos, e a 
energia que necessitam para enfren-
tar problemas no casamento, que são 
dificuldades anteriores à escolha de 
ter ou não ter filhos. Problemas to-
dos têm, a vida toda. É preciso saber 
administrá-los.
 
Problemas anteriores
Todo casal tem suas dificulda-des, geralmente administráveis. 
Contudo, nem todo casal tem ener-
gia, disposição e vontade de olhar 
para elas e administrá-las. Então, se 
não houver por parte do casal dedi-
cação para solucionar ou reconhecer 
quais são as diferenças individuais, é 
possível que surjam problemas que 
ciclicamente virão à tona em novas 
situações de estresse. 
Reconhecer as formas inadequa-
das de relacionar conjugalmente, 
pelo casal, sempre é o caminho de 
solucionar os problemas. Sabe-se da 
ideia romântica de casamento e os 
pensamentos mágicos de que os pro-
blemas se solucionarão com a con-
vivência e intimidade, mas, na rea-
lidade, é aí que mora o perigo e um 
enorme engano. A imensa maioria 
das pessoas não está preparada para 
reconhecer os próprios problemas, 
diferenças e dificuldades no relacio-
namento afetivo\conjugal.
A gravidez, ou a questão da pa-
ternidade e maternidade, não é algo 
que a maioria do casal converse de 
maneira clara. Existem casais em 
que o sonho de ambos é ter filhos e 
construir família. Nesses casos, não 
Gravidez é uma situação que, se não for bem trabalhada 
entre o casal, pode trazer problemas sérios de relacionamento, 
principalmente se a decisão for tomada com o objetivo 
de resolução de conflitos já existentes
há conflito. No entanto, há outros 
casais em que um deseja ter filhos e 
o outro não tem planos ou desejo de 
tê-los. Na grande maioria das vezes, 
nada disso é discutido efetivamente 
para saber se devem continuar jun-
tos com todas as diferenças. Outros 
pontos importantes são quantos ter 
e quando, em que momento da vida.
Gravidez planejada 
O panorama geral do buscar a gravidez já pode ser um as-
pecto problemático para o casal. Se 
QUESTÕES mal resolvidas
Por Oswaldo M. Rodrigues Jr. e Carla Zeglio
Oswaldo M. Rodrigues Jr. é psicólogo, psicoterapeuta de casais e em sexualidade no Instituto 
Paulista de Sexualidade, assessor de publicações da Alamoc – Associação Latino-Americana de 
Análise e Modificação do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental.
Carla Zeglio é psicóloga, psicoterapeuta de casais e em sexualidade no Instituto Paulista de 
Sexualidade, representante no Brasil da Alamoc – Associação Latino-Americana de Análise e 
Modificação do Comportamento e Terapia Cognitivo-Comportamental.
Œ Consequências Œ
Seja física, psicológica, sexual ou emo-
cional, a violência contra a mulher se 
torna mais séria ainda durante o período 
da gravidez, pois traz consequências 
significativas para a saúde da mãe e 
do filho, como baixo peso ao nascer, 
abortos, partos prematuros e mortes 
materna e fetal. Os estudos que com-
provam as afirmações são da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) no Informe 
Mundial sobre a Violência e a Saúde.
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A ideia de casal e família perfeitos 
é muito comum na cultura ocidental 
e sempre com a exigência social 
de que obrigatoriamente os 
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o ter filho não for um plano comum 
aos dois, a busca da gravidez já traz o 
primeiro desconforto: objetivos dis-
tintos no casal. Ao se casar em ceri-
mônias religiosas, geralmente ele já é 
alertado, relembrado e consignado a 
procriar como função religiosa dessa 
união. Esse momento apenas reforça 
o projeto que o mundo ao redor im-
põe a todos desde criança, e sempre 
relembrando aos pequenos de que 
crescerão, casar-se-ão e terão filhos. 
Para muitas pessoas apenas esse me-
canismo já será suficiente para o de-
sejo de gravidez na vida adulta.
Além das tão faladas questões 
hormonais vivenciadas pela mulher, 
provocando mudanças importantes 
de humor, descontroles de impulso 
e mal-estares físicos em vários mo-
mentos da gravidez, há aspectos psi-
cológicos, emocionais, relacionais 
para considerar. São eles:
Intimidade física do casal – mui-
tas mulheres mostram-se exagerada-
mente preocupadas com a forma do 
corpo e a possibilidade (percebida 
como certeza) de que serão rejeita-
das. Olham-se ao espelho e perce-
bem-se gordas, inviáveis de serem 
desejadas pelo marido. Ela se rejeita, 
tem certeza de que o marido a rejei-
tará durante toda a gravidez, e será 
cada vez pior, quanto mais passe o 
tempo até o parto. Mas serão essas 
mulheres que evitarão o contato físi-
co do marido. E a consequência para 
ele é também afastar-se, o que “con-
firmará” para a mulher que o marido 
não a deseja. Uma grande confusão 
com falta de comunicação nesses 
casais. Fora aquela justificativa fal-
sa, mas utilizada por muitos casais: 
o sexo fará mal ao bebê. E isso é ex-
presso por pessoas de cultura e edu-
cação formal altas.
Sexo – com as justificativas mais 
variadas, cada um no casal poderá 
deixar de buscar sexo. Ansiedades 
e receios irracionais afastam-nos da 
busca de atividades sexuais, assim 
como emoções negativas advindas 
de outras dificuldades do casal du-
rante a gravidez. Nos primeiros me-
ses há justificativas de que a náusea 
impede o sexo, depois é a barriga 
crescendo, depois é a barriga gran-
de; é não receber atenção numa 
A ideia romântica de casamento e os 
pensamentos mágicos de que os problemas 
se solucionarão com a convivência e a intimidade 
não funcionam, pois a imensa maioria das 
pessoas não está preparada para reconhecer 
as próprias dificuldades e limitações
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Quando uma pessoa 
integrou a ideia de 
ter filho assim que se 
casar, o projeto do 
mundo social fará efeito 
direto e na qualidade 
de necessidade. 
Nem sempre o casal 
formou-se com a 
compreensão mútua 
de suas necessidades, 
incluindo a de 
formar uma família
CASAIS VIOLENTOS SEGUEM 
O PADRÃO DURANTE A GRAVIDEZ
 PARA SABER MAIS 
A 
satisfação conjugal anterior à gravidez tem continuidade durante a ges-
tação e após o parto. Problemas com ambos se sentirem satisfeitos com 
o relacionamento prejudicam o relacionamento com a gravidez e após o par-
to (Lawrence et. cols., 2008). Casais nos quais existe violência no relaciona-
mento tendem a registrar seguidamente a violência durante a gravidez e além 
(Mahenge et. cols., 2016). A violência doméstica piora as condições, pois se 
associa à depressãopós-parto (Ludemir et cols., 2010). A qualidade do relacio-
namento de casal, as condições de trabalho, uso de álcool e doenças somáticas 
associam-se com estresse na gravidez e maternagem (Meyer et cols., 1994). As 
dificuldades sexuais também tendem a piorar com a gravidez. E uma sexualida-
de saudável depende da qualidade da saúde física e mental. Se os outros fatores 
negativos preexistem, a saúde sexual estará comprometida durante a gravidez. 
O comprometimento sexual anterior pode ser de todas as ordens, seja no ho-
mem (dificuldades com relação a desejo, excitação ou orgasmo) ou na mulher 
(dificuldades com relação a desejo, excitação ou orgasmo). Importante lembrar 
que amiúde existem interações das dificuldades sexuais, fazendo com que falte 
apoio para a melhoria da vida sexual ao longo do relacionamento do casal, pio-
rando na gravidez pelos novos fatores estressantes.
Muitos desenvolverão um ciúme e se 
mostrarão muito ressentidos com es-
ses meses de alienação conjugal. Ca-
sais que não se planejaram para que 
a vida conjugal ocorresse de modo 
confortável tendem a reforçar mais 
as situações negativas.
Falta de comunicação e compre-
ensões mútuas – homens e mulhe-
res percebem a gravidez de modo 
diferente e cada qual deseja ser o 
centro de atenções, e ser como eram 
antes de se iniciar essa busca de pro-
criarem. Ser diferente não é ruim, 
o problema é não saber como lidar 
com essas diferenças, atacando-se 
e defendendo-se como estando em 
diferentes direções e não num casa-
mento. As habilidades de comunica-
ção e a ansiedade durante a gravidez 
estão muito associadas por ser a sa-
tisfação marital conectada com am-
bos fatores (Malary et. cols., 2015). 
Claro que existem discussões se a sa-
tisfação conjugal é produzida ou pro-
duz melhor comunicação do casal 
(Lavner; Karney; Bradbury, 2016).
Questões financeiras – embora 
sempre se escute que “onde comem 
dois, comem três”, isso não funciona 
assim. Ter uma criança exige plane-
jamento financeiro por cerca de duas 
décadas, ao menos. Muitas vezes a 
discussão sairá do racional necessá-
rio para o desejo emocional de terem 
filhos. Os casais percebem que pre-
cisarão de um quarto para a criança, 
fraldas, comida, médico. Imediata-
mente ao conhecimento da gravidez 
deverá acontecer uma série de provi-
dências para o nascimento.
Novos aparatos sociais
O momento histórico atual con-duz à busca de saúde e não à 
evitação de problemas. Novas for-
mas de instituições sociais de saúde 
virão para compreender a gravidez e 
considerar o casal como importan-
te, não só para a gravidez e o futuro 
bebê. O casal preexiste e continuará 
gravidez, todos à volta dão atenção 
à mulher. Esse é o momento em que 
o homem se sente rejeitado, coloca-
do de lado, sem função por meses, 
ao menos os últimos seis, quando a 
gravidez foi socialmente anunciada. 
condição tão importante, é não ter 
ajuda quando outros desejos alimen-
tares aparecem, desconsiderações.
Depressão pré-natal – as mudan-
ças de humor ao longo dos meses de 
gravidez, uma vez mais drásticas po-
dem conduzir a quadros depressivos. 
Afinal, o crescer da percepção de falta 
de controle sobre o corpo que se alie 
a pensamentos negativos pode ser im-
portante e decisivo nessa fase. Esses 
quadros diminuem a comunicação 
entre os cônjuges, com o marido não 
compreendendo o que se passa, até 
vendo que deveria ser o contrário, 
pois, afinal, terão a criança desejada. 
A insatisfação no casal é o principal 
preditor de sintomas psicológicos 
para a depressão pré-parto (Rosand 
et cols., 2011). Um bom relaciona-
mento de casal protege contra certos 
estressores. Depressão perinatal é 
pouco reconhecida por profissionais 
de saúde por estes estarem focados na 
saúde física da mulher e do feto.
A rejeição ao marido – com a 
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A
buso psicológico
Além das tão faladas 
questões hormonais 
vivenciadas pela 
mulher, provocando 
mudanças importantes 
de humor, descontroles 
de impulso e 
mal-estares físicos 
em vários momentos 
da gravidez, há 
aspectos psicológicos, 
emocionais, relacionais 
para considerar
Œ Pré-natal Œ
A assistência pré-natal é o momento 
fundamental para identificar as mu-
lheres que sofrem violência. Frequen-
temente, é a única oportunidade de 
interromper esse ciclo. O atendimento 
adequado para grávidas que sofrem 
violência física, psicológica ou sexual 
representa apenas uma de muitas me-
didas que precisam ser tomadas para 
se encarar o fenômeno da violência 
durante a gravidez.
a existir após o nascimento (!?). As 
instituições de saúde têm tido apari-
ções nesse sentido há décadas, mas 
somente existe atuação positiva es-
porádica e quando os problemas se 
tornaram maiores e mais aparentes. 
Ainda vivemos para cuidar da 
gravidez. Ainda não agimos sobre o 
casal para que essa unidade seja be-
neficiada, e, assim sendo, beneficie 
a gravidez e o bebê a nascer. Ainda 
não atuamos sobre o bem-estar con-
jugal e a vida e saúde sexuais para 
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11, p. 161, 2011. doi: 10.1186/1471-2458-11-161.
maior satisfação do casal, enquanto 
casal. No entanto, devemos buscar 
transformações para que se possa fa-
zer diferente.
Ao se casar em cerimônias religiosas, o casal já é alertado que deve procriar, o que reforça o projeto 
que o mundo ao redor impõe a todos desde criança
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ciberpsicologiaPor Igor Lins Lemos
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3R
F
OS ASPECTOS LEGAIS E PSICOLÓGICOS DOS ATAQUES VIRTUAIS 
SÃO TEMAS CONSTANTEMENTE DEBATIDOS NA ÁREA DO 
DIREITO, DA PSICOLOGIA E NAS CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO
CRIMES cibernéticos
PESQUISA SOBRE 
OS EFEITOS 
PSICOLÓGICOS 
DOS ATAQUES 
CIBERNÉTICOS 
REVELA SINTOMAS 
GERADOS EM SEUS 
ALVOS, DENTRE 
ELES RAIVA, MEDO, 
ANSIEDADE, 
DESCONFIANÇA E 
PÂNICO MORAL
A
pesar dos debates envolven-
do esse fenômeno, uma im-
portante informação deve 
ser salientada no começo 
do artigo: ainda não existem soluções 
sólidas para essa problemática. Ape-
nas como referência, estão sendo cada 
vez mais comuns os ataques ciberné-
ticos com amplitude mundial. Todos, 
então, são vulneráveis a esses ataques.
De acordo com Kim (2004), os cri-
mes virtuais mostram de forma intensa 
que a virtualidade do ciberespaço pos-
sui uma inegável natureza coercitiva 
de realidade. Segundo, o autor, o fato 
é que já somos seres virtuais, ao me-
nos dentro dos grandes bancos de da-
dos de corporações e governos, e cada 
vez mais temos o conhecimento – “a 
certeza de que os fenômenos são reais 
E�POSSUEM�CARACTERÓSTICAS� ESPECÓlCASv�
– de que o ciberespaço, apesar de vir-
TUAL��Ï�BASTANTE�hREALv��%SSA�AlRMA¥ÎO�
do pesquisador, feita há mais de uma 
década, é bastante atualizada. Indubi-
tavelmente é cada vez mais complexo 
delimitar onde está a fronteira entre 
os dois campos daquilo que pode ser 
considerado real ou virtual. E, sim, as-
sim como transtornos psiquiátricos e 
outras temáticas estão relacionados ao 
campo da virtualidade, o mesmo ocor-
re com atos ilícitos. Estamos, então, 
vulneráveis a riscos de todos os tipos, 
desde a instalação de vírus, ataques a 
sites pessoais, roubo de senhas, este-
lionatos, entre outros.
Barbosa, Ferrari, Boery e Filho 
(2014) debatem que, fruto do verti-
ginoso desenvolvimento tecnológico 
do século XX, a internet gerou novas 
formas de relacionamento e de socia-
lização. Essa profunda alteração nas 
relações humanas gerou maior rapi-
dez de comunicação, oportunizan-
do signif icativos avanços na forma 
como são estabelecidas as dinâmicas 
prof issionais, comerciais, científ i-
cas, educativas e pessoais. Todas es-
sas modif icações provocam diversos 
benefícios econômicos e sociais, no 
aumento da geração e divulgação do 
conhecimento científ ico e também 
numa maior interação humana, ultra-
passando as barreiras da distância e 
do tempo. Todavia, ressaltam os pes-
quisadores, quando mal utilizada, a 
internet pode resultar em invasão da 
privacidade, crimes virtuais, apolo-
gia a comportamentos inadequados 
e a atitudes preconceituosas, os quais 
podem gerar problemas de grande 
amplitude biopsicossocial, dif íceis 
de resolver e punir; uma vez que, na 
internet, as informações podem ser 
rápidas e facilmente disseminadas e 
nem todos países possuem aparato 
legal para lidar com tais problemas, 
originando conf litos de ordem ética e 
bioética provenientes da forma como 
as pessoas interagem nesse novo pal-
co de relações humanas.
Canetti, Gross, Waismel-Manor, 
Levanon e Cohen (2017), estudiosos 
que realizaram uma pesquisa em Is-
rael sobre os efeitos psicológicos dos 
ataques cibernéticos, revelam sinto-
mas gerados por esse tipo de fenôme-
no aos seus alvos, dentre eles: raiva, 
medo, ansiedade, desconf iança e pâ-
nico moral. Em casos mais graves, os 
sintomas podem gerar transtorno do 
estresse pós-traumático, transtorno 
depressivo maior e ansiedade anteci-
patória. Todas essas consequências, 
de acordo com os pesquisadores, gera 
confusão no senso de segurança e 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 51
nhecidos benefícios como também a 
proliferação de temáticas como a ba-
leia azul e ataques virtuais. Fato é que 
atualmente não existem limites para 
a expressão sintomatológica dos seres 
humanos e, certamente, os ataques 
serão cada vez mais frequentes.
Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento 
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia 
Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). 
É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das 
dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
benignos. Mesmo que não sejam cau-
sados danos f ísicos, a oportunidade 
de causar ansiedade e estresse é imen-
sa, provocando paralelamente medo e 
distúrbios no dia a dia.
Certamente a internet é um cam-
po de produção plural, desde os co-
Referências: 
BARBOSA, A. S.; FERRARI, M. R.; BOERY, R. N. S. O.; FILHO, D. L. G. Relações humanas e privacidade 
na internet: implicações bioéticas. Revista de Bioética y Derecho, n. 30, 2014.
CANETTI, D.; GROSS, M.; WAISMEL-MANOR, I.; LEVANON, A.; COHEN, H. How cyberattacks 
terrorize: cortisol and personal insecurity jump in the wake of cyberattacks. Cyberpsychology, 
Behavior, and Social Networking, v. 20, n. 2, 2017.
KIM, J. H. Cibernética, ciborgues e ciberespaço: notas sobre as origens da cibernética e sua 
reinvenção cultural. Horizontes Antropológicos, v. 10, n. 21, 2004.
aumento signif icativo nos sentimen-
tos de vulnerabilidade. Em pesquisa 
desenvolvida por esses autores, par-
ticipantes foram divididos em dois 
grupos: aqueles expostos a ciberter-
rorismo e o grupo que não passou por 
essa exposição. Os resultados eram 
esperados: o grupo que passou pela 
experiência de ataque demonstrou 
uma elevação signif icativa no nível de 
cortisol. Ainda de acordo com a pes-
quisa, a resposta ao estresse foi ativa-
da quando o participante sofria uma 
experiência de exposição, acionando o 
senso de insegurança e vulnerabilida-
de, o que pode exacerbar a percepção 
de ataques iminentes reais. Por f im, 
Canetti, Gross, Waismel-Manor, Le-
vanon e Cohen (2017) mencionam 
que os ataques cibernéticos não são 
52 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
neurociência por Marco Callegaro
O perigo dos 
ANSIOLÍTICOS
OS EFEITOS NEGATIVOS 
DOS MEDICAMENTOS 
ANSIOLÍTICOS E 
HIPNÓTICOS – MUITO 
USADOS PELA 
POPULAÇÃO – SÃO 
BEM CONHECIDOS 
HÁ DÉCADAS
tos, os chamados benzodiazepínicos. 
O potencial para viciar é também 
bem conhecido, sendo comum a to-
lerância (necessidade de aumentar a 
dose para obter o mesmo efeito) e de-
pendência (a retirada ou diminuição 
produzem abstinência). 
O uso de benzodiazepínicos por 
um período maior do que três semanas 
leva o cérebro a uma adaptação nada 
benéf ica à saúde, que é a diminuição 
da produção natural do neurotrans-
missor inibitório mais importante, o 
chamado GABA (ácido gama-amino-
butírico). Existem neurotransmisso-
res excitatórios, como serotonina ou 
O
s efeitos nocivos de drogas 
prescritas para tratar a an-
siedade, como Frontal ou 
Rivotril, são conhecidos 
há muito tempo. Sonolência, quedas 
e risco aumentado de demência são 
apenas alguns dos problemas associa-
dos a essa categoria de medicamen-
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UM NOVO ESTUDO 
COM AMOSTRA 
MASSIVA ENCONTROU 
EVIDÊNCIAS DE 
UM RISCO AINDA 
MAIOR PARA AS 
DROGAS USADAS 
PARA TRATAR A 
ANSIEDADE E INSÔNIA
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, 
diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto 
Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiadoO Novo 
Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o 
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
Referências: 
Weich, Scott; Pearce, Hannah Louise; Croft, Peter; Singh, Swaran; Crome, Ilana; Bashford, James et 
al. Effect of anxiolytic and hypnotic drug prescriptions on mortality hazards: retrospective cohort 
study. BMJ, v. 348, g1996, 2014.
dopamina, que promovem atividade 
nos neurônios, sendo parte da comu-
nicação de sinais no sistema nervoso. 
Já os neurotransmissores inibitórios 
promovem o efeito contrário, ajudam 
a desligar a atividade dos neurônios. 
O GABA, sendo o principal neuro-
transmissor inibitório, tem um papel 
crucial para processos que dependem 
de inibição, como relaxar, dormir, 
desligar pensamentos obsessivos ou 
impulsos, e assim por diante. 
Os medicamentos benzodiaze-
pínicos, justamente, imitam a mo-
lécula do GABA e se encaixam em 
seus receptores, funcionando como 
se fossem o neurotransmissor, pro-
movendo assim suas ações de inibir 
a atividade neuronal. O relaxamento 
e sonolência são efeitos dessa inibi-
ção, mas o problema é que depois de 
três semanas o cérebro entende que 
já existe muito GABA e para de sin-
tetizá-lo naturalmente, deixando a 
pessoa dependente de ingerir os me-
dicamentos sob pena de f icar muito 
ansiosa ou insone. Está armada uma 
dependência química com drogas le-
gais e prescritas pelo médico. 
É importante observar que a 
prescrição adequada desses medica-
mentos não deve ser superior a três 
semanas, e que podem existir indica-
ções para uso em períodos menores. 
Para se ter uma ideia da seriedade 
dessa questão, os conselhos de Me-
dicina de alguns países da Europa 
punem os médicos que prescrevem 
de forma prolongada com a cassação 
da carteira prof issional. Os medica-
mentos hipnóticos têm problemas 
parecidos, e requerem cuidados em 
seu uso, ocasionando diversos efei-
tos colaterais. 
Um novo estudo com uma amos-
tra massiva encontrou evidências de 
um risco ainda maior para as duas 
categorias de medicamentos, os an-
siolíticos e os hipnóticos. A pesquisa, 
publicada no British Medical Journal, 
se baseou em dados de mais de cem 
mil pacientes que f izeram acompa-
nhamento médico durante sete anos. 
A descoberta chocante foi: os pa-
cientes que usaram essas drogas tive-
ram mais do que o dobro do risco de 
morte. Além disso, os pesquisadores 
observaram que os riscos são propor-
cionais à dose usada, ou seja, quanto 
maior a dose, maior o risco de morte. 
Os autores da pesquisa aponta-
ram que a mensagem principal do es-
tudo é que devemos ter mais cuidado 
com o uso dessas drogas, uma vez 
que crescem as evidências de que os 
efeitos colaterais são signif icativos e 
perigosos. Segundo os autores, temos 
que fazer tudo o que for possível para 
minimizar a conf iança excessiva nes-
sas drogas como forma principal de 
lidar com a ansiedade ou problemas 
de sono, e valorizar as alternativas.
Podemos dizer que não existe uma 
forma a longo prazo de controlar a 
ansiedade, ou a insônia, através de 
medicamentos, pelo menos sem ter 
inúmeros riscos e danos para a saúde 
e funcionamento do organismo. De 
forma breve, esses medicamentos são 
de fato efetivos, mas logo surgem os 
problemas se o uso for continuado. 
Ironicamente, a pessoa se torna mais 
propensa à ansiedade ou insônia com 
o uso constante, tendo alívio com 
doses maiores e momentaneamente. 
Realmente não podemos substi-
tuir um estilo de vida saudável por 
comprimidos sem ter consequências. 
Existem muitas formas de aprender 
a reduzir a ansiedade e melhorar o 
sono de forma natural e saudável, 
mas que dependem de informações 
adequadas e de empenho na mudan-
ça de hábitos. No entanto, vale muito 
a pena o esforço, pois o aprendizado 
e os novos padrões de comportamen-
to permanecem e se ampliam na vida, 
e são uma espécie de patrimônio da 
reserva de saúde. 
A terapia cognitivo-comporta-
mental, por exemplo, pode contri-
buir muito para insônia ou ansieda-
de, ensinando aos pacientes técnicas 
para lidar com pensamentos de an-
siedade, hábitos saudáveis de sono, 
técnicas de relaxamento, meditação 
mindfulness, entre outras estratégias. 
Exercícios f ísicos e nutrição ade-
quada são ferramentas poderosas de 
controle da ansiedade e melhoria do 
sono, e a divulgação de informações 
sobre a implementação de hábitos 
saudáveis nessas dimensões é crucial 
para que a população tenha acesso a 
alternativas aos medicamentos. Em-
bora seja cômodo tomar um compri-
mido ao invés de toda uma trajetória 
de aprendizado e esforço para obter 
um resultado, hoje entendemos me-
lhor os riscos de pegar o caminho 
mais fácil e os benef ícios de mudar o 
estilo de vida de forma positiva. 
54 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
recursos humanos por João Oliveira
das franquias e autor de vários livros 
de empreendedorismo. Será que esse 
é o nome registrado pelos pais ou foi 
adaptado após o sucesso de sua gran-
de rede de cursos de inglês?
Sua marca pessoal, muito antes da 
EMBALAGEM� lNAL� �ROUPAS	�� � DElNIDA�
pelo cabedal linguístico que se utiliza: 
as expressões e palavras mais marcan-
tes. Não se trata de inventar jargões 
ou novas expressões, mas de ter uma 
estrutura de conteúdo coerente com o 
impacto que deseja causar. Apresentar 
um cuidado em usar um linguajar apro-
priado e saber como, quando e onde 
EXERCER�UMA�BOA�mUÐNCIA�VERBAL�Ï�ESTRA-
tégico na formação do seu branding. 
Um detalhe que não pode ser ne-
gligenciado é a linguagem não verbal 
que vai abranger um vasto campo de 
signos e sinais, tais como: 1- Gestos 
e posturas: muitos devem ser evitados 
a f im de evitar uma imagem negativa; 
2- Acessórios e maquiagem: é prio-
ritário que o ambiente seja estudado 
antes para que uma adequação possa 
ser feita. 3- Roupas: é necessário que 
o perf il da indumentária seja equiva-
lente ao esperado de alguém que se 
proponha a se apresentar como repre-
sentante de algum setor do conheci-
mento. Dentre os aspectos que, para a 
grande maioria das pessoas, passa to-
talmente desapercebido estão os cal-
çados. De nada vale uma pessoa que 
TER RECONHECIMENTO E SER LEMBRADO FAZEM TODA 
DIFERENÇA NO PLANO COMPETITIVO QUE VIVEMOS. MESMO 
QUE UMA PESSOA NÃO QUEIRA IMPRIMIR SUA MARCA, CAUSA 
EFEITOS POSITIVOS OU NEGATIVOS EM SUA APRESENTAÇÃO
BRANDING PESSOAL
O 
mundo está se tornando 
cada vez mais uniforme. É 
fato a facilidade com que 
a informação circula pelas 
redes sociais ofertando, em sua time-
line, milhares de imagens por dia de 
pessoas oriundas de várias partes do 
mundo com culturas diferentes e, ao 
mesmo tempo, muito parecidas umas 
com as outras. 
Dif icilmente podemos memorizar 
uma pessoa pelas roupas que vestem, 
pelo tipo de corte de cabelo ou ainda 
acessórios que ostentam. Af inal, tudo 
está muito igual. Somente algumas 
poucas culturas orientais, povos que 
ainda resistem à globalização, man-
têm um estilo particular de se apre-
sentar ao planeta. Muitas vezes, essas 
assinaturas culturais são apenas para 
um público espectador pagante, turis-
tas na maior parte.
Assim, a identidade pessoal se fun-
de em um universo de calças jeans, 
blazers e tênis descolados. Para ter 
uma aderência em um nicho de mer-
cado – entendendo “mercado” como 
seu público-alvo em seu universo la-
boral –, é necessário imprimir uma 
marca pessoal, um estilo próprio e 
que possa tornar essa pessoa em algo 
distinguível no cenário geral. 
Lembrando sempre que: a primei-
ra impressão é a que f ica. É impor-
tante que o prof issional saiba se apre-
sentarde acordo com as expectativas 
que deseja criar em seu futuro possí-
vel networking. Mesmo pessoas que já 
estão inseridas e com boa visibilidade, 
colhendo resultados positivos de uma 
boa imagem, também devem investir 
em uma possível melhora na criação 
de seu branding pessoal. De fato, nem 
se trata de um processo de alto custo, 
apenas de boas e sensatas escolhas.
Um exemplo é a forma como as 
pessoas são chamadas. Nem sempre 
o nome próprio de uma pessoa é o 
mais reconhecido pela comunidade. 
A própria estruturação do nome de 
trabalho faz muita diferença. Observe 
as pessoas que não utilizam o primei-
ro nome, ou fazem uma conjugação 
entre o primeiro nome e algum sobre-
nome, ou utilizam apenas o sobreno-
me. Como isso impacta na percepção 
de cada um? 
Como você gostaria de ser chama-
do e por quê? Esse é o primeiro mo-
vimento para a criação de sua marca 
própria registrada no cartão de visi-
tas ou no crachá que ostenta. Pensar 
nisso por alguns minutos pode mudar 
muita coisa na valoração que você 
pode imprimir no ambiente. Algumas 
pessoas se apossam de nomes que 
nem estão de fato na carteira de iden-
tidade e usam como uma real marca. 
Um exemplo é o empresário Carlos 
Wizard Martins, referência no mundo 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 55
João Oliveira é Doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de 
Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em 
Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão 
de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda 
Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental 
pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
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está muito bem vestida se apresenta 
os sapatos sujos ou desgastados. 
Uma instituição de ensino superior 
de representação nacional, por exem-
plo, exige em seu manual de conduta 
que todos os professores de pós-gra-
duação usem blazers para serem dife-
renciados dos professores de gradua-
ção. Espera-se, portanto, que os alunos 
tenham mais respeito e admiração por 
professores que usem blazers. O mes-
mo se aplica às professoras que devem 
usar blazers ou tailleurs. 
De maneira diferente, a sociedade 
possui uma visão preconcebida de ou-
tros tipos de autoridades do saber. Es-
em si uma certa valência que pode 
ser aproveitada para quem deseja ser 
notado e deixar sua marca registrada, 
pessoal, nas pessoas que toca no dia 
a dia. Basta, para isso, ter bom senso 
e saber equalizar todas as possibilida-
des sem se apoiar totalmente em ape-
nas uma das vertentes.
A culpa não é do preconceito, é da 
cultura instalada ao longo da constru-
ção de nossa história. Ter atenção ao 
perf il de marca pessoal que estamos 
divulgando com a nossa presença em 
determinados ambientes pode criar 
feedbacks que irão determinar, no futu-
ro, a prosperidade ou a ruína de quem 
idealizamos ser como prof issionais.
pera-se que um gênio da computação 
use calças jeans desbotadas e uma ca-
miseta de algodão na cor cinza. Que 
um médico sempre use, onde quer que 
vá, um estetoscópio no ombro e uma 
modelo prof issional se equilibre em 
um salto alto de 15 cm.
São estereótipos, sem dúvida, e 
muitas vezes caricatos. Mas guardam 
É IMPORTANTE QUE O PROFISSIONAL SAIBA 
SE APRESENTAR DE ACORDO COM AS 
EXPECTATIVAS QUE DESEJA CRIAR PARA SER 
NOTADO E DEIXAR SUA MARCA, E ISSO VALE 
DESDE ROUPAS ÀS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS
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ENSAIO PSICANALÍTICO
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ENSAIO PSICANALÍTICO
O SER 
NA FALTA
Tudo o que acontece no momento 
da entrada da criança no mundo da 
linguagem tem significado e traz 
consequências para o futuro, 
quando ela se tornar adulta
Por Adriano Perez Climaco de Freitas
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 57
Adriano Perez Climaco de Freitas é graduado em Psicologia, atua como 
psicanalista e supervisor clínico em consultório particular, coordenou diversos 
cursos de Psicanálise. O último foi no segundo semestre de 2016, “In[ter]
venções Psicanalíticas em Cena Freud e o Amor”, e atualmente coordena 
o “Curso Livre de Psicanálise: Psicose Teoria e Clínica – de Freud a Lacan”. 
Contato: adrianoperezpsi@gmail.com
58 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ENSAIO PSICANALÍTICO
Quando o genitor, com seu rebento 
no colo, cria uma hipótese sobre o choro: 
“já está querendo a mãe?”, novamente esse 
ser está sendo falado pelo outro. Isso tem 
uma função psíquica, afinal o bebê 
ainda não se deu conta de que nasceu
Quando se fala do mo-mento do parto de uma criança, de modo geral, a imagem que nos vem à mente é a de 
um bebê envolto 
na placenta sendo retirado do útero de 
sua progenitora que, em prantos, en-
contra-se de pernas e braços abertos. 
Na sequência dessa cena – que tanto 
assistimos em filmes e propagandas 
de televisão – costumamos pensar 
em uma pessoa que segura o recém-
-nascido, ato que pode ser considera-
do como um primeiro acolhimento. 
Em seguida, visualizamos o rebento 
sendo levado ao colo da mãe, que re-
cebe seu filho – agora do lado de fora, 
no mundo externo – com um sorriso 
cansado, aliviado e, sobretudo, feliz. 
A criança é limpa e conduzida para o 
berçário, onde ficará protegida. Trata-
-se dos cuidados iniciais, característi-
cos da espécie humana. 
Tal sequência de ações provo-
ca ref lexões a respeito do quão des-
protegido é o filhote humano, cuja 
chegada no mundo depende desse 
“adulto” que o acolhe. Esses primei-
ros cuidados são repletos de nomea-
ções que vão sendo dadas, relativas a 
um ser que é falado pelo outro. Nas 
visitas ao bebê, por exemplo, surgem 
as frases típicas: “Olha o nariz dele! 
Parece com o do pai”. Mesmo antes 
do nascimento, esse ser já é falado 
pelo outro, em situações como no di-
álogo entre um casal que, em estado 
de paixão, sonha com a criança tão 
esperada – “nosso filho será lindo 
como você”, declara o namorado – ou 
quando, durante a gravidez, o futuro 
pai leva a mão à barriga da gestante, 
declarando: “Vai jogar bola comigo”. 
Tal cuidado em relação ao recém-
-nascido, assim como essa nomeação 
por parte das pessoas que o cercam, 
é o que na Psicanálise se entende 
pela função materna. Importante ad-
vertir que, ao falarmos dessa função, 
não nos referimos necessariamente à 
mãe – no jogo entre a criança e seus 
pais, o casal circula entre os papéis, 
logo, a função materna é por vezes 
desempenhada pelo pai. Quando 
o genitor, com seu rebento no colo, 
cria uma hipótese sobre o choro: “ já 
está querendo a mãe?”, novamente 
esse ser está sendo falado pelo outro. 
Isso tem uma função psíquica, afinal 
o bebê ainda não se deu conta de que 
nasceu, não tem dimensão da sua 
existência e, assim, não se reconhece, 
ao mesmo tempo que não reconhece 
o outro. No momento em que algo se 
inscreve – e, por estarmos em uma 
operação subjetiva, essa inscrição 
não é localizável –, a criança entra 
na linguagem, o que traz uma marca, 
Œ�Produção do sujeito Œ
Segundo os preceitos da Psicanálise, com 
o ser humano ocorre da seguinte forma: a 
entrada na linguagem surge o sujeito. Uma 
maneira possível de se abordar esse acon-
tecimento é a partir da angústia. Dito de 
outro modo, é preciso se sujeitar para se 
fazer o sujeito, algo que nos habita, é como 
se ganhássemos um “presente de grego”. 
Nosso “cavalo de Troia”, a angústia não é 
sem função. Ela se apresenta e nesse mo-
mento se haver com a mesma é fundamen-tal. É preciso recorrer às nossas ferramentas 
psíquicas, afinal não existe uma saída uni-
forme quando se trata de uma questão que 
diz da condição humana. 
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G��Ô�9�������I�H������‚���:�-Ô��
os cuidados iniciais, característicos da espécie humana
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 59
No momento em que algo se inscreve, 
a criança entra na linguagem, o que traz uma 
marca, percebendo a presença desse outro. 
Com tal inserção nasce o ser falante, não com 
palavras, mas a partir do reconhecimento de si 
simultâneo ao de outra pessoa
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percebendo a presença desse outro. 
Com tal inserção nasce o ser falante, 
não com palavras, mas a partir do re-
conhecimento de si simultâneo ao de 
outra pessoa. Com isso, esse ser pas-
sa a demandar, o que acontece, por 
exemplo, quando o bebê olha para 
a avó e, depois, direciona seu olhar 
para um copo d’água. 
A transição do bebê em gestação, 
passando pelo seu nascimento, até 
um ser falante (aquele que reconhe-
ce e demanda do outro) – transição 
esta tão complexa e, de certo modo, 
mítica na psique humana –, pode ser 
pensada por meio de diversas leituras 
teóricas. Aqui, a ideia é abordar esse 
tema tão profundo de modo ilus-
trativo. No filme Procurando Nemo, 
vemos essa passagem bastante frag-
mentada em seu início. Os pais con-
versam distraidamente sobre o nome 
que darão aos seus filhos, enquanto 
as ovas se encontram confortáveis 
em um habitat de corais. De repen-
te, são surpreendidos por um tuba-
rão; desesperados, tentam se abrigar. 
Passada a confusão, Marlin, o futuro 
pai, ainda tonto, sai procurando em 
seu entorno pela esposa. Quando en-
tra no coral, encontra uma única ova 
e imediatamente a segura com suas 
barbatanas, oferecendo proteção ao 
filhote – um recém-nascido desam-
parado que está prestes a chegar à 
vida. Em um golpe trágico, para de-
sespero de Marlin, sua companheira 
não está mais ali. Na vida real, é pos-
sível conceber essa situação apresen-
tada pelo desenho animado como 
algo parecido com um casal que, sur-
outro, enquanto este último seria o 
ser que reconhece o outro, ou seja, 
a criança que se dá conta de uma se-
gunda pessoa. Essa complexa opera-
ção é efeito da relação entre presen-
ça e ausência: se a criança sabe da 
presença da mãe – enquanto função 
materna –, ela também sabe da au-
sência e opera nesses dois polos. Se 
no ato do nascimento se apresenta 
o ser desprovido de qualquer noção 
de si e do outro, é na entrada dessa 
operação que a criança identifica o 
outro, que agora deixa de ser uma ex-
tensão de si. A partir de então, está 
dada a separação: é outra voz que lhe 
fala, outro corpo que se apresenta, ou 
seja, o outro ganha uma dimensão 
própria. Nessa dupla operação entre 
alienação e separação, a interdição 
acontece. Essa interdição, enquanto 
lei, é o que se entende por função pa-
terna, que, tal qual a anterior, não é 
necessariamente executada pelo pai. 
Referência
Tendo a criança como referência, a tão complexa entrada na lin-
guagem é pensada. Mas será mesmo 
preendido pelo rompimento da bolsa, 
vai imediatamente para o hospital. O 
parto acontece e a criança nasce sau-
dável, mas a mãe não resiste e falece. 
Na cena seguinte, é dado o salto da 
passagem até o ser falante, quando 
o filhote de Marlin, Nemo, ansioso 
pelo primeiro dia de aula, euforica-
mente evoca o pai, tagarelando: “Está 
na hora da escola! Está na hora da es-
cola! Acorda! Acorda! Vem, primeiro 
dia de aula!”. 
Esse momento em que o filhote 
solicita a atenção do pai ilustra bem 
a demanda – neste caso, um pedido. 
Aqui, cabe mediar essa passagem do 
ser de necessidade para o ser falan-
te. Podemos considerar o primeiro 
como aquele que é nomeado pelo 
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���G�I������������IG���ƒ��€�����H�������Ô��
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cuja chegada ao mundo depende de um adulto que o acolha
60 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ENSAIO PSICANALÍTICO
que se trata de um processo fácil e 
dócil? Qual sentimento deve ser es-
colhido para caracterizar esse mo-
mento de reconhecimento do outro, 
que marca a dualidade entre presen-
ça e ausência? Com o tato que lhe era 
peculiar, Sigmund Freud optou por 
falar, entre outros, da angústia. Tal-
vez essa escolha tenha sido motivada 
pelo fato de que a angústia não se 
limita apenas a um sentimento nega-
tivo que se tem de evitar a qualquer 
custo, tentativa que está fadada ao 
fracasso, já que é impossível passar 
pela vida sem essa experiência. Nesse 
sentido, uma passagem interessante 
no filme referido é quando Marlin 
comenta com sua amiga Dory:
Marlin – Eu prometi que nun-
ca deixaria nada acontecer com ele 
[Nemo].
Dory – Que coisa engraçada de 
se prometer. 
Marlin – O quê? 
Dory – Bem, se você nunca dei-
xar que nada aconteça com ele, nada 
jamais acontecerá para ele.
Em um primeiro momento, a 
fala de Dory pode parecer ingênua. 
No entanto, trata-se de uma respos-
ta rica que pode surpreender, caso 
se tenha em mente o que se disse 
a respeito da angústia. Essa é tam-
bém um motor que faz girar o ser 
de necessidade para a constituição 
terno, não sem antes nos advertir 
da importância de diferenciá-la de 
outros afetos: “terror”, “angústia” 
e “medo” são empregados erronea-
mente como sinônimos, mas podem 
se diferenciar de modo claro na sua 
relação com o perigo. “Angústia” 
designa um estado como de expec-
tativa do perigo e preparação para 
ele, ainda que seja desconhecido; 
“medo” requer um determinado 
objeto, ante ao qual nos amedron-
tamos; mas “terror” se denomina o 
estado em que ficamos ao correr um 
perigo sem estarmos para ele prepa-
rados, enfatiza o fator da surpresa 
(Freud, 1920, p. 169). 
Seguindo nessa cadência, é in-
teressante falar brevemente sobre o 
medo e o terror antes de retornar-
mos à angústia. Quando Freud cita 
um objeto ligado ao medo, pode-se 
Se no ato do nascimento se apresenta o ser 
desprovido de qualquer noção de si e do outro, é 
na entrada dessa operação que a criança identifica 
o outro, que agora deixa de ser uma extensão 
de si. A partir de então está dada a separação
HANS OCUPA LUGAR NOS 
ANAIS DA PSICANÁLISE
 PARA SABER MAIS 
R
egistrado no texto Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos (1909), 
o caso de Herbert Graf ficou conhecido na literatura psicanalítica como 
“pequeno Hans”. Cheio de particularidades – como o fato de o paciente ser uma 
criança e de Freud atuar como supervisor, e não analista –, esse caso ocupa um 
lugar importante nos anais da Psicanálise. Apaixonado pela área, o pai de Hans, ao 
observar o comportamento do filho, principalmente em relação à sexualidade e à 
preocupação com o corpo, passou a escrever a Freud. Hans, após ver um banho da 
irmã mais nova – cujo nascimento teve grande impacto sobre ele –, teve um sonho 
de angústia, e a fobia se anunciou. Seu pai transmitia a Freud os diálogos que tinham, 
o que permitiu que o psicanalista orientasse o tratamento.
do sujeito. Aqui, faz-se referência à 
experiência de separação da mãe en-
frentada pela criança. Em seu texto, 
Além do Princípio do Prazer (1920), 
Freud aborda a angústia da criança 
diante da ausência desse outro ma-
Mesmo antes de 
nascer, o bebê 
já é falado pelo 
outro, em situações 
como no diálogo 
entre um casal 
que, em estado 
de paixão, sonha 
com a criança tão 
aguardada
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 61
Em Além do 
Princípio do Prazer, 
Freud aborda a 
angústia diante 
da ausência desse 
outro materno, 
não sem antes 
nos advertir da 
importância de 
diferenciá-la de 
outros afetos: 
“terror”,“angústia” 
e “medo” são 
empregados 
erroneamente 
como sinônimosIMAG
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entender que este é localizável; ge-
ralmente, as crianças falam sobre 
seus medos – por exemplo, quando 
não querem ir a um determinado 
cômodo da casa, alegando medo de 
escuro – e, via de regra, evitam a si-
tuação. Eleger um objeto e fugir do 
contato com ele pode ser caracterís-
tico de um caso de fobia (interes-
sante lembrar do pequeno Hans, um 
menino que, por ter fobia de cavalos, 
passou a não querer sair à rua). Em 
Procurando Nemo, há uma cena que 
demonstra o medo e sua relação com 
o objeto e a situação: quando Nemo, 
após ser capturado, está vivendo no 
aquário, ele é convocado para um 
plano de fuga, cabendo a ele colocar 
uma pedra na engrenagem do filtro 
que faz a limpeza do local. 
Já o terror vivido por Nemo fica a 
cargo da sobrinha do dentista que o 
pescou. Nessa complicada situação, 
o jovem peixe-palhaço será dado a 
ela como presente, mas é advertido 
pelos demais companheiros sobre 
antigos residentes do aquário que 
tiveram o mesmo destino, não re-
sistiram à menina e morreram. Um 
porta-retratos com a foto de uma 
criança que segura um peixe dentro 
de um saco com água decora a sala 
do dentista. A imagem revela uma 
criança ameaçadora que, sem pudor, 
agarra o animal como se fosse uma 
coisa – eis o terror de Nemo, que 
por vezes fica paralisado, olhando 
estaticamente para a foto no lado ex-
terno do vidro. É como se o peque-
no Hans fosse levado aos cavalos: o 
contato inesperado que ilustra o que 
Freud quer dizer quando se refere a 
correr perigo sem estar preparado 
para ele.
Esses dois sentimentos – o medo 
e o terror – em relação a situações e 
objetos localizáveis significam que 
a criança já tem dimensão de si, do 
outro e, portanto, pode nomear seus 
anseios. Contudo, a angústia é sem 
objeto, o que leva Freud a ressaltar 
o desconhecido ao se referir a esse 
sentimento, como pontua a passa-
gem citada. A angústia é sentida no 
corpo – em geral, levamos as mãos 
ao tórax quando falamos dela. É di-
fícil verbalizá-la, mas a experiência 
da angústia é inegavelmente viven-
ciada. Freud (1926, p. 72) é preciso: 
“A angústia é, em primeiro lugar, 
algo que se sente”. 
 
Experiência inicial
Uma questão que se coloca dian-te de um sentimento que esca-
pa às palavras é: quando se teve a 
primeira experiência angustiante? 
Pode-se dizer que a angústia se faz 
presente na passagem do ser de ne-
cessidade para o ser falante. Nesse 
instante em que a criança é acolhida 
e cuidada pelo adulto, ela se encon-
tra em desamparo. Este último, por 
sua vez, é angustiante, logo, o que 
se vê é a angústia pela separação da 
mãe. Retomando o pequeno Hans, 
Freud (1909, p. 144) comenta uma 
fala do paciente em relação a esse 
tema: “Quando eu dormia, pensei 
que você foi embora e que não tenho 
mais mamãe para fazer carinho”. 
Um sonho de angústia, portanto.
Quais possibilidades se apre-
sentam diante desse quadro? Pode-
-se dizer que se faz necessário criar 
uma borda a esse estado sem forma. 
Freud (1920, p. 171) descreve uma 
Quando Freud cita um objeto ligado ao medo, pode-se entender que este é localizável, pois, geralmente, as 
crianças falam sobre seus receios e evitam a situação
62 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ENSAIO PSICANALÍTICO
passagem muito ilustrativa: “Foi 
mais que uma observação ligeira, 
pois durante algumas semanas esti-
ve com a criança e os seus pais sob o 
mesmo teto, e levou certo tempo até 
ausência materna, vivendo um mo-
mento de desamparo.
“Ele tinha um carretel de madei-
ra, em que estava enrolado um cor-
dão. Nunca lhe ocorria, por exem-
plo, puxá-lo atrás de si pelo chão, 
brincar de carro com ele; em vez dis-
so, com habilidade lançava o carre-
tel, seguro pelo cordão, para dentro 
do berço, através de seu cortinado, 
de modo que ele desaparecia, nisso 
falando o significativo “o---o---o-
--o”, e depois o puxava novamente 
para fora do berço, saudando o apa-
recimento dele com um alegre “da” 
[“está aqui”]. Então era essa a brin-
cadeira completa, desaparecimen-
to e reaparição, de que geralmente 
via-se apenas o primeiro ato, que 
era repetido incansavelmente como 
um jogo em si, embora sem dúvida 
o prazer maior estivesse no segundo 
ato” (Freud, 1920, p. 173).
Nessa brincadeira, o objeto mãe 
é substituído pelo objeto fala, que, 
por sua vez, é substituído pelo obje-
to carretel. Sobre esse enredo, Freud 
(1920, p. 173) pondera: “Talvez se 
responda que a ausência tinha de ser 
encarnada, como precondição para 
o agradável reaparecimento, que se-
ria o verdadeiro propósito do jogo”. 
Em síntese, o que se coloca é que é 
possível extrair prazer de sentimen-
tos desagradáveis.
 
Mãe ausente
Em Procurando Nemo, enquanto mãe biológica, a mãe do peque-
no peixe-palhaço é ausente em esta-
do bruto, mas sobreviver foi possível 
– a função materna se fez. Seguindo 
pelo viés da criança, a angústia da 
ausência não se dá na morte da mãe 
no momento do parto, pois a crian-
ça não tem ainda a dimensão desse 
outro. A angústia se encontra na 
concepção “o outro não é extensão 
de mim”, portanto “me falta”. Dito 
de outro modo, a ausência materna 
é sentida enquanto função, ou seja, 
“Angústia” designa um estado de 
expectativa do perigo, ainda que seja 
desconhecido; “medo” requer um determinado 
objeto, ante ao qual nos amedrontamos; mas 
“terror” é o estado em que ficamos ao correr 
um perigo sem estarmos para ele preparados
A EXPERIÊNCIA DO NASCIMENTO 
É ANGUSTIANTE
 PARA SABER MAIS 
No livro Inibição, Sintoma e Angústia, de Sigmund Freud (1926, p. 70-71), o psicanalista considera que “a primeira experiência angustiante, ao menos 
para os seres humanos, é o nascimento, e ele significa objetivamente a 
separação da mãe (...)”. Segundo o autor, essa situação pode ser comparada 
“a uma castração da mãe (segundo a equação criança = pênis)”. Tal passagem 
contribui para a discussão a respeito do reconhecimento do outro e do momento 
em que se entende a ausência. Nesse sentido, a castração diz de uma falta – a 
equação ausência materna = falta para a criança (que, por ser castrada, não 
completa essa mãe). Freud, nessa obra, aborda, ainda, a formação do sintoma 
e o define da seguinte maneira: “Um indício e um substituto de uma satisfação 
pulsional não consolidada; um resultado do processo de recalcamento”.
que se revelasse para mim o signifi-
cado daquela ação misteriosa e sem-
pre repetida”. O que dá para acom-
panhar nesse relato é a brincadeira 
de uma criança que dá contorno à 
A angústia é sem 
objeto, o que leva 
Freud a ressaltar o 
desconhecido ao 
se referir a esse 
sentimento; para ele, 
a angústia é sentida 
no corpo
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 63
REFERÊNCIAS 
FREUD, S. Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos (1909). Rio de Janeiro: Imago, 2006.
. Além do Princípio do Prazer (1920). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 
. Inibição, Sintoma e Angústia (1926). São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Procurando Nemo, dir. Andrew Stanton e Lee Unkrich, 2003.
Eleger um objeto 
e fugir do contato 
com ele pode 
ser característico 
de um caso 
clássico de fobia 
(interessante 
lembrar do 
pequeno Hans, um 
menino estudado 
por Sigmund Freud 
que, por ter 
fobia de cavalos, 
passou a não 
querer sair à rua)
há um lugar psíquico para isso. A fal-
ta desse outro aponta para a falta de 
si. É comum, por exemplo, as crian-
ças brincarem de esconde-esconde, 
e podemos pensar também em um 
bebê que gargalha quando alguém 
cobre e descobre seu rosto, dizen-
ra cena em que o peixinho aparece 
falando com o pai. Ainda assim, e 
até mesmo com todoo mistério que 
essa passagem deixa em suspenso, 
considere-se: é no momento da pri-
meira fala do filho no filme, em seu 
pedido para ir à escola, que Marlin 
de forma significativa o interpela:
Marlin – E qual palavra combina 
com “oceano”? 
Nemo – Não é seguro. 
Em termos metafóricos, o ocea-
no nos mostra a imensidão da vida. 
Afirmar que “o oceano não é segu-
ro” é ter a ponta do pé na angústia 
– a relação simbiótica se foi, e agora 
eu não sou mais um ser de necessi-
dade, um objeto falado pelo outro, 
mas sim um ser de linguagem. Com 
essa perspectiva sobre o filme, a his-
tória de Nemo ilustra lindamente 
essa passagem que, em essência, diz 
da condição humana. 
do “Acho---o---o---o---o”. Em tese, 
a sensação de aparecimento e desa-
parecimento é vivenciada; a criança 
tem agora a experiência de sair de 
cena, o que é observado por Freud 
no vaivém que o menino executa re-
petidamente.
“Num dia em que sua mãe es-
tivera ausente por várias horas, foi 
recebida, ao voltar, com a saudação: 
‘Bebi o---o---o---o!’, que primeira-
mente foi incompreensível. Logo se 
revelou, porém, que durante o longo 
período em que ficou só ele encon-
trara um modo de fazer desaparecer 
a si próprio. Havia descoberto sua 
imagem no espelho que vinha quase 
até o chão e se acocorado, de manei-
ra que a imagem foi embora” (Freud, 
1920, p. 172).
A angústia se apresenta. No 
filme citado, existe a lacuna entre 
o nascimento de Nemo e a primei-
Œ�Psicanálise em filme Œ
O filme Procurando Nemo, uma produção 
de 2003, é um ótimo material para analisar 
a mãe ausente. Conta a história de Nemo, 
um jovem peixe-palhaço, que é levado 
de sua casa, na Grande Barreira de Corais, 
para Sydney, na Austrália. Em sua jornada 
para resgatar o filho, seu pai superprotetor, 
Marlin, encontra companhia na esquecida 
peixinha Dory e traz diálogos ricos de in-
terpretação psicanalítica. 
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Em tese, a sensação de aparecimento e desaparecimento, que ocorre em determinado momento, é 
vivenciada, e a criança tem a experiência de sair de cena
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UM CONTO DE FADAS 
- A HISTÓRIA DOS TRÊS 
PORQUINHOS
Autor: Joseph Jacobs
Editora: Zahar
Ano de edição: 2010
divã literário por Carlos São Paulo
EGO feito de alvenaria
HISTÓRIAS INFANTIS PODEM NOS LEVAR A CAMINHOS DE 
REFLEXÃO E SEREM ÚTEIS PARA EXPLICAR O DESENVOLVIMENTO 
DA PERSONALIDADE DE UM HOMEM OU O DA PRÓPRIA 
HUMANIDADE, TAL COMO NO CONTO DOS TRÊS PORQUINHOS
Um outro modo de olhar para es-
sas imagens é observarmos a humani-
dade em seu percurso evolutivo. No 
princípio, sem os recursos que hoje 
a ciência nos trouxe, a natureza, ou 
o lobo, em nossa analogia, era uma 
ameaça constante que deixava nossas 
vidas efêmeras.
Um ego construído como uma casa 
de madeira, unida por pregos que vão 
aos poucos sofrendo a corrosão pela 
oxidação em pontos fundamentais para 
a sua sustentação, torna-se vulnerável 
ao sopro do lobo, que, com um pouco 
mais de insistência e esforço, faz tudo 
desmoronar. Suas partes agora não ofe-
recem mais coerência ao que é senti-
do como realidade, enquanto as fadas 
adormecidas acordam embriagadas 
e descontentes. Elas são ainda vistas 
como lobos que atrapalham a vida de 
si próprio e dos demais. Surge então o 
quadro neurótico.
Essas imagens nos fazem pensar 
no estágio da humanidade em que esta 
oferecia alguma resistência à natureza, 
MAS�NÎO�O�SUlCIENTE�PARA�CONTROLÉ
LA��!�
ciência do século XVII já havia popu-
larizado os sabonetes, que passaram a 
ter baixo custo, e, no século XIX, Louis 
Pasteur provava que existia uma rela-
ção entre higiene corporal e saúde.
Chegam os tijolos, e a casa de al-
venaria tem seus blocos unidos por 
um bom cimento que a faz resistir aos 
E
ssa história foi resgatada na 
Inglaterra pelo folclorista Jose-
ph Jacobs, no século XIX, que 
o transformou em literatura 
infantil. Os personagens do conto são 
os três porquinhos – Cícero, Heitor e 
0RÉTICO�n�E�UM�LOBO�lXADO�NA�IDEIA�DE�
devorá-los. Começa quando os três por-
quinhos decidem sair da casa da mãe 
e foi cada um construir a sua própria 
casa. Cícero constrói uma casa de pa-
lha e barro; Heitor faz a dele com ma-
DEIRA�E�PREGOS��ENQUANTO�0RÉTICO�EDIlCA�
com cimento e tijolos. No dia em que 
o lobo aparece, com um sopro desmo-
rona a casa de Cícero, que foge para 
abrigar-se com o irmão Prático. Com 
um esforço maior, o lobo também des-
trói a casa de Heitor, que vai abrigar-
-se com os irmãos. No entanto, o lobo 
tenta derrubar a casa de Prático e não 
consegue. Resolve então descer pela 
chaminé, mas esta estava acesa. Dessa 
forma, o lobo é assado, e os porquinhos 
se alimentam dele.
Imaginar essa história como metá-
fora nos permite explorá-la em várias 
direções, como fazemos com os nossos 
sonhos, até que possamos nos dar conta 
de algo importante para esclarecer nos-
sos comportamentos e atitudes. Essa é 
uma das histórias que nunca acontece-
ram, mas revelam uma verdade maior, 
contida na engrenagem dessas imagens 
que expressam a nossa natureza.
Ao chegarmos ao mundo, abrimos 
os olhos e os espectadores percebem 
que há uma consciência. O desenvolvi-
mento desse bebê segue junto à constru-
ção de um Eu, que é uma estrutura para 
organizar os conteúdos do que tomamos 
consciência. Esse eu é a nossa persona-
lidade, que se fortalece quando conse-
gue exercitar-se no embate da vida. A 
estrutura, como uma ponte entre o que 
foi esquecido e a realidade externa que 
nos convida a interagir, nos faz construir 
UMA� IDEIA� DE�NØS�MESMOS�DElNIDA�POR�
uma imagem que se entrelaça com es-
ses conteúdos jogados na escuridão do 
INCONSCIENTE�E�QUE�DElNIMOS�COMO�EGO�
A construção do ego pode ser frá-
gil como uma casa de palha e barro. É 
fácil derrubá-la com o sopro do lobo, 
OU�COM�OS� CONmITOS�DA�VIDA�� E� REDUZI-
-la a seus fragmentos de palha e barro, 
gerando assim a perda de sua unidade 
funcional para, em lugar de um eu, fa-
zer surgir um feixe de “eus”. Nessa con-
dição, os lobos, que são apenas fadas 
adormecidas, se põem a assombrá-los 
constantemente. Surge então a loucura.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 65
sopros do lobo. O ego, agora fortaleci-
do, mantém-se numa boa relação com 
a natureza que lhe deu origem. É um 
verdadeiro ato de religare, que vem do 
LATIM�E�TEM�O�SIGNIlCADO�DE�RELIGA¥ÎO��
Refere-se a uma nova ligação entre o 
homem e a totalidade do seu ser, ou 
à ideia de Deus. Os esforços do lobo 
não mais abalam esse ego, ou a casa se 
mantém em sua unidade funcional. As 
fadas adormecidas acordam para faze-
rem parte da vida e deixarem o mundo 
mais encantado e sem lobos. Esse lobo, 
como a unilateralidade, a literalidade e 
a garantia de segurança, não mais nos 
assombra. Em vez disso, vivenciamos 
a sabedoria e nos alimentamos dos 
Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. 
É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
nossos sonhos, mesmo os utópicos. 
Não mais desprezamos do eu as partes 
que, perante a sociedade ou a família, 
não venham a ser desejáveis. Sentimos 
o cimento que nos une e somos agora 
“indivíduo”.
O desenvolvimento desse ego de-
pende de que a condução com que os 
CONmITOS� PRODUZIDOS� NA� VIDA�� ENTRE�
o que se quer e o que está, seja bem-
-feita. É, portanto, a infância o grande 
momento de se aproveitarem as po-
tencialidades da natureza de um ser 
e oportunizá-las por meio da nossa 
responsabilidade de adulto. Para isso, 
precisamos estimular o crescimento de 
nossas crianças comuma reforma pro-
funda nos métodos pedagógicos atuais, 
cuja evolução é ainda incipiente.
A humanidade, por sua vez, experi-
MENTA�VIVER�COM�UM�AVAN¥O�CIENTÓlCO�
que pretende dominar o lobo e alimen-
tar-se dele. É o mundo que precisa do 
homem não só com a vida longa, mas 
também um ego feito de alvenaria. Um 
ego capaz de criar uma imagem apro-
priada do amor, em que o tempo nada 
vale e o eu seja capaz de enfrentar tran-
quilo a tristeza do inverno, sem o medo 
de que, depois dele, não venha a alegria 
da primavera. 
A CONSTRUÇÃO DO 
EGO PODE SER FRÁGIL 
COMO UMA CASA DE 
PALHA E BARRO. É 
FÁCIL DERRUBÁ-LA 
COM O SOPRO DO 
LOBO, OU COM OS 
CONFLITOS DA VIDA, 
FAZENDO SURGIR 
UM FEIXE DE “EUS”
www.portalcienciaevida.com.brwwwwww.po trtal illcienciaeii ididvida.comom.bbrbrb
F
ilme dirigido por Juan Antonio Bayona (O Impossí-
vel/2012) e roteiro escrito por Patrick Ness baseado em 
seu livro homônimo, aborda o luto e fala sobre o tema de 
maneira bastante singular, tocando a emoção naquilo que 
ELA�TEM�DE�MAIS�REGRESSIVA��AlNAL�TODO�ENLUTAMENTO�JOGA�O�SUJEITO�
em conteúdos infantis, o coloca frente ao desamparo mais funda-
MENTAL��/�lLME�JOGA�MUITO�BEM�COM�ISSO�QUANDO�ESCOLHE�COLOCAR�
em modo animação para representar os medos do protagonista. 
$A� OBRA� FREUDIANA� UM�DOS� TEXTOS�MAIS� IMPORTANTES� � JUSTA-
mente o que traz o título Luto e Melancolia (1915), em que Freud 
lança conceitos bastante caros a toda sua teoria, talvez mesmo 
por fazer ver que o trabalho do luto é presente desde as mais 
tenras experiências. Para entender isso é preciso ampliar o en-
tendimento sobre o luto para além da compreensão da perda de 
pessoas por falecimento. O sentimento de desapego que a tarefa 
reivindica é um dos mais custosos para o dinamismo psíquico, 
um dos que mais põem em xeque toda sua economia (no sentido 
FREUDIANO��JOGO�DE�VETORES	��%��AO�MESMO�TEMPO��DE�CERTA�MANEIRA�
A�TAREFA�QUE�FUNDA�O�SUJEITO�E�O�MANTÏM�VIVO�NO�DESEJO�
 
%0)$%-)!�
(OJE�MUITOS�PESQUISADORES�E�TEØRICOS�VÐM�FALANDO�DE�UMA�ATUA-
lidade em que poderíamos ver a depressão (melancolia) como uma 
epidemia, entre a discussão em relação ao lobby das indústrias far-
macêuticas criando demanda e o vazio de uma suposta “moderni-
dade líquida” ou do excesso, que facilitaria o vazio que descamba 
no adoecimento, podemos supor que o luto está presente como a 
grande questão da atualidade. Não sabemos se fomos perdendo a 
capacidade de lidar com essa exaustiva tarefa ou se acumulamos 
HOJE�COM�TANTO�DESAMPARO�QUE� IMPLODIMOS�NOSSA�CAPACIDADE�DE�
elaborar seus conteúdos. Fato é que algo em torno desse desalento 
contemporâneo é atravessado por esse tema. Podemos então pen-
/�%-/#)/.!.4%�&),-%�SETE MINUTOS 
DEPOIS DA MEIA-NOITE -%2'5,(!� 
./�$/,/2/3/�42!"!,(/�$!�
#/.6)6º.#)!�$%�5-!�#2)!.—!�&2%.4%�
±�$/%.—!�4%2-).!,�$%�35!�-§%�
cinema Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
O dinamismo 
do luto
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 67
sar em que perda foi essa que de tão fun-
DAMENTAL�JOGOU�O�HUMANO�EM�UM�ABIS-
mo afetivo destituído de uma verdadeira 
compreensão e com isso a capacidade 
de encontrar novas saídas. O que fazer 
quando o chamado da estrutura social 
sublinha o acumular e pouco ensina so-
bre o perder? 
Freud expõe o tema do artigo em 
JANEIRO�DE�������MAS�CONFORME�NOTA�DO�
editor, no texto, ele o publicará em 1915. 
3EUS�ESTUDOS�SOBRE�O�TEMA�APONTAM�PARA�
os primeiros postulados do complexo 
de Édipo em rascunho enviado a Fliess 
em 1897 e ligam os conteúdos a ques-
TÜES�PROVENIENTES�DA�FASE�ORAL��3EGUNDO�
ainda o editor, dois conceitos foram fun-
damentais a Freud para elaboração de 
seus estudos sobre luto e melancolia; são 
eles o de narcisismo e de ideal de ego 
(diferenciar de ego ideal). A partir des-
ses apontamentos olharemos para esse 
CURIOSO�lLME�QUE�ESCOLHE�NÎO�ABORDAR�O�
luto de maneira sentimental, mas indo 
fundo em seus conteúdos mais obscuros 
e de ataque, o que Freud destacou em 
seu texto citado.
Os sentimentos de revolta e raiva 
fazem parte de uma das fases de ela-
boração esperadas no luto, como des-
CREVE�A�AUTORA�E�PESQUISADORA�%LISABETH�
+UBLER
2OSS��NEGA¥ÎO��RAIVA��BARGANHA��
depressão e aceitação). Freud fala des-
SA� AGRESSIVIDADE� VOLTADA�PARA�O�OBJETO�
perdido tendo como possibilidades a 
IDENTIlCA¥ÎO�E�INTROJE¥ÎO�DELE�E�POSTE-
rior ataque a si mesmo. Os sentimentos 
de culpa e autorrecriminação podem 
decorrer de tal manobra. Não é inco-
mum vermos em pessoas enlutadas 
uma certa tendência ao irascível, uma 
diminuição da capacidade de se vin-
cular com alguma alegria aos eventos 
ATUAIS�� 5M� AUTOR� QUE� DISCORRE� MUITO�
belamente sobre essas características é 
J. D. Nasio em seu livro A Dor de Amar. 
.O�lLME�TODA�ESSA�DINÊMICA�SERÉ�MUI-
to bem apresentada acompanhando o 
MERGULHO�QUE�#ONOR��,EWIS�-AC$OU-
gall) dará em seu estado de dor/raiva/
culpa ao acompanhar o adoecimento e 
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde 
da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. 
Autores do livro �����G���G��Gd� ����
��
�����ƒ����: Participam de 
palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre 
este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
morte de sua mãe (Felicity Jones), única 
lGURA� DE� SUSTENTA¥ÎO� AFETIVA� QUE� TEM�
em sua vida. 
4EMOS� COMO� UMA� CERTA� TENDÐN-
cia social manter a exigência quanto à 
dissimulação de certos impulsos vistos 
como agressivos, e sabemos que ao fa-
zer isso paga-se algum tipo de tributo 
dentro dos vetores de negociação, a 
ENERGIA�NÎO�SERÉ� JAMAIS� IMPEDIDA�PELO�
“verniz” social, ela impulsiona em bus-
ca de alguma saída. Pedir a quem sofre 
IM
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EN
S:
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IV
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GA
ÇÃ
O 
E 
SH
UT
TE
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que sofra disciplinadamente e comedi-
DAMENTE�JAMAIS�SERÉ�UMA�SOLU¥ÎO�POSSÓ-
VEL��E�#ONOR��DIANTE�DE�SUA�AV��3IGOUR-
ney Weaver), deixará isso bastante em 
EVIDÐNCIA��%M�SUAS�NEGOCIA¥ÜES�DESEN-
volve a fantasia de que irá precisar de 
SEU� -ONSTRO� �,IAM� .ELSON	� PARA� QUE�
entre em contato com seus antagôni-
cos sentimentos que reagem diante da 
dura experiência. Algo escapa, como 
um monstro. O que escapa é inimigo 
OU� PROTETOR��%SSA� � A� PERGUNTA� QUE� SE�
nutre no divã do analista. 
h6OCÐS�CREEM�EM�MENTIRAS�CONFORTÉ-
veis, embora saibam a verdade doloro-
SAv�� DIZ� O�-ONSTRO� A�#ONOR��!�HISTØRIA�
vai então acompanhar nosso pequeno 
protagonista em seu enfrentamento de 
tão difíceis verdades, não por serem inu-
sitadas ou tão estranhas, mas exatamen-
te por remeterem a sentimentos usuais, 
mas que são quase sempre barrados 
como inconscientes, e que colocados 
na situação que vive tornam-se os mais 
.!�$)3#533§/�
3/"2%�/�6!:)/�
$%�5-!�350/34!�
h-/$%2.)$!$%�
,°15)$!v��/�,54/�
%34£�02%3%.4%�#/-/�
!�'2!.$%�15%34§/�
$!�!45!,)$!$%
Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida, mas o maior deles será viver a 
expectativa do luto ao sofrer vendo a mãe enfrentar o câncer em fase terminal 
68 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br6868 pspsiquique ce ciêniênciacia&v&vidada wwwwww.po.portartalcilcienciiaevididvidida.ca comom.brbbr
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-5.$/�).&!.4),��
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2%02%3%.4!�3/-%.4%�
/�%30!.4/�$%�5-!�
#2)!.—!�0%2!.4%�!�
-/24%��!�0%2$!�$/�
/"*%4/�!-!$/
OBSCUROS�� !PROXIMAM� A� VERIlCA¥ÎO� DA�
ambivalência que constitui todo vínculo 
e do sentimento de cansaço e abandono 
que acompanha o ser enlutado. 
6°.#5,/�-/24/
6)6/�
/� PAI� �4OBBY� +EBELL	� � DISTANTE� E�
alheio, sem vínculo amoroso com o 
lLHO�� 4ALVEZ� ESSE� PERSONAGEM� POSSA�
servir parapensarmos em um luto que 
#ONOR� J� VIVENCIAVA�� O� DO� AFASTAMENTO�
de seu pai que, tendo uma nova família, 
não reservava mais nela um espaço afeti-
VO�PARA�SEU�lLHO��VÓNCULO�MORTO
VIVO��!�
solidão do menino é evidente, afora isso 
sofre um pesado bullying pelos colegas 
de escola, todos os dias sendo persegui-
do e agredido no caminho para sua casa. 
!�AV�� UMA�MULHER� ENRIJECIDA�PELA�DOR�
DE�ACOMPANHAR�O�ADOECIMENTO�DA�lLHA��
EST�LONGE�DA�DOCE�lGURA�QUE�ACOLHERIA�A�
dor e desamparo do neto.
!�CRIAN¥A��AO�PERDER�UMA�DAS�lGU-
ras que sustentam seu mundo afetivo, 
viverá o forte sentimento de um aban-
dono. Para ela há um intencional em 
JULGAMENTO� NESSA� PARTIDA�� ASSIM� SEN-
tirá reagindo com raiva propriamente 
dita ou ainda como um sentimento de 
perda total de autoestima, como se não 
valesse afetivamente para qualquer pes-
soa, destituída de importância, muitas 
vezes provocando um distanciamento 
do mundo que a cerca, uma apatia que 
esconde o caos que carrega dentro de 
SI�� %MBORA� AINDA� DE� ALGUMA� MANEIRA�
ela tente comunicar seu desconforto, 
SEJA�POR�COMPORTAMENTOS�ERRÉTICOS��SEJA�
por representações que escolherá – no 
CASO� DE� #ONOR�� SEUS� DESENHOS� GRITAM�
sua angústia, mas não há ninguém que 
possa escutá-lo inteligentemente (como 
recomendaria Winnicott). A dor expos-
ta não chama o interlocutor. 
6EMOS� NO� lLME� O� MUNDO� INFANTIL��
mas seria muito reducionista pensar 
que aquilo representa somente o es-
panto de uma criança perante a morte, 
A�PERDA�DO�OBJETO�AMADO��#OMO�J�DE-
monstrava Freud, somos todos infantis 
diante de tão aterrador desamparo, 
apesar de ele nos fundir e permane-
cer de certa maneira como um estado 
que administramos ao longo de toda a 
vida, em parte como aversivo, em par-
TE� COMO� UM� DESEJO� DE� RETORNO� A� UM�
tempo sem angústias, anterior a tudo, 
ANTES�DO�CAOS�DAS�PULSÜES��/�OBJETO�OR-
ganizador das pulsões, por atrair para 
SI�E�BALANCEAR�O�COMPLEXO�JOGO�PULSIO-
nal com seus vetores de amor e de des-
trutividade, mantém nossa economia 
INTERNA� EM� FUNCIONAMENTO�� 3ABEMOS��
DESDE�&REUD��QUE�MUITOS�SÎO�OS�OBJETOS�
que nos organizam, algumas vezes até 
como uma representação de um ideal, 
e, em assim sendo, a vida exige varia-
dos lutos em seu decorrer, uma dose 
e tanto de apego e desapego como os 
movimentos que precisamos muscular-
mente empreender para dar os passos 
no polo motor. As perdas não são de-
corrência apenas da morte física, al-
gumas das mais cruéis, como a do par 
amoroso, exigem um desprendimento 
DO�OBJETO��EMBORA�ELE�PERMANE¥A�VIVO��
apenas não mais vinculado a quem vive 
a perda, desequilibrando assim a frágil 
tendência a continuar como vetor amo-
roso e pesando na ambivalência para as 
FOR¥AS�DO�ØDIO�QUE�PODERÎO�ENCONTRAR�
uma agressão para o antes investido 
OBJETO� OU� AINDA� RETORNAR� A� SEU� EGO��
ONDE�COLOCARÉ�EM�RISCO�O�PRØPRIO�SUJEI-
to em sua ira incompreendida. 
!02)3)/.!-%.4/
Perder algo ou alguém é uma tarefa 
que dispende muita energia, algumas 
vezes empobrecendo completamente 
A�CAPACIDADE�DO�SUJEITO�DE�REFAZER�SEUS�
laços com o mundo externo; quanto 
mais é desconhecido para ele o que 
de fato perdeu, mais se verá preso a 
UM� REDEMOINHO� APRISIONANTE��1UANDO�
alguém se vê diante de pessoas queri-
das em estado terminal, essa confusão 
DE� SENTIMENTOS�MUITAS� VEZES� AmORA� DE�
maneira confusa e culpada. A inevita-
BILIDADE� DA� PERDA� ENQUANTO� O� OBJETO�
permanece ainda partindo a cada dia, 
lentamente, provoca um esgotamento 
das forças que unem à vida, e muitas 
vezes um certo sentimento de querer 
*��G��\�
���G������G�����9������^�I����G�������I�����‚���:�.G����������������G��������G���������G�G�
a compreensão de um luto que Conor já vivencia nessa relação
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!02%.$%-/3�
$%3$%�-5)4/�#%$/�
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G�(��G¢)���� (��(���������G��ˆ:����d�=;<A:� 
����h�d�%�G�����������G���G:�"�����d�!G��G��G9�
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)GI���G��
G
��d�� /�9� ��G��G9��G�G
P9�	�����/��
�:����Gh�d�<;D��������
encerrar surge alimentando ainda mais 
o circuito confusional gerador de culpa. 
O desapego é um sentir que mui-
tas correntes religiosas chamam para 
REmEXÎO�� .ÎO� Ï� Ì� TOA� QUE� FAZEM� ISSO��
uma vez que entram sempre para ten-
tar minimizar o grande impacto da 
consciência do desamparo que a ideia 
DA� MORTE� NOS� PROVOCA�� 3UPOSTAMENTE�
somos a única espécie que teria consci-
ência de sua existência, talvez aí resida 
O�SEGREDO�DE�DESEJARMOS�TANTO��/�MEDO�
que responde a essa questão nos cega 
no sentido de entendermos que a vida 
é uma sucessão de ganhos e de perdas, 
QUE�PARA�A�mEXIBILIDADE�QUE�A�VIDA�EXIGE�
precisamos aprender a deixar partir e 
A�DESPRENDER
SE�DO�QUE� JÉ�NÎO�VINCULA��
5MA�SÏRIE�DE�46�QUE�VEM�BATENDO�FOR-
te nesse tema é Leftovers, que passeia 
pelos contornos da questão de forma 
despudorada e brinca com o delírio que 
ela pode abrir. As religiões, via de regra, 
buscam seu sustento aí. 
Aprendemos desde muito cedo que 
a ausência é ameaçadora, começa ali 
nos distanciamentos maternos, mesmo 
quando saudavelmente representam 
apenas faltas momentâneas. Demora-
-se toda uma infância para que se possa 
prescindir da presença permanente de 
quem nos fornece a primeira matriz do 
amor (cuidado). Aprendemos na ado-
lescência que é preciso uma dose de 
raiva para afastar-se desse vínculo em 
busca de alguma autonomia, é necessá-
rio certa tensão e um deslocamento da 
GRATIlCA¥ÎO��COISA�QUE�MAIS�UMA�VEZ�SE�
organiza via a sexualidade, nessa fase 
J�EM�SUA�PLENITUDE�DE�BUSCA�E�DESLIZA-
MENTOS��%SSAS�EXPERIÐNCIAS� FUNDAM�AS�
relações que atravessam todo e qual-
QUER�ACONTECIMENTO��SEJA�ELE�DE�ORDEM�
PESSOAL��SEJA�DE�TODO�UM�GRUPO�OU�AIN-
da como um sentir coletivo. Podemos 
ser a criança ressentida ou o adulto que 
entende a perda como algo que poderá 
IMPULSIONAR�OS�NOVOS� VÓNCULOS��%SSA� Ï�
A�MENSAGEM�QUE�O�-ONSTRO�TENTA�COM�
TODAS� AS� SUAS� FOR¥AS� COMUNICAR� A�#O-
nor, que se encontra perdido em sua 
raiva, revolta e tentativa de preservar o 
OBJETO�hABANDONADORv��
#ONCLUIREMOS� COM� O� NOSSO� PEQUE-
no bravo menino que é preciso apren-
DER� A� SOLTAR�� A� DESPRENDER
SE� DO� OBJETO�
quando ele nos amarra ao núcleo do 
RESSENTIMENTO�� 1UE� A� VIDA� PEDE� PAS-
sagem e requer uma boa dose de cora-
gem de soltar-se para que a estagnação 
não alimente monstros em sentimentos 
que estragam o belo que havia antes do 
lM��/S�MONSTROS� INTERNOS� NÎO� NASCEM�
à toa, trazem recados que precisam de 
ESCUTA� E� DESDOBRAMENTOS�� 5M� SINTOMA�
assustador quer comunicar, quer tam-
BÏM� CURAR�� 0OR�MAIS� CONTRADITØRIO� QUE�
isso possa parecer, não são os sintomas 
O�MAL� QUE� ASSOLA�O� SUJEITO�� ISSO�PORQUE�
em parte eles são também uma tenta-
TIVA�DE�CURA�� E� ESSE�lLME��UMA�VERDA-
deira aula sobre esse aspecto no qual a 
0SICANÉLISE�ORIENTA�TODA�SUA�TÏCNICA��%LA�
começou ouvindo as “bocas de ouro” 
�,ACAN	�PARA�ENTENDER�QUE�NOSSOS�PIORES�
monstros internos são em parte nossos 
HERØIS�QUE�BRAVAMENTE�ENFRENTAM�AQUILO�
que nos submete. É preciso, sem dúvida 
alguma, muita coragem para olhar pela 
JANELA�E�BUSCAR�CONVERSAR�COM�O�ASSUS-
TADOR�-ONSTRO�� UMA� ÉRVORE� QUE� SE� SOL-
TA�DO�SOLO�E�CAMINHA�PARA� FAZER�#ONOR�
COMPREENDER� SEU�PRØPRIO� CONmITO��-AS�
como assim, como desprender-se das 
RAÓZES� E� CAMINHAR�� ¡� SØ� ESCUTAR� O� FAR-
falhar das folhas nas árvores, quando o 
vento passa, que se entenderá com faci-
LIDADE�QUE�A�VIDA��DE�UM�JEITO�OU�OUTRO��
remete sempre ao que se mexe, ao que se 
INQUIETA��AO�mEXÓVEL��AO�QUE�CONTRIBUI�EM�
som parao belo caos que é a vida.
.�
G��G���������������������������������I�����G����G����IG�P����������
�I�
��I���G������`��G���G�G�
�����������G������IG�G��
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70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PERlL Por Anderson Zenidarci
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GR
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IK
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IA
GENIAL E POLÊMICO, 
O BAILARINO VASLAV 
NIJINSKY TRAZ EM 
SUA BIOGRAFIA OS 
INGREDIENTES PARA 
COMPOR O PERFIL 
DE UM PERSONAGEM 
INTERESSANTE 
E COMPLEXO
Frágil revolução
da VIDA
F
ILHO� DE� BAILARINOS� POLONESES�
que se apresentavam em tea-
TROS� E� CIRCOS�� 6ASLAV� .IJINSKY�
�����
����	� ATUOU� DESDE� OS� ��
ANOS� DAN¥ANDO� NAS� APRESENTA¥ÜES� DE�
SEUS� PAIS�� )NICIOU� NAS� AULAS� DA� ESCO-
LA� DE� BALÏ� DO�4EATRO� )MPERIAL�� EM� 3ÎO�
0ETERSBURGO��NA�2ÞSSIA��CIDADE�ONDE�SUA�
MÎE�SE�MUDOU�COM�OS�lLHOS�APØS�TEREM�
SIDOS� ABANDONADOS� PELO� PAI�� 6ASLAV� TI-
NHA���ANOS��-UITO�APLICADO��SE�DESTACAVA�
PELA� HABILIDADE� E� POSTURA�� /� PRIMEIRO�
PAPEL�DE�DESTAQUE�VEIO�AOS����ANOS��EM�
Le Pavillon d’Armide.�3EU� TALENTO� FOI� RE-
CONHECIDO�� 3UA� BELA� APARÐNCIA� SOMADA�
AO� DESEMPENHO� EXCEPCIONAL� NA� DAN¥A��
COM�SALTOS�EM�QUE�PARECIA�PAIRAR�NO�AR�E�
GRANDE�APURO�TÏCNICO��O�TORNARAM�A�SEN-
SA¥ÎO�DO�ESPETÉCULO�E�COMENTÉRIO�GERAL�
NO�MEIO�CULTURAL�E�ARTÓSTICO��
%M� ����� FOI� APRESENTADO� AO� EMPRE-
SÉRIO�E�DIRETOR�DO�"ALLETS�2USSES��3ERGEI�
$IAGHILEV��POR�MEIO�DE�SEU�ENTÎO�NAMO-
RADO�� O� PRÓNCIPE� 0AVEL� ,VOV�� �$IAGHILEV�
ERA� CARISMÉTICO�� CULTO� E� DE� FORTE� PERSO-
NALIDADE�� $IRIGIA� COM� MÎO� DE� FERRO� A�
COMPANHIA� COM� O� OBJETIVO� DE� SACUDIR�
O�MARASMO�QUE�ACREDITAVA�HAVER� FEITO�O�
BAL� ESTACIONAR� NO� TEMPO��1UERIA� A� EU-
ROPEIZA¥ÎO�DA�DAN¥A�RUSSA�E�ACABOU�POR�
REVOLUCIONAR� TOTALMENTE�O�BAL��UTILIZAN-
DO�O�TALENTO�DE�COREØGRAFOS�INOVADORES�E�
DE�ESTRELAS�DE�PRIMEIRA�GRANDEZA��COMO�A�
LEGENDÉRIA�BAILARINA�!NNA�0AVLOVA��%SSE�
Sua bela aparência 
somada ao desempenho 
excepcional na dança o 
tornaram a sensação no 
meio cultural e artístico
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 71
PH
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AOS 29 ANOS, 
#/-�%315):/&2%.)!��
O BAILARINO 
ABANDONA OS 
PALCOS E PERDE 
A NOÇÃO DA 
REALIDADE, 
TENDO O ESTADO 
CONFUSIONAL 
#/-/�15!$2/�
PREDOMINANTE
Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e 
palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em 
Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no 
curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos 
em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial 
dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas. 
/� RELACIONAMENTO� DELES�� QUE� HAVIA�
SIDO�MARCADO�PELA�PAIXÎO��AGORA�ERA�DO-
MINADO�PELO�DESESPERO��!S�COREOGRAlAS�
ASSINADAS� POR� .IJINSKY� REVOLUCIONARAM�
AINDA� MAIS� A� DAN¥A�� L’Après Midi d’un 
Faune� CAUSOU� UM� ESCÊNDALO� SEM� PRE-
CEDENTES� AO�MOSTRAR� UMA� SENSUALIDADE�
QUASE�AFRONTOSA�PARA�OS�PADRÜES�DA�ÏPO-
CA�E�DEPOIS�PORQUE�ROMPIA�VIOLENTAMEN-
TE� COM� AS� CARACTERÓSTICAS� FUNDAMENTAIS�
DO�BAL�TRADICIONAL��.A�COREOGRAlA�Jeux, 
.IJINSKY�CAUSA�ESPANTO�AO�SE�APRESENTAR�
EM�SAPATILHAS�DE�PONTA��TÏCNICA�DO�BALÏ�
RESERVADA�UNICAMENTE�ÌS�MULHERES��-AS�
.IJINSKY��SENTINDO
SE�ABANDONADO�E�SOLI-
TÉRIO�EM�EXCURSÎO�PELA�!MÏRICA�DO�3UL��
ATORMENTADO�PELOS�CIÞMES�E� FACILMENTE�
INmUENCIADO�E�MANIPULADO��CASA
SE�PRE-
CIPITADAMENTE� COM�A�CONDESSA�2OMOLA�
DE�0ULSZKY��MULHER�OBCECADA�PELO�BAILA-
RINO�E�QUE�PASSA�ENTÎO�A�CONTROLAR�A�VIDA�
DO� MARIDO�� 4EVE� COM� ELA� DUAS� lLHAS��
+YRA�E�4AMARA��
!O� SABER� DO� CASAMENTO�� QUE� OCOR-
REU� EM�"UENOS�!IRES��$IAGHILEV� DEMITE�
.IJINSKY��DANDO�O�GATILHO�PARA�A�PRIMEIRA�
GRANDE� CRISE� RELACIONADA� AOS� PROBLEMAS�
MENTAIS� DO� BAILARINO�� !O� SENTIR
SE� SEM�
O� APOIO�DO� EMPRESÉRIO� E�NAMORADO�� ELE�
ENTRA� NUM� PROCESSO� DE� DESORGANIZA¥ÎO�
PSÓQUICA��!OS����ANOS��ESTAVA�SENDO�ACO-
METIDO�PELA�ESQUIZOFRENIA��QUE�SE�MANI-
FESTOU� INTENSAMENTE� POR� DUAS� CARACTE-
RÓSTICAS� BÉSICAS�� ALUCINA¥ÎO� �PERCEP¥ÎO�
DAQUILO�QUE�NÎO�EXISTE�REALMENTE	�E�DELÓ-
RIOS��ALTERA¥ÎO�DO�JUÓZO�CRÓTICO	��!BANDO-
NA�OS�PALCOS�E�PERDE�A�NO¥ÎO�DA�REALIDADE��
TENDO�O�ESTADO�CONFUSIONAL�COMO�QUADRO�
PREDOMINANTE��$URANTE�OS�TRINTA�ANOS�SE-
GUINTES��ELE�PASSOU�POR�INÞMERAS�CLÓNICAS�
PSIQUIÉTRICAS�� SEMPRE�MUITO� ALIENADO�DO�
MEIO�SOCIAL�E�ATORMENTADO�EM�SEUS�DELÓ-
RIOS�E�ALUCINA¥ÜES��ATÏ�QUE��EM�������AOS�
���ANOS�DE�IDADE��MORRE�hO�BAILARINO�LOU-
COv�EM�UMA�CLÓNICA�EM�,ONDRES��
TO�MAIS� SUCESSO� PROlSSIONAL�� INCENSADO�
POR�SEUS�CONTEMPORÊNEOS�n�SUA�COMPA-
NHIA�EXCURSIONAVA�POR� TODO�O�MUNDO�E�
RECEBIA� COLABORA¥ÜES� DE� COMPOSITORES�
COMO� 3TRAVINSKY�� $EBUSSY� E� 2AVEL� n��
MAIOR�SE�TORNAVA��A�DISTÊNCIA�ENTRE�ELES��
ENCONTRO�DE�DOIS� TALENTOS� INQUIETOS�MU-
DOU�TOTALMENTE�A�VIDA�PROlSSIONAL�E�PES-
SOAL�DE�AMBOS�E�TAMBÏM�COLABOROU�COM�
A�TÎO�DESEJADA�INOVA¥ÎO�DA�DAN¥A�CLÉSSICA��
3EU�PRIMEIRO�PAPEL�DE�DESTAQUE��DE-
POIS� QUE� CONHECEU� $IAGHILEV� E� COME-
¥OU� A� SE� RELACIONAR� COM� ELE�� FOI� COMO�
!LBRECHT�� EM� Giselle�� QUE� ESTREOU� EM�
0ARIS� EM� ������ #OM� O�MESMO� PAPEL� O�
BAILARINO� PROTAGONIZOU� SEU� PRIMEIRO�
ESCÊNDALO�� .IJINSKY� DAN¥OU� SEM� O� CAL-
¥ÎO�QUE�COBRIA�SEU�leotard��A�MALHA�JUSTA�
USADA�PELOS�BAILARINOS	�EM�UMA�APRESEN-
TA¥ÎO�NA�QUAL� ESTAVA�PRESENTE� A� FAMÓLIA�
IMPERIAL��.O�DIA� SEGUINTE�� FOI� DEMITIDO�
DO�CORPO�DE�BAL�DO�4EATRO�-ARIINSKY��
-AS�A�PARCERIA�DOS�DOIS�NÎO�FOI�ABALADA��
AO� CONTRÉRIO�� O� BAILARINO� SE� TORNOU� EX-
CLUSIVO�DA�COMPANHIA�DE�$IAGHILEV��&OI�
UM�PERÓODO�DE�GLØRIA�� COM�UMA� SUCES-
SÎO�DE�EXCURSÜES�E�ÐXITO��%NCORAJADO�POR�
$IAGHILEV��POR�QUEM�MOSTRAVA�VERDADEI-
RA� ADORA¥ÎO��.IJINSKY� DECIDE� ASSUMIR� A�
FUN¥ÎO�DE�COREØGRAFO�PARA�SEUS�ESPETÉ-
CULOS��-AS�NEM� TUDO�ERAM�mORES� ENTRE�
O�CASAL��$IAGHILEV�APRESENTAVA�UM�QUA-
DRO�DE�TRANSTORNO�OBSESSIVO
COMPULSIVO�
�4/#	� DE� LIMPEZA� E� FOBIA� A� BACTÏRIA� E�
GERMES�� POIS� APRESENTAVA� VERDADEIRO�
HORROR� A� DOEN¥AS� E� TOMAVA� CUIDADOS�
EXTREMOS�PARA�NÎO�SE�CONTAMINAR��VIVIA�
LIMPANDO�AS�MÎOS��NÎO�PERMITIA�QUE�SEUS�
LÉBIOS�FOSSEM�BEIJADOS�E�USAVA�UM�LEN¥O�
IMACULADAMENTE� LIMPO�PARA�PROTEGER� A�
FACE��!�GRAVIDADE�DA�DOEN¥A�DIlCULTAVA�
SUA�VIDA�ÓNTIMA�E�GERAVA�INSEGURAN¥A�EM�
.IJINSK��QUE�POR�SUA�VEZ�APRESENTAVA�UMA�
PERSONALIDADE�EXTREMAMENTE�DEPENDEN-
TE� E� FRÉGIL�� SOLICITANDO�DEMASIADA� AJUDA�
PARA� DECISÜES� MÓNIMAS� DO� DIA� A� DIA��
�!NTAGONICAMENTE�� NOS� PALCOS� ERA� UM�
SER�SUPREMO��SEGURO��INTEIRO�E�REVESTIA
SE�
DE� FOR¥A�DESCOMUNAL� AO� ENCARAR� E�HIP-
NOTIZAR� A�PLATEIA��!LIADO�A�UMA� TÏCNICA�
PERFEITA��SEU�CARISMA�LEVOU�A�TRANSFORMA-
¥ÜES�SIGNIlCATIVAS�DO�BALÏ�DE�SEU�TEMPO��
SENDO� SEU�MAIOR� TRIUNFO�ELEVAR�A�lGURA�
MASCULINA��MESMA�ALTURA�QUE�O�ELEMEN-
TO�FEMININO�	�5M�DEUS�DE�SAPATILHAS�QUE�
JAMAIS�SOUBE�CONVIVER�COM�AS�LIMITA¥ÜES�
IMPOSTAS�PELA�CONVIVÐNCIA�SOCIAL��1UAN-
Nijinsky apresentava uma personalidade 
extremamente dependente e vulnerável, 
solicitando demasiada ajuda para decisões 
mínimas do dia a dia
72 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Müller
Quem 
disse que 
EDUCAR 
é FÁCIL?
EDUCADORES DEVEM SER, ACIMA DE TUDO, 
BONS COMUNICADORES. E BONS COMUNICADORES USAM 
TODOS OS RECURSOS NECESSÁRIOS, COM CRIATIVIDADE, 
PARA MANTER O PÚBLICO INTERESSADO E ATENTO
forem meninos, a probabilidade au-
menta em cerca de 40%. Resultados 
semelhantes já foram colhidos em 
estudos realizados naAlemanha, Ca-
nadá, Espanha e Israel, não deixando 
dúvidas: uma quantidade alarmante 
de crianças, no mundo todo, tem sua 
Instituto Norueguês de Saúde Públi-
ca concluíram que os mais novos da 
sala (que naquele país, assim como 
no Brasil, são nascidos entre outu-
bro e dezembro) têm quase o dobro 
de chance de serem medicados com 
psicotrópicos se forem meninas e, se 
U
m novo estudo relaciona 
imaturidade ao diagnóstico 
de transtorno de déf icit de 
atenção com hiperatividade 
(TDAH). Após analisar informações 
de quase 510 mil crianças ao longo 
de uma década, pesquisadores do 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 73
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imaturidade avaliada como distúrbio 
e tratada com estimulantes.
Se a forma como as crianças são 
ensinadas pudesse ser avaliada com a 
mesma precisão com que se cruzam 
dados de calendários e diagnósticos, 
sem dúvida encontraríamos um fator 
ainda mais fortemente relacionado 
aos problemas de atenção. Os maio-
res índices de alunos com dif iculda-
des para se concentrar certamente 
proviriam de classes conduzidas por 
professores desmotivados e pouco 
criativos. Muitos esforços são dirigi-
dos para que as crianças se adaptem 
ao sistema educacional, quando o que 
mais precisamos é adaptar o sistema 
educacional a elas. 
Poderíamos colocar em discussão 
disciplinas, grades horárias, quanti-
dade e teor de conteúdo, arquitetura 
das escolas, métodos de ensino, siste-
mas de avaliação e outros tantos fa-
tores que compõem a fórmula impre-
cisa de uma educação de qualidade. 
Encontramos variações de tudo isso 
com mais ou menos sucesso, sempre 
dentro de limites traçados por pro-
cessos legais e burocráticos e, por-
tanto, lentos. Mas se restringirmos a 
discussão a fatores mais tangíveis e 
não menos impactantes, dependentes 
apenas de mudanças de perspectivas 
e posturas na hora de ensinar, já po-
demos alcançar grandes resultados 
em curto prazo. 
Os ensinamentos que consegui-
mos transformar em brincadeira, 
com a participação ativa da criança, 
são aprendidos com atenção e com-
prometimento. Todas as obrigações 
das quais elas escapam diariamente, 
para desespero dos pais e professores, 
também são magicamente cumpridas 
quando transformadas em desaf ios. 
Mas para isso precisamos reinventar 
a forma como costumamos impor ta-
refas e ensinar.
Muitas vezes, temos que lançar 
disputas, inverter papéis, estabelecer 
limites de tempo, contar pontos, lan-
çar adivinhas, criar charadas. Enf im, 
precisamos rever os hábitos desgas-
tantes e pouco ef icientes de exigir 
atenção aos longos discursos verbais 
e de repetir as ordens desobedecidas 
gritando e, ao invés disso, inventar 
novas regras e maneiras de ensinar, 
de preferência divertidas, num exercí-
cio constante de criatividade.
Crianças são naturalmente atraí-
das pelo inesperado. Adoram ser sur-
preendidas, são fascinadas pelo inco-
mum e motivadas pela criatividade 
– que pode ser muito divertida, mas 
exige atitudes que nos tiram do con-
forto da rotina e de tudo o que é feito 
com o mínimo de esforço possível. 
Ser criativo implica abandonar ve-
lhos conceitos e investir mais energia 
em tarefas que realizamos automati-
camente – mudanças que desaf iam 
o comodismo ao qual nos apegamos 
na vida adulta e colocam em questão 
também a necessidade de avaliarmos 
nossas prioridades. Ou seja, a via para 
chegar a soluções criativas nunca é a 
mais fácil. Mas quem disse que edu-
car é fácil?
O ensino não acontece sem uma 
comunicação ef icaz. Bons pais e bons 
professores são, acima de tudo, bons 
comunicadores. E todo bom comu-
nicador é necessariamente criativo: 
sempre vai procurar fugir do óbvio 
em seu discurso. E mesmo quando a 
obviedade está presente no conteúdo 
que precisa transmitir, ele vai buscar 
se diferenciar na forma como passa a 
informação. Af inal, sua intenção é, 
acima de tudo, manter a atenção do 
ouvinte e, para isso, sabe que deve 
surpreendê-lo constantemente; deve 
fazer com que ele se identif ique emo-
cionalmente com o conteúdo e que 
interaja com as informações, criando 
novas relações.
A comunicação só se estabelece 
quando há, além da atenção, compre-
ensão. Se um meio de comunicação 
não consegue manter a atenção do 
leitor ou do espectador, nem conse-
gue informá-los de forma clara, cer-
tamente vai buscar novas maneiras de 
narrar os fatos, pois culpar o públi-
co e insistir no formato que não foi 
aceito não irão evitar o fracasso do 
veículo. Pois a educação não deveria 
funcionar diferente. Nem em casa, 
nem na escola.
Pensamento crítico e criatividade 
não costumam ser produtos da leitu-
ra restrita a livros didáticos e apos-
tilas. Muito mais provável que se de-
senvolvam nos momentos em que os 
livros são fechados e as longas expli-
cações – destinadas a serem esqueci-
das – trocadas por atividades que en-
volvem o engajamento das crianças. 
Quando nos comprometemos em es-
tabelecer uma comunicação ef icaz 
com as crianças, a imaturidade que 
impede muitos de se sentarem quie-
tos para ouvir passivamente deixa 
de ser considerada doença e trans-
forma-se em um desaf io saudável à 
nossa criatividade.
Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, 
Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica 
estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos 
estão reunidos no site www.michelemuller.com.br
MUITOS ESFORÇOS SÃO DIRIGIDOS 
PARA QUE AS CRIANÇAS SE ADAPTEM 
AO SISTEMA EDUCACIONAL, QUANDO O 
QUE MAIS PRECISAMOS É ADAPTAR 
O SISTEMA EDUCACIONAL A ELAS
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AMEAÇAAMEAÇA
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 75
Roberta de Medeiros é jornalista científica. medeiros.revista@gmail.com
Por Roberta de Medeiros
Neurose de 
GUERRA
Traumas provocados pela violência 
urbana fazem mais vítimas que 
grandes guerras. As sequelas vão 
muito além das perdas materiais
Situações de grande estresse, como um acidente de carro ou um sequestro, podem deixar marcas pro-fundas. À medida que a exposição à violência urbana aumenta, também maiores são os casos de trauma, especialmente entre adultos e adolescentes. 
A Organização Mundial da Saúde só veio reconhecer o pro-
blema em 1994, a partir da revisão da Classificação Internacio-
nal de Doenças (CID). Depois dessa origem, o transtorno é hoje 
um dos diagnósticos mais populares da Psiquiatria e já começa a 
fazer parte do acervo popular com força semelhante à que acon-
teceu em relação ao termo depressão ou pânico.
Em apenas uma década do surgimento do conceito, 50 cen-
tros de estudo e tratamento foram criados nos Estados Unidos. 
Em 1970 apareceram apenas 20 trabalhos científicos sobre o 
trauma. Em 1990 foram 150 referências e, em 1999, chegaram a 
mil. A maioria desses trabalhos é de autores dos Estados Unidos, 
Austrália e Israel.
Crianças, em geral, são as maiores vítimas. Pesquisas feitas 
por autores que analisam os eventos capazes de gerar traumas 
em meninos concluíram que em 100% dos casos a experiência 
será traumática, independentemente de aspectos como o nível 
de desenvolvimento da vítima, sua história de vida ou a qualida-
de de suas relações familiares. 
Pesquisadores encontraram o expressivo índice de 100% de 
incidência de trauma em meninos que foram sequestrados no 
ônibus do colégio em Chowchilla, na Califórnia, nos Estados 
Unidos. Outro estudo obteve o índice de 94,3% ao analisar a12
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76 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
AMEAÇA
frequência do trauma em estudantes 
adolescentes que, quando estavam 
na escola, sofreram ataque de um 
franco-atirador. 
Diversos especialistas têm son-
dado o impacto dessas situações na 
população. O ranking dos principais 
fatos geradores de traumas são: se-
questro, ataque de franco-atirador, 
abuso sexual, agressão física, fura-
cão, terremoto, guerra, incêndio, de-
sastre nuclear, violência doméstica. 
No Brasil, a ocorrência é maior em 
relação a acidentes de carro e violên-
cia familiar. Nesse caso, a chance de a 
vítima desenvolver trauma é de 24%. 
Sensações repetidas
O quadro clínico é caracterizado pela presença de temores in-
fundados intensos, agitação e a sen-
sação de reviver o evento traumáti-
co ocorrido. Podem surgir imagens 
mentais, pensamentos recorrentes 
ou sonhos repetitivos, relaciona-
dos com o episódio traumático. O 
paciente pode agir como se o even-
to traumático estivesse realmente 
acontecendo de novo. 
O transtorno é considerado de 
ordem emocional com ligação a al-
gum evento traumático como, por 
exemplo, história de abuso na in-
fância, violência sexual, violência 
física, ter presenciado alguém doen-
te ou gravemente ferido ou ter par-
ticipado de algum desastre natural 
como terremoto ou enchente. E está 
em quinto lugar no ranking de doen-
ças mentais. 
Cerca de 60% dos pacientes re-
conhecem haver sofrido alterações 
psíquicas entre as primeiras horas 
e três dias depois do choque vivido 
com a situação traumática. Imedia-
tamente após o trauma, os sintomas 
mais frequentes são a ansiedade, o 
estado de aturdimento e a desorien-
tação parcial em relação às ativida-
des cotidianas. 
Segundo o Manual Diagnóstico 
e Estatístico de Transtornos Mentais, 
a duração mínima dos sintomas é de 
um mês. Quando não está associado a 
algum outro problema psicológico, o 
trauma é transitório. Os sintomas, nes-
se caso, ocorrem no período de quatro 
semanas após o evento traumático e 
desaparecem dentro de algumas horas 
ou dias. Esse período de latência médio 
é de 4,5 meses.
Permanece na memória 
Pesquisadores testaram proble-mas no aprendizado e na memó-
ria de pessoas vítimas de estupro. 
Foram 15 vítimas que sofriam com 
o trauma, comparadas a 16 pesso-
as, também vítimas de estupro, mas 
sem esse transtorno. O grupo ainda 123
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Não há dúvida de que a guerra marca in-
delevelmente as gerações futuras. Um 
estudo de Pediatria respalda esse fato 
em estatísticas. Um terço das crianças da 
Bósnia que participaram do trabalho - rea-
lizado com 364 menores entre 6 e 12 anos 
- foi testemunha de lesões ou da morte 
de algum de seus pares ou irmãos. Como 
consequência, todos eles apresentavam 
sintomas de problemas psicológicos. O 
transtorno de estresse pós-traumático 
aparecia em 94% deles. 
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O quadro clínico é caracterizado pela presença de temor intenso, agitação e a sensação de reviver 
o evento traumático. Podem surgir também sonhos repetitivos relacionados ao episódio
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 77
torturas físicas e psíquicas, a opres-
são política, a negligência socio-
econômica, o abandono cívico, o 
sequestro, o terrorismo. “Algumas 
pessoas, quando expostas a situa-
ções inesperadas, não conseguem 
tirar as ‘cenas’ da cabeça e podem, 
por exemplo, até chegar a reviver as 
sensações de sofrimento do momen-
to do atentado ou acidente”, explica 
a psiquiatra Dilza Feitosa, membro 
da diretoria da Sociedade Pernam-
bucana de Psiquiatria.
Lesões físicas
Sugerindo que as lesões fí-sicas nem sempre acompa-
nham o transtorno de estresse 
O TRAUMA DOS REFUGIADOS
 PARA SABER MAIS 
É 
notável o sofrimento dos refugiados que testemunham o assassinato 
dos seus familiares ou amigos e que, ao conseguirem fugir, sendo por 
vezes os únicos sobreviventes de suas famílias, carregam consigo a culpa 
e o sentimento de abandono. Estudo feito com refugiados em Portugal, 
conduzidos pela pesquisadora Maria Cristina Ferraz Saraiva Santinho, mostrou 
que muitos refugiados não conseguem chegar à verbalização do sofrimento 
e, assim, permanecem num silêncio profundo.
“Sobre as vítimas da ‘banalidade do mal’, como referia Hannah Arendt, 
já não é sequer possível encontrar o rasto, perdidos que estão numa 
cidade/sociedade que desconhecem e que os empurra tragicamente para 
a invisibilidade dos corpos e da existência, na qual o próprio conceito de 
humano expandiu os seus limites”, diz a pesquisadora. Muitos refugiados não 
têm acesso à consulta psiquiátrica ou, mesmo após uma consulta psiquiátrica 
malsucedida, abandonam a tentativa de reconhecimento do seu sofrimento.
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foi comparado com outras 16 que 
não haviam sido expostas a experi-
ências traumatizantes. O grupo que 
tinha trauma apresentou uma inci-
dência de 53% de depressão severa, 
além de leve deficiência na capaci-
dade de memorização. O problema 
só foi observado em 6% das vítimas 
de estupro que não ficaram trauma-
tizadas. Nenhuma pessoa do grupo 
que não foi exposta a experiências 
estressantes tinha depressão. 
A reexposição a situações que 
recordam o trauma são muito peno-
sas às pessoas com transtorno por 
estresse pós-traumático. Em recente 
trabalho de José Luis Medina Amo-
re, José Luis Pérez e Inigo Gancedo, 
constatou-se que essa situação foi re-
latada por 86% das vítimas, e houve 
reação psicofisiológica (vegetativa) 
na reexposição em 79% dos casos. 
São de diversas ordens as ações 
violentas sobre o psiquismo huma-
no. Entre as principais, citam-se as 
 No Brasil, a ocorrência 
é maior em relação a 
acidentes de carro e 
violência familiar. Nesse 
último caso, a chance 
de a vítima desenvolver 
trauma é de 24% 
78 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
AMEAÇA
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A síndrome do pânico é uma das con-
sequências do estresse pós-traumático. 
Ela se caracteriza por uma ansiedade 
aguda na qual ocorrem crises inespe-
radas de desespero e medo intenso de 
que algo ruim aconteça, mesmo que não 
haja motivo algum para isso ou sinais de 
perigo iminente.
TRANSTORNOS FÓBICOS
 PARA SABER MAIS 
As percepções pessoais extremas sobre segurança são negativas, tanto para a pessoa que se considera muito segura e invulnerável, como em 
caso contrário.
Do ponto de vista clínico, os transtornos fóbicos dominam o quadro 
inicial depois do contato com a violência cega, havendo temor exagerado 
e impulsos de sair de lugares públicos. Em médio prazo são frequentes as 
depressões persistentes como autodepreciação e sentimentos de ser uma 
carga para os demais. 
A evolução do transtorno de estresse pós-traumático nesses casos costuma 
ser muito prolongada e, finalmente, poderá ocorrer alteração da personalidade. 
Essa mudança se apresenta com alterações do caráter, sendo os sintomas mais 
frequentes a restrição afetiva e relacional, gerando isolamento. Pode haver 
também alguns transtornos psicossomáticos, tais como hipertensão, alterações 
de tireoide, diabetes, úlcera digestiva, eczemas, urticária, asma brônquica etc. 
pós-traumático, um estudo mos-
trou que a maioria dos pacientes 
não sofreu lesões físicas através do 
acontecimento traumático(45%), 
ou elas foram muito leves (22%). 
Em torno de 15% precisaram de um 
breve período de hospitalização e 
apenas 18% necessitaram de um pe-
ríodo mais prolongado. 
Alterações psíquicas imediatas 
ao trauma vivenciado surgiram em 
62% dos pacientes, os quais reconhe-
ceram ter sofrido desconforto emo-
cional nas primeiras horas até um 
máximo de três dias depois do im-
pacto do acontecimento traumático.
Os sintomas mais frequentes 
desse desconforto emocional ime-
diato foram a ansiedade, em geral, 
de forma f lutuante (ora com mais 
ansiedade, ora com menos), um 
certo estado de aturdimento com 
desorientação parcial em relação ao 
entorno e, finalmente, alterações 
vegetativas. As alterações dissocia-
tivas (da linhagem histérica) apare-
cem em 20% dos pacientes.
Para o típico transtorno de es-
tresse pós-traumático o período de 
latência entre o aparecimento da 
sintomatologia correspondeu, em 
média, a 4,5 meses. Entretanto, no 
transtorno de estresse pós-traumáti-
co observa-se que as alterações emo-
cionais podem ter início desde o mo-
mento do trauma até 42 meses depois 
da ocorrência do fato traumático.
Aceita-se ainda a existência de 
um grupo variável de pessoas nas 
quais os sintomas de estresse pós-
-traumático se tornam permanen-
tes. A real incidência desse grupo 
de cronificados é, usualmente, baixa 
ou muito baixa na maioria de estu-
dos e elevada (até 25%) em alguns 
outros poucos estudos.
Em seu estudo, o psiquiatra Ivan 
Figueiredo salienta que, nas situ-
ações em que há possibilidade de 
guerra, o estresse pós-traumático 
passa a rondar as sociedades. “Foi 
assim na Guerra Civil Americana 
(síndrome do coração irritável), na 
Primeira Guerra Mundial (choque 
da granada), na Segunda Guerra 
Mundial (síndrome de esforço, neu-
rose de guerra), na Guerra do Vietnã 
e, mais recentemente, nos atentados 
do dia 11 de setembro de 2001 ao 
World Trade Center e ao Pentágono.” 
Curiosamente, os pesquisadores têm 
dado pouca atenção aos desastres 
ocorridos no Brasil, sobretudo mor-
tes por acidentes automobilísticos e 
por armas de fogo. 
“Para que o diagnóstico do es-
tresse pós-traumático seja feito, clí-
nicos e pacientes têm que superar 
diversas barreiras de comunicação. 
Ambos podem ficar constrangidos 
em abordar temas que estejam asso-
ciados ao segredo e à vergonha.” O 
psiquiatra lembra a importância de 
questionar o problema de forma di-
reta. Do contrário, o paciente dificil-
mente tomará a iniciativa de revelar 
relevantes, tais como ter sido abusa-
do sexualmente na infância. 
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paço nos debates. Esse tipo de trabalho, sem dúvida, se relaciona com a busca das próprias origens 
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de agrupamento humano afetivo de pessoas com pensamentos comuns. O artesanato, talvez a 
PRINCIPAL�FORMA�DE�TRABALHO�MANUAL��SE�TORNOU�DElNITIVAMENTE�TEMA�CENTRAL�DE�ESTUDOS��PESQUISAS�
e publicações. Parabéns pelo trabalho desenvolvido pela equipe que faz a revista.
Roberto Santana, por e-mail
ALMA BRASILEIRA
Eu aprendo mais a cada edição da revista 
Psique. Dessa vez, no número 136 pude 
tomar conhecimento do que é o arquétipo 
trickster�� QUE��POR�DElNI¥ÎO�� Ï�O� ELEMENTO�
que integra o inconsciente coletivo, re-
presentado por personagens do folclore, 
da mitologia, poesia, teatro, cinema e li-
teratura. O texto cita Jung, que falava que 
em momentos de profundas interrogações 
políticas e incertezas econômicas e espi-
rituais, como o atual, o ser humano volta 
seus olhos para o futuro. E esse arquétipo 
ganha mais em importância na medida 
em que ele se enquadra em questões como 
subversão não violenta, mediação de 
opostos, identidade e sentido no âmbito da 
cura da alma brasileira e o diálogo que o 
arquétipo propõe com todas as estruturas 
narrativas, as formas de socialização para 
se chegar à possibilidade de um recomeço. 
Nada mais indicado para os dias atuais.
Cláudio Mathias, por e-mail
O SER HUMANO INTEGRADO
Abordar a saúde levando em conta uma 
perspectiva holística do ser humano me 
parece uma prática bem interessante. 
Sempre acreditei ser importante dar o 
valor devido a questões como qualida-
de de vida, felicidade e bem-estar. To-
dos esses fatores têm relação direta com 
a saúde. O artigo veiculado no número 
136 da revista deixa isso bem claro, con-
siderando a saúde como decorrente do 
equilíbrio entre os seus corpos e as fun-
ções orgânicas/físicas, mental/cogniti-
vo, emocional/psicológico e espiritual/
transcendente deles decorrentes. Da saú-
de pessoal deriva a saúde do coletivo e, 
a partir daí, a importância da prevenção 
e do cuidado nos seus aspectos globais. 
O material fala também em Psicologia 
Integral, que, como o próprio nome diz, 
se baseia na integração de todas as áreas 
DO�CONHECIMENTO��CIÐNCIA��ARTE��lLOSOlA�E�
espiritualidade. Vida longa à Psique.
Silvia de Abreu, por e-mail
OS MALES DO ESTRESSE
Que o estresse é o grande mal da vida 
moderna não é novidade para ninguém. A 
prova, de acordo com artigo publicado na 
edição 136, é que a Organização Mundial 
da Saúde (OMS) vem alertando ao longo 
dos anos como o estresse tem mexido com 
o bem-estar geral da população mundial. 
Em dados atuais, a doença depressiva pas-
sou da quarta para a segunda colocação 
entre os problemas que retiraram a capa-
cidade de trabalho das pessoas no ano de 
2016. Antes, ela vinha atrás de doenças 
cardíacas, câncer e acidentes. O pior é que 
a previsão dá conta de que seja a primeira 
em 2030. A depressão, muitas vezes causa-
da pelo estresse, tem sido um grande fator 
que contribui para uma vida sem qualida-
de, de aumento de doenças autoimunes, 
bem como para o câncer. Infelizmente, é 
uma realidade difícil que me parece sem 
volta. Aconselho a leitura. 
Carolina Bittencourt, por e-mail
O PAPEL DA PSICANÁLISE
Adoro as entrevistas da Psique. A que 
saiu no número 136 não fugiu à regra. 
Dessa vez foi com a psicóloga e psica-
nalista Magda Khouri. Abordando te-
mas profundos, mas por meio de uma 
linguagem acessível até para quem não 
é da área, a entrevistada procurou en-
focar, entre outros assuntos, o futuro da 
Psicanálise, o papel atual do psicanalis-
ta diante de ummundo novo, cheio de 
mudanças e velocidade, além de várias 
OUTRAS�REmEXÜES�EXIGIDAS�PELA�SOCIEDADE�
contemporânea. E ela ainda faz um aler-
ta. “O imperativo de ser feliz, de se estar 
sempre bem, com um corpo perfeito, as-
SOCIADO�Ì�PRESSA�DE�lCAR�LIVRE�DAS�ANGÞS-
tias, pode levar a uma forma imediatista 
de buscar a solução de problemas, mui-
tas vezes só via descarga das tensões. Os 
excessos de exercícios físicos, de consu-
mismo, de baladas, por exemplo, podem 
ser formas ilusórias de tentar minimizar 
o sofrimento psíquico”. Excelente!
Luiza Barroso, por e-mail
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 81
CONSELHO EDITORIAL
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia 
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana 
de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de 
LIVROS�E�ARTIGOS�CIENTÓlCOS��PARECERISTA�DE�DIVERSAS�
revistas e responsável técnica do Instituto de Psicologia 
Fenomenológico-Existencial do RJ.
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta 
cognitiva pelo Institute of Psychiatry, Universidade de 
Londres. Diretora do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), 
atua em clínica, faz treinamento, consultoria e pesquisa. 
Presidente honorária, ex-presidente e fundadora da ABPC. 
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor 
EM�#IÐNCIAS�NA�ÉREA�DE�.EUROlSIOLOGIA�DA�-EMØRIA 
e Atenção pela Universidade de São Paulo, 
onde também é professor no curso de Biociência e 
coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no 
Instituto de Biociências. 
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, 
doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em 
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, 
professor associado de Psicologia da Universidade Federal 
de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social.
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. 
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia 
Escolar e do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. 
Pesquisadora na área da Psicologia Moral e Evolutiva. 
Professora universitária.
DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa 
de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da 
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 
KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, 
professora e supervisora clínica universitária e do CEP, 
autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro 
numa psicanálise, e de vários outros artigos publicados.
LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia 
pela USP, com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva 
Construtivista. É professora universitária e diretora do 
Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Atua 
em clínica e consultoria. 
LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da 
PUC-SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia 
Analítica. Coeditora da revista Junguiana. Diretora de 
Psicologia da Ser em Cena - Teatro para Afásicos.
MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia 
pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em 
Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em 
Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP.
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de 
Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em 
Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga 
do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP 
e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia 
Hospitalar em Ortopedia.
PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela 
Universidade Paulista, psicanalista, consultora editorial 
do programa de entrevistas da FNAC e membro 
correspondente do Espaço Moebius de Psicanálise de 
Salvador (BA).
PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo 
graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e 
doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor 
da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM.
LINHA DIRETA
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A revista Psique traz muitas informações interessantes também nas redes sociais. 
Acesse a fanpage: www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida
A internet revolucionou o acesso às infor-
mações. Em relação à saúde, não é diferen-
te. Atualmente, é possível, por exemplo, 
VERIlCAR�RESULTADOS�DE�EXAMES�NO�ENDERE-
ço eletrônico do laboratório ou acessar si-
tes sobre saúde e planos de saúde sem sair 
de casa. Apesar dos diversos benefícios da 
web para a saúde humana, uma manifesta-
ção psicopatológica vem sendo discutida, 
além da dependência de jogos eletrônicos, 
internet, cibersexo e celular: a cibercon-
dria. O nome é um neologismo dos termos 
ciber e hipocondria. Apesar de parecer 
ofensivo, pesquisadores relevam que a 
intenção é que a etimologia da cibercon-
dria não seja compreendida como sendo 
pejorativa. A cibercondria está relaciona-
da à ansiedade induzida como resultante 
de buscas on-line relacionadas à saúde. 
Mais informações em matéria completa, 
publicada na edição 102, disponível no site 
www.psiquecienciaevida.uol.com.br
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PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _ 
Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação 
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REALIZAÇÃO
EDITORA: Gláucia Viola
EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Adriano Perez Climaco de Freitas; 
Carla Konrad; Estela Guida Teixeira; Giovani Silva; Lucas Emmanuel 
Alves de Lara; Lucas Vasques Peña; Marineide Almeida Fernandes; 
Milton Cesar Ferlin Moura; Nagy Pereira Sardinha; Priscila Parada; 
Roberta de Medeiros; Sheila Giardini Murta. REVISÃO: Jussara 
Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise 
Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Guido 
Arturo Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; 
Lilian Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller. O 
Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam pelos artigos 
e colunas assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas.
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Ano 12 - Edição 137
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psiquiatria forense por Guido Arturo Palomba 
Guido Arturo Palomba é psiquiatra forense e membro 
emérito da Academia de Medicina de São Paulo.
A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA 
É A PRIMEIRA MEDIDA 
NECESSÁRIA QUANDO O 
QUADRO CLÍNICO DO PACIENTE 
REQUER CUIDADOS ESPECIAIS
possa ter entendimento da gravidade do mal que padece, do 
CARÉTER�MALÏlCO�DO� FATO�� DA�MISÏRIA� FÓSICO
SOCIAL
FAMILIAR� QUE�
O� SUBMETE�� NÎO� CONSEGUE� DETERMINAR
SE� DE� ACORDO� COM� ESSE�
entendimento, pois está escravizado pela impulsão imperiosa 
para usar a droga agora ou daqui a pouco. Por isso é doente. 
Se ainda conserva alguma integridade na razão, perdeu total
MENTE�O�LIVRE
ARBÓTRIO��QUE�SE�ENCONTRA�DOMINADO�PELO�VÓCIO��%�
terceiro, em suas condições precárias e incapaz, por questão 
humanitária, precisa tomar banho, usar roupas limpas, receber 
alimentação, repor os sais minerais e as vitaminas, combater 
infecções, hidratar etc. E, é claro, toxiprivação completa. Al
guém conhece alguma outra forma de fazer isso, ou de tratar 
UM�ATROPELADO�EM�ESTADO�GRAVE��OU�UM�ENFARTADO�CARDÓACO��OU�
uma apendicite supurada sem internar o paciente?
Lembremos, antes de responder, existem, sim, os direitos 
humanos, mas existem também os deveres humanos, que nós mé
dicos sabemos que há momentos em que estes se sobrepõem 
àqueles, caso não estejam alinhados, sobretudo quando o tema 
é saúde, vida e a própria dignidade dos nossos semelhantes.
Porém, desde já, internação compulsória não pode ser me
dida isolada. É apenas o primeiro passo. Precisa muito mais do 
que isso. Do contrário, soará tão somente como higienismo, 
UMA�ESPÏCIE�DE�LIMPEZA�SOCIAL��O�QUE�Ï�INCONCEBÓVEL��
AR
QU
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O 
PE
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 B
RA
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L
É 
CERTO�QUE�NENHUM�MÏDICO�QUE�TENHA�NO�MÓNIMO�UMA�
boa formação acadêmica deixaria de recomendar a in
ternação ao atropelado com traumatismo de crânio, ou 
INFARTADO�CARDÓACO��OU�DIANTE�DE�APENDICITE� SUPURADA��
No caso da Psiquiatria, nenhum psiquiatra minimamente bem 
formado deixaria de internar certos doentes mentais, por exem
PLO��OS�QUE�ESTÎO�EM�mØRIDO�SURTO�PSICØTICO�OU�QUANDO�SE�TRATA�
DE�GRAVE�RISCO�DE�SUICÓDIO�
Doença mental é como outra qualquer; porém, no caso das 
ENFERMIDADES�FÓSICAS��O�MAL�ESTÉ�PREDOMINANTEMENTE�NA�res cor-
porea (corpo), ao passo que, na doença mental, incide na res co-
gitans (mente). Isso tem algumas implicações: o médico do cor
po, quando solicita a internação, é por uma causa que muitos 
PODEM�VER��ESPECIALISTAS�OU�LEIGOS��POIS�A�MANIFESTA¥ÎO�CLÓNICA�
mostra com clareza que “o caso é grave”. Já quando o médico 
DA�MENTE� IDENTIlCA� A� NECESSIDADE� DE� INTERNA¥ÎO��MUITOS� NÎO�
ENXERGAM�COM�NITIDEZ�QUE�A�MEDIDA�Ï�IMPRESCINDÓVEL��
%M� RAZÎO� DISSO�� VÉRIAS� PESSOAS� POSICIONARAM
SE� RECENTE
mente contra a internação compulsória para os “cracômanos” 
da Cracolândia, sob os mais diversos argumentos: o paciente 
tem o direito de escolher se quer ou não ser tratado; internação 
para viciados não funciona; internação psiquiátrica é “castigo” 
e tantas outras ideias de semelhante qualidade.
Por que é preciso internar o “cracômano” da Cracolândia*? 
Resposta: por três motivos. Primeiro, porque a dependência do 
crack na forma como se dá na Cracolândia é doença mental 
GRAVÓSSIMA�� DE� DIFÓCIL� CURA�� 3EGUNDO�� EMBORA� O� DOENTE� AINDA�
Direitos
ou deveres 
HUMANOS?
* Cracolândia é uma denominação popular para uma região no centro da cidade 
de São Paulo em que se concentram dependentes em drogas
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SIMPATIA ABRE PORTAS, ELIMINA CONFLITOS E
EVITA QUE COISAS TOLAS ATRAPALHEM O SEU CAMINHO.
Este livro mostra dez 
passos que esclarecem 
como nascem a simpatia
e a antipatia, e também 
as cinco saias-justas mais 
frequentes, apontando 
como escapar delas 
com elegância. 
Nas bancas e livrarias! 
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NAS LIVRARIAS!
Este livro foi formado a partir de 
histórias verídicas que aconteceram 
em uma família de amigos. 
Trabalhamos os fatos e mudamos os 
nomes dos personagens para manter 
a privacidade de cada um deles. 
Não queremos louros. Tampouco 
constrangimentos. Emprestamos 
nossos ouvidos e nosso coração para 
acolher as narrativas e interpretar os 
sentimentos. Fomos fiéis aos juízos 
éticos e morais, pois se há uma coisa 
que a fronteira da morte nos ensina 
é cancelar todos os julgamentos 
e, sobretudo, as condenações que 
lhes acompanham. Ouvindo essas 
narrativas, fomos capazes de entender 
os caminhos misteriosos da vida 
que velam, revelam e desvelam os 
desfechos das mortes misteriosas. A 
vida é uma gota d´água. O que há de 
mais simples e inescrutável. A partir 
dessas histórias reais, vasculhamos 
as mais elevadas verdades. Não é um 
tratado mórbido, pois a morte não é 
mórbida, antes, é o sopro da esperança. 
UMA OBRA BASEADA EM HISTÓRIAS REAIS

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