Buscar

Responsabilidade Civil Trabalhista_Conteudo Interativo

Prévia do material em texto

DEFINIÇÃO
Responsabilidade civil por dano moral no âmbito do direito do trabalho. Assédios moral e sexual nas relações de emprego, e responsabilidade civil.
Adoecimento do trabalhador, doença ocupacional, acidente de trabalho e responsabilidade civil.
PROPÓSITO
Estabelecer os fundamentos jurídico-legais da responsabilidade civil por dano moral no âmbito do direito do trabalho, delimitando-se o espectro de análise
científica no estudo do assédio moral, assédio sexual nas relações de emprego, acidente de trabalho, doenças ocupacionais e adoecimento mental do
empregado em razão do exercício de suas atividades laborativas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Relacionar a responsabilidade civil por dano moral com o direito do trabalho
MÓDULO 2
Identificar a responsabilidade civil trabalhista decorrente de assédio moral e assédio sexual
MÓDULO 3
Identificar a responsabilidade civil do empregador decorrente de acidente de trabalho e adoecimento do trabalhador
INTRODUÇÃO
Neste tema, você estudará os fundamentos teóricos, jurídico-legais e constitucionais da responsabilidade civil por danos morais no âmbito do
direito do trabalho, conhecendo os critérios fáticos e jurídicos para o entendimento sobre o que é dano moral.
 
freepik / Freepik
Em seguida, acompanhará as explicações sobre o fenômeno dos assédios moral e sexual no âmbito das relações de emprego. O estudo comparativo do
assédio moral e do assédio sexual é relevante especialmente em razão da dimensão de tais práticas e seus desdobramentos jurídicos no campo da
responsabilidade civil por danos morais no direito do trabalho.
Ao final, você terá oportunidade de inteirar-se de um estudo sistematizado sobre acidente de trabalho, doenças ocupacionais e adoecimento dos
trabalhadores, na perspectiva da responsabilidade civil do empregador.
MÓDULO 1
 Relacionar a responsabilidade civil por dano moral com o direito do trabalho
RESPONSABILIDADE CIVIL
Os incisos X e V do art. 5º da Constituição Federal (CF) de 1988 estabelecem respectivamente a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e
imagem das pessoas, assegurando-se direito à indenização pelo dano material e moral decorrente de sua violação. O texto constitucional prevê o direito
de pessoas vítimas de condutas ilícitas requererem a reparação e a compensação pecuniária (monetária) proporcional à extensão do dano sofrido. O
pressuposto básico da teoria da responsabilidade civil no Brasil é a prática de uma conduta ilícita, que será reflexo da violação de uma obrigação
contratual ou de um dever legal.
 
Fonte: freepik / Freepik
A responsabilidade civil se caracteriza pela obrigação de indenizar ou reparar, obrigação assumida por quem comprovadamente praticou uma conduta
ilícita que gerou dano de natureza material ou moral à vítima. Trata-se de situação na qual o agente:
TENDO VIOLADO NORMA OU OBRIGAÇÃO, CAUSANDO DANO, SE VÊ SUBMETIDO ÀS
CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DE SEU ATO LESIVO, ISTO É, À REPARAÇÃO DO
PREJUÍZO, PELA RECOMPOSIÇÃO DO STATUS QUO ANTE OU PELA INDENIZAÇÃO.
(DINIZ, 2008, p. 22)
Nesse sentido:
A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL VEM PRIORIZANDO O ACESSO DA VÍTIMA
À REPARAÇÃO, POR MEIO DE TÉCNICAS DISTINTAS, QUE ORA FLEXIBILIZAM O
CONCEITO DE CULPA, DE DANO OU DE NEXO CAUSAL.
(ANDRIGHI, 2012, p. 160)
O entendimento do tema exige a diferenciação jurídica entre as duas espécies de responsabilidade civil: a subjetiva e a objetiva. Veja a seguir:
RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
A responsabilidade civil subjetiva está prevista no art. 186 do Código Civil (CC) e exige a comprovação dos seguintes requisitos:
ato ilícito;
conduta do agente;
dano; e
nexo de causalidade.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
A responsabilidade civil objetiva está prevista no art. 927 do CC e, para sua configuração, exige a comprovação dos seguintes requisitos:
ato ilícito;
dano;
nexo de causalidade.
 ATENÇÃO
A responsabilidade civil poderá ser contratual ou extracontratual.
CONTRATUAL
Quando o ato ilícito decorre da violação de uma ou mais cláusulas contratuais.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
EXTRACONTRATUAL
Quando o ato ilícito decorre da violação de uma norma jurídica ou dever legal.
REQUISITOS LEGAIS HÁBEIS À CONFIGURAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E DA RESPONSABILIDADE
CIVIL SUBJETIVA
ATO ILÍCITO
Em sentido amplo, vejamos o significado de ato ilícito:
O ATO ILÍCITO INDICA APENAS A ILICITUDE DO ATO, A CONDUTA HUMANA
ANTIJURÍDICA, CONTRÁRIA AO DIREITO, SEM QUALQUER REFERÊNCIA AO ELEMENTO
SUBJETIVO OU PSICOLÓGICO.
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 10)
O ato ilícito poderá decorrer da violação de um dever legal ou de uma obrigação contratualmente estabelecida entre as partes, ressaltando-se inicialmente
que ato ilícito é:
TODO ATO JURÍDICO (QUER DIZER VOLUNTÁRIO) QUE, VIOLANDO A NORMA JURÍDICA,
PRODUZ DANO A OUTREM; DELE NASCE, A CARGO DO AGENTE, A OBRIGAÇÃO DE
RESSARCIMENTO DO DANO, SE O ATO FOI PRATICADO POR PESSOA CAPAZ DE
ENTENDER E DE QUERER E A QUEM SE PODE SER ATRIBUÍDO DOLO OU CULPA.
(AZEVEDO, 2011, P. 61)
Além disso, o ato ilícito poderá ser praticado mediante uma conduta comissiva ou conduta omissiva, “gerando o dever de satisfazer os direitos do
lesado” (DINIZ, 2008, p. 38-39). Vejamos o conceito de cada conduta juntamente com alguns exemplos:
 
Fonte: SPC Brasil
CONDUTA COMISSIVA
A ação do agente em praticar a ilicitude. A inclusão indevida do nome de uma pessoa física ou jurídica em cadastros de restrição de crédito (SPC –
Serviço de Proteção ao Crédito – e Serasa) constitui um ato ilícito que viola norma jurídica (art. 16 do Código Civil).
 
Fonte: Emrys2 / Wikipedia
CONDUTA OMISSIVA
Conduta ilícita praticada pelo empregador ao se omitir. O empregador que deixa de oferecer EPI (equipamento de proteção individual ao empregado)
comete ato ilícito, uma vez que violou uma das cláusulas regentes do contrato de trabalho.
A prática de ato ilícito não gera automaticamente a ocorrência de dano. Há ilicitudes que geram dano e outras condutas ilícitas praticadas que não geram
dano. Veja alguns exemplos:
 
Fonte: senivpetro / Freepik
GERAM DANO
Empregador que deixa de oferecer ao empregado equipamento de proteção individual e, em razão disso, este sofre acidente de trabalho ou adoece em
razão da atividade laborativa.
 
Fonte: nmaura24 / Pixabay
NÃO GERAM DANO
Empregado que deixa de usar o crachá funcional em um dia de trabalho, mas, mesmo assim, consegue exercer regularmente sua atividade laborativa,
sem submeter o empregador a qualquer prejuízo, mesmo tendo violado uma das cláusulas regentes do contrato de trabalho que determina a utilização
regular do crachá funcional durante o exercício de suas atividades profissionais.
CONDUTA DO AGENTE
O agente poderá praticar a conduta ilícita de forma comissiva ou omissiva. No âmbito da responsabilidade civil subjetiva, além de a vítima comprovar a
prática de conduta ilícita, a ocorrência de dano e o nexo de causalidade, é preciso demonstrar, ainda, se essa conduta foi dolosa ou culposa. Vejamos
algumas definições de ato ilícito doloso:
O ATO ILÍCITO DOLOSO CONSISTE NA INTENÇÃO DE OFENDER O DIREITO OU DE
PREJUDICAR O PATRIMÔNIO DE ALGUÉM POR ATUAÇÃO POSITIVA (AÇÃO) OU
NEGATIVA (OMISSÃO).
(AZEVEDO, 2011, p. 64)
O DOLO PODE SER DEFINIDO “COMO SENDO A VONTADE CONSCIENTEMENTE
DIRIGIDA À PRODUÇÃO DE UM RESULTADO ILÍCITO”.
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 19)
A conduta dolosa se caracteriza pela intenção e vontade livre da pessoa em agir ilicitamente, sendo que a vítima é quem deverá comprovar o agir doloso
do sujeito, que tem consciência de sua ilicitude ou previsão mental do resultado de sua conduta. Há diferença entre o dolo direto e o dolo eventual.
Vejamos:
DOLO DIRETO
Quando o agente atua com a intenção de praticar conduta ilícita e tem muito bem claro o resultado esperado.
DOLO EVENTUAL
O agente pratica uma conduta ilícita, não busca especificamente o resultado danoso, mas, em razão de sua postura arriscada, assume o risco de produzi-
lo, por exemplo: sujeito que participade racha de carro e atropela um pedestre; embora não queira o resultado danoso, pelo fato de agir deliberadamente
de forma arriscada assume o risco de produzir o resultado e, por isso, será obrigado a reparar civilmente o dano por ele causado.
O dolo eventual é diferente da culpa consciente, considerando que nesse contexto o agente pratica uma conduta ilícita, tem consciência da possibilidade
de ocorrência de um resultado danoso e lesivo à vítima, mas confia em suas habilidades para evitar que o resultado não se concretize, por exemplo: um
piloto profissional que participa de um racha de carro, mas, em razão de sua clara habilidade técnica, acredita que tem condições de evitar o resultado
danoso.
 ATENÇÃO
O dolo não pode ser confundido com culpa. No dolo, o agente tem o objetivo específico de praticar determinada conduta visando um resultado específico,
enquanto na culpa temos como característica central o objetivo de o agente praticar a conduta sem pretender ou esperar o resultado ocorrido. As
condutas culposas poderão ser comissivas ou omissivas.
Algumas premissas são parâmetro para o entendimento da culpa na perspectiva lato sensu, tais como:
 
Fonte: freepik / Freepik
A omissão quanto ao dever de cuidado.
 
Fonte: freepik / Freepik
O agir perigosamente sem a consciência ou previsibilidade do resultado.
 
Fonte: freepik / Freepik
O agir perigosamente sem a intenção de atingir determinado fim.
 
Fonte: freepik / Freepik
O agir inobservando as técnicas e os procedimentos exigidos.
Os elementos da conduta culposa são:
A) CONDUTA VOLUNTÁRIA COM RESULTADO INVOLUNTÁRIO; B) PREVISÃO OU
PREVISIBILIDADE; C) FALTA DE CUIDADO, CAUTELA, DILIGÊNCIA OU ATENÇÃO”. NA
CONDUTA CULPOSA, “A VONTADE NÃO SE DIRIGE A UM FIM DETERMINADO, COMO NO
DOLO, MAS SE DIRIGE À CONDUTA”, TENDO EM VISTA QUE “A CONDUTA É
INVOLUNTÁRIA; INVOLUNTÁRIO, É O RESULTADO.
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 35 e 45)
O estudo da culpa no âmbito da responsabilidade civil compreende:
IMPRUDÊNCIA
“É a falta de cautela ou cuidado por conduta comissiva, positiva, por ação” (CAVALIERI FILHO, 2009, p. 36), ou seja, imprudente é o sujeito que age de
forma perigosa sem a intenção ou a previsibilidade do dano que poderá causar. Por exemplo: o motorista que avança o sinal de trânsito por estar
apressado e, em razão disso, colide em outro carro, causando dano de natureza material.
NEGLIGÊNCIA
Conduta omissiva, na qual o agente, diante de um dever legal ou obrigação contratual, omite-se, ressaltando-se que sua omissão tem como consequência
a ocorrência de um evento danoso. Por exemplo: omissão de “precauções e cuidados exigidos em certas circunstâncias, como não alertar ante riscos de
prejuízos à pessoa ou a bens, não remover objeto perigoso, que possa causar prejuízos, em local frequentado publicamente, em que pode existir risco de
incêndio” (AZEVEDO, 2011, p. 65).
IMPERÍCIA
“Decorre de falta de habilidade no exercício de atividade técnica, caso em que se exige, de regra, maior cuidado ou cautela do agente” (CAVALIERI
FILHO, 2009, p. 36). O agente deverá ser alguém com habilidade técnica para a prática de determinada conduta. Por exemplo: um cirurgião plástico, ao
realizar uma cirurgia, deixa de observar alguma questão técnica ou procedimento relevante (indispensável) e, em razão disso, causa dano ao paciente.
Ele responderá culposamente pela sua conduta, na modalidade de imperícia, e se ficar comprovado o nexo causal de sua conduta com o dano sofrido
pela vítima será possível a reparação civil como medida compensatória.
No contexto da teoria da responsabilidade civil, há ainda outras espécies de culpa, como:
CULPA IN ELIGENDO
O sujeito responsável pela prática de determinada conduta elege alguém para executá-la em seu nome e, por isso, responderá pela conduta praticada por
aquele sujeito ora eleito para sua execução, ou seja, “a culpa do patrão ou comitente era presumida pelo ato culposo do empregado ou preposto”
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 38). Denomina-se a culpa de in eligendo porque o agente elegeu erroneamente um terceiro para agir em seu nome, tendo
este praticado conduta ilícita e danosa, o que gerou a responsabilidade civil de quem é o verdadeiro responsável pela prática do ato.
CULPA IN VIGILANDO
Culpa presumida (assim como a culpa in eligendo), considerando que o agente responsável pela prática de uma conduta (empregador) elege alguém para
praticá-la (empregado = trabalhador), devendo vigiar (o empregador tem a obrigação de acompanhar a execução da conduta realizada pelo empregado
por ele eleito) a atuação do sujeito escolhido para executar a conduta, ressaltando-se que eventual ilicitude e conduta danosa praticada pelo sujeito eleito
e escolhido para sua execução acarretará a obrigação de o agente indenizar.
CULPA CONCORRENTE
A própria vítima também contribui diretamente para a prática do evento danoso, ou seja, “fala-se em culpa concorrente quando, paralelamente à conduta
do agente causador do dano, há também conduta culposa da vítima, de modo que o evento danoso decorre de comportamento culposo de ambos”
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 41). Por exemplo: um motorista de carro, dirigindo numa rodovia à noite, faz ultrapassagem em local proibido e colide com
uma motocicleta que transitava em sentido contrário com o farol apagado, tendo como consequência a morte do piloto da motocicleta.
 
Fonte: AJEL / Pixabay
DANO
A comprovação efetiva do dano ou prejuízo (material ou moral) é essencial para a configuração da responsabilidade civil e o dever de o agente indenizar a
vítima, tendo em vista que na ausência do dano não haverá indenização ou ressarcimento. Na responsabilidade civil objetiva, basta a vítima comprovar o
nexo de causalidade entre a conduta ilícita e o dano concreto para fazer jus ao direito à reparação. Já no âmbito da responsabilidade civil subjetiva, a
vítima tem de provar o nexo causal do dano com a conduta ilícita e precisa demonstrar a conduta dolosa ou culposa do agente.
O dano patrimonial é aquele traduzido na lesão de bens ou de direitos economicamente apreciáveis, monetariamente concretos, podendo ser dano
emergente ou lucros cessantes. Vejamos a definição de cada dano:
DANO EMERGENTE
Correspondente ao efetivo prejuízo experimentado pela vítima, ou seja, o que ela perdeu (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2006, p. 41).

Como exemplo, podemos citar o prejuízo material sofrido pelo proprietário que teve seu veículo abalroado por um motorista embriagado e em alta
velocidade (ato ilícito decorrente de conduta comissiva = ação).
 
Fonte: Akent879 / Pixabay
LUCROS CESSANTES
Correspondem àquilo que a vítima deixou razoavelmente de lucrar por força do dano, ou seja, o que ela não ganhou (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2006, p. 41).

Como exemplo, podemos citar o taxista que teve seu veículo abalroado por um motorista embriagado e em alta velocidade (ato ilícito decorrente de
conduta comissiva = ação), tendo ficado parado por 30 (trinta) dias aguardando o término do conserto do carro. Além dos danos emergentes (direito de
receber o valor referente ao conserto do carro) terá, também, direito aos lucros cessantes (é aquilo que o taxista deixou de ganhar = receber no período
em que ficou impossibilitado de trabalhar justamente porque o agente praticou conduta ilícita danosa).
 
Fonte: Marcel Langthim / Pixabay
Além dos bens materiais e monetariamente auferíveis, o dano poderá atingir bens jurídicos que não são pecuniariamente quantificáveis, em razão de a
conduta ilícita recair sobre bens personalíssimos. Foi nesse contexto propositivo que surgiu o instituto dos danos morais, que pode ser definido como:
PREJUÍZO OU LESÃO DE DIREITOS, CUJO CONTEÚDO NÃO É PECUNIÁRIO, NEM
COMERCIALMENTE REDUTÍVEL A DINHEIRO, COMO É O CASO DOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE, A SABER, O DIREITO À VIDA, À INTEGRIDADE FÍSICA [...], À
INTEGRIDADE PSÍQUICA [...] E À INTEGRIDADE MORAL (HONRA, IMAGEM,
IDENTIDADE).
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2006, p. 44)
Dano moral in re ipsa é considerado uma outra categoriado dano moral, assim denominado de dano presumido, cuja simples comprovação do nexo
causal e da conduta ilícita já é suficiente para a configuração da obrigação de indenizar.
 EXEMPLO
Negativação indevida do nome da pessoa física ou jurídica em cadastro de restrição de crédito, considerando que a vítima, uma vez demonstrado que a
negativação ocorreu de forma indevida, já terá o direito à reparação civil, dispensando-se evidenciar a dor moral ou sofrimento psicológico, já que nessa
modalidade o dano é legalmente presumido.
Há distinção entre dano moral e mero aborrecimento. Vejamos:
DANO MORAL
Por exemplo, quando o empregador deixa de oferecer equipamento de proteção individual para seu empregado que, em razão disso, sofre um acidente
de trabalho e morre (conduta ilícita do empregador está na omissão em não oferecer o equipamento de proteção individual = violação de cláusula de
contrato de trabalho). Já o dano decorre da violação do direito fundamental à vida, considerado um direito fundamental expressamente previsto no texto
da Constituição brasileira de 1988. Embora não tenha valor monetário específico, sua violação acarreta o direito à indenização como medida
compensatória do dano suportado pela vítima.
MERO ABORRECIMENTO
Condutas ilícitas que geram transtornos ou incômodos momentâneos, que não se estendem no tempo e, por isso, não geram direito à reparação civil. Por
exemplo, quando o empregado que assume contratualmente a obrigação de usar crachá funcional no horário de trabalho, deixa de fazê-lo e comete uma
conduta ilícita (violação de cláusula de contrato de trabalho), mas isso não gera obrigação de indenizar, por tratar-se de mero aborrecimento não passível
de reparação civil.
A doutrina menciona ainda outras espécies de danos, como o dano reflexo ou em ricochete. Outro ponto relevante é a possibilidade de cumulação de
pedidos de danos materiais e morais, desde que decorrentes do mesmo fato.
DANO REFLEXO OU EM RICOCHETE
Aquele cujo prejuízo atinge reflexamente pessoa próxima ou ligada à vítima direta da conduta ilícita. Exemplo: o pai de duas crianças, casado com
esposa desempregada (arrimo de família), foi morto em acidente de trabalho cujo empregador não ofereceu regularmente o EPI (equipamento de
proteção individual). Nesse caso, além de a conduta ilícita atingir diretamente a vítima (o pai morto), estende-se, também, de forma reflexa, aos seus
dois filhos e à esposa, considerando a ausência do sustento do pai, que era arrimo de família.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS DE DANOS MATERIAIS E MORAIS
Por exemplo, um motorista embriagado e inabilitado, transitando em alta velocidade na contramão de direção, colide frontalmente com um carro que
transitava regularmente na sua mão de direção. Em razão do acidente, o carro do motorista que transitava regularmente em sua mão de direção deu
perda total (o valor do carro corresponde a 50 mil reais); a vítima, em razão do acidente automobilístico, ficou paraplégica. Nesse caso, esta poderá
propor uma ação judicial de danos materiais (valor do carro objeto de perda total = 50 mil reais), mais o pedido de danos morais em razão da
paraplegia (ato ilícito do motorista inabilitado que atentou contra o direito fundamental à vida e à integridade física da vítima). Numa mesma petição
a vítima poderá cumular os dois pedidos ora mencionados, uma vez que decorrem do mesmo contexto fático (acidente automobilístico causado por
motorista inabilitado, na contramão de direção e em alta velocidade).
A Súmula 37 do STJ (Superior Tribunal de Justiça) é clara ao estabelecer:
javascript:void(0)
javascript:void(0)
SÃO CUMULÁVEIS AS INDENIZAÇÕES POR DANO MATERIAL E DANO MORAL
ORIUNDOS DO MESMO FATO.
(SÚMULA 37 - STJ)
A possibilidade de cumulação dos respectivos pedidos numa mesma petição inicial é possível processualmente em razão de o mesmo juízo ser
competente para julgar ambos os pedidos, além do fato de esses pedidos serem conexos entre si (advêm de uma mesma circunstância fática). Na
quantificação do pedido de danos morais, o magistrado deverá levar em consideração a extensão do dano causado na vida da vítima, fixando um valor
monetário que seja suficiente para reparar e compensar monetariamente o dano sofrido (caráter reparatório do dano moral), além da finalidade
pedagógica inerente ao dano moral (função educativa que objetiva desestimular o agente e outras pessoas de praticarem a mesma conduta).
 
Fonte: inactive_account_ID_249 / Pixabay
NEXO DE CAUSALIDADE
Trata-se de vínculo fático que liga o efeito (dano) à causa (conduta ilícita do agente), ou seja, a vítima de um dano, quando pretender buscar a
responsabilidade civil do agente (obrigação de reparação civil), deverá demonstrar que o dano por ela sofrido adveio diretamente da conduta (dolosa,
culposa, omissiva ou comissiva) imputada ao agente. Vejamos alguns exemplos:
 
Fonte: senivpetro / Freepik
Se a família de um empregado pretender requerer reparação civil (dano moral e/ou dano material) em face do empregador, alegando que o empregado
morreu em virtude de acidente de trabalho, deverá, assim, comprovar robustamente que o empregador praticou conduta ilícita (comissiva ou omissiva =
descumprimento do contrato de trabalho) que acarretou na morte da vítima.
 
Fonte: fotosforyou_rk / Pixabay
Outro exemplo que poderá ilustrar a situação é de alguém que ficou paraplégico após ter sido atropelado por um veículo automotor em via pública (nesse
caso a vítima tem que comprovar que a paraplegia decorreu diretamente do acidente causado pelo agente).
Por meio das duas situações fáticas supramencionadas fica evidente a importância do nexo causal como elemento integrante da teoria da
responsabilidade civil, uma vez que, se a vítima comprovar o dano, mas não demonstrar que esse dano foi causado pela prática de conduta ilícita do
agente, não será possível a reparação civil.
EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Outra temática pertinente à teoria da responsabilidade civil está prevista no art. 188 do Código Civil, que trata de algumas hipóteses de excludentes de
ilicitude. Vejamos alguns tipos.
EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Prática de algumas condutas ou atos pelo agente que não configuram atividade ilícita hábil a ensejar a responsabilidade civil e a obrigação de
reparar o dano.
EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
Trata-se de “direito exercido regularmente, normalmente, razoavelmente, de acordo com o seu fim econômico, social, a boa-fé e os bons costumes”
(CAVALIERI FILHO, 2009, p. 19). Vejamos alguns exemplos:
 
Fonte: cocoparisienne / Pixabay
Quando a polícia militar viola o domicílio de uma pessoa física em caso de flagrante delito ou para prestar socorro (art. 5º, XI, da CF).
 
Fonte: free-photos / Pixabay
javascript:void(0)
Receber autorização do Poder Público para desmatar de forma controlada determinada área destinada a cultivo de cereais.
 
Fonte: sepph / Pixabay
“Quando empreendemos algumas atividades desportivas, como o futebol e o boxe, podem surgir violações à integridade física de terceiros, que são
admitidas, se não houver excesso” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2006, p. 106).
Havendo comprovado exercício regular do direito, fica afastada a ilicitude da conduta e, por conseguinte, fica também afastado o direito à reparação ou
indenização, uma vez que o pressuposto básico e essencial para a responsabilidade civil é a comprovação concreta da conduta ilícita do agente, algo não
verificável no presente caso. Se o agente abusar do direito a ele conferido, o que deveria ser considerado exercício regular do direito tornar-se-á abuso de
direito, passível de responsabilidade civil e obrigação de indenizar eventuais prejuízos de ordem moral e material decorrentes da prática de sua conduta
ilícita.
ILÍCITA
A divisa entre o exercício regular do direito e o abuso de direito é uma linha tênue, ficando para o juiz analisar o caso concreto para tirar sua
conclusão.
LEGÍTIMA DEFESA
É A AÇÃO DO AGENTE AO USAR DE FORMA MODERADA OS MEIOS NECESSÁRIOS
PARA REAGIR À AGRESSÃO INJUSTA,ATUAL OU IMINENTE, A DIREITO SEU OU DE
OUTREM (ART. 25 DO CÓDIGO PENAL).
Embora a legislação brasileira não autorize a prática de justiça com as próprias mãos, o legislador foi cuidadoso para instituir a excludente de ilicitude no
caso de agente que, utilizando-se de meios proporcionais, afasta agressão atual ou iminente, como forma de proteger a si ou a terceiros.
A ameaça de dano futuro, previsível apenas de forma remota, não deve ser considerada legítima defesa. A tese da legítima defesa não se aplica a
situações hipoteticamente alegadas e sustentadas pelo agente; é preciso provar os requisitos legais para a aplicação da legitima defesa como uma
modalidade de excludente de ilicitude, demonstrando-se efetivamente a existência de uso proporcional de meios e da força para afastar agressão atual ou
iminente.
ESTADO DE NECESSIDADE
O estado de necessidade consiste num contexto fático no qual não existe outra alternativa ao agente senão optar por uma conduta necessária a afastar
perigo atual ou iminente, situação essa que, se comprovada, não configurará a responsabilidade civil e a obrigação de indenizar. Vejamos alguns
javascript:void(0)
exemplos:
 
Fonte: vladartist / Pixabay
Um motorista que entra na contramão de direção e colide com o muro de uma residência para não atropelar uma criança.
 
Fonte: artisticoperations / Pixabay
Um motorista que avança o sinal vermelho porque está com sua esposa em trabalho de parto e precisa chegar urgentemente ao hospital para oferecer
atendimento médico-hospitalar, mas, em razão disso, atropela um pedestre que sofre escoriações.
Nesses dois exemplos, uma vez comprovada a situação fática descrita, especialmente demonstrando que não havia outra alternativa senão agir da forma
como o agente procedeu, ficará afastada a responsabilidade civil e o dever de indenizar (reparação civil por danos materiais, morais ou lucros cessantes).
CASO FORTUITO
É um evento decorrente da atuação humana de terceiro(s) que impossibilita ao devedor cumprir regularmente sua obrigação outrora contratada. Trata-se
de fato imprevisível praticado pelo homem que obstaculiza e impede que a obrigação seja cumprida. Vejamos alguns exemplos:
 
Fonte: flowers2ae / Pixabay
A ocorrência de greve dos caminhoneiros, impedindo a entrega de flores para que o decorador realize o evento contratado.
 
Fonte: macb3t / Pixabay
O cantor ou artista que foi atropelado ou vítima de violência, ficando impossibilitado de cumprir o contrato anteriormente assinado.
 
Fonte: free-photos / Pixabay
O pianista que sofreu um acidente doméstico que levou à perda de alguns dedos da mão.
Pelo fato de o devedor não ter dado causa ao evento danoso (a causa foi a atuação de terceiros), pode-se concluir que sua responsabilidade civil ficará
afastada, não cabendo dever de indenizar, ou seja, a pessoa do devedor não poderá ser condenada a indenizar o credor a título de reparação civil (perdas
e danos). Isso porque o descumprimento da obrigação se deu especificamente por conduta praticada por terceiro, situação essa inesperada que afasta a
ilicitude do ato e, consequentemente, impossibilita a condenação do devedor à indenização do credor.
FORÇA MAIOR
São eventos inevitáveis da natureza, que independem da vontade humana e afetam direta ou indiretamente o cumprimento regular de obrigações ou o
exercício de direitos civis previstos na legislação. O agente não pode ser responsabilizado civilmente nas situações em que comprovadamente houve
eventos naturais, inviabilizando o cumprimento de obrigação contratual ou exercício de um direito. Vejamos um exemplo:
Ocorrência de uma pandemia que inviabiliza o cumprimento do contrato de prestação de serviços educacionais na modalidade presencial, obrigando a
instituição a oferecer o ensino remoto, pois um elemento alheio à vontade das partes tornou inviável o cumprimento regular do contrato firmado nos
moldes antes estabelecidos. Uma vez comprovada a ocorrência de força maior, afasta-se a ilicitude e não se torna viável o pleito indenizatório ou
reparatório no âmbito da responsabilidade civil.
 
Fonte: blendertimer / Pixabay
As partes poderão, de forma livre, espontânea, não viciada e autônoma, estipular cláusulas contratuais descrevendo situações que se equiparam à força
maior e, por isso, seriam consideradas espécies de excludentes de ilicitude contratualmente instituídas entre os contratantes. A validade jurídica dessa
cláusula contratual se condiciona ao fato de ela não poder gerar desigualdade contratual e, assim, colocar o contratante em condição indigna, obrigando-o
a se expor a risco sua saúde como condição para a realização do contrato. Vejamos outro exemplo:
Uma empresa de mineração inclui no contrato de trabalho, como uma de suas cláusulas, que se equipara à força maior, o adoecimento do empregado
que exerce sua atividade laborativa em contato direto com a sílica. A ingestão frequente e contínua da sílica ocasiona a doença de silicose, levando o
empregado precocemente à morte. A cláusula contratual que equipara a exposição à sílica à força maior é nula de pleno direito, por colocar o
empregado em absoluta condição de desigualdade jurídica perante o empregador, além de se tratar de cláusula que atenta contra a saúde e a dignidade
do trabalhador.
SÍLICA
Partículas inaladas na exploração de determinados minerais, como é o caso do quartzo, rochas, areias e substâncias similares.
SILICOSE
Consiste na formação de nódulos e tecidos fibrosos nos pulmões.
NULA DE PLENO DIREITO
Não poderá ser utilizada como fundamento para afastar a responsabilidade civil do empregador em razão do adoecimento físico do empregado. Não
produzirá nenhum efeito.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
 
Fonte: squeeze / Pixabay
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA
Espécie de excludente de ilicitude no qual a própria vítima é responsável pela prática da conduta ensejadora do dano causado, ou seja, se a vítima não
tivesse se portado ou agido de determinada forma o evento danoso não teria ocorrido. A comprovação efetiva de que foi a vítima (não o agente) a
causadora do dano afastará a responsabilidade civil e o dever do agente de indenizá-la.
 EXEMPLO
“Imagine a hipótese do sujeito que, guiando o seu veículo, segundo as regras de trânsito, depara-se com alguém que, visando suicidar-se, arremessa-se
sob as suas rodas” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2006, p. 114). Apenas mediante a comprovação efetiva da atuação da vítima na ocorrência do dano
é que será possível afastar o nexo causal e não responsabilizar civilmente o agente.
AGENTE
No direito do trabalho, a culpa exclusiva da vítima é também chamada de ato inseguro, que consiste no ato do empregado de desconsiderar regras e
procedimentos de segurança e assumir sozinho o risco do resultado. São exemplos de atos inseguros dos empregados que excluem o dever de
indenização do empregador:
uso de equipamentos de forma errada ou roupas inadequadas;
uso de máquinas sem permissão ou mesmo sem habilitação;
recusa em usar o equipamento de proteção individual (EPI);
limpeza e ajuste de máquinas em movimento;
improviso e tentativa de ganhar tempo na utilização de ferramentas inadequadas à tarefa;
consumo de bebidas alcoólicas ou outras substâncias entorpecentes durante a jornada de trabalho;
operação de equipamentos estando o trabalhador com sono ou distraído;
execução de tarefas que envolvem altura sem a devida segurança, como, por exemplo, não uso de cinto.
javascript:void(0)
REFLEXOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO
Após a apresentação dos principais fundamentos teóricos e normativo-legais que regem a responsabilidade civil no direito brasileiro, vamos estudar seus
reflexos no direito do trabalho.
O DIREITO DO TRABALHO É UM RAMO DA CIÊNCIA DO DIREITO QUE OBJETIVA
SISTEMATIZAR CRITÉRIOS PARA REGER AS RELAÇÕES DE EMPREGO, PRIVILEGIANDO
A PROTEÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA DO EMPREGADO, SUA LIBERDADE E
IGUALDADE, SENDO VEDADO QUALQUER TIPO DE DISCRIMINAÇÃO QUE COLOQUE O
TRABALHADOREM SITUAÇÃO DE INDIGNIDADE, ALÉM DE TORNAR VIÁVEL O
EXERCÍCIO DE TODOS OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NO PLANO
CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL.
Alguns princípios são fundamentais ao entendimento crítico da teoria da responsabilidade civil no âmbito trabalhista. Vamos conhecê-los.
Fonte: jessica45 / Pixabay
O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO
ASSEGURA A IGUALDADE NA RELAÇÃO DE EMPREGO, A FIM DE CORRIGIR A
DESIGUALDADE ESTRUTURAL VIVENCIADA PELO EMPREGADO DIANTE DO
EMPREGADOR, QUE DETÉM OS MEIOS DE PRODUÇÃO E GERAÇÃO DE RIQUEZAS.
ASSIM, O DIREITO DO TRABALHO É UM RAMO QUE PRIVILEGIA A AMPLA E IGUAL
PROTEÇÃO JURÍDICA AO TRABALHADOR, RESTABELECENDO A IGUALDADE JURÍDICA
ENTRE O EMPREGADO E O EMPREGADOR (MARTINS, 2005, P. 97).
As relações de emprego constituem-se em fenômeno típico do sistema capitalista, cuja finalidade maior é a geração de lucros, acumulação de capital e
fomento às desigualdades sociais. Para isso, o empregador (detentor dos meios de produção) lança mão de ferramentas sociais, econômicas e jurídicas
para se utilizar da mão de obra do empregado (trabalhadores) com o condão de, assim, explorar a atividade econômico-produtiva.
O direito do trabalho, objetivando proteger esse trabalhador, assegurando-se igualdade jurídica, cria e sistematiza normas com o propósito de corrigir
(pelo menos sob o ponto de vista legal) essa abissal desigualdade vivenciada pelos empregados.
 
Fonte: succo / Pixabay
O princípio da proteção pode ser subdividido em três subprincípios ou parâmetros interpretativos:
IN DUBIO PRO MISERO OU IN DUBIO PRO OPERARIO
Do latim in dubio (significa na dúvida), misero é a parte mais fragilizada na relação de emprego, ou seja, o empregado. Operario é aquele que labora, que
trabalha; portanto, a dúvida será utilizada em favor do empregado. Aqui, a dúvida apenas e tão somente recairá sobre a atividade interpretativa da norma,
ou seja, se a norma comportar duas ou mais formas de interpretação, o juiz está autorizado a aplicar aquela que melhor atenda aos interesses do
empregado. Exemplo: se determinado artigo de lei possibilitar uma interpretação que favorece o empregador e outra interpretação que beneficia o
empregado, será aplicada esta última.
APLICAÇÃO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL
Reside na regra que, em cabendo a aplicação de duas ou mais normas sobre o mesmo caso concreto, deverá ser aplicada aquela que melhor atenda aos
interesses do empregado. Por exemplo: A CLT prevê em seu artigo 59 § 1° que o adicional de hora extra será pelo menos 50% superior ao da hora
normal trabalhada. Todavia, se houver uma norma coletiva (Convenção Coletiva de Trabalho) criada com a participação do Sindicato, prevendo que o
adicional de hora extra será de pelo menos 60%, então essa norma é que será aplicada e não a CLT, pois assegura mais vantagens ao empregado.
APLICAÇÃO DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA
Aplicável às cláusulas do contrato, ou decorrentes do costume, não englobando os dispositivos normativos de lei que regulam determinada situação
relativa ao contrato de trabalho. O princípio da condição mais benéfica é aquele que assegura a manutenção de uma vantagem obtida pelo empregado,
seja em razão de cláusula do contrato, seja em razão do costume. Entende-se por costume a prática reiterada que assegura um benefício ao empregado
e cuja vantagem integrará o seu contrato de trabalho, não podendo mais ser retirada. Por exemplo: Se o empregador ofereceu percentagens de 2% sobre
as vendas que o empregado fizesse, não pode depois parar de fornecer ou diminuir o percentual.
O PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE
Considera-se nula qualquer cláusula do contrato de trabalho na qual o trabalhador renuncia a direitos trabalhistas como critério para garantir a
preservação da relação de emprego. Tal princípio objetiva prevenir juridicamente a precarização das relações de emprego e, em razão disso, sabe-se que
qualquer medida ou cláusula contratual lesiva ao trabalhador, além de ser considerada nula, permite o direito à reparação civil em face do empregador,
desde que comprovado o nexo causal com o dano concretamente alegado.
 EXEMPLO
Imagine uma cláusula na qual o empregado renuncia ao direito de ser remunerado por horas extraordinárias de trabalho. Se depois for comprovado que o
empregado trabalhou extraordinariamente, poderá requerer o pagamento referente às horas extraordinárias (art. 9º da CLT). Não se admite transação de
direitos fundamentais sociais do trabalho, uma vez que permitir isso é reconhecer a possibilidade de renúncia de direitos considerados essenciais à
dignidade do trabalhador.
O PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL
O princípio da vedação de retrocesso social institucionaliza a proibição do legislador infraconstitucional e constitucional de aprovar instrumentos
normativo-legais que objetivam suprimir, restringir ou reduzir o espectro e a dimensão dos direitos fundamentais sociais voltados à proteção da dignidade
humana e igualdade do trabalhador. Sobre esse princípio, veja o que Pompeu e Pimenta (2015) afirmam:
TAMBÉM É CONHECIDO COMO PROIBIÇÃO DA REVOLUÇÃO REACIONÁRIA, REGRA DO
NÃO RETORNO DA CONCRETIZAÇÃO OU SIMPLESMENTE COMO PROIBIÇÃO DO
RETROCESSO.
(POMPEU; PIMENTA, 2015, p. 222)
No Brasil, a vedação do retrocesso social é princípio usado principalmente nas obrigações prestacionais do Estado e no caso de outros direitos
fundamentais sociais, como o direito à saúde e educação.
O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO
Considerado desdobramento da proteção, estabelece a presunção de que:
O CONTRATO DE TRABALHO TERÁ VALIDADE POR TEMPO INDETERMINADO, OU SEJA,
HAVERÁ A CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO.
(MARTINS, 2005, p. 98)
 ATENÇÃO
Ressalta-se que a exceção a essa regra está prevista nos contratos de trabalho por tempo determinado, como é o caso dos contratos temporários.
O entendimento mais específico da extensão teórico-jurídica desse princípio exige a análise de seus desdobramentos:
 
Fonte: freepik / Freepik
No âmbito das relações de emprego deve-se dar preferência para contratos de trabalho com tempo indeterminado, ressaltando-se que essa regra deixará
de ser aplicada apenas se houver cláusula contratual prevendo expressamente tratar-se de contrato por prazo determinado.
 
Fonte: rawpixel.com / Freepik
Uma vez firmado um contrato com prazo determinado – e ultrapassada a data pré-definida –, se ainda assim o trabalhador continuar exercendo
regularmente suas atividades profissionais deve-se entender pela prorrogação do respectivo contrato por prazo indeterminado, já que devemos privilegiar
a interpretação mais favorável ao trabalhador, como medida hábil a efetivar a igualdade no âmbito das relações trabalhistas.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
O Supremo Tribunal Federal (STF), na Súmula Vinculante 22, estabelece que:
A JUSTIÇA DO TRABALHO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÕES DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE
TRABALHO PROPOSTAS POR EMPREGADO CONTRA O EMPREGADOR.
(STJ Súmula Vinculante 22)
A partir da intepretação sistemática e integrativa do art. 114, inciso VI, da CF, a justiça do trabalho é competente para o processamento e julgamento de
ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes das relações de emprego, incluindo-se as ações indenizatórias oriundas de acidente de
trabalho, doenças ocupacionais e outras demandas a essas equiparadas.
Com a Emenda Constitucional 45/2004, ampliou-se a competência da justiça do trabalho, autorizando-se que o próprio trabalhador, assim como seus
dependentes e herdeiros, acione a justiça do trabalho com a finalidade de buscar reconhecimento de suas pretensões indenizatórias decorrentes direta ou
indiretamente da relação de emprego.
O direito brasileiro adota como regra geral a teoria da responsabilidade civil objetiva do empregador em razão de qualquer dano sofrido pelo empregado
no exercício das atividades laborativas. Assim, caberá ao empregado ou a seus sucessores e dependentes alegar e provar o nexo de causalidadeexistente entre a conduta ilícita omissiva ou comissiva praticada pelo empregador e que teve como consequência fático-jurídico-legal direta na ocorrência
do dano (material ou moral) ao empregado.
 
Fonte: freepik / Freepik
Objetiva-se, com tais proposições teóricas, garantir o direito de amplo acesso à justiça de todos os trabalhadores, permitindo-se reivindicar o direito de
reparação pecuniária advinda do exercício de suas atividades profissionais.
 EXEMPLO
O direito que os herdeiros do empregado falecido têm de buscar a reparação civil por danos morais decorrentes de acidente de trabalho, admitindo-se,
ainda, o dano em ricochete (dano reflexo) se efetivamente ficar comprovada a respectiva pretensão judicial.
Quando o legislador constitucional ampliou a competência da justiça do trabalho e reconheceu sua atribuição legal para o julgamento de pretensões
indenizatórias, assegurou maior amplitude de acesso à justiça e concentrou na justiça especializada (justiça do trabalho) o debate de mérito processual
envolvendo danos morais e materiais causados pelo empregador ao empregado em virtude da relação de emprego.
A SÚMULA 341 DO STF, AO ASSENTAR COMO PRESUMIDA A CULPA DO PATRÃO OU
COMITENTE PELO ATO CULPOSO DO EMPREGADO OU PREPOSTO, ENCAMPOU A
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE E TORNOU-SE O MARCO INICIAL E REGULADOR DA
FIXAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR, INDEPENDENTEMENTE DA
PROVA DE CULPA.
(ALMEIDA, 2011, p. 182)
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRETAMENTE RELACIONA A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DIREITO DO
TRABALHO NO QUE DIZ RESPEITO AOS EXCLUDENTES DE ILICITUDE:
A) O estado de necessidade afastará a responsabilidade civil do agente em todas as situações nas quais temos a prática de uma conduta visando afastar
perigo atual ou iminente, mesmo que eventualmente essa conduta seja desproporcional a todo o contexto fático.
B) Caso fortuito é um evento da natureza que, quando comprovado, afastará a responsabilidade civil do agente.
C) A legítima defesa afastará a responsabilidade civil do agente sempre que ficar comprovada a utilização proporcional dos meios necessários para
afastar agressão atual ou iminente.
D) A culpa exclusiva da vítima, mesmo que comprovada, excepcionalmente será considerada uma excludente de ilicitude, tendo em vista o dever de
cuidado do agente para evitar o evento danoso.
2. A COMPROVAÇÃO DA CONDUTA DOLOSA OU CULPOSA DO AGENTE É UM DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A
CONFIGURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA. COM RELAÇÃO AO TEMA DOLO DIRETO, DOLO
EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) No dolo eventual o agente pratica uma conduta ilícita, não busca especificamente o resultado danoso, mas, em razão de sua postura arriscada,
assume o risco de produzi-lo.
B) Na culpa consciente o agente atua com a vontade conscientemente dirigida à produção de um resultado ilícito.
C) No dolo direto o agente pratica uma conduta ilícita, tem consciência da possibilidade de ocorrência de um resultado danoso e lesivo à vítima, mas
confia em suas habilidades para evitar que o resultado se concretize.
D) No dolo eventual a conduta dolosa se caracteriza pela intenção e vontade livre da pessoa em agir ilicitamente.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que corretamente relaciona a responsabilidade civil e o direito do trabalho no que diz respeito aos excludentes de
ilicitude:
A alternativa "C " está correta.
 
A comprovação da prática de conduta ilícita pelo agente é considerada o pressuposto inicial da responsabilidade civil. A legislação brasileira vigente prevê
hipóteses que, quando comprovadas, afastarão a responsabilidade civil do agente. Excludentes de ilicitude são condutas praticadas pelo agente que não
geram responsabilidade civil, tendo em vista que a lei expressamente prevê se tratar de conduta lícita. Considerando-se que a ilicitude é pressuposto
inicial da responsabilidade civil, ressalta-se que a legítima defesa somente será uma espécie de excludente de ilicitude se o agente se utilizar dos meios
proporcionais para afastar agressão atual ou iminente.
2. A comprovação da conduta dolosa ou culposa do agente é um dos requisitos legais para a configuração da responsabilidade civil subjetiva.
Com relação ao tema dolo direto, dolo eventual e culpa consciente, assinale a alternativa correta:
A alternativa "A " está correta.
 
O dolo é a intenção do agente em praticar determinada conduta ilícita. A culpa lato sensu é a falta de cuidado na prática de determinada conduta, tendo
como consequência o dano causado à vítima. O dolo direto é conduta ilícita em que o agente explicitamente age com a intenção de lesar a vítima,
enquanto no dolo eventual o agente pratica a conduta ilícita, não busca o resultado danoso, mas, em razão de sua postura, assume o risco do resultado.
MÓDULO 2
 Identificar a responsabilidade civil trabalhista decorrente de assédio moral e assédio sexual
ASSÉDIO MORAL
O assédio moral é um fenômeno social que marca a sociedade contemporânea, caracteriza as relações de emprego, naturaliza a violência simbólica e
silenciosa que coisifica os trabalhadores, cria um ambiente de trabalho hostil e adoecedor, além de atentar diretamente contra a dignidade humana da
vítima.
 
Fonte: yanalya / Freepik
Trata-se de uma forma de coação social institucionalizada no ambiente de trabalho, que se instala sorrateiramente (sem que a vítima perceba), que se
estrutura no autoritarismo do empregador e desigualdade do empregado, gerando-lhe ofensas, menosprezo, constrangimento e reflexos em sua
autoestima. Os principais desdobramentos e consequências são o gradativo processo de adoecimento (físico e mental), podendo chegar a estágios
avançados que levam à morte da vítima.
O assediador se utiliza de diversas estratégias para despertar na vítima o sentimento de culpa, inferioridade, incompetência, incapacidade, descrédito em
si mesma, induzindo-a a erros, além da exposição, muitas vezes, a situações degradantes e vexatórias no ambiente de trabalho. Humilhações repetitivas,
o medo do desemprego e as cobranças sociais são situações que descrevem com nitidez o universo da pessoa assediada.
O estabelecimento de metas inatingíveis a serem cumpridas pelos empregados é uma estratégia silenciosa muito comumente utilizada pelo assediador,
especialmente com o objetivo de induzir a vítima a acreditar que é incapaz e irresponsável. O assédio moral acaba provocando um tipo de:
GUERRA PSICOLÓGICA NO LOCAL DE TRABALHO, AGREGANDO DOIS FENÔMENOS: O
ABUSO DE PODER, O QUAL É RAPIDAMENTE DESMASCARADO E NÃO É ACEITO
NECESSARIAMENTE PELOS EMPREGADOS, BEM COMO A MANIPULAÇÃO PERVERSA,
INSTALANDO-SE DE FORMA INSIDIOSA, MAS NÃO MENOS DEVASTADORA QUE O
ABUSO DE PODER.
(RAMOS; GALIA, 2019, p. 49)
O assediador manifesta características de sua personalidade que podem ser descritas como sentimento de grandeza, extremo egocentrismo e falta
absoluta de empatia pelos outros, ainda que ele mesmo seja alguém sedento de admiração e aprovação dos outros.
É DEVER CONSTITUCIONAL DO EMPREGADOR OFERECER AOS SEUS
COLABORADORES (TRABALHADORES) UM AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL,
DIGNO E NÃO ADOECEDOR, PREVISÃO QUE É DECORRENTE DA INTERPRETAÇÃO
SISTEMÁTICO-INTEGRATIVA DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA.
O art. 200, inciso VIII, da Constituição brasileira de 1988 estabelece como uma das atribuições constitucionais do Sistema Único de Saúde:
COLABORAR NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE, NELE COMPREENDIDO O DO
TRABALHO.
(BRASIL, 1988)
O art. 7°, XXII e XXIII, da CF, prevê que são direitos fundamentais de trabalhadores rurais e urbanos:
XXII – REDUÇÃO DOS RISCOS INERENTES AO TRABALHO, POR MEIO DE NORMAS DE
SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA; XXIII – ADICIONAL DE REMUNERAÇÃO PARA AS
ATIVIDADES PENOSAS, INSALUBRES OU PERIGOSAS, NA FORMA DA LEI.
(BRASIL, 1988)
Nesse sentido, o meio ambiente do trabalho é um direito fundamental, que objetiva garantir aos trabalhadores condições dignas de exercício de atividades
laborativas,reduzindo os riscos de atividades insalubres e periculosas, como forma de proteger a saúde e a dignidade humanas.
A prática do assédio moral é uma hipótese que gera responsabilidade civil, porque fica evidente a omissão do empregador, que deixou de agir no sentido
de prevenir ou impedir a atuação do assediador no ambiente de trabalho. A conduta ilícita está inicialmente na violação do direito fundamental ao meio
ambiente de trabalho, que, para a pessoa assediada, passa a ser visto como um espaço de adoecimento, sofrimento e segregação.
O assediador age por meio de palavras, gestos, comportamentos, atos, condutas que visam desestabilizar a vítima, causar-lhe desgaste físico e
emocional, situações essas que contribuem diretamente para o processo de autodestruição da pessoa humana, além do seu adoecimento físico e mental.
 
Fonte: yanalya / Freepik
A Consolidação das Leis do Trabalho, alterada pela Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017, criou um capítulo específico para regulamentar o dano
extrapatrimonial nas relações de emprego. No art. 223-B da CLT, o legislador previu que:
CAUSA DANO DE NATUREZA EXTRAPATRIMONIAL A AÇÃO OU OMISSÃO QUE OFENDA
A ESFERA MORAL OU EXISTENCIAL DA PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, AS QUAIS SÃO
AS TITULARES EXCLUSIVAS DO DIREITO À REPARAÇÃO.
(BRASIL, 1943)
No mesmo sentido, previu no art. 223-C da CLT que:
A HONRA, A IMAGEM, A INTIMIDADE, A LIBERDADE DE AÇÃO, A AUTOESTIMA, A
SEXUALIDADE, A SAÚDE, O LAZER E A INTEGRIDADE FÍSICA SÃO OS BENS
JURIDICAMENTE TUTELADOS INERENTES À PESSOA HUMANA.
(BRASIL, 1943)
No momento em que o legislador infraconstitucional previu expressamente a proteção legal dos direitos fundamentais e direitos da personalidade dos
empregados, ele deixou claro que é dever legal e obrigação contratual do empregador garantir aos seus trabalhadores um ambiente de trabalho que seja
digno, que proteja sua saúde física e mental, que não permita qualquer conduta discriminatória, especialmente aquelas decorrentes de origem, raça, sexo,
cor e idade.
A violação dos respectivos direitos configura conduta ilícita do empregador, passível de reparação civil que objetiva compensar monetariamente os danos
efetivamente comprovados. Na realidade, quando o assediador inicia prática do assédio moral o faz impossibilitando:
UMA COMUNICAÇÃO ADEQUADA COM A VÍTIMA, RECUSANDO A COMUNICAÇÃO
DIRETA, ISOLANDO-A, ATACANDO SUA REPUTAÇÃO, DEGRADANDO, INCLUSIVE, AS
CONDIÇÕES DE TRABALHO, ATACANDO, SOBRETUDO, SUA SAÚDE EM FACE DA
VIOLÊNCIA DEFLAGRADA NESTE FENÔMENO.
(RAMOS; GALIA, 2019, p. 62)
O art. 223-E da CLT estabelece que:
SÃO RESPONSÁVEIS PELO DANO EXTRAPATRIMONIAL TODOS OS QUE TENHAM
COLABORADO PARA A OFENSA AO BEM JURÍDICO TUTELADO, NA PROPORÇÃO DA
AÇÃO OU OMISSÃO.
Nesse dispositivo, o legislador regulamentou que o empregador é o responsável direto em razão de qualquer dano moral suportado pelo empregado em
virtude da prática de conduta ilícita, no ambiente de trabalho, contrariamente aos direitos fundamentais e direitos da personalidade. Adotando a mesma
sistemática prevista na Súmula 37 do STJ (são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundas do mesmo fato), o art. 223-F da CLT
prevê que:
A REPARAÇÃO POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS PODE SER PEDIDA
CUMULATIVAMENTE COM A INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS DECORRENTES DO
MESMO ATO LESIVO.
(BRASIL, 1943)
A partir dos princípios da celeridade processual, economia processual e duração razoável do processo, o legislador permitiu que a pretensão por danos
morais, quando conexa com outras pretensões de natureza material, poderá ter os pedidos cumulados na mesma petição, desde que sejam conexos e
que a competência seja da Justiça do Trabalho (a Emenda Constitucional 45/2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho, pacificando o
entendimento que pairava quanto ao julgamento de pretensões indenizatórias).
 
Fonte: succo / Pixabay
De acordo com o entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST):
O ASSÉDIO MORAL SE CARACTERIZA POR ATITUDES DELIBERADAMENTE
PERVERSAS, COM O OBJETIVO DE AFASTAR O EMPREGADO DO MUNDO DO
TRABALHO E QUE PROVOCA DANOS À SUA PERSONALIDADE, À SUA DIGNIDADE E
ATÉ MESMO À INTEGRIDADE FÍSICA OU PSÍQUICA, PÕE EM RISCO O EMPREGO E
DEGRADA O AMBIENTE DE TRABALHO.
(RAMOS; GALIA, 2019, p. 49)
O assédio moral destrói a capacidade do trabalhador e sua resistência psicológica, ou seja, o assediador (agressor) age para:
INTIMIDAR, DIMINUIR, HUMILHAR, AMEDRONTAR E CONSUMIR EMOCIONAL E
INTELECTUALMENTE A VÍTIMA, COM O OBJETIVO DE ELIMINÁ-LA DA ORGANIZAÇÃO
OU SATISFAZER A NECESSIDADE INSACIÁVEL DE AGREDIR.
(PIÑUEL; ZABALA; CANTERO, 2003, p. 32)
O assédio no local de trabalho deve ser entendido, ainda, como toda conduta abusiva que se manifesta por meio de:
COMPORTAMENTOS, PALAVRAS, ATOS, GESTOS, ESCRITOS QUE POSSAM TRAZER
DANO À PERSONALIDADE, À DIGNIDADE OU À INTEGRIDADE FÍSICA OU PSÍQUICA DE
UMA PESSOA, PÔR EM PERIGO SEU EMPREGO OU DEGRADAR O AMBIENTE DE
TRABALHO.
(HIRIGOYEN, 2003, p. 65)
Alguns fenômenos devem ser comprovados para demonstrar a prática do assédio moral, como:
 
Fonte: pressfoto / Freepik
A pressão psicológica habitual exercida pelo empregador a fim de forçar o empregado a abandonar o emprego.
 
Fonte: yanalya / Freepik
Condutas e atos frequentes de humilhação.
 
Fonte: freepik / Freepik
O psicoterror como prática voltada ao isolamento da vítima no ambiente de trabalho.
 
Fonte: ijeab / Freepik
O rigor excessivo nas cobranças e metas do empregado assediado.
 
Fonte: katemangostar / Freepik
A intimidação frequente do assediado, com chantagens e humilhações.
Também é caracterizada como conduta do assediador a desqualificação e o descrédito da vítima, pondo sua competência ou mesmo sua sanidade em
dúvida, objetivando que ela perca a autoconfiança.
O assédio moral poderá ocorrer verticalmente, pois se trata de processo constituído de práticas que se estendem ao longo do tempo, muitas vezes
veladas, que vão minando e sugando as energias do assediado, causando-lhe o adoecimento físico e mental. O assédio moral vertical pode ser tanto
descendente quanto ascendente:
ASSÉDIO VERTICAL DESCENDENTE
O superior hierárquico agride o subordinado, podendo o primeiro ser tanto o empregador quanto seu preposto.
ASSÉDIO VERTICAL ASCENDENTE
O subordinado é quem agride o superior hierárquico. Também ocorre assédio vertical ascendente nos casos em que os subordinados agridem um
superior. Exemplo desse tipo de assédio é quando ocorre “a contratação de um novo empregado para exercer cargo de chefia, cujo estilo e métodos
sejam reprovados pelo grupo” (RAMOS; GALIA, 2019, p. 53).
O assediador quase sempre age com o intuito de impor ao assediado o terror da possibilidade de perda do emprego. A responsabilidade civil do
empregador em razão do assédio moral vivenciado e suportado pelo empregado é objetiva, exigindo-se a comprovação da conduta ilícita, o dano e o nexo
de causalidade. A conduta ilícita poderá ser:
Comissiva
Quando o próprio empregador legitima por meio de ações a prática de assédio moral.
Omissiva
O empregador se omite e fica inerte diante da postura de um empregado que atua como assediador.
O dano deve ser comprovado mediante a demonstração dos reflexos e das consequências suportadas pela vítima do assédio moral, tais como:
adoecimento físico e mental; instabilidade emocional; perda do emprego; irritabilidade; depressão; tentativa de autoextermínio.
 ATENÇÃO
É muito importante que a vítima de assédio moral comprove o nexo de causalidade existente entre a conduta ilícita e o dano alegado, além de demonstrar
a prática de comportamento e atos atentatórios aos direitos da personalidade, bem como a reiteração e a atuação sistematizada da conduta do
assediador.
Não é juridicamente possível reconhecer o direito à pretensão indenizatória por assédio moral mediante a prática isolada e não reiterada de atos
assediadores, ou seja, é imprescindível que o assediado demonstre a reiteração na cadeia de atos para configurar o reconhecimentodo assédio moral.
Algumas situações que, se comprovadas como atividades reiteradas, configurarão o reconhecimento da prática de assédio moral, como:
IGNORAR A EXISTÊNCIA DO OFENDIDO; DETERMINAR A EXECUÇÃO DE TAREFAS QUE
ESTÃO EM DESACORDO COM A FUNÇÃO EXERCIDA, COMO, POR EXEMPLO, SERVIR
CAFEZINHO OU LIMPAR BANHEIRO; E RIGOR EXCESSIVO POR PARTE DOS
SUPERIORES.
(RAMOS; GALIA, 2019, p. 53)
O direito à reparação civil decorrente da prática do assédio moral somente será juridicamente viável se o assediado comprovar que se sujeita a reiteradas
condutas assediadoras que se estendem no tempo, que atentam contra sua dignidade, integridade física, moral e psicológica, robustecendo a
desigualdade estrutural existente entre empregado e empregador. No contexto das relações de emprego, Ramos e Galla (2019) nos ajudam a entender
quando o dano moral poderá ocorrer:
O DANO MORAL PODERÁ OCORRER QUANDO O EMPREGADOR E/OU EMPREGADO
PRATICAR ATO LESIVO DA HONRA OU DE BOA FAMA, OU OFENSAS FÍSICAS,
PRATICADOS NO SERVIÇO CONTRA QUALQUER PESSOA, QUER SEJA DO
EMPREGADO CONTRA O EMPREGADOR E/OU SUPERIOR HIERÁRQUICO, QUER SEJA
DO EMPREGADOR E/OU SUPERIOR HIERÁRQUICO CONTRA O EMPREGADO, SALVO EM
LEGÍTIMA DEFESA PRÓPRIA OU DE OUTREM.
(RAMOS; GALIA, 2019, p. 118)
O assédio moral será demonstrado mediante uma conduta ilícita especificamente dirigida contra algum direito fundamental ou direito da personalidade do
empregado, pois esse ato atenta contra a honra, a dignidade, a liberdade e a integridade (física, moral, psicológica) do empregado, já que o psicoterror
emocional é constantemente vivenciado no ambiente de trabalho.
ASSÉDIO SEXUAL
O assédio sexual é um fenômeno construído a partir de estruturas sociais que naturalizam a desigualdade de gênero e colocam a mulher em posição de
subserviência em razão do patriarcalismo. As estruturas de poder que permeiam as relações entre homens e mulheres foram historicamente
sedimentadas em premissas nas quais o sexo feminino sempre foi colocado numa posição de disponibilidade para servir o homem. A sociedade patriarcal
entende como normal essa posição em que a mulher se encontra.
 
Fonte: Leon israel / Wikipedia
O Código Civil brasileiro de 1916 (Lei n. 3.071, de 1° de janeiro de 1916) considerava a mulher casada como sujeito relativamente incapaz em seu art. 6°.
Tal previsão legal legitimava a desigualdade jurídica instituída entre homem e mulher no casamento, tendo em vista a institucionalização da família
patriarcal, em que o homem era considerado o chefe da família.
O art. 36, § único da mesma Lei n. 3.071, estabelecia o domicílio do marido como o domicílio da mulher casada, robustecendo ainda mais o tratamento
desigual conferido à mulher no casamento. Verifica-se novamente a existência de normas jurídicas que vigoraram no direito brasileiro legitimando o
desigual tratamento conferido aos cônjuges, colocando a mulher casada em posição de absoluta desigualdade perante o marido.
FOI NECESSÁRIA A APROVAÇÃO DO ESTATUTO DA MULHER CASADA (LEI N. 4.121, DE
27 DE AGOSTO DE 1962) PARA RECONHECER QUE A MULHER CASADA DEIXAVA A
CONDIÇÃO DE RELATIVAMENTE INCAPAZ EXPRESSAMENTE PREVISTA ATÉ ENTÃO NO
DIREITO BRASILEIRO.
Com o advento do texto da Constituição brasileira de 1988, seu art. 5°, caput, foi categórico ao estabelecer que todos são iguais perante a lei, garantindo-
se a homens e mulheres o exercício de todos direitos fundamentais previstos no plano constitucional e infraconstitucional. Mesmo diante de todas essas
alterações legislativas, sabe-se que a ciência do direito não é capaz de modificar estruturas sociais que desigualam homens e mulheres. No Brasil,
mulheres continuam sendo subjugadas pela sociedade e família, continuam assumindo com exclusividade os serviços domésticos e cuidados para com os
filhos, além de serem minoria em cargos de liderança nas organizações.
 SAIBA MAIS
Pesquisa liderada pelo Instituto Ethos, referente ao ano de 2015 e publicada em 2016, mostra que apenas 13,6% das mulheres ocupavam cargos
executivos nas 500 maiores empresas do Brasil. Esse dado é alarmante quando consideramos que as mulheres representavam 43,6% da população
economicamente ativa (conforme dados de 2013 do IBGE).
Conforme dados do artigo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, publicado pelo IBGE em 2018, fica evidente a
desigualdade de gênero no Brasil. Sobre as mulheres, eis as constatações:
 
Fonte: macrovector_official / Freepik
Proporcionalmente constituem minoria de trabalhadores que laboram por conta própria.
 
Fonte: macrovector / Freepik
São minoria na ocupação de cargos na condição de empregadoras.
 
Fonte: macrovector_official / Freepik
São maioria na taxa de desocupação.
 
Fonte: iconicbestiary / Freepik
São maioria na ocupação de postos de trabalho em tempo parcial.
 
Fonte: rawpixel.com / Freepik
São maioria na taxa de alfabetização, matrículas no ensino fundamental, médio e superior no brasil; mulheres são minoria entre professores do ensino
superior.
 
Fonte: ibrandify / Freepik
São minoria na ocupação de cargos ministeriais no governo, nas cadeiras ocupadas no parlamento nacional.
 
Fonte: macrovector_official / Freepik
São minorias nos cargos gerenciais.
 
Fonte: macrovector_official / Freepik
São minoria nas carreiras de policiais militares. (IBGE, 2018)
Os dados apresentados evidenciam claramente a desigualdade estrutural suportada pelas mulheres no Brasil. Por isso, as leis podem ser vistas como
instrumento de reivindicação e luta das mulheres na busca pela igualdade e na denúncia a formas de opressão.
O assédio sexual não é um fenômeno social novo no âmbito organizacional, uma vez que evidencia a materialização das estruturas de dominação
masculina. Trata-se de condutas, atos, gestos, falas e comportamentos de homens que objetivam obter favores sexuais, práticas abusivas e
estabelecimento de condições para que mulheres consigam exercer suas atividades laborativas.
 ATENÇÃO
É dever das organizações estabelecer o planejamento e a execução de medidas para prevenir e reprimir a prática do assédio sexual, ressaltando-se que
tais medidas são essenciais para tornar viável o meio ambiente de trabalho digno e igualitário na perspectiva de gênero.
No momento em que as organizações se omitem ou incentivam tais práticas, elas assumem a responsabilidade jurídica quanto aos seus atos,
especialmente a obrigação de indenizar e reparar civilmente todos os danos suportados pela vítima. Um dos maiores desafios é a comprovação de tais
condutas, que muitas vezes são praticadas de forma velada, não explícita, fato esse que robustece e fortalece a violência de gênero contra as mulheres
no âmbito organizacional. O assédio sexual é uma dessas formas de violência e pode ser conceituado como:
TODA CONDUTA SEXUAL DE NATUREZA NÃO DESEJADA, REITERADA, EMBORA
REPELIDA PELO DESTINATÁRIO, COM CERCEAMENTO DA LIBERDADE SEXUAL,
CONSTITUINDO UMA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DE LIVRE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO
CORPO, ESTABELECENDO UMA SITUAÇÃO DE PROFUNDO CONSTRANGIMENTO.
(FERNANDES, 2017, p. 93)
Uma marca do assédio sexual é o fato de ocorrer no contexto de relações que não podem ser caracterizadas como relações entre iguais, em que se pode
simplesmente oferecer resistência ou uma negativa ao assediador sem que haja maiores consequências. Por isso, é possível afirmar que o assédio
sexual é entre desiguais não em função da diferença de gênero, mas em função de o assediador ter poder ou condições de prejudicar o assediado. A
materialização do assédio sexual acontece por meio de um comportamento comissivo do assediador, por isso não faz sentido a ideia de assédio por
omissão.
Um ponto decisivo no entendimento do assédio sexual é a não aceitação à proposta de índole sexual que é feita, pois se alguém não se mostra inclinado
a aceitar a proposta e ainda assim continua sendo abordado, se caracteriza o assédio sexual. A figura do assédio sexual surge nesse contexto porque há:
UMA AGRESSÃO À ESFERA DE LIBERDADEDO ASSEDIADO QUE, NATURALMENTE,
NÃO É OBRIGADO A COPULAR COM QUEM NÃO DESEJA.
(FERREIRA SOBRINHO, 1996, p. 62)
O assédio sexual é uma prática que, além de ser muito frequente no contexto organizacional, é responsável por reforçar a desigualdade de gênero. O
assédio sexual se manifesta em:
TODOS OS NÍVEIS DE EMPREGO, SEM DISTINÇÃO DE CENÁRIOS ECONÔMICOS, MAS É
AGRAVADO NOS MAIS MODESTOS E PODE SER PIOR NOS CHAMADOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO, ONDE OS (AS) TRABALHADORES (AS), PREMIDOS PELAS
NECESSIDADES ECONÔMICAS E ATORMENTADOS PELO TEMOR DO DESEMPREGO E
DA PENÚRIA, DISPÕEM DE POUCOS MEIOS PARA REPELIR O ASSÉDIO.
(FERNANDES, 2017, p. 147)
É notável a maior incidência do assédio em países em desenvolvimento, bem como a maior subserviência da vítima em não reagir ou suportar os atos do
assediador como forma de manter seu emprego. É muito comum mulheres vivenciarem caladamente o terror de rotinas de intensos atos de assédio para
manter o emprego e o sustento dos filhos. Esse tipo de situação torna o ambiente de trabalho um espaço de adoecimento físico e mental das vítimas e
demais colaboradores, ressaltando-se que o silêncio da vítima fortalece a voz do assediador, que intensifica suas condutas por se sentir seguro diante do
cenário de impunidade.
NÃO SE PODE FECHAR OS OLHOS PARA A QUESTÃO DO ASSÉDIO SEXUAL NAS
RELAÇÕES DE EMPREGO, POIS SE TRATA DE PRÁTICA REITERADA DE VIOLÊNCIA DE
GÊNERO, ABUSO DE PODER, DISCRIMINAÇÃO, MARGINALIDADE, EXCLUSÃO E
DESIGUALDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO.
O assédio sexual ocorre nas mais diversas etapas da relação de emprego. Desde o período pré-contratual, nas entrevistas de seleção, por exemplo,
mulheres são surpreendidas com práticas assediadoras.
Normalmente o assédio começa com elogios aos atributos físicos, com a cognominada “cantada”, e evoluem para ações mais diretas, propostas
indecorosas, indignas, que colocam a vítima em posição de profundo desconforto. Chantagens, olhares abusivos, toques, ações, comportamentos
invasivos são algumas formas que retratam o modo e as estratégias utilizadas pelo assediador.
 
Fonte: Edith Castro Roldán, Oscar Manuel Luna Nieto / Wikipedia
No Brasil, 52% das mulheres já sofreram assédio sexual, conforme dados recentes da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Esse é um dado
significativo, que não demonstra com clareza, nitidez e objetividade o fenômeno perverso que ocorre silenciosamente nas organizações; há muitas
subnotificações, que, se incluídas nesse contexto, possivelmente aumentarão o percentual ora mencionado. É papel de todas as organizações assumir a
pauta no combate da violência de gênero no meio ambiente do trabalho. No momento em que há o silêncio quanto ao debate do tema reverberam-se e
fortalecem-se as vozes dos assediadores, que se sentem livres e impunes para continuar agindo.
O planejamento e a execução de medidas preventivas, educativas e repressivas no combate à violência de gênero constituem cláusula implícita no
contrato de trabalho, reflexo da interpretação sistemático-interpretativa dos princípios da boa-fé objetiva, isonomia contratual, dignidade humana e não
discriminação. É importante esclarecer isso para não parecer que o combate a essas práticas é uma faculdade das organizações.
A OMISSÃO OU AÇÃO DO EMPREGADOR QUANTO À PRÁTICA DA VIOLÊNCIA DE
GÊNERO E ASSÉDIO SEXUAL NO AMBIENTE DE TRABALHO CONSTITUI ATO ILÍCITO.
UMA VEZ COMPROVADAS TAIS CONDUTAS, A VÍTIMA DEVERÁ DEMONSTRAR O NEXO
CAUSAL COM O DANO SOFRIDO, JÁ QUE SÃO ESSES OS REQUISITOS LEGAIS
INDISPENSÁVEIS À CONFIGURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.
Quanto aos critérios jurídicos de quantificação, deverá a vítima equalizar e deixar claro quais foram os efeitos de tais condutas na sua vida, os
desdobramentos das práticas assediadoras no universo daquele que sofre de forma direta tais reflexos. Somente mediante a comprovação de todos
esses requisitos e elementos será possível a reparação civil da vítima.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA AFIRMAÇÃO CORRETA SOBRE O ASSÉDIO MORAL NO
CONTEXTO DA RESPONSABILIDADE CIVIL TRABALHISTA:
A) A configuração de assédio moral não exige a prática de condutas reiteradas, bastando o empregado comprovar humilhações isoladas praticadas pelo
empregador assediador.
B) O empregado subordinado ao seu líder não tem possibilidade de praticar o assédio moral, tendo em vista que um dos elementos essenciais para essa
prática é demonstrar as condutas praticadas por alguém que se encontra hierarquicamente em posição de superioridade no âmbito organizacional.
C) É admissível a prática do assédio moral vertical ascendente e descendente, exigindo-se a comprovação de condutas reiteradas, pois o assediador
poderá agir de forma individual ou coletiva.
D) O assédio moral, por mais que seja uma conduta que coloca o assediado em posição de desigualdade, não atenta contra os direitos fundamentais,
direitos da personalidade e dignidade humana.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE IDENTIFICA CORRETAMENTE A RESPONSABILIDADE CIVIL TRABALHISTA EM
RELAÇÃO AO ASSÉDIO SEXUAL:
A) A responsabilidade civil do empregador exige que a vítima comprove efetivamente o dolo (intenção) do agente na prática do assédio sexual.
B) Somente será possível a reparação civil decorrente do assédio sexual se houver cláusula contratual expressa prevendo a obrigação de o empregador
prevenir e reprimir tal conduta no âmbito organizacional.
C) A reparação civil tem natureza jurídica compensatória e pedagógica e incidirá diretamente sobre o agente.
D) A empresa tem obrigação de reparar civilmente o dano praticado pelo seu empregado em razão do assédio sexual.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta sobre o assédio moral no contexto da responsabilidade civil trabalhista:
A alternativa "C " está correta.
 
O assédio moral é fenômeno social muito comum nas relações de emprego na sociedade contemporânea; coloca o empregado assediado em posição de
absoluta desigualdade perante o empregador, além de ser, muitas vezes, uma das causas do adoecimento físico e mental daquele que se sujeita a essas
práticas. O assédio moral é uma conduta ilícita reiterada objetivando ofender a dignidade humana da vítima, colocando-a em posição de absoluta
desigualdade estrutural. Admite-se o assédio moral na linha vertical ascendente (quando um subordinado assedia seu líder) ou na linha vertical
descendente (quando um líder assedia seu subordinado).
2. Assinale a alternativa que identifica corretamente a responsabilidade civil trabalhista em relação ao assédio sexual:
A alternativa "D " está correta.
 
O assédio sexual é uma prática estruturalmente legitimada pela sociedade e organizações, fenômeno esse responsável pela naturalização da
desigualdade da mulher. O empregador assume a responsabilidade civil de reparar eventuais danos sofridos pela vítima. Caracteriza-se por atos,
condutas, olhares, comportamentos, gestos e insinuações que atentam contra a dignidade humana da pessoa assediada, colocando-a em posição de
absoluta vulnerabilidade social e estrutural. Por isso, uma vez comprovada a prática de assédio sexual no ambiente laboral, mediante a conduta ilícita do
assediador, o dano e o nexo de causalidade, restará possível a responsabilidade civil do empregador.
MÓDULO 3
 Identificar a responsabilidade civil do empregador decorrente de acidente de trabalho e adoecimento do trabalhador
O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
O meio ambiente do trabalho é um direito fundamental assegurado indistintamente a todos os trabalhadores e dever constitucional do empregador, que
assume o compromisso de proporcionar a todos os colaboradores um ambiente de trabalho digno e que privilegie a saúde mental e física.
 
Fonte: snapwiresnaps / Pixabay
A terminologia meio ambiente tem sofrido profundas alterações legislativas nas últimas décadas, ressaltando-se inicialmente que o art. 3º, inciso I, da Lei
n. 6.938/81 define meio ambiente como sendo o conjunto de condições, leis, influênciase interações de ordem física, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas. O texto da Constituição brasileira de 1988 trouxe um conceito aberto e juridicamente indeterminado sobre o que é o meio ambiente
do trabalho. Por isso, Fiorillo (2003) o define como sendo:
O LOCAL ONDE AS PESSOAS DESEMPENHAM SUAS ATIVIDADES LABORATIVAS
(REMUNERADAS OU NÃO), “CUJO EQUILÍBRIO ESTÁ BASEADO NA SALUBRIDADE DO
MEIO AMBIENTE E NA AUSÊNCIA DE AGENTES QUE COMPROMETAM A INCOLUMIDADE
FÍSICO-PSÍQUICA DOS TRABALHADORES, INDEPENDENTEMENTE DA CONDIÇÃO QUE
OSTENTEM”.
(FIORILLO 2003, p. 22-23)
Para Amauri Mascaro do Nascimento (2003), o meio ambiente de trabalho pode ser compreendido como o complexo máquina-trabalho, caracterizado
pelas edificações, estabelecimento, equipamentos de proteção individual, conforto térmico, iluminação, condições de salubridade, contenção da
periculosidade, prevenção da fadiga e outras medidas de proteção do trabalhador.
 
Fonte: freestockcenter / Freepik
Constitui dever legal das organizações oferecer aos seus trabalhadores um ambiente de trabalho saudável, não adoecedor, que privilegie a proteção
integral da dignidade humana mediante o tratamento igualitário e não discriminatório de seus empregados.
A implementação de políticas públicas de inclusão, igualdade de gênero e prevenção da discriminação sexual no ambiente de trabalho, além de constituir
um dever constitucional assumido pelas organizações, evidencia a necessidade de adoção de uma postura ativa das instituições no sentido de enfrentar o
debate do tema como meio de buscar uma mudança no tratamento dado às pessoas em razão de sua orientação sexual. É por isso que se torna de
significativa importância a construção de um espaço laborativo acolhedor e igualitário a todos os colaboradores, já que:
O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO SE CARACTERIZA, POIS, COMO SENDO A SOMA
DAS INFLUÊNCIAS QUE AFETAM DIRETAMENTE O SER HUMANO, DESEMPENHANDO
ASPECTO CHAVE NA PRESTAÇÃO E NA PERFORMANCE DO TRABALHO.
(ALVARENGA, 2015, p. 270)
No momento em que as organizações se omitem quanto à criação de políticas e estratégias de gestão referentes à diversidade existente no âmbito
organizacional, agem no sentido de permitir veladamente que tais atos discriminatórios ocorram institucionalmente.
SEGURANÇA DO TRABALHO
Embora na sociedade contemporânea as condições de trabalho se mostrem melhores, se comparadas com o período da Revolução Industrial, nos
séculos XVIII e XIX, o debate acadêmico do meio ambiente de trabalho saudável é relevante sob o ponto de vista fático e jurídico, além de ser uma forma
de buscar novos mecanismos de melhoria na qualidade de vida no trabalho.
A CLT estabelece normas de segurança e medicina do trabalho, cuja observância pelas empresas passa pelo dever de zelar pelo cumprimento das
respectivas normas jurídicas. Por isso, constitui dever legal das empresas transmitir e tornar públicas instruções gerais aos seus trabalhadores para que
eles adotem medidas preventivas com o objetivo de impedir a ocorrência de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.
 
Fonte: freepik / Freepik
É sabido que existem atividades profissionais em que o controle e a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais são mais visíveis, evidentes e
fácieis, como, por exemplo, as atividades de mineração. A empresa tem a obrigação de observar:
O PRINCÍPIO PRECAUTELAR, QUE REVESTE TODA A RESPONSABILIDADE DO
EMPREGADOR NO EXERCÍCIO DE SUA ATIVIDADE EMPRESARIAL, RELACIONADO AO
ATENDIMENTO DAS NORMAS E CONDUTAS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO”. NESSE SENTIDO, HAVERÁ RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA,
DIANTE DE SUA ATIVIDADE EMPRESARIAL, QUANDO OCORRER ACIDENTE DE
TRABALHO QUE LEVE À MORTE DO TRABALHADOR, EM FUNÇÃO DE QUE “O MEIO
AMBIENTE DO TRABALHO, QUE É DIREITO FUNDAMENTAL, ESTÁ EM DESARMONIA E
INDUZ A ACIDENTE.
(BARROSO, 2015, p. 32, 34)
Considerando-se que a atividade empresarial é explorada diretamente pelo empregador, conclui-se que ele é quem assumirá todo o risco da atividade
econômica, incluindo-se nesse rol a responsabilidade civil objetiva em razão de acidente de trabalho e doença ocupacional. Cabe à vítima ou a seus
herdeiros (em caso de morte do empregado) comprovar a conduta ilícita do empregador (descumprimento das normas de proteção da saúde do
trabalhador), o dano sofrido (de ordem material ou moral), bem como o nexo de causalidade. A extensão do dano sofrido é o que definirá o quanto
indenizatório a ser pago pelo empregador.
O § 1° DO ART. 19 DA LEI N. 8.213/91 É CLARO AO ESTABELECER QUE A EMPRESA É
RESPONSÁVEL PELA ADOÇÃO E USO DE MEDIDAS COLETIVAS E INDIVIDUAIS DE
PROTEÇÃO E SEGURANÇA DA SAÚDE DO TRABALHADOR.
Portanto, o empregador tem ampla responsabilidade pela salubridade do ambiente de trabalho, tanto que o próprio Tribunal Superior do Trabalho editou a
súmula 289, indicando que “o simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade.
Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo
empregado”.
DOENÇA DO TRABALHO E DOENÇA PROFISSIONAL
Doença do trabalho é aquela decorrente do ambiente ou das condições em que é realizado o trabalho, estando diretamente relacionada à atividade
exercida. Essa doença é adquirida ou desenvolvida no exercício da função ocupada pelo empregado, porém, não significa que isso aconteça devido à
atividade exercida em si, mas sim por circunstâncias alheias à atividade.
 
Fonte: katemangostar / Freepik
Por exemplo, o empregado de uma fábrica desenvolve surdez pela exposição a ruídos acima dos limites permitidos.
A doença do trabalho está prevista no art. 20, inciso II, da Lei n. 8.213/91:
CONSIDERAM-SE ACIDENTE DO TRABALHO, NOS TERMOS DO ARTIGO ANTERIOR, AS
SEGUINTES ENTIDADES MÓRBIDAS: II-DOENÇA DO TRABALHO, ASSIM ENTENDIDA,
ADQUIRIDA OU DESENCADEADA EM FUNÇÃO DE CONDIÇÕES ESPECIAIS EM QUE O
TRABALHO É REALIZADO E COM ELE SE RELACIONE DIRETAMENTE, CONSTANTE DA
RELAÇÃO MENCIONADA NO INCISO I.
Entretanto, segundo o § 1° do art. 20 da referida lei, não são consideradas como doença do trabalho as degenerativas, aquelas inerentes a grupo etário,
as que não produzam incapacidade laborativa e as doenças endêmicas – aquelas adquiridas por habitante de região em que ela se desenvolva. Já de
outro lado, temos a doença profissional ou ocupacional, aquela adquirida em razão de determinado trabalho, ou seja, em razão da atividade exercida pelo
empregado. Trata-se da exposição contínua a agentes de risco, sejam eles físicos, químicos, biológicos etc.
A doença profissional tem relação direta com a atividade exercida, sendo necessariamente desencadeada por ela. Diferentemente da doença do trabalho,
a doença profissional não comporta equipamentos de proteção individual, por exemplo, para que não se desenvolva.
Um exemplo clássico de doença profissional é a LER (lesão por esforço repetitivo), que acomete um digitador, ou ainda a catarata em um soldador
exposto a radiação não ionizante.
 
Fonte: freepik / Freepik
A doença profissional tem previsão no art. 20, inciso I, da Lei n. 8.213/91:
CONSIDERAM-SE ACIDENTE DO TRABALHO, NOS TERMOS DO ARTIGO ANTERIOR, AS
SEGUINTES ENTIDADES MÓRBIDAS: I-DOENÇA PROFISSIONAL, ASSIM ENTENDIDA A
PRODUZIDA OU DESENCADEADA PELO EXERCÍCIO DO TRABALHO PECULIAR A
DETERMINADA ATIVIDADE E CONSTANTE DA RESPECTIVA RELAÇÃO ELABORADA
PELO MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) ENTENDEU, POR OCASIÃO DO SURGIMENTO
DA PANDEMIA CAUSADA PELO NOVO CORONAVÍRUS, QUE É POSSÍVEL
CARACTERIZAR A COVID-19 COMO DOENÇA PROFISSIONAL, SEM QUE OS
TRABALHADORES TENHAM QUE COMPROVAR QUE A DOENÇA TEM LIGAÇÃO COM O
TRABALHO EM CASO DE ATIVIDADES DE RISCO, COMO FOI ENTENDIDO EM RELAÇÃO
AOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE NO COMBATE A ESSA DOENÇA. A
RESPONSABILIDADE OBJETIVA É DO EMPREGADOR.
Há algumas diferenças entre doença profissional e doença do trabalho.

Continue navegando