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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 clínica cirúrgica - incisões, suturas, retalhos, z-plastias e enxertos INCISÕES - Incisões em determinadas áreas tendem a ser particularmente desfavoráveis. As mais clássicas dessas áreas são: os ombros, o dorso e a região pré-esternal. Cicatrizes localizadas em pálpebras, regiões palmar e plantar, vermelhão dos lábios e mucosas tendem a ser mais finas e menos evidentes. - A escolha do tamanho e da direção de uma incisão eletiva deve ser feita em relação às linhas de tensão mínima da pele. - As linhas de tensão mínima são resultado de adaptação à função, ou seja, da contração e distensão da pele sobre a musculatura e articulações subjacentes. Experiências práticas têm mostrado que feridas cicatrizam melhor quando são realizadas dentro das linhas de flexão natural ou linhas de expressão facial ou paralelas a essas linhas. - As feridas que cruzam as linhas de tensão mínima de modo oblíquo ou perpendicular estão sujeitas à ação da musculatura subjacente e ao desenvolvimento de cicatrizes hipertróficas. - Tipos de pele: Peles oleosas, com hiperatividade das glândulas sebáceas, são desfavoráveis à formação das cicatrizes, sendo usualmente encontradas sobre a ponta do nariz, região frontal da face e bochechas. - Idade: No início da infância (1 a 3 meses), as cicatrizes são frequentemente finas. Em contraste, no restante da infância, a pele da criança adquire o máximo da elasticidade, resultando em cicatrizes eritematosas e hipertróficas por períodos mais prolongados, com resultados menos satisfatórios que nos adultos. Com o processo de envelhecimento, há atrofia do tecido subcutâneo, e a pele torna-se menos elástica e mais relaxada, propiciando cicatrizes mais frágeis e mais estéticas. - Para a incisão da pele, utiliza-se lâmina de bisturi número 11 ou 15, preferencialmente, e a lâmina deve incisar perpendicularmente o tecido até o plano subcutâneo, de modo seguro e firme. O descolamento das bordas pode favorecer um bom fechamento sem tensão. Após hemostasia com eletrocautério, promove-se o fechamento da ferida por camadas, evitando-se deixar espaço morto e realizando correta aproximação das bordas. SUTURAS - Uma precisa aproximação das bordas das feridas sem tensão é o princípio básico para a cicatrização de uma ferida com mínima cicatriz. O fechamento deve ser feito por planos, com aproximação de todos os tecidos profundos, mantendo-se a mesma altura das bordas, nos casos de tecidos de espessuras diferentes. - As formas de suturas são variadas, podendo-se empregar determinado tipo de acordo com a indicação. Sutura Simples com Eversão das Bordas - É o tipo de sutura mais frequentemente empregado em cirurgia plástica. A agulha penetra a epiderme, perto da linha de incisão, em direção inferior na derme, abrangendo maior quantidade de tecido na parte profunda e retornando no lado oposto da ferida, da mesma maneira, aproximando e evertendo as bordas. Ponto em U Vertical (Donati) - É indicado na situação em que o ponto simples não consegue boa aproximação. Esse ponto proporciona diminuição do espaço morto subcutâneo com eversão controlada das bordas da ferida. Contudo, pode gerar marcas indesejáveis no local dos pontos, tornando-se indicada sua retirada precoce. Ponto em U Horizontal - Promove boa aproximação da pele com maior grau de eversão. Tal ponto pode ser bastante útil para o fechamento de feridas que estão sob tensão. É considerado o ponto causador de maior isquemia na pele. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Sutura Contínua (Chuleio) - É rápida e hemostasiante, distribui a tensão por toda a extensão da sutura, sendo muito útil na sutura do couro cabeludo. Sutura Contínua Intradérmica - É um método de sutura prático e comum. Sua principal vantagem é evitar marcas na pele. A agulha passa horizontalmente através da derme, englobando peque-nos segmentos, alternadamente, de cada lado da ferida. Deve-se respeitar a mesma altura nas duas bordas durante sua execução, com a finalidade de evitar degraus nas bordas. - Quando longas feridas são fechadas por esse método, recomenda- se exteriorizar o fio pela pele, em cada 5 cm a 8 cm, para facilitar sua retirada. - A sutura é iniciada com a introdução da agulha na epiderme, e penetra-se na ferida através da derme. Com o auxílio de uma pinça, a borda da ferida é evertida e a agulha pode progredir na derme. A sutura é finalizada com a exteriorização da agulha na pele (durante sua execução, devem ser realizadas alças externas para facilitar a remoção do fio). Fitas Adesivas - Podem ser bastante úteis em determinados casos, sendo necessária a aproximação do subcutâneo ou subderme com pontos invertidos. Colas Teciduais - As colas teciduais mais utilizadas são as derivadas de cianoacrilato. Tem como principais vantagens a facilidade de execução, a rapidez e o fato de serem biodegradáveis. São indicadas para fechamento de feridas sem tensão, apresentando resultados similares aos de uma síntese com fios. RETALHOS - Retalhos cutâneos consistem em pele e tecido subcutâneo que são movidos de uma parte a outra do corpo, mantendo-se, nesse procedimento, um pedículo vascular para sua nutrição. - No planejamento de uma reconstrução, deve-se pautar pelo princípio do mais simples para o mais complexo, levando-se em conta a possibilidade de complicações e sequelas nas áreas doadoras dos enxertos e retalhos. Assim, o fechamento primário torna-se o método mais simples de reconstrução, seguido pelo enxerto cutâneo, retalho cutâneo local e retalho a distância, sucessivamente. - Os retalhos cutâneos podem ser divididos em locais ou a distância, de acordo com a proximidade da área doadora e do leito receptor. RETALHOS LOCAIS - Os retalhos locais ou adjacentes podem ser divididos em retalhos de avanço, rotação ou interpolação. - Retalhos de avanço: movem-se em direção reta ao defeito, sem nenhum movimento lateral. Sua execução é facilitada se há relativo excesso de pele, como nos idosos, ou se há boa elasticidade, como nas pessoas jovens. Os exemplos mais comuns são os monopediculados, com retirada de triângulo compensador na base do pedículo, e os retalhos em V-Y. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Retalhos de transposição ou rotação são aqueles que têm um ponto na base do retalho onde o arco de rotação gera maior tensão. Os retalhos de transposição usualmente são quadrangulares ou re-tangulares e localizados imediatamente adjacentes ao defeito. Eles devem ter tamanho suficiente para cobrir o defeito, e a área doadora pode ser fechada por simples aproximação, enxer-to ou outro retalho (retalho bilobulado). Os retalhos de rotação são retalhos semicirculares que rodam sobre um ponto pivô para cobrir o defeito. Para que se possa promover um fechamento primário, é necessário que o retalho seja bastante largo, com circunferência de 5 a 6 vezes maior que o tamanho do defeito a ser reparado. - Retalhos de interpolação são obtidos de áreas próximas, mas não imediatamente adjacentes à área re-ceptora, podendo ter seu pedículo transferido abaixo ou acima do segmento de pele interveniente entre as áreas doadora e receptora. Os pedículos podem ser cutâneos, subcutâneos ou em ilha. RETALHOS À DISTÂNCIA - Os retalhos a distância podem ser divididos em: diretos, tubos ou livres. Retalhos diretos permitem aproximação direta dos sítios doador e receptor, como no retalho inguinal, utilizado para defeitos do membro superior. Retalhos em tubos são utilizados quando os dois sítios não podem ser aproximados diretamente. Retalhos livres ou microvasculares possibilitam grande transferência de tecido, mas requerem grande experiência técnica com microanastomoses.Quanto ao Suprimento Sanguíneo - Randomizados: sem pedículo definido, recebem fluxo sanguíneo de artérias miocutâneas, que se distribuem em ramos do plexo subdérmico e do dérmico (p. ex., retalhos em avanço, rotação ou V-Y). - Axiais: com pedículo definido, recebem fluxo sanguíneo de artérias septocutâneas e cutâneas diretas, que enviam ramos para formar os plexos subdérmico e dérmico. O comprimento do retalho depende do tamanho e trajeto da artéria nutridora. Esses retalhos podem ser de dois tipos: a. Peninsulares – há continuidade de pele entre a base e a ponta do retalho; b. Em ilha – a base do pedículo está desepitelizada, man-tendo a ilha de pele na ponta do retalho. Quanto à Composição - Simples: apresentam uma única estrutura anatômica, podendo ser cutâneos (os mais frequentes na prática ambulatorial), de mucosa, fáscia, musculares ou tendinosos. - Compostos: quando têm duas ou mais estruturas anatômicas (fasciocutâneos, miocutâneos, condrocutâneos, osteocutâneos ou osteomusculares). ZETAPLASTIAS - A zetaplastia é uma das técnicas mais empregadas em cirurgia plástica, caracterizando-se pela transposição de dois retalhos triangulares de pele. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - A zetaplastia apresenta três propostas básicas: alongamento de contratura cicatricial linear, dispersamento de cicatriz pelo quebramento da linha cicatricial e realinhamento da cicatriz dentro das linhas de tensão mínima, proporcionando liberação da contratura cicatricial e prevenindo sua recorrência - Na zetaplastia clássica, dois triângulos de pele e tecido subcutâneo de igual tamanho e profundidade são delimitados por três incisões de igual comprimento e com ângulos de 60o. Assim procedendo, a linha de contratura é então quebrada e alongada. Quanto maior a linha central do Z, maior seu alongamento. - Teoricamente, se aumentarmos os ângulos de uma zetaplastia, conseguiremos maior alongamento da cicatriz, mas, na prática, vários fatores não corroboram essa teoria, pois a elasticidade da cicatriz varia em diferentes locais do corpo, e até mesmo em cada lado da cicatriz, como aquelas decorrentes de queimaduras. - Quando a cicatriz é muito longa, múltiplas zetaplastias podem ser empregadas, sendo preferíveis a uma única e extensa zetaplastia, principalmente na face. - A W-plastia é um recurso adicional utilizado para quebrar a direção de uma cicatriz. O método consiste na excisão da cicatriz em múltiplos pequenos triângulos, que são suturados interdigitados. Tal método não promove alongamento da cicatriz, sendo a zetaplastia múltipla a mais indicada para essa proposta. ENXERTOS - Enxertos de pele consistem em segmentos de epiderme e derme que são completamente separados de seu suprimento sanguíneo e de seu sítio doador, antes de serem transplantados ao seu leito receptor em outra área do corpo, onde irão adquirir novo suprimento sanguíneo, que possibilitará a sobrevivência das células transplantadas. - Os enxertos de pele podem ser de espessura total ou parcial, de acordo com a espessura da derme transplantada. A quantidade de anexos cutâneos, como glândulas sudoríparas, sebáceas ou folículos pilosos depende da espessura do enxerto. - Os enxertos autólogos são aqueles em que o sítio doador e o receptor são do mesmo indivíduo; homólogos são aqueles realizados entre indivíduos diferentes mas da mesma espécie; e os heterólogos, entre indivíduos de espécies diferentes. - Uma importante decisão na realização dos enxertos de pele é a escolha do enxerto ideal para a área receptora, e isso requer compreensão da biologia dos enxertos. Com a evolução da técnica, esses enxertos finos foram, então, sendo substituídos por enxertos mais espessos que incluíam variadas porções da derme, mas que exigiam melhores condições do leito receptor, ou seja, um leito regular que permitisse um bom contato com toda a superfície do enxerto, bem vascularizado e livre de infecção. Área Doadora - A escolha da área doadora depende da extensão da lesão, sendo necessários enxertos de pele parciais quando as áreas são muito grandes. Quanto maior a proximidade entre as áreas doadora e receptora, melhor a qualidade estética, pois haverá maior semelhança de coloração, textura e espessura da pele. - Nos enxertos de pele parciais, a área doadora regenera-se a partir da imigração epitelial dos anexos cutâneos remanescentes, e somente a epiderme se regenera. Esse tipo de enxerto pode ser retirado de qualquer parte do corpo, inclusive do couro cabeludo e extremidades, mas as áreas cobertas por roupas são preferíveis. - Nos enxertos de pele totais, normalmente se realiza o fechamento primário, o que limita sua utilização. As principais áreas doadoras são as regiões retroauricular, supraclavicular, palpebral, inguinal, abdominal, dobras articulares (punho e cotovelo), aréolas e pequenos lábios. Área Receptora - A área receptora deve ser limpa, sem infecção e com boa vascularização. - Nos casos em que consiste tecido de granulação, ela deverá estar nivelada. Nos leitos com pouca vascularização, os enxertos finos apresentam maior chance de integração. - Na face e mãos, em que o resultado funcional e estético é mais importante, dá-se preferência a enxertos de pele total, assim como em áreas com bom leito receptor. 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Curativos repetidos são muitas vezes necessários até se obter boa condição receptora do leito. - Há situações em que a enxertia se torna inviável, como em cartilagens sem pericôndrio, osso cortical sem periósteo e tendão sem paratendão. Mecanismos de Integração do Enxerto - A integração do enxerto pode ser dividida em três fases: 1. Embebição – nas primeiras 48 h, o enxerto nutre-se por embebição, absorvendo fluido do leito receptor. 2. Inosculação – após 48 h, estabelecem-se conexões vasculares entre o enxerto e o leito receptor, tendo início o fluxo sanguíneo. 3. Neovascularização – inicia-se a formação de novos capilares, por volta do sexto dia após a enxertia, assim como a formação de novos vasos linfáticos, atingindo velocidade de fluxo sanguíneo normal entre 7 e 10 dias. - Quanto mais fino o enxerto, mais facilmente ele será vascularizado e melhor será sua integração. Durante a fase inicial da enxertia, a imobilização do enxerto sobre o leito receptor é indispensável, até que a rede de fibrina que ancora o enxerto se torne um tecido fibroso de ligação e permita sua sustentação, o que deve ocorrer em período não inferior a 8 dias. Técnica de Retirada do Enxerto - No enxerto de pele total, demarca-se a área a ser retirada, e as bordas são incisadas com bisturi, sendo o enxerto retirado com pequena camada de subcutâneo. Apoiando-se o enxerto no dedo indicador e segurando-o com o primeiro e terceiro dedos, realiza- se a retirada da camada gordurosa, com o auxílio de tesoura curva, e a área doadora é fechada primariamente. - No enxerto de pele parcial, podem-se utilizar instrumentos tipo facas de Humby ou Blair, dermátomos de Padgett ou Browm ou, simplesmente, lâminas livres, como as utilizadas para barbear. A área doadora é então ocluída com gaze vaselinada ou outros materiais sintéticos pouco aderentes, que são trocados a partir do terceiro dia, até que a área seja novamente reepitelizada. Pós-Operatório - Inicialmente, o enxerto apresenta aspecto mais pálido e adquire coloração rosada conforme sua integração. Assim que se aplica o enxerto em seu leito receptor, é necessária sua imobilização por meio de curativos oclusivos, propiciando contato adequado entre eles. - Nos enxertos de pele totais, um curativo muito utilizado é o tie- over (realiza-se sutura ao redor do enxerto com fios de náilon 4-0 ou 5-0, e suas bordas são deixadas longas para amarrarem um bolo de gazesvaselinadas sobre o enxerto, comprimindo-o contra seu leito receptor). - Os curativos são geralmente abertos entre o quinto e sétimo dias pós-operatórios. Sua retirada deve ser cuida-dosa, para não danificar o enxerto, e sua limpeza deve ser feita com solução salina a 0,9%, assim como a drenagem de hematoma ou seroma que possam estar subjacentes, com o auxílio de uma agulha. Após, novo curativo pode ser realizado até que haja completa integração do enxerto. Complicações - A não integração do enxerto é a principal complicação, resultando em sua perda, que pode ser parcial ou total. - Suas principais causas são: leito receptor mal vascularizado, hematoma, seroma, infecção, mobilização do enxerto ou erros técnicos, como a aplicação do enxerto invertido (a superfície epidérmica em contato com o leito receptor). Complicações podem ocorrer também na área doadora, como infecção, hipercromia ou hipertrofia cicatricial.
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