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NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 1 AULA PLÁSTICA – 07/10/2020 - Enxertos e retalhos - Todas as situações que serão aqui apresentadas vão envolver o maior órgão do corpo que é a pele – 2m² Ela é formada basicamente por duas camadas: epiderme e derme A espessura dessas camadas é variável de acordo com a região do corpo (alguns locais mais espessos – como palma das mãos e planta dos pés. E outros extremamente finos como nas pálpebras) A pele também abriga os anexos cutâneos – pelos, glândulas sudoríparas, sebáceas, corpúsculos sensoriais (nervosos) PELE 1. EPIDERME A epiderme pode ser dividida em estratos ou camadas, são elas (de superficial profundo) : a) Camada córnea - b) Camada lucida c) Camada granulosa d) Camada espinhosa e) Camada basal Lembrar do processo de migração das células da camada de base (germinativa) em direção a periferia a medida que vão envelhecendo e sendo impregnadas por queratina A camada mais externa (superficial) da epiderme é o estrato córneo (células achatadas queratinizadas/ mortas) que é renovado diariamente A camada mais profunda da epiderme é formada pelo estrato germinativo, é onde encontramos a camada basal responsável pela renovação celular contínua da pele Os anexos epidérmicos (de origem ectodérmica) – invaginam em direção à derme é importante lembrar que a presença dos anexos é muito importante no processo de cicatrização do tecido lesado (reepitelização) seja este por trauma direto ou por queimadura por exemplo 2. DERME Papilar (camada mais superficial) Reticular (camada mais profunda) – rica em fibras elásticas e colágenas – capacidade de elasticidade (distensão) e contração Anexos cutâneos (invaginações da epiderme) ESCADA DA RECUNSTRUÇÃO – PRINCÍPIO DA CIRURGIA PLÁSTICA NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 2 Sempre avaliaremos a melhor conduta para cada caso, sempre que possível partindo de procedimentos mais simples e menos invasivos (os quais apresentam menor risco para o paciente bem como melhores chances de sucesso). Seguindo essa lógica temos o que chamamos de escada da “reconstrução” ENXERTO X RETALHO Enxertos Quando falamos em enxerto e retalho estamos nos referindo a transferência de pele de uma região do corpo para outra. O que difere é esta transferência estar ou não ligada a um pedículo vascular. No enxerto ocorre a retirada uma porção de pele (da área doadora) sem qualquer comunicação vascular com a área que irá recebe-la A vantagem do enxerto é permitir o fechamento de áreas que não podem ser fechadas diretamente, ou seja, a partir de suturas (lesão em que não é possível aproximar as bordas) A utilização de fragmentos de tecido no reparo de lesões é datada de 3000 a.C – A técnica propriamente dita foi estabelecida a partir do século XIX (experimentos com enxertos de pele em ovelhas). A taxa de insucesso desse procedimento era altíssima, justamente porque o enxerto não acompanha o pedículo vascular, de forma que funciona como a transferência de “aglomerados de células”. Somente com o passar dos anos percebeu-se que o sucesso da técnica estava atrelado a espessura do fragmento retirado – ou seja, enxertos mais finos possuíam maior taxa de sucesso – a partir do século XX, surgiram aparelh/os que auxiliaram maior precisão da técnica (ex. faca de Blair e dermátomo). ENXERTOS – TIPOS: 1. QUANTO A ORIGEM DO ENXERTO 1.1 AUTOENXERTO – O indivíduo é tanto o doador como o receptor 1.2 HOMOENXERTO (HALOENXERTO) – quando doador e receptor são indivíduos diferentes, mas da mesma espécie. (utilização temporária – funciona como curativo biológico) – ex: enxertos de pele obtidos a partir de cadáveres frescos 1.3 XENOENXERTO – quando o doador e o receptor são de espécies diferentes. Tem sido usado como cobertura temporária, parecendo estar associado com a estimulação do tecido de granulação, ajudando a preparar a região para um posterior autoenxerto. – serve como um curativo biológico - ex: utilização de pele de porco no manejo de pacientes queimados - OBS:. Atualmente tem-se utilizado a pele de tilápia como curativo biológico NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 3 2. QUANTO A ESPESSURA DO ENXERTO 2.1 ENXERTO DE PELE PARCIAL (enxerto de espessura parcial) – enxerto que carrega epiderme e parte da derme – pode ainda ser subdividido em: a) Fino – pequena porção de derme b) Espesso – maior porção de derme Possui extensa utilização – ex: pacientes grandes queimados; ulcerações, etc. – permite a cobertura de grandes áreas corporais. Quanto menor é a espessura mais fácil e melhor é a integração do enxerto a área lesada, isso porque ele não carrega consigo vasos sanguíneos. Dessa forma, sua nutrição irá se dar por um processo de difusão a partir da área receptora, até que sejam formados os novos vasos sanguíneos (angiogênese) 2.2 ENXERTO DE PELE TOTAL – (enxerto de espessura total) enxerto que carrega epiderme e derme em sua totalidade, pode ainda até carregar consigo parte de tecido subcutâneo O índice de sucesso desse enxerto é menor ao ser comparado ao parcial Qualidade estética e funcional de maior magnitude comparado ao enxerto de pele parcial Devido a limitação de áreas doadoras, seu uso fica restrito a lesões não muito grandes da face, mãos e dedos, mas sempre que possível, é preferível a sua utilização. Necessita de uma região receptora com uma boa irrigação e sem contaminações. É importante ressaltar que por ser um enxerto total, a região receptora se tenderá a se aproximar e adaptar suas características funcionais a região não lesada. Ou seja, é mais próximo “ao normal” – observa-se melhor retorno à sensibilidade do que os enxertos parciais. 3. TIPOS DE CONTRAÇÕES DO ENXERTO: 3.1 CONTRAÇÃO PRIMÁRIA – é a contração que ocorre logo após retirar o enxerto total da pele doadora, ela encolhe logo na hora que tira. Porém quando colocamos na região de destino, nao haverá mais encolhimento, esse processo é causado pelas fibras de elastina (presentes na derme). Essas fibras conferem a propriedade de resistencia ao enxerto. Dessa forma, em enxertos de pele total retiramos uma quantidade maior de tecido doador (maior do que a área receptora necessita), tendo em mente que o processo de contração primária ocorre logo após a retirada do fragmento de pele da área doadora. É importante ressaltar que tais enxertos não sofrem contratutura secundária, ou seja, após serem reposicionados na região de destino (área receptora). 3.2 CONTRAÇÃO SECUNDÁRIA – é a contração que ocorre só depois do enxerto parcial ser reposicionado na região receptora, uma vez que esse tipo de enxerto não possui toda a derme, ele não possui elastina, portanto, ele não encolherá após ser retirado, mas também não terá resistência para aguentar a pressão gerada pelos miofibroblastos da região receptora e acabará contraindo após ser colocado. Exemplos: defeito em pálpebra inferior em que não consigo fechar as bordas, uso pele total, pois a parcial pela contração secundaria, encolherá e puxará a pálpebra pra baixo (ectrópio); em articulação interfalangeanas preciso que a pele me permita movimento dos dedos, por isso, se usar enxerto parcial, ele encolherá após aplicado e perderei a mobilidade/funcionalidade pela retração gerada. 4. FORMATO DO ENXERTO 4.1 ESTAMPILHA/ SELO Antigamente os enxertos eram em forma de estampilha, pequenos fragmentos eram dispostos na área receptora de forma aleatória (deixando áreas crulentas e áreas cobertas) – esse tipo ainda é utilizado nos dias de hoje quando se tratam de áreas extensas de lesão e também nos enxertos de couro cabeludo por exemplo (em que são retirados diminutos fragmentos, que serão reinseridos em outras áreas). NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 4 Mas qual é o objetivo desse tipo de enxerto? É importante lembrar que a cicatrização se dá da periferia para o centro, então quando temos várias pequenas áreas integradas pelo enxerto há o aumento de possibilidade de epitelização de toda a área 4.2 ENXERTOS EM MALHA Os enxertos de pele parcial são expandidos e submetidos a pequenos cortes quando manuseados em um aparelho que funciona como uma espécie de rolo. Essa técnica permite expandir a área do tecido disponível 1,5-9x (propriedade das fibras elásticas) que ganha aspecto de malha ou rede Em resumo, com essa técnica faz-se uma malha multiperfurada com um pequeno pedaço de pele, permitindo a expansão do enxerto e cobertura da área do ferimento, dessa forma, parte da ferida é cicatrizada por segunda intenção, apresentando efeito menos estético. É bom de se usar em grandes queimados, pois tem pouca pele doadora. Por causa dos furos, facilita a drenagem e impede formação de hematomas e serosas, permitindo uma maior integração do enxerto. 4.3 ENXERTOS LAMINARES (EM TIRA) Superfície continua/ ininterrupta boa cicatrização (1ª intenção) – bom resultado estético 5. ESCOLHA DA ÁREA DOADORA DO ENXERTO Depende da extensão da lesão Áreas receptoras grandes necessitam enxerto de pele parcial fino (por exemplo quando há a retirada de um tumor e uma grande área a ser coberta) – isso porque iremos precisar de uma grande quantidade de tecido e quanto mais fino for o enxerto melhor será a adesão a área receptora (e melhor cicatrização – por 2ª intenção); Depende do local de retirada – por ex. enxertos de couro cabeludo (calvície) retiro do próprio couro cabeludo do paciente. Já quando precisamos por exemplo um enxerto de maior extensão na cobertura de uma lesão por retirada de tumor por ex. podemos utilizar um enxerto de pele parcial utilizando como áreas doadoras o abdome ou coxa por exemplo Quanto mais próximas a área doadora e receptora, melhor é o resultado estético (espessura, coloração e textura semelhante a área receptora) NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 5 Por exemplo quando fazemos uma intervenção na face, a área doadora deve ser o mais próximo possível dessa região, podemos utilizar enxertos advindos do pescoço por exemplo ou fragmentos de pele do próprio rosto 6. COMO ESCOLHER ENTRE ENXERTO DE PELE PARCIAL E TOTAL? Enxertos de pele total (derme + epiderme) garante aspecto estético muito mais próximo da pele original (não lesada) isso porque carrega epiderme, derme (juntamente com suas fibras elásticas e colágenas). Contudo, quando retiramos um enxerto total é importante observar que por causa da grande quantidade de fibras ele se contrai bem rápido depois da retirada dele da área doadora. No entanto quando colocado na área receptora ele possui uma adaptação muito boa, e uma contração muito menor. O grande problema do enxerto de pele total é a escassez de áreas que podem funcionar como doadoras - região retro-auricular, supraclavicular, pálpebras, inguinal, abdome, dobras articulares (punho cotovelo), aréolas e grandes lábios (reconstruções perineais). O enxerto de pele parcial, por não carregar consigo fibras (elásticas e colágenas próprias da derme) possui uma resistência muito menor, ou seja, tem menor capacidade de reestabelecer a característica original da pele. Há a adaptação do local, mas não há mesmo resultado estético de um enxerto total por exemplo – a função dele é garantir a oclusão da área lesada metaplasia – com o tempo o enxerto parcial passa a adquirir características do tecido local Enxertos de pele parcial podem ser retirados de vários locais do corpo – são áreas doadoras: face interna da coxa (evitar = área de atrito); face anterior e lateral da coxa; abdome; dorso; face anterolateral de braço; e couro cabeludo OBS: O enxerto de pele parcial – quando ele é um xenoenxerto funciona como um curativo biológico – de forma a proteger/ reduzir perdas da área receptora 7. PLANO DE ENXERTO I. Tipo de enxerto e escolha da área doadora Áreas receptoras pequenas: podemos escolher regiões doadoras que irão garantir enxertos totais Áreas receptoras grandes: devemos escolher áreas doadoras que podem fornecer a quantidade de tecido que necessitamos II. Preparo da área receptora (capacidade de nutrição da área receptora) Limpa debridamento se necessário (em caso de necrose retirar todo o tecido necrótico) Sem infecção Hemostasia – a região não pode estar sangrando demais, isso porque o sangue vai dificultar a aderência do enxerto a área receptora NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 6 Boa vascularização – É importante garantir que a área receptora tenha capacidade de nutrir o tecido receptor OBS: osso, tensão e cartilagem são avasculares – enxertos não são indicados – para que estas áreas possam receber o enxerto, estas áreas devem estar cobertas por periósteo, paratendão e pericôndrio respectivamente #Exemplo prático: “quando atendemos no PS um paciente que caiu de moto, chegou com perda de tecido da perna e com fratura óssea exposta NÃO devemos indicar um enxerto nesse paciente!!!” temos nesse caso que manter o meio úmido (evitar necrose), criar um meio para o que o osso não se perca (fazer pequenos furos na cortical óssea, para que haja extravasamento de medula para a área externa e assim a formação de tecido de granulação ai, só assim num segundo momento conseguiremos fazer a enxertia) III. Fixação do enxerto Fixação do enxerto (boa imobilização) – pode ser feita com fio ou com grampo sempre que possível Curativo (imobilização e absorção do excedente de extravasamento plasmático) - Curativo de Brown 5-7 dias – curativo oclusivo – geralmente utiliza-se um chumaço de gaze ou esponja costurado ao enxerto que normalmente é coberto por uma camada de vaselina IV. Avaliar a extensão do enxerto valida a mesma premissa: “áreas receptoras grandes necessitam de enxertos de pele parcial fino” V. Quanto mais próximas a área doadora e receptora, melhor o resultado estético (espessura, coloração, textura) VI. Obtenção do enxerto Bisturi – enxerto de pele total retirada do fragmento e logo após faz-se o “emagrecimento” deste, ou seja, tornar o fragmento “mais fino” para facilitar a pega Preparo ex situ de enxerto em espessura total, com esengorduramento realizado com tesoura e lâmina. O enxerto de pele total envolve um preparo mais demorado, porém tecnicamente simples, estando indicado para leitos receptores com melhores condições. Apresentam melhores resultados estéticos e funcionais devido à menor contratura secundária, sendo a escolha de diversos autores Faca de Blair – enxertos de pele parcial – lamina fica perpendicular à área doadora, são feitos movimentos de “vai e vem” A grande desvantagem da utilização desse instrumento é que não são retiradas faixas de pele uniformes (aspecto repicado) de forma que o aspecto estético final não é tão bom NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 7 Dermátomo Elétrico – acoplado a pele movimentamos o instrumento em apenas um sentido (“para frente”) – retirada de faixas mais uniformes em extensão e espessura de enxertos de pele parcial – melhor aspecto estético da cicatriz VII. Fechamento da área doadora Quando se trata de uma área doadora grande apenas colocaremos um curativo e aguardaremos a re-epitelização quando se trata de um enxerto de pele parcial que carrega apenas epiderme e parte da derme a re-epitelização é feita pela camada basal Quando é um enxerto de pele total apenas fazemos uma sutura primaria e fechamos VIII. OBS: INTEGRAÇÃO DO ENXERTO – processo no qual o enxerto se fixa a área receptora e é dividido em três fases: embebição/ inosculação e revascularização vale ressaltar que a principal causa de não integração é o surgimento de hematoma na área receptora Lembrar que um enxerto é um aglomerado de células que não possui nutrição própria Nas primeiras 24-48 h da colocação do enxerto a nutrição desse tecido vai se dar por embebição plasmática Por isso é importante que tanto em enxertos de pele parciais como em totais que estes sejam “o mais fino” possível, isso porque sua nutrição depende diretamente da difusão de plasma a partir da área receptora Até que a partir das 48 h tem início da formação dos brotos vasculares e somente no 4-6 dia ocorre a revascularização tecidual IX. Complicações que podem ocorrer nos enxertos Seroma; extravasamento de liquido e plasma e descolamento do enxerto Necrose do enxerto: por exemplo quando há sangramento importante (descolamento do enxerto) – dificulta/ impede a difusão a partir da área receptora e a formação de brotos vasculares, o tecido sem nutrição morre (necrosa) OBS: normalmente a necrose ocorre na porção mais superficial do enxerto (ou seja, nas camadas mais superficiais) preservando a área em contato com o leito receptor que tem boa adesão Infecção Epidermólise – necrose da camada córnea do enxerto Hipercromia – tanto da área que recebeu o enxerto quanto da área doadora melhora com uso de clareador NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 8 IMPORTANTE!! Lembrar que os enxertos podem funcionar como curativos biológicos – um exemplo é o xenoenxerto em que a utilização de pele animal ou mesmo de materiais sintéticos serve para cobrir áreas extensas de lesão (como é o caso de pacientes grandes queimados) – atuam reduzindo a perda hidroeletrolítica da área acometida e mantendo a umidade local reduzindo o ressecamento da ferida (manutenção de meio adequado para a formação posterior do tecido de granulação e dos brotos vasculares). Além disso funcionam como proteção das terminações nervosas expostas (redução da dor/ desconforto do paciente) e também contra microrganismos patogênicos. Contudo é bastante difícil encontrar um tecido doador que possua compatibilidade com o receptor – (até mesmo enxertos provenientes de cadáver possuem prazo de validade curto – max 10 dias) tanto local quanto sistêmica. O mais comum era a utilização de enxertos oriundos a partir de pele de porco e de cadáveres frescos. Os enxertos sintéticos também tem custo bastante elevado o que reduzia as possibilidades Recentemente pesquisadores descobriram que a pele de tilápia tem características favoráveis para servir como um bom enxerto – fácil manuseio, além de ter baixo custo, permite maior tempo de cobertura Em resumo: O segredo para um bom enxerto: deve ser fino (facilita adesão a área receptora); boa adesão ao leito receptor (não pode haver sangramento pois isso descola o enxerto); e boa fixação (para que não corra – na fase de inosculação quando há início da formação dos brotos vasculares – pois quando isso acontece o enxerto não consegue se nutrir e se perde, ou seja, necrosa) Retalhos Segmento de tecido contendo uma rede de vasos sanguíneos, que pode ser transferido da área doadora para a reconstrução da área secundária (receptora). O tecido transplantado para outra região mantem a sua vascularização própria intacta por um pedículo, ao contrário dos enxertos que são desprovidos de sua vascularização original e dependem do tecido de granulação para sobreviverem. Assim, situações em que o tecido de granulação não consegue se desenvolver, como osso sem periósteo, tendão sem paratendão, nervo sem perinervo e cartilagem sem pericôndrio são indicações clássicas para reconstruções com retalhos e não com enxertos Outra indicação para coberturas com retalhos são áreas lesionadas com processos infecciosos associados, como os casos de osteomielite por exemplo, em que os enxertos são contraindicados 1. PLANEJAMENTO DO RETALHO Sempre iremos partir de uma técnica de retalho mais simples (preferência) de menor complexidade Optar sempre por escolher áreas doadoras mais próximas das áreas receptoras Garantia de boa vascularização e mobilidade Enxertos compostos PELE + CARTILAGEM (pericôndrio) – reconstrução de asa do nariz (amputação por tumor, mordedura,... ENXERTO DE GORDURA: preenchimento ou recuperação da qualidade de alguns tecidos – associada a presença de células tronco, com capacidade regenerativa - NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 9 Observar a relação largura x comprimento (2-3:1) – a partir disso já é indicada uma autonomização??? (preparação da parte distal do retalho para um possível sofrimento) Não pode estar tenso 2. CLASSIFICAÇÃO DO RETALHO 2.1 Quanto ao destino: Retalho local – compartilha 1 dos lados do defeito Retalho regional – área doadora próxima da área receptora Retalho a distância – pode estar pediculado com um feixe vasculonervoso ou ser livre (isola-se a artéria e veia e anastomosam-se aos vasos da área receptora) 2.2 Quanto a forma do retalho: a) RETALHO EM Z-PLASTIA (TRANSPOSIÇÃO TRIANGULAR DUPLA) Essa técnica é utilizada para redirecionar as linhas de força de cicatrizes previas para linhas sem tensão. Desse modo, pode-se aumentar o comprimento da cicatriz, afim de relaxar áreas de tensão causadas pela contratura cicatricial Frequentemente utilizado em queimaduras (pacientes grandes queimados) e em cicatrização de regiões como axila, fossa cubital, fossa poplítea e pescoço Para executá-la, é necessário criar um losango fino para retirada da cicatriz retraída, correspondendo à porção que precisa ser alongada. Cria-se uma linha perpendicular imaginária no médio da linha de maior tensão. Fazem-se, então, duas incisões diagonais, paralelas entre si, nos lados opostos, com o objetivo de criar uma letra “Z” até a linha imaginária central, permitindo lados de igual comprimento. Descola-se a pele das áreas triangulares e transpõem-se os dois triângulos. O ponto de maior tensão encontra-se no vértice dos triângulos a cada lado. O ângulo entre as incisões é normalmente de 60°, gerando um ganho de 75% no comprimento da cicatriz. Teoricamente, quanto maior o ângulo, maior o ganho no comprimento Figura 3 - Aspecto transoperatório. Marcação das Zetaplastias. Figura 4 - Pós-operatório imediato. Figura 5 - Pós-operatório de 7 dias. Figura 6 - Pós-operatório de 30 dias. O paciente evolui com boa recuperação pós-operatória e cicatrização satisfatória dos retalhos, apresentando expressiva melhora da retração do lábio inferior (pela diminuição da tração inferior causada pela retração mento-torácica), melhora da extensão cervical e abdução dos membros superiores, comprovada pelo controle pós-operatório com 30 dias e com 6 meses (Revista Brasileira de cirurgia plástica – relato de caso – volume 25 - ano 2010) NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 10 b) RETALHO DE LIMBERG (TRANSPOSIÇÃO QUADRANGULAR/ RETALHO ROMBÓIDE) Retalho cutâneo romboide de transposição utilizado para reparo de defeitos em diferentes regiões anatômicas do corpo, mas apresenta bons resultados, especialmente na face. Para executá-lo, deve-se fazer o desenho de losango (paralelogramo equilátero), possuindo ângulos internos de 60° e 120° sobre a lesão que será retirada. Traça-se uma linha horizontal imaginária desde o ponto médio do losango; projeta-se sobre esta linha uma das linhas oblíquas (X e X’). Após, projeta-se o outro lado da linha oblíqua (Y) paralelamente à linha X, desde a linha X’. Assim, se formará uma imagem em espelho do mesmo. Deve-se descolar a pele e rotar o retalho romboide. O ponto de maior tensão e que deve ser colocado primeiro corresponde ao ângulo Y-X’ (Figura 5).c) RETALHO BILOBADO (TRANSPOSIÇÃO CIRCULAR) Retalho de dupla transposição e pedículo único, em que o primeiro retalho é transposto em um defeito e o segundo e menor retalho é transposto para preencher o defeito secundário, causado pela transposição do retalho maior. Desse modo, distribuem-se as forças de tensão em várias direções e se reduzem as distorções e redundâncias cutâneas, geradas por um retalho de transposição simples. Existem dois tipos de Retalhos bilobados. O clássico, descrito por Esser, consiste em dois retalhos de tamanhos idênticos, separados por ângulo de 90° e um ângulo de 180° entre o defeito e o segundo retalho. Com esta técnica, ocorre uma grande translocação dos retalhos frequentemente associada a distorções da pele. NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 11 O retalho bilobado modificado tem apresentado melhores resultados estéticos, visto que sua rotação é menor, o que causa menos distorções. Nesta técnica, os retalhos não possuem tamanhos iguais. O primeiro depende da elasticidade da pele a ser utilizada, mas, geralmente, corresponde ao tamanho do defeito ou é ligeiramente menor e é realizado de forma a obter- se um ângulo de 45° com o defeito. Já o segundo retalho é triangular, mais estreito e de maior comprimento do que o primeiro, devendo ser orientado a 90° do defeito. Após o descolamento dos retalhos, são rotados de modo que o primeiro retalho preencha o defeito primário e o segundo preencha o defeito secundário. Eventualmente, é necessário remover a ponta do triângulo do segundo retalho, permitindo haver uma correspondência uniforme do retalho triangular em relação ao defeito secundário. O ponto de maior tensão corresponde às bases do retalho triangular (Figura 6). Como podemos observar nas figuras a seguir o retalho bilobado é bastante versátil, podendo ser utilizado em várias situações Complicação. Em A, carcinoma basocelular ulcerado em antebraço esquerdo. Em B, planejamento cirúrgico. Em C, infecção e necrose parcial do retalho. Em D, pós-operatório de 10 meses, demonstrando excelente resultado funcional e estético, após debridamento e cicatrização por segunda intenção. Figura 1 - Marcação de Meadows et al.16. Em A, carcinoma basocelular em dorso e desenho. Em B, tumor ressecado e retalho pronto para transferência. Em C, pós-operatório de 3 meses, evidenciando boa acomodação tecidual. NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 12 2.3 quanto ao pedículo único bipediculado com vaso em especial ou com vaso aleatório pedículo somente de subcutâneo – com pequenos vasos- cobre estruturas nobres? Áreas pouco vasculari sequelas de queimaduras de brida, após grandes ressecções complicações semelhantes ao enxerto. Podendo ocorrer necrose do retalho (total/ parcial) por lesão do pedículo vascular, torção ou mesmo hematoma que retakhos a partir de musculo, pele e musculo, fascia e musculo – retalhos estéticos- ex. abdomnoplastia, em braço (braçoplastia), lifting de coxa cobertura de áreas de queimadura
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