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MÓDULO Destoxificação Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 DESTOXIFICAÇÃO Profa. Dra. Audrey Yule Coqueiro APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Objetivo da disciplina: Discutir sobre o processo de destoxificação nos órgãos/tecidos relacionados, bem como as estratégias nutricionais que poderiam favorecer a destoxificação. Objetivos específicos: • Discutir sobre o conceito de destoxificação e como este processo ocorre. • Debater estratégias nutricionais vinculadas à destoxificação. Habilidades e competências a serem alcançadas: • Compreender o processo de destoxificação, com ênfase em como e onde ele ocorre. • Compreender estratégias nutricionais que poderiam favorecer a destoxificação. Ementa da disciplina: Discutir sobre o processo de destoxificação, incluindo o seu conceito e como/onde ele ocorre. Não obstante, é objetivo desse material discutir sobre as estratégias nutricionais associadas à destoxificação. As informações incluídas são fundamentadas em evidências científicas bem consolidadas. Bibliografia básica da disciplina: Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Nelson, D.L.; Cox, M.M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2014. Alberts, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Biologia molecular da célula. 5ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2010. Guyton, A.C.; Hall, J.E. Tratado de fisiologia médica. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2017. Mahan, L.K.; Escott-Stump, S.; Raymond, J.L. Krause Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª Ed. Elsevier. 2012. Cozzolino, SMF; Cominetti, C. Livro: Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição, nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. Ed. Manole, 1ª edição, 2013. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 AULA 01: DESTOXIFICAÇÃO INTRODUÇÃO Destoxificação, em inglês detoxification ou clearance, também referida como "detox", significa qualquer processo realizado por um organismo objetivando a eliminação ou redução da atividade de substâncias xenobióticas, tanto a nível celular quanto a nível sistêmico, abarcando o organismo todo. Para compreender de forma aprofundada o conceito de destoxificação, é imprescindível entender o que são xenobióticos. Este termo é compreendido como substâncias químicas, intrínsecas ou extrínsecas ao metabolismo normal do organismo, que são nocivas ou atingiriam concentrações tóxicas caso não fossem metabolizadas. Estas substâncias são frequentemente chamadas de toxinas e o objetivo da destoxificação é, justamente, promover a atenuação ou a eliminação destas substâncias do organismo. Como resultado, o processo de destoxificação minimiza os danos causados pelos xenobióticos. Diversos órgãos/tecidos estão associados ao processo de destoxificação, dentre eles destacam-se intestinos, fígado e rins. Considerando a importância da destoxificação para a manutenção da homeostase do organismo, o objetivo dessa aula é abordar este processo nos mais diversos sítios e contextos. Intestino Inúmeras substâncias consideradas como xenobióticas adentram o organismo por meio da alimentação. Neste cenário, o trato gastrointestinal, isto é, os órgãos/tecidos que recebem os alimentos precisam estar preparados para lidar com as mais diversas toxinas. Este é, justamente, o caso do intestino, o qual contempla um eficiente sistema de barreira, bem como um potente sistema imune intestinal. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 As células intestinais localizam-se justapostas, fixadas por meio de tight juncts, as quais são estruturas que mantêm as células intestinais unidas, de forma que substâncias indesejáveis, incluindo microrganismos patogênicos, não ultrapassem as células intestinais alcançando a circulação sanguínea. Quando há aumento da permeabilidade intestinal, a estrutura e a função das tight junctions são prejudicadas, o que pode repercutir na passagem de substâncias indesejáveis através dessa barreira intestinal. Em casos graves, a permeabilidade pode resultar em translocação bacteriana e septicemia. Logo, a função barreira do intestino é de suma importância para impedir que toxinas, xenobióticos e patógenos ingeridos com os alimentos sejam absorvidos e alcancem a corrente sanguínea, causando danos sistêmicos. Além desta função barreira, o intestino ainda é equipado com o sistema imune intestinal, contemplando uma rede de linfócitos chamada GALT (do inglês gut- associated lymphoid tissue), a qual atua de modo a impedir que toxinas ou patógenos presentes no intestino sejam absorvidos e provoquem danos ao organismo. Desse modo, o GALT é responsável por eliminar estes agressores antes que eles alcancem a circulação sanguínea. Não obstante, o intestino ainda apresenta inúmeras outras células imunes, como células dendríticas e macrófagos, que também atuam na defesa contra patógenos. As células do epitélio intestinal são sinalizadas com receptores do tipo Toll (do inglês toll-like receptors - TLRs), os quais reconhecem bactérias possivelmente patogênicas, as sinalizam e, consequentemente, estimulam mecanismos de resposta frente a este agravo, como proliferação celular, produção de imunoglobulina A, manutenção das tight junctions e síntese de substâncias com papel antimicrobiano e pró-inflamatório. Os TLRs reconhecem componentes de bactérias gram-negativas, por exemplo, o lipopolissacarídeo (LPS) presente na parede celular destes microrganismos. A partir deste reconhecimento pelos TLRs, há sinalização do patógeno e, por consequência, indução de mecanismos de defesa. A Figura 1 apresenta as tight junctions (em estado normal ou com permeabilidade intestinal), bem como os mecanismos de defesa em resposta a presença de LPS. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Retirado de Coqueiro et al. (2018). Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Além do sistema imune intestinal, os intestinos, bem como todo o trato gastrointestinal, compreendem uma vasta microbiota, a qual, dentre outras inúmeras funções, também está associada ao processo de destoxificação de xenobióticos. O termo microbiota, que substituiu o antigo termo “microflora”, designa o conteúdo de microrganismos presentes em determinado local do organismo, como a microbiota intestinal, enquanto “microbioma” designa os genomas coletivos de microrganismos que habitam o corpo, e também podem pertencer a um local específico, como, por exemplo, microbioma intestinal. Na microbiota intestinal humana residem mais de 1014 bactérias, pertencentes a 190 gêneros e 500 a 1.000 espécies diferentes. É estimado que a microbiota intestinal apresente peso aproximado de 1,5 kg. Embora haja intensa variação individual, existem, pelo menos, 57 espécies de bactérias que são compartilhadas por toda a espécie humana. A maioria dos microrganismos residentes na microbiota intestinal é pertencente aos filos Firmicutes e Bacteroidetes – aproximadamente 90% – e uma pequena parcela ao filo Actinobacteria. Os microrganismos presentes na microbiota são classificados de acordo com o papel que desempenham na microbiota intestinal, podendo ser simbiontes, comensais ou patogênicos. Os simbiontes estão vinculadosà promoção de saúde ao hospedeiro, enquanto os comensais não promovem benefícios ou malefícios, e os patogênicos estão associados ao desenvolvimento de doenças, visto que sintetizam compostos tóxicos, como amônia, fenol, indol e outros, podendo lesionar o epitélio e comprometer a capacidade absortiva, prejudicando diretamente o intestino. É válido ressaltar que uma microbiota intestinal considerada saudável contempla todas as classes de microrganismos (simbiontes, comensais e patogênicos), devendo haver um equilíbrio entre elas. Os microrganismos do TGI estão alocados em sítios específicos em concordância com as espécies e a densidade populacional, havendo intensa competição entre eles. A distribuição dos microrganismos ao longo do TGI é apresentada no Quadro 1. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Quadro 1. Distribuição das bactérias ao longo do TGI. O gênero Lactobacillus é mais presente no intestino delgado, enquanto o gênero Bifidobacterium predomina no intestino grosso, embora a presença deste gênero tenda a reduzir com o decorrer dos anos de vida, sendo, portanto, vinculada a “jovialidade intestinal”. Referente às funções da microbiota, as principais ações estão vinculadas ao sistema imune (ativação das respostas imune inata e adaptativa), a degradação de xenobióticos e ao metabolismo de nutrientes, como a fermentação de carboidratos, a síntese de ácidos graxos de cadeia curta – AGCC (acetato, propionato e butirato), a síntese de vitaminas do complexo B (riboflavina, ácido fólico e cobalamina) e de vitamina K. O gênero Lactobacillus, por exemplo, é fermentativo e sintetiza ácido láctico durante o seu metabolismo primário, o que promove redução do pH intestinal e, por consequência, dificulta o crescimento de bactérias comensais e patogênicas. Além disso, a microbiota intestinal associada à mucosa e ao muco, compõem a barreira mucosa, que representa sistema de defesa importante contra patógenos presentes no lúmen intestinal. Microbiota nos ciclos da vida Infância No parto convencional, o recém-nascido é exposto a diversos microrganismos. Neste momento, há colonização de gêneros como Lactobacillus e Prevotella na vagina da gestante que, portanto, entram em contato com o recém-nascido no momento do Local do TGI Bactérias por grama de conteúdo intestinal Estômago e duodeno <103 Íleo 108 Cólon >1012 Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 nascimento. Dessa forma, o bebê é colonizado com as bactérias da mãe, e mantém um padrão por um período, até ser colonizado com outros microrganismos. Na cesariana, entretanto, o recém-nascido é exposto aos microrganismos presentes na pele, como Staphylococcus, Corynebacterium e Propionibacterium. Neste cenário, os bebês nascidos por cesariana não mantêm um padrão por um período de até seis meses após o nascimento. Cabe destacar que estudos recentes têm evidenciado que, antes do nascimento, o trato gastrointestinal (TGI) dos neonatos não é estéril. Comunidades microbianas foram identificadas no mecônio de alguns bebês nascidos prematuramente e foi demonstrado que o líquido amniótico das gestantes em trabalho de parto prematuro continha um amplo e diversificado espetro de DNA ribossomal bacteriano. Enquanto o bebê está no útero, ele normalmente engole aproximadamente 400 a 500 mL de líquido amniótico por dia, sugerindo que a hipótese da infecção intra-amniótica é a força motriz por trás do trabalho de parto prematuro. É bem esclarecido na literatura que neonatos nascidos por cesariana, pré-termos ou submetidos à exposição com antibióticos nos períodos pré e pós-natal, apresentam retardo na colonização intestinal por bactérias comensais. A microbiota intestinal de neonatos nascidos por cesariana é caracterizada pela ausência de Bifidobactérias, enquanto os neonatos nascidos por parto convencional, apesar de apresentarem diferentes perfis microbianos, possuem predominância de Bifidobacterium longum e Bifidobacterium catenulatum. Após o nascimento, é recomendado, exclusivamente, o aleitamento materno até, pelo menos, quatro meses de vida. O leite materno apresenta diversos componentes capazes de melhorar a atividade do sistema imune do lactente, como probióticos e prebióticos (mais de 130 oligossacarídeos já foram identificados), também conhecidos como fator bífido, visto que estimulam a colonização intestinal por microrganismos benéficos. Os probióticos do leite materno (mais de 109 microrganismos em lactantes saudáveis) também permitem a colonização intestinal dos neonatos. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Levando em consideração que o aleitamento materno exclusivo nem sempre é possível, a alimentação artificial (fórmulas lácteas) deve apresentar composição nutricional similar ao leite materno, a fim de assemelhar-se aos efeitos do último. Ainda assim, evidências indicam que a composição da microbiota intestinal difere em lactentes alimentados com leite materno em comparação àqueles com alimentação artificial, sendo que o gênero Bifidobacterium é mais numeroso nos primeiros. Lactentes alimentados de forma artificial apresentam número similar de Bacteroides e Bifidobacterium, além de apresentarem valores consideráveis de Staphylococcus, Escherichia coli e Clostridium, microrganismos potencialmente patogênicos. A infância é caracterizada por intensa e rápida colonização intestinal de microrganismos, havendo o estabelecimento de um padrão na composição da microbiota nos primeiros anos de vida. Esse padrão é influenciado por variáveis individuais, como fatores internos (genética) e fatores ambientais (alimentação, por exemplo). Neste cenário, mesmo crianças expostas a condições similares, apresentam variação individual na microbiota. Tendo em vista que a microbiota intestinal infantil não é completamente estabelecida, o contato das crianças com microrganismos, que podem se tornar colonizadores, permite a alteração da composição da microbiota. Neste contexto, a inclusão de suplementos ou de alimentos probióticos nesta idade pode ser um importante recurso a fim de modular a composição da microbiota na infância e também na fase adulta. Fase adulta No organismo humano adulto, o número de células de microrganismos ultrapassa em dez vezes o número de células humanas, sendo que a maior parte destes microrganismos está localizada no TGI. Apenas no cólon, é estimado que haja mais de 400 espécies de bactérias, pertencentes, especialmente, aos gêneros Bacteroides, Eubacterium, Clostridium, Ruminococcus e Faecalibacterium, caracterizados por serem anaeróbios. Entretanto, há uma intensa variabilidade individual, sendo que, apenas parte desses microrganismos é compartilhada por todos os humanos. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Diferente da microbiota infantil, a microbiota adulta segue um padrão, ou seja, é menos variável e, portanto, mais estável. Pelo fato da microbiota adulta já estar estabelecida, a alteração da composição da microbiota, mesmo com a suplementação de probióticos, é dificultada, visto que os microrganismos administrados não são capazes de colonizar o intestino, apenas permanecem aderidos no TGI, de forma temporária (aproximadamente oito dias após a interrupção da suplementação). Neste sentido, o uso de probióticos, a fim de manter os benefícios à saúde, deve ser contínuo. Idosos O processo de envelhecimento está associado à redução,de até mil vezes, da população de bactérias consideradas benéficas no TGI, comparado com indivíduos jovens. Desse modo, após 60 anos de idade, o indivíduo apresenta valores inferiores de microrganismos como Lactobacillus e Bifidobacterium. Além destas alterações, há aumento do gênero Clostridium, permitindo que, nesta faixa etária, os indivíduos estejam suscetíveis a infecções intestinais por Clostridium difficile. A capacidade do organismo para produzir uma resposta imunológica eficaz contra patógenos diminui com a idade, um fenômeno conhecido como imunossenescência. Nesse sentido, os idosos podem ser considerados como indivíduos imunocomprometidos, visto que há redução da produção de linfócitos B e T, assim como diminuição da função de linfócitos maduros em tecidos linfoides secudários e de células natural killers (NK). Várias cepas probióticas como Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei e Bifidobacterium lactis têm demonstrado, com base nos modelos in vitroe ex-vivo, propriedades imunoestimuladoras, incluindo aumento da produção de linfócitos, da síntese de citocinas, da atividade fagocítica de macrófagos e de neutrófilos, e na atividade das células NK. Além das causas supracitadas, o envelhecimento, por promover alterações na composição da microbiota, pode, também, estar acompanhado de uma gama de Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 sintomas gastrointestinais decorrentes da perda de mobilidade física, do uso continuo de medicamentos, da presença de comorbidades e da deterioração da sensibilidade anorretal. O sintoma mais comum relatado é a constipação intestinal, afetando 50% dos idosos residentes na comunidade e 74% dos idosos em casas de repouso. Neste sentido, aventa-se que a suplementação com probióticos, especialmente com bactérias pertencentes aos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, representa potencial recurso a fim de modular a composição da microbiota intestinal em idosos, diminuindo os sintomas gastrointestinais, atenuando o risco de infecções intestinais, melhorando a resposta imunológica e promovendo qualidade de vida. Tal como em adultos, a microbiota de idosos mantém um padrão, e os probióticos não se tornam colonizadores do intestino, devendo ser ingeridos continuamente. Microbiota, dieta e doenças No que tange a doenças, em diversas condições clínicas há alteração da composição da microbiota intestinal, como em doenças inflamatórias, obesidade e câncer, entretanto, a ordem dos fatores é desconhecida, ou seja, se a alteração da microbiota contribui com o desenvolvimento da doença ou, se após o estabelecimento da doença, há alteração da microbiota. Esse “desequilíbrio” na microbiota é denominado disbiose, quadro que se refere à redução de microrganismos benéficos e aumento de microrganimos patogênicos. Considerando que a alimentação do hospedeiro é o principal componente para compor e modular a microbiota intestinal, a ingestão de determinados alimentos pode contribuir para esse desequilíbrio entre os microrganismos residentes. Dietas ricas em proteínas produzem aminas, fenóis e amônia por meio da atividade das proteases da microbiota intestinal, produtos relacionados à carcinogênese em diversos tecidos. Alimentos ricos em enxofre como bebidas alcóolicas, carnes, leite, ovos, vegetais crucíferos e frutos do mar, ao sofrer a ação de determinadas cepas bacterianas, podem produzir sulfeto de hidrogênio, um gás tóxico para a mucosa intestinal. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Dietas ricas em lipídeos levam a diminuição de Bacteroidetes e ao aumento de Firmicutes e Proteobacterias. Além disso, podem aumentar a concentração plasmática de LPS — endotoxemia metabólica —, que é um dos componentes principais da membrana exterior de bactérias gram-negativas. O LPS é capaz de induzir resposta inflamatória no hospedeiro, por meio do mecanismo de reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs), os quais ativam receptores TLR, especialmente o TLR-4, configurando um dos principais gatilhos para o desenvolvimento de doenças inflamatórias. Fígado O fígado é o principal órgão envolvido no metabolismo, seja de xenobióticos, fármacos ou nutrientes, por exemplo. Este é o maior órgão do corpo, contribuindo com aproximadamente 2% do peso total do indivíduo (~1,5 kg em um adulto). A unidade funcional básica do fígado é o lóbulo hepático, sendo que o fígado humano contém cerca de 50.000 a 100.000 lóbulos individuais. Além dos hepatócitos, o fígado compreende células endoteliais típicas e células de Kupffer, que são macrófagos, cuja principal função é fagocitar bactérias e outros patógenos presentes no sangue que chega ao fígado. Estima-se que quando uma bactéria se aproxima da célula de Kupffer, em menos de 0,01 segundo ela passa para o interior celular, permanecendo alojada até ser digerida. Possivelmente, menos de 1% das bactérias que entram no sangue porta (proveniente dos intestinos) consegue passar através do fígado para a circulação sistêmica. Assim, é possível perceber que as substâncias absorvidas através do intestino são transportadas ao fígado, o qual também está amparado a eliminar possíveis patógenos e toxinas. Vale salientar que o fígado apresenta elevado fluxo sanguíneo, sendo que cerca de 1.350 mililitros de sangue fluem por este órgão a cada minuto, o que equivale 27% do débito cardíaco de repouso. No que se refere ao metabolismo hepático de xenobióticos, o principal objetivo é tornar estas substâncias mais facilmente excretáveis pelo organismo. O metabolismo de xenobióticos compreende duas fases – fase I e fase II. A fase I objetiva inativar o https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Membrana_exterior&action=edit&redlink=1 Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 composto e torna-lo mais hidrofílico, de forma a facilitar a excreção urinária. As principais reações químicas envolvidas nesta fase são: oxidação, redução, hidrólise e acetilação. As principais enzimas envolvidas neste processo são aquelas pertencentes ao sistema enzimático do citocromo P-450, bem como a flavina monooxigenase, a álcool desidrogenase, a aldeído desidrogenase e a monoamida oxidase. Na fase II, os xenobióticos são conjugados com grupos químicos que os tornam ainda mais hidrofílicos, como conjugação com sulfato, glutationa, aminoácidos e glucoronídeo. As principais enzimas envolvidas nesta fase são: UDP-glicuronil transferase, sulfotransferase, N-acetiltransferase e glutationa S-transferase. É importante destacar que nem todo xenobiótico passa pelas duas fases, sendo que se a substância já tiver caráter mais hidrofílico, ela passará apenas pela fase I. Aventa-se que diversos nutrientes são requeridos para que as reações químicas das fases I e II ocorram, como vitaminas do complexo B, por exemplo: riboflavina, niacina, piridoxina, ácido fólico, cobalamina. Rins No que se refere ao processo de destoxificação, os rins desempenham importante papel na excreção de xenobióticos, toxinas e demais substâncias que necessitam ser eliminadas do organismo por meio da urina. Vale relembrar que o metabolismo hepático de xenobióticos converte estas substâncias em formas mais hidrofílicas e de fácil excreção, facilitando o trabalho executado pelos rins. Salienta-se, ainda, que nem todas as substâncias são totalmente excretadas, sendo que algumas delas podem se acumular em determinados tecidos, como no tecido adiposo. Ferramentas pedagógicas (EAD) Para saber mais: Grupo Rede Educacional www.educarede.com.brcontato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Nelson, D.L.; Cox, M.M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2014. Alberts, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Biologia molecular da célula. 5ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2010. Guyton, A.C.; Hall, J.E. Tratado de fisiologia médica. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2017. Abreu M.T. Toll-like receptor signalling in the intestinal epithelium: how bacterial recognition shapes intestinal function. Nat Rev Immunol. 2010 Feb;10(2):131-44. Coqueiro, A.Y.; Raizel, R.; Bonvini, A. et al. Probiotics for inflammatory bowel diseases: a promising adjuvant treatment. International Journal of Food Sciences and Nutrition, 2018. Bonvini, A.Y.; Coqueiro, A.Y.; Macedo, M.M. Recomendações de probióticos. Em: Philippi, S.T.; Aquino, R.C. Recomendações nutricionais: Nos estágios de vida e nas doenças crônicas não transmissíveis. Manole, 2018. Aureli, P.; Capurso, L.; Castellazzi, A.M. et al. Probiotics and health: An evidence- based review. Pharmacol Res. v.63, p. 366–376, 2011. Lerayer, A.; Barreto, B.A.P.; Waitzberg, D.L. et al. In gut we trust.1ed. São Paulo, SP: Sarvier, 2013. Martinez, R.C.R.; Bedani, R.; Saad, S.M.I. Scientific evidence for health effects attributed to the consumption of probiotics and prebiotics: an update for current perspectives and future challenges. Br J Nutr, v.114, 2015. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 AULA 02. ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS ASSOCIADAS À DESTOXIFICAÇÃO INTRODUÇÃO A destoxificação é um processo endógeno do organismo, realizado por inúmeros órgãos e tecidos. Dessa forma, não é possível que um alimento, por si só, realize este processo. É muito comum, principalmente leigos, utilizarem de estratégias, como suco verde, com o objetivo de destoxificar o organismo após episódios de ingestão alimentar excessiva (especialmente incluindo açúcares e gorduras), porém, apesar desta bebida ser repleta de nutrientes, ela não tem o poder de realizar o processo de destoxificação. Assim, é indicado que os profissionais da área da saúde evitem o termo “detox”, a fim de não confundir os pacientes. Apesar do alimento, por si só, não ser capaz de realizar a destoxificação, inúmeros nutrientes podem influenciar, de forma negativa ou positiva, este processo. Discutir sobre as estratégias nutricionais relacionadas a este processo é justamente o objetivo desta aula. Nutrientes que influenciam de forma negativa Evidências indicam que o consumo de gorduras saturadas, principalmente quando associadas a açúcares, aumenta a concentração de LPS (endotoxina metabólica) no intestino, o que sinaliza os receptores TLRs induzindo o processo inflamatório (de forma similar ao LPS proveniente de bactérias gram-negativas) e o aumento da permeabilidade intestinal. Neste contexto, o intestino de indivíduos com alimentação rica em gorduras saturadas e açúcares apresenta uma inflamação de baixo grau, porém crônica, o que aumenta o risco do desenvolvimento de diversas doenças, como doenças inflamatórias intestinais. Estas características (inflamação crônica e de baixo grau, também chamada de metainflamação) são, justamente, atribuídas ao quadro de obesidade. Neste cenário, as estratégias nutricionais aplicadas para reverter a situação seriam: Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 plano alimentar voltado ao emagrecimento (ingestão calórica inferior ao gasto calórico – balanço energético negativo), com redução da ingestão de gorduras saturadas, trans e açúcares. Além das gorduras saturadas e dos açúcares, a ingestão de álcool também afeta negativamente o processo de destoxificação, tendo em vista que o álcool é metabolizado no fígado, sobrecarregando o metabolismo hepático. Não obstante, a ingestão excessiva de álcool também está vinculada com estresse oxidativo e alteração no metabolismo de alguns nutrientes, como vitaminas do complexo B. Nutrientes que influenciam de forma positiva Vitaminas do complexo B Conforme mencionado na aula anterior, as vitaminas do complexo B desempenham importante papel como cofatores das reações químicas que ocorrem no processo hepático de destoxificação de xenobióticos, principalmente na fase I. Neste contexto, a ingestão adequada e suficiente destas vitaminas é essencial para garantir a homeostase da destoxificação hepática. Antioxidantes Muitos xenobióticos provocam estresse oxidativo, logo, a ingestão adequada e suficiente de nutrientes com caráter antioxidante é fundamental para reverter este quadro. Dentre os nutrientes antioxidantes, destacam-se as vitaminas A (carotenoides), C e E, os minerais cobre e selênio, bem como compostos bioativos, como tióis. Fibras alimentares As fibras alimentares estão associadas a inúmeros efeitos biológicos que poderiam favorecer, indiretamente, o processo de destoxificação. As fibras alimentares melhoram a saúde intestinal (sendo o intestino um importante sítio de destoxificação), Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 bem como retardam a absorção de açúcares e gorduras – nutrientes associados ao aumento do LPS intestinal e inflamação. Não obstante, as fibras alimentares favorecem o emagrecimento por inúmeros mecanismos, como: (i) os alimentos ricos em fibras são menos calóricos, (ii) os alimentos ricos em fibras exigem maior tempo de mastigação, (iii) há retardo no esvaziamento gástrico e maior sensação de plenitude após o consumo de fibras, (iv) há retardo na absorção de açúcares e gorduras em razão da maior viscosidade promovida pelas fibras, (v) há fermentação das fibras pela microbiota intestinal e (vi) há liberação de hormônios intestinais associados à saciedade. Probióticos Considerando a importância da microbiota na destoxificação de xenobióticos, é de suma relevância estudar estratégias que melhorem a composição e o funcionamento da microbiota. Dentre estas intervenções, destaca-se a suplementação com probióticos, prebióticos e simbióticos. O termo probiótico, derivado do grego, traz o sentido daquilo que é a favor da vida, ou seja, que pode promover efeitos benéficos à saúde. A Food and Agriculture Organization of the United States/World Health Organization (FAO/WHO) define esse termo como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Diversos são os critérios apontados para que um microrganismo seja considerado probiótico, dentre eles: (i) ser, preferencialmente, de origem humana (isolado do trato gastrointestinal humano - TGI); (ii) ser reconhecido como seguro à saúde (GRAS – Generally Recognized as Safe), por meio de evidências científicas, mesmo para indivíduos imunocomprometidos; (iii) ser viável e ativo no veículo em que for administrado; (iv) ser resistente aos sucos gástricos e intestinais; (v) e ser capaz de aderir ao intestino humano. Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Os principais efeitos benéficos dos probióticos à saúde humana são referentes a alterações positivas na composição da microbiota, bem como melhora da resposta e homeostase do sistema imune. Em decorrência ao primeiro efeito, tem sido atribuído aos probióticos a ação de reduzir o risco de ocorrência de cáries, combater a colonização por H. pylori e prevenir diarreias e constipação intestinal.No que concerne à resposta imune, a ingestão de probióticos está associada à redução do risco de alergias, de infecções (incluindo infecção urinária) e de doenças respiratórias em crianças. Vale ressaltar que nem todos estes efeitos estão completamente elucidados na literatura. Prebióticos De acordo com definição proposta por Gibson et al. (2017), prebióticos são substratos seletivamente utilizados pelos microrganismos do hospedeiro, conferindo um benefício à saúde. Ao contrário do que se pensava no passado, não são apenas algumas fibras (como oligossacarídeos e inulina) que se enquadram como prebióticos, mas também ácido linoleico conjugado, ácidos graxos poliinsaturados (ômegas 3 e 6), fenólicos e fitoquímicos. Simbióticos O conceito de “simbióticos” se refere a combinação de uma ou mais cepas probióticas e um ou mais prebióticos. Para a seleção de ambos, é necessário que o prebiótico permita o crescimento do microrganismo probiótico, havendo, portanto, uma interação positiva destes componentes avaliada in vitro. Quando a escolha do probiótico e do prebiótico é adequada, o efeito benéfico à saúde pode ser ainda mais acentuado, comparada à administração isolada desses componentes, devido à sinergia entre o microrganismo probiótico e a fibra prebiótica. Ferramentas pedagógicas (EAD) Para saber mais: Grupo Rede Educacional www.educarede.com.br contato@educarede.com.br | suporte@educarede.com.br MG: (31) 99789-9017 | PE: (81) 99544-3401 Nelson, D.L.; Cox, M.M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2014. Alberts, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Biologia molecular da célula. 5ª Ed. Porto Alegre: Artmed. 2010. Guyton, A.C.; Hall, J.E. Tratado de fisiologia médica. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2017. Abreu M.T. Toll-like receptor signalling in the intestinal epithelium: how bacterial recognition shapes intestinal function. Nat Rev Immunol. 2010 Feb;10(2):131-44. Coqueiro, A.Y.; Raizel, R.; Bonvini, A. et al. Probiotics for inflammatory bowel diseases: a promising adjuvant treatment. International Journal of Food Sciences and Nutrition, 2018. Bonvini, A.Y.; Coqueiro, A.Y.; Macedo, M.M. Recomendações de probióticos. Em: Philippi, S.T.; Aquino, R.C. 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Effects of dietary fibre on subjective appetite, energy intake and body weight: a systematic review of randomized controlled trials. Obes Rev. 12:9, 724-39, 2011. Slavin, J. Fiber and prebiotics: mechanisms and health benefits. Nutrients. 5:4, 1417-35, 2013. Food and agriculture organization of the united states/World health organization (FAO/WHO). Guidelines for the Evaluation of Probiotics in Food. 2002. [resolução na internet]. [capturado em 2017 mar 13]. Disponível em: http://www.who.int/foodsafety/fs_management/en/probiotic_guidelines.pdf ANVISA - Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 2, de 7 de janeiro de 2002. Regulamento Técnico de Substâncias Bioativas e Probióticos Isolados com Alegação de Propriedades Funcional ou de Saúde. 2008. [resolução na internet]. [capturado em 2017 mar 13]. Disponível em: http://elegis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=1567. Gibson, G.R.; Hutkins, R.; Sanders, M.E. et al. 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