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Avaliação Histologia Sistema Reprodutor - Trio 14

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - MODALIDADE MÉDICA
DISCIPLINA INTERAÇÃO CELULAR II - BMH 243 2020.2
AVALIAÇÃO DE HISTOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO E
FEMININO
Profª. Danielle Bonfim
Trio 14
Ana Beatriz da Silva Maciel - DRE: 118166641
Glenda Domingos Mascarenhas - DRE: 119054546
Marianna Ribeiro Cabral - DRE: 119035306
Rio de Janeiro
2021
1) No artigo publicado na revista Endocrinology, Nicholls et al argumentaram que
embora o papel da ativina na regulação da proliferação e da diferenciação das células
de Sertoli no testículo em desenvolvimento já fosse conhecido, seus efeitos na função
destas células no testículo adulto ainda não o era. Para investigar essa questão, os
autores desenvolveram um modelo experimental murino, no qual o nível sistêmico de
ativina foi significativamente aumentado (de 42 ± 13 pg/ml nos animais controle para
168 ± 56 pg/ml nos tratados; p < 0,05). Morfologicamente, os autores observaram
alterações na organização histológica dos túbulos seminíferos (Fig. 1 EI); e através de
imunofluorescência, verificaram que a expressão da proteína conexina-43 (GJA1)
estava alterada, restrita ao citoplasma das células de Sertoli. Como a GJA1 é uma
proteína presente em junções comunicantes, os autores supõem que esta alteração
estaria relacionada com uma desorganização da barreira hematotesticular. Para testar
esta hipótese, os pesquisadores observaram a capacidade de um tracer de permear o
epitélio seminífero (Fig. 1 J-K). Tendo como base os seus conhecimentos acerca da
histologia dos testículos, responda:
a) Como estão organizados, histologicamente, os túbulos seminíferos de um pré
púbere e de um homem adulto?
Primeiramente, é importante mencionar que os testículos consistem nas gônadas sexuais
masculinas e atuam tanto na produção de hormônios - função endócrina - quanto na produção
de espermatozoides - função reprodutora. Eles são envolvidos, por exemplo, por uma cápsula
de tecido conjuntivo denso - chamada de túnica albugínea - que, através da emissão de septos
fibrosos para o interior do órgão, vai dividi-lo em diversos lóbulos compostos por túbulos
altamente enovelados, contorcidos e dispostos em alças, denominados túbulos seminíferos.
Eles ficam imersos e conectados por um tecido conjuntivo frouxo rico em vasos sanguíneos e
linfáticos, nervos e também pelas células intersticiais de Leydig. Estas últimas são, em
maioria, células poliédricas e são de suma importância para a fisiologia do sistema reprodutor
masculino, já que, dentre as suas funções, elas serão responsáveis por produzir testosterona,
principal hormônio indutor do processo de formação dos espermatozóides.
Histologicamente, tanto em um indivíduo pré-púbere como em um indivíduo adulto, os
túbulos seminíferos apresentam um epitélio especial, que se encontra associado a uma fina
camada de membrana basal e é envolvido por uma parede constituída, principalmente, por
fibras colágenas, formando a túnica própria. Esse epitélio seminífero, também chamado de
epitélio germinativo, é formado pelas células da linhagem espermatogênica e pelas células de
Sertoli, estas envolvidas, principalmente, com a sustentação. Apesar dessas semelhanças
gerais, com a puberdade, no entanto, pode-se observar algumas mudanças na organização do
epitélio, como a presença de camadas de células gonadais em processo de diferenciação, que
vão ser responsáveis por gerar os espermatozóides, os gametas masculinos. Com isso, é
possível observar na camada basal dos túbulos seminíferos as células mais indiferenciadas,
no caso, as espermatogônias, que vão se diferenciando em espermatócitos primários,
secundários, espermátides e, por fim, os espermatozóides maduros, conforme vão ascendendo
ao longo do epitélio para o lúmen. Além disso, na túnica própria, encontram-se células
mióides peritubulares, que são essenciais para a contração dos túbulos seminíferos e
transporte dos espermatozóides.
No entanto, como até a puberdade o processo de formação dos espermatozóides não
acontece, durante o período pré-púbere, o testículo e, por sua vez, os túbulos seminíferos, são
constituídos, em geral, pelas células de Sertoli. Em pré-púberes, elas são responsáveis por
conferir, principalmente, sustentação, nutrição e proteção às células germinativas primordiais
- espermatogônia. Histologicamente, as células de Sertoli são caracterizadas como células
colunares, e emitem prolongamentos que delimitam as junções de oclusão basolateralmente,
as unindo. Com o processo de formação dos espermatozóides, as células de Sertoli também
vão conferir nutrição e proteção aos espermatócitos e espermátides em desenvolvimento e,
ademais, vão sofrer algumas alterações importantes para a promoção da espermatogênese.
Entre elas, tem-se a formação, por exemplo, de invaginações ao longo de seu citoplasma,
gerando espaços onde as células da linhagem espermatogênica vão se associando e, dessa
forma, vão conseguir gerar sinais que as células gonadais precisam para se diferenciar. Além
disso, mudanças no tamanho e nos constituintes das células de Sertoli, assim como a presença
de um estado de quiescência mitótica, também acompanham o processo e as junções de
oclusão se tornam essenciais para impedir que as células em diferenciação entrem em
contato, por exemplo, com substâncias nocivas no sangue da barreira hematotesticular. Então,
com a puberdade, começa o processo de diferenciação dos espermatozóides, conforme
mencionado anteriormente, e o epitélio seminífero estará mais desenvolvido, com diversos
tipos celulares distribuídos, composto não mais em grande parte somente pelas células de
Sertoli.
b) Cite pelo menos uma alteração que você consegue distinguir nos túbulos
seminíferos dos animais tratados com ativina (Fig 1. F-I) em relação aos controles (Fig
1E).
Como mencionado no artigo em questão, o tratamento com níveis aumentados de ativina
foi capaz de promover alterações histológicas nos túbulos seminíferos dos animais estudados,
como podemos visualizar nas imagens fornecidas. De acordo com o aprendizado adquirido
em aula, vimos que o epitélio seminífero apresenta diferentes camadas com células
germinativas em processo de diferenciação até os espermatozóides; e podemos observar tal
organização típica no grupo controle - Figura 1.E. Já quando olhamos os grupos tratados com
ativina, podemos observar uma redução de camadas e, consequentemente, de número de
células germinativas - melhor evidenciada nas Figuras 1 G-I -, quando comparadas ao grupo
controle. Com isso, uma outra alteração que podemos observar nos grupos tratados é a
ausência de alguns tipos celulares específicos, como os espermatozoides - Figura 1.H, por
exemplo. Ademais, podemos visualizar túbulos seminíferos com uma predominância de
células de Sertoli, principalmente na Figura 1.I, quando comparados aos túbulos dos animais
controles. Por fim, uma outra alteração observada foi a perda das junções de oclusão, com
evidentes espaços vacuolares observados na Figura 1.I, em especial, diferentemente do grupo
controle.
c) O que é a barreira hematotesticular?
Resumidamente, a barreira hematotesticular consiste em uma estrutura de permeabilidade
seletiva formada pelas junções de oclusão encontradas no epitélio germinativo dos túbulos
seminíferos dos testículos, dividindo esse epitélio seminífero em dois compartimentos
principais, um basal e outro adluminal ou apical, e conferindo uma barreira entre o sangue e
os túbulos seminíferos, e, consequentemente, às células presentes.
Como mencionado anteriormente, as células de Sertoli que constituem o epitélio
seminífero são unidas por junções de oclusão presentes em seus domínios basolaterais,
fazendo uma separação entre os espaços do epitélio germinativo e sendo essencial para a
formação da barreira hematotesticular, uma das barreiras sangue-tecido mais consistente
conhecida. Além disso, as junções de oclusão acabam por formar microambientes: um
compartimento basal, no qual são encontradas, especialmente,as células germinativas
primordiais - espermatogônias -, e um compartimento apical, com a presença das células em
diferenciação durante a espermatogênese. Esses microambientes ficam separados dos
componentes sanguíneos devido a presença da barreira, delimitada pelas junções, por
exemplo, que vai ser responsável também por controlar e selecionar o que irá entrar em
contato com as células germinativas.
Com isso, é de extrema importância para as células de Sertoli manterem essa barreira
hematotesticular firme e, assim, garantirem uma espermatogênese adequada e sustentada,
impedindo, por exemplo, que agentes nocivos penetrem nas camadas internas dos túbulos
seminíferos ou que sejam produzidos anticorpos contra as células germinativas - o que
poderia levar a problemas na fertilidade do indivíduo.
d) Através da observação das imagens J e K, o que você concluiria acerca dos efeitos
do aumento dos níveis de ativina sobre a organização da barreira hematotesticular?
Como mencionado na questão anterior, a barreira hematotesticular é uma estrutura de
permeabilidade constituída pelas células de Sertoli, que se unem a partir de junções oclusivas
e compartimenta o epitélio seminífero, formando dois microambientes, de tal forma a garantir
a produção e manutenção adequada dos espermatozóides. As células de Sertoli têm a
capacidade de proliferação mantida até a puberdade, quando sofre sua maturação e
quiescência em decorrência da atenuação dos níveis de ativina A, conforme estudos
anteriores presentes na literatura. Dessa forma, para a correta estabilidade da barreira
hematotesticular e, consequentemente, espermatogênese adequada e protegida, é necessário
que esse regulador tenha sua expressão reduzida.
No entanto, quando há redução extrema ou superexpressão de ativina A em momentos
inoportunos, tanto na vida embrionária, quanto na pós-natal, são observadas perturbações.
Assim, na imagem 1J, é observado o grupo controle – caracterizado por níveis normais de
Ativina A –, com a expressão da conexina-43 (GJA1), uma proteína que auxilia no processo
de junção das células, restrita na região que se associa à barreira hematotesticular, o que é
consistente com o seu essencial papel na integridade dessa barreira. Além disso, na mesma
imagem de imunofluorescência dos grupos controles, também é possível analisar o percurso
de um marcador de biotina (Tracer) ao longo do epitélio seminífero, ficando retido nas
regiões da barreira hematotesticular e de colocalização da conexina-43, sem entrar nos
compartimentos basal e apical, por exemplo, o que nos mostra a funcionalidade e integridade
dessa barreira mantida, com base nos conhecimentos adquiridos sobre a mesma.
Então, como visto, a manutenção da barreira hematotesticular é promovida pelas células
de Sertoli maduras, no entanto, em decorrência da superexpressão de ativina, é observada na
imagem 1K uma expressão incontrolada e aleatória da conexina-43 por todo o citoplasma das
células de Sertoli, o que se difere da sua localização usual. Ademais, o tracer para avaliar a
permeabilidade não se manteve restrito na zona da barreira hematotesticular, permeando todo
o epitélio germinativo de forma livre e aleatória. Com isso, é possível concluir que esse
aumento dos níveis de ativina e esse padrão de expressão descontrolado alteram a
organização da barreira hematotesticular, desestabilizando-a e interrompendo a sua
funcionalidade adequada. Nesse sentido, também é possível sugerir que tais alterações
estejam associadas a um desenvolvimento pré-púbere e imaturo das células, prejudicando a
formação e função dos espermatozóides, em decorrência da possível indiferenciação das
células de Sertoli.
e) Quais as implicações destes efeitos (que você citou na resposta anterior) na função
testicular?
Na questão anterior, foi sugerido que a superexpressão de ativina A implica em uma
alteração molecular e, consequentemente, funcional da barreira hematotesticular,
provavelmente em decorrência de uma indiferenciação das células de Sertoli, que se mantém
em estado proliferativo. Assim, essas células se tornam incapazes de sofrer maturação e
quiescência, o que leva a uma instabilidade na barreira e também ao desenvolvimento de um
ambiente semelhante ao pré-púbere, prejudicando não só a formação, mas também a
funcionalidade dos espermatozóides.
A barreira hematotesticular apresenta um papel crucial na permeabilidade e
compartimentação dos microambientes basal e adluminal dos túbulos seminíferos,
necessários para sustentar e proteger de forma adequada a espermatogênese. Dessa forma,
essa possível alteração molecular impacta diretamente nesse cenário pela diminuição da
formação das junções de oclusão, bem como bloqueio das junções de oclusão que já haviam
sido formadas, comprometendo a manutenção da espermatogênese e garantindo dispersões de
moléculas que possam entrar em contato com o túbulo seminífero através do sangue. Esse
comprometimento decorre da indiferenciação das células de Sertoli, o que promove um
estado pré-púbere, ocasionado pela superexpressão de ativina A, como é descrito na
literatura. Com isso, levando em consideração esse novo estado, acreditamos que essa
superexpressão de ativina em testículos adultos pode levar a uma redução da
espermatogênese, de tal forma que o indivíduo se torne infértil. Em consonância a isso, essa
infertilidade também poderia estar associada à produção de anticorpos contra as células
germinativas, propiciada também pela perda da função da barreira hematotesticular. Ademais,
acreditamos também que a superexpressão da ativina A possibilite o desenvolvimento de
patologias, como o câncer, uma vez que o estado proliferativo das células de Sertoli é
mantido, alterando, assim, os testículos tanto estruturalmente quanto funcionalmente.
2) Em um paper recente publicado na revista Cell Death Discovery, Bildik e
colaboradores argumentam que os mecanismos moleculares responsáveis pelo controle
da luteinização (diferenciação terminal das células granulosas e da teca interna após a
ovulação) e da luteólise (regressão do corpo lúteo) são pouco conhecidos em humanos.
Tentando entender mais sobre o assunto, os autores levantam dados da literatura que
demonstram que a ativina possui várias funções no sistema reprodutor feminino, tais
como a estimulação da produção de FSH pelos gonadotropos da adeno hipófise; o
aumento da expressão de receptor de FSH nas células granulosas dos folículos em
desenvolvimento e a consequente proliferação destas células. Com a luteinização,
observou-se que as células granuloluteínicas continuam a expressar ativina e seus
receptores, mas ainda não sabe quais suas funções nesse processo. Para investigar essa
questão, os autores realizaram um estudo in vitro, utilizando células granuloluteínicas
obtidas de pacientes em tratamento de reprodução assistida. Após incubação das células
com quatro concentrações crescentes de ativina, os pesquisadores avaliaram os efeitos
na expressão das enzimas esteroidogênicas StAR, P450 SCC, 3β-HSD e 17β-HSD por
RT PCR e western blotting (Fig 2 A-C); e de estradiol e progesterona, por um método
similar ao ELISA (Fig 2D). Com base nos seus conhecimentos acerca da histologia dos
ovários, responda:
a) Em que momento do ciclo ovariano acontece a luteinização e quais eventos
morfológicos ocorrem a partir deste ponto?
Durante o período periovulatório, isto é, o estágio onde ocorre um aumento significativo
da liberação do hormônio luteinizante (LH) até a expulsão do ovócito do folículo em direção
à tuba uterina, este passa por uma série de mudanças estruturais e fisiológicas, mais
especificamente, no folículo dominante, a fim de se preparar para uma possível gravidez.
Vale mencionar que o folículo ovariano é a estrutura funcional do ovário, e pode ser dividido
de acordo com seus estágios de desenvolvimento, sendo o primeiro o folículo primordial
quiescente, seguindo para o folículo primário, folículo secundário, folículo multilaminar
tardio, folículo pré-antral, folículo dominante, folículo dominante no período periovulatório,corpo lúteo e, por fim, os folículos atrésicos.
Dito isto, a luteinização, processo que, após estímulo máximo do LH, resulta na produção
do corpo lúteo, tem início durante o período periovulatório, quando, a partir do aumento de
LH, o folículo dominante se rompe, expulsando o ovócito para fora do ovário (ovulação), e
esse folículo remanescente vai culminar na formação do corpo lúteo pelas células da teca e
células granulosas murais, ou estrato granuloso, constituintes da parede externa dos folículos.
A partir desse ponto, o corpo lúteo, agora maduro, vai permanecer no ovário por cerca de 14
dias, com uma grande produção de progesterona, sendo de extrema importância para a fase
secretora do ciclo uterino. Nesse momento, o endométrio começa a apresentar alterações que
vão propiciar um ambiente mais receptivo e viável para a implantação, como glândulas
maiores e artérias espiraladas, por exemplo. Não ocorrendo a fertilização, o corpo lúteo vai
regredir ao ponto de se tornar um corpo cicatricial, denominado corpus albicans, que será
absorvido pelo ovário, em um processo denominado de luteólise. No entanto, se houver a
fertilização, o corpo lúteo permanecerá sendo estimulado - até o surgimento da placenta -,
secretando progesterona e também estrogênio, nas primeiras semanas a fim de garantir a
manutenção do endométrio e preparar o útero para a implantação do embrião.
b) Qual a função do corpo lúteo e em que momento este sofre luteólise?
O corpo lúteo é uma estrutura transitória com capacidade endócrina, formado após a
ovulação, na fase lútea ou luteinização, e é constituído pelas células da granulosa e da teca
interna. Com isso, sob estímulo de LH após o período de ovulação, ou seja, posteriormente ao
colapso do folículo e, consequentemente, o rompimento de sua parede, a cavidade antro
folicular é invadida por sangue, o qual sofre coagulação. Após a formação do coágulo, a
região é invadida por tecido conjuntivo, que forma a região central do corpo lúteo. Assim,
também sob influência do hormônio luteinizante (LH) as células sofrem modificações, com
as células da granulosa parando de se dividir e tendo o seu tamanho aumentado, constituindo
cerca de 80% do parênquima do corpo lúteo e secretando esteróides, como o estrogênio e a
progesterona. Nessa etapa, são, então, chamadas de células granulosas-luteínicas. Em uma
escala menor, as células da teca interna também vão compor esse órgão, se acumulando nas
pregas da parede. Assim, a rede vascular e linfática que antes era encontrada apenas na teca
interna se distribui para o interior do corpo lúteo.
Dessa forma, como mencionado anteriormente, durante a fase lútea do ciclo menstrual,
ainda sob estímulo de LH, essa estrutura começa a secretar progesterona, favorecendo a
preparação da parede uterina para a implantação. Portanto, quando há fecundação, as células
trofoblásticas produzem a gonadotrofina coriônica humana (hCG), que sinaliza ao corpo lúteo
a implantação e o estimula, a fim de que ele permaneça produzindo progesterona e
propiciando o desenvolvimento do feto, até o momento em que a placenta assuma o papel
principal na secreção de progesterona. Aproximadamente entre a 7° e 12° semana da
gestação, o corpo lúteo é, então, degenerado. No entanto, caso não ocorra fecundação e,
consequentemente, não tenha um estímulo que permita a sobrevivência do corpo lúteo, ele
sofre um processo chamado de luteólise, involuindo e levando à formação do corpo albicans -
tecido fibroso. De uma forma mais simplificada, sem a fecundação, a hCG não é produzida e,
portanto, não resgata o corpo lúteo da sua regressão. Como consequência disso e da falta de
estímulo de LH, os níveis de progesterona e de estrogênio são reduzidos, o que promove a
descamação da mucosa do útero, o endométrio. Posteriormente ao rompimento do corpo
lúteo, o hormônio folículo estimulante (FSH) começa a ser liberado pela hipófise, em
decorrência dos níveis reduzidos de estrógenos no sangue, propiciando o crescimento de
novos folículos e dando início a um novo ciclo.
c) Por que os pesquisadores avaliaram a expressão de enzimas esteroidogênicas nas
células granuloluteínicas?
Conforme mencionado anteriormente, o aumento significativo na secreção de LH resulta
em uma série de mudanças estruturais e fisiológicas ao longo de todo o ovário. Uma delas,
voltada para a atividade esteroidogênica, ou seja, para a produção de hormônios esteróides,
como o estrogênio e a progesterona, está diretamente relacionada com as células da teca e as
células granulosas murais dos folículos ovarianos, já que as mesmas expressam receptores
para o LH quando o mesmo está sendo altamente liberado, o que, além de induzir a
diferenciação das células granuloluteínicas, provoca a atenuação da expressão da enzima
esteroidogênica CYP19 - aromatase -, que vai resultar em uma pequena queda na produção
de estrogênio. Em contrapartida, ainda sob a indução de LH, há também o rompimento da
lâmina basal dessas células, o que torna, consequentemente, o colesterol mais disponível para
que essas células possam iniciar o processo de esteroidogênese, principalmente, da
progesterona, aumentando a produção das enzimas esteroidogênicas StAR, 3β-HSD e
CYP11A1, que vão começar a sintetizar o hormônio em questão - tendo em vista que os
hormônios esteróides são derivados do colesterol.
Levando esses pontos em consideração, os pesquisadores decidiram avaliar a expressão
destas e de outras enzimas esteroidogênicas nas células granuloluteínicas durante a
luteinização para compreender melhor o papel desempenhado pela ativina nessa regulação, já
que, durante esse estágio, as células granuloluteínicas continuam a ter atividade
esteroidogênica e a expressar ativina e seus receptores, mas os efeitos da ativina na expressão
dessas enzimas ainda não eram muito conhecidos até então.
d) Qual a função da enzima aromatase nestas células?
A aromatase é uma enzima de extrema importância para a conversão de hormônios
androgênios, como, por exemplo, a androstenediona e a testosterona, em estrogênios, como o
estradiol. Dessa forma, a aromatase vai atuar no sistema reprodutor feminino como uma
importante reguladora da taxa de biossíntese de estrogênio, sendo essencial para o processo
de foliculogênese, estimulação da ovulação/ovocitação e presente nas etapas de luteinização.
Como estudado em aula e também através da literatura, o estrogênio e a progesterona são
uns dos principais hormônios ovarianos, sendo responsáveis, por exemplo, pela estimulação
do ciclo uterino para a criação de um ambiente mais receptivo e propício à implantação do
embrião. Além disso, para as suas biossínteses, é essencial a participação e interação de
células presentes no folículo ovariano, como as células da granulosa e da teca, assim como
enzimas específicas, por exemplo, a própria aromatase, que vão catalisar as diferentes etapas.
Com isso, durante a foliculogênese, por exemplo, as células da teca interna produzem uma
grande quantidade de androgênios, como a androstenediona e a testosterona, que serão
enviados para as células da granulosa com o objetivo de serem convertidas em estrogênio,
como o estradiol. Tal processo ocorre exatamente devido a presença da enzima aromatase nas
células granulosas, permitindo, assim, o processo de conversão adequado.
Entretanto, é muito importante mencionar que a principal regulação hormonal desse
processo se dá pelo FSH, que, portanto, vai controlar a proliferação das células granulosas -
durante a fase folicular - e a secreção de estrógenos a partir da estimulação das enzimas
aromatases nas células da granulosa. Com isso, tem-se um aumento, principalmente, dos
níveis de estradiol, que vão realizar feedback positivo na hipófise, aumentando os níveis de
FSH e também de LH, com este último culminando no processo de ovulação/ovocitação.
Como mencionado nas questões anteriores, após a ovulação, as células da granulosa e da
teca passam pelo processo de luteinização, gerando o chamado corpo lúteo. Durante esse
processo, as células granuloluteínicas continuamsecretando estradiol - apesar de serem níveis
um pouco mais baixos - pelas mesmas etapas de conversão e atuação da aromatase
supracitadas, ou seja, essas células continuam recebendo androstenediona e testosterona das
células da teca e, pela ação da enzima, são convertidas em estrogênio. No entanto, as células
granuloluteínicas, após a ovulação, também passam a ser mais sensíveis ao hormônio LH, o
que vai estimular a via de síntese da progesterona a partir do colesterol, em grandes
quantidades. Sendo assim, os altos níveis de progesterona e estradiol - provenientes do
processo catalisado pela aromatase - na fase lútea vão realizar feedback negativo no FSH e
LH e também estimular a fase secretora do ciclo uterino.
e) A partir dos resultados apresentados na figura 2, a que conclusão você chegaria
sobre os efeitos da ativina na função das células granuloluteínecas e, consequentemente,
do corpo lúteo?
Conforme discorrido nas questões anteriores, durante o processo de luteinização, onde
tem-se a formação do corpo lúteo, constituído pelas células granuloluteínicas e tecaluteínicas,
são observados, por exemplo, um aumento acentuado de progesterona, aumento do receptor
de LH nas células granulosas, assim como uma regulação negativa do receptor de FSH,
atenuando - mas ainda com níveis elevados - a secreção de estrogênio. Além disso, foi
relatado no estudo em questão que, com base na literatura prévia, constataram que as células
granuloluteínicas expressam ativina A - uma molécula extremamente importante para as
etapas de foliculogênese - durante a luteinização, entretanto, as suas funções específicas nesse
processo ainda não eram bem conhecidas.
Ao investigarem, portanto, os possíveis efeitos da ativina nas células do corpo lúteo,
através da análise de expressão de enzimas esteroidogênicas e produção de hormônios, por
exemplo, os pesquisadores observaram que a ativina-A foi capaz de reduzir a expressão das
enzimas StAR, P450 SCC, 3β-HSD e 17β-HSD de uma forma dependente da concentração
incubada nas células granuloluteínicas humanas. A título de melhor explicação, a enzima
esteroidogênica StAR é essencial para a regulação da transferência do colesterol para a
membrana mitocondrial interna, enquanto que a P450 SCC vai ser importante para a
conversão do colesterol no intermediário pregnenolona. Já a 3β-HSD catalisa a conversão da
pregnenolona em progesterona e, por fim, a 17β-HSD é importante para a formação do
estradiol - estrogênio - potente. Com isso, esse efeito supressor da ativina nas enzimas
esteroidogênicas também foi acompanhado por uma redução da produção de estrogênio e
progesterona pelas células do corpo lúteo. Além disso, observou-se uma regulação positiva da
expressão dos receptores de FSH, assim como uma regulação negativa dos receptores de LH
frente a incubação com a ativina.
Dessa forma, retomando as características principais das etapas do ciclo ovariano, tem-se
que esses resultados observados na figura 2 nos permitem concluir que níveis elevados de
ativina nas células granuloluteínicas levam a uma alteração no processo de luteinização,
revertendo possivelmente o processo de diferenciação terminal dessas células, visto as
expressões reduzidas das enzimas esteroidogênicas e níveis alterados de hormônios
importantes para o processo.
● Referências Bibliográficas:
Aulas ministradas pela Profa. Danielle Bonfim na matéria Interação Celular II do curso de
Ciências Biológicas Modalidade Médica
Nicholls, Peter K et al. “Activin signaling regulates Sertoli cell differentiation and function.”
Endocrinology vol. 153,12 (2012): 6065-77. doi:10.1210/en.2012-1821
Histologia básica I L.C. Junqueira e José Carneiro. - [12 ed.]. - Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
Montanari, Tatiana. Atlas digital de biologia celular e tecidual [recurso eletrônico] - Porto
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Rôlo, José Luiz Jivago de Paula. Avaliação dos efeitos de duas nanopartículas magnéticas na
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Pós-Graduação em Biologia Animal.
Abreu, Lauriane Giselle de. Atividade da aromatase em células da granulosa de mulheres
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Bildik, Gamze et al. “Terminal differentiation of human granulosa cells as luteinization is
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