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Tecido muscular liso Associação de células alongadas e fusiformes, mais espessas no centro e afiladas nas extremidades chamadas fibras musculares lisas ou leiomiócitos Em cortes longitudinais, o citoplasma não apresenta estriação transversal Proteínas características do citoplasma são actina, miosina e filamentos intermediários do citoesqueleto As fibras são de contração lenta e involuntária. Organizam-se, geralmente, em feixes (músculos eretores dos pelos) ou em camadas (paredes de vasos sanguíneos e nas paredes de órgãos ocos). As fibras têm núcleo único elíptico e central cuja posição pode ser bem evidenciada em secções transversais das fibras e em cortes longitudinais, podem exibir um aspecto ondulado quando as fibras estão contraídas As células musculares lisas são revestidas por uma lâmina basal e mantêm-se unidas por uma rede de fibras reticulares (compostas de colágeno tipo III) que envolve as células. Essas fibras fazem com que a contração das células se expanda na contração do músculo inteiro. O sarcolema apresenta grande quantidade de invaginações com o aspecto e as dimensões das vesículas de pinocitose, denominadas cavéolas. Estão associadas ao transporte de íons Ca2+ para o citosol, necessários para desencadear o processo de contração dessas células. Frequentemente, as células musculares lisas adjacentes estão conectadas por junções comunicantes, que podem transmitir o impulso de contração de uma célula para a outra e, assim, propagar a contração para uma população maior de fibras. A região do sarcoplasma em torno do núcleo apresenta mitocôndrias, cisternas do retículo endoplasmático granuloso, grânulos de glicogênio e um complexo de Golgi pouco desenvolvido. No citoplasma há corpos densos e podossomos. São observadas estruturas densas junto à superfície interna da membrana plasmática, as placas densas Esse conjunto de estruturas se associa ao citoesqueleto das células musculares lisas, e exerce um importante papel na efetivação da contração. Aparelho contrátil e mecanismo de contração No citoplasma das células musculares lisas, há filamentos de α-actina e de miosina 2, no entanto, no músculo liso, pelo menos parte da molécula de miosina é composta de isoformas diferentes das existentes em músculos estriados. Os filamentos de actina formam uma complexa rede tridimensional que se ancora nos corpos densos do citoplasma e nas placas densas situadas junto à membrana Os corpos densos são formados de várias proteínas, entre as quais se destacam proteínas de filamentos intermediários – desmina e/ou vimentina –, além de moléculas de α-actinina, uma proteína que, em diversos tipos de células do organismo, ancora filamentos de actina. Os filamentos de miosina estabelecem pontes entre os filamentos de actina A rede tridimensional de actina conectada aos corpos e às placas densas e às moléculas de miosina ocupa todo o citoplasma da célula muscular lisa. O deslizamento dos inúmeros filamentos de actina sobre os de miosina provoca o encurtamento das células, isto é, sua contração, pois actina está ancorada nos corpos densos e nas placas densas da membrana plasmática. Sequência da contração nas células musculares lisas O estímulo inicial da contração pode resultar de estímulos muito diversos, por exemplo, estímulos mecânicos, elétricos (potenciais de ação) e por substâncias presentes no meio extracelular em torno das fibras. A tração das fibras, por exemplo, atua sobre receptores de superfície das células. Receptores presentes na superfície das células reconhecem vários tipos de moléculas, como norepinefrina, colecistoquinina, angiotensina II e endotelina-1. Tais receptores estão acoplados à proteína G e resultam na produção de segundos mensageiros. Os diversos estímulos promovem a saída para o citosol de íons Ca2+ armazenados em cisternas do retículo sarcoplasmático. No citosol, os íons Ca2+ combinam-se com moléculas de calmodulina, uma proteína com afinidade para esses íons. A ligação entre ambos depende da proteína caldesmon. O complexo calmodulina–Ca2+ ativa a enzima quinase da cadeia leve (que faz parte da molécula de miosina), resultando na fosforilação das moléculas de miosina. Uma vez fosforiladas, essas moléculas combinam-se com a actina, dando início aos ciclos de deslizamento da actina sobre a miosina de maneira semelhante à que ocorre nos músculos estriados. Para o deslizamento, é necessária a energia armazenada em moléculas de ATP. Os corpos densos contêm α-actinina, que funciona como elemento de ligação entre actina e moléculas dos corpos densos, e são homólogos dos discos Z dos músculos estriados. Como os filamentos de actina estão ligados aos corpos densos da membrana da célula, o resultado de seu deslizamento em relação à miosina é um encurtamento da célula Inervação do tecido muscular liso O músculo liso recebe fibras pós-ganglionares do sistema nervoso simpático e do parassimpático Ao passar entre células musculares lisas, cada axônio se divide em muitos delgados filamentos não mielinizados que se localizam entre as células musculares. Dessa maneira, cada neurônio adrenérgico ou colinérgico é capaz de estimular um grande número de células musculares. Esses filamentos têm muitas dilatações denominadas varicosidades Elas têm em seu interior vesículas que contêm moléculas de neurotransmissores, como a acetilcolina (nas terminações colinérgicas) ou a norepinefrina (nas terminações adrenérgicas). Calcula-se que um axônio que inerve um músculo liso possa apresentar de 10 mil a 20 mil dilatações em suas extremidades. Os neurotransmissores são liberados no espaço extracelular do músculo liso e se difundem, alcançando receptores da superfície das fibras musculares. De modo geral, esses receptores estão associados a sistemas de receptores acoplados à proteína G situados na superfície interna da membrana, produzindo mensageiros que desencadeiam a contração muscular. Como as células musculares lisas são conectadas por junções comunicantes, o estímulo inicial que alcança algumas das células de um feixe se transmite rapidamente por muitas outras. As terminações nervosas adrenérgicas e colinérgicas atuam de modo antagônico, estimulando ou deprimindo a atividade contrátil do músculo. Em alguns órgãos, as terminações colinérgicas estimulam e as adrenérgicas inibem a contração, enquanto em outros ocorre o contrário. O grau de controle do sistema nervoso autônomo sobre os músculos lisos é muito variável. A musculatura lisa do sistema digestório se contrai em ondas lentas; por outro lado, o músculo liso da íris do globo ocular se contrai ou relaxa de modo muito rápido e preciso. Assim, o diâmetro da pupila se adapta com extrema rapidez às variações da intensidade luminosa. Trabalho do parto Processo pelo qual o feto é expelido do útero por meio da vagina, também chamado de dar à luz. Um sinônimo de trabalho de parto é parturição. O início do trabalho de parto é determinado por complexas interações de vários hormônios placentários e fetais. Como a progesterona inibe as contrações uterinas, o trabalho de parto não pode ocorrer até que os efeitos da progesterona sejam diminuídos. Perto do final da gestação, os níveis de estrogênios no sangue da mãe sobem acentuadamente, produzindo alterações que superam os efeitos inibidores da progesterona. O aumento nos estrogênios resulta da secreção crescente do hormônio liberador da corticotropina pela placenta, que estimula a adeno-hipófise do feto a secretar ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Por sua vez, o ACTH estimula a glândula suprarrenal fetal a secretar cortisol e desidroepiandrosterona (DHEA), o principal androgênio suprarrenal. A placenta então converte o DHEA em um estrogênio.Os níveis elevados de estrogênios fazem com que o número de receptores para a ocitocina nas fibras do músculo uterino aumente, e fazem com que as fibras do músculo uterino formem junções comunicantes entre si. A ocitocina liberada pela neuro-hipófise estimula as contrações uterinas, auxiliada pela relaxina liberada pela placenta que aumenta a flexibilidade da sínfise púbica e ajuda a dilatar o colo do útero. O estrogênio estimula também a placenta a liberar prostaglandinas, as quais induzem a produção de enzimas que digerem as fibras colágenas no colo do útero, fazendo com que ele amoleça. O controle das contrações durante o trabalho de parto ocorre por meio de um ciclo de feedback positivo As contrações do miométrio uterino forçam a cabeça ou o corpo do recém-nascido contra o colo do útero, distendendo-o (alongamento). Os receptores de estiramento do colo do útero enviam impulsos nervosos às células neurossecretoras do hipotálamo, levando-as a liberar ocitocina nos capilares sanguíneos da neuro-hipófise. A ocitocina então é transportada pelo sangue até o útero, onde ela estimula o miométrio a se contrair com mais força. Conforme as contrações se intensificam, o corpo do recém-nascido distende ainda mais o colo do útero, e os impulsos nervosos resultantes estimulam a secreção adicional de ocitocina. Após o parto, o ciclo de feedback positivo é quebrado, porque a distensão do colo do útero repentinamente diminui. As contrações uterinas ocorrem em ondas (muito semelhantes às ondas peristálticas do sistema digestório) que começam na parte superior do útero e se movem para baixo, por fim expelindo o feto. O trabalho de parto verdadeiro começa quando as contrações uterinas ocorrem em intervalos regulares, geralmente provocando dor. Conforme o intervalo entre as contrações se encurta, as contrações se intensificam. Outro sintoma de trabalho de parto verdadeiro em algumas mulheres é a dor localizada nas costas que se intensifica com a deambulação. O indicador mais confiável de trabalho de parto verdadeiro é a dilatação do colo do útero e a “saída do tampão”, uma descarga de muco contendo sangue do interior do canal do colo do útero. No trabalho de parto falso, a dor é sentida no abdome em intervalos irregulares, mas não se intensifica e a deambulação não a altera de modo significativo. Não há “saída de tampão” nem dilatação cervical. O trabalho de parto verdadeiro pode ser dividido em três fases Fase de dilatação. O período de tempo que vai do início do trabalho de parto até a dilatação completa do colo do útero é a fase de dilatação. Esta fase, que normalmente dura de 6 a 12 h, apresenta contrações regulares do útero, geralmente uma ruptura do âmnio e a dilatação completa (10 cm) do colo do útero. Se o âmnio não se romper espontaneamente, ele é rompido intencionalmente. Fase de expulsão. O período de tempo (10 min a várias horas) que vai da dilatação cervical completa até o nascimento do recém-nascido consiste na fase de expulsão. Fase placentária. O período de tempo (5 a 30 min ou mais) após o parto até que a placenta seja expelida pelas potentes contrações uterinas é a fase placentária. Essas contrações também contraem os vasos sanguíneos que foram dilacerados durante o parto, reduzindo a probabilidade de hemorragia. Como regra geral, o trabalho de parto dura mais tempo no primeiro filho, normalmente cerca de 14 h. Nas mulheres que já deram à luz, a duração média do trabalho de parto é de aproximadamente 8 h, embora o tempo varie enormemente entre os partos. Como o feto pode permanecer espremido pelo canal do parto (colo do útero e vagina) por até várias horas, o feto é estressado durante o parto: a cabeça fetal é comprimida e o feto sofre algum grau de hipoxia intermitente em decorrência da compressão do cordão umbilical e da placenta durante as contrações uterinas. Em resposta a esse estresse, as medulas das glândulas suprarrenais secretam níveis fetais muito elevados de epinefrina e norepinefrina, os hormônios de “luta ou fuga”. Grande parte da proteção contra o estresse do parto, bem como a preparação da criança para sobreviver à vida extrauterina, é fornecida por esses hormônios. Entre outras funções, a epinefrina e a norepinefrina desobstruem os pulmões e alteram a sua fisiologia em prontidão para respirar ar, mobilizam nutrientes prontamente utilizáveis para o metabolismo celular, e promovem um maior fluxo sanguíneo para o encéfalo e coração. Aproximadamente 7% das gestantes não dão à luz 2 semanas após a sua data estimada para o parto. Estes casos impõem um risco maior de danos encefálicos ao feto, e até mesmo de morte fetal em decorrência de aporte inadequado de oxigênio e nutrientes em virtude de uma placenta envelhecida. Os partos pós-termo podem ser facilitados pela indução do trabalho de parto, iniciada pela administração de ocitocina, ou pelo parto cirúrgico (cesariana). Após o parto e a saída da placenta, existe um período de 6 semanas durante o qual a fisiologia e os órgãos genitais maternos retornam ao estado pré-gestacional. Este período é chamado de puerpério. Por meio de um processo de catabolismo dos tecidos, o útero sofre redução notável em seu tamanho na chamada involução, especialmente em lactantes. O colo do útero perde a sua elasticidade e recupera a sua firmeza pré-gestacional. Duas a 4 semanas após o parto, as puérperas apresentam secreção uterina chamada de lóquios, que consiste inicialmente em sangue e depois em líquido seroso derivado do antigo local da placenta. Células tronco Células precursoras que possuem a capacidade de diferenciação e auto renovação ilimitadas, podendo dar origem a uma variedade de tipos teciduais • capazes de proliferar originando, por mitose, duas células filhas exatamente iguais entre si e iguais à célula original. Para todas as outras células do organismo, a proliferação é acompanhada de diferenciação, de modo que a mitose origina duas células já um pouco mais maduras que a original. • CTs são capazes de, quando submetidas aos estímulos adequados, originar um ou mais tipos de células maduras. Células-tronco totipotentes Podem originar tanto um organismo totalmente funcional, como qualquer tipo celular do corpo, inclusive todo o sistema nervoso central e periférico Correspondem às células do embrião recém-formado e têm potencial para originar até mesmo as células do folheto extraembrionário que formarão a placenta. São efêmeras e desaparecem poucos dias após a fertilização Células-tronco pluripotentes Capazes de originar qualquer tipo de tecido sem originar um organismo completo, visto que não podem gerar a placenta e outros tecidos de apoio ao feto. Formam a massa celular interna do blastocisto depois dos quatro dias de vida e participam da formação de todos os tecidos do organismo Estas células têm sido utilizadas na criação de animais transgênicos e possuem uma grande variedade de aplicações clínicas e comerciais. Apesar de existirem em menor número, as células- tronco pluripotentes estão presentes, também, em indivíduos adultos. Se oriundas da medula óssea, por exemplo, podem originar células de sangue, ossos, cartilagem, músculos, pele e tecido conjuntivo Células-tronco multipotentes Um pouco mais diferenciadas, presentes no indivíduo adulto, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos teciduais. Estas células são designadas de acordo com o órgão de que derivam e podem originar apenas células daquele órgão, possibilitando a regeneração tecidual Entretanto, com o avanço das pesquisas, a existência desta categoria de células-tronco tem sido cada vez mais questionada, visto que células antes consideradas multipotentes, a exemplo das células-tronco neurais, têm se reveladopluripotentes Quanto à origem, as células-tronco podem ser divididas em células-tronco embrionárias (CTE), derivadas da massa celular interna deum blastocisto (embrião prematuro), e células germinativas embrionárias (CGE), obtidas do tecido fetal em um estágio mais avançado de desenvolvimento (da espinha gonadal). Células-tronco embrionárias No embrião em estágio de blastocisto, as células- tronco da massa celular interna se diferenciam para formar o ectoderma primitivo, o qual, durante a gastrulação, finalmente se diferencia nos três folhetos embrionários (ectoderma, mesoderma e endoderma). Quando removidas do seu ambiente embrionário normal e cultivadas sob condições apropriadas, estas células dão origem a células que se proliferam e se renovam indefinidamente As células-tronco embrionárias são células pluripotentes dotadas de grande plasticidade, que apresentam características essenciais, como uma ilimitada capacidade de proliferação indiferenciada in vitro, além de formar os derivados dos três folhetos embrionários mesmo após um longo período em cultura Devido à sua origem, as CTE podem se distinguir de outras linhagens de células humanas pluripotentes denominadas células do carcinoma embrionário (CCE) e células germinativas embrionárias (CGE). As CCEs são linhagens de células pluripotentes derivadas de componentes de células-tronco indiferenciadas, originárias de tumores de células germinativas, que surgem de forma espontânea, encontradas ocasionalmente em malformações de ratos e humanos. Já as CGEs são derivadas de células germinativas das cristas genitais de fetos humanos ou de ratos e, assim como as duas primeiras, são capazes de formar as três camadas germinativas que compõem todos os órgãos do corpo humano, embora seu potencial seja mais limitado se comparado com as CTEs, pois se encontram em um estágio mais avançado de desenvolvimento Para serem induzidas à diferenciação in vitro, deve-se promover a agregação celular, cujo resultado será a formação de corpos embrionários contendo células indiferenciadas. Estas, na presença de substrato, formarão diversos tipos celulares, incluindo músculos esquelético e cardíaco, neurônios e células hematopoiéticas. A diferenciação neuronal in vitro de CTEs pode ser promovida através da agregação celular, por induzir a expressão de genes específicos, seguida do tratamento com ácido retinóico, sinal bioquímico indispensável para a diferenciação. Células-tronco adultas Além de no embrião, as células-tronco também são encontradas em vários órgãos e tecidos no indivíduo adulto, onde participam da homeostase tecidual, gerando novas células devido à renovação fisiológica ou em resposta a uma injúria. Tais populações celulares indiferenciadas mantidas no organismo adulto são denominadas células-tronco adultas Estas células, assim como as CTEs, apresentam a telomerase, não estando, portanto, sujeitas à senescência celular, fenômeno que ocorre nas demais células somáticas diplóides, devido ao encurtamento do telômero após sucessivas mitoses As células-tronco adultas estão em estado quiescente ou em baixa proliferação, localizando-se em regiões específicas essenciais para o seu desenvolvimento e a manutenção de seus atributos, particularmente a capacidade de auto renovação. Algumas regiões estão claramente definidas dentro de seus respectivos tecidos e as células-tronco ali localizadas podem ser facilmente identificadas pela sua morfologia e localização espacial. Já em outros tecidos, não é possível definir a exata localização de um nicho de células-tronco, sendo necessário desenvolver um painel de marcadores moleculares para este fim Além da medula óssea, células-tronco de adulto podem ser facilmente obtidas a partir de cordão umbilical, um órgão que liga o feto à placenta e lhe assegura a nutrição por meio de vasos sanguíneos durante a gestação. Imediatamente após o parto, o cordão é pinçado para impedir que o sangue contido em seu interior se perca, e o sangue é retirado com o auxílio de uma agulha. As células vermelhas do sangue são coletadas e a amostra é congelada e armazenada por até 15 anos, sem que haja perda da qualidade das células-tronco. O uso de células-tronco do sangue de cordão umbilical em transplantes é mais vantajoso do que o de medula óssea Métodos para obtenção de CTs O primeiro método é a partir de células-tronco de adulto, como já se faz no transplante de medula óssea ou no tratamento das doenças do coração. Na segunda possibilidade, está a obtenção de células- tronco embrionárias a partir de um embrião em fase inicial de desenvolvimento, o blastocisto. O uso dessas células, muito comum em pesquisas com animais, tem gerado muita polêmica no caso dos humanos, pois impede o desenvolvimento do embrião. Uma proposta viável seria a utilização dos embriões humanos excedentes produzidos por fertilização in vitro (em laboratório) e que ficam congelados nas clínicas de fertilização assistida. A grande questão é se seria ético utilizar estes embriões para a obtenção de células- tronco que poderão ser usadas na pesquisa de futuras terapias. A terceira possibilidade seria a obtenção de células- tronco embrionárias geneticamente idênticas às da pessoa que as doou. Esse método de obtenção de células-tronco é popularmente chamado de clonagem terapêutica. Na clonagem terapêutica, um ovócito sem núcleo de uma doadora recebe um núcleo de uma célula somática do indivíduo doador. Se houvesse desenvolvimento embrionário até a fase do blastocisto, as células-tronco poderiam ser retiradas e utilizadas no estabelecimento de linhagens celulares geneticamente idênticas às células do indivíduo doador. As células obtidas desta maneira poderiam ser empregadas no tratamento de doenças sem que haja problemas de rejeição. Embora se utilize a palavra clonagem, isto não significa que se deseja obter um organismo inteiro clonado, mas somente as células-tronco embrionárias da fase do blastocisto. Para a obtenção de um organismo inteiro clonado seria necessário que o embrião, no início do desenvolvimento, fosse implantado no útero de uma mulher. Neste caso, a clonagem seria reprodutiva e não terapêutica. Esse foi o procedimento usado para obtenção da ovelha Dolly, clonada em 1997. Ainda não se obteve sucesso nas tentativas de clonagem terapêutica realizadas em humanos. Uso terapêutico O uso terapêutico das células-tronco se baseia principalmente nas células embrionárias. O potencial de diferenciação das células embrionárias tem sido cada vez mais conhecido tanto em testes com camundongos quanto em humanos As células-tronco ganharam um uso muito importante no contexto da saúde pública ligada aos transplantes, já que a doação de órgão não consegue suprir toda a demanda de órgãos no país. Além disso, os transplantes são extremamente caros e dependem muito da estrutura de transporte disponível pelo sistema saúde. As células-tronco poderiam, então, ser multiplicadas no laboratório e induzidas para gerar um tipo celular específico com a capacidade de regenerar o órgão em questão Vale ressaltar que a maioria das células-tronco adultas reside na medula óssea, estando, entre elas, as células- tronco hematopoiéticas (HSC) multipotentes, com capacidade de regenerar todo o sistema hematopoiético Por conseguinte, o transplante terapêutico de medula óssea é utilizado há mais de 30 anos e mais de um milhão de pacientes que sofrem de diferentes doenças já foram tratados com transplante de medula óssea (M.O.) ou as células derivadas de M.O. mobilizadas. Ainda, há as células-tronco mesenquimais, que são definidas como células estromais mesenquimais (MSC), que podem se diferenciar em células ósseas, cronócitos e adiposas Diversos estudos têm sugerido a capacidadedessas células em regenerarem o miocárdio pós--infarto. O mecanismo exato ainda não é conhecido. As células adultas têm sido amplamente testadas em doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico (LES) e no diabetes do tipo I. No caso do diabetes, o objetivo é regenerar as células beta-pancreáticas produtoras de insulina, perdidas com a destruição crônica desde o início da doença IMPECILHOS As células-tronco embrionárias possuem reconhecida capacidade de diferenciação e proliferação, porém, é nesse ponto o seu primeiro empecilho. Se essa diferenciação e multiplicação não for controlada, ela poderá dar origem a tumores formados por vários tecidos diferentes. O segundo problema terapêutico das células-tronco embrionárias se baseia na compatibilidade biológica das células com todos os tipos de pacientes. Há uma chance de rejeição entre doador e receptor, o que não ocorre com células-tronco adultas, onde receptor e doador são a mesma pessoa O debate inicial e controversa no uso de células troncos embrionárias remete ao estatuto do embrião. A confrontação de pensamentos se inicia a partir do momento que pessoas acreditam que o embrião é apenas um objeto, de direito e sem concessão de ser humano até uma certa parte de seu progresso, enquanto que uma outra parte das pessoas diz que o embrião é, sim, desde o início um ser humano com direitos, pois já na fase inicial de seu progresso de um único ser com dignidades De acordo com a biologia (a favor do uso de células- tronco embrionárias), a vida iniciaria após o surgimento do sistema nervoso (afinal, a falta de funcionalidade desse sistema nervoso define o que chamamos, hoje, de morte), portanto, o embrião seria no início, um aglomerado de células, sem tecidos e o início da vida seria predeterminado (de 2 a 3 dias após a fecundação). Além disso, há o argumento de que o embrião significa vida quando ele passa a ter a capacidade de reagir a estímulos uterinos e capacidade de sofrer, sentir e pensar. Utilizando esses ideais, pode-se negar a condição de pessoa a um embrião no estágio inicial (pelo menos na primeira semana) de desenvolvimento Outras correntes de pensamento definem o embrião pelo local onde ele está, ou seja, ele é considerado uma vida apenas dentro do útero da mãe, quando está na placa de cultura ele é apenas uma vida em potencial. Ou seja, não haveria problema em utilizar esses embriões, já que eles não constituem uma vida em si Os indivíduos que se manifestam ao contrário da utilização das células troncos, argumentam utilizando as questões éticas principalmente, e ressaltando que o embrião seria um ser humano individual. Além disso, muitos casais que realizaram/realizam a fertilização in vitro já consideram os embriões como futuros filhos, que podem vir a existir a qualquer momento e há a alegação de que pode haver riscos devido a uma possível formação de tumores (principalmente o teratoma), mutações e um diferente comportamento entre a célula in vivo e in vitro (que pode determinar estudos e condutas equivocados) Há também a preocupação com a utilização excessiva dessa técnica, afinal, ela pode levar a um processo de desumanização por parte da sociedade, gerando ideais irreparáveis que desrespeitam a vida (inicialmente apenas nessa situação ocorre a permissão para “matar”, mas posteriormente a sociedade pode internalizar isso como algo natural, e expandir esse “matar” a outras situações possíveis) Outro ponto citado pelos contrários ao uso de embriões é o fato de que, futuramente, se as pesquisas avançarem e se tornarem comuns, haverá a necessidade de uma produção exclusiva de embriões para o uso em experimentos, pois os embriões que já estariam nas clínicas não seriam suficientes para satisfazer a demanda das inúmeras pesquisas No Brasil, a primeira Lei de Biossegurança tratava-se apenas da questão envolvendo pré-embriões humanos, fazendo com que o Ordenamento Jurídico Pátrio buscasse na Resolução 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina amparo normativo necessário. Essa Resolução proíbe o descarte ou destruição dos embriões humanos criopreservados, mesmo com a manifestação expressa de casais sobre seu desinteresse pela preservação destes. A Resolução afirma ainda que o número ideal de oócitos e pré-embriões a serem transferidos para a receptora não deve ser superior a quatro, com o intuito de não aumentar os riscos já existentes de multiparidade. As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos e pré-embriões e esse número deverá ser comunicado aos pacientes, para que se decida quantos pré-embriões serão transferidos a fresco, devendo o excedente ser criopreservado, não podendo ser descartado ou destruído. No momento da criopreservação, os cônjuges ou companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será dado aos pré- embriões criopreservados, em caso de divórcio, doenças graves ou de falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los A Resolução 1.358/92 de Recomendação do Conselho Federal de Medicina não possui poder coercitivo (legal) que possa impor sua prática por meio de normas de Poder Legislativo. Fez-se, necessária, portanto, a elaboração de uma Lei que engloba todas as situações decorrentes da prática de pesquisa, utilizando-se de suas células-tronco No ano de 2005, foi criada então a segunda Lei de Biossegurança (Lei n.11.105 de 24 de março de 2005), que regulamentou as pesquisas com células-tronco embrionárias para pesquisa e fins terapêuticos. Ela determina que essas células devem ser obtidas a partir de embriões derivados da fertilização in vitro (que não foram utilizados no procedimento) e esses embriões devem ser viáveis e terem ficado congelados por mais de três anos. Além disso, essa lei estabelece que os genitores do embrião têm que consentir com o processo e que deve haver a aprovação do projeto de pesquisa por um comitê de ética, e ainda, ela veta o comércio desse tipo de material para uso em pesquisas e proíbe a clonagem humana A clonagem é proibida pois, nesse caso, o embrião clonado é criado e logo destruído, ou seja, mata-se uma vida para pesquisar e tentar salvar outras, não sendo considerado legal e ético Esses experimentos e pesquisas com células-tronco embrionárias podem vir a expor novas opções de abordagem terapêutica para diversas doenças e trazer esperança ao paciente e sua família, os quais sofrem por não haver uma terapêutica totalmente eficiente em uso. No entanto, esse processo leva um tempo considerável e pode não resultar em nenhum benefício, sendo assim, pode abalar pacientes fragilizados que acreditam em uma cura imediata. Aqui evidencia-se o papel do médico, que deve esclarecer ao seu paciente que as pesquisas são importantes e podem trazer muitos benefícios, assim como elas podem não evidenciar benefício qualquer a um determinado caso Outros países, como Índia e China, possibilitam a pesquisa com células-tronco embrionárias sem que haja um amplo debate de cunho legislativo tal como ocorreu no Brasil. A pesquisa em embriões humanos e a clonagem para fins terapêuticos é permitida O Conselho da Europa segue uma legislação que protege o embrião, na qual é prescrito: “Não será permitido o uso de embriões, fetos ou seus tecidos para proveito ou fins de lucro”. Ainda assim, os investimentos da indústria de cosméticos são elevados nas pesquisas com células embrionárias pela sua grande capacidade de reprodução celular, tendo como objetivo produzir produtos “derivados de embriões” para tentar satisfazer o oculto desejo de certas pessoas pela chamada “eterna juventude” Nos EUA, o patenteamento de células-tronco é permitido, sendo que mais de 2.000 patentes foram concedidas entre os anos de 2005 e 2010, e existemmais de 100 corporações que detêm patentes voltadas ao uso e manuseio de terapia com células-tronco, sendo por esse motivo um dos países que mais publica sobre o assunto
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